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    PAULO MIGUEL AGUILAR

    PAIS E FILHOS:

    FORTALECENDO RELACIONAMENTOS ATRAVS DO ACONSELHAMENTO.

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    Londrina2008

    PAULO MIGUEL AGUILAR

    PAIS E FILHOS:

    FORTALECENDO RELACIONAMENTOS ATRAVS DO ACONSELHAMENTO.

    Monografia apresentada em cumprimento s exigncias docurso de Ps-Graduao em Cuidado Pastoral eAconselhamento Familiar da Faculdade Teolgica SulAmericana, sob a orientao do Prof. Luis GonaloSilvrio.

    Londrina

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    2008

    DEDICATRIA

    Sirlei

    Esposa querida e amada, que Deus colocou ao meu lado, como companheira fiel eauxiliadora.

    Ao Josias e ao Osias,

    Filhos queridos e amados, herana que Deus me confiou.

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    AGRADECIMENTOS

    Deus, que me chamou para o ministrio, e tem me capacitado a servi-lo e me concedido aalegria e o aprendizado atravs desse curso, para poder ajudar mais meu prximo.

    A FTSA - Faculdade Teolgica Sul Americana em sua nobre viso: Preparando vidas paraservir o Reino de Deus das quais, Deus me concedeu a graa de ser uma delas.

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    RESUMO

    AGUILAR, Paulo Miguel. Pais e filhos: fortalecendo relacionamentos atravs doaconselhamento. Londrina, 2008. 52 p. (Monografia de Ps-Graduao em Cuidado Pastorale Aconselhamento Familiar Faculdade Teolgica Sul Americana).

    Verifica e constata a realidade do relacionamento entre pais e filhos no contexto da famlia.Discute as caractersticas, as causas e as conseqncias dos relacionamentos conflituososdentro do lar olhando para as principais dificuldades e problemas e como podem afetar deforma negativa o futuro dos novos relacionamentos e a vida dos filhos. Analisa como a

    palavra de Deus apresenta o relacionamento em famlia e especialmente entre pais e filhos,como eram tratados problemas de desobedincia e desrespeito para com os pais no Antigo

    Testamento, como Jesus desenvolveu o seu ministrio em meio a famlias e o que ele fez paraajud-las em seus problemas diversos. Ao mesmo tempo em como a bblia forneceorientaes claras e concisas para a educao e a criao de filhos e o desenvolvimento derelacionamentos saudveis. Tambm busca fornecer orientaes de como o aconselhamentocristo e pastoral pode ser til para ajudar a resolver conflitos no lar. Conclui apresentandocomo a igreja pode ser uma pea chave para que atravs de orientao e cuidado possam serdesenvolvidos trabalhos de preveno e de restaurao para o fortalecimento derelacionamentos saudveis no seio da famlia. Destaca como necessrio um retorno aos

    princpios bblicos que regem a famlia crist para que pais saibam qual o papel que Deusespera de cada um em relao aos filhos, e estes para com seus pais. Objetivando-se que orelacionamento no lar seja melhor, e a famlia, a igreja e a sociedade venham a ter cidadosmais maduros, responsveis e saudveis emocionalmente.

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    SUMRIO

    INTRODUO .........................................................................................................................7I. A REALIDADE DO RELACIONAMENTO ENTRE PAIS E FILHOS! ........................9

    1.1. A famlia como base do relacionamento.........................................................................91.1.1. Relacionamento e famlia..................................................................................101.1.2. O Relacionamento entre pais e filhos na famlia...............................................111.2. A Realidade dos relacionamentos na famlia........................................................ 14Dificilmente encontra-se um lar ou uma famlia que no passa por problemas de

    relacionamentos envolvendo pais e filhos. A cada ano vrios livros sobre o assunto soescritos para tentar auxiliar a melhorar esse relacionamento. Tem aumentado em muitoo nmero de pais que tem procurado psiclogos e conselheiros em busca de uma

    soluo para o problema que enfrentam com os filhos. Para tanto h a necessidade dese entender melhor como anda esse relacionamento dentro do lar. ........................... 141.2.1. Pais e filhos um relacionamento de conflitos....................................................141.2.2. Caractersticas ...................................................................................................15

    1.3 O problema de Relacionamento entre pais e filhos: Algumas Causas e conseqncias................................................................................................................................................18

    1.3.1. Causas ................................................................................................................18......................................................................................................................................201.3.1.1. Pais ausentes .................................................................................................... 201.3.1.2. Falta de espiritualidade no lar ........................................................................221.3.1.3. Falta de disciplina e de limites ........................................................................231.3.1.4. Necessidades no satisfeitas ...........................................................................241.3.1.5. Influncias .......................................................................................................25

    1.3.1.6. Traumas psicolgicos ......................................................................................261.3.2. Conseqncias ............................................................................................................27

    II. O RELACIONAMENTO ENTRE PAIS E FILHOS NA BBLIA............................... 292.1. Relacionamentos na Bblia ............................................................................................292.2. Pais e Filhos na bblia ...................................................................................................30

    2.2.1. No Antigo Testamento .......................................................................................312.2.2. No Novo Testamento .........................................................................................34

    III FORTALECENDO O RELACIONAMENTO ENTRE PAIS E FILHOS

    ATRAVS DO ACONSELHAMENTO CRISTO............................................................35..............................................................................................................................................353.1. O Aconselhamento cristo no Relacionamento pais e filhos........................................35

    ......................................................................................................................................363.1.1. Origem do Aconselhamento Pastoral.................................................................363.1.2. Aconselhamento na famlia................................................................................39......................................................................................................................................403.1.3. Desafios do Aconselhamento com pais e filhos................................................403.1.3.1. Lembrar que no o conselheiro que resolve o problema ..............................403.1.3.2. Mito de que cristo no pode ter problemas na famlia .................................. 403.1.3.3. Famlia no apresenta seus reais problemas ..................................................41

    3.2. Propostas para o fortalecimento do relacionamento entre pais e filhos atravs doaconselhamento.....................................................................................................................42......................................................................................................................................42

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    3.2.1. A Igreja como Instrumento de Aconselhamento ...............................................423.2.1.1. Aconselhamento na Igreja..............................................................................43

    3.2.1.2. Alternativas: Aconselhamento Leigo, parcerias com profissionais da rea............453.3. A importncia dos aspectos espirituais na educao dos filhos. Uma volta aos

    princpios bblicos que regem a famlia................................................................................453.3.1. Princpios bblicos da educao de filhos em Dt. 6. e Ef.6.1-4 ........................463.3.1.1. Princpios bblicos passados de pai para filho...............................................463.3.1.2. Mandamentos para pais e para filhos. ........................................................... 483.3.1.2.1. Para os filhos: Obedincia e Honra.............................................................49

    CONCLUSO ......................................................................................................................... 51BIBLIOGRAFIA .....................................................................................................................52

    INTRODUO

    Esse trabalho limita-se a tratar de algumas questes envolvendo o relacionamento

    entre pais e filhos, e de que forma o aconselhamento cristo pode ajudar a resolver problemas

    e conflitos nesta rea. No sero abordadas nesta monografia questes referentes faixa

    etria, ou idade de pais e filhos, mas de uma forma geral analisar alguns problemas que tem

    trazido sofrimento para dentro dos lares de muitas famlias crists.

    Essa reflexo ser feita levando-se em conta a realidade atual e as dificuldades que

    pais enfrentam na criao de filhos, a opinio de diversos autores sobre o assunto e

    principalmente a luz do que a Palavra de Deus ensina sobre o relacionamento familiar e a

    educao de filhos.

    O objetivo desse trabalho ser triplo: Primeiro, analisar a situao atual do

    relacionamento entre pais e filhos. Olhando para a famlia como o lugar onde as pessoas

    aprendem a se relacionar conforme os modelos ali oferecidos e como isso pode influenciar na

    vida e no futuro dos relacionamentos da criana. Bem como destacar algumas caractersticas

    dessa relao que tem deixado muitos pais e filhos frustrados e perdidos e suas funes dentro

    da famlia. Tambm chamar a ateno para algumas causas e conseqncias que esto

    ocorrendo no contexto dessa relao familiar.

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    O segundo objetivo fazer uma anlise bblica e teolgica da famlia crist levando-

    se em contas a implicaes contidas na bblia e que tratam do assunto envolvendo o

    relacionamento entre pais e filhos.

    E por ultimo, tem como objetivo principal fornecer algumas orientaes em como o

    Aconselhamento cristo pode ser til para resolver problemas e conflitos nessa relao.

    Destacando como a igreja pode ser um instrumento para auxiliar a famlia a melhorar seus

    relacionamentos e como prevenir alguns desses problemas e conflitos.

    Tambm chamando especial ateno para a analise e implantao de alguns

    princpios bblicos que regem o relacionamento entre pais e filhos e que esto sendo

    negligenciados em muitas famlias em geral, e inclusive por famlias crists, mas que sero

    teis e essenciais para os que desejam ter um relacionamento familiar mais harmonioso e

    saudvel.

    Como se deseja neste trabalho fornecer ferramentas para ajudar em especial famlias

    crists, a metodologia utilizada ser da teologia bblica. Sendo que se buscou em uma vasta

    bibliografia, em especial de autores cristos, que atuam na rea do aconselhamento familiar e

    da psicologia apoio e opinies que visam contribuir e enriquecer o contedo. Contudo o maior

    interesse est em buscar nas Sagradas Escrituras, e atravs delas apresentar orientaes, em

    forma de aconselhamento cristo, que venham auxiliar e fortalecer o relacionamento entre

    pais e filhos.

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    I. A REALIDADE DO RELACIONAMENTO ENTRE PAIS E FILHOS!

    Esse captulo visa analisar como est o relacionamento entre pais e filhos nos dias

    atuais. Com certeza todas as pessoas sonham com um relacionamento familiar feliz, bem

    como em todas as reas da vida. Onde no apenas pai e me vivam em harmonia e amor, mas

    onde pais e filhos possam viver relacionamentos de amizade, carinho, respeito e unio.

    Entretanto esse sonho no tem sido a realidade da maioria dos lares. Dificilmente ouve-se

    falar de um lar, onde no haja problemas de relacionamentos entre pais e filhos.

    1.1. A famlia como base do relacionamento.

    Deus criou cada ser humano com a capacidade e ao mesmo tempo necessidade de

    se relacionar. A base ou fundamento de toda e qualquer relao comea na famlia. dentro

    dela que o ser humano aprende a conversar, compreender, amar, respeitar, obedecer, etc.

    Enfim a relacionar-se com e como pessoa. Porm e na famlia que surgem os primeiros

    problemas de relacionamentos. O enfoque desse trabalho se d no relacionamento entre pais e

    filhos, entretanto na famlia, no convvio do lar, onde se cria ou acontece esse

    relacionamento.

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    1.1.1. Relacionamento e famlia.

    O desenvolvimento da vida do ser humano se d atravs de seus relacionamentos. O

    ser humano no pode viver isolado. Para Poujol (2005, p. 29): Pela famlia, escola,

    casamento, profisso, desde o nascimento e at a morte, sua vida desenrola-se num campo

    social em coexistncia com os outros e a isso chamamos de relacionamento. Paul Lewis

    falando nesse sentido afirma que:

    Dentre as habilidades essenciais da vida, poucas so mais importantes do quesaber criar e manter boas amizades. Tanto com Deus quanto com aqueles queconvivem conosco, os relacionamentos so a matria-prima para esculpirmos a

    auto-estima e uma vida feliz. Eles afetam grandemente nosso desenvolvimentopessoal e mantm firmes os laos familiares (Lewis, 2006, p. 29)..

    Lewis ainda afirma que tanto estudos sociolgicos quanto o bom senso dizem que o

    desenvolvimento de relacionamentos saudveis por parte dos filhos, depende em grande parte

    do modelo que os pais exibem para eles: como se tratam como marido e mulher, como

    resolvem conflitos e expressam alegrias, ou seja, depender em grande parte do exemplo e do

    que os pais transmitem aos filhos atravs das experincias da vida.Schneider-Harpprecht afirma que:

    O ser humano o ser falante que vive a partir da relao com os outros buscandosatisfazer suas necessidades de auto-sustentao fsica, psquica e social (...) issomove o ser humano a desenvolver sistemas sociais como a famlia, o Estado, aescola e a Igreja, cuja estrutura e cujas regras o protegem contra a irrupo do caossocial, da anomia. (1998, p.309-310)

    Sathler-Rosa (2004, p. 124) chama a ateno para o fato de que a nfase dada aos

    relacionamentos porque tanto a antropologia bblica como diversas correntes psicoterpicas

    contemporneas reconhecem a importncia dos relacionamentos para a formao de

    personalidades equilibradas. Entende-se, portanto, que sendo o relacionamento importante e

    vital na vida e no desenvolvimento da pessoa, cabe destacar que as primeiras formas ou

    modelos de relacionamento acontecem no seio da famlia, entre pais e filhos.

    Toda a vivncia do ser humano est relacionada com a famlia. Para Ramos (1997,

    p. 39) A famlia aparece como o lugar originrio e bsico da vida humana de cada indivduo.

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    nela que ele vem ao mundo, cresce, desenvolve-se, torna-se pessoa adulta, vive, realiza,

    trabalha, se relaciona, se perpetua e, normalmente morre.

    Ramos ainda descreve a famlia como:

    Um grupo de interao mtua, formado pelos diversos membros, cada um em seulugar e com suas funes caractersticas, insubstituveis e intransferveis. Todoscolaboram com o grupo a partir de si mesmos e nos diversos planos: fsico, afetivo,econmico, social, educativo... todos do e todos recebem. a famlia que oferecea ajuda necessria a cada um. Ajuda mtua, com certeza. (p. 40,1).

    Um sinnimo de famlia lar. Pode-se dizer que lar o lugar de convivncia e

    relacionamento da famlia. Corra (1970, p. 154,5) explica que lar um termo de origem

    latina, que inicialmente designava o lugar na cozinha, onde se acendia o fogo para cozer ou

    preparar o alimento. Por extenso veio a significar a casa, o domiclio, a famlia. Segue ainda

    destacando que a lareira um termo derivado de lar usado para designar o lugar onde se

    acende o fogo para aquecer o ambiente da famlia, no inverno rigoroso. Os termos lar e lareira

    do idia de fogo, de lume, de calor e aquecimento, deduzindo ento que o lar deve ser um

    ambiente de calor humano e divino, de claridade, de amor, de paz, de bem estar e de

    felicidade! Lugar onde os integrantes da famlia se sentem bem e seguros em estar, onde suas

    carncias e necessidades so supridas.

    J Paes (2003, p.14) afirma que o lar o lugar que Deus planejou para que, ali, as

    pessoas tenham supridas suas carncias emocionais, seja no relacionamento entre homem e

    mulher ou entre pais e filhos. O lar apresentado como um lugar de alegria, de cuidado, de

    amor e de desenvolvimento fsico, emocional e espiritual, onde as pessoas deveriam

    desenvolver relacionamentos bonitos e saudveis.

    1.1.2. O Relacionamento entre pais e filhos na famlia.

    Ramos (p. 39-41) afirma que: o campo de relaes que a famlia e cria

    fundamental para cada um de seus membros. Tambm enfatiza que para as crianas, tanto

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    quanto para os adultos e idosos, a famlia oferece o quadro elementar e imprescindvel de

    relaes para as respectivas realizaes humanas.

    Poujol (2005, p.30) destaca que: Entrar em contato com nossos semelhantes, ouvi-

    los e conversar com eles uma necessidade e que isto j est presente na vida do ser humano

    desde criana, pois ele afirma: A criana para poder se desenvolver deve se ligar aos outros

    chegando a afirmar que A sobrevivncia da criana, e mesmo do adulto depende de seus

    relacionamentos. Uma criana sem contato humano definha, afunda na psicose e morre.

    O primeiro relacionamento da criana comea na famlia, com seu pai, me e irmos.

    dentro da famlia que aos poucos vai se formando uma estrutura de relacionamentos, que

    vai servir de base e modelo para toda a sua vida. Conforme a relao que a criana tem com

    seus pais que vai estabelecer o tipo de relao no decorrer da sua vida.

    Dresher (2005, p. 20-21) chama ateno para o fato de que; estima-se que, em

    mdia, a criana faz quinhentas mil perguntas at os quinze anos. Que privilegio para os pais

    meio milho de oportunidades para comentar alguma coisa sobre o significado da vida. Ele

    lembra ainda que os primeiros anos da vida de uma criana devem ser dedicados ao ensino. E

    que at os quinze anos os pais vo participar da maior parte do aprendizado dos filhos. At

    essa idade os filhos j estaro cientes do que seus pais acreditam e quais so os seus valores e

    carter. E segundo o autor ainda nesse momento os pais precisam estar disponveis quando

    filho os procurar para buscar conselhos e ajuda.Para Osrio (1996, p. 21), h uma influncia recproca na relao entre pais e filhos,

    na qual os pais influenciam o comportamento dos filhos e o comportamento destes tambm

    modifica a atitude dos pais.

    Desde pequena a criana aprende com o modelo que oferecido a ela. A criana, e o

    adolescente, tal como os adultos, aprendem bons e maus comportamentos, observando

    como outras pessoas agem e o que acontece a elas. Desse modo, por exemplo, pais que

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    freqentemente se agridem frente a algum problema, mostram aos filhos que a forma de

    resolver situaes de conflito atravs da intolerncia e agressividade. Se por outro lado, o

    casal conversa, fala e ouve um ao outro com ateno, se procuram entender as razes pelas

    quais cada um agiu da forma como agiu, mostrariam aos filhos que para resolver dificuldades

    pessoais pode-se lanar mo da conversa em lugar de agresso. A forma como, os pais, agem

    quando tem problemas de relacionamentos entre si, ir servir de modelo para que os filhos

    tambm venham a agir assim nos seus relacionamentos.

    Augusto Cury ao falar sobre a importncia do exemplo no relacionamento entre pais

    e filhos destaca para os pais que:

    Eles arquivam diariamente os seus comportamentos, sejam eles inteligentes ouestpidos. Voc no percebe, mas eles o esto fotografando a cada instante. O quegera os vnculos inconscientes no s o que se diz, mas tambm o que eles vem.Muitos pais falam coisas maravilhosas para suas crianas, mas tem pssimasreaes na frente delas: so intolerantes, agressivos, parciais, dissimulados. Com otempo cria-se um abismo emocional entre pais e filhos. Pouco afeto, mas muitosatritos e crticas. (Cury, 2003, p. 23)

    Com isso os filhos acabam construindo uma imagem de seus pais que se torna difcil

    de ser apagada de suas mentes. Mas acima de tudo, essa imagem passada pelos pais, acaba

    influenciando de tal forma a vida dos filhos que eles aprendem, consciente ou

    inconscientemente, que essa a forma para se relacionar com as pessoas de modo geral.

    Moura, destaca que existem diversos estudos que mostram como o fator ambiente

    torna-se determinante para o desenvolvimento e adaptao social de uma pessoa.

    Hereditariedade e ambiente tm um papel interativo tanto no desenvolvimentosaudvel da criana, quanto na evoluo de problemas emocionais ecomportamentais. Entretanto, o ambiente e, em particular, as interaesfamiliares, que exercem papel fundamental no desenvolvimento e aprendizagem dacriana (Moura 2006, p. 248).

    A citada autora afirma que o convvio com os pais que vai determinar as

    caractersticas comportamentais e a forma que a criana vai interagir com outras pessoas. Por

    isso a forma de agir e se comportar de uma criana sempre tem como base aquilo que ela

    aprendeu ou viu em algum, em especial nos seus pais. Sendo que estes, direta ou

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    indiretamente sempre esto influenciando a criana atravs de suas atitudes, palavras e

    exemplos.

    1.2. A Realidade dos relacionamentos na famlia.

    Dificilmente encontra-se um lar ou uma famlia que no passa por problemas de

    relacionamentos envolvendo pais e filhos. A cada ano vrios livros sobre o assunto so

    escritos para tentar auxiliar a melhorar esse relacionamento. Tem aumentado em muito

    o nmero de pais que tem procurado psiclogos e conselheiros em busca de uma

    soluo para o problema que enfrentam com os filhos. Para tanto h a necessidade de

    se entender melhor como anda esse relacionamento dentro do lar.

    1.2.1. Pais e filhos um relacionamento de conflitos.

    Conflitos sempre fizeram parte do relacionamento familiar, entretanto parece que nos

    dias atuais essa tenso tem aumentado. A famlia em geral, hoje esta vivendo uma crise de

    relacionamentos saudveis, e isto no s entre marido e mulher, mas tambm e de uma forma

    intensa, entre pais e filhos.

    Dentro do contexto da famlia o relacionamento entre pais e filhos tem sido cada vez

    mais conturbado e difcil. No so apenas os pais que se lamentam dos seus filhos.

    Constantemente os filhos tambm se queixam dos seus pais, e no raro esse relacionamento

    conflituoso tem levado para dentro dos lares muita preocupao, dores e sofrimento.

    Paes chama a ateno para o fato de que h certas reas em que o ser humano parece

    regredir. Ele destaca que: A qualidade da vida emocional das pessoas est piorando a cada

    dia. Nos relacionamentos interpessoais falta carinho e sobra agressividade, falta compromisso

    e sobeja infidelidade (p. 12). Chegando assim a triste constatao de que o carter das

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    pessoas est enfraquecido, e isso tem-se refletido em todos os seus relacionamentos, e

    infelizmente, de uma forma cada vez maior entre pais e filhos.

    O pastor e pedagogo Domingos Mendes Alves, em um artigo na revista lar Cristo,

    chama ateno para o fato de que o relacionamento entre pais e filhos tem enfrentado crises

    de afetividade e autoridade. Segundo ele: A crise de afetividade refere-se ausncia de um

    relacionamento mais intimo, onde o dilogo, a compreenso, o toque, o companheirismo,

    fazem parte do simples, do natural e do cotidiano da vida . J a crise de autoridade tem a ver

    com a ausncia da autoridade dos pais e o estabelecimento de limites para os filhos. Muitos

    no conseguem conquistar autoridade paterna, gerando um ambiente de permissividade e

    desestrutura (Alves 2003, p. 20). Percebe-se claramente que a grande dificuldade para os

    pais tem sido o fato de, por um lado, no saber como se aproximar e se tornar mais ntimos,

    mais amigos dos filhos, e por outro lado at que pontos devem exercer a sua autoridade sobre

    os filhos sem que isso se transformar em autoritarismo.

    Paes ainda destaca que: o relacionamento entre pais e filhos nem sempre muito

    amigvel. De um lado, muitas vezes esto pais intolerantes, exigentes demais, agressivos e

    que no dialogam com os filhos; de outro, filhos que no aprenderam o significado do

    respeito e da obedincia. (p. 119).

    1.2.2. Caractersticas

    A famlia a base dos relacionamentos, pode-se dizer tambm a base para o futuro

    dos filhos. Entretanto a famlia enfrenta problemas complexos e diversos, que tm afetado a

    sua estrutura. Uma gerao de filhos rebeldes, desobedientes e sem respeito para com os pais

    e demais pessoas tem-se levantado nos ltimos anos. Lares influenciados pela mdia e por

    uma sociedade que somente valoriza o ter e a busca por poder, fama e dinheiro, parece estar

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    se formando nos dias atuais. Enquanto no outro lado, parece estar uma gerao de pais que

    tem obedecido aos seus filhos ao invs de ter autoridade sobre eles.

    Paes (p. 107) afirma que muitos pais esto completamente desorientados quanto

    educao de seus filhos. A maioria se v perdida diante de uma filosofia liberal, que propes

    uma educao mais aberta sem represses.

    Se por um lado v-se a famlia como essencial e fundamental para o ser humano

    desenvolver seus relacionamentos, tambm na famlia que surgem os conflitos,

    desentendimentos, os primeiros problemas de relacionamento. na famlia que os filhos

    descobrem que h regras, limites, tradies... Que precisam ser respeitadas. Quando isso no

    acontece, surgem os conflitos no relacionamento entre pais e filhos. Collins (2004, p. 185)

    afirma que Criar filhos pode ser uma experincia frustrante, e apesar dos erros e fracassos

    dos pais, devemos presumir que a maioria realmente quer ser e ter sucesso nessa tarefa. O

    citado autor destaca que todas as pessoas foram criadas dentro de uma famlia, entretanto:

    No se ensinou a pensar na famlia como um instrumento atravs do qual aspessoas cooperam, aprendem umas com a outras, se fortalecem mutuamente, e svezes, erram coletivamente. Bem pelo contrrio o que se v hoje so famlias,caracterizadas por conflitos, agresses verbais e fsicas, incesto, infidelidade,crises, individualismo egosta, insensibilidade e instabilidade (p. 513).

    Dobson (2006 p. 49) afirma que: algumas mes e alguns pais vo para a cama

    noite com a cabea latejando de dor perguntando-se como a experincia de educar filhos se

    tornou to exaustivo e enervante.

    Muitos pais tm perdido o respeito e a autoridade diante de seus filhos. Enquanto os

    filhos desorientados e muitas vezes sem saber o que fazer, no obedecem, no honram seus

    pais e j no os vem mais como modelos ou exemplos para sua vida. Conforme afirma Paes:

    pais e mes esto pedindo socorro porque no tem idia de como lidar com os filhos. No

    sabem se colocam limites ou se do total liberdade aos filhos (p. 120).

    J Collins chama a ateno para o fato de que:

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    a criao de filhos faz com que muitos pais se sintam inseguros, sobrecarregados,envolvidos numa disputa, com cime, com medo de perder o filho ou com anecessidade de exercer controle autoritrio sobre a famlia. Quando essasnecessidade so intensas, ou no so satisfeitas, surgem tenses (p. 186).

    O Dr. James Dobson (p. 53) apresenta uma pesquisa feita por ele mesmo, com 35 mil

    pais, que mostra que existem trs vezes mais crianas geniosas (difceis de lidar, rebeldes,

    etc.), do que crianas dceis (compreensivas, respeitosas, etc.); e que: 92 % dos pais sabem

    que tero um filho difcil de lidar antes que ele complete seu terceiro ano de vida; ressalta

    ainda que: 74% destas crianas vo se rebelar significativamente na adolescncia. Revelando

    assim que h uma grande chance de que na maioria dos lares haja problemas de

    relacionamentos entre pais e filhos.

    Quando se l na bblia que os filhos so herana do Senhor, e o fruto do ventre o seu

    galardo (Sl 127.4), v-se que essa parece no ser a realidade de hoje. Para a grande maioria

    dos pais isso no tem repercutido na prtica. Alguns chegam a considerar que antes de ser

    uma bno, filho castigo, pois educ-los tem se tornado algo exaustivo e at estressante. H

    pais que depois de observar o comportamento de filhos de amigos acabam chegando

    concluso que o melhor no ter filhos para no ter problemas ou incomodo. O ltimo Censo

    do IBGE revelou que, entre 1995 e 2005, na regio Sudeste, o percentual de famlias

    formadas por casais com filhos caiu de 56,6% para 48,5%. Seria uma possvel indicao de

    que hoje no Brasil mais da metade dos casais est optando em no ter filhos? Sendo que

    muitos desses por acreditarem que tem se tornado muito difcil educar ou filhos, ou eles

    podem acabar atrapalhando a vida profissional e emocional do casal. Alguns chegam a

    afirmar que preferem ter um bichinho de estimao ou uma planta ao invs de ter filhos,

    porque o trabalho menor e este no se estressam nem incomodam.

    17

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    1.3 O problema de Relacionamento entre pais e filhos: Algumas Causas e

    conseqncias.

    1.3.1. Causas

    Quais os motivos que tem levado to grande problema de relacionamentos entre

    pais e filhos? Poderia se afirmar que tais problemas ou desajustes familiares ocorrem por

    motivos mais diversos tais como: o desrespeito de cada uma das pessoas em relao outra, a

    ausncia de dilogo; a frieza da vida conjugal e a falta de amor, compreenso, afeto, e tudo

    isso tem contribudo, para a dissoluo da estrutura familiar, afetando diretamente os

    relacionamentos.

    Muitos pais tm em mente que basta suprir as necessidades fsicas dos filhos:

    alimento, vestes, dinheiro, presentes, etc. enfim dar-lhes uma vida confortvel que sero

    felizes. Mas e quanto s demais necessidades: espirituais, emocionais e morais? E quanto aos

    princpios, valores, limites e modelos que os filhos precisam para ter um desenvolvimento

    saudvel, e assim buscar por relacionamentos saudveis com os pais e demais pessoas?

    Poderia se ainda colocar a culpa na gentica, e afirmar que as causas dos problemas

    de relacionamentos entre pais e filhos so hereditrias. Mas esse trabalho no pretende

    analisar essa questo, antes visa chamar a ateno para algumas questes prticas do

    relacionamento do dia a dia de pais e filhos.

    Seria fcil colocar toda a carga da culpa sobre os filhos e dizer que eles que tem se

    tornado desobedientes, desrespeitosos e ingratos para com os pais. Como afirma Paes:

    muito difcil ver os pais refletindo sobre a parcela de culpa que eles mesmos tm no

    comportamento do filho. Nunca perguntam por que meu filho to agressivo? Por que tem

    uma linguagem to obscena? Por que to desobediente? (p. 108).

    Para Moura (p. 253) Na famlia, o comportamento de um membro est relacionado

    com o comportamento de outros membros e assim, se uma criana considerada desviante,

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    uma explicao do seu desvio se encontra na inter-relao comportamental existente entre os

    membros da famlia. A autora ainda destaca que se uma criana est apresentando

    problemas, geralmente porque ela no sabe como enfrentar esse problema e nem como

    expressar seus sentimentos. Dessa forma ela comea a apresentar um comportamento atravs

    do qual busca se adaptar, ou mesmo tentar resolver da melhor forma possvel a situao que

    enfrenta. Sem saber o que fazer, ela tenta afastar as pessoas, por vezes agredindo ou se

    isolando, porque no quer sofrer mais ainda com a situao. Conforme afirma: As crianas

    do sinais comportamentais claros de que alguma coisa est errada com elas ou que algo est

    incomodando: comem demais, so sensveis, retraem-se, vo mal na escola, tem exploses e

    acessos de raiva, agridem irmos e coleguinhas, tem freqentes dores de cabea, de barriga,

    etc. (p. 253).

    Mack (2001, p. 90) lembra que muitos problemas de comportamento e de atitude dos

    filhos podem ser apenas reflexos de trs fatores: problemas pessoais dos prprios pais,

    problemas conjugais ou descaso quanto s orientaes bblicas para os pais.

    Moura (p. 149) chama a ateno para o fato de que toda criana segue dois princpios

    bsicos de aprendizagem que so: 1) aprendizagem por observao de um modelo se

    comportando; sendo que esse modelo se d pela imitao, onde a criana observa e imita um

    modelo, que podem ser pais, professores e colegas. 2) aprendizagem pelas conseqncias

    que o comportamento produz no ambiente ou no comportamento de outras pessoas. Podendoser reforado ou enfraquecido pelos pais, e pelas conseqncias que traz para a criana. Se a

    conseqncia fsica ou algo desagradvel, com certeza o comportamento ser enfraquecido,

    mas se produz risos ou satisfao para a criana, ele pode ser fortalecido.

    Moura tambm lembra que quando os pais percebem que o filho est tendo

    problemas de comportamento, na maioria das vezes, ou os pais esto dando modelo do

    comportamento inadequado e no esto percebendo, e/ou eles esto valorizando, tambm sem

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    perceber, o comportamento que querem que o filho deixe de apresentar (p. 251). O que

    muito acontece que os pais por vezes no fornecem o modelo de comportamento que esto

    exigindo dos filhos, e devido a isso nenhuma correo ou repreenso far efeito, por que o

    exemplo fala mais alto do que suas palavras.

    Para citada autora, os pais so os principais agentes promotores tanto das

    dificuldades quanto do bem-estar emocional e comportamental de seus filhos pequenos,

    devido a grande influncia que exercem sobre eles neste perodo de vida (p. 257). Ao refletir

    sobre essa questo pretende-se analisar algumas das principais causas que tem contribudo

    para o surgimento de problemas entre pais e filhos.

    1.3.1.1. Pais ausentes

    Segundo Paes (p. 108), enquanto estudiosos do desenvolvimento e comportamento

    humano chamam a ateno para o fato de que os pais precisam dedicar mais ateno para seus

    filhos, muitos pais no vem isso como essencial. O autor lembra o fato de que hoje os pais

    esto terceirizando a educao de seus filhos, acha-se que a bab ou a escola, ou ainda a igreja

    que deve educ-los. Esquece-se que nos primeiros anos de vida so formados o carter e a

    personalidade dos filhos, e que temperamentos precisam ser moldados, bem como limites e

    respeito precisa ser ensinado.

    O autor lembra que pais que no acompanham de perto o desenvolvimento de seus

    filhos no tem controle sobre as influncias a que esto sendo submetidos. destaca ainda que

    muitos casais tm tempo para assistir programa prediletos na TV, mas no conseguem dedicar

    meia hora para brincar e realizar atividades com os filhos. A vida em famlia no tem sido

    priorizada, ao passo que nada deveria subtrair dos pais o tempo que devem dar a famlia.

    O corre-corre dirio que a vida impe a muitos pais e mes tm levado a famlia a ter

    um relacionamento superficial, baseado em poucas palavras porque quase no h mais tempo

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    para sentar e conversar. A falta de comunicao tem afetado toda a relao entre pais e filhos,

    e com isso todos sofrem. Por outro lado, quando h comunicao, ela se baseia em conflitos,

    onde os filhos faltam com respeito para com seus pais, e estes por sua vez sentem-se

    impotentes sobre o que fazer.

    Para Paes (p. 23) Casais e filhos muito atarefados vo se tornando cada vez mais

    ausentes da vida familiar. Bevere (2002, p.48) chama a ateno para o fato de que muitos

    lideres de nosso lar, empresa e igreja, esto mais preocupados com seus alvos do que com

    seus filhos.

    Keefauver (2005, p. 34) destaca o fato de que h hoje muitos filhos que por vrios

    motivos cresceram sem a presena, carinho e cuidado dos pais. Segundo ele h pais que

    simplesmente no sabem educar seus filhos e jogam essa responsabilidade sobre a igreja,

    escola, avs, babs e at sobre a televiso.

    Jaime Kemp escreve sobre O incrvel poder de um pai, ressaltando a importncia

    que o pai tem na vida de um filho. Para ele, no que diz respeito ao impacto e profunda

    influncia na vida de um filho, sem dvida, pai uma palavra muito poderosa. Seu alcance e

    sua importncia transcendem a infncia e se estendem por geraes. Ele ainda cita que se

    pode reconhecer esse poder por meio de duas maneiras: 1) pela observao prtica e

    funcional. 2) Pela avaliao do impacto da sua ausncia. No mesmo artigo o citado autor

    afirma ter chegado concluso de que quando um pai espiritualmente ativo e consagrado aDeus, a chance de que seu filho tambm venha a ser um homem espiritual de

    aproximadamente 70%. Por outro lado se apenas a me for crist, essa porcentagem, segundo

    ele cai para 15% ou 20% no mximo. Chama ainda ateno o fato da importncia do pai no

    convvio com a famlia, o autor chega a afirmar que ele cr que a sobrevivncia de qualquer

    sociedade est intimamente ligada a presena de uma liderana masculina. E o fato de que a

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    ausncia do pai, talvez seja o desencadeador das mudanas mais radicais na estrutura da

    famlia. O autor ainda cita que:

    O Jornal The London Daily Telegraph, em uma matria sobre a problemticada ausncia paterna no lar adverte: vizinhanas inteiras provavelmente serodominadas por gangues de jovens delinqentes nas prximas dcadas. Os ndicesde criminalidade, violncia e dependncia de drogas podero assumir proporesepidmicas. Com a falta dos pais em suas casas, a comunidade de jovens torna-seselvagem (Kemp 2002, p. 11).

    O fato que as crianas hoje em dia esto entregues a si mesmas. E os pais ausentes

    esto ou ainda colhero as conseqncias.

    1.3.1.2. Falta de espiritualidade no lar

    Paes chama a ateno para o fato de que na Bblia, em especial no Antigo

    Testamento, uma das principais tarefas dadas por Deus aos pais era a de educar e ensinar aos

    filhos a palavra de Deus (conforme Dt 6:4-9). Entretanto isso est sendo deixado de lado

    pelos pais. Paes afirma que a falta de espiritualidade nos lares est desintegrando a famlia.

    No h lugar e nem tempo para a leitura da Bblia, meditao e orao (p.109).

    Collins (p. 179,181), tambm cita que uma das causas dos problemas enfrentados

    por pais na criao dos filhos seria minimizar ou exagerar a importncia dos aspectos

    espirituais, destacando que mesmo que livros de psicologia quase nunca reconheam a

    importncia das bases bblicas para o desenvolvimento das crianas, os escritores bblicos

    destacam tal importncia. Ele chama ateno para o Salmo 78.1, onde cita que os filhos

    devem receber instruo espiritual para aprender a depositar sua f em Deus, lembrar de sua

    fidelidade e no se tornarem desobedientes, teimosos ou rebeldes. Se por um lado a ausncia

    de instruo bblica nociva, igualmente nociva ser uma doutrinao rgida.

    Keefauver falando sobre o fato de que pais tm deixado os princpios bblicos para

    segundo plano, destaca que em muitas famlias:

    O casamento e a educao dos filhos de acordo com os princpios bblicosperderam seu lugar de importncia. Maridos e esposas envolveram-se tanto comseu prprio trabalho, que relegaram um ao outro e os prprios filhos a um segundoplano. Com isso os valores bblicos no so transmitidos aos filhos, que crescem

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    sem referencial e sem esteio e acabam tomando para si os valores culturaistransmitidos pela mdia (Keefauver 2005, p. 33).

    Sobre o assunto a professora Dulce Consuelo Purim, em um artigo no site click

    Famlia escreve um artigo sobre o Valor do Culto Domstico, onde relata:

    Essa a realidade do resultado da enqute feita pelo Ministrio OIKOS em seusite (clickfamilia.org.br) sobre: Na sua famlia h o hbito de realizar o cultodomstico? Eis os resultados em percentuais: Todos os dias: 12,6% ; uma vez porsemana: 9,7%; uma vez por ms: 2,3%; raramente: 34,2%; nunca: 41,3%.disparado o percentual dos lares que o realizam raramente ou nunca (Purim,2008).

    Com certeza tal relato no apenas a situao daqueles que visitam o site, mas tem

    sido a grande realidade na maioria dos lares, e tambm dos que se dizem cristos, o fato de

    que Deus e os princpios bblicos esto ficando em segundo, quando no em ultimo plano na

    vida familiar.

    1.3.1.3. Falta de disciplina e de limites

    Filhos precisam ter limites em seu comportamento. Crianas sem limites sero

    adultos problemticos (Paes 2005, p. 110). Entretanto muitos pais no aprenderam, ou no

    conseguem dizer no aos filhos. Tornam-se permissivos demais, o que leva a criana a achar

    que todas as suas vontades devem ser feitas, que o choro e a birra so suas armar para

    conseguir o que desejam, e que os adultos esto ali a servio dela. Dessa forma iro crescer

    sem limites e achando que podem fazer tudo o que desejam.

    Nesse sentido Collins lembra que: algumas famlias quase no tem regras; isso pode

    causar confuso, principalmente na cabea das crianas. Outras tm regras to rgidas que

    sufocam o crescimento individual de seus membros (Collins 2004, p. 516). Ainda segundo o

    autor o excesso de regras comum nas famlias crists, que por vezes tem regras to rgidas

    que impedem a flexibilidade e at o desenvolvimento saudvel da pessoa.

    Nos dias que esse trabalho est sendo realizado, um fato choca o pas, quando um

    jovem faz refm sua ex-namorada e uma amiga, por mais de cem horas, e o caso termina em

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    tragdia com o rapaz matando uma das jovens e ferindo a outra. Algo muito importante foi

    escrito sobre o caso por uma professora de psicologia, Doutora Maria Isabel Alves, onde

    numa apresentao elaborada pelo Professor Jorge Ptrus denominado: O no de Elo, a

    citada autora chama ateno para o fato de que o mundo est carente de pessoas que sabem

    dizer no, no artigo descrito assim:

    Vejo que cada vez mais os pais e professores morrem de medo de dizer no scrianas (...) Os pais dizem, 'no posso traumatizar meu filho'. E no raro euver alguns tomando tapas de bebs com 1 ou 2 anos (....) Crianas e adolescentesque crescem sem ouvir bons, justos e firmes no crescem sem saber que o mundono s deles. E a, no primeiro no que a vida d (e a vida d muitos) surtam.Usam drogas. Compram armas. Transam sem camisinha. Batem em professores.

    Furam o pneu do carro do chefe. Chutam mendigos e prostitutas na rua. E da pordiante. Outros gastam o que no tm em brinquedos todos os dias e festas deaniversrio faranicas para suas crias. (Alves 2008).

    1.3.1.4. Necessidades no satisfeitas

    Necessidades no satisfeitas so outra causa apontada por Collins (2004, p. 180).

    Segundo ele no h um acordo entre psiclogos referente a lista de necessidades humanas

    bsicas. Mas segurana, aceitao, disciplina, estimulo, so necessrias para o

    desenvolvimento. Entretanto a maior necessidade seria o amor. Se uma criana privada do

    amor, ou outra necessidade no atendida, seu amadurecimento fica comprometido, e

    problemas vo surgir.

    Sentir-se rejeitado um dos mais terrveis sentimentos de um ser humano.

    Entretanto h crianas que se sentem rejeitadas pelos pais. Para Paes muitos filhos no

    recebem carinho, ateno, demonstrao de amor por parte dos pais, que por sua vez nem

    imaginam como isso trs conseqncias na personalidade e no carter de uma criana. a

    delinqncia de muitos jovens e adultos se explica no pssimo relacionamento que tiveram

    com os pais nos primeiros anos de vida(Paes 2005, p. 110).

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    1.3.1.5. Influncias

    Paes (2005, p. 110) lembra algumas coisas que influnciam diretamente a vida dos

    filhos, por exemplo: em muitas famlias a TV tem se tornado uma bab eletrnica, filhos

    passam horas diante dela assistindo a diversos tipos de programas, isso um perigo para a

    educao infantil. Muito dessa programao est trazendo para dentro do lar padres,

    conceitos e ideais que no so compatveis com a vida familiar e com os ensinos bblicos.

    Alm de influenciar na linguagem e nos costumes, e por induzir a violncia, desrespeito, e

    comportamentos imorais e pecaminosos.

    Collins lembra que geralmente os problemas familiares vem de fora, destacando que

    por exemplo, a televiso praticamente acabou com a comunicao em muitos lares, tomou o

    lugar da convivncia familiar e apresenta programas, que quase sempre, mostram uma viso

    muito negativa da famlia (p.518).

    Paes (p. 111) tambm fala da Influencia perigosa dos videogames, da msica e da

    literatura. Poucos pais param para observar o que seus filhos esto jogando, ouvindo ou at

    mesmo lendo. H muito contedo satanista, e de ocultismo, outros que incitam a violncia e

    at uso de drogas, que criam fantasias na mente das crianas levando a comportamentos

    agressivos e errados.

    H ainda as influncias fsicas, como doenas graves ou prolongadas,

    hospitalizaes, cirurgias, etc. que geram sentimentos como ansiedade, retraimento,

    ressentimento em relao aos pais, medo e outras reaes psicolgicas. Se enfrentar uma

    doena difcil para qualquer um, mas particularmente difcil para uma criana. (Collins

    2004, p. 180).

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    1.3.1.6. Traumas psicolgicos

    Collins tambm destaca como outra causa os maus tratos psicolgicos. H pais que

    talvez nunca machuquem fisicamente os filhos, mas abusam deles psicologicamente. Em

    muitos lares filhos, tem sido rejeitados, criticados em excesso, humilhados, ameaados, nunca

    recebendo amor, o que os leva a terem problemas pessoais ou ainda comportamentos que

    irritam seus pais. Segundo ele especialistas em desenvolvimento infantil tem alertado para

    efeitos nocivos da superproteo, da permissividade excessiva, do rigor exagerado e excesso

    de preocupao com detalhes mnimos (Collins 2004, p. 180) gerando assim ansiedade e

    insegurana nas crianas.

    Ele lembra ainda que talvez os pais no faam isso intencionalmente, mas por

    sentirem-se confusos ou oprimidos pelo comportamento dos filhos, no percebem as

    necessidades dos filhos e no sabem como agir. Dobson (2006. p. 89) lembra que A tentativa

    de controlar as crianas usando demonstrao de raiva e exploses verbais a abordagem

    menos eficaz educao, alm de no funcionar, ela ainda piora as coisas... infelizmente, a

    maioria dos adultos quando frustrados adota justamente essa abordagem para educar filhos.

    Instabilidades no lar tambm provocam problemas no relacionamento pais e filhos.

    Toda criana precisa de um lar onde haja respeito, carinho, afeto, harmonia, e modelos sadios

    para seguir, para ter um desenvolvimento sadio. Segundo Collins (p. 180) quando os pais no

    sabem lidar com os problemas, seja no trabalho e na relao matrimonial, faz com que osfilhos se sintam ansiosos, culpados e irritados. Por vezes ainda sentem-se esquecidos, vivem

    com medo de serem abandonados, fsica ou psicologicamente, ou precisam tomar partido do

    pai ou da me. Isso leva os filhos a terem um mau comportamento, mais como um grito de

    socorro, que indica problemas no lar, do que realmente ser uma criana desobediente ou

    rebelde.

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    1.3.2. Conseqncias

    Para Collins (p. 182) quando ocorrem problemas entre pais e filhos, isso pode

    influenciar os dois lados e s vezes gerar patologias infantis. Conforme o autor citado, tais

    problemas trazem efeitos nocivos tanto sobre os pais bem como sobre as crianas. Ele cita que

    os pais geralmente acreditam que os problemas com os filhos so devido a sua incompetncia

    na misso de pais, gerando assim frustraes, briga entre o casal, raiva para com a criana,

    alm de sentimento de culpa, medo do futuro e at tentativas frenticas de mostrar autoridade

    com o desejo de reassumir o controle. Lembra ainda que muitos pais simplesmente sentem-se

    incapazes de fazer algo e se limitam a assistir a rebeldia dos filhos.

    Entretanto quando a isso, Dobson lembra que A criana cujos pais nunca tomam

    rdeas com firmeza est sendo privada da compreenso correta da autoridade de sua me ou

    de seu pai. Isso tambm impede que ela compreenda outras formas de autoridade com as

    quais ter contato quando sair da segurana de seu casulo permissivo (p.48).

    Em relao s crianas, conforme destaca Collins (p. 182,183), as conseqncias so

    muito mais srias e prejudiciais. Ele lembra que se a relao entre pais e filhos

    problemtica, os filhos s vezes agem de modo semelhante aos pais, e podem ocorrer raiva,

    hostilidade em relao aos pais ou outros membros da famlia, culpa e medo.

    Enquanto os pais tm a capacidade de se expressar verbalmente, a criana tem outras

    formas de expresses, como acessos de raiva, rebeldia, baixo desempenho na escola,

    delinqncia, brigas, tolices, choro excessivo e outros comportamentos que so usados com

    o objetivo de chamar a ateno, como uma forma de dizer: Preste ateno em mim. Tambm

    estou sofrendo! O citado autor tambm lembra que por vezes a criana tem medo de dizer o

    que sente, e procura negar a realidade, mas no intimo sente que um fracasso total. Isso pode

    se transforma em semente da inferioridade e da baixa auto-estima, que podem surgir mais

    tarde na vida.

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    Collins tambm chama a ateno para o fato de que os problemas de relacionamentos

    entre pais e filhos tambm podem ter como conseqncias efeitos patolgicos. Que

    segundo ele so: 1) transtornos psicofisiolgicos, como asma, lceras, enurese noturna e dores

    de cabea. Que podem ter causas fsicas, mas tambm ser uma reao psicolgica ao alto

    nvel de estresse, disciplina severa, desapontamentos, perda de membros da famlia ou uma

    relao me-filho sufocante. 2) transtornos de desenvolvimento. Presses familiares podem

    retardar o desenvolvimento oral, motor, social, cognitivo e outras habilidades da criana. 3)

    Transtornos psiconeurticos, como ansiedade, medos irracionais, reaes de culpa

    exageradas, distrbios do sono, distrbios alimentares e comportamentos compulsivos,

    segundo Collins, podem ser pistas de que alguma coisa est perturbando a criana, gerando

    nela conflitos internos. 4) transtornos de personalidade. Por vezes a criana nem apresente

    nenhum conflito ou ansiedade, mas desenvolve uma personalidade hipersensvel,

    excessivamente retrada, isolada, independente demais ou desconfiada como reflexo de uma

    tenso interior. 5) Sociopatias e delinqncia. Quando a criana e frustrada no ambiente em

    que vive, pode reagir com acessos de raiva, delinqncia, e comportamento agressivo ou

    sexualmente impulsivo. Ela reage a frustrao atacando os outros. 6) Depresso infantil.

    Collins cita que a depresso infantil tem sido mais perceptvel nos ltimos anos. E que

    crianas deprimidas geralmente se retraem, perdem o apetite, so apticas, queixam-se de

    problemas fsicos, chegando a fugir de casa, ou mostram-se mal-humoradas, agressivas ouparadas (p. 183). 7) Dificuldades de aprendizagem, tambm so lembradas por Collins, por

    vezes no como resultados de pouca inteligncia, mas por vezes por serem muitos criticas ou

    pressionadas pelos pais, prejudicando assim sua auto-imagem e dificuldades de aprendizado.

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    II. O RELACIONAMENTO ENTRE PAIS E FILHOS NA BBLIA.

    Neste captulo pretende-se apresentar algumas bases bblicas e teolgicas do relacionamento

    entre pais e filhos.

    2.1. Relacionamentos na Bblia

    Solonca (2005, p.23) afirma que Deus um ser que sempre priorizou

    relacionamentos, tanto que como Deus, Ele no apenas uma pessoa, mas se apresenta como

    Deus Trino: Pai, Filho e Esprito Santo (Gn 1:26). Ao criar o homem ele viu a necessidade de

    que este tivesse uma auxiliadora (Gn 2:18-20). Aps a formao do casal, cada dia o Senhor

    Deus passeava pelo jardim e conversava como o homem e a mulher (Gn 3:8-10). Ao proferir

    a primeira bno sobre eles disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-

    a... Gn 1:28, formando ou dando incio ali a famlia e com ela o relacionamento familiar.

    Mas ao mesmo tempo esse Deus, deseja que o ser humano, a quem ele criou a sua imagem e

    semelhana aprenda a viver intensamente e plenamente em seus relacionamentos.

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    Como o ser humano foi criado por um Deus que sempre deu prioridade aos

    relacionamentos, se entende que Deus criou a famlia para ser a base dos relacionamentos

    tanto para o homem e a mulher bem como para os pais e os filhos. Segundo Paes (p.14) No

    h ser humano que consiga viver bem sem cultivar boas relaes afetivas. E o lar o lugar

    que Deus planejou para que ali as pessoas tenham supridas suas carncias emocionais, seja no

    relacionamento entre homens e mulheres e entre pais e filhos.

    Deus, ao criar a famlia, mostrou desde o incio que h regras (mandamentos) que

    precisam ser respeitadas: E lhes deu esta ordem: de toda a arvore do jardim comers

    livremente, mas da rvore do conhecimento do bem e do mal no comers (Gn 2:16-17a),

    bem como mostrou as conseqncias da quebra destas regras: porque no dia em que dela

    comeres, certamente morrers (Gn 2:17b). Foi a desobedincia a regra dada por Deus que

    trouxe conseqncias desastrosas, uma quebra no relacionamento entre o homem e sua mulher

    entre o ser humano com Deus, entre o ser humano consigo mesmo, e com a natureza, e como

    conseqncia afetou tambm o futuro relacionamento entre pais e filhos.

    Poujol (2005, p.25) destaca que: As Escrituras descrevem o ser humano como um

    feixe de relaes, de um lado com Deus e, de outro, com os outros homens, seus

    semelhantes e que com a queda do ser humano no pecado, tanto a relao com Deus foi

    corrompida, como a relao com os outros seres humanos foi deteriorada.

    2.2. Pais e Filhos na bblia

    E Deus os abenoou e disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e

    sujeitai-a ...Gn 1.28.

    A Bblia por diversas vezes nos apresenta Deus como Pai, que sempre desejou ter um

    relacionamento belo e maravilhoso com seus filhos, os seres humanos. Ao criar a famlia

    desejou que seus membros vivessem relacionamentos plenos, de satisfao, amor,

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    compreenso e carinho, respeito e dedicao de um para com o outro. Mas ao mesmo tempo

    sabia que tal relacionamento no seria fcil. O prprio ser humano se tornou rebelde e

    desobediente em seu relacionamento com o Pai Celestial. E nesta quebra de relacionamento

    entre os seres humanos para com Deus, trouxe conseqncias nos relacionamentos do ser

    humano com seus filhos, fatos este que permeiam por toda a Bblia.

    2.2.1. No Antigo Testamento

    Quando se refere famlia no Antigo Testamento, o escritor Federico Pastor Ramos,

    afirma que nos tempos patriarcais a famlia tinha uma estrutura que inclua trs geraes:

    pais/patriarcas, filhos e netos, com suas esposas, e outros parentes como sobrinhos e sobrinhas

    sem famlia prpria, alm de servos e escravos, vivendo quase como se fosse um cl. Ele

    destaca que todas essas pessoas viviam juntas, trabalhando, ajudando e defendendo-se

    mutuamente. Nela predominava os laos da autoridade, onde o pai, ou patriarca era o chefe

    sobre todos, respeitado e temido. O citado autor destaca que: A famlia, especialmente

    naqueles tempos antigos, era uma unidade de trabalho. Aparecem os filhos e parentes

    cuidando dos bens familiares, sobretudo rebanhos, que o pai administra e aumenta. Caso

    tpico o de Jac em Gn 30:25s (Ramos 1997, p. 14).

    Nessa famlia lembra o autor, os pais tem uma importncia total, especialmente o

    pai... trata-se do domnio quase absoluto do pai sobre seus filhos e demais membros da

    famlia... a famlia se conhece como casa de... (Abrao, Saul, Davi, etc. ) ela quase sua

    propriedade privada (p. 24). Naquela poca a paternidade era vista como cuidado domnio,

    ateno, responsabilidade, onde o pai cumpria diversas tarefas, desde, proteg-la dos

    inimigos, como cuidar e organizar o casamento dos filhos (Gn 14 e 24). O pai o

    protagonista principal da famlia... j a me aquela que d a vida... ser me o melhor que

    pode ser uma mulher no Antigo Testamento (p. 25).

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    A me ainda, segundo Ramos, aquela que demonstra amor e dedicao pelos

    filhos. Por fim ele ainda lembra que os pais so fonte de segurana e proteo para os filhos.

    Ser rfo uma das maiores desgraas que podem acontecer a um ser humano e uma das

    ameaas ou castigos que aparecem (Ex 22.23; Sl 109:9, Is 9:16; Jo 14:18) (, p. 26).

    Segundo o citado autor, os filhos so abundantes na famlia bblica, quanto mais

    filhos, mais forte e rica ser a famlia, com mais membros para trabalhar e defender. Eles so

    como sinal e garantia do futuro e sinal de proteo e bnos divinas. So vistos como:

    Herana do Senhor, sua recompensa (Sl 127.3), rebentos de oliveira (Sl 128.3) plantas

    florescentes e colunas bem talhadas (Sl 144.12); ou ainda, como sinal e realizao do favor

    de Deus (Dt 28.11). Ter muitos filhos era algo bom. Basta ver a alegria com que os pais

    recebiam cada filho sobretudo se fosse varo (Gn 21:6-8). J a preocupao e tristeza por

    no ter filhos, como o caso de Abrao (Gn 15:2-3) traz muito sofrimento, visto como castigo

    de Deus pelos judeus. A esterilidade vista como uma maldio. Entretanto a Bblia tambm

    destaca que os filhos trazem preocupaes e cuidados (Pv 10:1; 23:24; 27:11).

    Nos Salmos a Palavra de Deus ensina que: Herana do Senhor so os filhos; o

    fruto de ventre o seu galardo. Como flechas na mo do guerreiro, assim os filhos da

    mocidade. Feliz o homem que enche deles a sua aljava Salmo 127.3-5. Dando a idia de que

    filho uma herana, um galardo, e que ter muitos filhos, ter felicidade dentro do lar.

    Collins chama a ateno para o fato de que depois de criar homem e mulher Deusdeu a ordem a Ado e Eva que fossem frutferos e tivessem muitos filhos. Ao contrrio da

    maioria das ordenanas divinas, esta foi obedecida e o mundo logo se encheu de pessoas. Nos

    tempos do antigo testamento ter uma famlia numerosa era considerado, uma bno especial

    de Deus, e no ter filhos era uma vergonha ( p. 177).

    Para Ramos a relao entre pais e filhos uma coisa natural e instintiva,

    principalmente porque um pai podia ter vrias mulheres e numerosos filhos. Por isso A

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    ateno e contatos eram mais gerais, centrados na alimentao e proteo, e muito menos na

    afetividade e ternura, o que no quer dizer que elas no existam (Ramos 1997, p. 28). Ali o

    pai era visto como o senhor dos filhos, ele manda e eles tm que obedecer. Por isso a

    relao de autoridade bastante clara.

    J em relao aos filhos insiste-se muito nas obrigaes dos filhos para com os pais,

    resumidas no honra teu pai e tua me de Ex 20:12; Lv 19:3; Dt 5:16. obrigaes que

    tambm aparecem em outros livros como Pv 1:8; 6:20; Ef 6:1-3: Cl 3:20-21 (Ramos p. 28).

    Onde conforme o autor, o que deve predominar a obedincia para com os pais, e a falta de

    respeito para com estes censurada e condenada energicamente (Ex. 21:15-17; Pv 30:11)

    sendo que a lei previa nada menos do que a morte para o filho que viesse a amaldioar seu pai

    ou me (Lv 20:9), sendo a mesma punio dada para o filho rebelde (Dt 21:18-21). Segundo

    Ramos os filhos respondiam com obedincia e respeito a seus pais , pois isso era algo bsico

    na sociedade hierrquica que viviam. A obedincia: o tema mais usado partindo da bblia.

    O Honrar pai e me se concretizam, sobretudo em cuidar deles (p. 147). Lembrando ainda

    que, a honra e obedincia devida aos pais, criavam relaes boas e harmoniosas para todos.

    Em Relao educao dos filhos Ramos destaca que prevalece a dureza e a

    severidade, lembra que muitos textos bblicos aconselham o uso de castigos fsicos, e que a

    vara para corrigir o filho no mera metfora na bblia, sendo que textos como Pv 13.24;

    23.13-14; 29.15-17; do exemplos disso. Segundo a autora na viso dos pais do AntigoTestamento educar poder orgulhar-se do filho, e evitar que seja um objeto de futura

    vergonha para o pai (p.30).

    Foram diversos os pais que tiveram problemas de relacionamento com os filhos: No

    proferiu bnos, mas tambm maldies sobre um dos seus filhos (Gn 9.20-27). Eli,

    sacerdote, no soube educar os filhos no caminho do Senhor, tornaram rebeldes e

    desobedientes ao pai e tambm em relao a Deus, e isto lhes custou vida (1 Sm 22). Davi

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    teve problemas com seus filhos Amnom e com Absalo em especial, por ser um pai ausente, e

    sofreu terrveis conseqncias por isso, inclusive a morte de ambos os filhos (2 Sm 13; 15).

    2.2.2. No Novo Testamento

    Em relao ao Novo Testamento os evangelhos esto cheios de traos familiares e de

    relacionamentos envolvendo toda a famlia e por diversas vezes pais e filhos. Por diversas

    vezes encontra-se texto de pais que esto preocupados com a enfermidade dos filhos, como

    o caso de um pai que traz seu filho possesso de demnio (Mc 9.14-29); Jairo que clama para

    que Jesus v at sua casa para curar sua filha (Mc 5.22s); a mulher canania que suplica

    incansavelmente atrs de Jesus pela sua filha (Mt 15.21-28); a viva de Naim que chora pela

    morte do filho a quem Jesus ressuscita (Lc 7.11-15) e diversos outros.

    Ramos (p. 71) lembra que Jesus em seus ensinamentos utilizava histrias envolvendo

    famlias, inclusive problemas de relacionamentos entre pais e filhos, para transmitir sua

    mensagem e lies para o povo, como o caso da parbola do filho Prdigo que resolve sair

    da casa do pai, por achar que a vida longe dali deveria ser melhor, mas que um dia descobre

    que no lar do pai ele tinha tudo o que precisava (Lc 15.11-32); a parbola dos dois filhos,

    onde os filhos reagem de forma diferente da ordem recebida do pai (Mt 21. 28-31); ou ainda a

    histria dos descaso dos filhos em relao ao cuidado para com seus pais, que afirmavam que

    estavam ofertando a Deus e por isso no podiam auxiliar os pais (Mc 7.10-13).No Novo testamento dada uma importncia maior aos deveres dos filhos, pois com

    certeza aquela educao mais rgida do tempo dos patriarcas bblicos, deu lugar a uma

    educao mais suave, mais baseada no amor, na conversa e na orientao. Mas ao mesmo

    tempo isso no quer dizer que os pais tenham menos obrigaes ou deveres. Segundo Ramos

    (p.142) precisamente nas relaes pais-filhos que aparecem mais claramente temas como a

    obedincia, educao, cuidado, responsabilidade, etc.

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    O mandamento dado aos filhos no Antigo Testamento, Honra a teu pai e tua me

    (ex 20.12), no Novo Testamento no apenas repetido por diversas vezes (Mt 15.4; 19.19; Ef

    6.2), mas ao mesmo tempo ampliado conforme Ef 6.1-3. Ao mesmo tempo tambm

    acrescentado deveres aos pais conforme Ef 6.4.

    Keener (2004, p. 573) destaca que muitos dos escritores judeus acreditavam que

    honrar os pais era o mandamento mais importante. Ele ainda lembra que os filhos eram

    frequentemente ensinados atravs de surras, que seguiam um padro na criao e educao

    dos filhos. Os pais eram considerados responsveis pela educao dos filhos. Quanto a isso na

    viso do comentarista, o Apstolo Paulo fazia parte de uma minoria de escritores antigos que

    desaprovava uma disciplina excessiva, referindo-se a Efsios 6.4.

    III FORTALECENDO O RELACIONAMENTO ENTRE PAIS E FILHOS ATRAVS

    DO ACONSELHAMENTO CRISTO.

    Esse captulo visa trabalhar como o Aconselhamento cristo, sua utilidade e

    aplicao no relacionamento entre pais e filhos afim de que a famlia possa viver num

    contexto de harmonia, respeito, amor e compreenso, para que possam desenvolver

    relacionamentos saudveis e funcionais.

    3.1. O Aconselhamento cristo no Relacionamento pais e filhos.

    O Objetivo deste captulo ser trabalhar um projeto de Aconselhamento que visa

    fortalecer e estreitar os laos do relacionamento entre pais e filhos. Muitas pessoas, ainda tm

    certas reservas quanto busca de aconselhamento para o seu problema familiar. Ser

    necessrio abordar o aconselhamento cristo, olhando um pouco para sua origem, bem como

    porque e como pode ser til no relacionamento entre pais e filhos.

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    3.1.1. Origem do Aconselhamento Pastoral.

    Segundo Schneider-Harpprecht, Aconselhamento Pastoral vem do ingls pastoral

    counseling, e tal termo para muitos restringe a idia de que o aconselhamento seria apenas

    uma atividade do pastor. Por isso o autor junta a este termo a palavra poimnica (do grego

    poimen) a qual o autor define como o ministrio de ajuda da comunidade crist para os seus

    membros e para outras pessoas que a procuram na rea da sade atravs da convivncia diria

    no contexto da igreja enquanto que aconselhamento pastoral definido como uma

    dimenso da poimnica que procura ajudar atravs da conversao e outras formas de

    comunicao metodologicamente refletidas (Schneider-Harpprecht p. 291-2). Para o autor,

    esse aconselhamento acontece sempre quando as pessoas convivem, participam e comunicam-

    se sobre as dificuldades no grupo familiar, no trabalho, na igreja, ou seja, nas diferentes

    relaes sociais. A sua base social a convivncia no contexto da igreja e uma dimenso da

    Koinonia, ou comunho.

    Para o citado autor o objetivo do aconselhamento pastoral descobrir com as

    pessoas em diferentes situaes da sua vida e especialmente em conflitos e crises, o

    significado concreto da liberdade crist dos pecadores cujo direito de viver e cuja auto-

    aceitao vm da graa de Deus. Mas tambm tem como objetivo ajudar as pessoas a viver

    de maneira consciente e adulta a sua relao com Deus, consigo mesmas e com o prximo.

    Ele ainda lembra que o aconselhamento pastoral lida com processos de mudana de

    identidade, de posturas, pensamentos, sentimentos, relaes interpessoais que se refletem no

    comportamento das pessoas (p. 293).

    No Antigo Testamento (AT) o aconselhamento estava mais centrado na luta do ser

    humano em resgatar o seu relacionamento com Deus. Como a antropologia do AT no

    separava mente, alma e corpo, mas entendia o ser humano de maneira integral e relacional

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    acreditavam que as perturbaes em relao a Deus afetavam o ser humano todo. No AT o

    aconselhamento era feito por sacerdotes, ancios, juizes, profetas, mas em primeiro lugar por

    homens sbios do povo, que como pais transmitiam conselhos de sabedoria para os seus filhos

    (Pv 4).

    No Novo Testamento (NT) o autor lembra que se segue uma prtica que integra cura

    espiritual e fsica, aconselhamento, culto, interpretao das leis divinas e da sabedoria

    popular. Jesus se apresentou para os pobres e pecadores como aquele que veio para ser o

    reconciliador entre Deus e os seres humanos, oferecendo-lhes amor, perdo e valorizao. E

    estas passaram a entenderem-se como pessoas que vivem desse amor e perdo de Deus por

    meio de Jesus. Isto continua sendo um ponto central do aconselhamento cristo at os dias de

    hoje (p. 296).

    A palavra paraclesis (admoestao, consolao) tornou-se o conceito chave para o

    aconselhamento no NT e seu fundamento a misericrdia de Deus que justifica o pecador

    (Rm 12.1). A paraclesis desafia os crentes a realizar uma identificao com Jesus Cristo que

    os fortalece, lhes d pacincia e esperana (2 Co 1.6s.). Ela serve para a edificao do corpo

    de Cristo (p. 297). O apstolo Paulo a usa para significar a oferta da salvao atravs da

    relao com Cristo que a pregao do evangelho leva at as pessoas. No NT todos os cristos

    so os agentes do aconselhamento, e a cura depende da qualidade espiritual da pessoa.

    Segundo ainda Schneider-Harpprecht, o Pietismo foi quem desenvolveu a forma deaconselhamento onde pela primeira vez, surgiu a conversao livre, a pessoa podia falar de

    seus problemas independente da situao de penitencia. Sendo caracterizado pela f pessoal,

    nas experincias de converso e na santificao. Surgiram capeles hospitalares que visitavam

    e acompanhavam doentes, mas visando apenas a converso, sem levar em conta a sua situao

    fsica, familiar e social. Somente com o racionalismo, que o aconselhamento rompeu essa

    tradio, entendendo a conversao pastoral como dilogo entre amigos em que o pastor tinha

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    a tarefa de animar pessoas, procurar melhor-las moralmente, consol-las e fornecer ajuda

    concreta atravs de conhecimentos de medicina e psicologia (p.301).

    A partir dos anos de 1920 e 1930, surgiu nos Estados Unidos, atravs de uma

    cooperao de pastores e mdicos, o movimento da Clinica pastoral, que visava

    aconselhamento teraputico e uma formao clinica de telogos. J nos anos de 1960 na

    Europa houve uma unio desse movimento com a psicologia pastoral que segundo o autor

    promoveu a recepo de conhecimentos psicolgicos e psicoterpicos no aconselhamento e

    hoje encontra-se em diversos paises um sistema de formao clinica e terica para obreiros da

    igreja em aconselhamento pastoral o qual comea a deixar marcas na formao teolgica em

    algumas igrejas evanglicas da Amrica latina (p. 302)

    O citado autor tambm chama a ateno para o fato de que muitos autores

    evangelicais tem tido uma tendncia de usar a psicologia para realizar um aconselhamento

    mais efetivo. Citando Gary Collins, que desta que o alvo ulterior e abrangente do

    aconselhamento a evangelizao e o discipulado, que os indivduos tenham vida em

    abundncia na terra e a vida eterna prometida aos crentes. Que procura integrar a psicologia

    moderna e o cristianismo bblico (p. 304,5). Segundo o autor tal aconselhamento visa

    autocompreenso, comunicao, aprendizado, e modificao de comportamento, auto-

    realizao e apoio. Sendo que para os no crentes serve como uma pr-evangelizao, para os

    que sofrem, uma ajuda para reconhecer atitudes prejudiciais inconcientes, e aprender recursospara enfrentar as crises. Sendo que este modelo de aconselhamento pastoral integra-se a uma

    viso de uma comunidade teraputica de obreiros e leigos engajados, com o objetivo de

    oferecer apoio aos membros, cura aos indivduos perturbados e orientao quando as pessoas

    tomam decises e seguem em direo a maturidade (p. 305).

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    3.1.2. Aconselhamento na famlia.

    Segundo Collins, Deus em sua infinita sabedoria, decidiu confiar vidas indefesas aos

    cuidados de adultos, que tem pouca ou por vezes nenhuma experincia em como educar

    crianas ou enfrentar os desafios que a educao delas exige. O Aconselhamento cristo pode

    ser muito til nessa rea oferecendo orientaes e ajudando a encontrar possveis solues.

    Para Collins O aconselhamento familiar existe para melhorar o funcionamento de famlias

    problemticas, ensinando-as a lidar com as fontes de estresse e a construir relacionamentos

    familiares saudveis (p. 514).

    Esse trabalho de aconselhamento at pode ser realizado com as crianas. Mas

    segundo afirma o citado autor, mais comum que os pais procurem ajuda, e a criana venha

    mais tarde, com ou sem eles. Tambm mais comum que as orientaes e auxilio se d

    atravs dos pais. Esta tarefa envolve dar encorajamento, fornecer informaes, conselhos,

    prestar esclarecimentos, apoio ou outro tipo de parecer que possa ajudar a criana de uma

    forma indireta atravs dos pais (p. 176). Usa-se a orientao aos pais por se reconhecer que

    estes tm maior capacidade de influenciar profundamente a criana, o que talvez nenhum

    conselheiro consiga diretamente com elas. Entende-se tambm que haver uma colaborao

    entre pais e conselheiros, pois todos tm o mesmo objetivo que ajudar no bem estar e

    amadurecimento da criana.

    importante tambm conhecer bem os pais, porque muitas vezes, os problemas

    podem estar neles, como foi visto em capitulo anterior, entretanto no se deve critic-los, mas

    precisa-se ajudar toda a famlia a funcionar melhor, para que assim a criana tambm seja

    ajudada. Ainda segundo Collins, algum afirmou certa vez que um bom pai o melhor

    conselheiro que uma criana pode ter por isso ensinar aos pais a ajudar seus filhos, pode ser

    uma das melhores formas de mudar ou moldar o comportamento da criana (p. 186).

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    3.1.3. Desafios do Aconselhamento com pais e filhos.

    Todo o trabalho envolvendo pessoas passa por desafios, que precisam ser vencidos.

    No relacionamento entre pais e filhos com certeza tambm h alguns desafios que podem

    interferir para que o projeto de aconselhamento possa dar certo. Aqui se pretende apresentar

    pelo menos trs desafios, ou mitos, que se tem percebido, principalmente dentro do contexto

    da igreja.

    3.1.3.1. Lembrar que no o conselheiro que resolve o problema

    Talvez um dos maiores desafios do aconselhamento seja o fato de que se espera que

    o conselheiro seja aquele, que cura, que salva, que resolve o problema, que ele quem vai

    suprir as necessidade de todo o mundo. Por vezes o prprio conselheiro se sente nessa

    situao de achar que ele resolve, e na maioria das vezes as pessoas que chegam com o

    problema tambm esperam que ele tenha um conselho ou formula mgica que resolver de

    cara o problema. Pais e mes costumam chegar ao conselheiro e pedir: O que eu devo fazer

    porque meu filho faz isso ou aquilo? Ou ainda: Ser que o senhor poderia resolver o meu

    problema?

    Por isso importante lembrar que mesmo que a palavra possa sugerir, mas na

    verdade o conselheiro no d conselhos, como faa isso ou aquilo, mas seu objetivo e fazer a

    pessoa pensar e descobrir por si mesma a soluo para o seu problema.

    3.1.3.2. Mito de que cristo no pode ter problemas na famlia

    Em muitas famlias e igrejas se instalou um mito de que o cristo, no pode passar

    por problemas, muito menos ter uma famlia problemtica, pois isso demonstraria falta de f e

    consagrao para com Deus ou ento sinal de pecado.

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    Entretanto a realidade que milhares de famlias crists tm enfrentando graves e

    difceis problemas diversos, principalmente em seus relacionamentos, mas isso tem sido

    abafado ou escondido devido ao mito que se criou. Quando se olha para a palavra de Deus

    percebe-se que at as famlias mais consagradas enfrentavam problemas, tinham crises,

    cometiam erros, tinham problemas em relao aos filhos, e em diversas reas da vida familiar.

    Entretanto ainda assim, um desafio em muitas igrejas, e para muitos cristos, expor

    suas lutas, crises e problemas conjugais e em relao aos filhos, ou ainda buscar

    aconselhamento para o seu problema.

    3.1.3.3. Famlia no apresenta seus reais problemas

    Muitas famlias geralmente no gostam de demonstrar que esto enfrentando

    problemas de relacionamentos. Procura-se esconder dos amigos, vizinhos, do pastor, da igreja

    porque temem ser confrontadas ou que seus problemas se tornam pblicos. Por vezes esses

    problemas so to bem escondidos das demais pessoas, entretanto as presses e crises se

    evidenciam na privacidade do lar. Isso geralmente gera uma crise que atinge a todos os

    integrantes da famlia. Entretanto chega um momento que a crise se torna to insuportvel que

    ela acaba estourando em ou outro ponto.

    Collins lembra a teoria de Plato, de que as crianas recm nascidas se comunicam

    atravs de gritos e choro, e lembra que d mesma forma crianas mais velha e at adultos

    tambm podem se comunicar atravs de comportamentos estranhos ou anti-sociais. O autor

    cita que problemas de alcoolismo, agressividade por parte dos pais, filhos fugindo de casa, ou

    rebeldes e incontrolveis podem ser sinais de instabilidades no lar (p. 518).

    Por isso torna-se um desafio para o conselheiro saber se o problema que a famlia diz

    ter realmente o problema pelo qual est passando, e se o problema realmente reside na

    pessoa a que ele imputado. Por isso necessrio analisar todo o problema dentro de um

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    contexto, e em vez de trabalhar com uma pessoa apenas por vezes necessrio trabalhar com

    toda a famlia, e ao invs de lidar com um problema apenas, pode-se estar lidando com vrios.

    Faz-se tambm necessrio que o conselheiro parta do princpio que o problema de um

    individuo nunca ocorre isoladamente.

    Muitos por medo, ou por vergonha de estarem enfrentando um problema com os

    filhos, acabam por no buscar ajuda.s vezes tambm so ameaas, controle e manipulao

    de um dos membros da famlia, que impedem que os envolvidos falem a respeito de seus

    problemas, e pode acontecer de famlias conviverem a vida toda com um problema, sem que

    esse venha a se revelado, ou ento procurar ajuda. E por vezes a nica forma de chegar a esse

    problema pode ser falando sobre isso na igreja.

    3.2. Propostas para o fortalecimento do relacionamento entre pais e filhos atravs

    do aconselhamento.

    3.2.1. A Igreja como Instrumento de Aconselhamento

    Segundo afirma Sathler-Rosa h algumas formas de atuao pastoral que podem

    ajudar as famlias a desenvolverem melhores relacionamentos (p.124). Para ele melhores

    relacionamentos devem promover auto-respeito, respeito mtuo, a capacidade para enfrentar

    situaes de crises, a responsabilidade social e o testemunho da f crist. E nesse ponto que

    a igreja, atravs de seus ministrios, tem grandes oportunidade de influenciar de forma

    positiva e duradoura os membros das famlias que participam das atividades da comunidade.

    A igreja, ou pessoas envolvidas nela, precisam oferecer tambm a sua cooperao.

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    3.2.1.1. Aconselhamento na Igreja.Segundo a bblia, foi o prprio Jesus que pela primeira vez mencionou a palavra

    Igreja. E conforme afirma Collins, foi a Igreja que deu continuidade ao ministrio de Jesus, de

    ensino, evangelizao, ministrao e aconselhamento. Sendo que tais tarefas eram realizadas

    por cristos comuns que compartilhavam e cuidavam um dos outros. O livro de Atos bem

    como as Epistolas ensinam que um dos ministrios da igreja era tambm ser uma comunidade

    teraputica. Comunidades teraputicas so grupos de pessoas que se caracterizam por um

    profundo compromisso entre seus membros e por um interesse comum na cura de males

    psicolgicos, comportamentais ou espirituais (Collins p. 21).

    funo da igreja, dar apoio aos abatidos, curar doentes, e orientar pessoas nas

    difceis decises da vida. Segundo ainda o citado autor, os cristos que se renem como

    igreja, devem projetar sua ateno em trs direes: 1) para o alto: adorao a Deus; 2) para

    fora: evangelizao; e 3) para dentro: atravs do ensino , comunho e assistncia mtua (p.

    22). Talvez esse ltimo, tenha sido o mais negligenciado pela igreja atual, onde se d tanto

    valor a adorao, fala-se tanto em evangelizao (essenciais sim), mas por vezes se esquece

    da outra importante tarefa que Jesus deixou para a igreja: levar as cargas uns dos outros, ou

    seja, o auxilio, o ensino, a comunho e o aconselhamento para ajudar as pessoas a enfrentar

    suas crises e problemas que mais afligem os cristos, e impedem que possam adorar,

    evangelizar, e viver plenamente.

    Collins ainda afirma que a funo da igreja cuidar dos necessitados, receber os

    recm-chegados, fazer o bem a todos, curar os feridos de alma, perdoar os arrependidos,

    consolar os que choram, dar apoio aos fracos e levar a todos as boas novas de Jesus (p. 60).

    atravs da igreja que se tem acesso a famlia, pois geralmente esta composta de

    famlias. Muitas famlias dentro da igreja esto enfrentando problemas diversos, mas do

    consenso de vrios autores que um dos problemas que mais tem afetado as famlias em

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    relao criao e educao de filhos, que cada dia parece estar se tornando mais difcil e

    complicado. Tambm para pessoas da igreja que geralmente famlias se abrem e contam

    seus problemas, crises e conflitos, e queira ou no os conflitos enfrentados pela famlia

    acabam por afetar toda a igreja.

    Atravs da igreja pretende-se trabalhar atravs de palestras, curso e mesmo do

    plpito, com pais e filhos as bases para os relacionamentos familiares, como questes

    espirituais, emocionais, e morais, que levam relacionamentos saudveis e como aplic-las.

    A igreja deve estar atenta a temas que fazem parte do cotidiano da vida das famlias e

    tratar de assuntos essenciais para o desenvolvimento de relacionamentos saudveis. Temas

    como: relacionamento na famlia; atitudes da famlia em relao ao consumismo financeiro,

    ou aos programas da TV, as drogas, ao sexo livre, etc; a comunicao em famlia, a

    importncia do culto domstico, do exemplo, do respeito dentro do lar; a prtica do amor e

    do perdo nos relacionamentos; etc.

    Para Collins uma das formas de se ajudar e evitar problemas na famlia so criar

    atividades e iniciativas que edifiquem a famlia, tais como: promover seminrios e

    conferncias sobre a vida familiar; ensinar sobre famlia nas classes de escola dominical e nos

    sermes; promover treinamentos de casais visando aperfeioamento conjugal e ao sucesso na

    criao de filhos; promover retiros para as famlias; formar grupos de famlias que se renem

    para incentivo mtuo e falar de problemas e preocupaes (p. 525).Levando-se isto em contam prope-se trabalhar todo o material desse trabalho

    atravs de um curso com as famlias da igreja, onde cada ponto do mesmo serve como base

    para um mdulo, que analisa a real situao do relacionamento familiar, procurando integrar a

    famlia para ser participativa e falar sobre as dificuldades em seus relacionamentos.

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    3.2.1.2. Alternativas: Aconselhamento Leigo, parcerias com profissionais da rea.

    A Igreja atravs de seu pastor deve oferecer o aconselhamento cristo na pratica,

    aonde a pessoa ou a famlia com problema de relacionamento entre pais e filhos, vem at o

    conselheiro em busca de ajuda. Podem-se utilizar as formas de Aconselhamento em grupo e

    Individual. importante que a Igreja tenha pessoas preparadas e dispostas a ajudar outras

    pessoas, quando algum no se abre com o pastor, podem falar de seus problemas a leigos que

    com preparo podem oferecer conselhos valiosos. Os grupos so valiosos porque compartilham

    experincias que deram certo e auxiliam os que enfrentam o mesmo problema.

    Cabe lembrar tambm que haver casos em que por melhor que a igreja faa o seu

    trabalho, haver a necessidade de encaminhar pessoas a profissionais especiliazados, como

    psiclogos, psiquiatras ou mesmo mdicos, por isso importante igreja desenvolver

    parcerias com pessoas especiliazadas e crists que podem oferecer um auxilio mais completo

    nesta rea.

    3.3. A importncia dos aspectos espirituais na educao dos filhos. Uma volta aos

    princpios bblicos que regem a famlia.

    O grande propsito da famlia viver todos os relacionamentos para a glria de Deus

    (1 Co 10:31). Para o escritor Gary Smalley o relacionamento mais importante de uma pessoa com Deus, o autor de toda a vida. Para ele toda a pessoa tem um relacionamento com Deus,

    quer queria quer no, pois Deus nos criou com a necessidade de nos relacionarmos com Ele. E

    todos os outros relacionamentos saem do prumo se voc ignorar seu relacionamento com

    Deus (Smalley 2007, p. 44).

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    3.3.1. Princpios bblicos da educao de filhos em Dt. 6. e Ef.6.1-4

    A partir de dois textos bblicos (Deuteronmio 6. e Efsios 6) pretende-se incutir o

    ensino bblico de que dever dos filhos, e mandamento do Senhor Deus aos mesmos a

    obedincia e a honra devida aos pais (Ef. 6.1-2). Mas por outro lado a Palavra de Deus

    tambm instruiu aos pais a viver e ensinar os filhos os mandamentos, regras e leis do Senhor

    (Dt. 6.4-9), bem como a no provocar a ira dos filhos, mas cri-los na disciplina e

    admoestao do Senhor (Ef. 6.4).

    3.3.1.1. Princpios bblicos passados de pai para filho.

    Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, o nico SENHOR. Amars, pois, o

    SENHOR, teu Deus, de todo o teu corao, de toda a tua alma e de toda a tua fora. Estas

    palavras que, hoje, te ordeno estaro no teu corao, tu as inculcars a teus filhos, e delas

    falars assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.

    Tambm as atars como sinal na tua mo, e te sero por frontal entre os olhos. E as

    escrevers nos umbrais de tua casa e nas tuas portas. Dt 6.4-9.

    Collins (p.177) lembra que no Antigo Testamento, existe uma seo que rene todos

    os princpios e resume os ensinamentos bblicos sobre criao de filhos. O autor se refere ao

    texto acima de Deuteronmio 6, que nada mais do que a ordem de Deus para que os pais

    passassem para seus filhos os princpios, ensinamentos ou mandamentos de Deus. Para o

    autor os preceitos bblicos para a criao de filhos envolvem quatro elementos simples, mas

    bsicos: ouvir, obedecer, amar e ensinar. Tais preceitos sero aqui analisando devido a sua

    importncia e pelo fato de que muitos pais, inclusive cristo es