morfologia sintaxe e vocabulario

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 Universidade Estadual de Goiás Professora: Rosangela do Nascimento Costa Língua Portuguesa II Quirinópolis 2010

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Universidade Estadual de

Goiás

Professora: Rosangela do Nascimento CostaLíngua Portuguesa II

Quirinópolis

2010

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Morfologia, sintaxe e vocabulário

No nível das unidades distintivas (osfonemas), a evolução do português, tal comoacabamos de descrevê-la, seguiu um ritmo próprioque parece totalmente independente das divisõescronológicas da história política ou da histórialiterária, mas o mesmo não aconteceu no nível das

unidades significativas, que constituem o domínioda morfologia, da sintaxe e do léxico. Aí, a história

da língua vai refletir as grandes linhas de força dahistória sem adjetivos.

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1 ² A formação do português clássico(até ao fim do século XVI) publicação, em 1572, de Os Lusíadas, de

Luís de Camões. A língua de Camões e deoutros escritores, como ele marcados peloRenascimento humanista e italianizante,constitui, verdadeiramente, o português

³clássico´.

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A morfologia do nome e do adjetivo absorve asconsequências das evoluções fonéticas: os plurais dos

nomes em ão são fixados (tipo mãos, cães e leões), assimcomo o feminino dos adjetivos em ão; ex.: são,feminino sã. Ainda que uma ortografia arcaica por vezesas mascare, desde 1500 já têm plena vitalidade as formas dalíngua moderna. É o que se dá, por exemplo, com os pluraisdos substantivos e adjetivos em -l; ex.: sol, plural sóis(escrito então soes); cruel, plural cruéis (escrito cruees oucrueis). Acrescentem-se ainda outros fatos. São eliminadasas formas átonas dos possessivos femininos (ma, ta, sa).Os anafóricos em e (h)i desaparecem como palavrasindependentes. O sistema dos dêiticos atinge, em finsdo século XVI, a forma que irá

conservar até os nossos dias.

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O emprego do homem, com o sentido do

³on´ francês, desaparece durante o mesmoperíodo, assim como o partitivo; ex.: quero dopão. As duas preposições per e por reduzem-se a uma única, por, mas em combinação com

o artigo definido é pelo que suplanta polo.

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Verbos As primeiras pessoas do tipo senço, menço arço são substituídas

por sinto, minto, ardo. Os particípios passados em udo dasegunda conjugação cedem lugar a ido; ex.: perdudo > perdido.

Certas alternâncias vocálicas são regularizadas: assim, nosperfeitos fortes as vogais radicais das formas arrizotônicas tendema conformar-se com a da primeira pessoa do singular; por exemplo: fezemos é pouco a pouco substituído por fizemos(segundo fiz) e posemos por pusemos (segundo pus). Aconjugação de ser, que resulta da fusão em um paradigmaúnico dos paradigmas de dois verbos, um dos quaisrepresenta o latim sum e o outro o latim sedeo, está praticamentefixada na segunda metade do século XVI. Quanto à segundapessoa do plural, ela perdeu o seu -d- intervocálico desde o séculoXV e as formas que daí resultaram fixaram-se em -ais, -eis e -is;ex.: amais (escrito frequentemente amaes), dizeis (escritofreqüentemente dizees), partis.

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2 ² A volta ao latim Com o Renascimento humanista e o prestígio dos estudos

latinos, este fenômeno só irá amplificar-se. O latinismo vaiconsistir muitas vezes em adotar uma ortografia etimológicapara tornar a forma escrita das palavras mais próxima dolatim; ex.: doctor por doutor. Entre os humanistas eruditoscomo Damião de Góis (1502-1574) e André de Resende(1500-1573), cujas obras são escritas sobretudo em latim,esse processo atinge limites extremos e chega a desfigurar os termos mais usuais. Damião de Góis, por exemplo,escreve epse por esse, por causa do latim ipse. André deResende62 grafa nocte (noite), septe (sete), oclhos(olhos), cognescer (conhecer), nunqua (nunca), etc., por causa de noctem, septem, oculos, cognoscere, nunquam.

 

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O latinismo insinua-se, igualmente, na sintaxe.Numerosos exemplos se encontram na prosa do

século XV D. Duarte, por exemplo, pelo modelolatino, emprega depois do verbo crer uma oraçãoinfinitiva: ³Fé e virtude per a qual o fiel crê aqueloseer verdade que nom sente nem entende.´ Nassubordinadas, o verbo é, com freqUência, colocado

no final da frase. A imitação da sintaxe latinaalimentou o gosto das frases longas,sobrecarrega das de subordinadas, mas deu àlíngua clássica uma complexidade e umamaleabilidade toda nova.

 

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3 ² Consequências dos descobrimentosna língua

Foi no vocabulário que as conseqüências serevelaram maiores. O português europeu recebeu

da África e da Ásia, e depois do Brasil, um certonúmero de palavras exóticas, algumas dasquais passarão, por seu intermédio, a outraslínguas européias. Houve, então, uma nova injeçãode palavras árabes, vindas da África do Norte, da

 África do Leste ou do Oceano Indico; ex.: cáfila,almadia, moução-monção. Todas as principaislínguas do Sudoeste da Asia trazem a suacontribuição: as da Índia (principal mente na zonadravídica do Sul), o malaio, o chinês, etc.

 

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4 ² Consequências do bilingüismoluso-espanhol tem sido pouco estudado, tanto em Portugal

quanto na Espanha. O que até hoje maischamou a atenção dos filólogos foi acontaminação do espanhol pelo portuguêsfalado ou escrito por portuguesesbilíngües. Havia um ³castelhano de Portugal´,

no qual o lusismo se insinuava de mil maneiras.Em contrapartida, a influência que o espanholpode ter tido no português na época dobilingüismo é quase desconhecida.

 

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5 ² O tratamento O tratamento é a maneira pela qual o sujeito falante se

dirige ao seu interlocutor. Até por volta de 1500, o

português conhecia, como o francês, apenas otuteamento familiar ou o voseamento respeitoso. Mas, apartir dessa data, surgem fórmulas do tipo ³vossagraça´, ³vossa excelência´, seguidas da terceira pessoa.

 A mais freqüente é vossa mercê, que, ao mesmo tempoque passava a você por erosão fonética (vossa mercê >

voacê > você), perdia, por erosão semântica, o seuvalor de tratamento respeitoso, para assumir o detratamento familiar. O você familiar aparece desde oséculo XVII. Conserva-se ao mesmo tempo vossamercê, de que existe outra variante, vossemecê, logosentida como popular.

 

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6 ² O português contemporâneoO emprego do artigo com o possessivo é cada vez mais

usado (o meu livro em vez de meu livro); si funciona comosubstituto de fórmulas de tratamento da terceira pessoa (isto é parasi); a colocação do pronome átono é fixada de maneira mais rígida(João sentou-se, quando, num enunciado desse tipo, alíngua clássica empregava igualmente João se sentou). Mas foisobretudo na morfologia e na sintaxe dos verbos que a línguacontemporânea evoluiu, principalmente na sua forma falada. Asegunda pessoa do plural, como dissemos, cai em desuso;

o emprego da mesóclise no futuro e condicional fica reservada acertos registros da língua escrita; o próprio futuro, bem presente nosentido modal (será ele?), é cada vez menos empregado nosentido temporal; o condicional conhece restrições de empregosanálogos; o mais-que-perfeito simples (cantara, tivera) confina-sena língua escrita, etc.

 

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O vocabulário do português enriqueceu-se,como o de todas as línguas européias, com umnúmero considerável de termos que designamconceitos e objetos relativos à civilizaçãocientífica e técnica. Foi-se, por vezes, buscar noléxico existente a palavra própria para denotar o

objeto novo (ex.: comboio), mas, na maior parte dos casos, recorreu-se, como nasoutras línguas românicas ² e sobre o seumodelo ² às raízes greco-latinas; ex.:

automóvel, autocarro, televisão. 

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autocarro, televisão. A língua continua, assim, a criar termos eruditos como sempre fez, desde as suas origens. Resulta daí um considerável número

de formas divergentes derivadas da mesma raiz, portadoras desentidos próximos ou, ao contrário, muito diferentes; ex.: artigo (formasemi-erudita), artículo (forma erudita), artelho (forma do patrimôniohereditário), lídimo, legítimo e lindo, ou ainda as variantes malha-mancha-mácula-mágoa. As formas eruditas não raro suplantaramas formas populares que as precederam, de maneira que o português

latiniza mais hoje do que o fazia outrora; assim fremoso foi substituído por formoso; esprito ou esp(e)rito, por espírito; os ordinais do tipo onzeno,dozeno, trezeno cedem lugar a décimo primeiro ou undécimo, etc.; ossuperlativos em -íssimo penetraram na língua falada, etc.

 

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Os empréstimos às línguas européias foram e continuama ser numerosos. São principalmente de origem francesa; ex.:chefe, boné, blusa, rouge, blindar, camuflagem, vitrina, chique. A

caça aos galicismos é um dos temas preferidos dos puristas, Ogalicismo, porém, penetra em todas as áreas: se petiz (em lugar de miúdo) é pura e simples transposição do francês,constatar (em vez de verificar) é já mais insidioso; e comcontestação, no sentido de ³oposição crítica´, o galicismo é apenassemântico. Os giros Praça Camões (em vez de Praça de Camões),Tipografia Rodrigues explicam-se pelo francês, assim comolenços em seda (de seda), aumentar de um metro (aumentar um metro), de maneira a (de maneira que). Em síntese, quase todaa fraseologia do português contemporâneo sofreu influência dofrancês. Mas outras línguas também contribuíram com seucontingente vocabular. É o caso do italiano (arpejo, piano, sonata)e, sobretudo, do inglês, cuja influência se tornou particularmenteforte depois da última guerra.

 

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HISTÓRIA DA LÍNGUAPORTUGUESA

PAUL TEYSSIERTradução de Celso Cunha