mÚsicos, fatos -...

12

Upload: hoangdan

Post on 07-Feb-2019

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

REVISTA MENSAL DO JAZZ – POR PEDRO CARDOSO EDIÇÃO Nº 93 – FEVEREIRO/2014 PÁGINA 1 DE 11

MÚSICOS, FATOS & CURIOSIDADES • Nº 93 • FEVEREIRO 2014

CHARLIE PARKER: GLÓRIA MUSICAL, ABISMO PESSOAL - 1ª PARTE

01 - A ORIGEM DESSA SÉRIE

Dois fatores deram origem ao trabalho que estaremos apresentando a partir do presente mês de fevereiro de 2014 na “Revista Mensal do Jazz” da “Traditional Jazz Band Brasil”. Em primeiro lugar o acompanhamento desde os anos 1940 do trabalho musical de Charlie Parker, “Bird”, com certeza o maior responsável pelos novos rumos da música de JAZZ a partir daquela década, o “bebop”, o músico que imprimiu ao lado de poucos mais a segunda grande revolução na “Arte Popular Maior”, o JAZZ (claro que o “revolucionário” incial foi Louis Armstrong na segunda metade da década de 1920). A dificuldade de importação de discos na primeira metade do século passado não era obstáculo para seguir colecionando a obra gravada de Parker, discos inicialmente de 78rpm, as famosas “bolachas” que tanto prazer e emoção proporcionavam ao recebe-las, ouví-las e dividí-las com os amigos, analisando cada nota, cada compasso, a gestação do “bebop”, os acompanhantes que ao lado de Parker davam forma ao novo estilo, às novas concepções. Ouvir os programas em ondas curtas (“A Voz da América”, vale dizer “Willis Conover”) era um achado, devidamente anotado em seus detalhes e mais adiante comentado com os colegas. O segundo fator foi conhecer, a amizade e a troca de conhecimentos com o recém-falecido Luiz Carlos Lassance Antunes, o LULA, idealizador, produtor e apresentador do programa radiofônico “O Assunto É Jazz” (rádios Difusora Fluminense e Fluminense-FM, 1958 a 1994, 1.828 programas, Niterói, RJ). Conhecí LULA indo ao seu programa (sempre transmitido ao vivo dos estúdios da emissora) em 11 de dezembro de 1984, quando LULA apresentou no seu programa faixas com os pianistas Elmo Hope, Tommy Flanagan, Hank Jones e Bud Powell, entre outras atrações). O programa era transmitido às terças-feiras com 02 horas de duração (22 às 24.00 horas), exceto na comemoração no final do mês de dezembro,, quando eram consumidas 04 horas (22 às 02.00 horas), sempre com os estúdios recebendo

REVISTA MENSAL DO JAZZ – POR PEDRO CARDOSO EDIÇÃO Nº 93 – FEVEREIRO/2014 PÁGINA 2 DE 11

ouvintes, músicos e amigos, além de respostas aos telefonemas etc: ambiente de festa, congraçamento, troca de informações, enfim uma “JAM” de “conhecimento”.

Nos programas semanais era habitual que após o encerramento LULA e os amigos presentes fossem para uma pizzaria, lá mesmo em Niterói, prosseguindo-se na conversa sobre JAZZ. Nessa época e por questões profissionais vivia com minha família no Rio de Janeiro, tendo se tornado habitual que a amizade com LULA envolvesse visitas à residência dele (em Niterói), assim como idas dele à minha morada (na Tijuca). A amizade entre as famílias cresceu, filhos meus tornando-se “sobrinhos” do LULA e filhos e filha dele tornando-se pessoas de minha estima. Correram os anos com a amizade estreitando-se sempre: trocas de livros, discos, CD’s, fitas VHS, DVD’s, idas às apresentações de músicos de JAZZ, enfim, um permanente ouvir, assistir e sempre conhecer mais JAZZ.

Em 1990 e novamente por questões profissionais retornei com minha família para São Paulo, Avenida Paulista, o que colocou 450 quilômetros entre 02 amigos, mas só fez aumentar o intercâmbio de informações e de visitas Rio/São Paulo, já que todos os eventos e novidades do que ocorria na paulicéia e do meu conhecimento, em particular com relação à “Traditional Jazz Band”, eu as passava para o LULA, que as informava aos seus ouvintes via “O Assunto É Jazz”. Em contrapartida e em nossas trocas telefônicas de novidades, LULA mantinha-me atualizado com o panorama do JAZZ no Rio de Janeiro e no mundo. Corria o ano de 1991 quando resolví sistematizar todas as informações que possuía sobre Parker: gravações com datas, locais, músicos componentes e gravadoras, livros, recortes, anotações, dezenas de artigos em revistas, o dia-a-dia da vida de Parker que conseguia coletar em publicações, enfim, a carreira musical e pessoal de “Bird”, ano a ano. Pronto esse “draft” inicial, enviei-o ao LULA que analisou, enriqueceu e deu a idéia de incluir em cada ano fatos importantes no meio musical e no mundo, como forma de contextualizar esse panorama, facilitando o entendimento para cada eventual futuro Leitor. Com esse rascunho enriquecido, agreguei toda uma “bibliografia”, uma “filmografia” e uma “discografia” recomendada como a mais importante dentre as 1.387 faixas gravadas de Parker. Consultamos ainda amigos e colegas do meio jazzístico (agradecimento especial para o confrade CARLOS MULLER), que nos honraram com suas apreciações, críticas e comentários valiosos. Sabemos que muito da obra de Parker vem sendo desvendada ao longo do tempo, mas o fato é que até o momento (fevereiro de 2014), nosso trabalho é o que abrange todo o “conhecido” sobre essa figura. O título do trabalho tem como objetivo cobrir as 02 facetas mais marcantes de Parker: glória musical por sua obra enquanto músico e abismo pessoal

que define sua progressiva queda dominada pelo vício.

LULA foi palestrante no “1º Festival de Jazz São Paulo / Montreux”, 1978, São Paulo, com o tema “A Música de Charlie Parker

”; importante assinalar que na ocasião um dos presentes e também palestrante foi o grande crítico e escritor de JAZZ, o saudoso Leonard Feather.

De minha parte fui o palestrante no “Mostra Jazz Music SP” em 14/julho/2009, com o tema “Charlie Parker, A Segunda Revolução

”.

Luiz Carlos Antunes e Pedro Cardoso trabalham juntos sobre a obra de Parker

REVISTA MENSAL DO JAZZ – POR PEDRO CARDOSO EDIÇÃO Nº 93 – FEVEREIRO/2014 PÁGINA 3 DE 11

Essa a “ORIGEM” do trabalho que passamos a apresentar, sendo certo que quaisquer indicações que venhamos a receber dos prezados Leitores será mais que bem recebida, no sentido de ampliar e, tanto quanto possível, tornar “COMPLETA” uma obra sobre Parker. A sequência dessa série será a seguinte:

CAPITULOS REVISTA MENSAL 01 – A Origem 02. Apresentação 03. O Início 04. 1940 – A Primeira Gravação “Comercial”

93 Fevereiro/2014

05. 1941 – No “Berço” do Bebop 06. 1942 - A IIº Guerra Mundial 07. 1943 - Parker e Gillespie na Estrada

94 Março/2014

08. 1944 - Gravações Para a Savoy 09. 1945 - Parker = Uma “Estrela” na Rua 52”

95 Abril/2014

10. 1946 - Jazz At The Philharmonic 11. 1947 - Gravações “Piratas

96 Maio/2014

12. 1948 - O Melhor Sax.Alto pela Metronome 13. 1949 - Aclamação em Paris

97 Junho/2014

14. 1950 - Parker em Circuito Europeu 15. 1951 - Parker “With Strings” nos U.S.A

98 Julho/2014

16. 1952 - Sessão de Gravação Fotografada 17. 1953 - O Maior Concerto de Jazz

99 Agosto/2014

18. 1954 - Caminhando Para o Final 19. 1955 - Parker Dies = Bird Live

100 Setembro/2014

20. Epílogo - Quem, afinal, foi Charlie Parker ? 21. Discografia e Textos Discográficos

101 Outubro/2014

22. Bibliografia 23. Filmes e Vídeos

102 Novembro/2014

24. Índice dos Registros Gravados, por Data

103 Dezembro/2014

Encerrada a presente série sobre Charlie Parker, a partir de janeiro/2015 estaremos prosseguindo com o desfile dos “Perfís”, série que apresentamos de março/2009 na “Revista Mensal do Jazz” nº 42 até julho/2010 na “Revista” nº 58 (um pouco da história, discografia, bibliografia e filmografia de cada músico). São os consagrados musicalmente por sua excelência, aqueles que marcaram ou definiram uma “escola”, uma “personalidade” musical.

REVISTA MENSAL DO JAZZ – POR PEDRO CARDOSO EDIÇÃO Nº 93 – FEVEREIRO/2014 PÁGINA 4 DE 11

Assim, teremos: • ART BLAKEY • ART PEPPER • CLIFFORD BROWN • DEXTER GORDON • ERROLL GARNER • FATS NAVARRO • HAMPTON HAWES • JOHNNY GRIFFIN • LEE MORGAN • STAN GETZ • TETE MONTOLIU e outros mais.

02 – APRESENTAÇÃO

Estas notas pretendem ser uma coletânea tão completa quanto possível das gravações existentes de Charlie Parker / BIRD (pelo menos até fevereiro de 2014), originalmente comerciais ou assim tornadas a partir de coleções particulares (gravações em estúdios - “másters” e “alternates” – em hotéis, salões, residências, bares, entrevistas etc). Capitulamos o trabalho por ano e a partir de 1940, onde se localiza o primeiro registro gravado de Parker. As gravações são apresentadas, como tão ao gosto dos apreciadores do JAZZ, com indicação da data, do local, do tema (“faixa”) e sua duração, seguindo-se a formação (quando conhecida) dos músicos em seus respectivos instrumentos e da gravadora. Optamos por indicar na maioria dos casos apenas 01(uma) gravadora quando, em muitos casos, o registro encontra-se em 02, 03 ou mais selos. Quando a gravação envolve algum fato importante, ele é indicado ou comentado. Encontramos divergências relativas a algumas gravações de PARKER, quer quanto a datas, aos componentes das formações, aos temas ou, ainda, aos locais das gravações. Em cada caso tomamos como boa a informação de mais de uma fonte, ou constante em documento de gravadora, ou em jornal / revista / publicação de época e de autor mais reputado, o que não garante “a verdade absoluta”, mas um bom esforço de aproximação. Eliminamos discussões sobre os argumentos de cada autor pesquisado quanto às citadas divergências, pois a intenção final é fornecer um roteiro bastante seguro para o Leitor, nunca um “tribunal” de discussão interminável. Procuramos mostrar a obra comercialmente disponível de PARKER, na sequência histórica de sua vida, do JAZZ e de um ou outro acontecimento marcante de cada ano, como forma de contextualizar, criar referências e panorama de época para o Leitor. Assim e após o capítulo 03. INÍCIO

, os demais têm a seguinte estrutura em cada ano:

Especificamente sobre CHARLIE PARKER

:

• gravações de PARKER; • fatos marcantes na vida de PARKER.

REVISTA MENSAL DO JAZZ – POR PEDRO CARDOSO EDIÇÃO Nº 93 – FEVEREIRO/2014 PÁGINA 5 DE 11

Sobre cada ano

:

• algumas composições ligadas ao JAZZ e ao populário americano; • algumas gravações de músicos de JAZZ; • alguns filmes com a participação de músicos de JAZZ; • alguns livros sobre JAZZ; • alguns nascimentos e alguns falecimentos de músicos de JAZZ ; • alguns poucos fatos importantes de caráter geral.

Pensamos poder fornecer para o Leitor bons momentos de leitura sobre PARKER mas, com absoluta certeza, os melhores momentos sobre esse músico notável serão desfrutados ouvindo-o. Ainda assim estaremos recompensados se cada Leitor puder apreciar e utilizar o trabalho de alguma forma, tanto quanto agradeceremos qualquer informação adicional sobre a obra gravada de PARKER (correções, ampliações etc). É firme convicção dos Autores que a música e a história do JAZZ, já com mais de um século, contem tanto fatos quando versões e que nos chegaram, em muitos casos, por tradição oral, vale dizer, muitas são histórias, outras tantas são estórias; por esse motivo consideramos que o presente livro tem como objetivo “aproximar-se

” da verdade final.

São Paulo e Niterói, 2011, os Autores São Paulo, 2014, atualização por Pedro Cardoso

03 – O INÍCIO

Charles Christopher Parker Jr. (habitualmente grafado “Charlie”, codinome “Bird”) nasceu num domingo, 29 de agosto de 1920, filho de Charles Parker Sr. e de Addie Parker (Boyley de solteira) na Cidade de Kansas / Kansas. No início deste 1920 (17/janeiro) é instituida a “Lei Seca” no território americano e, imediatamente e por possuir vasto parque industrial de produção e engarrafamento de bebidas alcoólicas, Chicago torna-se o centro clandestino de distribuição e consumo, devidamente manietado pelo gangsterismo. Dias antes do nascimento de PARKER e prenunciando sua formação no “blues” de Kansas City como futuro musical, Mammie Smith já registrara em disco, pela primeira vez, um Blues

.

Proliferam em New York os “dixieland fives”: Alabama Five, Georgia Five, Louisiana Five e outros. Também em New York, Fletcher Henderson toca com a orquestra de W. C. Handy, o “Pai do Blues”, enquanto que em Londres a banda de Benny Peiton apresenta como atração Sidney Bechet. Em 1927 a família de PARKER muda-se para Kansas City/Missouri. Em 24/outubro/1929 ocorre a “quebra” em Wall Street. Em 1931 PARKER termina o curso primário na Charles Summer Elementary School (até então um aluno exemplar). Ganha seu primeiro saxofone (um alto de segunda mão por US$ 45.00) de sua mãe, sempre super-protetora. Após passar pela Crispus Attucks Public School e pela Lincoln High School (já então um “gazeteiro”), PARKER começa a estudar música (1933, tocando sax-barítono e clarinete na Banda Escolar, com o professor Alonzo Lewis), mas é no ano seguinte e com o pianista Lawrence Keyes que ele se dedica ao sax-alto.

REVISTA MENSAL DO JAZZ – POR PEDRO CARDOSO EDIÇÃO Nº 93 – FEVEREIRO/2014 PÁGINA 6 DE 11

A essa altura o jovem PARKER vive intensamente a vida noturna de Kansas. Em abril de 1934 PARKER conhece aquela que viria a ser sua primeira esposa, Rebecca (então com 14 anos). Casam-se em 25/07/1936, os dois com 16 anos, ela meses mais velha que ele. Em 1935 o jovem CHARLIE já é músico profissional na banda de Lawrence Keys (“Deans of Swing”), tocando no bar “Thanks Giving” por US$1.25 cada tarde. Apresenta-se regularmente no “Green Leaf Garden”. Na primavera de 1936 ocorre o episódio retratado no clássico filme de Clint Eastwood, “Bird”: numa “jam session” no “Reno Club” e enquanto se apresenta buscando exibir alguns “macetes” previamente ensaiados, PARKER atravessou o ritmo e o baterista Jo Jones humilhou-o, atirando um prato da bateria sobre o palco como protesto por seu pobre desempenho musical, o que levou o público às gargalhadas e PARKER a retirar-se cabisbaixo. PARKER dedica-se seriamente ao estudo musical e à prática em seu instrumento (pelo menos 12 a 14 horas diárias), o sax-alto, com o pianista Carrie Powell ensinando-lhe escalas, harmonias, acordes. Passa pelo combo de George Lee e, em 27/novembro/1936, retornando de apresentação em Jefferson City, o carro em que viaja sofre acidente: PARKER quebra 03 costelas e fica de cama 02 meses (no mesmo acidente morre o contrabaixista George Wilkerson, enquanto o baterista Ernest Daniels tem um pulmão perfurado). PARKER recebe indenização que lhe permite comprar um saxofone novo, um “Selmer” e tomar aulas com Tommy Douglas. Em julho/1937 PARKER é flagrado pela mulher Rebecca usando droga injetável. Estuda os solos de Lester Young e aprimora-se com Carrie Powell e Efferge Ware. Ainda em 1937 passa por duas bandas de Buster Smith, com quem também estudou (a primeira um combo com 05 músicos que se apresenta no night-club “Lucille’s Paradise” e a outra um conjunto com 12 integrantes, que excursiona “on-the-road”) e depois pela de Jay McShann por 03 semanas. É nesse ano de 1937 que Picasso pinta sua obra maior, “Guernica”, memorizando o bombardeio, pela aviação nazista, da cidade de Guernica-Lumo em 26/04/1937 (a Guerra Civil espanhola iniciada em 1936 sómente terminou em 01/04/1939 e apenas em 1947 a Espanha foi declarada uma “monarquia”, tendo como regente o ditador Francisco Franco, “caudillo de España por la gracia de Diós”, conforme grafado em todas as moedas de peseta). Em 1938 nasce o primeiro filho de PARKER com Rebecca, Francis Leon Parker. Ele trabalha algum tempo com a banda de Harlan Leonard. Em 1939 conhece Dizzy Gillespie que lhe proporciona apresentar-se no “Booker T Hotel” (Kansas City). Chega a New York no final desse ano e emprega-se como lavador de pratos no clube “Jimmy’s Chicken Shack”, local onde atua regularmente o notável pianista Art Tatum: pode-se dizer que é mais uma “escola” para Parker. Torna-se permanente frequentador do Harlem (em especial do “Clark Monroe’s Uptown House”), onde toca. Billy Moore, trumpetista da banda de Count Basie, é o quase único incentivador de seu estilo, enquanto todos os demais músicos aconselham-no a tentar a sonoridade de Benny Carter. Toca por 40 ou 50 centavos de dólar por noite, excepcionalmente faturando U$6.00 por noite. É em dezembro desse ano, 1939, tocando no “Dan Walls” (casa noturna da 7ª Avenida, entre as ruas 139 e 140) e durante a interpretação de “Cherokee” (tema de Ray Noble), que PARKER inicia sua técnica de intercalar notas nos intervalos de acordes. Ao longo de sua carreira PARKER trabalhará

REVISTA MENSAL DO JAZZ – POR PEDRO CARDOSO EDIÇÃO Nº 93 – FEVEREIRO/2014 PÁGINA 7 DE 11

“Cherokee” em sucessivas ocasiões (“work-in-progress”), até alcançar a execução de seu tema “Ko-Ko” em 26 de novembro de 1945, uma vertiginosa aventura de 128 compassos em 2’54”. O 1º registro gravado de PARKER é de 1940 (originalmente “não comercial” e provavelmente entre maio e novembro, em Kansas City), aos 20 anos de idade. Trata-se do solo “a capela” do clássico “Body and Soul” (3’40”), precedido de breve introdução com o tema de “Fats” Waller “Honeysuckle Rose”. Parker com apenas 20 anos e ainda distante de seu domínio técnico futuro, é imediatamente identificável por sua “voz”, seu timbre no sax-alto. Entre outras gravações, este registro é encontrado no CD volume 1-4 da série italiana “Philology / Bird’s Eyes”, assim como no CD nº 1 da série francesa “Masters Of Jazz – Média 7”. É após essa gravação e no ano de 1940, que iniciamos a série de gravações de PARKER. Ainda no ano do nascimento de PARKER, 1920, e entre tantos outros podem ser citados, dentro do panorama do JAZZ e no mundo, os fatos seguintes. ALGUMAS COMPOSIÇÕES Whispering - Vincent Rose / Richard Coburn / John Schonburger Avalon - Vincent Rose / Al Jolson / Buddy De Sylva ALGUMAS GRAVAÇÕES Original Dixieland Jazz Band Londres - My Baby’s Arms / I’ve Got My Captain Working For Me Now / Tell Me (08/02). I’ve Lost My Heart In Dixieland / I’m Forever Blowing Bubbles / Mammy O’Mine (10/02), Alice Blue Gown / Soudan / Sphinx (14/05) New York - Palesteena /Sweet Mamma / Margie / Broadway Rose (entre 01 e 30/12)

Mammie Smith New York - 1ª gravação de “blues” para o selo Okeh Records - Crazy Blues / It’s Right Here for You (10/08), The Road is Rocky / Fare Thee Honey Blues (12/09). Mem’ries of You, Mammy / If You Don’t Want Me Blues (05/11), Don’t Care Blues / Lovin’ Sam from Alabam (06/11) Eubie Blake & Noble Sissle New York - Broadway Blues (20/07), Crazy Blues (16/12) NASCIMENTOS Betty Roche (vocal, 09/01), Bob Enevoldsen (trombone, 11/01), Jimmy Forrest (sax-tenor, 24/01), Joe Mondragon (contrabaixo, 02/02), Abe Most (clarinete, 27/02), Marian McPartland (piano, 20/03), John La Porta (palhetas, 01/04), Art Van Damme (acordeão, 09/04), John Lewis (piano, 03/05), Bill Barber (tuba, 21/05), Peggy Lee (vocal, 26/05), Britt Woodman (trombone, 04/06), Shelly Manne (bateria, 11/06), Hazel Scott (vocal e piano, 11/06), Paul Gonsalves (sax-tenor, 12/07), George Duvivier (contrabaixo, 17/08), Don Lamond (bateria, 18/08), Yusef Lateef (palhetas, 09/10), Dave Brubeck (piano, 06/12), Clark Terry (trumpete, 14/12), Irving Ashby (guitarra, 29/12)

REVISTA MENSAL DO JAZZ – POR PEDRO CARDOSO EDIÇÃO Nº 93 – FEVEREIRO/2014 PÁGINA 8 DE 11

ALGUNS FATOS IMPORTANTES Em 25/01 falece Amadeo Modigliani. Durante o mês de fevereiro recrudesce a Gerra Civil russa. Em 28/08 uma emenda do Congresso americano garante o direito de voto para as mulheres nos USA.

04 - 1940 – A PRIMEIRA GRAVAÇÃO “COMERCIAL”

09/08, Trocadero Ballroom, Wichita, Kansas

1. Sign Off Theme (One O’Clock Jump), 2’18” 2. Jumping At The Woodside, 3’15” 3. Walkin’ And Swingin’ (I Got Rhythm), 3’36” Orquestra de Jay McShann: Buddy Anderson e Orville Minor (trumpetes), Bob Gould (trombone), Parker e John Jackson (saxes-alto), Bob Mabane(sax-tenor), Jay McShann (piano), Gene Ramey (baixo) e Gus Johnson (bateria). Gravações: Stash/CD 542 (faixas 1 e 2) e CD Masters of Jazz 78 (faixa 3).

30/11, Wichita, Kansas

1. I Found A New Baby, 2’59” 2. Body And Soul, 2’51” 3. Moten Swing, 2’48” 4. Coquete, 3’09” 5. Lady Be Good, 2’56” 6. Wichita Blues, 3’09” 7. Honeysuckle Rose, 2’58” Jay McShann e Octeto: Buddy Anderson e Orville Minor (trumpetes), Bob Gould (trombone e violino em “Wichita Blues”), Parker (sax-alto), William J. Scott (sax-tenor nas faixas 1 e 2), Bob Mabane (sax-tenor nas faixas 3 e 7), Jay McShann (piano), Gene Ramey (contrabaixo) e Gus Johnson (bateria). Há fontes que indicam a data da gravação de “Lady Be Good” (ou “Oh! Lady Be Good”) como sendo 02 de dezembro de 1940 e incluem Bob Mabane ao sax-tenor (o que claramente não aconteceu, bastando ouvir-se a gravação para constatar a ausência de sax-tenor) Gravações: Stash/CD 542 e CD Masters of Jazz 78. ALGUNS FATOS IMPORTANTES NA VIDA DE CHARLIE PARKER Retornou de New York a Kansas City, para assistir ao funeral do pai (apunhalado por uma prostituta durante briga em meio a bebedeira e jogatina). Incorporou-se à banda de Harlan Leonard onde fez amizade com o pianista e arranjador Tadd Dameron. Foi para a banda de Jay McShann. ALGUMAS COMPOSIÇÕES The Nearness Of You - Hoagy Carmichael / Ned Washington Tuxedo Junction - Erskine Hawkins / Julian Dash / William Johnson How High The Moon - Morgan Lewis / Nancy Hamilton In a Mellotone / Cottontail - Duke Ellington.

REVISTA MENSAL DO JAZZ – POR PEDRO CARDOSO EDIÇÃO Nº 93 – FEVEREIRO/2014 PÁGINA 9 DE 11

ALGUMAS GRAVAÇÕES Louis Armstrong e Orquestra New York - Wolverine Blues / Lazy ‘Sippi Steamer / Hep Cat’s Ball / You’ve Got Me Voodoo’d / Harlem Stomp (14/03) Sweethearts On Parade / Cain and Abel / You Run Your Mouth / Cut Off My Legs and Call Me Shorty / I’ll Run My Business (01/05) Count Basie e Orquestra New York - Tickle Toe / I Never Knew(19/03) Super Chief (31/05) Sidney Bechet’s Blue Note Quartet New York - Saturday Night Blues / Dear Old Southland / Lonesome Blues / Bechet’s Steady Rider (27/03) Nat “King” Cole Trio Los Angeles - Sweet Lorraine / Honeysuckle Rose / This Side Up / Gone With the Draft (06/12) Duke Ellington e Orquestra New York - Mood Indigo / Solitude / Sophisticated Lady / Stormy Weather (14/02) Ella Fitzgerald e Orquestra New York - A-Tisket, A-Tasket / Diga Diga Doo / Limehouse Blues / Blue Lou / Swing Out / Tain’t Whatcha Do / I’m Confessin’ (20/03) Benny Goodman Sexteto com Charlie Christian New York - Gone With What Wind / Till Tom Special (07/02) Royal Garden Blues / Wholly Cats / Benny’s Bugle / As Long As I Live (07/11) Coleman Hawkins New York - My Blue Heaven / When Day Is Done / The Sheik Of Araby / Bouncing With Bean (03/01) Earl Hines New York - Body And Soul / Child Of A Disordered Brain (26/02) Billie Holiday New York - Body And Soul / Ghost Of Yesterday / What Is This Going To Get Us? / Falling In Love Again (29/02) Time On My Hands / Laughing At Life / Tell Me More / I’m Pulling Through (07/06) Django Reinhardt Paris - Nuages / Swing 41 / Exactly Like You / Sweet Sue / Vendredi 13 (13/12) Artie Shaw e Orquestra Los Angeles - Concerto For Clarinet (17/12) “Fats” Waller New York - Send Me, Jackson / Too Tired (11/04). ALGUNS FILMES Second Chorus (no Brasil “Amor de Minha Vida”), com Artie Shaw e banda contracenando com a dupla Fred Astaire e Paulete Godard Let’s Make Music, com a banda de Bob Crosby. ALGUNS LIVROS Boogie-Woogie Piano Styles, Sharon Pease How To Build A Dance Band And Make It Pay, Ralph Williams.

REVISTA MENSAL DO JAZZ – POR PEDRO CARDOSO EDIÇÃO Nº 93 – FEVEREIRO/2014 PÁGINA 10 DE 11

ALGUNS NASCIMENTOS William Anderson (trombone, 16/02), Harold Jones (bateria, 27/02), Astrud Gilberto (29/03), Sal Nistico (sax-tenor, 02/04), Herbie Hancock (piano, 12/04), Oscar Castro Neves (piano, 15/05), Lew Tabackin (sax-tenor, 26/05), Alcides Lima – “Cidão” (bateria, 07/07), Roscoe Mitchell (palhetas, 03/08), Paulo Sérgio Vale (composição, 06/08), Hamiet Bluiett (palhetas, 16/09), Gary Bartz (palhetas, 26/09), Pharoah Sanders (sax-tenor, 13/10), Reggie Johnson (contrabaixo, 13/12). ALGUNS FALECIMENTOS Arthur Parker “Artie” Whetsol (trumpete, 05/01), Guy Kelly (trumpete, 24/02), Walter Barnes (palhetas, 22/04), Johnny Dodds (clarinete, 08/08), “Charlie” Charles Edward Dixon (banjo, 06/12), Hal Kemp (sax-alto, 21/12). A ERA DO SWING - AS “BIG BANDS” Ainda que antes de 1933 e após 1948 as “Big Bands” fossem contadas às dúzias, pode-se afirmar que foi durante esse período que elas mais proliferaram e fizeram sucesso (acompanhe a denominada “Era do Swing” nas 34 edições da “Revista Mensal do Jazz”, nº 59 de agosto/2010 até nº 92 de janeiro/2014). Nesse ano de 1940, que marca aproximadamente o meio do período 33/48, a era das “Big Bands” era uma unanimidade como atração diária em todas as casas noturnas, nas emissoras de rádio, nos teatros, nos salões dos grandes hotéis, nos salões de baile (“ballrooms”) e demais espaços, em New York e no restante dos Estados Unidos (com as “territory bands”), o que permite afirmar que o advento do “Bebop” a partir do início dos anos 1940 foi realmente uma “revolução”. O “The Apollo Theatre” no Harlem (253 West, 125th Street), que havia sido inaugurado em 26/janeiro/1934 apresentando Benny Carter, desfilou em 1940 espetáculos semanais durante todo o ano, excetuando-se logicamente o mês de agosto (férias de verão). E que programação:

Mês Músico / Banda Mês Músico / Banda

Janeiro

Erskine Hawkins Les Hite Count Basie Andy Kirk

Julho Louis Armstrong

Sunset Royals

Fevereiro Savoy Sultans Earl Hines Harry James

Agosto

Março

“Fats” Waller Teddy Wilson Ella Fitzgerald Claude Hopkins

Setembro

Ella Fitzgerald Louis Prima Roy Eldridge

Abril

Coleman Hawkins Charlie Barnet Savoy Sultans Tiny Bradshaw

Outubro

Erskine Hawkins Count Basie John Kirby Andy Kirk

Maio

Louis Prima Count Basie Cab Calloway Savoy Sultans

Novembro

Claude Hopkins “Fats” Waller Cab Calloway Jimmie Lunceford Tiny Bradshaw

Junho

Coleman Hawkins Duke Ellington Andy Kirk Earl Hines

Dezembro

Lucky Millinder Count Basie Duke Ellington Ella Fitzgerald

REVISTA MENSAL DO JAZZ – POR PEDRO CARDOSO EDIÇÃO Nº 93 – FEVEREIRO/2014 PÁGINA 11 DE 11

ALGUNS FATOS IMPORTANTES Em 11/fevereiro a Rússia invade a Finlândia. Em 09/abril a Alemanha invade a Noruega e a Dinamarca. Winston Churchill torna-se Primeiro Ministro britânico em 10/05. Nos dias 15 e 28/maio, respectivamente, Holanda e Bélgica rendem-se à Alemanha. No início de junho (dia 03), as forças britânicas retiram-se de Dunquerque. Uma semana depois a Itália declara guerra à Inglaterra e à França. A Alemanha ocupa a França a 14/junho. Ainda em junho a Rússia invade Lituânia, Estônia e Romênia. No Brasil são sucessos musicais nesse ano o samba-canção “Coqueiro Velho” (na voz de Orlando Silva, o “Cantor das Multidões”) de Fernando M. Filho e José Marcílio e o samba de Wilson Batista e Geraldo Pereira “Acertei no Milhar” (interpretado por Moreira da Silva). Na próxima “Revista Mensal do Jazz” nº 94, março/2014,

prosseguiremos com a IIª Parte da série “Charlie Parker - Glória Musical, Abismo Pessoal” (capítulos 05, 06 e 07).