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MORTE E SUCESSÃO PROFA. ZÉLIA PRATES

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MORTE E SUCESSÃO

PROFA. ZÉLIA PRATES

MORTE DA PESSOA NATURAL

1. Modalidades gerais de sucessão

Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de últimavontade.

1.1. Sucessão legítima/intestado: aquela que decorre da lei, queenuncia a ordem de vocação hereditária, presumindo a vontadedo autor da herança.

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte (...)

1.2. Sucessão testamentária: aquela proveniente da vontade deum testamento (negócio jurídico unilateral).

2. ABERTURA DA SUCESSÃO

Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aosherdeiros legítimos e testamentários.

Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-seesta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a aberturade sucessão definitiva.

2.1. A morte real

A morte real é aquela que se dá com corpo presente, não havendo anecessidade de buscar socorro às presunções.

a) o momento da morte real: art. 3.º da Lei 9.434/1997 – LeiReguladora dos Transplante de Órgãos Humanos

A lei exige, dessa forma, a morte cerebral (morte real), ou seja, que océrebro da pessoa pare de funcionar. Isso consta, inclusive, do art. 3.ºda Lei 9.434/1997, que trata da morte para fins de remoção de órgãospara transplante. Para tanto, é necessário um laudo médico, visando àelaboração do atestado de óbito, a ser registrado no Cartório deRegistro Civil das Pessoas Naturais, nos termos do art. 9.º, inciso I, dacodificação civil.

A respeito da morte cerebral, como parâmetro científico a ser utilizado para os finssucessórios, leciona

“Com a morte cerebral, a mente – sede do espírito humano – já se perdeu e, comose sabe, não mais se recuperará, não mais se reavivará; ao corpo, resta poder seralimentado artificialmente enquanto se espera, por exemplo, a confirmação de quea mente se apagou, ou enquanto esse corpo é útil para a produção de outro fim,como no caso da gestante mantida ‘viva’ pelos aparelhos. O corpo pode estar vivosem que a pessoa esteja viva. Significa isso que a pessoa perca a sua personalidadequando perde sua atividade cerebral, e seu corpo mantido exclusivamente poraparelhos torna-se não mais corpo dessa pessoa, mas um objeto tecnológicoadministrado pela técnica hospitalares. Essa é uma visão infernal, sabe-se, de umponto de vista religioso, mas é o que ocorre de fato: temos o poder de manipular ocorpo, de manter em funcionamento essa máquina humana mesmo que a pessoajá tenha morrido. A medicina só confirma, embora muitos médicos tentemargumentar de maneira dispersa, exclusivamente por conta de suas crençasreligiosas ou convicções éticas” (HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes.Morrer..., 2011, p. 85)

b) O documento comprovante: Lei de Registros Públicos

Art. 77 - Nenhum sepultamento será feito sem certidão, do oficial deregistro do lugar do falecimento, extraída após a lavratura do assentode óbito, em vista do atestado de médico, se houver no lugar, ou emcaso contrário, de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciadoou verificado a morte.

Art. 79. São obrigados a fazer declaração de óbitos:

1°) o chefe de família, a respeito de sua mulher, filhos, hóspedes,agregados e fâmulos;

2º) a viúva, a respeito de seu marido, e de cada uma das pessoasindicadas no número antecedente;

3°) o filho, a respeito do pai ou da mãe; o irmão, a respeito dos irmãose demais pessoas de casa, indicadas no nº 1; o parente mais próximomaior e presente;

4º) o administrador, diretor ou gerente de qualquer estabelecimentopúblico ou particular, a respeito dos que nele faleceram, salvo se estiverpresente algum parente em grau acima indicado;

5º) na falta de pessoa competente, nos termos dos números anteriores,a que tiver assistido aos últimos momentos do finado, o médico, osacerdote ou vizinho que do falecimento tiver notícia;

6°) a autoridade policial, a respeito de pessoas encontradas mortas.

Parágrafo único. A declaração poderá ser feita por meio de preposto,autorizando-o o declarante em escrito, de que constem os elementosnecessários ao assento de óbito.

2.1. A morte presumida sem declaração de ausência. A

justificação

Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação deausência:

I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo devida;

Sua aplicação é prevista aos casos envolvendo desastres, acidentes,catástrofes naturais, sendo certo que o parágrafo único, dessedispositivo, preconiza que a declaração de morte somente será possíveldepois de esgotados todos os meios de buscas e averiguações do corpoda pessoa, devendo constar, da sentença, a data provável da morte dapessoa natural.

Lei de Registros Públicos

Art. 88. Poderão os Juízes togados admitir justificação para o assentode óbito de pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio,terremoto ou qualquer outra catástrofe, quando estiver provada a suapresença no local do desastre e não for possível encontrar-se o cadáverpara exame.

II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não forencontrado até dois anos após o término da guerra.

Exceção a esta regra quanto ao tempo e espécie de “guerra”- Lei9.140/1995 presume a morte de “pessoas que tenham participado, outenham sido acusadas de participação, em atividades políticas, noperíodo de 2 de setembro de 1961 a 5 de outubro de 1988, e que, poreste motivo, tenham sido detidas por agentes públicos, achando-se,deste então, desaparecidas, sem que delas haja notícias” (redaçãodada pela Lei 10.536/2002). O caso também é de “morte presumidasem declaração de ausência.”

3. COMORIÊNCIA

Quanto ao momento da morte

Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não sepodendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros,presumir-se-ão simultaneamente mortos.

Não se presume que um dos envolvidos faleceu primeiro(premoriência), mas que morreram no mesmo momento(comoriência).

Pra que serve isso?

JURISPRUDÊNCIA – veículo abalroado e depois explodir – teráocorrência “Comoriência. Presunção legal. Elisão. Prova. Não sepodendo afirmar com absoluta certeza, em face da prova dos autos, apremoriência de uma das vítimas de acidente em que veículo éabalroado e vem a explodir quase em seguida, deve ser mantida apresunção legal de comoriência. Apelo improvido” (TJMG, Acórdão1.0137.06.900006-5/001, 5.ª Câmara Cível, Carlos Chagas, Rel. Des.Cláudio Renato dos Santos Costa, j. 09.11.2006, DJMG 1.º.12.2006)

4. Morte presumida por ausência

Está presente, tal figura jurídica, nas hipóteses em que a pessoa estáem local incerto e não sabido (didaticamente, LINS), não havendoindícios das razões do seu desaparecimento. Não há um envolvimentodo suposto falecido com qualquer fato que pudesse lhe trazer risco demorte, sendo esse o ponto crucial para diferenciar a ausência dajustificação.

Declaração de ausênciaNomeação do curador se

não tiver deixado representante ou

procurador

1 ANO SE NÃO DEIXOU REPRESENTANTE OU PROCURADOR

3 ANOS SE DEIXOU

Sucessão provisória

180 DIAS DEPOIS DE PUBLICADA

PELA IMPRENSA

Efeito da sentença

arrecadação dos bens pelo Estado

30 dias do trans. em julgado

Sucessão Definitiva

10 ANOS DO TRANS. EM JULGADO

EXCEÇÕES:Ausente c/ + 80 anos que há 5 não se

tem notícia

Primeira fase, de CURADORIA DE BENS DO AUSENTE

CC/Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela havernotícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caibaadministrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou doMinistério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador.

Eventualmente, deixando o ausente um representante que não quer aceitaro encargo de administrar seus bens, também será possível a nomeação docurador. Quanto à atuação deste último, cabe ao juiz fixar os seus poderes eobrigações, devendo ser aplicadas as regras previstas para a tutela e para acuratela.

Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando oausente deixar mandatário que não queira ou não possa exercer oucontinuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes.Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes e obrigações,conforme as circunstâncias, observando, no que for aplicável, o disposto arespeito dos tutores e curadores.Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separadojudicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração daausência, será o seu legítimo curador.§ 1o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos paisou aos descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os inibade exercer o cargo.§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos.§ 3o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha docurador.

Observação – União Estável: Enunciado n. 97 do CJF/STJ: “no que tangeà tutela especial da família, as regras do Código Civil que se referemapenas ao cônjuge devem ser estendidas à situação jurídica queenvolve o companheirismo, como por exemplo na hipótese denomeação de curador dos bens do ausente (art. 25 do CC)”.

Ausente o cônjuge, o próprio dispositivo em questão estabelece aordem de preferência para nomeação do curador, a saber:

1.º) serão chamados os pais do ausente;

2.º) na falta de pais, serão chamados os descendentes, não havendoimpedimento, sendo certo que o grau mais próximo exclui o maisremoto;

3.º) na falta de cônjuge, pais e descendentes, deverá o juiz nomear umcurador dativo ou ad hoc, entre pessoas idôneas de sua confiança.

Segunda fase - SUCESSÃO PROVISÓRIA

Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão.

Observação - São considerados interessados para requerer a dita sucessão:

Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram interessados:

I - o cônjuge não separado judicialmente;

II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;

III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte;

IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.

Observação –Efeito da sentença de sucessão provisória - somente produzefeitos após cento e oitenta dias de publicada na imprensa, não transitandoem julgado no prazo geral.

Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória sóproduzirá efeito cento e oitenta dias depois de publicada pela imprensa;mas, logo que passe em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, sehouver, e ao inventário e partilha dos bens, como se o ausente fossefalecido.

§ 1o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados nasucessão provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízocompetente.

§ 2o Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventárioaté trinta dias depois de passar em julgado a sentença que mandar abrir asucessão provisória, proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente pelaforma estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823.

Observação: Herança Jacente

Art. 1.819. Falecendo alguém sem deixar testamento nem herdeirolegítimo notoriamente conhecido, os bens da herança, depois dearrecadados, ficarão sob a guarda e administração de um curador, atéa sua entrega ao sucessor devidamente habilitado ou à declaração desua vacância.

Art. 1.820. Praticadas as diligências de arrecadação e ultimado oinventário, serão expedidos editais na forma da lei processual, e,decorrido um ano de sua primeira publicação, sem que haja herdeirohabilitado, ou penda habilitação, será a herança declarada vacante.

Art. 1.821. É assegurado aos credores o direito de pedir o pagamento dasdívidas reconhecidas, nos limites das forças da herança.

Art. 1.822. A declaração de vacância da herança não prejudicará os herdeirosque legalmente se habilitarem; mas, decorridos cinco anos da abertura dasucessão, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou doDistrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União quando situados em território federal.

Parágrafo único. Não se habilitando até a declaração de vacância, oscolaterais ficarão excluídos da sucessão.

Art. 1.823. Quando todos os chamados a suceder renunciarem à herança,será esta desde logo declarada vacante.

Observação: Antes da partilha os bens móveis poderão sersubstituídos por bens imóveis

Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará aconversão dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, emimóveis ou em títulos garantidos pela União.

Observação: Posse do bem do ausente

Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente,darão garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecasequivalentes aos quinhões respectivos.

§ 1o Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar agarantia exigida neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhedeviam caber sob a administração do curador, ou de outro herdeirodesignado pelo juiz, e que preste essa garantia.

§ 2o Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a suaqualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrarna posse dos bens do ausente.

Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória poderá,justificando falta de meios, requerer lhe seja entregue metade dosrendimentos do quinhão que lhe tocaria.

Observação - Alienação dos Bens

Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo pordesapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar aruína.

Observação: na sucessão provisória os sucessores respondemativamente e passivamente

Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisórios ficarãorepresentando ativa e passivamente o ausente, de modo que contraeles correrão as ações pendentes e as que de futuro àquele foremmovidas.

Observação: dos frutos daqueles bens

Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessorprovisório do ausente, fará seus todos os frutos e rendimentos dos bensque a este couberem; os outros sucessores, porém, deverão capitalizarmetade desses frutos e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, deacordo com o representante do Ministério Público, e prestaranualmente contas ao juiz competente.

Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausênciafoi voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do sucessor, suaparte nos frutos e rendimentos.

Observação: Se o ausente aparecer vivo ou morto

MORTO – CC/Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a época exatado falecimento do ausente, considerar-se-á, nessa data, aberta a sucessãoem favor dos herdeiros, que o eram àquele tempo.

VIVO – CC/Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência,depois de estabelecida a posse provisória, cessarão para logo as vantagensdos sucessores nela imitidos, ficando, todavia, obrigados a tomar as medidasassecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu dono.

Terceira e última fase - SUCESSÃO DEFINITIVA

REGRA GERAL - CC/Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado asentença que concede a abertura da sucessão provisória, poderão osinteressados requerer a sucessão definitiva e o levantamento das cauçõesprestadas

CC/Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura dasucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aqueleou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem, ossub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demaisinteressados houverem recebido pelos bens alienados depois daqueletempo.

AUSENTE COM MAIS DE 80 ANOS DE IDADE - CC/Art. 38. Pode-serequerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o ausenteconta oitenta anos de idade, e que de cinco datam as últimas notíciasdele.

AUSENTE NEM HERDEIROS APARECEREM - CC/Art. 39 - Parágrafoúnico. Se, nos dez anos* a que se refere este artigo, o ausente nãoregressar, e nenhum interessado promover a sucessão definitiva, osbens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do DistritoFederal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-seao domínio da União, quando situados em território federal.

*dez anos da abertura da sucessão definitiva