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O MINISTÉRIO PÚBLICO E AS QUESTÕES DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO 1 Elvécio Moura dos Santos 2 Maria Aparecida Gugel 3 1 - O MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO E AS SUAS FUNÇÕES INSTITUCIONAIS De acordo com o art. 127 da Constituição da República , o Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Ainda conforme a Carta Magna, são funções institucionais do Ministério Público, dentre outras, promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (art. 129, III, da Constituição da República ). A seu turno, a Lei Orgânica do Ministério Público da União (LC nº 75, de 20/05/93), no art. 6º, inciso VII, alíneas “c” e “d”, ao tratar da competência do parquet, atribui-lhe a defesa dos interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos, dentre outros, assegurando-lhe, como instrumento de atuação, o inquérito civil e a ação civil pública. Especificamente, no caso do Ministério Público do Trabalho, referida Lei Complementar , em seus artigos 83, inciso III, e 84, inciso II, assegura competir a este ramo do parquet, o ajuizamento da ação civil pública no âmbito da Justiça do Trabalho, para a defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos, podendo, ainda, instaurar inquérito civil e outros procedimentos administrativos, sempre que cabíveis para assegurar a observância dos direitos sociais constitucionalmente garantidos aos trabalhadores. Referidos direitos sociais estão enumerados, em sua maioria, no art. 7º da Carta Magna, ao longo de seus trinta e quatro incisos, dentre eles, a redução dos riscos 1 - Palestra proferida no “IV CONGESSSO NACIONAL SOBRE CONDIÇÕES E MEIO AMBIENTE DO TRABALHO NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO” e no “II SEMINÁRIO SOBRE CONDIÇÕES E MEIO AMBIENTE DO TRABALHO NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO NOS PAÍSES DO MERCOSUL”, realizado pela FUNDACENTRO em Goiânia – GO, no período de 24 a 27/04/2001. 2 - Procurador do Trabalho da Procuradoria Regional do Trabalho da 18ª Região. Professor de Direito Processual do Trabalho da Universidade Católica de Goiás, da Escola Superior de Advocacia de Goiás – ESAG e do Curso de Pós-Graduação da Universidade Salgado de Oliveira - UNIVERSO. Coordenador do Núcleo Estadual da Escola Superior do Ministério Público da União em Goiás. Especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Federal de Goiás. Membro do Instituto Goiano de Direito do Trabalho. 3 - Subprocuradora-Geral do Trabalho, Coordenadora da Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público do Trabalho e Presidente da Comissão de Saúde e Segurança no Trabalho. Representante do Ministério Público do Trabalho junto à Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalho, do Conselho Nacional de Saúde. Especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Faculdade de Direito de Curitiba/PR.

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  • O MINISTRIO PBLICO E AS QUESTES DE SEGURANA E SADE NO TRABALHO1

    Elvcio Moura dos Santos 2 Maria Aparecida Gugel 3

    1 - O MINISTRIO PBLICO DO TRABALHO E AS SUAS FUNES INSTITUCIONAIS

    De acordo com o art. 127 da Constituio da Repblica, o Ministrio Pblico instituio permanente, essencial funo jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurdica, do regime democrtico e dos interesses sociais e individuais indisponveis.

    Ainda conforme a Carta Magna, so funes institucionais do Ministrio Pblico, dentre outras, promover o inqurito civil e a ao civil pblica, para a proteo do patrimnio pblico e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (art. 129, III, da Constituio da Repblica).

    A seu turno, a Lei Orgnica do Ministrio Pblico da Unio (LC n 75, de 20/05/93), no art. 6, inciso VII, alneas c e d, ao tratar da competncia do parquet, atribui-lhe a defesa dos interesses individuais indisponveis, homogneos, sociais, difusos e coletivos, dentre outros, assegurando-lhe, como instrumento de atuao, o inqurito civil e a ao civil pblica.

    Especificamente, no caso do Ministrio Pblico do Trabalho, referida Lei Complementar, em seus artigos 83, inciso III, e 84, inciso II, assegura competir a este ramo do parquet, o ajuizamento da ao civil pblica no mbito da Justia do Trabalho, para a defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos, podendo, ainda, instaurar inqurito civil e outros procedimentos administrativos, sempre que cabveis para assegurar a observncia dos direitos sociais constitucionalmente garantidos aos trabalhadores.

    Referidos direitos sociais esto enumerados, em sua maioria, no art. 7 da Carta Magna, ao longo de seus trinta e quatro incisos, dentre eles, a reduo dos riscos

    1 - Palestra proferida no IV CONGESSSO NACIONAL SOBRE CONDIES E MEIO AMBIENTE DO TRABALHO NA INDSTRIA DA CONSTRUO e no II SEMINRIO SOBRE CONDIES E MEIO AMBIENTE DO TRABALHO NA INDSTRIA DA CONSTRUO NOS PASES DO MERCOSUL, realizado pela FUNDACENTRO em Goinia GO, no perodo de 24 a 27/04/2001. 2 - Procurador do Trabalho da Procuradoria Regional do Trabalho da 18 Regio. Professor de Direito Processual do Trabalho da Universidade Catlica de Gois, da Escola Superior de Advocacia de Gois ESAG e do Curso de Ps-Graduao da Universidade Salgado de Oliveira - UNIVERSO. Coordenador do Ncleo Estadual da Escola Superior do Ministrio Pblico da Unio em Gois. Especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Federal de Gois. Membro do Instituto Goiano de Direito do Trabalho. 3 - Subprocuradora-Geral do Trabalho, Coordenadora da Cmara de Coordenao e Reviso do Ministrio Pblico do Trabalho e Presidente da Comisso de Sade e Segurana no Trabalho. Representante do Ministrio Pblico do Trabalho junto Comisso Intersetorial de Sade do Trabalho, do Conselho Nacional de Sade. Especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Faculdade de Direito de Curitiba/PR.

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    inerentes ao trabalho, por meio de normas de segurana, higiene e sade (inciso XXII), adicional de remunerao para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei (inciso XXIII) e seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenizao a que este est obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa (inciso XXVIII).

    A seu turno, a Consolidao das Leis do Trabalho impe a observncia, em todos os locais de trabalho, das normas de segurana e sade no trabalho, quer estejam previstas em cdigos de obras ou regulamentos sanitrios dos Estados ou Municpios em que se situem os respectivos estabelecimentos, quer sejam oriundas de convenes coletivas de trabalho (art. 154).

    Ao Ministrio do Trabalho e Emprego cabe a regulamentao da matria inerente segurana e sade no trabalho, o que feito por meio das conhecidas Normas Regulamentadoras (NRs), aprovadas pela Portaria n 3.214, de 08/06/78.

    2 DOS INTERESSES E DIREITOS TUTELADOS PELO MINISTRIO PBLICO

    Os interesses e direitos tutelados pelo Ministrio Pblico so de trs ordens, a saber: difusos, coletivos e individuais homogneos.

    Tais direitos e interesses esto conceituados no Cdigo de Defesa do Consumidor (art. 81, pargrafo nico, da Lei n 8.078/90), a saber:

    2.1 - interesses ou direitos difusos, so aqueles de natureza transindividual, de natureza indivisvel, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstncias de fato. guisa de exemplo, temos, a falta de concurso pblico na contratao de empregados pela Administrao Pblica, bem como a discriminao imposta pelo empregador no ato da contratao de empregados, ou durante a relao de emprego em razo do sexo, origem, raa, cor, estado civil, crena, situao familiar ou idade.

    2.2 - interesses ou direitos coletivos, so os transindividuais de natureza indivisvel de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrria por uma relao jurdica base. A ttulo de exemplo, podemos citar a falta de segurana no meio ambiente de trabalho, ou o descumprimento sistemtico de direitos trabalhistas.

    2.3 - interesses ou direitos individuais homogneos, so aqueles que decorrem de uma origem comum relativos a fato ocorrido num determinado tempo. A despeito de serem perfeitamente determinveis os indivduos envolvidos, no so, em sua essncia, direitos individuais, mas subespcie de direitos coletivos, como, por exemplo, a dispensa coletiva de um determinado grupo de trabalhadores.

    3 O MINISTRIO PBLICO DO TRABALHO E A DEFESA DA SADE E DA SEGURANA NO MEIO AMBIENTE DE TRABALHO

    Uma das maiores preocupaes do Ministrio Pblico do Trabalho atualmente com a questo da sade e segurana no meio ambiente de trabalho, pois a

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    verdadeira guerra que est a ceifar milhes de vidas de trabalhadores, no est sendo travada no front armado de nenhuma batalha envolvendo exrcitos convencionais, mas na calada dos postos de trabalho no interior das empresas, nos mais variados segmentos da atividade econmica, quer seja industrial, comercial ou de servios.

    Os nmeros envolvendo baixas de trabalhadores so tpicos de uma verdadeira guerra de dimenses globais, pois segundo dados da Organizao Internacional do Trabalho OIT relativos ao ano de 1999, nada menos que 250 milhes (uma vez e meia a populao brasileira) de acidentes ocorrem anualmente no mundo, causando a morte de cerca de um milho de trabalhadores por ano, aproximadamente 3.000 vtimas fatais por dia, ou seja, 2 mortes por minuto.

    Como se v, um verdadeiro absurdo, constatar que o trabalhador perde a vida justamente no local onde ele vai buscar o sustento para garantir a sobrevivncia sua e da sua famlia.

    Atento a esse quadro e buscando defender o completo estado de bem-estar fsico, social e mental do trabalhador, o Ministrio Pblico do Trabalho tem buscado manter o meio ambiente de trabalho o mais hgido e seguro possvel, adotando todas as providncias necessrias para afastar ou minimizar os riscos sade e integridade fsica dos trabalhadores.

    Na preservao da sade e da segurana no meio ambiente do trabalho, o Ministrio Pblico do Trabalho busca o cumprimento, por parte de empregados e empregadores, das normas que regulamentam essa questo, especialmente quanto s seguintes obrigaes legais, dentre outras:

    a) fornecimento, instruo e efetivo uso dos Equipamentos de Proteo Individual - EPIs (arts. 157, II e 158, I e 166, todos da CLT, e item 6.2, a, da NR-06, aprovada pela Portaria n 3.214/78 do Ministrio do Trabalho);

    b) constituio e funcionamento das Comisses Internas de Preveno de Acidentes CIPAs, compostas de representantes eleitos pelos empregados e indicados pelo empregador, de acordo com o nmero de empregados da empresa ou estabelecimento e com grau de risco (art. 163, CLT e item 5.1, da NR-05, aprovada pela Portaria n 3.214/78 do Ministrio do Trabalho);

    c) constituio e funcionamento dos Servios Especializados em Engenharia de Segurana e em Medicina do Trabalho SESMT, constitudos por Mdicos do Trabalho, Engenheiro de Segurana do Trabalho, Enfermeiro do Trabalho, Tcnico de Segurana do Trabalho e Auxiliar de Enfermagem do Trabalho (art. 162 da CLT e item 4.1, da NR-04, aprovada pela Portaria n 3.214/78 do Ministrio do Trabalho);

    d) existncia e implementao de Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional - PCMSO (art. 168 da CLT e subitem 7.3.1, a, NR-07, aprovada pela Portaria n 3.214/78 do Ministrio do Trabalho);

    e) - existncia e implementao de Programa de Preveno de Riscos Ambientais PPRA e Programa de Condies sobre o Meio Ambiente de Trabalho na Indstria da Construo PCMAT (art. 157, I, CLT; subitem 9.1.1, da NR-09 e subitem

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    18.3.3, da NR-18, aprovadas pela Portaria n 3.214/78 do Ministrio do Trabalho);

    f) - pagamento de adicional para trabalho perigoso ou insalubre (arts. 192 e 193 da CLT e Lei 7.369/85, item 15.2, da NR-15 e item 16.2, da NR-16, aprovadas pela Portaria n 3.214/78 do Ministrio do Trabalho);

    g) - existncia de local apropriado para as refeies dos trabalhadores, instalaes sanitrias adequadas, separadas por sexo, dotados de chuveiros, lavatrios, vestirios e armrios individuais (arts. 157, incisos I e III e 200 inciso VII, ambos da CLT e NR-24, aprovada pela Portaria n 3.214/78 do Ministrio do Trabalho);

    h) fornecimento de gua potvel e de copos descartveis (art. 157, III, CLT e subitens 24.3.1; 24.6.3; 24.1.26; 24.1.2.1 e 24.1.2.12, da NR-24, aprovada pela Portaria n 3.214/78 do Ministrio do Trabalho);

    i) - a existncia de guarda-corpos e de outros equipamentos de proteo coletiva contra quedas ou acidentes nas edificaes (art. 173 da CLT; subitem 8.3.6 da NR-08 e item 18.3 da NR-18, aprovadas pela Portaria n 3.214/78 do Ministrio do Trabalho);

    j) - a existncia de extintores de incndio portteis para combate inicial de fogo (art. 157, I, da CLT e subitem 23.12.1 da NR-23, aprovada pela Portaria n 3.214/78 do Ministrio do Trabalho).

    Diante de qualquer irregularidade no cumprimento das normas de sade e segurana no trabalho, o Ministrio Pblico do Trabalho instaura procedimento preparatrio ou inqurito civil pblico, com o objetivo de fazer com que a empresa infratora ajuste voluntariamente a sua conduta mediante a assinatura de Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta (TCAC). Caso isso no seja possvel, o parquet ajuza ao civil pblica perante a Justia do Trabalho, a fim de fazer cumprir as normas de proteo ao trabalho, sob pena de multa (Lei n 7.347/85, art. 11).

    Outra particularidade na forma de atuar do Ministrio Pblico do Trabalho a orientao que transmite aos interessados atravs de audincias pblicas, palestras, workshops e reunies setoriais. Fomenta, porque percebe o grande potencial da efetivao de interesses, as parcerias com rgos de governo, movimentos sociais (fruns) e sociedade civil organizada, atravs de protocolos e convnios.

    4 INSTRUMENTOS DE ATUAO DO MINISTRIO PBLICO DO TRABALHO

    No exerccio de suas funes institucionais, atuando como rgo agente, o parquet dispe dos seguintes meios e instrumentos necessrios efetividade de sua atuao:

    4.1 Instrumentos de atuao extrajudicial

    Para desincumbir-se extrajudicialmente de suas funes institucionais, o legislador dotou o Ministrio Pblico de poderes para:

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    4.1.1 instaurar inqurito civil pblico com vistas apurao de denncia ou notcia de leso a interesse difuso ou coletivo (art. 129, III, CR; art. 7, I, LC n 75/93);

    4.1.2 instaurar procedimento administrativo investigatrio com base em notcia de leso a interesse difuso ou coletivo (art. 129, IV, CR e arts. 7, I e 84, II, da LC n 75/93);

    4.1.3 - notificar testemunhas e requisitar sua conduo coercitiva, no caso de ausncia injustificada (art. 8, I, LC n 75/93);

    4.1.4 requisitar informaes, exames, percias e documentos necessrios ao desempenho do seu mister, tanto a entidades pblicas, quanto privadas, podendo, inclusive, requisitar o auxlio de fora policial (arts. 7, II e II e 8, II, IV e IX, LC n 75/93);

    4.1.5 - expedir notificaes e intimaes necessrias instruo dos procedimentos e inquritos que instaurar (art. 8, VII, LC 75/93);

    4.1.6 - ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de carter pblico ou relativo a servio de relevncia pblica (art. 8o , VIII, LC 75/93);

    4.1.7 expedir recomendaes visando melhoria dos servios pblicos ou ao respeito dos bens e direitos pblicos tutelados pelo Parquet (art. 6, XX, LC n 75/93).

    4.1.8 realizar audincias, inspees e diligncias investigatrias (art. 8, V, LC n 75/93);

    4.1.9 tomar termos de ajustamento de conduta s exigncias legais (art. 5, 6, da Lei n 7.347/85).

    Nenhuma autoridade poder opor ao Ministrio Pblico informao, registro, dado ou documento requisitado, ressalvada a hiptese de sigilo legalmente assegurado, sendo que a falta injustificada e o retardamento indevido do cumprimento das requisies do parquet implicaro na responsabilidade de quem lhe der causa.

    4.2 Instrumentos de atuao judicial

    Caso seja necessrio acionar a Justia do Trabalho para defender interesse ou direito pblico, difuso, coletivo ou individual homogneo, o Ministrio Pblico do Trabalho pode lanar mo das seguintes medidas judiciais:

    4.2.1 ao civil pblica, com o objetivo de prevenir um dano iminente ou de afastar um ato lesivo, sem objetivar a uma reparao de natureza pecuniria em favor das pessoas lesadas, mas simplesmente no intuito de restaurar a ordem jurdica afrontada (art. 129, III, CR; art. 6, VII, a e art. 83, III, da LC n 75/93 e art. 1, IV, da Lei n 7.347/85);

    4.2.2 ao civil coletiva, visando obteno de uma reparao pelos danos sofridos individualmente pelas pessoas lesadas (art. 83, I, LC n 75/93 e art. 91 da Lei n 8.078/90);

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    4.2.3 ao anulatria de clusula de instrumento coletivo (art. 83, IV, LC n 75/93)

    4.2.4 dissdio coletivo de greve (art. 83, VIII, LC n 75/93; art. 856 da CLT e art. 8 da Lei n 7.783/89).

    4.2.5 ao rescisria nos processos em que deveria intervir como fiscal da lei, ou quando a sentena resultar de coluso entre as partes com o fito de fraudar a lei (art. 487, III, CPC).

    4.2.6 recursos das decises da Justia do Trabalho, quando entender necessrio, tanto nos processos em que for parte, como naqueles em que oficiar como fiscal da lei (art. 83, VI, LC n 75/93).

    5 - RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR E DE SEUS AGENTES NOS ACIDENTES DE TRABALHO

    De acordo com a CLT (art. 157), dever do empregador cumprir e fazer cumprir as normas de segurana e medicina do trabalho; instruir os empregados, atravs de ordens de servio, quanto s precaues a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenas ocupacionais; adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo rgo regional competente e facilitar o exerccio da fiscalizao pela autoridade competente.

    Por sua vez, cabe aos empregados a obrigao de observar as normas de segurana e medicina do trabalho (art. 158, I, CLT), sob pena de serem punidos por essa omisso.

    Conforme visto acima, ao Ministrio Pblico do Trabalho cabe a adoo das medidas necessrias preservao do meio ambiente de trabalho, de forma a mant-lo o mais seguro e hgido possvel, obrigando os empregadores por meio de inqurito civil pblico ou de ao civil pblica a cumprirem e a fazerem cumprir as normas relativas segurana e sade no trabalho, sob pena de multa, alm de embargo e/ou interdio.

    Entretanto, uma vez consumado o sinistro trabalhista, alm da eventual obrigao assumida perante o Ministrio Pblico do Trabalho, do acidente podem desencadear diferentes naturezas de responsabilidades, quais sejam: penal, civil, previdenciria, trabalhista e administrativa.

    5.1 Responsabilidade penal: o empregador ou seus agentes (scios, gerentes, diretores ou administradores que participem da gesto da empresa), podem ser responsabilizados penalmente, na medida em que o acidente de trabalho sofrido pelo empregado se enquadrar como contraveno penal (deixar de cumprir as normas de segurana e sade do trabalho art. 19, 2, da Lei n 8.213/91 e art. 343, do Decreto n 3.048, de 06/05/99), ou outro tipo penal mais grave, como crime de exposio a perigo (art. 132 do Cdigo Penal), crime de leso corporal culposa (art. 129 do Cdigo Penal) ou crime de homicdio culposo (art. 121 do Cdigo Penal), motivados pelo descumprimento das normas de sade e segurana no trabalho.

    A apurao da responsabilidade penal e a punio dos culpados so atribuies do Ministrio Pblico Estadual, que, para tanto, conta com a investigao

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    levada a efeito em inqurito policial. A Autoridade Policial, entretanto, est mais afeita a identificar como crime as ofensas convencionais contra a integridade fsica e a vida das pessoas, razo pela qual preciso atentar para que as investigaes policiais no concluam por apontar a causa do acidente como sendo por culpa exclusiva da vtima. Muitas vezes, no entanto, o sinistro decorre de culpa imputvel ao empregador, por no fornecer os equipamentos de proteo individual necessrios para neutralizar ou afastar o perigo, no instruir como us-los, no adotar as medidas de proteo coletiva, enfim, por no cumprir as normas de segurana e sade no trabalho a que est obrigado.

    5.2 Responsabilidade civil: de acordo com o art. 7, XXVIII, da Constituio de 1988, alm da obrigatoriedade quanto ao seguro contra acidentes de trabalho, o empregador pode ser responsabilizado civilmente a indenizar o empregado que vier a ser acidentado por dolo ou culpa do patro. Antes da vigente Constituio, o empregador somente respondia por reparao civil em caso de acidente de trabalho que decorresse de culpa grave. Hoje no mais se perquire sobre a gradao da culpa, podendo ela ser leve ou levssima. Se imputvel ao empregador a omisso no cumprimento das normas de sade e segurana do trabalho o quanto basta para responsabiliz-lo.

    A ao de reparao de danos decorrentes de acidentes de trabalho pode ser proposta pelo empregado acidentado ou por seus sucessores, cujo pleito formulado perante a Justia do Trabalho (art. 114 da Constituio da Repblica), com base art. 159 do Cdigo Civil, combinado com o art. 7, inciso XXVIII, da Constituio da Repblica. Lembramos que a substituio processual prevista no art. 68 do Cdigo de Processo Penal, em se tratando de aes de reparao de danos decorrentes de acidentes de trabalho (actio civilis ex delicto) no exercida pelo Ministrio Pblico Estadual, e sim pelo Ministrio Pblico do Trabalho, por fora do disposto no art. 793 da CLT, cuja ao, naturalmente, est afeta competncia da Justia do Trabalho, conforme se demonstrar mais adiante.

    5.3 Responsabilidade previdenciria: em caso de acidente motivado por negligncia do empregador quanto ao cumprimento das normas de segurana e higiene do trabalho relativo proteo individual e coletiva, a Previdncia Social propor ao regressiva contra os responsveis, sem prejuzo da responsabilidade civil (Lei n 8.213/91, art. 120). Como se v, a responsabilidade previdenciria constitui-se em mais uma forma de punio do empregador, pois ainda que o empregado ou seus dependentes no queiram pleitear a indenizao civil a que tm direito, a Previdncia Social estar legitimada a buscar na Justia o ressarcimento da quantia que tiver sido obrigada a desembolsar a ttulo de benefcio previdencirio, decorrente de acidente motivado por negligncia do empregador.

    5.4 Responsabilidade trabalhista: considerando que tanto o empregado, quanto o empregador esto obrigados a cumprir as normas relativas segurana e sade no trabalho (artigos 157 e 158 da CLT), ambos podem arcar com responsabilidades decorrentes de sua omisso. Caso seja o empregado que no queira usar os equipamentos e proteo individual, ou seguir as instrues destinadas a evitar acidentes de trabalho, o empregador pode at dispens-lo por justa causa (art. 158, pargrafo nico, CLT).

    Por outro lado, se a omisso for do empregador quanto ao cumprimento das normas relativas segurana e sade no trabalho, o empregado pode pleitear a

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    resciso indireta do contrato de trabalho, com base no art. 483, incisos c, d ou f, da CLT, sob o fundamento de estar correndo perigo manifesto de mal considervel, de no cumprir o empregador as obrigaes do contrato, ou de estar sendo ofendido fisicamente pelo empregador ou seus prepostos, respectivamente. Nesse caso o empregado ter direito de receber todas as parcelas devidas na dispensa sem justa causa, a includo o aviso prvio, o FGTS acrescido da multa de 40%, as frias, o 13 salrio proporcional, etc. Ademais, o empregado que vier a ser vtima de acidente de trabalho, ter garantida, pelo prazo mnimo de doze meses, a manuteno do seu contrato de trabalho na empresa (estabilidade provisria), aps a cessao do auxlio-doena acidentrio, independentemente de percepo de auxlio-acidente ou ser seqelado.

    5.5 Responsabilidade administrativa: a fiscalizao quanto ao cumprimento das normas relativas segurana e sade no trabalho, feita por Auditores Fiscais do Ministrio do Trabalho e Emprego que tm poder polcia no desempenho do seu mister.

    Assim, no exerccio de suas atribuies, os auditores fiscais do trabalho podem impor multas e emitir laudo tcnico de interdio ou de embargo de estabelecimento, setor de servio, mquina ou equipamento, em caso de grave e iminente risco para o trabalhador, indicando as providncias a serem adotadas para preveno de infortnios de trabalho.

    Portanto, o descumprimento das normas de segurana e sade no trabalho por parte do empregador pode acarretar-lhe graves conseqncias de natureza administrativa.

    6 COMPETNCIA DA JUSTIA DO TRABALHO PARA CONHECER DE PEDIDO DE INDENIZAO DECORRENTE DE ACIDENTES DE TRABALHO

    De acordo com o art. 114 da Constituio da Repblica, compete Justia do Trabalho conciliar e julgar os dissdios individuais e coletivos, entre empregados e empregadores e, na forma da lei, outras controvrsias decorrentes da relao de trabalho.

    A seu turno, o art. 109, I e 3, da Constituio da Repblica, dispe que as causas decorrentes de acidente de trabalho ajuizadas em face do rgo de Previdncia Social so processadas e julgadas perante a Justia Estadual, no foro do domiclio dos segurados ou beneficirios, sempre que a comarca no seja sede de Vara do Juzo Federal.

    Fruto de equivocada interpretao desse ltimo dispositivo constitucional, data venia, uma corrente doutrinria passou a defender a tese no sentido de que qualquer causa que tenha por objeto acidente de trabalho, seja da competncia da Justia Comum Estadual.

    Ao dispor, na Smula 15, que compete Justia Estadual processar e julgar os litgios decorrentes de acidente do trabalho o STJ, data venia, alm de no pacificar a questo, apenas agravou a injustificvel celeuma a respeito do tema. De fato, pois em tendo a referida smula sido editada a pretexto de esclarecer a exceo constante do art. 109, 3, CR, no sentido de que as causas acidentrias em que for

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    parte o rgo da Previdncia Social sero processadas e julgadas pela Justia Estadual e no pelos Juzes Federais, omitiu justamente a referncia autarquia previdenciria.

    Na verdade, o que se tem feito uma inescusvel confuso entre ao acidentria e ao trabalhista. Na ao acidentria, demandado o rgo da Previdncia Social, tendo como objeto prestaes por acidente de trabalho, caso em que competente a Justia Comum, conforme dispe o art. 19, inciso II, da Lei n 6.367/76. Na ao trabalhista, a seu turno, o que se busca uma reparao a cargo do empregador, decorrente de acidente de trabalho de que foi vtima o empregado, por dolo ou culpa do patro.

    Assim, se o pleito de indenizao for formulado em face do empregador por dolo ou culpa deste (art. 7, XXVIII, CR), decorrente do descumprimento de normas de segurana e sade no trabalho (art. 157, I, CLT), no h dvida de que a competncia para dele conhecer e julgar ser da Justia do Trabalho, pois essa a regra geral da competncia material trabalhista constante do art. 114, CR (dissdios entre trabalhadores e empregadores), de modo que as excees devem ser tratadas como tais.

    Alis, o Supremo Tribunal Federal j firmou o seu entendimento no sentido de que basta a existncia de dissdio entre o trabalhador e o empregador, decorrente da relao de trabalho, para determinar a competncia da Justia do Trabalho, nada importando que deva ser resolvido com base nas normas do Direito Civil, conforme se pode ver pelo seguinte aresto:

    EMENTA. INDENIZAO POR DANO MORAL - JUSTIA DO TRABALHO - COMPETNCIA

    Ao de reparao de danos decorrentes da imputao caluniosa irrogada ao trabalhador pelo empregador a pretexto de justa causa para a despedida e, assim, decorrente da relao de trabalho, no importando deva a controvrsia ser dirimida luz do Direito Civil. (STF RE 238.737.4 - Ac. 1 T, 17/11/98, Rel. Min. Seplveda Pertence).

    No caso que fundamentou a ementa supra, a Turma conheceu e deu provimento ao recurso extraordinrio para declarar ser da competncia da Justia do Trabalho para julgar o litgio em questo, por tratar-se de dissdio entre empregado e empregador, decorrente da relao de trabalho, o que basta, conforme o art. 114 da Constituio, para firmar a competncia dessa Especializada. No acrdo reformado, o STJ, ao julgar conflito de competncia, havia declarado ser da Justia Comum a competncia para conhecer de pedido de indenizao por danos materiais e morais, resultante de leso pela prtica de ato ilcito, imputada a empregado na constncia da relao de emprego, sob o entendimento de que a causa de pedir e o pedido demarcam a natureza da tutela jurisdicional pretendida, tese que no foi acolhida pelo Supremo Tribunal Federal.

    Especificamente no que se refere a aes relativas preservao do meio ambiente do trabalho, o Supremo Tribunal Federal tambm j se manifestou no sentido de ser da Justia do Trabalho a competncia para delas conhecer e julgar, seno vejamos:

    EMENTA. COMPETNCIA - AO CIVIL PBLICA CONDIES DE TRABALHO

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    Tendo a ao civil pblica como causas de pedir disposies trabalhistas e pedidos voltados preservao do meio ambiente de trabalho e, portanto, aos interesses dos empregados, a competncia para julg-la da Justia do Trabalho. (STF RE 206.220-1 - Ac. 2 T, 16/03/99, Rel. Min. Marco Aurlio).

    Com esse entendimento, a Turma julgou procedente recurso extraordinrio para reformar acrdo do STJ que, ao dirimir conflito negativo de competncia estabelecido entre a Quarta Junta de Conciliao e Julgamento de Juiz de Fora-MG e o Juzo de Direito da Fazenda Pblica, assentara a competncia da Justia Comum para o julgamento de ao civil pblica, vislumbrando tratar-se de verdadeira ao de acidente de trabalho.

    Dos fundamentos desse memorvel acrdo, o Supremo deixou assentado que fosse esta ao de acidente do trabalho, como definida na lei prpria, estaria dirigida no contra os empregadores, mas contra o Instituto de Previdncia Social. E arrematou explicitando que, no caso, no se trata de hiptese enquadrvel nos artigos 643, 2, da CLT e 129 da Lei n 8.213/91, que fixam a competncia da Justia Comum quando o litgio envolve acidente de trabalho em si, mas de ao civil pblica visando preservao do meio ambiente trabalhista, do respeito irrestrito s normas de proteo ao trabalho, pelo que concluiu ser da Justia do Trabalho a competncia para dela conhecer e julgar.

    7 CONCLUSO

    O objetivo das normas de segurana e sade no trabalho o de proteger o trabalhador de danos sua sade, sua integridade fsica e sua prpria vida.

    Entretanto, a despeito de todo esse arcabouo jurdico e organizacional colocado a servio da segurana e sade no trabalho (NRs, CIPA, PCMSO, PPRA, SESMT, etc.), ainda triste a realidade do dia-a-dia no ambiente de trabalho de nossas empresas, pois a falta de conscientizao por parte dos trabalhadores, a falta interesse da parte dos empregadores e a falta sensibilizao da opinio pblica para a gravidade do problema, tm impedido que o nmero de acidentes diminua.

    Alguns fatores podem ser apontados como sendo co-responsveis por esse estado de coisas, por exemplo: o desemprego (o desempregado aceita trabalhar em quaisquer condies, por mais precrias que sejam), o analfabetismo (a falta de instruo impede que o trabalhador tenha a real noo do perigo), a injusta distribuio de renda, a explorao do trabalho infantil, a globalizao (o objetivo maior o lucro), a terceirizao (mascara a responsabilidade e propicia o trabalho de pessoas desqualificadas), etc.

    necessrio despertar a opinio pblica para a dimenso desse problema, pois quando um trabalhador acidentado ou acometido de doena profissional, os prejuzos no se restringem s partes da relao de emprego, mas se estende sociedade como um todo ( uma famlia que perde um ente querido, so os contribuintes que pagam pelo custo do seguro-acidente, o cidado que perde a sua capacidade laborativa, etc.). Ademais, cada um de ns pode vir a ser vtima de acidentes que decorrem de procedimentos inseguros (ou de fabricao, ou de uso inadequado de mquinas e equipamentos), quer estejamos no trabalho, no trnsito, andando na calada ou dentro dos nossos lares.

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    Para que seja criada uma cultura de preveno em matria de sade e segurana no trabalho necessrio que vrias aes sejam planejadas, a fim de que, a mdio e longo prazo, possamos alcanar os resultados esperados.

    Citamos, dentre outras, algumas medidas que podem ser tomadas:

    a) incluso nos currculos escolares, desde a primeira fase, de disciplina inerente segurana e sade no trabalho;

    b) sensibilizao dos dirigentes polticos para a dimenso desse problema, que estrutural;

    c) conscientizao dos empregadores de que os gastos com medidas de SST no significam despesas e sim investimentos;

    d) desenvolvimento de campanhas publicitrias acerca do tema;

    e) criao de fruns permanentes de discusso sobre SST com a participao das entidades representativas de empregados e de empregadores, etc.