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Os Senhores que nos quizerem hdnrar eom artigo» desenhos terão a bondade de remettc los, em carta fechada, á Redacção Semana HlMtraaa, no largo de S. Francisco de Paula n. 10. TERCEIRO ANNO. N. 114. F«Mlea-M t«4e« •• 4«ae!nf«a. 3uhscreve-se CftHe,VnvImMs. Trimestre. . . 51000Trimestre \ «600 Semestre. . . 9W0O Semestre 111000 Anno16M00AnnoÍMOOe Avulso 500 rs. No Instituto Artístico, largo de S. Francisco l^^f^ ^ÊÈWf§£''~~ ^^Ê ^L\\\\\\\\m\i\^tJL. -m\\\\\s\\\\\\\\t%.\\m\\\\m\\W^^L ' ^E_______¦ j£w_^_____l m\\\\\\\m\H^K CANTA, O MOLEQUE.CORO DOS MOLEQUES Vai-se embora, enfadadinhoLe cambeta uaravê, Sem um adeus me dizer;Caravé uaringá. As saudades que me deixaLc rd Cristi com cerveja, Vor dei réis posso vender.Vai batatas curiá (Alviçaras ganhaspelo Diário de 6 do corrente mez.)

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Os Senhores que nos quizerem hdnrar eomartigo» • desenhos terão a bondade de remettclos, em carta fechada, á Redacção cí SemanaHlMtraaa, no largo de S. Francisco dePaula n. 10.

TERCEIRO ANNO.

N. 114.F«Mlea-M

t«4e« •• 4«ae!nf«a.

3uhscreve-seCftHe, VnvImMs.

Trimestre. . . 51000 Trimestre \ «600Semestre. . . 9W0O Semestre 111000Anno 16M00 Anno ÍMOOe

Avulso 500 rs.No Instituto Artístico, largo de S. Francisco 1È

l^^f^ ^ÊÈ Wf§£''~~ ^^Ê ^L\\\\\\\\m\i\^tJL. m\\\\\s\\\\\\\\t%. \\m\\\\ m\\W^^L ' ^E _______¦ j£w_^_____l m\\\\\\\m\ H^K

CANTA, O MOLEQUE. CORO DOS MOLEQUESVai-se embora, enfadadinho Le cambeta uaravê,Sem um adeus me dizer; Caravé uaringá.As saudades que me deixa Lc rd Cristi com cerveja,Vor dei réis posso vender. Vai batatas curiá(Alviçaras ganhas pelo Diário de 6 do corrente mez.)

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¦903 SEMANA II.LUSTRADA

A SESVSAHÃ .ILUSTRADA.

1

i

Rio. 1", ,'le Fevereiro rie 181,3-

irthívo imperial de Min.EXTUACTOS DE UM PEItGAMIXIlO.

Naquelles tempos o inimigo estava ás portas da ci-dade, com um grande exercito, disposto a levar tudo afio de espada.

E como a cousa fosse um pouco dura para quemtem amor á terra em que nasceu e á pelle com quenasceu, tractaram todos de tirar do holsinho um tantopara as despezas do estado.

E o estado foi recebendo sem mais chuz nem buzessas oftertas expontâneas, animando o patriotismo detoda gente.

Ora, isto era bem natural para quem está com oinimigo ás portas, principalmente quando o inimigopOe a vergonha á banda e chama direito das gentes,aquillo que os outros chamam pirataria.

Mas, como a lua era funesta em virtude das grandesexhalaçOes das ribeiras da Maluquice, luaziuha quetem zanga á cabeça de ministro, suecedeu que os mi-nistros do Celeste Império fizeram uma asneira.

Ninguém se admirou ; mas um homem, que era maisdesabusado, disse:

Pois se o governo está recebendo dinheiro dos ricos edos pobre3 para defender o estado, como é que váe darduzentos e tantos contos a uma empresa iyrica pian-gana?

Isto tra bem pensado e devia ser attendido. Por issomesmo não o foi.

Os ministros abriram uns olhos muito grandes e dis-seram : Este homem está maluco 1 está maluco !

E tal foi a cousa, que o sujeito raspou-se do CelesteImpério com receio de ser empalado.

Oh! se o era! 1...Tempos depois é que se soube que o sugeito chama-

va-se Juizo, e que envergonhado fugiu á terra onde onao queriam ter.

Mas deram-se os duzentos e tantos contos á celebreempresa Iyrica, para divertir os gamenhos da cidade dePekim. e mais alguém.

Husaico.

AS LOCOMOTIVAS DA ESTRADA DA T1JLCA.

Ultimamente começaram a trabalhar as locomotivasque se fabricaram para essa estrada. Sao trez e cha-mam-se: Ireneu, Viriato e Manuel Felisardo.

Um sugeito, que gosta de pescar tudo o que é bom,referiu-nos uma série curiosa de dictos, a que dao logaros nomes das locomitivas, da parte dos indivíduos em-pregados na sua conservação e trafego. Assim, lá gri-

ta um:—O Manuel Felisardo está enferrujado !—Poisé preciso esfrega-lo, responde outro.

Dahi aponeo diz mais um:— Dá vapor ao Ireneu, quoé o que vai sair.— A mola do Ireneu não está bôareplica outro.— Pois intlireite-a :

E assim, sucessivamente, com maiores ou menoresintervallos, ouvem-se estes ditos :

Ala o ferro do Viriato IE preciso azeita-lo.Puxa o Manoel Felisardo para fóra !Empurra o Ireneu para diante !Limpa o canudo do Viriato !Aperta o freio do Manoel Felisardo !Deita agoa no Ireneu !Deixa sair o vapor do Viriato!Abre a válvula do Manuel Felisardo !

O Ireneu precisa de carvão !Vai-se-lhe primeiro concertara caldeira.Então botem fogo no Manuel Felisardo, e pren-dam o Viriato logo que chegar.Sim, Sr.

E outros c outros, que não pôde apanhar o nossoamigo, por não estar lá constantemente.

Suscitou-se tambem, uma vez, uma grande altercaçãoentre os mesmos empregados, sobre qual das locomôti-vas éra de melLoi- agouro.

"\iriato desbaratou os exércitos romanos, diziamuns.

Ireneu ajudou a carregar a cruz do Salvador, gri-tavam outros.E Manuel Felizardo tem entrado em Ministérios

de todos os partidos, juravam os restantes.Posta a votos a contenda, venceram os últimos.

M.* *

PROCLAMAI.ÃO.Camaradas! —Se o ceu cair un pedaços nós o sustentaremos nas

pontas de nossas lanças, diziam os antigos Gaulezes! —Portanto.meus valentes zuavos, nao vos assuste o thea-tro provisório ameaçar ruina; vamos sem medo, que, seelle abater, seremos os camarões da grande empadaque se ha de amassar.

Hip, Hip, Hip, Iínrrah !COMMAXDAXTE EJ, (TIE-E.

Zuu. ".io.t #*

1'IAT LUX.A infoiTmiefto.que todos leram nos jornaes, de que a

policia não tinha ainda podido descubiir a origem doincêndio do Hotel de Veneza, inspirou- me o desejo derealisar a importante descuberta, e nesse empenho puzem movimento a minha policia particular que, depois detres dias de incessante trabalho, resolveu o problema eesclareceu o facto.

Eis aqui corno o cousa se passou, com toda a verdadee com as mais miúdas circumstancias.

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SEM AIS A ILLUSTRADA 904

O boiei de Venezanto pecpie

Veneza antigaponto pequeno tododigno do seu titulo, reuniu emos monumentos e disposição da

Na noute de "2 do corrente um nobre viajante, inda-"¦adòr e apreciador de curiosidades, aportou aquelleestabelecimento, embarcou em uma gondola, passoupelo grande canal, descansou na ponte do lii-alto, e,quando quiz retirar-se, arrependeu-se do passeio aopassar pela ponte dos Suspiros e, como saísse fumandoe um segisbéo lhe pedisse fogo, atirou-lhe com a pontado cigarro, que, escapando das mãos do segisbéo, foi

! cair dentro da casa rompana, que, achando-so cheia dematérias inrlamavcis,começou logo a arder com Ímpetoinvencível,dando assim oceasião ao grande incêndio quereduziu a cinzas o suberbo hotel de Vcnczn.

*v, *

LOIIl) Cni.-TA NO CAUSAVA!..

E* fama que Lord CristaQuer festej-ir o entrudo,Dançar com barcas, galeras.—Lord Crista topa a tudo.Nâo quer mascara d'artificio.Leva a mascara natural;Ninguém poderá com ellePara o galope infernal.De uma pagan divindadeQuer a figura escolher ;Entre a de Sileno e BacchoNao sabe qual ha de ter.Mas quem, na rua ou no baiie.Vir transformado um farcistaEm Deos Baccho ou pai Sileii'...Pique certo—é Lord Crista

AüTOLi It.UMIOS :Lè-se nas Noticias Diversas do Correio Mercantil de

13 do corrente:« Lm audaz gatuno pretendeu hontem roubar a

Igreja de Sancta Luzia »Que patife !Se deva admirar mais a sua perversidade, se a sua

| robustez physica, não sei.| Consta-me que o dicto gatuno declarou em juizo que

tencionava levar a mencionada igreja debaixo do braço.

Estreou-se, ha dias, uo Theatro de S. Pedro umHomem-Canhão. -

E' o primeiro que conheço do sexo masculino.

* #Na rua da Quitanda esquina da de S. Peddro.

AM AI VIUAPROMTÃO-SK CASACA, CALÇA, E COLLETK

EM 48 HORASROUPA FEITA DE TODAS

AS QUALIDADE

LOJA DE CHAPÉOSEduardo Cíabrielli,

0 GARIBALDI,RUA DffiEITA N.° 57.

«Cessem do sábio Grego e do Troyanno,«As navegações grandes que fizeram;«Calle-sede Alexandre e de Trajano,«A fama das represálias gue tiveram.

Magoado profundamente com as represálias feitaspelo Almirante Warren nos mares territoriaes do Brasil,sendo um positivo insulto a este nobre e hospitaleiroImpério, mas que felizmente soube collocar-se acimados sentimentos baixos e cobardes, portando-se comhonra e dignidade ; o Garibaldi. por todos esses moti-vos, italiano de nascimento, mas brasileiro de coração,participa a seus numerosos freg-uezes e amigos, quenao recebe mais chapéos da Grã-Bretanha, passando asua freguezia para as fabricas novamente instituídasem Cantagallo e Nova-Friburgo, e esperando que, ape-zar de nao ter figos apreciados por Othon. ex-rei daGrécia, licores bebidos pela Beata Rainha de Hespanhae marmelada lusitana que causa sensações no paladar,a sua pessoa será protegida egualmente, como quandorecebia objectos em direitura de Liverpool, porquantochapéos de Inglaterra, bifes com batatas e queijo lon-drino, estão bloqueiadas as suas portas para nao entra-rem esses inimigos, promettendo fazer represálias,quando por acaso elles appareçam em sua casa.

«Que se espalhe e se cante no universo,«Se tao sublime facto cabe em verso.

ESPECIALIDADES.Vendas e concertos, dinheiro á vista.

(125)í-í_*ra'?íi£í^Gfe>42í:^5=*3-í

Lm passeio.o velho Theobaldo, e seu neto Cazuza

(Continuação)Sitmmario.— O café — diversidade dc medicinas — dieta de ca-

mari.es—o Frade na experiência—os médicos antigos c osde hoje ele, etc.

Theobaldo (saindo do botequim com o nelo).— Vou,agora, meu Cazuza, que o bom café do Braguinha mepoz mais animado, e tranquilüsou-me o systema ner-voso, tractar do monumento que chamou a tua atten-çao.

Antes disso,porém,veni a propósito perguntar-te queidéa fazem os teus patrícios de serra acima a respeitodo café, e que effeito experimentam do muito uso quelhe dao, porque uns médicos dizem que é irritante, eoutros que é calmante.

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PROGRESSO DO SÉCULO.i., —F.nião Laoncio.mda nfto sSoboras dc ir para a escola? — Menina, ainda e muito cedo de ir para a escola,jwiii.—Ja «ou papai; eitouaòcendendo o charuto. — E- verdade, mamai, mas quero encontrar o primo Arthur,

que nrcmetteu esperor-me na esquina do Lavradio para me ver.

sobomi Aaat-tDo. UOMOHIU DANÇANDO.

km quanto os bomboiroe inutilmente gritavam por água para apagar o incêndio do Hotel dc Veneza, com a maior segurança emmt frio «e contradanaava no' vizinho Hotel brande Oriente, cujos convidados apagavam com sorvetes o fogo que lhes«ari_/ut

.¦a...-.va nas «eia. tHUtonco.)

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oanna d'Arc, a donzella de Urleans no 77** anno de idade. Negociante.—Arranje d. escnpturaçâo de modo que eu ÕMOi aÜuadro histórico, traduzido do francez pelo novo systema da dous ou tres annos possa fazer uma quefcra com uns iw tontoskerosenetypia de lucro na algibeira.

Guarda iwros.—Pica a meu cuidado, V. S. taba muito bem quenio é a primeira vez que trabalho em partida* dobradas.

MASCARADA POLITICADe r*.*r.Eni '«an '.•-'.. Depois da jantai m»iilh-

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Wi SEMANA ILLUSTRADA 1Ora, nao me admira essas differentes opiniões, por-

que os médicos de hoje nao lêem pela mesma cartilha :uns são enthusiastas da italiana, outros da franceza, ou-tros da de Hanneman. outros da de Mesmer etc. e porisso: .

Entendem uns epie não se pôde combater uma enter-midade senão com canadas de cosimentos, e outros queé sufficiente um grão de areia, ou um ovo de aranha ;

Uns obrigam os doentes a fazer caretas com a línguade fora. outros poem-se a fazer-lhes visagen? até leva-los «o estado de somnambulo, e exigem que lhes decla-rem'a moléstia que soffrera, e o remédio que os devecurar;

Uns mandam que os doentes tomem banhos, e se conservem sempre limpos, podendo fazer do seu nariz ouso que quizerem, outros nao consentem que se lavem,e privao-nos de cheiros.

Uns reduzem os doentes a uma rigorosa dieta de cal-do de arroz, ou de frango, no em tanto que já ouvi aum Medico, que a melhor dieta para um doente era—camarões!

Quem vô toda essa balburdia. epie conceito pôde fa-zer de uma sciencia <iue admitte lançar-se mao de meiostao oppostose contradictorios para conseguir-se o mesmo fim ...

Tudo é mysterioso e enigmático na tal sciencia !Até na classificação das moléstias possuem os Médicosum calendário dé nomes, que só elles entendem, e osvao distribuindo pelos seus defuntos; desorte que,se ai-guem recorre ao obitnnrio para vêr de que doença mor-reu um seu conhecida, fica em jejum, por que lá deparacom termos que lhe são inteiramente desconhecidos,como por exemplo — delirium iremens — eclampsia —

febre tóxica— hypoemia — albuminaria —meningite —stomatile— encephalite —hepato mesenleriie — hcpalosplenite—metro-peritonite—ascite—hyclro pericardite ;e por ahi vao seguindo os —iles— que é um nuncaacabar.

Diz o dictado que apresenta na cara do tolo: o bar-beiro novo, e eu digo que no corpo humano vão os Me-dicos fazendo as suas experiências, sem se importaremse com o bom ou mau resultado dellas. porque tantolhes rende a eu ra,como a morte do individuo.que lhes

cáe nas unhas.Um medico houve que, querendo fazer a experiência

do ácido prussico, applicou-o a um Frade, que bateu abota immediatamente, e, se lhe fallavamnu caso, diziaelle com toda a sua natural igenuidade — que tinhapreferido ezperiment.i-lo em um Frade, porque da suamorte nenhum transtorno vinha d sociedade.

Ainda este teve a consciência de escolher um entenullo, e nao um pai de familia.

Quando eu era da tua edade, isto é, no tempo doazeite de peixe, os médicos seguiam um só systema decurar. Assim predicavam os distinetos e iliustrados dou-toures Manuel Luiz, Navarro, Francisco de Paula, Es-tacio Goularte, Azevedo, e outros. Hoje s&o tantos etao differentes os systemas, que um pobre homem nao

uide ou asabe para onde se volte que vá buscar amorte.

Ainda ultimamente li nos jornaes o que aconteceu aum desgraçado, que veiu de Resende para consultar aum magnetisador voltando de lá em tal estado de lou-cura, que morreu em poucos dias !

Desculpa, meu Cazuza, a mamada que te dei. Sabesque os velhos sao tagarellas, e demais, e preiso queaquelles que constantemente atacam as geraçõespassadas se convençam, de «pie o gaz. a elcclrmade, eo vapor n9o hao de varrer da terra o charlatanismo c aimpostura. Sao chagas que uns séculos vao herdandode outros, eque só se extinguirão quando o mundo dei-xar de existir.

Vamos saber que juizo fazem os teus patrícios docafé.

Cazuza.—Meu presado avô. não tomo como massadao que tem dito, pelo contrario muito lhe agi-adeço. eacceito como um conselho, (pie mdire.-tamcntc acaba dedar-me.

Sai da casa paterna com \ista~ dc matricular-meua academia de medicina, e formar-me nessa sciencia.persuadido de que ella se baseava cm dados tão segu-ros e certos como qualquer outra; mas. desde que assimnao é, desisto de similhante idéa : procurarei seguiroutra carreira, e nao uma profissão 'pie só me pôde tra-zer remorsos e dissabores.

Theobaldo.—Nao sejas tolo, rapaz ; se tens vocaçãopara a medicina, vai estuda-la. porque a cousa não étão má como pensas.

Pois é alguma asneira ir ver um doente, gastar ape-nas cinco minutos em examinar a lingua, tomar o pul-so, e receitar qualquer mistura de grèlos, e receber 55*,que é o menos que hoje se paga por uma visita (medica,bem entendido, porque as outras se fazem de graça)?

Bastam duas ou três dessas visitas por dia para teresa tua vida ganha.

Deixa-te de escrúpulos, que com elles se não adubamsopas, nem se copram os melões.

Quando tractares de algum doente, e elle por acasosalvar-se, todos acreditarão que foi devido á tua peri-cia ; se suecumbir, que era chegada a sua hora, pois,c.omo sabes, ninguém ha de cá ficar para semente.

Além disso, os médicos de hoje nao sao como os an-tig-os, que só se empregavam em curar. Actuaimenteservem para tudo : sao vereadores das câmaras muni-cipaes; c raro vèr um subdelegado de policia que naoseja medico, e todas as repartições publicas estão cheiasdelles; portanto podes seguir o destino que mais teconvier.

E nao mettes cm couta o gostinho de te assignares—Doutor,— e de vères as canellas verdes passarem pelatua casa, e, quando te virem á jannella, tirarem logo ochapéu, e dizerem com todo o respeito c humildadeSou um criado do Illm. Sr. Doulor José Magnético dasTincluras Panacéa?

Fortna-te em medicina, que nao te lias de arrenpen-der.

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SEMANA ILLUSTRADA. 908

Cazuza.— Para satisfazer somente á sua vontade,meu vovô, irei matricular-me na faculdade de medicina.

Relativamente ao café devo informar-lhe que nin-o-uem se queixa delle em serra acima, apezar de serquasi a bebida usual de todo o roceiro ; e que só depoisque aqui cheguei foi que ouvi fallar em incommodosnervosos, d'oude couchío que o café é uma bebida inno-cente, que nenhum prejuizo causa á saúde, ou entaoque os homens da serra nao tem nervos.

Theobaldo.— Acceito a primeira idéa, e muito esti-mei saber disso, porque d'ora em diante serão mais fre-quentes as minhas visitas ao mestre Braguinha.

Dir-te-hei agora o que representa o monumento col-locado no centro desta praça: é a estatua eqüestre doSr. D. Pedro l. fundador do império do Brazil, e seuprimeiro imperador.

Aproximeino-uos delia, e depois que fumar o cigar-rinho dc S. Sebastião, porque ao finanças nao dao paracharuto dc Havana, te farei explicações mais minucio-sas.

—Abre, abre, donzella, que é o Carnaval quem t'omanda!

dedi-

^&?F?Z£&ífòèZ2Z?}F:&<~

lma caixa de pós dc arroz.

(A propósito do Carnaval.)

—Abre, abre, donzella, que é o Carnaval quem t'omanda.

Assim gritava rouquenha voz, saída de uma gar-ganta esfregada de Chquot, e inflammada pelo continuovai-vèm das parvoices.

Onde gritava ella ? Em um corredor escuro, ondenem se quer quatro pingos de kerosine se dignavam demostrar-se em custoso lampeao de dez tustões.

Ninguém sabe o que soflfrem certos corredores ecertas escadas nas noites de Carnaval. E' preciso ver.

Aqui, esbarra-se o negro do surbiço com quatromascaras desengraçadas que lhe disputam a passagem;alli, espreme-se o infiel consorte, que deixou a mulherconversando em casa da vizinhança, de encontro aopadeiro que traz a meia pataca de pao; mais longe,o velho solteiro, que forneceu o dominó ou o titi,acocóra-se no primeiro degrau, ou no quartinho dopatamar, para vêr se a infiel váe ao baile pelo braçodo embigodado amant de coiur; acolá, o caixeiro, querevistou a gaveta do amo, o filho-familias, que abriua secretária do pai, o estudante, que empenhou oslivros na rua da Imperatriz, ojornaleiro, que caloteouo alfaiate e o sapateiro, sobem, com o coração na bocae uma mascara na cara, os degraus do sobrado ondeos esperam as Annas, as Henriquetas ou as Alexan-drinas, que os devem levar ao baile em ondas de filo eem nuvens de setim semeadas de lantejoulas. Viva oCarnaval! E assim váe tudo !

Mas para que faliam nisso ? Quem é que nao sabe o_ue é o Carnaval ? Festa ruidosa e pnrenetica, ondetudo se admitte, menos o bom senso, e onde todos saoeguaee, menos os que lá não vão I

E quem assim gritava ? O Dr. Semana, vestido¦peru, com uma christã do tamanho de uma notaplomatica.

Era forçoso abrir, mas o que ? Uma porta fechadacom duas voltas, pela qual ninguém parecia ter pe-netrado até então. Malogro !

Abriu-se a porta de par em par.Que confusão, que balburdia nesse templo de Guido !

Havia apenas uma linda mulher diante de um espelho;todos os outros eram: eouunendadores, coronéis, con-selheiros, médicos, advogados, diplomatas, emprega-dos públicos, jornalistas, e quem sabe mais o que ?

A appariçao do Dr. Semana causou bastante sen-saçâo. Ninguém o esperava, até por que nao era visitada dona desse palácio.

O recém-chegado encostou-se ao umbral da porta,e analysou um por um todos esses que cercavam a inte-ressante menina, que se enfeitava. Todos porfiavamem servi-la com mais afan; já um lhe pregava as fitas,outro a cabelleira, este calcava-lhe o sapatinho, aquelleengrinaldava-lhe a fronte... Quanta gente serviçal! Edizer-se que eram entes desinteressados !

—Entao nao entra, cavalheiro ! Perguntou a vie-tinia de tantos olhares lauguidos.

—Não, donzella, vim apenas contempla-la em todo oseu explendor.

| A' palavra—donzella —houve um coro de gargalha-[das.ODr. Semana comprehendeu o alcance dessa sem-saboria.

Continuaram os obséquios e as provas de dedicaçãodos sacerdotes do templo.

j De repente a heroina parou, quasi píompta, e bateu\ na testa.I — O que queres? perguntaram todos á uma.J

— Lma caixa de pôs de arroz para disfarçar as fei-côes.

j Procuraram, não íoi possível encoutrar. Saíram abusca-la ; não haviam mais á venda.

] — Não me importa, irei tal qual sou, visto que nSo épossivel disfarçar as misérias do meu semblante.

j — Assim e, replicou o Dr. Semana, admirando amulher que descia para o baile, acompanhada do gran-de séquito.

Nhònhô, eu nào conheço esta moça, disse o mole-que ao vèr a procissão de bemaventurados, que carre-gavam a rainha da Bohemia.

Não ó moça, já está bastante velha, mas enfeita-senestes dias; chama-se Fazenda Nacional, e a caixa depós de arroz, que procurava é a dos créditos supplemen-tares.

1 — Por isso é que tem tantos adoradores.i — Menos eu, apezar de ser peru e de ter uma for-

i midavel christã.

A. de C.

Typ. do Diariodo Rio,rua do Rosário n. 84.

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1 '.'Vwr. *¦' * *fcSTi^fft ^r^trSt!^» H _fl8Bi______?w A_T^ ' jSK^jfflF^W i íÍwTijSBm. ^MUl Jfiffl^lffS^''" ¦'

CARNAVAL DE 1863.

W0ID4 DO AnTI-CHRISTO 1'ARA O EoTTTO