nada segura a tecnologia – automação e sustentabilidade · nada segura a tecnologia –...

2
Em pauta 96 97 Automação Caderno de Eletricidade Nada segura a tecnologia – Automação e sustentabilidade Por José Juarez Guerra N ada segura a tecnologia. Esta é uma frase de efeito e abrangência. Quando usamos a palavra tecnologia, sempre nos vêm à mente produtos novos, desempe- nhando funções que não se pensava executar até bem pouco tempo atrás, de forma simples, cômoda e móvel. Comece a observar a seu redor as tecnologias que se acercam, e verá que muitas delas, você nem mesmo percebeu que está usufruindo. Note que não se vive mais sem a internet nem sem e-mails. Perceba que a conectividade e a mobilidade já fazem parte de seu cotidiano. Hoje, não se fala somente “conectado à internet”, mas também da “internet das coisas”, ou seja, em uma sala de conferências ou em um seminário, um congresso, pessoas reunidas com seus aparelhos – smartphones ou tablets, que estão conectados uns aos outros automaticamente pela internet com conexão extremamente fácil, sincronizando as agendas e com- promissos previamente estabelecidos, enquanto se desenvolve o assunto do qual se está tomando parte. Hoje em dia, já se pode pagar a fruta comprada no semáforo da esquina com cartão de crédito, e muitas outras coisas pela internet. A evolução é tão rápida que quando se percebe, já se está usando uma Smart TV, um Smartphone, um iPad, uma Ap- pleTV, para as mais variadas funções, dentre elas, controlar o uso da energia de sua casa ou escritório. O advento da internet tornou o mundo pequeno, aumentou a velocidade das informa- ções, disponibilizou e facilitou o acesso à informação, e pode e vem ajudando a contribuir para reduzir as diferenças sociais, derrubar governos (as mais fechadas ditaduras que se pode ima- ginar, como aconteceu recentemente com a “primavera árabe”). Responda rapidamente: Quantos por cento de informação você pode acessar de qualquer coisa que você pretende pes- quisar ou saber? Há mais de 90% de tudo o que você quer saber disponível, e em tempo real! Paradigmas vêm sendo quebrados... Hoje, o Facebook já se acerca de mais de um bilhão de usuá- rios, o que corresponde, praticamente, à população da Índia. As redes sociais estão no dia a dia das empresas, entre os jovens, adultos, e também pessoas de terceira idade que estão usando o “Face” para se comunicar e compartilhar experiências. As crianças, que começam cada vez mais cedo a entender e utilizar das tecnologias disponíveis, se familiarizam com os aparelhos e com sua utilização rapidamente. Pais já bloqueiam o acesso a compras de aplicativos, pois os filhos, embora com quatro ou cinco anos, já sabem chegar facilmente ao ponto de aquisição de um aplicativo, por exemplo, no smartphone. Pesquisa recente nos EUA aponta que jovens entre 19 e 25 anos enviam cerca de 3.500 SMS por mês e conseguem digitar sem olhar para o teclado. Imagine um aluno que, supostamente, está pres- tando atenção à aula, mas que, na verdade, está digitando algo para seu colega que está em outra sala ou outra parte do mundo! O que tudo isto tem a ver com o assunto automação residen- cial e sustentabilidade? Tem tudo a ver, pois é por aí que estão caminhando muitos temas, entre eles, a automação predial e residencial. Temos, porém, que agregar algo a mais para poder entender melhor o que está acontecendo. As gerações mais jovens estão totalmente inseridas e conec- tadas fortemente à internet. Por exemplo, os jovens da geração Y, na empresa, trabalham conectados, executam tarefas simultâ- neas, querem mais velocidade de resposta às suas demandas, são ansiosos, manejam e armazenam um volume enorme de informações, desejam crescer rapidamente na carreira e ganhar bem, quase sem tempo para adquirir experiência e colocando- -se em conflito, quase sem perceber, com os funcionários da mesma empresa de gerações anteriores. Tudo isto se deve ao contexto em que estão inseridos, pois em seu local de trabalho há a disponibilidade de todas as tecnologias possíveis para que se execute as tarefas com rapidez. Dessa forma, começa um dilema, pois ao chegar em casa, essa mesma pessoa quer obter as mesmas condições que possui em seu trabalho, agregando, então, o tema conforto e segurança de acordo com seu perfil. Imagine que somente no Brasil, recentemente, mais de 40 milhões de pessoas começaram a ter acesso a novos produtos, dentre os de alta tecnologia, disponíveis no mercado. Atualmente, o número de celulares no País já é maior que a população brasileira! Assim, começamos a traçar um paralelo com as necessidades das pessoas e o que se está oferecendo no tema automação predial. A automação predial ganhou força em especial no Brasil com o advento do home theater. Os últimos 10 anos têm sido de muito apren- dizado, relacionado a novos conceitos, compreensão das necessidades das pessoas e entendimento de que não se trata apenas de conforto. Empresas globais, reconhecendo o potencial de mercado brasi- leiro, estão desembarcando em nosso País trazendo suas soluções e produtos, ao passo que as nacionais concentram-se na criação, desenvolvimento e fabricação de soluções. Redes de integradores e distribuidores de produtos específicos para a automação crescem a cada dia! A cada dia também é maior o interesse sobre o assunto em todos os níveis. As entidades ligadas a Building Automation no mundo todo estão trabalhando para dissemi- nar os conceitos de automação, com ou sem fio, pré-automação etc., ajudando, assim, a formar pessoas, grupos e congregar empresas para levar o tema à frente, como é o caso da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside) aqui no Brasil. As universidades, escolas técnicas e profissionalizantes, de for- mação de mão de obra qualificada, como o Senai, oferecem cursos por todo o País na busca de capacitar seus alunos para esse fim. Um ponto importante é destacar que as empresas que ofe- recem a automação predial residencial já entenderam que é preciso escutar o usuário final, suas necessidades, identificar o grau de conforto, segurança, que ele espera obter com a automação, para se oferecer soluções de acordo com o seu perfil, não oferecendo algo “engessado”, pronto para uso, que muitas vezes está além ou não atende o que o cliente almeja. Muitas empresas, pelo fato de não oferecerem alternativas para deixar preparado o empreendimento para receber inter- faces e novas tecnologias, ou até mesmo, a pré-automação, deixaram de executar os projetos no passado, perdendo suas receitas quase que definitivamente, pois, devido ao custo, o usuário ou construtora optavam por executar as instalações da forma tradicional, dificultando (embora não bloqueando) a aplicação de tecnologias sem fio, ou com cabeamento dedi- cado. Preparando o empreendimento, as portas ficam abertas para aplicação de qualquer tecnologia que esteja disponível. Entramos agora por outro caminho, que vem a cada dia ganhando força no mundo, seja a nível empresarial, gover- namental ou pessoal: a sustentabilidade. Os temas Smart City, Smart Grid, economia de energia e sus- tentabilidade estão ganhando cada vez mais espaço na mente de todos. Hoje, existem muito mais pessoas conscientes e preocu- padas com o meio ambiente, não somente com a cidade em que vivem, mas com seu estado, país e mundo. Assim, essa massa de pessoas que está chegando exigirá muito rapidamente que sua casa seja mais que inteligente; que seja também eficiente. O mundo se desenvolveu através do uso das diversas energias, mas ganhou impulso no século XXI com a energia Quebra de paradigmas

Upload: nguyenngoc

Post on 07-Feb-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Nada segura a tecnologia – Automação e sustentabilidade · Nada segura a tecnologia – Automação e sustentabilidade Por José Juarez GuerraN ada segura a tecnologia. Esta é

Em pauta96 97Automação

Caderno de Eletricidade

Nada segura a tecnologia – Automação e sustentabilidadePor José Juarez Guerra

Nada segura a tecnologia. Esta é uma frase de efeito e abrangência. Quando usamos a palavra tecnologia, sempre nos vêm à mente produtos novos, desempe-nhando funções que não se pensava executar até bem pouco tempo atrás, de forma simples, cômoda e móvel.

Comece a observar a seu redor as tecnologias que se acercam, e verá que muitas delas, você nem mesmo percebeu que está usufruindo. Note que não se vive mais sem a internet nem sem e-mails. Perceba que a conectividade e a mobilidade já fazem parte de seu cotidiano. Hoje, não se fala somente “conectado à internet”, mas também da “internet das coisas”, ou seja, em uma sala de conferências ou em um seminário, um congresso, pessoas reunidas com seus aparelhos – smartphones ou tablets, que estão conectados uns aos outros automaticamente pela internet com conexão extremamente fácil, sincronizando as agendas e com-promissos previamente estabelecidos, enquanto se desenvolve o assunto do qual se está tomando parte.

Hoje em dia, já se pode pagar a fruta comprada no semáforo da esquina com cartão de crédito, e muitas outras coisas pela internet. A evolução é tão rápida que quando se percebe, já se está usando uma Smart TV, um Smartphone, um iPad, uma Ap-pleTV, para as mais variadas funções, dentre elas, controlar o uso da energia de sua casa ou escritório. O advento da internet tornou o mundo pequeno, aumentou a velocidade das informa-ções, disponibilizou e facilitou o acesso à informação, e pode e vem ajudando a contribuir para reduzir as diferenças sociais, derrubar governos (as mais fechadas ditaduras que se pode ima-ginar, como aconteceu recentemente com a “primavera árabe”).

Responda rapidamente: Quantos por cento de informação você pode acessar de qualquer coisa que você pretende pes-quisar ou saber? Há mais de 90% de tudo o que você quer saber disponível, e em tempo real!

Paradigmas vêm sendo quebrados... Hoje, o Facebook já se acerca de mais de um bilhão de usuá-

rios, o que corresponde, praticamente, à população da Índia. As redes sociais estão no dia a dia das empresas, entre os jovens, adultos, e também pessoas de terceira idade que estão usando o

“Face” para se comunicar e compartilhar experiências. As crianças, que começam cada vez mais cedo a entender e utilizar

das tecnologias disponíveis, se familiarizam com os aparelhos e com sua utilização rapidamente. Pais já bloqueiam o acesso a compras de aplicativos, pois os filhos, embora com quatro ou cinco anos, já sabem chegar facilmente ao ponto de aquisição de um aplicativo, por exemplo, no smartphone.

Pesquisa recente nos EUA aponta que jovens entre 19 e 25 anos enviam cerca de 3.500 SMS por mês e conseguem digitar sem olhar para o teclado. Imagine um aluno que, supostamente, está pres-tando atenção à aula, mas que, na verdade, está digitando algo para seu colega que está em outra sala ou outra parte do mundo!

O que tudo isto tem a ver com o assunto automação residen-cial e sustentabilidade? Tem tudo a ver, pois é por aí que estão caminhando muitos temas, entre eles, a automação predial e residencial. Temos, porém, que agregar algo a mais para poder entender melhor o que está acontecendo.

As gerações mais jovens estão totalmente inseridas e conec-tadas fortemente à internet. Por exemplo, os jovens da geração Y, na empresa, trabalham conectados, executam tarefas simultâ-neas, querem mais velocidade de resposta às suas demandas, são ansiosos, manejam e armazenam um volume enorme de informações, desejam crescer rapidamente na carreira e ganhar bem, quase sem tempo para adquirir experiência e colocando--se em conflito, quase sem perceber, com os funcionários da mesma empresa de gerações anteriores. Tudo isto se deve ao contexto em que estão inseridos, pois em seu local de trabalho há a disponibilidade de todas as tecnologias possíveis para que se execute as tarefas com rapidez.

Dessa forma, começa um dilema, pois ao chegar em casa, essa mesma pessoa quer obter as mesmas condições que possui em seu trabalho, agregando, então, o tema conforto e segurança de acordo com seu perfil.

Imagine que somente no Brasil, recentemente, mais de 40 milhões de pessoas começaram a ter acesso a novos produtos, dentre os de alta tecnologia, disponíveis no mercado. Atualmente, o número de celulares no País já é maior que a população brasileira! Assim, começamos a traçar um paralelo com as necessidades das pessoas e o que se está oferecendo no tema automação predial.

A automação predial ganhou força em especial no Brasil com o advento do home theater. Os últimos 10 anos têm sido de muito apren-

dizado, relacionado a novos conceitos, compreensão das necessidades das pessoas e entendimento de que não se trata apenas de conforto.

Empresas globais, reconhecendo o potencial de mercado brasi-leiro, estão desembarcando em nosso País trazendo suas soluções e produtos, ao passo que as nacionais concentram-se na criação, desenvolvimento e fabricação de soluções.

Redes de integradores e distribuidores de produtos específicos para a automação crescem a cada dia! A cada dia também é maior o interesse sobre o assunto em todos os níveis. As entidades ligadas a Building Automation no mundo todo estão trabalhando para dissemi-nar os conceitos de automação, com ou sem fio, pré-automação etc., ajudando, assim, a formar pessoas, grupos e congregar empresas para levar o tema à frente, como é o caso da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside) aqui no Brasil.

As universidades, escolas técnicas e profissionalizantes, de for-mação de mão de obra qualificada, como o Senai, oferecem cursos por todo o País na busca de capacitar seus alunos para esse fim.

Um ponto importante é destacar que as empresas que ofe-recem a automação predial residencial já entenderam que é preciso escutar o usuário final, suas necessidades, identificar o grau de conforto, segurança, que ele espera obter com a automação, para se oferecer soluções de acordo com o seu perfil, não oferecendo algo “engessado”, pronto para uso, que

muitas vezes está além ou não atende o que o cliente almeja. Muitas empresas, pelo fato de não oferecerem alternativas

para deixar preparado o empreendimento para receber inter-faces e novas tecnologias, ou até mesmo, a pré-automação, deixaram de executar os projetos no passado, perdendo suas receitas quase que definitivamente, pois, devido ao custo, o usuário ou construtora optavam por executar as instalações da forma tradicional, dificultando (embora não bloqueando) a aplicação de tecnologias sem fio, ou com cabeamento dedi-cado. Preparando o empreendimento, as portas ficam abertas para aplicação de qualquer tecnologia que esteja disponível.

Entramos agora por outro caminho, que vem a cada dia ganhando força no mundo, seja a nível empresarial, gover-namental ou pessoal: a sustentabilidade.

Os temas Smart City, Smart Grid, economia de energia e sus-tentabilidade estão ganhando cada vez mais espaço na mente de todos. Hoje, existem muito mais pessoas conscientes e preocu-padas com o meio ambiente, não somente com a cidade em que vivem, mas com seu estado, país e mundo. Assim, essa massa de pessoas que está chegando exigirá muito rapidamente que sua casa seja mais que inteligente; que seja também eficiente.

O mundo se desenvolveu através do uso das diversas energias, mas ganhou impulso no século XXI com a energia

Quebra de paradigmas

Page 2: Nada segura a tecnologia – Automação e sustentabilidade · Nada segura a tecnologia – Automação e sustentabilidade Por José Juarez GuerraN ada segura a tecnologia. Esta é

Em pauta98 99Automação

elétrica. Até o ano de 2030, o mundo dobrará a necessidade do uso de energia para residências e comércio, e se inserir-mos indústrias, transportes etc., essa necessidade tende a dobrar até 2050. Aí vem um dilema: como gerar toda essa energia sem prejudicar o planeta? Cientistas afirmam que até 2050 poderemos, no máximo, emitir a metade de carbono que se emite hoje. O mundo deverá ter, até 2030, cerca de oito bilhões de pessoas, ou seja, um bilhão a mais do que há hoje. Somente a Índia cresce um Brasil por ano!

Traçando esse cenário, começamos a compreender melhor a neces-sidade de economizarmos energia, que está relacionada diretamente à sustentabilidade. Economizar somente é diferente de gerenciar o uso, pois gerenciar significa, em poucas palavras, usar a energia com inteligência. Assim sendo, a residência de uso individual, ou o condomínio, ou a indústria, já mostram sinais claros do uso racional da energia, gás e também o controle do consumo da água.

Então, os edifícios, casas e condomínios industriais terão de ser construídos ou adaptados para esse fim. A quantidade de construções de edifícios verdes chamados de Green Buildings está sendo cada vez maior, assim como a busca do selo verde para edificações já construídas. Sistemas de certificação para edifícios ganham cada vez mais espaço, entre eles, o LEED, AQUA, Procel, Procel Edifica, Casa Clima, entre outros.

O desempenho de máxima eficiência na automação não está garantido simplesmente pelos sistemas e conceitos, projetos arquitetônicos, luminotécnicos, elétricos ou conectividade apli-cados em um empreendimento, seja autônomo ou coletivo, caso não haja uso correto e gerenciamento dos projetos integrados. Assim, os usuários devem estar conscientes das tecnologias e suas ferramentas para esse gerenciamento.

As construtoras têm solicitado projetos diferenciados buscando sustentabilidade como forma de marketing e vendas; já os arquitetos vêm cada vez mais buscando a sustentabilidade, aplicando conceitos aos seus projetos na redução de energia, otimizando a utilização da luz natural, melhorando os sistemas de ventilação, aplicando produtos e conceitos de isolação térmica e acústica, proporcionando maior conforto e redução do uso dos aparelhos de ar condicionado e, consequentemente, a redução do consumo de energia elétrica.

Empresas de projetos elétricos e luminotécnicos têm adotado produtos de baixo consumo e alto rendimento, e também de aplicação e manutenção simples, como sensores de movimento e presença, programadores de horário, dimmers, contatores para iluminação com bobinas de baixo consumo, relés de impulso para comando e seleção simples de circuitos elétricos, entre tantos outros.

Já os integradores executam papel importante, fazendo o uso si-nérgico de tudo que se apresenta em termos de projetos, conceitos, necessidades individuais e coletivas do empreendimento como um todo, observando o futuro para aplicação e uso das tecnologias que estão se apresentando, como as energias renováveis aplicadas aos edifícios.

Os dois vilões do consumo de energia são o ar condicionado e a iluminação. No caso da iluminação, note o crescimento da aplicação das lâmpadas econômicas e lâmpadas LEDs, agora com alto rendi-mento luminotécnico. Imagine que existem lâmpadas LEDs que duram cerca de 25 anos! Assim, alguns dos que estão lendo este artigo, instalarão lâmpadas LEDs em suas casas e não chegarão a vê-las substituídas por novas, por questões óbvias de longevidade humana.

Hoje em dia, diversos fabricantes e fornecedores de auto-

mação predial oferecem ferramentas de gerenciamento atra-vés da web, mostrando gráficos, módulos interativos, com atualizações periódicas, cumulativas, onde se pode interagir e selecionar cargas para redução do uso de energia elétrica, gás, ou ainda, bloquear ou liberar sensores ou controladores de vazão de água. Tudo isto é possível através de interfaces que recebem e tratam os sinais auferidos e registrados em seu medidor específico, enviando-os e armazenando-os na web. Essas interfaces estão instaladas em salas técnicas dos condomínios ou dos painéis de automação das unidades autônomas, proporcionando a cada usuário gerenciar suas contas, buscando a sustentabilidade.

O Smart Grid é conhecido, basicamente, como a forma inteligente de gerar, transmitir, distribuir e utilizar a energia elétrica. O uso racional da energia elétrica contribuirá muito para a sustentabilidade. Números indicam que 36,6 bilhões serão aplicados em Smart Grids até 2022.

Sabemos que está em curso a substituição de cerca de 65 milhões de medidores de energia elétrica em todo o País. Esses medidores devem ser inteligentes, entre várias funções; devem ser bidirecional (você pode gerar energia e devolver à rede – vamos abordar este assunto mais adiante), pré-pago, ter dados de qualidade de energia (o usuário poderá ter um relatório de perda de energia, horários etc.), e o principal, que é a tarifa branca, assim chamada para o controle de horário do uso de energia, onde nos horários de pico – dependendo da região do País, – entre 17h e 21h, a energia tem custos diferenciados, possibilitando, assim, que o usuário econo-mize energia, evitando pagar mais por ela ao mesmo tempo.

O quebra-cabeça começa a se formar quando se fala em cogeração. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou, em 17 de abril de 2012, regras destinadas a reduzir barreiras para instalação de geração distribuída de pequeno porte, que incluem a microgera-ção, com até 100KW de potência, e a minigeração de 100kW a 1mW.

Em outras palavras, o usuário poderá gerar energia e vendê-la à concessionária conforme a regulamentação de hoje, um para um. Ou seja, no final de um período, verifica-se a quantidade total de quilowatts gerados e injetados na rede da concessio-nária distribuidora de energia elétrica e, para cada 1kW gerado, desconta-se um consumido, pagando-se, assim, a diferença – daí a necessidade de os medidores serem bidirecionais e inteligentes.

Dentre as energias renováveis disponíveis, as que melhor se adaptam são a eólica, e em especial a fotovoltaica para o uso em edifícios e casas.

A energia eólica já tomou seu lugar com os parques instala-dos e sendo construídos em vários Estados do país. A energia fotovoltaica está tendo uma expansão forte no mundo. Imagine na Europa, em especial a Alemanha, Itália, Espanha e nos EUA, particularmente na Califórnia, Japão, Coreia do Sul e China, estão muito adiantados, não somente na regulamentação e uso da energia solar em residências, mas na produção de itens e com-ponentes para instalação, entre estes, as placas fotovoltaicas, inversores, cabos etc., gerando emprego e renda nestes países. A China é hoje o maior produtor de placas solares do mundo, tomando a posição da Alemanha, e mais recentemente, dos EUA.

O sol está presente, dependendo da latitude e longitude, basicamente das 6h às 18h, com sua condição máxima de geração às 12h, justamente quando a maioria das pessoas

não está em casa. Assim, saber usar racionalmente a energia no fim do dia, quando as tarifas forem mais caras, será primordial.

Hoje, as concessionárias de energia estão se preparando para isto. Existem vários projetos-piloto em diversas capitais, onde já se instalaram medidores inteligentes e onde em uma delas o usuário verifica através de sinalização colorida, se está consumindo, dentro dos parâmetros, ou se está gastando muito para seu perfil, ainda mais com as concessionárias disponibilizando, via internet, acesso ao usuário para que saiba de seu consumo. Daí para o gerenciamento das cargas é um passo!

Assim, os projetistas elétricos e os integradores ajudarão o usuário final a de-cidir de quais funções ele necessitará no medidor de energia. Vai, então, separar as cargas e possibilitar, através da habilitação ou não daquela carga no horário que for mais conveniente ao cliente, de acordo com o perfil de sua família. As concessionárias disponibilizarão uma série de serviços praticamente como é feito hoje nas telecomunicações, pelas concessionárias de telefonia. Em resumo, po-deremos, mais adiante, pagar por banho tomado!

Junte-se a isto os automóveis elétricos (híbridos ou não), as bicicletas elétricas que se espalham por várias cidades do mundo de forma vertiginosa e o fato de que você poderá carregar a bateria do seu automóvel ou bicicleta no estacionamento do super-mercado, ou ainda, no escritório enquanto trabalha, e depois, ao chegar em sua casa, conectar o carro ou bicicleta e devolver a energia armazenada para a rede elétrica.

Sabemos que os governos do mundo todo estão buscando soluções e novas fontes de energia. Embora nosso País tenha uma matriz limpa, aproveitando o enorme potencial hídrico, nossa energia elétrica é uma das mais caras do mundo. Vide recente reivindicação da classe empresarial na redução das tarifas elétricas, buscando melhor competitividade. Tanto que o Governo acaba de sinalizar a re-dução para 2013, tanto a nível residencial como industrial.

Recentes dados do Governo, em especial, Ministério de Minas e Energia, indicam que o Brasil apresentou em Matriz Energética um consumo em 2010 de 53% para combustíveis fósseis, com previsão de redução para 51% em 2020. Já em energias renováveis, em 2010, apresentava 45% e está previsto aumentar para 48% em 2020.

Enormes investimentos do governo a nível federal e estadual estão previstos para os próximos anos, na busca pela redução de energia e fontes renováveis.

Assim, a automação predial está diante de mais um paradigma a ser que-brado: Inteligente e eficiente agregando a sustentabilidade. O tempo em que se pensava somente em conforto com o home theater já passou. As pessoas hoje estão mais engajadas, por isto, todos os envolvidos, como construtoras, engenheiros, arquitetos, projetistas, integradores e instaladores devem estar atentos às mudanças e a novas tecnologias para preparar, adaptar, projetar e/ou construir a residência de acordo com as necessidades do usuário na questão conforto/segurança, mas, em especial, a sustentabilidade, no con-trole e gestão do consumo de energia elétrica, gás e água.

As construtoras devem se atentar para esse diferencial a ser oferecido, indo além dos requisitos básicos e oferecer a cogeração, a possibilidade de alimentação de carros elétricos, gerenciamento de energia elétrica, gás e água de uso coletivo. Isso possibilitará a redução do custo do condomínio aliado à sustentabilidade. Seria um diferencial de marketing e vendas para a construtora, mas oferecendo algo para contribuir com o futuro das novas gerações.

Nada segura a tecnologia.

>> José Juarez Guerra é engenheiro eletricista, formado pela Faculdade de Engenharia

de Mogi das Cruzes. Após 18 anos na filial brasileira da Sprecher & Schuh, implantou

no Brasil e, posteriormente, na Argentina, uma filial da fabricante italiana de relés e

temporizadores Finder. É membro ativo do Conselho de Desenvolvimento Econômico

de São Caetano do Sul (Condec) e diretor adjunto da Federação das Indústrias do Estado

de São Paulo (Fiesp). Realiza trabalhos como consultor palestrante em congressos,

fóruns e palestras em instituições de ensino, tendo sua trajetória profissional nas

áreas de automação e energia.