mosca branca e pulgão preto: uma ameaça aos cajueiros e ... · apropriados, precisam ser...

7
Mosca branca e pulgão preto: uma ameaça aos cajueiros e coqueiros do sudeste da Bahia. José Inácio Lacerda Moura 1 MOSCA BRANCA Ao longo da costa litorânea entre os municípios de Ilhéus e Canavieiras-BA é comum observar cajueiros (Anacardium occidentale L) fortemente atacados e/ou mortos em decorrência das injurias causada pela mosca branca (Figura 1). São chamadas assim, por terem asas que lembram uma pequena mosca (Figura 2). Na verdade, trata-se de insetos da ordem hemíptera pertencente à família Aleyrodidae. É possível que seja Aleurodicus cocois (Martin, 2008) a mesma espécie que ocorre sobre os cajueiros do estado do Ceara. Figura 1. Aspecto da folhagem do cajueiro atacado pelas moscas brancas (cores esbranquiçadas) e fumagina (cor escura). 1-Dsc.;Engenheiro Florestal; Comissão Executiva da Lavoura Cacaueira/Ceplac/Esmai [email protected]

Upload: lykiet

Post on 12-Nov-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Mosca branca e pulgão preto: uma ameaça aos cajueiros e coqueiros do sudeste da

Bahia.

José Inácio Lacerda Moura1

MOSCA BRANCA

Ao longo da costa litorânea entre os municípios de Ilhéus e Canavieiras-BA é comum observar cajueiros (Anacardium occidentale L) fortemente atacados e/ou mortos em decorrência das injurias causada pela mosca branca (Figura 1). São chamadas assim, por terem asas que lembram uma pequena mosca (Figura 2). Na verdade, trata-se de insetos da ordem hemíptera pertencente à família Aleyrodidae. É possível que seja Aleurodicus cocois (Martin, 2008) a mesma espécie que ocorre sobre os cajueiros do estado do Ceara.

Figura 1. Aspecto da folhagem do cajueiro atacado pelas moscas brancas (cores esbranquiçadas) e fumagina (cor escura).

1-Dsc.;Engenheiro Florestal; Comissão Executiva da Lavoura Cacaueira/Ceplac/Esmai [email protected]

Figura 2. Moscas brancas na face abaxial da folha do cajueiro.

Além do depauperamento e subseqüente morte do cajueiro devido à sucção continua

da seiva, esses insetos excretam açucares (também chamado de honeydew). A deposição de

honeydew sobre a planta pode fornecer um substrato favorável para o desenvolvimento de

fungos que recobrem a planta, formando a fumagina que afeta os processos de fotossíntese e

de respiração foliar (Lazzari & Carvalho, 2009). A ocorrência de mosca branca nos cajueiros é

mais frequente no verão ou em períodos de estiagem.

Embora a mosca branca ataque mais o cajueiro, no sul da Bahia ela ataca também o

coqueiro, conforme observações realizadas em alguns municípios regionais, principalmente

nos pés próximos de cajueiros que sofreram injúrias previamente. Coqueiros quando atacados

pela mosca branca apresentam a coroa foliar cinza esbranquiçada (Figura 4) em consequência

de uma camada branca cerosa e de inúmeros fios alongados e translúcidos e açucarados que

se dissolvem ao serem tocados (Ferreira et al., 2011). Todo o ciclo de vida da mosca branca é

no coqueiro cuja postura, de maneira geral, ocorre no lado inferior dos folíolos da folha

(figura 3). Algumas moscas brancas tem capacidade reprodutiva de 100 a 300 ovos /fêmea, e

rapidez de multiplicação, chegando a produzir até 16 gerações por ano (Ferreira et al. 2011).

Figura 3. Ovos das moscas brancas sobre a fase abaxial dos folíolos do coqueiro

Figura 4. Folíolos mostrando coloração esbranquiçada em decorrência da presença das

moscas brancas

Segundo relato de proprietários de áreas residenciais na orla marítima regional, a

produtividade dos coqueiros caiu significativamente após ataque das moscas. No Ceara, no

município de Paracuru, o ataque da mosca branca reduziu em 35% a produtividade dos

coqueirais.

A mosca branca é transmissora de varias doenças de origem virótica em outras

culturas, todavia, até a presente data não ha registro no Brasil desta associação com o

coqueiro.

PULGÃO PRETO DO COQUEIRO

O pulgão preto do coqueiro (Figura 5) Cerataphis lataniae Boisduval, 1867 (Hemiptera:

Aphididae) é um afídeo preto, de forma circular e circundado por uma franja branca, com

diâmetro variando entre 1,5 e 2,0 mm, de locomoção lenta, fixa-se em determinado ponto da

planta para sugar a seiva. Em coqueiros safreiros, provoca abortamento de flores femininas,

queda de frutos pequenos e frutos em desenvolvimento (Ferreira&Filho). De maneira geral

localizam-se na parte inferior dos folíolos das folhas mais novas de coqueiros jovens e adultos.

Em plantios comerciais de coqueiro anão no município de Una, BA, tem-se observado

que injurias causada por C. lataniae reduzem expressivamente a produtividade e deprecia o

valor comercial dos frutos devido à deposição da fumagina sobre os mesmos. Estudos em

campo revelaram que coqueiros fortemente atacados pelo pulgão preto, podem apresentar

em uma única raques foliar 4.378 pulgões sobre os folíolos.

Considerando que as doenças foliares, queima ( Lasiodiplodia theobromae ;

Botryosphaeria cocogena ) e lixa (Catacauma torrendiella ) estão presentes nos coqueirais no

sul da Bahia, a ocorrência desse inseto potencializará os danos para a cultura, especialmente

com relação à produtividade.

Figura 5. Pulgão preto e fumagina sobre os folíolos e frutos do coqueiro

Ainda, esses insetos, a exemplo das moscas brancas, excretam honeydew que atraem

e servem de alimento para diversas espécies de insetos, entre os quais, a formiga pixixica

(Wasmannia auropunctata,Roger, 1863). O fluxo da pixixica ao longo do estipe do

coqueiro causa lesões aos trabalhadores envolvidos na coleta dos frutos e, em razão disso,

muitos operários se recusam a trabalhar em coqueirais onde há ocorrência dessa formiga.

MEDIDAS DE CONTROLE

Os pulgões são facilmente controlados quando os coqueiros encontram-se de porte

baixo. Uma vez altos, o controle mostra-se ineficiente em virtude da barreira formada pelas

folhas mais velhas que impedem a aderência dos pesticidas sobre as folhas centrais mais

jovens, onde pulgões preferem colonizar. Tratando-se de coqueiros híbridos (anão X gigante)

com mais de vinte metros de altura, torna-se praticamente impossível realizar pulverizações

via atomizadores. Além do mais, a maioria dos coqueirais situados na orla marítima do estado

da Bahia são formados por pequenos produtores que não fazem uso de adoções tecnológicas,

em virtude de valores culturais e baixo poder aquisitivo.

Com relação às moscas brancas sobre coqueiros jovens (de baixo porte) podem ser

controladas com a mistura de óleo de algodão bruto a 2% mais detergente a 1%. Contudo,

essa mistura mostra-se ineficiente quando os coqueiros encontram-se altos. Ferreira et al.,

(2011) citam que mesmo inseticida sintético quando veiculados com equipamentos

apropriados, precisam ser misturados a espalhantes adjuvantes siliconados para melhor

absorção e penetração do produto, pois os fortes ventos fecham os folíolos no embalar das

folhas dificultando a aderência da calda inseticida.

Dessa forma é praticamente impossível o controle do pulgão preto e moscas

brancas através de pulverizações, quando se trata de plantios muito altos. Juntem-se a isso

problemas de deriva em decorrência dos fortes ventos nordeste na estação do verão.

INJEÇÃO DE IMIDACLOPRIDE

O uso de injeção de imidaclopride já é uma pratica usual em alguns países. Na

Austrália, injeção de imidaclorpide a 20% foi utilizada no combate ao percevejo

Thaumastocoris peregrinus Carpinteiro & Dellapé 2006, sobre plantios de eucalipto em áreas

urbanas (Noak, 2009). O pulgão Adelges tsugae Annand, uma severa praga do abeto (Tsuga

spp) nos Estados Unidos, tem sido eficientemente controlado com injeção de imidaclopride a

5% (Doccola et al.; 2007).

Tratando-se de coqueiros altos estabelecidos em pequenas áreas, não existe tática

mais eficiente e econômica do que injeção no estipe do coqueiro com imidaclopride. Para sua

execução é feito um furo com auxilio de uma maquina de furar na base do estipe do coqueiro.

Após, injeta-se a quantidade recomendada do inseticida e, em seguida, tampa-se o orifício

com um tarugo ou massa de cal.

Imidaclopride pertence ao grupo dos neonicotínóiides, tem ação sistêmica, faixa

azul e tem baixa toxidade para mamíferos. Pode ser aplicado via pulverização foliar, injeção no

tronco ou pincelamento, injeção no solo e através de rega ou irrigação. Porém, há relatos na

literatura citando o imidaclopride como extremamente tóxico para as abelhas quando aplicado

via pulverização.

Injeção de imidaclopride a 25% foi eficiente no controle do pulgão preto sobre os

coqueirais da Estação Experimental Lemos Maia (Esmai) pertencente à Comissão Executiva da

Lavoura Cacaueira (Ceplac). Em uma área onde todos os coqueiros apresentavam-se atacados

pelo pulgão observou-se que o coqueiro que recebeu dose de 10 ml de imidaclopride a 25%,

apresenta folíolos muito verdes (Figura 6 A), comparativamente aos do coqueiro ao lado (B)

que não recebeu. No entanto, é preciso estudar dose/eficiência visando identificar uma

quantidade mínima com máxima eficiência sobre o pulgão preto. Com um litro de

imidaclopride a 25% é possível tratar 2,5 hectares de coqueiro.

Figura 6. Coqueiro com folíolos verdes (A) tratado com imidaclopride a 25% e coqueiro não

tratado com foliolos escuros devido a presença da fumagina.

Injeção de imidaclopride parece ser uma tática de baixo impacto ambiental, pois

aparentemente não afeta os organismos sobre a folhagem e solo. Porém, é desconhecido o

nível de contaminação desse inseticida sobre o pólen e néctar do coqueiro. Outro aspecto

observado em relação ao imidaclopride é sua lenta ação no principio do tratamento. Convém

salientar ainda, que o imidaclopride não teve ação sobre o acaro da necrose Aceria

guerreronis. Relativo à fumagina, o fungo só se desprende dos folíolos após pesadas chuvas.

Imidaclopride não tem registro no Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA)

para o controle do pulgão preto do coqueiro. Portanto, não pode ser usado e nem

comercializado para esse fim. Assim, no estado da Bahia, seu uso sob quaisquer circunstancia

A B

está condicionado a uma consulta prévia a Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia

(ADAB). É recomendável que níveis residuais desse inseticida na água do coco e copra sejam

determinadas, pois uma vez conhecido, poder-se-á buscar mecanismos para seu registro junto

ao MAPA.

Agradecimentos:

A Eng. Agrônoma Maria das Graças.C. Parada Costa Silva pela correção do texto.

Literatura Consultada

Noack, A.E.; Kaapro,J.; Bartimote-Aufflick,K.; Mansfield,S.; Rose, H. Efficacy of imidacloprid in

the control of Thaumastocoris peregrines on Eucalyptus scoparia in Sidney, Australia.

Arboriculture & Urban Forestry, v 35,n.4, p.191-195, 2009.

Doccola, J.J.; Bristol,E.L.; Sifleet, S.D.; Lojko, J.; Wild, P.M. Efficacy and Duration of

Trunk-Injected Imidacloprid in the Management of Hemlock Woolly Adelgid (Adelges

tsugae). Arboriculture & Urban Forestry 2007. 33(1):12–21

Ferreira, J.M.S,. Lins, P.M.P.; Omena,R.P.M.; Lima, A.F.de.; Filho, F.R. Mosca branc.a: uma

ameaça a produção do coqueiro no Brasil. Circular Técnica 62. 2011. Embrapa. Aracaju, SE.

Ferreira, J.M.S.; Filho, M.M. Profução Integrada de coco: Praticas fitossanitárias . Embrapa.

Aracaju,SE. 107p. 2002.

Lazzari, S.M.N.; Carvalho, R.C.Z.de. Sugadores de seiva ( Aphidoidea). In: Panizzi, A.R.; Parra,

J.R.P. (Ed). Bioecologia e nutrição de insetos para o manejo integrado. Embrapa Informação

Tecnológica, 2009. p. 767-836.