mundoh n23

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23 JUL.AGO.SET.3 Ano6 0,70€ mundo h. MOÇAMBIQUE MAIS ÁGUA PARA IMPIRE; S.TOMÉ ILUMINAR A CRECHE DE MONTE CAFÉ; VIAGEM PADRINHOS PRIMEIRA VIA- GEM DE GRUPO LEVA PADRINHOS A MOÇAMBIQUE; PORTUGAL LANÇAMENTO DE LIVRO; MAIS DO QUE PADRINHOS NOTÍCIAS DA ILHA DO FAIAL

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Page 1: Mundoh n23

23 JUL.AGO.SET.3 Ano6 0,70€

mundo h.MOÇAMBIQUE MAIS ÁGUA PARA IMPIRE; S.TOMÉ ILUMINAR A CRECHE DE MONTE CAFÉ; VIAGEM PADRINHOS PRIMEIRA VIA-GEM DE GRUPO LEVA PADRINHOS A MOÇAMBIQUE; PORTUGAL LANÇAMENTO DE LIVRO; MAIS DO QUE PADRINHOS NOTÍCIAS DA ILHA DO FAIAL

Page 2: Mundoh n23

ÍNDICE

EDITORIAL

3

exemplo luminoso.

VIAGEM PADRINHOS

8

viagem ao outro lado da Helpo.

S. TOMÉ E PRÍNCIPE

6

o fim do ano letivo.

MOÇAMBIQUE

4

water of hope.(água da esperança)

MAIS DO QUE PADRINHOS

a minha inspiração.

8

projecto BRINCA no Porto.

o Planeta Veki, um planeta dentro de cada um!

7

9

a BRINCAR a brincar.

0

descoberta.

PORTUGAL

5

nova direção.

Page 3: Mundoh n23

3

uma mesma semana, festejaram-se dois aniversários, os

95 anos de Nelson Mandela e os 16 anos de Malala You-

safzai. Ambos tiveram notoriedade internacional por

uma fortíssima razão: simbolizam, à escala da Humanidade, a

luta ancestral contra a opressão, o racismo e o obscurantismo.

O líder do ANC, que em tempos não hesitara, em último re-

curso, a conduzir uma resistência armada ao iníquo regime

do apartheid, soube, no momento do triunfo politico, cortar

o ciclo infernal da vingança, estendeu a mão da reconciliação

genuína aos seus antigos carcereiros e lançou o fundamento

sólido de uma nação com todas as cores do arco-íris. Verdade,

perdão, criação de condições para cada ser humano se sentir

livre e igual, com oportunidade de construir um futuro melhor,

eis o que Nelson Mandela, nos deixa como legado. Bem como

o apelo para passarmos à ação, para fazermos a diferença.

A jovem paquistanesa sobreviveu a um atentado dos talibãs,

que a balearam por ela ter a ousadia, com outras meninas de ir

à escola. Renasceu com a voz límpida que apela à escolaridade

de todas as crianças do mundo, em particular, daquela metade

da Humanidade, que continua a ser discriminada, as meninas.

Na Helpo ouvimos com emoção estas vozes de libertação e,

EDITORIAL

N

3

à nossa modesta escala, fazemos nossos os seus sonhos: sim,

queremos continuar a dar, dia após dia, o nosso contributo

para que a dezena de milhar de meninos e meninas de Moçam-

bique e de São Tomé tenham melhores condições para estudar

e possam progredir nos seus estudos o mais possível. E quere-

mos fazer mais.

A Direção recém eleita está bem consciente das dificuldades

que a generalidade dos nossos padrinhos defrontam. Mas as

provas continuadas de empenhamento no apoio aos seus afi-

lhados é fonte de energia e estímulo à continuação dos pro-

gramas, que vamos formatando. A visita de uma dezena de

madrinhas a padrinhos a Moçambique abriu o conhecimento

concreto, no terreno, às mais variadas vertentes da atuação da

Helpo naquele país. Por isso, as suas impressões do que viram

e foram chamados a partilhar, são preciosas. Bem como as suas

sugestões!

Havemos de superar as nossas insuficiências e os resultados

concretos hão de surgir! Com crianças mais escolarizadas, mais

preparadas para assumir as tarefas da nova geração na cons-

trução dos seus jovens países. Seguindo o exemplo luminoso

de Nelson Mandela e Malala Yousafzai.

EXEMPLO LUMINOSO.Caxias, António Perez Metelo

Page 4: Mundoh n23

4

water of hope.(água da esperança)

MOÇAMBIQUE

gua é vida. A expressão, em apo-

logia da água, tornou-se um lu-

gar comum nos nossos dias.

A importância da água enquanto susten-

táculo primário da vida no nosso planeta,

é atualmente, e felizmente, amplamente

divulgada um pouco por todo o mundo.

Mas em determinados locais do globo,

onde as populações convivem diariamen-

te com a escassez deste recurso, o tema

tem inquestionavelmente um impacto

acrescido. É assim um pouco por toda a

África em geral, e em Moçambique em

particular. Consciente desta realidade, a

Helpo, nos diferentes locais onde atua

neste país, tem procurado desenvolver

projetos com vista a facilitar o acesso das

comunidades ao precioso líquido. O mais

recente resultado deste contínuo esforço

pode ser encontrado na Escola Primária

Completa de Impire, em Cabo Delgado.

Efetivamente, no passado dia 24 de junho

foi inaugurado o “sistema de aproveita-

mento de águas pluviais da EPC de Impi-

re”. O sistema, que foi integralmente pa-

trocinado pela SAPO Moçambique, e que

começou a ser implementado em 2012,

consiste numa rede de caleiras que reco-

lhem as águas pluviais dos telhados dos

dois principais edifícios da Escola Primária

- o edifício que inclui o gabinete do Dire-

tor e o edifício de salas de aula construí-

Pemba, Tiago Filipe

Á

do pela Helpo e inaugurado em 2012 -, e

as encaminham para 4 reservatórios, dois

por edifício, de 5000 litros de capacidade

cada. A Escola ficou assim dotada de uma

capacidade de armazenamento total de

20000 litros de água, particularmente útil

durante a estação seca em que a chuva

escasseia.

A água tem como destino os diferentes

usos da comunidade escolar onde a mes-

ma é essencial, com destaque para o lan-

che escolar que a Helpo distribui semanal-

mente (onde é usada como componente

do sumo distribuído, para lavar as mãos

das crianças e para lavar todo o material

que é utilizado), a rega das árvores do re-

cinto escolar e o consumo diário por parte

dos alunos e professores.

Previamente à festa da inauguração, o di-

retor da escola, Ismail Biché, em conjunto

com a Helpo, reuniu com a comunidade

para prestar esclarecimentos e sensibilizar

alunos e pais para os cuidados a ter com a

utilização da água dos reservatórios, expli-

cando, nomeadamente, a necessidade da

sua desinfeção previamente ao consumo

1Conforme destacámos no número 19 da Mundo h, a Helpo já tinha colocado um reservatório na EPC de Impire que infelizmente foi destruído, em abril de 2012, devido à incúria de alguns elementos do corpo docente da EPC que, quando o sistema de caleiras ainda não estava finalizado, com vista a aproveitar a água da chuva que caía das caleiras já colocadas, deslocaram o reservatório para fora da sua base e o apoiaram em carteiras de madeira que cederam face ao peso do reservatório cheio, conduzindo à sua queda e colapso.

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5

A Flight of Hope é uma missão sem fins lucrativos que almeja apoiar o desenvolvimento sustentável e saudável das crianças

africanas em idade escolar especialmente em áreas de reconhecida carência. Esta missão, que foi fundada por pilotos da TAP

e é efetuada por avionetas, daí advindo o nome Flight of Hope, tem-se desenvolvido desde o ano 2007 e, no ano de 2013,

consciente das enormes dificuldades com que se deparam as escolas de Moçambique, quiseram prestar o seu contributo

e incluíram no seu percurso algumas escolas deste país com o objetivo de aí distribuírem material didático. Tendo tomado

conhecimento do trabalho desenvolvido pela Helpo, entraram em contacto com a Associação e acordou-se a passagem da

missão por Impire. Uma vez que a SAPO é uma das principais patrocinadoras da Flight of Hope, entendeu-se pertinente fazer

coincidir a passagem da missão por Impire com a inauguração do sistema de aproveitamento de águas pluviais já que, como

foi dito, este foi financiado pela delegação moçambicana desta empresa de comunicação.

humano. Aludiu também à importância

do bom uso das infraestruturas, destacan-

do a necessidade de ações de manuten-

ção e limpeza periódicas tanto das caleiras

como dos reservatórios. Refira-se que,

em virtude do acidente ocorrido com um

anterior reservatório1 , a Helpo solicitou

à direção da escola que elaborasse um

regulamento acerca da utilização destas

infraestruturas onde se refere que as mes-

mas, nomeadamente os reservatórios, só

podem ser diretamente manuseados pelo

diretor ou sobre sua vigilância. Este regu-

lamento foi criado e assinado pelos mem-

bros do Conselho Escolar e pelo Diretor

Distrital de Educação.

A inauguração decorreu em clima de fes-

ta, como aliás é apanágio das celebrações

organizadas pela EPC de Impire, onde se

deve relevar o entusiasmo e dedicação

normalmente postas nestas causas pelo

diretor.

Para além da comunidade, que compa-

receu em peso, da equipa da Helpo e de

todo o pessoal da EPC, estiveram presen-

tes na celebração a SAPO Moçambique

- que deslocou propositadamente um re-

pórter e a sua representante oficial, a can-

tora moçambicana Liloca, que distribuiu

sorrisos e autógrafos, e que muito sucesso

fez entre miúdos e graúdos -, e um grupo

de convidados muito especial: a comitiva

da Flight of Hope (ver caixa).

Houve lugar para atuações de 6 grupos

culturais que ofereceram aos convidados

demonstrações de diferentes formas de

expressão cultural local com destaque

para a música, dança e batuques. Alguns

dos convidados “de honra” ainda se atre-

veram a mostrar os seus dotes de dançari-

nos para gáudio da população local.

A inauguração propriamente dita do siste-

ma ficou a cargo do representante da Di-

reção Provincial de Educação e Cultura de

Cabo Delgado, que descerrou a placa de

inauguração do sistema, e da cantora Li-

loca que cortou a fita que simbolicamente

envolvia os dois reservatórios do edifício

escolar construído pela Helpo.

Após a inauguração, a água que alguns re-

servatórios já tinham armazenado foi uti-

lizada para o lanche escolar cuja distribui-

ção a Direção da EPC fez, simbolicamente,

coincidir com o dia de inauguração.

Os convidados destacaram a excelente

organização do evento (os elementos da

comitiva da Flight of Hope referiram, in-

clusivamente, que esta tinha sido a escola

mais bem organizada por onde tinham

passado!) e elogiaram a decoração das

bases dos reservatórios. Refira-se, a este

propósito, que esta decoração resultou

de um concurso promovido pela EPC no

âmbito do dia 1 de junho , Dia Mundial da

Criança, em que as crianças vencedoras

tiveram como prémio pintar as bases em

betão dos reservatórios.

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6

São Tomé, Tiago Coucelo

o fim do ano letivo.

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

hegado o fim do ano letivo 2012/2013, a nossa As-

sociação Helpo empenhou-se na realização de obras

importantes em duas das comunidades apoiadas. Por

outro lado, também o período de execução das cartas de junho

correu muito bem. Em todas as escolas e creches, os professores

realizaram com brio as cartas das crianças apadrinhadas. Foram

576 missivas, que os meninos escreveram com alegria, curiosida-

de e satisfação. Em salas de Santa Catarina,

Saudade, São José, Bemposta e Monte Café,

centenas de crianças enviaram notícias aos

seus padrinhos.

A primeira obra que conseguimos terminar

pouco antes do fim do ano letivo , foi a reabi-

litação de 2 casas de banho da Escola Primária

de Santa Catarina. O objetivo era o de tornar

as instalações sanitárias mais dignas e higié-

nicas, pois anteriormente estavam em muito

mau estado, sendo utilizadas intensivamente

por cerca de 350 crianças, todos os dias. Os

trabalhos consistiram na limpeza da fossa sép-

tica, evacuação de todos os detritos e respeti-

vo transporte para outro local. Foram execu-

tados trabalhos de canalização, desde trocas

de tubos de canalização danificados, até à colocação de loiças

sanitárias. Providenciámos material de construção para reabilita-

ção das valas de água e das tampas da fossa. Sendo assim, a in-

tervenção da Helpo consistiu na compra de material, pagamento

de mão de obra especializada e acompanhamento permanente

da intervenção. Atualmente as casas de banho estão em pleno

C funcionamento, com loiças renovadas, paredes e chão pintados,

canalizações reparadas e portas restauradas.

Todas as crianças, professores, restantes funcionários da escola e

a comunidade, em geral, estavam imensamente satisfeitos. Este

é o exemplo de como uma pequena melhoria na escola pode tra-

zer alegria e inúmeros benefícios a todos. Remodelámos uma in-

fraestrutura essencial e contribuímos também para uma melhor

higiene das crianças de Santa Catarina.

Outra das “empreitadas”, que consegui-

mos realizar, foi a eletrificação da creche de

Monte Café. Convém relembrar que a escola

de Monte Café já tinha sido objeto de uma

intervenção deste género. A creche de Mon-

te Café dispõe de uma infraestrutura de qua-

lidade, com 3 salas de aula, sala de refeições,

cozinha, armazém e recreio. No entanto, a

falta de energia elétrica era uma carência

real. A zona de Monte Café está numa região

chuvosa e escura durante grande parte do

ano. Muitos são os dias, nos quais as crian-

ças têm aulas praticamente às escuras.

Assim, com o apoio do Ministério da Educa-

ção, direção da creche e EMAE (empresa de

eletricidade nacional), avançámos nesta questão. Todo o mate-

rial (fios elétricos , lâmpadas e suportes, interruptores e afins) e

mão de obra foram oferecidos pela Helpo. Como sempre, a obra

foi decidida em conjunto com as entidades governamentais e só

avançámos após termos autorização para tal. Os trabalhos decor-

reram por uma semana e foram permanentemente acompanha-

“O objetivo era o de tornar

as instalações sanitárias mais

dignas e higiénicas”

Page 7: Mundoh n23

7

dos pela equipa da Helpo e pela diretora da creche.

A curiosidade e ansiedade eram evidentes, mas todos os prazos

e medidas de segurança foram respeitados, tendo em conta que

era uma obra de responsabilidade numa creche com mais de 100

crianças.

Foi uma experiência incrível quando a primeira lâmpada se acen-

deu. A cara de cada criança, ao olhar aquela fonte de energia,

era indescritível. Foram cerca de 100 crianças e 12 profissionais,

reunidos ao redor da lâmpada, com um olhar de satisfação e rea-

lização por terem atingido um objetivo há muito pensado.

Logo no dia 1 de junho, a energia elétrica foi de uma utilidade

extrema. Esta tomou a forma de música e filmes infantis. Era ver

os olhos de todas as crianças vidrados na televisão, os corpos a

dançarem ao som da música e as caras plenas de entusiasmo. Foi

um esforço conjugado entre a Helpo, a creche de Monte Café e o

Ministério da Educação, que teve um impacto concreto e real.

Page 8: Mundoh n23

8

VIAGEM PADRINHOS

viagem ao outro lado da Helpo.

á se passaram cinco anos, desde que

a Helpo começou a ter presença dire-

ta das suas equipas no terreno, com

aprofundamento do trabalho realizado,

sobretudo devido a dois fatores : por um

lado, crianças apadrinhadas e comuni-

dades em que estão inseridas têm sido

um motor para a melhoria dos serviços

prestados pela Helpo. O facto de termos

partido da “estaca zero” e estarmos num

patamar em que as comunidades, como

forma de reconhecimento das ativida-

des desenvolvidas em prol das crianças,

exigem mais e melhor trabalho da nossa

parte. É um sinal claro, que nos faz ter oti-

mismo em relação ao futuro.

Do outro lado da equação, mas do mes-

mo lado da solução, temos padrinhos e

madrinhas, cada vez mais exigentes, que

gostam de acompanhar o trabalho da

família Helpo nas diferentes vertentes. Re-

sultado desse aumento de exigência dos

padrinhos, a Helpo já havia sido solicitada

diversas vezes para organizar uma viagem

de grupo, uma jornada que, muito mais

do que de turismo, seria de trabalho e

de partilha de uma realidade que, vista

através da revista, do site e do facebook,

parecia ainda longínqua.

Como resposta a essa solicitação, nove

pessoas, oito madrinhas e um padrinho,

aceitaram o desafio de acompanhar a

J Margarida Assunção, diretora do Depar-

tamento de Apadrinhamento de Crianças

à Distância, também ela madrinha, numa

longa viagem de avião, com duas escalas

pelo caminho até aos locais onde as pal-

meiras crescem e onde os problemas e os

sorrisos parecem não ter fim.

Desenhar uma visita de doze dias para se

ficar com uma visão do que é o trabalho

da Helpo, não é fácil, pois neste momento

podemos dizer, com muito orgulho, que

já há muito digno de ser visto. Com para-

gem obrigatória nas oito comunidades,

onde estavam os afilhados sortudos que

tiveram direito a uma visita especial, com

dois fins de semana para recuperar forças

nos cenários paradisíacos da Ilha de Mo-

çambique e Pemba, o trajeto de 2100km

foi estabelecido. Quanto às dormidas, os

luxos foram deixados de parte e apostou-

-se no espírito de grupo: a casa/escritório

de Nampula, que já foi o seminário dos

Missionários de S. João Baptista, alojou o

grupo todo, enquanto em Pemba usámos

as instalações das irmãs Pastorelas. Na Ilha

de Moçambique, por duas noites mágicas,

a equipa dividiu-se para ficarmos todos

bem instalados, em pequenas Casas de

Acomodação, que proliferam neste peda-

ço de Paraíso, que parou no tempo, para

descansar de dois dias super preenchidos.

A alimentação foi sempre da responsabili-

dade da Helpo, com exceção para os dias

livres no fim de semana. Ainda recebe-

mos o convite para jantar do amigo Carlos

Gomes, carinhosamente apelidado de

“Cônsul Honorário de Pemba”, pela sua

capacidade e alegria em receber.

Com as questões logísticas resolvidas, o

mais fácil era deixar o trabalho falar por

si, e foi isso que aconteceu. Animadores e

professores mostraram orgulhosamente

as suas escolas e escolinhas, tendo descri-

to o seu trabalho com a Helpo ao longo

dos anos e mostrado a sua satisfação.

Toda a semente deixada pela Helpo neste

terreno fértil, povoado de centenas de

crianças para onde quer que nos viremos,

quer seja em distribuições de material

escolar, construções de salas, carteiras e

bibliotecas, foi testemunhado por este

grupo, que agora ainda se sente mais

parte da Helpo. Foi unânime que esta via-

gem tem de ser repetida, para que mais

padrinhos e madrinhas possam ver o seu

sonho realizado. O espírito não terminou

com a partida, e os padrinhos deixaram,

no final, um donativo, que serviu para o

almoço dos festejos do Dia Internacional

da Criança, na Escola Primária Completa

de Marrere, para cerca de 800 crianças.

Os que já aceitaram o desafio saíram ple-

namente satisfeitos e aposto, com toda a

certeza, que muitos deles voltarão.

Nampula, Carlos Almeida

Page 9: Mundoh n23

9

Malas/Entreajuda

A viagem não poderia ter começado pior:

Todas as bagagens ficaram retidas no ae-

roporto de Nairobi e chegaram com três

dias de atraso, tendo uma mala ficado

em local incerto até ao final da viagem.

Este problema acabou por ser o primeiro

quebra gelo e criou uma onda de soli-

dariedade entre a equipa da Helpo e os

seus visitantes, pois entre empréstimo de

roupa, partilha de shampoos e repelente

de mosquito, além de outras entreajudas

promotoras do bom espírito de equipa

que só os problemas têm o condão de

criar, fez com que o bom ambiente ficasse

logo instalado. Como se diz em Moçambi-

que “pobre não zanga!”, e apesar de des-

providos dos seus bens por três dias, todo

o grupo manteve a boa disposição!

Madrinha Cristina Ramos

África entranha-se, invade-nos os sentidos, e penso que não tolera sentimentos pela metade: ou se ama, ou se detesta. E eu amei.

Estão gastas as descrições dos cheiros, das cores, dos sons, do espaço, do entardecer africano… todos eles lá estavam, à nossa

espera e não me alongarei mais na sua descrição… Mas a mais valia desta viagem foi, sobretudo, a paisagem humana, o toque, o

contacto. Não esqueço o correr das crianças em direção às viaturas da Helpo, as mãos

pequeninas nas nossas, o olhar envergonhado quando recebiam os kits, o colo, o hino

de Moçambique cantado por crianças alinhadas em frente às escolas, a euforia em torno

de uma fotografia mostrada numa máquina digital. Não esqueço os meninos que guar-

davam grande parte do conteúdo do copo de sumo, que recebiam nos lanches dados

pela Helpo, numa pequeníssima garrafa de plástico, junto ao peito, para sorverem vaga-

rosamente mais tarde ou para partilharem com os muitos irmãos… não esqueço nem as

histórias tristes de crianças anónimas, nem os olhares de esperança e os sorrisos rasga-

dos do povo moçambicano.

Não esqueço, principalmente, o encontro com o meu afilhado, Mauro, em Pemba. Até ao

dia 15 de maio tinha sido uma fotografia de uma criança, pobre, algures em África, para

quem eu remetia uma quantia mensal e, periodicamente, o que um envelope verde dos

CTT permitia, e da qual recebia desenhos simples, pouco elaborados, e breves descritivos

da sua vida, nem sempre escritos por ele. No dia 15 de maio , a fotografia corporizou-se

num rapaz de 15 anos, de sorriso doce, mas de olhos profundos e tristes, por uma histó-

ria de vida marcada pela perda. Abracei-o e beijei-o num impulso, sem pensar em barrei-

ras culturais e de costumes. Trazia consigo a avó e dois irmãos mais novos. Deixei ficar

as minhas mãos na dele… e falámos, de coisas simples. Moravam longe e esperavam-me

desde manhã… deveriam ser 4 da tarde. À noite, nas habituais reuniões de balanço do

dia, não consegui descrever ao grupo o que senti, só me ocorria comoção, mas era redu-

tor… e ainda hoje não consigo. Estas linhas são um descritivo superficial de uma séria de

sensações novas, que nunca tinha experimentado. Mas inegavelmente boas, reconfortantes, apaziguadoras.

Por fim, não esqueço o grupo fantástico de padrinhos, com quem estabeleci laços que ficarão para sempre, mesmo que não nos

tornemos a encontrar nos nossos percursos de vida... E não esquecerei a equipa da Helpo, incansável: a entrega da Ondina, a ener-

gia do Cazé, a simpatia da Verónica, a generosidade da Sara, o entusiasmo da Sílvia, a doçura da Margarida, a alegria contagiante

do Tiago. Koshucuro! Foi um privilégio, titios Helpo!

Page 10: Mundoh n23

0

Madrinha Maria João Rebelo

A viagem ao outro lado da Helpo, em Moçambique marcou-me para toda a vida, e dei-

xou-me muitas saudades, que alimentam a minha vontade de mudar de vida, de traba-

lho e encorajam-me nessa procura incessante de um novo desafio, que quero abraçar.

Todos os momentos passados foram únicos, é difícil eleger um, desde a visita às comu-

nidades em Nampula e Pemba, à pintura no mural do Centro de Actividades Infantis na

Ilha de Moçambique, às crianças a cantarem o Hino em Silva Macua (uma delícia), até à

aventura de barco à Laguna e à Praia das Chocas. As viagens nas pick-up ao som de Za-

hara, que nos conduziram até uma realidade diferente e cheia de contrastes.

Foram 12 dias vividos intensamente, com um grupo fantástico e inspirador de padri-

nhos e coordenadores, em que aproveitei cada momento, como se fosse único e meu

para sempre, saboreando cada gesto, cada sorriso que guardo com carinho no coração,

com a certeza de que vou regressar a Moçambique, a essa “Terra Gloriosa”, onde as

diferenças nos tornam pessoas mais ricas, onde aprendemos que podemos ser felizes

com tão pouco e a enfrentar as adversidades da vida sempre com um sorriso.

Atividades nas comunidades

A visita de um grande grupo não poderia significar

a paragem do normal funcionamento da equipa da

Helpo no terreno. A ideia foi aproveitar da melhor

maneira a presença de pessoas ávidas em participar

nas atividades, e foi isso que aconteceu: distribuição

de roupa em Napacala; sessão de nutrição e conserva-

ção alimentar por parte da estagiária da Universidade

Lúrio, em Natchetche; distribuição de kits de material

escolar em Momola e Mahera; distribuição de lanche

escolar em Impire; confeção e distribuição de papi-

nhas em Nacate; além de se assistir ao espetáculo de

capoeira e canto no Infantário Provincial de Nampula,

teatro, dança e atividades de pintura com os grupos

do Centro das Atividades Infantis da Ilha de Moçam-

bique e espetáculo de dança N’sope em Teacane.

Madrinha Eunice Lopes

Há quem eleja os “resorts” de férias quando tem uns dias livres, e precisa de mudar de ambiente. Ilude-se quem julga ter entendido

a alma de um povo, na sequência de ter vivido uma semana num resort de turismo num país distante.

A cidade maior onde estivemos, Nampula, apresenta carências de todo o tipo, desde falhas de energia elétrica, falta de vias de

acesso, até deficiências enormes de recolha de lixos, insalubridade, deficiente assistência hospitalar, enfim, o mapa tipo de uma

sociedade em vias de desenvolvimento. Trilhámos 2100kms por estrada, e parte dos acessos a algumas comunidades eram mes-

mo “picadas” no mato. A má nutrição das crianças é visível. Por todo o lado, crianças de tenra idade, em vez de estarem na escola,

transportam crianças mais pequenas do que elas, por vezes ao colo, por vezes pela mão; é usual que as meninas sejam mães pela

primeira vez aos onze anos; o pai é uma figura normalmente distante, até porque a religião predominante- muçulmana- permite

várias mulheres ao homem; os alimentos que são consumidos na família são os cultivados em “machambas”, pequenas hortas nas

imediações da aldeia, o que “justifica” que os rapazes sejam requisitados pelos familiares para o trabalho, em vez de os libertarem

VIAGEM PADRINHOS

Page 11: Mundoh n23

para a aprendizagem escolar.

Pude observar a espontânea alegria com que os veículos da Helpo, em que fomos transportados, eram recebidos. As crianças e

os jovens corriam e acenavam à nossa chegada , gritavam “Helpo!”. Na

comunidade de Impire, o diretor de escola - uma escola com quase dois

milhares de alunos- dinamizou a colocação de rústicos cartazes de boas

vindas aos padrinhos Helpo e a limpeza dos acessos térreos ao recin-

to da escola. Em Pemba, na Ludoteca criada e dinamizada pela Helpo,

pude constatar o agradecimento/incredulidade nos olhares dos jovens,

que connosco, padrinhos/madrinhas, ensaiaram uns jogos simples. Es-

sas crianças têm falta, na sua maioria, de carinhos por parte dos pais e

de tempo que lhes seja dedicado. Vi o resultado do trabalho, quer da

Helpo, quer dos seus parceiros locais- Infantário Distrital de Nampu-

la; secção maternoinfantil no Hospital de Marrere; missões católicas,

etc- ação essa que consiste em dinamizar atividades para as crianças/

jovens poderem ter referências, seguir valores, ganhar competências, e

em particular nas cidades como Nampula, saírem da vida de rua, onde

entregues a si próprias desde pequenas se tornam alvos de violência,

exclusão, miséria.

Tantas são as histórias verdadeiras que pude testemunhar, mas aqui deixo estas curtas impressões do que considero ter sido a via-

gem que em muito ultrapassou as minhas expectativas. Libertou muitas emoções, não se ficou pelos cinco sentidos. Nesta viagem

a Moçambique conheci o meu afilhado Amade, conheci o trabalho da Helpo e fiz amigos. Nós, todos juntos, fazemos!

Visitas aos afilhados

O capítulo principal e mais esperado des-

ta história era o das visitas aos afilhados.

Geralmente os padrinhos trazem expecta-

tivas muito elevadas quanto à forma como

serão recebidos pelos seus afilhados. Es-

sas expectativas normalmente embatem

numa criança apavorada por ser o centro

das atenções, algo que nunca aconteceu

em toda a sua vida, sobretudo por um mu-

cunha (estrangeiro ou branco, em língua

macua) que leva consigo um mundo novo

que lhe é estranho. Algumas crianças

conseguem desinibinir-se passado algum

tempo, outras ficam mesmo com um olhar

assustado e com a lágrima no canto do

olho, contrastando com a alegria extrema

de todas as outras crianças que desejavam

estar naquele lugar. Houve de tudo nas

visitas: crianças que choraram, crianças

que falaram muito em português correto

(o facto de ter sido uma criança mais cres-

cida e do Centro das Pastorelas, da Cidade

de Pemba, ajuda a explicar esse facto), e

houve mesmo crianças que não estavam

presentes. Duas delas, devido à normal

movimentação de famílias, separações

temporárias, não estavam presentes no

dia da visita dos padrinhos, mas ambos

os casos foram solucionados da melhor

maneira. Enquanto a afilhada da Comu-

nidade de Momola que estava temporia-

riamente em casa de uma tia, conseguiu

regressar com uns dias de atraso,o meni-

no da Comunidade de Napacala, deslo-

cado de vez para a Cidade de Angoche, a

200km de distância, e impossibilitado de

vir a Nampula, proporcionou à Madrinha

o apadrinhamento de uma nova afilhada,

que teve o prazer de conhecer. A natural

deceção da madrinha por não conhecer

o menino que vinha a apadrinhar há al-

gum tempo foi superada pelo sorriso da

nova afilhada. Crianças para apadrinhar

não faltam, basta haver padrinhos e ma-

drinhas com vontade.

As comunidades visitadas em que os Pa-

drinhos tinham crianças apadrinhadas

foram Napacala, Ilha de Moçambique, Na-

tchetche, Marrere e Momola na Província

de Nampula e Pastorelas, Impire e Nacate

na Província de Cabo Delgado

Page 12: Mundoh n23

VIAGEM PADRINHOS

Dias livres

Os dias livres, na Ilha de Moçambique e

em Pemba, foram usados para aproveitar

o sol! Em Pemba, na praia, e na Ilha de

Moçambique, além de um passeio para

conhecer o encantador pedaço de terra

rodeado pelo Índico, único sítio Patri-

mónio da Humanidade da UNESCO em

Moçambique, também houve um passeio

de barco para conhecer a famosa praia

das Chocas, uma das mais bonitas do país.

Houve ainda tempo para compras: capu-

lanas, artesanato em pau preto e outros

adereços típicos, acabaram com os meti-

cais que restavam.

Padrinho Baltazar Matos

Parti com uma grande vontade de conhecer a Soraia e toda a en-

volvente familiar e social. De acordo com o programa que estava

estipulado a visita à povoação da Soraia não seria das primeiras,

pelo que antes tive oportunidade de conhecer outras povoações.

Iniciámos a nossa digressão pelo Infantário de Nampula onde tive

oportunidade de conhecer os miúdos que na sua maioria eram

orfãos e tinham sido encontrados na rua, estive com a Belinha ao

colo, uma miúda linda com 2 anos de idade, que é portadora de

HIV/Sida. A Belinha adormeceu no meu colo. Ela precisa de tantas

coisas, eu diria de todas as coisas e também de um colo.

No mesmo infantário existia um menino sem pernas que fez uma

dança para nós. É também um miúdo com falta de tudo e também das pernas. Falamos nós de desigualdade, quando não coloca-

mos uma rampa de acesso a deficientes num mundo cheio de tudo. Este miúdo, o que menos falta lhe faz, é a rampa... Cada crian-

ça naquele infantário tinha uma história de vida muito triste, provavelmente o caso deste menino e da Belinha não serão os mais

tristes. Mas estas crianças eram privilegiadas, porque tinham saído da rua e naquele infantário tinham quem lhes desse comida e

carinho.

Madrinha Paula Gomes

É difícil encontrar as palavras certas para exprimir os sentimentos que esta viagem me

proporcionou. Mas houve duas coisas que me marcaram para toda a vida e fizeram

com que eu passasse a olhar o mundo de outra forma:

- A felicidade que eu senti ao ver quanto são importantes os 21€, que os padrinhos

mensalmente enviam para o seus afilhados, e sentir que se podia fazer muito mais, se

mais padrinhos houvesse.

- Não há nada mais gratificante do que o sorriso de uma criança. Estas crianças recebe-

ram-nos com um sorriso e uma alegria contagiantes. Impossível ficar indiferente...

Aqui fica uma mensagem para todos os padrinhos, que ainda não tiveram oportunida-

de de visitar os seus afilhados: se alguma vez tiverem essa possibilidade (como eu tive),

não hesitem! Vão visitar os vossos afilhados, pois asseguro-vos, que será a viagem das

vossas vidas!

Page 13: Mundoh n23

3

Cada dia, cada experiência, eu partilhava com a minha família, por forma a que tivessem oportunidade de sentir todas as vivências

com o máximo de cumplicidade e intensidade. Tenho duas fillhas, com 8 e 12 anos, que de uma forma quase direta foram sen-

tindo todos os dias, todas as emoções, as nostalgias e amarguras, que eu ia vivendo. Foram as histórias que nos fizeram chorar.

Todos ganhámos com esta visita principalmente as minhas filhas, porque perceberam que existem dois mundos com realidades

completamente diferentes: o mundo delas, cheio de tudo, e o mundo de todas estas crianças, cheio de nada.

Finalmente, depois de várias peripécias, pude encontrar-me com a minha afilhada Soraia. Sim, a Soraia existe! Quando dizemos a

algumas pessoas, que somos padrinhos de uma criança em Moçambique através da Helpo, estas pessoas acham que o dinheiro

não chega ao destino e que isto tudo são lobis bem montados.

Eu e a minha esposa temos a certeza de que não é verdade, porque temos tido, ao longo destes anos, várias evidências de que a

nossa ajuda chega à Soraia. Mas as nossas pequenotas têm dúvidas, porque ouvem o mesmo tipo de comentários. Afinal, a Soraia

existe, as escolas existem e a Helpo está a fazer um trabalho enorme junto das povoações.

É uma organização de muito trabalho e, acima de tudo, de muito sentimento. Os nossos afilhados têm rosto e coração, mas quem

trata deles também.

Acreditem: a nossa ajuda faz a diferença!

Os parceiros da Helpo Pastorelas/Marre-

re/Netia/Alua /Infantário

Além das comunidades rurais onde a Hel-

po intervém, também os nossos parceiros

tiveram o prazer de receber a visita dos

padrinhos e mostrar o seu (nosso) traba-

lho! Os meninos do Infantário vestiram-se

com pompa e circunstância como fazem

com todas as visitas que recebem, canta-

ram, fizeram a demonstração de capoeira

e de ginástica acrobática e fizeram novos

amigos.

Os Missionários de S. João Baptista, no

Marrere, Nampula, convidaram o grupo

para um maravilhoso almoço, depois da

visita ao trabalho feito em parceria, a Bi-

blioteca Helpo, o Pavilhão de Serralharia e

a Escolinha do Marrere.

Na missão de Netia – Natete, o Padre An-

tónio Gasolina recebeu-nos ao pequeno

almoço e deixou toda a gente com sorriso

nos lábios com a sua alegria contagiante

e capacidade de trabalho.

Em Alua, a meio caminho entre Nampula

e Pemba, o Padre Mateus mostrou a Bi-

Madrinha Maria Duarte

Esta foi a 1ª viagem em grupo de padrinhos, organizada pela Helpo. Daí revestir-se de especial importância, pelo exemplo futuro

que constitui. Pediram-nos a nós, padrinhos, que prestássemos o nosso testemunho.

Nada mais fácil e difícil ao mesmo tempo. Fácil, porque retenho uma memória muito vívida dos acontecimentos, sendo, no en-

tanto, difícil expressar por palavras o turbilhão de tudo o que observei, vivi e senti.

O momento alto foi, sem dúvida, o encontro com a minha afilhada Bia, que tem agora doze anos. Ela, que tantas vezes me pe-

dira para a visitar, mostrou-se muito tímida e inibida, quase não acreditando que a madrinha de facto existia, que se preocupa-

blioteca Helpo e a moderna igreja.

As Irmãs Pastorelas apresentaram o Cen-

tro de Comunicação Tiago Alberione, fi-

nanciado pela Helpo e todo o trabalho de

atividades extracurriculares e distribuição

de lanche, que animam a alma e barriga

de centenas de crianças, todas as tardes.

Page 14: Mundoh n23

4

Madrinha Débora Moraes

Guardo para sempre no coração os sorrisos daquelas crian-

ças, tão radiantes, tão puros, e tão a troco de quase nada!

Guardo para sempre no coração a minha querida amiga Atija,

uma menina linda, que me acompanhava para todo o lado,

que me escrevia bilhetinhos e me oferecia desenhos. Guardo

para sempre no coração a timidez com que o Osvaldo, meu

afilhado, recebeu pessoalmente as prendinhas que lhe ofe-

reci… Guardo para sempre no coração a alegria com que as

crianças recebiam a Helpo, entre gargalhadas e canções de

boas-vindas. Guardo para sempre no coração o brilho dos

olhares dos colaboradores da Helpo e de todos os padri-

nhos, em cada atividade em que participámos… Guardo para

sempre no coração os abraços que as crianças nos davam, as

carícias, a curiosidade de tocar no nosso cabelo liso, nas nos-

sas roupas, de ver as suas fotografias nas nossas máquinas…

Guardo para sempre no coração o bombom que me foi oferecido por uma menina… Guardo para sempre no coração a partilha

que um grupo de crianças fez da última e desenxabida barrita de cereais que estava perdida na minha mochila… Guardo para

sempre no coração o céu estrelado, de perder de vista, e o pôr-do-sol daquela terra tão única que é Moçambique…

Dizem-me que voltei diferente de lá… pois claro: voltei com um coração maior! Guardo tudo isto e muito mais no meu coração,

mas quero partilhar: quero que todas as crianças que recebo de visitas de escolas no meu trabalho saibam dar valor ao que têm,

saibam que há meninos e meninas que têm que estimar o único caderno, a única pasta, o único lápis que têm; há meninos e me-

ninas que só têm uma muda de roupa e chinelos rotos, que têm as árvores e a terra como salas de aula, que têm a barriga vazia…

mas o coração cheio! Pode ser que assim se tornem em adolescentes e jovens mais humanos… e que ajudem a tornar este nosso

mundo num mundo mais humano, como dita a missão da Helpo.

va com o seu futuro e viera de tão longe para a ver! Espero que se sinta agora mais motivada para continuar os seus estudos!

Força, Bia!

Foram duas semanas muito intensas, a visitar comunidades do norte de Moçambique, as suas escolas e bibliotecas, distribuin-

do lanches e material escolar às crianças. As conversas com professores

e animadores foram muito esclarecedoras. Mal imaginava eu, que um

professor pudesse fazer diariamente doze quilómetros a pé, levando

três horas para chegar à escola! Só mesmo no terreno conseguimos

perceber as enormes dificuldades e carências de bens essenciais, que as

populações sofrem no seu dia a dia. É uma realidade à qual não pode-

mos ficar indiferentes, apenas atenuada pelos afetos, pelos gestos, pe-

las palavras e pelos olhares, particularmente os da miudagem, que nos

seguia curiosa para todo o lado.

Pude constatar o excelente trabalho que a Helpo tem desenvolvido

junto destas comunidades e valorizo agora muito mais o programa de

apadrinhamento à distância, o esforço, dedicação e criatividade para

levar tudo avante!

O meu muito obrigada à Ondina, ao Carlos, ao Tiago, à Sara e à Marga-

rida, que me possibilitaram viver esta experiência humana inesquecível,

e também aos companheiros de viagem, gente especial, pelos momen-

tos divertidos, pela solidariedade, pelas conversas ora sérias, ora animadas. Porque as histórias partilhadas têm outro sabor…

Realmente, tudo e todos contribuíram para me fazer esquecer as dificuldades, desafiando-me a continuar a lutar pelos sorrisos

de Moçambique!

VIAGEM PADRINHOS

Page 15: Mundoh n23

5

PORTUGAL

nova direção.No passado dia 4 de junho, a Assembleia Geral da Helpo foi a votos para eleger uma nova direção, que deverá cumprir o man-

dato 2013-2016.

Tal como o presidente da direção anterior, o padrinho Nuno Tavares, pôde explicar no editorial da revista mundo h nº22, a di-

reção cessante interrompe o mandato por motivos de força maior.

Da anterior direção encontramos novamente os padrinhos António Perez Metelo (atual Presidente), Duarte Marques (vice-Pre-

sidente) e Cristina Rebelo da Silva (vogal). Os padrinhos Isabel Baleia e Nuno Barquinha, membros novos mas padrinhos “vete-

ranos” preenchem os dois lugares que faltam.

De seguida e na primeira pessoa, vamos beber das palavras dos 5 membros que compõem a nova direção da Associaçao Hel-

po. O que fazem, qual o seu envolvimento com a Helpo e algumas das principais ideias para o caminho agora a percorrer.

Chamo-me António Perez Metelo, tenho 64 anos, sou jornalista

de profissão. Sou, há mais de 3 anos, padrinho da Ragina, que

vive em Silva Macua, Pemba, Moçambique. Visitá-la foi con-

hecer de experiência feita a diferença que faz, para os afilhados

da Helpo e para as suas comunidades, a existência do apadrin-

hamento à distância. Aceitei ser Presidente da Direção da Helpo

para, nos próximos três anos, reforçar os laços entre padrinhos

e afilhados, alargar o conhecimento público da nossa ONGD e

fazer chegar às nossas crianças meios acrescidos, que lhes per-

mitam progredir com sucesso nos sistemas de ensino dos seus

países. Sei que vão ser anos difíceis, de grande rigor financeiro

para a Helpo, mas confio no contributo criativo de todos, que

já foram cativados por uma ideia simples e poderosa: a de que

estamos unidos, mesmo a milhares de quilómetros de distância,

que esse laço faz toda a diferença e é portadora de um amanhã

melhor.

Eu sou o Duarte Marques, tenho 32 anos e estou ligado à Helpo

desde o seu início. Desempenho atualmente as funções de

Deputado à Assembleia da República, em representação dos ci-

dadãos do distrito de Santarém.

É um enorme privilégio continuar a fazer parte desta família. A

oportunidade de escrever estas palavras significa que inicia-

mos mais um mandato à frente dos destinos da Helpo, a minha

outra família que, tal como um filho - experiência que ainda

não tenho -, vi nascer, crescer e chegar à adolescência. Hoje,

atravessamos um enorme desafio na passagem para a fase

adulta, onde os desafios são enormes.

A procura da maior eficiência na aplicação dos nossos/vossos

recursos no terreno, com o maior valor acrescentado possível

para as comunidades em que estamos envolvidos, é um desafio

permanente, que nesta altura de crise e de escassos recur-

sos, deve assumir ainda maior relevância. Essa é a nossa maior

tarefa: manter o nível de apoio e ajudar cada dia a melhorar

a qualidade de vida destas populações, em especial , das suas

crianças.

Page 16: Mundoh n23

6

O meu nome é Cristina Rebelo da Silva, tenho 38 anos e sou as-

sistente de bordo.

Sou madrinha desde 2008 e voluntária na sede da Helpo desde

2009.

A 1ª vez que recebi uma carta do meu afilhado Mundo e a

revista Mundo H, percebi que era esta a causa que queria a-

braçar. O meu envolvimento foi sendo crescente e, à medida

que fui percebendo o mecanismo de tudo, fui-me apaixonando

cada vez mais pela Helpo.

A minha ajuda e contribuição são feitas nos mesmos moldes

que me fizeram apaixonar pela Helpo: integridade, dedicação e

humildade, e sempre com o objetivo focado nas crianças apa-

drinhadas e nas comunidades onde se inserem, criando assim

condições para um mundo melhor.

Começo por afirmar que é com enorme orgulho e muita sat-

isfação que abraço este desafio, fazer parte da Direcção da

Helpo. Sou o Nuno Barquinha, tenho 36 anos e sou bancário de

profissão.

Tenho o privilégio da Helpo fazer parte da minha vida des-

de o início e considero-me um sortudo por já ter recebido a

cores os sorrisos das nossas crianças aquando da minha visita

ao terreno. Sem dúvida o momento mais marcante da minha

vida extra familiar. Foi nessa visita que percebi o quanto nós,

padrinhos e madrinhas, somos importantes e necessários para

melhorar as condições das comunidades onde estão os nossos

afilhados, permitindo através da sua educação, certamente um

futuro muito mais risonho do que eventualmente lhe estaria

destinado. Devido a esta visita passei a ser um padrinho em

triplicado, procurei dar a conhecer aos meus filhos, uma outra

realidade muito diferente da nossa. Uma realidade que nós,

os padrinhos e madrinhas, através da Helpo vamos a pouco e

pouco alterando. Estas crianças precisam da Helpo e a Helpo

precisa de todos nós.

O meu nome é Isabel, tenho 32 anos e sou fisioterapeuta. Con-

heço a Helpo desde 2010, altura em que me tornei madrinha.

Nesse mesmo ano tive oportunidade de ir a Moçambique con-

hecer a minha afilhada e vivenciar o trabalho no terreno. Talvez

o facto de ter tido a oportunidade de ir ao terreno tão pouco

tempo depois do apadrinhamento fez com que me tornasse

uma madrinha mais atenta ao percurso da Helpo, daí não ter

hesitado quando o convite para integrar a direcção surgiu. É a

oportunidade de ser mais do que madrinha, é a oportunidade

de, juntamente com os restantes membros da direcção, poder

continuar a fazer a diferença para a vida quotidiana das crian-

ças apoiadas por todos nós.

PORTUGAL

Page 17: Mundoh n23

7

O Planeta Veki, um planeta dentro de cada um!Cascais, Joana Lopes Clemente

ontar a história de uma história sem cair na armadilha

redonda da repetição, é um desafio ardiloso. E andar à

volta sem levantar o véu, sem apresentar protagonistas

ou desvendar a trama, e ainda assim conseguir despertar nos

leitores a curiosidade suficiente para desejarem conhecer o li-

vro, é um desafio à altura do qual espero estar!

Então foi assim: peguei numa caneta e deixei que os pensa-

mentos fluíssem; que deixassem convergir os olhares que

absorvo do mundo, ora visto daqui, ora visto dali. O mesmo

mundo, tantas interpretações.

A caneta, com vida própria, inventava uma zebra aprisiona-

da numa história, enquanto personagem de um livro sobre a

fauna africana. Uma zebra cheia de sonhos, de medos, de uma

profunda curiosidade acerca do que vê, mas sobretudo acerca

do que não vê. Uma zebra na qual, afinal de contas, qualquer

um de nós se revê um bocadinho.

Na ombreira da porta entre um mundo e o outro, entre o que

se conhece e o desconhecido absoluto, Veki tem uma visão

privilegiada do que sente, não vendo apenas o que não conhe-

ce. E vive, com honestidade, um universo de dúvida, de inse-

gurança, de incerteza, no qual acaba por mergulhar em pleno

para sair desse mergulho muito mais rico!

Numa linguagem naïve, Veki vai superando um e outro degrau

na longa escada de obstáculos que o desconhecido nos impõe,

e o mundo vai-se abrindo aos seus pés, vai-se tornando maior.

A história foi concebida para os mais pequenos, como forma

de ajudar a pensar um mundo intercultural, interrelacional, in-

ter-tantas-coisas porque, de facto, nenhum homem é uma ilha

e tudo se desenrola entre um sujeito e um ou mais elementos

externos a ele.

Com a convicção profunda de que a predisposição para a com-

preensão das coisas/do mundo é um passaporte directo para a

paz, deixei que o Veki me ensinasse coisas simples, coisas que

sabemos, mas que merecem ser revisitadas com tanta frequên-

cia quanto as esquecemos. O resultado foi esta história: a his-

tória de um planeta inteiro, que começa cá dentro!

O objectivo da história é tornar o mundo de quem a lê, maior;

enriquecer planetas, encurtar distâncias entre as diferenças e

destruir as paredes erguidas entre as pessoas e as oportuni-

dades. Assim, com os fundos recolhidos com o livro, a Helpo

espera embelezar também o mundo dos seus mais de 11 000

beneficiários através da manutenção dos seus projectos de as-

sistência às 35 escolas e creches onde trabalha!

C

O nosso mundo é humano, “O Planeta Veki” também, e o

seu?

O livro “O Planeta Veki”, escrito pela Coordenadora Ge-

ral da Helpo e inspirado no confronto entre realidades de

países onde a Helpo trabalha, conta com o prefácio do

Presidente da Organização, António Perez Metelo. O custo

do livro é de 13€ e os lucros arrecadados com a sua venda

revertem para a manutenção dos projectos da Helpo no

terreno.

Para ajudar, pode encomendar o seu livro através da Hel-

po ([email protected] / 211537687), da Bertrand Online ou da

Chiado Editores.

Page 18: Mundoh n23

8

projecto BRINCA no Porto.Porto, Ana Luísa Machado

o BRINCA - Porto todos os dias tentamos ser um boca-

dinho inovadores nos conteúdos que apresentamos

às seis crianças que nos acompanharam durante este

mês de julho.

Tivemos momentos culturais divertidíssimos, que fizeram as

delícias dos mais novos. Muitos nunca tinham tido experiên-

cias semelhantes, o que lhes abriu o apetite à aventura e para

a permanência neste projeto da Helpo.

Para além das brincadeiras na praia, os meninos tiveram a

oportunidade de visitar o Museu Nacional Soares dos Reis e

nele perceber como funcionam os museus numa perspetiva

geral; as brincadeiras e picnics no Palácio de Cristal também

não faltaram, com corridas atrás dos pavões e dos pombos

que o habitam; os jogos de futebol, baloiços, escorregas, cor-

ridas, gritarias e todas as restantes atividades ao ar livre, que

as crianças de hoje tanto precisam e valorizam. A par disto,

tiveram workshops de doçaria e de decoração de cup cakes; fre-

quentaram um workshop de estruturas escultóricas, pela Escola

Superior de Educação do Porto, no belíssimo Edifício Axa, na

primeira avenida da cidade. Fizeram, também, um “assalto” à

Casa Adresen e Jardim Botânico.

A aventura nas férias grandes irá terminar com um dia repleto

de emoções em Barcelos.

O Clube dos Amigos da Montanha e o projecto Pedalar com

Alma associaram-se à Helpo e acederam a receber os nossos

brincalhões, iniciando-os em actividades náuticas como a ca-

noagem e o mergulho. Farão passeios em motas de água, pro-

vas de orientação e paint kids. No momento em que escrevo

estas linhas, este evento ainda não decorreu, mas não estarei

- com certeza - fora da realidade ao dizer que será um enorme

sucesso e que no final do dia as crianças irão dizer que BRINCA-

ram à grande e que querem mais!

N

PORTUGAL

Page 19: Mundoh n23

9

a BRINCAR a brincar.Cascais, Joana Ferrari

RINCA(R) parece fácil. Crescer parece intuitivo, inques-

tionável, inevitável. Mas seguir a direção correta, fazer

as escolhas acertadas e saber distinguir o que é “bom”

do que é “mau” requer atenções, carinhos, bases e educações

que as crianças deste mundo, do nosso mundo, não encontram

de igual forma nas suas casas. De Moçambique a São Tomé, de

São Tomé a Portugal, as diferenças e as ausências são questões

onde as comparações não têm sequer lugar. Aqui também há

falhas e há ausências e há outras dores – que não são menores

porque o contexto é outro e não se conhece mais nenhum.

São essas as dificuldades com que nos deparamos no BRIN-

CA no Verão: como explicar aos nossos trinta meninos (com

idades compreendidas entre os 7 e os 12 anos) que, na sua

maioria, passou oito semanas connosco, de segunda a sexta,

das 9h às 18h, a comer, a brincar, a gritar, a aprender, a sujar,

a amuar, a ser criança!, que nem tudo o que vêem em casa é

de repetir e que há coisas, que nunca viram em casa, que de-

veriam repetir-se no seu dia-a-dia? Como explicar que lavar

os dentes não é uma “vaidade”, mas uma necessidade básica

(neste nosso contexto)? Como explicar que querer mal ao ou-

tro não nos eleva e que as “queixinhas” nada resolvem? Como

tratar por igual, meninos e meninas tão heterógenos quanto

os seus encarregados de educação, hábitos, raízes, naciona-

lidades, feitios e personalidades? É que os dias são mais que

preenchidos, as crianças gritam mais alto do que os nossos

pensamentos, as queixas correm à velocidade da luz e vêm

de todas as partes, os acidentes não param de se suceder e os

planos que fazemos para as atividades e para os diversos mo-

mentos são sempre mais utópicos do que realistas (ou reais,

em último caso).

E é nessa correria estonteante, entre falar-lhes à cabeça, ao

coração, dar regras e espaço para brincar, que deveríamos

ouvi-los mais do que somos capazes. Porque o tempo não esti-

ca (e eles esticam-se tanto!), porque o nosso peito encolhe e a

nossa garganta arranha cada vez que eles repetem os mesmos

erros vezes sem conta. Não é a mais fácil das tarefas. Mas é

talvez a mais gratificante, quando vemos as nossas pequenas

vitórias nos nossos pequenos traquinas! Já lavam os dentes, já

sabem em teoria algumas aprendizagens que, aos poucos, vão

pondo em prática: como deixar ir no lugar da frente, na carri-

nha, outro colega, contra a sua vontade.

Os dias também não são fáceis quando se tem 6 ou 12 anos.

E é engraçado “voltar lá”, através da convivência com estes

pestinhas, para perceber o quão injusta é a vida quando res-

pondemos com um murro e um “a culpa não é minha porque

foi ele que começou!!”, porque há regras a mais para cumprir

e eu, na minha perspetiva de metro e vinte, não alcanço o seu

sentido, de todo – que estes adultos não percebem nada de

nada...

Foram visitas a museus, como o Museu do Mar, foram idas à

praia, prática de desportos como vela e aulas de equitação, fo-

ram idas à Polícia, formações de nutrição e trabalhos manuais,

“Horas do Conto”, idas ao teatro, entre tantos outros progra-

mas diferentes daquilo com que as nossas crianças têm conta-

to regularmente. A diferença que fizemos no seu Verão é ga-

rantida. Muito para lá dos dias que passaram nas últimas oito

semanas, acreditamos que os participantes no campo de férias

cresceram mais além e levam para casa (e para as suas vidas),

muito mais do que momentos bem passados: um brilhozinho

no olhar e uma vontade de se tornarem cada vez melhores e

maiores. E esse, para lá de todos os cansaços ou dificuldades,

é o nosso objetivo.

B

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0

descoberta.Cascais, Joana Lopes Clemente

Por todos: um conceito simples que assenta na ideia de

1€ poder trazer benefício tanto a quem o doa, como a

quem o recebe. Uma equação pensada para disponibi-

lizar bens essenciais, que não têm aplicabilidade nas nossas

comunidades, a quem, por cá, tanto deles necessita e poderá

ter acesso aos mesmos a preços simbólicos (quase todos os

produtos implicam uma doação de 1€), tornando a prática da

solidariedade acessível mesmo a quem passa por dificuldades.

E claro, em África, as comunidades nas quais trabalhamos, po-

dem beneficiar do apoio que, euro a euro, se angaria e se ma-

terializa na actividade regular da Helpo.

1 Por todos: uma ideia que operacionalizámos, a cada 6 meses,

numa pequena feira solidária na sede durante o ano de 2012 e

primeira metade do ano de 2013.

O que também aconteceu, foi o facto deste gesto de solidarie-

dade ter tido um outro retorno. Com a prática desta iniciati-

va, as portas do Bairro das Fontainhas em Cascais, (bairro no

qual a Helpo escolheu situar a sua sede em Fevereiro de 2011),

escancararam-se de repente.

Os problemas que conhecíamos, multiplicaram-se; as pessoas

que os traziam até nós passaram a ter um nome; os seus agre-

gados familiares, passaram a ter um número; e o significado

de “bairro desfavorecido” depressa se decompôs em situações

concretas vividas diariamente pelas famílias e foram sendo

transmitidas aos nossos técnicos. Trocando por miúdos, a rea-

lidade onde pensámos integrar-nos e nos imaginávamos já, em

larga medida, mergulhados, engoliu-nos com toda a intensida-

de da sua complexidade.

As pessoas que sobem e descem a rua todos os dias e que

durante esta feira solidária entenderam a porta aberta como

um convite para entrarem, não apenas na nossa sede, mas nas

nossas vidas, levaram-nos a constatar que, afinal, este caminho

tem dois sentidos e que um crescimento conjunto só se faz

quando as portas se escancaram dos dois lados!

A mensagem foi clara, só havia uma coisa a fazer: não voltar a

fechar as portas. Literalmente.

Procedemos às alterações necessárias e convertemos parte da

sede numa loja solidária, conscientes de que a comunidade do

bairro já nos ensinou, que o projecto que pensámos ter 3 fun-

cionalidades, afinal tem 4:

1 – Ajudar quem precisa, do lado de cá;

2 – Tornar a prática da solidariedade, acessível a todos, mesmo

a quem passa por dificuldades;

3 – Angariar fundos para suportar os custos do envio de bens

para o terreno;

4 – Conhecer de facto a realidade que nos circunda!

1

PORTUGAL

Page 21: Mundoh n23

MAIS DO QUE PADRINHOS

lanche escolar, aos 1800 alunos da

Escola Primária de Impire, na pro-

víncia de Cabo Delgado. O projecto

seguinte deste grupo exemplar foi

angariar fundos para o Dia Interna-

cional da Criança. Nos países onde

a Helpo trabalha, as crianças têm

pouco espaço e poucas oportunida-

des para a infância, para ser criança.

Deste modo, o dia 1 de junho, Dia In-

ternacional da Criança é dos poucos

dias, nos quais se pode e deve ser

criança. Assim, veste-se a melhor rou-

pa, há um almoço melhorado para

todos, há jogos e brincadeiras. Os

voluntários da Helpo no Faial, com

2 jantares de angariação de fundos,

conseguiram 1.355,00€, que ajuda-

ram a proporcionar um dia especial

a cerca de 800 crianças, na festa do

Marrere1, em Nampula, e também

ajudaram a custear esse dia especial

nas roças onde a Helpo trabalha, em

São Tomé e Príncipe.

o longo da nossa vida há seres

humanos que nos inspiram.

Inspiram o que queremos ser,

onde queremos chegar, como escolhe-

mos viver… Algumas destas pessoas são

como as modas, -vêm e vão -, outras, as

mais importantes, vêm para ficar! Algu-

mas, são figuras mais distantes, heróis

de hollywood ou figuras míticas, outras

estão mesmo à nossa mão e até se con-

fundem com pessoas comuns.

A madrinha Luísa Borges, juntamente

com o seu grupo de voluntários, é uma

inspiração e entrou na nossa vida para

não mais sair! Não estando mesmo aqui

à mão - fisicamente dista de nós cerca

de 1700km (que é a distância que sepa-

ra Cascais da Ilha do Faial, nos Açores)

– mas todos os dias guardamo-la no

coração.

A madrinha Luísa Borges sofre de bi-

cho-carpinteiro e não consegue estar

parada! O seu exigente grupo de volun-

tários também não: assim que termi-

nam um desafio, começam de imediato

a perguntar à sua líder, qual o próximo

projecto!

Pela 2ª vez, em fevereiro deste ano

tive o enorme privilégio de estar pre-

sente nas Sopas do Espírito Santo, na

localidade do Norte Pequeno, na Ilha

do Faial. Neste evento, conheci e revi

gente extraordinária, gente de todas as

idades e feitios, mas tudo boa gente!

Gente de brilho no olhar, gente sem

medo de pôr mãos à obra, gente boa

e gente humilde, gente que faz o bem

sem olhar a quem. As Sopas deste ano

permitiram angariar 3.188,82€, verba

direccionada para garantir um ano de

A

a minha inspiração.

No passado mês de julho, os voluntários

da Helpo no Faial marcaram novamente

presença na Feira Regional dos Açores,

que este ano se realizou na “casa” da nos-

sa equipa. Com esta Feira, o grupo Helpo

da Ilha do Faial conseguiu angariar mais

1.331,50€, que serão direccionados para

uma área muito querida à madrinha Luísa

Borges: levar água às crianças que não a

têm. Assim, os 4 novos reservatórios de

água instalados no recinto da Escola Pri-

mária de Impire (recentemente cheios de

água, com o apoio do Sapo mz), com uma

capacidade de 20.000 litros, poderão ser

reabastecidos no tempo seco, logo que

seja necessário! É por tudo isto e muito

mais, que, de cada vez que penso neste

grupo de pessoas extraordinárias, lidera-

do por uma senhora fabulosa, me sinto

pequenina. Sinto que devo fazer mais e ter

um papel mais activo na mudança do nos-

so mundo. Às vezes, quando penso neste

grupo, penso que quando for grande, que-

ro ser assim – como eles.

Cascais, Margarida Assunção

1 em conjunto com as doações dos padrinhos referidas no artigo da rúbrica Viagem Padrinhos

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FICHA TÉCNICA

Entidade Proprietária e Editor

Associação Helpo

Morada e Redação: Associação Helpo,

Rua Catarina Eufémia 167 A, Fontaínhas,

2750-318 Cascais

Diretor Responsável

António Perez Metelo

Diretora Editorial

Joana Lopes Clemente

Nº de registo no ICS: 124771

Tiragem: 4400 exemplares

Periodicidade:

Trimestral

NIF: 507136845

Depósito Legal: 232622/05

Impressão

ORGAL,Rua do Godim, 2724300-236 Porto

Redação Portuguesa

Joana Lopes ClementeMargarida Assunção

Colaboradores neste número

Ana Luísa MachadoAntónio Perez MeteloBaltazar MatosCarlos AlmeidaCristina RamosDébora MoraesEunice LopesJoana FerrariJoana Lopes ClementeMargarida AssunçãoMaria João RebeloPaula GomesTiago CouceloTiago Filipe

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Correspondente em África

Carlos Almeida

Design

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Informações: Associação Helpo

Tel.: 211537687 [email protected]

www.helpo.pt

A responsabilidade dos artigos é dos

seus autores.

A redação responsabiliza-se pelos artigos

sem assinatura. Para a reprodução dos

artigos da revista mundo h, integral ou

em parte, contactar a redação através

de: [email protected].

“ALWAYS LOOK AT THE BRIGHT SIDE OF LIFE”

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