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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENFERMAGEM NAYARA GIRARDI BARALDI PERÍODO PÓS-PARTO: PRÁTICAS DE CUIDADO ADOTADAS PELA PUÉRPERA SÃO PAULO 2012

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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    ESCOLA DE ENFERMAGEM

    NAYARA GIRARDI BARALDI

    PERODO PS-PARTO: PRTICAS DE CUIDADO

    ADOTADAS PELA PURPERA

    SO PAULO

    2012

  • 1

    NAYARA GIRARDI BARALDI

    Perodo ps-parto: prticas de cuidado adotadas pela

    purpera

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Enfermagem da Escola de

    Enfermagem da Universidade de So Paulo

    para obteno do ttulo de Mestre em

    Cincias.

    rea de concentrao: Cuidado em Sade

    Linha de pesquisa: O cuidar nos processos

    da reproduo humana: modelos, agentes e

    prticas.

    Orientadora: Prof Dr Neide de Souza Praa

    So Paulo

    2012

  • 2

    Folha de aprovao

    Nome: Nayara Girardi Baraldi

    Titulo: Perodo ps-parto: prticas de cuidado adotadas pela purpera

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Enfermagem da Escola de

    Enfermagem da Universidade de So Paulo

    para obteno do ttulo de Mestre em

    Cincias.

    Aprovado em: ___/___/___

    Banca Examinadora

    Prof. Dr. ___________________________ Instituio:____________

    Julgamento:_________________________ Assinatura:____________

    Prof. Dr. ___________________________ Instituio:____________

    Julgamento:_________________________ Assinatura:____________

    Prof. Dr. ___________________________ Instituio:____________

    Julgamento:_________________________ Assinatura:____________

  • 3

    Dedicatria

    Ao curso de graduao em Obstetrcia pela Escola de Artes, Cincias e Humanidades

    da Universidade de So Paulo, que me proporcionou, por meio dos mestres e alunos,

    uma formao integralista e com viso humanista.

    s purperas que compuseram esse estudo, pois sem elas de nada adiantaria meu

    esforo em construir esse sonho.

    Aos meus pais Rosngela e Joo, e familiares, que sempre estiveram ao meu lado

    dando suporte e equilbrio para a feitura deste trabalho.

    A minha querida tia Lcia Helena, pela disposio e luta incansvel em ver a

    realizao desse estudo.

    Em especial, a minha av Diva, pelos ensinamentos e dedicao ao longo de minha

    existncia. E, tambm, aos meus avs Laura, Francisco e Jamil (in memoriam), pelo

    exemplo de vida que me deixou!

    Ao meu namorado Srgio, pelo carinho em me escutar e pela compreenso ao longo

    da elaborao deste projeto.

    Por fim, populao rioclarense e a todos que acompanharam direta e indiretamente

    a construo e a realizao deste sonho, que hoje, compe uma realidade!

    Fonte: http://paulicasantos.wordpress.com/

    http://paulicasantos.wordpress.com/
  • 4

    Fonte: http://paulicasantos.wordpress.com/

    Agradecimentos

    http://paulicasantos.wordpress.com/
  • 5

    A Deus, pela sabedoria concedida a cada dia, pela Sua constante proteo e pelo dom

    do discernimento nos momentos de espera. Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP), por conceder-

    me a bolsa de mestrado, que valorizou e auxiliou a realizao deste projeto. Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal do Nvel Superior (CAPES), que me

    concedeu auxlio financeiro de carter emergencial e possibilitou a feitura deste

    estudo. minha orientadora, Prof Dr Neide de Souza Praa, pela exmia dedicao, pelo

    respeito e pela companhia no delineamento deste projeto, desde seu alvorecer at sua

    sntese final. s professoras Dr Islia Aparecida Silva e Dr Roselena Bazilli Bergamasco, pela

    disponibilidade, pelo carinho e pelas valorosas contribuies no Exame de

    Qualificao. Prof Dr Clia Regina Maganha e Melo, pelo carinho que me acolheu e me

    orientou nas atividades do PAE, colaborando para meu crescimento profissional. s funcionrias do Departamento de Ps-Graduao da Escola de Enfermagem da

    Universidade de So Paulo, no papel da Dayse, que sempre se apresentaram

    disponveis em ajudar-me frente s necessidades da vida acadmica. s purperas que participaram deste estudo, pelo respeito com qual me concederam

    relatar um perodo de suas vidas, o que viabilizou diretamente a construo deste

    projeto. equipe da Unidade Bsica de Sade, que acolheu o projeto, pela ajuda, pelo

    respeito e pela companhia, os quais culminaram nos laos de amizade. Ao Secretrio da Sade e aos dirigentes do setor da Ateno Bsica da Fundao

    Municipal de Sade de Rio Claro, pela oportunidade em desenvolver esse estudo no

    municpio. Ao Jorge Alves de Lima, professor de portugus, que ficou responsvel pela reviso

    final deste projeto. Ao Fbio Montenegro Carnevale, que colaborou na transcrio e na correo do

    resumo na lngua inglesa. Larissa, minha irm, pela colaborao nas transcries. minha famlia, ao meu namorado e aos meus amigos, que estiveram sempre ao

    meu lado, nas alegrias e nas dificuldades. E a todos que torceram pela realizao deste estudo.

    Muito obrigada!

  • 6

    Epgrafe

    Fonte: http://paulicasantos.wordpress.com/

    HOUVE um tempo em que a minha janela se abria

    para um chal.

    HOUVE um tempo em que a minha janela dava para

    um canal.

    HOUVE um tempo em que minha janela se abria para

    um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua

    copa redonda.

    HOUVE um tempo em que a minha janela se abria

    sobre uma cidade que parecia feita de giz.

    MAS, quando falo dessas pequenas felicidades, que

    esto diante de cada janela, uns dizem que essas

    coisas no existem, outros que s existem diante das

    minhas janelas e outros, finalmente, que preciso

    aprender a olhar, para poder v-las assim.

    (Adaptao da crnica A arte de ser

    feliz, de Ceclia Meireles)

    http://paulicasantos.wordpress.com/
  • 7

    Baraldi NG. Perodo ps-parto: prticas de cuidado adotadas pela purpera

    [dissertao]. So Paulo: Escola de Enfermagem, Universidade de So Paulo; 2012.

    RESUMO

    O puerprio considerado uma fase de modificaes biossocioculturais que, muitas

    vezes, no so compreendidas pela mulher, o que exige maior ateno dos

    profissionais, dos familiares e das redes de contato envolvidos em seu cuidado. A

    literatura e a prtica profissional mostram que as crenas sobre o cuidado da purpera

    tm relevncia em seu cotidiano e, muitas vezes, se sobrepem s orientaes

    recebidas na instituio de sade. Diante desta situao, este estudo teve como

    objetivo: explorar as prticas de cuidado adotadas no ps-parto pela mulher usuria

    de uma Unidade Bsica de Sade da cidade de Rio Claro, SP. Trata-se de estudo

    qualitativo, que teve como referencial terico o Modelo de Competncia Cultural de

    Purnell e cujos dados foram tratados pelo Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). A

    pesquisa foi aprovada por Comit de tica em Pesquisa e atendeu Resoluo

    196/96. Os dados foram coletados em 2011, por meio de entrevistas realizadas com

    20 purperas entre o 30 e 45 dias de ps-parto. Identificou-se a condio

    sociodemogrfica e familiar das entrevistadas, alm de sua vivncia no puerprio. Os

    dados mostraram que as purperas eram jovens, apresentavam baixo ndice de

    tabagismo, etilismo e drogadio, com renda mdia em torno de 3 salrios mnimos.

    Os relatos obtidos originaram 21 DSC, cujos contedos mostraram a influncia de

    crenas sobre as prticas de cuidado no puerprio; crenas que foram transmitidas

    intergeraes pelos cuidadores de sua rede familiar e cultural. Os profissionais de

    sade se fizeram presentes por meio de orientaes de prticas, com enfoque no

    biolgico, oferecidas de maneira verticalizada e, por vezes, fragmentada e

    divergente, o que demonstrou sua dificuldade em acompanhar as influncias culturais

    envolvidas no processo. Por conta disso, as prticas de cuidado no puerprio

    sofreram maior influncia das crenas e dos padres da cultura da mulher, como

    tambm das informaes obtidas na internet, que preencheram lacunas e apontaram

    caminhos para a mulher seguir com maior segurana nesta fase do ciclo gravdico-

    puerperal. Diante dos achados, propem-se o estabelecimento de estratgias para

    incorporao da bagagem cultural da mulher assistncia prestada pelo profissional

    de sade, de modo a prover o cuidado culturalmente competente; a programao de

    grupos voltados educao em sade, focados na vivncia do puerprio, para a

    mulher e sua rede de contato; a implementao da Estratgia Sade da Famlia; e a

    incluso do egresso de curso de Obstetrcia nos programas de sade dos municpios,

    para agregar este novo profissional no cuidado da mulher e de seu recm-nascido.

    Palavras-chave: Cuidado ps-natal, Cultura, Sade da mulher, Pesquisa qualitativa,

    Competncia Cultural.

  • 8

    Baraldi NG. Postpartum period: care practices adopted by the woman in the

    puerperium [thesis]. So Paulo (SP), Brasil: Escola de Enfermagem, Universidade de

    So Paulo; 2006.

    ABSTRACT

    Puerperium is considered a phase with biological, social and cultural changes often

    not correctly understood by women, the main reason why requires special attention

    from professionals, and caregivers networks involved on the care. Literature and

    professional practice shows that beliefs about postpartum care has a strong relevance

    in a womans routine and often overlaps guidance received at the health institutions.

    From this perspective, this study had as objective to explore practices adopted in

    postpartum by women served in the Basic Health Unit in a city of Rio Claro state of

    So Paulo (Brazil). This is a qualitative study and followed Purnell Cultural

    Competence Model as a theoretical approach and whose data was treated by the

    Collective Subject Speech (CSS). The data was approved by Ethics in Research

    Committee and complied with Resolution 196/96. The data was collected in 2011

    through interviews with 20 women in the puerperium between 30 and 45 days of

    postpartum. We identified social and demographic conditions from each interviewed

    as well as from her family, besides their experiences at the puerperal period. The data

    showed that women in the puerperium were young, had low smoking rates,

    alcoholism or drugs addictions, and on average had an income that was equivalent to

    3 minimum salaries. The reports had originated 21 CSS, and the contents showed the

    stronger beliefs influence on postpartum care practices; beliefs that were passed by

    intergenerational family and cultural caregivers. Health professionals demonstrated

    their presence through guidelines with practices with a biological focus and offered

    in a vertical manner, and sometimes divergent and fragmented, which demonstrated

    difficulty in following the cultural influences involved in the process. For this reason,

    puerperal care practices had suffered greatly due to the influence of beliefs and

    cultural woman patterns, as well as information obtained from the Internet. The

    Internet filled gaps and provided greater security methods to follow at pregnancy

    stage, childbirth as well as at puerperium. Upon reviewing the results, it is suggested

    that the following take place to incorporate the cultures of women to the experiences

    of the health care professionals to provide a culturally competent care; programming

    groups on health education focused on the puerperium experience for women and her

    caregivers; the implementation of Family Health Program, and the inclusion of

    Midwifery in the health programs to allow this new professional to take care the

    woman and her newborn.

    Key words: Postnatal care, Culture, Womens health, Qualitative research, Cultural

    Competency.

  • 9

    Lista de ilustraes

    Figura 1 - Modelo de Competncia Cultural de Purnell representado na

    forma de crculo com as dimenses globais, e os 12 domnios,

    considerados microaspectos

    31

    Figura 2 - Organograma das etapas para coleta de dados

    43

    Quadro 1- O passo a passo da construo do DSC

    47

    Quadro 2- Relao dos DSC e sua insero nos domnios do Modelo de

    Competncia Cultural de Purnell

    63

  • 10

    Lista de abreviaturas e siglas

    CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    CE Cear

    CEP Comit de tica em Pesquisa

    CSS Collective Subject Speech

    EM Ensino mdio

    ES Ensino superior

    ES1 Esprito Santo

    EUA Estados Unidos da Amrica

    FAPESP Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo

    GO Gois

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IC Ideia central

    MCC Modelo de Competncia Cultural

    MEC Ministrio da educao

    N Nmero

    OMS Organizao Mundial da Sade

    PAE Programa Aperfeioamento de Ensino

    PC Parto cesrea

    PHPN Programa de Humanizao do Parto e do Nascimento

    PN Parto normal

    PN1 Pr-natal

    PSF Programa Sade da Famlia

    PR Paran

    Prof Dr Professora Doutora

    SM Salrio-mnimo

    SP So Paulo

    RS Rio Grande do Sul

    TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    UBS Unidade Bsica de Sade

    USF Unidade Sade da Famlia

  • 11

    USP Universidade de So Paulo

  • 12

    Lista de smbolos

    Marca registrada

    *** Pausa (descanso)

  • 13

    SUMRIO

    Apresentao ........................................................................................ 14

    Introduo............................................................................................. 19

    Modelo de Competncia Cultural de Purnell.......................................... 29

    Objetivo................................................................................................. 38

    Mtodo................................................................................................... 40

    Local...................................................................................................... 41

    Participantes............................................................................................ 42

    Coleta de dados....................................................................................... 42

    Instrumento............................................................................................. 45

    Tratamento de anlise dos dados............................................................ 45

    Pr-teste................................................................................................. 48

    Princpios ticos..................................................................................... 48

    Resultados.............................................................................................. 49

    Caracterizao das participantes................................................................ 50

    Os discursos do sujeito coletivo............................................................... 63

    Discusso............................................................................................... 88

    Anlise dos resultados sob a tica do Modelo de Competncia Cultural

    de Purnell............................................................................................... 147

    Consideraes finais............................................................................... 165

    Referncias............................................................................................ 171

    Apndices e anexos................................................................................. 191

    Apndice A............................................................................................. 192

    Apndice B............................................................................................. 193

    Apndice C............................................................................................. 194

    Apndice D............................................................................................. 195

    Apndice E.............................................................................................. 196

    Apndice F.............................................................................................. 197

    Anexo G.................................................................................................. 201

    Apndice H............................................................................................. 203

  • 14

    Fonte: http://paulicasantos.wordpress.com/

    Apresentao

    http://paulicasantos.wordpress.com/
  • 15

    A reviso de literatura sobre o ps-parto mostrou que trata-se de um perodo

    marcado pela vulnerabilidade da nova me, devido s mudanas socioculturais e

    fisiolgicas; no entanto, as intercorrncias e as patologias so os temas que ganham

    destaque no perodo. Neste aspecto, tambm a prtica profissional mostra que as

    crenas disseminadas em seu contexto sobre o cuidado da purpera tm relevncia

    em seu cotidiano e, muitas vezes, se sobrepem s orientaes recebidas na

    instituio de sade.

    Minha prtica profissional e pessoal mostra que o avano cientfico, no

    campo da sade, e dos meios de comunicao parecem no exercer influncia sobre

    as prticas de cuidado realizadas pela mulher durante o puerprio, o que motivou o

    desenho deste estudo de abordagem qualitativa.

    Meu contato com os cuidados no ps-parto foram anteriores a minha

    formao em Obstetrcia, pois esto presentes em minha vida desde a infncia, uma

    vez que, em minha famlia, os parentes de geraes mais antigas, que j vivenciaram

    as transformaes do ciclo gravdico-puerperal, ajudam as novas geraes no

    cuidado no ps-parto.

    No nascimento de meu primo mais novo, em 2007, recordo-me de minha av

    materna falando sobre carne de porco servida na maternidade. Minha tia comeu e

    minha av a repreendeu, dizendo-lhe que poderia sofrer alguma intercorrncia na

    cicatrizao da inciso cirrgica. Alm disso, minha tia relatava que tivera os cabelos

    lavados sem seu consentimento pela equipe de enfermagem do hospital, que tambm

    a colocou para tomar banho. Dessa forma, ela se submeteu ao banho e lavagem dos

    cabelos, mesmo sem o desejar, o que lhe causou medo que algo de ruim pudesse lhe

    acontecer.

    Alm do relato anterior, desde quando iniciei minha graduao em Obstetrcia

    pela Universidade de So Paulo, a maior parte dos docentes ensinava que deveramos

    cuidar e respeitar as diferenas socioculturais das clientes, pois, ir contra tais

    paradigmas familiares e culturais, sem embasamento terico e prtico, geraria uma

    agresso ao indivduo que era atendido. Alm disso, por j ter tido a experincia em

    minha realidade familiar, na qual os cuidados cultural e socialmente perpassados

    foram deixados de lado pela equipe de enfermagem, decidi me dedicar a

    compreender o motivo da ocorrncia destas situaes.

  • 16

    Ainda como estudante de graduao em Obstetrcia, recordo-me dos estgios

    em Assistncia Sade da Mulher na Famlia e Sociedade, que praticava em uma

    Unidade Bsica de Sade, na Zona Leste do municpio de So Paulo. Nesse servio,

    havia sido implantada a Estratgia Sade da Famlia que, junto Rede Me

    Paulistana, visava oferecer consultas de pr-natal, alm de prestar outros cuidados s

    mulheres grvidas e purperas. Tambm era promovida, por estes programas, uma

    visita puerperal, realizada por enfermeiras e por agentes comunitrios, aos 7 dias de

    ps-parto, para avaliao e orientao de mes e recm-nascidos.

    Nos primeiros dias de estgio, ao realizar, com uma colega de curso e uma

    agente comunitria, uma consulta puerperal, nos deparamos com uma famlia na qual

    a av materna da purpera no queria permitir nossa entrada na residncia, pois sua

    neta estava com 7 dias de ps-parto e, nesta ocasio, no poderia receber nenhuma

    visita, pois poderia desencadear o mal dos sete dias. Frente ao caso, dissemos que

    retornaramos no outro dia, mas a me da purpera, intervindo, permitiu nossa

    entrada e nos pediu para que orientssemos sua filha, pois havia uma semana que ela

    permanecia apenas deitada, enquanto o banho era feito na cama com pano e gua

    aquecida, pois a av no permitia que a neta andasse pela casa, para no correr o

    risco de sofrer uma recada ou de os pontos estourarem. Ao me encontrar com a

    purpera, que era adolescente, percebi que estava confusa, com medo e aptica pelo

    tratamento que estava recebendo da av. Frente a isso, como a av se recusou a nos

    receber, ns, como profissionais de sade, fizemos orientaes e explicamos as

    dvidas sobre o cuidado no ps-parto para a purpera e sua me; alm disso,

    salientamos o que poderia ajud-la em sua higiene, alimentao e repouso, mas sem

    quebrar os paradigmas daquela famlia.

    O tempo foi passando e, a cada consulta puerperal naquele bairro perifrico,

    eu encontrava crenas diferentes, mas persistentes. At ento, eu acreditava que tais

    crenas e valores fossem mais persistentes em regies do interior do Estado, de onde

    eu vinha, porm a vivncia da prtica clnica me fez perceber que essa premissa no

    era vlida. Outra situao com a qual me deparava era que, mesmo a mulher

    recebendo orientaes durante o pr-natal e na maternidade, ao se deparar com os

    ensinamentos advindos dos familiares e do meio cultural, acabava dando preferncia

    a esses e, quando no o fizesse, se sentia culpada e com medo por no os seguir.

  • 17

    Depois de formada, enquanto aluna da ps-graduao, fui estagiria do

    Programa de Aperfeioamento do Ensino, quando verifiquei que muitas mulheres-

    mes, que eu acompanhava durante o ciclo gravdico-puerperal, junto aos grupos de

    alunos, tinham crenas e valores relacionados higienizao e ao uso de banho de

    assento para melhor cicatrizao da episiorrafia, assim como cuidados com a higiene

    da cabea devido inverso dos humores. Tambm apresentavam cuidados prprios

    com a alimentao no puerprio, devido amamentao, alm da sutura. Ainda

    salientavam a necessidade do benzimento e do resguardo para no sofrerem

    recada e nunca mais se curarem. O que mais me chamava a ateno era que as

    crenas e os valores persistiam e grande parte dos profissionais de sade, alm de

    no serem favorveis, eram taxativos em quebr-los e em repreender as purperas

    por tais prticas, no considerando seu ser biopsicossociocultural.

    Frente a isso, decidi realizar uma reviso de literatura, para avaliar os

    trabalhos publicados com esta temtica, buscando solucionar os meus

    questionamentos sobre essa interface dos cuidados culturais e oriundos da

    biomedicina. Deparei-me com um nmero baixo de pesquisas relatando esse

    contexto: na verdade, existiam trabalhos mostrando a necessidade de mudanas da

    equipe profissional em relao aos cuidados biomdicos, os quais deveriam levar em

    considerao a parte psicolgica, social e cultural do indivduo, mas, ao analisar o

    campo do ciclo gravdico-puerperal, verifiquei que os estudos eram escassos e

    relativamente antigos quando relacionados fase do puerprio.

    Por isso, ao refletir sobre o assunto, me dei conta que, tanto na literatura

    como na prtica profissional, h grande destaque e incentivo s consultas de pr-

    natal, elevada importncia com o momento do parto e do puerprio imediato, porm,

    aps a alta da maternidade, o nmero de consultas ps-natal extremamente

    reduzido e ocorre em dois momentos: aproximadamente na primeira semana aps o

    nascimento e aps os quarenta dias de ps-parto. Na sequncia, o beb era

    acompanhado pela puericultura e a purpera era esquecida.

    Do exposto, percebi a necessidade da compreenso biopsicossociocultural da

    clientela por parte dos profissionais e constatei a carncia de estudos envolvendo um

    perodo carregado de transformaes biolgicas, psicolgicas e sociais; busquei,

    ento, realizar este estudo, visando no apenas compreender a importncia de um

  • 18

    atendimento qualificado e digno, que assegure purpera o direito de escolha frente

    ao cuidado no puerprio, mas tambm evidenciar que mesmo aps alguns anos

    buscando a humanizao na sade, ainda como profissionais, falhamos ao querer

    impor nossa excelncia de cuidado, esquecendo da realidade e da cultura de nossas

    mulheres.

    Sendo assim, por meio deste estudo e frente s histrias por mim vivenciadas

    com familiares e clientes, espero incentivar uma mudana de paradigmas e de

    sensibilizao nas prticas ofertadas pelos profissionais de sade, frente aos cuidados

    de suas clientes - que vo alm de um corpo biolgico. Busco tambm, contribuir

    com os servios de ateno bsica voltados para a sade da mulher e para a

    maternidade, apontando caminhos para a assistncia biopsicossociocultural da

    purpera.

  • 19

    Fonte: http://paulicasantos.wordpress.com/

    Introduo

    http://paulicasantos.wordpress.com/
  • 20

    Ao longo do processo histrico, as mulheres dedicam-se prtica do cuidado,

    porm, com as modificaes temporais, o contexto do nascimento foi retirado das

    mos femininas. Tal fato contribuiu para a incorporao de novas tecnologias e

    saberes, que passam a ser pautados na autoridade mdica e na dominao masculina.

    Com essa mudana no contexto histrico do nascimento, as prticas de cuidado no

    ciclo gravdico-puerperal se transformaram e as mulheres foram retiradas de seu

    ambiente familiar e cultural, tendo que se submeter legitimidade do saber mdico-

    cientfico, que se perpetua ainda no sculo atual (Kitzinger, 1978; Osava, 1997;

    Helman, 2003; Melo, 2003; Arajo, 2009).

    Quando enfocamos a fase puerperal, verificamos que mesmo sendo

    considerado um perodo marcado por mudanas e fragilidades, a prtica mostra

    reduzida ateno dos profissionais para com a mulher nesta fase, o que no ocorre

    quando comparado aos demais perodos do ciclo gravdico-puerperal (Stefanello,

    Nakano, Gomes, 2008).Tal constatao tambm afirmada por Albers (2000).

    Cabe lembrar que as pesquisas na rea materno-infantil, realizadas pela

    enfermagem, tiveram incio em meados de 1933; porm, a produo cientfica se

    torna relevante a partir de inquietaes dos profissionais, como respostas s prticas

    sociais direcionadas s mulheres. Entretanto, a busca por estudos realizados com

    recorte no ciclo gravdico-puerperal mostra que so reduzidas as pesquisas, em

    particular no Brasil, com enfoque no perodo puerperal, se comparadas s voltadas s

    fases do pr-natal e do parto (Centa, Oberhofer, Chammas, 2002; Tyrrell, Cabral,

    2005; Souto et al., 2007; Kalinowski et al., 2010).

    Evidncias tm demonstrado que as pesquisas sobre a fase puerperal, quando

    no tratam da amamentao, so estruturadas com base nas possveis patologias e

    intercorrncias que podem surgir neste perodo, tais como hemorragias, transtornos

    psicolgicos e infecciosos, com priorizao das intercorrncias (Shimo, Nakano,

    1999).

    Biologicamente, o puerprio, ou ps-parto, corresponde finalizao do

    parto. Inicia-se com a dequitao, tem fim pouco exato, mas estabelecido em torno

    de seis a oito semanas, quando o organismo materno retorna s condies pr-

    gravdicas (Cunningham et al., 2000; Neme, 2000; Costa, 2001).

  • 21

    O perodo puerperal tambm conhecido, pela populao, como quarentena,

    dieta ou resguardo, conforme os aspectos socioculturais. Corresponde aos 42 dias

    aps o parto, como demonstrado por Evans (2010). Para Liu et al. (2009), o perodo

    puerperal corresponderia aos 30 ou 40 primeiros dias aps o nascimento do beb.

    consenso que o puerprio o perodo em que o organismo da purpera se recupera

    das transformaes da gravidez e do parto; por isso, a necessidade de cuidados

    adequados para que a sade materna seja restabelecida.

    Para alm do fisiolgico, essa etapa da vida da mulher marcada por

    alteraes emocionais e psicolgicas. Corresponde a um momento de alta

    vulnerabilidade, no somente pela transferncia de papis da mulher-me, mas

    tambm pela oscilao de sentimentos, marcada por euforia, medo, alvio e

    ansiedade, os quais so desencadeados pela regresso gravdica e pelas novas

    exigncias geradas pelo recm-nascido (Merighi, Gonalves, Rodrigues, 2006).

    Esta vulnerabilidade psicolgica e emocional da purpera torna o ps-parto

    um perodo crtico e merecedor de ateno dos profissionais e das redes de apoio

    social mulher. Sendo assim, as mudanas sociais e fisiolgicas, encontradas neste

    perodo de transio involutiva, tornam a nova me sensvel e permevel aos

    conceitos externos, os quais so construdos pelos elementos do seu cotidiano

    familiar, social e cultural (Barreira, Machado, 2004).

    Devido a essas mudanas, a purpera tambm demanda apoio emocional e

    ajuda na sua prtica diria, tanto de redes de contato pessoal quanto profissional;

    porm, a forma e o modo como essa ajuda ser oferecida iro variar de acordo com a

    poca e a cultura vigente (Enkin, 2005). Sendo assim, os cuidados demandados pela

    maternidade no dependem apenas dos prestados pelos profissionais, mas tambm

    dos oriundos da rede de contato sociocultural da mulher (Medina, Mayca, 2006).

    Como purpera e recm-nascido so considerados vulnerveis, ao retornar da

    maternidade para o espao familiar levando o filho recm-nascido, a nova me se v

    diante de situaes que sofrem interferncia de seu ambiente cultural. Nessa

    condio, ao se deparar com o saber popular, a nova me impelida a se resguardar,

    pois o parto tido como meio do organismo materno se abrir e seu fechamento

    s determinado aps o quadragsimo dia de ps-parto. Dessa forma, nesta fase, a

    viso popular foca-se no cuidado da mulher, que, caso no atendido, levar ao

  • 22

    adoecimento e a algum desajuste; com isso, muitas mulheres sentem-se

    convalescentes, mesmo vivendo a normalidade de um perodo de transio (Heh,

    2004; Canaval et al., 2007; Piperata, 2008; Stefanello, Nakano, Gomes, 2008).

    Devido a esses cuidados oriundos da prtica familiar, as prescries advindas

    dos profissionais da rea da sade podem se contrapor ao saber popular, deixando de

    ser utilizadas pela purpera, como verificado em estudo realizado por Almeida e

    Kantorski (2000), no qual se relatou a experincia do cotidiano de cuidados nas

    maternidades. No estudo, mostrou-se que necessrio conhecer a realidade das

    purperas, com relao s suas crenas, aos valores e s prticas culturais, para que o

    cuidado prestado pelo profissional de sade seja culturalmente congruente. Sendo

    assim, esse cuidado deve ser aplicado quando desenvolvido junto aos grupos sociais,

    ao qual a me est inserida. Porm, o desinteresse e a desateno dos profissionais

    frente a esse contexto podem gerar o predomnio de orientaes de prticas de carter

    biolgico sobre s de origem sociocultural. No obstante, nesta condio, afloram-se

    as crenas oriundas da prtica familiar, as quais geram cuidados considerados

    malficos ou benficos, conforme sua orientao de sade. Tal situao ocorre

    porque a maternidade determinada tambm por valores culturais, afetivos e sociais

    (Pedroso, 1982; Pelcastre, 2005; Wiegers, 2006).

    As crenas, os valores e os tabus so responsveis por conceber a esfera

    cultural. Verificamos que o termo crenas tem, por definio, o ato de crer e/ou ter

    convico por algo; alm disso, exemplifica um ato de f que determina uma

    convico ntima, nem sempre ligada a um grupo, mas sim ordem de uma pessoa;

    mesmo sem comprovaes objetivas, subjetivamente mantida como princpio para

    um indivduo. As crenas tambm podem ser explicadas como um estilo de

    conhecimento advindo do senso-comum e interiorizado no humano segundo seus

    hbitos de vida (Canteiro, Martins, 2004; Holanda, 2004; Ichisato, Shimo, 2006).

    As crenas culturais acerca do perodo gestacional e ps-natal so institudas

    secularmente, como formas de cuidados e proteo da me e do beb, que estariam

    vulnerveis devido s transformaes biolgicas, sociais e culturais; entretanto

    devemos polici-las para que no sejam nocivas ou patognicas (Helman, 2009).

    luz da atuao do profissional de sade, notamos que tanto as pesquisas

    quanto as prticas cotidianas no perodo ps-parto so, em sua maioria, baseadas no

  • 23

    modelo biomdico, pois ainda predomina a crena que apenas a esfera biolgica

    determinante para as mudanas encontradas nesse perodo; com isso, evidenciam-se,

    no atendimento do profissional, os aspectos extremamente tcnicos e a

    desvalorizao das demandas culturais e sociais da mulher-me (Cabral, Oliveira,

    2010).

    Uma das causas para o desfavorecimento do contexto sociocultural da mulher

    ocorre porque, tanto o profissional, quanto a clientela, mesmo fazendo parte de uma

    cultura hegemnica, entendem os agravos de sade de maneira diferente. Ao se

    considerar a diversidade de valores e de crenas prprias do indivduo, que se

    confronta com a formao acadmica, que tem como modelo a determinao da cura

    acima de qualquer situao emocional ou cultural, observa-se a gerao de um

    vnculo verticalizado entre profissional e cliente, no qual as prticas de cuidados so

    fundamentadas na racionalidade cientfica, uma vez que a explicao de um estado

    de sade ou doena baseada em aspectos culturais, com enfoque em crenas, no

    seria to objetiva e certa como um resultado fornecido por um exame laboratorial ou

    clnico (Helman, 2003).

    Ainda segundo Helman (2009), o reducionismo biomdico faz com que a

    pessoa seja vista de maneira compartimentada. A famlia e a comunidade so

    esquecidas durante esse processo, o que acaba tornando a interao mdico-cliente

    ainda mais frgil.

    Quando o profissional fundamenta seu cuidado apenas segundo seus

    conhecimentos cientficos, considera-se que sua prtica baseada em uma cegueira

    cultural, pois, com essa atitude, o cuidador tenta impor seus preceitos acima dos da

    cliente (Gualda, 1993; Arajo, 2009).

    A purpera, diante deste quadro, tende, por curto perodo de tempo, a seguir

    os preceitos de cuidados oferecidos pelo profissional; porm, aps essa

    temporalidade, ela reassume seu estilo de vida, considerando os padres culturais

    prprios de seu contexto. As divergncias advindas desta comparao podem deix-

    la insegura sobre a escolha do tipo de cuidado ideal (Gualda, 1993).

    A observao na prtica, acrescida de resultados de pesquisa, demonstra que

    nem sempre os profissionais valorizam a influncia sociocultural no perodo

    puerperal. A famlia, por conviver no mesmo contexto da purpera, exerce seu papel

  • 24

    de complementao da atuao do profissional. Nesta atmosfera, o apoio dos

    familiares torna-se valioso para as decises sobre o cuidado da mulher no perodo

    puerperal, principalmente quando advindo do marido/companheiro e das avs, em

    especial do lado materno (Merighi, Gonalves, Rodrigues, 2006; Rapoport,

    Peccinini, 2006).

    Frente ao contexto da cegueira cultural na atmosfera assistencial, so

    encontradas lacunas na assistncia no perodo puerperal, que prejudicam o

    atendimento integral da mulher, se julgarmos a dissociao entre natureza e cultura

    que deixam de compor um conjunto (Almeida, Novak, 2004; Takushi et al., 2008).

    Dessa forma, verificamos uma incompletude das prticas de cuidado no ps-parto,

    quando estas so ofertadas pelos profissionais, que se fundamentam, em sua maioria,

    apenas no lado biolgico e instintivo da mulher, sem solucionar suas dvidas

    demandadas por outras esferas, como sociais e culturais (Catafesta et al., 2007).

    Por conta do exposto, e associado s dificuldades geradas por novas

    demandas, a purpera impelida a buscar auxlio na rede social qual se insere, em

    detrimento das informaes que recebeu durante o pr-natal ou na assistncia na

    maternidade. Essa valorizao dos preceitos familiares em oposio aos conceitos

    biomdicos surge tambm porque aqueles esto presentes no contexto de vida da

    pessoa desde o nascimento e estes influenciam no seu modo de ser, o que no difere

    no perodo ps-parto (Ichisato, Shimo, 2006; Takushi et al., 2008).

    O setor informal, que tambm caracterizado pela famlia, responsabiliza-se

    por cuidar de 70% a 90% da sade nas sociedades ocidentais e orientais. Isso ocorre,

    pois a rede de contato em particular, os familiares possui vivncias, valores e

    crenas semelhantes aos da cliente, o que geraria maior aceitao e durabilidade dos

    cuidados prestados por estes (Nakamura, Martin, Santos, 2009).

    A condio acima confirmada por estudo qualitativo com enfoque na

    vivncia da amamentao de mes com recm-nascidos prematuros, realizado no

    municpio de So Paulo, que verificou que, na perspectiva das mes, a qualidade da

    ateno gerada pela equipe de sade s se faz completa quando os profissionais

    realizam o acolhimento englobando, alm das necessidades maternas, a demanda do

    contexto familiar e social desta purpera frente aos cuidados com o filho (Silva,

    Silva, 2009).

  • 25

    Vale destacar outro estudo qualitativo sobre representaes sociais maternas e

    introduo de alimentos complementares para lactentes, no qual se verificou que o

    mdico gera diretrizes validativas sobre os cuidados advindas do senso comum;

    assim, a escolha da introduo de alimentos do beb sofre interferncia da

    experincia da mulher-me e de seu contexto sociocultural. A justificativa reside no

    fato da mulher-me passar por um perodo importante de aprendizado, o que culmina

    na preferncia dos valores culturais aos quais foi criada fazendo com que a lgica

    dos saberes cientficos, advindos do profissional de sade, seja colocada parte

    (Salve, Silva, 2009).

    Sendo assim, a influncia familiar, gerada pela herana construda nos

    contextos socioculturais, associa-se necessidade de auxlio da purpera. Neste

    contexto, as crenas baseadas em mitos e tabus adquirem fora e tendem a se

    manifestar no comportamento da mulher em ps-parto (Canteiro, Martins, 2004;

    Vaucher, Durman, 2005).

    Bitar (1995) relata que desde o momento do nascimento, o ser humano traz

    consigo duas configuraes: a gentica e a cultural. A primeira responsvel por

    transmitir as caractersticas hereditrias, enquanto a segunda configura a transmisso

    de valores e crenas.

    Sabe-se que a esfera cultural atrela-se no s aos aspectos mitolgicos, mas

    tambm s crenas e aos tabus (Ichisato, Shimo, 2006). Esse conjunto, formado pelos

    trs elementos mitos, tabus e crenas , embora complexo, pode ser resumido

    como um estilo de conhecimento advindo do senso comum e interiorizado pela

    pessoa segundo seus hbitos de vida (Canteiro, Martins, 2004; Henriques, Gomes,

    2005).

    Mesmo sendo considerados como um saber primitivo, os mitos e os tabus se

    perpetuam nas geraes como uma forma de manuteno de seu passado e explicam

    o mundo cultural da pessoa com base em suas crenas (Castilho, 2003; Vaucher,

    Durman, 2005; Grimal, 2009).

    As crenas so consideradas uma forma de conhecimento, que se incorpora

    ao indivduo, a partir de seus hbitos e costumes de vida, e, que uma vez

    interiorizada no seu cotidiano, permite a continuidade diria de seus preceitos, que

    determinam a sua maneira de ser e de agir. Sendo assim, se a pessoa acreditar que

  • 26

    algo ir lhe fazer mal, isso pode ocorrer, pois, as crenas so alimentadas pelo modo

    de pensar da pessoa e dependem da forma que so incorporadas por ela,

    influenciando e estabelecendo o bem ou o mal-estar da pessoa envolvida. Pode-se,

    ainda, depreender que a crena oriunda da construo familiar, com o intuito de

    promover perseverana e sustentar as regras parentais (Collire, 1989; Gualda,

    Bergamasco, 2004).

    As crenas podem surgir a partir de mitos, os quais so considerados lendas

    ou histrias, contrariando o logos, ou seja, o raciocnio. Ao se incorporar em uma

    populao, mesmo mantendo seu modelo tradicional, as crenas sofrem modificaes

    para que os indivduos consigam entender seu contexto, variando de acordo com

    cada cultura (Grimal, 2009).

    Uma das causas das crenas se manterem vivas mesmo depois de sculos se

    deve transmisso entre geraes, ou seja, a partir de perspectivas intergeracionais,

    as quais as segregam, por meio de expresses simblicas, mediadas por imagens,

    contos, cartas e valores, transmitidos de maneira que envolvem a parte afetiva e

    emocional do ser humano (Brando et al., 2006; Ptaro, 2007).

    Por sua vez, os mitos e os tabus delimitam crenas familiares, as quais

    surgem por meio das relaes entre os parentes e tm a finalidade de cooperar para a

    formao da identidade cultural do crculo familiar, o que ajuda a potencializar a

    permanncia deste saber no mundo (Castilho, 2003).

    As tradies familiares, compostas tambm pelos prprios mitos e crenas,

    so responsveis por conduzirem o pensamento humano, pois so contabilizadas

    como verdades absolutas e, por meio dos laos geracionais, segregam as perspectivas

    mitolgicas e lendrias (Henriques, Gomes, 2005; Ptaro, 2007; Cotta, Priori,

    Marques, 2008). No Brasil, pas constitudo por culturas e etnias diversas, o

    conhecimento popular e as tradies se manifestam nos aspectos biopsicossociais,

    tambm durante o ciclo gravdico-puerperal (Centa, Oberhofer, Chammas, 2002).

    Neste contexto, a oposio entre o saber cientfico e as crenas familiares faz

    com que a purpera vague entre duas lgicas opostas. Devido ao desequilbrio do

    saber cientfico ao ser confrontado s crenas herdadas da famlia e de seu meio

    sociocultural, o saber popular se sobrepe e faz aflorar crenas que, no puerprio,

  • 27

    podem modificar o cotidiano de cuidados dessa mulher (Stefanello, 2005; Baio,

    Deslandes, 2006).

    As crenas, neste contexto, surgem na prtica do cuidado como uma forma de

    proteo do binmio me e recm-nascido, que se encontra vulnervel pelos eventos

    do ciclo gravdico-puerperal (Nakano et al., 2003). Essa mesma viso encontrada

    em outras culturas, como na japonesa, na qual as prticas de cuidados so pensadas e

    perpassadas entre geraes com o intuito de beneficiar o binmio me-beb (Raven

    et al., 2007).

    Cabe citar que autores que estudaram crenas, mitos e tabus no perodo ps-

    parto destacam que as maiores influncias nas prticas de cuidado nesta fase so

    transmitidas pelos familiares mais velhos da purpera (Liu et al., 2009). Um estudo

    mostrou que as participantes ouviram a opinio de vrias redes de contato, sobre os

    danos elasticidade vaginal, mas valorizaram seu contexto, na qual a opinio de

    mulheres da famlia, em especial a me e a av, teve relevncia (Arajo, 2009). Esta

    opo demonstra a tendncia em seguir a orientao advinda da tradio familiar

    pautada nas perspectivas intergeracionais. Estudo realizado por Rico (2006) apontou

    que, alm da transmisso entre as geraes, ainda h redes sociais formadas por

    amigos e tambm os meios impressos e eletrnicos, dentre estes, o rdio, a televiso,

    as revistas, e a internet, os quais transmitem as informaes de cuidados no ps-

    parto.

    Portanto, o ciclo gravdico-puerperal deve ser visto como uma fase permeada

    por crenas, mitos e tabus devido a transformao e a autodefinio de um novo

    papel na vida da mulher e da famlia (Rapoport, Piccinini, 2006; Ciampo et al.,

    2008). Vemos o perodo ps-parto como uma condio em que a mulher sofre

    interferncia das aes dos profissionais de sade e da prpria famlia e de sua rede

    de contato. Sendo assim, as orientaes recebidas quanto ao cuidado no perodo ps-

    natal devem atender s esferas biopsicossocioculturais, para que, frente uma

    demanda de cuidado, a purpera consiga discernir qual a melhor prtica a ser

    escolhida dentre o saber cientfico e o popular, para obter o melhor resultado na sua

    recuperao.

    Do exposto, consideramos que, ao verificar as opes da purpera diante de

    dois plos orientaes biomdicas e crenas do seu contexto de vida sobre as

  • 28

    prticas de cuidado no ps-parto, estaremos contribuindo com servios de

    maternidade, desvelando caminhos para a assistncia biossociocultural da clientela, e

    oferecendo mulher-me a oportunidade de vivenciar o momento do ps-parto, de

    maneira responsvel e autnoma diante das prticas de cuidado.

    Dessa forma, o presente estudo buscou respostas questo:

    No cotidiano da mulher que vivencia o perodo ps-parto, suas prticas de cuidado

    derivam de crenas populares, de informaes de cunho cientfico ou de ambas?

    Diante da perspectiva de que estaramos trabalhando com prticas derivadas

    de orientaes de cunho cientfico e transmisso popular, optamos pelo Modelo de

    Competncia Cultural de Purnell como referencial terico, pois este estuda o receptor

    e seu contexto, assim como o provedor de cuidado sade e a relao entre ambos.

  • 29

    Fonte: http://paulicasantos.wordpress.com/

    Modelo de Competncia Cultural de Purnell

    http://paulicasantos.wordpress.com/
  • 30

    O Modelo de Competncia Cultural de Purnell surgiu na dcada de 1990, com

    a inteno de favorecer um ambiente de cuidado que propiciasse captar crenas e

    valores presentes na sociedade, de modo a auxiliar o profissional da rea da sade na

    prestao do cuidado ao cliente, no apenas no aspecto biolgico, mas tambm

    sociocultural (Purnell, 2000).

    Este Modelo de cuidados visa entender os profissionais de sade, em

    particular, a enfermeira, frente ao processo de cuidado; por isso, sua relao com o

    cuidar humano nas trs esferas da sade: primria, correspondente promoo da

    sade; secundria, que envolve a preveno e a proteo sade, e terciria, que

    envolve a reabilitao por meio do multiculturalismo entre a relao profissional e

    cliente (Purnell, 2000; Marroni, 2003).

    Este Modelo de Competncia Cultural busca evitar generalizaes, uma vez

    que estas fazem os indivduos perderem a personalidade prpria, levando

    minimizao do nico em prol do todo e gerando simplificao das crenas e valores

    das pessoas (Marroni, 2003; Purnell, 2005).

    Sendo assim, o Modelo preza pelo respeito aos aspectos sociais e culturais

    tanto do indivduo como dos profissionais, propondo a observncia dos valores

    culturais para a efetivao de um cuidado integral para o restabelecimento da pessoa.

    Quando os aspectos culturais no esto interligados s prticas de cuidado, o cliente

    pode sentir-se desrespeitado pelo profissional que presta este atendimento, gerando

    um possvel prejuzo na credibilidade deste cuidador (Purnell, 2000; Marroni, 2003).

    O Modelo permite ao profissional conhecer as crenas e os valores prprios

    para no gerar interferncia cultural, mas tambm favorece a investigao das

    crenas e dos cuidados individuais das clientes; dessa maneira, de posse do histrico

    cultural da cliente, as intervenes de sade seriam delineadas, aperfeioando a

    experincia do cuidado (Purnell, 2005).

    Os modelos que envolvem competncia prezam pela aceitao e pelo respeito

    das diferenas, mantendo a individualidade do sujeito em relao s crenas prprias.

    Por conta disso, o profissional deve conhecer e entender a cliente para conceber

    prticas de cuidados culturais, baseando-os na origem, no comportamento, nas

    crenas e nas atitudes da clientela (Purnell et al., 2011).

  • 31

    O citado Modelo foi criado tendo como base disciplinas da rea de

    humanidades e da sade, assim como conceitos sobre o ambiente. O Modelo de

    Competncia Cultural de Purnell (Figura 1) composto por doze domnios culturais,

    microaspectos que se relacionam entre si, em maior ou menor grau, e com cada

    dimenso, macroaspectos, do citado Modelo (Purnell, 2000).

    FIGURA 1 Modelo de Competncia Cultural de Purnell representado na forma

    de crculo com as dimenses globais, ou macroaspectos, e os 12 domnios,

    considerados microaspectos.

    Fonte: Purnell, 2000.

  • 32

    Neste Modelo, so considerados os macroaspectos, como: Sociedade Global,

    Comunidade, Famlia e Pessoa, tanto nos setores educacionais, como na pesquisa e

    tambm na sade. Para os autores deste Modelo, sade definida como bem-estar

    em relao aos aspectos biossocioculturais e tnico-culturais, levando em

    considerao a influncia da globalizao, da sociedade e dos familiares sobre o

    indivduo (Purnell, 2000; Marroni, 2003).

    No Modelo, a comunidade caracteriza-se como um grupo de pessoas com

    interesses comuns, que vivem em dado local; enquanto a famlia tida como um

    conjunto de duas ou mais pessoas, com envolvimento emocional mtuo; e a pessoa

    considerada como ser biopsicosociocultural em constante transformao. Quanto

    dimenso global, esta sofre influncia da disseminao de eventos por meios da

    comunicao (Purnell, 2000).

    Como microaspectos deste Modelo, so considerados os 12 domnios (Figura

    1), que so conceituados seguindo o multiculturalismo e a influncia sobre a sade

    do indivduo, sendo eles: herana, comunicao, papis e organizao familiar, fora

    de trabalho, ecologia biocultural, comportamentos de alto risco, nutrio, prticas na

    gravidez, no parto e no puerprio, rituais relativos morte, espiritualidade, prticas

    de cuidado sade e, por fim, provedor do cuidado sade (Purnell, 2000; Purnell,

    2005).

    O Modelo ainda prev sua responsabilidade ao criar um ambiente favorvel

    de acolhimento com vistas s prticas clnicas, com o intuito de identificar crenas e

    valores para desenvolver registros de cuidados baseados em acordos entre

    profissional e cliente (Purnell, 2000; Marroni, 2003; Purnell, 2005).

    Sendo assim, o Modelo representado na figura 1 mostra cada domnio e seu

    contedo. Dessa maneira, apresentamos, a seguir, os 12 domnios do Modelo de

    Competncia Cultural de Purnell, com seus conceitos, segundo Purnell (2000),

    Marroni (2003), Purnell (2005) e Alvarez (2012):

    Herana

    Neste domnio, tambm conhecido como Viso do Mundo, verificam-se os

    aspectos relacionados a alguns dados socioeconmicos e culturais tanto da pessoa,

    como da famlia e comunidade, aqui representados pelos modelos de moradia, as

  • 33

    situaes polticas e econmicas, os nveis educacionais, ndices de trabalho e

    ocupao, alm das relaes com os aspectos migratrios.

    Pode-se verificar, como exemplo, migraes relacionadas s questes

    econmicas, ou seja, a busca por uma ocupao mais rentvel, que pode estar

    relacionada ao grau maior de escolaridade.

    Sendo assim, esse domnio busca correlacionar tais aspectos do mundo s

    modificaes sociais, culturais e espaciais das pessoas e da sociedade.

    Comunicao

    Este domnio relaciona-se diretamente aos demais, uma vez que o uso da

    linguagem colabora para as relaes e o conhecimento humano.

    Sendo assim, as variaes lingusticas, alm das formas de comunicao

    verbalizada e no-verbalizada, as diferentes entonaes da vocalizao e a

    classificao por nomes so contempladas neste domnio, visando explicar as

    complexidades do padro da linguagem nas relaes sociais.

    A linguagem e os meios de comunicao so de extrema importncia, ao

    avaliar como o prestador de cuidado realizaria orientaes em comunidades com

    linguagem diferente do seu idioma de origem, mostrando que a comunicao, alm

    de estar associada identidade de um povo, pode caracterizar barreiras socioculturais

    quando no dominada na totalidade pela sociedade e pelo indivduo.

    Papis e organizao familiar

    Neste domnio, so atribudos a relao do gnero na chefia familiar, assim

    como o lugar da famlia na comunidade, segundo o estilo de vida dos sujeitos

    envolvidos na constituio familiar.

    possvel avaliar os papis familiares, assim como a constituio do

    casamento ou somente a unio informal com um companheiro, o que representaria a

    forma pela qual tanto a sociedade quanto a famlia e o indivduo concebem a relao

    da organizao familiar.

    Ainda como exemplo, destaca-se a relao das disparidades entre os gneros

    e a formao das famlias e a classificao entre diferentes papis e desempenhos na

    organizao dos membros familiares.

  • 34

    Fora de trabalho

    Neste domnio, encontra-se a relao entre as formas de trabalho do indivduo

    e a famlia e a sociedade. Podemos verificar a autonomia e a aculturao, ou seja, a

    fuso de vrias culturas interferindo no processo do trabalho.

    Alm disso, pode-se interpretar os papis de gnero e a influncia do pas de

    origem sobre as prticas de sade e trabalho.

    Sendo assim, as formas de trabalho poderiam auxiliar a entender o indivduo,

    a famlia e a sociedade frente esta constituio.

    Ecologia biocultural

    Este domnio contempla desde as variaes tnicas, raciais e culturais at as

    diferenciaes no organismo humano, por conta das diferentes raas.

    Tambm como parte deste domnio, buscam-se identificar e explicar as

    doenas de cunho gentico e hereditrio e a ao dos medicamentos sobre os

    metabolismos.

    Exemplificando: a ecologia biocultural pode analisar a cor de pele em relao

    ao indivduo, famlia e sociedade, buscando compreender os eventos sobre a

    esfera biossociocultural.

    Comportamentos de alto risco

    Refere-se avaliao de hbitos culturais que ofereceriam riscos para a sade

    do indivduo, como: etilismo, drogadio e tabagismo; ausncia de atividade fsica,

    ingesto em excesso de calorias e falta de medidas para preveno de risco.

    Este domnio busca investigar no indivduo, na famlia e na sociedade os

    hbitos ou as atividades que geram riscos; por exemplo, falta de equipamentos de

    segurana quando se realiza uma atividade que envolva risco ao organismo.

    Nutrio

    Trata da escolha pelo alimento, alm de envolver os rituais e os tabus

    alimentares. Esse domnio fornece dados sobre o significado do alimento, assim

    como a utilizao da nutrio para promover e restabelecer a sade do indivduo.

  • 35

    Como o alimento recebe diferentes designaes segundo a cultura, a

    sociedade, a famlia e o indivduo, ao se reconhecer os diferentes significados

    atribudos, propicia-se maior conhecimento sobre a prtica nutricional.

    Prticas na gravidez, parto e puerprio

    Refere-se s prticas relacionadas a crenas e tabus presentes no perodo

    gravdico-puerperal, assim como a vivncia destas etapas, o uso de mtodos de

    controle da natalidade e o padro de fertilidade.

    Verificam-se, ainda, as prticas restritivas e prescritivas sobre as etapas do

    ciclo gravdico-puerperal.

    Exemplificando a perspectiva do domnio: as crenas acerca do perodo

    puerperal interferem no sujeito, na famlia e na sociedade; ao conhec-las,

    estabelece-se um padro integral de cuidado.

    Rituais relativos morte

    Pretende-se, ao se avaliar este domnio, encontrar a maneira pela qual os

    indivduos, a famlia e a sociedade explicam e entendem o ato de morrer.

    Alm disso, leva-se em considerao o envolvimento cultural na preparao e

    na conduo do enterro e do sepultamento, alm da valorizao do corpo fsico.

    Espiritualidade

    Englobam as prticas relacionadas religio, assim como as formas de orao

    e o significado da vida, segundo os aspectos da espiritualidade atribudos pela fora

    da f.

    Prticas de cuidado sade

    Envolvem a preveno e o tratamento de um agravo, assim como prticas

    com fundamentao biomdica e crenas populares, responsabilidade individual pela

    prpria sade, automedicao e barreiras para a manuteno da sade.

    Provedor de cuidado sade

  • 36

    Os provedores de cuidado sade so vistos sob a tica de prticas mgico-

    religiosas, biomdicas e tradicionais na promoo ou no restabelecimento da sade.

    Partindo da descrio dos domnios acima expostos, o referido Modelo

    prope que a enfermagem incorpore, na prtica clnica, a realidade sociocultural dos

    clientes e, a partir da ateno a seus domnios, favorea o cuidado prestado.

    Ao optarmos pelo Modelo de Competncia Cultural de Purnell como

    referencial de anlise deste estudo, consideramos que a pessoa deve ser investigada

    como ser social e cultural, pois as regras sustentadas por uma sociedade apenas se

    mantm vigentes devido ao simblica transmitida culturalmente entre as

    geraes. Em grande parte das sociedades humanas, as crenas, os valores e as

    prticas relacionam-se manuteno da sade, caractersticas fundamentais de uma

    cultura (Helman, 2003).

    Consideramos, tambm, que o ser humano responsvel por regular e

    perpetuar seus princpios, sendo assim, a partir da vivncia social e cultural da

    pessoa que ser determinada sua viso de mundo, segundo suas prticas e crenas.

    Cultura seria, portanto, um conjunto de preceitos herdados por uma pessoa em

    resposta ao convvio com seu grupo sociocultural, o qual delimitaria o modo de ver e

    experienciar o mundo junto de foras do ambiente sociocultural ao qual est inserida

    (Helman, 1994; Helman, 2003).

    A cultura responsvel pela transmisso dos princpios sociais para as

    geraes seguintes, por meio de smbolos e de rituais, nos quais os aspectos culturais

    ajudariam a pessoa a compreender o mundo ao qual se insere para conviver nele,

    embora nem sempre a cultura na qual o sujeito nasce e vive seja o nico meio de

    influncia sobre o padro sade-doena, mas sim, uma das formas de interferncia

    sobre o comportamento, as crenas e os padres de estilo de vida do indivduo

    (Helman, 2009).

    Com esta compreenso da vivncia em uma sociedade globalizada, na qual os

    cuidados sade exigem o atendimento biossociocultural do cliente, julgamos

    adequado o emprego do Modelo de Competncia Cultural de Purnell (Purnell, 2000).

    Este Modelo volta-se ao recipiente e ao provedor do cuidado sade, que, nesta

    pesquisa, so representados, respectivamente, pela mulher que vivencia o ps-parto e

  • 37

    pelo profissional de sade (ou o leigo) que pode assisti-la em suas demandas de

    cuidados sade.

    Segundo a reviso da literatura e o questionamento da pesquisa, e prezando

    pela abordagem qualitativa e utilizao do referencial terico do Modelo de

    Competncia Cultural de Purnell, o presente estudo almeja responder o objetivo

    disposto a seguir.

  • 38

    Fonte: http://paulicasantos.wordpress.com/

    Objetivo

    http://paulicasantos.wordpress.com/
  • 39

    Explorar as prticas de cuidado adotadas no ps-parto pela mulher usuria de

    uma Unidade Bsica de Sade na cidade de Rio Claro, SP.

  • 40

    Fonte: http://paulicasantos.wordpress.com/

    Mtodo

    http://paulicasantos.wordpress.com/
  • 41

    Este um estudo qualitativo, que teve como referencial de anlise o Modelo

    de Competncia Cultural de Purnell e que utilizou o Discurso do Sujeito Coletivo

    como mtodo para tratamento e apresentao dos dados encontrados por meio de

    entrevista gravada.

    Local

    O estudo foi realizado no municpio de Rio Claro (SP), junto s purperas

    usurias de uma Unidade Bsica de Sade (UBS) escolhida por atender elevado

    nmero de consultas de pr-natal: aproximadamente 159 gestantes em maio de 2010

    (Brasil, 2010b).

    Esta UBS localiza-se na rea urbana, referncia para 32 bairros do

    municpio, alm de contar com uma unidade de pronto atendimento anexa. Cabe

    salientar que no municpio de Rio Claro contamos com 6 UBS, nas quais se

    desenvolvem os programas tradicionais de sade frente a promoo, a preveno, o

    tratamento e a reabilitao do cliente. Alm disso, temos 9 Unidades de Sade da

    Famlia (USF), as quais possuem no total 11 equipes de sade baseadas no Programa

    Sade da Famlia (PSF), as quais atuam nas regies especficas de cada bairro e/ou

    setor de sade, pontuados no mapa municipal (APNDICE A) (Rio Claro, 2012).

    A cidade de Rio Claro dista 173 km de So Paulo, capital do estado, tem

    populao de 191.866 habitantes, com taxa de urbanizao de 97,6%. O nmero de

    mulheres de 85.986 e a taxa de fecundidade de 2,7 filhos/mulher (IBGE, 2009a).

    No municpio existe apenas uma referncia hospitalar pblica, para onde a

    parturiente encaminhada. Esta maternidade pblica realiza cerca de 160 partos/ms.

    Entre os meses de abril e julho de 2008 foram realizados 159 cesarianas e 240 partos

    normais (Grupo Jornal Cidade, 2008).

    Segundo a Secretaria Estadual de Sade de So Paulo, a relao entre partos

    normais e cesreas no municpio de Rio Claro se inverteu, pois, em 2010, foram

    realizadas 1.634 cesarianas, contra apenas 696 partos normais, demonstrando a

    influncia da medicalizao no servio de sade do municpio naquele ano (G1,

    2012).

    No municpio, durante o ciclo gravdico-puerperal, as mulheres so

    acompanhadas pelo sistema SIS pr-natal do governo do Estado de So Paulo, de

  • 42

    acordo com o Programa de Humanizao do Pr-Natal e Nascimento (PHPN), o qual

    visa garantir maior captao e qualidade nas consultas de pr-natal, assim como

    atendimento no parto e em todo o perodo ps-parto. A gravidez e o puerprio so

    acompanhados nas UBS ou nas USF (Brasil, 2002; Brasil, 2010b).

    O parto garantido no hospital e maternidade municipal de Rio Claro. O

    servio de sade do municpio estrutura-se de modo que toda purpera, entre o 7 e o

    10 dias de ps-parto, seja atendida na UBS onde realizou o pr-natal, cuja finalidade

    realizar a reviso do parto e avaliao do perodo ps-parto, que ocorre no intervalo

    entre a alta hospitalar e a primeira consulta puerperal e do recm-nascido, tambm na

    UBS, em torno de 30 a 40 dias (Brasil, 2002; Brasil, 2010b).

    Participantes

    Participaram do estudo purperas entre 30 e 45 dias de ps-parto, que

    realizaram o pr-natal na UBS campo de estudo.

    No houve definio prvia do nmero de participantes, pois, por se tratar de

    um estudo qualitativo, a coleta de dados que delineou a necessidade do nmero de

    entrevistas, pois o encerramento ocorreu quando houve repetio dos dados coletados

    saturao terica.

    Os critrios de incluso para as participantes foram:

    1- Estar matriculada e ter realizado pr-natal na UBS, campo do estudo.

    2- Estar entre o 30 e 45 dias de ps-parto.

    3- Ser primpara.

    4- Ter idade igual ou superior a 18 anos.

    5- Ter tido recm-nascido vivo.

    Coleta de dados

    Os dados foram coletados entre os meses de agosto e dezembro de 2011, aps

    autorizao da direo do campo de coleta (APNDICE B), seguindo as etapas

    dispostas abaixo, representadas na figura 2.

  • 43

    FIGURA 2 Organograma das etapas para coleta de dados. So Paulo, 2012.

    Foram catalogadas 23 purperas inscritas na UBS de escolha e que

    preencheram os critrios de incluso; entretanto, uma se recusou a participar,

    enquanto outras duas mulheres aceitaram a participao, porm no compareceram

    no dia agendado para entrevista, alm de no termos conseguido novo contato para

    reagendamento. Dessa forma, participaram deste estudo 20 purperas.

    Para o estabelecimento de vnculo entre pesquisador e participante da

    pesquisa, foi realizado o 1 contato com a mulher na UBS, antes ou ao final da

    consulta obsttrica, quando a gestante se encontrava no 3 trimestre da gravidez.

    Quando purpera, este contato foi realizado durante a consulta de reviso ps-parto,

    entre o 7 e 10 dias de puerprio.

    Esse primeiro contato foi rpido e realizado em um consultrio ou na prpria

    sala de agendamento de consulta nas dependncias da UBS. Ainda assim, foram

    prezados a privacidade e o sigilo. Durou cerca de 10 minutos, tempo para que a

    pesquisadora se apresentasse e expusesse mulher o objetivo da pesquisa, alm de

    1 Contato 3 trimestre gestacional ou

    Retorno puerperal

    2 Contato (1 ou + vezes)

    Pessoalmente

    Apresentao da pesquisa

    Entrega da carta de apresentao

    Via telefone Aps 15 dias do contato inicial

    Avaliar se compreendeu a carta de apresentao Verificar a concordncia em participar do estudo

    Dados da vivncia do ps-parto

    3 Contato Pessoalmente 30 ao 45 dias de ps-parto

    Realizao da pesquisa e entrevista com a purpera

  • 44

    entregar-lhe uma carta de apresentao escrita (APNDICE C), com um resumo da

    pesquisa para que ela pudesse ler com calma e averiguar o interesse em participar do

    estudo. Foi aberto um espao de tempo para que a mulher pudesse sanar suas dvidas

    frente aos procedimentos da pesquisa. Nesse primeiro contato, tambm foi

    preenchida, segundo sua concordncia, a ficha de identificao da purpera

    (APNDICE D) com dados para os contatos seguintes nome, endereo, telefone,

    data do prximo retorno UBS e preferncia de dia, hora e local para a

    participao na pesquisa.

    O 2 contato foi realizado pelo telefone, aps o nascimento do beb ou

    aproximadamente 15 dias aps o primeiro contato. Em alguns casos, foram

    realizadas vrias tentativas, conforme a necessidade e o pedido da purpera. Nesse

    contato, eram questionadas a leitura e a compreenso da carta de apresentao

    (APNDICE C) e sanadas as possveis dvidas; diante da concordncia em

    participar, eram combinados local, hora e data para a entrevista.

    O ltimo contato foi realizado no dia estipulado pela purpera para a

    entrevista. A maioria ocorreu antes ou aps a consulta de retorno puerperal, 40 dias

    aps o parto. O tempo previsto para as entrevistas gravadas girou entre 40 e 60

    minutos. Quando realizada na UBS, ocupava-se um consultrio na ala da pediatria.

    Nos casos em que a entrevista foi realizada no domiclio, era solicitado um local com

    privacidade.

    A entrevista iniciava-se com a leitura do Termo de Consentimento Livre e

    Esclarecido (TCLE) (APNDICE E), com esclarecimento de dvidas, sempre que

    necessrio. Aps assinatura e entrega da via para a purpera, esta era convidada a

    escolher uma entre trs figuras compostas por pequenas histrias de deusas para que

    pudessem ser reconhecidas por estas na apresentao dos resultados da pesquisa. A

    escolha pela mulher poderia recair tanto no desenho da deusa como por sua histria

    ou por ambos.

    Os dados foram obtidos por meio de entrevista com respostas para um

    formulrio semiestruturado (APNDICE F) e se iniciava aps a escolha da deusa.

    Em seguida, era iniciada a entrevista gravada.

  • 45

    Ao finalizar os procedimentos da coleta dos dados, se reforou purpera o

    sigilo mantido e foi pedido para que mantivesse, se possvel, atualizados os dados de

    identificao, dentre eles, no mnimo o telefone para futuros contatos se necessrio.

    Instrumento

    O instrumento de coleta de dados (APNDICE F) foi composto por trs

    partes e suas questes foram formuladas a partir de resultados de estudos qualitativos

    realizados sobre o tema, no contexto sociocultural, no perodo puerperal (Pedroso,

    1982; Costa, 2001; Stefanello, 2005; Castro et al., 2006; Luz, Berni, Selli, 2007;

    Silva, Roldn, 2009; Stefanello, Nakano, Gomes, 2008).

    Compuseram o formulrio:

    Parte I DADOS DE IDENTIFICAO: Com perguntas fechadas, que

    delinearam as caractersticas da mulher e envolveram os seguintes itens: idade,

    escolaridade, situao conjugal, acessibilidade para realizao do pr-natal e

    consultas de ps-parto, renda familiar e per capita e dados sobre consulta de pr-natal

    e parto.

    Parte II DADOS SOBRE O PS-PARTO: Na qual foram abordadas

    questes que contextualizaram a purpera junto aos familiares e cuidados ps-natal.

    Parte III Complementao da entrevista com a QUESTO ABERTA,

    disposta a seguir:

    Me fale os cuidados que voc est tendo com voc aps o nascimento do

    beb.

    TEMAS COMPLEMENTARES compuseram a ltima etapa da entrevista e

    somente foram abordados quando no citados pela purpera durante resposta da

    pergunta aberta. Tratavam de higiene, alimentao e esforo/repouso.

    TRATAMENTO E ANLISE DOS DADOS

    Os dados obtidos com as questes da Parte I do instrumento de coleta de

    dados (APNDICE F) foram utilizados para caracterizao da mulher de forma

    descritiva.

  • 46

    Os dados advindos da pergunta norteadora foram tratados e apresentados

    segundo o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), proposto por Lefvre, Lefvre

    (2005), ao final dos anos 1990.

    O DSC uma ferramenta que trabalha dados qualitativos. Ao ser

    entrevistado, o participante narra, de modo emprico, seus pensamentos reais e

    objetivos, ligados ao consciente, e os subjetivos, ou seja, o inconsciente, no qual

    encontramos as crenas e os valores do indivduo, assim como os sentimentos e os

    comportamentos (Lefvere, Lefvre, Teixeira, 2000).

    Sendo assim, essa estratgia metodolgica formada por um conjunto de

    representaes discursivas que fundamenta a representao social, ou seja, transmite,

    por meio dos discursos coletivos, os pensamentos de um grupo de indivduos.

    Portanto, o grupo seria o autor responsvel pelo discurso e representado pelos

    relatos do conjunto de seus membros, explcitos individualmente. Dessa maneira, os

    aspectos culturais e sociais de um grupo so elencados por meio das estratificaes

    pessoais (Lefvere, Lefvre, Teixeira, 2000; Lefvere; Lefvere, 2006).

    A tcnica do discurso do sujeito coletivo construda com base na:

    discursividade coletiva; sendo assim, os dados coletados, ao serem

    analisados no se restringem a uma determinada categoria, com isso,

    expresses e ideias centrais advindas dos discursos individuais so unidos

    por semelhana formando um discurso nico com a finalidade de

    demonstrar um fenmeno (Lefvere, Lefvre, Teixeira, 2000, p.19)

    Ento, os indivduos que compem a Representao Social de uma

    determinada populao so vistos como geradores de pensamentos coletivos, ao se

    utilizar o DSC, deixando de ser um indivduo nico e incorporando, atravs dos

    discursos, uma representao que expresse tanto a cultura como a sociedade qual

    est inserido, o que colabora para evitar o reducionismo dos dados sociais a

    categorizaes (Lefvere, Lefvre, Teixeira, 2000).

    Os relatos das 20 purperas atendidas em uma UBS no municpio de Rio

    Claro mostraram as prticas de cuidado no ps-parto.

    As entrevistas gravadas tiveram seus contedos transcritos literalmente. Em

    seguida, estes foram lidos repetidas vezes para que fossem compreendidos.

    Aps essa sequncia, foram extradas as Expresses-chave, que so trechos e

    partes literais dos relatos que permitiram identificar partes dos contedos de interesse

  • 47

    para o estudo. A partir das Expresses-chaves foram inferidas as Ideias Centrais (IC),

    que so afirmaes que traduzem, de maneira objetiva, a essncia das Expresses-

    chave identificadas (Lefvere, Lefvre, Teixeira, 2000).

    Em seguida, as Ideias Centrais, com suas Expresses-chave correspondentes,

    foram categorizadas e agrupadas por similaridade temtica, segundo os Domnios do

    Modelo de Competncia Cultural de Purnell. O passo seguinte foi a construo de 21

    Discursos do Sujeito Coletivo, estruturados com as Expresses-Chave que

    originaram cada Ideia Central que os compuseram.

    Vale salientar que, mesmo sendo escrito na primeira pessoa do singular, cada

    DSC corresponde ao relato das 20 mulheres participantes do estudo, que representam

    as purperas usurias da UBS campo do estudo.

    Dessa forma, a construo do DSC pode ser exemplificada como visto no

    Quadro 1, a seguir.

    1 ETAPA 2 ETAPA 3 ETAPA 4 ETAPA

    Discurso na ntegra

    Expresses-chave

    Ideias centrais

    Classificao segundo os

    domnios do MCC de

    Purnell

    Ah...que nem, no comeo que, ai, que tem um pouco de

    medo e o...ah, eu no fazia o

    servio de casa, ficava sempre em repouso; que nem

    eu falo, tem que..por essa idade ter sido uma

    cirurgia...(hum rum-

    pesquisadora)...at cicatrizar o corte, eu no fazia o

    servio, no fazia nada,

    ficava o mximo que eu posso conseguir andar

    melhor...(hum rum-

    pesquisadora)... ah, via, ah, tomava banho,

    ah, lavava a cabea normal,

    no dava para ficar bom, ah o que a minha sogra, o que o

    pessoal falava, no dava

    muita bola no. Ah, s isso...

    Ah...que nem, no comeo que, ai, que tem um pouco de

    medo e o...ah, eu no fazia o

    servio de casa, ficava sempre em repouso; que nem

    eu falo, tem que..por essa idade ter sido uma

    cirurgia...(hum rum-

    pesquisadora)...at cicatrizar o corte, eu no fazia o

    servio, no fazia nada,

    ficava o mximo que eu posso conseguir andar

    melhor...(hum rum-

    pesquisadora)... ah, via, ah, tomava banho,

    ah, lavava a cabea normal,

    no dava para ficar bom, ah o que a minha sogra, o que o

    pessoal falava, no dava

    muita bola no. Ah, s isso.

    fazendo o servio de casa e

    ficando sempre em repouso

    no fazendo o servio, no

    fazendo nada, at cicatrizar

    o corte...

    tomando banho, e lavando

    a cabea normalmente

    no ligando para o que a

    sogra e o pessoal falava

    Prtica de cuidado sade

    (Responsabilidade relativa sade)

    Crena no ps-parto

    Prtica de cuidado sade

    (Autocuidado)

    Provedor do cuidado sade

    Eu tive cuidado com a

    alimentao, s. (Silncio) E

    com peso, por causa da

    cesrea mesmo, porque se

    fosse parto normal eu iria

    fazer tudo que tinha

    mesmo...

    Eu tive cuidado com a

    alimentao, s. (Silncio) E

    com peso, por causa da

    cesrea mesmo, porque se

    fosse parto normal eu iria

    fazer tudo que tinha mesmo.

    tendo cuidado com a

    alimentao

    evitando peso, por causa da

    cesrea

    Nutrio

    (Alimentao)

    Prticas de cuidado sade

    (Responsabilidade relativa

    sade)

    QUADRO 1 O passo a passo da construo do DSC. So Paulo, 2012.

  • 48

    Ressaltamos que cada DSC foi identificado por um ttulo, que representa seu

    contedo, e est disposto conforme cada domnio do Modelo de Competncia

    Cultural de Purnell, referencial terico deste estudo, cujos princpios direcionaram a

    anlise dos dados obtidos.

    PR-TESTE

    Foi realizado pr-teste com o intuito de avaliar a compreenso das mulheres

    sobre as questes que compem o formulrio (APNDICE F).

    Como as trs purperas participantes do pr-teste compreenderam as questes

    do instrumento (APNDICE F), elas foram includas como participantes do estudo.

    Vale salientar que o pr-teste foi iniciado aps aprovao do projeto pelo Comit de

    tica em Pesquisa e pela Secretaria de Sade de Rio Claro.

    PRINCPIOS TICOS

    Este estudo obteve aprovao do Comit de tica em Pesquisa (CEP) da

    Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo, processo n 989/2010

    (APNDICE G).

    Com a aprovao pelo CEP, o passo seguinte foi o encaminhamento da carta

    de solicitao de Autorizao de Pesquisa, Secretaria Municipal de Sade de Rio

    Claro. O secretrio de sade do municpio autorizou e liberou o campo de coleta,

    com a concordncia do mdico responsvel pelo setor de Ateno Bsica do

    municpio (APNDICE B).

    As mulheres que aceitaram participar da pesquisa assinaram o Termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APNDICE H), confeccionado em duas

    vias, segundo as normas da Resoluo 196/96, do Conselho Nacional de Sade.

    O TCLE era lido pela pesquisadora para a purpera antes do incio da coleta

    de dados e, caso houvesse alguma dvida, essa era sanada para posterior assinatura

    do termo.

    A seguir, apresentamos os resultados obtidos com as entrevistas das 20

    participantes do estudo.

  • 49

    Fonte: http://paulicasantos.wordpress.com/

    Resultado

    http://paulicasantos.wordpress.com/
  • 50

    Caracterizao das participantes

    As purperas participantes do presente estudo foram caracterizadas por meio

    dos dados de identificao (PARTE I APNDICE F), coletados na entrevista.

    Foram identificadas pelas iniciais de seus nomes e reconhecidas por deusas. Esse

    reconhecimento como deusa foi utilizado como meio de manter o anonimato da

    participante, alm de demonstrar sua identificao pessoal com a deusa de sua

    escolha.

    A seguir, apresentamos os quadros com os dados de identificao de cada

    purpera, segundo a ordem e a data das entrevistas.

  • 51

    Idade: 18 anos

    Escolaridade: 1 srie do ensino mdio

    Informou no ser fumante, etilista ou drogradita

    Evanglica

    Mora com o companheiro e mais 3 pessoas, tem renda familiar

    de 800,00 reais, sendo a renda per capita de 200,00 reais.

    Relatou ter convivido com a me, o pai e a sogra e,

    atualmente, diz conviver com a me e o companheiro.

    Origem da famlia materna: No informado

    Origem da famlia paterna: No informado

    Compareceu a p a 7 consultas de pr-natal na Unidade

    Bsica de Sade.

    Teve cesariana e compareceu para as consultas de ps-parto a

    p.

    Chama o perodo ps-parto de: Resguardo

    A entrevista foi realizada aos 37 dias de ps-parto.

    Reconhecida por:

    Fonte:

    http://blog-

    psique.blogspot.com.br/2011/04/o-

    arquetipo-afrodite.html

    Deusa: AFRODITE (VNUS)

    Deusa da beleza e do amor

    Uma das deusas mais bonitas da

    mitologia

    Mulher sempre apaixonada

    Idade: 28 anos

    Escolaridade: 3 srie do ensino mdio

    Informou fumar cerca de 10 cigarros por dia, mas negou ser

    etilista ou drogradita

    Esprita

    Mora com mais 3 pessoas, tem renda familiar de 3.000,00

    reais, sendo a renda per capita de 750,00 reais. Relata no

    conviver com o companheiro.

    Relatou ter convivido com os avs materno e paterno, os pais,

    irmos, sogra, alm de tios e primos. Atualmente, diz conviver

    com os pais, os irmos, os cunhados e as sobrinhas.

    Origem da famlia materna: No informado

    Origem da famlia paterna: No informado

    Compareceu de moto particular a 13 consultas de pr-natal na

    Unidade Bsica de Sade.

    Teve cesariana e compareceu para as consultas de ps-parto

    com a moto particular.

    Chama o perodo ps-parto de: Dieta e aprendizado

    A entrevista precedeu a consulta puerperal, na qual a purpera estava com 44 dias de ps-parto.

    Reconhecida por:

    Fonte:

    http://circulandomagia.blogspot.com.br/2010/0

    7/as-tres-faces-da-deusa.html

    Deusa: DEMTER (Ceres)

    Deusa da fertilidade e da agricultura

    Deusa responsvel pelo casamento

    Simboliza a mulher-me, gosta da

    gravidez, amamentao e do cuidado

    com as crianas.

    Identificao da Purpera: RFF

    Identificao da Purpera: MFL

    http://blog-psique.blogspot.com.br/2011/04/o-arquetipo-afrodite.htmlhttp://blog-psique.blogspot.com.br/2011/04/o-arquetipo-afrodite.htmlhttp://blog-psique.blogspot.com.br/2011/04/o-arquetipo-afrodite.htmlhttp://circulandomagia.blogspot.com.br/2010/07/as-tres-faces-da-deusa.htmlhttp://circulandomagia.blogspot.com.br/2010/07/as-tres-faces-da-deusa.html
  • 52

    Idade: 18 anos

    Escolaridade: 3 srie do ensino mdio

    Informou no ser fumante, etilista ou dogradita

    Evanglica (no praticante)

    Mora com o companheiro e mais 3 pessoas, tem renda familiar

    de 3.000,00 reais, sendo a renda per capita de 600,00 reais.

    Relatou ter convivido com os avs, os tios e as primas

    materno, avs paternos, os pais, os cunhados e a sogra e o

    sogro. Atualmente, diz conviver com os pais, o sogro e a

    sogra, os cunhados, alm de tios e primas por parte da me.

    Origem da famlia materna: Brasileira (Paulista)

    Origem da famlia paterna: Italiana

    Compareceu com carro emprestado por familiar a 10 consultas

    de pr-natal na Unidade Bsica de Sade.

    Teve parto normal e compareceu para as consultas de ps-

    parto com o carro emprestado por familiar.

    Chama o perodo ps-parto de: Resguardo

    A entrevista precedeu a consulta puerperal, na qual a purpera estava com 42 dias de ps-parto.

    Reconhecida por:

    Fonte:

    http://circulandomagia.blogspot.com.br/2010/0

    7/as-tres-faces-da-deusa.html

    Deusa: RTEMIS (Diana)

    Deusa da caa e da floresta

    Deusa do parto

    Simboliza a mulher que aprecia

    animais e a natureza

    Idade: 27 anos

    Escolaridade: Ensino superior completo

    Informou no ser fumante, etilista ou drogradita

    Catlica

    Mora com o companheiro e mais 2 pessoas, tem renda familiar

    de 2.300,00 reais, sendo a renda per capita de 766, 60 reais.

    Relatou ter convivido com os avs maternos e paternos, os pais,

    os sogros, os irmos e o tio. Atualmente, diz conviver ainda com

    os avs maternos e paternos, os pais, os sogros, os irmos e o tio.

    Origem da famlia materna: Italiana

    Origem da famlia paterna: Portuguesa

    Compareceu de carro particular a 10 consultas de pr-natal na

    Unidade Bsica de Sade.

    Teve cesariana e compareceu para as consultas de ps-parto com

    carro prprio.

    Chama o perodo ps-parto de: Dieta

    A entrevista precedeu a consulta puerperal, na qual a purpera estava com 42 dias de ps-parto.

    Reconhecida por:

    Fonte:

    http://www.luzemhisterio.com.br/porta

    l/index.php?option=com_content&vie

    w=article&id=363

    Deusa: HSTIA

    Deusa do fogo solar e da lareira.

    Deusa sbia que promovia os laos

    familiares.

    Simboliza a mulher sensitiva.

    Identificao da Purpera: ANA

    Identificao da Purpera: TAS

    http://circulandomagia.blogspot.com.br/2010/07/as-tres-faces-da-deusa.htmlhttp://circulandomagia.blogspot.com.br/2010/07/as-tres-faces-da-deusa.htmlhttp://www.luzemhisterio.com.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=363http://www.luzemhisterio.com.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=363http://www.luzemhisterio.com.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=363
  • 53

    Idade: 20 anos

    Escolaridade: 1 srie do ensino mdio

    Informou no ser fumante, etilista ou drogadita

    Evanglica (no praticante)

    Mora com 5 pessoas, tem renda familiar de 3.000,00 reais, sendo a

    renda per capita de 500,00 reais. No reside com o companheiro.

    Relatou ter convivido com os avs maternos e paternos, pais e

    irmos. Atualmente, diz conviver com o pai e as irms.

    Origem da famlia materna: Brasileira (Paranaense)

    Origem da famlia paterna: Brasileira (Paulista)

    Compareceu a p a 6 consultas de pr-natal na Unidade Bsica de

    Sade.

    Teve cesariana e compareceu para as consultas de ps-parto a p.

    Chama o perodo ps-parto de: Dieta

    A entrevista foi realizada em sua residncia, quando a purpera

    estava com 34 dias de ps-parto.

    Reconhecida por:

    Fonte:

    http://cantinhodosdeuses.blogspot.com.b

    r/2011/03/deusa-persefone.html

    Deusa: PERSFONE (Cora)

    Deusa dos mistrios

    Deusa com beleza estonteante.

    Deusa guardi dos segredos.

    Simboliza a mulher misteriosa

    com lado criana.

    Idade: 21 anos

    Escolaridade: 3 srie do ensino mdio

    Informou no ser fumante, etilista ou drogradita

    Evanglica

    Mora com o companheiro e mais 5 pessoas, tem renda familiar de

    3.000,00 reais, sendo a renda per capita de 428,50 reais.

    Relatou ter convivido com os avs paternos e av materna, os pais,

    os sogros, os irmos e o enteado do tio. Atualmente, diz conviver

    com a av materna, os pais, os sogros, os irmos e o enteado do

    tio.

    Origem da famlia materna: Brasileira (Paulista)

    Origem da famlia paterna: Brasileira (Paulista)

    Compareceu com carro prprio a 7 consultas de pr-natal na

    Unidade Bsica de Sade.

    Teve cesariana e compareceu para as consultas de ps-parto com

    carro prprio.

    Chama o perodo ps-parto de: Momento de tranquilidade

    A entrevista precedeu a consulta puerperal, na qual a purpera estava com 44 dias de ps-parto.

    Reconhecida por:

    Fonte:

    http://www.infoescola.com/mitologi

    a-grega/hera/

    Deusa: HERA (Juno)

    Deusa protetora do casamento e

    da fidelidade

    Deusa protetora das mulheres e

    senhora dos partos.

    Simboliza a mulher ligada ao

    poder e boa esposa.

    Identificao da Purpera: MDA

    Identificao da Purpera: PRG

    http://cantinhodosdeuses.blogspot.com.br/2011/03/deusa-persefone.htmlhttp://cantinhodosdeuses.blogspot.com.br/2011/03/deusa-persefone.htmlhttp://www.infoescola.com/mitologia-grega/hera/http://www.infoescola.com/mitologia-grega/hera/
  • 54

    Idade: 22 anos

    Escolaridade: 3 srie do ensino mdio

    Informou no ser fumante, etilista ou dogradita

    Catlica

    Mora com mais 3 pessoas, tem renda familiar de 1.500,00 reais,

    sendo a renda per capita de 375,00 reais. No reside com o

    companheiro.

    Relatou ter convivido com os avs maternos, os pais, os irmos, a

    tia e os primos. Atualmente, diz conviver com a me e os irmos.

    Origem da famlia materna: Italiana

    Origem da famlia paterna: Portuguesa

    Compareceu de moto a 9 consultas de pr-natal na Unidade Bsica

    de Sade.

    Teve parto normal e compareceu para as consultas de ps-parto de

    moto.

    Chama o perodo ps-parto de: Dieta

    A entrevista precedeu a consulta puerperal, na qual a purpera estava com 42 dias de ps-parto.

    Reconhecida por:

    Fonte:

    http://cantinhodosdeuse