mulheres artistas

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VITRINE VALE DO A ÇO DOMINGO, 7/MARÇO/2010 E-mail: [email protected] Telefone: (31) 2109.3550 C U L T U R A & V A R I E D A D E S 1-A MULHERES ARTISTAS UM POUCO DA VIDA E OBRA DE DUAS ARTISTAS DO VALE DO AÇO QUE, COMO MUITAS OUTRAS, PINTAM, FAZEM ESCULTURAS, TRABALHAM FORA, CUIDAM DO LAR E AINDA EDUCAM OS FILHOS Vinícius Ferreira ESTAGIÁRIO Quando se pega o dicionário Aurélio e procura nele a palavra "artista", você encontra as seguintes afirmações: pessoa que se dedica às belas-artes, ou que delas faz profissão; aquele que revela um sentimento artístico, ou que é ator, seja de teatro ou de televisão; que revela engenho ou talento no desempenho de suas tarefas, sendo que alguns as apresentam em circos e feiras. Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, mostrare- mos aqui duas pessoas que, além de artistas, são mulheres. Conhecida como uma região que abriga empresas de grande porte, como a Usiminas e a ArcelorMittal, a mão de obra no Vale do Aço sempre foi, predominante, mas- culina, quase sempre empregada em alguma dessas empresas, e foi assim que a cidade cresceu. Mas a situação vista hoje é um pouco diferente. As mulheres estão cada vez mais presentes no mercado de trabalho, trabalham cinco horas a mais do que os homens diaria- mente, de acordo com estudo recente divulgado pela Organização Internacional do Trabalho, e ainda tem que ser mulher mãe, mulher companheira, mulher dona de casa, mulher amiga. Para desempenhar todas estas fun- ções, só mesmo uma mulher artista. As dificuldades de ser mulher, de enfrentar os problemas da casa, da rua, da cidade, os preconceitos e o estereóti- po de ser mais frágil são muitas vezes expressas nos quadros da artista plástica fabricianense Ana Miranda. "Na hora de fazer um quadro, eu tento colocar nele tudo de mim, tudo o que eu sou, aquilo que eu estudei, os locais que eu conheço, as imagens que eu vi, tudo. E nesta arte eu tento mostrar também a minha força como mulher. Temos que ser donas de casa e também ser bem sucedida fora do lar. Eu hoje falo com orgulho que sou uma 'do lar', que cuidei dos meus filhos, da minha casa, e me expressei com a minha arte", diz a artista. Uma das questões que ela levanta é a busca de muitas mulheres por "sair do lar", e a infelicidade que muitas encontram fora deles. "Nestes programas de TV que passam de tarde, você sempre vê mulheres ditas bem sucedidas, mas que não viram seus filhos crescerem. Investiram em carreiras, em sua independência, mas hoje não estão tão felizes quanto esperavam. Sei que muitas não querem pedir dinheiro para o marido para comprar uma roupa, ou um pincel, que acham isto humi- lhante, é certo trabalhar, ganhar o seu dinheiro. Mas mui- tas esquecem que o grande valor não é o dinheiro, vale mais ver o crescimento do seu filho, ter o amor do seu marido. A mulher tem este papel no lar, e isto não muda. Aquele mundo pertence a ela, ela pode ter outros, sim, mas aquele lugar, aquele espaço, pertence a ela, e ela se sentirá incompleta sem ele", afirma Ana. Ana Miranda conta que as surpresas de sua arte nem sempre são agradáveis, como ela espera, e também são incompreendidas. "A gente, quando pinta, não sabe o que vai dar certo. Só tem como saber disto quando a tinta entra em contato com a tela, e a pintura vai sendo criada. Então nem sempre sai como a gente planeja, às vezes não agrada, e tenho sempre este medo, de não ficar bonito. Mas eu enfrento, e continuo a pintar. Por ser algo abstrato, não é muito compreendido. Meu marido quase sempre fala para eu pintar uma casinha, uma árvore, algo mais 'real', vamos dizer", conta. Outro fator que Ana conta é sobre o sofrimento, tanto como artista quanto mulher. "O sofrimento de fazer arte é algo universal, mas mesmo assim é algo fascinante. Mostra a minha força e a minha fraqueza. Mostra a mulher forte, mas submissa. Fiz uma peça chamada 'Até que a morte nos separe', onde eu quero questionar as pessoas sobre o casamento e a separação. Peguei uma casinha de cachorro coloquei nela mobília e um casal de noivos. A cena perfeita. Mas aquilo dura? Casais hoje não se empenham em manter um relacio- namento, mulheres hoje não se empenham em perma- necer casadas, está tudo muito banalizado. A vez que eu mais sofri para fazer uma obra foi sobre entregar os filhos para o mundo. Eu estava na pia e comecei a cho- rar. Aí fui costurar este poema (O dever me chama), como se estivesse cortando o cordão umbilical. É assim que eu me expresso, este é o meu trabalho. Tem a ver com a minha vida, com o meu ambiente, com tudo o que tenho ao meu redor. É assim que eu sou: mulher, mãe, dona de casa, esposa e artista", afirma. ARTE NA TELA E NA CABEÇA Outro exemplo de mulher artista se encontra em Ana Lopes Soares. Ana encontrou na arte também uma forma de se expressar, de mostrar a sua força e como ela vê o mundo. Consegue vender uma boa quantidade de seus quadros, que estão em exposição permanente em seu salão de beleza. Ana arruma tempo, entre um cabelo e outro, entre uma noiva e outra, para pintar. Com a arte que faz nas cabeças de suas clientes, ela encontra inspiração e condições para continuar a pintar telas. Segundo Ana, a pintura surgiu em sua vida com uma freqüência maior há pouco mais de 10 anos, mas a arte era algo que estava com ela desde sempre. "Eu gosto de pintar, sempre gostei. Porém tinha uma dificuldade, não havia ninguém para me ensinar, me inspirar. Não conhecia pessoas que pintavam, ou que trabalhavam com arte, além de ter a idéia errônea que material para pintura é muito caro, que seria algo fora da realidade. Descobri que não é nada tão de outro mundo assim. Basta querer, nos dedicar àquilo que realmente quere- mos, e as portas se abrirão. Enfim, comecei a comprar o material e a pintar. Hoje vendo muitos quadros, tenho uma aceitação boa do público e ainda me divirto fazen- do arte no cabelo das mulheres", brinca Ana, que tem uma exposição permanente dos seus quadros em seu salão de beleza. EXPOSIÇÃO As duas Anas terão, até o começo do mês de Abril, telas em exposição na mostra "Essas Mulheres", que homenageiam as mulheres do Vale do Aço e sua arte. A exposição será realizada na Fundação Cultural Arcelor- Mittal Acesita. A entrada é gratuita. COM "ATÉ QUE a morte nos separe", Ana Miranda critica a forma como as pessoas, tanto homens quanto mulheres, levam a vida de casados DIVULGAÇÃO

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Matéria veiculada no Jornal Vale do Aço, em 7 de março de 2010, comemorativa ao Dia Internacional da Mulher.

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VITR INEVA L E D O A Ç O D O M I N G O , 7 / M A R Ç O / 2 0 1 0 E - m a i l : vviittrriinnee@@jjoorrnnaallvvaalleeddooaaccoo..ccoomm..bbrr Te l e f o n e : ( 3 1 ) 2 1 0 9 . 3 5 5 0

C U L T U R A & V A R I E D A D E S 1-A

MMUULLHHEERREESSARTISTAS

UM POUCO DA VIDA E OBRA DE DUAS ARTISTAS DO VALE DO AÇOQUE, COMO MUITAS OUTRAS, PINTAM, FAZEM ESCULTURAS,

TRABALHAM FORA, CUIDAM DO LAR E AINDA EDUCAM OS FILHOS

Vinícius Ferreira

ESTAGIÁRIO

Quando se pega o dicionário Aurélio e procura nele apalavra "artista", você encontra as seguintes afirmações:pessoa que se dedica às belas-artes, ou que delas fazprofissão; aquele que revela um sentimento artístico, ouque é ator, seja de teatro ou de televisão; que revelaengenho ou talento no desempenho de suas tarefas,sendo que alguns as apresentam em circos e feiras. Emcomemoração ao Dia Internacional da Mulher, mostrare-mos aqui duas pessoas que, além de artistas, sãomulheres.Conhecida como uma região que abriga empresas degrande porte, como a Usiminas e a ArcelorMittal, a mãode obra no Vale do Aço sempre foi, predominante, mas-culina, quase sempre empregada em alguma dessasempresas, e foi assim que a cidade cresceu. Mas asituação vista hoje é um pouco diferente. As mulheresestão cada vez mais presentes no mercado de trabalho,trabalham cinco horas a mais do que os homens diaria-mente, de acordo com estudo recente divulgado pelaOrganização Internacional do Trabalho, e ainda tem queser mulher mãe, mulher companheira, mulher dona decasa, mulher amiga. Para desempenhar todas estas fun-ções, só mesmo uma mulher artista.As dificuldades de ser mulher, de enfrentar os problemasda casa, da rua, da cidade, os preconceitos e o estereóti-po de ser mais frágil são muitas vezes expressas nosquadros da artista plástica fabricianense Ana Miranda."Na hora de fazer um quadro, eu tento colocar nele tudode mim, tudo o que eu sou, aquilo que eu estudei, oslocais que eu conheço, as imagens que eu vi, tudo. Enesta arte eu tento mostrar também a minha força comomulher. Temos que ser donas de casa e também serbem sucedida fora do lar. Eu hoje falo com orgulho quesou uma 'do lar', que cuidei dos meus filhos, da minhacasa, e me expressei com a minha arte", diz a artista.Uma das questões que ela levanta é a busca de muitasmulheres por "sair do lar", e a infelicidade que muitasencontram fora deles. "Nestes programas de TV quepassam de tarde, você sempre vê mulheres ditas bemsucedidas, mas que não viram seus filhos crescerem.Investiram em carreiras, em sua independência, mashoje não estão tão felizes quanto esperavam. Sei quemuitas não querem pedir dinheiro para o marido paracomprar uma roupa, ou um pincel, que acham isto humi-lhante, é certo trabalhar, ganhar o seu dinheiro. Mas mui-tas esquecem que o grande valor não é o dinheiro, valemais ver o crescimento do seu filho, ter o amor do seumarido. A mulher tem este papel no lar, e isto não muda.Aquele mundo pertence a ela, ela pode ter outros, sim,mas aquele lugar, aquele espaço, pertence a ela, e ela sesentirá incompleta sem ele", afirma Ana.Ana Miranda conta que as surpresas de sua arte nemsempre são agradáveis, como ela espera, e tambémsão incompreendidas. "A gente, quando pinta, não sabeo que vai dar certo. Só tem como saber disto quando atinta entra em contato com a tela, e a pintura vai sendo

criada. Então nem sempre sai como a gente planeja, àsvezes não agrada, e tenho sempre este medo, de nãoficar bonito. Mas eu enfrento, e continuo a pintar. Por seralgo abstrato, não é muito compreendido. Meu maridoquase sempre fala para eu pintar uma casinha, umaárvore, algo mais 'real', vamos dizer", conta.Outro fator que Ana conta é sobre o sofrimento, tantocomo artista quanto mulher. "O sofrimento de fazer arteé algo universal, mas mesmo assim é algo fascinante.Mostra a minha força e a minha fraqueza. Mostra amulher forte, mas submissa. Fiz uma peça chamada'Até que a morte nos separe', onde eu quero questionaras pessoas sobre o casamento e a separação. Pegueiuma casinha de cachorro coloquei nela mobília e umcasal de noivos. A cena perfeita. Mas aquilo dura?Casais hoje não se empenham em manter um relacio-namento, mulheres hoje não se empenham em perma-necer casadas, está tudo muito banalizado. A vez queeu mais sofri para fazer uma obra foi sobre entregar osfilhos para o mundo. Eu estava na pia e comecei a cho-rar. Aí fui costurar este poema (O dever me chama),como se estivesse cortando o cordão umbilical. É assimque eu me expresso, este é o meu trabalho. Tem a vercom a minha vida, com o meu ambiente, com tudo oque tenho ao meu redor. É assim que eu sou: mulher,mãe, dona de casa, esposa e artista", afirma.

ARTE NA TELA E NA CABEÇAOutro exemplo de mulher artista se encontra em AnaLopes Soares. Ana encontrou na arte também umaforma de se expressar, de mostrar a sua força e comoela vê o mundo. Consegue vender uma boa quantidadede seus quadros, que estão em exposição permanenteem seu salão de beleza. Ana arruma tempo, entre umcabelo e outro, entre uma noiva e outra, para pintar. Coma arte que faz nas cabeças de suas clientes, ela encontrainspiração e condições para continuar a pintar telas. Segundo Ana, a pintura surgiu em sua vida com umafreqüência maior há pouco mais de 10 anos, mas a arteera algo que estava com ela desde sempre. "Eu gostode pintar, sempre gostei. Porém tinha uma dificuldade,não havia ninguém para me ensinar, me inspirar. Nãoconhecia pessoas que pintavam, ou que trabalhavamcom arte, além de ter a idéia errônea que material parapintura é muito caro, que seria algo fora da realidade.Descobri que não é nada tão de outro mundo assim.Basta querer, nos dedicar àquilo que realmente quere-mos, e as portas se abrirão. Enfim, comecei a comprar omaterial e a pintar. Hoje vendo muitos quadros, tenhouma aceitação boa do público e ainda me divirto fazen-do arte no cabelo das mulheres", brinca Ana, que temuma exposição permanente dos seus quadros em seusalão de beleza.

EXPOSIÇÃOAs duas Anas terão, até o começo do mês de Abril,telas em exposição na mostra "Essas Mulheres", quehomenageiam as mulheres do Vale do Aço e sua arte. Aexposição será realizada na Fundação Cultural Arcelor-Mittal Acesita. A entrada é gratuita.

COM "ATÉ QUE a morte nos separe", Ana Miranda critica a forma como aspessoas, tanto homens quanto mulheres, levam a vida de casados

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