na carta · falta de entendimento, o último projeto do relatorbernar do cabral(pmdb-am)não fosse...

16
Órgão Oficial de Divulgação da Assembléia Nacional Constituinte .ir,,' fi: _. :'. '. No painel, o resultado da votação que provocou debates, encheu o plenário e sacudiu o pais. A intensa negociação entre os partidos, com consultas seguidas aos, . representantes dos empresãríos e dos trabalhadores rurais, afastou a ameaça de ocorrer buraco negro mas não eliminou a tensão em torno dessa decisão. O líder do PMDB, Mário Covas esquerda), pediu apoio de sua bancada à proposta conciliatória do deputado Bernardo Cabral, enquanto o líder do PFL, José Lourenço direita), orientou seus liderados para a votação do destaque que acabou excluindo as terras produtivas da relação de propriedades sujeitas à desapropriação. No plenário cheio, os constituintes se acotovelavam junto aos microfones de aparte. A reforma agrária foi a maior polêmica das votações até agora realizadas na ANC. I ! '1 Volume 387 Brasília, 16 a 22 de maio de 1988 - 47 Reforma / . agrana na Carta A Constituinte passa, a partir dessa semana, a votar o último capítulo das disposições permanentes, que trata da Ordem Social. Na semana passada, após intensas nego- ciações, que envolveram todos os partidos e lideranças políticas, votou-se o texto que define os parâmetros da reforma agrária no país. Os membros do Centrão aceitaram que a propriedade da terra fique subordinada a sua função social, mas se aprovou destaque segundo o qual as proprie- dades produtivas não poderão ser objeto de desapropria- ção. Com esse acordo, evitou-se que surgisse o primeiro "buraco negro" na nova Carta. Isso aconteceria se, por falta de entendimento, o último projeto do relator Bernar- do Cabral (PMDB -AM) não fosse acolhido. Nesse caso, a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futura Constituição. . . Durante toda a semana, os partidários desta ou daque- la concepção de reforma agrária exerceram forte - e legíti- ma - pressão sobre os constituintes, movimentando per- manentemente as galerias e corredores do Congresso. Com a votação de terça-feira passada, as principais normas que regerão qualquer programa de reforma agrária passarão a ser definidas na lei complementar. Será ela, por exemplo; que conceituará o que sejapropriedade produtiva ou quan- do - e em que condições - o governo poderá decretar a imissão imediata da posse. (páginas 3,4 e 5) ",\"lliP' Os grupos ele pressão acompanharam passo a passo a votação. Representantes da União Democrática Ruralista (acima) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (abaixo), que há 15 dias vinham participando das negociações entre os líderes partidários, ocuparam as galeriase corredores, aplaudiram os discursos favoráveis e vaiaram os adversários, num misto de festa e de guerra. I

Upload: others

Post on 28-Dec-2019

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: na Carta · falta de entendimento, o último projeto do relatorBernar do Cabral(PMDB-AM)não fosse acolhido. Nesse caso, a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futura Constituição

Órgão Oficial de Divulgação da Assembléia Nacional Constituinte

.ir,,'fi:_. .~. :'. '.

No painel, o resultado da votação que provocoudebates, encheu o plenário e sacudiu o pais.

A intensa negociaçãoentre os partidos, comconsultasseguidasaos, .

representantes dosempresãríos e dos

trabalhadores rurais,afastou a ameaça deocorrer buraco negromas não eliminou a

tensão em torno dessadecisão. O líder do

PMDB, Mário Covas (àesquerda), pediu apoio

de sua bancada àproposta conciliatóriado deputado Bernardo

Cabral, enquanto olíder do PFL, José

Lourenço (à direita),orientou seus liderados

para a votação dodestaque que acabouexcluindo as terras

produtivas darelação de propriedades

sujeitas àdesapropriação.

No plenário cheio, osconstituintesse

acotovelavam junto aosmicrofones de aparte.A reforma agrária foia maior polêmicadas

votações até agorarealizadas na ANC.

I!

'1

Volume387

Brasília, 16 a 22 de maio de 1988 - N° 47

Reforma/ .

agranana Carta

A Constituinte passa, a partir dessa semana, a votaro último capítulo das disposições permanentes, que tratada Ordem Social. Na semana passada, após intensas nego­ciações, que envolveram todos os partidos e liderançaspolíticas, votou-se o texto que define os parâmetros dareforma agrária no país. Os membros do Centrão aceitaramque a propriedade da terra fique subordinada a sua funçãosocial, mas se aprovou destaque segundo o qual as proprie­dades produtivas não poderão ser objeto de desapropria­ção.

Com esse acordo, evitou-se que surgisse o primeiro"buraco negro" na nova Carta. Isso aconteceria se, porfalta de entendimento, o último projeto do relator Bernar­do Cabral (PMDB -AM) não fosse acolhido. Nesse caso,a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futuraConstituição. . .

Durante toda a semana, os partidários desta ou daque­la concepção de reforma agrária exerceram forte - e legíti­ma - pressão sobre os constituintes, movimentando per­manentemente as galerias e corredores do Congresso. Coma votação de terça-feira passada, as principais normas queregerão qualquer programa de reforma agrária passarãoa ser definidas na lei complementar. Será ela, por exemplo;que conceituará o que seja propriedade produtiva ou quan­do - e em que condições - o governo poderá decretara imissão imediata da posse. (páginas 3,4 e 5)

",\"lliP'

Os grupos ele pressão acompanharampasso a passo avotação. Representantes da União Democrática Ruralista(acima) e da Confederação Nacionaldos Trabalhadores naAgricultura (abaixo), que há 15 dias vinham participandodas negociações entre os líderes partidários, ocuparam asgalerias e corredores, aplaudiram os discursos favoráveis e

vaiaram os adversários, num misto de festa e de guerra.

I

Page 2: na Carta · falta de entendimento, o último projeto do relatorBernar do Cabral(PMDB-AM)não fosse acolhido. Nesse caso, a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futura Constituição

Rumos partidários

Como conseqüência das definiçõesda Assembléia Nacional Constituinte,ampliam-se as manifestações de desen­tendimento no meio partidário brasi­leiro, inclusive com propostas de adia­mento das convenções, com a sugestãode somente realizá-las após a promul­gação da futura Carta.

Não se pode esquecer, neste momen­to em que o assunto vem à tona, a enor­me contribuição dos partidos em favorda redemocratização brasileira. Foi emfunção dessa postura de resistência, es­pecialmente do PMDB, que a naçãopôde reconquistar a plenitude do esta­do de direito, de que decorre, inclusive,o atual quadro pluripartidário.

Se existem desentendimentos no âm­bito interno dos partidos, isso se devemuito mais a aspectos conjunturais, jáque, como se sabe, o objetivo comume a busca do aperfeiçoamento políticodo país. Em breve, estaremos com umanova Constituição em vigor, e, a partirdaí, será necessário dar resposta ade­quada aos grandes desafios nacionais,sobretudo da parte do Poder Legisla­tivo, investido de suas prerrogativas emfunção do que foi inscrito no texto quea Constituinte está ultimando.

Entendo, pelo menos a nível dePMDB, que a solução para a unidadepartidária passará pela atualização doseu programa, mas essa é uma tarefaque deve ser deixada para o períodoposterior à promulgação da Constitui­ção.

A instabilidade ainda encontrada nomeio partidário decorre sem dúvida docaminho artificial imposto pelos gover­nos autoritários para a criação das agre­miações. Mas, a despeito disso, ali vice­jaram idéias comuns, graças às quaisse tornou possível a restauração do es­tado de direito.

Estou também convencido de que,com as eleições de novembro próximo,para prefeitos e vereadores; surgirá aresposta popular quanto à sobrevivên­cia das atuais agremiações partidárias.O pleito de novembro, dentro dessa an­gulação, será um fator extremamenteválido para a consolidação do quadropartidãrio brasileiro, devendo aindafuncionar como uma espécie de vesti­bular para lançar com autencidade aslegendas que deverão exercer a açãocongressual e, em seguida, nas futuraseleições gerais, cristalizar o verdadeiroe representativo cenário político dopaís.

Constituinte Humberto LucenaPresidente do Congresso Nacional

Reforma Agrária

o povo brasileiro foi violentamentegolpeado com a derrota que sofreu, aover rejeitado o dispositivo que permitiaa desapropriação de terras produtivasque não estivessem cumprindo sua fun­ção social.

O famigerado Centrão, com o apoioda UDR, conseguiu parar o coração daAssembléia Nacional Constituinte, poisa reforma agrária constitui-se na maisimportante bandeira de luta. E nela queo povo vê a única saída para a crise gene­ralizada que enfrenta o país, bem comoa forma de pacificar a nação, que vivehoje em permanente estado de guerracivil.

Como explicar que constituintes elei­tos pelo voto popular, para defender osinteresses da maioria da população bra­sileira, tenham favorecido latifundiáriose grileiros? Não vemos outra justificativaa não ser a alta traição aos ideais demo­

cráticos e de justiça social da nossa popu­lação.

O chamado Centrão enlameou a Casado Povo, e envergonhou o Brasil peranteas nações mais progressistas do mundo.

Mas ninguém perde por esperar. Opovo saberá responder à altura aos trai­dores da pátria. Queiram ou não os rea­cionários encastelados no poder, ou oslobos travestidos de cordeiros, o país ca­minha para uma nova ordem social. Esó uma questão de tempo.

O eleitor brasileiro saberá, no mo­mento oportuno, distinguir os políticoscompromissados com a paz social, enter­rando para sempre os entreguistas, com­promissados com o capital internacional,com as multinacionais e com os latifun­diários, que nada produzem, a não serórfãos e viúvas, no meio rural.

A guerra a que nos referimos está cla­ra e patente, não só no número de mor­tos, mas pelo volume bélico concentradonos campos de batalha.

Hoje, com a UDR, estão articuladastodas as forças de direita. E não é paramenos que um dos peixes graúdos dafamigerada entidade declarou recente­mente em alto e bom tom que "hojejá podemos confessar. Temos mais oumenos 70 mil armas, representando acabeça de cada homem da UDR".

Como vemos, a guerra está em plenoandamento.

É lamentável que, pelo menos por en­quanto, tenhamos perdido uma das bata­lhas mais importantes: a batalha dentroda própria Casa do Povo. Mas queremosdeixar claro que a derrota se deu nãopor ser esta parcela de traidores repre­sentativa da população de nosso país.Mas sim porque a maioria deles são polí­ticos de duas caras: fizeram uma prega­ção em praça pública e hoje relegam opaís à sua própria insignificância.

Raquel CapiberibePSB-AP

Mais-pressoes

Após dias e dias de difíceis ne­gociações, a Constituinte votou,sob intensa pressão de múltiplosinteresses, a ordem econômica.Superou até o "buraco negro"no capítulo da reforma agrária,tema em que as duas faces doproblema - o econômico e o so­cial-se cruzam e tocam no maissagrado instituto do sistema ca­pitahsta, que é o direito de pro­priedade.

Além das pressões da socie­dade, que são necessárias e legí­timas, a ANC cumpre sua missãoem momento em que o país viveséria, extensa e profunda crise.A conjuntura reflete-se no de­sempenho de uma assembléiaque é representativa do Brasilreal e que deve fazer um textopara o Brasil real, que sonha eque sofre. O caráter democráticoda Constituinte explica não sóas dificuldades ocorridas ao lon­go do processo de votação comoa feição ora analítica, ora sinté­tica, do texto. Na verdade, nun­ca uma Constituinte brasileirafoi tão aberta e tão sensível àparticipação da sociedade. Porisso, até nas possíveis falhas, aCarta será o espelho da realidadenacional.

Ao documentar mais esta fasedos trabalhos, o JC analisa o quesignificará para os brasileiros osistema tributário aprovado edestaca as comemorações docentenário da abolição da escra­vatura.

A partir desta semana, aConstituinte começa a votar o tí­tulo da ordem social, quando to­mará posições importantes sobresaúde, previdência e assistênciasocial, educação, ciência e tecno­logia, comunicação, meio am­biente, família, criança, idoso eíndios.

Na ordem social, mais pres­sões vêm aí.

Daniel MachadoCoordenador do JC

Avanço socialA reforma agrária constitui fundamen­

talmente uma forma de intervenção do Es­tado na propriedade privada e, por exten­são, no domínio econômico, assim comoa redistribuição da propriedade territorialrural, pela modificação na posse e no usoda terra. Quando o estado discrimina assuas terras devolutas, está, na verdade, pro­cedendo a uma modificação na posse da­queles bens. Da mesma maneira, quandoadquire imóveis rurais através do Proterra,Funterra, instituído pelo Decreto-Lei n°1.179171, para posterior redistribuição, estáreformando a estrutura fundiária.

Posto isso, chamo a atenção para a neces­sidade de deixar esclarecido que, em termosjurídicos, a reforma agrária é uma realidadebem mais abrangente do que as desapro­priações por interesse social - embora se­jam estas a forma mais comumente utiliza­da. Isso se deve ao fato de que a reformaagrária se utiliza de todos os aparatos legaispara proceder à redistribuição de terras.Um programa de reformas deve partir deinstitutos jurídicos bem definidos.

A reforma agrária deve, por sua funçãonatural, amparar a propriedade da terra àluz dos interesses da economia rural, obser­vando também se a função social está sendocumprida, já que ela busca atingir objetivoscomplementares aos da reforma agrária.São dois institutos jurídicos que se comple­tam, sem, contudo, confundirem-se entresi.

Como principais objetivos da reformaagrária apontamos o atendimento aos prin­cípios da justiça social e a promoção doaumento de produtividade, que devem es­tar a serviço do bem-estar coletivo, afas­tando toda e qualquer possibilidade de taispropósitos serem negligenciados, já que areforma agrária tem amplo sentido sociale deve fazer parte da vida de todo o país,sem restringir-se ao meio rural.

Apenas dividir imóveis rurais, indepen­dentemente de suas características, sena ir­real, pelo menos no atual estágio. Na verda­de, o Estado, ao assegurar o direito e agarantia individual à propriedade privada,inclusive com destaque na futura Carta polí­tica, cerca a reforma agrária de uma com­preensível ngidez em termos jurídicos,apontando expressamente a sua definiçãoe os casos em que pode ocorrer, além defixar claramente os seus objetivos.

O aspecto que, bem definido, dará sus­tento e garantirã o sucesso das medidas re­formatórias é a destinação econômica. Essaexploração deve harmonizar-se com as mo­dernas conquistas tecnológicas e com os pri­mados econômicos. E imperativo que se ex­traiam da terra as riquezas que possa ofere­cer, mas sem, contudo, exauri-la. Há quese abolir o empirismo e os costumes antieco­nômicos e anti-sociais. Os trabalhos daConstituinte estão de parabéns, na medidaem que viabilizaram a inclusão, nas dispo­sições transitórias constitucionais, do insti­tuto da reforma agrária. Sem dúvida, foium grande avanço social.

Constituinte Nilson GibsonPMDB-PE

2

Jornal da Constituinte - Veículo semanal editado sob aresponsabilidade da Mesa Diretora da Assembléia NacionalConstituinte.MESA DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE

Presidente - Ulysses Guimarães; Primeiro-Vice-Presidente- MauroBenevides; Segundo-Vice-Presidente - JorgeArbage;Primeiro-Secretário - Marcelo Cordeiro; Segundo-Secretário- Mário Maia; Terceiro-Secretário - Arnaldo Faria de Sá.Suplentes: Benedita da Silva, Luiz Soyere Sotero Cunha.APOIO ADMINISTRATIVO

Secretário-Geral da Mesa- Paulo Affonso M. de OliveiraSubsecretário-Geral da Mesa- Nerione NunesCardosoDiretor-Geral da Câmara - AdelmarSilveira SabinoDiretor-Geral do Senado- José PassosPôrtoProduzido pelo Serviço de Divulgação da Assembléia Na­

cionalConstituinte.

DiretorResponsável - Constituinte MarceloCordeiroEditores- Alfredo Oblizinere ManoelV. de MagalhãesCoordenador - Daniel Machadoda Costa e SilvaSecretário de Redação - Ronaldo Paixão RibeiroSecretários de Redação Adjuntos - Paulo Dommgo R. Nevese SérgioChacon -Chefede Redação - Osvaldo Vaz MorgadoChefede Reportagem - VictorEduardo Barrie KnappChefede Fotografia - Dalton Eduardo Dalla CostaDiagramação - LeônidasGonçalvesIlustração - Gaetano RéSecretário Gráfico- Eduardo Augusto LopesEQUIPE DE REDAÇÃO

Maria Valdira Bezerra, Henry Binder, Carmem Vergara,Regina Moreira Suzuki,Maria de Fátima J. Leite, Ana Maria

Moura da Silva,VladimirMeirelesde Almeida, Maria Apare­cida C. Versiani, Marco Antônio Caetano, Eurico Schwinden,Itelvina Alves da Costa, Luiz Carlos R. Linhares, HumbertoMoreirada S. M. Pereira, Clovis Senna, LuizCláudioPinheiro,Marlise Ilhescae Domingos MourãoNeto.EQUIPE FOTOGRÁFICA

ReinaldoL. Stavale, Benedita Rodngues dos Passos. GUI­lherme Rangel de Jesus Barros, Roberto Stuckert e WilliamPrescott.

Composto e impresso no Centro Gráfico do Senado Federal-CEGRAF

Redação: CÂMARA DOS DEPUTADOS - ADIRP- 70160 - Brasília- DF - Fone:224-1569- Distribuição gratuita

Page 3: na Carta · falta de entendimento, o último projeto do relatorBernar do Cabral(PMDB-AM)não fosse acolhido. Nesse caso, a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futura Constituição

CARTA::: ACOM"PANHE OTEXTO NA NO CARTA::: ACOMPANHE OTEXTO NA NOVA CAR

Reforma não atinge quem produzEmoção, tensão e muita negociação marcaram

a votação do capítulo da Reforma Agrária. Mas foio voto - apertado, mas suficiente - que decidiua matéria mais política e mais conflitada de toda aConstituinte.

A proteção à propriedade produtiva - seja dotamanho que for - foi garantida por uma votaçãoem separado do texto apresentado pelo relator Ber­nardo Cabral. De acordo com o Regimento, o textoaprovado no capítulo inteiro teria de receber nova-

mente 280 votos para permanecer no texto da "novaConstituição. Recebeu apenas 267, enquanto 253constituintes votaram "não" e 11 se abstiveram.

Desta forma, uma propriedade, mesmo que nãocumpra os requisitos constitucionais, como a explo­ração racional e adequada, a proteção ao meio am­biente, a observação da legislação trabalhista e o favo­recimento do bem-estar de trabalhadores e proprie­tários, estará livre da possibilidade de desapropria­ção, desde que seja caracterizada como produtiva.

De acordo com o texto apresentado pelo rêlator,a propriedade, mesmo produtiva, teria de atenderaos pré-requisitos para o cumprimento da função so­cial. Caso um deles não estivesse sendo atendido,a lei determinaria um prazo para que o proprietáriopudesse cumpri-lo.

Com a falta de 13 votos para a confirmação dotexto do relator, a propriedade produtiva fica livreda possibilidade de desapropriação para fins de refor­ma agrária.

Título VII - Da Ordem Econômicae Financetra (continuação)

CAPÍTuLom

DA POLÍTICAAGRÍCOLA E FUNDL,\.RIA

E DA REFORMA AGRARIA

Essa votação aprovou o texto detodo o capítulo, nos termos do tra­balho elaborado pelo relator Ber­nardo Cabral (PMDB - AM),após a rejeição, por falta de quô­rum, das redações oferecidas pelaemenda coletiva do Centrão e pelaComissão de Sistematização, o queocasionou o "buraco negro".

Art. 218 - Compete à Uniãodesapropriar por interesse social,para fins de reforma agrária, oimóvel rural que não esteja cum­prindo a sua função social, me­diante prévia e justa indenizaçãoem títulos da dívida agrária, comcláusula de preservação do valorreal, resgatáveis no prazo de até20 anos, a partir do segundo anode sua emissão, e cuja utilizaçãoserá definida em lei.

§ 1°- As benfeitorias úteis enecessárias serão indenizadas emdinheiro.

§ 2°- O decreto que declararo imóvel como, de interesse social.para fins da reforma agrária, auto­riza a União a propor a ação dedesapropriação.

§ 3°- Cabe à lei complemen­tar estabelecer procedimento con­traditório especial, de rito sumá­rio, para o processo judicial dedesapropriação.

§ Ll-0 - O Orçamento fixaráanualmente o volume total de títu­los da dívida agrária, assim comoo montante de recursos para aten­der ao programa de reforma agrá­ria, no exetcício.

§ 5°- São isentas de impostosfederais, estaduais e municipais asoperações de transferência deimóveis desapropriados para finsde reforma agrária.

Art. 219 - São insusceptíveisde desapropriação para fins de re­forma agrária:

I - a pequena e média proprie­dade rural, assim definida em lei,desde que o seu proprietário nãopossua outra:

II - a propriedade produtiva.Parágrafo único - A lei garantirá

tratamento especial à propriedadeprodutiva fixará normas para ocumprimento dos requisitos relati­vos à sua função social.

427421

15

460314112

34

Votaram:Sim:NãoAbstenção:

(Continua na próxima edtção.}

Esse resultado indica a aprova­ção pelo plenário de fusão deemendas dos constituintes Bran­dão Monteiro (PDT - RI), Os­valdo Almeida (PL - RI), SimãoSessim (PFL - RI), Aloísio Vas­concelos (PMDB - MG) e PauloMacarini (PMDB - SC). O resul­tado da fusão permitiu suprimiruma letra do inciso III e que fossedada uma nova redação para osincisos Ve VIII.

TAXAS DE JUROS

Votaram:Sim:Não:Abstenção:

Essa votação determinou a deci­são da Constituinte de incluir notexto da Constituição um.novo in­ciso, de acordo com os termos deemenda de autoria do constituinteFernando Gasparian (PMDB ­SP), criando, assim, o preceitoconstitucional de limitar a con­brança de juros.

§ 1° A autorização a que sereferem os incisos I e 11será inego­ciável e intransferível, permitidaa transmissão do controle da pes­soa jurídica titular, e concedidasem ônus, na forma da lei do siste­ma financeiro nacional, a pessoajurídica cujos dirigentes tenhamcapacidade técnica e reputação ili­bada e que comprove capacidadeeconômica compatível com o em­preendimento.

§ 2° Os recursos financeirosrelativos a programas e projetosde caráter regional, de responsa­bilidade da União, serão deposi­tados em suas instituições re~io­

nais de crédito e por elas aplica­dos.

Os dois últimos parágrafos fo­ram aprovados nos termos daemenda do Centrão, sem qualquermodificação.

IX - as taxas de juros reais, ne­las incluídas comissões e quais­quer outras remunerações diretaou indiretamente referidas à con­cessão de crédito, não poderão sersuperiores a 12% ao ano. A co­brança acima desse limite seráconceituada como crime de usura,punida, em todas as suas modali­dades, nos termos em que a leideterminar.

457289153

15

Votaram:Sim:Não:Abstenção:

gulado em lei complementar quedisporá, inclusive, sobre:

I - a autorização para o funcio­namento das instituições financei­ras, assegurado às instituiçõesbancárias oficiais e privadas aces­so a todos os instrumentos do mer­cado financeiro, sendo vedada aessas instituições a participaçãoem atividades não previstas nestaautorização;

CAPITAL ESTRANGEIRO

Nessa votação foi aprovada fu­são de emendas de autoria dosconstituintes José Carlos Coutinho(PFL - RJ), Milton Lima(PMDB- MG) eAloisio Vascon­celos (PMDB - MG) que aditouo trecho final à redação do incisoI, o qual vedou às instituições ban­cárias participarem de atividadesnão previstas na Constituição.

II - a autorização e funciona­mento dos estabelecimentos de se­guro, previdência e capitalização,bem como dos órgãos oficais e res­seguradores;

IH - as condições para a parti­~ip~çã~ ?o capital estrangeiro nasinstítuíções a que se referem osincisos anteriores, tendo em vista,especialmente:

a) os interesses nacionaisb) os acordos internacionaisIV - a organização, o funcio-

namento e as atribuições do BancoCentral do Brasil e demais institui­ções financeiras públicas e priva­das;

V - os requisitos para a desig­nação de membros da diretoria doBanco Central do Brasil e demaisinstituições financeiras, bem comoseus impedimentos após o exer­cício do cargo;

VI - a criação de fundo ou se­guro, com o objetivo de protegera economia popular, garantindocréditos, aplicações e depósitosaté determinado valor, vedada aparticipação de recursos daUnião;

VII - os critérios restritivos dátransferência de J?oupança de re­giões com renda inferior à médianacional para outras- de maior de­senvolvimento;

VIII - o funcionamento dascooperativas de crédito e os requi­sitos para que possam dispor decondições de operacionalidade eestruturação próprias das institui­ções financeiras;

472

45712

3

CAPÍTULO IVDO SISTEMA

FINANCEIRO NACIONAL

de reforma agrária.§ 1°- A alienação ou conces­

são, a qualquer título, de terraspúblicas com área supenor a 2.500hectares a uma _só pessoa física

ou jurídica, ainda que por inter­posta pessoa, dependerá de préviaaprovação do Congresso Nacio­nal.

§ 2°- Excetuam-se do dispos­to no parágrafo anterior as aliena­ções ou concessões de terras públi­cas para fins de reforma agrária.

Art. 223- Os beneficiários dadistribuição de imóveis rurais pelareforma agrária receberão títulosde domínio ou de concessão deuso, inegociáveis pelo prazo dedez anos.

Parágrafo único - O título dedomínio e a concessão de uso se­rão conferidos ao homem ou à mu­lher, ou a ambos, independente­mente do estado civil, nos termose condições previstos em lei.

Art. 224 - A lei regulará e li­mitará a aquisição ou arrenda­mento de propriedade rural porpessoas físrcas ou jurídicas estran­geiras e fixará os casos que depen­derão de autorização do Congres­so Nacional.

Art. 225 - O trabalhador outrabalhadora não proprietário deimóvel rural ou urbano, que pos­sua como seu, por cinco anos inin­terruptos, sem oposição, área deterra não superior a 50 hectares,tornando-a produtiva por seu tra­balho, ou de sua família, tendonela sua moradia, adquirir-Ihe-ã apropriedade.

O restante do texto não mereceureparos da parte do Plenário, pre­valecendo a redação proposta pelorelator.

Com essa votação, o Plenárioda Constituinte acatou o texto baseda emenda coletiva do Centrão pa­ra todo o Capítulo IV, ressalvadosos destaques.

Sim:Não:Abstenção:

Votaram:

ESTRUTURAÇÃO.

Art. 225 - O sistema financei­ro nacional, estruturado de formaa promover o desenvolvimentoequilibrado do país e a servir aosinteresses da coletividade, será re-

531267253

11

Votaram:Sim:Não:Abstenção:

'Com essavotação ficou definidaa retirada do texto do relator determos que abriam uma exceçãopara a desapropriação da proprie­dade produtiva. A expressão "cujainobservância permitirá a sua desa­propriação, nos termos do art.218", contante do final do pará­grafo recebeu pedido para ser vota­da em separado, segundo requeri­mento assinado por 199 constituin­tes - regimentalmente são neces­sários pelo menos 187 assinaturas.Para que a expressão fosse man­tida, eram precisos 280 votos favo­ráveis.

Art. 220 - A função social écumprida quando a propriedaderural atende, simultaneamente,segundo critérios e graus de exi­gências estabelecidos em lei, os se­guintes requisitos:

I - aproveitamento racional eadequado;

11 - utilização adequada dosrecursos naturais disponíveis epreservação do meio ambiente;

111 - observância das disposi­ções que regulam as relações detrabalho;

IV - exploração que favoreçao bem-estar dos proprietários edos trabalhadores.

Art. 221 - A política agrícolaserá planejada e executada na for­ma da lei, com a participação efe­tiva dos setores de produção, en­volvendo produtores e trabalha­dores' rurais, de comercialização,de armazenamento e de transpor­tes, levando em conta, especial­mente:

I - instrumentos creditícios efiscais;

11- preços compatíveis com oscustos de produção e garantia decomercialização;

III - incentivo .à pesquisa e àtecnologia;

IV - assistência técnica e ex-tensão rural;

V - seguro agrícola;VI - cooperativismo;VII - eletrificação rural e irri­

gação;VIII - habitação para o traba­

lhador rural.§ 1°- Incluem-se no planeja­

mento agrícola previsto neste arti­go as atividades agroindustriais,agrol?ecuárias, pesqueiras e flo­restaís,

§ 2°- Serão compatibilizadasas ações de política agrícola e dereforma agrária.

Art. 222 -A destinação deterras públicas e devolutas serácompatibilizada com a políticaagrícola e com o plano nacional

536528

44

Votaram:Sim:Não:Abstenção:

Jornal da Constituinte 3

Page 4: na Carta · falta de entendimento, o último projeto do relatorBernar do Cabral(PMDB-AM)não fosse acolhido. Nesse caso, a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futura Constituição

Reforma agrária agita o debate

Os êonstituintes compareceram em massa para votar o polêmico tema da reforma agrária

discutiu-se ainda, residualmente, em torno,do que foi aprovado, tido como vitória parauns e mal digerido por outros. Mas foi dentrodo ponto fundamental - se a propriedadeprodutiva estaria sujeita ou não à desapro­priação - que a polêmica mais se acentuou.Fernando Santana (PCB - BA) e AmauryMüller (PDT - RS), por exemplo, alinha­varam argumentação em favor do cumpri­mento da função social das terras produtivas,apelando até para o bom senso de seus pares,para que se pudesse abrir um caminho para

das idéias antagônicas a proprie­dade produtiva, que, por SI só,cumpre e deve cumprir a funçãosocial" .

INTRANSIGÊNCIAJá o constituinte Aldo Arantes

(PC do B - GO) denunciou a "in­transigência" dos latifundiános eda entidade que os representa ­a UDR - na questão da reformaagrária. Disse Aldo Arantes quea UDR não quer, de forma nenhu­ma, a reforma agrária, e desenca­deou uma campanha nacional natentativa de impedi-la.

"A questão fundiária é um pro­blema da maior gravidade", pros­seguiu o representante do PC doB, explicando que "a concentra­ção da terra é responsável por umasituação de níveis baixos de produ­tividade nas grandes extensõesterritoriais deste país, que deveriaser um dos maiores produtores douniverso, dando condições de in­corporar milhões e milhões de tra­balhadores na atividade produti­va".

CONFISCOO constituinte Gastone Righi

(PTB - SP) preferiu chamar aatenção para o fato de que estavasendo deformada a postura adota­da pelo Centrão que, para alguns,não desejaria que a propriedadeprodutiva fosse desapropriada.Não é essa a questão que se põehoje no plenáno - assegurou ­mas sim se a propriedade ruralprodutiva pode ser confiscada como pagamento em títulos da dívidaagrária, em 20 anos, e 2 anos decarência. Segundo Gastone Righi,é um verdadeiro crime, imaginar­se que alguém que desbrave o ser­tão e transforme uma terra hostilem produtiva, em favor do desen­volvimento, possa ser confiscado.Ele tem como certo que os quesustentam o direito ao confisco àpropriedade produtiva visam tão­somente a desestabilizar o sistemaeconômico ~ criar um preconceitoem relação à propriedade rural.

PIRAMBEIRASEm nome da liderança do

PMDB falou o constituinte Vicen­te Bogo (RS), que criticou a tese,defendida pelo Centrão, de queapenas as terras Improdutivas pos­sam ser desapropriadas. Argu­mentou Vicente Bogo que o con­ceito de terra produtiva é difícilde ser precisado, ao ponto de doisorganismos governamentais, o IB­GE e o INCRA, possuírem inter­pretações diferentes a este respei­to.

"Na prática, a passar o preceitode que terras produtivas não po­dem ser desapropriadas, restarãoapenas, para esta finalidade, asterras improdutivas. E se, even­tualmente. os tribunais se fixarem.

a efetiva realização da reforma. Del BoscoAmaral (PMDB - SP) e Gerson Peres (PDS- PA) salientaram a importância da linhaconciliatória, com críticas aos radicalismosda direita e da esquerda. E no encaminha­mento, a palavra de Fernando HenriqueCardoso (PMDB - SP), Bonifácio de An­drada (PDS - MG), Gastone Righi (PTB- SP), Ricardo Fiuza (PFL - PE), RonanTito (PMDB - MG) e Sandra Cavalcanti(PFL-RJ).

Acrescentou o representante doRio Grande do Sul, após dar oseu apoio à proposta de reformaagrána do relator Bernardo Ca­bral, ser "importante e fundamen­tal que a terra seja transformadaem um poderoso instrumento depressão econômico-social dos mi­lhões de brasileiros que estão proi­bidos de ter uma vida digna e de­cente, vivam eles no campo ou ve­getem nas fímbrias de miséria dascidades" .

COISA SÉRIAPela Liderança do PDS falou o

constituinte Gerson Peres (PA),que começou afirmando que seupartido se tem posicionado numalinha conciliatória em relação à re­forma agrária. Disse Gerson Peresnão haver o que temer em relaçãoàs desapropnações, já que a pala­vra final será sempre do Poder Ju­diciário. "Eu teria medo da desa­propriação da propriedade produ­tiva se não acreditasse na Justiçado meu país".

Gerson Peres lembrou a afirma­ção do papa João Paulo 11, de quesobre cada propriedade produtivapesa uma hipoteca social, e defen­deu uma solução sem radicalismo,diferente tanto das propostas daUDR como das propostas da Con­tag. "A reforma agrária é coisaséria, tem que ser redigida comequilíbrio, sem passionalismo ouemoções, mas com patriotismo,com confiança, sobretudo con­fiança no Poder Judiciário, queacaba de ser fortalecido por nósnesta Constituinte justamente pa­ra cumprir a missão de julgar comjustiça as desapropriações e nãopermitir que se destrua ao arbítrio

"Creio que obom senso dos

brasileirosdeve abrir

caminho paraque a reforma

agráriase faça

dentro domelhor

espírito decooperação. "

Amaury Müller (PDT - RS) de­fendeu uma decisão inteligentepara a questão da reforma agrária,que seja capaz de harmonizar inte­resses contraditórios e dotar o paísde uma legislação constitucionalque yermita a decolagem do meiorura rumo a um desenvolvimentoracional e equilibrado. "Temos odever de ouvir o clamor que ema­na das ruas e dos campos", afir­mou Amaury Müller.

CLAMOR DOS CAMPOSPor sua vez, o constituinte

zes de fazer um texto que repe­tisse, sequer, o que os militaresfizeram. Para ele. era mesmo mo­tivo de vergonha que se tivesseque defender um texto tão tímidoe, mais ainda, que a defesa dessetexto encontrasse ainda óbices porparte dos que dele queriam excluiro trecho que permitia a desapro­priação da terra que não cumpris­se sua função social, "sem o qualo grande esforço feito para per­mitir algum progresso na questãoagrária estará estancado".

PRIMAZIA SOCIALRonan Tito (PMDB - MG) co­

meçou por citar o papa João Paulo11 ("sobre toda a propriedade pesauma hipoteca social") para defen­der a íntegra do texto-base elabo­rado pelo relator, enfatizando aprimazia do social sobre a proprie­dade. "Nós todos, de lá e de cáneste plenário, todos brasileiros,queremos a propriedade produti­va - disse -, mas, desde o pri­meiro capítulo desta Constituiçãoaté o último, o que não podemosperder de VIsta é a pessoa humana,é o social". Em sua opinião, nãoé mais do que sofisma a afirmaçãode que a produtividade passa porcima de tudo, pois entende queo povo tem necessidades que vêmem primeiro lugar. "E se perder­mos essa oportunidade extraordi­nária de cravarmos na Constitui­ção o direito de que os despos­suídos possam ter a propriedadeda terra pela lei, eles poderão irbuscá-la, como fizeram no passa­do, contra a lei", concluiu.

PROGRESSO ESTANCADOFernando Henrique Cardoso,

ao encaminhar a votação, disse daesperança de todos de que a Cons­tituinte promulgue uma Carta quepermita a modernização e a demo­cratização do país, mas lamentouque, naquele exato momento, emque a questão mais tradicional dareformulação da vida econômicae social brasileira ia ser discutida,os constituintes não fossem capa-

De novo a reforma agrária ocupou amaior parte dos debates em plenário durantea semana, enquanto nos bastidores se lutavapor um acordo que viabilizasse sua votação.E, de tudo o que foi dito ou deixado dedizer, restou o saldo positivo de ter-se conse­guido afastar o que mais era temido: quea reforma agrária caísse em um "buraco ne­gro", ou seja, deixasse de constar da novaCarta. Exorcizado o fantasma, com a apro­vação na terça-feira do texto-base do relator,

Nos debates preliminares à vo­tação da reforma agrária, o consti­tuinte Fernando Santana (PCB ­BA), falando em nome da lide­rança do seu partido, lembrou queo Brasil foi colonizado na base dolatifúndio, sendo profundas as raí­zes do problema da concentraçãoda propriedade da terra no país."Ainda hoje o processo de apro­priação da terra está sendo feitode maneira terrivelmente contrá­ria aos interesses do país e do po­vo", disse Santana, apresentandodados segundo os quais 3,9% dosproprietários rurais detêm 53,3%da área agricultável, enquanto96,1 % dos proprietários ficamcom os restantes 46,7%. "Vejamcomo tudo está organizado de ma­neira a permitir que a estruturafundiária freie o desenvolvimentonacional", comentou o represen­tante da Bahia.

"Creio que o bom senso dosbrasileiros deve, de uma vez portodas, abrir caminho para que areforma agrária se faça dentro demelhor espírito de cooperação,sem que se garanta o latifúndiopermanentemente", sustentouFernando Santana. Para ele, se apropriedade improdutiva puderser defendida como produtiva, atéque se torne realmente produtiva,o processo de reforma agrária severá engessado.

FICÇÃOBonifácio de Andrada, por seu

lado, mostrou a necessidade de sedefender a propriedade produti­va. Ele. viu no bojo do texto dorelator um dispositivo que criava,para o meio rural, "uma ficção ju­rídica que penaliza, castiga e per­segue a empresa rural produtiva",ficção essa representada - a seuver - pelo trecho que exigia ocumprimento de função social porparte dessa empresa produtiva,sob pena de desapropriação. Taldispositivo, de acordo com Boni­fácio de Andrada, configuravauma grande injustiça, na medidaem que a exigência nele contidanão é feita em relação à empresaurbana. Para ele, o que se 'procu­rava, na verdade, com essa exigên­cia, eram mecanismos contráriosà grande propriedade rural, que- segundo lembrou - luta paraproduzir alimento para todas ascamadas da população.

4 Jornal da Constituinte

Page 5: na Carta · falta de entendimento, o último projeto do relatorBernar do Cabral(PMDB-AM)não fosse acolhido. Nesse caso, a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futura Constituição

ii

_Antes do inicta da votação,foram intensas as conversas e negociações

dinária as decisões relativas às ex­ceções à propriedade produtiva.

MESMA LíNGUA

propriedade produtiva na insegu­rança".

"Quem assim não entender" ­prosseguiu Osvaldo Macedo ­"não quer garantir o investimento Iem propriedades produtivas ouem vias de produção". E em segui­da perguntou: "Para quê? Paramanter a intranqüilídade no país,para manter a discórdia, paramanter um biombo a especulado­res agrários?"

SOBREVIVÊNCIAA constituinte Irma Passoni (PT

- SP) homenageou "os brasilei­ros que, durante décadas, lutarampara sobreviver como cidadãosneste país, defendendo o solo real­mente produtivo. É o trabalhadorrural, 'que trabalha a terra, queproduziu efetivamente para a so­brevivência e para a alimentaçãobásica da população brasileira".

Salientou ainda a constituinteque milhares de trabalhadores ru­rais, crianças, jovens, adultos, ho­mens e mulheres morreram paradefender o direito da sobrevivên­cia e para defender o direito deserem cidadãos brasileiros.

Continuando, Irma Passoni,lembrou que "somos.Iaü milhõesde brasileiros e temos o direito depossuir a terra, e não simplesmen­te um minguado de pessoas quepossuem uma porcentagem de ter­ra imensa, contra milhões que na­da possuem".

Esclareceu também que o pe­queno e médio proprietário jamaisserão protegidos pelos grandes la­tifundiãrios, Essa proteção virá deuma política agrícola sustentadapor aqueles que querem a reformaagrária, e não por aqueles que re­sístem, que matam, que destroemaqueles que querem produzir".

ALTERNATIVAJá o constituinte Ricardo Fiuza

(PFL - PE) sugeriu a alternativade ser incluída no texto a funçãosocial da propriedade produtivanos seguintes termos: "A lei ga- _rantirá especial tratamento à pro­priedade produtiva e fixará nor­mas para o cumprimento dos re­quisitos relativos à sua função so­cial" .

Sobre a desapropriação disseser importante garantir que a pro­priedade produtiva que sofrer essetipo de sanção não fique sujeitaapenas ao pagamento em títulosda dívida pública.

Ricardo Fiuza terminou concla­mando os constituintes a fazeremuma reforma agrária sem demago­gias, sem destruir a estrutura pro­dutiva do campo e que transformeo Brasil em um país moderno.

RELATORPor fim, o relator Bernardo Ca­

bral negou que existisse disposiçãono texto que produziu que penali­zasse, perseguisse ou criasse me­canismos negativos contra a pro­priedade rural, como garantira an­teriormente o constituinte Boni­fácio de Andrada. Lembrou que,de acordo como o texto desde lo­go estava insusceptível de desa­propriação a pequena e a médiapropriedade rural, bastando queseu proprietário não possuísse ou­tra. Com isso - asseverou - fo­ram afastadas 90% das terras bra­sileiras da possibilidade de desa­propriação. A grande realidade,de acordo com Bernardo Cabralé que se intentava com o text~afastar o que chamou de "garrotedo Estatuto da Terra que - se­gundo t~ria ouv!do de proprietá­rIOS rurais - se tivesse sido levadoa efeito, teria sido um desastre pa­ra o país".

Para IsraelPinheiro, aúnica falha

do novotexto do

relator foiter usado aexpressão

terraprodutivaem vez de

terra explorada

ra O país, já que todos os consti­tuintes estão "falando a mesmalíngua" .

CRIMEO constituinte Ademir Andra­

de (PSB - PA) afirmou que, sedependesse da sua vontade e davontade do seu partido, não ficariaum único latifúndio no país quenão fosse desapropriado, para que

_se fizesse a reforma agrária e paraque cada trabalhador rural tivesseo seu prórpio pedaço de terra paratrabalhar. Ademir Andrade de­nunciou irregularidades cometi­das pelo Ministério da ReformaAgraria na desapropriação de al­guns castanhais no Pará. Segundoo representante do PSB, foramfeitas desapropriações com paga­mento de indenizações, em títulosda dívida agrária, por valores ab­surdos, quatro vezes superiores aopreço normal de mercado.

"Os fazendeiros receberam umprêmio maior que o da loteria, queo da sena", disse Ademir Andra­de, ainda se referindo às desapro­priações, dos castanhais. E con­cluiu: "E isso que não podemosaceitar, porque se for para fazerreforma agrária deste tipo logo es­taremos endividados com títulosda dívida agrária e não.teremoscondições de prosseguir na obrade dar terra aos trabalhadores ru­rais; é esse o motivo da nossa con­denação, e consideramos isso umverdadeiro acinte, um verdadeiro

Sandra Cavalcanti, constituinte crime que se faz contra o patri-pelo PFL do Rio de Janeiro, de- mônio desta Nação". -fendeu o texto elaborado pelo re-lator Bernardo Cabral em relação BIOMBOà reforma agrária. Já o constituinte Osvaldo Mace-

Segundo a constituinte, não ha- do (PMDB - PR) defendeu tantovia motivos para que grupos mais a propriedade como a necessidade

- conservadores demonstrassem de ela cumprir sua função social.preocupação, pois nós estamos ':Acho que a propriedade produ­desde 1969com uma Constituição tiva tem que ser preservada, masque põe em prática o Estatuto da entendo que aqueles que dizemTerra, que-é socializante, em que defender a propriedade produtiva

. a propriedade rural não tem ne- estão, no entanto, pondo em risconhuma garantia, nem o fato de ser . a propriedade produtiva". Mace-.produtiva, pequena ou média, em do apoiou o texto do relator Ber­síntese, um texto forte". nardo Cabral quando torna a pro-

Esse mesmo texto, disse ainda priedade insusceptível de desapro­a constituinte, trouxe a iriquieta- priação -desde que cumpra a suação e o desassossego ao campo do função social. Para o representan­Brasil. Dessa forma, nada mais - te do 'Paraná, este texto está emjusto, considerou Sandra Caval- - defesa da propriedade produtiva,canti, do que se procurar uma saí- "e os que assim não entendemda democrática, que traga paz pa- querem pôr o produtor rural e a

EMOÇÃO,NÃOPor seu lado, o constituinte Is­

rael Pinheiro (PMDB - MG) deutodo o apoio à proposta de refor­ma agrária apresentada pelo rela­tor Bernardo Cabral (PMDB ­AM). "Razão e não emoção. Nóssó podemos construir esta naçãoem cima da razão. Infelizmente osdebates travados sobre a reforma­agrária são extremamente emoti­vos, fugindo da lógica, do bomsenso e sobretudo do espírito deconciliação e de entendimento"disse ele. '.

Para Israel Pinheiro, a propostade Cabral atende perfeitamente aquaisquer dúvidas que possamsurgir no pensamento dos consti­tuintes ou das lideranças rurais.Acrescentou o representante deMinas Gerais que, em sua opinião,a falha da proposta é que, em vezda expressão "terra produtiva"~

deveria ter sido usada a expressão"terra explorada", já que a pro­priedade pode ser explorada e não'produtiva, enquanto às vezes apropriedade é produtiva e não ébem explorada. No entanto, IsraelPinheiro elogiou a disposição dorelator Bernardo Cabral de reme­ter para a lei complementar ou or­ADlRP/GUllherme Rangel

contra as famílias dos constituin­tes, e Ronaldo Caiado, com suasdeclarações muitas vezes grossei­~as .contra ~queles que professamidéias ou nao seguem a sua ideolo­gia em relação ao trato que se devadar ao assunto terra?" - indagouDel Bosco Amaral.

Para ele, que defendeu uma so­lução sem radicalismo para a ques­tão agrária, a UDR é legítima ereúne proprietários de terras pe­quenos, médios e grandes "que es­tão assustados com certos avançosdos chamados progressistas cuba­nizantes". Mas, destacou Amaral,não é possível que esses proprie­tários entreguem a liderança dessemovimento "a um homem que es­tá muito mais movido pela necessi­dade de aparecer nos jornais, rá­dios e televisões". Ao finalizarAmaral sugeriu a Meneghelli e ~Caiado que consultem um psica­nalista que os leve à calma e àserenidade dos que sabem ser lí­deres respeitando a vontade e odireito de pensar dos seus adver­sários.

no conceito de fertilidade para de­finir o que é terra produtiva, fica­rão para a reforma agrária apenasos carrascais, charcos, areões, pi­çarras e-pirambeiras. E isso, é cla­ro, nem os trabalhadores nem aracionalidade aceitarão" - sus­tentou Vicente Bogo.

Ao finalizar seu pronunciamen­to, o repres-e-ntante do PMDBgaúcho advertiu não ser possível"que o fascismo truculento quetem ocorrido por fora da Assem­bléia Nacional Constituinte e tam­bém dentro dela inviabilize o míni­mo de mecanismos para a realiza­ção da reforma agrária no Brasil" .

VITÓRIA DE PIRRO

Já o deputado Francisco Küster(PMDB - SC), ao defender a re­forma agrária, afirmou que "a ter­ra representa tudo para o ser hu­mano, pois dela emanam todos osvalores, e a terra precisa ser explo­rada de forma racional e huma­na". Frisou Küster que a terratambém é um "instrumento de po­der dos poderosos", destacandoainda que as instituições financei­ras estão agora aplicando os seusexcessos, os seus lucros, na aquisi­ção de terras.

Para Francisco Küster, "é pre­ciso que a propriedade da terracumpra a função social, e a hipo­teca social da terra a ser resgatadaé muito grande". Na opinião dorepresentante de Santa Catarina,a nova Constituição não poderiadeixar de contemplar a reformaagrária, pois isto seria "uma vitó­ria de Pirro dos setores mais con­servadores e atrasados da socie­dade brasileira, porque a médioe longo prazos a reforma agráriaviria não pela forma pacífica comoqueremos, mas pela via revolucio-nária". -

MAIORIA

Pelo PT falou o constituinte Olí­vio Dutra (RS), ressaltando queo presidente da CUT, Jair Mene­ghelli, tem demonstrado o seu in­teresse, em nome dos trabalhado­res, em discutir propostas clarase objetivas em torno da reformaagrária, bem como negociações eacordos. "Eis que chegaram aquirepresentantes da UDR, com ou­tra visão, com interesses diame­tralmente opostos, dispostos a nãofechar acordos sobre coisa algumae a tentar virar a mesa", denun­ciou Olívio Dutra.

"Quem efetivamente represen­ta a maioria do povo brasileiro?"- perguntou Dutra: "O compa­nheiro Meneghelli, em nome dostrabalhadores do campo e da cida­de, disposto a dialogar, sem abdi­car de posições claras e objetvas,ou os representantes do grande la­tifúndio, que vêm aqui tentar em­purrar sobre os constituintes assuas vontades e a vontade de umaminoria?"

Destacou Olívio Dutra que opovo brasileiro há séculos reclamauma reforma agrária, e que a pro­priedade rural precisa ser definidacom base em sua função social,para que fique aberta a possibi­lidade da reforma agrária.

PSICANALISTA

O constituinte Del Bosco Ama­ral (PMDB - SP), ao abordar aquestão da reforma agrária, teceucríticas tanto ao presidente daUDR, Ronaldo Caiado, como aopresidente da CUT, Jair Mene­ghelli. "A extrema direita e a ex­trema esquerda vivem de suas al­mas gêmeas. Qual a diferença en­tre o braço sindical do PT, dos:panfletários que colocam cartazes,que praticam o terror noturno

Jornal da Constituinte 5

Page 6: na Carta · falta de entendimento, o último projeto do relatorBernar do Cabral(PMDB-AM)não fosse acolhido. Nesse caso, a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futura Constituição

A ~ · d A /!xe, negntu e. xe.Foi uma tarde de festa, em que o forte sabor do acarajé,

a cadência da capoeira e do maculelê e a palavra eloqüentede senadores e deputados reafirmaram a raça negra e sugeriramreflexões sobre a situação em que ela se encontra econômica,cultural e socialmente, cem anos depois da assinatura da LeiAurea. Reflexão, aliás, foi o substantivo mais encontrado nasorações dos negros Carlos Alberto Caó, Edmilson Valentim,Paulo Paim e Benedita da Silva; do mestre Afonso Arinos,do primeiro-secretário da Câmara, Paes de Andrade, e do presi­dente do Senado, Humberto Lucena, cujos discursos marcarama sessão solene com que o Congresso Nacional festejou o Cente­nário da Abolição, na última quinta-feira.

A sessão foi um momento de densa significação, pela pre­sença de parlamentares e centenas de populares da raça negra,pelo seu sentido histórico e pela sinceridade das colocações emfavor da igualdade das raças e da necessidade da promoçãode maiores oportunidades para os negros que se afirmam, hoje,juridicamente livres, mas socialmente ainda discriminados e in­cluídos entre os grupos minoritários, apesar de sua expressãonumérica e de sua participação na criação da raça brasileira.Muito se falou sobre o sofrimento do negro escravo no passado,ao mesmo tempo em que se denunciou a situação do negrofavelado, desempregado e marginalizado de hoje.

Mas falou-se muito de esperança. Afinal, a tarde era sobre­tudo de festa. Por isso que, tão logo encerrou-se a sessão noplenário da Câmara, foram todos para o Salão Negro do Con­gresso, onde hoüve a abertura de uma exposição de documentosrelativos 'à Abolição, organizada pela Secretaria de Documen­tação e Informação do Senado, seguida do lançamento do livro"A Abolição no Parlamento: 65 Anos de- Lutas (1823-1888)".A festa terminou com a apresentação de capoeira e maculelé(misto de jogo e danças de bastões que surgiu em Santo Amaroda Purificação, na Bahia), e com um coquetel em que foramservidos pratos típicos da culinária afro-brasileira. Foi uma tardeaxé!

ADlRP/Guilherme Rangel

LUTA ABOLICIONISTAA reação contra o sistema escra­

vagista, ao longo dos séculos desua existência no Brasil, foi um

gros escravos no Norte e 840 mile 752 no Sul, totalizando 1 milhãoe 243 mil e 850 negros. São Paulo,Rio e Minas, então chamadas astrês províncias negreiras, conti­nham, só elas, 141 mil 970 escra­vos mais do que todas as outrasdo Império.

senhor, o escravo Gregório res­pondeu: "Matei um lobisomem,não matei um homem." Parece­nos então - disse Paim - queno escravismo eram os negros quedetinham a dimensão da humani­dade; residia nos negros a capaci­dade de distinguir barbárie de hu­manidade.

Paes de Andrade, por sua vez,mostrou que o último censo doMinistério da Agricultura, antesde 13 de maio de 1888, apontoua existência de 403 mil e 98 ne-

A história da Abolição, concretizadahá um século, foi lembrada como aprópria história do Parlamentobrasileiro, pela força com que senadorese deputados da época encararam aluta da libertação, que durou 65 anos ­1823 a 1888

navios negreiros era conhecida dequalquer marujo, pois era a mes­ma dos tubarões: de cada dez ne­gros transportados para cá, apenassete, em média, chegavam com vi­da" - disse Caó, ao assinalar queo tráfico negreiro foi o maior cri­me da história da humanidade,"indescritível, inexplicável".

Benedita da Silva recorreu aFlorestan Fernandes para reme­morar a tragédia dos negros escra­vos no Brasil: "os negros eram em­purrados a aceitar e engolir tudo,não tinham como lutar e comoromper socialmente com a heran­ça da escravidão" (... ) E o depu­tado Paulo Paim citou o trechode um interrogatório que constade um processo criminal, ocorridona cidade de Campinas, São Pau­lo no ano de 1871: ao ser interro­gado sobre os motivos que leva­ram a assassinar um homem, seu

Ladeado por Ulysses Guimarães, Humberto Lucena presidiu a sessão e pregou o fim das discriminações raciais

TRISTE HISTÓRIA

o senador Humberto Lucenatambém se referiu à escravidãodos negros como uma nódoa quenão apenas representou uma or­dem social monstruosa, que nosexpunha à censura indignada domundo civilizado, como significouo atrelamento a um sistema econô­mico que subjugou as conveniên­cias das forças de produção que,internamente, consideravam a li­bertação dos escravos um golpeletal no sistema produtivo.

Todos os oradores fizeram refe­rências às atrocidades cometidascontra os negros no período da es­cravidão no Brasil, deixando a cer­teza de que aquela foi uma épocade triste memória para os brasi­leiros, e que seus reflexos conti­nuam sendo sentidos na situaçãoeconômica, social e cultural do ne­gro, nos dias de hoje. Carlos Al­berto Caó lembrou, por exemplo,que o Brasil foi o penúltimo paísdo mundo a abolir a escravidão(o último foi a Mauritânia) e foi,ainda, o maior consumidor de"peças de ébano" (eufemismocom que se designavam os negros)- aproximadamente 10 milhõesem cerca de 300 anos. "A rota dos

no Brasil, que ele colocou comouma condição do desenvolvimen­

"to econômico resultante da explo­ração extensiva da terra na culturada cana-de-açúcar, do tabaco, doalgodão e do café, sucessivamen­te. "Era uma forma primitiva deorganização do trabalho, semqualquer alternativa, como haviaacontecido no Egito muitos sécu­los antes do tráfico de escravos ne­gros para as Antilhas, os EstadosUnidos e o Brasil."

"Tão densa e tão cruel é a me­mória da escravidão que muitosse perguntam se há alguma coisaa comemorar neste ano do Cente­nário da Abolição. É preciso mer­gulhar na história da luta abolicio­nista e na história universal da pró­pria escravidão para uma avalia­ção correta das responsabilidadesdo Brasil na manutenção da escra­vatura e do passo político a quechegamos a 13 de maio de 1888,proclamando a libertação dos es­cravos" - afirmou o deputadoPaes de Andrade (PMDB - CE),que falou pela Câmara. Ele colo­cou a escravidão como uma nó­doa, cuja sombra ainda é muitoincômoda em nossa história, por­que sua projeção residual até hojeaflige e envergonha o perfil denossas estruturas sociais, com amarca da iniqüidade e dos desní­veis culturais e econômicos quedesfiguram a réalidade brasileira.

Diferente na forma, mas seme­lhante no conteúdo, foi a fala dodeputado Carlos Alberto Caó(PDT - RJ), que discursou emnome da Assembléia NacionalConstituinte. Segundo Caó, "apermanência e a predominânciado autoritarismo em nosso país serelacionam, sem dúvida, com o fa­to de que nada menos do que qua­tro quintos de nossa história trans­correram sob o signo da escrava­tura enquanto forma de proprie­dade e de .produção - sistemaque, por definição, se baseia naviolência e na tortura, tecnologiasque, modernizadas e refinadas,continuaram sendo aplicadas emtempos recentes a cidadãos brasi­leiros".

Também o senador Afonso Ari­nos (PFL - RJ), que falou emnome do Senado Federal, se refe­riu à mácula que foi a escravidão

6 Jornal da Constituinte

Page 7: na Carta · falta de entendimento, o último projeto do relatorBernar do Cabral(PMDB-AM)não fosse acolhido. Nesse caso, a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futura Constituição

Se os oradores convergiramsuas orações para a lembrança dosofrimento dos negros escravos,para a epopéia abolicionista e paraa situação de desigualdade socialem que os negros se encontramainda hoje, não foram menos coin­cidentes em fazer de seus pronun­cíamentos um chamamento à re­flexão e uma palavra de ordem pa­ra o prosseguimento da luta, agorapela igualdade social, econômicae cultural.

Para Afonso Arinos, o 13 deMaio deve ser comemorado comouma oportunidade para reflexõesde caráter sócio-histórico, despi­das de propósitos ideológicos epartidános, ou de ressentimentosraciais, mas reflexões que condu­zam a uma visão equilibrada e jus­ta de nosso contexto social, passa­do, presente e futuro.

Paes de Andrade, por sua vez,lembrou o esforço desenvolvidopelos parlamentares do Impériocontra a escravidão, para dizerque, hoje, os congressistas consti­tuintes devem se dar as mãos aci­ma de todos os radicalismos, aci­ma dos limites partidários em bus­ca da unidade e da grandeza daPátria. Benedita da Silva colocounegros e índios na mesma situaçãode desigualdade, para afirmar queas duas raças devem unir-se na ini­ciativa de lutar abertamente con­tra as tentativas de anulação deseus direitos. "O conceito de de­mocracia significa, fundamental­mente para nós, a igualdade so­cial, econômica, racial e política"- disse Benedita.

Já Edmilson Valentim colocouque os negros não devem lutarapenas contra os preconceitos cul­turais da sociedade atual, mas rea­lizar profundas transformações so­ciais, econômicas e políticas quepossam, efetivamente, acabarcom todos os tipos de opressão,de forma que obtenham a verda­deira libertação. Na mesma linhaé a advertência de Paulo Paim,convicto de que é grande a respon­sabilidade do movimento negro naconstrução de um projeto socia­lista para o Brasil, "porque en­quanto houver dominação de clas­se, haverá racismo". Nesse senti­do, ele recomenda que o movi­mento negro avance na articula­ção de suas lutas com as demaislutas dos trabalhadores. Outramedida reivindicada por Paim,agora ao presidente José Sarney,é o imediato rompimento de rela­ções com o regime racista da Afri­ca do Sul. Carlos Alberto Caótambém acha que a luta deve pros­seguir, "pois o desafio históricoestá diante de nós". "Que tenha­mos a capacidade de construir umestado democrático e um ambien­te civilizado para a sociedade civil,rompendo as barreiras que têmperpetuado as discriminações, asdesigualdades sócio-econômicas eraciais." E, ao finalizar a sessão,o senador Humberto Lucena afir­mou que a comemoração dos cemanos da Abolição deve ficar, tam­bém, como uma exortação à cons­ciência nacional, para que cultive,como valor indissociável da liber­dade, a luta pela supressão de to­das as discriminações SOCIais emfavor da integração de todos osbrasileiros numa sociedade emque o preconceito racial seja ape­nas registro histórico, embora trá­gico.

Paulo Neves

REFLEXÃO E LUTA

EdmilsonValentimlouva a

resistênciados negros

tado, com a abolição formal-dotrabalho escravo, o racismo brasi­leiro se redefiniu, criou formas epermanece sendo um poderosoinstrumento de exploração e dedominação, largamente utilizadopelo capital e pelo Estado. A pro­pósito, ele salienta que são abun­dantes os dados que comprovama segregação e as desigualdadesraciais no Brasil contemporâneo.Este é também o ponto de vistade Carlos Alberto Caó, paraquem, no contexto de uma crisesem precedentes na história repu­blicana, o modelo imaginário dedemocracia racial se dissolve dian­te do aguçamento das discrimina­ções e desigualdades raciais."Mais do que nunca a Aboliçãose situa como obra inacabada, in­completa e historicamente frustra­da" - acentuou Caó.

censão social, política ou econô­mica. Trocaram o chicote, o tron­co e outras coisas mais por cane­tas, livros, porta social etc. , levan­do o negro a viver desnorteado,como legião dos despossuídos de­ram continuidade involuntária àscondições impiedosas que lhes fo­ram impostas" - disse Beneditada Silva. Edmilson Valentim, porsua vez, observou que, cem anosdepois da Abolição, a realidadedo negro pouco se alterou: a maio­ria continua vivendo e trabalhan­do em condições bem piores doque a dos brancos, substituíram-seas senzalas pelas palafitas e fave­las, e o chicote, que impunha aprodução, deu lugar ao subempre­go e à exploração capitalista. Dis­se, mais, o deputado, que a lutado negro, antes contra o senhorde escravos, é hoje contra as clas­ses dominantes, contra o sistemacapitalista que oprime todos ostrabalhadores, mas particular­mente o negro, discriminando-ono mercado de trabalho, impedin­do-o do acesso à educação (87%dos brasileiros que cursam o nívelsuperior são brancos).

.Na mesma linha de raciocínio,Paulo Paim buscou, na letra dosamba-enredo da Estação Primei­ra de Mangueira, um verso que,na sua opinião, bem exprime a si­tuação do negro pós-Abolição:"Livre do açoite da senzala, presoà miséria da favela". Para o depu-

Paulo Paim pedeaos negros que

lutem pelosocialismo

Do calor dos pronunciamentos aocolorido da festa que se seguiuà sessão solene, o que se ouviue se viu foi a busca da interaçãodas raças, para que o Brasil realizede fato o ideal da plena democracia.O momento ficará na História.'

Paesde Andradevê na luta

abolicionistauma lição

Como está a situação dos negrosno Brasil, um século depois daAbolição? Esse foi um aspectoque mereceu a análise especial dosvários oradores da sessão solene.Um fato constatado por vários de­les é o de que a mesma lei queaboliu a escravidão lançou os ne­gros à sua própria sorte. "Dora­vante, um novo tipo de escravidãosurgia sutil, sorrateira, pérfida, ti­rando qualquer perspectiva de as-

O QUE MUDOU?

mascarar o mito de que a Lei Áu­rea foi umato humanitário da Mo­narquia. Na verdade - disse ele- foi produto de um embate deinteresses que tinha como prota­gonistas, de um lado, os brancos,interessados em manter o seu sta­tus quo e sua base de dominação;e de outro lado, os negros, mteres­sados em construir uma nova or­dem. Esse mesmo enfoque foi des­tacado por Benedita da Silva, paraquem a história oficial continuadesinformando, escondendo averdade que fortalece a luta deuma raça. Do mesmo modo, Ed­milson Valentim registrou que oprocesso de abolição legal não foium ato de magnanimidade da Co- o

roa (um ano antes, em 1887, aPrincesa Isabel mandou fuzilar es­cravos fugidos), mas se deu comoo coroamento de uma longa lutacontra a escravidão.

Carlos AlbertoCaóquer uma

democracia semdiscriminação

ceitos eram de tal monta que sechegou a difundir, nas cabeceirasda sociedade, a militante suposi­ção de que os negros não eramseres humanos, mas simples ma­míferos semi-racionais. E acres­centou que foi um penoso cami­nho o do Parlemento até se chegaràquela sessão do dia 8 de maio,quando foi aprovada a Lei Áurea,sancionada cinco dias depois -13de maio - pela Princesa Isabel.

Já Paulo Paim salientou que, aocontrário do que as escolas ensi­nam, o escravismo no Brasil, emnenhum momento, foi um em­preendimento pacífico que conta­va com escravos dóceis, pois muitoalém de meros instrumentos deprodução utilizados pelos senho­res de escravos, os negros sempreforam agentes ativos de sua pró­pria história. Paim referiu-se, en­tão, à crescente reação dos negrosescravos, que ia desde o banzo àsgreves de fome, ao assassinato desenhores de escravos, ao abortopraticado pela mãe escrava, às fu­gas individuais, à preservação dareligiosidade africana, às revoltasurbanas, aos quilombos até a sagade Zumbi dos Palmares. Paimtambém afirmou ser preciso des

Afonso Arinospregou uma nova

Abolição:contra a miséria

Benedita daSilvadefende

revisão dasrelações raciais

capítulo que mereceu especialatenção dos oradores. AfonsoArinos fez um relato histórico dodesenrolar dessa luta, enfatizandoque foi uma longa campanha depersuasão nacional pela oratóriaparlamentar, pela ação da impren­sa, pela conquista do apoio de to­da a sociedade. E abservou quea abolição fez alguns dos grandeshomens do Império, tanto quantoestes fizeram a Abolição. E Paesde Andrade notou que foi no ple­nário da Câmara que tomou corpoo clamor popular pela Abolição,e que foi às mãos dos represen­tantes do povo que o Imperadorentregou a tarefa da libertação."A história da Abolição se con­funde com a história parlamentardo país, desde os primeiros anosde consolidação da Independên­cia. Quem quiser tomar conheci­mento do que foi a luta pela emen­cipação não precisará mais do quemergulhar na leitura dos Anais daCâmara. Foi aqui que se fez aAbolição, num episódio parla­mentar que ainda hoje é típico doCongresso brasileiro e da VIda par­lamentar do país". E para mostrarcomo foi difícil essa luta, Paes deAndrade recordou que os precon-

Jornal da Constituinte 1

Page 8: na Carta · falta de entendimento, o último projeto do relatorBernar do Cabral(PMDB-AM)não fosse acolhido. Nesse caso, a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futura Constituição

~

sera nuCritériosi

flexíveis nafixação dosvalores dosimpostos,Fim dos I

privilégios.Recursos

para regiõesmais pobres.O fisco mudapara melhor.Pode não sero ideal masrepresenta

grande avanço

se observa o conjunto de disposi-tivos, é a da transferência de re­cursos da órbita da União para ados estados e municípios. O se­gundo ponto analisado por JoséSerra, que foi relator da Comissãodo Sistema Tributário, Orçamen­to e Finanças, é o dos dispositivosque darão um maior reforço decaixa para as regiões menos desen­volvidas. E, finalmente, segundoele, o texto confere maior autono­mia às unidades da federação ­tanto estados como municípios.

José Serra calcula em 20% aperda da União em termos de receita tributária. Deste percen­tual, se~undo o constituinte pau­lista, dOIS terços serão devidos aosrecursos destinados ao fundo departicipação das unidades fede­radas. Outros 20% virão como re-sultado da eliminaçãodos cinco impostos úni­cos Que estarão agora in­cluídosno ICM. E, final­mente, segundo ele, otexto confere maior auto­nomia às unidades da fe­deração - tanto estadoscomo municípios.

José Serra calcula em20% a perda da Uniãoem termos de receita tri­butária. Deste percentu-al, segundo o constitu- i~ (inte paulista, dois terçosserão devidos aos recur- - 'sos destinados ao fundo Virgflio Guimarães: timitkz

-------..- L-

termediação corruptora, as in­fluências descabidas e do processode concentração de recursos e po­deres". No entanto, de acordocom Irajá Rodrigues, o que se ob­terá através das propostas vitorio­sas no plenário da Constituinteserá apenas a transferência "des­ses males de Brasília para as capi­tais estaduais". Resumindo: ga­nham os estados por aumento dereceita e redução de encargos;perdem a União e os municípios."Será a consagração dos governa­dores que se têm esboçado clara­mente nos últimos tempos, reedi­tando a República Velha".

Irajá Rodrigues acredita inclu­sive que haverá uma leva nova deprefeitos - recém-eleitos - queno ano que vem pedirão uma re­formulação deste ponto nos dispo­sitivosdo sistema tributário consa­grado em plenário.

MODERNIZARA questão tributária, no enten­

der do constituinte José Serra,membro do PMDB de São Paulo,respeitou três linhas básicas dotrabalho desenvolvido na comis­são temática, que são a descentra­lização, maior justiça fiscal, e amodernização do sistema.

Para José Serra, a descentrali­zação tributária passa por três ver­tentes nos dispositivos no projetoconstitucional já aprovado. A pri­meira, que fica patente logo que

repassem recursos corresponden­tes às suas áreas, mas isto não estádefinido constitucionalmente".

Irajá Rodrigues acredita, igual­mente, que essa circunstância farácom que os municípios percam emautonomia, pois mudará apenas ainstância a que os prefeitos terãoque recorrer para sanar suas difi­culdades. "Hoje os recursos sãoinsuficientes, masos prefeitos vêma Brasília e obtêm as verbas comministros que não fazem políticaem seus estados. Mas, com essasmedidas, Brasília ficará sem recur­sos para atender esses pleitos e,desta maneira, os prefeitos serãoobrigados a recorrer às suas res­pectivas capitais estaduais, ondeencontrarão secretários e mesmoum governador que fazem I?olíti­ca, até mesmo a nível municipal".Com essa transferência - salien­tou Irajá Rodrigues - os recursosserão liberados em troca de posi­cionamento político do prefeito.

"Importante salientar que con­sidero que a redistribuição era ne­cessária, sendo uma exigência dosmuniciI?alistas, principalmentecom objetivo de acabar com a in-

Ao lado dos novos percentuaisdo bolo fiscal, eles receberão no­vos encargos. "A maior esperançaque tínhamos, como municipalis­tas, era de que o sistema tributárioproposto revelasse maior justiçafiscal, com o estabelecimento doprimado do município, bem comoa existênciade um processo menosburocrático e menos custoso, en­tretanto, o projeto aprovado nãoatende estes requisitos, sobretudoporque é produto de um acordoem que figuram como principaisartíficesos governadores, o relatore o presidente da comissão temá­tica, ainda nas etapas iniciais dopro~sso constituinte". .

Desta forma, segundo Irajá Ro­drigues, a redistribuição financei­ra proposta tinha como objetivocentral dispositivos que privile­giassem os Estados, em detrimen­to de um conjunto mais amplo dealterações. "Embora haja umacréscimo de receitas municipais- prosseguiu o parlamentar gaú­cho -, da ordem de 27%, nãohá dúvida de que por outros dispo­sitivos os municípios receberão oencargo de manter a educaçãofundamental, inclusiveno caso dopré-escolar, e a saúde. Só estasduas rubricas deverão consumir eultrapassar o acréscimo da partici­pação no bolo tributário, fazendocom que a situação do municípiose torne difícil". Embora a Previ­dência Social e outras instituições

Cesar Mala: avanços

lientou O parlamentar do Rio deJaneiro -. mas foi um grande nas­so". O que todos querem, afirmou,é simplesmente criar a federação,na pratica, no País.

No entanto, César Maia acre­dita que a importância políticaconjuntural da discussão da pro­posta de reforma tributária enco­briu a aprovação do que o depu­tado considerou "o melhor textoaprovado na Constituinte" e quediz respeito à questão orçamen­tária definida na votação. "A par­tir da aprovação desse texto, sa­lientou César Maia, o Poder Le­gislativo terá instrumentos sufi­cientes para exercer, na plenitude,seu papel e suas prerrogativas emrelação ao processo orçamentá­rio" .

ção, que redistribui esses recursos,de forma a dar às unidades da fe­deração com menor base de tribu­tação os recursos de que neces­sitam.

César Maia lembrou, inclusive,como era a distribuição dos tribu­tos em 1965. "Antes do processode centralização, em 196511967, aUnião tinha aproximadamente40% no bolo tributário. Os esta­dos tinham 45% e os municípiosficavam com os 15% restantes.Em 1986,essa situação tinha sofri­do uma pequena variação: aUnião havia caído de 50 para47%, enquanto os estados haviamsubido um pouco, para 36%, e Osmunicípios tinham subido igual­mente em pequena proporção,atingindo os 17%".

Mas, e com o novo texto apro­vado no plenário da Constituinte?"Simplesmente, daqui a cincoanos, entregar o que a União tinhaem 1965, ou seja, 40% da receitatributária global disponível. os es­tados ficarão com outros 40%, oque ainda representa menos doque em 1965, e os municípios, porsua vez, passarão de 17 para 20%ou pouco mais". Esta reformula­ção, na opinião de César Maia,é uma reforma simples, cristalinae pedagógica, em que a União terácinco anos para descentralizar en­cargos e terá um mesmo prazo pa­ra ajustar suas despesas para isso."Pode não ter sido o ideal - sa-

PERDASO constituinte Irajá Rodrigues

(PMDB - RS), ao analisar o no­vo sistema tributário, considerouque, ao contrário do que se imagi­na, os municípios não foram osmaiores beneficiados com o pro­cesso de descentralização tributá­ria.

A reforma tributária que afutura Carta vai implantar nãosignificará apenas melhor dis­tribuição do "bolo" dos impos­tos entre a União, estados emunicípios, mas também a mo­dernização do sistema de arre­cadação, com a adoção de cri­térios que permitirão aos esta­dos maior flexibilidade na ta­xação. Entre outras inovações,ela vai extinguir cinco impostos"únicos" em vigor e há muitoconsiderados obsoletos, queserão agregados a um novo tri­buto, ela vai criar mecanismospara contemplar regiões me­nos favorecidas em matéria dedesenvolvimento econômico edisponibilidade de recursos na­turais, resultando em benefí­cios para todo o país.

Os constituintes ouvidos pe­lo JC sobre as mudanças na po­lítica tributária destacam as­pectos diversos como, porexemplo, o prazo de cinco anospara a transferência de encar­gos da União aos estados e mu­nicípios, o novo modelo fiscala ser implantado, que fará comque os impostos incidam demaneira diferenciada nas vá­rias regiões ou ainda o fim dacentralização da arrecadação eda distribuição de verbas, quesempre dá margem a manipu­lações.

FEDERAÇÃOO constituinte César Maia

(PDT - RJ) acredita que o prin­cipal ganho com o novo sistematributário, aprovado no plenárioda ANC, é permitir que o sistemafederativo realmente atinja a prá­tica. Para isso, salientou o parla­mentar do PDT, os estados e mu­nicíl?ios devem ter as condiçõesderealizar as suas atribuições consti­tucionais como educação e saúde,por exemplo, e desta forma, preci­sam ter base de tributação própria.para absorver recursos. Em segun­do lugar, considerou César Maia,deve-se constituir um fundo queredistribua recursos, em funçãodas diferenças regionais e das dife­renças verticais entre governo fe­deral, estados e municípios.

"O texto do projeto de Consti­tuição é muito claro, muito nítidoe termina com o coquetel tribu­tário centralizado, que é a atualsituação fiscal do país e propõeum novo sistema tributário quetem uma coluna vertebral muitoracional", garantiu César Maia. Ogoverno federal contará com umgrande imposto que é o Impostosobre a Renda, e também com osimpostos que têm relação com apolítica econômica: lOF, IPI, Im­posto de Importação; Imposto deExportação. e Imposto TerritorialRural, que, segundo ele, será ins­trumento para a reforma agrária.Os estados contarão com um gran­de Imposto sobre Circulação deMercadorias e os municípios, porseu turno, contarão com os impos­tos que crescem com a urbaniza­ção, caso do ISSe do Imposto Pre­dial. Em seguida, ressaltou CésarMaia, vem o Fundo de Participa-

Jornal da Constit,

Page 9: na Carta · falta de entendimento, o último projeto do relatorBernar do Cabral(PMDB-AM)não fosse acolhido. Nesse caso, a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futura Constituição

is 'usto e mo

9

des frentes de debate constitucio­nal.

Um primeiro aspecto, na opi­nião de Virgílio Guimarães, é apretendida descentralização queele considerou ainda muito tími-.da. E tímida, no seu ponto de vis­ta, significa dar pouca autonomiaaos municípios, em termos tribu­tários. Virgílio Guimarães acredi­ta mesmo que os grandes benefi­ciários desta descentralização se­rão os estados, que saem mais for­talecidos do novo texto constitu­cional. Entretanto, Virgílio Gui­marães disse ver com bons olhosessa descentralização, úma vezque elimina o clientelismo a nívelnacional.

A segunda questão, na opiniãodo constituinte, é a regional, e nes­te particular Virgílio Guimarãesacredita que o texto apresentouimportantes avanços, a partir douso do novo sistema tributário co­mo instrumento de equilíbrio re­gional - reivindicação esta enca­beçada por parlamentares do nor­te-nordeste do país. Virgílio Gui­marães enfatizou que, para quehaja uma base de incidência a ní­vel regional satisfatória, é precisoexistirem riquezas locais. Na au­sência ou insuficiência delas, o no­vo sistema atuará regulando a de­fasagem, o que beneficiará as re­giões menos favorecidas do país.

Terceiro ponto: Virgílio Gui­marães crê que foram poucos osavanços no uso do sistema tribu­tário como instrumento' de justiçasocial. O parlamentar mineiro re­cordou que o Partido dos Traba­lhadores tinha como pretensão di­minuir os impostos indiretos, e, aomesmo tempo, aumentar a cargados impostos diretos. Esses impos­tos diretos, hoje, no país, de acor­do com o constituinte, represen­tam um ponto de injustiça, princi­palmente por incidirem de formamuito maior sobre o trabalho doque sobre o capital. "O salário jáé taxado na fonte, enquanto queninguém acredita neste país nosnúmeros que são divulgados nosbalanços das empresas e que dão

- a base da taxação".Para Virgílio Guimarães, de­

pois de aprovados os novos dispo­sitivos tributários, o país continuasendo basicamente de impostos in­diretos, fato que, para ele, nãopermite uma maior distribuição derenda. Virgílio Guimarães lembraque um imposto indireto, emboraseja igual para todos, incide demaneira desproporcional sobre amassa de salários, apenando maisos que ganham menos. "O salário

-mínimo fica comprometido em30% só com o pagamento de im­postos indiretos atualmente nopaís".

Para o constituinte do PT de Mi­nas Gerais, contudo, um quartoaspecto foi contemplado de formamarcante pelo novo texto: a eficá­cia do proprio sistema tributário.Virgílio Guimarães citou comoexemplo importante o fim dos im­postos únicos, que foram incorpo­rados ao ICM, de modo a incidirsobre o valor adicionado. Nestesentido, segundo ele, o sistematornou a tributação mais flexível.

Humberto Martins

erno

TIMIDEZ

Já para o constituinte VirgílioGuimarães (PT - MG), o textoque institui o novo sistema tribu­tário nacional apresentou avançosainda tímidos. Ele não nega queexistiram avanços importantes,mas considera que estes mesmosavanços poderiam ter sido maisprofundos, dividiu a questão tri­butária nacional em quatro gran-

tema tributário uma maior racio­nalidade econômica, através dasupressão de cinco impostos que,de acordo com o constituinte doRio de Janeiro, tinham incidênciasultrapassadas. Estes impostos quedeverão desaparecer com a ,novaConstituição são: Imposto Unicosobre Minerais, Imposto Únicosobre Energia Elétrica, ImpostoUnico sobre Combustíveis, Im­posto sobre Comunicações e Im­posto sobre Tranporte.

Francisco Dornelles acreditatambém que os contribuintes se­rão beneficiados com o novo siste­ma tributário aprovado em plená­rio. "O novo texto trouxe - ga­rantiu o parlamentar - maioresgarantias aos contribuintes, namedida em que estabeleceu quenovos impostos e empréstimoscompulsórios somente poderãoser criados por lei aprovada pelamaioria absoluta da Câmara dosDeputados e do Senado Federal" .

Da mesma forma, o sistema tri­butário ficou mais progressivo namedida em que eliminou, segundoo constituinte, privilégios de mili­tares, magistrados e congressistas.isto significa que o Imposto deRenda deverá respeitar os princí­pios da igualdade e da progressi­vidade. Por outro lado - aditouele - esse sistema a ser implan­tado não será tão rígido que nãopermita diferenciações. Francisco

Francisco Domelles: justiça

Dornelles lembra que, pelos dis­positivos aprovados, o ICMS foiconcebido de maneira que poderáser cobrado com alíquotas maisbaixas para bens de maior essen­cialidade e com alíquotas mais ele­vadas para bens menos essenciais.

Francisco Dornelles não con­corda, entretanto, com o ponto devista de que os estados tenham si­do os maiores beneficiados em de­trimento dos municípios e provacom números. Segundo o parla­mentar, com o novo sistema tribu­tário, os municípios terão um ga­nho percentual médio que irá va­riar entre 25 e 30%, enquanto queos estados terão um ganho entre10 e 15%.

Francisco Dornelles aponta ba­sicamente alguns pontos de inova­ções importantes. Primeiro, osdispositivos que permitirão que osistema tributário funcione, apósa promulgação, como instrumentode distribuição regional de renda,através, fundamentalmente, doaumento do percentual do Fundode Participação dos Estados. Esteponto é fortalecido por um segun­do, que, na opinião de FranciscoDornelles, é o fato de o sistematributário ser transformado eminstrumento de descentralizaçãode poder, na medida que permiteuma transferência de recursos pa­ra os estados e as unidades muni­cipais.

Com os novos dispositivos apro­vados, Francisco Dornelles acre­dita igualmente que os parlamen­tares conseguiram imprimir ao sis-

enorme de emendas terminavasendo acolhido, ultrapassando fol­gadamente as disposições efetivasde receitas e pulverizando, semqualquer planejamento mais coe­rente a destinação do gasto gover­namental". O resultado disso, se­gundo o parlamentar, era a mani­pulação do Executivo sobre o Le­gislativo.

Já na Constituição de 1967, lem­bra o constituinte, ficou vedada aprática de apresentação de quais­quer emendas orçamentárias pe­los parlamentares, pela criação dodecreto-lei que permitia a rejeiçãoou aprovação em bloco, com apossibilidade de aprovação pordecurso de prazo. "O capítulo so­bre orçamento e finanças públicasno novo texto constitucional fugiua ambos os extremos. Permite aosparlamentares fazerem emendasao orçamento, durante a aprecia­ção, mas somente em relação àsdespesas de investimentos (e gas­tos dela decorrentes) e sempre queindiquem, além disso, a fonte dosrecursos necessários".

PARTICIPAÇÃO

IrajáRodrigues:dependência

de receita tributária, com umamaior descentralização do geren­ciamento dos recursos e mesmoum aumento de participação nobolo fiscal, que hoje permanecenas mãos da União.

Para o constituinte FranciscoDornelles (PFL - RJ) os dispo­sitivos aprovados no primeiro tur­no de votação em plenário repre­sentaram um grande avanço paraestados e municípios em termos

alimentos, enquanto, por outrolado, a alíquota poderá ser maiorsobre produtos menos essenciais.Ainda nesse ponto, José Serra res­saltou que os empréstimos com­pulsórios não serão estabelecidospor decreto-lei, mas deverá pas­sar inicialmente pela aprovaçãoda maioria absoluta do CongressoNacional.

Já em relação à modernização,José Serra lembrou a extinção doscinco impostos únicos e que foramagregados no ICMS, evitando des­ta forma o efeito cascata a queestavam sujeitos antes, incidindosobre o valor adicionado. Entre­tanto, quando se fala no impostosobre grandes fortunas, o parla­mentar paulista lembra que elenão estava incluído no trabalho dacomissão temática, e a sua concei­tuação é vaga a ponto de José Ser­ra acreditar ser ele de difícil aplica­ção ou determinação em lei ordi­nária.

Outro ponto igualmente impor­tante para José Serra foram as mo­dificações orçamentárias . "NaConstituição de 1946 não haviaqualquer restrição a emendasapresentadas ao orçamento pelosparlamentares, criando despesas.Embora pudesse exercer seu po­der de veto, é evidente que, emface da necessidade de negociarcom o Legislativo a aprovação delei orçamentária, um volume

de participação das unidades fede­radas. Outros 20% virão como re­sultado da eliminação dos cincoimpostos únicos que estarão agoraincluídos no ICMS. E, finalmen­te, mais 12% se darão devido àcriação do fundo de ressarcimen­to do ICM sobre produtos desti­nados à exportação. Essa perdade receita da Umão deverá acar­retar uma transferência de en­cargos. Mas José Serra crê quehaverá somente a transferênciade programas e não dos progra­mas, o que é uma diferençasubstancial. E mesmo assim, pe­los dispositivos, haverá uma des­centráhzação, pois, para JoséSerra, não há sentido, por exem­plo, de o Ministério da Educação,ou da Saúde, ou do Desenvolvi­mento Urbano distribuir recur­

sos para as unidades fe­deradas, pois isso favo­rece à manipulação deverbas.

O novo texto acabacom a desigualdade notratamento entre indiví­duos, na medida em queextingue privilégios e dámaior autonomia no es­tabelecimento de alíquo­tas do ICM, fato quepermite tomar essas mes­mas alíquotas seletivas.Isso significa que o ICMpoderá ser menor -paraartigos essenciais como_

Page 10: na Carta · falta de entendimento, o último projeto do relatorBernar do Cabral(PMDB-AM)não fosse acolhido. Nesse caso, a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futura Constituição

Masini: textoé xenófoboeestatizante

drão de vida dos trabalhadores ede suas famílias?

JC - Como, então, atacar oproblema pela base?

Jovanni Masini - A meu ver,as propostas aprovadas partem deum pressuposto enganoso, co~?se o Brasil tivesse as suas pOSSIbI­lidades de progresso limi.tadas.São propostas pouco ambiciosasque, por antecipação, limitam aspossibilidades de ~f~tIvo pr?g~es­so. Veja que a eficácia dos dIreI~OS

sociais está vinculada a um efetivodesenvolvimento econômico e, namedida em que, como já disse, adecisão econômica representaobstáculo à dinamização de nossaeconomia, os direitos sociais serãofrustrados.

Assim, o aumento aprovado naremuneração das horas extras, oudas férias são aumentos com basenum dos' salários mínimos maisbaixos do mundo, muito aquémdas necessidades do trabalhador ede sua família. É, decididamente,muito pouco.

JC - A seu ver, quais os pOllto~positivos do texto aprovado ateaqui?

Jovanni Masini - Além do novosistema tributário de que já fala­mos há sem dúvida alguma, ou­tros 'importantes avanços a regis­trar. Em primeir~ 11!gar, o re.stabe­lecimento dos direitos da CIdada­nia através da aprovação de umacarta de direitos individuais com­parável às melhores d? mu?d~. Is­to vai permitir que o cidadão fiqueefetivamente ao abngo de qual­quer abuso de poder, seja o po?erdo estado seja o poder economrcoou qualqu'er outro. Além di~so, fo­ram criados importantes mstrl;!­mentos de ação para a cidadaniajunto ao Poder Judiciário, no se~­

tido de poder, concretam~n!e, eXI;gir o respeito aos seus d~r~Itos ... Eo caso do mandado de mjunçao,do mandado de segurança coleti­vo da ação de inconstitucionali-dade por omissão. .

Da mesma forma, conseguimosrealizar a redemocratização d~s

poderes através do restabeleci­mento d~s prerrogativas do.PoderLegislativo e da eliminação doscontornos autoritários do PoderExecutivo.

Jovanni Masini - Liberali­zando, desestatizando a vida eco­nômica. Precisamos fechar as tor­neiras do desperdício, precisamosacabar com a ineficiência das esta­tais eliminar a excessiva interfe­rên~ia do estado na economia,causadora de seriíssimos proble­mas, cujos efeitos danosos caemsobre os ombros de toda a popu­lação brasileira. Com exc~ç~o,evidentemente, daqueles privile­giados que estão conseguindo c.on­servar os privilégios que ,obtIve­ram nas últimas décadas. E o casoda tecnoburocracia entronizadano comando das estatais, é o casodaqueles que se be?eficiam da ex:cessiva interferência do Estado, eo caso de setores da própria es­querda que se aliam a es~as forçaspara criar falsas expe~tatIVas, paradepois capitalizar eleItoral!fiente ainsatisfação oriunda do não-aten­dimento dessas mesmas expecta­tivas. Tudo isto acaba se tradu­zindo num grande engano, que fa­rá com que o Brasil sofra ai~dapor muitos anos este atra.so crom­co, através da perpetua9ao d~ umcapitalismo cartoríal, clientelista esem risco.

Jovanni Masini - Não é comxenofobia e estatização que vamospreservar a soberania nacional,pelo contrário: estamos A aU!llen­tando o nível de dependência doBrasil com o exterior, estamosperdendo a capacidade de compe­tir de ampliar nosso mercado e,fu~damentalmente, de melhorar onível de vida dos trabalhadores bra­sileiros e de suas famílias. Não hásoberania na miséria, na minhaopimão o grau de independência,de soberania, de altivez de u~a

nação é revelado, antes de maisnada, pelo nível de bem-estar deque goza um povo. Soberania na­cional há de ser entendida comosoberania dos nacionais, dos cida­dãos, a quem devem .ser. garan­tidos a liberdade, a dignidade eo bem-estar.

JC - Os nacionalistas s~sten­

tam que a liberdade do capital es­trangeiro em nosso país tem repre­sentado e continuaria representan­do uma sangria das nossas rique­zas.

Jovanni Masini - Veja, tam­bém aqui há um equívoco brutal.A grande sangria é re~li~ada atr!1­vés do capital de empréstimo e naodo capital de risco. Não há formade nos desenvolvermos sem novosaportes de capital. A questão, por­tanto, é saber se o capital virá s<;>ba forma de risco ou de empres­timo. No primeiro caso, o Ô?USé do investidor, e sua subordina­ção às leis brasileiras po~e ser VIa­bilizada com sucesso. Ja no casodo capital de empréstimo, aC0I!­tece o oposto: o governo e as leisbrasileiras perdem qualque! ~on­trole sobre a evasão de divisas,pois tudo fica sujeito às oscilaçõesdo mercado financeiro internacio­nal. Se fecharmos as portas par~

o capital de risco, só n?s. restaraa trágica via atual: o endividamen­to.

JC - Na sua opinião, os direi­tos sociais aprovados representa­rão uma efetiva melhoria do pa-

Masini: serão aprovados disp~siti-;; inadequados

JC - Como o deputado avaliaas decisões do plenário acerca dospnncipios gerais da "Ordem Eco­nômica?"

Jovanni Masini - Prelimi­narmente, é preciso assinalar queexiste hoje um c~nsenso 'luas: quemundial quanto a revalonzaç~o dalivre iniciativa, da economia demercado e da cooperação econô­mica internacional. Os países quetêm adotado tal orientação, inclu­sive os chamados socialistas têmobtido evidentes vantagens. Infe­lizmente, o processo constituinteacabou desconsiderando exem­plos históricos como os do Japã~,

da Itália e, recentemente, da ChI­na e da própria União Soviética.

JC - Como assim?

Jovanni Masini - Acabou pre­valecendo, no texto aprovado,uma filosofia xenófoba e estati­zante falsamente naciortalista,principalmente na definição daempresa nacional e na partIc~pa­

ção de investimentos estrangeirosem nossa economia. As normasaprovadas constituem u~a sinali­zação negativa para o investidorestrangeiro e isto fatalmente acar­retará um desestímulo à entradade capital de risco em nosso país.Perdemos, portanto, a cl~ance deatrair capital e tecnologia, hojeimprescindíveis à retomada do de­senvolvimento nacional e conse­qüentemente, impresc}ndíveis.àgeração de emprego e a melhonado padrão de vida de nossa gente.O Brasil precisa desesperadamen­te criar novos empregos, precisamanter o nível de competitividadeinternacional das nossas empresase nada disso vem sendo feito. Comas decisões constitucionais refe­rentes à ordem econômica, ~al

quadro tende, infelizmente, a PIO­rar.

JC - Mas as medidas foramaprovadas em nome da soberania

I nacional.

o grau deindependência

e soberaniade uma nação

é reveladopelo nível de

bem-estarde que gozao seu povo

ção de recursos em benefício dosestados e municípios, que terãocondições materiais para atenderàs suas prioridades. Ao mesmotempo ficam menos dependentesdo poder central, eliminando essaobrigatoriedade que hoje existe deprestar vassalagem política, quetem se revelado imensamente in­satisfatóna.

Por outro lado, o contribuintebrasileiro, a partir da promulga­ção da Constituiçã?, .esta~á p~o!e­gido contra o arbítrio tnbutano,através das limitações ao poder detributar que foram aprovados. Is­so terá um efeito econômico sau­dável, pois o investidor te~ágaran­tias para efetuar o planejamentode sua atividade, sabendo que asregras de jogo nã~ se!ão alteradasunilateral e autontanamente.

JC - iJ deputado teve umaemenda aprova~a f.!0r unanimida­de naquela comtssao.

Jovanni Masini - É verdade.Trata-se de um.disposith:o gue ~n­tecipa a vigência dessas limitaçõesao poder de,t~ib?tar, dessas garan­tias do contribuinte. Como a pro­posta tributária aprovada alteraem profundidade ~ sist~~a tribu­tário nacional, as disposições tran­sitórias estabelecem que todo o Tí­tulo VI dedicado à tributação, so­mente ~ntrará em vigor em 1989,para que haja tempo de modif~c~ras leis complementares e ordiná­rias necessárias à sua aplicação.Apresentamos uma exceção a taldispositivo, 'para que. as.gar!1ntIasdo contribuinte e as limitações aopoder de tributar entrem em vigorna data da promulgação ~a Consti­tuição e não e~ 1~89, POIS?O co~­trário o contribuinte continuariadesprotegido nesse intervalo. ~proposta foi apr~v~da por, ~nam­midade na comissao temática e,posteriormente, confirmada pelaSistematização. Temos certeza deque o mesmo acontecerá em ple­nário.

JC - Quais eram suas expecta­tivas ao iniciar seu primeiro man­dato político como deputado fede­ral constituinte?

Jovanni Masini - Quando in­~ressei na vida política, em 1986,Já tinha consciência das limitaçõesque a Emenda Constitucional na27, que convocou: a Constituinte,colocaria ao movimento de reor­denação jurídica ~o estado brasi­leiro. Uma Constituinte congres­sual, sem ruptura com o passado,poderia dar margem a enganos edistorções, era o que pensava des­de o início. Apesar dISSO, eu con­servava a esperança de que, naelaboração da Constituição, aca­bariam prevalecendo aquelesprincípios básicos a partir dosquais pudesse ser elaborada umalegislação infraconstrtucional queatendesse a nível de detalhe,questões i~portant~ssimas cujadiscussão não cabena dentro daConstituição. Mas isto não aconte­ceu. Não partimos de um pr~jeto

básico e sim de 24 anteprojetoselaborados isoladamente e istoconcorreu para que o resultadofosse uma Constituição inchada,analítica, obesa, repleta de dispo­sitivos corporativistas e regionalis­tas. Tal detalhismo vem impedin­do que nos debrucemos adequa­damente sobre o significado de ca­da norma, em razão da exiqüidadedo tempo, pois o Brasil tem pres­sa. E com isto tudo, fatalmenteserão aprovados dispositivos ab­surdos e inadequados.

JC - Como foi sua experiênciana Comissão de Sistema Tributá­rio, Orçamento e Finanças?

Jovanni Masini - Foi bastantesatisfatória. As propostas ali surgi­das e aprovadas acabaram sendoconfirmadas tanto pela Comissãode Sistematização, como pelo ple­nário, e representam um grandeavanço. Isto porque partem dopressuposto da necessidade. dedescentralizar recursos e respeitaro contribuinte. A descentralizaçãopermite uma adequada distribui-

As medidas aprovadas n.aOrdem Econômica "consti­tuem uma sinalização negativapara o investidor estrange}ro eisto fatalmente acarretara umdesestímulo à entrada de capi­tal de risco em nosso país". Aargumentação é do constituin­te Jovanni Masini (PMDB ­PR), que vê, no texto acolhidoem plenário, "~ma fll,?sofIa ~e~nófoba e estatízante . MaSInIdestaca emenda de sua autoriaestabelecendo que as garantiasdo contribuinte e as limitaçõesao poder de tributar entrem e~vigor na data de promulgaçaoda nova Carta, também "poisdo contrário o contribuintecontinuaria desprotegido".Ele comenta os pontos queconsidera positivos, como, porexemplo, o restabelecimentodos direitos de cidadania.

10 Jornal da Constituinte

Page 11: na Carta · falta de entendimento, o último projeto do relatorBernar do Cabral(PMDB-AM)não fosse acolhido. Nesse caso, a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futura Constituição

o subsolo.~

e dos brasileirosma agrária?

Eraldo Trindade - Acho que otexto da Comissão de Sistemati­zação está muito bom, quando dizque a reforma agrária deve ocor­rer em função do social, quer di­zer, em função do interesse social.O Centrão está tentando de todasas formas desmistificar e desorga­nizar esse texto da Comissão deSistematização, porque acha que,em alguns aspectos, a reformaagrária deve ser realizada de con­formidade com a necessidade doEstado. À medida que se tem umaárea produtiva, essa área não podeser usada na condição de se execu­tar o plano de reforma agrária.Acho que o fundamental para estepaís, que tem uma grande faixaterritorial, não é só fazermos a re­forma agrária, mas também, nasleis complementares, estabelecer­mos mecanismos que favoreçam,principalmente, o pequeno agri­cultor, para que ele permaneça naterra.

Vejo a Constituição como o pri-,meiro passo, mas observo que hánecessidade de se adotar uma polí­tica agrícola que vá ao encontrodas necessidades deste país. AChina, com um bilhão de habitan­tes, nos dá a demonstração do queé ser um país agricultável. Reputoo Brasil uma grande nação, ondea agricultura pode ser viável, mas,na medida em que tivermos aconsciência de que, fundamental­mente; o pequeno agricultor deveter ullf apoio muito grande par~

permanecer no campo. A Consti­tuíção, que já estabeleceu algunsmeca~ismos para isso, precisatambém assegurar que o homemtenha 'no campo, saúde, educação,apoio técnico, financiamento sub­sidiado e garantia de comerciali­zação ,!deestocagem e escoamentode toda a sua produção.

Dou como exemplo um progra­ma de assentamento que o goven­ro fez por volta de 1975, ao longoda Transamazônica: foi feito o as­sentamento de inúmeras famíliasque, posteriormente" tiveram quevender suas terras e retornar aoNordeste, porque não tiveramcondições de produzir; chegou ogrande latifundiário, fez a comprapor preço irrisório e gerou-se, no­vamente, o latifundiário. Vejo areforma agrária como fundamen­tal, mas, mais importante, é dar­mos condições para que o homempermaneça na terra.

Hoje, 70% da população brasi­leira vive nos centros urbanos,porque, na área rural, não há con­dições de sobrevivência ou perma­nência. Esse êxodo rural ocorreem decorrência da falta de apoioao homem do campo. Vamos darterra ao homem, mas o estado temque lhe dar condições para produ­zir, porque, à medida que ele pro­duzir, não será prejudicial ao esta­do. Pelo contrário, vai ser um ele­mento de atuação produtiva parao próprio estado. Vejo o primeiropasso agora, em que estamos dis­cutindo as disposições permanen­tes da Constituição, mas, poste­riormente, precisamos tambémestabelecer, nas "DisposiçõesTransitórias" e nas leis comple­mentares, pontos fundamentaispara que o homem tenha a terra,mas que também permaneça naterra, sem trazer graves problemaspara o próprio governo nas gran­des cidades.

que serão necessários 280 votospara se colocar abaixo essa pro­posta. A maioria dos constituintesé favorável à transformação dosterritórios em estados, basta ape­nas que ratifiquemos em plenárioaquilo que foi definido na Comis­são de Sistematização, para queos territórios realmente sejamtransformados em estados.

JC- Como analisa a questãoindígena no país?

Eraldo Trindade - A questãomdígena é muito complexa porqueainda não se adotou uma políticaque possa não só preservar a etniaindígena como também dar a essespovos uma condição de sobrevi­vência. A civilização avança. A re­gião amazônica hoje vem sendodevastada pelo progresso indiscri­minado e vejo que a Umão temque tomar providências para pre­servar as raças indígenas. Relati­vamente a esse assunto, apresen­tei um destaque ao art. 26 das"Disposições Transitórias", cujotexto diz que o poder público faráno prazo de cinco anos, a partirda promulgação da Constituição,a demarcação das terras ocupadaspelos índios.

Na emenda do Centrão, vemosque a União concluirá dentro decmco anos, o que significa cincoanos após a promulgação da Cons­tituição, e ISSO vai ser altamenteprejudicial para as raças indíge­nas. Acho que essa demarcaçãodeve ocorrer logo após a promul­gação da Constituição, para quetenhamos então preservadas as ri­quezas naturais do solo e do sub­solo das terras indígenas, a fim deque os índios possam ter a segu­rança de sobrevivência no seumeio natural, e a civilização nãocontribua para a destruição dessasraças, que representam tanto rarao Brasil, não só em termos histó­ricos como também étnicos. Achoisso fundamental.

No plenário da Assembléia Na­cional Constituinte já existe umaconscientização dessa política depreservação de toda uma raça oude raças, que são de grande impor­tância para este país.

JC- Qual a sua visão da refor-

É O momentopara os

territóriosserem

emancipadose terem uma

linha degovenro

condizentecoma

realidaderegional

que depender de Brasília.Já vejo os territórios como o do

Amapá e Roraima alcançandoaquilo que poderia qualificar co­mo a maturidade para conseguira sua emancipação. Território éuma figura esdrúxula. Essa é a mi­nha colocação e vejo que é o mo­mento de a Constituinte dar aosterritórios federais a sua emanci­pação para que eles possam obe­decer a uma lmha de governo, queseja condizente com a realidaderegional. Os governadores, quevão para os territórios, apenascumprem uma diretriz estabeleci­da pelo Ministério do Interior eque muitas vezes é incompatívelcom a realidade regional.

Os territórios têm grandes po­tencialidades, têm grandes rique­zas que estão se perdendo pelo fa­to de não terem autonomia admi­nistrativa. Vejo que a hora se faznecessária de se dar autonomiaaos territórios. Pelo que já foi ex­plicitado no texto da Comissão deSistematização, evidentemente

ADIRPlBenedlta Passos

surgiram inúmeras manifestaçõesde vários segmentos da sociedade,que defendiam e continuam de­fendendo as multinacionais nosentido de que a nacionalizaçãodo subsolo representa um retro­cesso na política econômica doBrasil, com o que não concordo.

Por exemplo, a Petrobrás,quando foi criada, chegou a sermotivo de um comentário idênti­co, ou seja, o Brasil Iria ter proble­mas na prospecção e na explora­ção de petróleo, uma vez que nãotínhamos tecnologia avançada enão tínhamos também os recursosnecessános para implementarmosum trabalho nessa área. No entan­to, aí está a Petrobrás dando umademonstração de que temos tec­nologia e podemos realizar um tra­balho de grande eficácia nesseprocesso. Então, se temos a maté­ria-prima e o mercado livre paracomercializá-la, é só uma questãode aprimorarmos também a nossatecnologia, para que a exploraçãodos recursos minerais seja feitadentro do interesse nacional, con­forme prevê o .texto do Projetode Constituição, principalmente,agora, que a Constituição estabe­leceu também que o subsolo per­tence à União, que os estados emumcípios terão direito a royaltiesna exploração dos recursos mine­rais, como também terão direitode cobrar impostos sobre a explo­ração e exportação das riquezasminerais.

JC- E a luta pela transforma­ção dos territórios em estados?

Eraldo Trindade - Os territó­rios foram criados em 1944atravésde um decreto do então presidenteGetúlio Vargas. De lá para cáeles têm-se mantido na condiçãode colônias da União. O Amapá,hoje, tem aproximadamente 300mil habitantes, segundo o últimocenso realizado. Está preso comouma autarquia ao Mmistério doInterior, onde um programa admi­nistrativo, um programa de traba­lho de governo está tolhendo o de­senvolvimento regional, porquetudo está centralizado em Brasília.Toda e qualquer determinação,aplicação de governo, que porven­tura o Executivo queira fazer, tem

~_.~­

Trindade: as riquezasdos territórios se perdem pela falta de autonomia administrativa

o constituinte Eraldo Trin­dade (PFL - AP) acreditava,desde o início dos trabalhos daANC, que uma das maioresconquistas seria a nacionaliza­ção do subsolo brasileiro, jáque "isso iria extirpar a partici­pação, diria de certa formaperniciosa, das multinacio­nais". Com a vitória da tese,em plenário, Trindade frisaque "os estados e municípiosterão direito a royalties na ex­ploração de recursos minerais,como também terão direito decobrar impostos sobre a explo­ração e exportação de riquezasminerais". Eraldo Trindadedefende também a transforma­ção dos atuais territórios emestados, a sobrevivência dosíndios no seu meio natural e,ainda, uma reforma agrária aser realizada em função do in­teresse social.

JC- Deputado, a AssembléiaNacional Constuuinte votou, ago­ra, a nacionalização do subsolo.O que tem a dizer sobre o assunto?

Eraldo Trindade - Acho quefoi um grande avanço, até porque,ao longo dos últimos tempos, ob­servamos que o Brasil sempre foium país de grande influência docapital estrangeiro e onde as mul­tinacionais sempre exerceram ummonopólio muito grande. Desdeque cheguei à Assembléia Nacio­nal Constituinte, procurei fazerpronunciamentos tentando cons­cientizar todo o plenário da neces­sidade que tínhamos de naciona­lizar o subsolo. Isso iria extirpara participação, diria de certa for­ma perniciosa, das multinacionais.Ora, isso se angina exatamente daConstituição de 67, que explicitano capítulo da "Ordem Econômi­ca" que as concessões de pesquisae lavra devem ser dadas a brasi­leiros ou a organizações constituí­das no Brasil.

Nisso abrimos um precedentemuito grande para que as multina­cionais detenham o monopólio,principalmente na região amazô­nica, onde o Departamento Na­cional de Produção Mineral, queé o orgão central que deveria nãosó dar as concessões, mas tambémfiscalizá-las, não tem uma estru­tura capaz para exercer essa fisca­lização. Os estados e municípios,que também não têm essa compe­tência, Já que ela pertence àUnião, ficam alheios ao processoe com isso temos o contrabandoacentuado das riquezas mineraisem detrimento da soberania na­cional.

Baseados nesses pontos, queentendo fundamentais, começa­mos a lutar pela nacionalização dosubsolo. Procurei, agora, nesta fa­se de votação em plenário, quandosão necessários 280 votos para seaprovar qualquer proposta, apre­sentar o Destaque n° 1.205, quepropugnava pela manutenção dotexto. Conseguimos, após o desta­que em separado de alguns consti­tuintes para a votação do § 3°, real­mente a nacionalização do subso­lo, porque lutei pela manutençãodo texto da Comissão de Sistema­tização. O Centrão queria apenase nacionalização nas áreas de fron­teira em terras indígenas. mashouve, ao final, uma conscienti­zação muito grande. Logo após

Jornal da Constituinte 11

Page 12: na Carta · falta de entendimento, o último projeto do relatorBernar do Cabral(PMDB-AM)não fosse acolhido. Nesse caso, a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futura Constituição

I

Cunha quereleger logo

o presidente

ADIRPlWl1ham Prescott

Bocayuva: parlamentarismo seria o engodo da população.

dizer, vai ter nas grandes cidades,sobretudo no Rio de Janeiro, emSão Paulo, nas grandes favelas nãosó dessas cidades, mas nas de todoo Brasil, um sentido social muitogrande, além de acabar com a ex­ploração dos falsos aluguéis etc,para fixar o homem naquela pro­priedade, fazer com que ele lute.Foi uma medida, inclusive, capita­lista, porque faz com que aquelecidadão passe a ser um proprie­tário.

JC - Parece que o deputado es­tá preocupado com a demora dostrabalhos da Constituinte.

Bocayuva Cunha - Sim, achoque o país está parado. Estamosnuma situação terrivelmentecruel. As nossas elites são insensí­veis, são muito cruéis, injustas, eo nosso povão está sofrendo comonunca. Essa indefinição faz comque os investimentos fiquem abso­lutamente parados. Quem vai in­vestir sem saber o que pensa umGoverno que não tem legitimida­de, com uma inflação que é assu­mida pelos órgãos do Ministérioda Fazenda e pela direção das fi­nanças nacionais de 600% ao ano,quem é que vai investir quandose bota na Caixa Econômica equalquer poupança - não só dopequeno poupador, mas do gran­de poupador - rende mais de20% ao mês? Isso é impossível,não há país que possa resistir aesse tipo de COIsas. E para sair des­se impasse só um governo legítimoque tenha autoridade e que tenhao respaldo popular, que é o queespero venhamos a ter muito embreve.

JC - Como o deputado analisaa presença do Estado na econo­mia?

Bocayuva Cunha - Acho quehá muito jogo de palavras, muitasemântica, porql;le todos nós esta­mos a favor de que o Estado deveter um papel normativo, não devecompetir com as empresas priva­das. Todos nós queremos isso.Não é possível é que o Estado useaquilo que o Santiago Dantas cha­mava de a privatização do lucroe a socialização do prejuízo. Já nosanos 60, o velho Santiago Dantas,nosso companheiro de partido, jádizia que essa é a tendência docapitalismo brasileiro, que é umcapitalismo absolutamente, comraríssimas exceções, fajuto. Se elefoi construído às custas ou de re­serva de mercado ou do BNDES,de juros favorecidos, todos os se­tores são cartelizados, os grandessetores da economia brasileira, daindústria brasileira são carteliza­dos, como o caso do cimento, ocaso da indústria naval, o caso daindústria automobilística, seja noestrangeiro, seja no nacional a in­diistria brasileira é toda carteliza­da. E uma economia falsa.

Esse dilema de privatização eestatização é um falso dilema.Ainda agora estamos vendo queo Governo pretende fazer a vendadas ações de uma das empresasmais lucrativas do mundo, que éa Aracruz, e, entretanto, fica ar­cando com outras que dão prejuí­zo. Por que dão prejuízo? Muitasdelas dão prejuízo porque têmpreços adrmnistrados pelo Estado,que não são convenientes à saúdeda empresa. E como é que v.amosprivatizar siderúrgicas que hojeestão nas mãos do Estado, se opreço é fixado pelo Estado? Comesse preço fixado pelo Estado euacho que dá prejuízo, não tem sen­tido. Portanto, esse é um falso di­lema, que tem que ser muito bemdebatido, muito bem estudado.

grandes avanços na ordem social,nos direitos dos trabalhadores, naordem econômica, e ainda com re­lação ao problema das mineraçõese dos contratos de risco. Tivemosalgumas vitórias importantes. Éaquilo que chamo de o Brasil com­prometido com o futuro e não como atraso ou com o status quo. Tive­mos grandes avanços.

JC - Leonel Brizola diz queuma eleição solteira para ele é maisfácil.

Bocayuva Cunha - Isso não hádúvida. Não estou olhando parao PDT, porque, para esse partido,uma eleição em 1989, visando àvitória do Brizola, seria muitomais fácil, pois é um partido pe­queno, contém estrutura do par­tido nos municípios. Se tivéssemospensando em termos partidáriosquereríamos eleições somente noano que vem. Mas não estamospensando assim, estamos pensan­do no país. O país não agüentatanta indefinição, essa transitorie­dade, essa falta de autoridade, quenão é culpa do presidente Sarney,é culpa da situação em que ele secoloca, a ilegitimidade do seu Go­verno, por não ter sido eleito pelopovo. Só realmente um governoque tenha confiança popular, quetenha sido eleito pelo povo, poderfazer aquelas reformas pelas quaisnós trabalhistas vimos lutandodesde 1964, a chamada reformade base do presidente João Gou­lart, que hoje, mais do que nunca,é absolutamente indispensável.

Vamos tentar na Constituiçãofazer algo em prol da reformaagrária, como já fizemos algo ex­tremamente positivo em termosde reforma urbana. Essa medidaque foi aprovada de dar o direitode propriedade a quem tem a pos­se de um terreno nas regiões urba­nas de até 250m2 e não seja pro­prietário de outro imóvel em zonaurbana nem em zona rural é algosocialmente justo e humano, quer

Temos de tereleições

diretas parapresidente daRepública omais brevepossível. É

a posição deolhar o

interesse doBrasil e doseu povo

senadores e do presidente da Re­pública, da mesma forma que dogovernador de estado com a as­sembléia legislativa, do prefeitocom a câmara municipal, a demo­cracia não se consolida. O tempopolítico em que é eleito o Presi­dente da República tem de ser omesmo tempo político em que éeleito o Congresso com o qual elevai governar. E muito importanteque seja assim, mesmo num regi­me presidencialista. No regimeparlamentarista nem se fala, masno presidencialismo isso é funda­mental. Esse foi, na minha opi­nião, um grave erro que se come­teu na nova Constituição. O paíspagará por isso.

Agora, reconheço que houve

JC - Não acredita que a apro­vação dos cinco anos para os futu­ros presidentes dificulta a aprova­ção dos quatro anos para o presi­dente José Sarney?

Bocayuva Cunha - Acreditoque foi um empecilho e votamoscontra os cinco anos porque acha­mos que quatro anos com reelei­ção seria o ideal. Inclusive essareeleição seria permitida até parao presidente José Sarney; depoisde quatro anos seria candidato areeleição. Acho que as contradi­ções do grupamento que aparen­tou ser majoritário, e que foi ma­joritário nesse caso da aprovaçãodo mandato de cinco anos, queé o chamado Centrão, acabou coma ordem econômica, quer dizer,acho que as contradições entre osmembros do Centrão fazem crerque podemos ter esperanças, paranão dizer quase que uma certeza,quanto à maioria para rejeitar osubstitutivo do Centrão, que nãofala em prazo. E, rejeitando osubstitutivo do Centrão, aprovaro projeto da Comissão de Sistema­tização, que dá exatamente quatroanos nas disposições transitórias.

JC - Em um ano e quatro me.'ses, praticamente, de trabalho, quebalanço faz da Constituinte?

Bocayuva Cunha - Acho queesta Constituinte cometeu algunserros, como o de não ter aprovadoas eleições diretas imediatamenteapós a promulgação do texto cons­titucional, com a extinção dos nos­sos mandatos. No Brasil, enquan­to não houver uma sintonia entreos mandatos dos deputados, dos

-perrenêIã?

Bocayuva Cunha - Não. Oparlamentarismo seria o engododa população. Estamos ansiosospara votar para presidente da Re­pública. Pode ser que o parlamen­tarismo venha a ser um regime aser adotado no futuro, daqui a 20anos, mas no momento não esta­mos preparados para isso. Esta­mos saindo de uma transição longae precisamos de um presidente daRepública que tenha o poder defato, que não seja umengodo, quenão seja um presidente da Repú­blica falso, que vá para a praçapública, obtenha o voto de 40 ou'50 milhões de brasileiros, que éo que vai ocorrer no segundo tur­no, e depois não tenha poder al­gum para resolver aquilo que pro­meteu também em praça pública.Seria algo funesto, que felizmenteestá afastado definitivamente.

Temos de ter eleições diretaspara Presidente da República omais breve possível. Isso não é ne­nhum sentimento anti-Sarney.Não me move hostilidade algumapara com o presidente Sarney, é'uma pessoa com a qual até mante­nho boas relações pessoais. Essarealmente é a posição de olhar ointeresse do Brasil e do povo brasi­leiro.

JC - A Constituinte aprovou opresidencialismo com mandato decinco anos para os futuros presi­dentes. E com relação ao mandatodo presidente José Sarney?, Bocayuva Cunha - A posiçãodo PDT é clara e objetiva. Acha­mos, inclusive - e fomos derro­tados nisso -, que a eleição parapresidente da República deveriadar-se num prazo o mais curto pos­sível depois da promulgação danova Constituição. Não só de pre­sidente da República. Apresenteiuma emenda desde a Subcomissãodo Poder Legislativo, da qual fuipresidente, que obrigava que essaseleições se dessem também paradeputados' e senadores. Acho quea plenitude democrática no paíssó viria com a eleição de novosdeputados e senadores, quer di­zer, os nossos mandatos extinguir­se-iam com as posses dos novosdeputados e senadores, e com aposse do novo presidente da Re­pública, que deveria ser, no máxi­mo, em 90 ou 120 dias após a pro­mulgação da Constituição.

Como essa hipótese não existemais, fomos derrotados, e inclu­sive porque fixou-se o prazo domandato dos deputados e senado­res. E o do presidente, o qual de­sejamos que seja de quatro anos,essa emenda caiu, não teve maischance. Agora, temos o dever delutar por aquilo que é o mal me­nor, ou seja, a aprovação, no capí­tulo referente às disposições tran­sitórias, do mandato do presidenteSarney de quatro anos, quer dizer,que em 10 de janeiro de 1989 te­nhamos um novo presidente daRepública empossado, eleito pelovoto da maioria dos cidadãos donosso país, em dois turnos, comomanda o figurino de hoje. Acha­mos que isso é fundamental.

JC - Não caberia no nosso paíshoje o parlamentarismo como ex-

o constituinte BocayuvaCunha (PDT - RJ) resume asua posição e de seu partido:eleição para presidente da Re­pública no prazo mais curtopossível após a promulgaçãoda nova Carta. E mais: "Sórealmente um governo que te­nha sido eleito pelo povo podefazer aquelas reformas pelasquais nós trabalhistas vimoslu­tando desde 1964, a chamadareforma de base do presidenteJoão Goulart". Ele reconheceque há avanços no atual pro-

, jeto de Constituição, principal­mente na ordem social, nos di­reitos dos trabalhadores, na or­dem econômica e na área demineração e de contratos deriscos: "Tivemos algumas vitó­rias importantes. E aquilo quechamo de o Brasil comprome­tido com o futuro e não como atraso ou com o status quo" .

12 Jornal da Constituinte

Page 13: na Carta · falta de entendimento, o último projeto do relatorBernar do Cabral(PMDB-AM)não fosse acolhido. Nesse caso, a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futura Constituição

Aposentadoriasó após 55

anos na luta

ADIRPlWtlliam Prescott

Roberto Balestra: a favor de uma reformaagrária com infra-estrutura

polêmicos e que são necessáriosa cada município brasileiro, atra­vés da mudança da base, que éfundamental para as mudanças fu­turas. ,

A prova está aí, quando fizemosuma mudança de cima para baixo,através da Aliança Democrática,através da eleição de Tancredo eSarney etc., e o resultado foi o maisfunesto possível, isto é, o Brasilestá parado, está regredindo, por­que não houve a concordância dasbases, e, em se fazendo essa elei­ção, leremos uma preparação paraque, em 1990, tenhamos eleitosgovernadores identificados com asbases, com os municípios, e mais,é a oportunidade que daremos aoshomens de bem - e deve ficarclaro aqui que homens de bem nãosão aqueles que têm posses, os ri­cos, mas sim o homem bem inten­cionado, aquele que realmentetrabalha em favor da comunidade- de participar do processo polí­tico brasileiro, pois uma das maio­res razões do nosso naufrágio polí­tico, da nossa desgraça pólíficabrasileira, está exatamente na au­sência de homens de bem na polí­tica de base ou na política dos mu­nicípios. E esta. será a oportuni­dade.

JC - Como vai ficar o quadropartidário após a promulgação danova Carta?

Roberto Balestra - Acreditoque o PDC será o partido que terámais chances a médio prazo no ce­nário político brasileiro. E a provadisso é que, independente de terespaço na imprensa, independen­te de ter recursos suficientes paraque as nossas lideranças possamatuar em outros estados, traba­lhando ativamente, a exemplo deoutros partidos que contam comapoio e recursos de empresas e deempresários, temos conseguidocrescer apenas dentro da sigla, quepor ser uma sigla leve, uma siglaque, no passado, representou mui­to para o Brasil, por ser uma siglaque tem um comportamento euma presença muito grande no ce­nário internacional, definindo go­vernos, como na Alemanha, naItália e em outros países do mundoe que aqui no Brasil fundamen­talmente, graças ao trabalho in­tenso dos constituintes - cincodeputados e um senador - conse­gurmos, na proporção do nossopartido, ser o partido que maisapresentou emendas e que maisaprovou emendas dentro da Cons­tituinte. Isso levou um novo alentoàqueles brasileiros que queremum partido de centro, um partidoque defende a iniciativa privada,que não tem mácula e que, atéhoje, não teve nenhum desgasteque pudesse denegrir a sua ima­gem. Essa é a nossa posição. OPDC será, a curto prazo, um gran­de partido, haja vista que já temosgovernador de estado que fez essaopção, sem nenhum trabalho denossa parte, trazendo consigo dezdeputados e diversos prefeitos.Temos recebido adesões de prefei­tos, dos mais proeminentes, do es­tado de São Paulo, de municípiosimportantes. Vamos disputar a elei­ção em 22 estados brasileiros ­além daquilo que tínhamos necessi­dade (seriam nove estados para re­gistrar definitivamente o partido),fizemos convenção em 22 estadose já temos deputados estaduais evereadores em todos os estados bra­sileiros. Apenas por ser uma siglaleve e desvinculada de qualquergrupo que possa prejudicá-la e como trabalho - como já disse - dosconstituintes a nível de Constituin­te.

JC - É também favorável à ma­nutenção do calendário eleitoraldeste ano, com eleições para pre­feito e vereador?

Roberto Balestra - Sou favorá­vel. Acho que é uma necessidade,primeiro, porque todos os prefei­tos que estão investidos no cargoforam eleitos para seis anos, e fa­zer essa prorrogação de última ho­ra, acho que, primeiramente, seriatrair o povo e, depois, seria atri­buir uma competência a quem jáestá mais do que cansado no exer­cício da sua função e que se prepa­rou para ficar seis anos; segundo,porque há necessidade dessa mu­dança, pois houve uma Consti­tuinte, houve um debate a respeitoda Constituição brasileira e, con­seqüentemente, de toda a socie­dade em torno de pontos que são

JC - O senhor é favorável àcriação do estado do Tocantins?

Roberto Balestra - Sou a favornão apenas da criação do estado,mas de todos aqueles descontentesque provarem, através de um ple­biscito, que a maioria absoluta de­seja a divisão do estado, como éo caso de Goiás, do estado doTriângulo, e de outros territóriosque estão-se transformando emestado. Se o plebiscito demonstraressa vontade, que ela seja feita,porque através do plebiscito vai-selevar à população todas as implica­ções da divisão, as dificuldadesque o novo estado sofrerá, etc. E,se dentro de tudo isso ele aindaquiser e demonstrar, através dovoto, não vejo por que ser contra.

Entendia que devíamos ter umprocesso de divisão territorial noBrasil mais coerente, mais estuda­do, que trouxesse uma solução de­finitiva para o problema e que nãopartisse apenas da vontade isoladade alguns elementos ou de algu­mas regiões do Brasil, mas quefosse uma divisão territorial neces­sária à altura do Brasil de hoje. Éo que imagino.

to drástico. Não diria em detenni­nados segmentos mas, sobretudo,em determinados estados que nãotêm o mesmo potencial de SãoPaulo, do Rio, dos estados maisavançados. Será um problema pa­ra os estados de fronteira comoGoiás, Rondônia, Mato Grosso,Pará e outros, mas teremos quenos ajustar a isso.

JC - Qual a sua visão sobre oproblema da reforma agrária?

Roberto Balestra - Acho que areforma é exatamente a que todobrasileiro deseja. Ao contrário, àsvezes, de algumas afirmações,principalmente dos partidos de es­querda, de que alguns de nós cons­titumtes não queremos a reformaagrária. Muito pelo contrário,queremos a reforma agrária e jáa defendemos há alguns anos, masnão queremos uma reforma purae simplesmente de distribuição deterras. Queremos uma reformaagrária racional, de tal maneiraque o homem que vá lavrar a terratenha todas as condições para tal.

Não adianta levarmos, a exem­plo do que está ocorrendo agora,o assentado para a propriedade,dar-lhe apenas a terra e não lhecolocar à disposição os mecanis­mos indispensáveis para a execu­ção da sua tarefa. Quandoisso es­tá ocorrendo aqui no Brasil - esomos testemunhas de que no meuEstado, Goiás, de cada assentado,dois deixam a propriedade. Quan­do se assenta um, uma família ouduas voltam do campo para a cida­de, exatamente pela falta de con­dições para se desenvolver. Creioque já há um grande avanço, nessesentido, em tudo que já foi apro­vado até hoje. Resta agora apenaschegarmos a um entendimento fi­nal para que ela possa se viabi­lizar, atendendo a todos os seg­mentos, a todos os interessados:governo, direita, esquerda, centroe ao povo brasileiro como um to­do. E isso o que esperamos.

Onde houveraprovação por

plebiscitodeve ser

promovidaa divisão

territorialdos Estados

aposentar com dez salários, secontribuiu com 20, precisa se apo­sentar com 20. Por quê? Exata­mente porque durante toda a suaexistência ele teve um padrão devida e precisa terminar os seus diasmantendo o mesmo padrão. Esseé nosso entendimento e parece sero entendimento da maioria dosconstituintes. Se isso for aprova­do, creio que terei realizado omaior trabalho político da minhavida e me considerarei realizado,aqui na Constituinte.

JC - A propósito da questãodos aposentados, qual a sua opi­nião sobre os avanços atingidos naárea social?

Roberto Balestra - É lógicoque não conseguimos tudo aquiloque era a principal reivindicação1:le determinados segmentos da so­ciedade, mas entendo que a Cons­tituinte não será o máximo paratodos, mas será a média que pu­dermos alcançar porque, se exis­tem segmentos que querem o má­ximo -por exemplo, os trabalha­dores solicitaram uma posição de,digamos, 40horas semanais de tra­balho e aposentadoria aos trintaanos, e por aí afora. Todavia, exis­tem os empregadores que acha­ram que seria um absurdo até 44horas, porque estão querendo re­tirar do texto as 44 horas.

De qualquer maneira, acho quefoi um avanço descer de 48 para44, muito embora, particularmen­te, entenda que o texto deveriaapenas jogar para a lei a discussãoe que acho uma temeridade a jor­nada de trabalho fazer parte dotexto constitucional. Devemosdeixar para a negociação, esse se­ria o grande avanço. Mas, se jáfoi votado, tudo bem. Precisamosentender que esses avanços sociaistrarão um certo embaraço até asua implementação, até a sua ple­na colocação em prática no Brasilcomo um todo, exatamente por­que todos esses avanços vieram deuma só vez. Teremos que fazerum ajuste, talvez ele seja até mui-

o constituinte Roberto Ba­lestra (PDC - GO), comentauma gama variada de assuntosnesta entrevista ao JC. Faz, deinício, uma observação impor­tante e que passa desaperce­bida para quem habita as cida­des: o trabalhador rural, de fa­to, se aposenta em média após55 anos de serviço, pois come­ça, em média, aos dez anos,e a Lei atual só lhe concedeum provento irrisório aos 65anos. Balestra quer alterar essequadro, sendo favorável, tam­bém, a uma reforma agráriaque assegure aos novos pro­prietários os meios de cultivara terra. Com relação aos pro­blemas de sua região, é favorá­vel à criação do Estado do To­cantins, que surgiria com umdesmembramento do Norte doEstado de Goiás.

JC - Como vê a questão doaposentado no país?

Roberto Balestra - Entendoque o maior débito que a socie­dade brasileira tem é para com oaposentado, principalmente comaquele aposentado pelo Funrural,porque ele já sofre uma injustiçacom o tempo de serviço. Primeiro,porque ele inicia seu trabalho nor­malmente aos dez anos e só vaiser aposentado aos 65 anos de ida­de. Quer dizer, ele trabalha 55 pa­ra se aposentar. E uma injustiça.Enquanto que o trabalhador urba­no se aposenta aos 30,35,25, co­mo é o caso das professoras. Se­gundo, que ele é exatamente o ci­dadão brasileiro que menos apro­veita do progresso do País e quemais contribui para que ele ocor­ra.

Todas as regiões de fronteirasão desbravadas exatamente poresse pessoal, exatamente os que.não têm acesso à escola, à saúde,ao lazer, à moradia digna, que nãotem uma alimentação sadia e quenão goza do direito a um lazersadio. Esse mesmo pessoal rece­be, como aposentadoria, a metadedo saláno mínimo. Se há injustiça,essa é a maior, é a mais gritante.E é exatamente sobre isso que es­tamos tentando aprovar, na Cons­titurção, uma emenda que reduzaprimeiro o tempo de aposentado­ria para o trabalhador rural; se­gundo, que dê a ele a condiçãomínima de vida, uma condiçãodigna com uma aposentadoria àaltura. Minha proposta é de pelomenos dois salános mínimos, oque é ainda irrisório, mas que écompatível com as possibilidadesdo-Governo.

Então, se conseguirmos reduziros 65 anos para 60 já avançados;se conseguirmos um mínimo dedois salános pagos ao trabalhadorrural, já avançamos. E, para todosos trabalhadores e aposentados doBrasil, queremos uma aposenta­doria integral. Se ele contribuiucom dez salários, ele precisa se

Jornal da Constituinte 13

Page 14: na Carta · falta de entendimento, o último projeto do relatorBernar do Cabral(PMDB-AM)não fosse acolhido. Nesse caso, a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futura Constituição

Vida

Reforma

Em--0.3-de,-""mau'(LO__do 19Jil:S-

ConstituiçãoJusta

Srs. Constituintes,Que se faça uma reforma tribu­

tária que permita a aplicação demaiores recursos nos municípios,aperfeiçoando-se o sistema de ar­recadação de tributos e a orgam­zação de uma estrutura adminis­trativa marcada pelo dinamismoe pela seriedade, (... )

Prudência VerissimoNova Iguaçu - RI

Srs. Constituintes,Que a nova Constituiçâo seja

justa e não injusta, que gere maisempregos, pois em nosso país exis­tem muitas pessoas necessitandotrabalhar. Que os colégios esta­duais e municipais tenham maisrecursos didáticos e que surja umnovo método de aprendizagem ca­paz de satisfazer melhor às neces­sidades da população. (... )

Francisco da Silva OliveiraCeará-Mirim - RN

Os Sra. sabem o que e uma Colõn1a t

Através 110 presente, acabexãeaca '

Emoa.. Sra. üonat.Ltu m teae

Atenc>osam~1nI__

LUIZ I1EM],;~RAOJOFlLHO= PRESIDENTh =

Srs. Constituintes,O homem está destruindo a si

mesmo e a natureza. Será um sui­cídio inconsciente da raça huma­na? Autodestruição? Não queroidiotamente desaparecer sob umcogumelo atômico ou de qualqueroutra forma.

Gelson Luiz AnghinoniMarinho- RS

Reccrl1ecldo pe'c "" T I C. em 12-10 jQ51

CeM BASE TEfiRITCFIAL "'('5 MLN!ClpIOS DE SÃO VICENTE E GUARUJÁ

S A N TOSSede Av AlmIrante ~.'dlnhe da Gama, 183 Alto. _ Ponta da PraIa

SINDICATO DOS PESCADORES DE SANTOS

Aeeuntc

Do Pr-eaadenüe do Sandic ano dos Pescadores de Santos.

Ao Flrao; Sr. Redator do "JORNAL DA VONSTlTUlli'Th".

de sugerir que:

3.-

1.- Refil.tam melhor sobre tudo o que'

vem sendo aprovado, r-efe r-enue à quesrtao ainmcej, ..

2..- Sendo uma Const~tu~çao, que os

Sra. alegam ser Democz-a'ta.ca e Progress~s'ta. como pode haver ampc-,

ea.çoea doa Sra.. aOB pescadores proraaaaonaaav

de pe scedor-ea?

4..- Qual a sua dinãmlca aocaa'L?

5..- Vamos mostrar aos Sra. o que é '

uma Colônia de pescadores, para que náo ve aaeoa na nossa. conata-,

'tuaçac uma 1mpOSlçao que teremos que amargar por longos anos.. E'

que nao contaauemos a ter em nosso meao , pelegos e entreguJ.Blias..

6._ Chega de drapoaãçceat ! I

7.- E onde t í ca a Ilna.cadade Sl.ndl.CaL,

se for apr-ovado realmente o paragra:f'o ee Cio artJ.BQ 9º do SUDStl­

tutivo da coeueeao de SJ.stenratJ.zaçao?

No aguardo de ver pub'Lacado este'

alerta em favor dos pescadores pr-ofaasa onaa.s , apresento rmnhae '

corõaaaa aaudaçoea,

sabemos que o Oriente Médio,maior exportador de petróleo parao Brasil, pOSSUI solos inférteis, nãoproduzindo alimentos para o seuconsumo interno.

Cícero de BarrosBragança - PA

lTatal, 26 de abril de 1988.

WJ11S \ 2t--t Ih

ProdutosAgropecuários

senhores Constituintes:

Venho através da presente, para erigir dos SRa.Constituintes mais trabalho em prol da população, poislembro aos Srs. que foram eleitos pelo voto de cada pes­soa, para que sejam representantes dos !!!eus direitos, pe­

ço aos Srs. uma reflexão sobre 03 (três) assuntos:01. SAIb.:ro :M:fij'DKl - Os Srs. acham digno um homem receberesse salário quando ele trabalho duro 08 horas por dia oumais, será. que ele conseguirá. sobreviver com sua fam!lia'quando tudo que precisamos para. sobreviver-mos tem aumen­to à cada dia. t hUIhilhante receber-mos esse m.! de7.260,00 quando o' nossQ pals tem COlIDIÇClE:S de pagar um salário

mais DlaNO.02. SEGURAliÇA - Peço aos Srs. que incluem na Constitu:W­te uma. lei de Pena de morte e que não fique só na teorianos casos de: estrupo, sequestro e assassinato, acho quese a lei entrar em vo:bação ,e for aprovada isso mudará. emnosso pals, não é' justo um assassino prejudicar outirar a vida de uma. pessoa de bem, sem que esse se ja pu­

nido pela IEI.03. PP.:ES1DIO - Peço aos Srs. que incluem na ConstituinteUI:Ia lei que abrigue o detento a cumprir sua pena, traba­lhando duro 08 horas por dia, assim evitaria aglomeraçõese rebeliões nos pres!dios, assim. -os detentos não texiamtempo para pensarem em FUGIR e pega.:rem mais mIMAS e otrabalho os ajudariam a sentir um pouco de responsabili­dade e talvez mudasse a vida de AlJJUN'S na reentegt'ação 'domndo real.AtenciosalOOnte,

Srs. Constitumtes,Com a reforma econômica do

Governo federal, sena louvávelque a Constituinte analisasse as­pectos que dizem respeito à entra­da de capital estrangeiro em nossopaís, e que se tomassem medidas,tais como: Todos os valores emmoedas, com especialidade o dó­lar, não fossem negociados livre­mente, pois para tal ficariam obri­gados todos os turistas a fazerema respectiva troca de valores nosbancos credenciados pelo Gover­no federal, pois a nossa inflaçãogalopante foi fruto de dinheirosestrangeiros correndo por cima denossa fraca moeda.

Eliude Alves CostaPresidente Dutra - MA

Srs. Constitumtes,Gostaria de sugerir que fosse

questionado um programa espe­cial voltado para a política de ex­portação de produtos agropecuá­rios, pois quando o país produz,princrpalmente grãos, em quanti­dades elevadas, ocorre a superes­tocagem em armazéns sem condi­ções de receber tais produtos, eo resultado é a perda parcial des­ses produtos. Deveríamos tam­bém negociar a troca, pois bem

CapitalEstrangeiro

nado a este setor na agriculturaou outro setor produtivo, pois sen­do o Brasil eminentemente cris­tão, pregando a paz e a fraterni­dade, não poderá continuar a dizi­mar vidas com armas fabricadascom o suor e tecnologias próprias.

Luiz Antônio SilveiraIporã- GO

em que vivemos e ser livre de qual­quer interferência de seitas reli­giosas. (... ).

Dario Luiz MaselliTrês Pontas - M G

Srs. Constituintes,Gostana imensamente que se

analisasse o problema da fabrica­ção de armas para exportação, queé resultado do regime militar, gra­ças a Deus já superado. Que seprocure aplicar o dinheiro desti-

Espaços. .iguais

Fabricaçãode armas

Srs. Constituintes,Sugiro que se acabe com os de­

cretos-leis. Fim da censura em ter­mos de proibição da exibição defilmes, peças e livros, etc. Devehaver apenas a determinação deuma idade limite. Quem quiser as­sistir, quem quiser olhar, olhe.(... ) Mudança da lei de propagan­da eleitoral. Todos os partidos de­vem ter espaços iguais na televi­são, rádio e outros meios de comu­nicação; proibiçâo de campanhasnos muros e de distribuição depanfletos. Contra a privatizaçãodas empreas estatais. (... )

Marcos da Costa PereiraSão José dos Campos - SP

lrezadoss....>._--"Uree

Direitoshumanos

A Constituinte entrou em sua últimaetapa, a da votação do projeto deConstituição pelo plenário. Desdeo início a sociedade participou eopinou, por todos os meios. E ainda étempo de contribuir. Escreva a suacarta, dizendo o que você pensa e quer.

Aill))réa(A&)• 25 de ab:ru. de 1988

Novaspossibilidades

direi toa V9lllJo Pelalidade das escolas .Part~c Jlresente 80licitlU'\

e, o qUe est' Ulares elll Cob -lbes qUe e .aCesao d a OCasiOl1and (tOar a seu ' stigSlll Os

Os alUno • o Ullla critS(t'ia as escolas grSl:lde cel6Ullla o as llleusa-r..' e dit'icUlt

rem lllelho "..ero solicit ando or a s~tuaç- ar tSlllb'

COndigões Pat'a ao dos l'rodutores em a .PoSSibilidade dvooôs _ qUe estes .Pos rurais, dand e estuda-

sao rePresentSl:lt sam alimentar e o assim melhorea, Sse nosso llrasil es I

Pela JUs""" Meus seradeci~ t ' de qUeU"'~a e isual -e11 Os

dade de tod SOs consti'ttúnSem lllai Os. tes qUe lutam

s Para o ll))lllento, despegO~me

Srs. Constituintes,A próxima Constrtuição deve­

rá, entre outros temas, tratar dareforma agrária, preservando, po­rém, as terras produtivas; reformatributária de modo que a Uniãonão detenha para si os ganhos dosestados e municípios; maior auto­nomia para os estados e municí­pios; garantia dos direitos huma­nos de cada cidadão; menor inter­ferência do Estado na economiaprivada; preservação de nossos re­cursos naturais e proteção aos in­dígenas, sua cultura e suas pro­priedades, sem paternalismo .porparte do Estado. (... )

Antônio Carlos Santos CardosoFortaleza - CE

Srs. Constituintes,Que a nova Constituição possi­

bilite a atualização do Código Pe­nal, garantindo a maioridade aos14 anos. Pena de morte para osassassinos reincidentes em qual­quer tipo de crime. Trabalho for­çado para os criminosos primá­rios. Patrulhamento constante pe­la FAB das rotas de contrabando,onde se esvaem o nosso ouro epedras preciosas. (... ) Acho quea nova Constituição deve refletira verdade científica do momento

14 Jornal da Constituinte

Page 15: na Carta · falta de entendimento, o último projeto do relatorBernar do Cabral(PMDB-AM)não fosse acolhido. Nesse caso, a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futura Constituição

AIDS, uma questão política

Acima um esquema do HIV, o vírus fatal da AIDS. Ele já infectou la milhões de pessoas em todo o mundo

Lair: 500 mil infectados

PESTE MODERNA,MENTALIDADE ANTIGA

dos pelo Estado, aliás não somen­te nesta.área específica, mas emtodas as demais áreas essenciais,como o direito ao trabalho, à habi­tação e à educação, sem o que oproblema de saúde continuarácrônico. A iniciativa privada, na­turalmentespode, do ponto de vis­ta de parte expressiva da comuni­dade médica e científica, atuarsubsidiariamente, mas o que se co­bra, inclusive, agora, a partir dotratamento da questão da AIDS,é a responsabilidade do Estado pe­la saúde dos cidadãos, sendo ne­cessário notar, aí, que todos osempregados são compulsoriamen­te contribuintes da PrevidênciaSocial.

O debate sobre a AIDS promo­vido na semana passada no âmbitoda Assembléia Nacional Consti­tuinte serviu, também, para intro­duzir discussões sobre um outrotema: o conflito entre os conceitosde novo e antigo, xenofobia, na­cionalismo e entreguismo. AAIDS é uma peste moderna, osvírus que a transmitem têm, se­gundo os cientistas, uma estruturaaltamente complexa. Trata-se,pois, de um desafio mundial. Emum país subdesenvolvido como oBrasil, doença desse tipo deve ser­vir de alerta no sentido da buscada modernidade, sem perda daconsciência de nossa posição nomundo. Em outras palavras:AIDS é o tipo de assunto em quenão cabe xenofobia, ou seja, qual­quer descoberta científica estran­geira será bem aceita aqui. Issonão significa, entretanto, que oskits-diagnóstico e o AZT (medica­mento disponível para minorar osofrimento dos doentes) devemser adquiridos a custos elevadospor países pobres do TerceiroMundo,. Assim, temos que enfrentar apeste moderna com uma menta­lidade aberta ao progresso técni­co-científico, à colaboração inter­nacional, quando possível, massem perder de vista que precisa­mos reduzir cada vez mais a nossadependência em setores estratégi­cos, entre os quais, naturalmente,o de saúde. Cabe aqui, por óbvio,uma referência ao fato de termosnossa indústria farmacêutica qua­se que absolutamente dominadapor multinacionais. A vastíssimamaioria dos fármacos utilizadossão importados, a população servede cobaia para medicamentos no­vos e não testados e as multina­cionais praticam preços elevadose diferenciados para um mesmoproduto. O quadro da indústriafarmacêutica é, igualmente, refle­xo do não investimento em pes­quisa básica na época oportuna.Quando se pretendeu, na semanapassada, imprimir uma dimensãopolítica à condução do problemada AIDS, estava-se, também, ten­tando alertar para que o fato daquestão nacional passar, evidente­mente, pela saúde de seu povo.Um país sem autonomia para asse­gurar a saúde de sua populaçãoestará, no limiar do século XXI,fadado a assassinar seu próprio fu­turo.

Ronaldo Paixão

A QUESTÃO NÃO ÉEXPULSAR O ESTADO

parte do Estado. No caso daAIDS, a novidade estaria justa­mente no que já foi expresso an­tes: teríamos, com o triste adventodesta doença, uma excelenteoportunidade de fazer um esforçoem direção ao conhecimento, sejaparticipando das pesquisas visan­do à obtenção de uma vacina, seja,pelo menos, tentando vencer bar­reiras científicas e tecnológicasque impedem, hoje, que a molés­tía possa ser diagnosticada com se­gurança absoluta.

O crescente número de grevesrealizadas no setor de saúde, emBrasília e no país de um modo ge­ral, as denúncias dos cientistasquanto à falta de apoio à pesquisae outros fatores críticos visíveis,poderiam conduzir o debate, in­clusive o constituinte, a acreditarna incapacidade estatal para gerira questão da saúde no Brasil. Pelocontrário: a AIDS e muitas outrasgrandes endemias constituem-seem provas irrefutáveis de que asaúde pública deve ser responsa­bilidade do Estado, tendo em vistaque a rede privada não está capaci­tada para atender a esse tipo dedemanda.

O que se deve reivindicar na co­munidade científica e na maiorparte da comunidade médica é aadequação de saúde à necessidadee à melhoria dos serviços presta-

r:=

"r:;~::'~_~J___ '..-Teixeira. Estado é responsável

anos após a infecção. Continuan­do um raciocínio prospectivo, te­ríamos que, em 1995, haveria de350 a 1.400 pacientes no estágioIV (terminal), somente no Distri­to Federal. A professora LairGuerra de Macedo, em sua confe­rência no debate "AIDS tambémé uma questão política", alertoupara o fato de que muitos casosnão são notificados, o que leva asupor incidência ainda maior. Pa­ra um quadro como esse, hoje,Brasília dispõe formalmente deapenas CJ.uatro leitos para pacien­tes aidéticos, faltam medicamen­tos, falta apoio laboratorial parao diagnóstico das infecções opor­tunistas que acometem os aidéti­cos (tuberculose, pneumonia,etc.) e há carência quase absolutade assistência psicológica a pes­soas que são levadas, subitamen­te, à fronteira da morte.

Esse painel, pintado com rela­ção à AIDS, se torna mais dramá­tico por estarmos falando de umamoléstia fatal, que afeta o sistemaimune dos indivíduos, ensejando,inclusive, que ele seja acometidode inúmeras outras doenças, deenorme gravidade, entre elas ocâncer. Contudo, se operamos,com AIDS, num universo provi­sório de 158 indivíduos, hoje, na­turalmente que outras moléstias,de incidência quase crônica, amaior parte delas derivadas de ca­rências sociais (como falta de ali­mentação, saúde, higiene), rece­bem, proporcionalmente, um tra­tamento igualmente incipiente por

Quando a Constituinte, noCapítulo da Ordem Social, co­meçar a debater a questão dasaúde pública no Brasil e dosistema mais adequado parapromovê-la (se estatal e unifi­cado, ou se aberto à iniciativaprivada), algumas questões fa­talmente surgirão como priori­tárias. Entre elas, deveria ga­nhar destaque, por exemplo, oproblema da pesquisa básica,muito pouco incentivada nopaís, com enorme prejuízo, se­ja pela evasão de divisas, sejapela incipiência da qualidadedos serviços ofertados por umsistema que opera sob tutelado exterior e com baixa tecno­~~a. '

DOENÇA NOVA,VELHOS PROBLEMAS

Na semana passada, a Associa.ção dos Pesquisadores Científicosdo Distrito Federal- APqC-DF,promoveu, no auditório NereuRamos, da Câmara dos Deputa­dos, um debate sob o enfoque"AIDS também é uma questãopolítica". Tal discussão teve porobjetivo promover uma troca deidéias sobre a .questãc da AIDS nopaís e situar, para o público emgeral, e para os constituintes, asresponsabilidades de cada um e doEstado na condução de uma ques­tão de saúde que cresce a cadadia em importancia. AIDS é umcaso típico em que, além dos terrí­veis danos provocados pela doen­ça em si, se revela com clarezaa dependência nacional: de acordocom o professor Antonio Teixeira,presidente da APqC-DF, a pes­quisa básica somente é realizadano Instituto Osvaldo Cruz e a qua­se totalidade dos kits-diagnósticopara teste de AIDS são importa­dos. Para se ter uma idéia da ne­cessidade desses kits basta dizerque, segundo estimativas da pro­fessora Lair Guerra de Macedo,diretora da divisão das-moléstiassexualmente transmissíveis do Mi­nistério da Saúde, já teríamos, noBrasil, algo em torno de 500 milpessoas infectadas pelo vírus daAIDS. (Em todo o mundo seriam,já, dez milhões.)

Pode-se dizer da AIDS que éuma doença de descoberta recen­te, pois foi descrita pela primeiravez em 1981, embora tivesse, co­meçado na década de 50, na Afri­ca Central. .o fato de tratar-se deuma moléstia "nova" serve paraque se avalie com mais precisãocomo o Estado tem capacidadepara conduzir o problema, de vezque os dados sobre número de in­cidências, atendimentos, etc., ain­da não estão excessivamente espa­lhados, ao ponto de se tornaremcompletamente inacessíveis. Nes­te sentido, Brasília é um exemplointeressante: já existem, aqui, 158pacientes oficialmente diagnosti­cados, dos quais 38 no estágio ter­minal (IV). As estimativas oficiaisautorizadas pela OrganizaçãoMundial de Saúde permitem su­por que, a esse número de aidé­ticos j~ diagnosticados correspon­da, de fato, uma população de 875a 3.500 pessoas infectadas, pois adoença se manifesta em até sete

Jornal da Constituinte 1S

Page 16: na Carta · falta de entendimento, o último projeto do relatorBernar do Cabral(PMDB-AM)não fosse acolhido. Nesse caso, a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futura Constituição

ADIRPlW,lliam Prescott

Escolas públicase universidadesdizem o que queremÀ medida em que se aproxima o momento da votação, pelaAssembléia Nacional Constituinte, do capítuloda Educação, cresce a pressão das entidades einstituições ligadas ao ensino, em defesa das propostasque melhor atendam aos objetivos de um ensino maiseficiente democrático, em todos os níveis.No decorrer da semana que passou, a ANC foi palco dedois atos da montagem dessa luta em favor do ensino. Umdeles foi quando o secretário de Educação da cidade doRio de Janeiro, Moacyr de Goes, entregou ao presidenteda ANC, Ulysses Guimarães, um memorial com 143.653assinaturas de alunos, professores, pais, funcionários,educadores e lideranças comunitárias e sindicais, emdefesa da escola pública. a documento afirma que aescola pública é direito da população e dever doestado, e constitui instrumento importante naconstrução de uma sociedade melhor. Por isso, ossignatários do memorial pedem à Constituinte que, nestemomento decisivo, posicione-se claramente, priorizando oensino público gratuito e democrático, destinando a eleverbas públicas geradas pelas diversas contribuiçõesda sociedade. a outro ato em defesa do ensino, já agoraao nível superior, foi a iniciativa da Universidade Federaldo Rio de Janeiro (UFRJ) de montar, no recinto da ANC,uma exposição sobre o trabalho editorial por eladesenvolvido. Essa mostra tem, ainda, a finalidade deprotestar contra o congelamento da URP e uma sériede outras medidas adotadas pelo governo, no pacote fiscal,e que atingem diretamente a vida das universidades.Paralelamente à exposição, foi distribuído um manifestono qual reitores de seis universidades federais conclamamseus colegas, professores e alunos a se dirigirem à ANCe ao Congresso Nacional em luta por seus interesses. DoCongresso, os reitores querem a rejeição do pacote quecongelou a URP e adotou decisões que, para eles, colocamem risco os recursos para suas instituições. Segundo dizem,estas medidas cerceiam a autonomia e reduzem a qualidadedo ensino nas universidades públicas, diminuindo os saláriose desarranjando todo o processo de apoio às pesquisas.Da Assembléia Nacional Constituinte, os reitores cobrama rejeição de propostas que abrem o canal da destinaçãode recursos públicos às universidades privadas. Paraeles, é necessário que a ANC adote as emendas quepodem resultar numa educação avançada, numauniversidade autônoma e também na ampliação, nagratuidade e na democratização do ensino superior.

enfrentado até agora. Uma das estratégias da lutados defensores da reforma foi a colocação de carta­zes e painéis, como o da foto, mostrando, comimagens, porque consideram fundamental essa re­forma.

ÊUM B~STA h:

V'OLÊ~!C1A

ORM~\

DESEt1PREGO

Os batalhadores da reforma agrária não perderamtempo e ocuparam grandes espaços do edifício doCongresso Nacional, na tentativa de sensibilizar osconstituintes para suas reivindicações, no momentoem que se desenvolviam intensas negociações embusca de um acordo sobre o tema mais polêmico

ADIRP/Revnaldo Sravale

I

} f hJ ~ .' t ~ ,t~~: ~

A posição de quem constróiAcompanhados do constituinte Luís Roberto Ponte (PMDB - RS),os presidentes dos Conselhos Federal e Regional - DF de Engenharia,Arquitetura e Agronomia, Albano Wolkmer e Antônio Otaviano,foram recebidos pelo presidente da ANC, Ulysses Guimarães, aquem entregaram um documento em defesa da tecnologia nacional,do monopólio estatal do Petróleo da tecnologia de ponta, daempresa nacional, das estatais que atuam em setores básicose dos investimentos em ciência e tecnologia. a documentoque também defende eleições presidenciais diretas em 88foi produzido ao final de um encontro de arquitetos,engenheiros e agrônomos, realizado em Brasília.

ADIRPIBened.ta Passos

Jornal da Constituinte