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IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRACOIMBRA UNIVERSITY PRESS
NARRATIVA E MEDIA GÉNEROS, FIGURAS E CONTEXTOS
ANA TERESA PEIXINHOBRUNO ARAÚJOEDITORES E ORGANIZADORES
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CAMINHOS NARRATIVOS:
UM PERSONAGEM: O BRASILEIRO
Célia Maria Ladeira Mota
Programa de Pós-graduação
Faculdade de Comunicação, UnB
Leylianne Alves Vieira
Programa de Pós-graduação
Faculdade de Comunicação, UnB
No livro Morfologia do Conto Maravilhoso, o autor, Vladimir Propp
(1970), nos dá uma definição simples e clara sobre o personagem e
sua função: é o ser que realiza uma ação que é a base da intriga de
um conto. Personagem é, assim, o ser humano em movimento, seja
na vida pessoal, individual, seja nas narrativas ficcionais ou nos re-
latos jornalísticos. Sua participação num relato viabiliza detalhes de
descrição física ou social e determina a interação com grupos sociais.
É a partir da vivência do personagem que os relatos ganham vida e se
tornam fonte para os narradores. O ponto de partida para a análise
de personagens é, portanto, o mundo da vida, uma expressão que
define a experiência vivida.
Neste artigo, analisamos a caracterização de um personagem como
é concebida em dois gêneros narrativos: o ficcional e o jornalístico.
Vamos observar como o brasileiro é representado em Macunaíma,
DOI | https://doi.org/10.14195/978-989-26-1324-6_11
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na obra de Mário de Andrade, e na reportagem da revista Realidade
“O canavial esmaga o homem”, que conta a saga de Gregório, um
trabalhador de engenho. O foco é perceber as subjetividades dos
relatos e os contrastes entre a fantasia e a realidade e compreender
os significados construídos. São representações da identidade do
brasileiro que têm sua origem em duas matrizes culturais que her-
damos dos portugueses: a aventura e o trabalho.
O caminho teórico é o da Análise Crítica da Narrativa, como
proposta por Motta, para quem “esta análise é um caminho rumo
ao significado e o significado é uma relação: não há significado sem
algum tipo de troca (Motta, 2013: 121). Investigando as jornadas dos
dois personagens e os acontecimentos nos quais se envolvem, de
acordo com o ciclo do herói proposto por Campbell (2007), a análise
estuda os significados que emergem de práticas culturais que têm
raízes históricas e que até hoje contribuem para uma certa ambigui-
dade na concepção do personagem brasileiro.
O personagem: um ator?
A vida nada mais é do que uma sombra, um pobre ator que se
pavoneia no palco, e então não é mais ouvido. É uma estória
contada por um idiota, cheia de som e fúria, que significa
nada. (Shakespeare, em Macbeth).
Ao se basear em personagens fictícios que reproduzem as re-
lações de poder e as intrigas de cortes europeias do século XVII,
Shakespeare coloca considerações filosóficas nas falas dos atores. Seus
textos se dividem entre relatos de acontecimentos trágicos e falas,
monólogos e diálogos, que buscam oferecer um significado para os
fatos. Para Shakespeare, o drama, cheio de som e fúria, terminava
quase sempre com a morte. Suas concepções lembram Platão que,
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