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Natureza e características da comparação

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Natureza e características da comparação

A acção de comparar

• Segundo Hilker podemos examinar a operação de comparar por 2 vias distintas:– (…) ponto de vista descritivo:

• Comparar exige ver, analisar e ordenar.

– (…) perspectiva funcional:• Comparar implica estabelecer relações entre

fenómenos de um mesmo género através das quais se devem deduzir:

– Congruências.– Afinidades.– Discrepâncias.

Critério de comparação

• Para além dos factos, fenómenos ou dos aspectos a ser comparados é normal que o processo comparativo compreenda um outro [critério] que serve como referênciaou modelo mental denominado pelos comparatistas de Tertium Comparationis

2 Problemas de fundo

• Primeiramente que se reconheça a relação da investigação comparativa com uma teoria da educação.– Quanto mais fundamento o Tertium mais se poderá

exigir da investigação.

• Há que admitir uma constante presença de factores subjectivos na investigação comparativa, pois esta depende da formação do sujeito que a realiza.

Propriedades e limites da comparação

• A investigação comparativa não pode ambicionar abordar a educação de qualquer modo.

• A comparação encerra características e limites que condicionam a investigação quer no tocante ao seu alcance quer no que diz respeito aos modos de abordagem.

Propriedades

• Segundo Hilker:

– carácter fenomenológico;– pluralidade;– homogeneidade;– globalidade.

Carácter fenomenológico

• A comparação deve exercer-se sobre fenómenos, sobre factos ou aspectos observáveis.

• Nenhuma comparação pode ter pretensões de proporcionar um conhecimento total.

• O resultado da comparação será sempre um conhecimento aproximado da realidade.

Pluralidade

• Para se fazer uma comparação é preciso que exista pelo menos dois factos ou fenómenos.

• O aumento do número de objectos submetidos a comparação poderá significar uma maior força probatória mas, por outro, complica o estudo.

• Há que seleccionar um determinado número de realidades.

Homogeneidade

• A comparação não deve recair sobre realidades absolutamente heterogéneas mas também não retiraria qualquer proveito em debruçar-se sobre aspectos evidentemente iguais.

• Para que exista comparatibilidade épreciso haver semelhança entre os fenómenos que se comparam.

Globalidade• A natureza fundamentalmente sintética da metodologia

comparativa obriga que se tenha em atenção esta propriedade.

• A globalidade estaria já incluída mesmo que se tratasse de estudar um só fenómeno educativo.

• O fenómeno educativo nunca pode ser tido como desligado de uma complexa realidade que o envolve.

• Quantos mais factores forem tidos em consideração, maior será a profundidade e a qualidade do estudo.

Limites

• O Problema da objectividade.• O Problema da eficácia nomotética.• O Problema da normatividade

O Problema da objectividade– Afecta todas as ciências em particular as

ciências sociais.

– Aspectos que prejudicam a objectividade:• Implicação do sujeito sobre o objecto estudado.• Influência ideológica dos conceitos pessoais.• Participação interessada do sujeito na eleição dos

assuntos e até dos dados.• Inexistência de dados socialmente objectivos.

– Importa clarificar qual é ou qual vai ser o critério de comparação.

O Problema da eficácia nomotética

• Como todo cientista, o comparatista aspira descobrir “leis” gerais que expliquem os fenómenos e até de certo modo os predigam.

• É praticamente impossível controlar todas as variáveis que intervêm num facto social.

• Convém que o comparatista não se arrogue portador duma chave da verdade absoluta.

O Problema da normatividade

• A EC não deve definir ou sequer sugerir ideais educativos. Pode, no entanto, dar indicações preciosas sobre as tendências e os problemas da educação e sobre a relação entre a teoria e a prática.

Visões e conceitos histVisões e conceitos históóricos ricos da Educada Educaçção Comparadaão Comparada

Periodização

FriedrichFriedrich SchneiderSchneider dois períodos:

• Pedagogia do estrangeiro:– caracterizado pelo produto das viagens de estudo ao

estrangeiro realizadas por pedagogos e políticos, que observavam a organização educativa dos países vizinhos e eventualmente a comparavam com a do próprio país;

• Pedagogia comparada propriamente dita:– desenvolve-se ao longo do século XX e busca a

explicação dos factos pedagógicos, ou seja, as suas forças determinantes ou factores configurados.

GeorgeGeorge BeredayBereday três períodos

• Empréstimo:– que cobre o século XIX, onde se buscava a apresentação de dados

descritivos que deviam fazer a comparação com o objectivo de avaliar as melhores práticas educativas para as transpor para outros países.

• Predição:– ocupou a primeira metade do século XX, e iniciou-se com Michael

Sadler que introduziu a ideia de que o sistema educativo não é parte separável da sociedade que lhe serve de base. Os seus continuadores (Friedrich Schneider, Franz Hilker, Isaac Kandel, etc) passaram a dar especial atenção aos alicerces da educação. Assim, já se poderia predizer o provável sucesso de um sistema educativo num país com base em experiências similares de outros países.

• Análise:– a ênfase é colocada na classificação dos factos educativos e nos sociais

que lhe estão associados. Assim, havia uma preocupação em desenvolver teorias e métodos e estabelecer uma clara formulação das etapas, dos processos e dos mecanismos comparativos para que se fizesse uma análise menos baseada em valores ético-emocionais.

Alexandre Alexandre VexliardVexliard quatro períodos

• Etapa estrutural:– representada pela obra Esquisse, de Marc-Antoine Jullien de Paris,

publicada em 1817, considerada o marco inicial da Educação Comparada, onde se encontram os princípios “arquitecturais” e os princípios metodológicos dos estudos comparados em educação.

• “inquiridores”:– aproximadamente de 1830 a 1914, quando os governos mandavam os

inquiridores percorrerem a Europa e os Estados Unidos para estudar os sistemas de ensino em vigor nesses países.

• Sistematizações teóricas:– ocorre por volta de 1920-1940, que é marcado pelos trabalhos de

Kandel, Schneider, Hans, entre outros. Este período foi dominado por preocupações históricas.

• Período Prospectivo:– ocorre após a segunda guerra mundial e, sobretudo depois de 1955,

quando os estudos comparados em educação passaram a estar voltados para o futuro.

NoahNoah e e EcksteinEckstein cinco períodos

• Período dos viajantes:

– caracterizado por trabalhos assistemáticos, motivados pela curiosidade e marcados por interpretações subjectivas, não havendo planeamento para os relatos, que se baseavam em factos que se destacavam pelo pitoresco ou pela diferença em relação ao que se passava no país do observador.

• “Inquiridores”:

– durou boa parte do século XIX, e é aquele no qual os observadores se deslocavam a países estrangeiros com o fim de recolher dados que pudessem servir para melhorar o sistema educativo do seu país.

• Colaboração internacional:

– o intercâmbio cultural entre os povos é estimulado e a educação é vista como um instrumento de harmonia e entendimento entre nações.

(continuação)

• Quarto período, denominado de “forças e factores”:

– acontece entre as duas grandes guerras, realçam a dinâmica das relações entre a educação e a cultura e procuram explicações para a variedade de fenómenos educativos observados em cada país, buscando a compreensão das relações escola-sociedade através da análise histórico-culturalista, que procurava explicar o presente a partir das dinâmicas legadas pelo passado.

• No quinto e último período, busca-se a explicação pelas ciências sociais, e os trabalhos recorrem fundamentalmente aos métodos empírico-quantitativos, na busca de esclarecer cientificamente as relações entre a educação e a sociedade, num plano mundial.

Ferran Ferrer 4 períodos

• Jullien de Paris.

• Etapa descritiva.

• Etapa interpretativa.

• Etapa comparativa.

Jullien de ParisJullien de Paris• Pai da Educação Comparada

– Esquisse et vues préliminaires d’un ouvrage surl’éducation comparée, entrepris d’abord pour lesvingt-deux cantons de la Suisse, et pour quelquesparties de l’Allemagne et de l’Italie, et qui doitcomprendre successivement, d’aprés le méme plan, tous les Etats de l’Europe

– 1817

– introduzido a comparação na abordagem da educação.

Esboço e visões exploratórias do trabalho de uma educação comparada, uma primeira abordagem entre os vinte e dois cantões da Suíça, e em seguida para qualquer parte da Alemanha e Itália, e isso se deve muito para compreender sucessivamente os planos de ensino de todos os Estados de Europa. (tradução livre, Pariz, 2004)

• O objectivo

– não era o de criar uma ciência nova

– mas de lançar um projecto

• recolher informações para a elaboração de um quadro comparativo dos principais estabelecimentos de educação europeus;

• funcionamento e métodos;

• colaboração de pessoas influentes e dos poderes públicos, para que se pudesse proceder da melhor forma à desejada reforma da educação.

O livro

• Constituído de duas partes:

– na primeira são apresentados a• justificativa do projecto;• objectivos;• noções gerais.

– na segunda, é apresentado um• instrumento para que a recolha de dados se desse

com maior eficácia.

Julien dava muita importância aos questionários,

considerando-os verdadeiros instrumentos de trabalho

para a análise educativa. Na sua perspectiva, através

deles poder-se-iam obter “colecções de factos e de

observações, agrupadas em quadros analíticos que

permitiam relacioná-las e compará-las, para delas

deduzir princípios certos” e deste modo, transformar-se

a educação numa “ciência mais ou menos positiva”.

Do esquecimento à projecção mundial

1822 e 1826 – Tradução polonesa e inglesa (parcial)

Esquecimento

Projecção por Pedro Rosselló, a partir de 1943, e em 1967 ganhou uma tradução portuguesa, intitulada Esboço de uma obra sobre a Pedagogia Comparada, de Joaquim Ferreira Gomes.

Contributos de Jullien para a EC

• Segundo Ferran Ferrer:

– importância que tem o manusear uma metodologia empírica e científica;

– necessidade de elaborar instrumentos que servem tal finalidade;–– importância de factores externos sobre a educação;

– as vantagens que tem o conhecimento da educação noutros países;

– a contribuição da Educação Comparada no progresso da educação no mundo.

Etapa descritivaEtapa descritiva

• Por ser muito ambicioso para a época, o projecto de Jullien não foi compreendido.

• O objectivo (nesta fase)

– conhecer como se organizava o ensino em países tidos como desenvolvidos, para importar os aspectos que poderiam trazer melhorias aos próprios sistemas escolares.

• Muitas das obras publicadas neste período tratavam-se de meras descrições dos sistemas educativos estrangeiros.

• Salientou-se a importância de uma análise um pouco mais ampla sobre a realidade dos países estrangeiros.

• Mathew Arnold (1861, 1882)

– advertiu sobre o perigo da imitação de

aspectos isolados, sem se levar em conta os

contextos que os tornam possíveis

• Ferreira (1999) defende esta afirmação:

– De facto, um dos contributos mais importantes consistiu na delimitação de factores determinantes para a configuração dos sistemas educativos nacionais:

• tradições históricas• o carácter e as diferenças nacionais;• as condições geográficas;• a economia e a configuração da sociedade.

• descrição dos sistemas nacionais de ensino insuficiente para a compreensão do fenómeno da educação.

• Michael Sadler “protagoniza uma alteração na forma de abordar a Educação Comparada.

– Ferreira (1999), considera-o como o precursor do período seguinte.

Etapa interpretativaEtapa interpretativa• 1900 – o início desta etapa.

• Acontecimentos significativos:– organização de um curso universitário de Educação Comparada na

Universidade de Columbia;

– publicação de um texto de Michael Sadler no qual se pronunciava sobre a utilidade da Educação Comparada para a compreensão do sistema educativo nacional.

• Estes dois acontecimentos levaram à sistematização de conhecimentos e deram uma espécie de autodeterminação à Educação Comparada.

• Michael Sadler constitui uma concepção teórica em Educação Comparada. – How far can we learn anything of practical

value from the study of foreignsystems ofeducation?*

• apresenta algumas das suas principais ideias sobre a forma de abordar os estudos comparativos e a sua utilidade.

* Até aonde podemos apreender algo prático dos estudos de sistemas educacionais estrangeiros? (tradução livre)

ContribuiContribuiçções de ões de SadlerSadler para a ECpara a EC

• afirma que as coisas que estão fora da escola, são mais importantes que aquelas que se encontram dentro dela;

• realçou a importância de se compreender o espírito e a tradição dos sistemas educativos;

• salientou a conveniência de se estudar os sistemas educativos estrangeiros para uma melhor compreensão do seu próprio;

• perspectivou uma dimensão sociológica, ao buscar entender os aspectos educativos num contexto social e cultural mais amplo;

• advertiu para o inconveniente de a EC se tornar refém da estatística, uma vez que esta tende a identificar a educação com a escola.

Abordagens Causas e interpretações

• Neste período os comparatistas preocuparam-se não só em descrever a educação dos outros países, mas também em indagar as causas e tentar interpretá-las:

– abordagens ou tendências:

• interpretativo-histórica;• interpretativo-antropológica;• interpretativo-filosófica.

Abordagem interpretativo-histórica

• Destacam-se Isaac L. Kandel e Nicholas Hans.

• Kandel interessou-se pelos factos, mas, sobretudo pelas causas que os possibilitam, dando especial atenção aos factores históricos.

– Acredita que a história dos povos permite descobrir as particularidades nacionais dos sistemas educativos:

• Tendo em conta as forças políticas, sociais, culturais e o carácter nacional.

• As maiores contribuições de Kandel para a EC são as seguintes: insistência na recolha de dados fiáveis, na necessidade de analisar o contexto histórico de cada sistema educativo e na necessidade da explicação.

• Hans utiliza-se tanto da História quanto da Sociologia na interpretação dos dados.

• Acredita que os factores determinantes dos sistemas educativos dividem-se em três grupos:

– factores naturais (raça, língua, meio ambiente)– factores religiosos (Catolicismo, Anglicanismo, Puritanismo)– factores seculares (Humanismo, Socialismo, Nacionalismo,

Democracia).

• Afirma que a compreensão do carácter nacional éabsolutamente fundamental para interpretar os sistemas nacionais de educação.

O carácter nacional era entendido como um

resultado complexo de– misturas raciais;

– de adaptações linguísticas;

– de movimentos religiosos;

– de situações históricas e geográficas em geral.

Abordagem interpretativo-antropológica

• Duas posições importantes: a de Schneider e a de Moehlman.

• Friedrich Schneider considerava que o estudo comparativo só tinha sentido se fossem analisados os diversos factores que configuravam um sistema educativo:

– o carácter nacional– o espaço geográfico– a cultura– a ciência– a filosofia– a estrutura social e política– a economia– a religião– a história– as influências estrangeiras– e as influências decorrentes da evolução da pedagogia.

• O mais original de seu pensamento é a importância dada ao factor endógeno (imanente, interno ou potencial) na estruturação dos sistemas educativos nacionais.

• Sugeriu que, ao se encontrar concordância na educação de distintos povos, se pergunte sobre a possibilidade de se atribuírem tais concordâncias às coincidências existentes entre as respectivas culturas.

• Para Arthur H. Moehlman, a Educação Comparada necessita de um princípio de classificação válido para uma determinada época, que derivando do passado abriria perspectivas de futuro.

• Considera a necessidade de um modelo teórico que permita examinar a educação na sua estrutura cultural, não só como um sistema vigente, mas também como uma unidade histórica. DIACRONIADIACRONIA

• o perfil da educação de cada sociedade édeterminado pelo complexo jogo de interferências e interacções entre catorze factores (agrupados por afinidades):

– 1) população, espaço, tempo;– 2) linguagem, arte, filosofia, religião;– 3) estrutura social, governo, economia;– 4) tecnologia, ciência, saúde, educação.

Abordagem interpretativo-filosófica

• J. A. Lauweris e Sergius Hessen.

• A importância de Hessen deve-se à sua busca das bases teórico-ideológicas dos sistemas educativos. (conjunto de ideias, crenças e doutrinas, próprias de uma sociedade, de uma época ou de uma classe, e que são produto de uma situação histórica e das aspirações dos grupos que as apresentam como imperativos da razão)

• Lauweris afirmava que a Educação Comparada deveria atender a estilos nacionais de filosofia, pois, apesar de a filosofia ter um alcance universal, os diversos povos apresentam uma inclinação por um determinado tipo de pensamento filosófico.

– Não excluía as outras abordagens (histórica, sociológica, antropológica, etc.), desde que confiassem a síntese crítica àabordagem filosófica.