muscovita – kal 3 si 3 o 10 (oh) 2 - ufrgs · 2020. 3. 10. · marrom, verde, rosa, amarela....

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MUSCOVITA – KAl3Si3O10(OH)2 A muscovita é um filosilicato comum do Grupo das Micas que ocorre em muitos tipos de rochas magmáticas, metamórficas e sedimentares. Como as outras micas, possui uma série de usos industriais importantes. Como a muscovita se forma em pegmatitos, os cristais podem ser enormes: o recorde é um cristal com 4,5 metros de diâmetro e 77 toneladas de peso. Muscovita possui vários polítipos e pode ocorrer interestratificada com vermiculita, paragonita e montmorilonita. Pode conter Fe, Mn, Mg, V, Ba, Ca, Na, H2O, Cr, Li, Cs e Rb. Possui 35 variedades. Entre as mais importantes, a sericita, que é uma muscovita (às vezes é paragonita) que forma grãos muito finos, frequente em feldspatos alterados e em rochas metamórficas de grau baixo. Fengita é uma mica intermediária entre muscovita e celadonita, que possui ângulo 2V de 0-30º e que é quase impossível distinguir da muscovita por meios ópticos. Fuchsita macroscopicamente é verde (rica em Cr), ocorre em rochas metamórficas e constitui rocha ornamental verde (quartzito com fuchsita). 1. Características: Sistema Cristalino Cor Hábitos Clivagem Monoclínico prismático Branca, cinza, prateada, marrom, verde, rosa, amarela. Maciça, micácea, tabular, colunar, escamosa, granular, pseudohexagonal ou forma de diamante. {001} perfeita Estriais // a {001} Tenacidade Flexível e elástica Maclas Fratura Dureza Mohs Partição Plano em {001}, eixo em [310], em estrelas de 6 pontas Micácea 2 – 2.5 // a {001} 4 perpend. a {001} Segundo {110} e {010} Traço Brilho Diafaneidade Densidade (g/cm 3 ) Branco Vítreo, sedoso, perláceo. Transparente 2.76 - 3 2. Geologia e depósitos: Muscovita é uma mica abundante, a mais comum das micas brancas. Ocorre em muitos tipos de rochas ígneas (granitos aluminosos, granodioritos, aplitos, pegmatitos e outras rochas félsicas) e metamórficas de composição pelítica e grau metamórfico de baixo a médio (ardósia, filito, xisto, gnaisse, cornubianito e quartzito). A sericita ocorre em rochas metamórficas de grau muito baixo. Muscovita também em algumas rochas sedimentares imaturas como mineral detrital. Pode ser autigênica em rochas sedimentares. Nunca ocorre em rochas vulcânicas! 3. Associações Minerais: Em rochas magmáticas e metamórficas a muscovita associa-se a quartzo, plagioclásios, microclínio, biotita, zircão, flúorapatita e muitos outros. Em pegmatitos ocorre com quartzo, K-feldspato (ortoclásio, microclínio), albita, berilo (àgua-marinha), fluorita, granada (espessartita), turmalina e scheelita, entre outros. Em rochas metamórficas de baixo grau ocorre associada a albita, com o avanço do grau metamórfico associa-se a biotita, cloritóide e feldspato potássico.

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  • MUSCOVITA – KAl3Si3O10(OH)2 A muscovita é um filosilicato comum do Grupo das Micas que ocorre em muitos tipos de rochas magmáticas, metamórficas e sedimentares. Como as outras micas, possui uma série de usos industriais importantes.

    Como a muscovita se forma em pegmatitos, os cristais podem ser enormes: o recorde é um cristal com 4,5 metros de diâmetro e 77 toneladas de peso. Muscovita possui vários polítipos e pode ocorrer interestratificada com vermiculita, paragonita e montmorilonita. Pode conter Fe, Mn, Mg, V, Ba, Ca, Na, H2O, Cr, Li, Cs e Rb.

    Possui 35 variedades. Entre as mais importantes, a sericita, que é uma muscovita (às vezes é paragonita) que forma grãos muito finos, frequente em feldspatos alterados e em rochas metamórficas de grau baixo. Fengita é uma mica intermediária entre muscovita e celadonita, que possui ângulo 2V de 0-30º e que é quase impossível distinguir da muscovita por meios ópticos. Fuchsita macroscopicamente é verde (rica em Cr), ocorre em rochas metamórficas e constitui rocha ornamental verde (quartzito com fuchsita).

    1. Características: Sistema Cristalino Cor Hábitos Clivagem

    Monoclínico prismático

    Branca, cinza, prateada, marrom, verde, rosa,

    amarela.

    Maciça, micácea, tabular, colunar,

    escamosa, granular, pseudohexagonal ou forma de diamante.

    {001} perfeita

    Estriais // a {001} Tenacidade

    Flexível e elástica

    Maclas Fratura Dureza Mohs Partição

    Plano em {001}, eixo em [310], em

    estrelas de 6 pontas

    Micácea 2 – 2.5 // a {001} 4 perpend. a {001}

    Segundo {110} e {010}

    Traço Brilho Diafaneidade Densidade (g/cm3)

    Branco Vítreo, sedoso, perláceo. Transparente 2.76 - 3

    2. Geologia e depósitos:

    Muscovita é uma mica abundante, a mais comum das micas brancas. Ocorre em muitos tipos de rochas ígneas (granitos aluminosos, granodioritos, aplitos, pegmatitos e outras rochas félsicas) e metamórficas de composição pelítica e grau metamórfico de baixo a médio (ardósia, filito, xisto, gnaisse, cornubianito e quartzito).

    A sericita ocorre em rochas metamórficas de grau muito baixo.

    Muscovita também em algumas rochas sedimentares imaturas como mineral detrital.

    Pode ser autigênica em rochas sedimentares.

    Nunca ocorre em rochas vulcânicas!

    3. Associações Minerais:

    Em rochas magmáticas e metamórficas a muscovita associa-se a quartzo, plagioclásios, microclínio, biotita, zircão, flúorapatita e muitos outros. Em pegmatitos ocorre com quartzo, K-feldspato (ortoclásio, microclínio), albita, berilo (àgua-marinha), fluorita, granada (espessartita), turmalina e scheelita, entre outros.

    Em rochas metamórficas de baixo grau ocorre associada a albita, com o avanço do grau metamórfico associa-se a biotita, cloritóide e feldspato potássico.

  • 4. MICROSCOPIA DE LUZ TRANSMITIDA:

    Índices de refração: nα: 1.552 – 1.576 nβ: 1.582 – 1.615 nγ: 1.587 – 1.618

    ND Cor / pleocroísmo: incolor. Raramente apresenta tons em verde pálido, amarelo pálido ou rosa, com pleocroísmo leve. A variedade fuchsita apresenta um pleocroísmo discreto entre incolor e verde-azulado, melhor observado em porções da lâmina com espessura um pouco acima dos 30 micra.

    Relevo: moderado. É um relevo bem definido, bem superior ao relevo de quartzo e feldspatos. É mais fácil de perceber fechando o diafragma em mais de 50%.

    Clivagem: (001) perfeita, pode ser parcial ou apenas indicada. Controla a orientação dos fragmentos: a clivagem é paralela ao alongamento das lamelas.

    Hábitos: lamelar, em palhetas, em placas, flocos, colunar, tabular. Podem estar deformadas, curvas ou dobradas em zigue-zague. Podem estar intercrescidas com biotita.

    NC Birrefringência e cores de interferência:

    cores de interferência de 2ª e 3ª ordem, com birrefringência de 0,037 – 0,041: cores fortes, intensas, coloridas. As seções paralelas à clivagem mostram cores de interferência muito baixas de 1ª ordem.

    Extinção: paralela e mosqueada nas seções perpendiculares à clivagem, pode ser oblíqua de 1-3º. Extinção mosqueada é um tipo de extinção que não é completa, gerando uma textura com uma luminosidade de fundo. Essa extinção mosqueada é diagnóstica para biotita, muscovita, talco, pirofilita e brucita!

    Sinal de Elongação: SE(+) pela clivagem, como todas as micas.

    Maclas: pode ter maclas simples, mas são muito raras.

    Zonação: não

    LC Caráter: B(-), difícil de constatar devido às cores de interferência fortes.

    Ângulo 2V: 30º – 47º ou 35º – 50º; a literatura indica ângulos diferentes.

    Alterações: é um mineral bastante resistente ao intemperismo e geralmente não está alterada. Agregados de granulação muito fina podem alterar a hidromuscovita e ilita.

    Há duas situações especiais – muito raras – de alteração:

    (1) Ocasionalmente a muscovita altera para caulinita, podendo gerar pseudomorfoses perfeitas.

    (2) Sob condições de metamorfismo mais intenso a muscovita torna-se instável e é substituída por um agregado de pequenos grãos de feldspato potássico.

    Pode ser confundida com: Lepidolita, talco, pirofilita, margarita e paragonita são muito difíceis a impossíveis de distinguir da muscovita ao microscópio petrográfico. Clorita de cores fracas pode ser semelhante, mas tem birrefringência menor e frequentemente cores de interferência anômalas. Caulinita possui birrefringência menor. Sericita só pode ser identificada por Difratometria de Raios X. Qualquer mica incolor pode ser considerada uma muscovita; muitos petrólogos usam o termo “mica branca” ao invés de nominar espécies. Distinguir muscovita de outras micas brancas e das “brittle micas” pode ser impossível.

  • A NC, à direita na imagem, muscovita em posição de extinção mostrando a extinção “mosqueada” (“birds-eye”) e paralela. Ao seu lado, em amarelo, uma muscovita não-extinta com suas cores de interferência fortes. À esquerda, quartzo e feldspatos (cinzas).

    A NC, muscovitas em rocha metamórfica com textura de “mica-fish”, com cores vermelhas fortes. Ao seu redor, quartzo (cinza-branco) e biotita (marrom).

    Muscovitas a ND e a NC. À esquerda, a ND, muscovitas incolores, com relevo bem mais alto que os grãos de quartzo que também ocorrem neste xisto. Imagem obtida com diafragma algo fechado. À direita, a NC, as muscovitas exibem cores de interferência intensas; a lamela de muscovita na posição vertical está em posição de extinção (paralela e mosqueada). Quartzo é cinza a branco.

    Muscovita a ND: incolor, relevo médio e com clivagem bem nítida, às vezes perfeita.

    Muscovita a ND: cores fortes contrastam com o cinza e o branco de quartzo e feldspatos ao seu redor.

  • Muscovita apresentando macla. O plano de macla é a linha reta que divide o cristal em duas porções; cada porção é um cristal de muscovita.

    Muscovita a NC. Inalterada: verde. Pouco alterada a caulinita: amarela. Completamente alterada a caulinita: cinza (centro da imagem). À esquerda e direita, em tons de cinza e branco: quartzo.

    Fenocristal de plagioclásio em rocha vulcânica a NC, alterado para argilominerais (cores marrons) e sericita (pequenos pontos luminosos). Sericita é um produto de alteração muito comum em feldspatos.

    Rocha metamórfica (xisto) a NC com bandas formadas por cristais paralelos de muscovita e biotita, intercrescidos com agrupamentos de quartzo (cores cinzas e brancas).

    A ND, mica fuchsita (uma variedade cromífera da muscovita) mostrando um pleocroísmo muito discreto de incolor para verde-azulado. Em lâminas mais espessas (>30micra) o pleocroísmo é muito evidente.

  • 5. MICROSCOPIA DE LUZ REFLETIDA:

    A microscopia de Luz Refletida evidentemente não é o método analítico recomendado para a identificação da muscovita. Entretanto, é importante a confecção de uma lâmina ou seção polida para a identificação dos minerais opacos que ocorrem associados à muscovita.

    Preparação da amostra: o polimento da muscovita não fica de boa qualidade em função da excelente clivagem e das diferentes orientações desta em relação ao plano da seção polida. Além disso, a dureza é baixa e, além disso, varia muito nas várias seções possíveis do minerais. Portanto o polimento sempre será heterogêneo, mas geralmente ruim.

    ND Cor de reflexão: Cinza escuro, um pouco mais clara que feldspatos e quartzo, bem mais clara que anfibólios, piroxênios e biotita.

    Pleocroísmo: Não

    Refletividade: Muito baixa (4%?) Birreflectância: Não

    NC Isotropia / Anisotropia: Não apresenta anisotropia.

    Reflexões internas: Generalizadas de cinza claro a incolor.

    Pode ser confundida com: outras micas são muito semelhantes. Além disso, pode ser confundida com outros minerais com as mesmas características físicas: transparentes, de dureza baixa e com clivagem boa a muito boa, de hábito tabular ou lamelar.

    Clivagem frequentemente é bem visível.

    Figuras de arranque, apesar da clivagem, não ocorrem ou não são conspícuas.

    Sulcos de polimento, em função da baixa dureza, são quase inevitáveis.

    Versão de março de 2020

    Feixes de muscovita ao longo da borda de um ortoclásio (em baixo) e com epidoto (em cima) associado, a ND (esquerda) e a NC (direita). A ND percebe-se a forma lamelar da muscovita e a clivagem. A NC estas moscovitas apresentam reflexões internas verdes em função dos epidotos (verdes) associados, mas as reflexões internas corretas das moscovitas são incolores.