narrativas contemporÂneas em sala de aula: … · do 3º ano do ensino médio uma obra...

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GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL- PDE UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ - UENP CAMPUS DE CORNÉLIO PROCÓPIO CADERNO PEDAGÓGICO NARRATIVAS CONTEMPORÂNEAS EM SALA DE AULA: SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS DE LEITURA LITERATURA Organizadores: Cleide de Fátima Vitorino da Silva Katia Cristina Cunha Ogata Gislaine Bezerra Valdirene Ortiz de Oliveira Ana Paula Franco Nobile Brandileone Vanderléia da Silva 0liveira CORNÉLIO PROCÓPIO - PARANÁ 2014

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GOVERNO DO ESTADO DO PARAN SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL- PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARAN - UENP

CAMPUS DE CORNLIO PROCPIO

CADERNO PEDAGGICO

NARRATIVAS CONTEMPORNEAS EM

SALA DE AULA: SEQUNCIAS DIDTICAS

DE LEITURA LITERATURA

Organizadores:

Cleide de Ftima Vitorino da Silva

Katia Cristina Cunha Ogata Gislaine Bezerra

Valdirene Ortiz de Oliveira

Ana Paula Franco Nobile Brandileone Vanderlia da Silva 0liveira

CORNLIO PROCPIO - PARAN 2014

SUMRIO

APRESENTAO Ana Paula Franco Nobile Brandilone e Vanderlia da Silva Oliveira

SEQUNCIA EXPANDIDA DE LEITURA LITERRIA: O Filho Eterno, de Cristovo Tezza UNIDADE 1 Katia Cristina Cunha Ogata

SEQUNCIA EXPANDIDA DE LEITURA LITERRIA: Galilia, de Ronaldo Correia Brito UNIDADE 2 Gislaine Bezerra

NARRATIVA CONTEMPORNEA E A FORMAO DO LEITOR: TODOS

CONTRA O BULLYING

UNIDADE 3 Valdirene Ortiz de Oliveira

LETRAMENTO LITERRIO E NARRATIVA CONTEMPORNEA: CONTEMPLANDO OS CONFLITOS DA ADOLESCNCIA UNIDADE 4 Cleide de Ftima Vitorino da Silva

APRESENTAO

Este Caderno Pedaggico resulta de uma proposta apresentada a

quatro professoras vinculadas ao PDE, turma 2014. Apresentam-se aqui as

unidades didticas por elas elaboradas e que propem abordagem do texto

literrio, a fim de indicar possibilidades de trabalho em sala de aula.

No percurso da produo deste caderno, destacamos que as autoras

fizeram abordagens tericas sobre conceito de leitura, sobre literatura e suas

funes, vinculando-as ao espao escolar, alm de investigao sobre gneros

textuais e metodologias de ensino. Do mesmo modo, foram respeitados os

princpios norteadores estabelecidos pelas Diretrizes Curriculares de Lngua

Portuguesa para a Educao Bsica (SEED-PR, 2008), tendo em vista o

desejo de que este caderno possa servir de apoio aos docentes da rede bsica

que possam se interessar por propostas reais de letramento literrio.

Para cada unidade, as autoras escolheram um autor e obra do cenrio

da literatura brasileira contempornea para elaborarem Sequncias

Expandidas de leitura, conforme prope Cosson (2012)1. O resultado, portanto,

evidencia quatro unidades que se complementam. Na primeira delas, intitulada

Sequncia Expandida de Leitura Literria: O Filho Eterno, de Cristovo

Tezza, Katia Cristina Cunha Ogata toma como objeto de anlise o gnero

romance, a partir da obra publicada em 2013. Segundo ela, [...] um romance

contemporneo que aborda assuntos que podero servir de inspirao aos

alunos, podendo tambm promover um novo conhecimento de mundo e trazer

mudanas de sua viso acerca dos grandes problemas da sociedade e de seus

prprios conflitos pessoais.

Na sequncia, Gislaine Bezerra, sob o ttulo Sequncia expandida de

leitura literria: Galilia, de Ronaldo Correia Brito, o foco o romance,

publicado em 2009, para discutir temas voltados ao conceito de pertencimento,

vinculado ao conceito de imigrao, vez que o romance apresenta uma

narrativa [...] extremamente arrebatadora, envolvendo trs primos que

atravessam o serto para visitar seu av, patriarca, que definha na sede da

fazenda [...].

1 COSSON, Rildo. Letramento literrio: teoria e prtica. 2. ed. So Paulo: Contexto, 2012.

Valdirene Ortiz de Oliveira, na terceira unidade, intitulada Narrativa

contempornea e a formao do leitor: todos contra o bullying, elegeu a obra

Todos conta D@nte, de Lus Dill, publicada em 2008, a fim de estabelecer

conexes entre a inveno ficcional e os alunos, ressaltando os reflexos da

violncia do mundo narrado na arquitetura ficcional, bem como os resultados

estticos de tal relao. Para a professora, o trabalho busca oferecer ao jovem

leitor uma abordagem crtica do romance em questo, que atravs dos

personagens, temtica e projeto grfico inovador, gera o processo de

identificao do sujeito com os elementos da realidade representada,

motivando o prazer da leitura.

Por fim, Cleide de Ftima Vitorino da Silva completa o caderno com o

ttulo Letramento literrio e narrativa contempornea: contemplando os

conflitos da adolescncia. Segundo Cleide, dever da escola e nosso

promover debates em sala de aula, abordando temas que levantem questes

significativas para os alunos: seja pela linguagem, seja pelo ambiente, pelos

caracteres das personagens, pelos problemas colocados. No por outra razo,

afirma a docente, que Lis no Peito: um livro que pede perdo, de Jorge

Marinho, (2006), foi selecionada para compor este Caderno Pedaggico, uma

vez que trata e discute temas e conflitos presentes na adolescncia, como

incertezas, solido e dvidas.

As trs unidades didticas objetivam dar a conhecer ao aluno leitor um

conjunto textos contemporneos que, por tratarem de temas prximos

realidade do leitor, operam de modo a contribuir para o crescimento pessoal e

cultural dos alunos que, por meio da leitura, prepara-os e integra-os ao mundo,

de modo a serem capazes de viver em equilbrio com a realidade. Importante

destacar que o atendimento aos interesses imediatos do leitor apenas o

primeiro passo de uma trajetria que oportunizar maiores mudanas nos

leitores, isto , trazendo uma nova perspectiva da realidade - ampliao do seu

horizonte de expectativas -, seja em termos de literatura e/ou de vivncia

cultural: A misso apenas ser completa se esse mesmo sujeito for motivado a

trilhar outros caminhos, o do texto literrio, a partir de seus diversos gneros (PINHEIRO, 2011, p.319)2.

2 PINHEIRO, Alexandra Santos. Letramento literrio: da escola para o social e do social para a escola. In: GONALVES, Adair Vieira; PINHEIRO, Alexandra Santos. Nas trilhas do letramento: entre teoria, prtica e formao docente. Campinas: Mercado das Letras, 2011. p. 299-320.

Vanderlia da Silva Oliveira

Ana Paula Franco Nobile Brandileone Professoras orientadoras

FICHA PARA IDENTIFICAO

PRODUO DIDTICO PEDAGGICA TURMA - PDE/2014

TTULO: SEQUNCIA EXPANDIDA DE LEITURA LITERRIA: O FILHO ETERNO DE CRISTVO TEZZA.

Autor: Ktia Cristina Cunha Ogata

Disciplina/rea: Lngua Portuguesa/ Literatura

Escola de Implementao do Projeto e sua localizao:

Colgio Estadual Floriano Landgraf - EFM

Municpio da escola: Santo Antnio do Paraso - Paran

Ncleo Regional de Educao: Cornlio Procpio

Professor Orientador: Prof. Dra. Vanderlia da Silva Oliveira

Instituio de Ensino Superior: UENP

Relao Interdisciplinar: Arte e Filosofia.

Resumo: Reconhecendo que o ensino de literatura nas salas de aula esta, de modo geral, pautado no estudo da historiografia literria, o presente material tem por finalidade apresentar aos alunos do 3 ano do Ensino Mdio uma obra contempornea, O filho eterno, de Cristvo Tezza, a partir da sequncia expandida de leitura, sistematizada por Rildo Cosson (2013).

A partir dessa realidade escolar, vemos uma oportunidade de mudar, ou ao menos comear a mudana, a fim de que um novo olhar permeie a abordagem da literatura nas salas de aula.

importante reconhecer que o verdadeiro saber literrio necessita da escola para concretizar sua prtica, pois a mera leitura de textos literrios no produz o efeito de humanizao que se busca, envolvendo o prazer da leitura sem esquecer o compromisso do conhecimento que o saber necessita.

Palavras-chave: Letramento literatura obra contempornea.

Formato do Material Didtico: Unidade didtica (parte do Caderno Pedaggico intitulado Narrativas contemporneas em sala de aula: sequncias didticas de leitura literatura)

Pblico Alunos do 3 ano do Ensino Mdio.

Unidade 1

SEQUNCIA

EXPANDIDA DE

LEITURA

LITERRIA: O

FILHO ETERNO,

DE CRISTVO

TEZZA.

KATIA CRISTINA CUNHA OGATA

CONVERSA COM O PROFESSOR

Participamos em nosso cotidiano de diversas situaes comunicativas,

nas mais variadas esferas sociais, numa aula, numa conversa informal, na

redao e envio de uma carta, de um bilhete ou email, e tambm por meio de

uma notcia que lemos. Isto prova que somos seres sociais e fazemos parte de

uma sociedade na qual a linguagem est em toda parte. Desde crianas j

estamos em contato com as diversas formas de comunicao, a partir das

quais interagimos com o mundo e com as pessoas que nos cercam.

A partir do momento em que somos introduzidos em uma comunidade

escolar cabe escola nos tornar leitores competentes e ativos na sociedade da

qual fazemos parte. So justamente os profissionais da educao que devero

dar condies para o desenvolvimento em cada indivduo do interesse e das

habilidades de leitura. Ao professor de Lngua Portuguesa e Literatura cabe

oportunizar aos alunos o letramento literrio e o acesso aos gneros mais

variados que os rodeiam em todas as esferas comunicativas.

Quanto ao papel da escola, cabe a ela a tarefa de efetivar o letramento

nos educandos, pois, conforme registram as Diretrizes Curriculares da rea de

Lngua Portuguesa,

(...) preciso que a escola seja um espao que promova, por meio de uma gama de textos com diferentes funes sociais, o letramento do aluno, para que ele se envolva nas prticas de uso da lngua- sejam de leitura, oralidade e escrita. (PARAN, 2008, p.50)

Diante da realidade em que nos encontramos, na qual formar nossos

alunos em leitores tarefa extremamente complexa, proponho aqui uma

sistematizao de leitura chamada Sequncia Expandida, opo esta que

resultou da leitura do livro Letramento Literrio: teoria e prtica, de Rildo

Cosson (2014). A proposta apresenta vrias etapas, que chama por um ensino

de literatura mais eficaz e significativo, dando ao educando a possibilidade de

tornar a leitura completa e significativa, promovendo o letramento literrio.

Para a efetivao do trabalho proponho a leitura do livro O filho

eterno, de Cristvo Tezza (2013), um romance contemporneo que aborda

assuntos que podero servir de inspirao aos alunos, podendo tambm

promover um novo conhecimento de mundo e trazer mudanas de sua viso

acerca dos grandes problemas da sociedade e de seus prprios conflitos

pessoais.

A ns, professores desta gerao to moderna e conectada a um mundo

virtual, cabe a busca pelo desenvolvimento de atividades que contribuam para

o aperfeioamento e a formao de leitores e escritores que possam lidar com

as exigncias da sociedade contempornea, buscando, cada dia mais, o

acesso aos saberes necessrios para o exerccio da cidadania. Convido-os,

pois, a vivenciarem comigo esta proposta didtica.

FUNDAMENTAO TERICA

Sabemos que enfrentamos em sala de aula muitos obstculos que

impedem a efetivao da aprendizagem. Vemos nossos alunos desmotivados,

sem interesse em nossas aulas, e chegamos concluso de que nossa prtica

pedaggica est distante da realidade de suas realidades. necessrio, pois,

repensar nossa prtica diante dos problemas que esto a nossa frente, de

modo a refletir, por exemplo, sobre certos conceitos quanto leitura e

literatura. Recorrendo s Diretrizes Curriculares da rea de Lngua Portuguesa

em nosso sistema estadual de ensino, por exemplo, verificaremos que:

Toda palavra comporta duas faces. Ela determinada tanto pelo fato

de que procede de algum, como pelo fato de que se dirige a algum.

Ela constitui justamente o produto da interao do locutor e do ouvinte.

Toda palavra serve de expresso a um em relao ao outro. [...] A

palavra territrio comum do locutor e do interlocutor. (BAKHTIN/

VOLOCHINOV, 1999, p. 113 apud PARAN, 2008, p. 49).

preciso, portanto, conhecer e respeitar esse aluno que traz suas

palavras carregadas de um contedo ideolgico, porque ele traz consigo toda

cultura familiar e social de seu contexto, cabendo a ns, professores, a

percepo dessas diversas vozes sociais que se encontram no ambiente

escolar e, a partir dai,

Saber avaliar as relaes entre as atividades de falar, ler e de escrever, todas elas prticas discursivas, todas elas usos da lngua, nenhuma delas secundria em relao a qualquer outra, e cada uma delas particularmente configurada em cada espao em que seja posta como objeto de reflexo [...] (NEVES, 2003, p. 89 apud PARAN, 2008, p. 50).

Por meio desta realidade vemos o quanto precisamos

desenvolver em nossos alunos o hbito da leitura. O desenvolvimento da

capacidade leitora fundamental para a aquisio de conhecimento sendo

necessrio que o professor busque novas alternativas, sobretudo com

embasamento terico, para firmar sua prtica em sala. Aguiar e Bordini, ao

proporem uma prtica de leitura pautada na obra literria, destacam, por

exemplo, que:

[Ela] pode ser entendida como uma tomada de conscincia do mundo concreto que se caracteriza pelo sentido humano dado a esse mundo pelo autor. Assim, no um mero reflexo na mente, que se traduz em palavras, mas o resultado de uma interao ao mesmo tempo receptiva e criadora. Essa interao se processa atravs da mediao da linguagem verbal, escrita ou falada. O texto produzido, graas a essa natureza verbal, permite o estabelecimento de trocas comunicativas dentro dos grupos sociais, pondo em circulao esse sentido humano. (AGUIAR, BORDINI, 1988, p. 14).

Buscando esta humanizao que a literatura pode promover no

ser humano, que a leitura literria dever ter um papel prioritrio em sala de

aula, com mtodos e prticas relevantes para a concretizao desse ideal.

Aqui, nesta proposta, a partir da leitura de um romance contemporneo,

pretende-se justamente abordar certas relaes familiares e sociais, por

exemplo, discutindo-se a questo existencial e temporal da vida e dos

objetivos que buscamos ao longo desse processo. Sob este aspecto, busca-se

confirmar o que Antonio Candido argumenta em torno do papel humanizador

da literatura: A literatura confirma e nega, prope e denuncia, apoia e

combate, fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os

problemas (1995, p. 243).

Entretanto, necessrio que possamos transformar nossa prtica

de leitura literria, que no nos restrinjamos ao currculo, aos contedos

bimestrais, pois a literatura no pode ser ensinada, ela tem que ser descoberta

na relao aluno-professor a cada aula. Que possamos adquirir ou mesmo

redescobrir o hbito de estudar e ler, mesmo em meio a diversos obstculos

presentes no cotidiano escolar, pois todos devem ser, antes de tudo, leitores.

Umberto Eco chama ateno para a importncia do exerccio da leitura

literria, ao afirmar o que segue.

A leitura das obras literrias nos obriga a um exerccio de fidelidade e

de respeito na liberdade de interpretao. H uma perigosa heresia

crtica, tpica dos nossos dias, para qual de uma obra literria pode-se

fazer o que se queira, nela lendo aquilo que os nossos mais

incontrolveis impulsos nos sugerirem. No verdade. As obras

literrias nos convidam liberdade de interpretao, pois propem um

discurso com muitos planos de leitura e nos colocam diante das

ambiguidades da linguagem e da vida. Mas para poder seguir neste

jogo, no qual cada gerao l as obras literrias de modo diverso,

preciso ser movido por um profundo respeito para aquela que eu,

alhures, chamei de inteno do texto. (ECO, 2003, p. 12).

evidente, como consequncia, a importncia da mediao do

professor para modificar a realidade vigente no que se refere formao do

leitor, com competncia. Para isso, necessitamos de segurana para conduzir

nossas aulas, vez que educar uma forma de intervir no mundo. Para Todorov,

discorrendo sobre a importncia da leitura literria,

A literatura pode muito. Ela pode nos estender a mo quando estamos profundamente deprimidos, nos tornar ainda mais prximos dos outros seres humanos que nos cercam, nos fazer compreender melhor o mundo e nos ajudar a viver. No que ela seja, antes de tudo, uma tcnica de cuidados para com a alma; porm, revelao do mundo, ela pode tambm, em seu percurso, nos transformar a cada um de ns a partir de dentro. (TODOROV, 2009, p. 76).

Fica claro que cabe a ns educadores suscitar reflexes acerca

das situaes do cotidiano escolar, repensando a educao e buscando

embasar nossa prtica em teorias capazes de produzir frutos consistentes

para reverter essa situao, fazendo com que os textos literrios possam

romper barreiras e ligar as geraes, permitindo ao leitor perceber e agir no

mundo que o cerca.

Para que possamos promover a aprendizagem em sala de aula

necessria uma metodologia de trabalho pautada numa teoria consistente e

articulada com as diretrizes estaduais da rea. Cosson (2014) defende a ideia

de que o letramento literrio diferente da leitura por fruio, apesar de

estarem interligados. Ressalta, ainda, que a literatura deve ser ensinada na

escola, que devemos compreender que o letramento literrio uma prtica

social, assim, responsabilidade dela, o que vem ao encontro do proposto pela

SEED/PR:

O trabalho com a literatura potencializa uma prtica diferenciada com o Contedo Estruturante da Lngua Portuguesa (o Discurso como prtica

social) e constitui forte influxo capaz de fazer aprimorar o pensamento trazendo sabor ao saber. (PARAN, 2008, p. 77).

Que possamos, ento, promover condies sociais e culturais

para que se efetive uma escolarizao real. Afinal, no basta saber ler e

escrever, preciso levar nosso aluno a organizar reflexivamente seu

pensamento, tomando conscincia da realidade que o cerca, transformando-a.

Nessa perspectiva, espera-se que a escola proporcione a todos

os alunos oportunidades de conhecimento, isto , que d acesso aos

letramentos relacionados leitura, especificamente leitura literria.

No que se refere leitura, as Diretrizes Curriculares de Lngua

Portuguesa (PARAN, 2008) afirmam que ela um ato dialgico,

interlocutivo, que envolve demandas sociais, histricas, polticas, econmicas,

pedaggicas e ideolgicas de determinado momento (p. 56). Conclumos,

ento, que a leitura muito mais que mera decodificao, pois se confronta

com o prprio saber do leitor, perpassa as esferas sociais e promove a

atuao do indivduo com competncia.

Segundo Cosson (2014, p.16), no exerccio da leitura e da escrita de

textos literrios que se desvela a arbitrariedade das regras impostas pelos

discursos padronizados da sociedade letrada e se constri um modo prprio

de se fazer dono da linguagem que, sendo minha, tambm de todos ns.

Neste contexto, que devemos pensar nossas aulas de literatura. Para tanto,

apresento esta proposta.

ENCAMINHAMENTO METODOLGICO

Sabemos que a leitura de obras literrias uma prtica essencial para a

formao de leitores. Nosso objetivo o de que os alunos tornem-se leitores

intelectualmente autnomos e humanizados. Assim, partindo de estudos

tericos, utilizo a proposta de Rildo Cosson em Letramento Literrio: Teoria e

prtica (2014), denominada Sequncia expandida, constituda por quatro

etapas: motivao, introduo, leitura, 1 interpretao, Contextualizao e

Expanso.

Na motivao, cabe ao professor elaborar questes desafiadoras aos

alunos a fim de que os mesmos se posicionem com relao ao tema que ser

abordado na obra lida. O que importa nesse momento despertar a

curiosidade dos alunos. No momento da introduo interessante apresentar

o autor e a obra (informaes bsicas), destacando-se a importncia da

mesma naquele momento. A leitura requer o acompanhamento do professor,

auxiliando os alunos nas dificuldades que possam surgir com a leitura, como

vocabulrio, ritmo de leitura, linguagem metafrica, etc. A interpretao

acontece em dois momentos: o primeiro serve para que o aluno apresente

uma viso global da obra trabalhada, uma atividade que ocorre dentro da

sala de aula, uma resposta do aluno a tudo o que ele leu e entendeu sobre a

obra e a temtica que foi direcionada das leituras realizadas; o segundo

momento da interpretao um aprofundamento de um aspecto do texto que

seja mais pertinente segundo ao que prope o professor. Na sequncia

expandida, acrescenta-se a expanso, que oportuniza o dilogo entre duas ou

mais obras, sendo, ento, um trabalho comparativo.

Cada uma das etapas compreende um passo especifico para a

construo do letramento literrio. Na motivao o momento em que o

professor comea a despertar o interesse do aluno pela obra a ser trabalhada.

Esta uma etapa de preparao, da temtica e da forma textual da obra

central a ser explorada. Em seguida, passa-se para a introduo, na qual so

apresentados dados bsicos sobre a obra e o autor, uma entrada breve, de

aproximadamente uma aula ou duas, servindo para despertar o interesse do

aluno. Na prxima etapa, da leitura, a sugesto a de que sejam feitos

acordos nesse momento para que seja feita extraclasse e com intervalos, nos

quais se aplicam diversas atividades em sala de aula.

A primeira interpretao tem por objetivo fazer com que o aluno

expresse sua compreenso global da obra. Aqui, o professor quase no

interfere, porque o momento de deixar o aluno expressar sua liberdade e

individualidade. Tambm pode haver o primeiro registro feito pelo aluno e o

professor deixar essa atividade fluir livremente.

A contextualizao o aprofundamento da leitura a partir daquilo que a

obra apresenta ao leitor. A proposta sugere sete contextualizaes, que so:

Terica, histrica, estilstica, potica, crtica, presentificadora e temtica. O

professor pode escolher uma ou combinar aquelas que possam trazer maior

coerncia e ampliao ao gnero estudado.

A segunda interpretao est associada contextualizao, pois,

diferente da primeira interpretao, neste momento foca-se profundamente em

um aspecto da obra, que pode ser a representao de um personagem, um

tema, questes histricas, dentre outros. Torna-se imprescindvel o registro

final, pois aqui se encerram as atividades de leitura voltadas para a obra

selecionada como objeto de estudo. Neste registro cabe ao professor elaborar,

de acordo com a obra, a melhor forma de expor os resultados obtidos por meio

de cartazes, seminrios, confeco de livros, dentre outros.

E, por fim, a expanso, que o momento de ultrapassar o limite de um

texto para outros textos, podendo ser direcionada para preparar ou motivar a

leitura de outras obras literrias.

importante registrar que a sequncia realizada sob a perspectiva do

portflio, pois esta prtica permite o registro e o encadeamento das atividades

em cada fase do processo, oportunizando ao aluno repensar e revisar sua

leitura, bem como o registro que j foi feito. Para Cosson, todas as atividades

devem ser registradas de alguma forma pelos alunos, em diferentes gneros,

o importante que acontea o efetivo letramento literrio, no qual fique claro

que houve compreenso do texto lido, permitindo ao aluno ler melhor a si

mesmo, aos outros e ao mundo.

Acredito que a proposta seja relevante, pois apresenta uma metodologia

que impulsiona a leitura dos alunos e ainda nos faz ter um olhar mais atento,

direcionando a leitura quando surgem dvidas. Alm do que, permite, tambm,

fazer com que as aulas produzam um ensino significativo de literatura, que

leva os alunos a posicionarem-se diante de uma obra literria, assumindo sua

identidade dentro da sociedade a qual ele pertence.

A fim de colocar em prtica a Sequncia Expandida, indico a obra O

Filho Eterno, publicada em 2006, por Cristovo Tezza. A escolha considerou o

perfil do pblico alvo alunos do ensino mdio e a possibilidade de se

discutir temas correntes na sociedade atual, como o das relaes familiares,

alm de outras, bem como a temtica da incluso, por exemplo, tambm

ressaltando escolhas profissionais, situao que traz muitas dvidas e conflitos

na juventude de modo geral. A perspectiva a de que a narrativa suscite ampla

discusso sobre estes temas, ao mesmo tempo em que desenvolva

competncia de leitura.

Cristovo Tezza um escritor reconhecido pela crtica literria. Nasceu

em Lages (Santa Catarina), em 1952, e estudou Letras pela Universidade de

Coimbra, em Portugal. Recebeu prmios importantes como os de Machado de

Assis e da Academia Brasileira de Letras. Alm de O Filho eterno, Cristvo

Tezza escreveu obras importantes como Trapo, Fantasmas da Infncia,

Breve espao entre a cor e a sombra e Ensaio da Paixo.

O romance O Filho Eterno aborda a histria do relacionamento entre

pai e filho. Este pai v seus sonhos e expectativas desmoronarem com o

nascimento de um filho com Sndrome de down, pois reconhece que ele

destinado a viver para sempre sendo dependente de outros. O pai apresenta

um perfil inseguro e uma grande insatisfao com relao criana e a sua

prpria vida. Para alguns crticos a obra considerada autobiogrfica, pois o

escritor tambm pai de Felipe, portador da sndrome de down, embora a obra

seja escrita em 3 pessoa. Espera-se, com o desenvolvimento da sequncia,

alm dos aspectos apontados, abordar outros gneros textuais nos momentos

de intervalo de leitura, ampliando o repertrio textual e discursivo dos alunos.

Sugestes de Atividades

SEQUNCIA EXPANDIDA / LETRAMENTO LITERRIO RILDO COSSON

PDE - 2014

Obra escolhida: O filho eterno, de Cristvo Tezza.

Ttulo do Projeto Sequncia expandida de leitura literria: O filho eterno,

de Cristvo Tezza.

As atividades subsequentes esto indicadas para alunos da 3

srie do ensino mdio, com uma estimativa aproximada de 32 horas aula.

MOTIVAO

Tempo 2 aulas.

Objetivos:

- Mostrar aos alunos quantas famlias vivem a realidade que ser apresentada

pelo autor logo nos primeiros captulos do livro O filho eterno.

- Refletir sobre a incluso nos diferentes espaos sociais dos quais fazemos

parte.

- Trazer um filme brasileiro que trata de pessoas com sndrome de down

mostrando a superao e o desejo de vencer independente das circunstncias.

Sugestes de filmes:

Descrio:

Documentrio sobre Famlias e Sndrome de Down.

Filme de 2004. Mostra o depoimento de diversas famlias relatando suas

experincias com seus filhos portadores de Sndrome de Down e tambm a

superao e a limitao das pessoas que so portadores da Sndrome.

Disponvel em: https://www.youtube.com/watch?v=gpNLAF5pckY

Este documentrio no ser passado na ntegra. Algumas partes sero cortadas devido ao tempo.

Atividade extraclasse Filme Os colegas.

Filme: Colegas Sinopse

Colegas uma divertida aventura que trata de forma potica coisas simples da vida,

atravs dos olhos de trs personagens com sndrome de Down. Eles so apaixonados por

cinema e trabalham na videoteca do instituto onde vivem. Um dia, inspirados pelo filme

Thelma & Louise, resolvem fugir no Karmann-Ghia do jardineiro (Lima Duarte) em busca

de trs sonhos: Stalone (Ariel Goldenberg) quer ver o mar, Aninha (Rita Pokk) quer casar e

Mrcio (Breno Viola) precisa voar. Nesta busca, se envolvem em inmeras aventuras

como se tudo no passasse de um maravilhoso sonho.

- O filme ser uma atividade extraclasse devido ao tempo proposto na motivao.

Ser exibido aos alunos fragmentos do filme em sala de aula.

Disponvel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Colegas_(filme)

http://www.mundofreak.com.br/2013/03/01/resenha-colegas-o-filme/

INTRODUO

Apresentao do autor e da obra.

Tempo estimado (2 aulas)

https://www.youtube.com/watch?v=gpNLAF5pckYhttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ariel_Goldenberg&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Rita_Pokk&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Breno_Viola&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Colegas_(filme)http://www.mundofreak.com.br/2013/03/01/resenha-colegas-o-filme/

Atividade 1

Leitura da capa, dados biogrficos, contra capa, discutir sobre a recepo crtica do livro, a partir da leitura do texto

O filho eterno, de Cristvo Tezza, de Ieda Magri.

Disponvel em:

http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/literatura/0079.html

Atividade 2 - Tecer comentrios sobre a importncia do autor na literatura

contempornea e do livro.

Em seguida apresentar uma entrevista do autor falando sobre o romance.

Disponvel em: http://www.senado.gov.br/noticias/TV/programaListaPadrao.asp?ind_click=9&txt_titulo_menu=&IND_ACESSO=S&IND_PROGRAMA=S&COD_PROGRAMA=19&COD_VIDEO=170109&ORDEM=0&QUERY=&pagina=8

LEITURA - o professor deve combinar com os alunos as etapas de

leitura, definindo com eles as pginas e prazos.

A leitura do livro ser realizada extraclasse e neste primeiro momento ir at a

pgina 45 que dever acontecer no prazo de duas semanas.

1. INTERVALO

Ao trmino da leitura das pginas indicadas haver o 1 intervalo.

Tempo: 02 aulas.

Objetivos:

- Apresentar obras de arte de como a deficincia aparece nas telas;

- Conhecer os pintores e as suas necessidades para a criao dos quadros.

O ABRAO AMOROSO ENTRE O UNIVERSO, A TERRA

Magdalena Carmem Frida Kahlo e Caldern (Mxico, 1907-1954),

Uma das mais importantes pintoras modernas. Suas obras, de cunho expressionista,

expem, de forma perturbadora, toda a riqueza de emoes que marcaram sua vida, alm de revelar detalhes da cultura mexicana. A partir dessa imagem apresentar algumas obras da pintora que retratam sua inconstncia e deficincia fsicas ao longo da vida.

Disponvel em: http://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=138&evento=1Acesso em 24/11/2014.

http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/literatura/0079.htmlhttp://www.senado.gov.br/noticias/TV/programaListaPadrao.asp?ind_click=9&txt_titulo_menu=&IND_ACESSO=S&IND_PROGRAMA=S&COD_PROGRAMA=19&COD_VIDEO=170109&ORDEM=0&QUERY=&pagina=8http://www.senado.gov.br/noticias/TV/programaListaPadrao.asp?ind_click=9&txt_titulo_menu=&IND_ACESSO=S&IND_PROGRAMA=S&COD_PROGRAMA=19&COD_VIDEO=170109&ORDEM=0&QUERY=&pagina=8http://www.senado.gov.br/noticias/TV/programaListaPadrao.asp?ind_click=9&txt_titulo_menu=&IND_ACESSO=S&IND_PROGRAMA=S&COD_PROGRAMA=19&COD_VIDEO=170109&ORDEM=0&QUERY=&pagina=8

https://br.images.search.yahoo.com/yhs/search;_ylt=A0LEVjq1hnNUfLoA0MUf7At.;_ylu=X3oDMTBsa3ZzMnBvBHNlYwNzYwRjb2xvA2JmMQR2dGlkAw--?_adv_prop=image&fr=yhs-dollario-dollario_br&va=obras+de+frida+kahlo&hspart=dollario&hsimp=yhs-dollario_br Acesso em 24/11/2014

"PARBOLA DOS CEGOS"

Bruegel (1530-1569) Este quadro de Peter Bruegel retrata-nos o modo de caminhar em grupo dos cegos, com seus agasalhos e bengalas. Ao procurar ilustrar a famosa parbola, o pintor mostra-nos vrios cegos

que vo caindo numa valeta . http://www.artefatocultural.com.br/ed1/bruegel.htm Acesso em 08/11/2014.

LAS MENINAS

Diego Rodrguez de Silva Velzquez

(Sevilha, 6 de Junho de 1599 Madrid, 6 de Agosto de 1660) foi um pintor espanhol e principal artista da corte do Rei Filipe IV de Espanha. Era um artista individualista do perodo barroco contemporneo. Alm de inmeras interpretaes de cenas de significado histrico e cultural, pintou inmeros retratos da famlia real espanhola, outras notveis figuras europeias e plebeus, culminando na produo de sua obra-prima, Las meninas (1656). (Wikipdia)

http://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=346&evento=1 Acesso em 24/11/2014

Descrio: No 1 intervalo apresenta-se aos alunos telas de diversos

pintores, vez que nesta primeira etapa o tema do livro em estudo ressalta

fortemente a Sndrome de Down e o impacto que a notcia trouxe para o

personagem principal do livro o pai.

ATIVIDADE 01: Apresentao de pinturas de pessoas que apresentam

deficincias.

ATIVIDADE 02: Neste momento faremos a leitura do texto informativo

sobre a Sndrome de Down e as leis que regem para a incluso desses alunos

no ensino regular. Os textos foram encontrados nos links que seguem:

Disponvel em:

http://www.ebah.com.br/content/ABAAABP6kAE/artigo-cientifico-sindrome-down Acesso em 12/11/2014

Disponvel em:

http://www.movimentodown.org.br/2013/01/pesquisas-sobre-sindrome-de-down-no-mundo/ Acesso em 12/11/2014.

Aps a leitura e discusso dos textos os alunos faro uma pesquisa em

grupos e produziro um painel com o material encontrado sobre os avanos

nas pesquisas e dos prprios portadores da sndrome na sociedade atual. Este

https://br.images.search.yahoo.com/yhs/search;_ylt=A0LEVjq1hnNUfLoA0MUf7At.;_ylu=X3oDMTBsa3ZzMnBvBHNlYwNzYwRjb2xvA2JmMQR2dGlkAw--?_adv_prop=image&fr=yhs-dollario-dollario_br&va=obras+de+frida+kahlo&hspart=dollario&hsimp=yhs-dollario_brhttps://br.images.search.yahoo.com/yhs/search;_ylt=A0LEVjq1hnNUfLoA0MUf7At.;_ylu=X3oDMTBsa3ZzMnBvBHNlYwNzYwRjb2xvA2JmMQR2dGlkAw--?_adv_prop=image&fr=yhs-dollario-dollario_br&va=obras+de+frida+kahlo&hspart=dollario&hsimp=yhs-dollario_brhttps://br.images.search.yahoo.com/yhs/search;_ylt=A0LEVjq1hnNUfLoA0MUf7At.;_ylu=X3oDMTBsa3ZzMnBvBHNlYwNzYwRjb2xvA2JmMQR2dGlkAw--?_adv_prop=image&fr=yhs-dollario-dollario_br&va=obras+de+frida+kahlo&hspart=dollario&hsimp=yhs-dollario_brhttp://www.artefatocultural.com.br/ed1/bruegel.htmhttp://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=346&evento=1http://www.ebah.com.br/content/ABAAABP6kAE/artigo-cientifico-sindrome-downhttp://www.ebah.com.br/content/ABAAABP6kAE/artigo-cientifico-sindrome-downhttp://www.movimentodown.org.br/2013/01/pesquisas-sobre-sindrome-de-down-no-mundo/http://www.movimentodown.org.br/2013/01/pesquisas-sobre-sindrome-de-down-no-mundo/

painel poder ser fixado no ptio da escola e tambm ser apresentado pelos

alunos para outras turmas do Ensino mdio.

2. INTERVALO

As pginas de leitura para este intervalo sero da pgina 45 a 112 e ela dever

acontecer no prazo de duas semanas.

Tempo: 3 aulas

Objetivo:

- Apresentar o gnero conto aos alunos;

- Desenvolver a sensibilidade esttica, a imaginao, a criatividade e o senso

crtico;

- Discutir as relaes familiares apresentadas no romance e os personagens

apresentados no conto Amor, de Clarice Lispector.

Descrio: Leitura do conto Amor, de Clarice Lispector, que relata a histria de

Ana, uma mulher casada e me de dois filhos. Neste momento, pode-se

comear a discusso sobre relaes familiares destacando o papel da mulher

dentro da famlia, partindo das mulheres do livro e do conto e aprofundando a

discusso sobre o papel da mulher na sociedade atual.

Aps a discusso e levantamento de dados os alunos produziro um

texto argumentativo sobre a importncia das relaes familiares na sociedade.

Conto: Amor

Clarice Lispector Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de

tric, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde comeou a andar. Recostou-se ento no banco

procurando conforto, num suspiro de meia satisfao.

Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e

sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era

enfim espaosa, o fogo enguiado dava estouros. O calor era

forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o

vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que

se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um

lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mo, no outras, mas essas apenas. E cresciam rvores. Crescia sua rpida conversa com o cobrador de luz, crescia a gua

enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido

chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do

edifcio. Ana dava a tudo, tranquilamente, sua mo pequena e forte, sua corrente de

vida [...]

Ana ainda teve tempo de pensar por um segundo que os irmos viriam jantar o

corao batia-lhe violento, espaado. Inclinada, olhava o cego profundamente, como se

olha o que no nos v. Ele mascava goma na escurido. Sem sofrimento, com os olhos

abertos. O movimento da mastigao fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar de sorrir como se ele a tivesse insultado, Ana olhava-o. E

quem a visse teria a impresso de uma mulher com dio. Mas continuava a olh-lo,

cada vez mais inclinada o bonde deu uma arrancada sbita jogando-a desprevenida

para trs, o pesado saco de tric despencou-se do colo, ruiu no cho Ana deu um

grito, o condutor deu ordem de parada antes de saber do que se tratava o bonde

estacou, os passageiros olharam assustados.

Incapaz de se mover para apanhar suas compras, Ana se aprumava plida. Uma

expresso de rosto, h muito no usada, ressurgia-lhe com dificuldade, ainda incerta,

incompreensvel. O moleque dos jornais ria entregando-lhe o volume. Mas os ovos se

haviam quebrado no embrulho de jornal. Gemas amarelas e viscosas pingavam entre

os fios da rede. O cego interrompera a mastigao e avanava as mos inseguras, tentando inutilmente pegar o que acontecia. O embrulho dos ovos foi jogado fora da

rede e, entre os sorrisos dos passageiros e o sinal do condutor, o bonde deu a nova

arrancada de partida [...]

A vastido parecia acalm-la, o silncio regulava sua respirao. Ela adormecia

dentro de si.

De longe via a alia onde a tarde era clara e redonda. Mas a penumbra dos ramos

cobria o atalho.

Ao seu redor havia rudos serenos, cheiro de rvores, pequenas surpresas entre os

cips. Todo o Jardim triturado pelos instantes j mais apressados da tarde. De onde vinha o meio sonho pelo qual estava rodeada? Como por um zunido de abelhas e aves.

Tudo era estranho, suave demais, grande demais.

Um movimento leve e ntimo a sobressaltou voltou-se rpida. Nada parecia se ter

movido. Mas na alia central estava imvel um poderoso gato. Seus plos eram macios. Em novo andar silencioso, desapareceu.

Inquieta, olhou em torno. Os ramos se balanavam, as sombras vacilavam no cho.

Um pardal ciscava na terra. E de repente, com mal-estar, pareceu-lhe ter cado numa

emboscada. Fazia-se no Jardim um trabalho secreto do qual ela comeava a se

aperceber [...]

J no sabia se estava do lado do cego ou das espessas plantas. O homem pouco a

pouco se distanciara e em tortura ela parecia ter passado para o lados que lhe haviam

ferido os olhos. O Jardim Botnico, tranqilo e alto, lhe revelava. Com horror descobria que pertencia parte forte do mundo e que nome se deveria dar a sua

misericrdia violenta? Seria obrigada a beijar um leproso, pois nunca seria apenas sua

irm. Um cego me levou ao pior de mim mesma, pensou espantada. Sentia-se banida

porque nenhum pobre beberia gua nas suas mos ardentes. Ah! era mais fcil ser

um santo que uma pessoa! Por Deus, pois no fora verdadeira a piedade que sondara

no seu corao as guas mais profundas? Mas era uma piedade de leo [...]

Fragmentos do texto extrado no livro Laos de Famlia, Editora Rocco Rio de Janeiro, 1998, pg. 19, includo entre Os cem melhores contos brasileiros do sculo, Editora

Objetiva Rio de Janeiro, 2000, seleo de talo Moriconi.

http://www.releituras.com/clispector_amor.asp Acesso em 14/11/2014.

http://www.releituras.com/clispector_amor.asp%20Acesso%20em%2014/11/2014

3. INTERVALO

As pginas de leitura para este intervalo sero da 113 a 169 e ela dever

acontecer no prazo de duas semanas.

Tempo: 3 aulas.

Objetivo:

- Retomar o gnero poesia e suas principais caractersticas.

- Refletir sobre o ser humano, sua condio social e individual e o papel da arte;

Descrio: Apresentao e leitura do poema de Ferreira Gullar, Traduzir-se.

Neste momento, apresenta-se ao aluno o gnero poesia fazendo a leitura do

poema em voz alta.

Fazer uma breve apresentao sobre o poeta Ferreira Gullar e discutir

algumas questes do poema, tais como o ato de existir e suas razes, contrapondo-

o com a situao do personagem principal do livro que, em muitos momentos, sente-

se frustrado diante dos rumos que sua vida tomou. possvel assim iniciar uma

discusso sobre o tempo como fator de amadurecimento e de mudanas levando

essa discusso para a vida dos prprios alunos que, em breve, devero iniciar uma

vida profissional ou acadmica.

Como atividade extraclasse pedir aos alunos que realizem uma pesquisa

sobre o futuro profissional dos jovens que concluem o ensino mdio. Essa pesquisa

deve responder algumas perguntas como:

- H continuidade nos estudos?

- Qual a porcentagem de jovens que

ingressam nas universidades?

- Quantos conseguem trabalho e param de

estudar?

A pesquisa pode ser ampla e trazer muitas

curiosidades que sero apresentadas em

forma de seminrio em um grande crculo na

sala de aula.

TRADUZIR-SE Uma parte de mim todo mundo: outra parte ningum: fundo sem fundo. uma parte de mim multido: outra parte estranheza e solido. [...]

Traduzir-se uma parte na outra parte - que uma questo de vida ou morte - [...]

Ferreira Gullar

Disponvel em: http://pensador.uol.com.br/frase/MzI5MTc/ Acesso em 11/11/2014

4 INTERVALO

Este intervalo inicia-se na pgina 171 e vai at a pgina 222, concluindo,

assim, a leitura da obra. Os alunos tero duas semanas para realiz-la.

Tempo: 3 aulas

Objetivo:

- Permitir que os alunos reflitam sobre as mudanas ocorridas em suas vidas ao

longo dos anos.

- Analisar a pintura de quadros/ imagens que promovem reflexo.

Descrio: Este ltimo intervalo ser composto por duas atividades:

Apreciao e leitura da obra

1- Apreciao e leitura da obra Criana geopoltica observando o nascimento do

homem novo, do pintor espanhol Salvador Dal, datado de1943.

http://pt.scribd.com/doc/44473543/Analise-critica-da-obra-de-salvador-dali Acesso

em 24/11/2014.

2- Ouvir a msica Eu no vou me adaptar (Arnaldo Antunes e e Nando Reis)

Disponvel em: https://www.youtube.com/watch?v=3f_ZRXGPq14 Acesso em:

17/11/2014

As duas atividades tm a inteno de promover uma discusso acerca das

mudanas que o tempo promove na vida do ser humano, partindo do momento em

que os alunos se encontram na leitura do livro fase final onde o personagem

principal comea a se adaptar com sua vida, seu filho, com algumas

implicaes prprias do ser humano.

1. INTERPRETAO

http://pensador.uol.com.br/frase/MzI5MTc/http://pt.wikipedia.org/wiki/Pinturahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Espanhahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Salvador_Dal%C3%ADhttp://pt.wikipedia.org/wiki/1943http://pt.scribd.com/doc/44473543/Analise-critica-da-obra-de-salvador-dali%20Acesso%20em%2024/11/2014http://pt.scribd.com/doc/44473543/Analise-critica-da-obra-de-salvador-dali%20Acesso%20em%2024/11/2014https://www.youtube.com/watch?v=3f_ZRXGPq14

Tempo: 2 aulas

Objetivo:

- Ouvir o aluno sobre o que entendeu da obra;

- Registrar impresses de forma livre e individual;

Descrio: Partindo de uma frase sobre a crtica do livro, ser lanado ao

aluno o desafio de opinar e registrar suas impresses da leitura. Aps essa atividade

ser o momento no qual os alunos faro o registro, em um texto dissertativo

subjetivo, sobre o modo como vivem a vida e como podem fazer para que possa

valer a pena a existncia humana. Essa atividade individual e poder ser

apresentada aos colegas como atividade final dessa etapa.

Atividade:

1- Leitura e anlise da frase:

Muita gente anda no mundo sem saber para qu: vivem, porque veem os outros viverem. Alguns aprendem sua custa, quase sempre j tarde pra um proveito melhor. Eu sou desses.

(J. SIMES LOPES NETO, Artigos de f do gacho.)

Contextualizao Estilstica

Atividade 01- Fazer a explanao sobre questes do livro como nmero de captulos

que coincidem com a idade do personagem, a forte marcao

do azul presente no livro e a influncia de grandes autores na

vida do autor. Para servir de apoio neste trabalho sero

utilizadas partes do texto do link que segue.

http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/literatura/0079.html

Acesso dia 10/11/2014.

Contextualizao Potica

Dentro desta contextualizao discutir com os alunos as questes do livro que

geram discusso sobra a autobiografia, ponto-chave do romance. Podemos

destacar, ento, a carreira como professor universitrio, a inteno de ser escritor e

o filho Felipe, que portador de sndrome de down, e tambm suas experincias de

adolescente e jovem.

http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/literatura/0079.html

Alguns fragmentos do livro podem ser destacados neste momento com o intuito de

gerar discusses sobre a obra, retomando questes do livro que no foram

percebidas durante a leitura e, naturalmente, explorando o discurso narrativo.

O nascimento de um filho

[...]somos delicados demais para o nascimento e preciso disfarar todos os perigos desta vida

[...] (p. 11)

Um filho a ideia de um filho; uma mulher a ideia de uma mulher. s vezes as coisas

coincidem com a ideia que fazemos dela; s vezes no. (p. 14)

O nascimento uma brutalidade natural, a expulso obscena da criana, o desmantelamento

fsico da me at o ltimo limite da resistncia, o peso e a fragilidade da carne viva. (p. 24)

Assim, em um timo de segundo, em meio maior vertigem de sua existncia, a rigor a nica

que ele no teve tempo (e durante a vida inteira no ter) de domesticar numa representao

literria, apreendeu a intensidade da expresso para sempre a ideia de que algumas coisas

so de fato irremediveis, e o sentimento absoluto, mas bvio, de que o tempo no tem retorno,

algo que ele sempre se recusava a aceitar. (p. 30)

Ningum est preparado para um primeiro filho, ele tenta pensar, defensivo, ainda mais um filho

assim, algo que ele simplesmente no consegue transformar em filho. (p. 32)

Foi preciso que nascesse o seu filho para que, de um golpe s, ele percebesse a fissura

medonha daquele otimismo csmico que ele havia tomado de emprstimo de algum lugar como

moldura esttica da prpria vida to lindo, tudo est em tudo, o tempo presente contido no

tempo passado, a harmonia do espetculo do universo como convidados de honra. (p. 64)

A primeira criana de um casamento uma aporrinhao monumental o intruso exige espao

e ateno, chora demais, no tem horrio nem limites, praticamente nenhuma linguagem

comum, no controla nada em seu corpo, que vive a borbulhar por conta prpria, depende de

uma quantidade de objetos (do bero mamadeira, do funil de plstico s fraldas, milhares

delas) at ento desconhecidos pelos pais, drena as economias, o tempo, a pacincia, instaura

em torno de si o terror da fragilidade e da ignorncia, e afasta, quase que aos pontaps, o pai da

me. (p. 73-74)

Ser escritor

Ele no mais um poeta. Perdeu para sempre o sentimento do sublime, que, embora soe envelhecido, o combustvel necessrio para escrever poesia. (p. 16)

() e finalmente sorri, voltando a escrever to rpido, em linhas seguras e perfeitamente horizontais na folha amarela, sinal de que o texto, na sua cabala pessoal, est muito bom. (p. 106)

Seguindo o conselho de Hemingway em Paris uma festa, que ele leu em Paris mesmo, percorrendo, caipira, os lugares especiais citados no livro, um por um, e gastando com parcimnia os marcos que ganhou na Alemanha (teriam de durar muito, ele sabia), ele sempre tenta interromper o texto que escreve num bom momento, com vontade de continuar imediatamente. (p. 107)

E acontece tambm no menino a atitude do artista, algum que por conta prpria se define como tal, o que sempre um gesto potencialmente petulante; no mundo adulto, o pai sabe, definir-se artista quase que um bater de p social, um forar a porta de entrada para um den libertrio, onde no se prestam contas de nada enfim, uma sombra do paraso perdido. (p. 212)

() ao mesmo tempo por muitos anos teve vergonha de se afirmar, intransitivo, um escritor, e a angstia maior vinha do fato de, durante dcada e meia, no ter nada para colocar no lugar quando lhe perguntavam o que fazia na vida; dizer eu escrevo seria confessar uma intimidade absurda, equivalente da vida sexual ou dos problemas de famlia, entregar o que se sonha no escuro, a massa disforme dos desejos () (p. 213)

O problema o pai

Ele divaga, criando ele mesmo uma sndrome que cada vez ser mais intensa em sua vida a

crescente incapacidade de concentrao para ouvir algum mais demoradamente: as pessoas

deveriam falar por escrito, ele sonha. (p. 90)

Reflexo condicionado o do pai a todo instante que se lembra, estende o dedo para que o

filho ali se agarre, sem pensar. (p. 95)

Autista, debrua-se sobre o novo romance que escreve j h alguns meses, Trapo, indiferente

ao mundo, enquanto no consegue publicar o anterior. (p. 115)

Pensa tambm em como pode ser tentador o impulso de ele, o pai, se apoiar no filho para ali se

destruir. Fazer do filho a sua desculpa, o altar da piedade alheia. Sim, um bom rapaz. Tinha

muito futuro. Pena o filho acabou com ele. Dizer no intuitivamente, dizer no. (p. 118)

Contextualizao Crtica

Neste momento faremos a leitura e anlise de algumas crticas encontradas

http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/externo/index.asp?id_link=6263&destino=/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=106980&http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/externo/index.asp?id_link=6263&destino=/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=2178137&

em pginas da Internet de diferentes crticos falando sobre sua obra O filho eterno.

Abaixo esto elencados alguns links, mas nem todos precisam ser utilizados

devido ao tempo.

http://asmelhorespartes.blogspot.com.br/2012/08/o-filho-eterno-cristovao-tezza.html

Acesso no dia 12/11/2014.

http://www.cristovaotezza.com.br/entrevistas/p_08_papangu.htm Acesso no dia

12/11/2014.

http://www.fabriciocarpinejar.blogger.com.br/2007_08_01_archive.html Acesso no dia

12/11/2014.

http://www.cristovaotezza.com.br/p_entrevistajornaisrevistas.htm Acesso no dia

12/11/2014.

http://www.cristovaotezza.com.br/entrevistas/p_960428.htm Acesso no dia

12/11/2014.

2 INTERPRETAO

Aprofundamento da leitura de forma consistente por meio de contextos que a

obra traz consigo.

Tempo: 04 aulas

Objetivo:

- Destacar o papel do personagem principal do livro, seu modo honesto de falar

sobre assuntos marcados por desinformaes, sentimentalismos e preconceitos;

- Abordar questes existncias que giram em torno do personagem e todo o

sentimento de frustrao que o mesmo demonstra no decorrer do livro.

Descrio: Neste momento poder ser realizado um jri simulado, escolhendo o

personagem principal da obra O filho eterno o pai de Felipe. Submetendo-o a

julgamento por suas aes. A turma ser dividida em vrias equipes, para que sejam

explorados vrios aspectos do livro, tais como o tratamento do pai com o filho

portador de sndrome de down e a dificuldade de acerto da vida do personagem em

questo, principalmente a profissional. Aps o julgamento utilizando dados do livro,

os alunos devero registrar suas impresses em relatrios.

http://asmelhorespartes.blogspot.com.br/2012/08/o-filho-eterno-cristovao-tezza.htmlhttp://www.cristovaotezza.com.br/entrevistas/p_08_papangu.htmhttp://www.fabriciocarpinejar.blogger.com.br/2007_08_01_archive.htmlhttp://www.cristovaotezza.com.br/p_entrevistajornaisrevistas.htmhttp://www.cristovaotezza.com.br/entrevistas/p_960428.htm

EXPANSO

Trata-se do compartilhamento da leitura, relao com outras obras,

aprofundamento e expanso do conhecimento, num mesmo horizonte,

ocorrendo o letramento literrio.

Descrio:

Neste momento a proposta voltar a alguns pontos do livro retomando os temas de

maior destaque, como o da incluso de deficientes na sociedade e principalmente na

prpria famlia, as frustraes que giram em torno da vida do personagem principal,

as dvidas profissionais e os anseios pelo sucesso e a realizao pessoal. Desse

modo importante discutir com os alunos sobre seus anseios para um futuro

profissional permitindo, assim, que haja uma discusso sobre profisses.

Aps a discusso, lanar a proposta de expanso a partir de A morte e a

morte de Quincas Berro D gua de Jorge Amado, tendo em vista que esta obra

tambm apresenta interessante abordagem sobre as frustraes humanas, onde o

personagem principal Quincas abre mo da ordem instituda pela liberdade da

boemia, o que causa na sua famlia grande indignao a ponto de exclui-lo por

terem vergonha.

Ao trabalhar essa obra no 3 ano do ensino mdio importante lembrar que a

obra de grande valor literrio e utilizada em muitos vestibulares e tambm ressaltar

que a obra faz uma ponte com o livro em estudo O filho eterno quando mostra a

frustrao do personagem principal com relao ao seu modo de vida em todos os

sentidos, profissional, familiar e pessoal.

A proposta de encerrar essa etapa, que pode ocorrer no incio do 2

semestre, com uma Feira literria abrangendo toda a comunidade escolar. Nesta

feira, pode ser feita a exposio de todos os trabalhos realizados com a obra corpus

do trabalho, incluindo depoimentos de alunos sobre o livro, apresentaes, podendo

utilizar os quadros utilizados nesse material para uma projeo e explicao dos

mesmos pelos alunos para a comunidade presente na feira.

REFERNCIAS

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UNIDADE 02

Ttulo: SEQUENCIA EXPANDIDA DE LEITURA LITERRIA: GALILIA, DE RONALDO CORREIA DE BRITO

http://www.cristovaotezza.com.br/entrevistas/p_960428.htmhttp://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/literatura/0079.htmlhttp://www.senado.gov.br/noticias/TV/programaListaPadrao.asp?ind_click=9&txt_titulo_menu=&IND_ACESSO=S&IND_PROGRAMA=S&COD_PROGRAMA=19&COD_VIDEO=170109&ORDEM=0&QUERY=&pagina=8http://www.senado.gov.br/noticias/TV/programaListaPadrao.asp?ind_click=9&txt_titulo_menu=&IND_ACESSO=S&IND_PROGRAMA=S&COD_PROGRAMA=19&COD_VIDEO=170109&ORDEM=0&QUERY=&pagina=8http://www.senado.gov.br/noticias/TV/programaListaPadrao.asp?ind_click=9&txt_titulo_menu=&IND_ACESSO=S&IND_PROGRAMA=S&COD_PROGRAMA=19&COD_VIDEO=170109&ORDEM=0&QUERY=&pagina=8http://www.mundofreak.com.br/2013/03/01/resenha-colegas-o-filme/http://www.ebah.com.br/content/ABAAABP6kAE/artigo-cientifico-sindrome-downhttp://www.movimentodown.org.br/2013/01/pesquisas-sobre-sindrome-de-down-no-mundo/http://www.movimentodown.org.br/2013/01/pesquisas-sobre-sindrome-de-down-no-mundo/http://pt.wikipedia.org/wiki/Colegas_(filme)http://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=346&evento=1

Autor: Gislaine Bezerra

Disciplina/rea: Lngua Portuguesa

Escola de Implementao do Projeto e sua localizao:

Colgio Estadual do Campo de So Joo- Ensino fundamental e Mdio.

Avenida: Manduri, s/n

Municpio da escola: So Jernimo da serra

Ncleo Regional de Educao: Cornlio Procpio

Professor Orientador: Profa. Dra. Vanderlia da Silva Oliveira

Instituio de Ensino Superior: Universidade Estadual do Norte do Paran UENP

Relao Interdisciplinar:

Resumo Esta unidade compe o caderno pedaggico Narrativas contemporneas em sala de aula: sequncia didtica de leitura literria. Esta proposta tem como objetivo a leitura literria e a formao de alunos crticos. A fim de sugerir o letramento literrio como alternativa metodolgica, pois, o processo de construo dos saberes literrios acontece plenamente e necessrio acessos aos mais variados textos. Para que haja o interesse pela leitura literria preciso o comprometimento da escola, dos professores e dos alunos. Visando o processo de formao Rildo Cosson sugere a sequncia expandida com o enfoque no gnero romance a partir da obra Galilia, narrativa arrebatadora cheia de segredos e traies de Ronaldo Correia de Brito, publicada em 2008. O projeto ser implementado com a turma do 2 ano do ensino mdio do Colgio Estadual do Campo de So Joo do Pinhal.

Palavras-chave Leitura Literria; Sequncia Expandida; Narrativas Contemporneas.

Formato do Material Didtico: Unidade didtica (parte do caderno pedaggico intitulado Narrativas contemporneas em sala de aula, sequncias didticas de leitura literria)

Pblico:

Pblico alvo alunos do 2 ano do Ensino Mdio

Unidade 2

Sequncia Expandida

de Leitura Literria:

Galilia, de Ronaldo

Correia de Brito.

Gislaine Bezerra

1. CONVERSA COM O PROFESSOR

Proponho nesta unidade didtica o trabalho com leitura literria em sala de

aula no ensino mdio por meio do gnero romance. Percebo que o enfoque da

leitura literria em sala de aula um desafio a ser vencido por ns, professores de

lngua portuguesa e literatura.

Devemos ser mediadores entre o texto e nossos alunos mostrando a eles

esse universo mgico das leituras literrias. Muito se fala da necessidade se ter

hbito de leitura, mas nenhum hbito se constri sem a oferta de obras que

estimulem o interesse dos alunos no universo da leitura literria. Observe-se que

no difcil lev-la ao aluno, mas sim nos comprometermos com ela como

professores-leitores.

Esse comprometimento deve ser em princpio, um dever do professor, pois se

ele no um leitor habitual dificilmente conseguir despertar nesse aluno o interesse

pela leitura. Esta a grande preocupao de muitos de ns, pois reproduzimos um

modelo formalista e estruturalista de ensino em nossas escolas.

Infelizmente, o texto literrio , com raras excees, trabalhado em sala de

aula como pretexto de atividades que valorizam a histria da literatura, as

caractersticas estticas e estilsticas e os perodos literrios, desvalorizando-se a

plurissignificao do texto literrio. Chego a essa concluso pelos relatos de muitos

colegas que se veem nessa situao de no terem um embasamento terico e

metodolgico, que lhes d um respaldo para o trabalho com a literatura numa

perspectiva de letramento literrio. Tantas so as reflexes que fazemos

diariamente, tais como: Qual deve ser o propsito de ensinar leitura literria em sala

de aula? Qual a postura que deve ter um professor de literatura? Quais devem ser

as estratgias adotadas para se trabalhar com a leitura literria em sala de aula?

Diante destes aspectos, esta unidade didtica sugere aos professores uma

prtica metodolgica voltada para o ensino da leitura literria, a partir do romance

Galilia, de Ronaldo Correia de Brito, tendo como suporte as propostas de Cosson

(2014). Em Letramento Literrio: teoria e prtica. Nele, o autor aborda o letramento

como uma proposta de fortalecer, reformar e ampliar a educao literria.

2. FUNDAMENTAO TERICA

2.1 Leitura

Os referenciais sobre a prtica de leitura presente nas diretrizes curriculares

da rea no estado do Paran sinalizam um direcionamento metodolgico,

entendendo-a como um ato dialgico, interlocutivo, que compreende as diversas

vozes sociais e ideolgicas: A leitura se efetiva no ato da recepo, configurando o

carter individual que ela possui (PARAN, 2008).

Cosson tambm apresenta uma definio bem interessante sobre o papel

funcional da leitura: Ler implica troca de sentidos no s entre o escritor e o leitor,

mas tambm com a sociedade onde ambos esto localizados (2014, p.27).

Sabe-se que a valorizao do leitor fundamental para o processo de

compreenso do texto, pois as leituras realizadas pelos alunos devem ter um

parmetro plurissignificativo inseridos nos textos de leitura. Para Cosson, [...] ler e

ser leitor so prticas sociais que medeiam e transformam as relaes humanas

(2014, p.40). O autor faz vrias interpretaes sobre essa prtica discursiva entendo

que a leitura um ato solidrio, significativa, interpretativa e amplia o horizonte de

um texto literrio.

Ernani Terra comunga do mesmo pensamento de Cosson entendendo que a

leitura uma atividade de construo de sentidos; um ato complexo que no pode

ser confundido com a simples decodificao de informaes bsicas. Percebe-se,

ento, um conjunto de conhecimentos embasadores para a leitura. Como forma para

busc-los o autor revela:

[...] o leitor sai do texto e vai buscar, por meio de inferncias, os conhecimentos necessrios (lingusticos, textuais, enciclopdicos, interacionais) para a construo do sentido numa atitude colaborativa. Vale dizer que compreender um texto no extrair dele um sentido que l est pronto, acabado; mas, mediante ativao de processos cognitivos, construir um sentido a partir de pistas presentes na superfcie do texto. (TERRA, 2014, p.54)

Diante destas observaes, fica claro que a leitura pauta-se na necessidade de

acesso aos mais variados textos, para que o processo de construo dos saberes

literrios acontea plenamente. Tambm podemos destacar que no possvel

indagarmos que uma simples atividade de leitura seja considerada leitura literria.

Na verdade apenas ler a face mais visvel da resistncia ao processo de

letramento literrio, explica Cosson, que reafirma que: [...] a necessidade de ir alm

da simples leitura do texto literrio quando se deseja promover o letramento literrio

(2014, p.26).

2.2- Leitura Literria: formao do aluno leitor

Para que haja um interesse em leitura literria pressupe-se o interesse da

escola, do professor e do aluno. O ponto de partida se daria em primeiro plano na

escola, por ela ter um objetivo claro que o de formar leitores crticos. No entanto,

esta uma tarefa difcil diante da viso que ela tem do processo da leitura literria,

vez que prioriza o texto apenas como uma leitura espontnea. Rita Jover-Faleiros

faz uma observao bem interessante sobre a real formao escolar.

Se a formao escolar uma das importantes mediadoras da relao livro/leitor [...] alm de compreender qual a natureza da distncia que separa o leitor compulsrio do leitor ldico, preciso aproxim-los ou talvez, despertar no leitor compulsrio, que l porque deve, o leitor ldico, que l porque quer; chegando-se, talvez, a uma espcie de sntese em que a fruio advm da compreenso do processo de construo do(s) sentido(s) no ato da leitura. (2013, p.129)

Na escola, esse deve ser o papel da leitura literria, o de transformar o leitor,

levando-o a perceber as mudanas que ocorrem no decorrer da leitura de uma obra

de fico. A contribuio da instituio escolar importantssima para que esse

aluno construa o seu universo de leitor perene. Outro ponto a ser discutido o da

postura do professor diante do texto literrio, visto que ele deve ser um leitor

assduo, mediador e ter o cuidado em selecionar livros para suas aulas afinal, a

garantia do acesso no quer dizer uma qualidade adequada s prticas de leitura

literria. Por outro lado, como e quando garantir que uma obra realmente literria?

A essa pergunta pode-se recorrer s posies de Mrcia Abreu:

Uma obra far parte do seleto grupo da Literatura quando for declarada literria por uma (ou, de preferncia, vrias) dessas instncias de legitimao. Assim, o que torna um texto literrio no so suas caractersticas internas, e sim o espao que lhe destinado pela crtica e, sobretudo, pela escola no conjunto dos bens simblicos (2006, p.40).

interessante ressaltar que pela intermediao do professor que a obra

literria chega s mos dos alunos e na escola que esse ato se concretiza.

Cadermatori faz um esclarecimento sobre a intermediao professor/aluno no

processo da leitura, afirmando:

No estou dizendo que todo jovem pode ser transformado em leitor por obra e graa de um professor. [...] Capacitar estudantes leitura, desenvolvendo suas competncias lingusticas e textual uma coisa. Transformar alunos em leitores de literatura outra (CADERMATORI, 2009, p.90).

Cosson idealiza um professor como aquele que desafia o aluno a ler obras

complexas, ampliando nele o seu horizonte de leitura. E, por ltimo, o aluno que o

protagonista desse processo de formao de um leitor competente, crtico e perene.

Para desafiar esse aluno necessria uma metodologia que atenda s suas

necessidades, sobre o que Aguiar e Bordini chamam a ateno: [...] a necessidade

de uma metodologia que sirva de suporte para a prtica escolar. Essa proporcionar

resultados positivos para o aluno na medida em que delimite para si mesma, uma

finalidade para o ato de aprender (1988, p.41).

Cosson observa algo muito pertinente ao leitor, em relao leitura literria: a

busca do pleno sentido ao texto literrio faz com que o mesmo se transforme em

uma fora humanizadora, capaz de ampliar e consolidar o repertrio cultural desse

aluno.

2.3- O direito Literatura no Ambiente Escolar

A literatura entendida nas Diretrizes Curriculares da rea de Lngua

Portuguesa no Paran (PARANA, 2008) muito alm das produes humanas e

relaes dialgicas, pois vista como um processo humanizador do homem, de

modo que ela perpassa funes psicolgicas, formadoras e sociais, permitindo ao

leitor uma independncia de interpretao da obra:

O texto literrio permite mltiplas interpretaes, uma vez que na recepo que ele significa. No entanto, no est aberto a qualquer interpretao. O texto carregado de pistas/ estruturas de apelo, as quais direcionam o leitor, orientando-o para uma leitura coerente. (PARAN, 2008, p.59)

Partindo dessa concepo de que os leitores, inseridos no ambiente escolar,

muitas vezes so desmotivados por atividades estticas que em nada contribuem

para a leitura de obras literrias, devemos pensar que o nosso aluno tem esse

direito. Aguiar e Bordini mencionam as estratgias a partir das quais o professor

deve levar esse aluno a se interessar pela Literatura:

Para oferecer ao aluno condies de ampliar seu universo cultural o professor de literatura conta com meios eficientes: a natureza do material de leitura e a complexidade das formas de abord-lo. Partindo das preferncias do leitor, o trabalho deve orientar-se de maneira dinmica, do prximo para o distante no tempo e espao. Isso significa optar principalmente por textos conhecidos de autores atuais, familiares pela temtica apresentada pelos personagens delineados, pelos problemas levantados, pelas solues propostas, pela forma como se estruturam, pela linguagem de que se valem (AGUIAR, BORDINI, 1988, p.25)

Para complementar, Antnio Cndido defende: No h povo e no h homem

que possa viver sem ela, isto , sem a possibilidade de entrar em contato com

alguma espcie de fabulao (1988, p.242). Este posicionamento nos remete s

vrias influncias que a literatura exerce no indivduo, sendo ela um instrumento de

instruo e educao. O autor reafirma: A literatura confirma e nega, prope e

denuncia, apoia e combate. [...] Isto significa que ela tem o seu papel formador da

personalidade (1988, p.243). Desenvolvendo em ns, segundo ele, uma

compreenso da natureza da sociedade e do semelhante.

Enfatizando-se as falas do autor em relao fruio do texto literrio,

podemos destacar outro trecho: Vista deste modo a literatura aparece claramente

como manifestao universal de todos os homens em todos os tempos (1988, 242).

Por esse ponto de vista que a experincia literria se torna passaporte primordial

para o letramento literrio.

2.4 Letramento Literrio

Letramento literrio pode ser entendido como uma viso metodolgica do

processo de formao de leitores literrios em relao s suas compreenses

textuais. Nas Diretrizes Curriculares estaduais para a rea de Lngua Portuguesa

fica evidente esta perspectiva metodolgica:

[...] busca formar um leitor capaz de sentir e de expressar o que sentiu, com condies de reconhecer, nas aulas de literatura, um envolvimento de subjetividades que se expressam pela trade obra/autor/leitor, por meio de uma interao que est presente na prtica de leitura (PARAN, 2008, p.58)

Se vivemos em uma sociedade letrada por que to difcil tornar os nossos

alunos leitores? Essa pergunta pode ser facilmente respondida: faltam

embasamentos tericos e metodolgicos ao professor para que ele consolide o seu

conhecimento a fim de tomar posio diante das dificuldades nas suas aulas de

literatura. O prprio autor relata as dificuldades que os professores tm em trabalhar

com a leitura do texto literrio em sala de aula, o que um problema da grande

maioria das escolas brasileiras. Portanto, a perspectiva do letramento literrio

prope um caminho de ensino que tenha como centro a experincia do literrio.

Todo o processo de letramento literrio comea em sala de aula e, sendo a literatura

uma prtica e um discurso, deve ser compreendida criticamente pelo aluno e

fortalecida pelo consumo de textos literrios, no ficando somente em obras

cannicas. Esta viso mais ampla da literatura, pois, deve guiar o professor na

seleo das obras.

Para Cosson, o letramento literrio se constri a partir de uma comunidade de

leitores, na qual a literatura a moldura cultural desse leitor. A partir do momento em

que a leitura de literatura se torna um movimento contnuo, pode-se compreender

que a educao literria est presente em sala de aula. Para ele: [...] necessrio

que o ensino de Literatura efetive, [...] partindo do conhecido para o desconhecido,

do simples para o complexo, do semelhante para o diferente, com o objetivo de

ampliar e consolidar o repertrio do aluno (2014 p.47-48).

Diante desse processo, Cosson sistematiza as atividades das aulas de

Literatura em duas sequncias: uma bsica e outra expandida, com objetivo de

apresentar duas possibilidades concretas de organizao das estratgias a serem

usadas nas aulas de Literatura da educao bsica.

[...] justamente para ir alm da simples leitura que o letramento literrio fundamental no processo educativo. Na escola, a leitura literria tem a funo de nos ajudar a ler melhor, no apenas porque possibilita a criao do hbito de leitura ou porque seja prazerosa, mas sim, e, sobretudo, porque nos fornece, como nenhum outro tipo de leitura faz, os instrumentos necessrios para conhecer e articular com proficincia o mundo feito linguagem. (COSSON, 2014, p.30)

2.5 O Texto Contemporneo em sala de aula

O texto contemporneo est cada vez mais presente no ambiente escolar, o

importante saber selecionar aqueles que so adequados a faixa etria dos

estudantes. Para que haja uma compreenso crtica importante que o professor

tenha uma experincia de leitura e um senso crtico perante a obra estudada.

A partir da dcada de 1930, os romances passaram a priorizar a histria do

cotidiano urbano e regionalista do pas, visando os gneros mais apreciados pelos

alunos tais como: o humor, o policial, a fico cientfica, a fico psicolgica e a

aventura.

Aguiar e Bordini definem a parceria que h entre o Cnone e contemporneo:

O ideal seria o cotejo de obras de diferentes pocas, para acompanhar a evoluo e

mudanas de perspectiva que, de certo modo, tambm integram o significado do

texto atual (1988 p.37). Diante da mesma perspectiva, Cosson diferencia o

contemporneo do atual: Obras contemporneas so aquelas escritas e publicadas

em meu tempo e obras atuais so aquelas que tm significado para mim em meu

tempo (2014, p.34).

Outra observao relevante a de Anne Rouxel: importante tambm propor

obras das quais eles extrairo um ganho simultaneamente tico e esttico, obras

cujo contedo existencial deixe marcas (2013 p.24).

o que est proposto no romance Galilia, pois a narrativa extremamente

arrebatadora, envolvendo trs primos que atravessam o serto para visitar seu av,

patriarca, que definha na sede da fazenda Galilia. Mas, o que os espera um local

de segredos e traies. Por mais que os primos tenham se distanciado da violncia

que ronda a famlia, eles voltaram a senti-la de perto, descobrindo que nunca

escaparam o destino que os cerca.

Ronaldo Correia de Brito nasceu no Cear e mora em Recife. mdico

formado pela Universidade Federal de Pernambuco. Desenvolveu pesquisas e

escreveu diversos textos sobre literatura oral e brinquedos de tradio popular, alm

de ter sido escritor residente da Universidade da Califrnia, em Berkeley, no ano de

2007. Escreveu os livros de contos As noites e os dias (1997), Faca (2003), Livros

dos homens (2005), O pavo misterioso (2004), e o romance Galilia (2009).

Dramaturgo autor das peas Baile do menino deus, Bandeira de So Joo e

Arlequim.

2.6- O gnero Romance

A origem deste gnero narrativo remonta Idade Mdia, mas a forma atual

desenvolveu-se desde o sculo XVIII. , no entanto, no sculo XIX que ele teve sua

propagao enquanto gnero literrio. No sculo XX, o romance moderno

definitivamente alcana sua consolidao permanecendo at os dias de hoje e

revelando-se como um dos gneros mais lido da literatura.

Todo romance se origina de acontecimentos que so organizados em uma

sequncia temporal. Trata-se de uma narrativa longa, geralmente estruturada em

captulos, compondo-se por vrios personagens, em torno dos quais acontecem as

aes espaciais e temporais que constituem o enredo.

Alguns dos tipos de romances mais conhecidos na Literatura Brasileira so:

Romance Urbano: retrata a vida social das grandes cidades, tem como

enfoque intrigas amorosas, traies e vrios problemas sociais comuns a

esse ambiente.

Romance Regionalista: aborda questes sociais a respeito de determinadas

regies do Brasil, suas caractersticas, personagens com seus linguajares

tpicos.

Romance Histrico: destaca a vida e costumes de certa poca e lugar da

histria. Faz uma mescla entre fatos realmente ocorridos e fatos fictcios.

As narrativas estruturam-se sobre cinco elementos principais: enredo,

personagens, tempo, espao e narrador. As aes so segmentos narrativos com

princpio, meio e fim e podem ser divididos em:

Situao inicial: o momento do texto em que o narrador apresenta as

personagens, o cenrio, o tempo e situa o leitor nos fatos.

Desenvolvimento: o momento que a situao inicial quebrada atravs do

conflito para que a ao se desenvolva.

Clmax: momento de maior intensidade dramtica da narrativa. o momento

que o conflito fica insustentvel, algo tem de ser feito para solucion-lo.

Desfecho: como a situao se resolve no final da narrativa.

Aqui, a fim de instrumentalizar o professor para uma anlise bsica dos

elementos que constituem, portanto, o texto narrativo, indica-se breve conceituao

de cada um deles:

Personagem:

Protagonista: personagem principal que desempenha um papel central a sua

atuao fundamental para o desenvolvimento da ao.

Antagonista: que atua em sentido oposto; adversrio ou oponente.

Personagem que contra algum ou algo.

Personagem secundria: assume um papel de menor relevo que o

protagonista, sendo importante para o desenrolar da ao.

Figurante: tem um papel irrelevante no desenrolar da ao tem o papel de

ilustrar o ambiente ou o espao social de que representante.

Tempo

Tempo cronolgico: o tempo em que a ao acontece.

Tempo histrico: refere-se poca ou momento histrico em que a ao se

desenrola.

Tempo psicolgico: um tempo subjetivo, vivido ou sentido pela personagem

com seus estados de esprito.

Tempo do discurso: resulta da elaborao do tempo da histria pelo narrador.

Espao

Espao fsico: o espao real, que serve de cenrio ao, onde as

personagens se movem.

Espao social: constitudo pelo ambiente social, representado, pelas

personagens figurantes.

Espao psicolgico: espao interior da personagem, abarcando as suas

vivncias, os seus pensamentos e sentimentos.

Foco Narrativo

Narrador em primeira pessoa:

Narrador personagem: alm de contar a histria em primeira pessoa, faz

parte dela, sendo por isso chamado de personagem. marcado por

caractersticas subjetivas, opinies em relao aos fatos ocorridos.

Narrador-protagonista: o narrador a personagem principal da histria.

Todos os acontecimentos giram em torno de si mesmo, e por isso a narrativa

mais impregnada de subjetividade.

Narrador-testemunha: uma das personagens que vivem a histria contada,

mas no a personagem principal. Tambm registra os acontecimentos sob

uma tica individual e sem sobre carga emocional.

Narrador em terceira pessoa:

Narrador onisciente: aquele que sabe de tudo, conhece os aspectos da

histria e de seus personagens descrevendo seus pensamentos e

sentimentos, assim como pode tambm descrever os acontecimentos em

locais diferentes ao mesmo tempo.

Narrador-observador: o que presencia a histria, mas ao contrrio do

onisciente no tem a viso de tudo. No participa das aes nem tem

conhecimento a respeito da vida, pensamentos, sentimentos ou

personalidade das personagens.

3- ENCAMINHAMENTOS METODOLGICOS

Nessa unidade didtica prope-se a execuo de uma sequncia didtica de

leitura denominada por Cosson de Sequncia Expandida, a ser aplicada no ensino

mdio, com uma turma do 2 ano, a partir da leitura do romance Galilia, de

Ronaldo Correia de Brito.

A sequncia se estrutura em etapas: a motivao, que introduz o aluno no

universo do livro; a introduo, que a apresentao da obra, do autor e do prazo

estipulados da leitura; a leitura a etapa na qual acontecem os intervalos e so

acrescentados outros gneros textuais para compreender a obra; a primeira

interpretao a apreenso global da obra, momento em que o aluno expressa o

seu depoimento da leitura realizada; as contextualizaes, que podem ser a terica,

a histrica, a estilstica, a potica, a crtica, a presentificadora ou a temtica; a

segunda interpretao, que a leitura aprofundada da obra; e a expanso, que

busca dialogar entre a obra e outros textos contemporneos ou cnones a serem

indicados pelo professor.

3.1 Sugestes de Atividades

SEQUNCIA EXPANDIDA/ LETRAMENTO LITERRIO

(RILDO COSSON)

Leitura Escolhida GALILIA Ronaldo Correia de Brito

As atividades subsequentes sero realizadas para os alunos do 2 ano do ensino mdio, com uma estimativa aproximada de 32 aulas.

1 ETAPA: MOTIVAO

Tempo: 02 (aulas)

http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=70&evento=2

Objetivo: Introduzir os alunos no universo do romance Galilia, a partir da temtica

da migrao.

Atividade 01:

Problematizar junto aos alunos a origem da comunidade pelos nordestinos.

Propor a eles que respondam algumas perguntas oralmente:

a) Vocs conhecem pessoas que vieram de outras regies do pas?

b) H em suas famlias pessoas que so naturais do nordeste?

c) Quais foram os motivos possveis que levaram essas pessoas a deixarem seu

http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=70&evento=2

lugar e virem para c?

Atividade 02:

O professor, logo aps as respostas dos alunos, ir apresentar um convidado de origem nordestina para relatar a sua origem e como este chegou comunidade, fazendo com que os alunos se sintam motivados para a prxima atividade, que dever ser uma entrevista com a comunidade de famlias nordestinas. Que ser realizada extraclasse.

2 ETAPA: INTRODUO

Tempo: 3 (aulas)

Atividade 01:

O professor realizar uma sondagem para verificar se os alunos conhecem o gnero entrevista, se eles conhecerem ir apenas fazer uma reviso sobre o assunto, mas, se os alunos no conhecerem, ele ir trabalhar com o assunto atravs de textos, e vdeos de entrevista. Logo aps os alunos sero divididos em grupos e formularo um questionrio com dez perguntas para a realizao da entrevista com a comunidade. A apresentao ser realizada oralmente.

Atividade 02:

Neste momento, o professor questiona os alunos sobre as suas possveis

leituras, oportunizando uma exposio oral.

a) Qual sua experincia pessoal de leitura?

b) O que voc gosta de ler?

c) Onde voc gosta de ler?

d) Como voc acha que deveria ser o espao ideal para a leitura?