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Coletanea de contos Varios autores Muito alem das montanhas

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Coletanea de contos

Varios autores

Muito alem das montanhas

©2016 Vários autores Contato: http://muitoalemdasmontanhas.blogspot.com http://facebook.com/gloriosoimperiobrasil Edição, Diagramação e Arte: Eber Josué Impressão e acabamento:

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Giublin, Luiz Guilherme Delenski et al.

G537m Muito além das montanhas / Luiz Guilherme

Delenski Giublin [et al.] – Três Corações:

Eber Josué Dias de Oliveira, 2016.

184 p.

ISBN 978-85-464-0218-2

1.Literatura brasileira. 2.Ficção.

3.Contos brasileiros. 4.História do Brasil.

5.Brasil Imperial. 6.Dom Pedro II. 7.Líbano.

I. Eber Josué, org. II. Série Glorioso Impé-

rio do Brasil. III. Título.

CDD: B869.3

CDU: 82-3 / 82-92/94

Índices para catálogos sistemáticos

1.Literatura brasileira: 869.3

2.Ficção : Contos brasileiros: 869.308

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais sem

prévia autorização dos respectivos autores.

Coletanea de contos

Varios autores

Muito alem das montanhas

Primeira Edicao

Tres Coracoes-MG Junho de 2016

PREFÁCIO

Este é um livro de emoções, em que cada página a ser

folheada tem um tesouro solene que cabe a você descobrir.

Antes vou lhe dizer: prepare-se para as aventuras que irá

conhecer. Você viajará pela leitura e a imaginação

mostrará um mundo só seu, leitor. Encontrará as portas

abertas para o universo do conhecimento e não resistirá ao

mundo mágico e extraordinário existente na obra cujo

nome é “Muito além das montanhas”, uma seleção de

contos fantásticos que compõem a coletânea organizada

pela comitiva de Sua Senhoria Eber Josué.

Imagine que cada página seja uma riqueza, contenha

a essência de duas nações cujos laços de amizade

marcaram a história: Brasil e Líbano, ambas maravilhosas,

cheias de cultura.

A cada episódio os eventos se transformam, como se

não houvesse final, assim é contada a relação de nosso

querido Dom Pedro II com o povo libanês. Recebendo vários

títulos e sendo honrado pelos seus personagens, com os

quais os escritores tiveram dedicação e carinho. É a

verdadeira história se transformando em arte.

Não se pode dar um significado à arte, mas deve-se

senti-la e entendê-la, pois esta possui encanto próprio,

modelada pelo seu criador com paciência na arte de

escrever e ser admirado. Assim é a literatura, ela nos

encanta e ensina a amar, prendendo-nos ao seu cosmos.

Meus parabéns a todos que se esforçaram para

garantir que o seu talento se tornasse visível, contribuindo

para a sociedade com os seus conhecimentos, mantendo

viva a história de nossa pátria tão amada e ressaltando o

grande coração do oriente, o Líbano.

“O talento desenvolve-se no amor que pomos no que

fazemos. Talvez até a essência da arte seja o amor pelo que

se faz, o amor pelo próprio trabalho.” (Máximo Gorky)

YASMIM NASCIMENTO DE SOUZA RIBEIRO Graduanda em Letras-UFSC

ÍNDICE PREMIADO ESPECIAL

Joan Saulo do Monte 9

O iluminado

PREMIADOS

ARTURO 27

Retrato antigo

Bruno Lopes Curiel 38

Em busca dos pergaminhos de Al-Hakim

Christian S. 52

O medalhão

Eduardo Sussumo Smozono 60

Alvoradas

Guilherme Giublin 69

Laila e Majunm

João Baptista dos Santos 80

E voltarão prósperos

Lílian Abreu 93

Um lar no horizonte

Suzi Maria Moreira Marques 105

Além dos cedros do Líbano

Vicente de Melo 121

Lembranças e saudades

MENÇÕES HONROSAS

Adnelson Campos 131

O mascate

Aurineide Alencar 139

Buscando as origens

Edilson Luiz da Silva 147

Viajante

Edweine Loureiro 158

De porta em porta

Jober Rocha 163

Bem longe, lá atrás daqueles montes!

Nicoly Almeida 170

Ganha-se uma moeda, devolve-se duas

Muito alem das montanhas

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Joan Saulo do Monte Pernambucano de Recife, 25 anos, Joan Saulo Ramos do Monte é domi-ciliado em Pilar (PB). É professor de Literatura e Produção Textual do Instituto O Pequeno Sábio, escola da rede particular de ensino. Como escritor e poeta, possui algumas conquistas, a exemplo de Aracnomo-mento (2015), seu livro de estreia, pela Editora Multifoco do Rio de Ja-neiro, além de várias Antologias Literárias, tais como: Prêmio Rima Rara (2013), Prêmio Poetize (2014), Prêmio Sarau Brasil (2014), Antologia de Contos e Poemas, Incertezas e suas Fragilidades (2014), Coletânea de Contos A Roupa Nova do Imperador (2014), Coletânea de Contos A Lei Áurea (2014), Coletânea de Contos As Cartas do Pequeno Imperador (2015), Coletânea de Contos O Soldado de sua Majestade (2015) dentre outras. Ultimamente, dedica-se à publicação do seu segundo livro de poemas, ainda no prelo.

O iluminado

- Terra do cedro. Local de culturas múltiplas. Gleba que

jamais permaneceu inerte. Originou fenícios e sua cultura marí-

tima que permaneceu ávida durante cerca de dois mil e quinhen-

tos anos. É de lá que eu vim. Aliás, que o sangue que corre em

minhas veias veio.

- O que você está dizendo Yamileth? Indagou Said, colo-

cando os livros de literatura sobre a mesa da sala.

Após uns segundos sem reação alguma, vagarosamente,

Yamileth (deixando que a leve brisa arrepiasse seu corpo, à medi-

da que inquietava seus cabelos negros e ondulados) fitou Said

como quem busca em quem está próximo a doçura e magnitude

do que está distante. Todavia, não falou nada. Apenas apontou

para uma cadeira de cor marrom que se encontrava no canto da

sala. Ele entendeu que o melhor a se fazer era sentar em silêncio,

Varios autores serie ‘Glorioso Imperio do Brasil’

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coisa que exigiu demasiado esforço, haja vista que a esta atura a

curiosidade aumentava. Said desejava saber o que estava a acon-

tecer com Yamileth, visto que a mesma estava concentrada por

demais, com olhares ultrafixos para além das montanhas que

podiam ser visualizadas por meio de negras silhuetas que, jaz

contrapostas à luz da lua, quase cheia e brilhante, no firmamento

azul escuro do céu um tanto estrelado.

O que Yamileth estava a dizer, de fato, apenas ela sabia.

Então, sendo assim, deixemos que a própria fale quais os motivos

que arrancam de sua garganta, sob forma de palavras, o que lhe

inquieta ou lhe apraz. Não te intrometas leitor. A curiosidade é

sinônimo de pressa, e, quanto a esta, sabes muito bem (mais que

eu, que preciso de tua voz para se materializar) que é a perfeita

inimiga da imperfeição.

- Isso. Deixa-me falar, Said. Eu que sempre fui tão triste,

muda e estática! Agora quero falar como jamais falei antes.

- Tudo bem, Yamileth. Alça voo por meio de tua voz até os

meus ouvidos.

- Não hei de ir apenas aos teus ouvidos, mas também até

ouvidos distantes.

- Tudo bem, então comece, Yamileth. Vamos! Conte tudo.

O tempo, “tambor de todos os ritmos” é todo seu.

- Adoro o Caetano.

- Eu também. E muito. Muito mesmo. Essa música, ao lado

de Serena Serená da paraibana Odete de Pilar, me fascina. Entre-

tanto, deixemos tal assunto para depois. Estou a escutar.

Muito alem das montanhas

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- Certo. Respondeu Yamileth à medida que lançava um o-

lhar sério sobre o irmão.

- Estas terras em que estamos, Said, configura o último re-

fúgio de pessoas que aqui estiveram bem antes de nós nascermos.

Enquanto há muitas pessoas que se sentem honradas pelo fato de

José Lins do Rego ter nascido aqui, mesmo sem nunca ter lido

um livro dele, há pouquíssimas pessoas que aqui também vieram

fazer história.

- Que coisa Yamileth! Do que estás falando? Não estou en-

tendendo nada.

- Calado! Não estou a pedir que entendas, mas que ouça.

- Tu... Tudo bem. Disse, Said com a voz trêmula.

- Pois bem. Said como você muito bem sabe, a nossa mãe

Aisha e o nosso pai, Mahoma, sempre preservaram a integridade

daquele enorme baú que se encontra no subsolo desta casa, en-

volto em sete grossas camadas de tecidos de cores distintas no

interior de outro baú, ainda maior, feito de cedro.

- De fato – Disse Said, ao asseverar a veracidade do que a-

cabara de ouvir.

- Porém, você não sabe o motivo de tamanho cuidado dos

nossos pais para com o baú.

- Não. De fato, não. E você? Não me diga que ...!

- Escuta! Há segredos que se transformam em mistérios.

Há mentiras que, ditas muitas vezes, transformam-se em verda-

des. Mas também há verdades que jamais poderão ser transfigu-

Varios autores serie ‘Glorioso Imperio do Brasil’

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radas em silêncio. Nós somos exemplo disso. Entretanto, deixe-

mos de mistérios.

Olhando ainda de forma mais fixa para os olhos de Said,

Yamileth se aproximou ainda mais do irmão, segurou suas mãos e

falou:

- Said, meu irmão. Quantas vezes permanecemos aqui sem

termos a noção do quanto o nosso sangue reclamava o afago de

terras distantes?

- Muitas vezes, Yamileth. Em meus momentos escuros

sempre encontrei em ti uma fortaleza. Sempre mencionei o fato

de que aqui me sentia estranho.

- Estrangeiro aqui, mas não em toda parte, parafraseando

Pessoa.

- Isso mesmo.

- Pois então, aqui estamos porque temos uma missão a

cumprir. Missão esta que foi muito bem cumprida por nossos pais

e principalmente por nossa mãe, que de sua mãe recebeu o pro-

pósito e o dever de cumprir a promessa, jaz sagrada e há muito

tempo passada de geração em geração.

- Prossiga, Yamileth.

- Said, meu querido e amado irmão. A terra de nossos an-

cestrais, o Líbano, em tempos de outrora recebeu uma visita ilus-

tre. Imagine que, em 1876, o insigne D. Pedro II, lá esteve em

caráter turístico e científico.

Muito alem das montanhas

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- Caramba, Yamileth. Sabia em o Imperador D. Pedro II já

havia visitado Pilar, mas desconhecia que ele tivesse pisado em

terras tão distantes.

- Eis a amostra de que nem sempre sabemos de tudo, meu

irmão.

- Verdade! Continue, irmã. Prossiga!

- Certo! Vamos lá! EM sua ida ao Líbano, o Imperador an-

dou por muitos lugares, conheceu diversas pessoas que muito

bem o receberam. Todos aclamaram o imperador que de imediato

recebeu de presente uma vasta biblioteca do ilustríssimo gramáti-

co de língua Árabe, Al-Yazigi, e ainda foi convidado de honra do

professor Cornelius Van Dyck para que assistisse a sua aula da

qual o Imperador do Brasil saiu maravilhado. Ademais, foi nesta

aula que D. Pedro II conheceu Nemi Jafet.

- Como?! Você está falando de Nemi Jafet? O intelectual

pioneiro da emigração para o Brasil?

- Sim, sim. Isso mesmo. Na verdade, Nemi Jafet serviu de

cicerone do Imperador em muitas visitas que ele fez a diversos

locais do Líbano. Também foi graças a Nemi Jafet que o amigo de

D. Pedro, o diplomata de origem francesa, Joseph Gobineau, fi-

cou mais tranquilo, uma vez que estava na Grécia, enquanto o

Imperador, então com 50 anos de idade explorava a terra dos

cedros, tão desconhecidas aos olhos deste último.

- Falando em olhos... Que maravilhosos olhos tinha o Im-

perador D. Pedro II. Bem azuis.

Varios autores serie ‘Glorioso Imperio do Brasil’

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- Azul sem igual era o céu do Líbano, Said, nos momentos

em que, desprovido da tecnologia de ponta que move o mundo

moderno, o Imperador encontrou Xiomara em Beirute.

- Xiomara? Quem foi Xiomara, Yamileth?

- A estrela mais linda do universo, Said. Mulher guerreira,

esplêndida! Foi enviada, especialmente, por Miguel Debbane que

em tempos futuros viria a se tornar Cônsul Honorário do Brasil

em Alexandria e que fundou a Igreja Melquita Católica dedicada a

São Pedro. Até nos dias de hoje as missas são celebras em memó-

ria ao Imperador do Brasil.

- Mas o que ela tinha a tratar com o Imperador?

- Algo de extrema importância, Said e que possui forte liga-

ção para com a nossa família.

Yamileth, resolveu levantar da cadeira em que estava e co-

meçou a caminhar nos arredores da enorme mesa de vidro que se

encontrava no centro da sala rodeada por 12 cadeiras de madeira

com assento de couro marrom, assim como os sapatos que usava.

Sapatos estes que foi de encontro à tíbia de Said para chamar-lhe

a atenção para o que diria.

- Ai! Calma, Yamileth. Estou ouvindo. Ui! Essa doeu.

- Said. Xiomara teve que passar por maus bocados até con-

seguir encontrar o imperador D. Pedro II em Beirute, uma vez

que saindo dos arredores do monastério de Saint Sabbas que, por

sua vez, fica localizado nas montanhas de Moab, próximo a Jeru-

salém, teria que passar despercebida aos olhos de todos aqueles

que queriam impedir os planos de Debbane.

Muito alem das montanhas

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- Que planos eram esses?

- No convento de Saint Sabbas era proibida a entrada de

mulheres. Todavia, os frades que ali viviam a se deliciar alimen-

tando os bandos de melros muito numerosos no local, também

ansiavam outras delícias.

- Que tipos de comida?

- Delícias de carne, osso, braços, coxas, seios e curvas, in-

gênuo irmão. A bíblia não adjetiva a mulher de “tentadora” à toa.

- Certo, Yamileth, mas uma vez proibida a entrada de mu-

lheres no local, tais delícias eram inalcançáveis.

- Engano seu. Os arredores do mosteiro eram repletos de

míseros camponeses que viviam a desejar o que não tinham. Eles

tinham que se contentar com as migalhas, aliás, com os imundos

dejetos jogados do alto do mosteiro por uma estreita porta até

cair em tamanhos, muito menores, aos pés da montanha, local

este onde ficavam seus casebres imundos.

- Que horror! Disse Said, mostrando-se enojado com a si-

tuação descrita.

- Horror foi Yesenia ver sua felicidade transformando-se

em desgraça, quando, ao entrar às escondidas por uma das inú-

meras portas do mosteiro que mais parecia um labirinto, foi agar-

rada a força por um dos 60 frades que ali residiam.

- Agarrada?! Como assim?

- O frade queria matar sua vontade de sexo, Said. Corpos

semelhantes não mais lhe bastavam. Em segredo, ele desejava

conhecer o poder tentador da mulher, conforme é descrito na