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MUTIRÃO +CULTURA FANDANGO CAIÇARA NO LITORAL DO PARANÁ

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MUTIRÃO +CULTURA FANDANGO CAIÇARA NO LITORAL DO PARANÁ

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FANDANGO CAIÇARANO LITORAL DO PARANÁ

Sandro Miguel Mendes

Raquel dos Santos Vieira

Luiza Stopasolla Pinto

(Orgs.)

Curitiba, 2019

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PROJETO MUTIRÃO +CULTURA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ Projeto Mutirão + Cultura

ReitorProf. Dr. Ricardo Marcelo Fonseca

Vice-Reitora Profª. Drª. Graciela Bolzón de Muniz

Pró-Reitor de Extensão e Cultura da UFPRProf. Dr. Leandro Franklin Gorsdorf

Coordenadora de ExtensãoProfª. Drª. Maria Virgínia Filomena Cremasco

Coordenador de CulturaProf. Dr. Rodrigo Arantes Reis

Diretor da Editora UFPRProf. Dr. Rodrigo Tadeu Gonçalves

Vice-Diretor da Editora UFPRProf. Dr. Hertz Wendel de Camargo

Diretora do Museu de Arqueologia e EtnologiaDrª. Bruna Marina Portela

EQUIPEApresentação e organizaçãoProfª. Drª. Deise Cristina de Lima PicançoFernanda Cristina LopesPamela Cristine de Oliveira

EditoraçãoMAE

Projeto GráficoVictor Uchoa

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SUMÁRIOApresentação 6

Entre o mutirão e a diversão: o fandango caiçara 15

O fandango caiçara no Brasil 18

O fandango caiçara no litoral do Paraná 21

Sugestões para o professor 24Fandango na escola: pesquisa e baile de fandango 24

Sistematização 25

Vídeos e documentários 26

CANÇÃO: O anu 27

Resultados esperados 29

Referências 30

Equipe Incubadora Tecnológica 31 de Cooperativas Populares (ITCP)

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PROJETO MUTIRÃO +CULTURA

ApresentaçãoMUTIRÃO¹ NA ESCOLA: PRÁTICAS E SABERES PARA COMPARTILHAR NA SALA DE AULA

Este fascículo faz parte da coletânea paradidá-tica MUTIRÃO NA ESCOLA: práticas e saberes para compartilhar na sala de aula, a qual se propõe a parti-lhar com os professores, pedagogos, educadores e alunos uma parte dos resultados das atividades desenvolvidas nos últimos anos pelos participantes do projeto Mutirão +Cultura na UFPR.

A coletânea, apresentada em cinco fascículos, tem como propósito trazer conhecimentos e perspecti-vas sobre as práticas e os saberes das comunidades do litoral do Paraná e sua diversidade étnica e cultural, para que possam ser trabalhados por todas as escolas do esta-do, já que muitas das atividades aqui propostas tiveram a participação de comunidades escolares.

A intenção deste conjunto paradidático, portan-to, é fornecer ao professor algumas reflexões e sugestões de atividades para serem desenvolvidas em sala de aula, visando a construção de conhecimentos sobre a cultu-ra e os modos de vida do litoral, como parte da proble-matização das várias formas de viver e pensar as práti-cas cotidianas de comunidades caiçaras² urbanas e rurais, indígenas e quilombolas – grupos sociais muitas vezes si-lenciados ou invisibilizados.

Para trabalhar com esses modos de vida a par-tir da compreensão dos sujeitos que neles constroem sua existência, partimos da ideia de Néstor Canclini³ de que,

1 Mutirão, prática que dá nome ao projeto, caracteriza-se por ser uma atividade coletiva em que todos participam de algum modo para a realização de alguma tarefa importante e que seria muito difícil realizar sem a colaboração de toda a comunidade, como a colheita da roça, o arrasto da rede de pesca, a preparação de alimentos, a construção de casas, entre tantas outras atividades. Origem: do Tupi-Guarani pitibõ, popitibõ, picorõ, que significa “ajudar”. Auxílio gratuito que prestam uns aos outros os membros de uma determinada comunida-de, reunindo-se todos em proveito ou de um de seus membros, ou de todos, como no caso da implementação de obra(s) de infraestrutura. (DICIONÁRIO de Palavras Brasileiras de Origem Indígena. Disponível em: https://www.dicionariotupiguarani.com. br/dicio-nario/mutirao/. Acesso em: 6 ago. 2019)

2 O termo caiçara tem origem tupi-guara-ni: caá-içara denomina as estacas colocadas em torno das tabas ou aldeias, além de cor-responder ao instrumento feito de galhos de árvores fincados na água para cercar os peixes. Com o tempo, o termo passou a ser usado para denominar as comunidades que vivem ao longo do litoral dos estados de São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro. (DIEGUES, A. C. S. Diversidade biológica e culturas tradicionais litorâneas: o caso das comunidades caiçaras. Série Documentos e Relatórios de Pesquisa, n. 5. p. 9. São Paulo: NUPAUB-USP, 1988).

3 CANCLINI, N. G. Culturas híbridas: estra-tégias para entrar e sair da modernidade. 2. ed. Tradução: Heloísa P. Cintrão e Ana Regi-na Lessa. 2. ed. São Paulo: Edusp, 1998.

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FANDANGO CAIÇARA NO LITORAL DO PARANÁ

na América Latina, tivemos uma permanente história de construção de culturas híbridas. Nesse longo processo, a modernidade passou a equivaler à noção de pluralida-de, mesclando relações entre grupos hegemônicos e su-balternos, tradicionais e modernos, cultos, populares e massivos.

Uma das críticas do autor aos recentes estudos sobre cultura popular refere-se ao fato de se interessa-rem mais pelos bens culturais (objetos, músicas, lendas) do que pelos sujeitos geradores e consumidores desses bens. Analisando as investigações sobre cultura, Canclini percebe que, nesses estudos, cultura popular pertence-ria àqueles desprovidos de patrimônio ou que não conse-guem o seu reconhecimento e a sua conservação como tal. Um exemplo dessa dinâmica pode ser observado nos artesãos: por não serem tratados como artistas, suas obras não participam do mercado de bens simbólicos e de seus processos de legitimação. São também popula-res nesses estudos os espectadores dos meios de comu-nicação de massa que, excluídos dos processos forma-tivos mais institucionalizados, são considerados inaptos para consumir a alta cultura, por não dominarem a termi-nologia e a história dos estilos artísticos. Contrário a essa perspectiva, Canclini propõe que os estudos da cultura popular exigem que nos livremos da pretensiosa con-cepção de autonomia absoluta ou de uma pureza dessas práticas, assim como do desejo complacente de autossu-ficiência, como se fosse possível ignorar as indústrias cul-turais, o turismo, as relações econômicas e políticas com os mercados nacionais e transnacionais de bens simbó-licos. Isso porque, para o autor, na cultura popular não há uma simples e pura repetição ordenada das tradições. Nela são confrontadas muitas práticas e muitos rituais são transgredidos por meio da incorporação de temas, costumes e tecnologias, como nos carnavais, nos bailes

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PROJETO MUTIRÃO +CULTURA

de fandango e na produção, divulgação e preservação de saberes como os da pesca, do mutirão e da confecção de peças de artesanato.

Esta coletânea, portanto, busca contemplar os objetivos das ações do Eixo 1 do Projeto Mutirão +Cultura – que se refere à atuação junto à Educação Básica –, con-forme edital do MEC/MINC. As ações do Eixo 1 traba-lharam com conhecimentos e conteúdos resultantes do mapeamento cultural colaborativo e do inventário das práticas culturais do litoral do Paraná, e também do de-senvolvimento e proposição de metodologias didáticas, como as Caixas Didáticas, a Contação de Histórias e as Rodas de Leitura, metodologias contextualizadas a partir da memória, de histórias, de representações e de identi-dades do litoral. Posteriormente ao processo de forma-ção dos professores, educadores e agentes culturais vin-culados às comunidades selecionadas, foram elaboradas propostas de atividades pedagógicas com a finalidade de servir de material de difusão da diversidade e pluralidade cultural do litoral a professores e educadores de outras regiões do Paraná e do Brasil.

Esperamos que a implementação de projetos te-máticos vinculados aos conhecimentos das comunida-des do litoral do Paraná nas escolas seja uma estratégia que possibilite abordar questões relacionadas aos sabe-res e práticas culturais, à educação ambiental, linguística e histórica e às noções de hospitalidade, de alteridade e de cidadania.

A partir dessas breves considerações, passamos a apresentar os fascículos que compõem a coletânea. Todos eles são resultado das ações previstas no Projeto Mutirão +Cultura e desenvolvidas nos últimos dois anos.

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FANDANGO CAIÇARA NO LITORAL DO PARANÁ

O primeiro fascículo trata das atividades de Turismo na Escola: uma proposta para o Ensino Fundamental. Tais ações referentes às práticas do tu-rismo partem da percepção de que, além de contar com praias de fácil acesso, o litoral é um local com grande di-versidade de opções de lazer, que atraem moradores de outras regiões do Paraná. Entre elas, destacam-se os ba-nhos de mar, de rio e de cachoeira, as visitas aos monu-mentos e ao patrimônio histórico e cultural, os passeios de barco pelas paisagens das baías e ilhas de Antonina, Paranaguá, Guaraqueçaba e Guaratuba, a experiência de conviver com moradores das propriedades rurais de Morretes, Antonina, Guaratuba e Guaraqueçaba e as visi-tas aos centros e caminhos históricos e à cadeia de mon-tanhas da Serra do Mar.

O fluxo turístico na região se intensificou a par-tir do século XX, com a construção, pavimentação e me-lhorias das estradas que ligam a capital do estado aos municípios litorâneos. As iniciativas de investimento em infraestrutura, além de possibilitarem o acesso ao por-to de Paranaguá e às rotas comerciais nas proximidades de Curitiba, viabilizaram o desenvolvimento das ativida-des balneárias e os passeios pelas diferentes paisagens do litoral. Partimos da premissa, portanto, de que o turismo como prática pedagógica torna-se essencial para que os educandos estejam preparados para receber e acolher os visitantes, para fazer uma análise crítica sobre as práti-cas do turismo e compreender as diversas possibilidades de realizá-lo, trazendo benefícios para o lugar em que vi-vem por meio do compartilhamento de saberes e da or-ganização social de sua comunidade. Para tanto, as pro-postas pedagógicas baseiam-se nos modelos de práticas aplicadas nas escolas municipais Antônio Barbosa Pinto,

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PROJETO MUTIRÃO +CULTURA

em Guaraqueçaba, e Iraci Miranda Kruger, em Guaratuba, promovidas no marco do projeto Mutirão +Cultura en-tre 2015 e 2018.

O segundo fascículo trata das atividades desen-volvidas com as comunidades indígenas do litoral que re-sultaram na exposição Nhande Mbya Reko: Nosso Jeito de Ser Guarani, realizada no Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR, em Paranaguá. Essa exposição se ca-racteriza por ter sido o resultado de uma curadoria com-partilhada. Em geral, na museologia, a curadoria se refere tanto ao conjunto de ações para a formação, conservação e documentação das coleções quanto aos procedimentos necessários para a montagem de uma exposição. Numa versão compartilhada ou colaborativa de curadoria, todas as decisões sobre a exposição são tomadas em conjunto. Nessa exposição participaram da curadoria a equipe do museu (antropólogos, museólogos, designers e um fotó-grafo) e representantes das cinco comunidades indígenas guarani participantes, todas elas localizadas na região do litoral do Paraná ou em suas imediações.

É importante ressaltar que os Guarani são um povo indígena que vive em territórios da Argentina, Paraguai, Bolívia e Brasil. A população guarani é de apro-ximadamente 284.000 pessoas, das quais 85.255 se en-contram no Brasil, em diversas terras indígenas e cidades de vários estados (RS, SC, PR, SP, RJ, ES, MS, PA). Ainda que a região do litoral do Paraná seja considerada um ter-ritório tradicionalmente guarani, como demonstram da-dos históricos e arqueológicos, as comunidades enfren-tam grandes dificuldades para usufruir dessas terras, de forma que lhes permitam desenvolver seu modo de vida.

Hoje, as terras que cada comunidade ocupa são insuficientes para desenvolver atividades de subsistên-cia tradicionais, como o cultivo da roça e a caça. Por essa

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FANDANGO CAIÇARA NO LITORAL DO PARANÁ

razão, os Guarani desenvolvem há décadas o artesanato como modo alternativo de obtenção de renda, tornan-do-o fundamental em muitas comunidades. Entretanto, isso não quer dizer que seja um simples produto econô-mico. Os artesanatos guarani refletem aspectos de sua cosmologia e da sua religiosidade. Foi a partir desses as-pectos e das narrativas que as propostas de atividades contidas nesse fascículo foram elaboradas.

O terceiro fascículo da coletânea, As comunida-des quilombolas do litoral do Paraná e suas histórias, busca dar visibilidade às práticas, aos saberes e às per-cepções sobre o modo de vida dos moradores de Batuva, uma das comunidades quilombolas do estado do Paraná. Batuva e Rio Verde são as duas comunidades remanes-centes quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares, e estão localizadas a 36 quilômetros do mu-nicípio de Guaraqueçaba. No estado do Paraná existem 86 comunidades quilombolas identificadas, sendo que 37 delas já são certificadas pela Fundação Cultural Palmares. Ainda assim, muitos dos municípios não sabem da exis-tência dessas comunidades, que permanecem em lugares de difícil acesso.

As Comunidades de Remanescentes de Quilombolas (CRQs) do Paraná, assim como as de todo o território brasileiro, tiveram sua formação no período da abolição do regime escravocrata. Apesar dos conflitos com os latifundiários e madeireiros, os trabalhadores das comunidades rurais quilombolas permanecem com sua cultura e tradição como um símbolo de resistência, rei-vindicando os direitos quilombolas e as implementações das leis e das políticas públicas que asseguram esses di-reitos. O fascículo traz algumas atividades sobre a histó-ria dessa comunidade e de seu modo de vida a partir dos relatos de seus moradores.

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PROJETO MUTIRÃO +CULTURA

O quarto fascículo apresenta atividades sobre o Fandango caiçara no litoral do Paraná. A cultura do fan-dango está presente em diferentes momentos da vida social das comunidades caiçaras, como nos casamentos, batizados e aniversários, ocupando papel importante no cotidiano delas. A partir do fandango, criam-se laços de solidariedade e convivência, disputas e alianças. O fan-dango, com algumas inovações, permanece até os dias de hoje como um elemento essencial na sociabilidade caiça-ra, e seus mestres, batedores e compositores são muito respeitados em suas comunidades.

Para trabalhar com o tema do fandango nas es-colas, o fascículo propõe uma construção coletiva de co-nhecimentos sobre os instrumentos, os passos do bailado e uma pesquisa sobre o pássaro que dá nome a uma das canções de fandango mais conhecidas das comunidades caiçaras.

O último fascículo, Blocos e escolas em Antonina: Bloco Boi Barroso e o resgate de histórias e práticas culturais, trata das práticas e saberes que en-volvem as atividades desenvolvidas com a comunidade do Boi Barroso, bloco carnavalesco (boi de mamão) do li-toral do Paraná. A brincadeira do boi integra o imaginário narrativo popular e, por ser uma história difundida oral-mente, está espalhada pelo Brasil em diversas versões, apresentadas no período do carnaval, nas festas juninas e julinas e em agosto, quando se comemora o dia nacio-nal do Bumba Meu Boi. No Brasil e no estado do Paraná, há várias formas de viver o período do carnaval. Há cida-des com desfiles de escolas de samba e blocos carnava-lescos e outras em que os bailes acontecem em clubes ou associações. Em algumas regiões, há comunidades que não “pulam” o carnaval, e para outras esse é um momen-to que corresponde ao início de um período de orações.

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FANDANGO CAIÇARA NO LITORAL DO PARANÁ

Esse período faz parte da cultura dos brasileiros e para-naenses e inclui diversas práticas sociais que convivem na maior parte das cidades.

Para conhecer o trabalho de resgate e realização da brincadeira do boi, esse último fascículo apresenta a versão de enredo apresentada pela comunidade do Boi Barroso, seus principais personagens e a marchinha que acompanha o desfile. Como proposta para a escola, há a possibilidade de fazer uma contação de histórias do en-redo ou mesmo representá-lo teatralmente, culminando numa grande brincadeira. Outras duas histórias são apre-sentadas para contação, baseadas na compilação de his-tórias das capelinhas católicas da cidade. Esse trabalho, liderado pelas irmãs Vera, Delma e Pilar, resultou na ex-posição Rogai por Nós, parte das atividades do Projeto Mutirão +Cultura na UFPR.

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PROJETO MUTIRÃO +CULTURA

Fandango Caiçara no Litoral do Paraná

Fandango Caiçara no Litoral do Paraná

Aqui venho de tão longe

Rompendo marés e ventos

Somente pra não faltar

No nosso divertimento

Versos do fandango da família Pereira Guaraqueçaba/PR

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FANDANGO CAIÇARA NO LITORAL DO PARANÁ

Fandango Caiçara no

Litoral do Paraná

Fonte: IPHAN

(BRASIL, 2018)

Entre o mutirão e a diversão: o fandango caiçara

O baile de fandango é uma confraternização dos

caiçaras como pagamento pelos mutirões, tradicional-

mente acompanhado de comidas e bebidas, como a ca-

taia, por exemplo. É dançado com tamanco de madeira,

calçado utilizado exclusivamente pelos homens. Assim,

constrói-se um som de sapateado, enquanto as mulheres

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PROJETO MUTIRÃO +CULTURA

dançam graciosamente com suas longas saias. Os ins-

trumentos utilizados são fabricados artesanalmente pe-

los fandangueiros, que utilizam principalmente a madeira

conhecida como caxeta. A formação instrumental é com-

posta basicamente de: dois tocadores de viola, um toca-

dor de rabeca – chamado de rabequeiro ou rabequista – e

um tocador de adufo ou adufe. O machete, instrumento

de cordas mais simples e menor que a viola, foi bastante

utilizado anteriormente, mas sua utilização é rara nos dias

atuais. Outros instrumentos utilizados por alguns grupos

são: violão, cavaquinho e instrumentos de percussão,

como pandeiro, surdos e tantãs.

De modo geral, as músicas cantadas no fandan go

caiçara falam sobre a vida dos caiçaras e contam histó rias

sobre o seu cotidiano, seus amores, sua fé, a natureza e

os desejos humanos, retratando o que é mais importante

em suas vidas.

A união de todos esses elementos faz com que o

fandango se caracterize como um universo musical par-

ticular que transita entre a fé, o parentesco, o trabalho e

a festa. Seu conjunto de coreografias, dançadas por ho-

mens e mulheres, auxilia na construção da sociabilidade

caiçara. Por essa razão, a cultura do fandango está pre-

sente nos diferentes momentos da vida social das co-

munidades, como casamentos, batizados e aniversários,

ocupando papel importante e, algumas vezes, decisivo na

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FANDANGO CAIÇARA NO LITORAL DO PARANÁ

inserção social do sujeito nas comunidades caiçaras. Ou

seja, a partir do fandango, criam-se laços de solidariedade

e até mesmo de rivalidade. Desse modo, ele se mantém

como um elemento essencial na sociabilidade caiçara, e

seus mestres, batedores e compositores são muito admi-

rados e aclamados.

Tanto os mutirões quanto as festividades do fan-

dango podem ocorrer em qualquer período do ano, exce-

to durante a Quaresma.

Os bailes de fandango que eram realizados nas

ocasiões de mutirão representam a cooperação e a soli-

dariedade entre as populações caiçaras, pois aconteciam

em momentos em que o trabalho coletivo era necessário,

como na pesca da tainha, na colheita ou na construção de

uma casa. Tinha-se, assim, a certeza da retribuição pelo

trabalho com um baile de fandango, que acontecia aos

sábados e domingos nas casas dos próprios moradores.

Instrumentos utilizados no fandango caiçara:

Rabeca, viola, machete, adufo e tamanco.

Fonte: NOSSO PIXURUM (2013)

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PROJETO MUTIRÃO +CULTURA

A única exigência para a escolha do local era que a casa

tivesse uma sala com chão de madeira para consolidar as

batidas do tamanco.

Os mutirões para trabalho ainda acontecem. Os

bailes de fandango como pagamento aos mutirões ain-

da são realizados nas noites de sábado e, atualmente, são

organizados por grupos de fandango, associações, coleti-

vos locais e grupos familiares e comunitários. Observa-se

que nos bailes atuais é possível encontrar fandangueiros

antigos e novos, o que contribui para a preservação da

me mória caiçara.

Em novembro de 2012, o fandango caiçara foi re-

gistrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional (IPHAN) como um dos bens imateriais que com-

põem o Patrimônio Cultural do Brasil.

O fandango caiçara no Brasil

O fandango tem como raiz a dança flamenca es-

panhola, que foi trazida ao Brasil pelos colonizadores

portugueses em meados do século XVIII. A partir desse

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FANDANGO CAIÇARA NO LITORAL DO PARANÁ

período, ela começou a fazer parte das comemorações das

comunidades locais no litoral do Paraná. Paulatinamente

surgiu uma variação deste estilo de dança e música que

ficou conhecida como “fandango”, cujos cantos e danças

normalmente contam histórias de amor e namoro, crian-

do um jogo entre casais.

Hoje, o fandango é parte do folclore brasileiro e

tem grande força no sul do país. Desse modo, faz parte da

vida dos caboclos do litoral paranaense, assumindo certo

caráter folclórico. Por isso é preservado até os dias atu-

ais como um patrimônio cultural da sociedade brasileira.

Pode-se dizer que o termo “território do fandan-

go caiçara” é o que melhor define a região em que ele

se tornou a principal expressão cultural das comunidades

caiçaras. Esse território também abarca as ações desen-

volvidas por fandangueiros, associações culturais, arte-

sãos, pesquisadores, alguns representantes do poder pú-

blico local, etc.

No Brasil, o fandango caiçara encontra-se pre-

sente nos estados de São Paulo e Paraná. Em São Paulo,

os municípios de Iguape e Cananeia, litoral sul do estado,

se destacam pela vivência da cultura fandangueira, que

se estende, ainda, em pequenos trechos de outros mu-

nicípios, como Peruíbe e Ilha Comprida. Já no estado do

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PROJETO MUTIRÃO +CULTURA

Paraná, os municípios do litoral norte – Guaraqueçaba,

Paranaguá e Morretes – são os que mantêm a cultura do

fandango viva.

O fandango representa uma forma de expressão

central no compartilhamento de práticas, modos de vida,

saberes e cosmovisões das populações caiçaras nos ter-

ritórios em que acontece. Em julho de 2008, durante o

II Encontro de Fandango e Cultura Caiçara, realizado no

município de Guaraqueçaba, foi entregue ao IPHAN um

pedido oficial de registro do fandango como um bem cul-

tural de natureza imaterial, conforme previsto no Decreto

3.551, de 4 de agosto de 2000. O documento foi assina-

do por mais de 400 pessoas participantes do evento, que

contou com a presença de fandangueiros, pesquisadores

e gestores.

Eventos como o encontro de Fandango e Cultura

Caiçara, que teve sua primeira edição realizada em 2007,

são importantes por permitirem o encontro de fan-

dangueiros e pessoas que apreciam essa cultura. Desse

modo, é possível preservar essa expressão cultural. Nesse

sentido, outra conquista importante foi a primeira edição

do guia impresso do circuito do Museu Vivo do Fandango,

entre 2008 e 2009.

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FANDANGO CAIÇARA NO LITORAL DO PARANÁ

O fandango caiçara no litoral do Paraná

Como vimos anteriormente, a atual configuração

do fandango no litoral do Paraná é o resultado de um pro-

cesso histórico-social que se dá a partir do final do sécu-

lo XIX, com a formação dos núcleos de povoamento. A

cultura do fandango adquiriu suas características a partir

dos modos de vida praticados nessas localidades, relacio-

nados às atividades rurais ligadas à roça, à pesca e ao ex-

trativismo.

Para os pescadores e as comunidades rurais situ-

adas nessas localidades, o fandango tinha um lugar im-

portante em suas vidas sociais e lúdicas. Mais do que es-

tar relacionado à organização do trabalho comunitário, o

mutirão, como era chamado, faz referência a um conjun-

to de laços sociais construídos na região. Laços pautados

na tríplice obrigação moral de dar, receber e retribuir.

O fandango representou, no município de

Morretes, uma manifestação intensa e singular. Isso por-

que seus tocadores utilizavam afinação e toques de vio-

la que diferiam dos utilizados nos municípios do Paraná

e de São Paulo e tinham uma maneira única de cantar ao

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PROJETO MUTIRÃO +CULTURA

improvisar os versos. Nesse município, destacam-se os

irmãos fandangueiros Fausto Pires, Antonio Pires, Dirceu

Pires e Antonio Asseção.

No município de Paranaguá, o destaque vai para

tocadores como Manequinho da Viola, um dos mais fa-

mosos tocadores da região, e Mestre Eugênio, um dos

mais respeitados fandangueiros locais que, durante a dé-

cada de 1990 até início dos anos 2000, mantinha uma

“Casa de Fandango” ao lado de sua residência, onde pro-

movia bailes aos sábados.

Destaca-se ainda a família Pereira, de

Guaraqueçaba. Pedro Pereira tocava rabeca no grupo de

Mestre Romão junto com seus primos – Anísio dos Santos,

Brasílio dos Santos e Waldemar Cordeiro – que tocavam

viola. Ele fazia a primeira voz do grupo, que também con-

tava com o adufeiro Valdomiro Miranda.

Em 2018, a família Pereira teve presença forte no

fandango caiçara do litoral do Paraná por meio dos irmãos

Heraldo e Leonildo Pereira, mestres fandangueiros res-

peitados e aclamados na região.

No que se refere aos grupos de fandango, o

de Mestre Romão é o mais antigo em atividade e des-

de os anos 1990 é apoiado pela Prefeitura Municipal de

Paranaguá. Já o grupo Pés de Ouro tem formação re-

cente e reúne músicos e batedores experientes. Há ain-

da dois grupos de jovens músicos e dançadores: um

na Ilha de Valadares, em Paranaguá, que compõe a

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FANDANGO CAIÇARA NO LITORAL DO PARANÁ

Associação Mandicuéra de Cultura Popular, e outro em

Guaraqueçaba, composto de adolescentes e jovens do

município, chamado Fandanguará. Vale lembrar que o

município de Guaraqueçaba é considerado um dos ber-

ços do fandango no litoral do Paraná, e algumas locali-

dades como Tagaçaba, Serra Negra, Rio Verde, Rio dos

Patos, Superagui, Vila Fátima e Ararapira ganham desta-

que por serem regiões em que o fandango se manifestou

fortemente.

Deve-se chamar a atenção para a migração das

pessoas que moravam nessas localidades para outros

municípios, principalmente Paranaguá, em busca de me-

lhores oportunidades de vida. Esse fato contribuiu para

a redução e, em algumas localidades, para o desapare-

cimento dos tocadores, como é o caso de Tagaçaba e

Serra Negra.

Na vila de Superagui, o fandango é praticado por

alguns músicos, como os irmãos da família Esquenine,

Pedro Miranda e Odair Siqueira. Nessa vila, o ponto de

encontro para a realização dos bailes de fandango é o bar

Akdov, que por vezes reúne antigos batedores e boa parte

da população da vila.

Na sede de Guaraqueçaba (ou Centro, como tam-

bém é conhecida), destacamos alguns músicos e dança-

dores, como Nilo Pereira e Vicente França, e os da família

Pereira: Heraldo Pereira – violeiro e construtor de instru-

mentos, ofício que aprendeu com seu pai, Anísio Pereira

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PROJETO MUTIRÃO +CULTURA

– e Leonildo Pereira, irmão de Heraldo, que reside atual-

mente em Rio dos Patos, localidade que foi o reduto da

família Pereira.

Desse modo, a família Pereira ganha destaque

como principal expressão contemporânea do fandango

paranaense. Essa família conta com mestres e tocadores

com idades entre 20 e 80 anos, e está espalhada pelo li-

toral sul de São Paulo, no Município de Cananeia, até os

municípios do litoral norte do Paraná, Guaraqueçaba e

Paranaguá.

Sugestões para o professorObjetivo: abordar temas vinculados ao fandango e ao

mutirão caiçaras como práticas culturais de maneira bre-

ve, dinâmica e de fácil compreensão, usando elementos

próximos aos estudantes.

Disciplinas relacionadas: Artes, Língua Portuguesa,

Biologia, História e Geografia.

Fandango na escola: pesquisa e baile de fandango

Uma atividade interessante seria convidar um dos

grupos de fandango para visitar sua escola, pe-

dir aos mestres que contem suas histórias para os

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Fandango Caiçara

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FANDANGO CAIÇARA NO LITORAL DO PARANÁ

alunos e, se possível, façam uma apresentação.

Caso a visita não seja viável, sugerimos algumas

atividades para serem desenvolvidas com todos

os alunos da escola ou com uma das turmas, que

posteriormente pode realizar uma apresentação

aos demais alunos da escola.

Documentário “Fandango Caiçara” - jun. 2012/IPHAN - publi cado em 2015

O fandango caiçara é uma expressão musical, co-

reográfica, poética e festiva cuja área de ocorrên-

cia abrange o litoral sul do estado de São Paulo e

o litoral norte do estado do Paraná.

Sistematização

Após ver o documentário do IPHAN por meio do

QR code, sistematize com os alunos as principais

informações em um cartaz. Os alunos podem es-

crever e fazer ilustrações sobre:

a baile — modos de dançar, acessórios e músicos;

b instrumentos — quais são e como são tocados

ou fabricados;

c como e por que se realiza o fandango na região

do litoral do Paraná;

d versos — quais são os temas, ou seja, sobre o

que falam as canções do fandango.

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Extras do documentário Fandango - Dança tradicional do Paraná (Dança Anu com Associação Mandicuera)

Fandango Superagui

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PROJETO MUTIRÃO +CULTURA

Vídeos e documentários

Além dos vídeos e documentários sugeridos abai-

xo, outros podem ser inseridos na atividade con-

forme o tempo e a disponibilidade de recursos do

professor.

O Projeto Memórias tem como objetivo regis-

trar e difundir a cultura popular. Com produção

coletiva, o registro realizado em janeiro de 2015

irá compor o documentário sobre o fandango na

Ilha de Superagui - PR.

Extras do documentário dirigido por Lia Marchi

sobre o tradicional baile de fandango realizado

no litoral do Paraná com os grupos Mandicuera e

Mestre Brasílio.

Realização: Olaria Projetos de Arte e Educação.

Canto do anu preto — Sons da natureza — Canto de passarinho

Para realizar essa atividade é importante ana-

lisar a le tra da canção com os alunos e discutir

com eles sobre a importância da relação dessas

comunida des com a fauna e a flora locais.

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FANDANGO CAIÇARA NO LITORAL DO PARANÁ

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CANÇÃO: O ANU

O Anu é passo preto, ai,

O Anu é passo preto,

Passarinho de verão,

Ai, passarinho de verão, ai...!

[palmas]

O Anu é passo preto, ai,

Quando canta à meia-noite,

Dá uma dor no coração,

Ai, dá uma dor no coração, ai..!

E se tu, Anu, soubesse,

Quanto custa um bem-querer,

Ai, quanto custa um bem querer, ai..!

[palmas]

Ai se tu, Anu, soubesse, ai,

Por certo não cantarias

Nas horas do amanhecer

Ai, nas horas do amanhecer, ai..!

Compositor : Barbosa Lessa

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Para saber mais sobre o Anu

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PROJETO MUTIRÃO +CULTURA

Após ler a letra e conversar sobre ela, sugerimos

o aprofundamento das atividades por meio dos vídeos

a seguir, que trazem informações sobre o pássaro Anu,

suas características, seu comportamento, seu habitat e

sua importância para a conservação da diversidade local.

Junto com seus alunos, aprenda a canção e ensaie

alguns passos, como os do vídeo “Extras…”, do do-

cumentário visto anteriormente.

Para o baile, se não for possível convidar um

dos grupos de fandango, use as gravações das can-

ções disponíveis nos vídeos para estudar alguns pas-

sos, ensaiar e entrar na brincadeira. O mais importan-

te é que os alunos percebam, além da sua importância

cultural, o sentido solidário, lúdico e colaborativo que

fazem do fandango e do mutirão práticas culturais

tão importantes para o cotidiano da vida social das

comunidades caiçaras.

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FANDANGO CAIÇARA NO LITORAL DO PARANÁ

Resultados esperados

Espera-se que os alunos interajam com as infor-mações dos textos e documentários sobre o fandango e de forma lúdica conheçam um pouco mais sobre algumas das mais importantes práticas culturais do país e do litoral do estado do Paraná.

Tanto o mutirão como a realização do baile do fandango são parte da história e do cotidiano dessas co-munidades. É importante conhecer essas práticas para poder compreendê-las melhor e valorizá-las como parte da identidade e do modo de vida de um grupo de pessoas.

Quando o aluno não as conhece é possível que tenha inicialmente uma posição de estranhamento em relação a essas práticas e não queira participar das ati-vidades por julgá-las inadequadas, por algum valor que compartilha com sua própria comunidade. É importante não forçar o aluno a participar diretamente das ativida-des. Entretanto, ainda que não participe das brincadeiras, é importante que o aluno compreenda que cada grupo, cada comunidade, cria seu modo de vida, suas festivida-des, sua forma de ver o mundo e que compreenda que não há um modo correto em detrimento dos demais. Há modos diferentes e que devem ser respeitados como par-te da organização e da história de cada povo. Assim como

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PROJETO MUTIRÃO +CULTURA

ele pode estranhar algumas práticas, outros alunos, em outros locais, podem estranhar coisas que para ele são “normais”, cotidianas. Tente conversar com os alunos so-bre isso e refletir com eles:

“Quais atividades que, para nós, são comuns e

que podem não ser para outras pessoas, ou que

sabemos que elas fazem de modo diferente?”

É importante dizer aos alunos que os diferen tes modos de organização da vida social permitiram aos ho-mens ocupar todos os ambientes do planeta, in teragindo

com a natureza e produzindo suas próprias culturas.

ReferênciasBRASIL. IPHAN. Fandango Caiçara. Disponível em:

http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/83. Acesso

em: 30 ago. 2018.

BRASIL. IPHAN. Fandango Caiçara: Texto descritivo com-

pleto. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uplo-

ads/ckfinder/arquivos/Dossi%C3%AA%20Fandango%20

Caicara.pdf. Acesso em: 30 ago. 2018.

NOSSO PIXURUM. Guaraqueçaba. Disponível em: http://

informativo-nossopixirum.blogspot.com/2013/01/.

Acesso em: 30 ago. 2018.

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FANDANGO CAIÇARA NO LITORAL DO PARANÁ

UFPR. Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC).

Mutirão +Cultura na UFPR. Disponível em: http://www.

proec.ufpr.br/maiscultura/index.html. Acesso em: 4

jul. 2018.

Equipe Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP)Sandro Miguel Mendes (coordenador):

Administrador, Mestre em Turismo, Doutorando em

Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Raquel dos Santos Vieira:

Bacharela em Gestão e Empreendedorismo, Graduanda em

Gestão de Turismo, Mestra em Turismo, Doutoranda em

Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Luiza Stopasolla Pinto:

Graduanda em Turismo

Pedro Pacheco da Silva:

Graduando em Produção Cênica

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IlustraçãoDaniella Valendorff e Pedro Ramos

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TítuloMutirão +Cultura Blocos e Escolas em Antonina: Bloco Boi Barroso e o Resgate de Histórias e Práticas Culturais

Projeto Gráfico Victor Uchoa

Revisão de Texto Fernanda Cristina Lopes Pamela Cristine de Oliveira

Revisão de Texto Daniele Soares Carneiro Luana Zacharias Karam

Nº Páginas 36

ISBN 978-85-8480-214-2

Tipografia & Papel Prater Sans Pro [título] e Ratio [texto] Papel offset 120g/m² [miolo] e 180g/m² [capa] Impresso na Imprensa da UFPR

Tiragem 100

O projeto gráfico do Mutirão +Cultura foi criado a partir de um conceito: os rabiscos. As ilustrações de todos os fascículos remetem aos desenhos feitos nas bordas de livros e cadernos por todos que um dia já foram alunos. Para complementar e criar maior coesão no conjunto, cada caderno possui uma cor (ou uma paleta de cores) que remete ao tema tratado no fascículo.

FANDANGO CAIÇARA NO LITORAL DO PARANÁ

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DIREITOS DESTA EDIÇÃO RESERVADOS À EDITORA UFPRRua João Negrão, 280, 2O andar – Centro

Tel.: (41) 3360-7489

80010-200 – Curitiba – Paraná – Brasil

www.editora.ufpr.br

[email protected]

2019

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. SISTEMA DE BIBLIOTECAS. BIBLIOTECA CENTRAL – COORDENAÇÃO DE PROCESSOS TÉCNICOS

B651 Blocos e escolas em Antonina : bloco Boi Barroso e o resgate de histórias e prá-ticas culturais / organizadoras : Deise Cristina de Lima Picanço, Fernanda Cristi-na Lopes, Pamela Cristine de Oliveira. – [Curitiba] : Ed. UFPR, 2019.

49 p. : il., color. ; 22 cm.

Acima do título: Projeto Mutirão + Cultura.

Inclui referências: p. 47.

ISBN 978-85-8480-214-2

1. Folclore - Paraná 2. Bumba-meu-boi - Antonina (PR). 3. Danças folclóricas brasileiras - Paraná. I. Picanço, Deise Cristina de Lima, 1969- . II. Lopes, Fernanda Cristina, 1993- . III. Oliveira, Pamela Cristine de, 1994- . IV. Universidade Federal do Paraná. Museu de Arqueologia e Etnologia. V. Universidade Federal do Paraná. Projeto Mutirão Mais Cultura. VI. Título.

CDD: 394.598162

CDU: 793.3(816.2)

Bibliotecário: Arthur Leitis Junior - CRB 9/1548

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