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Órgão Oficial de Divulgação da Assembléia Nacional Constituinte
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No painel, o resultado da votação que provocoudebates, encheu o plenário e sacudiu o pais.
A intensa negociaçãoentre os partidos, comconsultasseguidasaos, .
representantes dosempresãríos e dos
trabalhadores rurais,afastou a ameaça deocorrer buraco negromas não eliminou a
tensão em torno dessadecisão. O líder do
PMDB, Mário Covas (àesquerda), pediu apoio
de sua bancada àproposta conciliatóriado deputado Bernardo
Cabral, enquanto olíder do PFL, José
Lourenço (à direita),orientou seus liderados
para a votação dodestaque que acabouexcluindo as terras
produtivas darelação de propriedades
sujeitas àdesapropriação.
No plenário cheio, osconstituintesse
acotovelavam junto aosmicrofones de aparte.A reforma agrária foia maior polêmicadas
votações até agorarealizadas na ANC.
I!
'1
Volume387
Brasília, 16 a 22 de maio de 1988 - N° 47
Reforma/ .
agranana Carta
A Constituinte passa, a partir dessa semana, a votaro último capítulo das disposições permanentes, que tratada Ordem Social. Na semana passada, após intensas negociações, que envolveram todos os partidos e liderançaspolíticas, votou-se o texto que define os parâmetros dareforma agrária no país. Os membros do Centrão aceitaramque a propriedade da terra fique subordinada a sua funçãosocial, mas se aprovou destaque segundo o qual as propriedades produtivas não poderão ser objeto de desapropriação.
Com esse acordo, evitou-se que surgisse o primeiro"buraco negro" na nova Carta. Isso aconteceria se, porfalta de entendimento, o último projeto do relator Bernardo Cabral (PMDB -AM) não fosse acolhido. Nesse caso,a matéria, simplesmente, deixaria de constar da futuraConstituição. . .
Durante toda a semana, os partidários desta ou daquela concepção de reforma agrária exerceram forte - e legítima - pressão sobre os constituintes, movimentando permanentemente as galerias e corredores do Congresso. Coma votação de terça-feira passada, as principais normas queregerão qualquer programa de reforma agrária passarãoa ser definidas na lei complementar. Será ela, por exemplo;que conceituará o que seja propriedade produtiva ou quando - e em que condições - o governo poderá decretara imissão imediata da posse. (páginas 3,4 e 5)
",\"lliP'
Os grupos ele pressão acompanharampasso a passo avotação. Representantes da União Democrática Ruralista(acima) e da Confederação Nacionaldos Trabalhadores naAgricultura (abaixo), que há 15 dias vinham participandodas negociações entre os líderes partidários, ocuparam asgalerias e corredores, aplaudiram os discursos favoráveis e
vaiaram os adversários, num misto de festa e de guerra.
I
Rumos partidários
Como conseqüência das definiçõesda Assembléia Nacional Constituinte,ampliam-se as manifestações de desentendimento no meio partidário brasileiro, inclusive com propostas de adiamento das convenções, com a sugestãode somente realizá-las após a promulgação da futura Carta.
Não se pode esquecer, neste momento em que o assunto vem à tona, a enorme contribuição dos partidos em favorda redemocratização brasileira. Foi emfunção dessa postura de resistência, especialmente do PMDB, que a naçãopôde reconquistar a plenitude do estado de direito, de que decorre, inclusive,o atual quadro pluripartidário.
Se existem desentendimentos no âmbito interno dos partidos, isso se devemuito mais a aspectos conjunturais, jáque, como se sabe, o objetivo comume a busca do aperfeiçoamento políticodo país. Em breve, estaremos com umanova Constituição em vigor, e, a partirdaí, será necessário dar resposta adequada aos grandes desafios nacionais,sobretudo da parte do Poder Legislativo, investido de suas prerrogativas emfunção do que foi inscrito no texto quea Constituinte está ultimando.
Entendo, pelo menos a nível dePMDB, que a solução para a unidadepartidária passará pela atualização doseu programa, mas essa é uma tarefaque deve ser deixada para o períodoposterior à promulgação da Constituição.
A instabilidade ainda encontrada nomeio partidário decorre sem dúvida docaminho artificial imposto pelos governos autoritários para a criação das agremiações. Mas, a despeito disso, ali vicejaram idéias comuns, graças às quaisse tornou possível a restauração do estado de direito.
Estou também convencido de que,com as eleições de novembro próximo,para prefeitos e vereadores; surgirá aresposta popular quanto à sobrevivência das atuais agremiações partidárias.O pleito de novembro, dentro dessa angulação, será um fator extremamenteválido para a consolidação do quadropartidãrio brasileiro, devendo aindafuncionar como uma espécie de vestibular para lançar com autencidade aslegendas que deverão exercer a açãocongressual e, em seguida, nas futuraseleições gerais, cristalizar o verdadeiroe representativo cenário político dopaís.
Constituinte Humberto LucenaPresidente do Congresso Nacional
Reforma Agrária
o povo brasileiro foi violentamentegolpeado com a derrota que sofreu, aover rejeitado o dispositivo que permitiaa desapropriação de terras produtivasque não estivessem cumprindo sua função social.
O famigerado Centrão, com o apoioda UDR, conseguiu parar o coração daAssembléia Nacional Constituinte, poisa reforma agrária constitui-se na maisimportante bandeira de luta. E nela queo povo vê a única saída para a crise generalizada que enfrenta o país, bem comoa forma de pacificar a nação, que vivehoje em permanente estado de guerracivil.
Como explicar que constituintes eleitos pelo voto popular, para defender osinteresses da maioria da população brasileira, tenham favorecido latifundiáriose grileiros? Não vemos outra justificativaa não ser a alta traição aos ideais demo
cráticos e de justiça social da nossa população.
O chamado Centrão enlameou a Casado Povo, e envergonhou o Brasil peranteas nações mais progressistas do mundo.
Mas ninguém perde por esperar. Opovo saberá responder à altura aos traidores da pátria. Queiram ou não os reacionários encastelados no poder, ou oslobos travestidos de cordeiros, o país caminha para uma nova ordem social. Esó uma questão de tempo.
O eleitor brasileiro saberá, no momento oportuno, distinguir os políticoscompromissados com a paz social, enterrando para sempre os entreguistas, compromissados com o capital internacional,com as multinacionais e com os latifundiários, que nada produzem, a não serórfãos e viúvas, no meio rural.
A guerra a que nos referimos está clara e patente, não só no número de mortos, mas pelo volume bélico concentradonos campos de batalha.
Hoje, com a UDR, estão articuladastodas as forças de direita. E não é paramenos que um dos peixes graúdos dafamigerada entidade declarou recentemente em alto e bom tom que "hojejá podemos confessar. Temos mais oumenos 70 mil armas, representando acabeça de cada homem da UDR".
Como vemos, a guerra está em plenoandamento.
É lamentável que, pelo menos por enquanto, tenhamos perdido uma das batalhas mais importantes: a batalha dentroda própria Casa do Povo. Mas queremosdeixar claro que a derrota se deu nãopor ser esta parcela de traidores representativa da população de nosso país.Mas sim porque a maioria deles são políticos de duas caras: fizeram uma pregação em praça pública e hoje relegam opaís à sua própria insignificância.
Raquel CapiberibePSB-AP
Mais-pressoes
Após dias e dias de difíceis negociações, a Constituinte votou,sob intensa pressão de múltiplosinteresses, a ordem econômica.Superou até o "buraco negro"no capítulo da reforma agrária,tema em que as duas faces doproblema - o econômico e o social-se cruzam e tocam no maissagrado instituto do sistema capitahsta, que é o direito de propriedade.
Além das pressões da sociedade, que são necessárias e legítimas, a ANC cumpre sua missãoem momento em que o país viveséria, extensa e profunda crise.A conjuntura reflete-se no desempenho de uma assembléiaque é representativa do Brasilreal e que deve fazer um textopara o Brasil real, que sonha eque sofre. O caráter democráticoda Constituinte explica não sóas dificuldades ocorridas ao longo do processo de votação comoa feição ora analítica, ora sintética, do texto. Na verdade, nunca uma Constituinte brasileirafoi tão aberta e tão sensível àparticipação da sociedade. Porisso, até nas possíveis falhas, aCarta será o espelho da realidadenacional.
Ao documentar mais esta fasedos trabalhos, o JC analisa o quesignificará para os brasileiros osistema tributário aprovado edestaca as comemorações docentenário da abolição da escravatura.
A partir desta semana, aConstituinte começa a votar o título da ordem social, quando tomará posições importantes sobresaúde, previdência e assistênciasocial, educação, ciência e tecnologia, comunicação, meio ambiente, família, criança, idoso eíndios.
Na ordem social, mais pressões vêm aí.
Daniel MachadoCoordenador do JC
Avanço socialA reforma agrária constitui fundamen
talmente uma forma de intervenção do Estado na propriedade privada e, por extensão, no domínio econômico, assim comoa redistribuição da propriedade territorialrural, pela modificação na posse e no usoda terra. Quando o estado discrimina assuas terras devolutas, está, na verdade, procedendo a uma modificação na posse daqueles bens. Da mesma maneira, quandoadquire imóveis rurais através do Proterra,Funterra, instituído pelo Decreto-Lei n°1.179171, para posterior redistribuição, estáreformando a estrutura fundiária.
Posto isso, chamo a atenção para a necessidade de deixar esclarecido que, em termosjurídicos, a reforma agrária é uma realidadebem mais abrangente do que as desapropriações por interesse social - embora sejam estas a forma mais comumente utilizada. Isso se deve ao fato de que a reformaagrária se utiliza de todos os aparatos legaispara proceder à redistribuição de terras.Um programa de reformas deve partir deinstitutos jurídicos bem definidos.
A reforma agrária deve, por sua funçãonatural, amparar a propriedade da terra àluz dos interesses da economia rural, observando também se a função social está sendocumprida, já que ela busca atingir objetivoscomplementares aos da reforma agrária.São dois institutos jurídicos que se completam, sem, contudo, confundirem-se entresi.
Como principais objetivos da reformaagrária apontamos o atendimento aos princípios da justiça social e a promoção doaumento de produtividade, que devem estar a serviço do bem-estar coletivo, afastando toda e qualquer possibilidade de taispropósitos serem negligenciados, já que areforma agrária tem amplo sentido sociale deve fazer parte da vida de todo o país,sem restringir-se ao meio rural.
Apenas dividir imóveis rurais, independentemente de suas características, sena irreal, pelo menos no atual estágio. Na verdade, o Estado, ao assegurar o direito e agarantia individual à propriedade privada,inclusive com destaque na futura Carta política, cerca a reforma agrária de uma compreensível ngidez em termos jurídicos,apontando expressamente a sua definiçãoe os casos em que pode ocorrer, além defixar claramente os seus objetivos.
O aspecto que, bem definido, dará sustento e garantirã o sucesso das medidas reformatórias é a destinação econômica. Essaexploração deve harmonizar-se com as modernas conquistas tecnológicas e com os primados econômicos. E imperativo que se extraiam da terra as riquezas que possa oferecer, mas sem, contudo, exauri-la. Há quese abolir o empirismo e os costumes antieconômicos e anti-sociais. Os trabalhos daConstituinte estão de parabéns, na medidaem que viabilizaram a inclusão, nas disposições transitórias constitucionais, do instituto da reforma agrária. Sem dúvida, foium grande avanço social.
Constituinte Nilson GibsonPMDB-PE
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Jornal da Constituinte - Veículo semanal editado sob aresponsabilidade da Mesa Diretora da Assembléia NacionalConstituinte.MESA DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE
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Redação: CÂMARA DOS DEPUTADOS - ADIRP- 70160 - Brasília- DF - Fone:224-1569- Distribuição gratuita
CARTA::: ACOM"PANHE OTEXTO NA NO CARTA::: ACOMPANHE OTEXTO NA NOVA CAR
Reforma não atinge quem produzEmoção, tensão e muita negociação marcaram
a votação do capítulo da Reforma Agrária. Mas foio voto - apertado, mas suficiente - que decidiua matéria mais política e mais conflitada de toda aConstituinte.
A proteção à propriedade produtiva - seja dotamanho que for - foi garantida por uma votaçãoem separado do texto apresentado pelo relator Bernardo Cabral. De acordo com o Regimento, o textoaprovado no capítulo inteiro teria de receber nova-
mente 280 votos para permanecer no texto da "novaConstituição. Recebeu apenas 267, enquanto 253constituintes votaram "não" e 11 se abstiveram.
Desta forma, uma propriedade, mesmo que nãocumpra os requisitos constitucionais, como a exploração racional e adequada, a proteção ao meio ambiente, a observação da legislação trabalhista e o favorecimento do bem-estar de trabalhadores e proprietários, estará livre da possibilidade de desapropriação, desde que seja caracterizada como produtiva.
De acordo com o texto apresentado pelo rêlator,a propriedade, mesmo produtiva, teria de atenderaos pré-requisitos para o cumprimento da função social. Caso um deles não estivesse sendo atendido,a lei determinaria um prazo para que o proprietáriopudesse cumpri-lo.
Com a falta de 13 votos para a confirmação dotexto do relator, a propriedade produtiva fica livreda possibilidade de desapropriação para fins de reforma agrária.
Título VII - Da Ordem Econômicae Financetra (continuação)
CAPÍTuLom
DA POLÍTICAAGRÍCOLA E FUNDL,\.RIA
E DA REFORMA AGRARIA
Essa votação aprovou o texto detodo o capítulo, nos termos do trabalho elaborado pelo relator Bernardo Cabral (PMDB - AM),após a rejeição, por falta de quôrum, das redações oferecidas pelaemenda coletiva do Centrão e pelaComissão de Sistematização, o queocasionou o "buraco negro".
Art. 218 - Compete à Uniãodesapropriar por interesse social,para fins de reforma agrária, oimóvel rural que não esteja cumprindo a sua função social, mediante prévia e justa indenizaçãoem títulos da dívida agrária, comcláusula de preservação do valorreal, resgatáveis no prazo de até20 anos, a partir do segundo anode sua emissão, e cuja utilizaçãoserá definida em lei.
§ 1°- As benfeitorias úteis enecessárias serão indenizadas emdinheiro.
§ 2°- O decreto que declararo imóvel como, de interesse social.para fins da reforma agrária, autoriza a União a propor a ação dedesapropriação.
§ 3°- Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial dedesapropriação.
§ Ll-0 - O Orçamento fixaráanualmente o volume total de títulos da dívida agrária, assim comoo montante de recursos para atender ao programa de reforma agrária, no exetcício.
§ 5°- São isentas de impostosfederais, estaduais e municipais asoperações de transferência deimóveis desapropriados para finsde reforma agrária.
Art. 219 - São insusceptíveisde desapropriação para fins de reforma agrária:
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei,desde que o seu proprietário nãopossua outra:
II - a propriedade produtiva.Parágrafo único - A lei garantirá
tratamento especial à propriedadeprodutiva fixará normas para ocumprimento dos requisitos relativos à sua função social.
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Votaram:Sim:NãoAbstenção:
(Continua na próxima edtção.}
Esse resultado indica a aprovação pelo plenário de fusão deemendas dos constituintes Brandão Monteiro (PDT - RI), Osvaldo Almeida (PL - RI), SimãoSessim (PFL - RI), Aloísio Vasconcelos (PMDB - MG) e PauloMacarini (PMDB - SC). O resultado da fusão permitiu suprimiruma letra do inciso III e que fossedada uma nova redação para osincisos Ve VIII.
TAXAS DE JUROS
Votaram:Sim:Não:Abstenção:
Essa votação determinou a decisão da Constituinte de incluir notexto da Constituição um.novo inciso, de acordo com os termos deemenda de autoria do constituinteFernando Gasparian (PMDB SP), criando, assim, o preceitoconstitucional de limitar a conbrança de juros.
§ 1° A autorização a que sereferem os incisos I e 11será inegociável e intransferível, permitidaa transmissão do controle da pessoa jurídica titular, e concedidasem ônus, na forma da lei do sistema financeiro nacional, a pessoajurídica cujos dirigentes tenhamcapacidade técnica e reputação ilibada e que comprove capacidadeeconômica compatível com o empreendimento.
§ 2° Os recursos financeirosrelativos a programas e projetosde caráter regional, de responsabilidade da União, serão depositados em suas instituições re~io
nais de crédito e por elas aplicados.
Os dois últimos parágrafos foram aprovados nos termos daemenda do Centrão, sem qualquermodificação.
IX - as taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer outras remunerações diretaou indiretamente referidas à concessão de crédito, não poderão sersuperiores a 12% ao ano. A cobrança acima desse limite seráconceituada como crime de usura,punida, em todas as suas modalidades, nos termos em que a leideterminar.
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Votaram:Sim:Não:Abstenção:
gulado em lei complementar quedisporá, inclusive, sobre:
I - a autorização para o funcionamento das instituições financeiras, assegurado às instituiçõesbancárias oficiais e privadas acesso a todos os instrumentos do mercado financeiro, sendo vedada aessas instituições a participaçãoem atividades não previstas nestaautorização;
CAPITAL ESTRANGEIRO
Nessa votação foi aprovada fusão de emendas de autoria dosconstituintes José Carlos Coutinho(PFL - RJ), Milton Lima(PMDB- MG) eAloisio Vasconcelos (PMDB - MG) que aditouo trecho final à redação do incisoI, o qual vedou às instituições bancárias participarem de atividadesnão previstas na Constituição.
II - a autorização e funcionamento dos estabelecimentos de seguro, previdência e capitalização,bem como dos órgãos oficais e resseguradores;
IH - as condições para a parti~ip~çã~ ?o capital estrangeiro nasinstítuíções a que se referem osincisos anteriores, tendo em vista,especialmente:
a) os interesses nacionaisb) os acordos internacionaisIV - a organização, o funcio-
namento e as atribuições do BancoCentral do Brasil e demais instituições financeiras públicas e privadas;
V - os requisitos para a designação de membros da diretoria doBanco Central do Brasil e demaisinstituições financeiras, bem comoseus impedimentos após o exercício do cargo;
VI - a criação de fundo ou seguro, com o objetivo de protegera economia popular, garantindocréditos, aplicações e depósitosaté determinado valor, vedada aparticipação de recursos daUnião;
VII - os critérios restritivos dátransferência de J?oupança de regiões com renda inferior à médianacional para outras- de maior desenvolvimento;
VIII - o funcionamento dascooperativas de crédito e os requisitos para que possam dispor decondições de operacionalidade eestruturação próprias das instituições financeiras;
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CAPÍTULO IVDO SISTEMA
FINANCEIRO NACIONAL
de reforma agrária.§ 1°- A alienação ou conces
são, a qualquer título, de terraspúblicas com área supenor a 2.500hectares a uma _só pessoa física
ou jurídica, ainda que por interposta pessoa, dependerá de préviaaprovação do Congresso Nacional.
§ 2°- Excetuam-se do disposto no parágrafo anterior as alienações ou concessões de terras públicas para fins de reforma agrária.
Art. 223- Os beneficiários dadistribuição de imóveis rurais pelareforma agrária receberão títulosde domínio ou de concessão deuso, inegociáveis pelo prazo dedez anos.
Parágrafo único - O título dedomínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil, nos termose condições previstos em lei.
Art. 224 - A lei regulará e limitará a aquisição ou arrendamento de propriedade rural porpessoas físrcas ou jurídicas estrangeiras e fixará os casos que dependerão de autorização do Congresso Nacional.
Art. 225 - O trabalhador outrabalhadora não proprietário deimóvel rural ou urbano, que possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área deterra não superior a 50 hectares,tornando-a produtiva por seu trabalho, ou de sua família, tendonela sua moradia, adquirir-Ihe-ã apropriedade.
O restante do texto não mereceureparos da parte do Plenário, prevalecendo a redação proposta pelorelator.
Com essa votação, o Plenárioda Constituinte acatou o texto baseda emenda coletiva do Centrão para todo o Capítulo IV, ressalvadosos destaques.
Sim:Não:Abstenção:
Votaram:
ESTRUTURAÇÃO.
Art. 225 - O sistema financeiro nacional, estruturado de formaa promover o desenvolvimentoequilibrado do país e a servir aosinteresses da coletividade, será re-
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Votaram:Sim:Não:Abstenção:
'Com essavotação ficou definidaa retirada do texto do relator determos que abriam uma exceçãopara a desapropriação da propriedade produtiva. A expressão "cujainobservância permitirá a sua desapropriação, nos termos do art.218", contante do final do parágrafo recebeu pedido para ser votada em separado, segundo requerimento assinado por 199 constituintes - regimentalmente são necessários pelo menos 187 assinaturas.Para que a expressão fosse mantida, eram precisos 280 votos favoráveis.
Art. 220 - A função social écumprida quando a propriedaderural atende, simultaneamente,segundo critérios e graus de exigências estabelecidos em lei, os seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional eadequado;
11 - utilização adequada dosrecursos naturais disponíveis epreservação do meio ambiente;
111 - observância das disposições que regulam as relações detrabalho;
IV - exploração que favoreçao bem-estar dos proprietários edos trabalhadores.
Art. 221 - A política agrícolaserá planejada e executada na forma da lei, com a participação efetiva dos setores de produção, envolvendo produtores e trabalhadores' rurais, de comercialização,de armazenamento e de transportes, levando em conta, especialmente:
I - instrumentos creditícios efiscais;
11- preços compatíveis com oscustos de produção e garantia decomercialização;
III - incentivo .à pesquisa e àtecnologia;
IV - assistência técnica e ex-tensão rural;
V - seguro agrícola;VI - cooperativismo;VII - eletrificação rural e irri
gação;VIII - habitação para o traba
lhador rural.§ 1°- Incluem-se no planeja
mento agrícola previsto neste artigo as atividades agroindustriais,agrol?ecuárias, pesqueiras e florestaís,
§ 2°- Serão compatibilizadasas ações de política agrícola e dereforma agrária.
Art. 222 -A destinação deterras públicas e devolutas serácompatibilizada com a políticaagrícola e com o plano nacional
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Votaram:Sim:Não:Abstenção:
Jornal da Constituinte 3
Reforma agrária agita o debate
Os êonstituintes compareceram em massa para votar o polêmico tema da reforma agrária
discutiu-se ainda, residualmente, em torno,do que foi aprovado, tido como vitória parauns e mal digerido por outros. Mas foi dentrodo ponto fundamental - se a propriedadeprodutiva estaria sujeita ou não à desapropriação - que a polêmica mais se acentuou.Fernando Santana (PCB - BA) e AmauryMüller (PDT - RS), por exemplo, alinhavaram argumentação em favor do cumprimento da função social das terras produtivas,apelando até para o bom senso de seus pares,para que se pudesse abrir um caminho para
das idéias antagônicas a propriedade produtiva, que, por SI só,cumpre e deve cumprir a funçãosocial" .
INTRANSIGÊNCIAJá o constituinte Aldo Arantes
(PC do B - GO) denunciou a "intransigência" dos latifundiános eda entidade que os representa a UDR - na questão da reformaagrária. Disse Aldo Arantes quea UDR não quer, de forma nenhuma, a reforma agrária, e desencadeou uma campanha nacional natentativa de impedi-la.
"A questão fundiária é um problema da maior gravidade", prosseguiu o representante do PC doB, explicando que "a concentração da terra é responsável por umasituação de níveis baixos de produtividade nas grandes extensõesterritoriais deste país, que deveriaser um dos maiores produtores douniverso, dando condições de incorporar milhões e milhões de trabalhadores na atividade produtiva".
CONFISCOO constituinte Gastone Righi
(PTB - SP) preferiu chamar aatenção para o fato de que estavasendo deformada a postura adotada pelo Centrão que, para alguns,não desejaria que a propriedadeprodutiva fosse desapropriada.Não é essa a questão que se põehoje no plenáno - assegurou mas sim se a propriedade ruralprodutiva pode ser confiscada como pagamento em títulos da dívidaagrária, em 20 anos, e 2 anos decarência. Segundo Gastone Righi,é um verdadeiro crime, imaginarse que alguém que desbrave o sertão e transforme uma terra hostilem produtiva, em favor do desenvolvimento, possa ser confiscado.Ele tem como certo que os quesustentam o direito ao confisco àpropriedade produtiva visam tãosomente a desestabilizar o sistemaeconômico ~ criar um preconceitoem relação à propriedade rural.
PIRAMBEIRASEm nome da liderança do
PMDB falou o constituinte Vicente Bogo (RS), que criticou a tese,defendida pelo Centrão, de queapenas as terras Improdutivas possam ser desapropriadas. Argumentou Vicente Bogo que o conceito de terra produtiva é difícilde ser precisado, ao ponto de doisorganismos governamentais, o IBGE e o INCRA, possuírem interpretações diferentes a este respeito.
"Na prática, a passar o preceitode que terras produtivas não podem ser desapropriadas, restarãoapenas, para esta finalidade, asterras improdutivas. E se, eventualmente. os tribunais se fixarem.
a efetiva realização da reforma. Del BoscoAmaral (PMDB - SP) e Gerson Peres (PDS- PA) salientaram a importância da linhaconciliatória, com críticas aos radicalismosda direita e da esquerda. E no encaminhamento, a palavra de Fernando HenriqueCardoso (PMDB - SP), Bonifácio de Andrada (PDS - MG), Gastone Righi (PTB- SP), Ricardo Fiuza (PFL - PE), RonanTito (PMDB - MG) e Sandra Cavalcanti(PFL-RJ).
Acrescentou o representante doRio Grande do Sul, após dar oseu apoio à proposta de reformaagrána do relator Bernardo Cabral, ser "importante e fundamental que a terra seja transformadaem um poderoso instrumento depressão econômico-social dos milhões de brasileiros que estão proibidos de ter uma vida digna e decente, vivam eles no campo ou vegetem nas fímbrias de miséria dascidades" .
COISA SÉRIAPela Liderança do PDS falou o
constituinte Gerson Peres (PA),que começou afirmando que seupartido se tem posicionado numalinha conciliatória em relação à reforma agrária. Disse Gerson Peresnão haver o que temer em relaçãoàs desapropnações, já que a palavra final será sempre do Poder Judiciário. "Eu teria medo da desapropriação da propriedade produtiva se não acreditasse na Justiçado meu país".
Gerson Peres lembrou a afirmação do papa João Paulo 11, de quesobre cada propriedade produtivapesa uma hipoteca social, e defendeu uma solução sem radicalismo,diferente tanto das propostas daUDR como das propostas da Contag. "A reforma agrária é coisaséria, tem que ser redigida comequilíbrio, sem passionalismo ouemoções, mas com patriotismo,com confiança, sobretudo confiança no Poder Judiciário, queacaba de ser fortalecido por nósnesta Constituinte justamente para cumprir a missão de julgar comjustiça as desapropriações e nãopermitir que se destrua ao arbítrio
"Creio que obom senso dos
brasileirosdeve abrir
caminho paraque a reforma
agráriase faça
dentro domelhor
espírito decooperação. "
Amaury Müller (PDT - RS) defendeu uma decisão inteligentepara a questão da reforma agrária,que seja capaz de harmonizar interesses contraditórios e dotar o paísde uma legislação constitucionalque yermita a decolagem do meiorura rumo a um desenvolvimentoracional e equilibrado. "Temos odever de ouvir o clamor que emana das ruas e dos campos", afirmou Amaury Müller.
CLAMOR DOS CAMPOSPor sua vez, o constituinte
zes de fazer um texto que repetisse, sequer, o que os militaresfizeram. Para ele. era mesmo motivo de vergonha que se tivesseque defender um texto tão tímidoe, mais ainda, que a defesa dessetexto encontrasse ainda óbices porparte dos que dele queriam excluiro trecho que permitia a desapropriação da terra que não cumprisse sua função social, "sem o qualo grande esforço feito para permitir algum progresso na questãoagrária estará estancado".
PRIMAZIA SOCIALRonan Tito (PMDB - MG) co
meçou por citar o papa João Paulo11 ("sobre toda a propriedade pesauma hipoteca social") para defender a íntegra do texto-base elaborado pelo relator, enfatizando aprimazia do social sobre a propriedade. "Nós todos, de lá e de cáneste plenário, todos brasileiros,queremos a propriedade produtiva - disse -, mas, desde o primeiro capítulo desta Constituiçãoaté o último, o que não podemosperder de VIsta é a pessoa humana,é o social". Em sua opinião, nãoé mais do que sofisma a afirmaçãode que a produtividade passa porcima de tudo, pois entende queo povo tem necessidades que vêmem primeiro lugar. "E se perdermos essa oportunidade extraordinária de cravarmos na Constituição o direito de que os despossuídos possam ter a propriedadeda terra pela lei, eles poderão irbuscá-la, como fizeram no passado, contra a lei", concluiu.
PROGRESSO ESTANCADOFernando Henrique Cardoso,
ao encaminhar a votação, disse daesperança de todos de que a Constituinte promulgue uma Carta quepermita a modernização e a democratização do país, mas lamentouque, naquele exato momento, emque a questão mais tradicional dareformulação da vida econômicae social brasileira ia ser discutida,os constituintes não fossem capa-
De novo a reforma agrária ocupou amaior parte dos debates em plenário durantea semana, enquanto nos bastidores se lutavapor um acordo que viabilizasse sua votação.E, de tudo o que foi dito ou deixado dedizer, restou o saldo positivo de ter-se conseguido afastar o que mais era temido: quea reforma agrária caísse em um "buraco negro", ou seja, deixasse de constar da novaCarta. Exorcizado o fantasma, com a aprovação na terça-feira do texto-base do relator,
Nos debates preliminares à votação da reforma agrária, o constituinte Fernando Santana (PCB BA), falando em nome da liderança do seu partido, lembrou queo Brasil foi colonizado na base dolatifúndio, sendo profundas as raízes do problema da concentraçãoda propriedade da terra no país."Ainda hoje o processo de apropriação da terra está sendo feitode maneira terrivelmente contrária aos interesses do país e do povo", disse Santana, apresentandodados segundo os quais 3,9% dosproprietários rurais detêm 53,3%da área agricultável, enquanto96,1 % dos proprietários ficamcom os restantes 46,7%. "Vejamcomo tudo está organizado de maneira a permitir que a estruturafundiária freie o desenvolvimentonacional", comentou o representante da Bahia.
"Creio que o bom senso dosbrasileiros deve, de uma vez portodas, abrir caminho para que areforma agrária se faça dentro demelhor espírito de cooperação,sem que se garanta o latifúndiopermanentemente", sustentouFernando Santana. Para ele, se apropriedade improdutiva puderser defendida como produtiva, atéque se torne realmente produtiva,o processo de reforma agrária severá engessado.
FICÇÃOBonifácio de Andrada, por seu
lado, mostrou a necessidade de sedefender a propriedade produtiva. Ele. viu no bojo do texto dorelator um dispositivo que criava,para o meio rural, "uma ficção jurídica que penaliza, castiga e persegue a empresa rural produtiva",ficção essa representada - a seuver - pelo trecho que exigia ocumprimento de função social porparte dessa empresa produtiva,sob pena de desapropriação. Taldispositivo, de acordo com Bonifácio de Andrada, configuravauma grande injustiça, na medidaem que a exigência nele contidanão é feita em relação à empresaurbana. Para ele, o que se 'procurava, na verdade, com essa exigência, eram mecanismos contráriosà grande propriedade rural, que- segundo lembrou - luta paraproduzir alimento para todas ascamadas da população.
4 Jornal da Constituinte
ii
_Antes do inicta da votação,foram intensas as conversas e negociações
dinária as decisões relativas às exceções à propriedade produtiva.
MESMA LíNGUA
propriedade produtiva na insegurança".
"Quem assim não entender" prosseguiu Osvaldo Macedo "não quer garantir o investimento Iem propriedades produtivas ouem vias de produção". E em seguida perguntou: "Para quê? Paramanter a intranqüilídade no país,para manter a discórdia, paramanter um biombo a especuladores agrários?"
SOBREVIVÊNCIAA constituinte Irma Passoni (PT
- SP) homenageou "os brasileiros que, durante décadas, lutarampara sobreviver como cidadãosneste país, defendendo o solo realmente produtivo. É o trabalhadorrural, 'que trabalha a terra, queproduziu efetivamente para a sobrevivência e para a alimentaçãobásica da população brasileira".
Salientou ainda a constituinteque milhares de trabalhadores rurais, crianças, jovens, adultos, homens e mulheres morreram paradefender o direito da sobrevivência e para defender o direito deserem cidadãos brasileiros.
Continuando, Irma Passoni,lembrou que "somos.Iaü milhõesde brasileiros e temos o direito depossuir a terra, e não simplesmente um minguado de pessoas quepossuem uma porcentagem de terra imensa, contra milhões que nada possuem".
Esclareceu também que o pequeno e médio proprietário jamaisserão protegidos pelos grandes latifundiãrios, Essa proteção virá deuma política agrícola sustentadapor aqueles que querem a reformaagrária, e não por aqueles que resístem, que matam, que destroemaqueles que querem produzir".
ALTERNATIVAJá o constituinte Ricardo Fiuza
(PFL - PE) sugeriu a alternativade ser incluída no texto a funçãosocial da propriedade produtivanos seguintes termos: "A lei ga- _rantirá especial tratamento à propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos à sua função social" .
Sobre a desapropriação disseser importante garantir que a propriedade produtiva que sofrer essetipo de sanção não fique sujeitaapenas ao pagamento em títulosda dívida pública.
Ricardo Fiuza terminou conclamando os constituintes a fazeremuma reforma agrária sem demagogias, sem destruir a estrutura produtiva do campo e que transformeo Brasil em um país moderno.
RELATORPor fim, o relator Bernardo Ca
bral negou que existisse disposiçãono texto que produziu que penalizasse, perseguisse ou criasse mecanismos negativos contra a propriedade rural, como garantira anteriormente o constituinte Bonifácio de Andrada. Lembrou que,de acordo como o texto desde logo estava insusceptível de desapropriação a pequena e a médiapropriedade rural, bastando queseu proprietário não possuísse outra. Com isso - asseverou - foram afastadas 90% das terras brasileiras da possibilidade de desapropriação. A grande realidade,de acordo com Bernardo Cabralé que se intentava com o text~afastar o que chamou de "garrotedo Estatuto da Terra que - segundo t~ria ouv!do de proprietárIOS rurais - se tivesse sido levadoa efeito, teria sido um desastre para o país".
Para IsraelPinheiro, aúnica falha
do novotexto do
relator foiter usado aexpressão
terraprodutivaem vez de
terra explorada
ra O país, já que todos os constituintes estão "falando a mesmalíngua" .
CRIMEO constituinte Ademir Andra
de (PSB - PA) afirmou que, sedependesse da sua vontade e davontade do seu partido, não ficariaum único latifúndio no país quenão fosse desapropriado, para que
_se fizesse a reforma agrária e paraque cada trabalhador rural tivesseo seu prórpio pedaço de terra paratrabalhar. Ademir Andrade denunciou irregularidades cometidas pelo Ministério da ReformaAgraria na desapropriação de alguns castanhais no Pará. Segundoo representante do PSB, foramfeitas desapropriações com pagamento de indenizações, em títulosda dívida agrária, por valores absurdos, quatro vezes superiores aopreço normal de mercado.
"Os fazendeiros receberam umprêmio maior que o da loteria, queo da sena", disse Ademir Andrade, ainda se referindo às desapropriações, dos castanhais. E concluiu: "E isso que não podemosaceitar, porque se for para fazerreforma agrária deste tipo logo estaremos endividados com títulosda dívida agrária e não.teremoscondições de prosseguir na obrade dar terra aos trabalhadores rurais; é esse o motivo da nossa condenação, e consideramos isso umverdadeiro acinte, um verdadeiro
Sandra Cavalcanti, constituinte crime que se faz contra o patri-pelo PFL do Rio de Janeiro, de- mônio desta Nação". -fendeu o texto elaborado pelo re-lator Bernardo Cabral em relação BIOMBOà reforma agrária. Já o constituinte Osvaldo Mace-
Segundo a constituinte, não ha- do (PMDB - PR) defendeu tantovia motivos para que grupos mais a propriedade como a necessidade
- conservadores demonstrassem de ela cumprir sua função social.preocupação, pois nós estamos ':Acho que a propriedade produdesde 1969com uma Constituição tiva tem que ser preservada, masque põe em prática o Estatuto da entendo que aqueles que dizemTerra, que-é socializante, em que defender a propriedade produtiva
. a propriedade rural não tem ne- estão, no entanto, pondo em risconhuma garantia, nem o fato de ser . a propriedade produtiva". Mace-.produtiva, pequena ou média, em do apoiou o texto do relator Bersíntese, um texto forte". nardo Cabral quando torna a pro-
Esse mesmo texto, disse ainda priedade insusceptível de desaproa constituinte, trouxe a iriquieta- priação -desde que cumpra a suação e o desassossego ao campo do função social. Para o representanBrasil. Dessa forma, nada mais - te do 'Paraná, este texto está emjusto, considerou Sandra Caval- - defesa da propriedade produtiva,canti, do que se procurar uma saí- "e os que assim não entendemda democrática, que traga paz pa- querem pôr o produtor rural e a
EMOÇÃO,NÃOPor seu lado, o constituinte Is
rael Pinheiro (PMDB - MG) deutodo o apoio à proposta de reforma agrária apresentada pelo relator Bernardo Cabral (PMDB AM). "Razão e não emoção. Nóssó podemos construir esta naçãoem cima da razão. Infelizmente osdebates travados sobre a reformaagrária são extremamente emotivos, fugindo da lógica, do bomsenso e sobretudo do espírito deconciliação e de entendimento"disse ele. '.
Para Israel Pinheiro, a propostade Cabral atende perfeitamente aquaisquer dúvidas que possamsurgir no pensamento dos constituintes ou das lideranças rurais.Acrescentou o representante deMinas Gerais que, em sua opinião,a falha da proposta é que, em vezda expressão "terra produtiva"~
deveria ter sido usada a expressão"terra explorada", já que a propriedade pode ser explorada e não'produtiva, enquanto às vezes apropriedade é produtiva e não ébem explorada. No entanto, IsraelPinheiro elogiou a disposição dorelator Bernardo Cabral de remeter para a lei complementar ou orADlRP/GUllherme Rangel
contra as famílias dos constituintes, e Ronaldo Caiado, com suasdeclarações muitas vezes grossei~as .contra ~queles que professamidéias ou nao seguem a sua ideologia em relação ao trato que se devadar ao assunto terra?" - indagouDel Bosco Amaral.
Para ele, que defendeu uma solução sem radicalismo para a questão agrária, a UDR é legítima ereúne proprietários de terras pequenos, médios e grandes "que estão assustados com certos avançosdos chamados progressistas cubanizantes". Mas, destacou Amaral,não é possível que esses proprietários entreguem a liderança dessemovimento "a um homem que está muito mais movido pela necessidade de aparecer nos jornais, rádios e televisões". Ao finalizarAmaral sugeriu a Meneghelli e ~Caiado que consultem um psicanalista que os leve à calma e àserenidade dos que sabem ser líderes respeitando a vontade e odireito de pensar dos seus adversários.
no conceito de fertilidade para definir o que é terra produtiva, ficarão para a reforma agrária apenasos carrascais, charcos, areões, piçarras e-pirambeiras. E isso, é claro, nem os trabalhadores nem aracionalidade aceitarão" - sustentou Vicente Bogo.
Ao finalizar seu pronunciamento, o repres-e-ntante do PMDBgaúcho advertiu não ser possível"que o fascismo truculento quetem ocorrido por fora da Assembléia Nacional Constituinte e também dentro dela inviabilize o mínimo de mecanismos para a realização da reforma agrária no Brasil" .
VITÓRIA DE PIRRO
Já o deputado Francisco Küster(PMDB - SC), ao defender a reforma agrária, afirmou que "a terra representa tudo para o ser humano, pois dela emanam todos osvalores, e a terra precisa ser explorada de forma racional e humana". Frisou Küster que a terratambém é um "instrumento de poder dos poderosos", destacandoainda que as instituições financeiras estão agora aplicando os seusexcessos, os seus lucros, na aquisição de terras.
Para Francisco Küster, "é preciso que a propriedade da terracumpra a função social, e a hipoteca social da terra a ser resgatadaé muito grande". Na opinião dorepresentante de Santa Catarina,a nova Constituição não poderiadeixar de contemplar a reformaagrária, pois isto seria "uma vitória de Pirro dos setores mais conservadores e atrasados da sociedade brasileira, porque a médioe longo prazos a reforma agráriaviria não pela forma pacífica comoqueremos, mas pela via revolucio-nária". -
MAIORIA
Pelo PT falou o constituinte Olívio Dutra (RS), ressaltando queo presidente da CUT, Jair Meneghelli, tem demonstrado o seu interesse, em nome dos trabalhadores, em discutir propostas clarase objetivas em torno da reformaagrária, bem como negociações eacordos. "Eis que chegaram aquirepresentantes da UDR, com outra visão, com interesses diametralmente opostos, dispostos a nãofechar acordos sobre coisa algumae a tentar virar a mesa", denunciou Olívio Dutra.
"Quem efetivamente representa a maioria do povo brasileiro?"- perguntou Dutra: "O companheiro Meneghelli, em nome dostrabalhadores do campo e da cidade, disposto a dialogar, sem abdicar de posições claras e objetvas,ou os representantes do grande latifúndio, que vêm aqui tentar empurrar sobre os constituintes assuas vontades e a vontade de umaminoria?"
Destacou Olívio Dutra que opovo brasileiro há séculos reclamauma reforma agrária, e que a propriedade rural precisa ser definidacom base em sua função social,para que fique aberta a possibilidade da reforma agrária.
PSICANALISTA
O constituinte Del Bosco Amaral (PMDB - SP), ao abordar aquestão da reforma agrária, teceucríticas tanto ao presidente daUDR, Ronaldo Caiado, como aopresidente da CUT, Jair Meneghelli. "A extrema direita e a extrema esquerda vivem de suas almas gêmeas. Qual a diferença entre o braço sindical do PT, dos:panfletários que colocam cartazes,que praticam o terror noturno
Jornal da Constituinte 5
A ~ · d A /!xe, negntu e. xe.Foi uma tarde de festa, em que o forte sabor do acarajé,
a cadência da capoeira e do maculelê e a palavra eloqüentede senadores e deputados reafirmaram a raça negra e sugeriramreflexões sobre a situação em que ela se encontra econômica,cultural e socialmente, cem anos depois da assinatura da LeiAurea. Reflexão, aliás, foi o substantivo mais encontrado nasorações dos negros Carlos Alberto Caó, Edmilson Valentim,Paulo Paim e Benedita da Silva; do mestre Afonso Arinos,do primeiro-secretário da Câmara, Paes de Andrade, e do presidente do Senado, Humberto Lucena, cujos discursos marcarama sessão solene com que o Congresso Nacional festejou o Centenário da Abolição, na última quinta-feira.
A sessão foi um momento de densa significação, pela presença de parlamentares e centenas de populares da raça negra,pelo seu sentido histórico e pela sinceridade das colocações emfavor da igualdade das raças e da necessidade da promoçãode maiores oportunidades para os negros que se afirmam, hoje,juridicamente livres, mas socialmente ainda discriminados e incluídos entre os grupos minoritários, apesar de sua expressãonumérica e de sua participação na criação da raça brasileira.Muito se falou sobre o sofrimento do negro escravo no passado,ao mesmo tempo em que se denunciou a situação do negrofavelado, desempregado e marginalizado de hoje.
Mas falou-se muito de esperança. Afinal, a tarde era sobretudo de festa. Por isso que, tão logo encerrou-se a sessão noplenário da Câmara, foram todos para o Salão Negro do Congresso, onde hoüve a abertura de uma exposição de documentosrelativos 'à Abolição, organizada pela Secretaria de Documentação e Informação do Senado, seguida do lançamento do livro"A Abolição no Parlamento: 65 Anos de- Lutas (1823-1888)".A festa terminou com a apresentação de capoeira e maculelé(misto de jogo e danças de bastões que surgiu em Santo Amaroda Purificação, na Bahia), e com um coquetel em que foramservidos pratos típicos da culinária afro-brasileira. Foi uma tardeaxé!
ADlRP/Guilherme Rangel
LUTA ABOLICIONISTAA reação contra o sistema escra
vagista, ao longo dos séculos desua existência no Brasil, foi um
gros escravos no Norte e 840 mile 752 no Sul, totalizando 1 milhãoe 243 mil e 850 negros. São Paulo,Rio e Minas, então chamadas astrês províncias negreiras, continham, só elas, 141 mil 970 escravos mais do que todas as outrasdo Império.
senhor, o escravo Gregório respondeu: "Matei um lobisomem,não matei um homem." Parecenos então - disse Paim - queno escravismo eram os negros quedetinham a dimensão da humanidade; residia nos negros a capacidade de distinguir barbárie de humanidade.
Paes de Andrade, por sua vez,mostrou que o último censo doMinistério da Agricultura, antesde 13 de maio de 1888, apontoua existência de 403 mil e 98 ne-
A história da Abolição, concretizadahá um século, foi lembrada como aprópria história do Parlamentobrasileiro, pela força com que senadorese deputados da época encararam aluta da libertação, que durou 65 anos 1823 a 1888
navios negreiros era conhecida dequalquer marujo, pois era a mesma dos tubarões: de cada dez negros transportados para cá, apenassete, em média, chegavam com vida" - disse Caó, ao assinalar queo tráfico negreiro foi o maior crime da história da humanidade,"indescritível, inexplicável".
Benedita da Silva recorreu aFlorestan Fernandes para rememorar a tragédia dos negros escravos no Brasil: "os negros eram empurrados a aceitar e engolir tudo,não tinham como lutar e comoromper socialmente com a herança da escravidão" (... ) E o deputado Paulo Paim citou o trechode um interrogatório que constade um processo criminal, ocorridona cidade de Campinas, São Paulo no ano de 1871: ao ser interrogado sobre os motivos que levaram a assassinar um homem, seu
Ladeado por Ulysses Guimarães, Humberto Lucena presidiu a sessão e pregou o fim das discriminações raciais
TRISTE HISTÓRIA
o senador Humberto Lucenatambém se referiu à escravidãodos negros como uma nódoa quenão apenas representou uma ordem social monstruosa, que nosexpunha à censura indignada domundo civilizado, como significouo atrelamento a um sistema econômico que subjugou as conveniências das forças de produção que,internamente, consideravam a libertação dos escravos um golpeletal no sistema produtivo.
Todos os oradores fizeram referências às atrocidades cometidascontra os negros no período da escravidão no Brasil, deixando a certeza de que aquela foi uma épocade triste memória para os brasileiros, e que seus reflexos continuam sendo sentidos na situaçãoeconômica, social e cultural do negro, nos dias de hoje. Carlos Alberto Caó lembrou, por exemplo,que o Brasil foi o penúltimo paísdo mundo a abolir a escravidão(o último foi a Mauritânia) e foi,ainda, o maior consumidor de"peças de ébano" (eufemismocom que se designavam os negros)- aproximadamente 10 milhõesem cerca de 300 anos. "A rota dos
no Brasil, que ele colocou comouma condição do desenvolvimen
"to econômico resultante da exploração extensiva da terra na culturada cana-de-açúcar, do tabaco, doalgodão e do café, sucessivamente. "Era uma forma primitiva deorganização do trabalho, semqualquer alternativa, como haviaacontecido no Egito muitos séculos antes do tráfico de escravos negros para as Antilhas, os EstadosUnidos e o Brasil."
"Tão densa e tão cruel é a memória da escravidão que muitosse perguntam se há alguma coisaa comemorar neste ano do Centenário da Abolição. É preciso mergulhar na história da luta abolicionista e na história universal da própria escravidão para uma avaliação correta das responsabilidadesdo Brasil na manutenção da escravatura e do passo político a quechegamos a 13 de maio de 1888,proclamando a libertação dos escravos" - afirmou o deputadoPaes de Andrade (PMDB - CE),que falou pela Câmara. Ele colocou a escravidão como uma nódoa, cuja sombra ainda é muitoincômoda em nossa história, porque sua projeção residual até hojeaflige e envergonha o perfil denossas estruturas sociais, com amarca da iniqüidade e dos desníveis culturais e econômicos quedesfiguram a réalidade brasileira.
Diferente na forma, mas semelhante no conteúdo, foi a fala dodeputado Carlos Alberto Caó(PDT - RJ), que discursou emnome da Assembléia NacionalConstituinte. Segundo Caó, "apermanência e a predominânciado autoritarismo em nosso país serelacionam, sem dúvida, com o fato de que nada menos do que quatro quintos de nossa história transcorreram sob o signo da escravatura enquanto forma de propriedade e de .produção - sistemaque, por definição, se baseia naviolência e na tortura, tecnologiasque, modernizadas e refinadas,continuaram sendo aplicadas emtempos recentes a cidadãos brasileiros".
Também o senador Afonso Arinos (PFL - RJ), que falou emnome do Senado Federal, se referiu à mácula que foi a escravidão
6 Jornal da Constituinte
Se os oradores convergiramsuas orações para a lembrança dosofrimento dos negros escravos,para a epopéia abolicionista e paraa situação de desigualdade socialem que os negros se encontramainda hoje, não foram menos coincidentes em fazer de seus pronuncíamentos um chamamento à reflexão e uma palavra de ordem para o prosseguimento da luta, agorapela igualdade social, econômicae cultural.
Para Afonso Arinos, o 13 deMaio deve ser comemorado comouma oportunidade para reflexõesde caráter sócio-histórico, despidas de propósitos ideológicos epartidános, ou de ressentimentosraciais, mas reflexões que conduzam a uma visão equilibrada e justa de nosso contexto social, passado, presente e futuro.
Paes de Andrade, por sua vez,lembrou o esforço desenvolvidopelos parlamentares do Impériocontra a escravidão, para dizerque, hoje, os congressistas constituintes devem se dar as mãos acima de todos os radicalismos, acima dos limites partidários em busca da unidade e da grandeza daPátria. Benedita da Silva colocounegros e índios na mesma situaçãode desigualdade, para afirmar queas duas raças devem unir-se na iniciativa de lutar abertamente contra as tentativas de anulação deseus direitos. "O conceito de democracia significa, fundamentalmente para nós, a igualdade social, econômica, racial e política"- disse Benedita.
Já Edmilson Valentim colocouque os negros não devem lutarapenas contra os preconceitos culturais da sociedade atual, mas realizar profundas transformações sociais, econômicas e políticas quepossam, efetivamente, acabarcom todos os tipos de opressão,de forma que obtenham a verdadeira libertação. Na mesma linhaé a advertência de Paulo Paim,convicto de que é grande a responsabilidade do movimento negro naconstrução de um projeto socialista para o Brasil, "porque enquanto houver dominação de classe, haverá racismo". Nesse sentido, ele recomenda que o movimento negro avance na articulação de suas lutas com as demaislutas dos trabalhadores. Outramedida reivindicada por Paim,agora ao presidente José Sarney,é o imediato rompimento de relações com o regime racista da Africa do Sul. Carlos Alberto Caótambém acha que a luta deve prosseguir, "pois o desafio históricoestá diante de nós". "Que tenhamos a capacidade de construir umestado democrático e um ambiente civilizado para a sociedade civil,rompendo as barreiras que têmperpetuado as discriminações, asdesigualdades sócio-econômicas eraciais." E, ao finalizar a sessão,o senador Humberto Lucena afirmou que a comemoração dos cemanos da Abolição deve ficar, também, como uma exortação à consciência nacional, para que cultive,como valor indissociável da liberdade, a luta pela supressão de todas as discriminações SOCIais emfavor da integração de todos osbrasileiros numa sociedade emque o preconceito racial seja apenas registro histórico, embora trágico.
Paulo Neves
REFLEXÃO E LUTA
EdmilsonValentimlouva a
resistênciados negros
tado, com a abolição formal-dotrabalho escravo, o racismo brasileiro se redefiniu, criou formas epermanece sendo um poderosoinstrumento de exploração e dedominação, largamente utilizadopelo capital e pelo Estado. A propósito, ele salienta que são abundantes os dados que comprovama segregação e as desigualdadesraciais no Brasil contemporâneo.Este é também o ponto de vistade Carlos Alberto Caó, paraquem, no contexto de uma crisesem precedentes na história republicana, o modelo imaginário dedemocracia racial se dissolve diante do aguçamento das discriminações e desigualdades raciais."Mais do que nunca a Aboliçãose situa como obra inacabada, incompleta e historicamente frustrada" - acentuou Caó.
censão social, política ou econômica. Trocaram o chicote, o tronco e outras coisas mais por canetas, livros, porta social etc. , levando o negro a viver desnorteado,como legião dos despossuídos deram continuidade involuntária àscondições impiedosas que lhes foram impostas" - disse Beneditada Silva. Edmilson Valentim, porsua vez, observou que, cem anosdepois da Abolição, a realidadedo negro pouco se alterou: a maioria continua vivendo e trabalhando em condições bem piores doque a dos brancos, substituíram-seas senzalas pelas palafitas e favelas, e o chicote, que impunha aprodução, deu lugar ao subemprego e à exploração capitalista. Disse, mais, o deputado, que a lutado negro, antes contra o senhorde escravos, é hoje contra as classes dominantes, contra o sistemacapitalista que oprime todos ostrabalhadores, mas particularmente o negro, discriminando-ono mercado de trabalho, impedindo-o do acesso à educação (87%dos brasileiros que cursam o nívelsuperior são brancos).
.Na mesma linha de raciocínio,Paulo Paim buscou, na letra dosamba-enredo da Estação Primeira de Mangueira, um verso que,na sua opinião, bem exprime a situação do negro pós-Abolição:"Livre do açoite da senzala, presoà miséria da favela". Para o depu-
Paulo Paim pedeaos negros que
lutem pelosocialismo
Do calor dos pronunciamentos aocolorido da festa que se seguiuà sessão solene, o que se ouviue se viu foi a busca da interaçãodas raças, para que o Brasil realizede fato o ideal da plena democracia.O momento ficará na História.'
Paesde Andradevê na luta
abolicionistauma lição
Como está a situação dos negrosno Brasil, um século depois daAbolição? Esse foi um aspectoque mereceu a análise especial dosvários oradores da sessão solene.Um fato constatado por vários deles é o de que a mesma lei queaboliu a escravidão lançou os negros à sua própria sorte. "Doravante, um novo tipo de escravidãosurgia sutil, sorrateira, pérfida, tirando qualquer perspectiva de as-
O QUE MUDOU?
mascarar o mito de que a Lei Áurea foi umato humanitário da Monarquia. Na verdade - disse ele- foi produto de um embate deinteresses que tinha como protagonistas, de um lado, os brancos,interessados em manter o seu status quo e sua base de dominação;e de outro lado, os negros, mteressados em construir uma nova ordem. Esse mesmo enfoque foi destacado por Benedita da Silva, paraquem a história oficial continuadesinformando, escondendo averdade que fortalece a luta deuma raça. Do mesmo modo, Edmilson Valentim registrou que oprocesso de abolição legal não foium ato de magnanimidade da Co- o
roa (um ano antes, em 1887, aPrincesa Isabel mandou fuzilar escravos fugidos), mas se deu comoo coroamento de uma longa lutacontra a escravidão.
Carlos AlbertoCaóquer uma
democracia semdiscriminação
ceitos eram de tal monta que sechegou a difundir, nas cabeceirasda sociedade, a militante suposição de que os negros não eramseres humanos, mas simples mamíferos semi-racionais. E acrescentou que foi um penoso caminho o do Parlemento até se chegaràquela sessão do dia 8 de maio,quando foi aprovada a Lei Áurea,sancionada cinco dias depois -13de maio - pela Princesa Isabel.
Já Paulo Paim salientou que, aocontrário do que as escolas ensinam, o escravismo no Brasil, emnenhum momento, foi um empreendimento pacífico que contava com escravos dóceis, pois muitoalém de meros instrumentos deprodução utilizados pelos senhores de escravos, os negros sempreforam agentes ativos de sua própria história. Paim referiu-se, então, à crescente reação dos negrosescravos, que ia desde o banzo àsgreves de fome, ao assassinato desenhores de escravos, ao abortopraticado pela mãe escrava, às fugas individuais, à preservação dareligiosidade africana, às revoltasurbanas, aos quilombos até a sagade Zumbi dos Palmares. Paimtambém afirmou ser preciso des
Afonso Arinospregou uma nova
Abolição:contra a miséria
Benedita daSilvadefende
revisão dasrelações raciais
capítulo que mereceu especialatenção dos oradores. AfonsoArinos fez um relato histórico dodesenrolar dessa luta, enfatizandoque foi uma longa campanha depersuasão nacional pela oratóriaparlamentar, pela ação da imprensa, pela conquista do apoio de toda a sociedade. E abservou quea abolição fez alguns dos grandeshomens do Império, tanto quantoestes fizeram a Abolição. E Paesde Andrade notou que foi no plenário da Câmara que tomou corpoo clamor popular pela Abolição,e que foi às mãos dos representantes do povo que o Imperadorentregou a tarefa da libertação."A história da Abolição se confunde com a história parlamentardo país, desde os primeiros anosde consolidação da Independência. Quem quiser tomar conhecimento do que foi a luta pela emencipação não precisará mais do quemergulhar na leitura dos Anais daCâmara. Foi aqui que se fez aAbolição, num episódio parlamentar que ainda hoje é típico doCongresso brasileiro e da VIda parlamentar do país". E para mostrarcomo foi difícil essa luta, Paes deAndrade recordou que os precon-
Jornal da Constituinte 1
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sera nuCritériosi
flexíveis nafixação dosvalores dosimpostos,Fim dos I
privilégios.Recursos
para regiõesmais pobres.O fisco mudapara melhor.Pode não sero ideal masrepresenta
grande avanço
se observa o conjunto de disposi-tivos, é a da transferência de recursos da órbita da União para ados estados e municípios. O segundo ponto analisado por JoséSerra, que foi relator da Comissãodo Sistema Tributário, Orçamento e Finanças, é o dos dispositivosque darão um maior reforço decaixa para as regiões menos desenvolvidas. E, finalmente, segundoele, o texto confere maior autonomia às unidades da federação tanto estados como municípios.
José Serra calcula em 20% aperda da União em termos de receita tributária. Deste percentual, se~undo o constituinte paulista, dOIS terços serão devidos aosrecursos destinados ao fundo departicipação das unidades federadas. Outros 20% virão como re-sultado da eliminaçãodos cinco impostos únicos Que estarão agora incluídosno ICM. E, finalmente, segundo ele, otexto confere maior autonomia às unidades da federação - tanto estadoscomo municípios.
José Serra calcula em20% a perda da Uniãoem termos de receita tributária. Deste percentu-al, segundo o constitu- i~ (inte paulista, dois terçosserão devidos aos recur- - 'sos destinados ao fundo Virgflio Guimarães: timitkz
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termediação corruptora, as influências descabidas e do processode concentração de recursos e poderes". No entanto, de acordocom Irajá Rodrigues, o que se obterá através das propostas vitoriosas no plenário da Constituinteserá apenas a transferência "desses males de Brasília para as capitais estaduais". Resumindo: ganham os estados por aumento dereceita e redução de encargos;perdem a União e os municípios."Será a consagração dos governadores que se têm esboçado claramente nos últimos tempos, reeditando a República Velha".
Irajá Rodrigues acredita inclusive que haverá uma leva nova deprefeitos - recém-eleitos - queno ano que vem pedirão uma reformulação deste ponto nos dispositivosdo sistema tributário consagrado em plenário.
MODERNIZARA questão tributária, no enten
der do constituinte José Serra,membro do PMDB de São Paulo,respeitou três linhas básicas dotrabalho desenvolvido na comissão temática, que são a descentralização, maior justiça fiscal, e amodernização do sistema.
Para José Serra, a descentralização tributária passa por três vertentes nos dispositivos no projetoconstitucional já aprovado. A primeira, que fica patente logo que
repassem recursos correspondentes às suas áreas, mas isto não estádefinido constitucionalmente".
Irajá Rodrigues acredita, igualmente, que essa circunstância farácom que os municípios percam emautonomia, pois mudará apenas ainstância a que os prefeitos terãoque recorrer para sanar suas dificuldades. "Hoje os recursos sãoinsuficientes, masos prefeitos vêma Brasília e obtêm as verbas comministros que não fazem políticaem seus estados. Mas, com essasmedidas, Brasília ficará sem recursos para atender esses pleitos e,desta maneira, os prefeitos serãoobrigados a recorrer às suas respectivas capitais estaduais, ondeencontrarão secretários e mesmoum governador que fazem I?olítica, até mesmo a nível municipal".Com essa transferência - salientou Irajá Rodrigues - os recursosserão liberados em troca de posicionamento político do prefeito.
"Importante salientar que considero que a redistribuição era necessária, sendo uma exigência dosmuniciI?alistas, principalmentecom objetivo de acabar com a in-
Ao lado dos novos percentuaisdo bolo fiscal, eles receberão novos encargos. "A maior esperançaque tínhamos, como municipalistas, era de que o sistema tributárioproposto revelasse maior justiçafiscal, com o estabelecimento doprimado do município, bem comoa existênciade um processo menosburocrático e menos custoso, entretanto, o projeto aprovado nãoatende estes requisitos, sobretudoporque é produto de um acordoem que figuram como principaisartíficesos governadores, o relatore o presidente da comissão temática, ainda nas etapas iniciais dopro~sso constituinte". .
Desta forma, segundo Irajá Rodrigues, a redistribuição financeira proposta tinha como objetivocentral dispositivos que privilegiassem os Estados, em detrimento de um conjunto mais amplo dealterações. "Embora haja umacréscimo de receitas municipais- prosseguiu o parlamentar gaúcho -, da ordem de 27%, nãohá dúvida de que por outros dispositivos os municípios receberão oencargo de manter a educaçãofundamental, inclusiveno caso dopré-escolar, e a saúde. Só estasduas rubricas deverão consumir eultrapassar o acréscimo da participação no bolo tributário, fazendocom que a situação do municípiose torne difícil". Embora a Previdência Social e outras instituições
Cesar Mala: avanços
lientou O parlamentar do Rio deJaneiro -. mas foi um grande nasso". O que todos querem, afirmou,é simplesmente criar a federação,na pratica, no País.
No entanto, César Maia acredita que a importância políticaconjuntural da discussão da proposta de reforma tributária encobriu a aprovação do que o deputado considerou "o melhor textoaprovado na Constituinte" e quediz respeito à questão orçamentária definida na votação. "A partir da aprovação desse texto, salientou César Maia, o Poder Legislativo terá instrumentos suficientes para exercer, na plenitude,seu papel e suas prerrogativas emrelação ao processo orçamentário" .
ção, que redistribui esses recursos,de forma a dar às unidades da federação com menor base de tributação os recursos de que necessitam.
César Maia lembrou, inclusive,como era a distribuição dos tributos em 1965. "Antes do processode centralização, em 196511967, aUnião tinha aproximadamente40% no bolo tributário. Os estados tinham 45% e os municípiosficavam com os 15% restantes.Em 1986,essa situação tinha sofrido uma pequena variação: aUnião havia caído de 50 para47%, enquanto os estados haviamsubido um pouco, para 36%, e Osmunicípios tinham subido igualmente em pequena proporção,atingindo os 17%".
Mas, e com o novo texto aprovado no plenário da Constituinte?"Simplesmente, daqui a cincoanos, entregar o que a União tinhaem 1965, ou seja, 40% da receitatributária global disponível. os estados ficarão com outros 40%, oque ainda representa menos doque em 1965, e os municípios, porsua vez, passarão de 17 para 20%ou pouco mais". Esta reformulação, na opinião de César Maia,é uma reforma simples, cristalinae pedagógica, em que a União terácinco anos para descentralizar encargos e terá um mesmo prazo para ajustar suas despesas para isso."Pode não ter sido o ideal - sa-
PERDASO constituinte Irajá Rodrigues
(PMDB - RS), ao analisar o novo sistema tributário, considerouque, ao contrário do que se imagina, os municípios não foram osmaiores beneficiados com o processo de descentralização tributária.
A reforma tributária que afutura Carta vai implantar nãosignificará apenas melhor distribuição do "bolo" dos impostos entre a União, estados emunicípios, mas também a modernização do sistema de arrecadação, com a adoção de critérios que permitirão aos estados maior flexibilidade na taxação. Entre outras inovações,ela vai extinguir cinco impostos"únicos" em vigor e há muitoconsiderados obsoletos, queserão agregados a um novo tributo, ela vai criar mecanismospara contemplar regiões menos favorecidas em matéria dedesenvolvimento econômico edisponibilidade de recursos naturais, resultando em benefícios para todo o país.
Os constituintes ouvidos pelo JC sobre as mudanças na política tributária destacam aspectos diversos como, porexemplo, o prazo de cinco anospara a transferência de encargos da União aos estados e municípios, o novo modelo fiscala ser implantado, que fará comque os impostos incidam demaneira diferenciada nas várias regiões ou ainda o fim dacentralização da arrecadação eda distribuição de verbas, quesempre dá margem a manipulações.
FEDERAÇÃOO constituinte César Maia
(PDT - RJ) acredita que o principal ganho com o novo sistematributário, aprovado no plenárioda ANC, é permitir que o sistemafederativo realmente atinja a prática. Para isso, salientou o parlamentar do PDT, os estados e municíl?ios devem ter as condiçõesderealizar as suas atribuições constitucionais como educação e saúde,por exemplo, e desta forma, precisam ter base de tributação própria.para absorver recursos. Em segundo lugar, considerou César Maia,deve-se constituir um fundo queredistribua recursos, em funçãodas diferenças regionais e das diferenças verticais entre governo federal, estados e municípios.
"O texto do projeto de Constituição é muito claro, muito nítidoe termina com o coquetel tributário centralizado, que é a atualsituação fiscal do país e propõeum novo sistema tributário quetem uma coluna vertebral muitoracional", garantiu César Maia. Ogoverno federal contará com umgrande imposto que é o Impostosobre a Renda, e também com osimpostos que têm relação com apolítica econômica: lOF, IPI, Imposto de Importação; Imposto deExportação. e Imposto TerritorialRural, que, segundo ele, será instrumento para a reforma agrária.Os estados contarão com um grande Imposto sobre Circulação deMercadorias e os municípios, porseu turno, contarão com os impostos que crescem com a urbanização, caso do ISSe do Imposto Predial. Em seguida, ressaltou CésarMaia, vem o Fundo de Participa-
Jornal da Constit,
is 'usto e mo
9
des frentes de debate constitucional.
Um primeiro aspecto, na opinião de Virgílio Guimarães, é apretendida descentralização queele considerou ainda muito tími-.da. E tímida, no seu ponto de vista, significa dar pouca autonomiaaos municípios, em termos tributários. Virgílio Guimarães acredita mesmo que os grandes beneficiários desta descentralização serão os estados, que saem mais fortalecidos do novo texto constitucional. Entretanto, Virgílio Guimarães disse ver com bons olhosessa descentralização, úma vezque elimina o clientelismo a nívelnacional.
A segunda questão, na opiniãodo constituinte, é a regional, e neste particular Virgílio Guimarãesacredita que o texto apresentouimportantes avanços, a partir douso do novo sistema tributário como instrumento de equilíbrio regional - reivindicação esta encabeçada por parlamentares do norte-nordeste do país. Virgílio Guimarães enfatizou que, para quehaja uma base de incidência a nível regional satisfatória, é precisoexistirem riquezas locais. Na ausência ou insuficiência delas, o novo sistema atuará regulando a defasagem, o que beneficiará as regiões menos favorecidas do país.
Terceiro ponto: Virgílio Guimarães crê que foram poucos osavanços no uso do sistema tributário como instrumento' de justiçasocial. O parlamentar mineiro recordou que o Partido dos Trabalhadores tinha como pretensão diminuir os impostos indiretos, e, aomesmo tempo, aumentar a cargados impostos diretos. Esses impostos diretos, hoje, no país, de acordo com o constituinte, representam um ponto de injustiça, principalmente por incidirem de formamuito maior sobre o trabalho doque sobre o capital. "O salário jáé taxado na fonte, enquanto queninguém acredita neste país nosnúmeros que são divulgados nosbalanços das empresas e que dão
- a base da taxação".Para Virgílio Guimarães, de
pois de aprovados os novos dispositivos tributários, o país continuasendo basicamente de impostos indiretos, fato que, para ele, nãopermite uma maior distribuição derenda. Virgílio Guimarães lembraque um imposto indireto, emboraseja igual para todos, incide demaneira desproporcional sobre amassa de salários, apenando maisos que ganham menos. "O salário
-mínimo fica comprometido em30% só com o pagamento de impostos indiretos atualmente nopaís".
Para o constituinte do PT de Minas Gerais, contudo, um quartoaspecto foi contemplado de formamarcante pelo novo texto: a eficácia do proprio sistema tributário.Virgílio Guimarães citou comoexemplo importante o fim dos impostos únicos, que foram incorporados ao ICM, de modo a incidirsobre o valor adicionado. Nestesentido, segundo ele, o sistematornou a tributação mais flexível.
Humberto Martins
erno
TIMIDEZ
Já para o constituinte VirgílioGuimarães (PT - MG), o textoque institui o novo sistema tributário nacional apresentou avançosainda tímidos. Ele não nega queexistiram avanços importantes,mas considera que estes mesmosavanços poderiam ter sido maisprofundos, dividiu a questão tributária nacional em quatro gran-
tema tributário uma maior racionalidade econômica, através dasupressão de cinco impostos que,de acordo com o constituinte doRio de Janeiro, tinham incidênciasultrapassadas. Estes impostos quedeverão desaparecer com a ,novaConstituição são: Imposto Unicosobre Minerais, Imposto Únicosobre Energia Elétrica, ImpostoUnico sobre Combustíveis, Imposto sobre Comunicações e Imposto sobre Tranporte.
Francisco Dornelles acreditatambém que os contribuintes serão beneficiados com o novo sistema tributário aprovado em plenário. "O novo texto trouxe - garantiu o parlamentar - maioresgarantias aos contribuintes, namedida em que estabeleceu quenovos impostos e empréstimoscompulsórios somente poderãoser criados por lei aprovada pelamaioria absoluta da Câmara dosDeputados e do Senado Federal" .
Da mesma forma, o sistema tributário ficou mais progressivo namedida em que eliminou, segundoo constituinte, privilégios de militares, magistrados e congressistas.isto significa que o Imposto deRenda deverá respeitar os princípios da igualdade e da progressividade. Por outro lado - aditouele - esse sistema a ser implantado não será tão rígido que nãopermita diferenciações. Francisco
Francisco Domelles: justiça
Dornelles lembra que, pelos dispositivos aprovados, o ICMS foiconcebido de maneira que poderáser cobrado com alíquotas maisbaixas para bens de maior essencialidade e com alíquotas mais elevadas para bens menos essenciais.
Francisco Dornelles não concorda, entretanto, com o ponto devista de que os estados tenham sido os maiores beneficiados em detrimento dos municípios e provacom números. Segundo o parlamentar, com o novo sistema tributário, os municípios terão um ganho percentual médio que irá variar entre 25 e 30%, enquanto queos estados terão um ganho entre10 e 15%.
Francisco Dornelles aponta basicamente alguns pontos de inovações importantes. Primeiro, osdispositivos que permitirão que osistema tributário funcione, apósa promulgação, como instrumentode distribuição regional de renda,através, fundamentalmente, doaumento do percentual do Fundode Participação dos Estados. Esteponto é fortalecido por um segundo, que, na opinião de FranciscoDornelles, é o fato de o sistematributário ser transformado eminstrumento de descentralizaçãode poder, na medida que permiteuma transferência de recursos para os estados e as unidades municipais.
Com os novos dispositivos aprovados, Francisco Dornelles acredita igualmente que os parlamentares conseguiram imprimir ao sis-
enorme de emendas terminavasendo acolhido, ultrapassando folgadamente as disposições efetivasde receitas e pulverizando, semqualquer planejamento mais coerente a destinação do gasto governamental". O resultado disso, segundo o parlamentar, era a manipulação do Executivo sobre o Legislativo.
Já na Constituição de 1967, lembra o constituinte, ficou vedada aprática de apresentação de quaisquer emendas orçamentárias pelos parlamentares, pela criação dodecreto-lei que permitia a rejeiçãoou aprovação em bloco, com apossibilidade de aprovação pordecurso de prazo. "O capítulo sobre orçamento e finanças públicasno novo texto constitucional fugiua ambos os extremos. Permite aosparlamentares fazerem emendasao orçamento, durante a apreciação, mas somente em relação àsdespesas de investimentos (e gastos dela decorrentes) e sempre queindiquem, além disso, a fonte dosrecursos necessários".
PARTICIPAÇÃO
IrajáRodrigues:dependência
de receita tributária, com umamaior descentralização do gerenciamento dos recursos e mesmoum aumento de participação nobolo fiscal, que hoje permanecenas mãos da União.
Para o constituinte FranciscoDornelles (PFL - RJ) os dispositivos aprovados no primeiro turno de votação em plenário representaram um grande avanço paraestados e municípios em termos
alimentos, enquanto, por outrolado, a alíquota poderá ser maiorsobre produtos menos essenciais.Ainda nesse ponto, José Serra ressaltou que os empréstimos compulsórios não serão estabelecidospor decreto-lei, mas deverá passar inicialmente pela aprovaçãoda maioria absoluta do CongressoNacional.
Já em relação à modernização,José Serra lembrou a extinção doscinco impostos únicos e que foramagregados no ICMS, evitando desta forma o efeito cascata a queestavam sujeitos antes, incidindosobre o valor adicionado. Entretanto, quando se fala no impostosobre grandes fortunas, o parlamentar paulista lembra que elenão estava incluído no trabalho dacomissão temática, e a sua conceituação é vaga a ponto de José Serra acreditar ser ele de difícil aplicação ou determinação em lei ordinária.
Outro ponto igualmente importante para José Serra foram as modificações orçamentárias . "NaConstituição de 1946 não haviaqualquer restrição a emendasapresentadas ao orçamento pelosparlamentares, criando despesas.Embora pudesse exercer seu poder de veto, é evidente que, emface da necessidade de negociarcom o Legislativo a aprovação delei orçamentária, um volume
de participação das unidades federadas. Outros 20% virão como resultado da eliminação dos cincoimpostos únicos que estarão agoraincluídos no ICMS. E, finalmente, mais 12% se darão devido àcriação do fundo de ressarcimento do ICM sobre produtos destinados à exportação. Essa perdade receita da Umão deverá acarretar uma transferência de encargos. Mas José Serra crê quehaverá somente a transferênciade programas e não dos programas, o que é uma diferençasubstancial. E mesmo assim, pelos dispositivos, haverá uma descentráhzação, pois, para JoséSerra, não há sentido, por exemplo, de o Ministério da Educação,ou da Saúde, ou do Desenvolvimento Urbano distribuir recur
sos para as unidades federadas, pois isso favorece à manipulação deverbas.
O novo texto acabacom a desigualdade notratamento entre indivíduos, na medida em queextingue privilégios e dámaior autonomia no estabelecimento de alíquotas do ICM, fato quepermite tomar essas mesmas alíquotas seletivas.Isso significa que o ICMpoderá ser menor -paraartigos essenciais como_
Masini: textoé xenófoboeestatizante
drão de vida dos trabalhadores ede suas famílias?
JC - Como, então, atacar oproblema pela base?
Jovanni Masini - A meu ver,as propostas aprovadas partem deum pressuposto enganoso, co~?se o Brasil tivesse as suas pOSSIbIlidades de progresso limi.tadas.São propostas pouco ambiciosasque, por antecipação, limitam aspossibilidades de ~f~tIvo pr?g~esso. Veja que a eficácia dos dIreI~OS
sociais está vinculada a um efetivodesenvolvimento econômico e, namedida em que, como já disse, adecisão econômica representaobstáculo à dinamização de nossaeconomia, os direitos sociais serãofrustrados.
Assim, o aumento aprovado naremuneração das horas extras, oudas férias são aumentos com basenum dos' salários mínimos maisbaixos do mundo, muito aquémdas necessidades do trabalhador ede sua família. É, decididamente,muito pouco.
JC - A seu ver, quais os pOllto~positivos do texto aprovado ateaqui?
Jovanni Masini - Além do novosistema tributário de que já falamos há sem dúvida alguma, outros 'importantes avanços a registrar. Em primeir~ 11!gar, o re.stabelecimento dos direitos da CIdadania através da aprovação de umacarta de direitos individuais comparável às melhores d? mu?d~. Isto vai permitir que o cidadão fiqueefetivamente ao abngo de qualquer abuso de poder, seja o po?erdo estado seja o poder economrcoou qualqu'er outro. Além di~so, foram criados importantes mstrl;!mentos de ação para a cidadaniajunto ao Poder Judiciário, no se~
tido de poder, concretam~n!e, eXI;gir o respeito aos seus d~r~Itos ... Eo caso do mandado de mjunçao,do mandado de segurança coletivo da ação de inconstitucionali-dade por omissão. .
Da mesma forma, conseguimosrealizar a redemocratização d~s
poderes através do restabelecimento d~s prerrogativas do.PoderLegislativo e da eliminação doscontornos autoritários do PoderExecutivo.
Jovanni Masini - Liberalizando, desestatizando a vida econômica. Precisamos fechar as torneiras do desperdício, precisamosacabar com a ineficiência das estatais eliminar a excessiva interferên~ia do estado na economia,causadora de seriíssimos problemas, cujos efeitos danosos caemsobre os ombros de toda a população brasileira. Com exc~ç~o,evidentemente, daqueles privilegiados que estão conseguindo c.onservar os privilégios que ,obtIveram nas últimas décadas. E o casoda tecnoburocracia entronizadano comando das estatais, é o casodaqueles que se be?eficiam da ex:cessiva interferência do Estado, eo caso de setores da própria esquerda que se aliam a es~as forçaspara criar falsas expe~tatIVas, paradepois capitalizar eleItoral!fiente ainsatisfação oriunda do não-atendimento dessas mesmas expectativas. Tudo isto acaba se traduzindo num grande engano, que fará com que o Brasil sofra ai~dapor muitos anos este atra.so cromco, através da perpetua9ao d~ umcapitalismo cartoríal, clientelista esem risco.
Jovanni Masini - Não é comxenofobia e estatização que vamospreservar a soberania nacional,pelo contrário: estamos A aU!llentando o nível de dependência doBrasil com o exterior, estamosperdendo a capacidade de competir de ampliar nosso mercado e,fu~damentalmente, de melhorar onível de vida dos trabalhadores brasileiros e de suas famílias. Não hásoberania na miséria, na minhaopimão o grau de independência,de soberania, de altivez de u~a
nação é revelado, antes de maisnada, pelo nível de bem-estar deque goza um povo. Soberania nacional há de ser entendida comosoberania dos nacionais, dos cidadãos, a quem devem .ser. garantidos a liberdade, a dignidade eo bem-estar.
JC - Os nacionalistas s~sten
tam que a liberdade do capital estrangeiro em nosso país tem representado e continuaria representando uma sangria das nossas riquezas.
Jovanni Masini - Veja, também aqui há um equívoco brutal.A grande sangria é re~li~ada atr!1vés do capital de empréstimo e naodo capital de risco. Não há formade nos desenvolvermos sem novosaportes de capital. A questão, portanto, é saber se o capital virá s<;>ba forma de risco ou de emprestimo. No primeiro caso, o Ô?USé do investidor, e sua subordinação às leis brasileiras po~e ser VIabilizada com sucesso. Ja no casodo capital de empréstimo, aC0I!tece o oposto: o governo e as leisbrasileiras perdem qualque! ~ontrole sobre a evasão de divisas,pois tudo fica sujeito às oscilaçõesdo mercado financeiro internacional. Se fecharmos as portas par~
o capital de risco, só n?s. restaraa trágica via atual: o endividamento.
JC - Na sua opinião, os direitos sociais aprovados representarão uma efetiva melhoria do pa-
Masini: serão aprovados disp~siti-;; inadequados
JC - Como o deputado avaliaas decisões do plenário acerca dospnncipios gerais da "Ordem Econômica?"
Jovanni Masini - Preliminarmente, é preciso assinalar queexiste hoje um c~nsenso 'luas: quemundial quanto a revalonzaç~o dalivre iniciativa, da economia demercado e da cooperação econômica internacional. Os países quetêm adotado tal orientação, inclusive os chamados socialistas têmobtido evidentes vantagens. Infelizmente, o processo constituinteacabou desconsiderando exemplos históricos como os do Japã~,
da Itália e, recentemente, da ChIna e da própria União Soviética.
JC - Como assim?
Jovanni Masini - Acabou prevalecendo, no texto aprovado,uma filosofia xenófoba e estatizante falsamente naciortalista,principalmente na definição daempresa nacional e na partIc~pa
ção de investimentos estrangeirosem nossa economia. As normasaprovadas constituem u~a sinalização negativa para o investidorestrangeiro e isto fatalmente acarretará um desestímulo à entradade capital de risco em nosso país.Perdemos, portanto, a cl~ance deatrair capital e tecnologia, hojeimprescindíveis à retomada do desenvolvimento nacional e conseqüentemente, impresc}ndíveis.àgeração de emprego e a melhonado padrão de vida de nossa gente.O Brasil precisa desesperadamente criar novos empregos, precisamanter o nível de competitividadeinternacional das nossas empresase nada disso vem sendo feito. Comas decisões constitucionais referentes à ordem econômica, ~al
quadro tende, infelizmente, a PIOrar.
JC - Mas as medidas foramaprovadas em nome da soberania
I nacional.
o grau deindependência
e soberaniade uma nação
é reveladopelo nível de
bem-estarde que gozao seu povo
ção de recursos em benefício dosestados e municípios, que terãocondições materiais para atenderàs suas prioridades. Ao mesmotempo ficam menos dependentesdo poder central, eliminando essaobrigatoriedade que hoje existe deprestar vassalagem política, quetem se revelado imensamente insatisfatóna.
Por outro lado, o contribuintebrasileiro, a partir da promulgação da Constituiçã?, .esta~á p~o!egido contra o arbítrio tnbutano,através das limitações ao poder detributar que foram aprovados. Isso terá um efeito econômico saudável, pois o investidor te~ágarantias para efetuar o planejamentode sua atividade, sabendo que asregras de jogo nã~ se!ão alteradasunilateral e autontanamente.
JC - iJ deputado teve umaemenda aprova~a f.!0r unanimidade naquela comtssao.
Jovanni Masini - É verdade.Trata-se de um.disposith:o gue ~ntecipa a vigência dessas limitaçõesao poder de,t~ib?tar, dessas garantias do contribuinte. Como a proposta tributária aprovada alteraem profundidade ~ sist~~a tributário nacional, as disposições transitórias estabelecem que todo o Título VI dedicado à tributação, somente ~ntrará em vigor em 1989,para que haja tempo de modif~c~ras leis complementares e ordinárias necessárias à sua aplicação.Apresentamos uma exceção a taldispositivo, 'para que. as.gar!1ntIasdo contribuinte e as limitações aopoder de tributar entrem em vigorna data da promulgação ~a Constituição e não e~ 1~89, POIS?O co~trário o contribuinte continuariadesprotegido nesse intervalo. ~proposta foi apr~v~da por, ~nammidade na comissao temática e,posteriormente, confirmada pelaSistematização. Temos certeza deque o mesmo acontecerá em plenário.
JC - Quais eram suas expectativas ao iniciar seu primeiro mandato político como deputado federal constituinte?
Jovanni Masini - Quando in~ressei na vida política, em 1986,Já tinha consciência das limitaçõesque a Emenda Constitucional na27, que convocou: a Constituinte,colocaria ao movimento de reordenação jurídica ~o estado brasileiro. Uma Constituinte congressual, sem ruptura com o passado,poderia dar margem a enganos edistorções, era o que pensava desde o início. Apesar dISSO, eu conservava a esperança de que, naelaboração da Constituição, acabariam prevalecendo aquelesprincípios básicos a partir dosquais pudesse ser elaborada umalegislação infraconstrtucional queatendesse a nível de detalhe,questões i~portant~ssimas cujadiscussão não cabena dentro daConstituição. Mas isto não aconteceu. Não partimos de um pr~jeto
básico e sim de 24 anteprojetoselaborados isoladamente e istoconcorreu para que o resultadofosse uma Constituição inchada,analítica, obesa, repleta de dispositivos corporativistas e regionalistas. Tal detalhismo vem impedindo que nos debrucemos adequadamente sobre o significado de cada norma, em razão da exiqüidadedo tempo, pois o Brasil tem pressa. E com isto tudo, fatalmenteserão aprovados dispositivos absurdos e inadequados.
JC - Como foi sua experiênciana Comissão de Sistema Tributário, Orçamento e Finanças?
Jovanni Masini - Foi bastantesatisfatória. As propostas ali surgidas e aprovadas acabaram sendoconfirmadas tanto pela Comissãode Sistematização, como pelo plenário, e representam um grandeavanço. Isto porque partem dopressuposto da necessidade. dedescentralizar recursos e respeitaro contribuinte. A descentralizaçãopermite uma adequada distribui-
As medidas aprovadas n.aOrdem Econômica "constituem uma sinalização negativapara o investidor estrange}ro eisto fatalmente acarretara umdesestímulo à entrada de capital de risco em nosso país". Aargumentação é do constituinte Jovanni Masini (PMDB PR), que vê, no texto acolhidoem plenário, "~ma fll,?sofIa ~e~nófoba e estatízante . MaSInIdestaca emenda de sua autoriaestabelecendo que as garantiasdo contribuinte e as limitaçõesao poder de tributar entrem e~vigor na data de promulgaçaoda nova Carta, também "poisdo contrário o contribuintecontinuaria desprotegido".Ele comenta os pontos queconsidera positivos, como, porexemplo, o restabelecimentodos direitos de cidadania.
10 Jornal da Constituinte
o subsolo.~
e dos brasileirosma agrária?
Eraldo Trindade - Acho que otexto da Comissão de Sistematização está muito bom, quando dizque a reforma agrária deve ocorrer em função do social, quer dizer, em função do interesse social.O Centrão está tentando de todasas formas desmistificar e desorganizar esse texto da Comissão deSistematização, porque acha que,em alguns aspectos, a reformaagrária deve ser realizada de conformidade com a necessidade doEstado. À medida que se tem umaárea produtiva, essa área não podeser usada na condição de se executar o plano de reforma agrária.Acho que o fundamental para estepaís, que tem uma grande faixaterritorial, não é só fazermos a reforma agrária, mas também, nasleis complementares, estabelecermos mecanismos que favoreçam,principalmente, o pequeno agricultor, para que ele permaneça naterra.
Vejo a Constituição como o pri-,meiro passo, mas observo que hánecessidade de se adotar uma política agrícola que vá ao encontrodas necessidades deste país. AChina, com um bilhão de habitantes, nos dá a demonstração do queé ser um país agricultável. Reputoo Brasil uma grande nação, ondea agricultura pode ser viável, mas,na medida em que tivermos aconsciência de que, fundamentalmente; o pequeno agricultor deveter ullf apoio muito grande par~
permanecer no campo. A Constituíção, que já estabeleceu algunsmeca~ismos para isso, precisatambém assegurar que o homemtenha 'no campo, saúde, educação,apoio técnico, financiamento subsidiado e garantia de comercialização ,!deestocagem e escoamentode toda a sua produção.
Dou como exemplo um programa de assentamento que o govenro fez por volta de 1975, ao longoda Transamazônica: foi feito o assentamento de inúmeras famíliasque, posteriormente" tiveram quevender suas terras e retornar aoNordeste, porque não tiveramcondições de produzir; chegou ogrande latifundiário, fez a comprapor preço irrisório e gerou-se, novamente, o latifundiário. Vejo areforma agrária como fundamental, mas, mais importante, é darmos condições para que o homempermaneça na terra.
Hoje, 70% da população brasileira vive nos centros urbanos,porque, na área rural, não há condições de sobrevivência ou permanência. Esse êxodo rural ocorreem decorrência da falta de apoioao homem do campo. Vamos darterra ao homem, mas o estado temque lhe dar condições para produzir, porque, à medida que ele produzir, não será prejudicial ao estado. Pelo contrário, vai ser um elemento de atuação produtiva parao próprio estado. Vejo o primeiropasso agora, em que estamos discutindo as disposições permanentes da Constituição, mas, posteriormente, precisamos tambémestabelecer, nas "DisposiçõesTransitórias" e nas leis complementares, pontos fundamentaispara que o homem tenha a terra,mas que também permaneça naterra, sem trazer graves problemaspara o próprio governo nas grandes cidades.
que serão necessários 280 votospara se colocar abaixo essa proposta. A maioria dos constituintesé favorável à transformação dosterritórios em estados, basta apenas que ratifiquemos em plenárioaquilo que foi definido na Comissão de Sistematização, para queos territórios realmente sejamtransformados em estados.
JC- Como analisa a questãoindígena no país?
Eraldo Trindade - A questãomdígena é muito complexa porqueainda não se adotou uma políticaque possa não só preservar a etniaindígena como também dar a essespovos uma condição de sobrevivência. A civilização avança. A região amazônica hoje vem sendodevastada pelo progresso indiscriminado e vejo que a Umão temque tomar providências para preservar as raças indígenas. Relativamente a esse assunto, apresentei um destaque ao art. 26 das"Disposições Transitórias", cujotexto diz que o poder público faráno prazo de cinco anos, a partirda promulgação da Constituição,a demarcação das terras ocupadaspelos índios.
Na emenda do Centrão, vemosque a União concluirá dentro decmco anos, o que significa cincoanos após a promulgação da Constituição, e ISSO vai ser altamenteprejudicial para as raças indígenas. Acho que essa demarcaçãodeve ocorrer logo após a promulgação da Constituição, para quetenhamos então preservadas as riquezas naturais do solo e do subsolo das terras indígenas, a fim deque os índios possam ter a segurança de sobrevivência no seumeio natural, e a civilização nãocontribua para a destruição dessasraças, que representam tanto rarao Brasil, não só em termos históricos como também étnicos. Achoisso fundamental.
No plenário da Assembléia Nacional Constituinte já existe umaconscientização dessa política depreservação de toda uma raça oude raças, que são de grande importância para este país.
JC- Qual a sua visão da refor-
É O momentopara os
territóriosserem
emancipadose terem uma
linha degovenro
condizentecoma
realidaderegional
que depender de Brasília.Já vejo os territórios como o do
Amapá e Roraima alcançandoaquilo que poderia qualificar como a maturidade para conseguira sua emancipação. Território éuma figura esdrúxula. Essa é a minha colocação e vejo que é o momento de a Constituinte dar aosterritórios federais a sua emancipação para que eles possam obedecer a uma lmha de governo, queseja condizente com a realidaderegional. Os governadores, quevão para os territórios, apenascumprem uma diretriz estabelecida pelo Ministério do Interior eque muitas vezes é incompatívelcom a realidade regional.
Os territórios têm grandes potencialidades, têm grandes riquezas que estão se perdendo pelo fato de não terem autonomia administrativa. Vejo que a hora se faznecessária de se dar autonomiaaos territórios. Pelo que já foi explicitado no texto da Comissão deSistematização, evidentemente
ADIRPlBenedlta Passos
surgiram inúmeras manifestaçõesde vários segmentos da sociedade,que defendiam e continuam defendendo as multinacionais nosentido de que a nacionalizaçãodo subsolo representa um retrocesso na política econômica doBrasil, com o que não concordo.
Por exemplo, a Petrobrás,quando foi criada, chegou a sermotivo de um comentário idêntico, ou seja, o Brasil Iria ter problemas na prospecção e na exploração de petróleo, uma vez que nãotínhamos tecnologia avançada enão tínhamos também os recursosnecessános para implementarmosum trabalho nessa área. No entanto, aí está a Petrobrás dando umademonstração de que temos tecnologia e podemos realizar um trabalho de grande eficácia nesseprocesso. Então, se temos a matéria-prima e o mercado livre paracomercializá-la, é só uma questãode aprimorarmos também a nossatecnologia, para que a exploraçãodos recursos minerais seja feitadentro do interesse nacional, conforme prevê o .texto do Projetode Constituição, principalmente,agora, que a Constituição estabeleceu também que o subsolo pertence à União, que os estados emumcípios terão direito a royaltiesna exploração dos recursos minerais, como também terão direitode cobrar impostos sobre a exploração e exportação das riquezasminerais.
JC- E a luta pela transformação dos territórios em estados?
Eraldo Trindade - Os territórios foram criados em 1944atravésde um decreto do então presidenteGetúlio Vargas. De lá para cáeles têm-se mantido na condiçãode colônias da União. O Amapá,hoje, tem aproximadamente 300mil habitantes, segundo o últimocenso realizado. Está preso comouma autarquia ao Mmistério doInterior, onde um programa administrativo, um programa de trabalho de governo está tolhendo o desenvolvimento regional, porquetudo está centralizado em Brasília.Toda e qualquer determinação,aplicação de governo, que porventura o Executivo queira fazer, tem
~_.~
Trindade: as riquezasdos territórios se perdem pela falta de autonomia administrativa
o constituinte Eraldo Trindade (PFL - AP) acreditava,desde o início dos trabalhos daANC, que uma das maioresconquistas seria a nacionalização do subsolo brasileiro, jáque "isso iria extirpar a participação, diria de certa formaperniciosa, das multinacionais". Com a vitória da tese,em plenário, Trindade frisaque "os estados e municípiosterão direito a royalties na exploração de recursos minerais,como também terão direito decobrar impostos sobre a exploração e exportação de riquezasminerais". Eraldo Trindadedefende também a transformação dos atuais territórios emestados, a sobrevivência dosíndios no seu meio natural e,ainda, uma reforma agrária aser realizada em função do interesse social.
JC- Deputado, a AssembléiaNacional Constuuinte votou, agora, a nacionalização do subsolo.O que tem a dizer sobre o assunto?
Eraldo Trindade - Acho quefoi um grande avanço, até porque,ao longo dos últimos tempos, observamos que o Brasil sempre foium país de grande influência docapital estrangeiro e onde as multinacionais sempre exerceram ummonopólio muito grande. Desdeque cheguei à Assembléia Nacional Constituinte, procurei fazerpronunciamentos tentando conscientizar todo o plenário da necessidade que tínhamos de nacionalizar o subsolo. Isso iria extirpara participação, diria de certa forma perniciosa, das multinacionais.Ora, isso se angina exatamente daConstituição de 67, que explicitano capítulo da "Ordem Econômica" que as concessões de pesquisae lavra devem ser dadas a brasileiros ou a organizações constituídas no Brasil.
Nisso abrimos um precedentemuito grande para que as multinacionais detenham o monopólio,principalmente na região amazônica, onde o Departamento Nacional de Produção Mineral, queé o orgão central que deveria nãosó dar as concessões, mas tambémfiscalizá-las, não tem uma estrutura capaz para exercer essa fiscalização. Os estados e municípios,que também não têm essa competência, Já que ela pertence àUnião, ficam alheios ao processoe com isso temos o contrabandoacentuado das riquezas mineraisem detrimento da soberania nacional.
Baseados nesses pontos, queentendo fundamentais, começamos a lutar pela nacionalização dosubsolo. Procurei, agora, nesta fase de votação em plenário, quandosão necessários 280 votos para seaprovar qualquer proposta, apresentar o Destaque n° 1.205, quepropugnava pela manutenção dotexto. Conseguimos, após o destaque em separado de alguns constituintes para a votação do § 3°, realmente a nacionalização do subsolo, porque lutei pela manutençãodo texto da Comissão de Sistematização. O Centrão queria apenase nacionalização nas áreas de fronteira em terras indígenas. mashouve, ao final, uma conscientização muito grande. Logo após
Jornal da Constituinte 11
I
Cunha quereleger logo
o presidente
ADIRPlWl1ham Prescott
Bocayuva: parlamentarismo seria o engodo da população.
dizer, vai ter nas grandes cidades,sobretudo no Rio de Janeiro, emSão Paulo, nas grandes favelas nãosó dessas cidades, mas nas de todoo Brasil, um sentido social muitogrande, além de acabar com a exploração dos falsos aluguéis etc,para fixar o homem naquela propriedade, fazer com que ele lute.Foi uma medida, inclusive, capitalista, porque faz com que aquelecidadão passe a ser um proprietário.
JC - Parece que o deputado está preocupado com a demora dostrabalhos da Constituinte.
Bocayuva Cunha - Sim, achoque o país está parado. Estamosnuma situação terrivelmentecruel. As nossas elites são insensíveis, são muito cruéis, injustas, eo nosso povão está sofrendo comonunca. Essa indefinição faz comque os investimentos fiquem absolutamente parados. Quem vai investir sem saber o que pensa umGoverno que não tem legitimidade, com uma inflação que é assumida pelos órgãos do Ministérioda Fazenda e pela direção das finanças nacionais de 600% ao ano,quem é que vai investir quandose bota na Caixa Econômica equalquer poupança - não só dopequeno poupador, mas do grande poupador - rende mais de20% ao mês? Isso é impossível,não há país que possa resistir aesse tipo de COIsas. E para sair desse impasse só um governo legítimoque tenha autoridade e que tenhao respaldo popular, que é o queespero venhamos a ter muito embreve.
JC - Como o deputado analisaa presença do Estado na economia?
Bocayuva Cunha - Acho quehá muito jogo de palavras, muitasemântica, porql;le todos nós estamos a favor de que o Estado deveter um papel normativo, não devecompetir com as empresas privadas. Todos nós queremos isso.Não é possível é que o Estado useaquilo que o Santiago Dantas chamava de a privatização do lucroe a socialização do prejuízo. Já nosanos 60, o velho Santiago Dantas,nosso companheiro de partido, jádizia que essa é a tendência docapitalismo brasileiro, que é umcapitalismo absolutamente, comraríssimas exceções, fajuto. Se elefoi construído às custas ou de reserva de mercado ou do BNDES,de juros favorecidos, todos os setores são cartelizados, os grandessetores da economia brasileira, daindústria brasileira são cartelizados, como o caso do cimento, ocaso da indústria naval, o caso daindústria automobilística, seja noestrangeiro, seja no nacional a indiistria brasileira é toda cartelizada. E uma economia falsa.
Esse dilema de privatização eestatização é um falso dilema.Ainda agora estamos vendo queo Governo pretende fazer a vendadas ações de uma das empresasmais lucrativas do mundo, que éa Aracruz, e, entretanto, fica arcando com outras que dão prejuízo. Por que dão prejuízo? Muitasdelas dão prejuízo porque têmpreços adrmnistrados pelo Estado,que não são convenientes à saúdeda empresa. E como é que v.amosprivatizar siderúrgicas que hojeestão nas mãos do Estado, se opreço é fixado pelo Estado? Comesse preço fixado pelo Estado euacho que dá prejuízo, não tem sentido. Portanto, esse é um falso dilema, que tem que ser muito bemdebatido, muito bem estudado.
grandes avanços na ordem social,nos direitos dos trabalhadores, naordem econômica, e ainda com relação ao problema das mineraçõese dos contratos de risco. Tivemosalgumas vitórias importantes. Éaquilo que chamo de o Brasil comprometido com o futuro e não como atraso ou com o status quo. Tivemos grandes avanços.
JC - Leonel Brizola diz queuma eleição solteira para ele é maisfácil.
Bocayuva Cunha - Isso não hádúvida. Não estou olhando parao PDT, porque, para esse partido,uma eleição em 1989, visando àvitória do Brizola, seria muitomais fácil, pois é um partido pequeno, contém estrutura do partido nos municípios. Se tivéssemospensando em termos partidáriosquereríamos eleições somente noano que vem. Mas não estamospensando assim, estamos pensando no país. O país não agüentatanta indefinição, essa transitoriedade, essa falta de autoridade, quenão é culpa do presidente Sarney,é culpa da situação em que ele secoloca, a ilegitimidade do seu Governo, por não ter sido eleito pelopovo. Só realmente um governoque tenha confiança popular, quetenha sido eleito pelo povo, poderfazer aquelas reformas pelas quaisnós trabalhistas vimos lutandodesde 1964, a chamada reformade base do presidente João Goulart, que hoje, mais do que nunca,é absolutamente indispensável.
Vamos tentar na Constituiçãofazer algo em prol da reformaagrária, como já fizemos algo extremamente positivo em termosde reforma urbana. Essa medidaque foi aprovada de dar o direitode propriedade a quem tem a posse de um terreno nas regiões urbanas de até 250m2 e não seja proprietário de outro imóvel em zonaurbana nem em zona rural é algosocialmente justo e humano, quer
Temos de tereleições
diretas parapresidente daRepública omais brevepossível. É
a posição deolhar o
interesse doBrasil e doseu povo
senadores e do presidente da República, da mesma forma que dogovernador de estado com a assembléia legislativa, do prefeitocom a câmara municipal, a democracia não se consolida. O tempopolítico em que é eleito o Presidente da República tem de ser omesmo tempo político em que éeleito o Congresso com o qual elevai governar. E muito importanteque seja assim, mesmo num regime presidencialista. No regimeparlamentarista nem se fala, masno presidencialismo isso é fundamental. Esse foi, na minha opinião, um grave erro que se cometeu na nova Constituição. O paíspagará por isso.
Agora, reconheço que houve
JC - Não acredita que a aprovação dos cinco anos para os futuros presidentes dificulta a aprovação dos quatro anos para o presidente José Sarney?
Bocayuva Cunha - Acreditoque foi um empecilho e votamoscontra os cinco anos porque achamos que quatro anos com reeleição seria o ideal. Inclusive essareeleição seria permitida até parao presidente José Sarney; depoisde quatro anos seria candidato areeleição. Acho que as contradições do grupamento que aparentou ser majoritário, e que foi majoritário nesse caso da aprovaçãodo mandato de cinco anos, queé o chamado Centrão, acabou coma ordem econômica, quer dizer,acho que as contradições entre osmembros do Centrão fazem crerque podemos ter esperanças, paranão dizer quase que uma certeza,quanto à maioria para rejeitar osubstitutivo do Centrão, que nãofala em prazo. E, rejeitando osubstitutivo do Centrão, aprovaro projeto da Comissão de Sistematização, que dá exatamente quatroanos nas disposições transitórias.
JC - Em um ano e quatro me.'ses, praticamente, de trabalho, quebalanço faz da Constituinte?
Bocayuva Cunha - Acho queesta Constituinte cometeu algunserros, como o de não ter aprovadoas eleições diretas imediatamenteapós a promulgação do texto constitucional, com a extinção dos nossos mandatos. No Brasil, enquanto não houver uma sintonia entreos mandatos dos deputados, dos
-perrenêIã?
Bocayuva Cunha - Não. Oparlamentarismo seria o engododa população. Estamos ansiosospara votar para presidente da República. Pode ser que o parlamentarismo venha a ser um regime aser adotado no futuro, daqui a 20anos, mas no momento não estamos preparados para isso. Estamos saindo de uma transição longae precisamos de um presidente daRepública que tenha o poder defato, que não seja umengodo, quenão seja um presidente da República falso, que vá para a praçapública, obtenha o voto de 40 ou'50 milhões de brasileiros, que éo que vai ocorrer no segundo turno, e depois não tenha poder algum para resolver aquilo que prometeu também em praça pública.Seria algo funesto, que felizmenteestá afastado definitivamente.
Temos de ter eleições diretaspara Presidente da República omais breve possível. Isso não é nenhum sentimento anti-Sarney.Não me move hostilidade algumapara com o presidente Sarney, é'uma pessoa com a qual até mantenho boas relações pessoais. Essarealmente é a posição de olhar ointeresse do Brasil e do povo brasileiro.
JC - A Constituinte aprovou opresidencialismo com mandato decinco anos para os futuros presidentes. E com relação ao mandatodo presidente José Sarney?, Bocayuva Cunha - A posiçãodo PDT é clara e objetiva. Achamos, inclusive - e fomos derrotados nisso -, que a eleição parapresidente da República deveriadar-se num prazo o mais curto possível depois da promulgação danova Constituição. Não só de presidente da República. Apresenteiuma emenda desde a Subcomissãodo Poder Legislativo, da qual fuipresidente, que obrigava que essaseleições se dessem também paradeputados' e senadores. Acho quea plenitude democrática no paíssó viria com a eleição de novosdeputados e senadores, quer dizer, os nossos mandatos extinguirse-iam com as posses dos novosdeputados e senadores, e com aposse do novo presidente da República, que deveria ser, no máximo, em 90 ou 120 dias após a promulgação da Constituição.
Como essa hipótese não existemais, fomos derrotados, e inclusive porque fixou-se o prazo domandato dos deputados e senadores. E o do presidente, o qual desejamos que seja de quatro anos,essa emenda caiu, não teve maischance. Agora, temos o dever delutar por aquilo que é o mal menor, ou seja, a aprovação, no capítulo referente às disposições transitórias, do mandato do presidenteSarney de quatro anos, quer dizer,que em 10 de janeiro de 1989 tenhamos um novo presidente daRepública empossado, eleito pelovoto da maioria dos cidadãos donosso país, em dois turnos, comomanda o figurino de hoje. Achamos que isso é fundamental.
JC - Não caberia no nosso paíshoje o parlamentarismo como ex-
o constituinte BocayuvaCunha (PDT - RJ) resume asua posição e de seu partido:eleição para presidente da República no prazo mais curtopossível após a promulgaçãoda nova Carta. E mais: "Sórealmente um governo que tenha sido eleito pelo povo podefazer aquelas reformas pelasquais nós trabalhistas vimoslutando desde 1964, a chamadareforma de base do presidenteJoão Goulart". Ele reconheceque há avanços no atual pro-
, jeto de Constituição, principalmente na ordem social, nos direitos dos trabalhadores, na ordem econômica e na área demineração e de contratos deriscos: "Tivemos algumas vitórias importantes. E aquilo quechamo de o Brasil comprometido com o futuro e não como atraso ou com o status quo" .
12 Jornal da Constituinte
•
Aposentadoriasó após 55
anos na luta
ADIRPlWtlliam Prescott
Roberto Balestra: a favor de uma reformaagrária com infra-estrutura
polêmicos e que são necessáriosa cada município brasileiro, através da mudança da base, que éfundamental para as mudanças futuras. ,
A prova está aí, quando fizemosuma mudança de cima para baixo,através da Aliança Democrática,através da eleição de Tancredo eSarney etc., e o resultado foi o maisfunesto possível, isto é, o Brasilestá parado, está regredindo, porque não houve a concordância dasbases, e, em se fazendo essa eleição, leremos uma preparação paraque, em 1990, tenhamos eleitosgovernadores identificados com asbases, com os municípios, e mais,é a oportunidade que daremos aoshomens de bem - e deve ficarclaro aqui que homens de bem nãosão aqueles que têm posses, os ricos, mas sim o homem bem intencionado, aquele que realmentetrabalha em favor da comunidade- de participar do processo político brasileiro, pois uma das maiores razões do nosso naufrágio político, da nossa desgraça pólíficabrasileira, está exatamente na ausência de homens de bem na política de base ou na política dos municípios. E esta. será a oportunidade.
JC - Como vai ficar o quadropartidário após a promulgação danova Carta?
Roberto Balestra - Acreditoque o PDC será o partido que terámais chances a médio prazo no cenário político brasileiro. E a provadisso é que, independente de terespaço na imprensa, independente de ter recursos suficientes paraque as nossas lideranças possamatuar em outros estados, trabalhando ativamente, a exemplo deoutros partidos que contam comapoio e recursos de empresas e deempresários, temos conseguidocrescer apenas dentro da sigla, quepor ser uma sigla leve, uma siglaque, no passado, representou muito para o Brasil, por ser uma siglaque tem um comportamento euma presença muito grande no cenário internacional, definindo governos, como na Alemanha, naItália e em outros países do mundoe que aqui no Brasil fundamentalmente, graças ao trabalho intenso dos constituintes - cincodeputados e um senador - consegurmos, na proporção do nossopartido, ser o partido que maisapresentou emendas e que maisaprovou emendas dentro da Constituinte. Isso levou um novo alentoàqueles brasileiros que queremum partido de centro, um partidoque defende a iniciativa privada,que não tem mácula e que, atéhoje, não teve nenhum desgasteque pudesse denegrir a sua imagem. Essa é a nossa posição. OPDC será, a curto prazo, um grande partido, haja vista que já temosgovernador de estado que fez essaopção, sem nenhum trabalho denossa parte, trazendo consigo dezdeputados e diversos prefeitos.Temos recebido adesões de prefeitos, dos mais proeminentes, do estado de São Paulo, de municípiosimportantes. Vamos disputar a eleição em 22 estados brasileiros além daquilo que tínhamos necessidade (seriam nove estados para registrar definitivamente o partido),fizemos convenção em 22 estadose já temos deputados estaduais evereadores em todos os estados brasileiros. Apenas por ser uma siglaleve e desvinculada de qualquergrupo que possa prejudicá-la e como trabalho - como já disse - dosconstituintes a nível de Constituinte.
JC - É também favorável à manutenção do calendário eleitoraldeste ano, com eleições para prefeito e vereador?
Roberto Balestra - Sou favorável. Acho que é uma necessidade,primeiro, porque todos os prefeitos que estão investidos no cargoforam eleitos para seis anos, e fazer essa prorrogação de última hora, acho que, primeiramente, seriatrair o povo e, depois, seria atribuir uma competência a quem jáestá mais do que cansado no exercício da sua função e que se preparou para ficar seis anos; segundo,porque há necessidade dessa mudança, pois houve uma Constituinte, houve um debate a respeitoda Constituição brasileira e, conseqüentemente, de toda a sociedade em torno de pontos que são
JC - O senhor é favorável àcriação do estado do Tocantins?
Roberto Balestra - Sou a favornão apenas da criação do estado,mas de todos aqueles descontentesque provarem, através de um plebiscito, que a maioria absoluta deseja a divisão do estado, como éo caso de Goiás, do estado doTriângulo, e de outros territóriosque estão-se transformando emestado. Se o plebiscito demonstraressa vontade, que ela seja feita,porque através do plebiscito vai-selevar à população todas as implicações da divisão, as dificuldadesque o novo estado sofrerá, etc. E,se dentro de tudo isso ele aindaquiser e demonstrar, através dovoto, não vejo por que ser contra.
Entendia que devíamos ter umprocesso de divisão territorial noBrasil mais coerente, mais estudado, que trouxesse uma solução definitiva para o problema e que nãopartisse apenas da vontade isoladade alguns elementos ou de algumas regiões do Brasil, mas quefosse uma divisão territorial necessária à altura do Brasil de hoje. Éo que imagino.
to drástico. Não diria em detenninados segmentos mas, sobretudo,em determinados estados que nãotêm o mesmo potencial de SãoPaulo, do Rio, dos estados maisavançados. Será um problema para os estados de fronteira comoGoiás, Rondônia, Mato Grosso,Pará e outros, mas teremos quenos ajustar a isso.
JC - Qual a sua visão sobre oproblema da reforma agrária?
Roberto Balestra - Acho que areforma é exatamente a que todobrasileiro deseja. Ao contrário, àsvezes, de algumas afirmações,principalmente dos partidos de esquerda, de que alguns de nós constitumtes não queremos a reformaagrária. Muito pelo contrário,queremos a reforma agrária e jáa defendemos há alguns anos, masnão queremos uma reforma purae simplesmente de distribuição deterras. Queremos uma reformaagrária racional, de tal maneiraque o homem que vá lavrar a terratenha todas as condições para tal.
Não adianta levarmos, a exemplo do que está ocorrendo agora,o assentado para a propriedade,dar-lhe apenas a terra e não lhecolocar à disposição os mecanismos indispensáveis para a execução da sua tarefa. Quandoisso está ocorrendo aqui no Brasil - esomos testemunhas de que no meuEstado, Goiás, de cada assentado,dois deixam a propriedade. Quando se assenta um, uma família ouduas voltam do campo para a cidade, exatamente pela falta de condições para se desenvolver. Creioque já há um grande avanço, nessesentido, em tudo que já foi aprovado até hoje. Resta agora apenaschegarmos a um entendimento final para que ela possa se viabilizar, atendendo a todos os segmentos, a todos os interessados:governo, direita, esquerda, centroe ao povo brasileiro como um todo. E isso o que esperamos.
Onde houveraprovação por
plebiscitodeve ser
promovidaa divisão
territorialdos Estados
aposentar com dez salários, secontribuiu com 20, precisa se aposentar com 20. Por quê? Exatamente porque durante toda a suaexistência ele teve um padrão devida e precisa terminar os seus diasmantendo o mesmo padrão. Esseé nosso entendimento e parece sero entendimento da maioria dosconstituintes. Se isso for aprovado, creio que terei realizado omaior trabalho político da minhavida e me considerarei realizado,aqui na Constituinte.
JC - A propósito da questãodos aposentados, qual a sua opinião sobre os avanços atingidos naárea social?
Roberto Balestra - É lógicoque não conseguimos tudo aquiloque era a principal reivindicação1:le determinados segmentos da sociedade, mas entendo que a Constituinte não será o máximo paratodos, mas será a média que pudermos alcançar porque, se existem segmentos que querem o máximo -por exemplo, os trabalhadores solicitaram uma posição de,digamos, 40horas semanais de trabalho e aposentadoria aos trintaanos, e por aí afora. Todavia, existem os empregadores que acharam que seria um absurdo até 44horas, porque estão querendo retirar do texto as 44 horas.
De qualquer maneira, acho quefoi um avanço descer de 48 para44, muito embora, particularmente, entenda que o texto deveriaapenas jogar para a lei a discussãoe que acho uma temeridade a jornada de trabalho fazer parte dotexto constitucional. Devemosdeixar para a negociação, esse seria o grande avanço. Mas, se jáfoi votado, tudo bem. Precisamosentender que esses avanços sociaistrarão um certo embaraço até asua implementação, até a sua plena colocação em prática no Brasilcomo um todo, exatamente porque todos esses avanços vieram deuma só vez. Teremos que fazerum ajuste, talvez ele seja até mui-
o constituinte Roberto Balestra (PDC - GO), comentauma gama variada de assuntosnesta entrevista ao JC. Faz, deinício, uma observação importante e que passa desapercebida para quem habita as cidades: o trabalhador rural, de fato, se aposenta em média após55 anos de serviço, pois começa, em média, aos dez anos,e a Lei atual só lhe concedeum provento irrisório aos 65anos. Balestra quer alterar essequadro, sendo favorável, também, a uma reforma agráriaque assegure aos novos proprietários os meios de cultivara terra. Com relação aos problemas de sua região, é favorável à criação do Estado do Tocantins, que surgiria com umdesmembramento do Norte doEstado de Goiás.
JC - Como vê a questão doaposentado no país?
Roberto Balestra - Entendoque o maior débito que a sociedade brasileira tem é para com oaposentado, principalmente comaquele aposentado pelo Funrural,porque ele já sofre uma injustiçacom o tempo de serviço. Primeiro,porque ele inicia seu trabalho normalmente aos dez anos e só vaiser aposentado aos 65 anos de idade. Quer dizer, ele trabalha 55 para se aposentar. E uma injustiça.Enquanto que o trabalhador urbano se aposenta aos 30,35,25, como é o caso das professoras. Segundo, que ele é exatamente o cidadão brasileiro que menos aproveita do progresso do País e quemais contribui para que ele ocorra.
Todas as regiões de fronteirasão desbravadas exatamente poresse pessoal, exatamente os que.não têm acesso à escola, à saúde,ao lazer, à moradia digna, que nãotem uma alimentação sadia e quenão goza do direito a um lazersadio. Esse mesmo pessoal recebe, como aposentadoria, a metadedo saláno mínimo. Se há injustiça,essa é a maior, é a mais gritante.E é exatamente sobre isso que estamos tentando aprovar, na Constiturção, uma emenda que reduzaprimeiro o tempo de aposentadoria para o trabalhador rural; segundo, que dê a ele a condiçãomínima de vida, uma condiçãodigna com uma aposentadoria àaltura. Minha proposta é de pelomenos dois salános mínimos, oque é ainda irrisório, mas que écompatível com as possibilidadesdo-Governo.
Então, se conseguirmos reduziros 65 anos para 60 já avançados;se conseguirmos um mínimo dedois salános pagos ao trabalhadorrural, já avançamos. E, para todosos trabalhadores e aposentados doBrasil, queremos uma aposentadoria integral. Se ele contribuiucom dez salários, ele precisa se
Jornal da Constituinte 13
Vida
Reforma
Em--0.3-de,-""mau'(LO__do 19Jil:S-
ConstituiçãoJusta
Srs. Constituintes,Que se faça uma reforma tribu
tária que permita a aplicação demaiores recursos nos municípios,aperfeiçoando-se o sistema de arrecadação de tributos e a orgamzação de uma estrutura administrativa marcada pelo dinamismoe pela seriedade, (... )
Prudência VerissimoNova Iguaçu - RI
Srs. Constituintes,Que a nova Constituiçâo seja
justa e não injusta, que gere maisempregos, pois em nosso país existem muitas pessoas necessitandotrabalhar. Que os colégios estaduais e municipais tenham maisrecursos didáticos e que surja umnovo método de aprendizagem capaz de satisfazer melhor às necessidades da população. (... )
Francisco da Silva OliveiraCeará-Mirim - RN
Os Sra. sabem o que e uma Colõn1a t
Através 110 presente, acabexãeaca '
Emoa.. Sra. üonat.Ltu m teae
Atenc>osam~1nI__
LUIZ I1EM],;~RAOJOFlLHO= PRESIDENTh =
Srs. Constituintes,O homem está destruindo a si
mesmo e a natureza. Será um suicídio inconsciente da raça humana? Autodestruição? Não queroidiotamente desaparecer sob umcogumelo atômico ou de qualqueroutra forma.
Gelson Luiz AnghinoniMarinho- RS
Reccrl1ecldo pe'c "" T I C. em 12-10 jQ51
CeM BASE TEfiRITCFIAL "'('5 MLN!ClpIOS DE SÃO VICENTE E GUARUJÁ
S A N TOSSede Av AlmIrante ~.'dlnhe da Gama, 183 Alto. _ Ponta da PraIa
SINDICATO DOS PESCADORES DE SANTOS
Aeeuntc
Do Pr-eaadenüe do Sandic ano dos Pescadores de Santos.
Ao Flrao; Sr. Redator do "JORNAL DA VONSTlTUlli'Th".
de sugerir que:
3.-
1.- Refil.tam melhor sobre tudo o que'
vem sendo aprovado, r-efe r-enue à quesrtao ainmcej, ..
2..- Sendo uma Const~tu~çao, que os
Sra. alegam ser Democz-a'ta.ca e Progress~s'ta. como pode haver ampc-,
ea.çoea doa Sra.. aOB pescadores proraaaaonaaav
de pe scedor-ea?
4..- Qual a sua dinãmlca aocaa'L?
5..- Vamos mostrar aos Sra. o que é '
uma Colônia de pescadores, para que náo ve aaeoa na nossa. conata-,
'tuaçac uma 1mpOSlçao que teremos que amargar por longos anos.. E'
que nao contaauemos a ter em nosso meao , pelegos e entreguJ.Blias..
6._ Chega de drapoaãçceat ! I
7.- E onde t í ca a Ilna.cadade Sl.ndl.CaL,
se for apr-ovado realmente o paragra:f'o ee Cio artJ.BQ 9º do SUDStl
tutivo da coeueeao de SJ.stenratJ.zaçao?
No aguardo de ver pub'Lacado este'
alerta em favor dos pescadores pr-ofaasa onaa.s , apresento rmnhae '
corõaaaa aaudaçoea,
sabemos que o Oriente Médio,maior exportador de petróleo parao Brasil, pOSSUI solos inférteis, nãoproduzindo alimentos para o seuconsumo interno.
Cícero de BarrosBragança - PA
lTatal, 26 de abril de 1988.
WJ11S \ 2t--t Ih
ProdutosAgropecuários
senhores Constituintes:
Venho através da presente, para erigir dos SRa.Constituintes mais trabalho em prol da população, poislembro aos Srs. que foram eleitos pelo voto de cada pessoa, para que sejam representantes dos !!!eus direitos, pe
ço aos Srs. uma reflexão sobre 03 (três) assuntos:01. SAIb.:ro :M:fij'DKl - Os Srs. acham digno um homem receberesse salário quando ele trabalho duro 08 horas por dia oumais, será. que ele conseguirá. sobreviver com sua fam!lia'quando tudo que precisamos para. sobreviver-mos tem aumento à cada dia. t hUIhilhante receber-mos esse m.! de7.260,00 quando o' nossQ pals tem COlIDIÇClE:S de pagar um salário
mais DlaNO.02. SEGURAliÇA - Peço aos Srs. que incluem na Constitu:Wte uma. lei de Pena de morte e que não fique só na teorianos casos de: estrupo, sequestro e assassinato, acho quese a lei entrar em vo:bação ,e for aprovada isso mudará. emnosso pals, não é' justo um assassino prejudicar outirar a vida de uma. pessoa de bem, sem que esse se ja pu
nido pela IEI.03. PP.:ES1DIO - Peço aos Srs. que incluem na ConstituinteUI:Ia lei que abrigue o detento a cumprir sua pena, trabalhando duro 08 horas por dia, assim evitaria aglomeraçõese rebeliões nos pres!dios, assim. -os detentos não texiamtempo para pensarem em FUGIR e pega.:rem mais mIMAS e otrabalho os ajudariam a sentir um pouco de responsabilidade e talvez mudasse a vida de AlJJUN'S na reentegt'ação 'domndo real.AtenciosalOOnte,
Srs. Constitumtes,Com a reforma econômica do
Governo federal, sena louvávelque a Constituinte analisasse aspectos que dizem respeito à entrada de capital estrangeiro em nossopaís, e que se tomassem medidas,tais como: Todos os valores emmoedas, com especialidade o dólar, não fossem negociados livremente, pois para tal ficariam obrigados todos os turistas a fazerema respectiva troca de valores nosbancos credenciados pelo Governo federal, pois a nossa inflaçãogalopante foi fruto de dinheirosestrangeiros correndo por cima denossa fraca moeda.
Eliude Alves CostaPresidente Dutra - MA
Srs. Constitumtes,Gostaria de sugerir que fosse
questionado um programa especial voltado para a política de exportação de produtos agropecuários, pois quando o país produz,princrpalmente grãos, em quantidades elevadas, ocorre a superestocagem em armazéns sem condições de receber tais produtos, eo resultado é a perda parcial desses produtos. Deveríamos também negociar a troca, pois bem
CapitalEstrangeiro
nado a este setor na agriculturaou outro setor produtivo, pois sendo o Brasil eminentemente cristão, pregando a paz e a fraternidade, não poderá continuar a dizimar vidas com armas fabricadascom o suor e tecnologias próprias.
Luiz Antônio SilveiraIporã- GO
em que vivemos e ser livre de qualquer interferência de seitas religiosas. (... ).
Dario Luiz MaselliTrês Pontas - M G
Srs. Constituintes,Gostana imensamente que se
analisasse o problema da fabricação de armas para exportação, queé resultado do regime militar, graças a Deus já superado. Que seprocure aplicar o dinheiro desti-
Espaços. .iguais
Fabricaçãode armas
Srs. Constituintes,Sugiro que se acabe com os de
cretos-leis. Fim da censura em termos de proibição da exibição defilmes, peças e livros, etc. Devehaver apenas a determinação deuma idade limite. Quem quiser assistir, quem quiser olhar, olhe.(... ) Mudança da lei de propaganda eleitoral. Todos os partidos devem ter espaços iguais na televisão, rádio e outros meios de comunicação; proibiçâo de campanhasnos muros e de distribuição depanfletos. Contra a privatizaçãodas empreas estatais. (... )
Marcos da Costa PereiraSão José dos Campos - SP
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Direitoshumanos
A Constituinte entrou em sua últimaetapa, a da votação do projeto deConstituição pelo plenário. Desdeo início a sociedade participou eopinou, por todos os meios. E ainda étempo de contribuir. Escreva a suacarta, dizendo o que você pensa e quer.
Aill))réa(A&)• 25 de ab:ru. de 1988
Novaspossibilidades
direi toa V9lllJo Pelalidade das escolas .Part~c Jlresente 80licitlU'\
e, o qUe est' Ulares elll Cob -lbes qUe e .aCesao d a OCasiOl1and (tOar a seu ' stigSlll Os
Os alUno • o Ullla critS(t'ia as escolas grSl:lde cel6Ullla o as llleusa-r..' e dit'icUlt
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sao rePresentSl:lt sam alimentar e o assim melhorea, Sse nosso llrasil es I
Pela JUs""" Meus seradeci~ t ' de qUeU"'~a e isual -e11 Os
dade de tod SOs consti'ttúnSem lllai Os. tes qUe lutam
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Srs. Constituintes,A próxima Constrtuição deve
rá, entre outros temas, tratar dareforma agrária, preservando, porém, as terras produtivas; reformatributária de modo que a Uniãonão detenha para si os ganhos dosestados e municípios; maior autonomia para os estados e municípios; garantia dos direitos humanos de cada cidadão; menor interferência do Estado na economiaprivada; preservação de nossos recursos naturais e proteção aos indígenas, sua cultura e suas propriedades, sem paternalismo .porparte do Estado. (... )
Antônio Carlos Santos CardosoFortaleza - CE
Srs. Constituintes,Que a nova Constituição possi
bilite a atualização do Código Penal, garantindo a maioridade aos14 anos. Pena de morte para osassassinos reincidentes em qualquer tipo de crime. Trabalho forçado para os criminosos primários. Patrulhamento constante pela FAB das rotas de contrabando,onde se esvaem o nosso ouro epedras preciosas. (... ) Acho quea nova Constituição deve refletira verdade científica do momento
14 Jornal da Constituinte
AIDS, uma questão política
Acima um esquema do HIV, o vírus fatal da AIDS. Ele já infectou la milhões de pessoas em todo o mundo
Lair: 500 mil infectados
PESTE MODERNA,MENTALIDADE ANTIGA
dos pelo Estado, aliás não somente nesta.área específica, mas emtodas as demais áreas essenciais,como o direito ao trabalho, à habitação e à educação, sem o que oproblema de saúde continuarácrônico. A iniciativa privada, naturalmentespode, do ponto de vista de parte expressiva da comunidade médica e científica, atuarsubsidiariamente, mas o que se cobra, inclusive, agora, a partir dotratamento da questão da AIDS,é a responsabilidade do Estado pela saúde dos cidadãos, sendo necessário notar, aí, que todos osempregados são compulsoriamente contribuintes da PrevidênciaSocial.
O debate sobre a AIDS promovido na semana passada no âmbitoda Assembléia Nacional Constituinte serviu, também, para introduzir discussões sobre um outrotema: o conflito entre os conceitosde novo e antigo, xenofobia, nacionalismo e entreguismo. AAIDS é uma peste moderna, osvírus que a transmitem têm, segundo os cientistas, uma estruturaaltamente complexa. Trata-se,pois, de um desafio mundial. Emum país subdesenvolvido como oBrasil, doença desse tipo deve servir de alerta no sentido da buscada modernidade, sem perda daconsciência de nossa posição nomundo. Em outras palavras:AIDS é o tipo de assunto em quenão cabe xenofobia, ou seja, qualquer descoberta científica estrangeira será bem aceita aqui. Issonão significa, entretanto, que oskits-diagnóstico e o AZT (medicamento disponível para minorar osofrimento dos doentes) devemser adquiridos a custos elevadospor países pobres do TerceiroMundo,. Assim, temos que enfrentar apeste moderna com uma mentalidade aberta ao progresso técnico-científico, à colaboração internacional, quando possível, massem perder de vista que precisamos reduzir cada vez mais a nossadependência em setores estratégicos, entre os quais, naturalmente,o de saúde. Cabe aqui, por óbvio,uma referência ao fato de termosnossa indústria farmacêutica quase que absolutamente dominadapor multinacionais. A vastíssimamaioria dos fármacos utilizadossão importados, a população servede cobaia para medicamentos novos e não testados e as multinacionais praticam preços elevadose diferenciados para um mesmoproduto. O quadro da indústriafarmacêutica é, igualmente, reflexo do não investimento em pesquisa básica na época oportuna.Quando se pretendeu, na semanapassada, imprimir uma dimensãopolítica à condução do problemada AIDS, estava-se, também, tentando alertar para que o fato daquestão nacional passar, evidentemente, pela saúde de seu povo.Um país sem autonomia para assegurar a saúde de sua populaçãoestará, no limiar do século XXI,fadado a assassinar seu próprio futuro.
Ronaldo Paixão
A QUESTÃO NÃO ÉEXPULSAR O ESTADO
parte do Estado. No caso daAIDS, a novidade estaria justamente no que já foi expresso antes: teríamos, com o triste adventodesta doença, uma excelenteoportunidade de fazer um esforçoem direção ao conhecimento, sejaparticipando das pesquisas visando à obtenção de uma vacina, seja,pelo menos, tentando vencer barreiras científicas e tecnológicasque impedem, hoje, que a moléstía possa ser diagnosticada com segurança absoluta.
O crescente número de grevesrealizadas no setor de saúde, emBrasília e no país de um modo geral, as denúncias dos cientistasquanto à falta de apoio à pesquisae outros fatores críticos visíveis,poderiam conduzir o debate, inclusive o constituinte, a acreditarna incapacidade estatal para gerira questão da saúde no Brasil. Pelocontrário: a AIDS e muitas outrasgrandes endemias constituem-seem provas irrefutáveis de que asaúde pública deve ser responsabilidade do Estado, tendo em vistaque a rede privada não está capacitada para atender a esse tipo dedemanda.
O que se deve reivindicar na comunidade científica e na maiorparte da comunidade médica é aadequação de saúde à necessidadee à melhoria dos serviços presta-
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"r:;~::'~_~J___ '..-Teixeira. Estado é responsável
anos após a infecção. Continuando um raciocínio prospectivo, teríamos que, em 1995, haveria de350 a 1.400 pacientes no estágioIV (terminal), somente no Distrito Federal. A professora LairGuerra de Macedo, em sua conferência no debate "AIDS tambémé uma questão política", alertoupara o fato de que muitos casosnão são notificados, o que leva asupor incidência ainda maior. Para um quadro como esse, hoje,Brasília dispõe formalmente deapenas CJ.uatro leitos para pacientes aidéticos, faltam medicamentos, falta apoio laboratorial parao diagnóstico das infecções oportunistas que acometem os aidéticos (tuberculose, pneumonia,etc.) e há carência quase absolutade assistência psicológica a pessoas que são levadas, subitamente, à fronteira da morte.
Esse painel, pintado com relação à AIDS, se torna mais dramático por estarmos falando de umamoléstia fatal, que afeta o sistemaimune dos indivíduos, ensejando,inclusive, que ele seja acometidode inúmeras outras doenças, deenorme gravidade, entre elas ocâncer. Contudo, se operamos,com AIDS, num universo provisório de 158 indivíduos, hoje, naturalmente que outras moléstias,de incidência quase crônica, amaior parte delas derivadas de carências sociais (como falta de alimentação, saúde, higiene), recebem, proporcionalmente, um tratamento igualmente incipiente por
Quando a Constituinte, noCapítulo da Ordem Social, começar a debater a questão dasaúde pública no Brasil e dosistema mais adequado parapromovê-la (se estatal e unificado, ou se aberto à iniciativaprivada), algumas questões fatalmente surgirão como prioritárias. Entre elas, deveria ganhar destaque, por exemplo, oproblema da pesquisa básica,muito pouco incentivada nopaís, com enorme prejuízo, seja pela evasão de divisas, sejapela incipiência da qualidadedos serviços ofertados por umsistema que opera sob tutelado exterior e com baixa tecno~~a. '
DOENÇA NOVA,VELHOS PROBLEMAS
Na semana passada, a Associa.ção dos Pesquisadores Científicosdo Distrito Federal- APqC-DF,promoveu, no auditório NereuRamos, da Câmara dos Deputados, um debate sob o enfoque"AIDS também é uma questãopolítica". Tal discussão teve porobjetivo promover uma troca deidéias sobre a .questãc da AIDS nopaís e situar, para o público emgeral, e para os constituintes, asresponsabilidades de cada um e doEstado na condução de uma questão de saúde que cresce a cadadia em importancia. AIDS é umcaso típico em que, além dos terríveis danos provocados pela doença em si, se revela com clarezaa dependência nacional: de acordocom o professor Antonio Teixeira,presidente da APqC-DF, a pesquisa básica somente é realizadano Instituto Osvaldo Cruz e a quase totalidade dos kits-diagnósticopara teste de AIDS são importados. Para se ter uma idéia da necessidade desses kits basta dizerque, segundo estimativas da professora Lair Guerra de Macedo,diretora da divisão das-moléstiassexualmente transmissíveis do Ministério da Saúde, já teríamos, noBrasil, algo em torno de 500 milpessoas infectadas pelo vírus daAIDS. (Em todo o mundo seriam,já, dez milhões.)
Pode-se dizer da AIDS que éuma doença de descoberta recente, pois foi descrita pela primeiravez em 1981, embora tivesse, começado na década de 50, na Africa Central. .o fato de tratar-se deuma moléstia "nova" serve paraque se avalie com mais precisãocomo o Estado tem capacidadepara conduzir o problema, de vezque os dados sobre número de incidências, atendimentos, etc., ainda não estão excessivamente espalhados, ao ponto de se tornaremcompletamente inacessíveis. Neste sentido, Brasília é um exemplointeressante: já existem, aqui, 158pacientes oficialmente diagnosticados, dos quais 38 no estágio terminal (IV). As estimativas oficiaisautorizadas pela OrganizaçãoMundial de Saúde permitem supor que, a esse número de aidéticos j~ diagnosticados corresponda, de fato, uma população de 875a 3.500 pessoas infectadas, pois adoença se manifesta em até sete
Jornal da Constituinte 1S
ADIRPlW,lliam Prescott
Escolas públicase universidadesdizem o que queremÀ medida em que se aproxima o momento da votação, pelaAssembléia Nacional Constituinte, do capítuloda Educação, cresce a pressão das entidades einstituições ligadas ao ensino, em defesa das propostasque melhor atendam aos objetivos de um ensino maiseficiente democrático, em todos os níveis.No decorrer da semana que passou, a ANC foi palco dedois atos da montagem dessa luta em favor do ensino. Umdeles foi quando o secretário de Educação da cidade doRio de Janeiro, Moacyr de Goes, entregou ao presidenteda ANC, Ulysses Guimarães, um memorial com 143.653assinaturas de alunos, professores, pais, funcionários,educadores e lideranças comunitárias e sindicais, emdefesa da escola pública. a documento afirma que aescola pública é direito da população e dever doestado, e constitui instrumento importante naconstrução de uma sociedade melhor. Por isso, ossignatários do memorial pedem à Constituinte que, nestemomento decisivo, posicione-se claramente, priorizando oensino público gratuito e democrático, destinando a eleverbas públicas geradas pelas diversas contribuiçõesda sociedade. a outro ato em defesa do ensino, já agoraao nível superior, foi a iniciativa da Universidade Federaldo Rio de Janeiro (UFRJ) de montar, no recinto da ANC,uma exposição sobre o trabalho editorial por eladesenvolvido. Essa mostra tem, ainda, a finalidade deprotestar contra o congelamento da URP e uma sériede outras medidas adotadas pelo governo, no pacote fiscal,e que atingem diretamente a vida das universidades.Paralelamente à exposição, foi distribuído um manifestono qual reitores de seis universidades federais conclamamseus colegas, professores e alunos a se dirigirem à ANCe ao Congresso Nacional em luta por seus interesses. DoCongresso, os reitores querem a rejeição do pacote quecongelou a URP e adotou decisões que, para eles, colocamem risco os recursos para suas instituições. Segundo dizem,estas medidas cerceiam a autonomia e reduzem a qualidadedo ensino nas universidades públicas, diminuindo os saláriose desarranjando todo o processo de apoio às pesquisas.Da Assembléia Nacional Constituinte, os reitores cobrama rejeição de propostas que abrem o canal da destinaçãode recursos públicos às universidades privadas. Paraeles, é necessário que a ANC adote as emendas quepodem resultar numa educação avançada, numauniversidade autônoma e também na ampliação, nagratuidade e na democratização do ensino superior.
enfrentado até agora. Uma das estratégias da lutados defensores da reforma foi a colocação de cartazes e painéis, como o da foto, mostrando, comimagens, porque consideram fundamental essa reforma.
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Os batalhadores da reforma agrária não perderamtempo e ocuparam grandes espaços do edifício doCongresso Nacional, na tentativa de sensibilizar osconstituintes para suas reivindicações, no momentoem que se desenvolviam intensas negociações embusca de um acordo sobre o tema mais polêmico
ADIRP/Revnaldo Sravale
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A posição de quem constróiAcompanhados do constituinte Luís Roberto Ponte (PMDB - RS),os presidentes dos Conselhos Federal e Regional - DF de Engenharia,Arquitetura e Agronomia, Albano Wolkmer e Antônio Otaviano,foram recebidos pelo presidente da ANC, Ulysses Guimarães, aquem entregaram um documento em defesa da tecnologia nacional,do monopólio estatal do Petróleo da tecnologia de ponta, daempresa nacional, das estatais que atuam em setores básicose dos investimentos em ciência e tecnologia. a documentoque também defende eleições presidenciais diretas em 88foi produzido ao final de um encontro de arquitetos,engenheiros e agrônomos, realizado em Brasília.
ADIRPIBened.ta Passos
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