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Informativo 594-STJ (01/02/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE DIREITO ADMINISTRATIVO SERVIDORES PÚBLICOS Piso salarial nacional para os professores da educação básica e reflexos na carreira e nas demais verbas recebidas por tais profissionais. DIREITO CIVIL VÍCIOS DO NEGÓCIOS JURÍDICO Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica e do redirecionamento da execução para a pessoa física. CONTRATO DE SEGURO Embriaguez ao volante e agravamento do risco. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO Imóveis vinculados ao SFH não são suscetíveis de usucapião. DIREITOS AUTORAIS Imagem da fachada do imóvel utilizada em propaganda comercial com permissão do proprietário, mas sem autorização do autor do projeto. Possibilidade de a pessoa jurídica ser titular dos direitos autorais. POSSE Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias para defender a sua permanência no local? ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA Devedor que perdeu o veículo tem direito de retirar aparelhos instalados no carro para permitir a direção por deficiente físico. INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA Unidade habitacional já quitada e que foi dada em garantia ao banco. DIVÓRCIO Cotas sociais que serão partilhadas após mancomunhão deverão ser calculadas no momento efetivo da partilha. DIREITO PROCESSUAL CIVIL CUMPRIMENTO DE SENTENÇA Se o devedor for assistido da Defensoria, o prazo do art. 475-J do CPC/1973 deverá ser contado em dobro. FRAUDE À EXECUÇÃO Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica e do redirecionamento da execução para a pessoa física.

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Page 1: ÍNDICE - WordPress.com...A Lei nº 11.738/2008, em seu art. 2º, 1º, ordena que o vencimento inicial das carreiras do magistério público da educação básica deve corresponder

Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE DIREITO ADMINISTRATIVO

SERVIDORES PÚBLICOS Piso salarial nacional para os professores da educação básica e reflexos na carreira e nas demais verbas recebidas

por tais profissionais.

DIREITO CIVIL

VÍCIOS DO NEGÓCIOS JURÍDICO Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica e do redirecionamento da execução

para a pessoa física. CONTRATO DE SEGURO Embriaguez ao volante e agravamento do risco. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO Imóveis vinculados ao SFH não são suscetíveis de usucapião.

DIREITOS AUTORAIS Imagem da fachada do imóvel utilizada em propaganda comercial com permissão do proprietário, mas sem

autorização do autor do projeto. Possibilidade de a pessoa jurídica ser titular dos direitos autorais. POSSE Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias para defender a sua permanência

no local? ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA Devedor que perdeu o veículo tem direito de retirar aparelhos instalados no carro para permitir a direção por

deficiente físico. INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA Unidade habitacional já quitada e que foi dada em garantia ao banco. DIVÓRCIO Cotas sociais que serão partilhadas após mancomunhão deverão ser calculadas no momento efetivo da partilha. DIREITO PROCESSUAL CIVIL

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA Se o devedor for assistido da Defensoria, o prazo do art. 475-J do CPC/1973 deverá ser contado em dobro. FRAUDE À EXECUÇÃO Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica e do redirecionamento da execução

para a pessoa física.

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REINTEGRAÇÃO DE POSSE Não se exige a prévia notificação extrajudicial dos invasores para que se proponha reintegração de posse.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

PRISÃO Réu que praticou apenas a lavagem de dinheiro de uma organização criminosa voltada ao tráfico, mas já desfeita,

pode ser beneficiado com medidas cautelares diversas da prisão.

DIREITO TRIBUTÁRIO

ARROLAMENTO FISCAL Alienação de bens objeto de arrolamento fiscal não depende de prévia notificação ao Fisco. IMPOSTO DE RENDA Ganho de capital obtido com a venda de imóvel residencial é isento de IR se ele for utilizado para pagamento de

parcelas de outro imóvel residencial comprado anteriormente PIS/PASEP E COFINS Incidência do valor pago a título de ICMS na base de cálculo do PIS/PASEP E COFINS. Valores computados como receitas que tenham sido transferidos para outras pessoas jurídicas integram a base de

cálculo do PIS/PASEP e COFINS. CONTRIBUIÇÕES Contribuição ao INCRA e inexistência de diferenciação de alíquotas entre matriz e filial.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

PENSÃO POR MORTE Possibilidade de conferir pensão por morte aos avós que criaram o falecido como se fosse filho. PREVIDÊNCIA PRIVADA Concessão de benefício de prestação programada e continuada e necessidade de cessação do vínculo do

participante com o ente federado patrocinador.

DIREITO ADMINISTRATIVO

SERVIDORES PÚBLICOS Piso salarial nacional para os professores da educação básica e reflexos na carreira

e nas demais verbas recebidas por tais profissionais

A Lei nº 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, ordena que o vencimento inicial das carreiras do magistério público da educação básica deve corresponder ao piso salarial profissional nacional, sendo vedada a fixação do vencimento básico em valor inferior, não havendo determinação de incidência automática em toda a carreira e reflexo imediato sobre as demais vantagens e gratificações, o que somente ocorrerá se estas determinações estiverem previstas nas legislações locais.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.426.210-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 23/11/2016 (recurso repetitivo) (Info 594).

Piso salarial profissional nacional para o magistério público da educação infantil A Constituição Federal, com o objetivo de valorizar os professores da rede pública de ensino, determinou

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que a lei deveria fixar um piso salarial nacional para os profissionais da educação pública. Em outras palavras, ordenou que lei estipulasse um "salário" mínimo nacional específico para os profissionais da educação da rede pública de ensino, valor que deve ser respeitado pela União, Estados, DF e Municípios. Veja:

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: (...) VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. (Incluído pela EC 53/2006)

Cerca de dois anos depois, foi editada a Lei nº 11.738/2008 regulamentando o art. 206, VIII, da CF/88 e fixando o piso salarial profissional nacional para o magistério público da educação básica, sendo esse o valor mínimo a ser observado pela União, pelos Estados, o Distrito Federal e os Municípios quando da fixação do vencimento inicial das carreiras. Confira o que diz a Lei nº 11.738/2008:

Art. 1º Esta Lei regulamenta o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica a que se refere a alínea “e” do inciso III do caput do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

Art. 2º O piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica será de R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais) mensais, para a formação em nível médio, na modalidade Normal, prevista no art. 62 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. § 1º O piso salarial profissional nacional é o valor abaixo do qual a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não poderão fixar o vencimento inicial das Carreiras do magistério público da educação básica, para a jornada de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais. § 2º Por profissionais do magistério público da educação básica entendem-se aqueles que desempenham as atividades de docência ou as de suporte pedagógico à docência, isto é, direção ou administração, planejamento, inspeção, supervisão, orientação e coordenação educacionais, exercidas no âmbito das unidades escolares de educação básica, em suas diversas etapas e modalidades, com a formação mínima determinada pela legislação federal de diretrizes e bases da educação nacional. (...)

Art. 5º O piso salarial profissional nacional do magistério público da educação básica será atualizado, anualmente, no mês de janeiro, a partir do ano de 2009. Parágrafo único. A atualização de que trata o caput deste artigo será calculada utilizando-se o mesmo percentual de crescimento do valor anual mínimo por aluno referente aos anos iniciais do ensino fundamental urbano, definido nacionalmente, nos termos da Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007.

Desse modo, o piso salarial é o valor mínimo que os professores da rede pública, em início de carreira, devem receber. A quantia é atualizada anualmente. Esses profissionais devem ter formação em magistério em nível médio (ou antigo “curso normal”) e carga horária de trabalho de 40h semanais, e atuar em estabelecimentos públicos de ensino na educação infantil, no ensino fundamental e no ensino médio. ADI 4167 Os Governadores de alguns Estados ingressaram com uma ADI no STF contra a Lei nº 11.738/2008 afirmando, dentre outros argumentos, que a mencionada lei seria desproporcional e não teria amparo orçamentário. A ação foi julgada improcedente, tendo o acórdão sido vazado nos seguintes termos:

(...) 2. É constitucional a norma geral federal que fixou o piso salarial dos professores do ensino médio com base no vencimento, e não na remuneração global. Competência da União para dispor sobre normas gerais relativas ao piso de vencimento dos professores da educação básica, de modo a utilizá-lo como mecanismo de fomento ao sistema educacional e de valorização profissional, e não apenas como

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instrumento de proteção mínima ao trabalhador. 3. É constitucional a norma geral federal que reserva o percentual mínimo de 1/3 da carga horária dos docentes da educação básica para dedicação às atividades extraclasse. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. (...) STF. Plenário. ADI 4167, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 27/04/2011.

Modulação dos efeitos da ADI: Lei nº 11.738/2008 só produziu efeitos a partir de 27/04/2011 Antes do julgamento da ADI, a Lei nº 11.738/2008 estava suspensa por força de uma decisão liminar. Em razão disso, o STF, ao declará-la inconstitucional, decidiu fazer a modulação temporal dos efeitos, declarando que o pagamento do piso do magistério como vencimento básico inicial da carreira, nos moldes como estabelecido na Lei nº 11.738/2008, deveria ser aplicável somente a partir de 27/04/2011 (data do julgamento do mérito da ADI):

(...) A Lei 11.738/2008 passou a ser aplicável a partir de 27.04.2011, data do julgamento de mérito desta ação direta de inconstitucionalidade e em que declarada a constitucionalidade do piso dos professores da educação básica. Aplicação do art. 27 da Lei 9.868/2001. (...) STF. Plenário. ADI 4167 ED, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 27/02/2013.

Ações judiciais pedindo a implementação do piso salarial Mesmo com a decisão do STF declarando a lei constitucional, alguns Estados e Municípios não cumpriram a determinação e deixaram de implementar o piso salarial. Isso motivou a propositura de uma série de ações individuais dos professores e também de ações civis públicas ajuizadas pelo Ministério Público. O Poder Judiciário condenou os entes recalcitrantes a implementarem o piso salarial. Abrangência do piso salarial nos vencimentos dos professores Surgiram, no entanto, dúvidas sobre a abrangência dos efeitos da implementação do piso salarial. Os vencimentos dos professores, muitas vezes, são compostos por diversas parcelas. Exemplo: a) vencimento básico: R$ 900,00; b) gratificação "X": R$ 700,00; c) adicional "Y": R$ 400,00. Total dos vencimentos: R$ 2.000,00. Além disso, na maioria dos Estados e Municípios, a carreira do magistério é dividida em classes. Assim, temos professores em início de carreira que recebem vencimentos básicos menores que os das classes mais elevadas, segundo um Plano de Carreira. Exemplo hipotético: Professor classe 3 recebe R$ 500,00 de vencimento básico; Professor classe 2, R$ 1.000,00; Professor classe 1, R$ 1.500,00. Ao ser implementado o piso salarial mínimo, os vencimentos dos professores nos Estados e Municípios aumentaram. Isso porque o piso fixado pela lei nacional foi maior, em regra, do que o vencimento básico que era previsto nas leis locais. Esse aumento provocado pela lei nacional do piso salarial restringe-se apenas ao vencimento básico ou possui reflexos também nas demais verbas recebidas? Ex: no Estado “X”, o vencimento básico era R$ 500,00. Suponhamos que o piso nacional foi fixado em R$ 1.000,00. Logo, para os professores do Estado “X” que recebiam vencimento básico houve um aumento de 100%. Esse percentual de aumento irá refletir sobre as demais parcelas que compõem a remuneração dos professores, ou seja, o Estado “X” também terá que aumentar 100% das gratificações e adicionais que os professores recebem? Outra pergunta: esse aumento abrange todos os integrantes da carreira ou fica restrito aos professores que recebem o vencimento inicial básico? Ex: entrou em vigor o teto nacional fixando o valor mínimo de R$ 1.000,00. O Professor classe 3, que tinha vencimento básico de R$ 500,00 terá agora que receber R$ 1.000,00, ou seja, um aumento de 100%. Os professores das demais classes terão direito a esse aumento, mesmo que já recebam vencimento acima do piso nacional? A resposta para as perguntas acima é NÃO.

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5

Piso salarial refere-se ao vencimento inicial básico A Lei nº 11.738/2008 limitou-se a estabelecer o piso salarial, ou seja, o valor mínimo a ser pago pela prestação do serviço de magistério, abaixo do qual a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não poderão fixar o vencimento inicial das carreiras do magistério público da educação básica. A expressão "piso" não pode ser interpretada como "remuneração global", devendo ser entendida como "vencimento básico inicial". Assim, não abrange outras vantagens pecuniárias pagas a qualquer título. Repetindo: piso = vencimento básico inicial. Desse modo, a Lei nº 11.738/2008 não garantiu um reajuste geral para toda a carreira do magistério. Ela não determinou a incidência escalonada com aplicação dos mesmos índices utilizados para a classe inicial da carreira. Em outras palavras, só teve direito ao aumento quem estava na classe inicial e este aumento só teve reflexo no vencimento básico. Isso significa que apenas aqueles profissionais que, a partir de 27/04/2011 recebessem valores inferiores ao piso legalmente fixado foram beneficiados pela Lei nº 11.738/2008. Esta Lei não trouxe qualquer repercussão para os demais professores que, naquela data, já recebiam vencimento básico superior ao piso fixado na Lei. Da mesma forma, não há que se falar em reflexo imediato sobre as vantagens temporais, adicionais e gratificações. A Lei nº 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, apenas determinou que o vencimento inicial das carreiras do magistério público da educação básica deve corresponder ao piso salarial profissional nacional, sendo vedada a fixação do vencimento básico em valor inferior, não havendo qualquer determinação de reescalonamento de toda a carreira e reflexo imediato sobre as demais vantagens e gratificações. Leis estaduais e municipais podem dispor de forma diferente O que foi explicado acima é a regra geral, que foi estipulada pela Lei nº 11.738/2008. No entanto, nada impede que as leis estaduais e municipais, ao instituírem plano de carreira do magistério nos seus entes, prevejam que as demais classes da carreira (classes mais elevadas) também serão remuneradas com base no vencimento básico. Consequentemente, sempre que o piso salarial aumentar, isso refletirá em toda a carreira. O mesmo ocorre com as demais vantagens e gratificações. Se na lei local existir a previsão de que a vantagem possui como base de cálculo o vencimento inicial, sempre que houver um aumento do piso salarial, isso repercutirá nas demais vantagens. Ex: a lei do Estado "X" afirma que os professores de todas as classes têm direito ao adicional "Z", que corresponde a 50% do vencimento inicial. Tese fixada pelo STJ O tema acima exposto foi apreciado pelo STJ em sede de recurso repetitivo, tendo sido fixada a seguinte tese:

A Lei nº 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, ordena que o vencimento inicial das carreiras do magistério público da educação básica deve corresponder ao piso salarial profissional nacional, sendo vedada a fixação do vencimento básico em valor inferior, não havendo determinação de incidência automática em toda a carreira e reflexo imediato sobre as demais vantagens e gratificações, o que somente ocorrerá se estas determinações estiverem previstas nas legislações locais. STJ. 1ª Seção. REsp 1.426.210-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 23/11/2016 (recurso repetitivo) (Info 594).

Valor atual Em 2017, o piso salarial nacional dos professores sofreu um reajuste de 7,64% em relação ao valor que era previsto em 2016. Com isso, o vencimento inicial dos professores da educação básica da rede pública passou de R$ 2.135,64 para R$ 2.298,80. Lembrando mais uma vez: se o Professor já recebe R$ 3.000,00, por exemplo, ele não terá direito a 7,64% de aumento. Da mesma forma, este percentual de aumento não terá impacto nas demais verbas recebidas pelos professores, salvo se a legislação estadual/municipal assim determinar.

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6

Somente os professores têm direito a este piso? NÃO. A Lei n. 11.738/2008 regulamenta o piso salarial profissional nacional para “os profissionais do magistério público da educação básica”. A lei diz que essa categoria compreende, além daqueles que desempenham as atividades de docência, como os professores, também “os profissionais que atuam no suporte pedagógico à docência, exercendo atividades de direção, planejamento, inspeção, supervisão, orientação e coordenação educacionais, exercidas no âmbito das unidades escolares de educação básica, em suas diversas etapas e modalidades, com a formação mínima determinada pela legislação federal de diretrizes e bases da educação nacional” (art. 2º, § 2º da Lei). Dessa forma, o piso salarial nacional deve ser o vencimento inicial para professores, diretores, coordenadores, inspetores, supervisores, orientadores e planejadores escolares em início de carreira, com formação em magistério ou normal e carga horária de 40 horas semanais. Segundo entendimento majoritário, a merendeira, o auxiliar administrativo e outros profissionais que trabalham na escola, mas não no suporte pedagógico, não possuem direito ao piso salarial.

DIREITO CIVIL

VÍCIOS DO NEGÓCIOS JURÍDICO Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica

e do redirecionamento da execução para a pessoa física

Importante!!!

A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à citação válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente proposta em face da pessoa jurídica.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.391.830-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).

O entendimento acima exposto permanece válido com o CPC/2015?

Haverá polêmica, mas pela redação literal do novo CPC, não. Isso porque o CPC/2015 traz uma nova regra, que não havia no Código passado, afirmando que a fraude à execução tem como marco a data da citação da pessoa jurídica que é objeto da desconsideração: Art. 792 (...) § 3º Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar.

Veja comentários em Direito Processual Civil.

CONTRATO DE SEGURO Embriaguez ao volante e agravamento do risco

Importante!!!

No seguro de automóvel celebrado por uma empresa com a seguradora, é devida a indenização securitária se o condutor do veículo (funcionário da empresa segurada) estava embriagado?

• Em regra: NÃO.

• Exceção: será devido o pagamento da indenização se a empresa segurada conseguir provar que o acidente ocorreria mesmo que o condutor não estivesse embriagado.

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7

Não é devida a indenização securitária decorrente de contrato de seguro de automóvel quando o causador do sinistro – preposto da empresa segurada – estiver em estado de embriaguez, salvo se o segurado demonstrar que o infortúnio ocorreria independentemente dessa circunstância.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.485.717-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/11/2016 (Info 594).

O que é o contrato de seguro? No contrato de seguro, “o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados” (art. 757 do CC). Em outras palavras, no contrato de seguro, uma pessoa física ou jurídica (chamada de “segurada”) paga uma quantia denominada de “prêmio” para que uma pessoa jurídica (“seguradora”) assuma determinado risco. Caso o risco se concretize (o que chamamos de “sinistro”), a seguradora deverá fornecer à segurada uma quantia previamente estipulada (indenização). Ex.: João celebra um contrato de seguro do seu veículo com a seguradora X e todos os meses paga R$ 100,00 como prêmio; se, por exemplo, o carro for roubado (sinistro), a seguradora deverá pagar R$ 30 mil a título de indenização para o segurado. Nomenclaturas utilizadas nos contratos de seguro Risco: é a possibilidade de ocorrer o sinistro. Ex.: risco de morte. Sinistro: o sinistro é o risco concretizado. Ex.: morte. Apólice (ou bilhete de seguro): é um documento emitido pela seguradora, no qual estão previstos os

riscos assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido e, quando for o caso, o nome do segurado e o do beneficiário.

Prêmio: é a quantia paga pelo segurado para que o segurador assuma o risco. O prêmio deve ser pago depois de recebida a apólice. O valor do prêmio é fixado a partir de cálculos atuariais e o seu valor leva em consideração os riscos cobertos.

Indenização: é o valor pago pela seguradora caso o risco se concretize (sinistro). Risco, mutualidade e boa-fé O contrato de seguro é baseado no risco, na mutualidade e na boa-fé, que constituem seus elementos essenciais. Vejamos cada um deles:

Risco: relaciona-se com os fatos e as situações da vida real que causam probabilidade de dano e com as características pessoais de cada um, aferidas comumente no perfil do segurado. Ex: em um contrato de automóvel, o risco é maior em uma grande capital do que em uma pequena cidade do interior; o risco é maior para um motorista de 18 a 24 anos do que para um condutor com idade acima disso.

Mutualidade: significa dizer que existe uma solidariedade econômica entre os segurados. Isso porque o dinheiro pago pelos segurados forma uma espécie de "poupança coletiva" ou um fundo, que será utilizado para cobrir os prejuízos que possam advir dos sinistros. Em outras palavras, é a distribuição dos custos do risco comum (socialização das perdas). Ademais, a contribuição de cada um será proporcional à gravidade do risco a que está sujeito, obtida por meio de dados estatísticos e cálculos atuariais.

Boa-fé: é a veracidade, a lealdade, de ambas as partes, que devem agir reciprocamente isentas de dolo ou engano. No contrato de seguro, a boa-fé assume maior relevo, pois tanto o cálculo do risco como a manutenção do mutualismo dependem das afirmações da pessoa que contrata o seguro. A seguradora, utilizando-se das informações prestadas pelo segurado, como na cláusula de perfil, chega a um valor de prêmio conforme o risco garantido e a classe tarifária enquadrada, de modo que qualquer risco não previsto no contrato ou o seu incremento intencional desequilibra o seguro economicamente, dado que não foi incluído no cálculo atuarial nem na mutualidade contratual (base econômica do seguro).

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8

Imagine agora a seguinte situação hipotética: A empresa transportadora "Transporte Bem" fez um contrato de seguro para cobrir possíveis sinistros em seus veículos. João, motorista da transportadora, estava conduzindo um caminhão da empresa, quando envolveu-se em um acidente e tombou o veículo, causando a perda total do bem segurado. A transportadora acionou o seguro pedindo o pagamento da indenização prevista no contrato. A seguradora recusou-se a pagar a indenização alegando que houve agravamento intencional do risco do objeto contratado. Isso porque ficou constatado pela Polícia Rodoviária Federal que João estava embriagado no momento do fato, o que foi determinante para a ocorrência do acidente. A transportadora ingressou com ação de cobrança contra a seguradora afirmando que, quando entregou seu veículo ao motorista, este estava em plenas condições de dirigir, de forma que não foi ela (transportadora) que gerou o agravamento intencional de risco. Alegou também que o motorista é considerado "terceiro" nesta relação jurídica entre a transportadora e a seguradora, de forma que o ato cometido por este terceiro não pode ser equiparado a fato imputável ao próprio segurado. No seguro de automóvel celebrado por uma empresa com a seguradora, é devida a indenização securitária quando o causador do sinistro foi terceiro condutor (preposto da empresa segurada) que estava em estado de embriaguez?

Em regra: NÃO.

Exceção: será devido o pagamento da indenização se a empresa segurada conseguir provar que o acidente ocorreria mesmo que o condutor não estivesse embriagado.

Não é devida a indenização securitária decorrente de contrato de seguro de automóvel quando o causador do sinistro – preposto da empresa segurada – estiver em estado de embriaguez, salvo se o segurado demonstrar que o infortúnio ocorreria independentemente dessa circunstância. STJ. 3ª Turma. REsp 1.485.717-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/11/2016 (Info 594).

Agravamento do risco e perda da indenização O art. 768 do Código Civil prevê:

Art. 768. O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato.

Assim, havendo agravamento do risco, o segurado perde o direito à indenização. O segurado deverá, por dolo ou culpa grave, ter praticado algum ato que aumente o risco que havia sido combinado. Ex: Pedro faz um seguro de automóvel; isso significa que o risco objeto do contrato, assumido pela seguradora, é o de garantir a indenização ao segurado caso aconteça danos ao automóvel; no entanto, a seguradora calcula e assume esse risco levando em consideração que o condutor vá dirigir o veículo sóbrio; se o motorista resolve dirigir alcoolizado, ele está aumentando (agravando) intencionalmente o risco que foi combinado com a seguradora; o prêmio cobrado pela seguradora é baseado em estatísticas sobre a probabilidade do sinistro; se o condutor dirige embriagado, a probabilidade do sinistro é bem maior que sóbrio. Conduta praticada pelo segurado Vale ressaltar que, para ser considerado "agravamento do risco", é necessário que a conduta tenha sido praticada pelo próprio segurado. O segurado deverá, com dolo ou culpa grave, ter praticado algum ato que aumente o risco que havia sido combinado.

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9

Ingestão de álcool e agravamento do risco É cientificamente comprovado que a ingestão de bebida alcoólica reduz o discernimento, os atos reflexos, o processamento de informações no cérebro, entre outras consequências danosas, mesmo em pequenas doses, o que torna o motorista menos apto a dirigir, aumentando sensivelmente o risco de o sinistro acontecer. Assim, há clara relação entre o consumo consciente de bebida alcoólica e a majoração da taxa de acidentalidade, demonstrada, inclusive, por dados estatísticos. Em outros termos, a bebida alcoólica é capaz de alterar as condições físicas e psíquicas do motorista, que, combalido por sua influência, acaba por aumentar a probabilidade de produção de acidentes e danos no trânsito. Assim, a direção do veículo por um condutor alcoolizado representa agravamento essencial do risco combinado. Por essas razões, a cláusula contratual excluindo a cobertura do seguro no caso de embriaguez não é abusiva, pelo contrário, legítima. Deve, contudo, estar prevista de forma expressa e clara. O seguro de automóvel não pode servir de estímulo para a assunção de riscos imoderados que, muitas vezes, beiram o abuso de direito, a exemplo da embriaguez ao volante. A função social do contrato de seguro de automóveis é servir como um instrumento de valorização da segurança viária, devendo, por isso, estar de acordo com as leis penais e administrativas que punem a embriaguez ao volante. O segurado, quando ingere bebida alcoólica e assume a direção do veículo, frustra a justa expectativa das partes contratantes na execução do seguro, pois rompe-se com os deveres anexos do contrato, como os de fidelidade e de cooperação. Embriaguez ao volante e presunção de que o risco foi aumentado Uma vez constatado que o condutor do veículo estava sob influência do álcool quando se envolveu em acidente de trânsito, haverá uma presunção relativa de que o risco da sinistralidade foi agravado, o que ensejará a aplicação da pena do art. 768 do CC. Por outro lado, a indenização securitária deverá ser paga se o segurado demonstrar que o infortúnio ocorreria independentemente do estado de embriaguez. Ex: o segurado poderá provar que a culpa foi do outro motorista, que houve falha do próprio automóvel, imperfeições na pista, animal na estrada etc. Ônus da prova Seguradora: precisa comprovar que o motorista estava embriagado. A partir daí surge a presunção de que houve o agravamento do risco e a indenização não será, em princípio, devida. Segurado: poderá comprovar que o acidente ocorreria mesmo que o condutor não estivesse embriagado. Se não conseguir provar isso, perderá o direito à indenização. E se o indivíduo que estava dirigindo embrigado não era aquele que contratou o seguro? A configuração do risco agravado não se dá somente quando o próprio segurado se encontra alcoolizado na direção do veículo, mas abrange também os condutores principais (familiares, empregados e prepostos). Isso porque o agravamento intencional de que trata o art. 768 do CC envolve tanto o dolo quanto a culpa grave do segurado, que tem o dever de vigilância (culpa in vigilando) e o dever de escolha adequada daquele a quem confia a prática do ato (culpa in eligendo). Se o segurado não escolhe de forma correta a quem entrega o veículo ou não o fiscaliza adequadamente, incide em culpa. O segurado deve se portar e tomar todos os máximos cuidados como se não tivesse feito o seguro. A isso se chama de princípio do absenteísmo, isto é, ele tem o dever de se abster de tudo que possa incrementar, de forma desarrazoada, o risco contratual. Logo, a pessoa que fez o seguro deve tomar todos os cuidados possíveis quando for entregar o veículo segurado para alguém dirigir. Desse modo, o simples fato de o indivíduo que estava dirigindo não ser aquele que contratou o seguro não serve como argumento para que a indenização deixe de ser paga. Como explica a doutrina:

"(...) não fosse assim e admitido o entendimento acima exposto, bastaria ao proprietário do veículo nunca conduzi-lo, fazendo sempre uso do subterfúgio de registrar o bem em nome de terceiro, de esposa, de filhos, pois se imunizaria frente às consequências contratuais do mau uso

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que vier a fazer do bem. Seria como que um salvo-conduto para que se conduzisse o veículo sob influência de álcool, impregnando o contrato de seguro com uma exegese frontalmente contrária à função social mencionada no art. 421 do CC e à boa-fé preconizada no art. 422 do mesmo diploma legal. (...) Ao se entender que o dispositivo do art. 768 do CC deve ser interpretado literalmente e que a disposição contratual acerca da inexistência de cobertura por condução de veículo sob influência de álcool destina-se unicamente ao próprio segurado, se está emprestando ao contrato de seguro de veículos automotores uma exegese, a nosso ver, contrária à sua função social e com efeitos nefastos a toda a sociedade." (FERNANDES, Marcus Frederico B. Seguro de Automóvel - perda de direito decorrente de condução por terceiro sob efeito de álcool. In: Direito dos Seguros, MIRAGEM, Bruno e CARLINI, Angélica (org.), São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014, p. 459)

Dessa forma, o principal condutor do veículo, se não for o próprio segurado, equipara-se a ele, o que afasta qualquer caracterização de terceiro eventual, trazendo-lhe, portanto, a obrigação de observar as mesmas condições e cautelas na direção do veículo, para assim não aumentar intencionalmente o risco do objeto contratado. Voltando ao exemplo hipotético: O caminhão da empresa segurada sofreu perda total após ter se envolvido em acidente (tombamento sozinho na pista). Ficou provado que o motorista estava embriagado e com sonolência no momento do sinistro, sendo evidente o agravamento do risco objeto do contrato. Além disso, havia cláusula contratual expressa que excluía o direito de cobertura quando o condutor estivesse sob o estado de ebriedade. O fato de o veículo ter sido conduzido por empregado da segurada (e não por seu dirigente ou sócio) não impede a aplicação da penalidade prevista no art. 768 do CC, porquanto a empresa não agiu com a cautela necessária ao contratar o motorista (culpa in vigilando e in eligendo) que, intencionalmente, embriagou-se antes de ter pegado a direção, colocando diretamente em risco a segurança no trânsito, tanto que culminou na ocorrência do sinistro. A empresa não conseguiu provar que o acidente ocorreria mesmo que o condutor estivesse sóbrio. Logo, não há como afastar a culpa grave da empresa, devendo ela perder o direito à indenização securitária por agravamento intencional do risco contratado.

SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO Imóveis vinculados ao SFH não são suscetíveis de usucapião

O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação, como está afetado à prestação de um serviço público, deve ser tratado como bem público, sendo, pois, imprescritível (insuscetível de usucapião).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.448.026-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/11/2016 (Info 594).

Imagine a seguinte situação hipotética: Em 1994, João adquiriu uma casa da Caixa Econômica Federal, vinculada ao Sistema Financeiro de Habitação, combinando o pagamento das parcelas em 30 anos. Em 1996, João “vendeu” esta casa para Pedro. Como João não podia juridicamente vender o bem, eles fizeram um chamado “contrato de gaveta”, ou seja, um ajuste que somente valia entre eles, mas sem efeitos perante a CEF.

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Em 2016, Pedro deixa de pagar as prestações da casa e ingressa com ação de usucapião alegando que detém a posse mansa e pacífica do imóvel pelo tempo exigido em lei. É possível a aquisição por usucapião de imóvel vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação e de titularidade da Caixa Econômica Federal? NÃO.

O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação, como está afetado à prestação de um serviço público, deve ser tratado como bem público, sendo, pois, imprescritível (insuscetível de usucapião). STJ. 3ª Turma. REsp 1.448.026-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/11/2016 (Info 594).

Segundo o art. 98 do Código Civil:

Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.

Se fôssemos levar em consideração a redação literal do art. 98 do CC, este imóvel não poderia ser considerado como bem público considerando que a Caixa Econômica é uma empresa pública federal (pessoa jurídica de direito privado). No entanto, a doutrina defende que também deve ser considerado bem público aquele pertencente à pessoa jurídica de direito privado que seja prestadora de serviço público, quando este bem estiver vinculado à prestação dessa atividade. Nesse sentido: CUNHA JÚNIOR, Dirley. Curso de Direito Administrativo. 14ª ed. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 391. Esta orientação é acolhida pela jurisprudência, conforme aconteceu quando o STF reconheceu que os bens dos Correios (empresa pública federal) são impenhoráveis:

Os bens, as rendas e os serviços da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos são impenhoráveis, e a execução deve observar o regime de precatórios. STF. 1ª Turma. RE 393032 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 27/10/2009.

Especificamente quanto à Caixa Econômica Federal, o Decreto-Lei 759⁄69, que autorizou sua instituição, estabelece como uma de suas finalidades a de “operar no setor habitacional, como sociedade de crédito imobiliário e principal agente do Banco Nacional de Habitação, com o objetivo de facilitar e promover a aquisição de sua casa própria, especialmente pelas classes de menor renda da população” (art. 2º, alínea “c”). Inclusive, o Estatuto da instituição financeira prevê, dentre os objetivos: “atuar como agente financeiro dos programas oficiais de habitação e saneamento e como principal órgão de execução da política habitacional e de saneamento do Governo federal, e operar como sociedade de crédito imobiliário para promover o acesso à moradia, especialmente para a população de menor renda” (art. 5º, XII, do Anexo aprovado pela Lei 7.973⁄2013). Daí porque a Caixa Econômica Federal é referida na Lei 4.380/64 – que trata dos contratos imobiliários de interesse social – como um dos agentes intermediadores da intervenção do Governo Federal no setor habitacional (art. 2º, III), integrando o Sistema Financeiro de Habitação (art. 8º, III). O Sistema Financeiro de Habitação, por sua vez, compõe a política nacional de habitação e planejamento territorial do governo federal e visa “a facilitar e promover a construção e a aquisição da casa própria ou moradia, especialmente pelas classes de menor renda da população” (arts. 1º e 8º, caput), de modo a concretizar o direito fundamental à moradia. A Caixa Econômica Federal integra o Sistema Financeiro de Habitação, que, por sua vez, compõe a política nacional de habitação e planejamento territorial do governo federal e visa a facilitar e promover a construção e a aquisição da casa própria ou moradia, especialmente pelas classes de menor renda da população, de modo a concretizar o direito fundamental à moradia.

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12

Assim, apesar de ser uma empresa pública, com personalidade jurídica de direito privado, a Caixa Econômica Federal, ao atuar como agente financeiro dos programas oficiais de habitação e órgão de execução da política habitacional, presta serviço público, de relevante função social, regulamentado por normas especiais previstas na Lei nº 4.380/64. Logo, o imóvel vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação, porque afetado à prestação de serviço público, deve ser tratado como bem público, sendo, pois, imprescritível (insuscetível de usucapião). Obs: no caso concreto, também não estavam presentes os requisitos da usucapião, mas o objetivo principal desta explicação era demonstrar que o imóvel em questão era considerado bem público.

DIREITOS AUTORAIS Imagem da fachada do imóvel utilizada em propaganda comercial

com permissão do proprietário, mas sem autorização do autor do projeto

O autor de projeto de obra arquitetônica, ainda que situada permanentemente em logradouros públicos, integrando de modo indissociável o meio ambiente, a compor a paisagem como um todo, faz jus ao ressarcimento por danos de ordem material e moral em virtude da representação por terceiros de sua obra, com fins comerciais, sem a devida autorização e indicação de autoria, ainda que tenha havido aquiescência do proprietário da obra.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.562.617-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/11/2016 (Info 594).

Imagine a seguinte situação hipotética: Luiz é arquiteto e foi o autor do projeto arquitetônico de um imóvel pertencente a João. O que chama atenção no imóvel é a sua fachada, que é belíssima. A empresa “S”, indústria de tintas, gostou da arquitetura da fachada e entrou em contato com João pedindo autorização para que a imagem da frente do imóvel fosse utilizada em suas propagandas. Foi, então, celebrado um contrato entre a empresa e João, tendo este sido pago para autorizar a utilização das imagens da fachada de seu imóvel. Quando Luiz soube que imagens da fachada que ele projetou foram utilizadas nas propagandas da indústria, ficou inconformado porque entendeu que ele é quem deveria ter sido consultado para saber se autorizava ou não. Além disso, reputou que foi injusto o fato de nas peças publicitárias não constar seu nome como sendo o autor do projeto da fachada. Diante disso, Luiz ajuizou ação de indenização por uso indevido de imagem de obra arquitetônica contra a indústria de tintas. A empresa apresentou contestação em que sustentou que não houve violação dos direitos autorais porque o proprietário do imóvel autorizou o uso das imagens. Pugnou pela denunciação da lide do proprietário do imóvel. A questão chegou até o STJ? Neste caso concreto, Luiz tem direito à indenização? SIM. Vamos entender os principais aspectos da decisão. O projeto arquitetônico é considerado como obra intelectual? SIM. O projeto, o esboço e a obra arquitetônica são considerados como obra de criação intelectual e, por conta disso, o autor goza de proteção da Lei nº 9.610/98 (Lei dos Direitos Autorais). Confira: Das Obras Protegidas

Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como: (...)

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X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia, engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência;

O autor do projeto possui direitos autorais sobre a obra já pronta? O arquiteto que projetou a fachada do imóvel goza de direitos autorais em relação a essa fachada? SIM. A edificação construída é a materialização em meio físico do projeto arquitetônico. Logo, o autor do projeto goza de direitos autorais sobre isso, já que o art. 7º, X, da Lei fala que o projeto é protegido enquanto obra intelectual, não importando o suporte em que ele esteja expresso. Isso significa que o projeto possui proteção enquanto está no papel, mas também quando já se encontra pronto. É de se concluir, portanto, que a proteção ao direito autoral, no caso, do arquiteto, abrange tanto o projeto e o esboço, como a obra em si, materializada na construção edificada. Utilização da imagem da obra arquitetônica A utilização (no caso, com finalidade lucrativa) da imagem da obra arquitetônica, representada por fotografias, em propagandas e latas de tintas fabricadas pela empresa dependia, necessariamente, de autorização do autor. Quando o arquiteto celebrou contrato com o proprietário do imóvel para que ele fizesse o projeto, pode-se dizer que ele transmitiu os direitos autorais sobre o projeto? Luiz, ao ser pago pelo projeto, transmitiu seus direitos autorais a João? NÃO. O contrato celebrado entre o arquiteto e o encomendante do projeto arquitetônico, proprietário do imóvel em que a obra veio a se materializar, não tem o condão de transmitir a este, por si, os direitos do autor. Os direitos morais e patrimoniais sobre a obra pertencem exclusivamente ao seu autor. A Lei nº 9.610/98, em seu art. 27, afirma, inclusive, serem inalienáveis e irrenunciáveis os direitos morais sobre a obra. Permite-se, assim, a transferência apenas dos direitos autorais de natureza patrimonial, em sua totalidade ou em parte, e a título singular ou universal (ou seja, para determinada modalidade de utilização da obra ou para todas aquelas previstas no art. 29), a depender dos expressos termos avençados. Desse modo, a extensão dos direitos autorais (de natureza patrimonial) a serem transferidos deverá estar devidamente delimitada no contrato de licenciamento, concessão, cessão ou outro admitido em lei, adotando-se, como norte hermenêutico, sempre uma interpretação restritiva (art. 4º) e, via de consequência, favorável ao criador da obra intelectual. Assim, quando a pessoa encomenda um projeto arquitetônico, isso não significa que lhe estejam sendo transmitidos os direitos autorais do autor do projeto, salvo expressa disposição nesse sentido no contrato. O art. 37 da Lei n. 9.610/98 é claro nesse sentido:

Art. 37. A aquisição do original de uma obra, ou de exemplar, não confere ao adquirente qualquer dos direitos patrimoniais do autor, salvo convenção em contrário entre as partes e os casos previstos nesta Lei.

Adquirente poderá utilizar o projeto para as finalidades relacionadas com a sua aquisição O adquirente do projeto terá o direito de materializar a obra arquitetônica em uma construção, ou seja, terá o direito de construir aquele projeto. Além disso, poderá utilizar o projeto para finalidades relacionadas com a sua aquisição. Ex: poderá tirar fotos de sua casa, postá-las em redes sociais etc, mesmo sem autorização do autor. Outras formas de utilização da obra que não intrínsecas à finalidade de aquisição dependerão, necessariamente, de sua autorização. Isso é analisado no caso concreto. Utilização da imagem da fachada não está relacionada diretamente com as finalidades da aquisição O proprietário da edificação, pelo simples fato de ter adquirido o projeto, não possui o direito de utilizá-lo, em forma de imagem, para fins comerciais. Nesse sentido: “O arquiteto, quando contratado para criar um projeto, implicitamente já autorizou a edificação do

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projeto (o que implica em reproduzi-la nos termos lançados no papel e por consequência em executá-la), mas o proprietário não está autorizado à reprodução, quer em nova edificação, quer em fotografia. Portanto, não pode o encomendante do projeto arquitetônico ou de engenharia utilizar o mesmo para outra finalidade senão aquela estritamente autorizada pelo autor do projeto. No silêncio contratual, presume-se que o autor transferiu os direitos autorais para a construção de uma única edificação. Em situações como essa, o proprietário não pode, sem anuência do autor, utilizar o mesmo projeto, ou parte dele, em outra edificação.” (FLÔRES, Leandro Vanderlei Nascimento. Arquitetura e Engenharia com Direitos Autorais. São Paulo: Editora Pillares, 2013. São Paulo, p. 110-112) Voltando ao exemplo hipotético: Como o contrato entre Luiz e João era silente, deve-se entender que proprietário do imóvel, adquirente da obra arquitetônica, não incorporou em seu patrimônio jurídico o direito autoral de representá-la por meio de fotografias, com fins comerciais, tampouco o de cedê-lo a outrem, já que, em regra, a forma não lhe pertence e o aludido modo de utilização refoge da finalidade de aquisição. Assim, a autorização dada por João para a indústria não tem validade jurídica porque os direitos autorais continuam pertencendo ao arquiteto. As fotografias da fachada do imóvel foram tiradas da rua (logradouro público). Isso interfere no direito do arquiteto? Pelo fato de terem sido tiradas da rua, é possível sua utilização sem autorização? NÃO. Sobre o tema, a Lei de Direitos Autorais afirma:

Art. 48. As obras situadas permanentemente em logradouros públicos podem ser representadas livremente, por meio de pinturas, desenhos, fotografias e procedimentos audiovisuais.

Em razão de as obras situadas permanentemente em logradouros públicos integrarem de modo indissociável o meio ambiente, a comporem a paisagem como um todo, sua representação (por meio de pinturas, desenhos, fotografias e procedimentos audiovisuais), por qualquer observador, não configura, em princípio, violação ao direito autoral. A obra arquitetônica, ainda que situada permanentemente em propriedade privada, sendo possível visualizá-la a partir de um local público, integra, de igual modo, o meio ambiente e a paisagem como um todo, a viabilizar, nesse contexto (paisagístico) a sua representação, o que, também, não conduziria à violação do direito do autor. A hipótese, todavia, não é de mera representação da paisagem, em que inserida a obra arquitetônica, mas sim de representação unicamente da obra arquitetônica, com a finalidade lucrativa. Em outras palavras, no exemplo dado, a fachada do imóvel não foi meramente representada, como se compusesse uma paisagem. Não se trata de mera representação da paisagem em que inserida a obra arquitetônica. No caso concreto, houve a representação unicamente da obra arquitetônica, com finalidade lucrativa. Dessa forma, a hipótese não se enquadra no referido art. 48, que não abrange representação por terceiro de obra arquitetônica com finalidade comercial. Resumindo:

O autor de projeto de obra arquitetônica, ainda que situada permanentemente em logradouros públicos, integrando de modo indissociável o meio ambiente, a compor a paisagem como um todo, faz jus ao ressarcimento por danos de ordem material e moral em virtude da representação por terceiros de sua obra, com fins comerciais, sem a devida autorização e indicação de autoria, ainda que tenha havido aquiescência do proprietário da obra. STJ. 3ª Turma. REsp 1.562.617-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/11/2016 (Info 594).

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DIREITOS AUTORAIS Possibilidade de a pessoa jurídica ser titular dos direitos autorais

Importante!!!

Nos contratos sob encomenda de obras intelectuais, a pessoa jurídica que figura como encomendada na relação contratual pode ser titular dos direitos autorais, conforme interpretação do art. 11, parágrafo único, da Lei nº 9.610/98.

Assim, ocorrendo a utilização indevida da obra encomendada, sem a devida autorização, caberá à pessoa jurídica contratada pleitear a reparação dos danos sofridos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.473.392-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/10/2016 (Info 594).

Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa “Publi Editora Ltda.” produz e comercializa revistas e livros. A “Publi” pediu a João (fotógrafo e design) que fizesse a capa da revista anual de 2016. O contrato de prestação de serviços foi celebrado entre a “Publi” e a “Design Criação Visual Ltda.” (sociedade empresária que tem João como um dos sócios). O problema foi que a “Publi” utilizou novamente a arte confeccionada na revista anual de 2017, sendo que o contrato somente autorizava na publicação de 2016. Diante disso, a pessoa jurídica “Design” ingressou com ação de indenização contra a “Publi”. Na contestação, a ré arguiu a ilegitimidade da autora, afirmando que o titular dos direitos autorais seria João e não a pessoa jurídica. A questão jurídica é, portanto, a seguinte: a pessoa jurídica pode ser titular de direito autoral? SIM.

Nos contratos sob encomenda de obras intelectuais, a pessoa jurídica que figura como encomendada na relação contratual pode ser titular dos direitos autorais, conforme interpretação do art. 11, parágrafo único, da Lei nº 9.610/98. STJ. 4ª Turma. REsp 1.473.392-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/10/2016 (Info 594).

Veja o que preconiza a Lei nº 9.610/98 sobre o tema:

Art. 11. Autor é a pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica. Parágrafo único. A proteção concedida ao autor poderá aplicar-se às pessoas jurídicas nos casos previstos nesta Lei.

É necessário que se faça uma distinção entre dois institutos parecidos, mas diferentes, da Lei dos Direitos Autorais. São eles: a autoria e a titularidade. Autoria = pessoa física Toda obra intelectual tem uma autoria, ou seja, é criada por alguém. Este alguém é um ser humano que exterioriza suas ideias, sua arte etc. (LEITE, Eduardo Lycurgo. Direito de autor. Brasília: Brasília Jurídica, 2004, p. 50). A autoria é sempre da pessoa física que criou a obra. Ele possui a titularidade originária dos direitos de autor. O autor é sempre uma pessoa física, conforme prevê o caput do art. 11 da Lei nº 9.610/98. Titularidade dos direitos do autor = pessoa física ou jurídica O autor, em regra, é também o titular dos direitos do autor. Assim, em regra, a pessoa física que criou a obra será o autor e o titular. No entanto, isso nem sempre acontece. A pessoa jurídica pode ser titular de “direitos de autor”.

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A pessoa física poderá transferir para a pessoa jurídica os direitos de autor. Assim, podemos dizer que a pessoa jurídica pode, pela via derivada, titularizar direitos oriundos da criação de obras intelectuais. Dessa feita, não há dúvidas de que a pessoa jurídica possa assumir a titularidade dos direitos autorais, ainda mais quando se tratar de contratos de encomenda.

POSSE Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias

para defender a sua permanência no local?

Importante!!!

1) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face do PODER PÚBLICO: não é possível. Não terá direito à proteção possessória. Não poderá exercer interditos possessórios porque, perante o Poder Público, ele exerce mera detenção.

2) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face de outro PARTICULAR: terá direito, em tese, à proteção possessória. É possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical, pois entre ambos a disputa será relativa à posse.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594).

Imagine a seguinte situação hipotética: João mora em uma chácara há 20 anos. Ele ajuizou ação de reintegração de posse contra Pedro alegando que o requerido invadiu metade do terreno em que vive. O Distrito Federal pediu a sua intervenção no feito alegando que a chácara em que João mora pertence ao Poder Público, em nome de quem está registrada. Trata-se, portanto, de bem público e, sendo assim, não pode ser objeto de proteção possessória por parte do particular. Isso porque o particular que ocupa um bem público não tem a posse deste imóvel, mas sim a mera detenção. A tese do Distrito Federal foi acolhida pelo STJ? NÃO. O STJ entendeu que:

É possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical. STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594).

Posse Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade (art. 1.196). Isto é, para se ter posse, basta o exercício de um dos atributos do domínio, sendo possuidor quem, em seu próprio nome, exterioriza alguma das faculdades da propriedade, seja ele proprietário ou não. Bem público ocupado por particular A jurisprudência sempre entendeu que se o particular ocupa um bem público, não se pode falar, neste caso, em posse, havendo mera detenção. Existem diversos julgado do STJ neste sentido:

A ocupação de área pública, sem autorização expressa e legítima do titular do domínio, é mera detenção, que não gera os direitos, entre eles o de retenção, garantidos ao possuidor de boa-fé pelo Código Civil. STJ. 2ª Turma. REsp 900.159/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 01/09/2009.

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Em suma, o ocupante de bem público é considerado mero detentor da coisa e, por conseguinte, não há que se falar em proteção possessória nem em indenização por benfeitorias ou acessões realizadas, por configurar desvio de finalidade (interesse particular em detrimento do interesse público), além de violação aos princípios da indisponibilidade do patrimônio público e da supremacia do interesse público. Em razão disso, é juridicamente impossível que um particular que esteja ocupando irregularmente um bem público ajuíze ação de reintegração ou de manutenção de posse contra o Poder Público, por exemplo. Sobre o tema:

Conforme precedentes do STJ, a ocupação irregular de terra pública não pode ser reconhecida como posse, mas como mera detenção, caso em que se afigura inadmissível o pleito da proteção possessória contra o órgão público. STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1200736/DF, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, julgado em 24/05/2011.

Bem público ocupado por particular e disputa possessória entre dois particulares A posição acima exposta possui uma exceção: se dois particulares estão litigando sobre a ocupação de um bem público, o STJ passou a entender que, neste caso, é possível que, entre eles, sejam propostas ações possessórias (reintegração, manutenção, interdito proibitório). Assim, para o entendimento atual do STJ, é cabível o ajuizamento de ações possessórias por parte de invasor de terra pública desde que contra outros particulares. Existem decisões das duas Turmas do STJ nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.484.304-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 10/3/2016 (Info 579). STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594). Duas situações Importante destacar mais uma vez que são duas situações que devem ter tratamentos diferentes:

1) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face do PODER PÚBLICO:

2) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face de outro PARTICULAR:

Não terá direito à proteção possessória. Não poderá exercer interditos possessórios porque, perante o Poder Público, ele exerce mera detenção.

Terá direito, em tese, à proteção possessória. É possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical, pois entre ambos a disputa será relativa à posse.

A interpretação que reconhece a posse nos bens dominicais deve ser conciliada com a regra que veda o reconhecimento da usucapião nos bens públicos (Súmula 340 do STF; arts. 183, § 3º e 192 da CF/88; art. 102 do CC), permitindo se concluir que, apenas um dos efeitos jurídicos da posse - a usucapião - é que será limitado, devendo ser mantida, no entanto, a possibilidade de invocação dos interditos possessórios pelo particular. Em outras palavras, se o particular estiver litigando contra outro particular, pode-se reconhecer a posse de um deles sobre o bem público. No entanto, esta "posse" nunca dará direito à usucapião. Em suma, não haverá alteração na titularidade dominial do bem, que continuará nas mãos do Estado, mantendo sua natureza pública. No entanto, na contenda entre particulares, a relação será eminentemente possessória, e, por conseguinte, nos bens do patrimônio disponível do Estado, despojados de destinação pública, será plenamente possível - ainda que de forma precária -, a proteção possessória pelos ocupantes da terra pública que venham a lhe dar função social. Conclui-se, portanto, que "a disputa entre particulares, relativa a bem público, também não impede o manejo e utilização dos interditos possessórios, até porque o reconhecimento da natureza pública do bem confere a titularidade dominial ao poder público, mantendo incólume sua posição de titular"; desta feita, "os particulares terão apenas a detenção em relação ao Poder Público, mas como os vícios da posse são relativos, entre os contendores, a disputa será relativa à posse, pois entre ambos não terá cabimento a exceção, por tratar-se de res extra commercium. Este argumento caberá ao ente estatal e não aos particulares" (ARAUJO, Fábio Caldas de. Posse. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 263).

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Função social À luz do texto constitucional e da inteligência do novo Código Civil, a função social é base normativa para a solução dos conflitos atinentes à posse, dando-se efetividade ao bem comum, com escopo nos princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana. Nos bens do patrimônio disponível do Estado (dominicais), despojados de destinação pública, permite-se a proteção possessória pelos ocupantes da terra pública que venham a lhe dar função social. A ocupação por particular de um bem público abandonado/desafetado - isto é, sem destinação ao uso público em geral ou a uma atividade administrativa -, confere justamente a função social da qual o bem está carente em sua essência. Voltando ao exemplo dado. O argumento invocado pelo Distrito Federal não poderá ser acolhido e o juiz decidirá qual dos dois particulares têm a posse: João ou Pedro. No entanto, se o DF ajuizar uma ação possessória contra João, este poderá invocar que tinha a posse e pedir indenização ou a retenção das benfeitorias realizadas no local? NÃO. Isso porque, conforme vimos acima, se o litígio for contra o Poder Público, a ocupação de área pública pelo particular será considerada mera detenção, que não gera direitos de indenização ou retenção, não havendo proteção possessória ao particular, neste caso. Assim, o particular tem apenas detenção em relação ao Poder Público, não se cogitando de proteção possessória. Para relembrar. Em que consiste o bem público dominical? O art. 99 do Código Civil classifica os bens públicos de acordo com a sua destinação (ou afetação):

a) bens de uso comum do povo b) bens de uso especial c) bens dominicais

São aqueles destinados à utilização geral pelos indivíduos, podendo ser utilizados por todos em igualdade de condições, independentemente de consentimento individualizado por parte do Poder Público (uso coletivo). Exs: ruas, praças, rios, praias etc.

São aqueles utilizados pela Administração para a prestação dos serviços administrativos e dos serviços públicos em geral, ou seja, utilizados pela Administração para a satisfação de seus objetivos. Exs: prédio onde funciona um órgão público.

São aqueles que não estão sendo utilizados para nenhuma destinação pública (estão desafetados), abrangendo o denominado domínio privado do Estado. Exs: terras devolutas, terrenos de marinha, prédios públicos desativados, móveis inservíveis, dívida ativa etc.

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA Devedor que perdeu o veículo tem direito de retirar aparelhos instalados no carro para permitir a direção por deficiente físico

Importante!!!

Havendo adaptação de veículo, em momento posterior à celebração do pacto fiduciário, com aparelhos para direção por deficiente físico, o devedor fiduciante tem direito a retirá-los quando houver o descumprimento do pacto e a consequente busca e apreensão do bem.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.305.183-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594).

Conceito de alienação fiduciária “A alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança, aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira, em

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regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, 2012, p. 565). Alienação fiduciária de automóveis A espécie mais comum de alienação fiduciária é a de automóveis, que é regida pelo Decreto-Lei nº 911/69. Ex: Antônio quer comprar um carro de R$ 30 mil, mas somente possui R$ 10 mil. Antônio procura o Banco “X”, que celebra com ele contrato de financiamento com garantia de alienação fiduciária. Assim, o Banco “X” empresta R$ 20 mil a Antônio, que compra o veículo. Como garantia do pagamento do empréstimo, a propriedade resolúvel do carro ficará com o Banco “X” e a posse direta com Antônio. Em outras palavras, Antônio ficará andando com o carro, mas, no documento, a propriedade do automóvel é do Banco “X” (constará: “alienado fiduciariamente ao Banco X”). Diz-se que o banco tem a propriedade resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a propriedade do carro pelo banco “resolve-se” (acaba) e o automóvel passa a pertencer a Antônio. Imagine agora a seguinte situação hipotética: João celebrou com o Banco "X" contrato de financiamento com garantia de alienação fiduciária para a compra de um Honda Civic. Ocorre que, no curso do contrato, o devedor fiduciante deixou de pagar as parcelas. O Banco enviou notificação extrajudicial para João informando que ele se encontrava em débito (Súmula 72-STJ), mas este não fez a purgação da mora. Diante disso, a instituição financeira ingressou com ação de busca e apreensão requerendo a entrega do bem, conforme autoriza o art. 3º do DL 911/69:

Art. 3º O proprietário fiduciário ou credor poderá, desde que comprovada a mora, na forma estabelecida pelo § 2º do art. 2º, ou o inadimplemento, requerer contra o devedor ou terceiro a busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente, a qual será concedida liminarmente, podendo ser apreciada em plantão judiciário.

O juiz concedeu a liminar e o automóvel saiu da posse de João e foi entregue ao Banco. Pedido para retirada dos aparelhos para direção por deficiente físico O DL 911/69 prevê que, após a execução da liminar, ou seja, depois da apreensão do bem, o devedor tem a possibilidade de apresentar uma resposta (uma espécie de contestação). Em sua resposta, João informou o seguinte: realmente estou devendo e não tenho condições de continuar a pagar as prestações. Pode ficar com o carro. No entanto, depois que eu celebrei o contrato com o banco e comprei o veículo eu instalei nele aparelhos de adaptação para condução do carro por pessoas com deficiência. Isso porque eu possuo deficiência física (sou cadeirante) e precisava instalar esses aparelhos para conseguir dirigir. Esses aparelhos (acelerador e freio para mãos) não vêm com o veículo e eu quero retirá-los para utilizar em outro carro quando eu for comprar. O banco contra-argumentou afirmando que estes aparelhos são bens acessórios e que os acessórios seguem a sorte do principal (princípio da gravitação jurídica). Assim, como a posse e a propriedade do veículo (bem principal) consolidou-se em nome da instituição financeira, ela também adquiriu os bens acessórios que estão no carro. João terá direito de retirar os aparelhos do veículo? SIM.

Havendo adaptação de veículo, em momento posterior à celebração do pacto fiduciário, com aparelhos para direção por deficiente físico, o devedor fiduciante tem direito a retirá-los quando houver o descumprimento do pacto e a consequente busca e apreensão do bem. STJ. 4ª Turma. REsp 1.305.183-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594).

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Os equipamentos que permitem a condução do veículo por pessoa com deficiência física, se instalados em automóvel, são considerados bens acessórios do carro? SIM. Então, por que eles não seguem a sorte do principal? Porque estes equipamentos são classificados como pertenças, uma espécie peculiar de bens acessórios que, em regra, não seguem a sorte do principal. Vamos entender. O que são pertenças? A definição legal está no art. 93 do Código Civil:

Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro.

Veja o que diz a doutrina:

"O novo Código Civil incluiu, no rol dos bens acessórios, as pertenças, ou seja, os bens móveis que, não constituindo partes integrantes (como o são os frutos, produtos e benfeitorias), estão afetados por forma duradoura ao serviço ou ornamentação de outro, como os tratores destinados a uma melhor exploração de propriedade agrícola e os objetos de decoração de uma residência, por exemplo." (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro. Vol. 1, 10ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 289.

"(...) a pertença (CC, art 93) é bem que se acresce, como acessório, à coisa principal, daí ser res annexa (coisa anexada). Portanto, é coisa acessória sui generis, destinada, de modo duradouro, a conservar ou facilitar o uso, ou prestar serviço, ou, ainda, servir de adorno do bem principal, sem ser parte integrante" (DINIZ, Maria Helena. Curso de direito brasileiro. Teoria geral do direito civil. v.1. 32ª ed. São Paulo: Saraiva, p. 395)

Exemplos de pertenças: aparelho de ar condicionado, telefone do escritório, elevadores, bombas de água, instalações elétricas, estátuas, espelhos, tapetes, máquinas da fábrica, tratores, instrumentos agrícolas etc. Pertenças são bens acessórios sui generis As pertenças têm como objetivo dar uma maior qualidade, utilidade ou vantagem a um bem principal. Por isso, as pertenças são classificadas como bens acessórios. No entanto, são bens acessórios sui generis porque mantêm sua individualidade e autonomia, não se incorporando no bem principal. Assim, a pertença, em regra, não é alcançada pelo negócio jurídico que envolver o bem principal, a não ser que haja imposição legal, expressa manifestação das partes ou decorrer das circunstâncias do caso concreto. Trata-se de exceção à regra de que o acessório segue o principal. Isso está previsto expressamente no art. 94 do Código Civil:

Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso.

Voltando ao exemplo No caso concreto, há um bem principal (automóvel) e existem as pertenças, que são os aparelhos de adaptação para direção por deficiente físico. Por serem pertenças, não se aplica a elas o princípio da gravitação jurídica, mas sim a regra do art. 94 do CC acima transcrito. Relembrando: as pertenças, em regra, não seguem o destino do bem principal a que se vinculam. O carro, tem "vida" absolutamente independente dos aparelhos de aceleração e frenagem manuais. Estes equipamentos são acoplados tão somente para viabilizar a direção por condutor com condições físicas especiais. Se retirados tais aparelhos, o veículo continua sendo veículo, ou seja, não perde a sua função. Ao contrário, ao retirar tais equipamentos, o carro irá recuperar a sua originalidade, isto é, a forma como é vendido de fábrica.

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Situação diferente ocorreria, por exemplo, com os pneus do automóvel. Os pneus são partes integrantes, cuja separação promoveria sua destruição ou danificação, devendo, portanto, seguir o destino do principal. Solidariedade social e direito à mobilidade Além dos argumentos acima expostos, o direito de retirada dos equipamentos se fundamenta também:

na solidariedade social (art. 3º, I, da CF/88);

na Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), que previu o direito ao transporte e à mobilidade da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida; e

no princípio que veda o enriquecimento sem causa.

INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA Unidade habitacional já quitada e que foi dada em garantia ao banco

A recusa do banco em substituir a garantia dada pela incorporadora em contrato de financiamento imobiliário, mesmo após a ciência de que a unidade habitacional se encontrava quitada, viola os deveres contratuais da informação e cooperação, tornando ineficaz o gravame perante o adquirente.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.478.814-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 6/12/2016 (Info 594).

Apartamento dado em garantia ao banco pela construtora Quando uma construtora/incorporadora lança um empreendimento imobiliário na planta, é comum que obtenha recursos emprestados junto ao banco para conseguir pagar as despesas necessárias com a construção. Em geral, os bancos exigem, como garantia, que as unidades habitacionais que estão sendo construídas lhes sejam dadas em hipoteca. Em outros casos, em vez de hipoteca, as instituições financeiras exigem que as unidades habitacionais fiquem em nome do banco, com base em um contrato de alienação fiduciária. Ex: a construtora irá construir um edifício com 200 apartamentos. Vários desses apartamentos serão dados em garantia ao banco (hipoteca ou alienação fiduciária). Quando o cliente que comprou o apartamento fizer o pagamento integral das parcelas, o dever da construtora é informar isso ao banco, pagando uma parte do empréstimo. Em contrapartida, o banco levanta a hipoteca ou, se for o caso de alienação fiduciária, retira o bem de seu nome. Imagine agora a seguinte situação: A incorporadora “Habibem” lançou um edifício de apartamentos. As vendas foram um sucesso e já na primeira semana havia inúmeras unidades vendidas. Após o mês de lançamento, a construtora obteve o financiamento junto ao banco e indicou, como garantia, 100 apartamentos. Dentre eles, a incorporadora deu em garantia a unidade 1502. O contrato celebrado entre a construtora e o banco foi um mútuo com garantia de alienação fiduciária. Isso significa que todos esses apartamentos ficaram em nome do banco. Ocorre que o apartamento 1502 já havia sido comprado e integralmente pago por um cliente. Logo, a incorporadora não poderia tê-lo dado em garantia. Assim que percebeu o erro cometido, a construtora comunicou o equívoco ao banco, mas este se recusou a substituir a garantia. Com isso, o adquirente do apartamento 1502 ficou impedido de registrar o imóvel em seu nome. Diante deste cenário, o cliente ajuizou ação contra a incorporadora e o banco. O STJ decidiu que:

A recusa do banco em substituir a garantia dada pela incorporadora em contrato de financiamento imobiliário, mesmo após a ciência de que a unidade habitacional se encontrava quitada, viola os deveres

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contratuais da informação e cooperação, tornando ineficaz o gravame perante o adquirente. STJ. 3ª Turma. REsp 1.478.814-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 6/12/2016 (Info 594).

Mas o banco não tem nenhuma relação jurídica com o adquirente. Mesmo assim ele é parte legítima para a ação e tem o dever de levantar a garantia? SIM. O princípio da função social do contrato, além de produzir efeitos entre as partes, alcança também terceiros, especialmente como neste caso em que há uma evidente conexão entre a alienação fiduciária em garantia e o contrato de compra e venda de unidade imobiliária, de modo que essa interconexão entre os contratos não pode ser ignorada pelas partes. Trata-se da eficácia transubjetiva da função social do contrato. O princípio da função social do contrato impõe deveres de conduta às partes contratantes, inclusive em relação a terceiros com interesse na relação negocial entre eles celebrada. No caso concreto, ao menos um desses deveres (o de informação) não veio a ser cumprido, por culpa da construtora e por negligência do banco, impondo-se a ineficácia do gravame perante o terceiro adquirente do imóvel. De outra parte, sob o prisma da boa-fé objetiva, observa-se que o banco faltou com o dever de cooperação, pois, mesmo depois de saber que as unidades habitacionais estavam quitadas, recusou-se a substituir a garantia. Não se quer dizer, com isso, que o banco tenha a obrigação de substituir garantias que lhe tenham sido prestadas, mas apenas que, no caso dos autos, era exigível a substituição, pois o próprio banco foi negligente ao aceitar como garantia unidades habitacionais quitadas. Conclui-se, portanto, com fundamento nos princípios da função social do contrato e da boa-fé objetiva, que, no caso concreto, a alienação fiduciária em garantia é ineficaz em relação ao autor da demanda, adquirente da unidade habitacional.

DIVÓRCIO Cotas sociais que serão partilhadas após mancomunhão deverão ser calculadas no momento efetivo da partilha

Verificada a existência de mancomunhão, o pagamento da expressão patrimonial das cotas societárias à ex-cônjuge, não sócia, deve corresponder ao momento efetivo da partilha, e não àquele em que estabelecido acordo prévio sobre os bens que fariam parte do acervo patrimonial.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.537.107-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/11/2016 (Info 594).

Imagine a seguinte situação hipotética: João e Maria eram casados sob o regime da comunhão parcial de bens. Em 2005, quando ainda estavam juntos, João tornou-se sócio de um hospital, com 50% do capital social, sendo a outra metade titularizada por um colega médico. Em 2013, João se apaixonou perdidamente por uma residente e decidiu se divorciar. Como estava com muita pressa, João e Maria se divorciaram, mas não realizaram, nesta ocasião, a partilha de bens. Eles fizeram apenas um acordo prévio sobre os bens que fariam parte do acervo patrimonial, estabelecendo que seriam partilhados em momento futuro. É possível fazer o divórcio sem a partilha de bens? SIM. Quando um casal está se divorciando, são muitos os conflitos que surgem envolvendo os mais diversos aspectos da vida da pessoa: a questão sentimental, a guarda dos filhos, a discussão acerca da alteração ou manutenção do patronímico e, como não se pode esquecer, há também o debate sobre o patrimônio e a divisão (partilha) dos bens, de acordo com o regime matrimonial adotado.

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Algumas vezes, a vontade do casal de se divorciar é muito intensa e eles querem que isso ocorra logo. No entanto, a discussão sobre a divisão dos bens pode ser complexa e acabar atrasando a formalização do divórcio. Diante deste problema da vida prática, o Código Civil previu a possibilidade de os cônjuges realizarem o divórcio e que a discussão sobre a divisão dos bens fique para ser resolvida em um momento posterior. Confira:

Art. 1.581. O divórcio pode ser concedido sem que haja prévia partilha de bens.

Flávio Tartuce explica que a partilha posterior dos bens pode ser efetivada por meio de três caminhos (Manual de Direito Civil. Volume único. São Paulo: Método, 2011, p. 1.075):

nos próprios autos da ação de divórcio;

em ação autônoma de partilha de bens (que também deverá tramitar na vara de família);

por escritura pública de partilha extrajudicial (Lei nº 11.441/2007). Mancomunhão Quando um casal se divorcia sem realizar a imediata partilha dos bens do patrimônio comum, eles continuarão mantendo uma relação jurídica em torno desses bens. A doutrina afirma que, neste caso, surge um estado de “mancomunhão” (também chamado de “condomínio de mão única ou fechada”). Mancomunhão não é o mesmo que condomínio. No condomínio as pessoas são proprietárias de “partes ideais” do bem, podendo aliená-las. Na mancomunhão não se fala em metades ideais, pois o que se constata é a existência de uma verdadeira unidade patrimonial, fechada, e que dá acesso a ambos ex-cônjuges, à totalidade dos bens. Veja o que diz a doutrina:

“Os bens não partilhados após a separação ou divórcio, pertencem ao casal, semelhante ao que ocorre com a herança, entretanto, nenhum deles pode alienar ou gravar seus direitos na comunhão antes da partilha, sendo ineficaz a cessão, posto que o direito à propriedade e posse é indivisível, ficando os bens numa situação que a doutrina denomina de estado de mancomunhão. Não raras vezes, entretanto, quando os bens estão identificados na ação de separação ou divórcio, são partilhados na fração ideal de 50% (cinquenta por cento) para cada um, em razão da meação, importa em estado de condomínio entre o casal e não mais estado de mancomunhão. Tratando-se de condomínio, pode qualquer um dos cônjuges alienar ou gravar seus direitos, observando a preferência do outro, podendo ainda requerer a extinção por ação de divisão ou alienação judicial, não se cogitando a nova partilha e dispensando a abertura de inventário.” (CARVALHO, Dimas Messias de. Direito de Família. 2ª ed., Belo Horizonte: Del Rey, 2009, p. 211/212).

Voltando ao exemplo: Em 2017, ou seja, 2 anos após o divórcio, o casal resolveu fazer a partilha dos bens, com destaque para as cotas sociais do hospital. Como eram casados no regime da comunhão parcial, Maria terá direito à metade dos bens adquiridos onerosamente durante o relacionamento. Assim, Maria terá direito à metade das cotas sociais que pertencem a João. O ex-casal concordou que Maria receberá o equivalente das cotas sociais em dinheiro, de forma que ela não entrará na sociedade. A dúvida que surgiu, no entanto, foi quanto ao valor das cotas. Isso porque de 2013 até 2017 o hospital teve uma enorme valorização, passando a ser a principal referência médica da cidade. Em outras palavras, nestes quatro anos o hospital se tornou muito mais valioso. Na hora de pagar Maria, o valor das cotas deve coincidir com o seu valor histórico da data da ruptura do relacionamento (2013) ou deverá ser fixado com base na sua avaliação atual (2017)? Em outras palavras, considera-se o valor da data do divórcio (em que houve o acordo prévio sobre os bens) ou do momento da partilha?

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Do momento da partilha.

Verificada a existência de mancomunhão, o pagamento da expressão patrimonial das cotas societárias à ex-cônjuge, não sócia, deve corresponder ao momento efetivo da partilha, e não àquele em que estabelecido acordo prévio sobre os bens que fariam parte do acervo patrimonial. STJ. 3ª Turma. REsp 1.537.107-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/11/2016 (Info 594).

Embora Maria não ostente a condição de sócia da referida empresa, existia, no caso, uma copropriedade decorrente do regime de comunhão parcial de bens e esta situação perdurou mesmo após o divórcio (quando surgiu a mancomunhão). Durante quatro anos, Maria, embora detentora de metade das cotas, ou de sua expressão venal, viu seu patrimônio imobilizado, ser utilizado pelo ex-cônjuge para alavancar, em retroalimentação, o crescimento da sociedade empresária. Nesse período, Maria se atrelou, por força da copropriedade que exercia sobre as cotas com seu ex-cônjuge, à sorte da sociedade, tanto assim, que se essa sociedade tivesse falido, ela teria tido prejuízo e não teria mais nenhum patrimônio a partilhar. Então, não se pode privar a ex-esposa dos resultados positivos decorrentes do sucesso da sociedade, sob pena de gerar um enriquecimento sem causa para o ex-marido.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA Se o devedor for assistido da Defensoria, o prazo do art. 475-J

do CPC/1973 deverá ser contado em dobro

Se o devedor for assistido da Defensoria Pública, o prazo do art. 475-J do CPC/1973 deverá ser contado em dobro, ou seja, o executado terá 30 dias para o débito.

A prerrogativa da contagem em dobro dos prazos tem por objetivo compensar as peculiares condições enfrentadas pelos profissionais que atuam nos serviços de assistência judiciária do Estado, que enfrentam deficiências de material, pessoal e grande volume de processos.

A intimação para o cumprimento da sentença gera ônus para o representante da parte vencida, que deverá comunicá-la do desfecho desfavorável da demanda e alertá-la de que a ausência de cumprimento voluntário implica imposição de sanção processual. Logo, deve ser aplicado o prazo em dobro nesta situação.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.261.856-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).

O procedimento para execução de quantia pode ser realizado de duas formas: a) execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial; b) execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença). Imagine a seguinte situação hipotética: “A” ajuíza uma ação de cobrança contra “B”. O juiz julga a sentença procedente, condenando “B” a pagar 1 milhão de reais a “A”. “B” perdeu o prazo para a apelação, de modo que ocorreu o trânsito em julgado.

O que acontece agora? “A” terá que ingressar com uma petição em juízo requerendo o cumprimento da sentença.

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O início da fase de cumprimento da sentença pode ser feito de ofício pelo juiz? NÃO. O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo, só pode ser feito a requerimento do exequente (art. 513, § 1º do CPC/2015). Cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória, especialmente requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante demonstrativo discriminado e atualizado do crédito (art. 524 do CPC/2015). Em outras palavras, o início da fase de cumprimento da sentença exige um requerimento do credor:

Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver.

A partir do requerimento do credor, o que faz o juiz? O juiz determina a intimação do devedor para pagar a quantia em um prazo máximo de 15 dias. Não ocorrendo pagamento voluntário neste prazo, o débito será acrescido de multa de 10% e, também, de honorários de advogado de 10% (art. 523, § 1º, do CPC/2015). Esse prazo de 15 dias, previsto no art. 523 do CPC 2015 (art. 475-J do CPC 1973), é contado a partir de quando? Da intimação do devedor para pagar. Não basta que o devedor já tenha sido intimado anteriormente da sentença que o condenou. Para começar o prazo de 15 dias para pagamento, é necessária nova intimação. Assim, a multa de 10% depende de nova intimação prévia do devedor. A forma dessa intimação está prevista no art. 513 do CPC 2015:

Art. 513 (...) § 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença: I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos; II - por carta com aviso de recebimento, quando representado pela Defensoria Pública ou quando não tiver procurador constituído nos autos, ressalvada a hipótese do inciso IV; III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do art. 246, não tiver procurador constituído nos autos IV - por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver sido revel na fase de conhecimento. § 3º Na hipótese do § 2º, incisos II e III, considera-se realizada a intimação quando o devedor houver mudado de endereço sem prévia comunicação ao juízo, observado o disposto no parágrafo único do art. 274. § 4º Se o requerimento a que alude o § 1º for formulado após 1 (um) ano do trânsito em julgado da sentença, a intimação será feita na pessoa do devedor, por meio de carta com aviso de recebimento encaminhada ao endereço constante dos autos, observado o disposto no parágrafo único do art. 274 e no § 3º deste artigo.

Se o devedor for assistido da Defensoria Pública, o prazo de 15 dias do art. 475-J do CPC 1973 será contado em dobro, ou seja, será de 30 dias? A 4ª Turma do STJ decidiu que sim:

Se o devedor for assistido da Defensoria Pública, o prazo do art. 475-J do CPC/1973 deverá ser contado em dobro, ou seja, o executado terá 30 dias para o débito. A prerrogativa da contagem em dobro dos prazos tem por objetivo compensar as peculiares condições enfrentadas pelos profissionais que atuam nos serviços de assistência judiciária do Estado, que enfrentam deficiências de material, pessoal e grande volume de processos. A intimação para o cumprimento da sentença gera ônus para o representante da parte vencida, que deverá comunicá-la do desfecho desfavorável da demanda e alertá-la de que a ausência de cumprimento voluntário implica imposição de sanção processual. Logo, deve ser aplicado o prazo em dobro nesta situação. STJ. 4ª Turma. REsp 1.261.856/DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/11/2016.

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 26

Novo CPC O julgamento acima foi proferido ainda sob a ótica do CPC/1973, considerando que os fatos ocorreram na vigência do Código passado. Há dúvidas se o entendimento permanece válido com o novo CPC. Isso porque o art. 513, § 2º, II, do CPC/2015 determina que se o devedor for assistido da Defensoria Pública, ele deverá ser intimado para cumprir a sentença por meio de carta com aviso de recebimento. Essa previsão não existia no CPC/1973. Assim, em tese, a intimação para cumprimento da sentença não demandaria mais nenhum ônus para o Defensor Público. Logo, em princípio, não haveria motivo para se aplicar o prazo em dobro, já que o cumprimento voluntário teria deixado de ser um ato de natureza dúplice e seria, agora, um ato a ser praticado apenas pela parte. É preciso, no entanto, aguardar para se ter certeza. Qualquer novidade, você será alertado no site.

FRAUDE À EXECUÇÃO Venda do bem pelo sócio antes da desconsideração da personalidade jurídica

e do redirecionamento da execução para a pessoa física

Importante!!!

A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à citação válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente proposta em face da pessoa jurídica.

Ex: havia uma execução tramitando apenas contra a sociedade empresária; durante o curso deste processo, um dos sócios vendeu bem que estava em seu nome; algum tempo depois, o juiz determinou a desconsideração da personalidade jurídica e o redirecionamento da execução contra o sócio; esta alienação realizada pelo sócio não ocorreu mediante fraude à execução; isso porque, quando ele vendeu o bem, ainda não tinha sido citado.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.391.830-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).

O entendimento acima exposto permanece válido com o CPC/2015?

Haverá polêmica, mas pela redação literal do novo CPC, não. Isso porque o CPC/2015 traz uma nova regra, que não havia no Código passado, afirmando que a fraude à execução tem como marco a data da citação da pessoa jurídica que é objeto da desconsideração:

Art. 792 (...) § 3º Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar.

Princípio da responsabilidade patrimonial No processo de execução vigora, em regra, o princípio da responsabilidade patrimonial, segundo o qual o débito será quitado com o patrimônio do devedor. Assim, com exceção da prestação alimentícia, o devedor não responde com seu corpo ou sua liberdade pelas dívidas que tenha. Esses débitos são adimplidos com o patrimônio que o devedor possua ou venha a possuir. Se não tiver patrimônio, o débito não é pago. Tal princípio encontra-se previsto no CPC:

Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei.

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 27

Alienações fraudulentas feitas pelo devedor para fugir da responsabilidade patrimonial Se o débito somente pode ser quitado com o patrimônio do devedor, podemos imaginar que, em alguns casos, a pessoa se desfaça de seus bens (verdadeiramente ou de maneira simulada) apenas para não pagar a dívida. Alienando seu patrimônio, o devedor torna-se insolvente e não haverá mais meio de os credores obterem a satisfação do crédito. Obs.: devedor insolvente é aquele cujo patrimônio passivo (dívidas) é maior que o ativo (bens). A legislação prevê três formas de se combater essa prática (fraude do devedor). Fraude do devedor (alienação fraudulenta) A legislação prevê três espécies de fraude do devedor (alienações fraudulentas) e as formas de combatê-las: a) fraude contra credores; b) fraude à execução; c) alienação de bem penhorado. Vamos tratar aqui apenas da segunda espécie: fraude à execução. FRAUDE À EXECUÇÃO Conceito Fraude à execução consiste no ato do devedor de alienar ou gravar com ônus real (ex.: dar em hipoteca) um bem que lhe pertence, em uma das situações previstas nos incisos do art. 792 do CPC. A fraude contra a execução, além de causar prejuízo ao credor, configura ato atentatório à dignidade da Justiça (art. 774, I, do CPC). Hipóteses em que há fraude à execução segundo o CPC:

Art. 792. A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução: I - quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com pretensão reipersecutória, desde que a pendência do processo tenha sido averbada no respectivo registro público, se houver; II - quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do processo de execução, na forma do art. 828; III - quando tiver sido averbado, no registro do bem, hipoteca judiciária ou outro ato de constrição judicial originário do processo onde foi arguida a fraude; IV - quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência; V - nos demais casos expressos em lei.

Se o devedor alienou ou gravou com ônus real determinado bem praticando fraude à execução, esse bem continua respondendo pela dívida e poderá ser executado (poderá ser expropriado pelo credor) (art. 790, V, do CPC). É possível que ocorra fraude à execução se a alienação ou oneração ocorreu antes que o executado tenha sido citado? Em regra, NÃO. Em regra, para que haja fraude à execução, é indispensável que a alienação ou oneração tenham acontecido após o devedor ter sido citado. Isso porque, para que haja fraude, é necessário que o devedor soubesse que estava sendo executado quando alienou ou onerou o bem. Quando o devedor é citado, existe a certeza de que, a partir daquele momento, ele tem consciência da existência do processo. Logo, se o devedor vender ou onerar o bem depois de a execução ter sido ajuizada, mas antes de ele ser citado, em regra, não haverá fraude à execução. Por que se falou “em regra”? É possível que se reconheça a fraude à execução se o devedor vendeu ou onerou o bem mesmo antes de ser citado? SIM. Existe uma situação em que será possível reconhecer a fraude à execução quando o devedor alienou

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ou onerou o bem após o ajuizamento, mas antes de ser citado. Isso ocorre quando o exequente fez a averbação da execução nos registros públicos:

Art. 828. O exequente poderá obter certidão de que a execução foi admitida pelo juiz, com identificação das partes e do valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros bens sujeitos a penhora, arresto ou indisponibilidade.

Esse artigo permite que o exequente faça a averbação do ajuizamento da execução em registro público de bens sujeitos à penhora ou arresto. Explicando em simples palavras:

Logo após dar entrada na execução, o credor pode obter uma certidão no fórum declarando que ele ajuizou uma execução contra Fulano (devedor) cobrando determinada quantia.

Em seguida, o exequente vai até os registros públicos onde possa haver bens do devedor lá registrados (exs.: registro de imóveis, DETRAN, registro de embarcações na capitania dos portos) e pede para que seja feita a averbação (uma espécie de anotação/observação feita no registro) da existência dessa execução contra o proprietário daquele bem.

Assim, se alguém for consultar a situação daquele bem, haverá uma averbação (anotação) de que existe uma execução contra o proprietário.

Essa providência serve como um aviso ao devedor e um alerta para a pessoa que eventualmente quiser adquirir a coisa, já que eles, ao consultarem a situação do bem, saberão que existe uma execução contra o alienante e que aquele bem não pode ser vendido, sob pena de se caracterizar a fraude à execução.

Se o devedor alienar ou onerar o bem após o credor ter feito a averbação, essa alienação ou oneração é ineficaz (não produz efeitos) porque haverá uma presunção absoluta de que ocorreu fraude à execução.

Leia o restante do art. 828 do CPC, que tem muitas informações importantes sobre o tema:

Art. 828 (...) § 1º No prazo de 10 (dez) dias de sua concretização, o exequente deverá comunicar ao juízo as averbações efetivadas. § 2º Formalizada penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da dívida, o exequente providenciará, no prazo de 10 (dez) dias, o cancelamento das averbações relativas àqueles não penhorados. § 3º O juiz determinará o cancelamento das averbações, de ofício ou a requerimento, caso o exequente não o faça no prazo. § 4º Presume-se em fraude à execução a alienação ou a oneração de bens efetuada após a averbação. § 5º O exequente que promover averbação manifestamente indevida ou não cancelar as averbações nos termos do § 2º indenizará a parte contrária, processando-se o incidente em autos apartados.

Fraude à execução e citação

Regra geral: para que haja fraude à execução, é indispensável que tenha havido a citação válida do devedor.

Exceção: mesmo sem citação válida, haverá fraude à execução se, quando o devedor alienou ou onerou o bem, o credor já havia realizado a averbação da execução nos registros públicos (art. 828 do CPC). Presume-se em fraude de execução a alienação ou oneração de bens realizada após essa averbação (§ 4º do art. 828) (art. 792, II).

Se o credor perceber que o devedor, mesmo após ter sido proposta a execução, procedeu à alienação ou oneração de bens, precisará ajuizar uma ação para provar que houve a fraude à execução? NÃO. Basta que o credor lesado apresente uma petição ao juízo onde tramita a execução pedindo que seja reconhecida a fraude à execução e declarada a ineficácia do ato de disposição (alienação ou oneração). Atenção: o ato praticado em fraude à execução é um ato válido, mas ineficaz perante o credor (reconhecida a fraude à execução, o juiz decretará a ineficácia da alienação).

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Como fica a situação da pessoa que adquiriu o bem alienado (chamado de “terceiro”)? Esse terceiro perderá o bem? Como protegê-lo? Ao mesmo tempo que se deve evitar a fraude à execução, é também necessário que se proteja o terceiro de boa-fé. Pensando nisso, o STJ firmou o entendimento de que somente será possível reconhecer a fraude à execução se:

ficar provada a má-fé do terceiro adquirente; ou

se, no momento da alienação, o bem vendido já estava penhorado na execução e essa penhora estava registrada no cartório de imóveis (art. 844 do CPC).

Essa posição foi transformada em uma súmula:

Súmula 375-STJ: O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente.

De quem é o ônus de provar que o terceiro adquirente estava de má-fé? Depende: 1) Se o bem adquirido pelo terceiro era sujeito a registro (se existe um registro público onde poderão ser averbadas a existência de processo de execução ou de constrição judicial. Exs: bens imóveis - Registro de Imóveis; automóveis - DETRAN). Neste caso deveremos analisar: 1.1 Se o exequente fez a averbação no registro informando que havia uma execução contra o proprietário do bem ou uma constrição judicial (ex: penhora) sobre a coisa: neste caso, a má-fé do adquirente está provada porque o registro gera publicidade e cabia ao terceiro tê-lo consultado. 1.2 Se o exequente não fez a averbação no registro: neste caso, o exequente terá que comprovar a má-fé do adquirente. 2) Se o bem adquirido pelo terceiro não era sujeito a registro (não existe um registro público onde seja anotada a sua propriedade e alterações. Exs: um quadro, uma joia etc.). Nesta hipótese, o terceiro adquirente é quem terá o ônus de provar que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem (art. 792, § 2º, do CPC/2015). Se não provar, será reconhecida a fraude à execução e ele perderá o bem. Confira o que diz Marcus Vinícius Gonçalves: "Mas, e se o bem não for daqueles sujeitos a registro, como acontece com a maior parte dos bens móveis? Como pode o exequente proteger-se da alienação, pelo devedor, de bens que não podem ser registrados? O art. 792, § 2º, estabelece que, em se tratando de bens não sujeitos a registro, o ônus da prova de boa-fé será do terceiro adquirente, a quem caberá demonstrar que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local em que se encontra. Se o terceiro adquirente não fizer a comprovação de que tomou tais cautelas, presumir-se-á que adquiriu o bem de má-fé, e o juiz declarará a fraude à execução." (GONÇALVES, Marcus Vinícius. Direito Processual Civil esquematizado. São Paulo: Saraiva, 6ª ed., 2016, p. 1.508). Veja a redação do § 2º do art. 792 do CPC/2015:

Art. 792 (...) § 2º No caso de aquisição de bem não sujeito a registro, o terceiro adquirente tem o ônus de provar que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem.

Sobre o tema, se você faz concursos para cartórios, é importante também conhecer a redação do art. 54 da Lei nº 13.097/20015:

Art. 54. Os negócios jurídicos que tenham por fim constituir, transferir ou modificar direitos reais sobre

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imóveis são eficazes em relação a atos jurídicos precedentes, nas hipóteses em que não tenham sido registradas ou averbadas na matrícula do imóvel as seguintes informações: I - registro de citação de ações reais ou pessoais reipersecutórias; II - averbação, por solicitação do interessado, de constrição judicial, do ajuizamento de ação de execução ou de fase de cumprimento de sentença, procedendo-se nos termos previstos do art. 615-A da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil; III - averbação de restrição administrativa ou convencional ao gozo de direitos registrados, de indisponibilidade ou de outros ônus quando previstos em lei; e IV - averbação, mediante decisão judicial, da existência de outro tipo de ação cujos resultados ou responsabilidade patrimonial possam reduzir seu proprietário à insolvência, nos termos do inciso II do art. 593 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil. Parágrafo único. Não poderão ser opostas situações jurídicas não constantes da matrícula no Registro de Imóveis, inclusive para fins de evicção, ao terceiro de boa-fé que adquirir ou receber em garantia direitos reais sobre o imóvel, ressalvados o disposto nos arts. 129 e 130 da Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, e as hipóteses de aquisição e extinção da propriedade que independam de registro de título de imóvel.

Obs: importante esclarecer que a correta interpretação do art. 792, § 2º, do CPC/2015 é objeto de polêmica na doutrina, não havendo uma posição ainda segura sobre o tema. As conclusões acima ainda não foram examinadas pelo STJ. Em provas de concurso, penso que durante um bom tempo deverão cobrar a redação literal do art. 792, § 2º, do CPC/2015. E a súmula 375-STJ continua válida? Penso que sim, mas ela deve ser lida agora com esta nova hipótese trazida pelo art. 792, § 2º do CPC. O que é o registro da penhora? É o mesmo que a averbação do art. 828 que vimos acima? NÃO. O registro da penhora é uma coisa e a averbação do art. 828 do CPC é outra completamente diversa. Penhorar significa apreender judicialmente os bens do devedor para utilizá-los, direta ou indiretamente, na satisfação do crédito executado. A penhora ocorre depois que já existe execução em curso e o executado já foi citado e não pagou. Após ser realizada a penhora, o exequente, para se resguardar ainda mais, pode pegar na Secretaria da Vara onde tramita a execução uma certidão de inteiro teor narrando que foi realizada a penhora sobre determinado bem. Após, de posse dessa certidão, ele poderá ir até o cartório de registro de imóveis e pedir que seja feita a averbação da penhora. Isso está previsto no art. 844 do CPC. Caso faça a averbação, ela irá gerar uma presunção absoluta de que todas as pessoas sabem que esse bem está penhorado. Logo, se alguém adquirir o bem, tal pessoa será considerada terceiro de má-fé e essa venda não será eficaz. Em outras palavras, o terceiro, mesmo tendo pago o preço, perderá a coisa porque adquiriu bem cuja penhora estava registrada. Teses definidas pelo STJ O STJ, ainda na vigência do CPC/1973, apreciando o tema sob o regime do recurso repetitivo, definiu as seguintes teses:

1) Em regra, para que haja fraude à execução, é indispensável que tenha havido a citação válida do devedor.

2) Mesmo sem citação válida, haverá fraude à execução se, quando o devedor alienou ou onerou o bem, o credor já havia realizado a averbação da execução nos registros públicos. Presume-se em fraude de execução a alienação ou oneração de bens realizada após essa averbação.

3) Persiste válida a Súmula 375 do STJ, segundo a qual o reconhecimento da fraude de execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente.

4) A presunção de boa-fé é princípio geral de direito universalmente aceito, devendo ser respeitada a parêmia (ditado) milenar que diz o seguinte: “a boa-fé se presume, a má-fé se prova”.

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 31

5) Assim, não havendo registro da penhora na matrícula do imóvel, é do credor o ônus de provar que o terceiro adquirente tinha conhecimento de demanda capaz de levar o alienante à insolvência.

STJ. Corte Especial. REsp 956.943-PR, Rel. originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 20/8/2014 (recurso repetitivo) (Info 552).

Obs: penso que as teses acima expostas continuam válidas, devendo, no entanto, ser observada também agora a hipótese do art. 792, § 2º do CPC/2015. Contraditório prévio Outra importante novidade do CPC/2015 e que será explorada nas provas está na obrigatoriedade de oportunizar contraditório ao terceiro adquirente antes que seja declarada a fraude à execução. Esta previsão, que não existia no Código passado, foi expressamente inserida nos seguintes termos:

Art. 792 (...) § 4º Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser, poderá opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias.

FRAUDE À EXECUÇÃO E VENDA DO BEM PESSOAL DO SÓCIO DA SOCIEDADE EXECUTADA

Imagine a seguinte situação hipotética: João é sócio-administrador da sociedade empresária “Móveis Bonitos”. A empresa tem enfrentado muitas dificuldades financeiras e suas dívidas aumentam a cada dia. A empresa deve R$ 200 mil a Pedro, tendo emitido uma nota promissória reconhecendo este débito. Pedro ajuizou execução cobrando a quantia devida. Em março/2014, a sociedade empresária foi citada, mas não pagou a dívida. Tentou-se a penhora, mas não se localizou nenhum bem em nome da empresa. Em julho/2014, João vendeu um galpão que possuía e estava registrado em seu nome. Em agosto/2014, o juiz determinou a desconsideração da personalidade jurídica e o redirecionamento da execução contra João (sócio majoritário da empresa). Em setembro/2014, João foi citado como requerido (pessoa física) na execução. Tentou-se a penhora, mas não se localizou nenhum bem em nome de João. Pedro informou ao juízo, então, que, em agosto de 2014, ou seja, após o início da execução proposta contra a empresa, João alienou o galpão. Segundo argumentou o exequente, isso configurou fraude à execução, devendo, portanto, a alienação ser considerada ineficaz. Analisando um caso concreto ocorrido sob a égide do CPC/1973, o STJ aceitou o argumento do exequente? Houve fraude à execução nesta hipótese? NÃO. Isso porque a alienação feita pelo sócio ocorreu antes que ele fosse citado como requerido na execução. Desse modo, o sócio se desfez do bem antes que houvesse contra ele um processo de execução. Assim decidiu o STJ:

A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à citação válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente proposta em face da pessoa jurídica. STJ. 3ª Turma. REsp 1.391.830-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).

Segundo entendeu o Tribunal, para a configuração de fraude à execução, deve haver uma ação judicial contra o próprio devedor, demanda capaz de reduzi-lo à insolvência. Não basta que haja uma ação proposta contra a sociedade empresária da qual ele é sócio. Somente com a superveniência da desconstituição da personalidade da pessoa jurídica é que o sócio da empresa (João) foi transformado em corresponsável pelo débito que era originalmente apenas da empresa. Assim, ao tempo da alienação do imóvel, o sócio da empresa não era devedor e, nessa condição, tinha livre

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disposição sobre seus bens, sem que isso implique em fraude à atividade jurisdicional do Estado. Desta feita, tem-se que a fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à citação válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente proposta em face da pessoa jurídica. O entendimento acima exposto no REsp 1.391.830-SP permanece válido com o CPC/2015? Penso que haverá polêmica. Isso porque o novo CPC traz uma nova regra, que não havia no Código passado, afirmando que a fraude à execução tem como marco a data da citação da pessoa jurídica que é objeto da desconsideração (tratando-se da desconsideração "tradicional"):

Art. 792 (...) § 3º Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar.

Desse modo, pela redação do CPC/2015, os efeitos da desconsideração deverão retroagir à data em que a pessoa jurídica foi citada. Neste caso, adotando-se a literalidade do dispositivo, o entendimento acima exposto teria que ser alterado agora. Vale ressaltar, contudo, que esta regra ofende claramente a boa-fé dos terceiros adquirentes que não teriam, em tese, obrigação de saber que a pessoa que está alienando o bem é sócio de uma empresa, que a pessoa jurídica está sendo executada e que, no futuro, poderá ter a personalidade jurídica desconsiderada para atingir o patrimônio daquele sócio. Enfim, são conjecturas e cautelas muito grandes que se mostram irrazoáveis de serem impostas ao terceiro. Pela nova regra do art. 792, § 3º, o ato de comprar bens de um sócio de sociedade empresária passa a ser um negócio muito arriscado, ainda que contra ele (pessoa física) não haja nenhuma ação judicial em curso. Importante lembrar que o STJ possui uma sólida tradição de proteger a boa-fé dos terceiros adquirentes, de forma que é necessário aguardar para sabermos como o Tribunal irá interpretar o dispositivo acima e se criará algum outro requisito para julgar ineficaz a alienação realizada. A doutrina majoritária critica esta previsão e fornece algumas interpretações para que o dispositivo não seja aplicado textualmente. Mas atenção! Em provas de concurso, a redação literal do art. 792, § 3º será exaustivamente cobrada nas provas, devendo ser assinalada como correta. Uma última observação: desconsideração inversa (ou invertida) da personalidade jurídica é aquela na qual o juiz autoriza que os bens da pessoa jurídica sejam utilizados para pagar as dívidas dos sócios. Em se tratando de desconsideração inversa, o art. 792, § 3º deverá ser entendido assim: primeiro haverá a citação da pessoa física, que está sendo executada; depois, o juiz faz a desconsideração e determina a citação da pessoa jurídica; logo, os efeitos da fraude à execução irão retroagir para a data da primeira citação (da pessoa física).

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REINTEGRAÇÃO DE POSSE Não se exige a prévia notificação extrajudicial dos invasores

para que se proponha reintegração de posse

Importante!!!

A notificação prévia dos ocupantes não é documento essencial à propositura da ação possessória.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.263.164-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).

Interditos possessórios: Existem três ações tipicamente possessórias (interditos possessórios): a) ação de reintegração de posse; b) ação de manutenção de posse; c) interdito proibitório. Diferença entre elas: a) Ação de reintegração de posse: deverá ser proposta pela pessoa que sofreu um esbulho, ou seja,

perdeu a posse. b) Ação de manutenção de posse: proposta quando a pessoa está sofrendo uma turbação, isto é, quando

estão sendo praticados contra ela atos materiais concretos de agressão à posse, sem que ela tenha sido ainda desapossada integralmente. Ex.: o agressor ingressa várias vezes, mas depois sai novamente. Ex.2: o agressor invadiu apenas parte do imóvel.

c) Interdito proibitório: ajuizada quando a pessoa estiver sofrendo ameaças de efetiva ofensa à posse, sem que tenha havido, contudo, um ato material concreto. Ex: os invasores já foram vistos várias vezes rondando a localidade, demonstrando que podem entrar no terreno.

Regulamentação: O procedimento das ações possessórias é regulamentado pelos arts. 560 a 566 do CPC/2015.

Posse nova e posse velha Posse nova: é aquela que tem menos de 1 ano e 1 dia. Posse velha: é aquela que tem mais de 1 ano e 1 dia.

Ação de força nova e ação de força velha

Se a ação for proposta contra uma turbação ou esbulho que ocorreu há menos de 1 ano e 1 dia, diz-se que essa ação é de força nova (a posse do “invasor” é nova). Desse modo, ação de força nova é aquela proposta dentro do prazo de ano e dia a contar da data do esbulho ou da turbação.

Se a ação for proposta contra uma turbação ou esbulho que ocorreu há mais de 1 ano e 1 dia, diz-se que essa ação é de força velha (a posse do “invasor” já é “velha”).

Ação de força nova (ação contra posse nova): segue o procedimento especial previsto nos arts. 560 a 566 do CPC/2015 (Seção II). Ação de força velha (ação contra posse velha): segue o procedimento comum.

Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial. Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório.

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 34

Litígio coletivo pela posse de imóvel e esbulho ou turbação há mais de 1 ano: É o caso, por exemplo, de um grupo de sem terra que invade uma propriedade e ali permanece por mais de ano e dia até que o proprietário ou antigo possuidor da área ajuíze ação de reintegração de posse. Nesta hipótese, o CPC/2015 agora exige a realização de uma audiência de mediação. Confira esta previsão que não existia no Código passado e, por isso, deverá ser bastante cobrada nas provas:

Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2º e 4º. § 1º Concedida a liminar, se essa não for executada no prazo de 1 (um) ano, a contar da data de distribuição, caberá ao juiz designar audiência de mediação, nos termos dos §§ 2º a 4º deste artigo. § 2º O Ministério Público será intimado para comparecer à audiência, e a Defensoria Pública será intimada sempre que houver parte beneficiária de gratuidade da justiça. § 3º O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio quando sua presença se fizer necessária à efetivação da tutela jurisdicional. § 4º Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado ou do Distrito Federal e de Município onde se situe a área objeto do litígio poderão ser intimados para a audiência, a fim de se manifestarem sobre seu interesse no processo e sobre a existência de possibilidade de solução para o conflito possessório. § 5º Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio sobre propriedade de imóvel.

Petição inicial da ação possessória Segundo o art. 561, incumbe ao autor provar: I - a sua posse; Il - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III - a data da turbação ou do esbulho; IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; a perda da posse, na ação de reintegração. Antes de o autor ajuizar a ação de reintegração de posse é necessário que ele notifique extrajudicialmente o invasor para que ele saia do imóvel? Ex: João tinha um terreno que foi esbulhado por Pedro; antes de João propor a ação de reintegração, ele deverá enviar notificação extrajudicial para o esbulhador? NÃO.

A notificação prévia dos ocupantes não é documento essencial à propositura da ação possessória de que trata o art. 560 do CPC/2015. STJ. 4ª Turma. REsp 1.263.164-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).

Os requisitos para a propositura da ação de manutenção ou de reintegração de posse estão previstos no art. 561 do CPC/2015. O inciso III exige que o autor comprove "a data da turbação ou do esbulho". Isso é importante para que o juiz possa identificar se a turbação ou o esbulho ocorreram há menos de 1 ano e 1 dia (hipótese em que a ação será de "força nova"). Em virtude dessa exigência de ter que se comprovar a data da turbação ou do esbulho, tornou-se comum, na prática forense, que os autores, antes de ajuizarem a ação, enviem notificação extrajudicial aos invasores com o objetivo de, posteriormente, juntarem este documento no processo e, assim, demonstrem que a posse dos esbulhadores é "nova" (menos de 1 ano e 1 dia), conseguindo que a demanda tramite sob o rito mais célere. Ocorre que esta notificação prévia não é expressamente exigida pela legislação, razão pela qual não pode o magistrado extinguir o feito, sem resolução do mérito, pelo simples fato de o autor não ter adotado esta providência.

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 35

Na prática, contudo, é recomendável que se envie esta prévia notificação extrajudicial. Uma última advertência. Cuidado para não confundir: para que o credor ajuíze ação de busca e apreensão em caso de alienação fiduciária, exige-se a prévia notificação extrajudicial com o objetivo de comprovar a mora (Súmula 72-STJ). Trata-se, contudo, de situação completamente diferente. Possibilidade de concessão da liminar inaudita altera partes Se a petição inicial estiver devidamente instruída, o juiz poderá deferir, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração da posse (art. 562). A liminar será concedida quando o autor conseguir demonstrar que: a) o ato de agressão à posse deu-se há menos de 1 ano e 1 dia (posse nova); b) existe fumus boni iuris nas alegações deduzidas na petição inicial. Para a concessão da liminar na ação possessória não é necessária a demonstração de periculum in mora (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Método, 2010, p. 1.367). Impossibilidade de concessão de liminar inaudita contra a Fazenda Pública:

Art. 562 (...) Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais.

Caso o juiz entenda que não é o caso de conceder a liminar: audiência de justificação Se o magistrado não estiver convencido dos requisitos para a concessão da liminar, deverá designar uma audiência para que o autor justifique previamente o que alegou na petição inicial. O objetivo da audiência é dar a oportunidade para que o autor traga mais provas sobre a presença dos requisitos necessários à concessão da liminar. Essa audiência é chamada de “audiência de justificação prévia”. Participação do réu na audiência de justificação O art. 562 do CPC/2015 afirma que o réu deverá ser citado para comparecer a essa audiência. Vale ressaltar, no entanto, que ele não será, em regra, ouvido na audiência. Em regra, o réu irá participar da audiência ouvindo as testemunhas arroladas pelo autor, não podendo levar testemunhas suas, considerando que ainda haverá o momento para isso, qual seja, a audiência de instrução. Durante a audiência de justificação, o réu poderá formular perguntas ou oferecer contradita, sempre por meio de advogado. Nessa audiência, o juiz também deverá tentar obter a conciliação entre as partes. Se o réu não for citado para comparecer à audiência de justificação, haverá nulidade absoluta do processo? NÃO. Não gera nulidade absoluta a ausência de citação do réu, na hipótese do art. 928 do CPC/1973 (art. 562 do CPC/2015), para comparecer à audiência de justificação prévia em ação de reintegração de posse. Segundo entendeu o STJ, o termo “citação” foi utilizado de forma imprópria no art. 928 do CPC/1973 (art. 562 do CPC/2015), na medida em que, nessa hipótese, o réu não é chamado para se defender, mas sim para, querendo, comparecer e participar da audiência de justificação. Na audiência de justificação, a prova é exclusiva do autor, cabendo ao réu, caso compareça, apenas fazer perguntas. Somente após a referida audiência é que começará a correr o prazo para contestar (parágrafo único do art. 930 do CPC/1973) (parágrafo único do art. 564 do CPC/2015). Após a realização da audiência de justificação prévia: Depois de colher as provas, o magistrado deverá decidir sobre a medida liminar, podendo fazê-lo na própria audiência ou no prazo de 10 dias.

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 36

Se o juiz se convencer dos argumentos do autor, deverá conceder a liminar. Nesse caso, diz-se que o juiz considerou suficiente a justificação (art. 563 do CPC/2015).

Se o juiz considerar que os argumentos não foram suficientes mesmo após a audiência, deverá denegar a liminar.

Art. 563. Considerada suficiente a justificação, o juiz fará logo expedir mandado de manutenção ou de reintegração.

Recurso cabível contra a decisão que concede ou denega a liminar: agravo de instrumento. Contestação Concedida ou não a liminar, o réu será citado para contestar a ação, no prazo de 15 dias:

Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor promoverá, nos 5 (cinco) dias subsequentes, a citação do réu para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 (quinze) dias. Parágrafo único. Quando for ordenada a justificação prévia, o prazo para contestar será contado da intimação da decisão que deferir ou não a medida liminar.

Art. 566. Aplica-se, quanto ao mais, o procedimento comum.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

PRISÃO Réu que praticou apenas a lavagem de dinheiro de uma organização criminosa voltada ao tráfico, mas já desfeita, pode ser beneficiado com medidas cautelares diversas da prisão

Na hipótese em que a atuação do sujeito na organização criminosa de tráfico de drogas se limitava à lavagem de dinheiro, é possível que lhe sejam aplicadas medidas cautelares diversas da prisão quando constatada impossibilidade da organização continuar a atuar, ante a prisão dos integrantes responsáveis diretamente pelo tráfico.

STJ. 6ª Turma. HC 376.169-GO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 1/12/2016 (Info 594).

Imagine a seguinte situação adaptada: O Ministério Público denunciou João e mais nove pessoas pela prática de diversos crimes, dentre eles, tráfico de drogas, associação para o tráfico, organização criminosa e lavagem de dinheiro. O juiz decretou a prisão preventiva de todos os réus. A defesa de João impetrou habeas corpus alegando que a organização criminosa foi desfeita, considerando que todos os seus integrantes foram presos e que ele tinha uma participação menor no grupo, tendo em vista que ficava apenas responsável pela lavagem de dinheiro, não tendo tido nenhum envolvimento direto com o tráfico de drogas. Diante disso, a defesa postulou pela revogação da prisão preventiva, com a imposição de medidas cautelares diversas da prisão (art. 319 do CPP). O STJ concordou com os argumentos da defesa? SIM.

Na hipótese em que a atuação do sujeito na organização criminosa de tráfico de drogas se limitava à

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 37

lavagem de dinheiro, é possível que lhe sejam aplicadas medidas cautelares diversas da prisão quando constatada impossibilidade da organização continuar a atuar, ante a prisão dos integrantes responsáveis diretamente pelo tráfico. STJ. 6ª Turma. HC 376.169-GO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 1/12/2016 (Info 594).

No caso concreto, ficou demonstrado que o réu atuava apenas na lavagem de dinheiro, não tendo nenhuma atuação direta no tráfico de drogas propriamente dito. Assim, somando-se a essa situação particular o fato de que os integrantes da organização criminosa responsáveis diretamente pelo tráfico encontram-se presos, o que implica a impossibilidade da organização continuar a atuar, o STJ entendeu que era possível a aplicação de outras cautelares que não a prisão. Diante disso, o STJ revogou a prisão preventiva e impôs ao acusado duas medidas cautelares: a) obrigação de comparecer no Juízo em que tramita a ação penal nos prazos e nas condições a serem fixados pelo juiz (art. 319, I, do CPP); b) proibição de manter contato, por qualquer meio, com os demais investigados (art. 319, III, do CPP).

DIREITO TRIBUTÁRIO

ARROLAMENTO FISCAL Alienação de bens objeto de arrolamento fiscal não depende de prévia notificação ao Fisco

A alienação de bens que foram objeto de arrolamento fiscal não depende de prévia notificação ao órgão fazendário.

A Lei nº 9.532/97 não exige que a notificação ao órgão fazendário seja prévia à alienação, mas simplesmente que exista a comunicação.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.217.129-SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/10/2016 (Info 594).

Arrolamento fiscal Quando o contribuinte estiver devendo mais que R$ 2 milhões em tributos e este montante da dívida superar 30% do seu patrimônio, o Fisco poderá fazer o arrolamento dos bens e direitos que pertencem a esse sujeito passivo. Isso é conhecido como arrolamento fiscal e está previsto no art. 64 da Lei nº 9.532/97:

Art. 64. A autoridade fiscal competente procederá ao arrolamento de bens e direitos do sujeito passivo sempre que o valor dos créditos tributários de sua responsabilidade for superior a trinta por cento do seu patrimônio conhecido. (...) § 2º Na falta de outros elementos indicativos, considera-se patrimônio conhecido, o valor constante da última declaração de rendimentos apresentada.

Para você entender melhor, o arrolamento fiscal é como se fosse um inventário, ou seja, uma descrição dos bens do contribuinte feita pelo Fisco com o objetivo de monitorar o patrimônio do devedor e, assim, evitar que ele se desfaça dos bens que poderão servir para o pagamento da dívida.

Trata-se de uma medida acautelatória que visa assegurar a realização do crédito fiscal, impedindo que o contribuinte/devedor venda, onere ou transfira, a qualquer título, os bens e direitos arrolados, sem que o Fisco seja notificado. Tem como finalidade, proporcionar ao Fisco o acompanhamento da evolução patrimonial, sendo que os bens continuam na propriedade do contribuinte/devedor. Vale ressaltar que o arrolamento fiscal poderá abranger, inclusive, o bem de família considerando que tal providência não configura constrição ao direito de posse ou de propriedade e, portanto, não ofende a

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garantia da impenhorabilidade legal. STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1496213/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 18/12/2014.

No âmbito federal, o arrolamento de bens é disciplinado pela IN RFB n.º 1565/2015, sendo o procedimento realizado pelo Auditor Fiscal da Receita Federal, que lavrará um “Termo de Arrolamento de Bens e Direitos” listando os bens que pertencem ao devedor e os seus respectivos valores. Se tiver sido feito o arrolamento fiscal do patrimônio de um sujeito passivo, isso significa dizer que ele estará impedido de vender seus bens? Para que o sujeito passivo venda seus bens, terá que obter a autorização da Administração Tributária? NÃO. Mesmo tendo sido feito o arrolamento fiscal, o sujeito passivo poderá alienar seus bens. O arrolamento fiscal produz um cadastro em favor do Fisco, destinado apenas a viabilizar o acompanhamento da evolução patrimonial do sujeito passivo da obrigação tributária. O contribuinte permanece, contudo, no pleno gozo dos atributos da propriedade, tanto que os bens arrolados, por não se vincularem à satisfação do crédito tributário, podem ser transferidos, alienados ou onerados, independentemente da concordância da autoridade fazendária (STJ AgRg no AREsp. 289.805/SC). A lei exige, no entanto, uma providência: que essa alienação seja comunicada ao Fisco. Essa comunicação exigida pela lei deverá ser antes ou depois da alienação? Em outras palavras, o sujeito passivo precisa notificar o Fisco antes de alienar os bens? NÃO. Esta notificação é posterior. Segundo decidiu o STJ:

A Lei nº 9.532/97 não exige que a notificação ao órgão fazendário seja prévia à alienação, mas simplesmente que exista a comunicação. Assim, a alienação de bens que foram objeto de arrolamento fiscal não depende de prévia notificação ao órgão fazendário. STJ. 1ª Turma. REsp 1.217.129-SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/10/2016 (Info 594).

Veja o texto da Lei que revela que a comunicação é posterior à venda:

Art. 64 (...) § 3º A partir da data da notificação do ato de arrolamento, mediante entrega de cópia do respectivo termo, o proprietário dos bens e direitos arrolados, ao transferi-los, aliená-los ou onerá-los, deve comunicar o fato à unidade do órgão fazendário que jurisdiciona o domicílio tributário do sujeito passivo.

A IN RFB n.º 1565/2015 também possui regra no mesmo sentido:

Art. 8º O sujeito passivo cientificado do arrolamento fica obrigado a comunicar à unidade da RFB de seu domicílio tributário a alienação, a oneração ou a transferência a qualquer título, inclusive aquela decorrente de cisão parcial ou perda total de qualquer dos bens ou direitos arrolados, no prazo de 5 (cinco) dias contado da ocorrência do fato, sob pena de aplicação do disposto no caput do art. 15.

O que acontece caso o sujeito passivo aliene os bens que foram objeto de arrolamento fiscal e não comunique este fato ao órgão fazendário? Se o contribuinte alienar, onerar ou transferir os bens ou direitos arrolados sem fazer a comunicação ao órgão fazendário, então, neste caso, a Fazenda Pública ficará autorizada a requerer ao juiz medida cautelar fiscal contra o sujeito passivo (art. 64, § 4º). A medida cautelar fiscal é disciplinada pela Lei nº 8.397/92. Resumo dos principais pontos da medida cautelar fiscal

Competência. A medida cautelar fiscal será requerida ao Juiz competente para a execução judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública. Em outras palavras, será competente o mesmo juízo da execução

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 39

fiscal. Importante: se a execução judicial já estiver no Tribunal, será competente o Relator do recurso.

Apenso. Os autos do procedimento cautelar fiscal serão apensados aos do processo de execução judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública.

Petição inicial. É necessária petição inicial devidamente fundamentada, que indicará: I - o Juiz a quem é dirigida; II - a qualificação e o endereço, se conhecido, do requerido; III - as provas que serão produzidas; IV - o requerimento para citação.

Liminar. O juiz concederá liminarmente a medida cautelar fiscal, dispensada a Fazenda Pública de justificação prévia e de prestação de caução. Contra esta decisão, cabe agravo de instrumento.

Indisponibilidade. A decretação da medida cautelar fiscal produzirá, de imediato, a indisponibilidade dos bens do requerido, até o limite da satisfação da obrigação.

Citação. Depois de tudo isso acima, o requerido será citado para, no prazo de 15 dias, contestar o pedido, indicando as provas que pretenda produzir.

Revelia. Não sendo contestado o pedido, presumir-se-ão aceitos pelo requerido, como verdadeiros, os fatos alegados pela Fazenda Pública, caso em que o Juiz decidirá em 10 dias.

Audiência. Se o requerido contestar no prazo legal, o Juiz designará audiência de instrução e julgamento, havendo prova a ser nela produzida.

Garantia. A medida cautelar fiscal decretada poderá ser substituída, a qualquer tempo, pela prestação de garantia correspondente ao valor da prestação da Fazenda Pública. A Fazenda Pública será ouvida necessariamente sobre o pedido de substituição, no prazo de 5 dias, presumindo-se da omissão a sua aquiescência.

Medida cautelar fiscal preparatória de execução. Quando a medida cautelar fiscal for concedida em procedimento preparatório, deverá a Fazenda Pública propor a execução judicial da Dívida Ativa no prazo de 60 dias, contados da data em que a exigência se tornar irrecorrível na esfera administrativa.

Indeferimento e independência em relação à execução fiscal. Se o juiz indeferir a medida cautelar fiscal, isso não impede que a Fazenda Pública ajuíze execução judicial, salvo se o magistrado, no procedimento cautelar fiscal, acolher alegação de pagamento, de compensação, de transação, de remissão, de prescrição ou decadência, de conversão do depósito em renda, ou qualquer outra modalidade de extinção da pretensão deduzida.

Coisa julgada. A sentença proferida na medida cautelar fiscal, em regra, não faz coisa julgada relativamente à execução judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública, salvo se o juiz acolher alegação de pagamento, de compensação, de transação, de remissão, de prescrição ou decadência, de conversão do depósito em renda, ou qualquer outra modalidade de extinção da pretensão deduzida.

Recurso. Da sentença que decretar a medida cautelar fiscal caberá apelação, sem efeito suspensivo, salvo se o requerido oferecer garantia.

IMPOSTO DE RENDA Ganho de capital obtido com a venda de imóvel residencial é isento de IR se ele for utilizado

para pagamento de parcelas de outro imóvel residencial comprado anteriormente

A isenção do Imposto de Renda sobre o ganho de capital nas operações de alienação de imóvel prevista no art. 39, da Lei nº 11.196/2005 se aplica à hipótese de venda de imóvel residencial com o objetivo de quitar, total ou parcialmente, débito remanescente de aquisição a prazo ou à prestação de imóvel residencial já possuído pelo alienante.

A restrição estabelecida no art. 2º, §11, I, da Instrução Normativa-SRF n. 599/2005 é ilegal.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.469.478-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, Rel. para acórdão Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 25/10/2016 (Info 594).

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Art. 39 da Lei nº 11.196/2005 O art. 39 da Lei nº 11.196/2005 prevê uma hipótese de isenção de imposto de renda:

Art. 39. Fica isento do imposto de renda o ganho auferido por pessoa física residente no País na venda de imóveis residenciais, desde que o alienante, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias contado da celebração do contrato, aplique o produto da venda na aquisição de imóveis residenciais localizados no País.

Ex: João comprou seu apartamento por R$ 300 mil; dois anos depois, vendeu este imóvel por R$ 400 mil, tendo “lucrado” R$ 100 mil com o negócio. Diz-se que seu ganho de capital foi de R$ 100 mil. Em princípio, João teria que pagar imposto de renda sobre esse ganho de capital. Ocorre que o art. 39 acima transcrito garante uma isenção do imposto caso ele utilize este valor recebido para adquirir outro imóvel residencial. Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: Em janeiro de 2016, Pedro comprou uma casa por R$ 300 mil. Em julho de 2016, Pedro celebrou contrato de promessa de compra e venda de um apartamento, pagando uma parte à vista, ficando com R$ 500 mil para ser pago parceladamente. As prestações ficaram pesadas e, em outubro de 2016, Pedro vendeu a casa por R$ 400 mil. Dessa forma, ele teve um ganho de capital de R$ 100 mil (400-300). Esse dinheiro ele utilizou para pagar as prestações do apartamento. Pedro, na declaração de imposto de renda, informou que os R$ 100 mil que recebeu de ganho de capital com a venda da casa seriam isentos do IR. A Receita Federal, contudo, não concordou e afirmou que, para ter direito à isenção do IR, a compra do imóvel residencial deve ser posterior à data do ganho de capital. No caso de Pedro, foi o contrário, pois primeiro ele comprou o apartamento (julho) e depois teve o ganho de capital com a venda casa (outubro). Logo, não teria direito. O Fisco sustentou que existe expressa vedação à pretensão de Pedro no art. 2º, § 11, I, da Instrução Normativa-SRF n. 599/2005, que regulamentou a isenção legal. Veja o texto da IN 599/2005:

Art. 2º Fica isento do imposto de renda o ganho auferido por pessoa física residente no País na venda de imóveis residenciais, desde que o alienante, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias contado da celebração do contrato, aplique o produto da venda na aquisição, em seu nome, de imóveis residenciais localizados no País. (...) § 11. O disposto neste artigo não se aplica, dentre outros: I - à hipótese de venda de imóvel residencial com o objetivo de quitar, total ou parcialmente, débito remanescente de aquisição a prazo ou à prestação de imóvel residencial já possuído pelo alienante;

É válido o argumento utilizado pela Receita Federal para negar a isenção? NÃO. Pedro tem, sim, direito à isenção. Segundo decidiu o STJ:

A isenção do Imposto de Renda sobre o ganho de capital nas operações de alienação de imóvel prevista no art. 39, da Lei nº 11.196/2005 se aplica à hipótese de venda de imóvel residencial com o objetivo de quitar, total ou parcialmente, débito remanescente de aquisição a prazo ou à prestação de imóvel residencial já possuído pelo alienante. STJ. 2ª Turma. REsp 1469478/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, Rel. p/ Acórdão Ministro Mauro Campbell Marques, julgado em 25/10/2016 (Info 594).

A restrição imposta pela instrução normativa da Receita Federal torna a aplicação do art. 39 da Lei n.º 11.196/2005 quase que impossível. A grande maioria das aquisições imobiliárias das pessoas físicas é feita mediante contratos de financiamento de longo prazo (até trinta anos). Isso porque o mais comum é que as pessoas não tenham liquidez para adquirir um imóvel à vista.

Além disso, pessoa física geralmente adquire o "segundo imóvel" ainda "na planta" (em construção), o que dificulta a alienação anterior do "primeiro imóvel", já que é necessário ter onde morar. A regra então é que a aquisição do "segundo imóvel" se dê antes da alienação do "primeiro imóvel".

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 41

Sendo assim, a finalidade do art. 39 da Lei nº 11.196/2005 é mais bem alcançada quando se permite que o produto da venda do imóvel residencial anterior seja empregado, dentro do prazo de 180 (cento e oitenta dias), na aquisição de outro imóvel residencial, compreendendo dentro deste conceito de aquisição também a quitação do débito remanescente do imóvel já adquirido ou de parcelas do financiamento em curso firmado anteriormente.

Ademais, se você observar a redação do art. 39, verá que ele exige apenas a aplicação do "produto da venda na aquisição de imóveis residenciais localizados no País". Não existe uma exigência do momento em que deve ocorrer esta aquisição. Não há qualquer registro na Lei de que as aquisições de que ela fala sejam somente aquelas cujos contratos ocorreram depois da venda do primeiro imóvel residencial.

Aliás, a lei nem poderia dizer isso, pois, como já descrevemos, destoaria da realidade do mercado imobiliário para pessoas físicas que se faz com contratos a prazo, financiamentos, e o início da aquisição do segundo imóvel antes mesmo da realização da venda do primeiro.

Dessa forma, com base nos argumentos acima, o STJ entendeu que o art. 2º, §11, I, da Instrução Normativa-SRF nº 599⁄2005 é ilegal.

PIS/PASEP E COFINS Incidência do valor pago a título de ICMS na base de cálculo do PIS/PASEP E COFINS

O valor do ICMS, destacado na nota, devido e recolhido pela empresa compõe seu faturamento, submetendo-se à tributação pelas contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, sendo integrante também do conceito maior de receita bruta, base de cálculo das referidas exações.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.144.469-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/8/2016 (recurso repetitivo) (Info 594).

Obs: o STF possui um precedente em sentido contrário: RE 240785/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/10/2014 (Info 762).

Os chamados PIS e COFINS são duas diferentes “contribuições de seguridade social”, instituídas pela União. Atualmente, o PIS é chamado de PIS/PASEP. PIS/PASEP O sentido histórico dessas duas siglas é o seguinte:

PIS: Programa de Integração Social.

PASEP: Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público. O PIS e o PASEP foram criados separadamente, mas desde 1976 foram unificados e passaram a ser denominados de PIS/PASEP. Segundo a Lei nº 10.637/2002, a contribuição para o PIS/Pasep incide sobre o total das receitas auferidas no mês pela pessoa jurídica, independentemente de sua denominação ou classificação contábil. COFINS Significa Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social. A COFINS (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) é uma espécie de tributo instituída pela Lei Complementar 70/91, nos termos do art. 195, I, “b”, da CF/88. A COFINS incide sobre o total das receitas auferidas no mês pela pessoa jurídica, independentemente de sua denominação ou classificação contábil (art. 1º da Lei nº 10.833/2003).

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Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa "XX" (vendedora de mercadorias) é contribuinte de PIS/COFINS. Com as mercadorias vendidas em maio, o total das receitas auferidas pela empresa no mês foi R$ 100 mil. O fisco cobrou o PIS/PASEP e COFINS com base nesse valor (alíquota x 100 mil = tributo devido). A empresa não concordou e afirmou que dos R$ 100 mil que ela recebeu, ficou apenas com R$ 75 mil, considerando que R$ 25 mil foram repassados ao Estado-membro a título de pagamento de ICMS. Em suma, para a empresa, a quantia paga a título de ICMS não pode ser incluída na base de cálculo do PIS/PASEP e COFINS. Como reforço de seu argumento, a empresa mostrou as notas fiscais das mercadorias e nela consta, em separado, a seguinte descrição "ICMS R$ XXX", o que demonstra que o valor do tributo foi destacado na nota. A tese da empresa foi acolhida pelo STJ? NÃO. O ICMS deve ser incluído na base de cálculo do PIS e da COFINS.

O valor do ICMS, destacado na nota, devido e recolhido pela empresa compõe seu faturamento, submetendo-se à tributação pelas contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, sendo integrante também do conceito maior de receita bruta, base de cálculo das referidas exações. STJ. 1ª Seção. REsp 1.144.469-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/8/2016 (recurso repetitivo) (Info 594).

É possível a incidência de tributos sobre o valor a ser pago a título de outros tributos Inicialmente, cumpre deixar registrado que o ordenamento jurídico pátrio permite, em regra, a incidência de tributos sobre o valor a ser pago a título de outros tributos ou do mesmo tributo. Ou seja, é legítima a incidência de tributo sobre tributo ou imposto sobre imposto, salvo determinação constitucional ou legal expressa em sentido contrário, não havendo aí nenhuma violação, a priori, ao princípio da capacidade contributiva. No caso, não existe qualquer vedação de se incluir o valor pago a título de ICMS na base de cálculo do PIS/PASEP e COFINS. Valor pago a título de ICMS inclui-se no conceito de “total das receitas auferidas” As Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003 estabeleceram que a base de cálculo da Contribuição para o PIS/PASEP e COFINS é “o total das receitas auferidas pela pessoa jurídica”. O valor correspondente ao ICMS suportado faticamente pelo consumidor (contribuinte de fato), mas recolhido aos cofres públicos pela empresa (contribuinte de direito), inclui-se no conceito de “total de receitas” para fins de incidência da Contribuição para o PIS e COFINS. O fato de constar em nota fiscal informação no sentido de que o valor com o qual arcará o destinatário do serviço compreende quantia correspondente ao valor do ICMS não torna o consumidor contribuinte desse tributo a ponto de se acolher a tese da empresa. Admitir essa tese seria o mesmo que considerar o consumidor como sujeito passivo de direito do tributo (contribuinte de direito) do ICMS e a empresa seria apenas um "substituto tributário", cuja função seria apenas a de recolher aos cofres públicos a exação devida por terceiro, no caso o consumidor. Ocorre que isso não encontra amparo na legislação, pois o consumidor não é contribuinte do ICMS. O consumidor pode até, na prática, suportar o valor do tributo, já que a empresa "embute" no preço do serviço o valor que ela irá pagar de ICMS. No entanto, isso não transforma o adquirente da mercadoria no contribuinte de direito do ICMS. A lei prevê que o sujeito passivo deste tributo é a empresa que comercializa as mercadorias. A hipótese não se confunde, portanto, com aquela em que se tem a chamada responsabilidade tributária por substituição, em que determinada entidade, por força de lei, figura no polo passivo de uma relação jurídico-tributária obrigacional, cuja prestação (o dever) consiste em reter o tributo devido pelo substituído para, posteriormente, repassar a quantia correspondente aos cofres públicos. Se fosse essa

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a hipótese (substituição tributária), é certo que a quantia recebida pelo contribuinte do PIS e da COFINS a título de ICMS não integraria o conceito de “total de receitas”. No mesmo sentido se o ônus referente ao ICMS não fosse transferido ao consumidor do serviço. Nesse caso, não haveria dúvida de que o valor referente ao ICMS não corresponderia à receita ou ao faturamento, já que faticamente suportado pelo contribuinte de direito, qual seja, o adquirente da mercadoria. Em suma, quem possui o dever de pagar o ICMS é a empresa. Ela repassa essa quantia para o consumidor embutida no preço da mercadoria. Logo, ela recebe esse valor e o utiliza para pagar uma obrigação que é sua (o imposto). Dessa forma, não se pode dizer que não se trate de uma receita sua, já que utilizada para pagar suas obrigações tributárias. O fato de o ICMS vir destacado na nota não muda nada O fato de haver ou não discriminação na fatura do valor suportado pelo vendedor a título de tributação decorre apenas da necessidade de se informar ou não ao Fisco, ou ao adquirente, o valor do imposto embutido no preço pago. Desse modo, os valores do ISSQN e do ICMS, destacados na nota, devidos e recolhidos pelas empresas vendedoras de mercadorias e/ou prestadoras de serviços em razão de suas vendas de bens e serviços compõem o faturamento dessas empresas, submetendo-se à tributação pelas contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, não havendo aí afronta ao art. 110 do CTN. Cuidado. Precedente do STF em sentido contrário O STF possui um precedente em sentido contrário ao que decidiu o STJ. Confira:

O valor retido em razão do ICMS não pode ser incluído na base de cálculo da COFINS sob pena de violar o art. 195, I, “b”, da CF/88. STF. Plenário. RE 240785/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/10/2014 (Info 762).

O julgado acima proferido contou com a participação de inúmeros Ministros que atualmente estão aposentados. Logo, ele não reflete, necessariamente, a posição atual da Corte. Os especialistas apontam que o STF deverá decidir de forma diferente ao julgar o RE 835.818/PR, que está aguardando apreciação pelo Plenário com repercussão geral reconhecida. Em concursos públicos, deve-se atentar para a redação do enunciado.

PIS/PASEP E COFINS Valores computados como receitas que tenham sido transferidos para

outras pessoas jurídicas integram a base de cálculo do PIS/PASEP e COFINS

O artigo 3º, § 2º, III, da Lei nº 9.718/98 não teve eficácia jurídica, de modo que integram o faturamento e também o conceito maior de receita bruta, base de cálculo das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, os valores que, computados como receita, tenham sido transferidos para outra pessoa jurídica.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.144.469-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/8/2016 (recurso repetitivo) (Info 594).

Lei nº 9.718/98 A Lei nº 9.718/98, dentre outros assuntos, tratou sobre a contribuição para o PIS/PASEP e COFINS. Esta Lei previu que as contribuições para o PIS/PASEP e a COFINS seriam calculadas com base no faturamento da pessoa jurídica (art. 2º, caput). Segundo o art. 3º, caput, faturamento seria igual a receita bruta. Assim, pela Lei nº 9.718/98, a base de cálculo do PIS/PASEP e da COFINS seria a receita bruta.

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Verbas excluídas do conceito de “receita bruta” O § 2º do art. 3º da Lei nº 9.718/98 listou uma série de verbas que devem ficar fora do conceito de “receita bruta”, ou seja, são quantias que não deverão ser levadas em consideração no momento de se apurar a base de cálculo do PIS/PASEP e da COFINS. Veja o que dizia o inciso III:

Art. 3º (...) § 2º Para fins de determinação da base de cálculo das contribuições a que se refere o art. 2º, excluem-se da receita bruta: III - os valores que, computados como receita, tenham sido transferidos para outra pessoa jurídica, observadas normas regulamentadoras expedidas pelo Poder Executivo;

Assim que a Lei nº 9.718/98 entrou em vigor, as empresas, com o objetivo de reduzir o valor que pagavam de contribuições, tentaram excluir da base de cálculo do PIS/PASEP e da COFINS “os valores que, computados como receita, tenham sido transferidos para outra pessoa jurídica”, com base neste inciso III. Ocorre que o Fisco não aceitou, argumentando que as empresas somente poderiam ser beneficiadas com a referida exclusão depois que o Poder Executivo expedisse o regulamento da Lei. Assim, a Fazenda Nacional sustentou a tese de que o art. 3º, § 2º, III, da Lei nº 9.718/98 seria uma norma de eficácia limitada, não produzindo efeitos antes da regulamentação infralegal. Como a regulamentação ainda não havia sido editada, não seria possível aplicar o dispositivo em questão.

MP 2.158-35 As empresas, que aguardavam ansiosamente a regulamentação, tiveram uma surpresa desagradável: em vez de fazer isso, o Presidente da República editou a MP 2.158-35 revogando o art. 3º, § 2º, III, da Lei nº 9.718/98.

O que isso representa? Significa dizer que o art. 3º, § 2º, III, da Lei nº 9.718/98 foi “morto” antes de se “levantar”, ou seja, foi revogado antes de começar a produzir efeitos. Segundo decidiu o STJ, a restrição legislativa do art. 3º, § 2º, III ao conceito de faturamento não teve eficácia no mundo jurídico, já que dependia de regulamentação administrativa e, antes da publicação dessa regulamentação, foi revogado pela MP 2.158-35, de 2001. Logo, os valores que, computados como receita, tenham sido transferidos para outra pessoa jurídica, integram sim o conceito de receita bruta (faturamento) e devem ser incluídos na base de cálculo do PIS/PASEP e COFINS.

Em sede de recurso repetitivo, o raciocínio acima foi sintetizado na seguinte tese:

O artigo 3º, § 2º, III, da Lei nº 9.718/98 não teve eficácia jurídica, de modo que integram o faturamento e também o conceito maior de receita bruta, base de cálculo das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, os valores que, computados como receita, tenham sido transferidos para outra pessoa jurídica. STJ. 1ª Seção. REsp 1.144.469-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/8/2016 (recurso repetitivo) (Info 594).

CONTRIBUIÇÕES Contribuição ao INCRA e inexistência de diferenciação de alíquotas entre matriz e filial

O art. 2º, II, do DL 1.146/70 dispõe expressamente que a cooperativa que exerça atividade de indústria de laticínios está sujeita à contribuição devida ao INCRA à alíquota de 2,5% sobre a folha mensal dos salários de contribuição previdenciária de seus empregados.

Assim, em regra, não há permissão para a diferenciação de alíquotas por estabelecimento ou CNPJ do contribuinte, ou seja, a alíquota e a base de cálculo da contribuição são uma só para

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 45

toda a pessoa jurídica, de acordo com a "atividade econômica preponderante" desenvolvida (art. 581, §§1º e 2º, da CLT).

Dito de outro modo, a diferenciação de alíquotas em razão da individualização de estabelecimentos por CNPJ próprio entre a matriz e a filial da empresa não se aplica, regra geral, em relação às contribuições devidas a terceiros previstas no art. 3º, da Lei nº 11.457/2007.

O escritório (filial) da indústria, a despeito de possuir CNPJ próprio, dela não se separa. Ao contrário, o escritório filial existe em função da matriz industrial, consubstanciando com ela uma única pessoa jurídica e com objetivo único.

STJ. 2 Turma. REsp 1.634.693-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 22/11/2016 (Info 594).

Imagine a seguinte situação hipotética: "Leite Bom" é uma cooperativa que funciona como indústria de laticínios. O art. 2º, II, do Decreto-Lei nº 1.146/1970 determina que ela, enquanto indústria de laticínios, deve pagar uma contribuição (tributo) que é destinada ao INCRA. Esta contribuição possui alíquota de 2,5%, sendo devida sobre a soma da folha mensal dos salários de contribuição previdenciária dos seus empregados.

Art. 2º A contribuição instituída no "caput " do artigo 6º da Lei número 2.613, de 23 de setembro de 1955, é reduzida para 2,5% (dois e meio por cento), a partir de 1º de janeiro de 1971, sendo devida sobre a soma da folha mensal dos salários de contribuição previdenciária dos seus empregados pelas pessoas naturais e jurídicas, inclusive cooperativa, que exerçam as atividades abaixo enumeradas: (...) II - Indústria de laticínios;

Vale ressaltar que esta contribuição destinada ao INCRA possui a natureza jurídica de contribuição interventiva no domínio econômico, encontrando sua fonte de legitimidade no art. 149 da CF/88. A contribuição destinada ao INCRA é também classificada como sendo uma espécie das "contribuições devidas a terceiros", sendo cobrada pela Receita Federal, nos termos dos arts. 2º e 3º da Lei nº 11.457/2007:

Art. 2º Além das competências atribuídas pela legislação vigente à Secretaria da Receita Federal, cabe à Secretaria da Receita Federal do Brasil planejar, executar, acompanhar e avaliar as atividades relativas a tributação, fiscalização, arrecadação, cobrança e recolhimento das contribuições sociais previstas nas alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo único do art. 11 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, e das contribuições instituídas a título de substituição. Art. 3º As atribuições de que trata o art. 2º desta Lei se estendem às contribuições devidas a terceiros, assim entendidas outras entidades e fundos, na forma da legislação em vigor, aplicando-se em relação a essas contribuições, no que couber, as disposições desta Lei. (...) § 6º Equiparam-se a contribuições de terceiros, para fins desta Lei, as destinadas ao Fundo Aeroviário - FA, à Diretoria de Portos e Costas do Comando da Marinha - DPC e ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA e a do salário-educação.

Diferenciação das alíquotas Vale ressaltar que o percentual da alíquota da contribuição ao INCRA varia de acordo com a atividade econômica desenvolvida pela empresa. Vimos acima que, no caso da indústria de laticínios, a alíquota é de 2,5%, conforme previsto no art. 2º, II, do DL 1.146/70. No entanto, existem alíquotas menores para empresas que desempenham outras atividades econômicas. Tese da empresa A "Leite Bom" veio, então, com o seguinte argumento: Nossa empresa é dividida em duas. Temos a empresa matriz (indústria de laticínios - CNPJ: XX.XXX.XXX/0002-56) e uma filial (escritório administrativo - CNPJ: YY.YYY.YYY/0001-75).

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No que se refere aos empregados que trabalham na matriz (indústria de laticínios), eu aceito pagar a alíquota de 2,5% porque se enquadra no art. 2º, II, do DL 1.146/70. No entanto, no que se refere aos trabalhadores da filial, o correto é que eu pague uma alíquota menor (de 0,2%) porque eu não desenvolvo lá atividades de indústria de laticínios, razão pela qual eu não me enquadro no art. 2º, II, do referido DL. Assim, segundo alegou a indústria, o enquadramento, para efeito de se atribuir as alíquotas de contribuição ao INCRA, deve ser feito por estabelecimento e individualmente para cada CNPJ, não havendo que ser global para toda a empresa. A tese da empresa foi aceita pelo STJ? NÃO.

O art. 2º, II, do DL 1.146/70 dispõe expressamente que a cooperativa que exerça atividade de indústria de laticínios está sujeita à contribuição devida ao INCRA à alíquota de 2,5% sobre a folha mensal dos salários de contribuição previdenciária de seus empregados. Assim, em regra, não há permissão para a diferenciação de alíquotas por estabelecimento ou CNPJ do contribuinte, ou seja, a alíquota e a base de cálculo da contribuição são uma só para toda a pessoa jurídica, de acordo com a "atividade econômica preponderante" desenvolvida (art. 581, §§1º e 2º, da CLT). O escritório (filial) da indústria, a despeito de possuir CNPJ próprio, dela não se separa. Ao contrário, o escritório filial existe em função da matriz industrial, consubstanciando com ela uma única pessoa jurídica e com objetivo único. STJ. 2ª Turma. REsp 1.634.693-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 22/11/2016 (Info 594).

Veja a redação da CLT:

Art. 581 (...) § 1º Quando a empresa realizar diversas atividades econômicas, sem que nenhuma delas seja preponderante, cada uma dessas atividades será incorporada à respectiva categoria econômica, sendo a contribuição sindical devida à entidade sindical representativa da mesma categoria, procedendo-se, em relação às correspondentes sucursais, agências ou filiais, na forma do presente artigo. § 2º Entende-se por atividade preponderante a que caracterizar a unidade de produto, operação ou objetivo final, para cuja obtenção todas as demais atividades convirjam, exclusivamente em regime de conexão funcional.

A única exceção em que seria possível a cobrança de alíquotas diferenciadas seria no caso de a "empresa realizar diversas atividades econômicas, sem que nenhuma delas seja preponderante" (art. 581, § 1º, da CLT). Este, contudo, não é o caso da "Leite Bom", considerando que a única atividade econômica que ela exerce é a de indústria de laticínios, sendo o escritório apenas atividade-meio para o objetivo final que é a industrialização de laticínios. Importante mencionar, ainda, que o STJ já afirmou, em sede de recurso especial repetitivo (REsp 1.355.812/RS, Primeira Seção, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 31.5.2013), que a filial é uma espécie de estabelecimento empresarial, fazendo parte do acervo patrimonial de uma única pessoa jurídica, partilhando dos mesmos sócios, contrato social e firma ou denominação da matriz. Nessa condição, consiste, conforme doutrina majoritária, em uma universalidade de fato, não ostentando personalidade jurídica própria, não sendo sujeito de direitos, tampouco uma pessoa distinta da sociedade empresária. Assim, a diferenciação de alíquota em razão da individualização de estabelecimentos por CNPJ próprio entre a matriz e a filial da empresa não se aplica, regra geral, em relação à contribuição devida ao INCRA, visto que, no caso em tela, o escritório da cooperativa que exerce atividade industrial de laticínios, a despeito da existência de CNPJ próprio, dela não se separa, ao contrário, o escritório filial existe em função da matriz industrial, consubstanciando com ela uma única pessoa jurídica e com objetivo único.

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 47

Entendimento contrário poderia viabilizar a realização de planejamento tributário tendente a subverter a sistemática arrecadatória do tributo, visto que, na tentativa de reduzir custos, as empresas poderiam, por exemplo, registrar os empregados da indústria de laticínios na folha mensal de salários do escritório, estabelecimento filial com CNPJ próprio e eventual alíquota inferior do tributo em questão, o que traduz indicativo de possíveis fraudes, evasões e elisões fiscais, que devem ser evitadas. Situação não tem nada a ver com a contribuição para o SAT No caso da contribuição para o Seguro de Acidente do Trabalho (SAT), o STJ afirma que a alíquota irá variar de acordo com o risco de cada empresa. Assim, a alíquota pode variar da filial para a matriz se houver CNPJs diferentes. Nesse sentido:

Súmula 351-STJ: A alíquota de contribuição para o Seguro de Acidente do Trabalho (SAT) é aferida pelo grau de risco desenvolvido em cada empresa, individualizada pelo seu CNPJ, ou pelo grau de risco da atividade preponderante quando houver apenas um registro.

O raciocínio do SAT, contudo, não pode ser aplicado para a contribuição ao INCRA. O conceito de "atividade preponderante" utilizado para as contribuições devidas a terceiros previstas no art. 3º, da Lei nº 11.457/2007, como a do INCRA, difere do conceito utilizado para a contribuição ao SAT. A definição de "atividade preponderante" utilizada para o SAT está relacionada ao número de segurados empregados e trabalhadores avulsos que desempenham cada atividade submetida a risco e não com a atividade econômica desenvolvida, ou o objetivo final da atividade empresarial, este utilizado como parâmetro para o conceito de "atividade preponderante" das contribuições devidas a terceiros. A contribuição ao SAT está diretamente relacionada com o risco que cada empregado sofre, razão pela qual existe motivo para a diferenciação de acordo com a matriz ou filial.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

PENSÃO POR MORTE Possibilidade de conferir pensão por morte aos avós que criaram o falecido como se fosse filho

Deve ser reconhecido aos avós de segurado falecido o direito ao recebimento de pensão por morte em razão de terem sido os responsáveis pela criação do neto, ocupando verdadeiro papel de genitores.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.574.859-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 8/11/2016 (Info 594).

NOÇÕES GERAIS SOBRE A PENSÃO POR MORTE

Em que consiste a pensão por morte? Pensão por morte é um benefício previdenciário pago pelo INSS aos dependentes do segurado em virtude do falecimento deste. Em suma, quando o segurado morre, seus dependentes passam a ter direito de receber uma pensão mensal. Independe de carência Uma das principais características da pensão por morte é que se trata de um benefício que não depende de carência para ser concedido (art. 26, I, da Lei nº 8.213/91). Exemplos de outros benefícios previdenciários que também prescindem de carência: auxílio-reclusão, auxílio-acidente e salário-família. Valor da pensão por morte A pensão por morte será paga no mesmo valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que

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teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento (100% do salário de benefício) (AMADO, Frederico. Direito Previdenciário Sistematizado. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 565). DEPENDENTES

O que são os dependentes para fins previdenciários? Os dependentes são pessoas que, embora não contribuindo para a seguridade social, podem vir a receber benefícios previdenciários, em virtude de terem uma relação de afeto (cônjuge/companheiro) ou parentesco com o segurado.

Quais os benefícios que os dependentes receberão? Quem define isso é a lei. Em geral, todos os regimes de previdência preveem a pensão por morte como um benefício que os dependentes recebem quando ocorre o falecimento do segurado.

É o segurado quem escolhe quem são seus dependentes para fins previdenciários? NÃO. A relação dos dependentes é definida pela legislação previdenciária. Assim, não é o segurado quem os indica. É a própria lei que já prevê taxativamente quem tem direito de ser considerado dependente (art. 16 da Lei nº 8.213/91).

Os dependentes precisam se cadastrar no INSS? Somente no momento em que forem receber o benefício. Antes de terem direito ao benefício, os dependentes do segurado não se inscrevem na autarquia previdenciária. Classes de dependentes: A Lei divide os dependentes em três classes:

1ª CLASSE a) Cônjuge b) Companheiro (hétero ou homoafetivo) c) Filho menor de 21 anos, desde que não tenha

sido emancipado; d) Filho inválido (não importa a idade); e) Filho com deficiência intelectual ou mental ou

deficiência grave (não importa a idade).

Para que recebam os benefícios previdenciários, os membros da 1ª classe NÃO precisam provar que eram dependentes economicamente do segurado (a dependência econômica é presumida pela lei).

2ª CLASSE Pais do segurado. Para que recebam os benefícios previdenciários, os membros da 2ª e 3ª classes PRECISAM provar que eram dependentes economicamente do segurado.

3ª CLASSE a) Irmão menor de 21 anos, desde que não tenha sido emancipado; b) Irmão inválido (não importa a idade); c) Irmão com deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave (não importa a idade).

RECEBIMENTO DA PENSÃO POR MORTE PELOS AVÓS

Imagine a seguinte situação adaptada: Quando tinha 2 anos de idade, os pais de Lucas faleceram e, desde então, ele foi criado por seus avós (João e Maria), que o tinham como um filho. Já adulto, Lucas começou a trabalhar em uma indústria, estando, portanto, filiado ao regime geral de previdência social, administrado pelo INSS. Em virtude de um acidente de carro, Lucas faleceu, aos 25 anos, sem deixar filhos nem esposa. João e Maria ingressaram, junto ao INSS, com pedido de pensão por morte, tendo este sido negado pela autarquia previdenciária, sob o argumento de que o art. 16 da Lei nº 8.213/91 lista o rol dos dependentes que possuem direito à pensão por morte e nele não constam os avós, mas apenas os pais. Diante disso, João e Maria ingressaram com ação judicial pedindo a concessão do benefício.

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A questão chegou até o STJ. O Tribunal concordou com o pedido de pensão por morte dos avós? SIM.

Deve ser reconhecido aos avós de segurado falecido o direito ao recebimento de pensão por morte em razão de terem sido os responsáveis pela criação do neto, ocupando verdadeiro papel de genitores. STJ. 2ª Turma. REsp 1.574.859-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 8/11/2016 (Info 594).

Como vimos acima, o benefício pensão por morte é devido aos dependentes do segurado, elencados no art. 16 da Lei 8.213/91. Confira:

Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado: I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave; II - os pais; III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave;

Realmente, os avós não constam neste rol. Veja no inciso II que a lei limita a pensão por morte aos “pais”, não estendendo este benefício para outros ascendentes. Vale ressaltar que este rol do art. 16 é considerado TAXATIVO. Mas por que, então, o STJ reconheceu aos avós, neste caso concreto, o direito de receberem a pensão por morte? Porque os avós do falecido, na verdade, desempenharam o papel substitutivo de seus pais desde que ele tinha dois anos de idade. Pode-se dizer que o STJ elasteceu o rol do art. 16? NÃO. O STJ, ao conferir no presente caso a condição de dependentes aos avós não elasteceu o rol do art. 16. Este Tribunal simplesmente reconheceu que os avós assumiram juridicamente o papel de pais e, por isso, possuem direito à pensão com base no inciso II.

PREVIDÊNCIA PRIVADA Concessão de benefício de prestação programada e continuada e necessidade de

cessação do vínculo do participante com o ente federado patrocinador

Nos planos de benefícios de previdência privada patrocinados pelos entes federados – inclusive suas autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas controladas direta ou indiretamente -, para se tornar elegível a um benefício de prestação que seja programada e continuada, é necessário que o participante previamente cesse o vínculo laboral com o patrocinador, sobretudo a partir da vigência da Lei Complementar nº 108/2001, independentemente das disposições estatutárias e regulamentares.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.433.544-SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/11/2016 (recurso repetitivo) (Info 594).

Previdência complementar Previdência complementar é um plano de benefícios feito pela pessoa que deseja receber, no futuro, aposentadoria paga por uma entidade privada de previdência.

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 50

A pessoa paga todos os meses uma prestação e este valor é aplicado por uma pessoa jurídica, que é a entidade gestora do plano (ex: Bradesco Previdência). É chamada de "complementar" porque normalmente é feita por alguém que já trabalha na iniciativa privada ou como servidor público e, portanto, já teria direito à aposentadoria pelo INSS ou pelo regime próprio. Apesar disso, ela resolve fazer a previdência privada como forma de "complementar" a renda no momento da aposentadoria. O plano de previdência complementar é prestado por uma pessoa jurídica chamada de "entidade de previdência complementar" (entidade de previdência privada). Entidades de previdência privada Existem duas espécies de entidade de previdência privada (entidade de previdência complementar): as entidades de previdência privada abertas e as fechadas.

ABERTAS (EAPC) FECHADAS (EFPC)

As entidades abertas são empresas privadas constituídas sob a forma de sociedade anônima, que oferecem planos de previdência privada que podem ser contratados por qualquer pessoa física ou jurídica. As entidades abertas normalmente fazem parte do mesmo grupo econômico de um banco ou seguradora. Exs: Bradesco Vida e Previdência S.A., Itaú Vida e Previdência S.A., Mapfre Previdência S.A., Porto Seguro Vida e Previdência S/A., Sul América Seguros de Pessoas e Previdência S.A.

As entidades fechadas são pessoas jurídicas, organizadas sob a forma de fundação ou sociedade civil, mantidas por grandes empresas ou grupos de empresa, para oferecer planos de previdência privada aos seus funcionários. Essas entidades são conhecidas como “fundos de pensão”. Os planos não podem ser comercializados para quem não é funcionário daquela empresa. Ex: Previbosch (dos funcionários da empresa Bosch).

Possuem finalidade de lucro. Não possuem fins lucrativos.

São geridas (administradas) pelos diretores e administradores da sociedade anônima.

A gestão é compartilhada entre os representantes dos participantes e assistidos e os representantes dos patrocinadores.

"Entidades patrocinadoras" (patrocinador) Patrocinador (ou entidade patrocinadora) é a empresa ou grupo de empresas que oferece plano de previdência privada fechada aos seus funcionários. Funciona da seguinte forma: os empregados pagam uma parte da mensalidade e o patrocinador arca com a outra. A entidade patrocinadora oferece o plano de previdência privada por meio de uma entidade fechada de previdência privada. Enfim, só existe entidade patrocinadora no caso de plano fechado de previdência privada. Os benefícios mais comuns que são oferecidos pela previdência complementar fechada são os seguintes: aposentadoria por tempo de contribuição, aposentadoria por invalidez e pensão por morte. O Poder Público (administração direta e indireta) pode ser patrocinador de plano de previdência privada? SIM. Existem alguns entes públicos, em especial entidades, que também oferecem plano de previdência privada complementar aos seus servidores/empregados. Neste caso, este ente público é que será o patrocinador. A Lei Complementar nº 108/2001, inclusive, traz as regras que regem as entidades fechadas de previdência complementar mantidas pela União, Estados, Distrito Federal, Municípios e suas respectivas autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista. Exemplos de entidades de previdência privada criadas por entidades administrativas para atender seus empregados: Petros (Petrobrás), Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica Federal), Postalis (Correios).

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Participante Participante é a pessoa física que adere ao plano de previdência complementar oferecido por uma entidade fechada de previdência complementar (EFPC). O participante, para poder aderir a esse plano, tem que estar vinculado à entidade patrocinadora (ex: ser funcionário do patrocinador). O valor das contribuições vertidas pelo participante para a entidade de previdência é descontado de seu salário no momento do pagamento.

Regulamento ou estatuto As regras sobre o plano de previdência privada estão previstas em um ato chamado de “regulamento” ou “estatuto”. Vale ressaltar, no entanto, que é indispensável que sejam observadas as disposições da legislação que rege o tema.

Imagine agora a seguinte situação hipotética: João é empregado celetista da Petrobrás e decidiu aderir ao plano de previdência complementar oferecido pela Petros. Depois de anos trabalhando, ele percebe que preencheu os requisitos mínimos exigidos pelo regulamento do plano e, com isso, já possui direito de pedir sua aposentadoria complementar. Ocorre que João não quer deixar de trabalhar na Petrobrás. O participante deseja pedir a aposentadoria complementar e, ao mesmo tempo, continuar trabalhando normalmente. Isso é possível?

O participante pode gozar de aposentadoria (benefício de prestação programada e continuada) concedida pela entidade fechada de previdência privada e, ao mesmo tempo, continuar trabalhando para o ente patrocinador? NÃO. Para ter direito ao benefício, é necessário que o participante previamente cesse o vínculo laboral com o patrocinador. Vedação expressa O art. 3º, I, da LC 108/2001 exige, expressamente, o término do vínculo com o patrocinador para a concessão do benefício. Confira:

Art. 3º Observado o disposto no artigo anterior, os planos de benefícios das entidades de que trata esta Lei Complementar atenderão às seguintes regras: I – carência mínima de sessenta contribuições mensais a plano de benefícios e cessação do vínculo com o patrocinador, para se tornar elegível a um benefício de prestação que seja programada e continuada; e

A LC 108 foi editada em 2001. Se o participante ingressou no plano de previdência complementar antes de 2001 e for pedir sua aposentadoria agora, terá que se submeter a essa regra do art. 3º, I, acima transcrita? A LC 108/2001 aplica-se aos pedidos de benefício feitos agora, mesmo que o participante tenha entrado antes de sua vigência? SIM. Não há ilegalidade na exigência de cessação do vínculo empregatício do participante com o patrocinador para a concessão da aposentadoria complementar, mesmo que o plano de benefícios tenha sido instituído antes da LC 108/2001 (STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 560.639/SE, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/06/2015). O participante deverá respeitar a legislação vigente no momento em que preencheu os requisitos para a concessão do benefício. Assim, se ele preencheu os requisitos para a aposentadoria em 2017, deverá cumprir a legislação vigente nesta data, não importando quando ingressou no plano e previdência.

Esse entendimento não viola o direito adquirido? NÃO. Se o participante ainda não preencheu os requisitos para a obtenção do benefício, ele não tem direito adquirido, mas sim mera “expectativa de direito”. Logo, se quando a LC 108/2001 entrou em vigor o participante ainda não havia completado os requisitos para a obtenção da aposentadoria, não se pode dizer que ele tinha direito adquirido. Ele possuía apenas uma expectativa de direito. Em razão disso, as novas regras aplicam-se a ele.

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 52

“O participante tem mera expectativa de que permanecerão íntegras as regras vigentes no momento de sua adesão ao plano de previdência complementar fechada. Alterações posteriores do regime a ele se aplicarão, pois não há direito adquirido a regime jurídico.” (STJ. 3ª Turma. REsp 1431273/SE, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 09/06/2015). E se o regulamento do plano de previdência permitir a aposentadoria mesmo sem rompimento do vínculo laboral? Não vale de nada. Isso porque o regulamento, neste ponto, será ilegal por violar o art. 3º, I, da LC 108/2001. Tese fixada pelo STJ para o tema:

Nos planos de benefícios de previdência privada patrocinados pelos entes federados – inclusive suas autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas controladas direta ou indiretamente -, para se tornar elegível a um benefício de prestação que seja programada e continuada, é necessário que o participante previamente cesse o vínculo laboral com o patrocinador, sobretudo a partir da vigência da Lei Complementar nº 108/2001, independentemente das disposições estatutárias e regulamentares. STJ. 2ª Seção. REsp 1.433.544-SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/11/2016 (recurso repetitivo) (Info 594).

EXERCÍCIOS

Julgue os itens a seguir: 1) A Lei nº 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, ordena que o vencimento inicial das carreiras do magistério

público da educação básica deve corresponder ao piso salarial profissional nacional, sendo vedada a fixação do vencimento básico em valor inferior, não havendo determinação de incidência automática em toda a carreira e reflexo imediato sobre as demais vantagens e gratificações, o que somente ocorrerá se estas determinações estiverem previstas nas legislações locais. ( )

2) No seguro de automóvel celebrado por uma empresa com a seguradora, é devida a indenização securitária se o condutor do veículo (funcionário da empresa segurada) estava embriagado?

3) Não é devida a indenização securitária decorrente de contrato de seguro de automóvel quando o causador do sinistro – preposto da empresa segurada – estiver em estado de embriaguez, salvo se o segurado demonstrar que o infortúnio ocorreria independentemente dessa circunstância. ( )

4) O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação é suscetível de usucapião. ( )

5) O autor de projeto de obra arquitetônica, ainda que situada permanentemente em logradouros públicos, integrando de modo indissociável o meio ambiente, a compor a paisagem como um todo, faz jus ao ressarcimento por danos de ordem material e moral em virtude da representação por terceiros de sua obra, com fins comerciais, sem a devida autorização e indicação de autoria, ainda que tenha havido aquiescência do proprietário da obra. ( )

6) Nos contratos sob encomenda de obras intelectuais, a pessoa jurídica que figura como encomendada na relação contratual não pode ser titular dos direitos autorais, sendo este um atributo exclusivo da pessoa física. ( )

7) (PGM-Campinas 2016 FCC) Caio estabeleceu-se, com animus domini, em praça pública abandonada pelo Município. Decorridos mais de 20 anos, sem oposição das pessoas que frequentavam o local, requereu fosse declarada usucapida a área. Tal praça constitui bem A) de uso comum do povo, suscetível de usucapião, em caso de abandono pelo poder público. B) de uso especial, insuscetível de usucapião, assim como os de uso comum do povo e os dominicais. C) dominical, suscetível de usucapião, ainda que conserve tal qualificação. D) de uso comum do povo, insuscetível de usucapião, diferentemente dos bens de uso especial e dos dominicais. E) de uso comum do povo, insuscetível de usucapião, assim como os de uso especial e os dominicais.

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 53

8) O particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias para defender a sua

permanência no local? 9) É possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical. ( ) 10) Havendo adaptação de veículo, em momento posterior à celebração do pacto fiduciário, com aparelhos para

direção por deficiente físico, o devedor fiduciante tem direito a retirá-los quando houver o descumprimento do pacto e a consequente busca e apreensão do bem. ( )

11) (Procurador Federal AGU 2007 CESPE) São pertenças os bens que, constituindo partes integrantes, destinam-se, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro. ( )

12) (Procurador Federal AGU 2007 CESPE) Em regra, os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças. ( )

13) (Juiz Federal TRF1 CESPE) As pertenças são bens acessórios, embora não acompanhem, como regra, o principal. ( )

14) (DPE/ES 2009 CESPE) As pertenças não seguem necessariamente a lei geral de gravitação jurídica, por meio da qual o acessório sempre seguirá a sorte do principal. Por isso, se uma propriedade rural for vendida, desde que não haja cláusula que aponte em sentido contrário, o vendedor não estará obrigado a entregar máquinas, tratores e equipamentos agrícolas nela utilizados. ( )

15) (Juiz TJ/AM 2013 FGV) As pertenças, de acordo com o Código Civil, são definidas como: A) os bens públicos que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. B) os bens de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor. C) os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro. D) os bens que, embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos demais. E) os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.

16) (Juiz Federal TRF1 - prova oral). Diferencie bens acessórios de pertenças. 17) A recusa do banco em substituir a garantia dada pela incorporadora em contrato de financiamento imobiliário,

mesmo após a ciência de que a unidade habitacional se encontrava quitada, viola os deveres contratuais da informação e cooperação, tornando ineficaz o gravame perante o adquirente. ( )

18) Verificada a existência de mancomunhão, o pagamento da expressão patrimonial das cotas societárias à ex-cônjuge, não sócia, deve corresponder ao momento efetivo da partilha, e não àquele em que estabelecido acordo prévio sobre os bens que fariam parte do acervo patrimonial. ( )

19) Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar. ( )

20) Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser, poderá opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias. ( )

21) (Promotor MP/SP 2015) Segundo entendimento sumulado do STJ, o reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente. ( )

22) A notificação prévia dos ocupantes é essencial para a propositura da ação possessória. ( ) 23) (PGM Campinas 2016 FCC) No caso de ação possessória, no litígio coletivo pela posse do imóvel, quando o

esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há menos de ano e dia, será obrigatória a designação de audiência de mediação para exame da medida liminar, a ser realizada em até trinta dias. ( )

24) (PGM Campinas 2016 FCC) No caso de ação possessória, em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública. ( )

25) A alienação de bens que foram objeto de arrolamento fiscal depende de prévia notificação ao órgão fazendário. ( )

26) A isenção do Imposto de Renda sobre o ganho de capital nas operações de alienação de imóvel prevista no art. 39, da Lei nº 11.196/2005 se aplica à hipótese de venda de imóvel residencial com o objetivo de quitar,

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Informativo 594-STJ (01/02/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 54

total ou parcialmente, débito remanescente de aquisição a prazo ou à prestação de imóvel residencial já possuído pelo alienante. ( )

27) O valor do ICMS, destacado na nota, devido e recolhido pela empresa compõe seu faturamento, submetendo-se à tributação pelas contribuições ao PIS/PASEP e COFINS, sendo integrante também do conceito maior de receita bruta, base de cálculo das referidas exações. ( )

28) Deve ser reconhecido aos avós de segurado falecido o direito ao recebimento de pensão por morte em razão de terem sido os responsáveis pela criação do neto, ocupando verdadeiro papel de genitores. ( )

29) O rol de dependentes da pensão por morte no regime geral de previdência é exemplificativo. ( ) 30) Nos planos de benefícios de previdência privada patrocinados pelos entes federados – inclusive suas

autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas controladas direta ou indiretamente -, para se tornar elegível a um benefício de prestação que seja programada e continuada, é necessário que o participante previamente cesse o vínculo laboral com o patrocinador, sobretudo a partir da vigência da Lei Complementar nº 108/2001, independentemente das disposições estatutárias e regulamentares. ( )

Gabarito

1. C 2. - 3. C 4. E 5. C 6. E 7. Letra E 8. - 9. C 10. C

11.E 12.C 13.C 14.C 15.Letra C 16.- 17.C 18.C 19.C 20.C

21.C 22.E 23.E 24.C 25.E 26.C 27.C 28.C 29.E 30.C