mÚltiplas Águas, mÚltiplos usos. gerenciamento e … · entrevistadas 8 famílias de mulheres...
TRANSCRIPT
1
ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015
www.revistascire.com.br
MÚLTIPLAS ÁGUAS, MÚLTIPLOS USOS. GERENCIAMENTO E
IMPACTO AMBIENTAL
1FERNANDES, F.L.S.
2GOMES, I.
3SILVA, T.J -UEPB/CCBS
4CEBALLOS, B.S.O –UEPB/CCBS/Biologia.
1,2,3
Alunas(o) curso de Biologia – 1
[email protected] 2 [email protected]
4 Professor Orientador do curso de Biologia– [email protected]
RESUMO: Objetivou-se estudar em uma comunidade do semiárido paraibano sem água potável, a origem e o
gerenciamento das múltiplas águas destinadas a múltiplos usos (beber, gasto no lar, na agricultura familiar, na
produção de cerâmicas, entre outros), analisar a percepção da qualidade dessas águas pelos usuários e dos
eventuais riscos à saúde e dos impactos dos usos exploratórios da água, solo e vegetação que afetam a
capacidade suporte do ecossistema. O trabalho foi desenvolvido na comunidade Chã da Pia (Areia/PB). Foram
entrevistadas 8 famílias de mulheres agricultoras e ceramistas ou “loiçeiras” (24 % do total da polução de
loiceiras locais). A agricultura é praticada na época chuvosa e na estiagem produzem louças de barro. Ambas as
atividades incluem vendas dos excedentes e renda para a família. As duas são prejudicadas pela estiagem
prolongada, quando as águas transportadas pelos carros carros-pipas têm distribuição limitada. Essas águas
têm origens e qualidades diferentes (água potável da operação pipa; tratadas ou de açudes fornecidas pelas
prefeituras e de origem desconhecido as distribuídas pelos “pipeiros” particulares). O gerenciamento mostra
praticidade: cisternas do Programa um Milhão de Cisternas –P1MC/ASA ou similares armazenam a água
entregue pelos caminhões-pipa. As cisternas melhor conservadas aprovisionam água potável, aquelas sem boa
manutenção, água para usos gerais. Algumas contem águas misturadas, indicando falta de percepção/associação
da qualidade com riscos à saúde. A extração de barro a três ou quatro palmos de terra para obter “o barro da
loiça” e o corte de plantas para produzir lenha para a queima das louças exerce forte impacto ambiental no solo,
nas plantas, ao atingir as raízes e por desmatar áreas extensas de amorosa (Mimosa) e marmeleiro (Croton sp),
preferidas pela sua queima lenta, apropriado para a cocção das cerâmicas. As entrevistadas negaram exercer
impactos no ambiente ou não fizeram comentários. A saúde das ceramistas (idade 47-67anos) é afetada pela
postura (cócoras) e manuseio do lodo. Tem duvidas ou não consideram riscos à saúde o manejo de águas de
qualidades diferentes, declaram que sempre foi assim e que não aumentam as doenças de veiculação hídrica.
Ocorre hierarquização entre as loiceiras: a) as que vendem suas peças cruas para outras queimarem; b) as que
compram as peças cruas, produzem as próprias, queimam e vendem com preços 100% mais altos aos da compra;
c) as que somente queimam por possuir lenha e cobram pela cocção d) as que queimam, compram a lenha e
pagam pela cocção. A venda nas feiras livres ou nas feiras de artesanato rende até R$600/mês. O relacionamento
entre as “categorias de loicieras” gera tensões sociais e pode ser a causa da maioria optar pelo trabalho artesanal
individual em casa versus cooperativo em ambientes comunitários. Essas tensões poderiam dificultar também
intervenções futuras para desenvolver ações de educação ambiental e de tecnologias sociais complementares
relacionadas com a disponibilidade de água. As múltiplas águas podem ser aumentadas e melhor aproveitadas
com tecnologias alternativas não existentes nessa comunidade como cisternas calçadão e barragens subterrâneas,
facilitando os múltiplos usos nas estiagens.
Palavras-Chave: múltiplas águas, múltiplos usos, sustentabilidade ambiental, semiárido.
ABSTRACT: It was studied in a Paraiba’s semiarid community without drinking water services, the origin and
the management of multiple waters and their multiple uses (drinking, cleaning the houses, family farming and at
the ceramics production), analyzed the perception of water quality by users and possible risks to health and the
impacts of the explorations of water, soil and vegetation, affecting the ecosystem environmental sustainability.
The study was conducted in Chã da Pia community (Areia/PB). Eight families were interviewed, with womem
dedicated to agriculture activities and with the production of pottery (24% of potters community). Agriculture is
the pricipal activity in the rainy season, during the dry season ceramic produtions is more important. Both
activities include sales of surplus and income for the family. Both activities are impaired by prolonged drought,
the water comes from trucking what limits the amount used. Those waters have differents origins and qualities
(drinking water from tanker truks operation, treated or not provided by municipalities and from unknown source
distributed by individual “pipeiros”). The management shows practicality: cisterns from the Program One
Million Cisterns - P1MC/ASA or similar store good quality water delivered by tanker trucks. Cisterns that are
2
ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015
www.revistascire.com.br
best preserved provide supplies drinking water, those without proper maintenance, water for general purposes.
Some contain mixed waters, indicating lack of awareness/quality associated with health risks. The extraction of
clay is from three or four feet down to get "the dish of clay" and the vegetation cutted for firewood for burning
the dishes has a strong environmental impact by reaching plant roots and deforest large areas of “Mimosa” and
“Croton sp”, preferred for their slow-burning and appropriate heat to the cooking of the ceramics. The
interviewees denied causing impacts on the environment with these activities or declined to comment. Hierarchy
was observed at potters work: a) "loiceiras" selling raw their production for other burns; b) those that buy the
raw ceramics, produce their own, they burn all and sell at prices 100% higher; b) those that only burn for having
firewood and charge for cooking. Each loiceira produces on average 20-60 pots/week. The sale in a popular
market, yields up to R$ 600/month. The relationship between the "categories of loicieras" generates social
tensions and can be the cause for them to choose individual craft work at home insted of cooperative in
community settings. These tensions could complicate future interventions on the development of the
environmental education and the introduction of complementary social technologies related to water availability.
The health of potters (age 47-55anos) is affected by posture (squatting) and sludge handling. They don’t consider
the management of the several qualities of watera as a health risk; they state that it has been like that and it does
not increase waterborne diseases.
Keywords: multiple waters , multiple uses, environmental sustainability , semiarid.
INTRODUÇÃO
O uso sustentável dos recursos hídricos acompanhando o ciclo natural é ainda um
grande desafio por ser uma questão que perpassa por aspectos diversos das sociedades
humanas: a percepção e sensibilização frente ao problema, as condições sócio-econômicas-
culturais e mudanças paradigmáticas. No nordeste a vulnerabilidade hídrica regida pelas
chuvas concentradas em poucos meses do ano (quatro a seis meses) com períodos
intermediários secos imprevisíveis (veranicos), foi fundamental, ao longo da história do
Brasil, para difundir a imagem distorcida do semiárido, visto como um lugar árduo, de vida
difícil, castigado pela seca e associado às imagens de animais mortos pela sede, terra rachada,
mulheres grávidas e crianças de barriga inchada em longas caminhadas na busca de água
(SANTOS et al, 2012). Mas, a convivência se torna possível pelo conhecimento profundo e às
vezes intuitivo dos recursos e adaptabilidade dos homens que convivem desde séculos com as
dificuldades do ambiente. Em certos casos, esse conhecimento assume a forma de uma
sabedoria profunda e detalhada e revela intimidade com a dinâmica espaço-temporal dos
componentes da natureza (AB'SABER, 1999). Esses conhecimentos, unidos a
desenvolvimentos tecnológicos simples que resgatam o saber popular ou étnico, podem gerar
condições de estabilidade ainda nas secas extremas.
O próprio nordeste é um exemplo. Desde vários anos atrás ocorre uma ressignificação
da região, de espaço inviável a espaço viável, onde as populações vivem e produzem; tem-se
buscado valorizar os potenciais ecológicos e culturais locais a partir do paradigma da
(com)vivência com o semiárido (SANTOS et al, 2013). Para Malvezzi (2007), a
3
ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015
www.revistascire.com.br
(com)vivência passa pela compreensão do clima e a adequação a essa realidade. Necessita-se
interferir no ambiente considerando sua capacidade suporte que, embora frágil, “tem riquezas
surpreendentes”, ao dizer do mesmo autor.
O Sistema de Gestão da Informação e do Conhecimento do Semiárido Brasileiro do
Instituto Nacional do Semiárido – INSA- (Sigsab, 2015) mostra que a população do semiárido
atingiu, em 2014, a quantia de 23.846.982 habitantes; destes 3,4 milhões recebem bolsa
família, o PIB per capita é de 6.520,35, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é baixo
em 59,5% dos municípios (0,5 a 0,599), médio em 39,21 % (0,6 a 0,69) e alto em 0,7 % (0,7 a
0,799). Possui 1,7 milhões de estabelecimentos agropecuários dos quais 89% são de
agricultura familiar, se cria em média 34,4 milhões de animais de porte (53% gado bovino,
25% ovino e 21%caprino, evidenciando a boa convivência com o semiárido. Na atualidade,
após de quase quatro anos de seca, a reservas hídricas comportam apenas o 29% do total da
capacidade de acumulação de seus açudes e secaram outras fontes que comprometem o
conjunto dessas essas atividades.
A convivência exige atenção especial às ações humanas e as possibilidades
tecnológicas. As ações antrópicas que exercem impactos predatórios no ambiente afetando
sua capacidade suporte ou sustentabilidade devem ser mudadas e eliminadas. São exemplos o
uso não planejado do solo e da água na produção agrícola e o desmatamento para criação
animal extensiva, corte descontrolados de árvores e matas na produção de carvão e lenha,
exploração de pedras e minerais e extração de terra e barro na produção de tijolos e telhas em
nível industrial e em escala familiar para a construção de moradias e na manufatura de peças
utilitárias de barro (panelas, fogareiros, tigelas, entre outras), as “loiças”, no dizer nordestino.
Os danos produzidos em menor escala não são percebidos, em geral, pelos autores que os
incorporam na sua paisagem cotidiana; outros os justificam como “uma poluição inevitável
frente à pobreza e as necessidades básicas das comunidades carentes e dispersas”, sem
considerar possíveis alternativas tecnológicas que integrando as culturas tradicionais podem
ser sustentáveis e preservem o ambiente, ou seja, trata-se de tecnologias sociais. Estas são
propostas inovadoras de desenvolvimento com participação ativa da comunidade desde a
organização, o desenvolvimento e sua implementação. Abrangem produtos, técnicas ou
metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação comunitária e tornam-se soluções de
transformação social. São soluções coletivas para demandas extremamente diversas, como
água, alimentos, renda, educação, habitação, saúde, meio ambiente, dentre muitas outras
4
ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015
www.revistascire.com.br
(FBB, 2015). A percepção e apreensão do ecossistema pela comunidade são essenciais para
sua conservação e uso equilibrado em pro da saúde do ambiente, das pessoas e da
sobrevivência de todos (ALBUQUERQUE, 2007).
Dentre as tecnologias sociais para o semiárido, as cisternas do Programa Um Milhão
de Cisternas (P1MC) da ASA ou similares, são exemplos de simplicidade e ampla aceitação
por terem sido criadas e discutidas amplamente com os futuros usuários, desde o lançamento
do programa, em 2003 (GOMES et al, 2015; ASA, 2005). Na seca atual, as cisternas são
usadas para armazenar as águas distribuídas pelos caminhões pipa e, se complementadas com
outras tecnologias sociais, permitiriam garantir infraestrutura hídrica suficiente para reservar
água da chuva para passar longas épocas secas com menor vulnerabilidade pela falta de água,
satisfazendo o consumo humano, a produção de hortaliças e a criação de animais de pequeno
porte e outras atividades como a produção de loucas, fonte importante de renda nas famílias
de Chã da Pia e diversas outras comunidades.
OBJETIVOS
Objetivaram-se estudar, em comunidades de agricultores e ceramistas (“loiceiras”) do
semiárido paraibano, as origens, formas de armazenamento e usos múltiplos de águas de
fontes diversas empregadas em numerosas atividades; conhecer as tecnologias disponíveis de
armazenamento de água, fundamentais para segurança alimentar e hídrica no meio rural,
analisar a percepção dos usuários sobre eventuais impactos e riscos de usos exploratórios
sobre o ecossistema (água, solo e vegetação) que afetam a sustentabilidade do ambiente onde
vivem e obtém seu sustento e sobre sua saúde e avaliar a viabilidade de possíveis intervenções
futuras para desenvolver ações de educação ambiental e de aplicação de tecnologias sociais
complementares relacionadas com a disponibilidade de água.
METODOLOGIA
Local do estudo. O trabalho foi desenvolvido na comunidade rural Chã da Pia,
município de Areia-PB, extremo oriental do planalto da Borborema (latitude 6°54’15’’e 6o
55’6” S; longitude 35o 46’39’’e 35
o 47’41” O), área de transição entre o brejo e o agreste.
Com altitudes entre 484 e 552m e relevo ondulado a suavemente ondulado, apresenta
5
ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015
www.revistascire.com.br
depressão central rochosa denominada “Pia” por acumular água. O clima é de agreste, com
média anual de 700 – 800 mm de precipitação pluviométrica. Predomina vegetação de
caatinga hiperxerófila. Universo amostral: foi constituído de 8 famílias de agricultores(as)
que fazem cerâmicas utilitárias artesanais (“as loiceiras”). A amostra representa 24% total das
“loiceiras de Chã da Pia”. Essa comunidade foi escolhida pela diversidade de usos da água, e
por ser, a maioria das famílias, de agricultores que incluem a produção de loucas de barro em
quantidade diversas, mantendo a produção no contexto da família com técnicas ancestrais
transferidas de pais para filhos. Etapas da Pesquisa: 1) Pesquisa bibliográfica; 2)
Momentos de Aproximação: primeiros contatos in loco com as famílias, conversas informais
com a comunidade e reconhecimento do ambiente; seleção das famílias e convite para
integrarem a amostra e solicitação de autorização para as entrevistas; 3) Execução: a)
conversas formais, aplicação de questionário semi-estruturado (aspetos sócio econômico,
higiene/saneamento básico; origens e tipos de água, e usos; doenças de veiculação hídrica,
atendimento do SUS (agentes de saúde) e de agentes de vigilância ambiental e de saúde, etc);
detalhes das atividades produtivas (agricultura e fabricação de cerâmicas/louças– métodos de
produção, custos, usos e venda). b) Acompanhamento: retorno às mesmas famílias,
observação de mudanças, novas percepções, atitudes, ações; c) avaliação da qualidade das
múltiplas águas: coletas de amostras das águas das cisternas utilizadas pelas famílias, e de
potes ou de outros recipientes dentro das casas, preservação dessas amostras a temperatura
inferior a 10oC ate o momento de processamento, que foi inferior às 6 horas para a execução
das analise microbiológicas, transporte e analises (avaliação de parâmetros físicos e químicos
– pH, turbidez, cor aparente, cloro residual, alcalinidade, e microbiológicos - quantificação de
coliformes termotolerantes e frequência de Escherichia coli – E.coli). Foram utilizadas
metodologias padronizadas da APHA (2012); 4) Banco de dados: os dados foram
armazenados e organizados em um banco simples (planilha Excel) alimentado continuamente
e processados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As múltiplas águas disponíveis em Chã da Pia na atual estiagem são as distribuídas por
carros pipas e tem diferentes origens: a) as fornecidas pela operação pipa sob controle do
exercito e a defesa civil, que provem da companhia de água, portanto, são águas potáveis; b)
6
ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015
www.revistascire.com.br
as distribuídas pelos carros pipas pagos pelas prefeituras que distribuem água potável ou água
bruta/açudes); c) as dos carros pipa particulares, de origem desconhecida que são pagos pelos
usuários.
O gerenciamento das águas dos carros pipa se inicia na captação ou local onde os são
cheios, segue com o armazenamento nas residências para o qual se utilizam cisternas já
existentes do P1MC, de ONGs independentes, doadas pela prefeitura ou construídas pela
própria família. O passo seguinte no manejo é a retirada da água da cisterna em quantidade
necessária para os usos no lar. No interior das residências essas águas se reservam em tonéis
de plástico ou potes de barro. As cisternas que recebem água potável devem ser preparadas e
mantidas sob estritas condições de higiene (escovadas e lavadas por dentro com água
sanitária, pintadas com cal, não ter rachaduras nem tampas envergadas, entre outras
condições). A água potável que recebem deve estar clorada e manter concentrações de cloro
residual entre 0,5 a 2 mg.L-1
ate o momento de uso para evitar contaminações microbianas,
segundo as recomendações para água potável da Portaria 2914/20111 do Ministério de Saúde.
As outras águas, de açudes e de origem desconhecido são armazenadas em cisternas que não
estão sob controle sanitário. Algumas cisternas têm águas misturadas (resto de água potável
adicionada de água de origem desconhecido). Esse fato pode ser um indicador da falta de
percepção, pelos usuários, da relação qualidade da água/saúde, embora exista a percepção da
qualidade da água adequada para a produção das peças de barro. As águas não potáveis
deveriam servir para o “gasto”, e a “potável” somente para beber e cozinhar. Algumas das
cisternas unifamiliares com água potável, são de uso comunitário e o exercito organiza através
da Operação Pipa, seu abastecimento mais frequente. O controle da qualidade dessas águas
deveria ser mais rígido por atingir maior numero de indivíduos. Na Tabela 1 se apresentam os
resultados da qualidade das águas nas cisternas e nos potes usados nas residências.
7
ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015
www.revistascire.com.br
Tabela 1. Qualidade física, química e microbiológica das águas de cisterna e potes das residências de
famílias da comunidade de Chã da Pia.
Parâmetro Cisternas Potes residências Portaria 2914/2011
-MS (VMP 3)
pH 7,1 ± 0,551
8,8 - 20,8
2
7,53 ± 0,38
7,27 – 8,25
6,5 – 9,0
Temperatura 25,40 ± 1,97
20,8 -27,2
25,43 ± 2,00
20,8 – 27,2
Não padronizado
Cloro Residual Livre (mg/L) Ausente Ausente 0,5 – 2
Turbidez (µT) 1,47 ± 7,36
0,07 – 21,06
3,46 ± 6,49
0,09 -17,06
5
Alcalinidade (mg/L) 60,42 ± 37,6
18,2 – 137,7
49,80 ± 27,77
14,44 – 90,28
Não padronizado
Cor aparente (µH) 0,10 ± 0,16
0,00 – 0,39
0,08 ± 0,14
0,00 – 0,32
15
Colif. Termotolerante
(UFC/100ml)
292,6 ± 409,02
3 – 1.180
31,1 ± 33,2
0 - 100
Ausentes
E. coli ( % amostras positivas) 37,5 37,5 Ausentes
*N= 8; valores médios e desvio padrão1; valores mínimos e máximos
2, VMP: Valor Máximo Permitido
3 /Portaria
2914/2011- Ministério da Saúde.
Esses dados mostram que todas as águas destinadas ao consumo humano em Chã da
Pia não tem cloro residual. Em consequência, coliformes termotolerantes foram isoladas na
maioria das amostras e E.coli em mais 37% (das cisternas e dos potes) indicando
contaminação fecal e riscos à saúde dos consumidores. A contaminação tem origem no
manejo das águas transportadas pelos carros pipa, nos quais se adiciona cloro sólido
inorgânico, de liberação mais lenta de cloro ativo, mas esse cloro volatiza e após de 24 h e
deve-se novamente adicionar as águas para consumo humano e para preparação de alimentos.
A ausência de cor e a baixa turbidez das águas ditas potáveis indicam que a cloração simples,
de duas gotas de hipoclorito de sódio 2,5% por litro de água, seria suficiente para dispor de
água microbiologicamente segura em todas as residências.
Entretanto, os pipeiros e o exercito exigem aos usuários “não adicionar nada” nas
águas distribuídas. Essa ordem é um grave erro técnico que se enfrenta com as recomendações
do SUS para o uso de águas de sistemas alternativos, de clorar todos os dias no ponto de
consumo, além de por em perigo a saúde de numerosas famílias. Ainda, a falta de cloro nos
potes nas residências favorece a maior contaminação com o uso diário, com a introdução de
canecas e outros recipientes para retirar água dos potes, para cozinhar, para beber, etc.
A figura 1, a seguir, mostra dados contradizem com resultados acima: quase 63% das
“loiceiras” disseram tratar a água antes de beber por cloração com hipoclorito de sódio. Mas
não foi detectado cloro residual nos potes e a maioria das famílias não mostrou aos
8
ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015
www.revistascire.com.br
entrevistadores o frasco de hipoclorito quando solicitado; algumas informaram que os agentes
de saúde não faziam a distribuição com a frequência necessária.
Figura 1. Tratamento da água destinada ao consumo humano
Na tabela 2 são apresentados os dados socioeconômicos das “loiceiras”.
Tabela 2. Dados socioeconômicos das “loiceiras” e das famílias de Chã da Pia.
Os dados coincidem com os de outras comunidades rurais do semiárido, com media de
cinco membros por família, informação importante para o gerenciamento da distribuição de
água nas operações emergenciais e para o controle do gasto nas famílias. A renda familiar
inclui bolsas do governo, principalmente bolsa família e poucas aposentadorias.
Na figura 2 se evidencia a intervenção do PIMC em 74% das famílias das “loiceiras” e
intervenções próprias para aumentar a disponibilidade de água em quase 40 %.
Informações socioeconômicas N= 8 (%)
Número de pessoas por residência <5
≥5
87,5
12,5
Faixa etária das loiceiras <60 Anos
>60 Anos
75
25
Escolaridade Analfabeta
Ens. Fund.1 Incompleto
37,5
62,5
Ocupação Agricultora e Loiceira 100
Renda familiar ≥ de 500 reais
< de 500 reais
87,5
12,5
9
ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015
www.revistascire.com.br
Figura 2. Origens das cisterna de Chã da Pia
A falta de chuva dificulta e até impede a agricultura familiar, por ser uma atividade
com dependência total da precipitação pluviométrica. Mas, essa dependência deve-se, em
parte, à ausência de outras tecnologias de armazenamento de água, além das cisternas de
16.000 litros, para beber e higiene pessoal. São métodos complementares no armazenamento
de água a cisterna calçadão do P1+2 (programa “Uma terra e duas águas”, também da ASA)
que permite acumular mais de 50.000 litros e os barragens subterrâneos, construídos nas áreas
de baixios, córregos e riachos que se formam no inverno até com chuvas curtas e mantém a
unidade por tempos mais longos. A segurança hídrica e alimentar na zona rural semiárida
dependem da disponibilidade simultânea de tecnologias diversificadas de reserva de água,
assim como de tecnologias que facilitem o reuso seguro de esgotos em nível familiar (LIMA,
et al, 2005; CEBALLOS et al, 2001). É nas secas que se desenvolve com maior intensidade a
produção das “loiceiras”, convivendo com a carência hídrica. A adversidade ambiental, que
limita a obtenção de renda com a agricultura familiar é resolvida com a prática, em maior
escala, de uma atividade ancestral de custo baixo e importante fonte de renda. Para a produção
dos vasos de barro, panelas e tigelas são necessários apenas barro ou argila, água e lenha,
todos eles obtidos sem custo ou com custo mínimo do ambiente onde as artesãs vivem e
trabalham.
Em condições climáticas dentro da media, a maior produção de louças também ocorre
na estiagem e com menor intensidade durante as chuvas, pois nessa época se prioriza a
agricultura familiar. As atividades das artesãs do barro se desenvolvem com clima seco, a
temperatura alta facilita a secagem das peças, já na época chuvosa o barro fica “encharcado” e
o clima úmido não favorece a secagem nem a queima. A água utilizada é das cisternas
destinadas ao gasto, ou retirada de poças com água formadas com as chuvas esparsas que se
acumulam nas depressões do terreno, ou no “tanque ou pia”. Este é uma depressão de uma
10
ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015
www.revistascire.com.br
formação rochosa típica da região, que define o nome da comunidade e é a água preferida
para a preparação da pasta de barro. As águas usadas devem ser de salinidade moderada para
que não provoquem alterações nas peças quando queimadas (fragilidade, fraturas, “pipocas”
ou bolhas na superfície). Essa escolha evidencia conhecimento etnoecológicos da qualidade
da água usada na produção das cerâmicas. Quando as águas de gasto entregues pelos pipeiros
são salinas, as “loiceiras” preferem usar água de beber.
O barro para as louças ou “loiça de barro” ou “loiça da pia” não é considerada uma
“cerâmica” (ALVES, 2004). Segundo uma das loiceiras, a maioria obtém o barro grátis de um
terreno do Assentamento Queimadas, próximo a Chã da Pia, por este possuir as condições
plásticas apropriadas para a elaboração das peças. Esse barro corresponde ao tipo de solo
Planossolo Nátrico Órtico Típico, textura arenosa/média/argilosa a moderado, pouco
profundo, fase caatinga hiperxerófila relevo ondulado (ALVES,2004). É coletado pela
ceramista ou comprado a um fornecedor. A preparação da pasta de barro é feita num ambiente
próximo ao da elaboração das peças, a terra ou barro é molhado, coberto com um plástico
para não secar e deixado em repouso 24 horas geralmente em um “buraco” feito na terra nos
quintais das “loiceiras” (Figuras 1 (a - b). Antes de uso se adiciona mais água e se amassa,
homogeneizando a quantia separada para certo tempo de trabalho. O consumo de água é em
torno de 30 litros para a preparação da massa de barro e em torno de 12 litros por semana na
modelagem e acabamento das peças. Esses 42 litros não correspondem a um grande gasto de
água, mas equivale ao consumo de água de boa qualidade de 4 dias ou mais de um membro da
família que recebe água potável, se for levado em consideração o gasto máximo por pessoa
por dia de 8 ou 9 litros, calculado para as cisternas do PIMC, de 16.000 litros de água.
As “loiças” são produzidas nas próprias residências das ceramistas ou próximas a elas,
em galpões com teto e amplos para guardar a produção. A queima das “loiças” é feita em
fornos construído com o próprio “barro de loiça”, a céu aberto no terreno das “loiceiras”, na
maioria dos casos. São queimadas cerca de 50 panelas por vez ou de outras peças,
dependendo do tamanho do forno e das peças. As lenhas usadas em Chã da Pia são obtidas de
duas plantas, uma conhecida como “amorosa”, do gênero Mimosa e do “marmeleiro”, do
gênero Croton. Preferem-se estas espécies porque o fogo é suave e evita que “loiças”
estourem ou “pipoquem”. Algumas “loiceiras” compram a lenha no valor médio de R$ 35,00
o maço, há também quem coleta lenha por não ter condições de comprar. As “loiças” são
vendidas nas feiras das cidades vizinhas (Arara, Esperança e Remígio) e algumas loiceiras,
11
ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015
www.revistascire.com.br
participam das feiras de artesanato de Campina Grande e de João Pessoa. Os preços variam de
R$ 7,00 a R$10,00 para fogareiros e panelas pequenas e R$ 20,00 para peças maiores, como
jarras e panelas grandes. Algumas melhor acabadas atingem preço de R$35,00 ou R$45,00
Quando são vendidas cruas para outras “loiceiras”, os preços das panelas variam de R$1,70 a
R$7.00 ou R$8,00. A seguir, se apresentam figuras de diferentes etapas da produção das
“loicas”
Figura 3. (a,b). (a) Extração do barro para as “loiças”; (b) “Loiceira”
trabalhando.
Na sua maioria, as “loiceiras” de Chã da Pia não praticam produção comunitária e
cada uma tem o mesmo discurso: a não adaptação à produção fora de casa, que as peças são
feitas enquanto cuidam das atividades do lar. Assim cada uma tem sua produção individual,
embora foi criada uma cooperativa com o projeto “O saber e o fazer das loiceiras da Chã da
Pia” (GOVERNO FEDERAL, 2014). Este objetivou contribuir para a preservação do
patrimônio imaterial das “loiceiras” da Chã da Pia. A cooperativa foi criada com a
participação de numero elevado de artesãs, mas foram saindo de pouco a pouco. Atualmente
ficam algumas que são as que apresentam as loiças nas férias de maior envergadura.
Até o momento identificaram-se quatro categorias de artesãs em relação à
comercialização: 1) produzem peças cruas que vendem para outras artesãs que as queimam e
vendem (37,5%); 2) outras (12,5%) preparam as loiças que são vendidas cruas e uma pequena
parte é queimada por elas mesmas (o forno é pequeno), das queimadas, algumas são para uso
no lar, outras para venda direta; 3) produzem as cerâmicas que são queimadas (possuem um
ou mais fornos de diferentes tamanhos) e vendidas(25%); 4) compram peças cruas, queimam
e vendem – possuem a lenha para a queima; também podem vender apenas a lenha12,5%.
Essas hierarquias geram dependência e tensões sociais, que dificultam a convivência
harmônica e torna mais difíceis discussões democráticas sobre ações comunitárias, por
a b
12
ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015
www.revistascire.com.br
exemplo, de educação ambiental e de geração e transferência de tecnologias sociais para
dispor de maior estabilidade hídrica (MIRANDA, 2011).
Observam-se frequentes relações de parentesco: irmãs, mãe e filha, primas, sobrinhas,
cunhadas, todas dedicadas à mesma profissão, embora as gerações mais novas não mostrem
interesse na continuação dessa prática (“sem futuro”). Tem possibilidades de trabalhar nas
sedes dos municípios e acesso à escola e à universidade pela disponibilidade de créditos para
a educação.
Nenhuma das entrevistadas fez menção aos efeitos no ambiente da exploração vegetal e
do solo. Quando perguntadas “desconversam”. Pode-se considerar que não percebem as
alterações causadas. Um delas que guiou a equipe de pesquisa até o terreno de onde muitas
“loiceiras” extraem o barro, deu algumas explicações sobre a não destruição de raízes ao
cavar três a quatro palmos de terra para encontrar o “barro da loiça”, o que estaria indicando
percepção dos danos ao ambiente.
Para aprofundar a pesquisa é importante realizar estudos etnoecológicos que fornecem
um arcabouço teórico e metodológico para a compreensão de sistemas de percepção e
classificação do ambiente natural por sociedades locais ou tradicionais. Possibilita também
relacionar o conhecimento construído localmente e o acadêmico e científico e reconhecer e
valorizar aquele conhecimento étnico que tende a desaparecer (TOLEDO, 1992).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A convivência do homem com o semiárido não só é viável, é um fato mostrado dia a
dia pelas comunidades que ali se desenvolveram, se desenvolvem e permanecem. Melhor e
maior desenvolvimento social e econômico dependem mais de políticas publicas do que do
clima. Maior segurança hídrica pode ser conseguida com múltiplas tecnologias sociais de
gerenciamento das múltiplas águas que estão disponíveis no semiárido, incluídas aquelas das
chuvas esparsas que somente enchem pequenas poças o que umedecem o solo. Ações de
educação ambiental, alternativas tecnológicas diversificadas de armazenamento de águas e
estímulos às atividades complementares da agricultura familiar são importantes no processo
de melhorias sociais e econômicas. Comunidades de artesãs como as de Chã da Pia, são em
geral marginalizadas e os gestores públicos devem-se sensibilizar sobre a importância dessa
atividade na preservação cultural de suas técnicas artesanais e na renda familiar, sob
condições mais dignas e favoráveis. Ali se incluem tecnologias sociais que garantam a
13
ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015
www.revistascire.com.br
captação e o armazenamento de água, preferentemente de chuva pela sua excelente qualidade
e custo nenhum, para beber e para a agricultura familiar, dessedentação animal e produção de
peças de barro ou outras atividades. Outras tecnologias como as barragens subterrâneas e as
de tratamento dos esgotos para seu reuso seguro na agricultura familiar não devem ser
rejeitadas. As ações educativas para a preservação do ambiente e sobre o usos dessas
tecnologias que facilitem a disponibilidade da água e diminuam a vulnerabilidade hídrica
devem incluir a ativa participação das artesãs nos processos de tomada de decisão sobre os
recursos que elas utilizam.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AB'SABER, A. Sertões e sertanejos: uma geografia humana sofrida. Estudos Avançados.
São Paulo v. 13, n. 36, maio/ago., 1991.
ALBUQUERQUE, U. P. et al. (orgs.). Povos e paisagens: etnobiologia, etnoecologia e
biodiversidade no Brasil. Recife: NUPEEA/UFRPE, 2007.
ALVES, A. G. Do “barro de loiça” à “loiça de barro”: Caracterização etnopedológica de
um artesanato camponês no agreste paraibano. 2004. 179f. Tese (Doutorado em Ecologia
e Recursos Naturais) – Universidade Federal de São Carlos, 2004.
APHA. Standard methods for the examination of water and wastewater. Ed. E.W. Rice,
R.B. Baird, A.D. Eaton, L.S. Clesceri. 22th ed. Washington, DC: American Public Health
Association, American Water Works Association, Water Environment Federation, 2012.
ASA BRASIL. Semiárido. Disponível em: <http://www.asabrasil.org.br>. Acesso em: 25
abr. 2015.
CEBALLOS, B. S. O. et al. River Water Quality Improvement by Natural and Constructed
Wetland Systems in the Tropical Semi-Arid Region of Northeast Brazil. Water Science and
Technology, UK, v. 44, n.11/12, p. 599-605, 2001.
FBB - FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL – Tecnologías saciáis. Disponível em:
<http://www.fbb.org.br/tecnologiasocial/o-que-e/tecnologia-social/>. Acesso em: 08 mai.
2015.
GOMES, U. A. F. et al. Elementos para uma avaliação crítica do programa brasileiro de
formação e mobilização social para convivência com o semiárido – Um Milhão de Cisternas
Rurais (P1MC). In: CASTRO, J. E.; HELLER, L.; MORAIS. M. P. (Ed). O direito à água
como política pública na América Latina: uma exploração teórica e empírica. Brasília:
IPEA, 2015. p. 227 – 244.
14
ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015
www.revistascire.com.br
GOVERNO FEDERAL - PORTAL DE CONVENIOS (2014). Proposta 1675690. Disponível
em: <http://api.convenios.gov.br/siconv/dados/proposta/1675690.html>. Acesso em: 02 mar.
2015.
LIMA, S. M. de S. et al. Qualidade sanitária e produção de alface irrigada com esgoto
doméstico tratado. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina
Grande, v. 9, n.04 [suplem]. P. 26-30. 2005
MALVEZZI, R. Semiárido: uma visão holística. Brasília: Confea, 2007. 140p.
MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE. Portaria No 2914 de 12 de dezembro de 2011.
Disponível em:
<http//bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2914_12_12_2011.html>
Acesso em: 18 mai. 2015.
MIRANDA, P. C. Cisternas no cariri paraibano: avaliação das práticas de educação
ambiental no uso higiênico da água. 2011. 96f. Dissertação (Mestrado de Ciência e
Tecnologia Ambiental) - Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, PB, 2011.
SANTOS, A.C. Limites e possibilidades da participação no Programa um milhão de
cisternas. 2012. 144f. Dissertação (Mestrado de Desenvolvimento Regional) – Universidade
Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2012.
SANTOS, A C.; CEBALLOS, B.S.O.; SOUSA, C. M. Políticas públicas da água e
participação no semiárido: limites e tensões no P1MC. GESTA - Revista Eletrônica de
Gestão e Tecnologias Ambientais
v.1, n.1, p. 139-145, 2013.
SISTEMA DE GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO DO SEMIÁRIDO
BRASILEIRO (Sigsab). Disponível em: <http://www.insa.gov.br/sigsab/cdisab>. Acesso em:
22 abr. 2015.
TOLEDO, V. M. What is ethnoecology? Origins, scope and implications of a rising
discipline. [s.l.]: Etnoecológica 1. 1992. p 5-21.