murilo - defesa prévia detran - 3009050 - suspensão direito dirigir

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Aplicao excessiva de punio

PAGE 10

Ilustrssimo Senhor Diretor do Departamento de Trnsito do Estado do Paran.Processo Administrativo n 300905-0

Murilo Angelote Junior, brasileiro, casado, gerente de vendas, portador da Carteira Nacional de Habilitao de registro n 2933844542, cdula de identidade de R.G. n 5.395.386-7, C.P.F.(MF) 921.378.819-34, residente e domiciliado na Rua Coronel Cypriano Gomes da Silveira, n 249 - Xaxim, CEP: 81.830-220, Curitiba, vem respeitosamente presena de V. Sa., tempestivamente apresentar suas razes de

Defesa Prvia

contra o pedido de imposio da penalidade de suspenso do direito de dirigir pelo prazo de 1(um) ms, requerido nos termos constantes no PROCESSO ADMINISTRATIVO N 300905-0, o que faz pelos motivos de fato e de direito que passa a expor:

I Resumo Ftico

No processo administrativo instaurado pelo Departamento de Trnsito do Paran, foi sugerida a imposio da suspenso do direito de dirigir do Notificado, em decorrncia das infraes de trnsito supostamente cometidas, conforme adiante elencadas:

- Auto de Infrao n 275350-W003345290

4 pontos- Auto de Infrao n 275350-Z000764308

4 pontos- Auto de Infrao n 275350-D000312582

4 pontos- Auto de Infrao n 275350-D000347535

7 pontos- Auto de Infrao n 275350-Z000779316

3 pontos

Desta forma, tendo em vista os autos de infrao supra indicados, o Notificado, mesmo punida por multas pecunirias (1 punio), ainda foi penalizado com a pecha de pontos ditos negativos em sua CNH (2 punio), conforme se verifica na notificao emitida pela autoridade de trnsito competente.

Assim, em razo do suposto acmulo de pontos negativos em sua CNH, o agente de trnsito informou o Notificado a existncia do presente procedimento administrativo, no qual pedido a suspenso do direito de dirigir, bem assim oportunizou a interposio de defesa prvia contra tal pedido.

Entretanto, o Notificado serve-se do presente instrumento de defesa para levar ao conhecimento de V. Sa. que jamais recebeu pessoalmente quaisquer das notificaes das autuaes supra mencionadas, tanto que em momento algum foi-lhe conferido o direito de apresentar o condutor ou apresentar defesas das supostas infraes cometidas.

Observe-se que tais fatos no so meras alegaes, pois compulsando o procedimento administrativo em questo fcil verificar a INEXISTNCIA de quaisquer indcios que demonstrem ter o Notificado recebido s mencionadas notificaes ou de que tenha indicado o(a) condutor(a) em qualquer uma delas.

No obstante, o Notificado ao verificar a possvel existncia de dbitos de seu veiculo, em razo dos apontamentos existentes na notificao do procedimento administrativo em andamento, constatou o lanamento de 5 (cinco) multas pecunirias decorrentes de cada um dos autos de infrao mencionados na notificao em apreo.

Sendo corolrio que para cada suposta infrao cometida pelo Notificado, foi sumariamente atribuda pelo Poder Pblico a sano administrativa correspondente, atravs da imposio de multas pecunirias.

Portanto, no requer muito atilamento intelectual para concluir que o Notificado j foi penalizada pelas supostas infraes cometidas, e que conforme determina o Princpio do Non Bis in Idem adotado em todo Estado Democrtico de Direito, nenhuma outra punio pode ser atribuda ao Notificado pelos mesmos fatos j censurados pelas multas pecunirias impostas.

Assim, passa o Notificado a demonstrar, atravs de suas razes de direito, que o pedido de suspenso de seu direito de dirigir em decorrncia dos autos de infrao j mencionados, trata-se de verdadeira cumulao de penalidades administrativas em um mesmo fato gerador, o que se revela flagrantemente contrrio s normas jurdicas e Princpios Constitucionais regentes da ordem democrtica deste pas. II Do Direito

1) Preliminarmente:

Da Inexistncia de Notificao Pessoal

das Alegadas Infraes

Primeiramente, cumpre esclarecer que o Notificado em momento algum foi regularmente intimada das alegadas infraes constantes na missiva recebida para apresentar recurso no procedimento de pedido de suspenso de direito de dirigir ora rechaado.

Necessrio esclarecer que este fato j o suficiente para acarretar a NULIDADE no procedimento em apreo, pois deixou de oportunizar ao Notificado o direito ampla defesa e ao contraditrio consoante garantias constitucionais consagradas.

Oportuno recobrar que o descumprimento da notificao pessoal do infrator por meio de sua assinatura, um dos requisitos de validade dos autos de infrao, conforme estabelece o inciso IV, do artigo 280, do CTB:

Art. 280. Ocorrendo infrao prevista na legislao de trnsito, lavrar-se- auto de infrao, do qual constar:

. . .

VI - assinatura do infrator, sempre que possvel, valendo esta como notificao do cometimento da infrao.

Desta feita, como a residncia do motorista usualmente conhecida no documento de registro do veculo, torna-se perfeitamente possvel a sua notificao por assinatura pessoal.

Imperioso destacar que esta prerrogativa est confirmada nas respeitveis decises proferidas pelas Cortes Superiores, as quais j decidiram pela necessidade da notificao pessoal do infrator para a validade da aplicao da multa quando a sua residncia for conhecida.

MANDADO DE SEGURANA Carteira nacional de habilitao Suspenso do direito de dirigir e apreenso do documento, decorrente de multa de trnsito Hiptese Ausncia de notificao pessoal do infrator Inadmissibilidade Observncia ao devido processo legal e ampla defesa Necessidade Segurana concedida. (Apelao Cvel com Reviso n. 601.291-5/7-00 Jundia 1 Cmara de Direito Pblico Relator: Franklin Nogueira 13.03.2007 V.U. Voto n. 17.835) Mandado de Segurana. Renovao de licena. Ocorrncia de multa imposta sem notificao do infrator.

. . .

II- No prevalecem at que seja regularmente intimado. Dita intimao pessoal, salvo se desconhecida a residncia do infrator"(1 T do STF. Recurso Extraordinrio n 89.072-6. Relator Ministro Carlos Thompson Flores. j. 15.05.79 DJ de 15.05.79).

Porquanto, resta esclarecido que as notificaes das infraes, pelas quais se pretende a suspenso da CNH do Notificado, so flagrantemente inconstitucionais, pois para serem vlidas deveriam ter garantido o direito ampla defesa e contraditrio contra as supostas autuaes de trnsito atravs da apresentao das oportunas defesas administrativas.

Neste diapaso, possvel concluir que como era possvel a intimao pessoal do Notificado, atravs da assinatura pessoal do mesmo, nos termos do inciso VI, do artigo 280 do CTB, no h como se negar ilegalidade dos processos administrativos/autuaes em relao ao Notificado no intimado, por terem origem em ato administrativo nulo representado nas autuaes que no cumpriram as formalidades necessrias para sua validade.

2) Do Princpio do Non Bis in Idem:

No obstante, a reforma realizada no Cdigo Nacional de Trnsito o legislador acabou determinando duas penalidades para um mesmo sujeito e uma mesma infrao: a) a primeira (multa), aplicvel em procedimento administrativo simples; b) a segunda (suspenso do direito de dirigir), aplicvel em Processo Administrativo, instaurado em etapa subseqente e conduzido por autoridade diversa.

Ficando previsto para uma mesma infrao:Art. 258. As infraes punidas com multa classificam-se, de acordo com sua gravidade, em quatro categorias:

I - infrao de natureza gravssima, punida com multa de valor correspondente a 180 (cento e oitenta) UFIR;

II - infrao de natureza grave, punida com multa de valor correspondente a 120 (cento e vinte) UFIR;

III - infrao de natureza mdia, punida com multa de valor correspondente a 80 (oitenta) UFIR;

IV - infrao de natureza leve, punida com multa de valor correspondente a 50 (cinqenta) UFIR.

1 Os valores das multas sero corrigidos no primeiro dia til de cada ms pela variao da UFIR ou outro ndice legal de correo dos dbitos fiscais.

. . ..Art. 261. A penalidade de suspenso do direito de dirigir ser aplicada, nos casos previstos neste Cdigo, pelo prazo mnimo de um ms at o mximo de um ano e, no caso de reincidncia no perodo de doze meses, pelo prazo mnimo de seis meses at o mximo de dois anos, segundo critrios estabelecidos pelo CONTRAN.

1 Alm dos casos previstos em outros artigos deste Cdigo e excetuados aqueles especificados no art. 263, a suspenso do direito de dirigir ser aplicada sempre que o infrator atingir a contagem de vinte pontos, prevista no art. 259.

. . ..

Desta forma, revela-se inconstitucional a aplicao da dupla penalidade para a mesma infrao, devendo o Poder Pblico decidir se penaliza o cidado suspendendo seu direito de dirigir e abre mo das suntuosas quantias arrecadas com as multas, ou ento pune o motorista com pena pecuniria e deixa de interferir no direito de dirigir do portador da CNH. O ilegal e abusivo permitir a cumulao de penalidades por incorrer numa punio evidentemente excessiva.

Ressalte-se que o Princpio do Non Bis In Idem, embora no esteja expressamente previsto constitucionalmente, tem sua presena garantida no sistema jurdico de um Estado Democrtico de Direito. Certamente se avolumou com o incremento do respeito dignidade da pessoa humana e com a consolidao de um Direito que se ocupa precipuamente do fato, ao invs de concentrar-se na obstinada perseguio, rotulao e segregao do indivduo ao qual se aps o rtulo de infrator.

Portanto, a impossibilidade de se punir duas ou mais vezes por um mesmo fato gerador j foi definida como "princpio geral de direito", com base nos princpios da Proporcionalidade e da Coisa Julgada, seja em uma ou mais ordens sancionadoras, nos quais se d uma identidade de sujeitos, fatos e fundamentos, e sempre que no exista uma relao de supremacia especial da Administrao Pblica.

Segue neste sentido o entendimento dos principais tribunais estaduais do pas, e acerca da matria tm decidido que:

PENA. DUPLA MAJORAO. MESMO MOTIVO. No cabe, sob pena de incidir-se em bis in idem, aumentar a base pelos maus antecedentes e exasperar o castigo, de novo, pela reincidncia (TACRimRJ - 4 Cm. - unnime - Ap. 40720/90 - Rel. Juiz Alyrio Cavallieri - julg. 13/6/90, L. 1185, fl. 56 - publ. no Ementrio do DORJ de 12/12/90)

Vislumbra-se na jurisprudncia supra colacionada a expressa vedao dos Eminentes Desembargadores daquele Egrgio Tribunal quanto dupla aplicao de sanes sobre um mesmo fato gerador.

E mais, ainda que se tente justificar a aplicao da suspenso do direito de dirigir pelo acmulo de pontos, sendo diverso da pena pecuniria, faz-se necessrio lembrar que ambos so decorrentes do mesmo fato gerador, qual seja: a prtica de infrao de trnsito.

3) Do Princpio da Proporcionalidade:

Ainda que se admita a possibilidade da impingir a penalidade da suspenso do direito de dirigir do Notificado, mesmo aps a imposio da multa pecuniria, apenas para argumentar, cumpre salientar que em se tratando de procedimento administrativo no qual se busca a apurao do fato e possvel aplicao de sano administrativa pelo poder pblico, no possvel afastar o Princpio da Proporcionalidade, o qual determina a relao com a necessria proporo entre os meios de que a Administrao Pblica se utilizada para garantir um fim.

Sob este prisma, urge que se considere cada caso isoladamente, pois a suspenso da CNH somente seria possvel aps a anlise da situao individual do motorista, porque os seus efeitos podero no guardar a devida razoabilidade e proporo com as infraes cometidas, acarretando a flagrante inconstitucionalidade de sua aplicao.

Segue neste caminho a concluso dos magistrados que integraram o Grupo de Estudos da Justia Federal de Primeira Instncia (Curitiba/PR). A ementa da concluso ficou restou assim registrada: O princpio da proporcionalidade um desenvolvimento do princpio do Estado de Direito. Significa ele, em termos simples, que o Estado, para atingir os seus fins, deve usar s dos meios adequados a esses fins e, dentre os meios adequados, s aqueles que sejam menos onerosos ao cidado. (O Princpio da proporcionalidade e Direito Administrativo, Ajufe 49/63 apud NOBRE Jr., Edilson Pereira. Sanes Administrativas e Princpios de Direito Penal, RDA 219/143)

Assim, no caso do Recorrente, por desempenhar a funo de gerente de vendas, na qual fundamental a utilizao de veculo automotor para promover a manuteno de seus clientes e subordinados, e acima de tudo, garantir a prpria subsistncia, caso seja suspensa a sua CNH, estar-se-ia negando a este o mesmo o direito de exercer devidamente a sua atividade profissional.

Neste particular, importante demonstrar o entendimento da melhor doutrina, que no trato da questo em debate, esclarece:

"... Contudo, a aplicao desta sano pode afigurar-se invlida, por ofensa ao princpio da proporcionalidade, se, considerando as caractersticas peculiares do indivduo infrator, a efetiva imposio daquela sano acaba resultando, por exemplo, no completo aniquilamento da sua atividade econmica" (PONTES, Helenilson Cunha. O PRINCPIO DA PROPORCIONALIDADE E O DIREITO TRIBUTRIO. So Paulo: Dialtica, 2000. pg. 137).

Portanto, determinante verificar se as alegadas infraes cometidas pelo Notificado possuem a mesma proporo de gravidade e causariam os mesmos riscos a comunidade do que um motorista dirigindo embriagado, ou seriam, ao contrrio, menos agressivas e desta forma merecedoras de punio proporcionalmente mais branda.

Com muita propriedade asseverou o jurista Rizzato Nunes, em sua obra Aspectos Draconianos e Inconstitucionais do Cdigo de Trnsito Brasileiro. (Ed. Saraivajur):...os motoristas cometem diariamente infraes ditas de trnsito que no representam o mnimo perigo ou risco quer para o trnsito em si, quer para a segurana e integridade fsica das pessoas. Est entre essas infraes, por exemplo, estacionar em local proibido, estacionar nas chamadas zonas azuis (...), etc. (...) Ora, ainda que se admita que infraes desse tipo possam gerar a imposio de uma multa pecuniria, nada justifica que se imponha a perda ou a suspenso do direito de o motorista continuar dirigindo por infraes dessa ordem.

No caso em questo bvio que as ditas infraes cometidas pelo Notificado no merecem o mesmo tratamento de infraes mais graves, de maior grau de periculosidade ao bem comum, e por conseguinte faz jus ao um julgamento justo e proporcional, sem a necessidade de ser extremo, suspendendo o direito de dirigir do Notificado.III - Do Pedido

Diante de todo o exposto, e por tudo mais que consta no procedimento administrativo mencionado no Processo Administrativo n 300905-0, requer a este Eminente Diretor que, alternativamente:

a) Diante da INEXISTNCIA de comprovao da notificao pessoal do Notificado acerca das supostas infraes mencionadas, determine o arquivamento do procedimento em questo, sem o julgamento do mrito, em razo da ausncia de pressupostos vlidos para o regular processamento do caderno processual, sob pena de NULIDADE ABSOLUTA;

b) Considerando vlidas as notificaes das alegadas infraes, o que se admite apenas para argumentar, requer o INDEFERIMENTO do pedido de suspenso do direito de dirigir do Notificado e/ou a REVOGAO de qualquer punio neste sentido, e conseqentemente o arquivamento deste procedimento, por tratar-se da mais ldima e justa deciso a ser proferida em razo dos argumentos demonstrados na presente pea de defesa.

Nestes Termos

Pede e Espera Deferimento.

Curitiba, 17 de setembro de 2.009.

Murilo Angelote Junior

CNH n 02933844542

C.P.F.(MF) 921.378.819-34 - conforme se verifica na cpia da Carteira de Trabalho do Notificado (doc.2)