mudanças linguísticas em curso em alunos do ensino sup erior · uma etapa fundamental do estudo...

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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 23 – Estudos sobre o Português dos séculos XX e XXI. 13 Mudanças linguísticas em curso em alunos do Ensino Superior Célia Vieira e Isabel Rio Novo 1 [email protected] [email protected] Introdução As grandes mudanças de carácter linguístico e cultural em curso na sociedade portuguesa, em consequência do impacto da comunicação audiovisual e da generalização da comunicação mediada por computador, têm-se feito sentir, com particular incidência, no Ensino Superior. Sendo que as línguas evoluem e que todas incorporam margens de variação, daqui não se pode inferir, porém, que não existem desvios ou erros linguísticos, o que equivaleria a postular que “as línguas são tão flexíveis que tudo admitem nos diferentes planos em que se organizam (semântico, lexical, sintáctico e fonológico)” (Peres e Móia, 2003: 13). Torna-se, pois, necessário identificar e caracterizar os rumos (pres)sentidos da evolução linguística, para não dizer definir e justificar orientações e limites a essa mudança, sendo certo que a aplicação do estrito critério da eficácia comunicacional, levado ao extremo, conduziria a uma permissividade cega, ignorando a dimensão da língua “como instrumento de conhecimento e apreensão do mundo, irisado de uma multiplicidade de valores afectivos, estéticos, sedimentados pela memória e pela história, pelo uso transgeracional, pelos autores” (Moura, 2005). Até porque, em última instância, a mudança linguística envolve sempre um distúrbio na forma ou no conteúdo verbal, de modo que os grupos de falantes afectados pela mudança se confrontam com 1 A presente comunicação tem por base o projecto de investigação com o mesmo nome desenvolvido no âmbito do CELCC, cujos resultados foram parcialmente publicados em VIEIRA, Célia (org.), Estudos de Língua, Comunicação e Cultura I, Maia, Edições do Ismai, 2008. ISMAI, membros do Centro de Estudos de Língua, Comunicação e Cultura (CELCC) e do Centro de Estudos em Letras (CEL), uID 707-FCT.

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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 23 – Estudos sobre o Português dos séculos XX e XXI.

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Mudanças linguísticas em curso em alunos do Ensino Superior

Célia Vieira e Isabel Rio Novo1

[email protected]

[email protected]

Introdução

As grandes mudanças de carácter linguístico e cultural em curso na sociedade

portuguesa, em consequência do impacto da comunicação audiovisual e da

generalização da comunicação mediada por computador, têm-se feito sentir, com

particular incidência, no Ensino Superior. Sendo que as línguas evoluem e que todas

incorporam margens de variação, daqui não se pode inferir, porém, que não existem

desvios ou erros linguísticos, o que equivaleria a postular que “as línguas são tão

flexíveis que tudo admitem nos diferentes planos em que se organizam (semântico,

lexical, sintáctico e fonológico)” (Peres e Móia, 2003: 13).

Torna-se, pois, necessário identificar e caracterizar os rumos (pres)sentidos da

evolução linguística, para não dizer definir e justificar orientações e limites a essa

mudança, sendo certo que a aplicação do estrito critério da eficácia comunicacional,

levado ao extremo, conduziria a uma permissividade cega, ignorando a dimensão da

língua “como instrumento de conhecimento e apreensão do mundo, irisado de uma

multiplicidade de valores afectivos, estéticos, sedimentados pela memória e pela

história, pelo uso transgeracional, pelos autores” (Moura, 2005). Até porque, em última

instância, a mudança linguística envolve sempre um distúrbio na forma ou no conteúdo

verbal, de modo que os grupos de falantes afectados pela mudança se confrontam com

1 A presente comunicação tem por base o projecto de investigação com o mesmo nome desenvolvido no âmbito do CELCC, cujos resultados foram parcialmente publicados em VIEIRA, Célia (org.), Estudos de Língua, Comunicação e Cultura I, Maia, Edições do Ismai, 2008. ISMAI, membros do Centro de Estudos de Língua, Comunicação e Cultura (CELCC) e do Centro de Estudos em Letras (CEL), uID 707-FCT.

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uma perda de compreensão em último caso conducente à ininteligibilidade (Labov,

1994).

Considerou-se, deste modo, importante desenvolver um estudo que permitisse

conhecer com rigor as produções linguísticas evidenciadas pelos alunos do Ensino

Superior à chegada à instituição universitária, com vista a evidenciar as suas

competências e a identificar as chamadas áreas críticas da língua para que aquelas

produções apontam.

1. Panorama da investigação no âmbito da mudança linguística

Em Sociolinguistics. Method and Interpretation, Lesley Milroy e Matthew

Gordon (2003), depois de evocarem o trabalho pioneiro de U. Weinrich, W. Labov e M.

Herzog (1968), afirmam que: "a language system that did not display variability would

not only be imaginary but dysfunctional, since structured variability is the essential

property of language that fulfils important social functions and permits orderly

linguistic change." (2003: 4). Numa reflexão acerca da dinâmica da língua no âmbito de

um estudo sincrónico, Maria João Marçalo (1994) contesta a divisão radical entre

linguística sincrónica e linguística diacrónica, advogando como "irrecusável e

indispensável" a concepção de uma sincronia dinâmica, i. e., de um ponto de vista que

confira uma atenção aos aspectos dinâmicos do eixo sincrónico. Nesse sentido, a autora

esclarece a concepção de dinâmica da língua que também partilhamos:

Uma língua é um instrumento de comunicação. O seu funcionamento, em oposição ao que

durante alguns séculos se pensou, não é conflitual com a mudança, antes pelo contrário

implica-a. Como repetidamente Martinet tem afirmado, uma língua muda porque

funciona. O sistema existe em movimento, ou seja, não há contradição entre sistema e

mudança. A língua é algo vivo e como tal transforma-se sem cessar, não deixando jamais

de cumprir a sua função principal, a de ser um instrumento de comunicação. (1994: 90)

Se por mudança linguística se entende "Qualquer modificação sofrida pela

estrutura de uma língua (a nível fonético, fonológico, morfológico, sintáctico ou

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semântico) ao longo do tempo" (Xavier e Mateus, 1992: 254), mudança linguística em

curso surge definida no Dicionário de Termos Linguísticos como "Mudança que, no

momento em que é observada, está ainda a produzir-se, não estando fixado o seu

resultado final." (ibidem: 252) Os estudos das mudanças linguísticas em curso vieram,

assim, demonstrar que é possível conhecer melhor os mecanismos da mudança

linguística, "captando-a em processo e não, como nos estudos tradicionais de linguística

histórica, nos seus pontos de partida e de chegada." (ibidem: 252)

A este respeito, Inês Duarte e Maria João Freitas fornecem uma compreensão clara

do fenómeno da mudança linguística, quando afirmam:

Porque a língua se encontra em permanente processo de mudança, quando nas produções

dos falantes cultos duma comunidade linguística numa dada época se verifica uma

acumulação daquilo que é considerado erro na língua padrão, tal fenómeno constitui em

geral um sintoma de que está em curso um processo de mudança num determinado

subsistema da variedade padrão. (2000: 25, 26)

A investigação das mudanças linguísticas em curso tem avançado em Portugal,

sendo significativo que, mesmo numa obra de cariz didáctico como a de Inês Duarte e

Maria João Freitas, se abordam sumariamente dois casos de mudanças em curso: o caso

das orações relativas preposicionadas e o denominado fenómeno de subida do clítico.

Esses são, aliás, dois fenómenos incluídos nas seis áreas críticas da língua

portuguesa apontadas por João Andrade Peres e Telmo Móia (2003), áreas que

manifestam sintomas de uma crise, quer porque nelas se verificam movimentos de

ruptura — em geral prenunciadores de mutações da norma — quer porque muito

facilmente nelas se insinua o puro desvio, a sugerir a existência de dificuldades por

parte dos falantes: estruturas argumentais, construções passivas, construções de

elevação, orações relativas, construções de coordenação e concordâncias.

Uma etapa fundamental do estudo de mudanças linguísticas em curso em

Português Europeu é assinalada pela publicação de A Língua Portuguesa em Mudança,

que condensa os resultados de uma investigação, no âmbito do Projecto REDIP,

realizada no ILTEC, com a colaboração do CLUL e do CENTED da UA, com vista à

caracterização da linguagem dos meios de comunicação social. Foram analisadas, na

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área da sintaxe, as construções relativas; o estatuto da palavra portanto; na área da

fonética, a supressão do <r> final de palavra em alguns usos do Português Europeu; na

área do léxico, os estrangeirismos e os neologismos contidos no corpus.

O nível do léxico, é, aliás, o plano da língua sobre que incide a maior quantidade

dos projectos de investigação no âmbito da mudança linguística, como dá conta também

a obra de Margarita Correia e Lúcia San Payo de Lemos, Inovação Lexical em

Português. Nela as autoras lembram que, sendo certo que uma das características

universais da linguagem humana é a mudança e que todas as línguas evoluem

necessariamente ao longo do tempo, significando a ausência de evolução a sua morte,

"se é verdade que a mudança afecta todas as componentes do conhecimento linguístico

(fonológica, morfológica, sintáctica, semântica e pragmática), é também verdade que

essa mudança é fundamentalmente visível ao nível do léxico." (Correia e Lemos, 2005:

10)

No que diz respeito às metodologias que têm vindo a ser aplicadas na análise da

mudança linguística, em Sociolinguistics. Method and Interpretation, Lesley Milroy e

Matthew Gordon apresentaram "methods and theories underlying the quantitative

paradigm of sociolinguistic research pioneered by William Labov, with the goal of

providing a resource for investigators who are setting up a research project", numa

tradição de investigação "variationist", um dos campos da investigação em

sociolinguística. (2003: 1), chamando a atenção para a necessidade de a investigação ser

baseada na observação de dados bem como para uma perspectiva de análise que faça

referência a factores sociais e extralinguísticos.

No entanto, os estudos nacionais e internacionais têm também colocado em relevo

a importância do uso de corpora como fonte de dados empiricamente observáveis, cuja

análise quantitativa e qualitativa pode permitir a identificação de fenómenos de

mudança linguística. A importância fundamental dos corpora nos estudos sobre

variação, evidenciada, entre outros, por Wilson e McEnery (1996), foi sobremodo

potencializada pelo desenvolvimento da Linguística Computacional (Nascimento,

1996).

Na constituição de corpora linguísticos em Português, foi pioneira a iniciativa de

Lindley Cintra, com a criação do corpus do Português Fundamental (Nascimento e

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Gonçalves, 1994), núcleo do actual Corpus de Referência do Português Contemporâneo

do CLUL (Nascimento, 1996), que continha em 1999 86,3 milhões de palavras de

português falado e escrito. Outros corpora do Português Europeu, como o REDIP,

evidenciaram o relevo da aplicação das ferramentas informáticas na extracção

automática de informações relativas a frequência, repartição e concordância dos factos

linguísticos, nomeadamente dados lexicográficos, morfológicos e morfossintácticos.

Recorrendo a instrumentos de base estatística, os objectivos dos trabalhos realizados

sobre corpora incidem com recorrência na sistematização de inventários de

combinatórias lexicais e gramaticais mais frequentemente usadas pelos falantes

(Nascimento e Pereira, 1996), sendo decisivos na fundamentação de estudos sobre

variação, como é o caso de corpora como o CPE VAR (Faria, 1996) ou o VARSUL

(Coan, 1999). É certo, em todo o caso, que a recolha e tratamento dos dados registados

não pode perder de vista a dinâmica interdisciplinar dos estudos linguísticos, apontando

para o horizonte mais amplo de um enquadramento teórico que possa ser infirmado ou

deduzido da análise dos fenómenos. Como sublinha Nicoletta Calzolari, a propósito da

definição de métodos e ferramentas para lexicografia com base em corpora linguísticos,

os

dados provenientes de corpora não podem, obviamente, ser utilizados de modo simplista.

Para se poderem tornar úteis, os dados devem ser analisados à luz de uma hipótese

teórica, na base da qual se modelará e estruturará o que seria, de outro modo, um conjunto

não estruturado de dados. A melhor combinação da abordagem empírica com a

abordagem teórica é aquela em que a própria hipótese teórica surge de e é guiada por

sucessivas análises dos dados, e onde, por sua vez, os dados são ciclicamente

aperfeiçoados e ajustados à evidência textual (Calzolari, 1996: 94).

No acervo de corpora de Português actualmente disponíveis parecem prevalecer

os corpora de Português falado relativamente aos corpora de Português escrito, e, neste

âmbito, parece verificar-se o privilégio do texto jornalístico como língua de referência,

como é o caso do corpus REDIP ou do material linguístico escolhido para análise por

João Andrade Peres e Telmo Móia (2003). Mesmo se alguns dos resultados obtidos na

análise dos corpora de Português falado poderão, sem grande dificuldade, vir a ser

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atestados também em corpora de Português escrito (Marques, 1996), o menor grau de

espontaneidade próprio do discurso escrito poderá ser significativo na identificação de

fenómenos não justificáveis pelos aspectos que caracterizam o Português falado

(Brauer-Figueiredo, 1996). Nesse sentido, Lesley Milroy e Matthew Gordon apontam

para a relevância do uso de materiais escritos: "While an overwhelming majority of

variationist studies examine spoken language exclusively, some recent projects have

demonstrated the usefulness of written surveys in sociolinguistic research." (Milroy e

Gordon, 2003: 51).

Ao mesmo tempo, toda a problemática que envolve a Didáctica da Escrita e o seu

interesse pluridisciplinar (Pereira, 2000) tem colocado em relevo o carácter

determinante assumido pela Linguística Textual na análise de enunciados escritos.

Nesse sentido, assistiu-se a uma proliferação de estudos sobre os processos de escrita e

sobre as estratégias de reformulação textual (Fávero et al., 1996; Carvalho, 2000).

São ainda escassos os estudos sobre mudança linguística em curso que tenham por

base os enunciados escritos de alunos do Ensino Superior. Em contrapartida, existe um

conjunto de estudos sobre alunos do Ensino Secundário que evidenciam algumas

mudanças em curso, muito provavelmente também registáveis em alunos do Ensino

Superior. É o caso da variação na posição dos clíticos em relação ao verbo (Silva,

2000). Ao nível de investigação assente em corpora constituídos com base em textos

produzidos em contexto escolar, devemos igualmente referir a obra de Olívia

Figueiredo, A Anáfora Nominal em Textos de Alunos. A Língua no Discurso. Tendo

como pano de fundo a experiência de docência e de formação de professores de

Português da autora e envolvendo um universo de 1025 textos originais de alunos do 3º

Ciclo do Ensino Básico, trata-se de um estudo quantitativo e qualitativo que se traduz na

comparação de procedimentos anafóricos utilizados em quatro tipos de textos

arquetípicos (narração, récit conversacional, discurso teórico e discurso em situação).

Refere a autora:

Embora se ponha a questão da autenticidade dos escritos escolares, uma vez que não

respeitam as leis da produção – os escritos da aula pertencem à instituição escolar e

relevam deste lugar social particular e são fatalmente determinados por ele –, o que é

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certo é que é na escola que as situações de aprendizagem do material escrito se verificam

e é aí e por aí que as aprendizagens conscientes se fazem. (2003, 182)2

Os raros estudos realizados com vista à análise do uso ou do conhecimento da

língua em alunos universitários têm incidido quer na avaliação do modo como a

didáctica da gramática fora uma área deficitária na formação prévia dos discentes, quer

na evidenciação das potencialidades da didáctica da gramática no desenvolvimento de

um espírito crítico, quando estimulada no domínio universitário. É assim que Gabriela

Funk, a partir de um inquérito realizado junto dos alunos dos Cursos de Línguas e

Literaturas Modernas da Universidade dos Açores, com o objectivo de identificar a

função sintáctica desempenhada por vários tipos de sintagmas nominais, confirmou

vários usos equívocos que, segundo a autora, decorreriam em grande parte da base dos

conhecimentos adquiridos pelos alunos na escola, apontando, entre outros factores,

como principal causa para os obstáculos manifestados, a diminuição do espaço da

gramática na aula de Português, em benefício da didáctica de obras literárias (Funk,

2000). Na bibliografia existente, distingue-se também a investigação conduzida por

Maria Joana Vieira dos Santos (1999), "A confissão oral como forma de argumentação

escrita – algumas estruturas recorrentes em textos de alunos do Ensino Superior", que

aponta, na análise de produções de estudantes do Ensino Superior, uma dificuldade na

adequação dos enunciados às circunstâncias comunicativas.

2. Constituição do corpus

A investigação desenvolvida consistiu na recolha e na análise de materiais

linguísticos que revelassem as tendências evolutivas manifestas nos usos linguísticos

dos falantes envolvidos no estudo, bem como as dificuldades recorrentes no âmbito do

seu desempenho linguístico em contexto escolar, permitindo a descrição da variedade

lexical e da utilização de determinadas estruturas linguísticas. 2 Um outro exemplo de investigação, esta situada no âmbito da psicolínguística cognitiva, baseada num corpus de produção escrita em contexto escolar é a do estudo de Edite da Conceição Fernandes Prada acerca das produções adversativas em 242 textos de jovens falantes do Português Europeu, apresentado no XVI Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística. Vide Prada, 2001.

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Enquanto linguistas, é nosso principal intuito descrever e explicar os fenómenos

linguísticos no âmbito do seu processo evolutivo, acreditando que, em muitos casos,

“uma opinião fundamentada no estudo do sistema linguístico pode ajudar uma

comunidade a tender para a fixação (sempre provisória, é claro) de uma ou outra

norma.” (Peres e Móia, 2003). Com esta análise, pretendia-se, pois, colher uma amostra

que ilustrasse o estado actual da Língua Portuguesa e, inerentemente, evidenciasse

mudanças linguísticas em curso no nosso idioma.

Para tanto, recolhemos um corpus de 63 textos produzidos por alunos do 1º ano

do Instituto Superior da Maia, numa faixa etária situada entre os 18 e os 23 anos,

através de um dispositivo experimental que visava uma situação de produção na

modalidade da língua escrita. O grupo alvo em análise era constituído por alunos

provenientes de várias regiões do distrito do Porto e oriundos de diferentes áreas de

formação do Ensino Completar. O objectivo da selecção de um grupo de análise de

características tão diversas (incluindo desde alunos de formação profissional a alunos

com formação na área das Humanidades) era precisamente o de colocar em evidência a

transversalidade das alterações, recorrentes mesmo em alunos detentores de diferentes

competências à entrada do Ensino Superior.

Com efeito, a produção escrita, envolvendo, por um lado, a manifestação

concreta do um conjunto de processos linguísticos básicos e, por outro, o domínio da

textualidade, através de operações de coesão e progressão textual, explicita o grau de

consciência que um aluno tem sobre o funcionamento da linguagem, ao impor a

resolução dos problemas que se lhe colocam:

como evocar pela primeira vez um tema, como mantê-lo, lembrá-lo depois

de se terem evocado outros? Como passar de um tema outro ou como

lembrar os vários temas evocados em paralelo?

A resolução destas diversas questões (introdução dos referentes, inter-

relação entre as diversas cadeias anafóricas) depende […] de um certo

número de operações como as relativas à ancoragem textual, a

macroestrutura semântica, à planificação, à textualização. (Figueiredo,

2003: pp. 385-386).

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Para a constituição de um corpus de registos discursivos no âmbito da produção

escrita destes alunos do Ensino Superior, privilegiámos sobretudo a homogeneidade dos

textos recolhidos tanto do ponto de vista da produção como do referencial escolhido.

Acreditámos, com efeito, que um forte controlo sobre a situação de produção textual

poderia evidenciar a estabilização de determinadas alterações, o que seria mais

dificilmente susceptível de apurar em face de estruturas textuais heterogéneas. Esta

opção resultou também da tomada de consciência, entre outros aspectos, do “papel da

variação do funcionamento das unidades linguísticas em função do tipo de texto

produzido” (Figueiredo, 2003: 365). Assim, solicitámos aos alunos que recontassem de

forma resumida um excerto que continha os últimos parágrafos de Memorial do

Convento, de José Saramago, para que pudéssemos constituir um corpus de textos

narrativos que incidissem sobre um mesmo contexto. A escolha do autor prendeu-se

com a consideração da especificidade do seu discurso, cuja ambiguidade, quer ao nível

da articulação das orações, quer da pontuação, quer mesmo do encadeamento dos

protótipos textuais, impunha ao grupo em apreço uma perspectiva mais activa no

processo de gramaticalização do discurso e de narração da história.

No seio da tipologia textual consagrada, o texto narrativo, pelo seu carácter

autónomo e disjunto (Figueiredo, 2003: 274), aqui reforçado pela necessidade de

recontar uma história já enunciada, sobrelevava o apagamento do enunciador, em

benefício da atenção concedida à ordenação do discurso e, mais uma vez, de uma

homogeneidade que dificilmente seria atingida pelo recurso, por exemplo a um texto

argumentativo. Recordemos, a este respeito, que a narração é um discurso marcado pelo

uso da 3ª pessoa; pelo emprego do sistema temporal do imperfeito, do pretérito perfeito,

do mais-que-perfeito e do futuro do passado; organizado processualmente através do

recurso a organizadores textuais temporais; e concatenado por uma sequencialidade

fundamentalmente tripartida: situação inicial, complicação e resolução. Deste modo, os

nosso objectivos iniciais passavam por

(i) um propósito alargado, que consistia em registar e quantificar todo o tipo de

alteração linguística estatisticamente mais significativa, mas também, por

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(ii) um propósito específico, que residia em observar o modo como os alunos

organizavam a textualidade, tendo como ponto de partida um tipo de texto que impunha

uma coesão e uma progressão textuais óbvias.

3. Primeiros resultados

Depois de confrontarmos directamente os materiais escritos constituintes do

corpus, ordenámo-los de forma anónima e aleatória e procedemos à sua transcrição para

um suporte digital. Em seguida, efectuámos a leitura e a análise integral das narrativas,

realizando descrições léxico-semânticas, gramaticais e discursivas do corpus em

questão, procurando assinalar as operações linguísticas que, na sequência de um estudo

qualitativo, viriam a ser objecto de um tratamento quantitativo. Note-se, de passagem,

que os limites da utilização das ferramentas informáticas de processamento das línguas

naturais e o carácter dos dados gerados pelos novos métodos, requerendo, é certo, mais

inovações nos métodos analíticos e no tratamento matemático dos dados, não permitem,

ainda, actualmente, prescindir da anotação manual.3

Considerando que este estudo se encontra numa primeira fase de implementação,

os resultados a seguir referidos revestem-se de um carácter não exaustivo. Assim, da

análise prévia do corpus, salientaremos apenas alguns aspectos que considerámos mais

relevantes.

(i) Oscilação no uso da acentuação gráfica

Constituindo a ortografia o plano da língua que, por um lado, enquanto norma da

representação escrita da mesma, mais reflecte os esforços de normalização, e, por outro

lado, se apresenta como o mais susceptível de reajustamentos e o que mais facilmente

incorpora a mudança, prevíamos à partida que nele fossem evidenciados desvios

significativos e constantes. Na realidade, um dos aspectos representados no corpus diz

respeito à supressão ou à oscilação no uso da acentuação gráfica, sintomáticas de uma

3 Vide Correia e Lemos, 2005: 20.

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prevalência do critério fonético e de uma tendência para a simplificação da grafia, a que

não será alheia, como vem sendo apontado em alguns estudos (Padrão, 2001), a

generalização das trocas de enunciados no âmbito da comunicação electrónica

(comunicação mediada por computador ou via telemóvel), a qual, implicando a rapidez

da escrita e recorrendo a teclados normalmente pobres em diacríticos, favoreceria todas

as formas de simplificação gráfica.

Assim, encontramos no corpus numerosos registos quer de supressão de

acentuação gráfica, quer de oscilação no uso da acentuação, manifesta, por exemplo, na

hesitação entre o uso do acento agudo e do acento grave.

(ii) Problemas no uso de palavras homófonas

A homofonia, enquanto manifestação da relação semântica e lexical estabelecida

ente duas unidades lexicais que possuem a mesma forma fonética mas significados

diferentes, evidencia, face à ocorrência de confusões entre lexemas homófonos,

sobremaneira, um menor domínio da dimensão escrita da língua e a prevalência do

critério fonético na grafia dos lexemas, já acima apontada. É de considerar que para essa

confusão contribuirá eventualmente também uma menor consciência de que não existe

uma relação biunívoca na correspondência entre fonemas e grafemas, e,

consequentemente, de que um mesmo som da fala pode ser representado por diferentes

grafemas. Ora, este tipo de equívoco é facilmente superado pelo falante escolarizado,

mediante a contextualização das unidades lexicais, sobretudo quando se trata de

unidades pertencentes à mesma categorização morfológica. Não é, porém o que ocorre

nos seguintes exemplos, onde se observa uma sistemática substituição da forma do

verbo haver, na terceira pessoa do singular, no presente do indicativo pelas formas “á” e

“à”, uma e outras enquanto representações gráficas do fonema /a/:

(7) Blimunda procurava o seu marido já á nove anos, procurava-o por todo o país, á

tanto tempo que já tinha perdido a noção do tempo e do espaço.

(14) Não comia à quase vinte e quatro horas.

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(17) Blimunda procurava já à nove anos Baltazar.

(20) Até que o encontrou na sétima vez que passava por Lisboa, quase sem comer, à um

dia.

(30) A história narrada fala-nos de Blimunda, mulher de Baltasar, que andava à

procura do seu marido que tinha desaparecido à nove anos, deu voltas e voltas a

Portugal para o encontrar sempre a pé, até as solas dos seus pés se tornou espessa

como cortiça.

(33) Ela não comia à quase vinte e quatro horas, trazia comida consigo mas não

conseguia comer.

(34) Conta a história de uma mulher que percorre à nove anos Portugal com o intuito

de encontrar seu marido.

(35) No meio das fogueiras e do fumo negro reconheceu o homem que à tanto

procurava e com tanta persistência no meio dos restantes supliciados.

(51) A história narrada neste texto narrativo conta-nos a viagem de uma mulher,

Blimunda, na busca do seu homem. Começa com a caminhada, fala-nos que a viagem à

muito se iniciara e que se extendera a todo o Portugal.

(52) Blimunda é uma solitária viajante que percorre desde á muitos anos o nosso país.

(54) Com essa pessoa pergunta se encontrou o seu homem entretanto é-lhe dito que não

e então Blimunda volta á sua procura, até que finalmente encontra o seu homem,

Baltazar Sete-Sóis, que já repetia o seu caminho á vinte e oito anos e não comia á vinte

e quatro horas. Blimunda e Baltasar encontram-se e ficam juntos.

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(59) Não comia à mais de um dia e apesar de ter algum alimento sempre que o ia levar

a boca lembrava-se que o pior ainda podia estar para chegar e desistia da ideia.

Este desvio, que, além de demonstrar uma oscilação manifesta no uso do acento

gráfico, patenteia a troca de duas categorias morfológicas distintas, uma de natureza

preposicional e outra de natureza verbal, pode levar-nos a interrogar sobre as

competências adquiridas por estes falantes na categorização e segmentação morfológica

das duas unidades lexicais em questão. Mesmo se este tipo de erro implica alguma

analogia com outros empregos da mesma preposição em associação com marcadores

temporais (“Chegou a Lisboa à noite”), parece-nos que os problemas de ortografia

relacionados com formas homófonas e, mais amplamente, com o uso de formas gráficas

não apropriadas para a representação de um mesmo fonema, poderão vir a ser mais

expressivas numa próxima fase de análise do corpus, uma vez que é esse o processo

presente em formas como

(51) fala-nos que a viagem à muito se iniciara e que se extendera a todo o Portugal.

ou

(25) Com esta procura, descubriu como Portugal é pequeno.

A mesma reflexão poderá trazer resultados de carácter mais abrangente se

considerarmos uma análise da precária distinção entre o código oral e o código escrito,

de que resulta, entre outros aspectos, problemas gerais relativos à acentuação e à

pontuação.

(iii) Aspectos referentes ao uso de construções relativas

O corpus em análise confirma uma tendência já registada em outros estudos como

reveladora de uma mudança linguística em curso manifesta nas produções da

generalidade dos falantes, inclusivamente bastante escolarizados. Referimo-nos à

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formação de relativas cujo sintagma preposicional em posição inicial foi suprimido, no

que se designa de estratégia cortadora na construção da relativa (Mateus et al., 2003:

667). Se é certo que este abandono da preposição na posição de base admite diferentes

graus de admissibilidade (Peres e Móia, 2003: 288, 289), sobretudo se considerarmos a

sua generalização no discurso publicitário e na comunicação social, por exemplo no que

concerne à regência do verbo gostar, enunciados há em que a agramaticalidade é

evidente, como resulta claro dos seguintes exemplo:

(38) Lisboa foi um dos locais que Blemunda passou cerca de sete vezes, ela ja

reconhecia as ruas, os cheiros da cidade,

(41) A história narrada neste texto inicia-se com o tempo que Blimunda

procurava por Baltasar.

Em ambos os exemplos, verifica-se que a supressão da preposição retira ao

constituinte relativo o seu carácter adverbial e, por inerência, qualquer função sintáctica

no interior da oração.

Outro fenómeno observado alerta-nos para a necessidade de considerar aspectos

contextuais na descrição semântica dos conectores (Trigo, 1994: 267,8), evidenciando o

modo como a mudança invade categorias morfológicas menos permeáveis. Assim,

mesmo se a descrição das estruturas argumentativas aponta para uma relativa

homogeneidade na sua categorização semântica, “não seria de modo algum de descurar

a descrição de tipos de uso distintos na sua variação “linguístico-discursiva”” (Trigo,

1994: 268). Com efeito, nos enunciados analisados, encontrámos uma ocorrência do

constituinte relativo onde com um cambiante de sentido que não se encontra legitimado

pela norma linguística. Referimo-nos ao uso que a seguir se encontra exemplificado, no

qual esse constituinte relativo não assume um valor propriamente locativo:

(15) Esta parte da obra de José Saramago “Memorial do Convento” centra-se na

parte em que Blimunda procurava Baltasar que já havia desaparecido há bastante

tempo, retratando bem o seu desespero e cansaço, onde tudo lhe parecia tão estranho e

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tão familiar, o texto refere-se pois à fase final da sua longa procura, até que por fim,

ela, chegada a Lisboa encontra Baltasar numa fogueira da inquisição, que mesmo sem

“sem vontade” não subia às estrelas permanecendo com Blimunda.

Recorde-se que o pronome relativo onde está com efeito associado a um valor de

locativo, mesmo se este não implica necessariamente a dimensão de espaço físico (Peres

e Móia, 2003: 302). Sobrelevando o modo como a língua diverge dos usos

espontaneamente criados pelos falantes, no caso citado, o constituinte relativo,

originalmente adjunto adverbial de carácter locativo, equivaleria a um uso dos

pronomes que ou o qual precedidos de um constituinte preposicionado, que confeririam

a essa expressão um sentido globalmente consecutivo ou causal. A gramaticalidade

poderia, assim, ser restabelecida através de uma estrutura como:

retratando bem o seu desespero e cansaço, [no âmbito dos quais /do que, na

sequência dos quais / do que, por causa dos quais / do que, de maneira que] tudo lhe

parecia tão estranho e tão familiar,

Um processo em certa medida análogo, mas num contexto sintáctico diverso,

ocorreu na evolução de donde, pela extensão semântica sofrida pela passagem do

sentido de “de que lugar” para o sentido “do que se conclui que”.

Note-se, porém, que aquela estratégia de relativização confere ao constituinte

relativo, além da propriedade de estabelecer um nexo anafórico, a capacidade de iniciar

uma oração com características próximas das que configuram as orações subordinadas

adverbiais consecutivas, concretamente o facto de não ser uma oração deslocável, não

podendo ser anteposta, dada a estreita relação que onde estabelece com o seu

antecedente.

(iv) Aspectos referentes ao uso da anáfora nominal

Extravasando a construção de predicações e levantando uma questão relativa à

semântica frásica e à linguística textual, o aspecto da coesão é, entre outros, pertinente

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na análise de processos de empobrecimento lexical e no estudo de problemas referentes

à construção de textos.

A definição de narração enquanto tipo de texto em que uma instância narradora

relata acções sofridas ou desencadeadas por personagens colocadas sob determinadas

referências espácio-temporais, implica desde logo que, ao longo do texto, aqueles

actantes sejam objecto de várias retomas anafóricas. Se, no texto narrativo, as acções e

os actantes são, nos diferentes momentos da organização textual, diversas vezes

retomados, é de prever a incidência da anáfora, sob a forma de anáfora fiel, sobretudo

através da definitivização dos elementos referidos e da repetição, enquanto substitutos

que conferem redundância ao discurso, mas também sob a forma de nominalização:

(23) Este texto narrativo, narra a história da constante procura de Baltasar Sete-

Sóis, feita por Blimunda. Esta mulher procurou Baltasar durante nove anos,

caminhando por todo o Portugal e por vezes por Espanha.

Não deixa, no entanto de surpreender nos enunciados que constituem o corpus

examinado o recurso à repetição enquanto forma de anáfora mais recorrente, sobretudo

se considerarmos o carácter sucinto da micronarrativa produzida. É assim que

encontrámos, não raras vezes, o nome da protagonista e do objecto da sua busca

reiterados múltiplas vezes, inclusive na mesma frase e no mesmo parágrafo:

(4) A historia narrada fala de uma personagem de seu nome Blimunda que

procurou um homem muitos anos em Portugal. Blimunda passava em vários sítios e

perguntava às pessoas se conheciam o homem que ela procurava, até que em S.

Domingos, havia a queima, onde as pessoas eram colocadas. Blimunda dirigiu-se ao

homem que ela procurava e disse-lhe para ir com ela. E assim acabou por ficar com

Blimunda e não morreu.

(7) Blimunda procurava o seu marido já á nove anos, procurava-o por todo o

país, á tanto tempo que já tinha perdido a noção do tempo e do espaço. Descalça

percorreu o pais inteiro e descobriu como este era pequeno, de vez enquando reparava

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que já tinha passado por ali, e encontrava caras conhecidas, que lhe perguntavam se já

tinha encontrado o seu marido. Um dia depara-se com uma multidão onde onze homens

estão a ser queimados no auto de fé, Blimunda repara que um deles não tem a mão

esquerda, tinha encontrado o seu marido.

(27) Neste texto narrativo é-nos narrada a história de Blimunda Sete-Luas que

corre mundos e fundo para reencontrar o seu amado Baltasar Sete-Sóis. Até o

encontrar, Blimunda passa várias dificuldades desde subir e descer ruas descalça, a

passar fome, a passar por sítios que já havia passado na esperança de o encontrar. Já

por fim Blimunda passa por um auto-de-fé e é aí que o reencontra, quando esta prestes

a ser queimado.

(41) A história narrada neste texto narrativo, conta-nos nove anos de vida de

uma personagem chamada Blimunda. Blimunda passava os seus dias em longas

caminhadas de espera e procura do seu homem, Baltazar Sete-Sois.

Blimunda percorre Portugal inteiro e arredores, chegando a pisar Espanha e

passando até varias vezes por locais percorridos.

De salientar, contudo, que o modo de substituição anafórica com mais expressão

no corpus é o da retoma implícita através de um sujeito subentendido tanto na forma

verbal como nos adjuntos nominais que concordam em género e número com o sujeito:

(2) Blimunda procurou o seu homem durante nove anos. Percorreu Portugal de

norte a sul, de este a oeste, perdida no espaço. Reconhecendo sitios e pessoas por onde

passara.

Há setima vez que encontrou Lisboa, já desfalecida de fome e de cansaço,

repetia o seu trajecto habitual, deparou-se com uma multidão em S. Domingos e

decidiu ir ver. Onze pessoas eram executadas nas fogueiras, umas delas o seu homem.

Pediu a sua alma, pois a ela lhe pertencia.

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Esperaríamos à partida que os textos produzidos por alunos de um nível de

ensino superior apresentassem um maior grau de coesão textual. Acreditávamos, por

exemplo, que o emprego do sistema anafórico fosse mais diversificado e que o recurso à

anáfora pronominal e às nominalizações fossem mais usuais. Não deixa, pois, este

resultado de contribuir para evidenciar a tendência para o empobrecimento lexical dos

falantes, mesmo os detentores de níveis mais elevados de escolarização.

Perspectivas

Um dos objectivos da primeira fase deste estudo consistia em testar o próprio

processo de produção e de recolha dos materiais constituintes do corpus, para assegurar

que a metodologia e os resultados permitiam comprovar determinados fenómenos

evolutivos da língua. É nossa intenção, numa próxima fase, quantificar estatisticamente

as mudanças relevadas e alargar o corpus em análise, através de um levantamento mais

abrangente que inclua outras instituições de Ensino Superior. Prevemos igualmente, na

sequência deste projecto de investigação, testar de novo as competências linguísticas

dos falantes à saída do 1º ciclo do Ensino Superior, a fim de verificarmos até que ponto

a aquisição de conhecimentos no âmbito de uma cultura eminentemente escrita como é,

ainda, a universitária permitiu estabilizar ou, pelo contrário, anular alguns dos desvios

detectados.

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