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Matéria-Prima Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da FAAT – Faculdades Atibaia Ano 5, nº 10 • Março-Abril de 2010 ÁGUA A mesma água que garante saúde, prazer e bem-estar pode causar prejuízos e até mortes. Veja, nesta edição, benefícios da água, transtornos causados por ela e formas corretas de uso que podem reduzir o caos ambiental. Caxambu, a cidade das fontes Em Bragança Paulista, fontes da cidade socorriam a população na eventual falta de água encanada, ou quando se buscava água boa para beber. Página 10 Para Doutor em Mudanças Climáticas, agricultura familiar, aliada a educação ambiental ajudaria a reverter o processo. Página 8 Comerciantes, como Akira Ichinose, disseram que, por conta das enchentes, fornecedores não conseguiram suprir a demanda. Página 12 Banhistas aproveitam as águas medicinais da cidade de Caxambu, MG. Ao lado, bairro sob as águas no início do ano, em Atibaia

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Matéria Prima é o jornal-laboratório dos acadêmicos da FAAT Faculdades - Atibaia. A edição 10 (2010) discute, entre outros assuntos, a questão da água.

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  • Matria-PrimaJornal-laboratrio do Curso de Jornalismo da FAAT Faculdades Atibaia

    Ano 5, n 10 Maro-Abril de 2010

    GUAA mesma gua que garante sade, prazer e bem-estar pode causar prejuzos e at mortes. Veja, nesta edio, benefcios da gua, transtornos causados por ela e formas corretas de uso que podem reduzir o caos ambiental.

    Caxambu, a cidade das fontes

    Em Bragana Paulista, fontes da cidade socorriam a populao na eventual falta de gua encanada, ou quando se buscava gua boa para beber. Pgina 10

    Para Doutor em Mudanas Climticas, agricultura familiar, aliada a educao ambiental ajudaria a reverter o processo.

    Pgina 8

    Comerciantes, como Akira Ichinose, disseram que, por conta das enchentes, fornecedores no conseguiram suprir a demanda.Pgina 12

    Banhistas aproveitam as guas medicinais da cidade de Caxambu, MG. Ao lado, bairro sob as guas no incio do ano, em Atibaia

  • guamaro-abril de 20102

    Matria-PrimaAno 5, n 10 Maro-Abril de 2010

    Impresso em junho de 2010

    AO LEITOR

    Prezado leitor,

    Na volta das frias tomamos a deciso, em conjunto, de mudar os rumos do nosso jornal-laboratrio e enfocar, alm do Terceiro Setor, temas que retratassem a realidade local, sob o prisma dos acontecimentos mais recorrentes em escala global. A idia original era trabalhar, em profundidade, assuntos que afetam diretamente a comunidade que mora na regio em que produzido o jornal Matria-Prima. Antes que isso ocorresse, nossos alunos-reprteres j estavam a postos fazendo a cobertura do Vestibular da FAAT, que recebeu um nmero recorde de aspirantes em 2010. Mal saiu o resultado do Processo Seletivo e os acadmicos se mobilizaram para fazer uma campanha em solidariedade s vtimas das enchentes, criando uma Gincana

    Solidria, que envolveu centenas de acadmicos e cerrou fileiras contra o tradicional trote, que ainda esse ano vitimou estudantes em vrias partes do pas, como se viu pela TV. Logo depois, foi a vez do presidente do Sindicato dos Jornalistas ser sabatinado pelos futuros jornalistas, respondendo questes relativas obrigatoriedade do diploma, que assustou a alguns no ano passado, mas no passa de uma fantasia de mentes que no querem a democracia no pas. E comeamos a botar a mo na massa.O Matria-Prima inicia o ano discutindo o meio ambiente e a sustentabilidade tentando colocar o tema na ordem do dia. Em razo dos acontecimentos que marcaram a cena jornalstica nos ltimos meses no Brasil e no mundo, decidimos trabalhar o tema gua na primeira edio

    do ano. A partir dessa deciso, nossos reprteres comearam a levantar informaes que se transformariam em pautas e nas respectivas matrias que voc, leitor, poder conferir. O destaque da capa, num grande esforo de reportagem, mostra a riqueza das guas em um dos mais tradicionais balnerios do pas, no sul de Minas Gerais. Alm do texto, h uma galeria de imagens que ilustra a matria, parte das mais de 300 fotografias que voc poder verificar na Internet. Alm da matria principal, mais duas reportagens foram destacadas na capa. Uma delas explica a causa das enchentes que atingiram Atibaia nos ltimos meses e mostra como as aes assistenciais ajudaram os moradores da cidade. A outra uma investigao sobre a origem do consumo da gua mineral engarrafada, recuperando a

    Jornalismo com J maisculo

    EM PAUTA

    Equipe cobre palestra da senadora Marina SilvaMeio Ambiente e Sustentabilidade foi tema de discusso na FAAT

    Marta Alvim

    Cerca de 2 mil pessoas, entre alunos e convidados ouviram a senadora Marina Silva (PV) discorrer sobre o tema Meio Ambiente e Sustentabilidade, no campus Dom Pedro das Faculdades Atibaia (FAAT). Essa visita traduz sua trajetria poltica, que tem sido pautada pela preocupao com o meio ambiente e as aes de desenvolvimento sustentvel. Sua militncia nas questes ambientais e sociais teve incio nos movimentos Eclesiais de Base e dos seringueiros. Nascida em Breu Velho, no Seringal Bagao (Acre) foi alfabetizada aos 16 anos. Com 26 anos formou-se em Histria pela Universidade Federal do Acre. Na poltica ingressou no Partido dos Trabalhadores (PT) em 1985, tornando-se em 1988 a vereadora mais votada de Rio Branco. Na FAAT Marina pontuou sua preocupao com a vida contempornea, marcada pelo egosmo e por aes descartveis

    do seres humanos. Diante disso define-se como mantenedora de utopias, sustentando o sonho de um mundo melhor.Para Marina, tica e sustentabilidade so uma coisa s, razo pela qual conclamou mudanas nos hbitos individuais para reverter os problemas ambientais. A realidade responde na lngua em que perguntada, disse a palestrante, referindo-se

    s mudanas climticas e outros fenmenos naturais que esto ocorrendo no mundo, relacionados com as agresses ao meio ambiente.Para os diretores da FAAT, as palestras que so promovidas regularmente pela instituio tm como objetivo ampliar e agregar conhecimento para os futuros profissionais, ampliando o interesse e participao dos alunos neste tipo de evento.

    Entre outras homenagens, no ano passado Marina recebeu da Fundao Prncipe Albert II de Mnaco, o Prmio sobre Mudana Climtica (Climate Change Award).

    histria das bicas em Bragana Paulista. No fechamento dessa edio, as chuvas voltaram a castigar algumas cidades do pas. Por aqui, manifestamos nossa total solidariedade s vtimas e nosso apoio incondicional Defesa Civil, que tem feito um trabalho exemplar.Esperamos que voc goste dessa edio, preparada com carinho. Se quiser enviar comentrios, sugestes e crticas, por favor, use o endereo [email protected]. Voc pode tambm acompanhar o trabalho da nossa equipe no blog do jornalismo, no endereo www.jornalismofaat.wordpress.com. Essa edio estar no endereo http://www.faat.com.br/materia_prima/links1.htmUm forte abrao e at a prxima edio.

    Os editores

    MArtA AlvIM

    Felipe Oliveira

    A natao um dos esportes mais indicados para o desenvolvimento das crianas, por no apresentar praticamente nenhuma contra indicao alm de favorecer o processo de sociabilizao. Lucas Albuquerque, 6 anos, conta que adora praticar natao. Gosto muito de vir para a academia porque me sinto bem na gua e fao bastantes amigos, diz.Os mdicos indicam a natao para crianas a partir dos 4 meses de vida, principalmente para aquelas que tm doenas respiratrias. A pediatra Ftima Siqueira, que possui consultrio em Bragana Paulista h mais de 20 anos, afirma que a prtica pode auxiliar bastante o desenvolvimento de crianas que possuem algum tipo de doena cerebral que comprometa o sistema motor.Alm do prazer e dos benefcios para sade, o professor Lucas Felipe, que d aulas de natao em uma academia de Bragana Paulista h seis anos, diz que o contato das crianas na piscina ajuda favorece os relacionamentos. As crianas se entendem muito bem na gua. Elas brincam, se divertem e fazem amizades. Isso importante para o desenvolvimento delas como pessoas.Outra vantagem da natao que a gua evita leses comuns em alguns esportes, alm de no exigir contato fsico. O fato de no haver contato fsico evita algumas leses comuns em outros esportes como futebol ou jud. Alm disso, a natao ajuda a desenvolver os msculos do corpo em crianas que esto em desenvolvimento., afirma a pediatra Ftima Siqueira. importante, porm, estar atento qualidade da gua em que as crianas iro fazer a natao. Altas quantidades de cloro podem desenvolver asma e outras alergias ou ainda piorar quadros pulmonares persistentes. O problema que o cloro evaporado da gua, no se dissipando rapidamente, respirado pela criana e pode causar problemas pulmonares, conclui a pediatra.

    Natao:mais queesporte, um remdio

    Jornal-laboratrio do Curso de Comunicao Social, habilitao em Jornalismo, das Faculdades Atibaia FAAT , produzido pelos alunos do Terceiro Ano. Os textos publicados so de responsabilidade dos autores, que os assinam, no refletindo a opinio da Instituio. Professores-orientadores: Elizeu do Nascimento Silva (Mtb 21.072) e Osni Dias (Mtb 21.511).

    Diretores da Mantenedora: Profa. Marilisa Pinheiro de Souza; Profa. rosana Bastos Ferraz; Prof. Hercules Brasil vernalha; Prof. Joo Carlos da Silva; Prof. Jlio Csar ribeiro.Corpo Administrativo: Prof. Saulo Brasil ruas vernalha (Diretor de Normatizao Institucional); Profa. Maria Gorette loureno Nobre (Diretora Administrativo-Financeira); Prof. Gilvan Elias Pereira (Diretor Acadmico); Orivaldo leme Biagi (Coordenador de Captao de Alunos e Pesquisa e Extenso); Hilda Maria Cordeiro Barroso Braga (Coordenadora Geral da Ps-Graduao); victor Frederico Adorno da Costa (Supervisor Acadmico); Angel Henrique rodrigues de Souza (Supervisor de Projetos Institucionais).CUrSO DE COMUNICAO SOCIAl: Coordenador da habilitao em Jornalismo: Prof. Osni tadeu Dias

  • 3guamaro-abril de 2010Aumento do consumo de gua preocupa especialistasEstudos mostram que consumo de gua aumentou nas ltimas dcadas e caminha para fim inevitvel

    Tatiara Torres

    Meu nico desejo um pouco mais de respeito para o mundo, que comeou sem o ser humano e vai terminar sem ele. A frase do antropolgo Claude Levi Strauss, falecido em outubro de 2009, uma denncia clara de como a humanidade vive de forma insustentvel. Segundo cientistas, a curto prazo sero esgotados todos os recursos naturais, entre eles a gua, essencial para a sobrevivncia.Em Atibaia, palavra que em tupi-guarani significa terra de guas tranquilas, agradveis ao paladar, o consumo tambm no respeitado, pois excede o sugerido pela Organizao das Naes Unidas (ONU), fixado em 110 litros de gua dirios por habitante. Em 1995 a cidade tinha uma populao de 93.160 habitantes e o consumo por indivduo girava em torno de 148 litros dirios, segundo Rita de Cssia Barbosa Shiro, gerente de receitas do SAAE. Em 2009, segundo o IBGE, a populao cresceu para 126.757 habitantes e o consumo individual subiu para 149, 63, mostrando que no houve um aumento to grande de consumo se comparado ao aumento da populao. Segundo Daniela Lopes Neves, gerente de engenharia do SAAE, o consumo de gua em Atibaia varia muito, tanto nos bairros ricos como nos mais pobres. Ela afirma que entre os fatores que determinam o consumo nas residncias esto a quantidade de moradores e a forma como a famlia utiliza a gua.

    Grandes centrosEm Braslia, h lugares como o bairro Lago Azul, de classe alta, onde foi detectado um consumo mdio de mil litros dirios por pessoa, muito acima do limite recomendado pela ONU. J em So Paulo, terceira maior metrpole do mundo, dados da SABESP mostram que so consumidos 4,1 bilhes de litros de gua por dia. Grande parte do desperdcio que compromete as reservas de gua doce parece longe de ser remedivel porque a populao aparentemente

    prefere fechar os olhos para o problema apesar de a questo do aquecimento global estar em pauta h muito tempo.A populao mundial cresce aceleradamente. No fim do sculo XIX havia em torno de 1 bilho de habitantes no planeta. Atualmente so quase 7 bilhes, aproximadamente 3 bilhes a mais do que em 1969, ano em que o homem pisou na Lua. A previso para 2050 que alcancemos a marca de 10 bilhes. Isto nos d uma noo de como a demanda por gua virar uma questo de vida ou morte, coisa que atualmente j acontece. No continente Africano, em pases como Nambia, cada pessoa tem acesso a apenas um litro de gua por dia, isto quando o consumo possvel. Dados da UNICEF (Fundo das Naes Unidas para a Infncia), mostram que menos da metade da populao tem acesso gua potvel, sendo que a irrigao corresponde a 73% do consumo, a indstria 21% e apenas 6% destinado ao consumo domstico.

    O que diz a ONUEm 1992 a UNESCO redigiu

    um documento denominado Declarao Universal dos Direitos da gua por meio do qual procura alertar para o fato de que ela um bem finito. A partir de 1993, ficou estabelecido pela ONU o dia 22 de maro como Dia Mundial da gua. Estas medidas tm como objetivo alertar a populao para a necessidade de reduzir significativamnte o consumo deste recurso. Tanto a culpa pela escassez de gua, quanto a obrigatoriedade de adoo do consumo consciente atinge todos. O presente nos d uma margem de como o futuro pode ser alarmante e sem expectativas de vida tranquila. As foras da Natureza fazem da existncia uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condies essenciais para a evoluo da vida. Este um pequeno trecho da Carta da Terra, formulada pela Comisso Mundial das Naes Unidas para o Meio Ambiente em 2000. Seu intuito to claro e marcante como a pequena citao, to cheia de significados.

    tAtIArA tOrrES

    Nutricionista alerta para importncia da hidrataoSamuel Oliveira

    Para o ser humano, a hidratao muito importante e deve ser feita regularmente vrias ao dia, principalmente pelas crianas.A nutricionista Katia Negretti alerta que a falta de gua pode trazer consequncias graves para sade.Antes de comear uma atividade fsica muito importante hidratar o corpo para evitar cibras e cansao. Katia alerta que no correto esperar a sede chegar para s ento beber gua. Ao contrrio, deve-se ingeri-la em intervalos regulares durante o dia.Segundo a nutricionista, pessoas adultas devem ingerir

    de dois a trs litros de gua diariamente, o que d em media um copo (250ml) a cada uma hora e meia.Com os dias cada vez mais quentes, h quem comemore. O vendedor Carlos Augusto conta que a venda de gales de gua dobrou. No calor, ele chega a vender quase 400 gales por dia. Augusto conta que para atender a demanda, quase no consegue almoar. Uma das funes da gua no organismo dissolver as substncias ingeridas e diluir as toxinas produzidas pelo organismo. Ela auxilia tambm no transporte de substancias orgnicas como o oxignio, alm de regular a temperatura do corpo e lubrificar as articulaes.

    Rita de Cssia Barbosa Shiro, gerente de receita do SAAE

    Cristina Soares

    Moradora de um aconchegante sobrado amarelo no bairro Parque das Naes, em Atibaia, a famlia Tavares, composta pelo casal Fernandes Tavares, 48 anos, e Marili Aparecida, 45, e os filhos Carlos Henrique, 21 e Rafaela, 23, viveu um ms atpico em sua rotina. Juntamente com outras 30 famlias do bairro, eles foram vtimas da enchente ocorrida em maro.Alm da chuva forte, a inundao foi provocada pela abertura de 40 centmetros de duas comportas da represa localizada no Centro Empresarial. Aproximadamente 5 mil litros de gua por segundo foram liberados no rio Atibaia, provocando a enchente.A Sabesp rebate a crtica, afirmando que a gua despejada no rio no foi suficiente para causar os estragos.Novas chuvas ocorridas nos dias 16 e 17 de maro aumentaram para 204 o nmero de famlias afetadas pelas guas. Os bairros mais atingidos foram Caetetuba, Jardim Kanimar, Guaxinduva, Vila So Jos, Bairro da Ponte, CTB, Jardim Sueli, III Centenrio, Estoril e Parque das Naes. estranho perceber como os fatos tm outro significado quando acontecem com a gente, afirma Rafaela. Depois de assistir reportagens sobre enchentes pelos telejornais, ela viu a prpria casa ser invadida pela gua. A sensao de total impotncia e muita angstia, afirma. Na semana seguinte, quando a gua comeou a baixar, a famlia arregaou as mangas para contabilizar as perdas e tentar apagar as marcas deixadas pela gua. Fernandes Tavares perdeu equipamentos de sua oficina. Entretanto, conservou seu bem mais valioso, que sua famlia.

    Enchentes causam transtorno no Parque das Naes

  • guamaro-abril de 20104

    Mariana Pedroso

    Localizado a 64 km de So Paulo, o municpio de Atibaia famoso pelo clima e pela diversidade de belezas naturais. A flora conservada , sem dvida, um dos maiores atrativos do lugar, que recebe, anualmente, milhares de visitantes.Mas, infelizmente, a cidade que est entre as 15 estncias climticas do estado e que j ocupou a segunda posio na lista dos lugares com o melhor clima do mundo, sofreu com as enchentes a partir de dezembro de 2009, tendo sete de seus bairros atingidos: Caetetuba, Parque das Naes, Kanimar, Vila So Jos, 3 Centenrio, Ponte e Jardim Sueli.A situao to crtica que Atibaia entrou em estado de

    Enchentes provocaram estado de alertaFamlias foram instaladas em contineres;governo municipal decidiu buscar apoio em Braslia

    alerta em janeiro de 2010 e o atual prefeito, Jos Bernardo Denig, do Partido Verde (PV), se viu obrigado a tomar providncias. A primeira aconteceu no dia 12 de janeiro, com o objetivo de amenizar os prejuzos provocados pelas enchentes. Com o apoio da Cmara Municipal, o prefeito criou a Lei n 3837, que prev a iseno das taxas de esgoto e de gua para todas as vtimas. De acordo com Drio Rgoli, da Assessoria de Comunicao e Marketing do Saneamento Ambiental de Atibaia (SAAE), para que o morador tenha direito ao benefcio, ele ter de ser includo em um relatrio que a Defesa Civil est elaborando, no qual esto sendo relacionadas todas as regies atingidas. Esse relatrio ser posteriormente enviado ao SAAE, para que a

    FOtOS: ANDrESSA NASCIMENtO

    empresa proceda iseno das tarifas de gua.Depois disso, o prefeito e a comitiva composta pelo assessor Slvio Lessa e pelo vereador Baixinho Barbeiro, do Partido Progressista (PP), viajaram para Braslia no dia 2 de fevereiro, a fim de obter apoio poltico e discutir projetos que possam solucionar problemas atuais e futuros.Na capital federal, reuniram-se com a secretria nacional de Defesa Civil, Ivone Maria Valente; com o ministro de Relaes Institucionais, Alexandre Padilha; com o lder do Partido da Repblica (PR) em Braslia, deputado federal Valdemar Costa Neto; com o secretrio nacional de Saneamento Ambiental, Srgio Antonio Gonalves; com o diretor da Agncia Nacional de Transportes (ANTT), Mario Rodrigues Junior; e por ltimo, com a secretria Nacional de Habitao, Ins Magalhes.Ao todo, foram realizados seis encontros, e dentre os assuntos discutidos, destacam-se as obras de modernizao no sistema de tratamento de gua da estao central de Atibaia e a construo de casas populares que beneficiaro cerca de 500

    famlias, alm de projetos como a concluso da ala de acesso da entrada da cidade, a colocao de passarelas na rodovia Ferno Dias e a criao de mais uma via de acesso.Acontece que toda essa reestruturao no seria necessria se as previses enviadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) Agncia Nacional de guas (ANA), em 29 de outubro de 2009, fossem levadas a srio. Segundo os relatrios, o fenmeno El Nio, que nada mais do que uma alterao na distribuio da temperatura da superfcie do Oceano Pacfico, aconteceria em 2010. Consequentemente, haveria mudanas profundas no clima, que afetariam, por sua vez, o interior do estado de So Paulo. Diante disso, a indicao desses mesmos especialistas era de que as comportas da Sabesp na regio fossem abertas, a fim de drenar os reservatrios, deixando espao suficiente para a gua das tempestades de janeiro. A manobra evitaria ou pelo menos, diminuiria as consequncias das enchentes. Entretanto, por deciso poltica, foi vetada.O resultado so os dados fornecidos pela prefeitura municipal: 900 famlias atingidas, sendo que 150 esto abrigadas em moradias de parentes ou amigos, e 121, alojadas em contineres instalados no Ginsio Esportivo Omar Zigaib, na Escola Valter Engrcia e no Campo Santa Clara.Sobre a polmica, h at mesmo especulaes de que o relatrio emitido pelo INPE no teria chegado s mos da Sabesp e da prefeitura,

    devido burocracia da ANA. As informaes levantadas mostram o contrrio: no dia 5 de fevereiro, o INPE divulgou uma nota sobre o assunto, em seu site oficial. No trecho introdutrio, o instituto argumenta que h mais de trs meses vem alertando sobre as previses de chuvas intensas durante o vero no Sul e Sudeste do Brasil, por meio de website e documentos oficiais.Questionado sobre o alerta, Felipe Betschart, da Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Atibaia, afirmou que a responsabilidade pelo Sistema Cantareira da Sabesp e que o documento do INPE apontava, em outubro de 2009, que o nvel dos reservatrios do Sudeste era preocupante.J Rafael Balago, da Superintendncia de Comunicao da Sabesp, relatou que nenhuma precauo foi tomada porque a funo primordial da represa o abastecimento. De acordo com as explicaes, quando ela (a represa) est com os nveis normais, no h porque descarregar a gua. Somente quando as chuvas se intensificam e o nvel da represa ultrapassa o volume operacional (volume armazenado na represa entre o nvel mnimo operacional at o nvel do dia) que h necessidade de iniciar o procedimento de descarregamento e que durante o perodo de chuvas preciso manter um nvel de gua suficiente para garantir o abastecimento nos meses de estiagem.s vtimas das enchentes, restou buscar ajuda na casa de parentes ou em instituies assistenciais. Leia reportagem da prxima pgina.

    Morador do Jardim Kanimar

    caminha em rua alagada

    Entrada da casa de um

    morador do Jardim Kanimar

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  • 5guamaro-abril de 2010

    Mariana Pedroso

    Enquanto a mdia especula em busca de culpados e trmites e parcerias partidrias so resolvidas pelas autoridades locais, comunidade e instituies assistenciais tiveram que redobrar os esforos para acolher e auxiliar os desprovidos. O albergue Eletra Bentran, por exemplo, sediado na Associao Esprita Beneficente e Educacional Casa do Caminho, foi um dos que ofereceu pernoite, alimentao, roupas, calados e acompanhamento psicolgico. No perodo das cheias, foram atendidas em regime integral dia e noite , cinco famlias e quatro pessoas sozinhas, totalizando 32 atendimentos, com idades que variavam de 9 meses a 70 anos. Em condies normais, a organizao chega a oferecer 450 pernoites mensais.Para garantir o atendimento s vtimas, a instituio realizou uma verdadeira manobra administrativa. Segundo apurou a reportagem, a Casa do Caminho no recebeu ajuda extra para a situao de emergncia. Os atendimentos tiveram que ser realizados com os mesmos R$ 60 mil doados pela prefeitura anualmente, destinados s despesas rotineiras da casa.Na edio de maro do informativo da instituio, foi

    publicado: Se houvesse maior apoio, poderamos ampliar o perodo de atendimento.Vale ressaltar que o auxlio s instituies assistenciais est previsto na Lei Federal n 8.742, tambm conhecida como Lei Orgnica da Assistncia Social (Loas). Ela prev os recursos mnimos aos quais todo cidado deve ter acesso (alimentao, higiene, abrigo, segurana) e coloca o poder pblico

    como mantenedor das aes assistenciais. Em outras palavras, obrigao dos rgos pblicos garantir os recursos para que as instituies beneficentes possam funcionar.Adriana Piffer da Cunha, auxiliar de servios gerais do albergue Eletra Bentran, acredita que o papel da associao muito importante. Eles afirma, referindo-se s vtimas que ficaram

    abrigadas temporariamente na instituio gostaram muito, porque tiveram alvio do problema imediato que era: Onde vamos ficar? Alm disso aqui no Albergue sempre tem algum para dar ateno e conversar com eles. Quem est passando por tanta necessidade precisa de apoio e de um ombro amigo para se consolar. Eles viram que aqui tm um lugar que podem contar como certo para se abrigar com os filhos.Fora a questo dos abrigos e o do apoio emocional e psicolgico, destacam-se tambm as iniciativas independentes de empresas e comunidade. No fossem as doaes feitas pela populao, 102 cestas bsicas no teriam sido entregues em 11 de fevereiro pelo Fundo Social de Solidariedade no bairro Caetetuba, onde est a maior concentrao de pessoas desalojadas.A Associao Hortolndia de Atibaia, grande produtora de flores e provedora da tradicional Festa das Flores e Morangos, tambm assumiu o papel de colaboradora social. Por ela, foram doados produtos de limpeza e higiene pessoal 100 quilos de sabo em p, 100 litros de gua sanitria, 200 sabonetes, 200 cremes dentais alm de 100 pacotes de biscoito. Os supermercados Big, Dia, CompreBem, Convm e Saito

    Aes assistenciais ajudam moradores

    Depois das enchentes, a mobilizao solidria foi a opo para quem perdeu tudo

    Alm de reunir autoridades e acadmicos numa celebrao solidariedade, e comemorar o sucesso obtido na Gincana Solidria, o encontro realizado no dia 24 de fevereiro, com membros da Defesa Civil de Atibaia serviu, tambm, para esclarecer questes muito importantes, relacionadas s enchentes e suas lamentveis conseqncias.Maurcio Benevides, Francisco Domingues, Dbora Araujo e Georgina Pitocco compuseram a banca no auditrio da FAAT Faculdades, e responderam perguntas de professores e alunos. Como j era esperado, grande parte dos questionamentos

    se concentrou na questo das aes assistenciais s vtimas. Quanto a isso, o grupo afirmou que todas as solicitaes esto sendo atendidas, dentro do possvel, e que j h um projeto para construo de um alojamento provisrio ainda maior, para os desabrigados.O grupo aproveitou tambm para expor sua insatisfao com tudo que foi publicado na mdia nacional sobre as enchentes em Atibaia nos meses de janeiro e fevereiro. Para eles, houve sensacionalismo e distoro da realidade, uma vez que apenas 3% da cidade foi atingida, afetando, aproximadamente, 3.600 pessoas.

    MArIANA PEDrOSO

    Defesa Civil recebe doaesfizeram contribuies por meio da Campanha Atibaia Contra a Enchente, organizada pelo vereador Prof. Rodrigo Parras, que arrecadou 12 toneladas de donativos.O Carnaval Solidrio, que instalou postos de arrecadao no Centro de Convenes Victor Brecheret sensibilizou a comunidade, que em trs dias doou 760 quilos de alimentos. Os estudantes dos 3 e 4 anos de Jornalismo da FAAT Faculdades tambm participaram das aes assistenciais. Orientados pela diretoria a no realizarem o tradicional trote com os ingressantes, e respaldados pela Defesa Civil, os veteranos de Comunicao Social iniciaram uma verdadeira gincana, por meio da qual os calouros arrecadaram grande quantidade de produtos de primeira necessidade. Venceu a sala com maior quantidade de doaes. A entrega das arrecadaes Defesa Civil foi realizada no dia 24 de fevereiro, no auditrio da FAAT.Agora, a torcida para que esse conjunto de aes consiga prover, pelo menos, as necesidades bsicas de todos os prejudicados, uma vez que aes preventivas no puderam ser tomadas. Que a parceria entre governo, empresas e comunidade exista sempre, a fim de manter a comodidade e o bem estar da populao.

    Funcionrio da Casa do Caminho entrega toalha e roupas limpas a morador de rua

  • guamaro-abril de 20106

    guas naturais e histria de Caxambu encantam visitantes

    Por Simone Lazzarini

    O Parque das guas Dr. Lisandro Carneiro Guimares, tombado pelo Instituto Estadual do Patrimnio Histrico e Artstico (IEPHA) e mantido pela Companhia de Desenvolvimento Econmico de Minas Gerais (Codemig), localizado no centro de Caxambu numa rea de 210 mil m, o maior em guas carbogasosas do mundo. O parque possui diversas opes como as doze fontes de agua mineral, pista para cooper,

    Obra Chico Cascateiro (casinha da bruxa)

    parquinho, pedalinhos num lago de 51 mil m2, piscinas com gua mineral e toboguas, quadras de tnis, vlei, bocha, telefrico, que leva ao cume do morro Caxambu e o Balnerio Hidroterpico, atualmente fechado para restaurao. O parque construdo no incio do sculo XX possui rvores trazidas da ndia e obras do portugus Chico Cascateiro, como bancos, quiosques, cascata artificial e a casinha da bruxa, imitam rigorosamente bambus, cips, tronco de arvore e palha. A gua de todas as fontes,

    exceto da Mayrink III, vai para o rio Bingo, que atravessa todo o parque. A Mayrink III engarrafada pela empresa Copasa e tambm abastece todo o parque. Segundo o diretor Ruy Pinho, a gua que seria perdida da Mayrink III, vai para uma caixa dgua que alimenta a fbrica e o parque. No h suco da gua da terra, o que importantssimo, pois evita secar a fonte, como ocorreu em outras cidades. Aqui no permitido retirar nada a mais do que a fonte oferece declarou Ruy. O

    mais interessante que as pessoas podem ter acesso s fontes e beber a gua que sai fartamente. Quem quiser, pode levar gua utilizando recipientes prprios ou adquirindo garrafas de 600ml por R$ 1,00, de 2 litros a R$ 1,50 ou garrafes de 5 litros a R$ 3,00, vendidos dentro e fora do parque. Ruy declarou em primeira mo que o balnerio a ser reaberto em junho, ser o maior e mais completo do mundo. Outra novidade que o parque ganhar nova arquitectura desenhada

    Parques do comeo do sculo XX, rvores trazidas da ndia, fontes carbogasosas, piscinas de gua mineral, toboguas, quadras para prticas esportivas e diversas fontes naturais so algumas das atraes disposio dos turistas

    Coreto trazido pela famila Real

    Balnerio Hidroterpico

    rvores trazidas da ndia

    Fonte Dom PeDro: Rica em gs carbnico e bicarbonato de sdio, sua gua estimula os rgos digestivos e elimina perturbaes gastrointestinais

    Fonte Viotti: Verte gua com grande poder diurtico e ao solvente sobre os clculos renais

    Fontes Venncio: Sua gua radioativa possui ao diurtica, digestiva e atua normalizando a presso arterial

    Fontes D. isabel e conDe Deu: acredita-se que suas guas curaram a esterilidade da Princesa Isabel

  • 7guamaro-abril de 2010guas naturais e histria de Caxambu encantam visitantes

    FOtOS: OMAr lAzzArINI

    Familia Lopez visitando o Parque, diante da Fonte Dona Leopoldina

    por Oscar Niemeyer. O Instituto Estadual do Patrimnio Histrico e Artstico (IEPHA), mantido pela Companhia de Desenvolvimento Econmico de Minas Gerais (Codemig), declara que para ser aprovada a nova planta no poder apresentar traos muito modernos, que descaracterizem o parque. As fontes, segundo Ruy, so analisadas uma vez por ms pelo Departamento Nacional de Produo Mineral (DNPM). Destaques no parque, elas atraem pessoas de diversas localidades por suas propriedades

    teraputicas. Mesmo localizadas prximas umas das outras, elas oferecem guas de sabor e propriedades totalmente diferentes.As primeiras fontes foram descobertas por volta de 1814, por uma tribo indgena que habitava o local. O parque foi iniciado pela famlia real, aps a princesa Isabel ter sido curada de sua esterilidade em 1868. As estruturas de coretos de algumas fontes foram trazidas da Inglaterra pela famlia real e mantidas rigorosamente intactas at os dias atuais.

    Mesmo no tendo comprovao cientfica, h diversas histrias que confirmam os poderes curativos das guas de Caxambu. O morador Jos Luis Lopes, 37 anos, consome gua do parque desde que nasceu. Desde meus 9 anos ajudava minha me a buscar gua da Fonte Dona Leopoldina, a preferida da minha famlia por ser gaseficada e a mais saborosa do parque. Mesmo aps se casar, Lopez continua a pegar a gua, agora juntamente com a esposa e os filhos. Eles vo ao parque uma vez por semana e pegam aproximadamente 40 litros de gua. Ele afirma ter presenciado diversos casos de cura, como o de um parente que tinha cncer de pele. Ele se banhava todos os dias na fonte Ernestina Quedes. Ficava todo amarelo na hora, mas logo depois a pele clareava. Em sete meses se curou.Outro caso de Margarida de Souza, 74 anos, que h cinco anos vive entre Rio de Janeiro e Caxambu, ficando quinze dias em cada cidadade. Os quinze dias que moro aqui bebo todo dia um pouco de cada fonte. Com isso, me curei

    Parquedas guascolecionahistrias de curas

    J a funcionaria do parque Adriana de Jesus Silvia, 41 anos, afirmou que se curou das aftas consumindo gua da Fonte da Beleza.O banho do giser, segundo um grupo de idosos de

    diversas localidades, que h mais de 30 anos se encontra na fonte de cinco a oito vezes por ano, rejuvenescedor. Com idades entre 74 e 82 anos, eles afirmam: Depois do banho nos sentimos renovados e jovens. Csar completa: A gente fica como os idosos do filme Cocoon. Era o que parecia para quem assistia o banho, pois todos demonstravam disposio de adolescente, no aparentando a verdadeira idade.Para quem busca belas paisagens, o parque pode ser um lugar encantador. , tambm, tima opo para quem busca tranqilidade e qualidade de vida.

    do rim e reduzi as medidas do abdome. Ela disse tambm que seu neto se curou de infeco das vias respiratrias com a gua da fonte Duque de Saxe, que sempre leva quando vai ao RJ.

    Grupo de idosos toma banho no giser, cujas guas so benficas para a pele

    Fontes D. isabel e conDe Deu: acredita-se que suas guas curaram a esterilidade da Princesa Isabel

    Fonte beleza: Rica em magnsio, clcio e flor, esta gua indicada para a formao dos ossos e dentio. O magnsio atua tambm no sistema nervoso como calmante, combatendo estresse.

    Fonte ernestina GueDes: Descoberta em 1950. Entre outros benefcios, a gua indicada para tratamento de doenas da pele

    Giser: nico no Brasil, com alcance de 5m de altura e temperatura mdia de 27 C, a gua multimineralizada ideal para a pele

    SERVIO:Aberto diariamente de 7h s 18 horasEntrada: R$ 3,00 por pessoa (idoso e estudante paga meia e criana abaixo de cinco anos no paga)Endereo: Rua Joo Carlos 100, CentroTelefone: (35) 3341-1298 ou 3341-3999

  • guamaro-abril de 20108

    Agrnomo alerta para anomalia climticaNova situao exige que as cidades contem com corporaes da Defesa Civil aptas para mapear reas de risco e orientar a populao

    Matria-PriMa: Atibaia e outras cidades localizadas no interior do Estado tm na atividade agrcola uma das principais fontes de receita. Realizada inadequadamente, ela contribui para o desgaste do solo, eroso e formao de regies ridas. Neste sentido, como as cidades devem agir para incentivar a agricultura e o desenvolvimento sem comprometer o meio ambiente? Walter Batista: A mudana de um sistema produtivo no fcil. O atual modelo de agricultura, que privilegia o uso de insumos qumicos em

    ISABElA BAzONI

    Isabela Bazoni

    Vinte e dois de maro de 1992. H 18 anos, a Organizao das Naes Unidas (ONU) criava o Dia Mundial da gua, enunciando como parmetro a Declarao Universal dos Direitos da gua. O artigo primeiro declara que a gua faz parte do patrimnio do planeta. Cada continente, cada povo, cada nao, cada regio, cada cidade, cada cidado plenamente responsvel aos olhos de todos. Nesta edio voltada para a questo da gua no poderamos deixar de abordar as causas das enchentes que atingiram a regio de Atibaia. Para isso o jornal Matria-PriMa entrevistou por e-mail Walter Batista Jr., professor da UFV (Universidade Federal de Viosa, MG), engenheiro agrnomo, mestre em Fitotcnica e doutor em Mudanas Climticas.

    Atibaia: bairro afetado em decorrncia das fortes chuvas

    Extrema investe em conservao ambientalCharles Teodoro

    Em Extrema, embora o tratamento de gua potvel seja gerenciado pela COPASA (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), no existe tratamento de esgoto e os dejetos das residncias so jogados, em sua maioria, no Rio Jaguari principal rio da cidade. A empresa pretende implantar quatro estaes de tratamento por meio de uma parceria firmada com a prefeitura local. Pretendemos ter a estao pronta em no mximo trs anos, afirma Luciano Ribeiro Fonseca, atendente comercial da empresa. Segundo Fonseca, o que impede o incio imediato das obras a falta de acordo entre os proprietrios das 23 reas que devem ser desapropriadas e que, no momento, aguardam deciso judicial, com sentena prevista para o fim de 2010. Ele afirma que as estaes trataro 99%

    do esgoto de todo o municpio, incluindo as reas rurais, que atualmente possuem fossas irregulares.A COPASA tambm desenvolve projetos na rea de responsabilidade social, como o Projeto Chu trabalhos realizados nas escolas e promoo de visitas monitoradas na estao de tratamento de gua para crianas de at 10 anos de idade. A empresa informa que arcar com todas as despesas, que chegaro a aproximadamente 10 milhes de reais. No entanto, 40% do valor da cobrana da gua, atualmente, inclui o esgoto com as estaes concludas, o valor saltar para 60%.

    Outros fatores importantes que devem ser observados no tocante qualidade das guas so as leis federais, como a Lei 11.445, sobre Saneamento Bsico e a Lei 4.771, do Cdigo Florestal, que estabelecem regras para o cuidado das guas. No caso desta ltima, existem parmetros que norteiam as medidas da mata ciliar de acordo com a largura dos rios. Paulo Csar de Freitas, Secretrio

    relao aos produtos orgnicos, vem sendo implantado desde a revoluo verde. Ele reflete o modelo econmico vigente que determina a maior obteno possvel de lucro, ou seja, gastar pouco para lucrar muito. O produtor agrcola esqueceu-se que o solo seu maior tesouro e que ele possui vida. Assim explora-o ao mximo, geralmente sem descanso, levando-o at exausto de seus recursos. Uma poltica que privilegie a produo de produtos orgnicos e agricultura familiar, aliada com programas de educao ambiental ajudaria a reverter o processo. Mas esta poltica tem que contar com o apoio governamental, pois precisa ser aplicada em longo prazo.

    MP: Desastres naturais so cada vez mais recorrentes. Inclusive marcaram o incio de 2010 em Atibaia, que foi atingida por

    enchentes causadas, entre outros fatores, pelo volume incomum de chuvas. Quais as causas para as mutaes climticas? Que aes cabem aos poderes pblicos para prevenir essas tragdias?Walter: Eu no usaria o termo mutao climtica, mas sim anomalia climtica. Desde a publicao do 4 Relatrio do Painel Intergovernamental sobre Mudanas Climticas (IPCC, na sigla em ingls) em fevereiro de 2007 a gente tem ouvido muitas besteiras e muito se tem discutido sobre essas mudanas. A mdia tem apresentado cenrios catastrficos, que muitas vezes no condizem com as informaes dadas pelos cientistas. O que aconteceu neste vero (chuvas acima da mdia histrica na regio Sul e Sudeste e secas em parte de Minas Gerais, Esprito Santo e Bahia, so consequncia da ao do El Nio fenmeno natural que acontece

    em ciclos variados de 5 a 8 anos. Muitos modelos computacionais indicam que estes fenmenos climticos podem ocorrer cada vez com maior frequncia e intensidade. Junte a esta situao o crescimento desordenado da populao urbana, com a construo de casas e empresas em locais que antes serviam como reas de escoamento de gua dos rios, misture a tudo isso muito vendaval e chuvas torrenciais e temos uma situao de calamidade pblica. Entendo que cada municpio deve possuir uma corporao de Defesa Civil, que mapeie as reas de risco e prepare a populao para a convivncia com esta nova situao, que tende a se tornar rotineira.MP: Cidades com potencial

    turstico como Atibaia, que possui a Pedra Grande, podem ter nesta atividade uma opo de crescimento aliado preservao ambiental?Walter: O Ecoturismo tem ajudado a preservar muitas regies no Brasil e fora dele. Mas temos que ter em mente uma viso sustentvel para este tipo de projeto. Imagine se esta regio da Pedra Grande, em funo da divulgao, vira ponto da moda e comeam a surgir inmeros condomnios habitacionais. O que se queria preservar comea a sofrer com a especulao comercial. Degradao social tambm um forma de degradao ambiental.

    Pretendemos ter a estao pronta em no mximo trs anos

    Luciano Ribeiro Fonseca

    Ns utilizamos a Lei 4.771 do Cdigo Florestal como ferramenta, mas no a seguimos risca

    Paulo Csar de Freitas

    gua do municpio de boa qualidade, mas desconheo monitoramento das guas do Rio Jaguari

    Misael Cardoso Neto

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    FAEl

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    do Meio Ambiente de Extrema disse que cada caso um caso. Ns utilizamos essa Lei como ferramenta para implantar nossa poltica de preservao ambiental, mas no a seguimos risca porque existem casos em que se deve fazer uma preveno maior de reas do que diz a lei, enquanto outras se aplicam menos, explica. O municpio conta com um trabalho voltado para a preservao do meio

    ambiente denominado Projeto Conservador das guas, parceria entre a prefeitura municipal e rgos como a Agncia Nacional de guas (ANA), o Instituto Estadual de Florestas (IEF), o The Nature Conservancy (TNC) e o S.O.S. Mata Atlntica, entre outros, com atividades que englobam a conservao da gua, saneamento, restaurao florestal e conservao do solo. O projeto compensa financeiramente proprietrios de terra e agricultores que aderem proposta, alm de financiar custos de recuperao das reas comprometidas. J foram implantados dois mil hectares e estamos executando mais quatro mil, conclui o secretrio. Misael Cardoso Pinto Neto, engenheiro civil e especialista em percia ambiental, afirma que a gua potvel do municpio de boa qualidade, mas com relao s guas do Rio Jaguari desconhece qualquer monitoramento.

  • 9guamaro-abril de 2010

    Daiane CamargoLuciana Meinberg

    A crescente demanda por gua tratada tem feito do reuso planejado de gua um tema atual e de grande importncia. O uso racional ou eficiente da gua uma atividade que compreende o controle de perdas e desperdcios, e a minimizao da produo de efluentes e do consumo de gua. Mesmo considerado um novo conceito no pas, no chega a ser utpico. Em Campinas, no Parque D. Pedro Shopping, na entrada das Flores, funciona um lavarapido ecologicamente correto, a Eco Wash. A gua armazenada, tratada e reusada. Os produtos de limpeza utilizados so biodegradveis.Um dos proprietrios, Leonel Coelho Jr, diz que o processo garante 80% de economia nas despesas com gua. O retorno garantido, pois as pessoas incentivam e divulgam o nosso diferencial (marketing ambiental). A divulgao tambm feita pelo pessoal do shopping, pois a maioria deles so clientes. A ordem investir para reduzir o consumo de gua, melhorar o tratamento e at transformar o efluente em gua de reuso. Projetos esto sendo desenvolvidos para implantar estaes de tratamento para converso de efluentes em guas de reuso e esgoto municipal em gua industrial. Reuso o processo de utilizao da gua por mais de uma vez, tratada ou no, para o mesmo ou outro fim. Ela tratada e produzida dentro das Estaes de Tratamento de Esgoto e pode ter diversas utilidades. Os benefcios so a reduo do consumo de gua, corte nas despesas, economia em produes como eletricidade, combustvel e

    produtos qumicos, reduo do impacto sobre o meio ambiente, entre outros. Alm de ser uma medida eficaz para resolver a questo do abastecimento, o reuso proporciona ganho econmico, com a reduo na captao, na quantidade de qumicos necessrios para o tratamento e no lanamento de efluentes.Vale lembrar que, a indstria administrando seus recursos hdricos melhor, sobra mais gua para abastecer a populao. A Sabesp desenvolveu o projeto de venda de gua de reuso mais barata para a indstria, tornando disponvel gua de boa qualidade para o consumo domstico.O Servio Municipal de Saneamento Ambiental de Santo Andr (Semasa) ainda no produz gua de reuso, mas segundo o representante da empresa, Eduardo Souza, compra da Sabesp. Eles utilizam a gua de reuso nas lavagens de vias pblicas e desobstruo de redes de esgoto e galerias de guas pluviais. Outra utilizao da gua de reuso ser o reflorestamento das reas prximas ao rodoanel.O custo do sistema de tratamento fica entre R$ 200 mil e R$ 1,5 milho, conforme o processo adotado. necessrio tambm que as prefeituras controlem as perdas de gua e pratiquem o reuso de efluentes tratados, contribuindo para reduzir os prprios custos e a demanda de gua utilizada nos servios urbanos. , no mnimo, um desperdcio usar gua potvel, com cloro e flor, para irrigar parques, jardins e lavar ruas e caladas.Enfim, reuso e conservao de gua doce hoje se constituem em palavras-chaves da gesto dos recursos hdricos no Brasil, pas onde 86% da populao vive em aglomeraes urbanas.

    Uso racional pode evitara escassezIndstrias adotam sistemas para aproveitamento de guas pluviais e de reuso de guas e propaga para os empreendimentos comerciais

    Lava-rpido de Atibaia adere ao reuso da guaAtibaia tambm j conta com um lava-rpido que adota reuso da gua. A captao da gua da chuva pelas calhas utilizada nas lavagens. A gua corre pelas canaletas em declive, sendo armazenada em um tanque de 15 mil litros. O tratamento feito por flotao, (processo de elevao de matria suspensa para a superfcie do lquido, na forma de espuma, por meio de aerao, insuflao de gs, aplicao de produtos qumicos, eletrlise, calor ou decomposio bacteriana, e a remoo subseqente da espuma) e produtos biodegradveis garantem a limpeza dos veculos. A sujeira (areia e leo) aglutinada, reservada e encaminhada para descarte correto, segundo o empresrio. A gua semi-limpa entra em outra caixa de 15 mil litros e uma bomba garante o abastecimento nas mquinas lavadoras de alta presso. Essa a gua utilizada na primeira lavagem dos carros. A gua limpa faz a finalizao.

    FOtOS: DAIANE CAMArGO

    rAPHAEl DOrAtIOttO CAMArGO

    O despejo indiscriminado de lixo e esgoto nos rios polui as guas ao ponto de torn-las imprprias para o consumo humano

  • guamaro-abril de 201010

    Natlia Pellicciaro

    Numa casa simples em Bragana Paulista, em um bairro cercado por estradas de terra e vegetao, morava a famlia de Maria Suzana de Oliveira. Desde pequena, Suzana ajudava sua me com as tarefas domsticas e, todos os dias pela manh, saa para pegar a gua que seria usada durante o dia para beber, cozinhar, tomar banho e para tudo que depende dela. O passeio matinal pelas vertentes e bicas, como so chamadas as fontes que brotam em meio a pedras e barrancos, era tambm um momento de brincadeiras e diverso com os irmos. O caminho que Suzana fazia era o mesmo de muitas outras pessoas. Isso porque, em meados dos anos 50, na regio bragantina tambm conhecida como Regio Cristalina pela riqueza, qualidade e volume de suas guas minerais a gua encanada chegava somente at as regies centrais, onde viviam as pessoas com maior influncia e poder aquisitivo da cidade. Algumas famlias, com mais recursos, construam poos artesianos nas casas para no percorrerem todos os dias o caminho at a fonte.Na dcada de 60, a famlia de Suzana se mudou para uma casa no centro da cidade, onde vivem at hoje. Nesse perodo, os sistemas de saneamento bsico e distribuio de gua passaram a abastecer toda a cidade, apesar de algumas regies rurais afastadas ainda no receberem o benefcio. Na casa de Suzana, embora houvesse gua encanada, no era sempre que podiam contar com ela. Havia muitos momentos em que a gua faltava. As notcias dos casos de clera, diarria e verminoses, ocasionados pelo consumo de gua contaminada, corriam o Brasil inteiro, abalando a confiana das pessoas na gua de torneira. A famlia de Suzana cresceu.

    Agora eram 11 irmos. Responsvel pelos irmos menores, pelas tarefas domsticas e ainda por ajudar sua me nos servios domsticos, Suzana no percorria mais os caminhos de outrora. A gua utilizada era apenas a disponvel nas torneiras. Em Bragana Paulista, na dcada de 80, havia fontes prximas casa da famlia. Foram as mais famosas e conhecidas da cidade: uma na parte baixa da rua da Liberdade, duas na rua Jos Domingues, uma no final da avenida Antonio Pires Pimentel, uma beira da Variante do Taboo e outra no comeo da rua Eusbio Savaio. Elas, muitas vezes, socorriam a populao na eventual falta de gua encanada. Ou ento, quando se buscava gua boa para beber. Amauri de Jesus Oliveira, um dos irmos de Suzana, ia sempre at as fontes buscar gua e brincar nas biquinhas com os irmos.Os anos foram passando, os barrancos, as rvores e aquele cenrio natural se transformaram. Construes de tijolo e concreto tomaram conta do lugar. Era o progresso e o desenvolvimento chegando a todo vapor sem pedir licena. O acesso s fontes se tornou cada vez mais difcil. Pela correria do dia-a-dia, praticidade e confiana a famlia passou a consumir os garrafes de 20 litros de gua mineral.

    O aumento do consumo Hoje, a gua mineral engarrafada a bebida cujo consumo mais cresce no mundo. Isso acontece pela busca por qualidade de vida, sade e bem-estar. Afinal, a gua mineral refrescante, no tem calorias, fcil de carregar, mais saborosa que algumas guas filtradas e mais saudvel que os refrigerantes. Livre de aditivos, a gua contribui para o bom funcionamento do organismo de modo geral, repondo as necessidades dirias de sais minerais.O consumo da gua engarrafada

    est diretamente associado ao estilo de vida saudvel e, porque no dizer, comodidade contempornea. No Brasil, o aumento dessa forma de consumo de gua resulta de vrios fatores histrico-culturais, processos sociais e de infra-estrutura urbana. As fontes so cercadas por histrias de guas que curam, rejuvenescem e tm

    propriedades teraputicas que h sculos acompanharam a vida das pessoas.Dados da Associao

    Internacional de guas Engarrafadas revelam que a demanda brasileira cresce mais de 7% ao ano. O Brasil j o 4 maior

    mercado, ficando atrs apenas dos Estados Unidos, do Mxico e da China. Segundo o presidente

    da Associao Brasileira da Indstria de guas Minerais (Abinam), Carlos Alberto Lancia, o consumo mundial dessa gua ultrapassou a venda de refrigerantes desde 2007.O Departamento Nacional de Produo Mineral (DNPM), vinculado ao Ministrio de Minas e Energia, o rgo que tem por finalidade assegurar, controlar e fiscalizar os exerccios das atividades de minerao em todo o territrio nacional. Ele comprova o crescimento do mercado das guas engarrafadas

    A gua mineral engarrafada a bebida cujo consumo mais cresce no mundo.Isso acontece pela busca por qualidade de vida, sade e bem-estar

    O consumo da gua mineral est diretamente associado ao estilo de vida saudvel

    e, porque no dizer, comodidade contempornea

    Aumento do consumo da gua engarrafada leva milhares de pessoas aos supermercados, no mundo todo

    FOtOS:NAtlIA PEllICCIArO

    Direto da fonte ou engarrafada,gua promove sade e bem-estar

    Amauri abastece a casa com gua colhida diretamente da fonte, mantendo a tradio da famlia

  • 11guamaro-abril de 2010

    Os moradores mais jovens sequer suspeitam da existncia

    de uma fonte de gua mineral atrs do posto de gasolina

    A Sabesp atende as exigncias de qualidade da gua analisando o produto desde a captao at os pontos de distribuio. Quando alguma amostra apresenta resultados fora dos padres estabelecidos pela Portaria do Ministrio da Sade, aes corretivas so imediatamente colocadas em prtica, passando por novos testes de qualidade.

    Entenda os parmetros analisados:

    Coliformes: um grupo de bactrias que normalmente vivem no intestino de animais de sangue quente. Nos laboratrios da Sabesp so realizadas anlises para identificar fatores que indiquem uma possvel contaminao microbiolgica.

    Cloro: O cloro um agente bactericida. adicionado durante o tratamento, com o objetivo de eliminar bactrias que podem estar presentes na gua.

    Em 20 de julho de 1969 o mundo assistiu pela televiso o momento histrico do primeiro pouso do homem na Lua. Este evento representou a expanso e o desenvolvimento cientfico-tecnolgico da humanidade. Os detalhes dessa aventura espacial todos conhecem, mas quase ningum sabe da participao brasileira

    na misso Apollo 11. A Prefeitura de guas de Lindia exibe

    uma nota fiscal (n 20.218), emitida em 2 de abril de 1969, referente a um pedido de 100 dzias de

    garrafas de 500 ml da gua Lindia Carrieri, retirada da Fonte Santa Philomena,

    guas de Lindia participou da Misso Apolo 11para a misso americana no Cabo Kennedy, na Flrida. A compra custou C$ 226,00 (cruzeiros novos). Os motivos que teriam levado a NASA (National Aeronautics and Space Administration) a escolher a gua mineral de guas de Lindia foram a baixa

    acidez, a rpida absoro pelo organismo, as grandes propriedades diurticas e seu elevado nvel de radioatividade natural, extremamente benfica para o organismo caracterstica comprovada pela cientista polonesa Marie Sklodowska Curie, duas vezes ganhadora do Prmio Nobel. Madame Curie veio ao Brasil

    Cor: A cor uma medida que indica a presena de substncias dissolvidas na gua. Assim como a turbidez, a cor um parmetro de aspecto esttico de aceitao ou rejeio do produto.

    pH: O pH uma medida que estabelece a condio cida ou alcalina da gua. um parmetro de carter operacional que deve ser acompanhado para otimizar os processos de tratamento e preservar as tubulaes contra corroses ou entupimentos.

    Flor: O flor um elemento qumico adicionado gua de abastecimento, durante o tratamento, devido sua comprovada eficcia na proteo dos dentes contra a crie.

    Turbidez: a medio da resistncia da gua passagem de luz. A turbidez um parmetro de aspecto esttico de aceitao ou rejeio do produto.

    atravs da receita arrecadada em 2008 de R$ 857 milhes, valor aproximadamente 50% mais alto se comparado a 2007.O crescimento do mercado estimulou a variedade de produtos. Se antes era possvel escolher entre gua com ou sem gs, hoje existem sabores diversos. Os investimentos no mercado de luxo foram inevitveis, como a gua americana Bling H2O, tratada vrias vezes e distribuda em edies limitadas com garrafas cravejadas em cristais Swarovski, ao custo mdio US$ 50 dlares por garrafa.Uma das consequncias do aumento do consumo da gua engarrafada, com a qual tambm a cidade da famlia de Suzana sofre, a produo de lixo originado das garrafas. De acordo com a Abinam, o que ajuda a diminuir a poluio o fato de 60% do mercado compreender a gua vendida em gales de 10 e 20 litros, que so retornveis. Alm disso, o mercado nacional recolhe 55% das garrafas PET produzidas.

    Por que pagar pela gua?Muitos, assim como Suzana, devem se perguntar por que precisam pagar pela gua, um recurso natural e bem comum da populao. O fato que ela deve ser envasada, armazenada, transportada e distribuda ao consumidor. Estas atividades exigem recursos financeiros e humanos que so embutidos no custo para o consumidor final.De acordo com o Cdigo de guas Minerais, assinado por Getlio Vargas em 8 de agosto de 1945, as guas minerais so aquelas provenientes de fontes naturais ou de fontes artificialmente captadas que possuam composio qumica

    em 1928 e visitou as Thermas de Lindia constatando que sua gua mineral atingia 3.179 maches na escala radioativa, contra 185 maches das famosas fontes de Jachimou na Tchecoslovquia e 155 maches das fontes de Bad Gastein, na ustria. O mais interessante que esta informao uma curiosidade para todos, inclusive para os mais jovens da cidade. Um fato histrico de propores mundiais como este deveria ser explorado e divulgado ao mximo, inclusive para fins mercadolgicos. Quando o pas aprender a valorizar e divulgar seus feitos, participaes e vantagens no cenrio global?

    Controle de qualidade realizado pela Sabespinclui anlise da cor e da transparncia da gua

    ou propriedades fsicas ou fsico-qumicas distintas das guas comuns, com caractersticas que lhes conferem ao medicamentosa. O cdigo permite que qualquer gua subterrnea considerada potvel e protegida da influncia das guas superficiais (art. 26) seja engarrafada e vendida, desde que obedecidos os preceitos da legislao em vigor.Existe uma variedade de guas minerais, classificadas de acordo com a composio qumica, origem da fonte, gases presentes e temperatura, que vo determinar o uso como bebida ou banho e se so teraputicas ou no. Cada fonte apresenta uma composio exclusiva, como uma impresso digital, por isso no existe uma gua igual a outra. Por isso, os irmos da famlia

    Oliveira podiam sentir diferena no gosto da gua que bebiam dependendo da fonte de origem.A grande parte dos distribuidores de gua mineral engarrafada de Bragana

    Paulista tm como fornecedores Lindia Genuna, Serrana e Levssima fontes da Regio Bragantina. A mdia mensal de vendas de aproximadamente 1.000 garrafes de 20 litros por fornecedor, o equivalente a R$ 3.000,00. Em Atibaia, os fornecedores mais presentes so da Fonte San Gicomo e Fonte da Pedra Grande (gua Mineral Atibaia).

    Onde esto as fontes agora?Das fontes que os irmos frequentavam quando crianas, apenas uma continua acessvel, na rua Jos Domingues, no Posto do Taboo (citada no incio da matria). Ela estava aberta populao h poucos anos, quando jovens que passavam para beber gua a depredaram. Os donos do posto de gasolina

    onde a fonte se encontra limitaram o acesso. Entretanto, ainda hoje Amauri abastece sua casa com gua da fonte mas, para peg-la, precisa entrar no posto. Os mais jovens sequer suspeitam da existncia de uma fonte de gua mineral atrs do posto de gasolina e, dessa forma, apenas os clientes do posto e os moradores mais antigos entram para pegar gua. Para facilitar a retirada e conter a gua que vertia, uma torneira e pia com azulejos foi instalada no meio do barranco. Amauri continua pegando gua semanalmente e enche um galo de 20 litros sem pagar nada. Quando falta gua no bairro uma enorme fila se forma para retirar gua.

    Existe uma variedade de guas minerais, cuja

    classificao determina o uso como bebida ou sua

    utilizao em banhos teraputicos

  • guamaro-abril de 201012

    Excesso de chuva prejudica agricultores

    Eric Brando

    A onda de chuvas e inundaes trouxe srios problemas para a agricultura em Atibaia. A reportagem do Matria-PriMa foi at o Mercado Municipal de Atibaia verificar, com comerciantes e clientes, o impacto das inundaes sobre a agricultura e o preo dos alimentos. O comerciante Akira Ichinose, 50, disse que por conta das enchentes os fornecedores no conseguiram suprir plenamente a demanda. As verduras ficaram escassas e, por isso, os preos aumentaram muito. Ichinose destaca a alface: Antes das chuvas, o alface custava R$ 1,00. Com as enchentes, o preo subiu para R$ 2,50. O comerciante afirmou que nos momentos mais difceis teve que recorrer ao Ceasa da capital para abastecer sua loja, pois alm da escassez de produtos, algumas estradas locais ficaram intransitveis. [Leia matria nesta pgina].

    Chuvas tambm comprometeram as estradasTiago Cardoso

    No foram somente os comerciantes que sofreram com as fortes chuvas. As estradas acabaram sendo muito prejudicadas e implicando em danos estruturais das vias, causando muito transtorno s pessoas que dependem delas. o caso dos agricultores que fornecem produtos para o Mercado Municipal. Alm das chuvas terem maltratado as plantaes, o transporte das mercadorias tambm foi prejudicado. Mais de 800 produtores foram afetados pelas enchentes. rvores caram impedindo o trfego e buracos dificultaram a circulao dos veculos. A

    Secretaria de Infraestrutura de Atibaia foi acionada para reparar os danos, tarefa que precisou realizar simultaneamente aos trabalhos normais de recuperao de ruas so e reparos nas estradas que levam aos bairros rurais.A intensidade anormal das chuvas provocou muitas mudanas na programao da Secretaria, que atuou junto com a Defesa Civil no atendimento aos casos mais crticos. Em 2009, cerca de 2.700 solicitaes foram feitas junto Infraestrutura. J em 2010, at fevereiro, a Secretaria j registrava aproximadamente mil solicitaes 37% de todos os chamados do ano anterior.

    Reflexos no Mercado: comerciantes recorreram ao Ceasa da capital e consumidores mudaram cardpio para gastar menos

    Tradicional ponto de comrcio hortifrutigranjeiro, o Mercado Municipal sofreu as consequncias das enchentes em Atibaia

    FOtOS: ErIC BrANDO

    Reservas hdricas exigem uso responsvelRobson Trujillo Marconi

    Embora 70% da superfcie terrestre seja coberta de gua, menos de 1% desse recurso est disponvel para consumo humano. A quantidade de gua salgada cerca de 30 vezes superior de gua doce, razo pela qual esta j no mais considerada um recurso inesgotvel.Da gua doce disponvel, mais de 90% encontra-se em depsitos subterrneos, altamente prejudicados pela ocupao desordenada do solo nas grandes cidades. Os poucos mananciais de superfcie que ainda restam

    encontram-se poludos demais para o consumo, obrigando o tratamento ou a instalao de adutoras que aumentam o custo de distribuio.Segundo a empresa de perfurao de poos Jundsondas, a procura por poos artesianos no Brasil tem aumentado consideravelmente nos ltimos anos. Mais de 100 mil j foram perfurados.No estado de So Paulo, para perfurar poos artesianos necessrio obter uma licena de execuo junto ao Departamento de guas e Energia Eltrica (DAEE). O interessado precisa fornecer dados cadastrais, coordenadas de localizao do poo, estudo de avaliao

    hidrogeolgica, projeto do poo adequado s normas da ABNT, cpia da ART (Anotao de Responsabilidade Tcnica) e comprovante de pagamento de emolumentos. Aps providenciar os documentos, o processo avaliado por tcnicos do DAEE e a aprovao publicada no Dirio Oficial do Estado.Para usar o poo regularmente necessria obter a Outorga do Direito de Uso, tambm expedida pelo DAEE aps anlise e publicao no Dirio Oficial. A partir da o poo fica liberado, devendo ser respeitado o volume, o tempo de bombeamento e o destino da gua, conforme

    apresentados no processo.Para requerer o direito de uso necessrio cumprir uma srie de requisitos: apresentar formulrio indicando o tipo de uso, fornecer informaes do empreendimento, possuir documentos de posse ou cesso de uso da terra, projetos, estudos e detalhes da obra elaborados por gelogo habilitado no Conselho Regional de Engenharia e Arquiterura (CREA) acompanhados da ART, possuir Atestado de Regularidade Florestal (ARF) emitido pelo Departamento Estadual de Proteo dos Recursos Naturais (DEPRN) e da Licena de Instalao ou Funcionamento da CETESB, conforme o caso, bem como o relatrio final de execuo do poo, relatrio de avaliao de eficincia do uso das

    guas, estudos de viabilidade e comprovantes de pagamentos de emolumentos.O outorgado tem a obrigao de proteger o poo para que no haja infiltraes de qualquer tipo, que possam contaminar o aqufero. As anormalidades devem ser comunicadas ao DAEE.A Outorga de Direitos de Uso precisa ser renovada a cada 5 anos. Usurios de poos no regularizados junto ao DAEE so passveis de multa, conforme a legislao especfica. Para saber mais: consulte o site www.daee.sp.gov.br Em Atibaia, ligue 4413-6288 ou dirija-se ao escritrio localizado na rua Jos Pires, 514 Centro.

    Na opinio de Renato Andr Bueno, 66, comerciante com 44 anos de mercado, o problema em Atibaia no foi to grave. Segundo ele, os preos encareceram muito por causa das chuvas e do granizo. O comerciante afirma que, apesar dos preos mais elevados, o consumo no diminuiu. Os clientes reclamam um pouco do preo, mas acabam comprando. Por incrvel que parea, no tivemos perdas.Sandra Pinheiro Ribeiro, 55, professora, disse que o preo das verduras subiu muito. Para ela, os comerciantes se aproveitam da situao e aumentam no s o preo das verduras, mas tambm o das frutas. Segundo a professora, as feiras so uma opo pela qualidade dos produtos e pelo preo mais baixo. Sandra afirma que alternar o cardpio pode contornar o problema. Enquanto um item permanece caro, outros produtos podem ser comprados por preos mais baratos.Sandra Pinheiro sugere alternar cardpio

    Akira teve que aumentar os preos dos produtos por causa das chuvas