mundoh n23
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23 JUL.AGO.SET.3 Ano6 0,70€
mundo h.MOÇAMBIQUE MAIS ÁGUA PARA IMPIRE; S.TOMÉ ILUMINAR A CRECHE DE MONTE CAFÉ; VIAGEM PADRINHOS PRIMEIRA VIA-GEM DE GRUPO LEVA PADRINHOS A MOÇAMBIQUE; PORTUGAL LANÇAMENTO DE LIVRO; MAIS DO QUE PADRINHOS NOTÍCIAS DA ILHA DO FAIAL
ÍNDICE
EDITORIAL
3
exemplo luminoso.
VIAGEM PADRINHOS
8
viagem ao outro lado da Helpo.
S. TOMÉ E PRÍNCIPE
6
o fim do ano letivo.
MOÇAMBIQUE
4
water of hope.(água da esperança)
MAIS DO QUE PADRINHOS
a minha inspiração.
8
projecto BRINCA no Porto.
o Planeta Veki, um planeta dentro de cada um!
7
9
a BRINCAR a brincar.
0
descoberta.
PORTUGAL
5
nova direção.
3
uma mesma semana, festejaram-se dois aniversários, os
95 anos de Nelson Mandela e os 16 anos de Malala You-
safzai. Ambos tiveram notoriedade internacional por
uma fortíssima razão: simbolizam, à escala da Humanidade, a
luta ancestral contra a opressão, o racismo e o obscurantismo.
O líder do ANC, que em tempos não hesitara, em último re-
curso, a conduzir uma resistência armada ao iníquo regime
do apartheid, soube, no momento do triunfo politico, cortar
o ciclo infernal da vingança, estendeu a mão da reconciliação
genuína aos seus antigos carcereiros e lançou o fundamento
sólido de uma nação com todas as cores do arco-íris. Verdade,
perdão, criação de condições para cada ser humano se sentir
livre e igual, com oportunidade de construir um futuro melhor,
eis o que Nelson Mandela, nos deixa como legado. Bem como
o apelo para passarmos à ação, para fazermos a diferença.
A jovem paquistanesa sobreviveu a um atentado dos talibãs,
que a balearam por ela ter a ousadia, com outras meninas de ir
à escola. Renasceu com a voz límpida que apela à escolaridade
de todas as crianças do mundo, em particular, daquela metade
da Humanidade, que continua a ser discriminada, as meninas.
Na Helpo ouvimos com emoção estas vozes de libertação e,
EDITORIAL
N
3
à nossa modesta escala, fazemos nossos os seus sonhos: sim,
queremos continuar a dar, dia após dia, o nosso contributo
para que a dezena de milhar de meninos e meninas de Moçam-
bique e de São Tomé tenham melhores condições para estudar
e possam progredir nos seus estudos o mais possível. E quere-
mos fazer mais.
A Direção recém eleita está bem consciente das dificuldades
que a generalidade dos nossos padrinhos defrontam. Mas as
provas continuadas de empenhamento no apoio aos seus afi-
lhados é fonte de energia e estímulo à continuação dos pro-
gramas, que vamos formatando. A visita de uma dezena de
madrinhas a padrinhos a Moçambique abriu o conhecimento
concreto, no terreno, às mais variadas vertentes da atuação da
Helpo naquele país. Por isso, as suas impressões do que viram
e foram chamados a partilhar, são preciosas. Bem como as suas
sugestões!
Havemos de superar as nossas insuficiências e os resultados
concretos hão de surgir! Com crianças mais escolarizadas, mais
preparadas para assumir as tarefas da nova geração na cons-
trução dos seus jovens países. Seguindo o exemplo luminoso
de Nelson Mandela e Malala Yousafzai.
EXEMPLO LUMINOSO.Caxias, António Perez Metelo
4
water of hope.(água da esperança)
MOÇAMBIQUE
gua é vida. A expressão, em apo-
logia da água, tornou-se um lu-
gar comum nos nossos dias.
A importância da água enquanto susten-
táculo primário da vida no nosso planeta,
é atualmente, e felizmente, amplamente
divulgada um pouco por todo o mundo.
Mas em determinados locais do globo,
onde as populações convivem diariamen-
te com a escassez deste recurso, o tema
tem inquestionavelmente um impacto
acrescido. É assim um pouco por toda a
África em geral, e em Moçambique em
particular. Consciente desta realidade, a
Helpo, nos diferentes locais onde atua
neste país, tem procurado desenvolver
projetos com vista a facilitar o acesso das
comunidades ao precioso líquido. O mais
recente resultado deste contínuo esforço
pode ser encontrado na Escola Primária
Completa de Impire, em Cabo Delgado.
Efetivamente, no passado dia 24 de junho
foi inaugurado o “sistema de aproveita-
mento de águas pluviais da EPC de Impi-
re”. O sistema, que foi integralmente pa-
trocinado pela SAPO Moçambique, e que
começou a ser implementado em 2012,
consiste numa rede de caleiras que reco-
lhem as águas pluviais dos telhados dos
dois principais edifícios da Escola Primária
- o edifício que inclui o gabinete do Dire-
tor e o edifício de salas de aula construí-
Pemba, Tiago Filipe
Á
do pela Helpo e inaugurado em 2012 -, e
as encaminham para 4 reservatórios, dois
por edifício, de 5000 litros de capacidade
cada. A Escola ficou assim dotada de uma
capacidade de armazenamento total de
20000 litros de água, particularmente útil
durante a estação seca em que a chuva
escasseia.
A água tem como destino os diferentes
usos da comunidade escolar onde a mes-
ma é essencial, com destaque para o lan-
che escolar que a Helpo distribui semanal-
mente (onde é usada como componente
do sumo distribuído, para lavar as mãos
das crianças e para lavar todo o material
que é utilizado), a rega das árvores do re-
cinto escolar e o consumo diário por parte
dos alunos e professores.
Previamente à festa da inauguração, o di-
retor da escola, Ismail Biché, em conjunto
com a Helpo, reuniu com a comunidade
para prestar esclarecimentos e sensibilizar
alunos e pais para os cuidados a ter com a
utilização da água dos reservatórios, expli-
cando, nomeadamente, a necessidade da
sua desinfeção previamente ao consumo
1Conforme destacámos no número 19 da Mundo h, a Helpo já tinha colocado um reservatório na EPC de Impire que infelizmente foi destruído, em abril de 2012, devido à incúria de alguns elementos do corpo docente da EPC que, quando o sistema de caleiras ainda não estava finalizado, com vista a aproveitar a água da chuva que caía das caleiras já colocadas, deslocaram o reservatório para fora da sua base e o apoiaram em carteiras de madeira que cederam face ao peso do reservatório cheio, conduzindo à sua queda e colapso.
5
A Flight of Hope é uma missão sem fins lucrativos que almeja apoiar o desenvolvimento sustentável e saudável das crianças
africanas em idade escolar especialmente em áreas de reconhecida carência. Esta missão, que foi fundada por pilotos da TAP
e é efetuada por avionetas, daí advindo o nome Flight of Hope, tem-se desenvolvido desde o ano 2007 e, no ano de 2013,
consciente das enormes dificuldades com que se deparam as escolas de Moçambique, quiseram prestar o seu contributo
e incluíram no seu percurso algumas escolas deste país com o objetivo de aí distribuírem material didático. Tendo tomado
conhecimento do trabalho desenvolvido pela Helpo, entraram em contacto com a Associação e acordou-se a passagem da
missão por Impire. Uma vez que a SAPO é uma das principais patrocinadoras da Flight of Hope, entendeu-se pertinente fazer
coincidir a passagem da missão por Impire com a inauguração do sistema de aproveitamento de águas pluviais já que, como
foi dito, este foi financiado pela delegação moçambicana desta empresa de comunicação.
humano. Aludiu também à importância
do bom uso das infraestruturas, destacan-
do a necessidade de ações de manuten-
ção e limpeza periódicas tanto das caleiras
como dos reservatórios. Refira-se que,
em virtude do acidente ocorrido com um
anterior reservatório1 , a Helpo solicitou
à direção da escola que elaborasse um
regulamento acerca da utilização destas
infraestruturas onde se refere que as mes-
mas, nomeadamente os reservatórios, só
podem ser diretamente manuseados pelo
diretor ou sobre sua vigilância. Este regu-
lamento foi criado e assinado pelos mem-
bros do Conselho Escolar e pelo Diretor
Distrital de Educação.
A inauguração decorreu em clima de fes-
ta, como aliás é apanágio das celebrações
organizadas pela EPC de Impire, onde se
deve relevar o entusiasmo e dedicação
normalmente postas nestas causas pelo
diretor.
Para além da comunidade, que compa-
receu em peso, da equipa da Helpo e de
todo o pessoal da EPC, estiveram presen-
tes na celebração a SAPO Moçambique
- que deslocou propositadamente um re-
pórter e a sua representante oficial, a can-
tora moçambicana Liloca, que distribuiu
sorrisos e autógrafos, e que muito sucesso
fez entre miúdos e graúdos -, e um grupo
de convidados muito especial: a comitiva
da Flight of Hope (ver caixa).
Houve lugar para atuações de 6 grupos
culturais que ofereceram aos convidados
demonstrações de diferentes formas de
expressão cultural local com destaque
para a música, dança e batuques. Alguns
dos convidados “de honra” ainda se atre-
veram a mostrar os seus dotes de dançari-
nos para gáudio da população local.
A inauguração propriamente dita do siste-
ma ficou a cargo do representante da Di-
reção Provincial de Educação e Cultura de
Cabo Delgado, que descerrou a placa de
inauguração do sistema, e da cantora Li-
loca que cortou a fita que simbolicamente
envolvia os dois reservatórios do edifício
escolar construído pela Helpo.
Após a inauguração, a água que alguns re-
servatórios já tinham armazenado foi uti-
lizada para o lanche escolar cuja distribui-
ção a Direção da EPC fez, simbolicamente,
coincidir com o dia de inauguração.
Os convidados destacaram a excelente
organização do evento (os elementos da
comitiva da Flight of Hope referiram, in-
clusivamente, que esta tinha sido a escola
mais bem organizada por onde tinham
passado!) e elogiaram a decoração das
bases dos reservatórios. Refira-se, a este
propósito, que esta decoração resultou
de um concurso promovido pela EPC no
âmbito do dia 1 de junho , Dia Mundial da
Criança, em que as crianças vencedoras
tiveram como prémio pintar as bases em
betão dos reservatórios.
6
São Tomé, Tiago Coucelo
o fim do ano letivo.
SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
hegado o fim do ano letivo 2012/2013, a nossa As-
sociação Helpo empenhou-se na realização de obras
importantes em duas das comunidades apoiadas. Por
outro lado, também o período de execução das cartas de junho
correu muito bem. Em todas as escolas e creches, os professores
realizaram com brio as cartas das crianças apadrinhadas. Foram
576 missivas, que os meninos escreveram com alegria, curiosida-
de e satisfação. Em salas de Santa Catarina,
Saudade, São José, Bemposta e Monte Café,
centenas de crianças enviaram notícias aos
seus padrinhos.
A primeira obra que conseguimos terminar
pouco antes do fim do ano letivo , foi a reabi-
litação de 2 casas de banho da Escola Primária
de Santa Catarina. O objetivo era o de tornar
as instalações sanitárias mais dignas e higié-
nicas, pois anteriormente estavam em muito
mau estado, sendo utilizadas intensivamente
por cerca de 350 crianças, todos os dias. Os
trabalhos consistiram na limpeza da fossa sép-
tica, evacuação de todos os detritos e respeti-
vo transporte para outro local. Foram execu-
tados trabalhos de canalização, desde trocas
de tubos de canalização danificados, até à colocação de loiças
sanitárias. Providenciámos material de construção para reabilita-
ção das valas de água e das tampas da fossa. Sendo assim, a in-
tervenção da Helpo consistiu na compra de material, pagamento
de mão de obra especializada e acompanhamento permanente
da intervenção. Atualmente as casas de banho estão em pleno
C funcionamento, com loiças renovadas, paredes e chão pintados,
canalizações reparadas e portas restauradas.
Todas as crianças, professores, restantes funcionários da escola e
a comunidade, em geral, estavam imensamente satisfeitos. Este
é o exemplo de como uma pequena melhoria na escola pode tra-
zer alegria e inúmeros benefícios a todos. Remodelámos uma in-
fraestrutura essencial e contribuímos também para uma melhor
higiene das crianças de Santa Catarina.
Outra das “empreitadas”, que consegui-
mos realizar, foi a eletrificação da creche de
Monte Café. Convém relembrar que a escola
de Monte Café já tinha sido objeto de uma
intervenção deste género. A creche de Mon-
te Café dispõe de uma infraestrutura de qua-
lidade, com 3 salas de aula, sala de refeições,
cozinha, armazém e recreio. No entanto, a
falta de energia elétrica era uma carência
real. A zona de Monte Café está numa região
chuvosa e escura durante grande parte do
ano. Muitos são os dias, nos quais as crian-
ças têm aulas praticamente às escuras.
Assim, com o apoio do Ministério da Educa-
ção, direção da creche e EMAE (empresa de
eletricidade nacional), avançámos nesta questão. Todo o mate-
rial (fios elétricos , lâmpadas e suportes, interruptores e afins) e
mão de obra foram oferecidos pela Helpo. Como sempre, a obra
foi decidida em conjunto com as entidades governamentais e só
avançámos após termos autorização para tal. Os trabalhos decor-
reram por uma semana e foram permanentemente acompanha-
“O objetivo era o de tornar
as instalações sanitárias mais
dignas e higiénicas”
7
dos pela equipa da Helpo e pela diretora da creche.
A curiosidade e ansiedade eram evidentes, mas todos os prazos
e medidas de segurança foram respeitados, tendo em conta que
era uma obra de responsabilidade numa creche com mais de 100
crianças.
Foi uma experiência incrível quando a primeira lâmpada se acen-
deu. A cara de cada criança, ao olhar aquela fonte de energia,
era indescritível. Foram cerca de 100 crianças e 12 profissionais,
reunidos ao redor da lâmpada, com um olhar de satisfação e rea-
lização por terem atingido um objetivo há muito pensado.
Logo no dia 1 de junho, a energia elétrica foi de uma utilidade
extrema. Esta tomou a forma de música e filmes infantis. Era ver
os olhos de todas as crianças vidrados na televisão, os corpos a
dançarem ao som da música e as caras plenas de entusiasmo. Foi
um esforço conjugado entre a Helpo, a creche de Monte Café e o
Ministério da Educação, que teve um impacto concreto e real.
8
VIAGEM PADRINHOS
viagem ao outro lado da Helpo.
á se passaram cinco anos, desde que
a Helpo começou a ter presença dire-
ta das suas equipas no terreno, com
aprofundamento do trabalho realizado,
sobretudo devido a dois fatores : por um
lado, crianças apadrinhadas e comuni-
dades em que estão inseridas têm sido
um motor para a melhoria dos serviços
prestados pela Helpo. O facto de termos
partido da “estaca zero” e estarmos num
patamar em que as comunidades, como
forma de reconhecimento das ativida-
des desenvolvidas em prol das crianças,
exigem mais e melhor trabalho da nossa
parte. É um sinal claro, que nos faz ter oti-
mismo em relação ao futuro.
Do outro lado da equação, mas do mes-
mo lado da solução, temos padrinhos e
madrinhas, cada vez mais exigentes, que
gostam de acompanhar o trabalho da
família Helpo nas diferentes vertentes. Re-
sultado desse aumento de exigência dos
padrinhos, a Helpo já havia sido solicitada
diversas vezes para organizar uma viagem
de grupo, uma jornada que, muito mais
do que de turismo, seria de trabalho e
de partilha de uma realidade que, vista
através da revista, do site e do facebook,
parecia ainda longínqua.
Como resposta a essa solicitação, nove
pessoas, oito madrinhas e um padrinho,
aceitaram o desafio de acompanhar a
J Margarida Assunção, diretora do Depar-
tamento de Apadrinhamento de Crianças
à Distância, também ela madrinha, numa
longa viagem de avião, com duas escalas
pelo caminho até aos locais onde as pal-
meiras crescem e onde os problemas e os
sorrisos parecem não ter fim.
Desenhar uma visita de doze dias para se
ficar com uma visão do que é o trabalho
da Helpo, não é fácil, pois neste momento
podemos dizer, com muito orgulho, que
já há muito digno de ser visto. Com para-
gem obrigatória nas oito comunidades,
onde estavam os afilhados sortudos que
tiveram direito a uma visita especial, com
dois fins de semana para recuperar forças
nos cenários paradisíacos da Ilha de Mo-
çambique e Pemba, o trajeto de 2100km
foi estabelecido. Quanto às dormidas, os
luxos foram deixados de parte e apostou-
-se no espírito de grupo: a casa/escritório
de Nampula, que já foi o seminário dos
Missionários de S. João Baptista, alojou o
grupo todo, enquanto em Pemba usámos
as instalações das irmãs Pastorelas. Na Ilha
de Moçambique, por duas noites mágicas,
a equipa dividiu-se para ficarmos todos
bem instalados, em pequenas Casas de
Acomodação, que proliferam neste peda-
ço de Paraíso, que parou no tempo, para
descansar de dois dias super preenchidos.
A alimentação foi sempre da responsabili-
dade da Helpo, com exceção para os dias
livres no fim de semana. Ainda recebe-
mos o convite para jantar do amigo Carlos
Gomes, carinhosamente apelidado de
“Cônsul Honorário de Pemba”, pela sua
capacidade e alegria em receber.
Com as questões logísticas resolvidas, o
mais fácil era deixar o trabalho falar por
si, e foi isso que aconteceu. Animadores e
professores mostraram orgulhosamente
as suas escolas e escolinhas, tendo descri-
to o seu trabalho com a Helpo ao longo
dos anos e mostrado a sua satisfação.
Toda a semente deixada pela Helpo neste
terreno fértil, povoado de centenas de
crianças para onde quer que nos viremos,
quer seja em distribuições de material
escolar, construções de salas, carteiras e
bibliotecas, foi testemunhado por este
grupo, que agora ainda se sente mais
parte da Helpo. Foi unânime que esta via-
gem tem de ser repetida, para que mais
padrinhos e madrinhas possam ver o seu
sonho realizado. O espírito não terminou
com a partida, e os padrinhos deixaram,
no final, um donativo, que serviu para o
almoço dos festejos do Dia Internacional
da Criança, na Escola Primária Completa
de Marrere, para cerca de 800 crianças.
Os que já aceitaram o desafio saíram ple-
namente satisfeitos e aposto, com toda a
certeza, que muitos deles voltarão.
Nampula, Carlos Almeida
9
Malas/Entreajuda
A viagem não poderia ter começado pior:
Todas as bagagens ficaram retidas no ae-
roporto de Nairobi e chegaram com três
dias de atraso, tendo uma mala ficado
em local incerto até ao final da viagem.
Este problema acabou por ser o primeiro
quebra gelo e criou uma onda de soli-
dariedade entre a equipa da Helpo e os
seus visitantes, pois entre empréstimo de
roupa, partilha de shampoos e repelente
de mosquito, além de outras entreajudas
promotoras do bom espírito de equipa
que só os problemas têm o condão de
criar, fez com que o bom ambiente ficasse
logo instalado. Como se diz em Moçambi-
que “pobre não zanga!”, e apesar de des-
providos dos seus bens por três dias, todo
o grupo manteve a boa disposição!
Madrinha Cristina Ramos
África entranha-se, invade-nos os sentidos, e penso que não tolera sentimentos pela metade: ou se ama, ou se detesta. E eu amei.
Estão gastas as descrições dos cheiros, das cores, dos sons, do espaço, do entardecer africano… todos eles lá estavam, à nossa
espera e não me alongarei mais na sua descrição… Mas a mais valia desta viagem foi, sobretudo, a paisagem humana, o toque, o
contacto. Não esqueço o correr das crianças em direção às viaturas da Helpo, as mãos
pequeninas nas nossas, o olhar envergonhado quando recebiam os kits, o colo, o hino
de Moçambique cantado por crianças alinhadas em frente às escolas, a euforia em torno
de uma fotografia mostrada numa máquina digital. Não esqueço os meninos que guar-
davam grande parte do conteúdo do copo de sumo, que recebiam nos lanches dados
pela Helpo, numa pequeníssima garrafa de plástico, junto ao peito, para sorverem vaga-
rosamente mais tarde ou para partilharem com os muitos irmãos… não esqueço nem as
histórias tristes de crianças anónimas, nem os olhares de esperança e os sorrisos rasga-
dos do povo moçambicano.
Não esqueço, principalmente, o encontro com o meu afilhado, Mauro, em Pemba. Até ao
dia 15 de maio tinha sido uma fotografia de uma criança, pobre, algures em África, para
quem eu remetia uma quantia mensal e, periodicamente, o que um envelope verde dos
CTT permitia, e da qual recebia desenhos simples, pouco elaborados, e breves descritivos
da sua vida, nem sempre escritos por ele. No dia 15 de maio , a fotografia corporizou-se
num rapaz de 15 anos, de sorriso doce, mas de olhos profundos e tristes, por uma histó-
ria de vida marcada pela perda. Abracei-o e beijei-o num impulso, sem pensar em barrei-
ras culturais e de costumes. Trazia consigo a avó e dois irmãos mais novos. Deixei ficar
as minhas mãos na dele… e falámos, de coisas simples. Moravam longe e esperavam-me
desde manhã… deveriam ser 4 da tarde. À noite, nas habituais reuniões de balanço do
dia, não consegui descrever ao grupo o que senti, só me ocorria comoção, mas era redu-
tor… e ainda hoje não consigo. Estas linhas são um descritivo superficial de uma séria de
sensações novas, que nunca tinha experimentado. Mas inegavelmente boas, reconfortantes, apaziguadoras.
Por fim, não esqueço o grupo fantástico de padrinhos, com quem estabeleci laços que ficarão para sempre, mesmo que não nos
tornemos a encontrar nos nossos percursos de vida... E não esquecerei a equipa da Helpo, incansável: a entrega da Ondina, a ener-
gia do Cazé, a simpatia da Verónica, a generosidade da Sara, o entusiasmo da Sílvia, a doçura da Margarida, a alegria contagiante
do Tiago. Koshucuro! Foi um privilégio, titios Helpo!
0
Madrinha Maria João Rebelo
A viagem ao outro lado da Helpo, em Moçambique marcou-me para toda a vida, e dei-
xou-me muitas saudades, que alimentam a minha vontade de mudar de vida, de traba-
lho e encorajam-me nessa procura incessante de um novo desafio, que quero abraçar.
Todos os momentos passados foram únicos, é difícil eleger um, desde a visita às comu-
nidades em Nampula e Pemba, à pintura no mural do Centro de Actividades Infantis na
Ilha de Moçambique, às crianças a cantarem o Hino em Silva Macua (uma delícia), até à
aventura de barco à Laguna e à Praia das Chocas. As viagens nas pick-up ao som de Za-
hara, que nos conduziram até uma realidade diferente e cheia de contrastes.
Foram 12 dias vividos intensamente, com um grupo fantástico e inspirador de padri-
nhos e coordenadores, em que aproveitei cada momento, como se fosse único e meu
para sempre, saboreando cada gesto, cada sorriso que guardo com carinho no coração,
com a certeza de que vou regressar a Moçambique, a essa “Terra Gloriosa”, onde as
diferenças nos tornam pessoas mais ricas, onde aprendemos que podemos ser felizes
com tão pouco e a enfrentar as adversidades da vida sempre com um sorriso.
Atividades nas comunidades
A visita de um grande grupo não poderia significar
a paragem do normal funcionamento da equipa da
Helpo no terreno. A ideia foi aproveitar da melhor
maneira a presença de pessoas ávidas em participar
nas atividades, e foi isso que aconteceu: distribuição
de roupa em Napacala; sessão de nutrição e conserva-
ção alimentar por parte da estagiária da Universidade
Lúrio, em Natchetche; distribuição de kits de material
escolar em Momola e Mahera; distribuição de lanche
escolar em Impire; confeção e distribuição de papi-
nhas em Nacate; além de se assistir ao espetáculo de
capoeira e canto no Infantário Provincial de Nampula,
teatro, dança e atividades de pintura com os grupos
do Centro das Atividades Infantis da Ilha de Moçam-
bique e espetáculo de dança N’sope em Teacane.
Madrinha Eunice Lopes
Há quem eleja os “resorts” de férias quando tem uns dias livres, e precisa de mudar de ambiente. Ilude-se quem julga ter entendido
a alma de um povo, na sequência de ter vivido uma semana num resort de turismo num país distante.
A cidade maior onde estivemos, Nampula, apresenta carências de todo o tipo, desde falhas de energia elétrica, falta de vias de
acesso, até deficiências enormes de recolha de lixos, insalubridade, deficiente assistência hospitalar, enfim, o mapa tipo de uma
sociedade em vias de desenvolvimento. Trilhámos 2100kms por estrada, e parte dos acessos a algumas comunidades eram mes-
mo “picadas” no mato. A má nutrição das crianças é visível. Por todo o lado, crianças de tenra idade, em vez de estarem na escola,
transportam crianças mais pequenas do que elas, por vezes ao colo, por vezes pela mão; é usual que as meninas sejam mães pela
primeira vez aos onze anos; o pai é uma figura normalmente distante, até porque a religião predominante- muçulmana- permite
várias mulheres ao homem; os alimentos que são consumidos na família são os cultivados em “machambas”, pequenas hortas nas
imediações da aldeia, o que “justifica” que os rapazes sejam requisitados pelos familiares para o trabalho, em vez de os libertarem
VIAGEM PADRINHOS
para a aprendizagem escolar.
Pude observar a espontânea alegria com que os veículos da Helpo, em que fomos transportados, eram recebidos. As crianças e
os jovens corriam e acenavam à nossa chegada , gritavam “Helpo!”. Na
comunidade de Impire, o diretor de escola - uma escola com quase dois
milhares de alunos- dinamizou a colocação de rústicos cartazes de boas
vindas aos padrinhos Helpo e a limpeza dos acessos térreos ao recin-
to da escola. Em Pemba, na Ludoteca criada e dinamizada pela Helpo,
pude constatar o agradecimento/incredulidade nos olhares dos jovens,
que connosco, padrinhos/madrinhas, ensaiaram uns jogos simples. Es-
sas crianças têm falta, na sua maioria, de carinhos por parte dos pais e
de tempo que lhes seja dedicado. Vi o resultado do trabalho, quer da
Helpo, quer dos seus parceiros locais- Infantário Distrital de Nampu-
la; secção maternoinfantil no Hospital de Marrere; missões católicas,
etc- ação essa que consiste em dinamizar atividades para as crianças/
jovens poderem ter referências, seguir valores, ganhar competências, e
em particular nas cidades como Nampula, saírem da vida de rua, onde
entregues a si próprias desde pequenas se tornam alvos de violência,
exclusão, miséria.
Tantas são as histórias verdadeiras que pude testemunhar, mas aqui deixo estas curtas impressões do que considero ter sido a via-
gem que em muito ultrapassou as minhas expectativas. Libertou muitas emoções, não se ficou pelos cinco sentidos. Nesta viagem
a Moçambique conheci o meu afilhado Amade, conheci o trabalho da Helpo e fiz amigos. Nós, todos juntos, fazemos!
Visitas aos afilhados
O capítulo principal e mais esperado des-
ta história era o das visitas aos afilhados.
Geralmente os padrinhos trazem expecta-
tivas muito elevadas quanto à forma como
serão recebidos pelos seus afilhados. Es-
sas expectativas normalmente embatem
numa criança apavorada por ser o centro
das atenções, algo que nunca aconteceu
em toda a sua vida, sobretudo por um mu-
cunha (estrangeiro ou branco, em língua
macua) que leva consigo um mundo novo
que lhe é estranho. Algumas crianças
conseguem desinibinir-se passado algum
tempo, outras ficam mesmo com um olhar
assustado e com a lágrima no canto do
olho, contrastando com a alegria extrema
de todas as outras crianças que desejavam
estar naquele lugar. Houve de tudo nas
visitas: crianças que choraram, crianças
que falaram muito em português correto
(o facto de ter sido uma criança mais cres-
cida e do Centro das Pastorelas, da Cidade
de Pemba, ajuda a explicar esse facto), e
houve mesmo crianças que não estavam
presentes. Duas delas, devido à normal
movimentação de famílias, separações
temporárias, não estavam presentes no
dia da visita dos padrinhos, mas ambos
os casos foram solucionados da melhor
maneira. Enquanto a afilhada da Comu-
nidade de Momola que estava temporia-
riamente em casa de uma tia, conseguiu
regressar com uns dias de atraso,o meni-
no da Comunidade de Napacala, deslo-
cado de vez para a Cidade de Angoche, a
200km de distância, e impossibilitado de
vir a Nampula, proporcionou à Madrinha
o apadrinhamento de uma nova afilhada,
que teve o prazer de conhecer. A natural
deceção da madrinha por não conhecer
o menino que vinha a apadrinhar há al-
gum tempo foi superada pelo sorriso da
nova afilhada. Crianças para apadrinhar
não faltam, basta haver padrinhos e ma-
drinhas com vontade.
As comunidades visitadas em que os Pa-
drinhos tinham crianças apadrinhadas
foram Napacala, Ilha de Moçambique, Na-
tchetche, Marrere e Momola na Província
de Nampula e Pastorelas, Impire e Nacate
na Província de Cabo Delgado
VIAGEM PADRINHOS
Dias livres
Os dias livres, na Ilha de Moçambique e
em Pemba, foram usados para aproveitar
o sol! Em Pemba, na praia, e na Ilha de
Moçambique, além de um passeio para
conhecer o encantador pedaço de terra
rodeado pelo Índico, único sítio Patri-
mónio da Humanidade da UNESCO em
Moçambique, também houve um passeio
de barco para conhecer a famosa praia
das Chocas, uma das mais bonitas do país.
Houve ainda tempo para compras: capu-
lanas, artesanato em pau preto e outros
adereços típicos, acabaram com os meti-
cais que restavam.
Padrinho Baltazar Matos
Parti com uma grande vontade de conhecer a Soraia e toda a en-
volvente familiar e social. De acordo com o programa que estava
estipulado a visita à povoação da Soraia não seria das primeiras,
pelo que antes tive oportunidade de conhecer outras povoações.
Iniciámos a nossa digressão pelo Infantário de Nampula onde tive
oportunidade de conhecer os miúdos que na sua maioria eram
orfãos e tinham sido encontrados na rua, estive com a Belinha ao
colo, uma miúda linda com 2 anos de idade, que é portadora de
HIV/Sida. A Belinha adormeceu no meu colo. Ela precisa de tantas
coisas, eu diria de todas as coisas e também de um colo.
No mesmo infantário existia um menino sem pernas que fez uma
dança para nós. É também um miúdo com falta de tudo e também das pernas. Falamos nós de desigualdade, quando não coloca-
mos uma rampa de acesso a deficientes num mundo cheio de tudo. Este miúdo, o que menos falta lhe faz, é a rampa... Cada crian-
ça naquele infantário tinha uma história de vida muito triste, provavelmente o caso deste menino e da Belinha não serão os mais
tristes. Mas estas crianças eram privilegiadas, porque tinham saído da rua e naquele infantário tinham quem lhes desse comida e
carinho.
Madrinha Paula Gomes
É difícil encontrar as palavras certas para exprimir os sentimentos que esta viagem me
proporcionou. Mas houve duas coisas que me marcaram para toda a vida e fizeram
com que eu passasse a olhar o mundo de outra forma:
- A felicidade que eu senti ao ver quanto são importantes os 21€, que os padrinhos
mensalmente enviam para o seus afilhados, e sentir que se podia fazer muito mais, se
mais padrinhos houvesse.
- Não há nada mais gratificante do que o sorriso de uma criança. Estas crianças recebe-
ram-nos com um sorriso e uma alegria contagiantes. Impossível ficar indiferente...
Aqui fica uma mensagem para todos os padrinhos, que ainda não tiveram oportunida-
de de visitar os seus afilhados: se alguma vez tiverem essa possibilidade (como eu tive),
não hesitem! Vão visitar os vossos afilhados, pois asseguro-vos, que será a viagem das
vossas vidas!
3
Cada dia, cada experiência, eu partilhava com a minha família, por forma a que tivessem oportunidade de sentir todas as vivências
com o máximo de cumplicidade e intensidade. Tenho duas fillhas, com 8 e 12 anos, que de uma forma quase direta foram sen-
tindo todos os dias, todas as emoções, as nostalgias e amarguras, que eu ia vivendo. Foram as histórias que nos fizeram chorar.
Todos ganhámos com esta visita principalmente as minhas filhas, porque perceberam que existem dois mundos com realidades
completamente diferentes: o mundo delas, cheio de tudo, e o mundo de todas estas crianças, cheio de nada.
Finalmente, depois de várias peripécias, pude encontrar-me com a minha afilhada Soraia. Sim, a Soraia existe! Quando dizemos a
algumas pessoas, que somos padrinhos de uma criança em Moçambique através da Helpo, estas pessoas acham que o dinheiro
não chega ao destino e que isto tudo são lobis bem montados.
Eu e a minha esposa temos a certeza de que não é verdade, porque temos tido, ao longo destes anos, várias evidências de que a
nossa ajuda chega à Soraia. Mas as nossas pequenotas têm dúvidas, porque ouvem o mesmo tipo de comentários. Afinal, a Soraia
existe, as escolas existem e a Helpo está a fazer um trabalho enorme junto das povoações.
É uma organização de muito trabalho e, acima de tudo, de muito sentimento. Os nossos afilhados têm rosto e coração, mas quem
trata deles também.
Acreditem: a nossa ajuda faz a diferença!
Os parceiros da Helpo Pastorelas/Marre-
re/Netia/Alua /Infantário
Além das comunidades rurais onde a Hel-
po intervém, também os nossos parceiros
tiveram o prazer de receber a visita dos
padrinhos e mostrar o seu (nosso) traba-
lho! Os meninos do Infantário vestiram-se
com pompa e circunstância como fazem
com todas as visitas que recebem, canta-
ram, fizeram a demonstração de capoeira
e de ginástica acrobática e fizeram novos
amigos.
Os Missionários de S. João Baptista, no
Marrere, Nampula, convidaram o grupo
para um maravilhoso almoço, depois da
visita ao trabalho feito em parceria, a Bi-
blioteca Helpo, o Pavilhão de Serralharia e
a Escolinha do Marrere.
Na missão de Netia – Natete, o Padre An-
tónio Gasolina recebeu-nos ao pequeno
almoço e deixou toda a gente com sorriso
nos lábios com a sua alegria contagiante
e capacidade de trabalho.
Em Alua, a meio caminho entre Nampula
e Pemba, o Padre Mateus mostrou a Bi-
Madrinha Maria Duarte
Esta foi a 1ª viagem em grupo de padrinhos, organizada pela Helpo. Daí revestir-se de especial importância, pelo exemplo futuro
que constitui. Pediram-nos a nós, padrinhos, que prestássemos o nosso testemunho.
Nada mais fácil e difícil ao mesmo tempo. Fácil, porque retenho uma memória muito vívida dos acontecimentos, sendo, no en-
tanto, difícil expressar por palavras o turbilhão de tudo o que observei, vivi e senti.
O momento alto foi, sem dúvida, o encontro com a minha afilhada Bia, que tem agora doze anos. Ela, que tantas vezes me pe-
dira para a visitar, mostrou-se muito tímida e inibida, quase não acreditando que a madrinha de facto existia, que se preocupa-
blioteca Helpo e a moderna igreja.
As Irmãs Pastorelas apresentaram o Cen-
tro de Comunicação Tiago Alberione, fi-
nanciado pela Helpo e todo o trabalho de
atividades extracurriculares e distribuição
de lanche, que animam a alma e barriga
de centenas de crianças, todas as tardes.
4
Madrinha Débora Moraes
Guardo para sempre no coração os sorrisos daquelas crian-
ças, tão radiantes, tão puros, e tão a troco de quase nada!
Guardo para sempre no coração a minha querida amiga Atija,
uma menina linda, que me acompanhava para todo o lado,
que me escrevia bilhetinhos e me oferecia desenhos. Guardo
para sempre no coração a timidez com que o Osvaldo, meu
afilhado, recebeu pessoalmente as prendinhas que lhe ofe-
reci… Guardo para sempre no coração a alegria com que as
crianças recebiam a Helpo, entre gargalhadas e canções de
boas-vindas. Guardo para sempre no coração o brilho dos
olhares dos colaboradores da Helpo e de todos os padri-
nhos, em cada atividade em que participámos… Guardo para
sempre no coração os abraços que as crianças nos davam, as
carícias, a curiosidade de tocar no nosso cabelo liso, nas nos-
sas roupas, de ver as suas fotografias nas nossas máquinas…
Guardo para sempre no coração o bombom que me foi oferecido por uma menina… Guardo para sempre no coração a partilha
que um grupo de crianças fez da última e desenxabida barrita de cereais que estava perdida na minha mochila… Guardo para
sempre no coração o céu estrelado, de perder de vista, e o pôr-do-sol daquela terra tão única que é Moçambique…
Dizem-me que voltei diferente de lá… pois claro: voltei com um coração maior! Guardo tudo isto e muito mais no meu coração,
mas quero partilhar: quero que todas as crianças que recebo de visitas de escolas no meu trabalho saibam dar valor ao que têm,
saibam que há meninos e meninas que têm que estimar o único caderno, a única pasta, o único lápis que têm; há meninos e me-
ninas que só têm uma muda de roupa e chinelos rotos, que têm as árvores e a terra como salas de aula, que têm a barriga vazia…
mas o coração cheio! Pode ser que assim se tornem em adolescentes e jovens mais humanos… e que ajudem a tornar este nosso
mundo num mundo mais humano, como dita a missão da Helpo.
va com o seu futuro e viera de tão longe para a ver! Espero que se sinta agora mais motivada para continuar os seus estudos!
Força, Bia!
Foram duas semanas muito intensas, a visitar comunidades do norte de Moçambique, as suas escolas e bibliotecas, distribuin-
do lanches e material escolar às crianças. As conversas com professores
e animadores foram muito esclarecedoras. Mal imaginava eu, que um
professor pudesse fazer diariamente doze quilómetros a pé, levando
três horas para chegar à escola! Só mesmo no terreno conseguimos
perceber as enormes dificuldades e carências de bens essenciais, que as
populações sofrem no seu dia a dia. É uma realidade à qual não pode-
mos ficar indiferentes, apenas atenuada pelos afetos, pelos gestos, pe-
las palavras e pelos olhares, particularmente os da miudagem, que nos
seguia curiosa para todo o lado.
Pude constatar o excelente trabalho que a Helpo tem desenvolvido
junto destas comunidades e valorizo agora muito mais o programa de
apadrinhamento à distância, o esforço, dedicação e criatividade para
levar tudo avante!
O meu muito obrigada à Ondina, ao Carlos, ao Tiago, à Sara e à Marga-
rida, que me possibilitaram viver esta experiência humana inesquecível,
e também aos companheiros de viagem, gente especial, pelos momen-
tos divertidos, pela solidariedade, pelas conversas ora sérias, ora animadas. Porque as histórias partilhadas têm outro sabor…
Realmente, tudo e todos contribuíram para me fazer esquecer as dificuldades, desafiando-me a continuar a lutar pelos sorrisos
de Moçambique!
VIAGEM PADRINHOS
5
PORTUGAL
nova direção.No passado dia 4 de junho, a Assembleia Geral da Helpo foi a votos para eleger uma nova direção, que deverá cumprir o man-
dato 2013-2016.
Tal como o presidente da direção anterior, o padrinho Nuno Tavares, pôde explicar no editorial da revista mundo h nº22, a di-
reção cessante interrompe o mandato por motivos de força maior.
Da anterior direção encontramos novamente os padrinhos António Perez Metelo (atual Presidente), Duarte Marques (vice-Pre-
sidente) e Cristina Rebelo da Silva (vogal). Os padrinhos Isabel Baleia e Nuno Barquinha, membros novos mas padrinhos “vete-
ranos” preenchem os dois lugares que faltam.
De seguida e na primeira pessoa, vamos beber das palavras dos 5 membros que compõem a nova direção da Associaçao Hel-
po. O que fazem, qual o seu envolvimento com a Helpo e algumas das principais ideias para o caminho agora a percorrer.
Chamo-me António Perez Metelo, tenho 64 anos, sou jornalista
de profissão. Sou, há mais de 3 anos, padrinho da Ragina, que
vive em Silva Macua, Pemba, Moçambique. Visitá-la foi con-
hecer de experiência feita a diferença que faz, para os afilhados
da Helpo e para as suas comunidades, a existência do apadrin-
hamento à distância. Aceitei ser Presidente da Direção da Helpo
para, nos próximos três anos, reforçar os laços entre padrinhos
e afilhados, alargar o conhecimento público da nossa ONGD e
fazer chegar às nossas crianças meios acrescidos, que lhes per-
mitam progredir com sucesso nos sistemas de ensino dos seus
países. Sei que vão ser anos difíceis, de grande rigor financeiro
para a Helpo, mas confio no contributo criativo de todos, que
já foram cativados por uma ideia simples e poderosa: a de que
estamos unidos, mesmo a milhares de quilómetros de distância,
que esse laço faz toda a diferença e é portadora de um amanhã
melhor.
Eu sou o Duarte Marques, tenho 32 anos e estou ligado à Helpo
desde o seu início. Desempenho atualmente as funções de
Deputado à Assembleia da República, em representação dos ci-
dadãos do distrito de Santarém.
É um enorme privilégio continuar a fazer parte desta família. A
oportunidade de escrever estas palavras significa que inicia-
mos mais um mandato à frente dos destinos da Helpo, a minha
outra família que, tal como um filho - experiência que ainda
não tenho -, vi nascer, crescer e chegar à adolescência. Hoje,
atravessamos um enorme desafio na passagem para a fase
adulta, onde os desafios são enormes.
A procura da maior eficiência na aplicação dos nossos/vossos
recursos no terreno, com o maior valor acrescentado possível
para as comunidades em que estamos envolvidos, é um desafio
permanente, que nesta altura de crise e de escassos recur-
sos, deve assumir ainda maior relevância. Essa é a nossa maior
tarefa: manter o nível de apoio e ajudar cada dia a melhorar
a qualidade de vida destas populações, em especial , das suas
crianças.
6
O meu nome é Cristina Rebelo da Silva, tenho 38 anos e sou as-
sistente de bordo.
Sou madrinha desde 2008 e voluntária na sede da Helpo desde
2009.
A 1ª vez que recebi uma carta do meu afilhado Mundo e a
revista Mundo H, percebi que era esta a causa que queria a-
braçar. O meu envolvimento foi sendo crescente e, à medida
que fui percebendo o mecanismo de tudo, fui-me apaixonando
cada vez mais pela Helpo.
A minha ajuda e contribuição são feitas nos mesmos moldes
que me fizeram apaixonar pela Helpo: integridade, dedicação e
humildade, e sempre com o objetivo focado nas crianças apa-
drinhadas e nas comunidades onde se inserem, criando assim
condições para um mundo melhor.
Começo por afirmar que é com enorme orgulho e muita sat-
isfação que abraço este desafio, fazer parte da Direcção da
Helpo. Sou o Nuno Barquinha, tenho 36 anos e sou bancário de
profissão.
Tenho o privilégio da Helpo fazer parte da minha vida des-
de o início e considero-me um sortudo por já ter recebido a
cores os sorrisos das nossas crianças aquando da minha visita
ao terreno. Sem dúvida o momento mais marcante da minha
vida extra familiar. Foi nessa visita que percebi o quanto nós,
padrinhos e madrinhas, somos importantes e necessários para
melhorar as condições das comunidades onde estão os nossos
afilhados, permitindo através da sua educação, certamente um
futuro muito mais risonho do que eventualmente lhe estaria
destinado. Devido a esta visita passei a ser um padrinho em
triplicado, procurei dar a conhecer aos meus filhos, uma outra
realidade muito diferente da nossa. Uma realidade que nós,
os padrinhos e madrinhas, através da Helpo vamos a pouco e
pouco alterando. Estas crianças precisam da Helpo e a Helpo
precisa de todos nós.
O meu nome é Isabel, tenho 32 anos e sou fisioterapeuta. Con-
heço a Helpo desde 2010, altura em que me tornei madrinha.
Nesse mesmo ano tive oportunidade de ir a Moçambique con-
hecer a minha afilhada e vivenciar o trabalho no terreno. Talvez
o facto de ter tido a oportunidade de ir ao terreno tão pouco
tempo depois do apadrinhamento fez com que me tornasse
uma madrinha mais atenta ao percurso da Helpo, daí não ter
hesitado quando o convite para integrar a direcção surgiu. É a
oportunidade de ser mais do que madrinha, é a oportunidade
de, juntamente com os restantes membros da direcção, poder
continuar a fazer a diferença para a vida quotidiana das crian-
ças apoiadas por todos nós.
PORTUGAL
7
O Planeta Veki, um planeta dentro de cada um!Cascais, Joana Lopes Clemente
ontar a história de uma história sem cair na armadilha
redonda da repetição, é um desafio ardiloso. E andar à
volta sem levantar o véu, sem apresentar protagonistas
ou desvendar a trama, e ainda assim conseguir despertar nos
leitores a curiosidade suficiente para desejarem conhecer o li-
vro, é um desafio à altura do qual espero estar!
Então foi assim: peguei numa caneta e deixei que os pensa-
mentos fluíssem; que deixassem convergir os olhares que
absorvo do mundo, ora visto daqui, ora visto dali. O mesmo
mundo, tantas interpretações.
A caneta, com vida própria, inventava uma zebra aprisiona-
da numa história, enquanto personagem de um livro sobre a
fauna africana. Uma zebra cheia de sonhos, de medos, de uma
profunda curiosidade acerca do que vê, mas sobretudo acerca
do que não vê. Uma zebra na qual, afinal de contas, qualquer
um de nós se revê um bocadinho.
Na ombreira da porta entre um mundo e o outro, entre o que
se conhece e o desconhecido absoluto, Veki tem uma visão
privilegiada do que sente, não vendo apenas o que não conhe-
ce. E vive, com honestidade, um universo de dúvida, de inse-
gurança, de incerteza, no qual acaba por mergulhar em pleno
para sair desse mergulho muito mais rico!
Numa linguagem naïve, Veki vai superando um e outro degrau
na longa escada de obstáculos que o desconhecido nos impõe,
e o mundo vai-se abrindo aos seus pés, vai-se tornando maior.
A história foi concebida para os mais pequenos, como forma
de ajudar a pensar um mundo intercultural, interrelacional, in-
ter-tantas-coisas porque, de facto, nenhum homem é uma ilha
e tudo se desenrola entre um sujeito e um ou mais elementos
externos a ele.
Com a convicção profunda de que a predisposição para a com-
preensão das coisas/do mundo é um passaporte directo para a
paz, deixei que o Veki me ensinasse coisas simples, coisas que
sabemos, mas que merecem ser revisitadas com tanta frequên-
cia quanto as esquecemos. O resultado foi esta história: a his-
tória de um planeta inteiro, que começa cá dentro!
O objectivo da história é tornar o mundo de quem a lê, maior;
enriquecer planetas, encurtar distâncias entre as diferenças e
destruir as paredes erguidas entre as pessoas e as oportuni-
dades. Assim, com os fundos recolhidos com o livro, a Helpo
espera embelezar também o mundo dos seus mais de 11 000
beneficiários através da manutenção dos seus projectos de as-
sistência às 35 escolas e creches onde trabalha!
C
O nosso mundo é humano, “O Planeta Veki” também, e o
seu?
O livro “O Planeta Veki”, escrito pela Coordenadora Ge-
ral da Helpo e inspirado no confronto entre realidades de
países onde a Helpo trabalha, conta com o prefácio do
Presidente da Organização, António Perez Metelo. O custo
do livro é de 13€ e os lucros arrecadados com a sua venda
revertem para a manutenção dos projectos da Helpo no
terreno.
Para ajudar, pode encomendar o seu livro através da Hel-
po ([email protected] / 211537687), da Bertrand Online ou da
Chiado Editores.
8
projecto BRINCA no Porto.Porto, Ana Luísa Machado
o BRINCA - Porto todos os dias tentamos ser um boca-
dinho inovadores nos conteúdos que apresentamos
às seis crianças que nos acompanharam durante este
mês de julho.
Tivemos momentos culturais divertidíssimos, que fizeram as
delícias dos mais novos. Muitos nunca tinham tido experiên-
cias semelhantes, o que lhes abriu o apetite à aventura e para
a permanência neste projeto da Helpo.
Para além das brincadeiras na praia, os meninos tiveram a
oportunidade de visitar o Museu Nacional Soares dos Reis e
nele perceber como funcionam os museus numa perspetiva
geral; as brincadeiras e picnics no Palácio de Cristal também
não faltaram, com corridas atrás dos pavões e dos pombos
que o habitam; os jogos de futebol, baloiços, escorregas, cor-
ridas, gritarias e todas as restantes atividades ao ar livre, que
as crianças de hoje tanto precisam e valorizam. A par disto,
tiveram workshops de doçaria e de decoração de cup cakes; fre-
quentaram um workshop de estruturas escultóricas, pela Escola
Superior de Educação do Porto, no belíssimo Edifício Axa, na
primeira avenida da cidade. Fizeram, também, um “assalto” à
Casa Adresen e Jardim Botânico.
A aventura nas férias grandes irá terminar com um dia repleto
de emoções em Barcelos.
O Clube dos Amigos da Montanha e o projecto Pedalar com
Alma associaram-se à Helpo e acederam a receber os nossos
brincalhões, iniciando-os em actividades náuticas como a ca-
noagem e o mergulho. Farão passeios em motas de água, pro-
vas de orientação e paint kids. No momento em que escrevo
estas linhas, este evento ainda não decorreu, mas não estarei
- com certeza - fora da realidade ao dizer que será um enorme
sucesso e que no final do dia as crianças irão dizer que BRINCA-
ram à grande e que querem mais!
N
PORTUGAL
9
a BRINCAR a brincar.Cascais, Joana Ferrari
RINCA(R) parece fácil. Crescer parece intuitivo, inques-
tionável, inevitável. Mas seguir a direção correta, fazer
as escolhas acertadas e saber distinguir o que é “bom”
do que é “mau” requer atenções, carinhos, bases e educações
que as crianças deste mundo, do nosso mundo, não encontram
de igual forma nas suas casas. De Moçambique a São Tomé, de
São Tomé a Portugal, as diferenças e as ausências são questões
onde as comparações não têm sequer lugar. Aqui também há
falhas e há ausências e há outras dores – que não são menores
porque o contexto é outro e não se conhece mais nenhum.
São essas as dificuldades com que nos deparamos no BRIN-
CA no Verão: como explicar aos nossos trinta meninos (com
idades compreendidas entre os 7 e os 12 anos) que, na sua
maioria, passou oito semanas connosco, de segunda a sexta,
das 9h às 18h, a comer, a brincar, a gritar, a aprender, a sujar,
a amuar, a ser criança!, que nem tudo o que vêem em casa é
de repetir e que há coisas, que nunca viram em casa, que de-
veriam repetir-se no seu dia-a-dia? Como explicar que lavar
os dentes não é uma “vaidade”, mas uma necessidade básica
(neste nosso contexto)? Como explicar que querer mal ao ou-
tro não nos eleva e que as “queixinhas” nada resolvem? Como
tratar por igual, meninos e meninas tão heterógenos quanto
os seus encarregados de educação, hábitos, raízes, naciona-
lidades, feitios e personalidades? É que os dias são mais que
preenchidos, as crianças gritam mais alto do que os nossos
pensamentos, as queixas correm à velocidade da luz e vêm
de todas as partes, os acidentes não param de se suceder e os
planos que fazemos para as atividades e para os diversos mo-
mentos são sempre mais utópicos do que realistas (ou reais,
em último caso).
E é nessa correria estonteante, entre falar-lhes à cabeça, ao
coração, dar regras e espaço para brincar, que deveríamos
ouvi-los mais do que somos capazes. Porque o tempo não esti-
ca (e eles esticam-se tanto!), porque o nosso peito encolhe e a
nossa garganta arranha cada vez que eles repetem os mesmos
erros vezes sem conta. Não é a mais fácil das tarefas. Mas é
talvez a mais gratificante, quando vemos as nossas pequenas
vitórias nos nossos pequenos traquinas! Já lavam os dentes, já
sabem em teoria algumas aprendizagens que, aos poucos, vão
pondo em prática: como deixar ir no lugar da frente, na carri-
nha, outro colega, contra a sua vontade.
Os dias também não são fáceis quando se tem 6 ou 12 anos.
E é engraçado “voltar lá”, através da convivência com estes
pestinhas, para perceber o quão injusta é a vida quando res-
pondemos com um murro e um “a culpa não é minha porque
foi ele que começou!!”, porque há regras a mais para cumprir
e eu, na minha perspetiva de metro e vinte, não alcanço o seu
sentido, de todo – que estes adultos não percebem nada de
nada...
Foram visitas a museus, como o Museu do Mar, foram idas à
praia, prática de desportos como vela e aulas de equitação, fo-
ram idas à Polícia, formações de nutrição e trabalhos manuais,
“Horas do Conto”, idas ao teatro, entre tantos outros progra-
mas diferentes daquilo com que as nossas crianças têm conta-
to regularmente. A diferença que fizemos no seu Verão é ga-
rantida. Muito para lá dos dias que passaram nas últimas oito
semanas, acreditamos que os participantes no campo de férias
cresceram mais além e levam para casa (e para as suas vidas),
muito mais do que momentos bem passados: um brilhozinho
no olhar e uma vontade de se tornarem cada vez melhores e
maiores. E esse, para lá de todos os cansaços ou dificuldades,
é o nosso objetivo.
B
0
descoberta.Cascais, Joana Lopes Clemente
Por todos: um conceito simples que assenta na ideia de
1€ poder trazer benefício tanto a quem o doa, como a
quem o recebe. Uma equação pensada para disponibi-
lizar bens essenciais, que não têm aplicabilidade nas nossas
comunidades, a quem, por cá, tanto deles necessita e poderá
ter acesso aos mesmos a preços simbólicos (quase todos os
produtos implicam uma doação de 1€), tornando a prática da
solidariedade acessível mesmo a quem passa por dificuldades.
E claro, em África, as comunidades nas quais trabalhamos, po-
dem beneficiar do apoio que, euro a euro, se angaria e se ma-
terializa na actividade regular da Helpo.
1 Por todos: uma ideia que operacionalizámos, a cada 6 meses,
numa pequena feira solidária na sede durante o ano de 2012 e
primeira metade do ano de 2013.
O que também aconteceu, foi o facto deste gesto de solidarie-
dade ter tido um outro retorno. Com a prática desta iniciati-
va, as portas do Bairro das Fontainhas em Cascais, (bairro no
qual a Helpo escolheu situar a sua sede em Fevereiro de 2011),
escancararam-se de repente.
Os problemas que conhecíamos, multiplicaram-se; as pessoas
que os traziam até nós passaram a ter um nome; os seus agre-
gados familiares, passaram a ter um número; e o significado
de “bairro desfavorecido” depressa se decompôs em situações
concretas vividas diariamente pelas famílias e foram sendo
transmitidas aos nossos técnicos. Trocando por miúdos, a rea-
lidade onde pensámos integrar-nos e nos imaginávamos já, em
larga medida, mergulhados, engoliu-nos com toda a intensida-
de da sua complexidade.
As pessoas que sobem e descem a rua todos os dias e que
durante esta feira solidária entenderam a porta aberta como
um convite para entrarem, não apenas na nossa sede, mas nas
nossas vidas, levaram-nos a constatar que, afinal, este caminho
tem dois sentidos e que um crescimento conjunto só se faz
quando as portas se escancaram dos dois lados!
A mensagem foi clara, só havia uma coisa a fazer: não voltar a
fechar as portas. Literalmente.
Procedemos às alterações necessárias e convertemos parte da
sede numa loja solidária, conscientes de que a comunidade do
bairro já nos ensinou, que o projecto que pensámos ter 3 fun-
cionalidades, afinal tem 4:
1 – Ajudar quem precisa, do lado de cá;
2 – Tornar a prática da solidariedade, acessível a todos, mesmo
a quem passa por dificuldades;
3 – Angariar fundos para suportar os custos do envio de bens
para o terreno;
4 – Conhecer de facto a realidade que nos circunda!
1
PORTUGAL
MAIS DO QUE PADRINHOS
lanche escolar, aos 1800 alunos da
Escola Primária de Impire, na pro-
víncia de Cabo Delgado. O projecto
seguinte deste grupo exemplar foi
angariar fundos para o Dia Interna-
cional da Criança. Nos países onde
a Helpo trabalha, as crianças têm
pouco espaço e poucas oportunida-
des para a infância, para ser criança.
Deste modo, o dia 1 de junho, Dia In-
ternacional da Criança é dos poucos
dias, nos quais se pode e deve ser
criança. Assim, veste-se a melhor rou-
pa, há um almoço melhorado para
todos, há jogos e brincadeiras. Os
voluntários da Helpo no Faial, com
2 jantares de angariação de fundos,
conseguiram 1.355,00€, que ajuda-
ram a proporcionar um dia especial
a cerca de 800 crianças, na festa do
Marrere1, em Nampula, e também
ajudaram a custear esse dia especial
nas roças onde a Helpo trabalha, em
São Tomé e Príncipe.
o longo da nossa vida há seres
humanos que nos inspiram.
Inspiram o que queremos ser,
onde queremos chegar, como escolhe-
mos viver… Algumas destas pessoas são
como as modas, -vêm e vão -, outras, as
mais importantes, vêm para ficar! Algu-
mas, são figuras mais distantes, heróis
de hollywood ou figuras míticas, outras
estão mesmo à nossa mão e até se con-
fundem com pessoas comuns.
A madrinha Luísa Borges, juntamente
com o seu grupo de voluntários, é uma
inspiração e entrou na nossa vida para
não mais sair! Não estando mesmo aqui
à mão - fisicamente dista de nós cerca
de 1700km (que é a distância que sepa-
ra Cascais da Ilha do Faial, nos Açores)
– mas todos os dias guardamo-la no
coração.
A madrinha Luísa Borges sofre de bi-
cho-carpinteiro e não consegue estar
parada! O seu exigente grupo de volun-
tários também não: assim que termi-
nam um desafio, começam de imediato
a perguntar à sua líder, qual o próximo
projecto!
Pela 2ª vez, em fevereiro deste ano
tive o enorme privilégio de estar pre-
sente nas Sopas do Espírito Santo, na
localidade do Norte Pequeno, na Ilha
do Faial. Neste evento, conheci e revi
gente extraordinária, gente de todas as
idades e feitios, mas tudo boa gente!
Gente de brilho no olhar, gente sem
medo de pôr mãos à obra, gente boa
e gente humilde, gente que faz o bem
sem olhar a quem. As Sopas deste ano
permitiram angariar 3.188,82€, verba
direccionada para garantir um ano de
A
a minha inspiração.
No passado mês de julho, os voluntários
da Helpo no Faial marcaram novamente
presença na Feira Regional dos Açores,
que este ano se realizou na “casa” da nos-
sa equipa. Com esta Feira, o grupo Helpo
da Ilha do Faial conseguiu angariar mais
1.331,50€, que serão direccionados para
uma área muito querida à madrinha Luísa
Borges: levar água às crianças que não a
têm. Assim, os 4 novos reservatórios de
água instalados no recinto da Escola Pri-
mária de Impire (recentemente cheios de
água, com o apoio do Sapo mz), com uma
capacidade de 20.000 litros, poderão ser
reabastecidos no tempo seco, logo que
seja necessário! É por tudo isto e muito
mais, que, de cada vez que penso neste
grupo de pessoas extraordinárias, lidera-
do por uma senhora fabulosa, me sinto
pequenina. Sinto que devo fazer mais e ter
um papel mais activo na mudança do nos-
so mundo. Às vezes, quando penso neste
grupo, penso que quando for grande, que-
ro ser assim – como eles.
Cascais, Margarida Assunção
1 em conjunto com as doações dos padrinhos referidas no artigo da rúbrica Viagem Padrinhos
3
FICHA TÉCNICA
Entidade Proprietária e Editor
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Morada e Redação: Associação Helpo,
Rua Catarina Eufémia 167 A, Fontaínhas,
2750-318 Cascais
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Diretora Editorial
Joana Lopes Clemente
Nº de registo no ICS: 124771
Tiragem: 4400 exemplares
Periodicidade:
Trimestral
NIF: 507136845
Depósito Legal: 232622/05
Impressão
ORGAL,Rua do Godim, 2724300-236 Porto
Redação Portuguesa
Joana Lopes ClementeMargarida Assunção
Colaboradores neste número
Ana Luísa MachadoAntónio Perez MeteloBaltazar MatosCarlos AlmeidaCristina RamosDébora MoraesEunice LopesJoana FerrariJoana Lopes ClementeMargarida AssunçãoMaria João RebeloPaula GomesTiago CouceloTiago Filipe
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Correspondente em África
Carlos Almeida
Design
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