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na MODELAGEM MATEMÁTICA NO ENSINO MÉDIO – UM ESTUDO SOBRE O NÚMERO DE CONTRIBUINTES E APOSENTADOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL Alan Carlos de Oliveira 1 Faculdade de Apucarana – FAP [email protected] Rodolfo Eduardo Vertuan 2 Universidade Estadual de Londrina – UEL [email protected] Resumo Tomando a Modelagem Matemática para analisar questões que fazem parte de vida cotidiana, o estudante pode observar a aplicação da Matemática na sociedade e perceber que ela tem um lugar de destaque nessa sociedade, à medida que pode ser um instrumento de análise e reflexão de diferentes situações. Neste texto, num primeiro momento, apresenta-se a Modelagem Matemática na perspectiva da Educação Matemática, como uma alternativa pedagógica para o ensino e a aprendizagem da Matemática. Em seguida, aborda-se o assunto “crescente número de aposentados” e “diminuição do número de contribuintes da previdência social”, utilizando, para isso, os conteúdos matemáticos função do primeiro grau, função do segundo grau, método dos mínimos quadrados, sistemas, matrizes, regra de Cramer e escalonamento. Este trabalho conclui que atividades de Modelagem podem contribuir para a aprendizagem de Matemática enquanto os alunos discutem temas de seu interesse e/ou temas importantes na sociedade. Palavras-chave: Modelagem Matemática, Educação Matemática, Previdência Social. Introdução Ainda hoje, na maioria das escolas, o ensino de Matemática é mecânico e os alunos têm que reproduzir aquilo que o professor acredita ser importante. Como alternativa para este modelo de ensino, para viabilizar a aprendizagem da Matemática, os educadores matemáticos utilizam alternativas pedagógicas. Dentre elas, temos interesse especial, neste trabalho, pela Modelagem Matemática. Diante do modo como a matemática vem sendo ensinada em nossas escolas, a Modelagem Matemática surge como um dos muitos caminhos que podem tornar o ensino desta disciplina mais eficaz. A Modelagem Matemática pode ser vista tanto como método cientifico de pesquisa, quando encarada do ponto de vista da Matemática 1 Aluno graduado pela Faculdade de Apucarana – FAP (PR) no curso de Licenciatura em Matemática com ênfase em Informática. 2 Doutorando do programa de pós-graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática da Universidade Estadual de Londrina – UEL (PR).

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na

MODELAGEM MATEMÁTICA NO ENSINO MÉDIO – UM ESTUDO SOBRE O NÚMERO DE CONTRIBUINTES E

APOSENTADOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

Alan Carlos de Oliveira1 Faculdade de Apucarana – FAP

[email protected]

Rodolfo Eduardo Vertuan2 Universidade Estadual de Londrina – UEL

[email protected]

Resumo Tomando a Modelagem Matemática para analisar questões que fazem parte de vida cotidiana, o estudante pode observar a aplicação da Matemática na sociedade e perceber que ela tem um lugar de destaque nessa sociedade, à medida que pode ser um instrumento de análise e reflexão de diferentes situações. Neste texto, num primeiro momento, apresenta-se a Modelagem Matemática na perspectiva da Educação Matemática, como uma alternativa pedagógica para o ensino e a aprendizagem da Matemática. Em seguida, aborda-se o assunto “crescente número de aposentados” e “diminuição do número de contribuintes da previdência social”, utilizando, para isso, os conteúdos matemáticos função do primeiro grau, função do segundo grau, método dos mínimos quadrados, sistemas, matrizes, regra de Cramer e escalonamento. Este trabalho conclui que atividades de Modelagem podem contribuir para a aprendizagem de Matemática enquanto os alunos discutem temas de seu interesse e/ou temas importantes na sociedade.

Palavras-chave: Modelagem Matemática, Educação Matemática, Previdência Social. Introdução

Ainda hoje, na maioria das escolas, o ensino de Matemática é mecânico e os

alunos têm que reproduzir aquilo que o professor acredita ser importante. Como

alternativa para este modelo de ensino, para viabilizar a aprendizagem da Matemática,

os educadores matemáticos utilizam alternativas pedagógicas. Dentre elas, temos

interesse especial, neste trabalho, pela Modelagem Matemática.

Diante do modo como a matemática vem sendo ensinada em nossas escolas, a Modelagem Matemática surge como um dos muitos caminhos que podem tornar o ensino desta disciplina mais eficaz. A Modelagem Matemática pode ser vista tanto como método cientifico de pesquisa, quando encarada do ponto de vista da Matemática

1 Aluno graduado pela Faculdade de Apucarana – FAP (PR) no curso de Licenciatura em

Matemática com ênfase em Informática. 2 Doutorando do programa de pós-graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática da

Universidade Estadual de Londrina – UEL (PR).

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Aplicada, quanto como uma alternativa pedagógica para o ensino e aprendizagem de Matemática, se entendida sob a ótica da Educação Matemática.

(BASSANEZI, 2002, p.16).

A Modelagem1 é uma alternativa pedagógica por meio da qual a construção de

conhecimento se dá pela aplicabilidade deste conhecimento no cotidiano do aluno e não

por imposição (MACHADO JR, 2005).

No processo de uma atividade de Modelagem Matemática o aluno é levado a

usar de sua criatividade, característica essa que deve ser valorizada (MACHADO

JUNIOR, 2005, p.19).

Temos como objetivo, nesse trabalho, apresentar uma atividade de Modelagem

Matemática que pode ser utilizada, com as devidas adaptações, por professores de

Matemática em turmas do Ensino Médio, uma vez que no decorrer das mesmas,

utilizamos os conteúdos de Matemática deste nível de ensino como instrumentos que

possibilitam a análise e reflexão da situação que nos propusemos a investigar. É o caso

da “Previdência Social”.

1. Modelagem Matemática na perspectiva da Educação Matemática

A necessidade do uso de novas alternativas pedagógicas em sala de aula vem

sendo discutida há muito tempo e já existem muitos professores utilizando-as em sala de

aula, na tentativa de motivar os alunos e criar um ambiente onde os mesmos possam

refletir e construir do conhecimento.

Bittencourt (2001, apud NÉRI, 2004) destaca que vivemos num contexto onde

não é mais possível usar os antigos moldes de ensino na educação, pois são

extremamente estáticos, o que inibe, por sua vez, a interação que deve existir entre

professor e aluno e entre aluno e aluno. Faz-se necessário por parte dos envolvidos com

a educação fazer uma conexão da matemática escolar, com a matemática da rua e com

as áreas de trabalho para, assim, abrirem novas campos de reflexão, conduzindo os

alunos ao desenvolvimento de novas capacidades.

Utilizaremos neste trabalho a Modelagem Matemática como forma de

estabelecer relações entre a matemática escolar e a matemática da rua enquanto

1 Utilizaremos, em alguns momentos, o termo Modelagem sem o adjetivo Matemática para nos

referirmos a alternativa pedagógica “Modelagem Matemática”.

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discutimos assuntos apresentados, inicialmente, não necessariamente no contexto

matemático.

Bassanezi (2002) afirma que:

Modelagem matemática é um processo dinâmico utilizado para a obtenção e validação de Modelos Matemáticos. É uma forma de abstração e generalização com a finalidade de previsão de tendências. A Modelagem consiste, essencialmente, na arte de transformar situações da realidade em problemas matemáticos cujas soluções devem ser interpretadas na linguagem usual.

(BASSANEZI, 2002, p.24)

A Modelagem Matemática, segundo Chevallard et al (2001)

Consiste na construção de um modelo (matemático) que parte da realidade que nos interessa estudar, esmiuçar tal modelo e fazer a interpretação dos resultados obtidos no trabalho, para responder questões inicialmente apresentadas ou que surgiram no decorrer do estudo.

(CHEVALLARD et al, 2001, p.50)

Para Biembengut & Hein (2000, p.11-12) “um conjunto de símbolos e

relações matemáticas que procura traduzir, de alguma forma, um fenômeno em

questão ou problema de situação real, denomina-se modelo matemático”.

Segundo Bassanezi (2002), modelo matemático é a representação ou a

interpretação de parte da realidade ou da realidade, quando se seleciona fatores

considerados importantes em determinado fenômeno ou sistema. Quando

realizamos uma atividade de Modelagem estamos trabalhando com aproximações

da realidade, ou seja, estamos elaborando representações desta realidade

(BASSANESI, 2002).

Na tentativa de compreender a realidade que o cerca, o indivíduo se motiva com

relação à busca de meios para atingi-la e transformá-la. Pode-se assumir que a

Modelagem Matemática, nesse sentido, tem um papel na formação do cidadão

(BASSANESI, 2002).

A Modelagem faz com que o aluno tenha certa compreensão do papel sócio-

cultural da Matemática. Isso atua diretamente na sua formação, pois muitas vezes, a

Modelagem possibilita que os alunos passem a atuar ativamente na sociedade, tornando-

se auto-suficientes e capazes de analisar a forma como a Matemática é usada nos

debates sociais. A Matemática, quando usada em debates sociais e/ou até mesmo nos

meios de comunicação, exerce grande influência sobre as pessoas com relação à

veracidade e confiabilidade dos resultados. Isso é o que Skovsmose (2001) chamam de

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ideologia da certeza, isso acaba trazendo uma grande dificuldade da inserção de pessoas

nos debates sociais.

A Modelagem, segundo Barbosa (2003), pode contribuir para a formação de

cidadãos “desconfiados” e com visão crítica sobre as aplicações da matemática, à

medida que leva os alunos a interpretarem, refletirem e discutirem assuntos presentes

em seu cotidiano.

Se estamos interessados em educar matematicamente os nossos alunos para agir na sociedade e exercer a cidadania – e esse é o objetivo da educação básica-, podemos tomar as atividades de Modelagem como uma forma de desafiar a ideologia da certeza e colocar lentes críticas sobre as aplicações da matemática.

(BARBOSA, 2003, p. 4)

Com tal visão da Modelagem Matemática podemos dizer que ela pode fortificar

a intervenção das pessoas em decisões sociais que envolvam aplicações da Matemática,

e isso de certa forma nos permite dizer que contribuímos para criação de uma sociedade

mais democrática (BARBOSA, 2003).

O ambiente possibilitado pela modelagem está vinculado a problematização e a investigação. Na problematização os alunos criam perguntas e/ ou problemas. Na investigação eles buscam os dados e informações, fazem à seleção dos dados relevantes e organizam de forma clara e manipulam tais informações para a partir daí fazerem uma reflexão mais profunda sobre elas. Essas duas atividades não são separadas, elas atuam no processo de envolvimento do aluno para abordar a atividade proposta.

(BARBOSA, 2003, p.64)

Mudar de um paradigma de repetição para um paradigma de investigação, além

de necessário quando se pensa o aluno como construtor de seu conhecimento, é

importante frente às exigências de uma sociedade em constante mudança e cheia de

escolhas.

2. Previdência Social – desse jeito quebra

O Brasil é um dos países que atingiram um patamar mediano de

desenvolvimento e é normal que aconteça uma queda na taxa de fecundidade e um

envelhecimento populacional, isso vem acontecendo em nosso país com grande rapidez.

O problema é que esses avanços sociais fazem com que o sistema previdenciário tenha

uma despesa maior com os aposentados: “Se as pessoas vivem mais, elas receberam

aposentadoria durante um período de tempo maior. Por mais nobre que seja uma

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despesa destinada a assegurar a velhice digna, a questão é: como financiá-la?” (VEJA,

2008, p.101)

O número de aposentados no país cresce a cada ano, em um ritmo que não é

acompanhado pelo número de contribuintes do INSS (o sistema previdenciário oficial

dos trabalhadores da iniciativa privada). Segundo explicou Marcelo Caetano,

economista do instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), com base na taxa de

fecundidade atual do Brasil que é de 1,8 filhos por mulher, já em 2032 o número de

aposentados será maior que o número de contribuintes. Ainda acrescenta que se não

houver uma reforma previdenciária o rombo nas contas da Previdência assumirá

proporções astronômicas (VEJA, 2008). Note a tabela abaixo retirada da revista Veja:

Figura 1 – Número de contribuintes e aposentados brasileiros

Fonte: Revista Veja, 2008

Frente à situação, podemos investigar o seguinte problema:

Considerando as previsões, em que ano o número de contribuintes tende a ser o

mesmo que o número de aposentados?

Podemos considerar como hipótese, a partir da análise do gráfico acima, que o

crescimento do número de aposentados no decorrer do tempo é linear. Consideremos,

então, a Equação Reduzida da Reta bxay += . .

Segundo as informações retiradas do gráfico, podemos escrever a tabela:

Tabela 1 – Número de pessoas aposentadas

Ano (t) Tempo (t) N° de pessoas aposentadas em milhões(A) 2008 8 22,7 2032 32 43,7 2050 50 61,7

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Utilizando a idéia de que por dois pontos passam uma única reta e tomando os

pontos (8;22,7) e (50;61,7), obtemos 26,15.93,0)( += ttA , que representa a quantidade

de aposentados no Brasil no decorrer dos anos.

Para validar o modelo, apresentamos os cálculos na tabela seguinte:

Tabela 2 – Validação do Modelo Desse Jeito Quebra - sistema

Ano (t) Tempo (t) N° de pessoas aposentadas em milhões(A)

Modelo - Validação

2008 8 22,7 22,7 2032 32 43,7 45,02 2050 50 61,7 61,76

Em vez de utilizarmos dois pontos para obter a equação da reta como acabamos

de fazer, podemos, ainda, utilizar o Método dos Mínimos Quadrados, que serve para

gerar o que se chama em Estatística: Regressão Linear ou Ajuste Linear. Através desse

método encontramos os parâmetros da reta (coeficiente angular e coeficiente linear), ou

seja, procuramos encontrar o melhor ajuste dos pontos tentando minimizar as diferenças

entre a curva ajustada e os dados fornecidos.

Para que possamos calcular os parâmetros a e b na função bxay += . , usamos

∑ ∑

∑ ∑∑

= =

= =−

−×

−××

=n

i

n

i

ii

n

i

n

i

i

n

i

ii

xxn

yxiyxn

a

1

2

1

2

1 11 e n

xay

b

n

i

n

i

ii∑ ∑= =

×−

=1 1 , onde

ix representa o tempo(n) e

iy representa o número de pessoas aposentadas.

Utilizando os dados da tabela obtemos:

1,1592,0)( += ttA

Cuja validação segue abaixo:

Tabela 3 – Validação do Modelo Desse Jeito Quebra - MMQ

Ano (t) Tempo (t) N° de pessoas aposentadas

em milhões(A)

A(t)=0,92t+15,1

2008 8 22,7 22,46 2032 32 43,7 44,54 2050 50 61,7 61,1

Outra situação a ser investigada neste mesmo problema é com relação à

evolução do número de contribuintes brasileiros.

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Tabela 4 – Número de pessoas contribuintes

Por meio da análise do gráfico, podemos supor que o número de contribuintes

pode ser representado por meio de parte de uma parábola, o que se confirma quando

representamos os pontos (t, C) no plano cartesiano – como segue.

Gráfico 1 – Número de pessoas contribuintes

Por isso, tomando os três pontos, obtemos o sistema

O qual é possível reescrever como a multiplicação de matrizes

=

c

b

a

.

1592500

1321024

1864

9,43

4,43

34

Ano (t) Tempo (t) Número de pessoas contribuintes C

2008 8 34,6

2032 32 43,4

2050

50 43,9

++=

++=

++=

cb.50a.509,43

cb.32a.324,43

cb.8a.86,34

2

2

2

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Neste caso, para encontrarmos os valores a, b e c, podemos utilizar a Regra de

Cramer ou o Escalonamento.

A regra de Cramer é uma das maneiras de se resolver sistemas de equações

lineares em que o número de equações é igual ao número de incógnitas. Observe um

sistema com duas equações:

=+

=+

222

111

..

..

cybxa

cybxa

Podemos escrever esse sistema de uma forma matricial

=

2

1

22

11

c

c

y

x

ba

ba

Ou ainda, A . X = C

Onde

22

11

ba

ba= A é a matriz dos coeficientes

y

x= X é matriz das incógnitas

2

1

c

c= C é a matriz dos termos independentes.

Para encontrar o determinante da matriz dos coeficientes (det A), temos:

222122

11det bababa

baA −==

Substituindo a primeira coluna pela matriz dos termos independentes

encontramos o determinante de x

122122

11bcbc

bc

bcDx −==

E analogamente fazemos para o y

122122

11caca

ca

caDy −==

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Segundo a Regra de Cramer

A

Dx x

det=

A

Dy

y

det=

Observe que no denominador temos o determinante da matriz dos coeficientes

(det A diferente de 0) e no numerador aparece o determinante da matriz obtida de A,

substituindo a i-ésima coluna pela coluna dos termos independentes. Este método de

resolução de um sistema linear de n equações e n incógnitas, que só pode ser aplicado

quando o determinante da matriz dos coeficientes for não nulo, é chamado de Regra de

Cramer.

Utilizando a Regra de Cramer para resolver problema:

det 18144−=A

det 4,1461 =A

det 8,125082 −=A

det 6,5370813 −=A

00807.018144

4,146≅

=A

689,018144

80,12508≅

−=B

6,29

18144

6,537081≅

−=C

E por este método, encontramos:

6,29.689,0.00807,0)( 2++−= tttC

O método de eliminação de Gauss para solução de sistemas de equações

lineares, também conhecido como escalonamento, baseia-se em três transformações

elementares, a saber:

• Um sistema de equações não se altera, quando permutamos as posições de

duas equações quaisquer do sistema.

• Um sistema de equações não se altera, quando multiplicamos ambos os

membros de qualquer uma das equações do sistema, por um número real

não nulo.

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• um sistema de equações lineares não se altera, quando substituímos uma

equação qualquer por outra obtida a partir da adição membro a membro

desta equação, com outra na qual foi aplicada a transformação T2.

Para se resolver um sistema por meio do escalonamento tem-se o objetivo de

escrever o sistema na forma

=

=+

=++

3

2

1

kfz

kezdy

kczbyax

de modo a possibilitar achar o valor de z

facilmente (z = k3 / f ) e daí, por substituição, determinar y e x. Não existe uma regra

geral para o escalonamento de um sistema de equações lineares, o que tem que ser

seguido são as três transformações citadas acima as utilizando de maneira correta e

oportuna.

Observe o sistema

++=

++=

++=

cb.50a.509,43

cb.32a.324,43

cb.8a.86,34

2

2

2

resolvido passo a passo por meio do

escalonamento:

Passo 1: L1 . (-16) + L2 L2

Passo 2: L1 . 625 e L3 . (-16)

Passo 3: L3+L1 L3

=++

=++

=++

9,43502500

4,43321024

6,34864

cba

cba

cba

=++

−=−−

=++

9,43502500

2,51015960

6,34864

cba

cba

cba

=++

−=−−

=++

9,43502500

2,51015960

6,34864

cba

cba

cba

−=−−−

−=−−

=++

4,7021680040000

2,51015960

21625625500040000

cba

cba

cba

−=−−−

−=−−

=++

4,7021680040000

2,51015960

6,34625500040000

cba

cba

cba

=++

−=−−

=++

6,2092260942000

2,51015960

6,34625500040000

cba

cba

cba

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Passo 4: L2 . 175 e L3 . 4

Passo 5: L3 + L2 L3

Passo 6: L2 . (-1) e L3 ( -1)

Do sistema acima, tiramos imediatamente que: 60,29189

6,5594≅=c . Como

conhecemos o valor de c, fica fácil achar os valores das outras incógnitas: substituindo o

valor de c na equação 89285262516800 =+ cb , teremos o valor de 689,0≅b .

Analogamente, substituindo os valores conhecidos de c e b na primeira equação

( 6,34.625.5000.40000 =++ cba ) encontramos o valor de 00807,0≅a .

A partir dos valores encontrados montamos o modelo:

6,29.689,0.00807,0)( 2++−= tttC

Podemos validar a expressão, comparando os valores reais com os valores

modelados:

Tabela 5 – Validação da expressão para o número de pessoas contribuintes

Ano Tempo (t) N° de pessoas

contribuintes

Modelo

Validação

2008 8 34,6 34,6

2032 32 43,4 43,38

2050 50 43,9 43,88

−=−+

−=−−

=++

6,559418900

892852625168000

6,34625500040000

cba

cba

cba

=

=+

=++

6,5594189

89285262516800

6,34625500040000

c

cb

cba

=++

−=−−

=++

4,836902436168000

892852625168000

6,34625500040000

cba

cba

cba

−=−+

−=−−

=++

6,559418900

892852625168000

6,34625500040000

cba

cba

cba

=++

−=−−

=++

6,2092260942000

2,51015960

6,34625500040000

cba

cba

cba

=++

−=−−

=++

4,836902436168000

892852625168000

6,34625500040000

cba

cba

cba

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De posse dos dois modelos construídos, é possível responder a pergunta inicial:

Considerando as previsões, em que ano o número de contribuintes tende a ser o

mesmo que o número de aposentados?

Para isso, calculamos quando A (t) = C (t):

034,14.241,0.00807,0

6,29.689,0.00807,026,15.93,02

2

=+−−

++−=+

tt

ttt

3078,29

serve) não( 65,59

≅≅

−≅

t

t

Gráfico 2 – Número de pessoas contribuintes (quadrática) e número de aposentados (linear)

Segundo os modelos matemáticos obtidos, aproximadamente em 2030, o número

de aposentados será igual ao número de contribuintes.

A reportagem da revista dizia que “no atual ritmo, em 2032 haverá mais gente

recebendo benefícios do que Trabalhadores financiando a Previdência’. (VEJA, 2008,

p.101). Note que a data prevista pelo modelo sugerido é que em 2030 o número de

aposentados será igual ao número de contribuintes.

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Considerações Finais

Neste trabalho tinha como objetivo apresentar uma atividade de Modelagem

Matemática como uma alternativa pedagógica para os atuais moldes de ensino de

Matemática que freqüentemente vem sendo utilizados nas escolas. Favorecendo, assim,

a obtenção, em sala de aula, de resultados mais satisfatórios com respeito à

aprendizagem e ao interesse dos alunos.

Despertar o interesse dos alunos para aprender matemática é um desafio para

maioria dos professores de Matemática, pois muitos não vêem o porquê do seu ensino.

Na atividade proposta nesse trabalho os alunos poderão trabalhar com conteúdos

matemáticos e observar a aplicação de tais conteúdos na vida real.

Na situação “Previdência Social – Desse Jeito Quebra”, ao analisar o gráfico, os

alunos poderão utilizar um processo comum em atividades de Modelagem – o

estabelecimento de hipóteses – e entender que o crescimento do número de aposentados

no decorrer do tempo é linear, utilizando, então, a Equação Reduzida da Reta

bxay += . . Considerando a idéia de que por dois pontos passa uma única reta, montou-

se uma equação e chegou a um modelo possível da situação.

Ao aplicar essa situação em uma sala de aula os alunos poderão encontrar os

parâmetros da função, por meio, inclusive, de um software computacional, o qual dará

os valores dos parâmetros da função linear usando o Método dos Mínimos Quadrados –

também abordado na situação.

Na segunda parte dessa mesma situação os alunos, ao analisarem o gráfico,

poderão supor que o número de contribuintes pode ser representado por meio de parte

de uma parábola. Ao tomarem três pontos obtivemos um sistema de três equações e três

incógnitas, que foi resolvido por meio da Regra de Cramer e do escalonamento. Para

responder ao problema inicial, igualamos os dois modelos encontrados.

Na atividade de Modelagem discutida não ficamos presos a uma só forma de

resolver. Isso favorece a aprendizagem do aluno, por que ao analisar a maneira diferente

que outro colega de sala resolveu, ele relaciona as estratégias e, de repente, aprende

outra matéria sem ficar preso às fórmulas.

Acreditamos que as atividades de Modelagem Matemática levam os alunos a

verem a Matemática como uma ferramenta para analisar, investigar e interpretar a

realidade. Ao desenvolverem uma atividade deste tipo, utilizam vários conceitos

matemáticos em problemas reais e se obrigam, inclusive, a conhecerem melhor outras

áreas do conhecimento. Logo, a Modelagem não só é uma alternativa para o ensino e a

Page 14: na MODELAGEM MATEMÁTICA NO ENSINO MÉDIO – UM … · mínimos quadrados, sistemas, matrizes, regra de Cramer e escalonamento. Este trabalho conclui que atividades de Modelagem

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aprendizagem de conteúdos matemáticos, como também é uma alternativa para a

formação critica dos alunos, os quais vivem numa sociedade em constante mudança.

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