Domingo, 5 de setembro de 1976.

Mudança climática,a ameaça ao futuro

JAMES P. STERBAdo “New York Times”

ALBUQUERQUE Novo México – Deveria ter sido apenas um ligeiro batepapo Nelson Bunker Hunt é um homem ocupado. Mas o homem de Dallas que émiliardário, ficou tão intrigado como que Iben Browning tinha a dizer sobremudanças climáticas que passou o dia todo ouvindo “As ramificações do que elediz são eletrizantes”, disse Hunt. “Eu nunca liguei para o clima, mas agora pensonisto o tempo todo”.

Muitas outras pessoas estão fazendo o mesmo. O tempo parece terenlouquecido ultimamente. As quadras de tênis de Wimbledon, na Inglaterra, nãoestiveram tão ressequidas desde os anos 20. O mesmo acontece com as terrascultiváveis no norte da França, na União Soviética, nos Estados norte-americanosde Minnesota e das Dakotas do Norte e do Sul. O clima está tão seco, que moitase matagais cerrados começaram a pegar fogo com várias semanas deantecedência na Califórnia, e a água está sendo racionada.

Como resultado disso, Browning e outros climatologistas anteriormenteignorados estão sendo alvo de grande atenção. Projeções climáticas feitas poreles anos atrás parecem estar se tornando realidade.

Eles acreditam que o clima da Terra entrou em um ciclo de resfriamento, oque significa um tempo bastante excêntrico ainda para várias décadas. E isto, elesdizem, tem profundas implicações – a maior parte delas ruim – para a produçãomundial de alimentos, a estabilidade econômica e a ordem social com apopulação do mundo tão numerosa quanto agora, as conseqüências de mudançasclimáticas de ano para ano, mesmo que sejam pequenas, poderiam sercatastróficas, segundo explicam.

CIENTISTAS CÉTICOS

Alguns cientistas acham que tudo isto é bobagem, principalmente porqueos climatologistas não podem oferecer nenhuma prova científica em que possambasear suas teorias. Eles perguntam como – se os meteorologistas, utilizandocomputadores sofisticados, podem prever o tempo com apenas um ou dois diasde antecedência – os climatologistas podem fazer projeções climáticas anos antesdas manifestações ocorrerem?

“É interessante,” disse um cientista cético, “Mas alguns de seus trabalhosparecem saídos diretamente da terra da fantasia".

Entretanto, grandes investidores e analistas da Inteligência estão prestandomuita atenção aos climatologistas. Em um relatório tornado público em maio, aCentral lntelligence Agency (CIA) disse que muitos governos tentaram esconderquedas na produção agrícola e calamidades econômicas causadas por recentesmudanças climáticas. O relatório recomendou que fossem feitos esforços para acoleta de informações para que se possam avaliar os efeitos dessas mudanças naestabilidade mundial futura.

Empresários agrícolas, que necessitam de projeções climáticas de longoprazo para poderem fazer investimentos também a longo prazo, estão seinteressando agora pelo que homens como Browning têm a dizer.

Ao contrário da maioria dos cientistas, que se especializam cada vez mais,Iben Browning, de 58 anos de idade, é um homem eclético. Ele trabalhou nodesenvolvimento da bomba atômica. Ele é um hábil inventor, dono já de 65patentes. É graduado em Física, Matemática e Zoologia, e trabalhou comoanalista de sistemas de armas em muitos projetos secretos do governo norte-americano nos Laboratórios Sandia de Albuquerque

FALSA SEGURANÇA

As pessoas sentem-se aliviadas por um falso senso de segurança aoacharem que o clima nos últimos 50anos foi normal, aponta Browning. Naverdade, diz, a maior parte deste período foi excepcionalmente quente e estável.

“Não esteve tão ‘normal’ quanto nos últimos 50 anos desde e ano 1200, ea minha definição de ‘normal’ não e algo que acontece em 50 anos de cada 800,”disse, “Para mim, ‘normal’ e um clima simplesmente terrível. E o que estáocorrendo agora é que estamos voltando para este tipo de clima ‘normal’.”

Sustentando que e impacto de tais tendências é imenso, ele explica:“durante os tempos de clima estável, os projetistas tendem a tomar conta daTerra. Eles podem contar com temperaturas previsíveis e bons campos de plantioano após ano, possibilitando-lhes planejar programas de bem-estar, guerras, ouseja lá o que for. Tempos instáveis são tempos difíceis. Você pode vê-los atravésda História. As normas se modificam. As pessoas que detêm os alimentos tendema guardá-los para si próprias. Os outros se tornam refratários aos compromissospois seus filhos estão passando fome. Atualmente, nós estamos entrando numdesses períodos difíceis”.

O especialista Browning usa tudo, desde informações do programaespacial até relatórios franceses de vinicultura do século XVIII, para chegar asuas teorias. Ele também vai muito além de outros climatologistas na sugestão de

causas, no estabelecimento de “ligações” entre o clima e a História, e na projeçãode efeitos. Os outros relacionam a atividade solar e vulcânica às mudançasclimáticas Browning faz isto, mas também vai muito além.

Sua teoria básica é que as mudanças no clima têm origem em causasfísicas, as quais incluem os deslocamentos gravitacionais de planetas orbitantescomo Júpiter tanto quanto incluem a atividade solar. A mecânica orbital afeta aforça das marés, que, por sua vez, afetam as pressões na crosta mais fina daTerra. Isto faz com que ocorram terremotos e erupções vulcânicas. Os vulcõesexpelem grandes quantidades de poeira e gases na atmosfera, bloqueando a luzdo Sol.

Por exemplo, ele explica, houve marés altas e atividade solar baixa noinício da década de 1780. Em 1783, dois grandes vulcões explodiram na Islândiae no Japão.

No ano seguinte, nevou na Cidade de México, causando prejuízos àscolheitas e fome, de acordo com Browning. O estudo de camadas de árvores e derelatórios de vinicultura documentam o clima excêntrico que assolou a Europapor vários anos seguidos. Houve chuva de granizo num verão na França. Osalimentos se tornaram escassos. Em 1789, depois de alguém ter dito, "Quecomam bolos," a Revolução Francesa começou.

DÚVIDAS NAS PROJEÇÕES

A História está repleta de exemplos similares, diz Browning. Os Mongóis,a cada vez que suas terras na Ásia Central eram atingidas pela seca, tomavamrumo sul, em direção à China. Uma mudança climática resultou em uma estiagemem Lincoln County, no Estado do Novo México, dando início, tanto a umaguerra de limites, quanto à carreira do pistoleiro Billy the Kid.

Mas os executivos de companhias de alimentos, os corretores decommodities (bens e serviços agrícolas), os fabricantes de equipamentosagrícolas, e outros, não pagam ao Dr. Browning 1.500 dólares por dia para queele fique conjecturando sobre a história. Eles querem saber o que vai acontecer, eos relatórios feitos por Browning nos últimos anos são bons e suficientes paralhes garantir a atenção, eles dizem. Isto é especialmente verdadeiro desde quemuitos deles acreditam que as projeções de safras do Departamento deAgricultura I dos Estados Unidos estão politicamente contaminadas.

“Os relatórios do Departamento de Agricultura relativos aos últimos anossão meio ‘ridículos’,” diz Roger W. Spencer, um vice-presidente e analista decommodities da firma de corretagem Mitchell, Hutchins and Company. Suacompanhia envia Browning regularmente em viagens através do país para falaraos seus clientes sobre clima.

“O Dr. Browning é de grande utilidade para mim em projeções a longoprazo”, disse Spencer. “Porque deveria algum burocrata que faz as estimativas dogoverno tentar ser herói? Ele apenas tira alguma coisa de algum bonito mapaclimático que não lhe causará problemas. As estimativas do Dr. Browning memantêm seguro das conseqüências de ter que confiar nas incríveis estimativasgovernamentais”.

Uma coisa que sempre se pergunta aos climatologistas é que tipo de climaestá reservado para a União Soviética, o mais novo comprador em larga escala degrãos norte-americanos. Browning prevê más notícias.

O que ocorre, explica, é que em períodos de resfriamento – como o queestá acontecendo agora – a linha média de bom clima e condições favoráveis decrescimento agrícola no Hemisfério Norte se transportam em direção ao Sul. Ocinturão de grãos soviético já se situa na parte Sul daquele país. Assim, quando oclima bom se transporta rumo Sul, ele se transporta para fora da União Soviética.

A situação dos Estados Unidos é bem melhor, segundo crê Browning. Aocontrário da União Soviética, ou de qualquer outro país, a linha média de climabom se desloca através do centro do país. Se os Estados do Norte se tornaremmais frios e secos – como ele acredita que se tomarão – ainda há muita terra noSul que poderá proporcionar colheitas abundantes.

Mas as correntes mudanças climáticas provavelmente causarão sériasrupturas regionais, sentencia Browning.

“Os atritos regionais irão aumentar enormemente”, diz ele “As pessoas deEstados produtores de matérias-primas como alimentos, fibras e combustíveisnão continuarão sendo ‘gente pequena’, como elas costumavam ser quando aspessoas das cidades detinham todo o poder”. Elas têm força própria agora, evêem grandes perspectivas de mercado no resto do mundo.

Abaixo, segue o original, em duas partes: