não foi um sonho

98

Upload: editora-bahai-do-brasil

Post on 26-Mar-2016

247 views

Category:

Documents


18 download

DESCRIPTION

Queridos leitores, o conjunto de relatos que compõem este livro, foram escritos por pessoas diferentes que certamente tiveram emoções diferenciadas, mas que, ao final, constitui um único texto. São as aventuras de alguns membros do Corpo Auxiliar que foram convidados para a inauguração do Centro Internacional de Ensino no Monte Carmelo. Suas viagens, impressões e sentimentos.

TRANSCRIPT

Page 1: Não Foi um Sonho
Page 2: Não Foi um Sonho
Page 3: Não Foi um Sonho

I

Não foi umSonho...

Page 4: Não Foi um Sonho

II

Page 5: Não Foi um Sonho

III

Não foi umSonho...

Conceição de Maria Moreira Batista

EDITORA

Page 6: Não Foi um Sonho

IV

2001Todos os direitos reservados:

EDITORA

Editora Bahá’í do BrasilC.P. 198

13800-970 - Mogi Mirim - SP

www.bahai.org.br/editora

1ª. EDIÇÃO: 2001

Capa: Gustavo Pallone de Figueiredo

Impressão: R. Vieira Gráfica e Editora Ltda

Campinas

!

Page 7: Não Foi um Sonho

V

Dedico:

Aos nossos pais, pela vida que nos deram,à Casa Universal de Justiça e

a Deus pela Sua Misericórdia Eterna.

Page 8: Não Foi um Sonho

VI

Agradecimentos:

Ao Conselheiro Gabriel Marques, àConselheira Catarina Monajjem eaos Membros do CentroInternacional de Ensino: Dr.Fereidoou Javaheri,Sr. Rolf Von Czékus eSr. Kaiser Barnes.

Page 9: Não Foi um Sonho

VII

Índice

Introdução XI

por Aneri Santiago 3

por Bárbara Rothschild 11

por Conceição de Maria M. Batista 19

por Diógenes Andrade 29

por Guitty Masrour Milani 35

por Maria Antonia Gonçalves 41

por Maria de Fátima F. de Faria Fernandes 47

por Touba Maani Hessari 59

por Valdeci de Jesus Rosa 67

Conclusão 69

Apêndice 72*Relatos por ordem alfabética

*

Page 10: Não Foi um Sonho

VIII

Page 11: Não Foi um Sonho

IX

�“Apressa-te ó Carmelo,pois eis a luz do

semblante de Deus,Quem rege o

Reino dos Nomese moldou os céus

sobre ti se ergueu.

Bahá�’u�’lláh

�”

Page 12: Não Foi um Sonho

X

Page 13: Não Foi um Sonho

XI

Introdução

A aventura teve início com o anúncio de que seríamosconvidados para a inauguração do Centro Internacional de Ensinono Monte Carmelo. Inicialmente o comentário corria de um paraoutro Membro do Corpo Auxiliar. Por fim, o anúncio de quereceberíamos uma carta convite da Casa Universal de Justiça.

Durante alguns meses, ficamos falando no assunto comocrianças, cheias de um misto de ansiedade e temor de não poderviajar, isto para aqueles de poder aquisitivo mais baixo, no qualestou inserida.

Transcrevo a carta na sua íntegra para que tenhas idéia danossa emoção ao recebê-la.

1 de junho de 2000

�“A todos os Membros do Corpo Auxiliar

Queridos amigos bahá�’ís,

É com muita alegria e felicidade queestendemos a cada um de vocês o convite da CasaUniversal de Justiça para participar da conferência

que marcará a inauguração do edifício do Centro

Page 14: Não Foi um Sonho

XII

NÃO FOI UM SONHO...

Internacional de Ensino, no Centro Mundial Bahá�’í,de 8 de janeiro - segunda-feira, a 17 de janeiro de2001 - quarta-feira. Vocês estarão se reunindo comos Conselheiros Continentais na Terra Santa nestahistórica ocasião.

O registro será feito em 8 de janeiro. Na terça-feira pela manhã, dia 9 de janeiro, vocês iniciarãoum infinitamente precioso programa de cinco diaspara visitar os Sepulcros e os Lugares Sagrados, queserão imediatamente seguidos por uma conferênciamarcando a inauguração do edifício do CentroInternacional de Ensino. Para organizarmos estaperegrinação especial, recomendamos que todosplanejem o seu itinerário, a fim de chegar em tempo,para que possam participar do programa inteiro.

Favor observar que este convite é apenas paraos Membros do Corpo Auxiliar; nenhum outrovisitante bahá�’í terá permissão para vir a Israeldurante este período.

Pedimos que todos cheguem em Haifa aoentardecer da segunda-feira, e devem deixar asproximidades de Haifa ao pôr do sol de quarta-feira,dia 17 de janeiro. Quem precisar ter flexibilidadeextra, devido ao seu vôo, é benvindo para passarum tempo a mais na Terra Santa, fora da área deHaifa/Akká, tanto antes quanto depois de 8 a 17 dejaneiro.

Junto desta carta vai um livreto, um formuláriode registro, e outros materiais pertinentes aoseventos da inauguração. Importantes informaçõesserão encontradas no livreto, a respeito de suaparticipação. Informações adicionais para facilitarseu comparecimento foi providenciado a cada

Page 15: Não Foi um Sonho

XIII

INTRODUÇÃO

Conselheiro do Corpo Continental. Durante oregistro receberão o horário detalhado dos eventose um pacote com informações.

Devido à aproximação de janeiro de 2001, nósproveremos aos Corpos Continentais novasinformações. Por favor, dirijam quaisquer dúvidasao seu Conselheiro do Corpo Continental.

Estejam certos de nossas preces nos LimiaresSagrados pela continuação de seu serviço a SuaPoderosa Causa.

com amorosas saudações bahá�’ís,

assinado Centro Internacional de Ensino

cc: Mãos da Causa de Deus; todos os Conselheiros Continentais.

Compreender a importância desse convite faz-se necessáriauma retrospectiva de alguns fatos históricos da nossa amada Causa.

Os Membros do Corpo Auxiliar foram indicados pela primeiravez durante o Ridván de 1954, portanto quatorze anos antes deser instituído O Corpo Continental de Conselheiros. Naquele anoo Guardião anunciava:

CONVOCO AS QUINZE MÃOS CINCO CONTINENTES, VIRTUDE

SUA SUPREMA FUNÇÃO COMO INSTRUMENTO, ESCOLHIDOS

PROPAGAÇÃO FÉ, INAUGURAREM HISTÓRICA MISSÃO

ATRAVÉS INDICAÇÃO, DURANTE RIDVÁN, 1954, CINCO

CORPOS AUXILIARES...

Page 16: Não Foi um Sonho

XIV

NÃO FOI UM SONHO...

Assim, estavam indicados pelas Mãos da Causa, os primeirosMembros do Corpo Auxiliar que tinham como tarefa fortalecer oserviço de ensino. O Guardião diz com suas próprias palavras quedeixaria o período de função e os detalhes em relação aofuncionamento dos Membros do Corpo Auxiliar a cargo das Mãosda Causa residentes fora da Terra Santa.

A Casa Universal de Justiça, em um telegrama de 5 de junhode 1973 afirma:

ANUNCIAMOS ESTABELECIMENTO TERRA SANTA

LONGAMENTE PREVISTO CENTRO INTERNACIONAL DE

ENSINO DESTINADO TORNA-SE UMA DAQUELAS

INSTITUIÇÕES ADMINISTRATIVAS QUE ABALARÃO E DIRIGIRÃO

O MUNDO, ORDENADAS POR BAHÁ�’U�’LLÁH PREVISTA POR

�‘ABDU�’L-BAHÁ ELUCIDADAS POR SHOGHI EFFENDI.

Em outra mensagem de 8 de julho de 1973 a Casa anuncia:

“Este Centro Internacional, agora estabelecidofuncionará em seu devido tempo, naquele edifício designadopelo Guardião como a sede para as Mãos da Causa, o qualhá de ser erigido sobre o arco no Monte Carmelo, nasproximidades da sede da Casa Universal de Justiça.”

Ao longo de décadas, ocorreram muitas transformações e aOrdem Administrativa da Causa caminhou a passos largos para oamadurecimento. Nesse processo de evolução das Instituições os

Page 17: Não Foi um Sonho

XV

INTRODUÇÃO

setenta e dois Membros do Corpo Auxiliar que haviam por ocasiãodo passamento de Shoghi Effendi chegaram a novecentos e noventa.Portanto os novecentos e noventa foram convidados a irem à TerraSanta para a Inauguração do Edifício do Centro Internacional deEnsino. Lá estavam 849 de 172 países, personificando a assertivada Casa Universal de Justiça em sua mensagem de 14 de janeirode 2001.

“Em vocês, os Membros do Corpo Auxiliar aquireunidos, está refletido todo o mundo da humanidade.Vocês vieram de remotas regiões geográficas epassados culturais o que torna vocês verdadeiramenterepresentativos da variedade da família humana.”

Queridos leitores, o conjunto de relatos que compõem estelivro, foram escritos por pessoas diferentes que certamente tiveramemoções diferenciadas, mas que, ao final, constitui um único texto.

Page 18: Não Foi um Sonho

XVI

Page 19: Não Foi um Sonho

XVII

Não foi umSonho...

Page 20: Não Foi um Sonho

XVIII

Page 21: Não Foi um Sonho

1

por Aneri Santiago

Page 22: Não Foi um Sonho

2

Page 23: Não Foi um Sonho

3

ANERI SANTIAGO

Minha Viagem à Casa do Pai

Encontrei meus amigos de viagem à Terra Santa em São Paulo,e todos estávamos tão felizes! Mas, eu especialmente estava muitocansada. Os dias antes de viajar foram muito desgastantes. Pareceque Deus havia me colocado em um triturador de alma; minhaaparência era irreconhecível. Leny de Lamuta me perguntou se euestava bem, pois minha aparência era estranha. Em Guarulhos,quando estávamos entrando no avião, a polícia federal me parouna frente de todos e me revistou. Isso me confirmou o que medisse a querida Leny.

Ao chegar à Terra Santa, minha bagagem, a de Jorge Muniz,a de Glória e Diógenes foram perdidas; elas só chegaram doisdias depois pela manhã.

Ao entrar no Santuário do Abençoado Báb pela primeira vez,não conseguir ficar lá muito tempo, pois minhas lágrimas jorravamtorrencialmente pela minha face! Lamentei-me e saí em prantos, aguardiã do Santuário me olhou com tanto carinho e me ofereceulenços de papel. Então, fui dar a volta no Santuário e lá atrás,onde ninguém podia me ver, ajoelhei-me no solo e me curvei edepois deitei me em reverência. As lágrimas me jorraram maisintensamente, e em meus lábios estavam as palavras: Obrigado,obrigado! Não me tires por justiça o que me deste por graça! Ecomo amante eu sussurrava: eu Te amo!

Page 24: Não Foi um Sonho

4

NÃO FOI UM SONHO...

Então compreendi que minhas lágrimas eram de gratidão e omesmo se repetiu no Santuário da Abençoada Beleza, quando anossa guia veio amorosamente me tirar do Santuário. Comecei aandar e quando faltavam dois metros da porta de saída, as lágrimas metomaram com aquele choro compulsivo que vem do centro do coração!

Voltei junto com alguns amigos pela Segunda vez ao Santuáriode Bahá’u’lláh e fiquei lá dentro, mais que uma hora, e eu tinhatanta vontade de me jogar no chão em súplica, tive a sorte de ir aoquarto que está dentro do Santuário, e conseguir realizar minhasúplica. Neste dia me vesti em preto e vermelho. O preto emhomenagem aos estandartes negro dos Mártires, e o vermelhopara lembrar o sacrifício deles no caminho do Bem Amado. Apósconhecer a casa de Bahjí, andei pelos jardins, com a nítida sensaçãoque estava caminhando no céu. Tentava pensar, mas em minhacabeça não ficavam pensamentos, eu era só sentimentos,sentimentos de gratidão por tanta graça, eu sentia o céu dentro demim e a minha volta.

Subindo para o Céu

Chegou o dia de subir os patamares e a mim coube o horáriode oito horas. Após ter visto com que rapidez que tinha sidoconcluído o primeiro patamar. Lá estávamos, cada um de um lugardiferente da Terra, com toda nossa beleza e diversidade, erarealmente uma cena impressionante! Foi avisado para não falar,só cumprimentar com um sorriso.

Page 25: Não Foi um Sonho

5

ANERI SANTIAGO

Depois de subir o primeiro patamar, lá estava aquele senhoriraniano, com seu jeito meigo e forte, nos explicando a visão deShoghi Effendi, e outras coisas. Em seguida começamos a subir, eem cada patamar havia uma centena de anjos invisíveis, e doisvisíveis com um lindo sorriso para nos ajudar no que precisássemos.

À medida que eu ia subindo, ia dedicando a cada amigo, filhos,pais, ajudantes e comunidades. Depois me lembrei de um sonhoem que eu subia as escadas para o céu. Logo me lembrei da poesiade Amatu’l-Bahá que diz:

Ó Deus Altíssimo! Três coisas eu Te dei:Amor, lealdade e esforço, e nisso eu não falhei.

Porém ó Bem Amado, quantos pecados seentramaram em meus esforços! Quanta indignidademesclada em cada átomo de meu amor! Que pobrea lealdade! Dada com toda a afeição que eu tinha!Mas pode alguém dar mais do que o que ele possui?Cada flor desabrocha conforme sua natureza; cadalâmpada brilha Sua própria medida de óleo. Ah,fosse eu de melhor natureza e o tesouro á Tua portaseria de jóias com brilho de estrelas! Como umacriança que brinca ao lado da vastidão do oceanoe reúne suas conchas e seixos- sua pequena loja -no encontro das ondas com praia, e traz essesbrindes de bugigangas para o colo de sua mãe,assim eu trouxe a Ti tudo que eu tinha! Ó Deusaceita-o em Tua graça, perdoa Tua filha e toma-a

em Teus braços!

Page 26: Não Foi um Sonho

6

NÃO FOI UM SONHO...

Enquanto pensava nisso, vi uma senhora com uma grandesacola subindo os patamares. Subitamente peguei a sacola comosímbolo de meus pecados, para tornar minha subida mais dura,pois realmente sei que nossos pecados tornam nossos passos maislentos no caminho de Deus.

Ao chegar ao décimo oitavo patamar já tinha vontade de beijaro chão, mas me segurei. Quando cheguei ao décimo nono me jogueiao chão e beijei o último degrau em gratidão ao Bem Amado porTer me concedido a graça de pela segunda vez subir aquelas escadas,ser chamada de Sua serva e por me haver concedido a honra, eutão fraca, estar entre aos seus servos fortes, de estar naquele lugarabençoado e neste evento tão ímpar na historia desta Causa.

Pela Segunda vez circundei o Santuário do Bem Amado Báb.Desta vez com os Membros do Corpo Auxiliar do mundo, aemoção daquele momento não posso transformar em palavras.Aquele ambiente, aquela reverência, aquelas lágrimas, os amigos,de joelhos. Mesmo que fosse em pensamento, foi realmente ummomento celestial!

Ainda em silêncio subimos em procissão para o CentroInternacional de Ensino, onde nos encantamos com a simplicidadee nobreza combinada de todos os lindos prédios das construçõesdo Arco. Lá, após conhecer o prédio e desfrutarmos da cortesiados anjos do Carmelo, tivemos um lanche natural na companhiados amigos do mundo e fomos para o início da conferência de trêsdias na sede da Casa Universal de Justiça.

Na noite anterior ao último dia da conferência tive um lindo ecomovedor sonho!

Page 27: Não Foi um Sonho

7

ANERI SANTIAGO

Sonhei que estava orando no jardim em Bahjí e logo apósminhas orações entrava na casa de Bahjí e a porteira da casa dizia:temos uma surpresa! Eu olhava em volta e via a Abençoadapresença de Bahá’u’lláh descendo as escadas e atrás Dele, oMestre e o Guardião. Ele presenteava a dois artistas presentes ese dirigia a mim com algumas palavras e me presenteava um cartãocom a imagem do Sol, e dentro tinha uma linda poesia de amorcom ornamentos de Mishkín- Qalam (distinto calígrafo ecompanheiro de exílio de Bahá’u’lláh).

No dia seguinte eu vi o significado deste sonho. Quando nofinal da conferência a Casa Universal de Justiça desceu as escadase leu para nós uma verdadeira carta de amor à humanidade. Acarta que entra na história como a carta de 16 de janeiro de 2001,anunciando que havia chegado a Quinta Época da Idade Formativa.O meu choro, no sonho, era representado pelo choro que todosnós, os Conselheiros e os Membros de Corpo Auxiliar do mundo,deixamos brotar em nossa face naquele momento grandioso.

Louvado seja Deus por aqueles dias extraordinários, louvadoseja Deus por nos conceder a graça de provarmos do Seu doceamor!

Enquanto um membro da Casa Universal de Justiça estavalendo, um silêncio do outro mundo invadia a sala e quando foianunciado que o mundo bahá´í havia entrado na quinta época um...ohhhhhhh!..., tomou conta do salão. Foi realmente transcendental,nada deste mundo! Após a leitura da carta e de uma Epístola de‘Abdu’l-Bahá, a Casa Universal de Justiça saiu e o sentimento eraque havia ficado vazio o salão - parecia um sentimento de

Page 28: Não Foi um Sonho

8

NÃO FOI UM SONHO...

esvaziamento muito forte, era como se a força, o poder tivessemido! Então todos começamos a nos abraçar e dizer: sejam bemvindos à Quinta Época da Idade Formativa. Foram realmente diasmemoráveis aqueles! Louvado seja Deus!

!

Page 29: Não Foi um Sonho

9

por Bárbara Rothschildpor Bárbara Rothschildpor Bárbara Rothschildpor Bárbara Rothschildpor Bárbara Rothschild

Page 30: Não Foi um Sonho

10

Page 31: Não Foi um Sonho

11

BÁRBARA ROTHSCHILD

Tudo começou quando a carta com data de 1o de junhode 2000 da Casa Universal de Justiça chegou, convidando a mime a todos os outros Membros do Corpo Auxiliar no mundo parairmos à Haifa. A ocasião era a abertura do Prédio do CentroInternacional de Ensino junto com o primeiro grupo de pessoas asubir os nove belos Terraços que levam ao Santuário do Báb.

Eu, é claro, havia lido nas escrituras bahá’ís que os Reis dofuturo tirariam suas coroas e subiriam aos Terraços, mas eu nuncaimaginei, nos meus sonhos mais ousados, que eu teria a honra deser uma das primeiras a fazê-lo.

A aventura começou ao voar para Israel. Eu estava viajandosozinha e, com o coração palpitante, cheguei a Tel Aviv. Imaginavacomo acharia a mesa de recepção e a equipe do Centro Mundial,que supostamente daria as boas-vindas aos MCA’s recém-chegados no dia 8 de janeiro. Esperando na fila para passar pelocontrole de passaporte, reparei em algumas pessoas à minha frenteque começaram a falar, rir e se abraçar! Então, as pessoas atrásdelas fizeram o mesmo, depois a senhora seguinte e assim pordiante até chegar a mim. Perguntei se eles eram bahá’ís chegandopara a Conferência de Haifa. Sim, eles declararam com sorrisosde alegria de onde eu era? Brasil! Oh! Brasil. Eles eram da Austrália,Nova Zelândia, E.U.A., Alemanha, Canadá e Hong Kong. Osoutros passageiros ficaram surpresos e curiosos, quando todos

Page 32: Não Foi um Sonho

12

NÃO FOI UM SONHO...

nós começamos a formar um grupo e a tirar fotos uns dos outros.Era um início perfeito para os nove dias na Terra Santa.

Para descrever tudo que aconteceu durante esta peregrinaçãohistórica, eu precisaria de um livro inteiro. Mas muitas ocasiõespreciosas permanecem na minha memória. Uma delas foi nasegunda tarde, na antiga Casa dos Peregrinos. Soube-se que o Sr.Ali Akbar Furútan, Mão da Causa de Deus, viria às 5:30h datarde para dar uma palestra. Todos os lugares foram rapidamenteocupados em torno da área central, e ninguém se moveu nas duashoras seguintes, com medo de perder estes assentos tão almejados.Ele chegou com grande dignidade e caminhou majestosamenteatravés da multidão silenciosa de Membros do Corpo Auxiliar atéo seu assento. Em poucos minutos, com seu relógio de bolso elenço na mão, ele fez todos rirem e ouvirem avidamente as suaspalavras de sabedoria, conselhos amorosos e antídotos. Nós todosamamos estar perto dele.

Aos 95 anos de idade, Sr. Furútan ainda é um palestrantecapaz e explicou a cada um de nós, homem, mulher ou criançabahá’í, que ensinar nossa Fé preciosa é nossa obrigação, não umaescolha. Suas palavras, mais todo o amor que a Casa Universalde Justiça estavam nos dando, nos tocaram para compreendermosa grande responsabilidade que eles estavam gentilmente colocandosobre nossos ombros. Este é certamente um momento muitoespecial.

Em outra dessas maravilhosas tardes, creio que o Sr. Furútanrecebeu um presente de alguns dos amigos. A delegação russa,em torno de dez, no total, estava sentada aos seus pés. Estas

Page 33: Não Foi um Sonho

13

BÁRBARA ROTHSCHILD

pessoas eram especiais para ele porque ele serviu como pioneirona Rússia e fala russo fluentemente. Quando este grupo agradávelcantou em coro uma canção russa, havia lágrimas em seus olhos enos de muitas outras pessoas, como eu mesma. É que em 1992,em Nova York, os russos não tinham permissão de sair do país.Só tínhamos notícias deles via satélite. Então, em Haifa, na TerraSanta, nesta ocasião especial, eles estavam conosco cantando emperfeita harmonia e sendo tão bem-vindos.

Nos primeiros cinco dias, enquanto os 87 Conselheirosmundiais estavam em conferência, os 847 Membros do CorpoAuxiliar foram divididos em grupos para as visitas peregrinasagendadas. Todos os dias, nós, os 25 brasileiros, nos juntávamosa pessoas de diferentes países. Visitamos Bahjí com os europeus.Em outro dia, estivemos com os africanos, e assim por diante e,em parte de cada dia, estávamos livres para visitar os Santuários econversar com novos amigos na nova Casa dos Peregrinos, ondedeliciosos biscoitos, chá, café e grandes vasilhas com laranjasestavam sempre esperando por nós. A cada dia, perguntávamosuns aos outros onde tínhamos ido hoje e aonde iríamos amanhã.Para minha grata surpresa, todos falavam em inglês perfeito! Osdestaques para nós foram a viagem para Bahjí e o Sepulcro deBahá’u’lláh, a visita ao prédio dos Arquivos e a contemplação dafoto do nosso amado Senhor em Sua digna moldura prateada edourada.

Antes de deixar o Brasil, eu havia dito aos bahá’ís que fariaorações especiais para eles nos Santuários, se eles me dessemseus desejos por escrito em um pedaço de papel. Bem, eu recebi

Page 34: Não Foi um Sonho

14

NÃO FOI UM SONHO...

muitos pedidos. Um deles foi um telefonema de um bahá’í, cujaesposa está doente, pedindo-me para trazer pétalas do Santuáriode Bahá’u’lláh para fazer chá para ela. Claro que prontamenteconcordei, mas foi muito mais fácil falar do que fazer. Duranteminha estada em Haifa, não vi e nem ouvi falar de alguém pegandoas pétalas que, algumas vezes, são ofertadas em outras visitas.Então, pensei: “bem, quando for a Bahjí, eu mesma as apanharei,só não sei onde.”

Eu tinha observado nos Santuários do Báb e ‘Abdu’l-Baháque, na soleira onde os peregrinos se ajoelham e apóiam suascabeças em reverência, as pétalas dispostas lá com tanto amor ecuidado artístico eram poucas, pois outras pessoas também tinhamtido a idéia de leva-las como recordação. Porém, no Santuário deBahá’u’lláh, eu senti uma reverência tão assoberbante que tiroutoda a minha coragem de apanhar as pétalas muito preciosas deum local tão sagrado, mas uma promessa é uma promessa.

O sábado, 15 de janeiro de 2001, chegou finalmente. O diapelo qual 1.000 pessoas de todos os cantos do mundo haviamvindo. Era o dia em que subiríamos os Terraços construídos comtanto amor, carinho e dedicação pelos bahá’ís do mundo. Deixamosnossos hotéis às 7:30h da manhã, para pegar o ônibus especial atéo pé do Monte Carmelo, para nos reunirmos no Terraço um. Odia foi mágico, com céu azul claro e sol quente. Sentimos queDeus estava sorrindo para nós. Não foram permitidas fotos. Cadapessoa subiu em silêncio, acompanhada pelos seus própriospensamentos, em meio à grande multidão no alto e segurando aMão de Deus. Parecia um sonho. Estávamos todos solitários, mas

Page 35: Não Foi um Sonho

15

BÁRBARA ROTHSCHILD

cheios de alegria em nossos corações. Uma etapa nas profeciasestava se tornando realidade! Um momento da história estava sendocriado! Choramos lágrimas de alegria e afirmamos nossa fé, nossocomprometimento com Bahá’u’lláh e nosso amor a Deus no céu,para que o mundo se torne tão feliz, tanto quanto todos nósestávamos naquele dia muito especial. Após a circunvolução aoSantuário do Báb, que nunca pareceu ser tão belo, seguimos emfila, lenta e silenciosamente, para o recém-construído CentroInternacional de Ensino, em um tour a este prédio magnífico. Maistarde, após as devoções finais, nos reunimos nos degraus em frenteà cúpula, iluminada de dourado, do Santuário do Báb, em contrastecom um céu crepuscular azul índigo, o Sr. Furútan entoou a Epístolade Visitação em árabe e o Sr. Glenford Mitchell, em inglês. Foi umentardecer muito especial com 1000 diferentes, mas unidos, bahá’ís,sob a bandeira da guia da Abençoada Beleza. Caminhamosdevagar pelos jardins em direção aos ônibus, não querendo queesse belo dia acabasse.

Caros leitores, vocês podem imaginar como estávamos nossentindo? Bem, ainda havia mais emoção e bênçãos por vir! Noúltimo dia da conferência, no hall central lotado da Casa Universalde Justiça, com os 9 membros da Casa Universal de Justiçapresentes, o Sr. Furútam e o Sr. Ali Muhammed Vaquá, as duasMãos da Causa de Deus remanescentes, os Conselheiros mundiaise 849 Membros do Corpo Auxiliar de todas as partes distantesdo globo, quando o Membro da Casa leu a última carta endereçadaaos bahá’ís do mundo e disse que um marco na história da FéBahá’í foi alcançado e declarou à audiência encantada a Quinta

Page 36: Não Foi um Sonho

16

NÃO FOI UM SONHO...

Época como na visão do nosso amado Guardião Shoghi Effendi.Este anúncio provocou uma ovação, de pé, com gritos de alegria,abraços, lágrimas e risos. Nunca esquecerei este dia histórico e ofato de que Deus me permitiu testemunhá-lo.

Em uma carta da Casa Universal de Justiça, um pouco antesde deixar o Brasil, foi sugerido que levássemos guarda-chuvaconosco para Haifa, pois janeiro era uma estação chuvosa. Noúltimo dia em que estávamos lá, mencionei este fato para um dosmembros permanentes no Centro Mundial. Nós estávamosrecordando o quão maravilhoso o tempo havia estado, céu azultodos os dias, sol e nenhum vento. Sim, disse esta querida senhora,até vocês chegarem, estava muito frio, úmido e com vento. O queestá nos preocupando é que amanhã vocês todos estarãoretornando para casa.

Foi extremamente difícil dizer adeus.

!

Page 37: Não Foi um Sonho

17

por Conceição de Mariapor Conceição de Mariapor Conceição de Mariapor Conceição de Mariapor Conceição de MariaM. BatistaM. BatistaM. BatistaM. BatistaM. Batista

Page 38: Não Foi um Sonho

18

Page 39: Não Foi um Sonho

19

CONCEIÇÃO DE MARIA M. BATISTA

Águia

Tinha visto fotos com águias nos cartões dos lugares Sagradosda Fé. Mas não tinha idéia da marca de força que ela transmite.Passei alguns momentos observando uma que fica em frente aosantuário do Báb. Foi logo na primeira noite que fui ao Santuário.Ela fica no primeiro patamar dos nove depois do Santuário. Aofundo fica o porto. Não sei como pode um ser inanimado simbolizartanta força e poder. Esta dúvida levou-me a buscar a etimologiada palavra. Um dos sentidos é pessoa perspicaz, pessoa de grandetalento. Investiguei perspicaz: pessoa que tem agudeza de espírito.

Não sei se tu, amigo leitor, compreendes o que é ficar diantede algo enigmático. Será que minha estranheza é fruto de umaimaginação vã e deslumbrada? Ou será que há mais mistério nassimbologias das coisas do que nossa vã fantasia pode imaginar?

As águias estão lá, pousadas em estratégicos lugares da TerraSanta. Contagiadas pela essência do lugar, imóveis, imponentes,lá. Foi por isso que surgiu o desejo imenso de tornar-me umaáguia para ficar também lá. Mas se eu sozinha me tornasse águia,não teríamos como vivenciar aquela unidade tão bem demonstradapela harmonia das inúmeras diferenças, aquele espírito defraternidade, a explosão de amor, a certeza de estar na Casa doPai e no Colo do Pai.

A solução seria todos nos transformarmos em águias. Imaginem,oitocentos e quarenta e nove águias povoando os jardins dos patamares...

Page 40: Não Foi um Sonho

20

NÃO FOI UM SONHO...

Mistério no Céu de Haifa

A previsão de tempo em Haifa é que choveria bastante. Eu eGuitty ficamos juntas no hotel Beth Shalon. Estávamos atentas aotempo. Não queríamos ficar doentes. O tempo estava bom. Derepente ficava nublado, chuviscava. Pensamos que ia cair umagrande chuva. Nada! Algumas vezes, Guitty perguntava pelaprevisão do tempo, para nos prevenirmos, e assim fizemos, masnão foi necessário. Não choveu.

Havia uma cumplicidade nos céus de Haifa para fazer bomtempo. Porque era chegado o dia:

... um Dia em que o semblante do Ancião dos

Dias se volve para Sua sede santa.

Bahá’u’lláh

... Em verdade, Ele ama o lugar que se fez sede

de Seu trono, que Seus pés pisaram, ao qual foi

conferida a honra de Sua presença, donde ergueu

Seu chamado e sobre o qual derramou Suas

lágrimas.

Bahá’u’lláh

Ao fim de cada dia tínhamos a confirmação. Ali estavam muitomais de mil almas amantes de Sua Santidade Bahá’u’lláh, em estadode oração.

Page 41: Não Foi um Sonho

21

CONCEIÇÃO DE MARIA M. BATISTA

Caro leitor, como posso dizer o que sentíamos quandoandávamos pelos patamares e sentíamos o perfume de flores? Umperfume indescritível. Um cheiro de amor, de Sagrado. Algo queinebria, que tira o calor, a fome, o cansaço, que cura a doença,que passa a dor e que deixa leve. Como descrever a emoção deescutar a voz grave do Sr. Furútan; de vê-lo rir? De ver de queforma um corpo já com certas limitações transporta um espíritoforte e uma alma sábia.

Por três vezes tive o privilégio de assistir sua palestra no finalda tarde, na casa de Peregrinos. Impressionante como um senhorda idade dele possa ser tão lúcido como um cientista, tão amorosocomo um pai e tão jovial na forma de perceber a realidade de ummundo tão moderno.

Nenhum ser, por mais rico que seja seu vocabulário, conseguirácom facilidade transmitir a extensão da emoção vivenciada durantenossa estada em Haifa. Mil anos vivêssemos, não seriam suficientespara rendermos graças a Deus pelos momentos de felicidade queeste convite proporcionou. Contudo, percebemos que sobrenossos ombros recai agora uma grande responsabilidade. Construira partir de nossas ações, sermos pessoas melhores do que éramose não esquecer que este período em Haifa representa a unidadena diversidade, quando 172 países se faziam representar porpessoas de tipos mais variados. E para que este momentoacontecesse o tempo fez-se Tempo.

Page 42: Não Foi um Sonho

22

NÃO FOI UM SONHO...

As Colunas do meu Sonho

Há uns vinte anos atrás, queria respostas imediatas para tudo.Em 1982, estava numa Conferência em Recife e após assistir auma projeção de slides sobre a Fé Bahá’í todos muito emocionadosqueriam sonhar com ‘Abdu’l-Bahá. Eu também queria. Lembroque o dormitório foi improvisado com um tecido grosso queseparava os homens das mulheres, Ao amanhecer, todos contavam,cheios de felicidades, seus sonhos. Eu fiquei muito triste porquenão havia sonhado com ‘Abdu’l-Bahá, mas com algumas colunasiguais as que costumava ver nos postais dos Templos Bahá’ís.

Alguns amigos tentavam me consolar, entre eles Vitor, Salese Aneri. Mas eu, triste, fiquei com um grande mau humor.

O tempo passou. Continuei pedindo para sonhar com ‘Abdu’l-Bahá, mas nunca sonhei. Em 1995, andava angustiada com a vida.Comecei fazer orações pedindo a Bahá’u’lláh ajuda para a minhacomunidade. Era por essa época, ajudante do Membro do CorpoAuxiliar Luis Gonzaga, e antes havia sido da Sra. Safa e da Sra.Shahla.

Começo de 1996, recebi um convite do Conselheiro Rolfpara servir como Membro do Corpo Auxiliar. Ele disse que poderiapensar para dar a resposta. Não foi necessário. Desde lá estoucomo Membro do Corpo Auxiliar. E como Membro do CorpoAuxiliar, agora eu estava em Haifa. O que parecia impossívelmaterializou-se.

A nossa agenda consistia de visita à Casa do Mestre; aoterraço e seus jardins, ao Arquivo, à Casa Universal de Justiça, a

Page 43: Não Foi um Sonho

23

CONCEIÇÃO DE MARIA M. BATISTA

prisão de Akká, Casa de ‘Abbúd, Casa de ‘Abdu’l-Bahá,Santuário do Báb, Mansão de Bahjí, Casa dos Peregrinos e outroscompromissos.

No dia 10, descíamos o 19º Patamar quando de umdeterminado ângulo vi: as colunas do meu sonho. Podia verclaramente as colunas do Arquivo. Era o mesmo ângulo, pareciaum filme. Tudo voltou. Fiquei inebriada de felicidade. Qualquerpalavra que eu use para descrever essa emoção torna-se débil.Qualquer manifestação artística por mais aguçada, não conseguiriaevidenciar a emoção e o estado de reverência em que meencontrava. Era como se algo tivesse sido ligado para que o filmepassasse novamente.

Heroína

Eu sabia que todos os Membros do Corpo Auxiliar iam àTerra Santa. Havia antes ligado para alguns amigos para confirmarse iriam. Tudo estava confirmado. Agora só a vontade de Deusnos impediria de ir. Como? Se íamos pela Sua benevolência? Nós,pobres servos, cheios de incoerências humanas convidados parao grande banquete espiritual? Se merecíamos comer as migalhasdebaixo das mesas, fomos convidados a sentar e degustar dobanquete, por Sua misericórdia.

Dificuldade? Muitas! Cada um tinha uma para contar. Masela superou-se. Viajou dias antes. Na viagem perdeu a mala.Chegou à Terra Santa com a bagagem de mão. Passou dias

Page 44: Não Foi um Sonho

24

NÃO FOI UM SONHO...

reclamando da empresa aérea uma solução. Após cinco dias suamala chegou.

Muitos amigos ficaram por alguns dias sem suas malas. Assimfoi com Glória, Aneri, Diógenes e Jorge. Alguns receberam umaquantia em dólar para minimizar as dificuldades que enfrentariamsem roupa.

Ela precisou comprar algumas peças e das poucas que tinha,generosamente, emprestou-me seu casaco para frio.

Após cinco dias sua mala chegou, mas com a mala tambémchegou, provavelmente ocasionada pelo estado de cansaço, portantas atividades e preocupação, uma gripe. A heroína resistiudores, cansaço, indisposição, enfim, os sintomas de uma gripe emum organismo que luta para sarar. Resistia. Caminhava e visitavaos Lugares Sagrados...

Nós estávamos no mesmo quarto de hotel. Tentava não passarminha preocupação, mas temia e orava.

Estava um pouco assustada porque na minha pequenezhumana havia pedido a Bahá’u’lláh que, durante minha estada naTerra Santa, meu pai não morresse.

Ela é forte e por isso começou a melhorar aos poucos, eainda cumpriu quase toda a programação.

No último dia da Conferência da Inauguração do Edifício doCentro Internacional de Ensino, saí sozinha para comprar uma bolsae outras coisinhas. Perdi-me em Haifa. Dei umas voltas no ônibus,falei meu inglês “impecável” e por fim achei-me. De volta, passeino hotel. Ela estava lá e um pouco melhor. Fomos juntas para oencerramento da Conferência, porém antes passamos no serviço

Page 45: Não Foi um Sonho

25

CONCEIÇÃO DE MARIA M. BATISTA

de urgência médica. Neste exato momento, Antonia estava sendoatendida por um médico que não falava português, o queimpossibilitava a comunicação. O médico precisava saber o queAntonia sentia, mas ela não fala inglês. No impasse, ela chegou eacudiu na hora certa. Explicou o que precisava. Antonia foi para ohospital fazer exames mais precisos a fim de esclarecer seu estadode saúde.

Nós duas fomos para a Casa Universal de Justiça para oencerramento da Conferência. Emoção indescritível... Ummomento que só o Verbo pode definir:

Apressa-te ó Carmelo, pois eis, a luz do

semblante de Deus �– Quem rege o Reino dos

Nomes e moldou os céus �– sobre ti se ergueu.

Bahá’u’lláh

À noite eu partia, ela ficava, pois partiria no dia seguinte. Umabraço apertado no meio da noite...

Guitty, parabéns pela tua força de viver!

!

Page 46: Não Foi um Sonho

26

Page 47: Não Foi um Sonho

27

por Diógenes Andradepor Diógenes Andradepor Diógenes Andradepor Diógenes Andradepor Diógenes Andrade

Page 48: Não Foi um Sonho

28

Page 49: Não Foi um Sonho

29

DIÓGENES ANDRADE

Palavras fogem ao tentar descrever o meu sentimentoquando estava na Terra Santa naquela ocasião histórica dainauguração do edifício do Centro Internacional de Ensino. Ocarinho e a atenção da parte dos membros da Casa Universal deJustiça, dos membros do Centro Internacional de Ensino, dosConselheiros e de todos os funcionários com quem tive contato,estão gravados perenemente em meu coração. Amorosahospitalidade reinou durante toda a minha estadia naquelaabençoada Cidade. Uma fragrância de perfeição e excelência erasentido em cada detalhe. Eu me sentia como um filho único,cercado de toda bondade. A organização, a disciplina espiritualme deixou encantado. Toda a programação fluía com umapontualidade, uma serenidade e uma alegria que me emocionava acada momento.

Os edifícios, os terraços, os jardins, são de uma formosura euma beleza digna do Trono de Deus na Terra, um verdadeiro paraísocelestial.

As visitas aos Lugares Sagrados, em uma atmosfera derespeito e reverência, as orações e súplicas realizadas no SantuárioSagrado do Báb e no Santuário Sagrado de Bahá’u’lláh, meprepararam espiritualmente para os momentosos e grandiososacontecimentos que se seguiram:

Page 50: Não Foi um Sonho

30

NÃO FOI UM SONHO...

A procissão solene de subida aos terraços, a circunvoluçãoao Santuário do Báb, chamado por caminho dos reis, e a visita aomagnífico edifício inaugurado da sede do Centro Internacional deEnsino, foi algo indescritível de uma majestade e dignidade que,com certeza, impressionaria a um verdadeiro rei, imagina eu, umsimples e humilde servo.

As reuniões plenárias e as reuniões continentais me deramuma visão da dimensão e da influência unificada e global da Causade Deus. Pude presenciar e testemunhar uma parcela dahumanidade unida pelo amor de Bahá’u’lláh. A unidade mundial,em caráter embrionário, já é uma realidade, com a guia da CasaUniversal de Justiça.

As duas palestras dos remanescentes queridos e amadosMãos da Causa de Deus, nos transmitiram, de uma forma clara eamorosa, a necessidade de obedecer às orientações e as leis danossa Amada Causa para o benefício da humanidade e progressode nossa alma.

E finalmente no último dia, foi a experiência espiritual,sobrenatural, mais marcante de minha vida, quando foi revelada amensagem da Casa Universal de Justiça (anunciando a entrada daQuinta Época da Idade Formativa da Causa de Bahá’u’lláh) e emseguida foi lida uma epístola e uma oração revelada por ‘Abdu’l-Bahá. Naquele momento, o Poder e a Grandeza da Causa deDeus estavam ali manifestos, diante de nossos olhos em lágrimas.Foi extraordinário! Senti as fragrâncias da misericórdia divinamanando sobre todos nós. Que bênção! Estar ali naquele instantee perceber a luz do Semblante de Deus e ter a certeza de que

Page 51: Não Foi um Sonho

31

DIÓGENES ANDRADE

aquele era o lugar do Sagrado Trono de Deus. Eu estava realmenteextasiado de júbilo, pois eu sentia a Presença de Deus. A leiturada mensagem soou como o trombetear da voz encantadora deBahá, revelando os mistérios ocultos provenientes dos tesourosdo Criador. Que maravilha! Eu Te agradeço, ó meu Senhor, detodo o meu coração; por saber que Deus está presente diante denós em Seu Trono; por ter a honra de mover em volta de SuaPresença; por poder proclamar a todos a beleza de Sua Glória;por poder relatar e anunciar a todos As Boas Novas destaRevelação que irá transformar as tristezas da humanidade emalegria e júbilo; por tudo isso, ó meu Deus, eu só tenho é queagradecer.

Muito obrigado Senhor!

!

Page 52: Não Foi um Sonho

32

Page 53: Não Foi um Sonho

33

por Guitty Masrourpor Guitty Masrourpor Guitty Masrourpor Guitty Masrourpor Guitty MasrourMilaniMilaniMilaniMilaniMilani

Page 54: Não Foi um Sonho

34

Page 55: Não Foi um Sonho

35

GUITTY MASROUR MILANI

Uma Peregrinação Especial

ó Filho da Justiça!

Aonde pode ir o apaixonado senão á terra de

sua bem-amada? E aquele que procura poderá ele

ficar tranqüilo longe do desejo de seu coração?

Para quem ama verdadeiramente, a união é vida e

a separação morte. Vazio de paciência está seu

peito; privado de paz seu coração. A miríades de

vidas ele renunciaria a fim de se apressar para onde

se encontra a bem-amada.

Bahá’u’lláh

Desde criança o meu maior sonho era visitar a Terra Santa.Em 1952, meus pais e o meu irmão mais novo receberam a bençãoespecial de fazer parte dos primeiros grupos de peregrinos iranianosque tiveram o privilégio de visitar os Lugares sagrados em Haifa eAkká e a honra de serem recepcionados pelo amado Guardião.Os relatos de meus pais sobre esta oportunidade única, aumentaramainda mais o meu desejo de um dia poder viajar a Terra Santa. Aespera foi longa e sofrida... Finalmente em março de 1970, pelaprimeira vez, tive o privilégio de fazer uma peregrinação de 9 dias.A felicidade foi tamanha que não posso descrever. Mas ter aoportunidade de saborear a magia e o encanto de estar virtualmente

Page 56: Não Foi um Sonho

36

NÃO FOI UM SONHO...

no paraíso e ter um vislumbre do Reino de Abhá aumentou aindamais o desejo de pisar novamente na Terra Sagrada onde tantosprofetas e eleitos de Deus viveram em épocas passadas. Estamesma terra que mais recentemente foi abençoada com as pegadasdo Bem-Amado do mundo! Respirar o ar que Ele tinha respiradoe talvez conseguir ouvir o som melodioso de sua voz pelasreverberações ainda existentes nos lugares sagrados...

Pela Sua infinita misericórdia, Ele me concedeu esta bênçãovárias vezes e cada peregrinação ou visita teve sua doçura especiale foi uma experiência ímpar!

Mas nem nos meus mais loucos delírios, poderia eu pensar ouimaginar que um dia seria convidada pela Casa Universal de Justiçaa fazer uma peregrinação especial como Membro do Corpo Auxiliarparticipar da “Conferência que assinalou a inauguração do Edifíciodo Centro Internacional de Ensino com a participação de todosos Conselheiros Continentais e seus Membros do Corpo Auxiliar,no alvorecer do novo milênio!

Junto a alegria, exaltação e regozijo que tomaram conta do meucoração, senti uma imensa angústia com a inevitável pergunta queficou martelando na minha cabeça: “Como teria eu a coragem de medirigir novamente àquelas Santas Plagas com as mãos vazias”?...

Novamente a espera foi longa e sofrida, e havia uma novapreocupação: eu não era mais a jovem sonhadora e plena de energia...

Tinha até dúvidas se o meu estado de saúde permitiria a longaviagem! Mas o amor e a misericórdia de Deus são realmente infinitosporque consegui chegar bem apesar de vários problemas na viageme a espera de cinco dias em Haifa para receber a minha bagagem!

Page 57: Não Foi um Sonho

37

GUITTY MASROUR MILANI

Na minha primeira visita ao Túmulo Sagrado de Bahá’u’lláh,quando consegui finalmente me ajoelhar diante do Limiar Sagrado,despida de todas as vaidades e futilidades da vida, mas conscientede que estava na presença do meu amado Senhor e Criador, esquecique mais uma vez “as minhas mãos estavam vazias” porque nãotinha realizado nada que fosse digno de apresentar no Seu altar!

Então, me curvei em êxtase e adoração, esquecida de tudo eaté de mim mesma! Estava tão exultante e feliz que cometi umagrave imprudência. Após as orações de louvor e agradecimentopor mais esta bênção e oportunidade, abri meu coração para oBem-Amado e disse: “Estou tão completamente feliz e realizada ecom o coração em paz que não me importaria se esta fosse aminha última peregrinação!”

Falei de todo coração e com pureza de alma e isso me deu aserenidade necessária para prosseguir com regozijo e sempreocupações o programa maravilhoso estabelecido pelo CentroMundial para a nossa peregrinação.

O ponto alto e o início da Conferência dos Conselheiros edos Membros do Corpo Auxiliar era a subida dos patamares,desde o primeiro, na avenida Ben Gurion, até o Santuário Sagradodo Báb, a circunvolução do mesmo e a subida pelo Arco até oCentro Internacional de Ensino.

Todos estávamos ansiosos para este dia chegar, porque seriaa primeira procissão oficial nos patamares...

Infelizmente, naquele dia, amanheci com febre e a médica doCentro Mundial me proibiu de subir os patamares, sugerindo quedeveria começar a minha caminhada com a circunvolução do

Page 58: Não Foi um Sonho

38

NÃO FOI UM SONHO...

Túmulo do Báb! Se o arrependimento matasse, eu teria morridonaquele momento porque além da grande tristeza que tomou contade mim, lembrei-me claramente da promessa feita no primeiro dia!

Mas esta provação, ou melhor, dizendo privação, meproporcionou uma experiência singular. Havia mais algumas pessoasque por variadas razões também foram privadas do privilégio desubir os patamares, então enquanto esperávamos no portãoprincipal que conduz ao Santuário, tivemos a mais fantástica visãoque se pode imaginar: os bem-amados do Senhor, representandopraticamente todos os povos e raças da terra, muitos em seustrajes típicos, passando majestosamente em pequenos grupos, emabsoluto silêncio, em atitude de reverência e beatitude! Os seusrostos radiantes refletiam uma grande emoção e um observadoratento podia facilmente ver o brilho especial que as lágrimas dealegria produzem no olhar dos apaixonados!

Foi um espetáculo inesquecível. A montanha de Deus estavaliteralmente coberta de flores multicolores em forma de plantas e pessoas.

Nunca esquecerei esta visão porque eram, na verdade, umvislumbre do Reino de Deus na Terra!

Também chorei de alegria e emoção e agradeci do fundo domeu coração por mais esta bênção e oportunidade... e então crieicoragem para pedir a permissão de voltar, um dia, e subir todosos patamares degrau por degrau... e completar estaPEREGRINAÇÃO ESPECIAL.

!

Page 59: Não Foi um Sonho

39

por Maria Antoniapor Maria Antoniapor Maria Antoniapor Maria Antoniapor Maria AntoniaGonçalvesGonçalvesGonçalvesGonçalvesGonçalves

Page 60: Não Foi um Sonho

40

Page 61: Não Foi um Sonho

41

MARIA ANTONIA GONÇALVES

O Abraço de um Pai

É com muita alegria que compartilho com vocês algumas dasmuitas emoções que vivi na minha viagem à Terra Santa em janeirode 2001, quando se deu a inauguração do Centro Internacionalde Ensino no Monte Carmelo.

Amigos, a chegada a Israel se deu a meio de brincadeiras egozações ocasionadas no decorrer da viagem, mas o maisimportante é que estávamos chegando à Terra Santa para vivermosdias maravilhosos, sem dúvida. Logo que chegamos ao hoteldormimos um pouco. Pela manhã era grande a minha ansiedade.Era a primeira vez, e não via a hora de avistar a Cúpula do Santuáriodo Báb. Como me foi dito pela minha amiga Fátima que era aprimeira vista da avenida que nos levaria ao Carmelo. Eu fiquei aviagem inteira desde o hotel até o momento que avistei do ladoesquerdo do ônibus e falei em pensamento: ali está a Rainha doCarmelo que por muitos anos só tentei imaginar como era estavista e agora está em minha frente e não era mais imaginação.Logo depois daquela emoção tão grande, chegamos ao portãoque nos levaria aos terraços do Centro de Estudo de Textos – ACasa dos Peregrinos. Não imaginava que lá seria o nosso pontode encontro regado com deliciosos chás e cafés com biscoitinhosdurante aqueles dias. Ah! Que saudade!

Depois daquela maravilhosa recepção na casa dos peregrinos

Page 62: Não Foi um Sonho

42

NÃO FOI UM SONHO...

voltamos ao grupo e continuamos nossa visita. A emoção era tantaque na medida em que seguíamos o guia, eu queria prestar atençãoem tudo por onde passávamos que nem me dei conta, para ondeestávamos nos dirigindo, quando me deparei em frente de umaporta, que por alguns minutos esperamos alguém abrir para entãopodermos entrar. Quando entrei naquele salão, fiquei perplexa,olhando para todos totalmente despercebida de que lugar eraaquele. Foi quando escutei a voz de um amigo sussurrando: “Ondeestá a foto de Bahá’u’lláh?” Eu tremi, meu Deus! A foto deBahá’u’lláh. Lembrei de meus filhos que tanto gostariam de estarali; aproximei-me de uma pequena fila para que eu pudesseobservar Sua Face. Queria perceber todos os Seus traços, paraque eu pudesse falar para eles; ter essa sensação me fez voltarvárias vezes diante da Sua foto. Tudo o mais naquele lugar era detão grande emoção. Ver a jovem roupa do Báb; a desgastada epobre roupa de Bahá’u’lláh; os pequenos abás do Mestre e Seussapatos em forma de chinelos com os calcanhares desgastados,era emocionante demais.

No dia seguinte, visitei a prisão de Akká. As lembrançascontidas na história de nossa Fé foram para mim como um filmeem minha mente no momento em que o guia falou para o grupoque em meio aquele chão a Sagrada Beleza, Bahá’u’lláh, ergueSua tenda para seu filho Mirzá Mihdí por ocasião de sua queda daclarabóia. Pude sentir o sofrimento físico daquele Espírito Santo ede todos aqueles que O acompanhavam naqueles dias deperseguição e aprisionamento.

Em visita a casa de ‘Abbúd, a emoção de conhecer a sala

Page 63: Não Foi um Sonho

43

MARIA ANTONIA GONÇALVES

onde ‘Abdu’l-Bahá respondeu as perguntas que constam no livroO Esplendor da Verdade, foi grande para mim, por ser o livroque esclareceu meu coração.

As emoções eram constantes a cada sala, a cada quarto, nosrevelavam grandes surpresas. O quarto da Folha Mais Sagrada,ver seus objetos é sentir sua presença, sua dedicação emsalvaguardar os restos mortais do Báb por dez longos anos. Umexemplo de coragem e perseverança em sua missão, que muitoalegra minha alma em pensar nela. Sinto não poder me alongarmais. Outras coisas maravilhosas vocês vão ter o prazer de lernesses relatos a respeito de Akká.

A chegada a Bahjí era de enorme sensação de encontrarcom Bahá’u’lláh, de estar em Sua presença, de poder ficar pertoDele. Por exemplo: em minha vida diária converso com Ele emminhas orações, baixinho em silêncio, em pensamento, mas ali,naquele momento, a sensação era mesmo de estar em Suapresença. Foi com esse sentimento que meu coração pulsava forteem meu peito e me fez imaginar em Seu colo falando das minhasdificuldades, rogando por Sua proteção e amparo, pela Suamisericórdia para comigo e meus filhos em reconhecer SuaMensagem, pelo nosso fortalecimento e de nossa comunidade,que as lágrimas caíram incessantemente em minha face curvadadiante de Seu Limiar, em meio a outros amigos que ali estavamcomo eu, sentindo-se na presença de Seu Amado Pai. Foi aprimeira vez em minha vida que senti o abraço de um Pai e foi deuma emoção nunca sentida, que não poderia ser de um pai biológico.A lembrança desse momento levarei para a eternidade e permita-

Page 64: Não Foi um Sonho

44

NÃO FOI UM SONHO...

me Deus, eu chegue a presença de Sua Sagrada Beleza, Bahá’u’lláh.Depois desses dias maravilhosos de pleno regozijo é chegado

o início da Conferência. O desejo de conhecer as Mãos da Causae os Membros da Casa Universal de Justiça. Acredito que a essaexpectativa por parte deles era recíproca, pois reuniram, nocoração da Casa de Justiça, 849 Membros do Corpo Auxiliarpara dar aquele abraço afetuoso, como pudemos sentir na suamensagem de 14 de janeiro de 2001.

É chegado o dia do término da Conferência. A organizaçãopara foto, uma multidão de mil pessoas talvez ali concentradas.Era contagiante a alegria em cada rosto.

Queria muito compartilhar com vocês as emoções finais, masnão me foi possível, logo nas primeiras horas da tarde senti umforte aperto no peito o que me levou a atender forçosamente arecomendação médica de fazer alguns exames em um hospital, oque me afastou daquele momento, sem dúvida, gratificante paratodos nós que fomos à Terra Santa. Apesar de ter pessoas aomeu lado, me cercando de atenção e cuidados, como a Sra.Elizabeth e outros amigos vindo da Casa Universal de Justiça, aminha preocupação era saber se a conferência continuava, mas,infelizmente, as amigas me disseram que já tinha se encerrado.Essa foi sem dúvida para mim a maior dor no meu peito.

Obrigada pela atenção de vocês para com esses relatos. Daamiga e colaboradora na Causa de Bahá’u’lláh.

!

Page 65: Não Foi um Sonho

45

por Maria de Fatimapor Maria de Fatimapor Maria de Fatimapor Maria de Fatimapor Maria de FatimaF. de Faria FernandesF. de Faria FernandesF. de Faria FernandesF. de Faria FernandesF. de Faria Fernandes

Page 66: Não Foi um Sonho

46

Page 67: Não Foi um Sonho

47

MARIA DE FÁTIMA F. DE FARIAS FERNANDES

Uma Benção Inesquecível

O encontro com os amigos, Membros do Corpo Auxiliar,vindos de várias partes do país, no aeroporto de Guarulhos, emSão Paulo, foi o início de uma série de emoções incomparáveis,no percurso à Terra Santa, em Janeiro de 2001. Somadas à alegriado encontro e a euforia da viagem, aconteceram, neste ambientede grande público, coisas muito interessantes, pitorescas. JorgeMuniz, vindo da Bahia, no seu jeito descansado e tranqüilo,contava, pedia assinatura, e, em seguida, distribuía, o envelopecom os dólares repassados pela Instituição do Corpo Continentalde Conselheiros, como adiantamento para suprir possíveisdespesas em Haifa, Israel. As amigas que recebiam o envelopepartiam para o toalete, em busca de roupas de frio trazidas deBrasília por Glória, a pedido de Guitty. No toalete, era umverdadeiro desfile! As demais visitantes olhavam, discretamente,e saiam sem entender o que se passava. Nós, já em estado deêxtase, não nos dávamos conta de que estávamos sendoobservadas.

No embarque, parecíamos um exército em marcha pelo túnelem direção ao avião, quando Aneri, sendo seguida por agentes daPolícia Federal, foi interpelada. Como se recebesse um comandoque vinha do Alto, todos paramos ao mesmo tempo, em fila, umem frente ao outro, no meio do corredor que dá acesso à aeronave,

Page 68: Não Foi um Sonho

48

NÃO FOI UM SONHO...

e respondíamos, em coro, tudo que a ela, era perguntado: “deonde você é”? “para onde está indo”? “Qual é o motivo da viagem”?“onde estão os documentos”? Só faltou todos entregarmos, embloco, a carta convite da Casa Universal de Justiça, texto que fezum pelotão de duas pessoas, renderem-se ao batalhão deprontidão, do Senhor das Hostes. Viajamos “nas nuvens”, em todosos sentidos!

Em Amsterdã, fizemos conexão e tivemos um dia no aeroporto.Ah! Aí tem muitos fatos! Todos estavam muito eufóricos, ansiosos!Mahrou e Diógenes Marcondes, resolverem sair à procura de umcitytour; eu, Aneri, Leny, Orisson, Luiz Gonzaga (Lú) e Sadat,decidimos pegar um trem até o centro da cidade; Jorge Muniz,Glória, Márcia, Antônia, Valdeci e Conceição, disseram queficariam, por medidas de economia, pois não sabiam o queencontrariam pela frente.

No toalete deste aeroporto, eu e Leny avistamos no balcãodas pias, uma luva preta, muito chique, de pelica. Lamentamos ofato de que alguém houvera perdido aquele fino objeto e, claro, láo deixamos, sem saber que a luva era de Mahrou, tendo ela aesquecido em algum lugar. Esta é uma incrível história, que só elasabe contar!

Na parte térrea do aeroporto, o grupo se “batia” à procurada estação ferroviária que nos levaria à estação central. No vai evem, nos defrontamos com uma jovem, muito simpática, de estilopersa, a quem nos dirigimos pedindo informações. Gentilmente,resolveu o que precisávamos e disse que estava indo na mesmadireção. Enquanto eu e Orisson, muito entusiasmados com a

Page 69: Não Foi um Sonho

49

MARIA DE FÁTIMA F. DE FARIAS FERNANDES

simpatia e semelhança daquela garota com as jovens persas,animadamente investigávamos sua vida e dizíamos quem nóséramos e para onde íamos. Durante o percurso de trem, LuizGonzaga (Lú) nos olhava apavorado, diante da nossa indiscreta“ingenuidade”. Retornamos, imediatamente, da Estação Central,depois de um caprichado lanche, pois a chuva e frio eram intensos.Os amigos que ficaram tinham razão: só fizemos gastar!

E agora, como Orisson e Lú retornariam ao encontro dosamigos neste aeroporto, se os cartões de embarque e passaportesforam esquecidos nas suas bagagens? Ficaram retidos na barreirada Polícia Federal, junto aos amigos Sadat e Aneri, que, solidários,aguardavam com os dois, o meu retorno de Leny que entraramcom a missão de buscar os documentos. Foi fatídico para todos,pois as horas passavam e nós duas, perdidas no aeroporto,procurávamos em vão, o ponto de origem, onde estavam os amigose as bagagens. Desesperadas pelas horas já passadas, pedimos auxílioao condutor de um pequeno carro de limpeza interna, que nos conduziuem passeio pelo aeroporto até que, finalmente, chegamos ao local:nem amigos, nem bagagem. Anunciamos no serviço de som doaeroporto e era muito engraçado a forma como pronunciavam o nomedos amigos. Era evidente, que jamais eles se identificariam naqueleschamados! Horas passaram-se, até que todos estivessem mais umavez reunidos e os ânimos acalmados. Novamente “nas nuvens”, agorasim, voando em direção ao Mais Sagrado.

No aeroporto de Tel-Aviv, o coração batia forte, e nosperguntávamos curiosos e desejosos: são todos bahá’ís?! A filaera grande, para as informações e apresentação dos documentos.

Page 70: Não Foi um Sonho

50

NÃO FOI UM SONHO...

Rapidamente, vimos Sadat, pela estranheza do seu nome, serconduzido para interrogatório, numa sala reservada. Ficamosapreensivos, enquanto ele, muito tranqüilo. Não podíamos agircomo em São Paulo com Aneri. Já estávamos em Israel, portanto,extremamente discretos e ocupados em corresponder ao máximo,às expectativas da nossa amada anfitriã – Casa Universal de Justiça.

A emoção foi grande ao avistar o cavalete com cartaz deidentificação da Conferência Bahá’í, tendo ao lado um Sr. queestava para nos recepcionar, junto a outros bahá’ís, que, comonós, acabavam de chegar. Fomos conduzidos em grupos, por Hotel.Eu fiquei no Shulamite. Antônia, amiga muito querida, dizia da suaalegria em ficarmos juntas em um mesmo apartamento do Hotel -a maioria das pessoas que dividiram apartamentos, não seconheciam. Dizia, referindo-se à sua felicidade: “isso é coisa dosConselheiros Rolf e Gabriel, que sabiam que eu não podia ficar dequalquer jeito, sem ao menos falar a língua, perdida nesse Hotel...”A escolha da minha companhia, também deixou muito feliz meucoração!

Falando deste maravilhoso convívio, e ainda no espaçoapropriado aos fatos pitorescos da viagem, vou compartilhar algo,ocorrido nos últimos dias em Haifa, e que foi motivo de muitasrisadas, apesar da experiência constrangedora. Saímos, eu eAntônia, pouco agasalhada, para desfrutar do sol maravilhoso dodia, esquecidas do que poderia nos reservar aquela noite. Depoisde cumprida a programação oficial, desejávamos estar com osamigos um pouco mais, tomar um chá..., mas sentíamos muito frio.Tentei tranqüilizar Antônia, lembrando que alguém falara, que

Page 71: Não Foi um Sonho

51

MARIA DE FÁTIMA F. DE FARIAS FERNANDES

haviam roupas de frio para uso temporário, na Casa dos Peregrinose que, portanto, poderíamos nos beneficiar desses abnegadospréstimos. Fomos, alegre e rapidamente, resolver esta nossanecessidade, ao tempo em que eu lhe dizia no caminho: “mas..., aCasa de Justiça pensou mesmo em tudo, para que não nos faltassenada, não é incrível?!” Chegando na nova Casa dos Peregrinos,nos dirigimos imediatamente ao ambiente onde descansavam asroupas de frio, em cabides. Observamos a variedade um pouco àdistância, quando me dirigi, com o meu inglês muitodesembaraçado, recorrer a duas bahá’is do setor de informação.“Por favor, estas roupas de frio, penduradas, podem ser usadas,como empréstimo?”; ao que responderam (eu entendi)amorosamente: “Sim, sim, podem, sim”. Então, lhe disse: “Puxa,aqui estamos vivendo mesmo um outro mundo, não?!”. “Sim, sim,estamos vivendo um outro mundo!” “Obrigada!” Passamos, eu eAntônia, depois que lhe transmiti o diálogo, a escolher as roupasque mais nos agradasse e melhor combinasse com o que vestíamosna ocasião. Cada uma cuidava de deixar a outra, mais arrumadapossível. Antônia, ficou mesmo com uma bonita capa preta dotipo que só se encontra em Paris e eu, com uma outra de cor pink,muito bem combinada com a roupa preta que vestia. Descansamosos pertences sobre o braço, pois íamos primeiro ao imperdívelchá com biscoitos finos, no refeitório. A Mão protetora deBahá’u’lláh, colocou na nossa frente uma amiga bahá’í queconvidou-nos a sentar um pouco, para relatar algumas das suasalegrias daquele dia. Sentadas descontraídamente, em frente aolocal das roupas, aproxima-se Vahid Masrour, filho do Conselheiro

Page 72: Não Foi um Sonho

52

NÃO FOI UM SONHO...

Hervé, e de forma bastante delicada, aborda Antônia: “desculpa,não houve engano, esta capa não é a minha?” Nós duas dissemosao mesmo tempo: “Ai, meu Deus, tem alguma coisa errada!” Comoeu já conhecia Vahid e ele entendia perfeitamente o meu portanhol,pude explicar todo o mal entendido e ele, sorrindo, nos desculpar.Mas... que constrangimento!!!

Tudo era surpresa e alegria! Logo cedo, no Hotel, recebemosdo pessoal do Staff do Centro Mundial, as nossas pastas contendotodo o material que precisávamos, com programa, orientações,etc. Qual foi a emoção para nós brasileiros, ao encontrar junto aomaterial recebido, um delicado e florido cartão do casal VonCzékus, convidando-nos para um jantar em sua residência, emcujo encontro estariam os membros da Casa Universal de Justiça- o nosso muito amado Sr. Kaiser Barnes e o Sr. Hopper Dambar.Neste encontro, tudo era deliciosamente encantador: o convívio;as conversas; a visão do Santuário do Báb; as iguarias; o carinhoem nos servir dos quatro jovens brasileiros, servindo em Haifa; asfotos na sala, na cozinha; as risadas com os relatos dos fatospitorescos ocorridos na viagem; a lavagem da louça; etc. Estávamosem estado de graça!

O anúncio de que teríamos ônibus diariamente, a cada vinteminutos, para nos recolher no hotel em direção à Casa dosPeregrinos e no retorno ao hotel, já nos impressionou, mas, o maisincrível, foi perceber o carinho e a delicadeza incansáveis, daquelesjovens bahá’ís do Centro Mundial, nos recebendo, durante todosaqueles dias, no ônibus, junto ao hotel ou em algum ponto dacidade, dando boas vindas, prestando informações, solícitos à

Page 73: Não Foi um Sonho

53

MARIA DE FÁTIMA F. DE FARIAS FERNANDES

qualquer orientação. A mesma amorosidade e consideração vinhamdaqueles que nos conduziam em visitas aos Lugares Sagrados. Osfatos e Textos relacionados ao local da visita eram compartilhados,e o nós, espiritualmente preparados. Ao chegar no ônibus que nosconduziam a essas visitas, o lanche e água fresca, já nos esperavame eram, calorosamente, repassados.

Os integrantes dos grupos em visitas eram revezadascontinuamente, de modo que todos pudessem se acercar de ummaior número possível de pessoas, vindas de tantas partes domundo, e assim, pouco a pouco fossemos conhecendo arepresentação da nossa família humana. Cada Lugar que visitávamossuscitava uma oração, cada ambiente uma emoção. Nossosespíritos se alegravam e entristeciam constantemente, emsentimentos entrelaçados pelas marcas do sofrimento e das vitóriasda história da nossa Amada Fé. Como a querer refrescar o nossoespírito, após cada visita que fazíamos nas dependências dosLugares em Akká e Bahjí, um singelo e saboroso lanche nosaguardava, servido com tanta simplicidade pelas mãos amorosasdaqueles que nos aguardavam, em meio a tanta dignidade.

Estar no Monte Carmelo, subir os Terraços, respirar aatmosfera espiritual daqueles Jardins, fazer orações no interior ecircundar os Santuários do Báb e ‘Abdu’l-Bahá, percorrer ocaminho do Arco, entrar nos Arquivos Internacionais, visitar oCentro de Estudo dos Textos, adentrar o Centro Internacional deEnsino, andar no interior da Casa Universal de Justiça, viajar aAkká, orar ao por do sol, contar as ondas dAquele mar, entrar naMaior Prisão, na Casa de Abbúd, de Abdú’lláh Páshá, ir a Bahjí,

Page 74: Não Foi um Sonho

54

NÃO FOI UM SONHO...

penetrar Sua Mansão, ultrapassar aquela porta do Ponto deAdoração, inalar o cheiro de rosas, receber o Abraço esperado,pisar cada ambiente, conhecer o significado de cada Lugar,contemplar cada Objeto, concentrar nas marcas visíveis e invisíveisde uma História de coragem, vitórias e de dor... é indiscritível!!! Eo que dizer e com que palavras, sobre aquele momento tãoacalentado, quando me vi diante da imagem dAquele que é o Desejodo Mundo, A Beleza Antiga?!!!... Se me prostrava em adoraçãoe reverência, diante dAquela Figura incomparável, logo me erguia,buscando fixar meu olhar em cada detalhe do Seu semblante -como a querer gravar na minha mente e coração, Algo de quenós, mortais, só apreende um lampejo; rendida, mais uma vez mecurvava agradecida.

A nossa subida pela Montanha de Deus - quase mil pessoasem procissão solene, em passos lentos e porte de reverência, desdeo primeiro Patamar, percorrendo cada Terraço, onde estavamapostos amigos bahá’ís em serviço, nos acolhendo apenas comum doce olhar e sorriso discreto de boas vindas, ao som melodiosoda água que percorria às bordas das escadarias, a visão majestosaà nossa frente - a Rainha do Carmelo - fazia daquela ocasião ummomento mágico... quase irreal... Ainda em preparação para estaescalada, quando recebíamos as primeiras orientações, aquelesamigos que nos conduziam ao primeiro Patamar, dizendooficialmente do significado daquele momento, expressou nestaspalavras: “vocês, são primeiros crentes, a fazerem o percurso, quede acordo com a Profecia, reis e governantes farão um dia”. Émuita emoção!

Page 75: Não Foi um Sonho

55

MARIA DE FÁTIMA F. DE FARIAS FERNANDES

Que impacto senti, quando me vi, no interior daquele Local,preparado tão dignamente, para receber os dignitários. MeuDeus!!!... Que Poder, extraordinário! Que Força absoluta!...Quando lembro, me vem lágrimas aos olhos e meu coração sentedor de emoção! Esta experiência afetou profundamente todo omeu ser!... Não posso esquecer aquela hora, aquela experiência...a luz do sol refletida do Carmelo, aquele Ambiente, a PresençaPoderosa e Soberana de Bahá’u’lláh..., os meus pensamentos...:“é impossível alguém aqui, não se render por inteiro, de pronto!..”

É..., toda uma trajetória, que nos conduzia ao momentoansiosamente esperado, quando, finalmente, todos nós, arepresentação da humanidade, estava reunida por três dias, comoum grande e variado ramalhete de flores retiradas de um únicoJardim, no recinto da Casa Universal de Justiça. Todos, de todasas partes, membros de todas as Instituições presentes na TerraSanta – Casa Universal de Justiça, Mãos da Causa de Deus,Centro Internacional de Ensino, Corpo Continental deConselheiros, Corpo Auxiliar – e amigos em serviço no CentroMundial, em uma única platéia, atentos, silenciosos, emocionados,agradecidos. Yá’Bahá’u’l-Abhá!!!

!

Page 76: Não Foi um Sonho

56

Page 77: Não Foi um Sonho

57

por Touba MaaniHessari

Page 78: Não Foi um Sonho

58

Page 79: Não Foi um Sonho

59

TOUBA MAANI HESSARI

Ó Bahá’u’lláh, com que língua posso expressar a minhagratidão?

Desde 1970 fui designada um Membro do Corpo Auxiliar doBrasil, quando o Brasil apenas tinha dois Membros do CorpoAuxiliar. Jamais sonhava que um dia Membros do Corpo Auxiliarpudessem ser convidados pela Casa Universal de Justiça. Comesta última, são oito vezes que eu peregrinei à Terra Santa, mas,desta vez foi diferente, por que as Promessas de Bahá’u’lláh noKitáb-i-Aqdas já tinham sido cumpridas, as construções do Arcoestavam prontos, e mostravam a Sua Divindade Administrativaque guiará o mundo pelo menos por mil anos.

A cada passo, naquela Terra cheia de Santidade, desejavaque todos nossos irmãos bahá’ís do mundo um dia pudessemperegrinar para este Mundo do Malakut, ou o Reino de Deus aquina terra.

Andávamos como uns loucos ou bêbados espirituais; nãosentíamos cansaço nenhum; programa atrás de programa; éramoscomo uma pessoa com sede, que quanto mais tomava água, maispedia, porque no fogo do coração a sede aumenta cada momentomais e mais.

Ó Bahá’u’lláh, se a humanidade tivesse um pouco de justiça eeqüidade, jamais negaria a vinda do Seu Pai Celestial, Aquele que

Page 80: Não Foi um Sonho

60

NÃO FOI UM SONHO...

se não fosse Ele, nenhum Mensageiro vestia o Seu Manto deManifestação. Que grande pena que o preconceito tapou os olhosinteriores do povo, não permitindo que enxergassem a Luz do Solda Verdade, e perderam a sua entrada no Reino de Deus no mundodo além.

Já que falei da vinda do Pai, quero expressar o meu sentimentoquando peregrinei ao Santuário de Bahá’u’lláh:

Eu tinha um ano de idade quando perdi meu pai. Sempre naminha vida senti a falta dele, até que um dia eu estava lendo as históriasque Ashbashi escreveu sobre a vida de Bahá’u’lláh em Bagdá.

Ele escreveu que um dia, um dos crentes estava chorando.Bahá’u’lláh, com muito carinho, colocou sua cabeça em Seu Colodizendo: “Seu verdadeiro Pai sou Eu, por que está chorando?”Então, no Santuário, eu entrei no Tabernáculo do Meu Pai, muitoamável, conversei secretamente com Ele, dizendo: Tu falaste:“aonde pode ir o apaixonado senão à Terra de sua bem-amada?E aquele que procura, poderá ele ficar tranqüilo longe do desejode seu coração? Para quem ama verdadeiramente, a união é vidae a separação morte.” E Ele me respondeu: “Com as mãos dopoder Eu te fiz; com os dedos da firmeza Eu te criei; e dentro de ticoloquei a essência de Minha Luz. Que estejas contente com istoe nada mais busques. Pois é perfeita Minha obra e inexorável Meumandamento. Não questiones, nem alimentes dúvida sobre isto.”

Pois, a lição foi dada, e me deixou contente, embora as lágrimasestivessem correndo sem parar ao sair do Santuário, e pensando:será que pode existir honra mais preciosa do que de estar dentrodo Santuário do Mais Bem Amado?

Page 81: Não Foi um Sonho

61

TOUBA MAANI HESSARI

Quando estávamos subindo as escadas dos patamares,pensava comigo dizendo: Ó Násiri’d-Dín Sháh, onde estás? Vêsesta Majestade? Sublimidade e Grandeza? Como, com seu orgulhoe crueldade, martirizou o Bem Amado do mundo com 750 tiros?Hoje onde tu estás? E onde está Ele. Os Reis subirão no futuroestes patamares, para peregrinar o Santuário do Báb, mas antesde começarem subir as escadas dos patamares deixarão suascoroas na entrada das escadas, aquela coroa que te deixou tãoorgulhoso e que finalmente te fez perder a vida eterna no outromundo.

Na subida das escadas estávamos vendo tanta Beleza eMajestade que só as lágrimas correntes podiam mostrar ossentimentos espirituais, que língua e pena não poderiam.

Visitamos as quatro construções do Arco. A Bíblia diz:“Naquela época as Palavras de Deus sairão de Israel”. Hojeestamos vendo com nossos olhos o local do Centro de Estudosdos Textos Sagrados, onde todas as Palavras exatas e sagradassairão de lá.

No dia determinado em que deveríamos participar dainauguração do Centro Internacional de Ensino, descemos os novepatamares, na verdade voamos até chegarmos ao Santuário doBáb. Só peregrinamos por fora, continuamos até o CentroInternacional de Ensino. Sentimos a nossa responsabilidade dianteda humanidade, no dia em que os Membros do Corpo Auxiliardas Américas se reuniram no auditório do Centro Internacional deEnsino. Alguns membros de diversos países faziam seus relatos e,sentíamos como o Instituto Ruhí unificou todos os países na parte

Page 82: Não Foi um Sonho

62

NÃO FOI UM SONHO...

de consolidação, e sem a menor dúvida, na Entrada em Tropasestaremos prontos para receber os novos crentes com braçosabertos, graças a este curso Ruhí.

Na Casa Universal de Justiça, a ordem, a beleza, a disciplina,algo que desde a criação até agora não existia igual, sentíamoscomo se não tivesse corpo, e sim com espírito, voando, admirando,agradecendo a Bahá’u’lláh que nos criou nesta época, que era opropósito da criação de Deus, chegar a presença da Glória deDeus. A Mão da Causa Sr. Furútan e os Membros da CasaUniversal de Justiça chegaram e iluminaram o ambiente mais emais. Sr. Furútan falou a respeito do amor a Bahá’u’lláh e a CasaUniversal de Justiça, e a necessidade de mostrar o nosso amorcom obediência. Disse que tanto Bahá’u’lláh no Kitáb-i-Aqdas,afirma que é o dever do povo de Bahá, como hoje, a Casa Universalde Justiça pede do povo de Bahá, que ensine a Fé, e não escolhamidade, isto é, criança, adolescente, jovem, adulto, velho, todossomos - Povo de Bahá, que com obediência e servitude podemosmostrar o nosso amor a Eles.

Era noite, todos os presentes, mais de 1000 pessoas, saímosdo salão. A Rainha do Carmelo (Santuário do Báb) estavailuminando com ajuda das estrelas. Os membros da Casa Universalde Justiça em pé e os demais atrás deles, o silêncio era tão grandeque a gente não acreditava que 1000 pessoas estavam assistindoaquele sonho juntos, apenas estávamos ouvindo a brisa do vento,que trazia e levava a fragrância Divina e espalhava em todo omundo. Neste momento, o querido Mão da Causa tirou o chapéue na direção do Santuário do Báb entoou a Epístola de Visitação.

Page 83: Não Foi um Sonho

63

TOUBA MAANI HESSARI

Não posso expressar o estado em que eu e todos nós estávamos.Assistindo ao próprio Reino de Deus aqui na terra. Neste momentoem que a respiração estava presa, implorei a Bahá’u’lláh, para meajudar e me dar confirmação para que eu possa guardar a minhaservitude e obediência até o fim da minha vida neste mundo, paraque, também, eu seja capaz de assistir este Reino de Deus nomundo do além. Quando abri meus olhos era de madrugada.

Que sonhos agradáveis tivemos, e agora deixou uma lembrançainesquecível.

!

Page 84: Não Foi um Sonho

64

Page 85: Não Foi um Sonho

65

por Valdeci de Jesuspor Valdeci de Jesuspor Valdeci de Jesuspor Valdeci de Jesuspor Valdeci de JesusRosaRosaRosaRosaRosa

Page 86: Não Foi um Sonho

66

Page 87: Não Foi um Sonho

67

VALDECI DE JESUS ROSA

Momento Único

Visitar a Terra Santa na conferência de janeiro de 2001 foisem dúvida um acontecimento inesquecível. Para mim, um valiosopresente vindo dos céus. Imaginava um dia visitar Israel, mas essedia chegou como um chamado sem perguntas, sem imposições,apenas solicitando que estivéssemos lá na data marcada. E foigrande a felicidade de quem respondeu o chamado da CasaUniversal de Justiça.

Não é fácil descrever as emoções vividas, sentidas, a cadalugar Sagrado visitado. Entrar no Santuário do Báb foi algo queme marcou profundamente. Eu chorava como nunca chorei emminha vida, aquelas lágrimas eram de alegria, arrependimento,perdão, pois estava diante dos restos mortais do Báb e ‘Abdu’l-Bahá. Nunca meus olhos tinham presenciado jardins tão belos, osilêncio, a paz, o poder daquele lugar era algo transformador epercebia-se essa transformação em cada rosto.

Em Akká vivi momentos de muita emoção e tristeza pelo fatode não podermos entrar. Era feriado e os portões estavam fechadospor isso o grupo não pode entrar. Naquele momento todoschoraram e lamentaram, pois queriam ver de perto a prisão queBahá’u’lláh descreveu como sendo um dos piores lugares e demuito sofrimento. Assim acontecia com os peregrinos quandochegavam para visitar o seu grande Mestre e não podiam entrar.

Page 88: Não Foi um Sonho

68

NÃO FOI UM SONHO...

Depois de cinco dias de peregrinação, os três dias deconferência também foram marcantes. Começaram com a subidaaos Patamares, caminho que os reis da Terra farão e reconhecerãoa posição do Báb e desta Causa. A palestra sobre as crianças, achegada dos Membros da Casa Universal de Justiça e aMensagem lida no último dia da conferência onde todos ospresentes choraram, realmente nenhuma palavra define ossentimentos daquele momento.

O imenso amor da Casa Universal de Justiça, a forma comoacolheu os Membros do Corpo Auxiliar me fez sentir protegida,nobre e importante para o mundo, como bahá’í e como um braçoda Instituição do Corpo Continental de Conselheiros.

Expresso aqui os meus sentimentos de amor, respeito efelicidade a essa Instituição maior da Causa de Deus na Terra:

A Casa Universal de Justiça.

!

Page 89: Não Foi um Sonho

69

Conclusão

Minha intenção em organizar esses relatos sobre a viagem àTerra Santa é uma forma de registrar nossas impressões esentimentos.

O momento que vivemos foi de suma importância em nossasvidas e por isto, também, de importância para todos aqueles quenos cercam. Hoje, somos Membros do Corpo Auxiliar e estamosjuntos. Não conhecemos os desígnios de Deus. É possível quedaqui a alguns anos estejamos ainda presentes neste mundomaterial, e relembrando estes fatos maravilhosos, mas também épossível que não estejamos fisicamente próximos e então estesrelatos serão as lembranças vivas e significativas, uns dos outros.

Nada muda a vontade de Deus. O curso do caminho podeaté variar, mas o ponto de chegada sempre será o mesmo.

Dentre milhões de amantes de Sua Santidade Bahá’ú’lláh,dedicados servos, com anos de significativos serviços pelamisericórdia divina, 990 foram convidados para a conferência dainauguração do edifício do Centro Internacional de Ensino, e láestavam 849.

Do Brasil éramos 25. Alguns de outros países tinham um mêsde nomeação.

Na mensagem de 14 de janeiro de 2001, a Casa Universal de

Page 90: Não Foi um Sonho

70

NÃO FOI UM SONHO...

Justiça faz referência ao valor de nossos futuros serviços para oavanço do processo de entradas em tropas. Não podemos e nãodevemos ser negligentes.

Em sua sabedoria, a Casa Universal de Justiça tomou umaação para garantir o sucesso da Instituição. Chama – A TerraSanta para nutri-la com “o espírito rarefeito dos SantuáriosSagrados”.

O momento é descrito pela Casa Universal de Justiça como:

�“O início daquilo que futuras gerações irão se

refletir como um esplêndido capítulo nos anais de

nossa Fé.�”

Quando chegamos lá éramos um tipo de pessoa. Ao deixar aTerra Santa, milhões de reflexões eram feitas.

Numa das palestras do Sr. Furútan, ele contou que uma criançabahá’í estudava em uma classe e cada vez que a professora entrava,ele punha-se de pé, de forma muito respeitadora. Depois de algunsdias a professora, certamente achando estranho, perguntou aoaluno por que levantava todas as vezes que ela chegava, já que osdemais não costumavam fazer isso. Ele respondeu: “Eu sou umacriança bahá’í. E então meteu a mão no bolso, puxou um folheto edeu a professora.”

As palestras da Mão da Causa de Deus Sr. Ali-Akbar Furútanforam verdadeiramente um presente de Deus para nós.

Cada exemplo que era dado, era uma lição de vida. Nãotemos dúvida disso. Assim como não temos dúvida das orações

Page 91: Não Foi um Sonho

71

CONCLUSÃO

da Casa Universal de Justiça para o sucesso em nossos serviços.Oxalá sejamos dignos...

Não poderíamos deixar de registrar nosso respeito eadmiração pela organização do evento na presteza dos serviçosoferecidos, a humildade das pessoas que desempenharam as maisdiversas funções no sentido de garantir nosso conforto. Foi apersonificação da excelência.

Nossos agradecimentos aos jardineiros que cuidam dospatamares e a cada pessoa que amorosamente nos atendia, nosônibus, na casa dos Peregrinos, nos Lugares Sagrados, enfim emcada lugar que estivemos.

De forma especial à Casa Universal de Justiça e ao CentroInternacional de Ensino e as Mãos da Causa de Deus, Senhores“Alí-Akbar Furútan” e “Alí-Muhammad Vargá”.

Que Sua Santidade Bahá’ú’lláh nos faça firmes em SeuCaminho neste dia.

�“O Dia em que as fragrâncias da misericórdia

manaram sobre todas as coisas criadas, um Dia tão

abençoado que as eras passadas e os séculos idos

não podem esperar jamais o rivalizar...�”

Bahá’ú’lláh

Page 92: Não Foi um Sonho

72

NÃO FOI UM SONHO...

Apêndice

O Pitoresco da Viagem à Haifa

Caro leitor, é impossível quatorze pessoas viajarem juntas doBrasil a Haifa sem passarem por situações no mínimo engraçadas.Alguns amigos viajaram no mesmo dia, mas em companhias aéreasdiferentes. Nosso vôo era pela KLM. Juntos estavam LuísGonzaga, Jorge, Sadat, Orisson, Diógenes Andrade, Srª Mahrou,Aneri, Márcia, Fátima, Antonia, Glória, Valdeci, Leni e Conceição.Nos encontramos em São Paulo para fazermos o vôo juntos paraAmsterdam. Logo que cheguei, descobri que estava com o cartãode vacina contra Hepatite e não contra febre amarela. Foi umsacrifício fazer o funcionário do Ministério da Saúde por meusdados numa carteira para que eu levasse. Só colocou graças aajuda de Glória, com seu tino diplomático. Eu estava justamenteprocurando o Ministério da Saúde quando encontrei Gloria eOrisson no aeroporto. Estava muito eufórica por isso devo terdito que procurava o Ministério Público. Pronto! Foi o suficientepara Orisson ficar contando para todos que queria tirar carteirade Saúde no Ministério Público.

Ao embarcar para Amsterdam deu-se o primeiro contratempo.Foi algo inexplicável. O serviço de som chamou Jorge para um

Page 93: Não Foi um Sonho

73

APÊNDICE

determinado guichê. Luis Gonzaga, Sadat, Orisson, Sra. Mahroue Diógenes seguiram em frente. Então um policial federal pediu deforma ríspida que Aneri encostasse na parede. Alguns minutosantes, Aneri, havia descoberto que não estava com sua carta convite.Orisson tinha cópia e tirou uma e deu para Aneri, queprovidencialmente entregou ao policial que a interpelava. Éramosoito mulheres e ficamos também na parede em companhia de Aneri.Os demais passageiros passavam nos olhando interrogativamente.Outro policial pegou a carta leu e disse para o colega que íamos aHaifa a convite de uma instituição. Parece que o inglês dele nãoera muito bom. Mas pelo menos era mais gentil. Fomos entãoliberados. Jorge havia sido chamado por nada. Ele se apresentouno guichê, mas ninguém queria falar com ele. Seguimos nossaviagem. Não sabemos ao certo o que houve.

Passamos a noite inteira no vôo.Durante a viagem quem ficou na roda do riso, foi Valdeci por

não ter entendido a pergunta em inglês da aeromoça.No aeroporto de Amsterdam, após uma noite inteira de vôo,

havia a possibilidade de haver um passeio de trem pela cidade ede barco pelo canal. Mas o custo era um pouquinho caro e otempo estava muito frio.

O grupo se dividiu. Alguns saíram e outros ficaram.O quesaiu era formado por Luís, Fátima, Leni, Sadat, Orisson e Aneri.Eles certamente esqueceram que não estavam no Brasil nãolevaram passaporte. Inexperiência de “marinheiro de primeiraviagem”, porém nem todos eram. O resultado da inexperiência éque ficaram detidos por quase três horas correndo o risco de serem

Page 94: Não Foi um Sonho

74

NÃO FOI UM SONHO...

mandados de volta para o Brasil. Fátima e Leni ficaram liberadaspara pegar o passaporte dos que não haviam levado.

Após andarem até os pés doerem, conseguiram carona numcarrinho, que atende os funcionários, para nos encontrar, mas comohavíamos mudado de lugar - fomos ao McDonalds não nosencontramos. Tentaram chamar Jorge pelo serviço de comunicaçãodo aeroporto, mas a pronúncia da moça falando em espanhol nãoera audível.

Nos encontramos por acaso no aeroporto. Jorge foi levar opassaporte para liberá-los. Algum tempo depois, Márcia foichamada também para atender um chamado de Orisson. Eu e Val,que tínhamos sido motivo de riso, e que antes dissemos à Márciapara não ir ao encontro deles, sugerimos que agora fosse. Ela foi omais rápido possível. Foi muito engraçado esse momento. Luís eOrisson e Sadat chegaram por um setor; Aneri, quase emdesespero, pelo outro. E Márcia? Logo aparece do mesmo ladoque foi, mas um homem uniformizado diz que deve voltar e entrarpelo outro lado. Ela obedeceu. Depois de alguns longos minutosestamos todos juntos. É quase hora de fazer o chek-in para o vôode Haifa. Embarcamos.

É madrugada quando chegamos a Tel Aviv.Fila para carimbar passaporte. Na mesma fila está Luís, Sadat

e eu. Luís sai pra um guichê vazio, Sadat chega ao guichê. A moçaque o atende se comunica com outra no guichê ao lado apontandopara o nome no passaporte, fala num aparelho, chegam variaspessoas, levam-no para um lugar reservado. Ao terminar meu vistovou avisar que levaram Sadat. Márcia e outros estão indo ver o

Page 95: Não Foi um Sonho

75

APÊNDICE

que aconteceu, mas logo aparece Sadat, que tinha sido liberado.O sobrenome tinha sido suficiente justificativa.

Vamos enfim receber as malas. Quatro malas não chegaram.A de Aneri, Diógenes Andrade, Jorge e Glória e a de Leni estavaarrombada, mas só sumiu o livro de orações. Tivemos que enfrentaruma longa espera para que os amigos preenchessem formulários erecebessem uma quantia em dinheiro para providenciar algumaspeças de roupas até que as malas aparecessem.

A chegada no hotel daria um capítulo à parte.Com relação ao nome Sadat, ficou proibido de ser

pronunciado em Haifa ou era pronunciado baixinho.Houve um momento que até levei um susto. Foi quando Glória

falando com Sadat chamou:- Chiquinho venha! Eu perguntei?- Quem é Chiquinho? (Ora, no grupo não havia nenhumChiquinho)- Quem poderia ser? Que nome não podemos falar?- Ah!E ela continuou:- Venha Chiquinho? (riso...riso...)Muito riso.......

Page 96: Não Foi um Sonho

76

Page 97: Não Foi um Sonho
Page 98: Não Foi um Sonho