não-lugar do outro sistemas migratórios e transformações sociais na amazõnia

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O não-lugar do outro Sistemas migratórios e transformações sociais em Barcarena Tese de doutorado Marcel Hazeu Orientadora: Dra. Edna Castro 2015 Julio Cesar Rossi, 2008

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Apresentação da tese de doutorado em 30 de março de 2015, no NAEA, UFPa, Belém do Pará

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Page 1: Não-lugar Do Outro Sistemas Migratórios e Transformações Sociais Na Amazõnia

O não-lugar do outro Sistemas migratórios e

transformações sociais em Barcarena

Tese de doutorado

Marcel Hazeu

Orientadora: Dra. Edna Castro

2015

Julio Cesar Rossi, 2008

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• Objetivo: identificar as forças estruturantes em Barcarena atrás das transformações sociais

– visualizando estratégias e trajetórias migratórias na organização das comunidades e famílias pobres e as estratégias estatais e empresariais para influenciar as dinâmicas migratórias

• Hipótese central: a análise de sistemas migratórios contribui na compreensão das transformações sociais numa localidade concreta no contexto da globalização

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Metodologia • Relacionar pesquisa migratória à análise de como

sociedades contemporâneas estão sendo transformadas pela globalização neoliberal (Stephen Castles)

• Análise crítica

• Formação social de Barcarena

• Vivência dos agentes no território

• População tradicional e migrante; Empresas; Estado

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Recortes territoriais • Distrito Industrial; Área portuária de Vila do Conde; Área do plano

urbanístico; Área de reassentamento; Área indiretamente atingida – 12 comunidades

• Pontos de conexão de fluxos: portos, vias, postos de gasolina, barcos, balsas

Mapear e sistematizar fluxos e mobilidades: • Fluxos de pessoas • Dinâmicas familiares • Fluxos de mercadorias e trabalhadores de transporte Identificar Dinâmicas e conflitos • Identificar forças, contradições e conflitos que estruturam as

mobilidades como sistemas migratórios Analisar as Transformações sociais • Qualificar a lógica estruturante das transformações sociais e quantificar

sua dimensão a partir dos sistemas migratórios identificados.

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Teorias migratórias e transformações sociais

• Transformações sociais são resultados de conflitos e disputas sociais (Marx, Polanyi, Castles)

• Sistemas migratórios se organizam dentro dos processos de transformações sociais (Sassen, Castles, Sayad, Balandier, Gaudemar)

• Mobilidades, fluxos e redes são componentes de sistemas migratórios (Haesbaert, Marandola Jr., Sheller)

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História social de Barcarena (THOMPSON)

• sistemas migratórios

– Indígena: redes, aldeias, nômades

– colonial imperialista: portugueses, indígenas e africanos - aldeamento e escravidão

– resistência quilombola;

– de guerra: cabanagem

– de regatão e pendular: cachaça e extrativismo

– ribeirinho metropolitano: domésticas, pescadores e agricultores

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Programa Grande Carajás em Barcarena

• Ocupação e internacionalização da Amazônia através da exploração de suas riquezas

• Polo industrial-portuário-urbanístico: alumínio

• Estado e Capital desenhando um futuro

• Considerando a população local para “desaparecer”

• Deslocamentos, alojamentos e migrantes

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Sistemas migratórios e o complexo industrial-portuário-urbanístico

• METROPOLIZAÇÃO

• CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS

• MOBILIDADE DO TRABALHO

• DES-RE-APROPRIAÇÕES

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Metropolização

• Movimentos pendulares e periferização

• Vila dos Cabanos e seu abandono, espaços vazios

• Investimentos no transporte

• Trabalhadores sem relação territorial

• Sem investimentos em serviços

(Milton Santos, Firkowski, Lencione, Melchior)

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Vias de circulação Belém - Barcarena

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Mobilidade do trabalho

• Subcontratação, temporalidade, superexploração • Circulação dos trabalhadores – desterritorialização • Inserção da população de Barcarena – mas não em

Barcarena

• PAC, IIRSA e BNDES definem os destinos

• SADIA

(Gaudemar, Castro, Haesbaert, Ruy Marini)

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Circulação de produtos

• Barcarena “centro de exportação”,

conectando com o mundo

• Trabalhadores de transporte com relações de superexploração de trabalho

• Sem inserção de trabalhadores locais

• Criando um movimento econômico marginal (alimentação e diversão)

(URRY, SHELLER, CRESWELL, MARANDOLA JR)

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Des-re-apropriações

Desterritorialização constante Fase 1: Implantação do complexo portuário-industrial-urbanístico Fase 2: novas industrias, projetos e zoneamentos: Distrito Industrial; Área portuária... Ferrovia? Gasoduto? Outros portos? • Caulim (Imerys), Ferro Guso (Usipar), Aluminio (ABC/CAP), Coque

(Tecop) • Portos: Bunge, Hidrovias (Soja)

– Retomada e conflitos na área do planejamento urbanística: ocupações, quilombolas

– Grupo de trabalho distrito industrial – Abandono dos antigos reassentamentos

(Vainer, Alfredo Wagner Almeida, Nobrega, Sônia Magalhaes, Haesbaert)

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• Desapropriações e deslocamentos forçados, sem planejamento para o futura das familias

• Estado; Estado/Empresa; Empresa • Com/sem reassentamento – compra e venda • Ameaça permanente • Desapropriado sem ocupação efetiva (usipar, cap,

zpe) • Desterritorialização físico e simbólico:

Este lugar não é (mais) seu lugar. Vocês são “os outros” neste “novo nosso lugar”.

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Estratégias • CDI, Codebar, SPU e Iterpa, em nome da

empresas: estruturam os processos de desapropriações

– O comprador, ditando o valor do bem ao vendedor

– Discurso da inevitabilidade

– Argumentação cientifica racional objetiva

– Normatização legal e jurídica

– Orçamento vinculado

– Força física e uso da violência

– A poluição como fator “surpresa”

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Centro ou periferia?

• Barcarena no centro dos movimentos econômicos e sociais?

• Cada mobilidade tem seu centro de decisão, de domínio, de hegemonia, longe de Barcarena.

• Onde se definem – quem serão deslocados das suas terras – como se organiza a moradia e transporte dos trabalhadores – quais recursos serão explorados e exportados; – quais os caminhões e navios serão contratados – para onde os produtos serão levados.

• O fluxo de decisões e imposição de poder deixam Barcarena na periferia.

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Desterritorialização:

• Inserção precária no mercado do trabalho local

• Degradação condições de vida e insegurança de moradia,

• Caminhoneiros, marinheiros e trabalhadores temporários ou pendulares de outros municípios – Barcarena lugar de trabalho, ganhar dinheiro e diversão

e que também vivem superxplorado

• Saída de trabalhadores de Barcarena, vivendo uma realidade familiar separada, convivência esporádica, insegurança, saudades e de superexploração

Page 22: Não-lugar Do Outro Sistemas Migratórios e Transformações Sociais Na Amazõnia

O rosto do “desenvolvimento”

• Sem preocupação com o destino e futuro das pessoas (desapropriadas)

– Empresas que avançaram com discursos e

projetos de responsabilidade social

– Governo que avançou com discursos de políticas sociais e programas sociais

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Caminhando...

• Reverter ou inverter a relação de forças em torno dos planos e políticas voltados para o território de Barcarena. – O poder tem que se centrar no município, incluir sob

sua responsabilidade o poder de ordenamento territorial participativo de todo município.

• Abandono dos planos elaborados nos anos de 1970 e 1980 – o regime político mudou de uma ditadura para uma

democracia – o próprio poder público e as empresas já

abandonaram os seus planos originais

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• Fortalecer um espaço que discute o destino do território e da sua população

– Expandido e fortalecido, com ampla participação

– Foco na elaboração de planos de permanência, assentamento, reassentamento, qualidade de moradia, trabalho e renda, indenizações

– Garantir os direitos das famílias ameaçados, vivendo ou ter vivido deslocamentos e reassentamentos, inclusive aquelas dos primeiros deslocamentos.

Empresas e portos não são um destino inevitável e natural

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Talvez assim ainda haverá terra para plantar neste verão...

OBRIGADO!

(parafraseando

José de Souza Martins)