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MOVIMENTOS DE MULHERES E FEMINISTAS COMO SUJEITOS DA POLÍTICA DE CRECHES NO BRASIL, MARANHÃO, SÃO LUÍS Mariana Veras França 1 RESUMO: Subsidia-se a discussão dos movimentos de mulheres e feministas como sujeitos políticos da política de creches. Sabe-se que as políticas públicas tem como função modificar e transformar uma dada questão social. O entendimento feminista de políticas de creches não é diferente. A implementação de creches, como política de apoio e cuidado, é fundamental para garantir direitos das crianças, trabalhadores, mas também das mulheres, a fim de modificar a invisibilidade do trabalho feminino no âmbito doméstico e alterar positivamente a situação econômica das mulheres. Nesse sentido a ampliação da política de creches é essencial e particularmente importante para as mulheres. Palavras-chaves: Políticas Públicas; Movimentos de Mulheres e Feministas; Política de Creches. ABSTRACT: It subsidizes the discussion of women's and feminist movements as political subjects of day-care policy. It is known that public policies have the function of modifying and transforming a given social question. The feminist understanding of day care policies is no different. The implementation of day-care centers, as a policy of support and care, is fundamental to guarantee the rights of children, workers, but also women, in order to change the invisibility of women's work in the domestic sphere and positively change the economic situation of women. In this sense, the expansion of childcare policy is essential and particularly important for women. Keywords: Public policy; Movements of Women and Feminists; Day care Policy. 1 Assistente Social pela Universidade Federal do Maranhão. Especialista em Políticas Públicas e Gestão de Assistência Social pela Faculdade LABORO. Mestre em Políticas Públicas pelo Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Maranhão.

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MOVIMENTOS DE MULHERES E FEMINISTAS COMO SUJEITOS DA POLÍTICA DE

CRECHES NO BRASIL, MARANHÃO, SÃO LUÍS

Mariana Veras França1

RESUMO: Subsidia-se a discussão dos movimentos de mulheres e feministas como sujeitos políticos da política de creches. Sabe-se que as políticas públicas tem como função modificar e transformar uma dada questão social. O entendimento feminista de políticas de creches não é diferente. A implementação de creches, como política de apoio e cuidado, é fundamental para garantir direitos das crianças, trabalhadores, mas também das mulheres, a fim de modificar a invisibilidade do trabalho feminino no âmbito doméstico e alterar positivamente a situação econômica das mulheres. Nesse sentido a ampliação da política de creches é essencial e particularmente importante para as mulheres. Palavras-chaves: Políticas Públicas; Movimentos de Mulheres e Feministas; Política de Creches.

ABSTRACT: It subsidizes the discussion of women's and feminist movements as political subjects of day-care policy. It is known that public policies have the function of modifying and transforming a given social question. The feminist understanding of day care policies is no different. The implementation of day-care centers, as a policy of support and care, is fundamental to guarantee the rights of children, workers, but also women, in order to change the invisibility of women's work in the domestic sphere and positively change the economic situation of women. In this sense, the expansion of childcare policy is essential and particularly important for women. Keywords: Public policy; Movements of Women and Feminists; Day care Policy.

1 Assistente Social pela Universidade Federal do Maranhão. Especialista em Políticas Públicas e Gestão de Assistência Social pela Faculdade LABORO. Mestre em Políticas Públicas pelo Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Maranhão.

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I. INTRODUÇÃO

A criação dos filhos, o cuidado com os parentes idosos e/ou pessoas com

deficiência, as tarefas de educar, dos afazeres domésticos e de preocupar-se com saúde do

próximo, são trabalhos que, historicamente são incumbidas às mulheres, na perspectiva de

serem vistas como atividades femininas, “naturais” para as quais possuem o “dom divino” de

procriar, de cuidar. Ao se dedicar à trabalhos ditos “femininos”, as mulheres reduzem o

tempo para estudos, qualificação, de cuidados com a saúde, com participação política

efetiva, de acesso à cultura e lazer. Por mais que a realidade das mulheres tem se

modificado ao longo dos anos (devido à combinação de fatores econômicos, culturais,

sociais, tais como o amadurecimento dos movimentos sociais de mulheres e feministas, o

avanço da industrialização e urbanização, uso de anticoncepcional; entre outros

indicadores), as mulheres ainda ocupam espaços diferenciados dentro do mercado de

trabalho, dupla (por vezes, tripla) jornada de serviço, vivem a negação de direitos

previdenciários, possuem menores rendimentos comparado a dos homens, bem como

ausência de equipamentos sociais, tais como creches públicas – sendo assim, notável o

reflexo do processo histórico de reprodução das desigualdades sociais, em que os fatores

de gênero incidem com maior peso na vida das mulheres.

Segundo Scott (1990) o conceito de gênero foi criado para opor-se a um

determinismo biológico nas relações entre os sexos, dando-lhes um caráter

fundamentalmente social. Caráter esse que apreende conceituar o gênero enquanto uma

categoria útil à história, e não apenas à história das mulheres, mas também dos homens,

das relações entre homens e mulheres, dos homens entre si e igualmente entre as

mulheres, além de propiciar uma gama de análises das desigualdades e das hierarquias

sociais entre os gêneros.

A creche, no entanto é politicamente analisada como equipamento social,

produto de políticas públicas de apoio e cuidado que visam o compartilhamento dos

trabalhos de reprodução social. Assim, reconhece-se a creche como parte de uma política

pública, um equipamento público de direito social e universal, tendo o Estado o dever de

garanti-lo como público, gratuito e de qualidade. Não pode ser reduzido apenas um direito à

criança, mas de populações urbanas e rurais, de mulheres que trabalham fora de casa ou

não, e que atendam as diversas demandas e necessidades. Afirma-se, assim, que uma

política de ampliação da oferta de creches é transversal tanto às questões educacionais das

crianças, quanto às questões de gênero e impacta diretamente na autonomia das mulheres

e suas possibilidades de inserção no mercado de trabalho. Mas sua origem remonta ao

século XVIII, na Europa, com objetivo assistencial, com ações destinadas ao abrigo e à

proteção de crianças desfavorecidas. No Brasil a creche surge a partir do século XIX,

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também com função assistencial afim de minimizar o alto índice de mortalidade infantil, sua

finalidade principal era proporcionar cuidados de higiene, alimentação e proteção para

crianças oriundas de famílias de baixa renda.

O movimento de mulheres e feministas acendeu a visibilidade da creche como

instituição de direito, um bem, um direito da criança com a função de cuidar e educá-las,

diferentemente de como surgiu – pelo viés assistencialista, ao atender crianças nascidas e

criadas no recanto da pobreza. Representa também um direito do trabalhador, uma

conquista da sociedade civil organizada com a finalidade de promover o desenvolvimento

infantil, especialmente quanto às suas necessidades e competências educativas. Mas

principalmente é um direito à mulher com vistas de superação as desigualdades de gênero.

Para adentrar o proposto debate o artigo encontra-se estruturado primeiramente

pela Introdução, na qual se apresenta o estudo proposto. O segundo tópico, que debate as

mulheres como protagonistas de políticas públicas, principalmente da política de creches. O

terceiro subitem, é traçado a trajetória da política de creches como luta do movimento

feminista. O quarto, traça-se o perfil da realidade no Brasil, e em São Luís-MA das creches e

as demandas por vagas para crianças de 0 a 3 anos de idade. E por fim, as considerações

finais, que destaca pontos a ser problematizados no estudo.

II. OS MOVIMENTOS DE MULHERES E FEMINISTAS COMO SUJEITOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS: mulheres como protagonistas.

Faz necessário discutir o conceito de Políticas Públicas. As políticas públicas

são entendidas como expressão do propósito de intervir nas variadas dimensões da vida

social, a fim de promover mudanças sociais através do princípio de igualdade social

(FERREIRA, 1999). Traduz-se, portanto, como ações que tendem a criar impactos

favoráveis aos direitos dos cidadãos. A política pública implica a intervenção do Estado,

envolvendo diferentes sujeitos sociais (governamentais e não governamentais), contempla

processos de outputs (resultados) da atividade política dos governos e inputs (demandas

externas, provenientes da sociedade) (SILVA, 2013).

Os principais sujeitos sociais envolvidos na formulação de uma política pública

são: grupos de pressão, movimentos sociais e outras organizações da sociedade; partidos

políticos ou políticos individuais; administradores e burocratas; técnicos, planejadores e

avaliadores; e o judiciário (SILVA, 2013). Destaca-se nesse trabalho o movimento feminista

como sujeito de políticas públicas. Segundo, Montaño e Duriguetto (2010) os movimentos

sociais são expressões do processo de organização da classe trabalhadora, da luta de

classes e lutas sociais, portanto possuem interface com o Estado e interferem no desenho

das políticas públicas. Desse modo são,

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[...] potenciais beneficiários dos programas sociais, responsáveis pela transformação de problemas em questões sociais que integrarão ou não as agendas públicas, sendo orientados pela lógica das necessidades e dos resultados (SILVA, p. 28, 2013).

Os movimentos sociais possuem a potencialidade de fortalecer lutas por

direitos, além de dar visibilidade a realidade vivida pela sociedade e indicar propostas de

mudança social por meio de políticas públicas (MARANHÃO, 2010). Logo, considera-se:

[...] movimentos sociais como alternativas da sociedade organizada que, tendo seu espaço limitado pela ação do estado e pelas relações desiguais de classe, gênero e etnia, buscam, através de várias organizações, implementar estratégias democráticas de transformação socio-política [...] (FERREIRA, 2007, p.23).

As mulheres brasileiras já se mobilizavam desde os anos de 1940 contra o custo

de vida, por creches, melhores condições de vida e trabalho e, timidamente, buscavam uma

maior abertura política. Em fins dos anos 1970 e início dos anos 1980, essa intervenção ao

poucos se politiza e os movimentos feministas passam a contribuir na elaboração de

políticas públicas que atendessem demandas, garantissem direitos, bem como as

considerassem sujeitos de direitos à sua autonomia, integridade de seu corpo, em prol dos

direitos sexuais e reprodutivos, além de proteção contra violências domésticas e sexuais. A

condição da mulher em relações desiguais e subalternas passa a compor o debate na

sociedade e tornando-as publicamente. Como afirma (SOARES, 1994, p.4):

[...] movimento de mulheres nos anos setenta trouxe uma nova versão da mulher brasileira, que vai às ruas na defesa de seus direitos e necessidades e que realiza enormes manifestações de denúncia de suas desigualdades.

O reconhecimento das mulheres como sujeito das políticas implica construir

canais de debate para definir prioridades e desenhar estratégias para caminhar no sentido

de transformação. Transformações estas que combatam as desigualdades de gênero num

contexto do conjunto das desigualdades sociais, pressupondo práticas de cidadania ativa

para que a justiça de gênero se concretize, sobretudo pela responsabilidade do Estado. A

reinvindicação por creches no âmbito da cidade e do campo não é restrito à garantia da

educação pública e qualidade e nem tampouco apenas as trabalhadoras e trabalhadores.

Mas é determinante na construção de políticas públicas que contribuam para alterar o

padrão ou a visão naturalizada da mulher: que é restrita ao trabalho doméstico e aos

cuidados da família.

III. A TRAJETÓRIA DA LUTA DAS MULHERES POR CRECHES NO BRASIL, MARANHÃO, SÃO LUÍS

A luta por creche como equipamento social público e de qualidade, está

intimamente ligada às modificações da posição das mulheres na sociedade e suas

implicações no âmbito da família. O equipamento creche, no países ocidentais, emergiu em

períodos de guerra, onde para os homens era reservado o serviço militar e cabia as

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mulheres subsidiar a família e atender o mercado das indústrias bélicas. Porém, com o fim

das guerras militares os homens voltavam aos serviços civis e a mulher retornava ao lar

pelo desemprego, ou quando permanecia, trabalhava com salários inferiores, sem incentivos

e em condições precárias de trabalho.

No Brasil, a partir dos anos 1920, as mulheres pobres, casadas, viúvas,

abandonadas, saíram do âmbito privado para adentrar o mercado de trabalho com o intuito

de garantir o sustento da família e emergir a condição de pobreza. No processo de

industrialização e urbanização do Brasil e a maior inserção da mulher no serviço público, as

creches foram institucionalizadas para mães trabalhadoras, cujo objetivo era garantir

participação assídua e pontual e a qualidade da mão de obra. Nesse contexto, a política de

creches adentrou na agenda governamental. A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT),

Decreto-Lei nº 5.452/43 (aprovada no âmbito de mudanças econômicas, políticas e sociais)

previu as creches como uma responsabilidade do empregador. Assim, a legislação

trabalhista foi primeiro marco histórico no que diz respeito a legalidade das creches. O Art.

388, Parágrafo Único da CLT:

Quando não houver creches que atendam convenientemente à proteção da

maternidade, a juízo da autoridade competente, os estabelecimentos em que trabalharem pelo menos trinta mulheres, com mais de 16 anos de idade, terão local apropriado onde seja permitido às empregadas guardar, sob vigilância e assistência, os seus filhos no período de amamentação (BRASIL, Art. 338, Parágrafo Único, 1943)

Em 1967, o texto acima foi substituído pela inclusão do Decreto-lei nº 229,

(28.2.1967) no §1 do Art. 389 da CLT:

§ 1º - Os estabelecimentos em que trabalharem pelo menos 30 (trinta) mulheres com mais de 16 (dezesseis) anos de idade terão local apropriado onde seja permitido às empregadas guardar sob vigilância e assistência os seus filhos no período da amamentação. (Incluído pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967) § 2º - A exigência do § 1º poderá ser suprida por meio de creches distritais

mantidas, diretamente ou mediante convênios, com outras entidades públicas ou privadas, pelas próprias empresas, em regime comunitário, ou a cargo do SESI, do SESC, da LBA ou de entidades sindicais. (Incluído pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967) (BRASIL, Art. 389, 1943)

As instituições públicas assumiam os cuidados das crianças somente nos casos

comprovados de “incapacidade das famílias”, referenciados pela Constituição Federal de

1934 e posteriormente em 1937:

[...] Art.138. Incumbe à União, aos Estados e aos Municípios nos termos das leis respectivas; [...] c) amparar a maternidade e a infância; d) socorrer as famílias de prole numerosa; [...] f) adotar medidas legislativas e administrativas tendentes a restringir a mortalidade e a morbidade infantis; e de higiene social que impeçam a propagação das doenças transmissíveis (BRASIL, art. 138, 1934). O abandono intelectual ou físico da infância e da juventude importará em falta grave dos responsáveis pela sua guarda, e cria ao Estado o dever de provê-los do conforto e dos cuidados indispensáveis à preservação física e moral. Aos pais miseráveis assiste o direito de invocar o auxílio e proteção do Estado para a subsistência e educação da sua prole (BRASIL, Art. 127, 1937).

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Assim como em outros países do mundo, no Brasil especificamente no Estado

de São Paulo, vinculou a creche à uma visão assistencialista ao focar apenas ao abrigo dos

filhos de mães trabalhadoras. Portanto, as razões educacionais eram desconhecidas na

instituição da creche ao ter por objetivo manter a saúde física e moral da população.

Percebe-se no discurso da constituição que a pobreza é entendida como fruto da fraqueza

pessoal e questão de caráter. Para mães e pais que não poderiam prover o sustento da

família e das crianças, caía sobre os mesmos a responsabilidade e ações punitivas por isso.

Em 1940, foi criado o Departamento Nacional da Criança no Ministério da

Educação e Saúde e juntamente com Legião Brasileira de Assistência (LBA) tornaram-se

responsáveis pelas creches (ao implementar creches nas comunidades pobres pelo Projeto

Casulo2), articuladas com instituições filantrópicas. Durante o Governo Militar, a política de

creches deslocou-se mais para a fronteira da assistência social do que da política de

trabalho, caracterizando-se como uma política de apoio precário às mães trabalhadoras

empobrecidas, que não estivessem amparadas pelas garantia de proteções sociais

previstas na CLT.

No processo de respostas as reivindicações das mulheres-mães trabalhadoras,

o problema político posto em questão era o de inserção no mercado de trabalho das mães

com filhos (as) que não tivessem onde ficar (ROSEMBERG, 1984). Embora as creches

estivessem inseridas na política de trabalho, a lógica da divisão sexual não era

problematizada, além de só assegurar os(as) trabalhadores(as) inseridos(as) em relações

formais de trabalho. Dessa forma, a formulação da política, nesse contexto,

responsabilizava, em primeiro lugar, as empresas, prevendo uma responsabilidade

subsidiária do Estado. A partir de 1975 a reivindicação por creches esteve presente na

maioria dos atos públicos do movimento de mulheres e feministas. O feminismo incorporou

como bandeira de luta a instalação de creches por entender que o equipamento é um

desdobramento do direito ao trabalho e a participação política das mulheres (CAMPOS,

1999). Fato que, em muito contribuiu para a demanda por creches entrasse no debate e na

pauta de exigências do movimento sindical.

De início foram formados movimentos isolados. Depois os debates sobre

creches adentraram os espaços de clube de mães, movimentos contra a carestia e,

posteriormente, no âmbito do Movimento Feminista. Em São Paulo, organizou-se um

movimento único: o Movimento de Luta por Creches (MLC), que integrava feministas, grupo

de mulheres, a Igreja, partidos políticos (legais ou clandestinos) e grupos independentes

2 Tinha por objetivo atender crianças de 0-6 anos, precisamente a partir do 4º mês de idade (de famílias de baixa renda), ao proporcionar atendimento médico odontológico, nutricional, de recreação, assistência jurídica, educação e aludia a participação da família e da comunidade nas tarefas da creche.

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(ROSEMBERG, 1984). Em 1979, acontece o 1º Congresso da Mulher Paulista – lançamento

oficial do MLC. À medida que o movimento ganha força, promessas governamentais de

construção de 830 creches em São Paulo em três anos são feitas (SAFFIOTI, 1987). Porém,

apenas a metade de creches prometidas foram construídas.

Apesar dos desafios o movimento de mulheres e feministas se consolidam, no

contexto marcado pela censura e conservadorismo instaurados pelo Regime Militar, como

atores políticos ao integrar forças democráticas a favor da ampliação da cidadania,

democracia, igualdade, simultaneamente a falta de trabalho, educação, saúde, direitos à

esfera da reprodução. Como amadurecimento do Movimento, em 1986, o Conselho

Nacional dos Direitos das Mulheres (CNDM) firmou propostas aos Constituintes para que as

demandas das mulheres fossem atendidas na Constituição Federal de 1988 (CF/88), e

dentre eles o direito a extensão da creche.

No Maranhão, a discussão sobre o equipamento social emerge com potência em

meados da década de 1980, quando o Grupo de Mulheres da Ilha inicia um trabalho com a

comunidade do São Bernardo e defronta-se com as dificuldades elencadas pelas mulheres

com o cuidado de crianças pequenas. Porém, já existiam mulheres de camadas populares

que lutavam e se mobilizavam com intuito de dar visibilidade as questões que se

relacionavam ao papel da mulher-mãe, dona de casa e trabalhadora. Vale ressaltar que a

reivindicação por creches sempre adentrava em outras pautas nos debates feministas da

época.

A CF/88 inscreveu a política de creches na dimensão dos direitos, como uma

resposta às reivindicações políticas sobre o tema, significando, portanto, um divisor de

águas na constituição de sua identidade. As creches e pré-escolas foram afirmadas como

um direito social de trabalhadores(as) urbanos e rurais (art. 7º, XXV), mas também como

direito de crianças de até cinco anos à educação (art. 208, IV). Já na década de 1990, no

Maranhão, a política de creches passa a ser discutida pelo Fórum Maranhense de Mulheres

onde passa a exigir uma posição mais efetiva da CUT, ao destacar a relevância da creche

como uma questão política (GERAMUS, 2016).

O ECA também explicita uma nova concepção da infância e da adolescência,

centrada na noção de direitos, prevendo que o atendimento em creches é dever do Estado,

definindo ações de responsabilidade em caso de omissão ou oferta irregular (art. 54, IV, §

2º). A LDB, por sua vez, afirmou a integração das creches e pré-escolas ao ciclo

educacional, enquanto primeira etapa da educação básica. As creches deveriam atender

bebês e crianças pequenas de até três anos de idade (art. 30, I) e, à pré-escola, as crianças

de 04 e 05 anos de idade (art. 30, II).

No âmbito da educação, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDB) Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, reitera o dever constitucional do Estado

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com a educação infantil (art. 4º) definindo-a como a primeira etapa da educação básica, de

atribuição e responsabilidade do município, devendo ser oferecida em creches ou entidades

equivalentes, para crianças de até 3 anos de idade e em pré-escolas para crianças de 4 a 5

anos de idade (art. 30).

Com base nos marcos legais elencados, verifica-se que a educação infantil

integra o sistema de ensino, sendo um dever do Estado e organiza-se segundo normas do

Sistema Educacional vigente. Então, sendo a educação infantil parte do sistema de ensino,

esses equipamentos sociais (creches e pré-escolas) deixam de ser concebidos sob a ótica

da assistência e passam a ser perceptíveis na lógica do direito. Portanto, precisa-se ter

bem claro que a oferta de vagas em creches e escolas de educação infantil pública não se

trata de um favor, mas sim um direito de todas as crianças. Além de ser um direito da

criança, entende-se que é também uma recusa ao atual modelo que reforça a

responsabilidade individual das mulheres no trabalho doméstico e de cuidados, sendo

indispensável para a entrada e a permanência das mulheres no mercado de trabalho.

Em relação à igualdade de gênero no mundo do trabalho, a agenda da política

para as mulheres enfatizou a igualdade entre mulheres e homens no mercado de trabalho,

mas também destacou a valorização do trabalho reprodutivo e a ampliação de

equipamentos sociais, como creches, como meio para disponibilizar tempo livre para as

mulheres. O atual PNPM3 (2013-2015) avançou no que diz respeito a incorporação das

creches à agenda da política para as mulheres ao definir como objetivo específico

“Promover políticas que visem o compartilhamento das responsabilidades domésticas e que

contribuam para a superação da divisão sexual do trabalho” (BRASIL, 2013). Apesar dos

avanços imprescindíveis na política de creches, nos marcos legais e nos planos de

educação e na perspectiva feminista, muitos são ainda os desafios a serem enfrentados,

analisados no próximo item do artigo.

IV. EXPECTATIVAS X REALIDADE

Apesar da CF/88explicitar a política de creche como direito, o que se percebeu

ao longo dos anos é que a realidade está aquém do que a legislação vem a garantir.

Verifica-se que de 2002 a 2012, o número de crianças até 3 anos matriculadas em creches

aumentou de 11,7% para 21,2%, enquanto na faixa de 4 a 5 anos o índice saltou de 56,7%

para 78,2% (IBGE, 2013). Porém, no grupo dos 20% mais pobres da população, a

proporção era de 21,9%, quase três vezes menos que os 63% alcançados pelos 20% mais

ricos. A disparidade continua, embora menor, na faixa de 4 e 5 anos, em que 78,2% das

3 O Plano Nacional de Política para as Mulheres é fruto de conferências nacionais, estaduais e

municipais. Contribui para o fortalecimento e a institucionalização da Política para as Mulheres.

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crianças brasileiras frequentam escola, percentual que cai para 71,2% no caso das incluídas

na fatia com menor renda e sobe para 92,5%, entre as mais ricas (IBGE/PNAD, 2013).

Percebe-se que as creches públicas atendem as crianças empobrecidas,

constituindo uma rede educacional paralela e segregada. Porém, milhões de crianças ainda

ficam de fora dessa rede. Dados divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios (PNAD) referentes ao ano de 2011 mostram que 10 milhões de crianças estão

em idade de frequentar creches, mas apenas 21% delas estão matriculadas no país. E

ainda, uma pesquisa divulgada em 2012, realizada com mulheres de 18 a 64 anos, mostra

que 88% apontam a creche como uma das principais demandas ao poder público. Do total,

45% das mulheres que trabalham não tem ajuda para cuidar dos filhos e 34% afirmaram que

encontrar vaga em creche é a principal dificuldade para quem está trabalhando (PIERRO,

2012). Tal realidade conduz o governo federal a implementar em 2006, o Fundeb4, o PAC,

em 2011, para construção de novas creches e pré-escolas, assim como programas no rol da

Política de Assistência Social, no âmbito do enfrentamento a pobreza, tal como o Programa

Brasil Carinhoso. Apesar do esforço, os programas e incentivos do Governo Federal ainda

não respondem significativamente as demandas de mulheres e crianças.

Uma pesquisa recente realizada pela DATA POPULAR e SOS CORPO (2012) a

maioria das mulheres entrevistadas (71%) enfrentam a dupla jornada de trabalho, pois não

tem a partilha de afazeres domésticos com os maridos, na qual a creche se constitui um dos

suportes que poderiam ajudar no dia a dia das mulheres, considerada como uma das

principais demandas, independentemente da classe socioeconômica (75%). Porém,

encontrar vagas em instituições públicas é uma das principais dificuldades das mulheres

que trabalham fora (34%).

Como a educação infantil é de responsabilidade dos municípios, os Estados

Brasileiros, não possuem em sua dependência vagas em creches e pré-escolas, mas o que

se pode verificar a nível estadual - 20,3% de acordo com o censo do IBGE (2010) de

crianças frequentam creches, apesar do tímido crescimento entre os anos 2001 (69.075

crianças frequentaram creche) e 2014 (136.461 frequentaram creche), dados não

representativos por não cobrir 50%5 do contingente populacional de crianças de 0 a 3 anos

(TODOS...2016).

No contexto da capital do Maranhão – São Luís – a população residente no

município na faixa etária de 0-3 anos de idade corresponde a 60.822 crianças, de acordo

4 O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, regulamentado pela Lei nº 11.494/2007 e Decreto nº 6.253/2007. É um fundo especial, de natureza contábil e de âmbito estadual, formado, na quase totalidade, por recursos provenientes dos impostos e transferências dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. 5 De acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE) o país deve atender em creches 50%das crianças de até 3 (três) anos até o final da vigência do PNE.

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com o censo IBGE (2010). Porém, 17.395 alunos correspondentes na faixa etária de creche

foram registrados no Censo Escolar de 2015 na rede pública (3.472 crianças) e na rede

privada (13.923 crianças), ao ficar de fora da escola um total de 43.427 crianças de 0-3

anos. Assim, é perceptível a desigualdade de acesso, onde a rede privada é que mais

matricula crianças nessa faixa etária, formadas em sua maioria por instituições comunitárias

e filantrópicas. E a rede pública que não supre as demandas por vagas, principalmente para

aquelas crianças oriundas de famílias consideradas pobres e extremamente pobres (SÃO

LUÍS, 2015).

V. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A creche como equipamento social, inscrito na CF/88, é imprescindível na

garantia do direito da criança, mas também oportunizar autonomia feminina na medida em

que libera a mulher para sua inserção em postos de trabalho. A ausência desse

equipamento não nega apenas o direito de educação de qualidade à criança, mas também

inibe a participação feminina no mercado de trabalho, pois dificulta ou inviabiliza a mesma a

sair da condição de pobreza e reproduz a naturalização dos papeis sexuados na sociedade.

É evidente que as iniciativas do Estado através de Leis, Planos, Programas

contribuíram para ampliar um novo formato de creches (baseadas na definição do direito,

contraditoriamente ao assistencialista), e o acesso às creches no Brasil, o que impacta

positivamente o cotidiano de crianças, mães, pais e responsáveis, mas, sobretudo, das

mulheres, as quais respondem massivamente pelas práticas sociais de cuidado. Contudo,

deve-se problematizar na perspectiva das relações de gênero.

Verificou-se assim, que as respostas mais imediatas às reivindicações das

mulheres-mães que precisavam trabalham no processo de urbanização e industrialização do

Brasil, se desdobrou na área da assistência social e no campo das relações trabalhistas,

como se viu no caso da obrigatoriedade das empresas em manter creches para as mulheres

com filhos pequenos. Campos (1999) destaca que os órgãos públicos que ofereceram

respostas as demandas foram as secretarias estaduais e principalmente as municipais de

bem estar social e, em âmbito federal, a Legião Brasileira de Assistência (LBA), através do

Projeto Casulo que atuava em parcerias com instituições privadas, viés filantrópico.

As mulheres, organizadas em movimentos coletivos, foram atrizes importantes

das reivindicações por creches, especialmente a partir da década de 1970. Elas atuavam na

denúncia das condições de injustiça social no Brasil, mas também pautavam reivindicações

específicas dos interesses práticos e estratégicos das relações de gênero, o que articulou

movimentos feministas e de mulheres em torno de temas como trabalho, educação, família

e saúde.

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Outra questão a ser problematizada é a perpetuação da configuração da

creche atualmente, pois de acordo com os dados demonstrados no desenvolvimento do

artigo, há uma desigualdade de acesso, onde a creche pública é reservada para os mais

pobres, enquanto a creche privada é acessada pelos mais ricos. E que ainda são

insuficientes para o atendimento da metade do contingente populacional em todo o país,

apesar dos avanços na política de creches pós CF/88. Cortes de gastos públicos e

restrições orçamentárias para as políticas sociais, em face do contexto neoliberal vigente,

estimulam a formulação de políticas que atendam apenas aos mínimos sociais de famílias

empobrecidas e miseráveis, respondendo a um ideal de eficiência cirúrgica de gastos

públicos, e não à garantia de direitos universais – perceptível a não expansão de vagas em

creches públicas em São Luís, o que faz transferir a responsabilidade do Município para a

sociedade civil, por meio de instituições privadas – filantrópicas e comunitárias –

conveniadas com a prefeitura. Instituições essas que atendem com limitações, infraestrutura

inadequada, profissionais não qualificados e mal renumerados.

Portanto, as políticas de apoio e cuidado, devem ser fundamentadas na

transversalidade de gênero, com vistas a facultar a autonomia feminina e a redivisão das

tarefas de cuidado, superando a abordagem de que a mulher é a única responsável pelas

tarefas domésticas e educação dos filhos. A ampliação da política de creches é

particularmente importante para as mulheres, pois além de um direito da criança ao seu bem

estar e educação de qualidade, garante às mulheres melhores possibilidades de buscar

trabalho remunerado, ter controle sobre o seu tempo, seja para o lazer, participação política

ou a sua qualificação profissional.

REFERENCIAS

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