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SUMÁRIO
Introdução ............................................................................................................................3Capítulo 1 – Ergonomia........................................................................................................41.1 – O que é Ergonomia.......................................................................................................41.2 – Histórico ......................................................................................................................41.3 – Benefícios da Ergonomia.............................................................................................61.4 – A Evolução da Ergonomia............................................................................................8Capítulo 2 – LER...................................................................................................................92.1 – Conceito........................................................................................................................9Capítulo 3 – DORT...............................................................................................................153.1 – Definição......................................................................................................................153.2 – Histórico.......................................................................................................................163.3 – Conseqüências do DORT.............................................................................................173.4 – Etiologia.......................................................................................................................183.5 – Mulheres e DORT........................................................................................................193.6 – Sintomas e estruturas comprometidas..........................................................................21Capítulo 4 – A atuação do profissional de fisioterapia nas empresas...................................244.1 – Histórico da fisioterapia preventiva.............................................................................244.2 – Fisioterapia e Saúde.....................................................................................................264.3 – O processo de Intervenção preventiva.........................................................................434.4 – o fisioterapeuta do trabalho..........................................................................................284.5 – o programa de prevenção.............................................................................................324.6 – A interferência do Estresse no Trabalho......................................................................33Capítulo 5 – Fisioterapia preventiva nos casos de DORT....................................................355.1 – Intervenção Terapêutica...............................................................................................355.2 – Estratégias para o desenvolvimento da intervenção preventiva...................................365.3 – Práticas efetivas............................................................................................................395.4 – O alongamento muscular..............................................................................................405.5 – Recursos pré cinéticos..................................................................................................425.6 – A presença do DORT no cotidiano..............................................................................425.7 – Ginástica laboral e exercícios laborais compensatórios..............................................435.8 – Ginástica laboral.........................................................................................................45Capítulo 6 – Considerações Finais.......................................................................................49
Bibliografia .........................................................................................................................51
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Introdução
A ação fisioterapêutica vem crescendo nas empresas, devido ao
reconhecimento pelos empresários sobre a importância de investimentos em
ações preventivas em suas empresas, para combater doenças osteomusculares,
que atrapalham o rendimento dos funcionários, e consequentemente a
produtividade da empresa. Os empresários brasileiros conseguiram compreender
que investir na saúde do trabalhador é importante para o desenvolvimento do seu
negócio.
Essa relação entre empresa e trabalhador é uma relação complexa, e
existem pessoas que acreditam que trabalhar com máquinas é mais fácil do que
trabalhar com seres humanos. Essa idéia é justificada pelo fato dessas pessoas
acreditarem que caso não haja
imprevisto, como por exemplo, problemas mecânicos, as máquinas
desempenharam um trabalho perfeito.
Porém, essas pessoas se esquecem de que a relação com o ser humano,
nos seus devidos graus e medidas, é parecida com a relação com a máquina, ou
seja, ou ser humano necessita de boas condições ambientais, físicas, alimentares,
assim como a máquina, precisa de combustível, manutenção, etc. Portanto, para
obtenção de um local de trabalho saudável e de uma maior produtividade, é
necessário que se invista na qualidade de vida e, aí incluída, a saúde do
trabalhador.
Portanto, a intenção desse trabalho é realizar, através uma pesquisa
bibliográfica, um histórico sobre a ação fisioterapêutica no mundo do trabalho,
mais especificamente, como se desenvolver essas ações nas empresas. Para
isso, foi necessário enfatizar duas das doenças mais comuns, quando se trata do
trabalho em empresas: a LER e o DORTs. Esse trabalho pretende, portanto,
enfatizar essas duas doenças, descrevendo-as e, entendendo como a atuação
fisioterapêutica pode ajudar nesses casos.
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Cápitulo 1. Ergonomia
1.1 O que é Ergonomia
Para pensarmos a ação fisioterapeutica nas empresas é antes necessário
compreender o conceito de ergonomia. A palavra ergonomia é derivada de duas
palavras gregas: Ergos, que significa trabalho, e Nomos, que significa leis,
normas, regras. Portanto, Ergonomia é a ciência que estuda a relação entre o
homem e o seu trabalho. Esse estudo é feito levando em consideração a
diversidade de aspectos contidos nessa relação como, por exemplo, o
equipamento e o ambiente. Essa é uma das definições de Ergonomia, porém,
existem outras, que na sua essência são substancialmente parecidas com essa,
como, por exemplo, a seguinte definição: “Ergonomia é a ciência que objetiva
adaptar o trabalho ao trabalhador e o produto ao usuário" (MEISTER; 1998).
Portanto, a Ergonomia é uma ciência que trata das relações de trabalho, e
que procura soluções para problemas na relação entre homem e máquina. A
Ergonomia é, então, responsável por solucionar os problemas relacionados ao
homem, e sua relação com a tecnologia presente no seu trabalho.
Assim, a Ergonomia é de fundamental importância para uma melhor
qualidade de vida do ser humano, já que, a maioria dos seres humanos adultos
trabalha e, deste modo, desenvolve um relacionamento com seus instrumentos de
trabalho. Assim, essa ciência se preocupa em estudar o homem em seu ambiente
de trabalho, suas relações com este ambiente, e tudo o que o compõe, com a
finalidade de solucionar problemas existentes nessa relação, visando sempre a
melhor qualidade de vida do trabalhador.
1.2 HISTÓRICO
A História da Ergonomia é uma história antiga, já que ela está presente
nas sociedades humanas desde muito tempo. Isso fica claro, se pensarmos as
primeiras relações de trabalho do homem, já na pré-história. Nesse período, os
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homens criaram ferramentas, adaptando parte na natureza, com a finalidade de
facilitar o seu trabalho. Um exemplo disso é a criação de machadinhas, que era
composta por pedras e por madeira.
A finalidade delas era facilitar o trabalho do homem, e podia ser utilizada,
também, como instrumento de caça. Um outro exemplo é a criação da roda, que
foi de fundamental importância para o desenvolvimento das sociedades humanas.
A criação da roda veio como modo de tornar mais fácil e rápido o transporte de
cargas e, mais tarde, a locomoção de seres humanos e cargas.
Seguindo o curso da história, temos, no final do século XVIII, a
Revolução industrial, onde ocorre uma significativa mudança no modo de
execução do trabalho. Com o nascimento das fábricas e da produção em massa, a
produtividade se tornou uma questão central para o avanço do sistema capitalista,
que estava em processo de constituição. O trabalho nas fábricas foi intensificado,
em prol de uma maior produtividade, porém as condições de trabalho nessas
fábricas eram precárias e desumanas.
Além disso, esse era um momento de elogio à máquina, ou seja, de
enaltecimento de suas qualidades e, conseqüentemente, de desvalorização do
trabalho do homem. Todo esse contexto histórico proporcionaria conseqüências
futuras.
No começo do século XIX, a situação sobre as condições de trabalho e o
que elas estavam produzindo nos seres humanos era evidente, e foi, então, que
se iniciaram as pesquisas na área da fisiologia do trabalho. Inicialmente, essas
pesquisas foram desenvolvidas nos EUA, onde surgiu o laboratório de fadiga, na
Universidade de Harvard.
É de fundamental importância compreender que, o surgimento das
pesquisas e do laboratório, foram reflexo da situação dos anos anteriores, ou seja,
da precarização das condições de trabalho e, conseqüentemente, da saúde do
trabalhador.
Os estudos realizados nas fábricas apontaram o óbvio, ou seja, o sistema
de trabalho aplicado nas fábricas afetava diretamente à saúde dos trabalhadores
submetidos a esse processo de trabalho. É diante desse contexto que surgem
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entidades responsáveis por cuidar da saúde dos trabalhadores e seus direitos. As
pesquisas realizadas sobre as condições dos trabalhadores nas fábricas foram
úteis para a reformulação do Taylorismo.
O Taylorismo era o sistema de produção predominante na época.
Segundo esse sistema, o trabalho deve ser programado para que, cada tarefa
específica seja executava em um determinado tempo e que, para cada
especificidade do trabalho seja usada uma determinada ferramenta, visando
sempre a maior produtividade do trabalhador.
Durante a Primeira Guerra Mundial, criou-se uma necessidade de
aumentar a produtividade de armamentos e, nesse momento, fisiologistas e
psicólogos foram convocados para realizar esse trabalho. Foi também, nesse
momento, que foi criada a comissão de saúde dos trabalhadores, na própria
indústria de armamentos. Mesmo com o fim da guerra, a comissão permaneceu
ativa e prosseguiu realizando estudos voltados para as condições de saúde dos
trabalhadores. Essa comissão, surgida na Inglaterra, país pioneiro na revolução
industrial, recebeu, então, o nome de Instituto de Pesquisas da Fadiga Industrial.
Em seguida, a Segunda Guerra Mundial foi um momento que representou
a necessidade de investir em tecnologias para a criação de armamentos, aviões, e
tudo que pudesse ser utilizado em guerras. Essa necessidade de aprimoramento
das tecnologias também surtiu efeitos na relação entre o homem e o trabalho, já
que, durante esse aprimoramento, as máquinas foram desenvolvidas, adaptadas,
para que sua utilização se tornasse mais fácil e assim, diminuísse o percentual de
erros.
Após o término da segunda guerra, a questão da precarização do trabalho
ficou mais eminente. Devido a esse fato, em 1949, um grupo de pesquisadores
reunidos na Inglaterra, resolveu institucionalizar esse novo ramo da ciência,
destinado a pesquisas da relação do homem e seu trabalho e, finalmente, em
1950, esse novo ramo da ciência foi oficialmente batizado de Ergonomia.
No Brasil, a Ergonomia começou a ganhar visibilidade no início da década
de 70, e mais especificamente em 1975, quando apareceram os primeiros postos
informatizados. A partir de 1980, houve uma crescente demanda de atuação
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profissional nessa área, e a necessidade de profissionais especializados em
Ergonomia.
Essa demanda surgiu devido ao enfático aumento de problemas nas
relações de trabalho no Brasil, especialmente nos digitadores, que desenvolveram
alterações osteomusculares. Na década de 90, a Ergonomia consolidou-se no
país como uma ciência de extrema importância.
1.3 Benefícios da Ergonomia
Uma das razões de investimentos em programas de prevenção a DORT
(Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), nas empresas e a
relação custo/benefício, produzida por este investimentos. Investir na saúde do
trabalhador, ou mesmo na prevenção de doenças destes, significa investir
diretamente em sua empresa, e, além disso, o trabalhador saudável produz mais.
Como as empresas estão interessadas em sempre manter ou aumentar sua
produtividade, os investimentos na saúde dos trabalhadores foi uma das
estratégias adotadas por estas.
Companhias gastam milhões de dólares por ano na manutenção
preventiva de suas máquinas. Não veremos razão para não fazermos o
mesmo com nossos funcionários.” (Peter Thigper).
Porém, para que seja integrado a uma empresa, um projeto de prevenção
deve provar que sua relação custo/benefício é satisfatória, ou seja, ele tem que
participar da lógica do capital, da lógica de lucratividade das empresas. No
entanto, quando tratamos dessa questão, é necessário salientar que os resultados
desse processo se dão a longo ou médio prazo, ou seja, não são imediatos.
Essa questão deve, portanto, ser refletiva conjuntamente com os
empresários, levando sempre em conta o futuro da empresa, e a melhor qualidade
de vida e condições de trabalhos que essa atuação pode proporcionar. Na
verdade, como os resultados não são imediatos, existe uma contradição com a
lógica do capital, que está sempre relacionada a produtividade, lucratividade, e
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estes são fatores relacionados a um curto espaço de tempo. Esse tipo de conduta
não leva em questão as condições humanas e a saúde do ser humano que
executa esse trabalho. É uma visão completamente materialista, que visa apenas
os lucros previstos de acordo com a produtividade alcançada.
Essa questão é contraditória, pois, quando se investe na qualidade de
vida, na saúde do trabalhador, a produtividade, o lucro, deixam de ser fatores
centrais e absolutos no ambiente da fábrica. O investimento preventivo vai além
da atuação fisioterapeutica, é necessário investir em esportes, socialização,
cultura, tudo em prol de uma melhor qualidade de vida para o ser humano que
desempenha esse trabalho. Essa melhor qualidade de vida vai refletir no trabalho,
mas essa é uma questão que demanda tempo.
Portanto, a conclusão que podemos obter desse processo é que, para
que se possa atingir uma melhor qualidade de vida, é antes necessário estreitar a
relação entre custo e benefício. Uma das soluções para que se incentivasse esse
processo foi a atuação do governo, através dos certificados de qualidade. Assim,
as empresas que optaram por investir nesses casos tiveram, como retorno, o
certificado ISO 9000, que gera a possibilidade de uma visibilidade mundial para a
empresa.
1.4 A evolução da Ergonomia.
Com a evolução dos meios de comunicação, existe hoje uma maior
possibilidade de acesso a informação. Essa democratização da informação teve
reflexo, também, no caso da Ergonomia e da sua atuação nas empresas. Diante
dessa maior facilidade de acesso a informações, os trabalhadores estão mais
conscientes sobre essas questões. Além disso, a atuação dos sindicatos tem
ajudado a luta pelos direitos dos trabalhadores por melhores condições de
trabalho, e maior qualidade de vida.
A crescente competição entre as empresas é um outro fator que contribui
para o fortalecimento da Ergonomia, enquanto estratégia empresarial. Diante da
competição, as empresas que não oferecem as condições mínimas de qualidade
de trabalho e saúde para os trabalhadores perdem espaço no mercado. A
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certificação de qualidade criou a necessidade de uma adequação a essa nova
realidade e, esse é, com certeza, um fator positivo, que mostra a evolução
Ergonomia, e das condições de trabalhos dos seres humanos, no curso da
historia.
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Capítulo 2 LER
2.1 Conceito
Este capítulo tem, como pretensão, desenvolver o conceito de LER
(Lesão por esforço repetitivo). O que, a princípio, aos olhos de um leigo pode
parecer fácil, é uma tarefa um tanto quanto complicada, já que, o próprio termo
LER não segue a taxonomia habitual, usada na medicina. Nas definições
convencionais na medicina, a idéia de LER quase sempre se remete ao segmento
ou aparelho atingido.
O termo LER, por si só, pressupõe dois fatores: o esforço e a repetição,
que seriam as causas geradoras do problema. Essa é uma idéia que é valida para
a maioria dos casos de LER, porém, esses não são sempre os únicos fatores que
contribuem para gerar lesões.
Segundo Silverstein, existem inúmeros fatores que podem conduzir a
LER. Devido a essa diversidade de fatores, foi estabelecida uma nova
nomenclatura, LTC (Lesão por Traumas Cumulativos). Entre esses outros fatores
que contribuem na geração da LER, podemos destacar: a velocidade, temperatura
ambiente, a sobrecarga, etc. Esses são fatores importantes no aparecimento de
lesões. O termo LTC passou, então, a ser utilizado com maior freqüência,
principalmente em países de língua inglesa.
Hoje em dia, surgiram outras várias denominações. Dentre essas
nomenclaturas, a que ganhou maior visibilidade foi o termo DORT (Distúrbio
Osteomuscular Relacionado ao Trabalho). Porém, devido a sua incidência
histórica, e por ser precursora no caso, a sigla LER, é usada no mundo todo. No
Brasil, desde o inicio das pesquisas sobre o assunto, a sigla LER foi a utilizada.
Devido, então, à sua precedência histórica, o termo utilizado com maior freqüência
é esse.
A LER se manifesta, na maioria das vezes, através de síndromes já
habituais para profissionais da ortopedia, reumatologia e clínica médica. O quadro
clínico denominado LER é uma indicação de que tais síndromes são resultados do
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abuso das estruturas osteomusculares.
Portanto, o diagnostico da LER indica apenas a sua origem laboral, sendo
necessário, então, a definição da síndrome desenvolvida. Sendo assim, ao se
realizar um diagnóstico de LER, é necessário indicar a origem laboral (que possui
graves implicações, do ponto de vista sócio-profissional) e a síndrome que foi
desenvolvida.
A LER pode ser desenvolvida através do abuso da musculatura, e
também, em decorrência de um trabalho exercido em condições ruins, ou seja,
onde não existam condições ergonômicas adequadas. Ao se diagnosticar a LER,
é necessário que o profissional encarado dessa tarefa realize uma descrição
detalhada do local de trabalho da pessoa, assim como das funções e atividades
exercidas por ela, durante o seu trabalho, movimentos, horas de trabalho, ou seja,
tudo deve ser extremamente detalhado, para uma melhor exatidão do diagnostico.
A LER é caracterizada como uma doença do trabalho, e não como uma
doença profissional. Isso acontece devido à necessidade de se estabelecer uma
relação entre causa e efeito. A “doença do trabalho” pode ser conhecida também
como mesopatia, e a “doença profissional” como tecnopatia.
As doenças profissionais são aquelas em que o agente provoca a lesão,
independente da atividade que esteja sendo exercida pelos hospedeiros, isso é
claro, diante uma situação de trabalho que possibilite essas agressões
musculares. São exemplos de doenças profissionais as que são fruto da
contaminação, por algum tipo de metal pesado, como, por exemplo, chumbo e
mercúrio.
Perante a legislação vigente, não há diferenciação entre acidentes de
trabalho, doenças profissionais e doenças do trabalho, todas são entendidas da
mesma forma, ou seja, não há distinção legal para cada doença especifica.
É importante compreender que a LER é uma doença que se desenvolve
durante a atividade de trabalho, e que os sintomas se manifestam irregularmente,
ou seja, a LER não é uma doença aguda. Geralmente, os sintomas da LER se
manifestam após o termino da jornada de trabalho, ou quando há uma esforço de
maior intensidade. A dor provocada pela LER, em muitos casos, perdura até após
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a jornada de trabalho, diminuindo, ou sendo menos evidente, no tempo em que o
trabalhador está em repouso.
Contudo, ela se acentua quando o ritmo do trabalho passa a ser intenso.
Entre os sintomas da LER estão o desconforto causado pela dor, a insônia e, em
alguns casos, o formigamento das extremidades e perda de força. Os sintomas da
LER atrapalham o desenvolvimento das atividades cotidianas da pessoa, como
abrir portas, mudar a marcha do carro, etc.
Caso as condições de trabalho permaneçam as mesmas, a LER continua
a desenvolver-se, progressivamente e, como conseqüência, aparecem novos
sinais, sintomas, que podem agravar a situação de outros grupos musculares, até
então, não atingidos. Portanto, quando está diante de situações inadequadas de
trabalho, ou seja, situações onde existe uma agressão dos músculos, onde se
exige um grande esforço laboral, a tendência é o surgimento de novas lesões.
Conjuntamente a todos esses fatores, adiciona-se o stress provocado por
toda essa situação. Esses são todos problemas graves, que, se não tratados,
tendem a aumentar e se tornar mais prejudiciais à saúde do trabalhador, com
passar do tempo.
É importante salientar que, existem fatores psicossociais envolvidos
nessa questão, que, também, contribuem para o agravamento da condição do
trabalhador. O ambiente inadequado, não harmonioso de trabalho, pode gerar,
como conseqüência, fatores psicossociais, como o stress psicológico, que,
associado a fatores ergonômicos, formam a base de fatores que podem conduzir à
LER.
Essa questão da LER é uma questão muito contemporânea, pois a briga
entre produtividade e qualidade do trabalho ainda é atual. No mundo
contemporâneo, as inovações tecnológicas procuram sempre a otimização da
produtividade a qualquer preço, e essa estratégia gera um relacionamento
dialético entre homem, máquina e produção.
Essas novas tecnologias investem na especificação do trabalho, ou seja,
cada trabalhador deve realizar uma função muito específica. O problema é que,
em grande parte dos casos, essa é uma atividade repetitiva (como apertar um
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botão), e essa repetição constante, aliada a fatores como a temperatura ambiente,
ferramentas utilizadas, são prejudiciais a saúde do trabalhador e contribuem na
constituição da doença.
A questão da LER e dos problemas relacionados a partir dela estão
presentes em uma escala mundial. Segundo as estatísticas do BUREAU of labor
statistic, do ano de 1994, 65% das doenças do trabalho nos EUA são decorrentes
da LER. Na Europa, a situação não é diferente, já que, a LER é um dos problemas
mais freqüentes relacionados ao trabalho.
A LER é resultado do uso abusivo dos músculos e tendões, através de
movimentos rápidos, repetitivos e que demandam força. Tudo isso ocorre em
posições estáticas e inapropriadas para o corpo. Mediante essas condições, o
corpo não possui capacidade de recuperar as lesões causadas nos músculos.
A exigência de um pesado trabalho físico, aliado a questões individuais
são determinantes nas características da força muscular e de sua extensão em
função do tempo, que é determinante para as necessidades do músculo. A
exigência de energia é um dos fatores que levam a fadiga e, conseqüentemente, a
lesões musculares.
A resposta do músculo para esse esforço pode ser caracterizada como
uma seqüência de eventos mecânicos e bioquímicos. A resposta do músculo inclui
a deformação do mesmo e aumento da pressão intramuscular e, esse aumento
pode afetar diretamente ao fluxo de sangue do corpo. Essa questão fica mais
clara, e evidente na seguinte passagem:
A resposta inicial parte da excitação elétrica, troca de íons, ativação das
proteínas contráteis e deformação mecânica dos tecidos musculares.
Estas respostas são seguidas por trocas de nutrientes e metabólitos. As
alterações são conduzidas ao sistema nervoso central pelos nervos
aferentes sensitivos e causam correspondentes sensações de fadiga e
desconforto. Ensejam também estímulo cardiorespiratório para aumentar
o aporte do fluxo sanguíneo para suprir o músculo de nutriente, oxigênio
e prevenir o acumulo de metabólitos. Entretanto, se a pressão intracelular
é mantida em altos níveis por períodos prolongados, especialmente na
contração estática, o fluxo de sangue torna-se insuficiente gerando
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alterações na homeostase. Como resultado da lata tensão, a lesão
muscular induz à ruptura das fibras musculares na zona Z. Tais lesões
são comumente encontradas no músculo lesado, e são reversíveis se o
músculo é colocado em repouso. A recuperação das lesões musculares
inclui a regeneração das fibras contráteis, tanto quanto do tecido
conjuntivo. Muitas vezes a recuperação é maior que o dano origina, e
nesses casos o músculo suporta bem os agravos que geraram a lesão. A
recuperação pode se completar após semanas ou meses. (Oliveira, 1998:
19).
Como fica claro na passagem anterior, as lesões que ocorrem
diariamente pelo exercício do trabalho, podem ter uma capacidade de
regeneração insuficiente, e, portanto, podem não ser reparadas. É, portanto,
necessário tempo, para que possa haver uma recuperação, caso contrário, a lesão
pode se agravar a cada dia, e chegar a um ponto onde não exista mais uma
recuperação completa do músculo lesionado.
Se o suprimento de sangue e nervo é interrompido por um tempo mais
longo, o músculo se atrofia. Os tendões contem fibras colágenas que não
se alongam ou contraem. A superfície do tendão torna-se áspera,
impedindo os movimentos através de outros tecidos. Se for
demasiadamente forçada, as fibras dos tendões podem se romper e
formar tecido cicatricial, que cria tensão crônica que é facilmente
relesionada. (KROMER, 1993).
A passagem anterior mostra que, quando sujeito a um esforço maior, o
músculo e o tendão estão sujeitos a um rompimento, com maior facilidade. Esse
fato explica a alta freqüência de lesões, quando o trabalhador é exposto a
condições não ideais de trabalho, ou seja, quando é obrigado a realizar um
esforço maior do que o permitido pelo corpo.
Devemos lembrar que a LER não pode ser associada apenas a uma
questão médica, ela é muito mais ampla que isto. O desenvolvimento da LER é,
também, uma questão socioeconômica. O mundo capitalista contemporâneo é um
mundo baseado na idéia do lucro da produtividade. Sendo assim, as concepções
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teóricas de Ford e Taylor, ocupam um enorme espaço no desenvolvimento das
empresas capitalista.
Essas são concepções empresariais que visam apenas a lucratividade, a
produtividade, e, portanto, o homem, nessas concepções, é apenas um objeto a
ser utilizado para se conseguir esses objetivos. O homem é tratado como meio de
obtenção de lucros, entendido como objeto, assim como a máquina.
A LER é um indicativo de que as relações do homem com o trabalho são
problemáticas. A alta incidência dessa doença é um fato significativo, que não
pode ser ignorado. Os homens estão adoecendo em seu ambiente de trabalho e,
essa é uma realidade mundial. Ao analisar a bibliografia sobre o assunto, vê-se
que, a LER é um assunto mundial, que atinge todo tipo de pessoa que esteja
sujeitada a condições ergonômicas inadequadas, independente de sua atividade
de trabalho. Assim, há médicos com LER, músicos, caixas de banco, de
supermercado, costureiros, metalúrgicos, etc.
O tratamento da LER é complexo, pois, exige extrema dedicação de toda
uma equipe, composta por uma vasta gama de profissionais, e os resultados nem
sempre são animadores. Isso se deve ao fato, de a LER ser mais facilmente
tratada em seu princípio, porém, esse momento é justamente o mais difícil de
diagnosticar.
A LER, em seu estagio mais avançado é muito difícil de ser tratada, e
produz efeitos devastadores no indivíduo, já que, ela é socialmente excludente.
Devido a essas características, acredita-se ser de extrema importância o
investimento em ações preventivas nas empresas.
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Cápitulo 3 DORT
3.1 Definições
Existem várias definições para as lesões ou problemas que podem afetar
nossos músculos, tendões, ossos, nervos, etc. Essas lesões ou problemas podem
ser um fato isolado ou não, mas o fato é que as conseqüências desses problemas
ou lesões são dores, inflamações, etc. Esses problemas podem conduzir o
paciente a um quadro grave de decadência funcional, em atividades cotidianas e,
em casos mais graves, podem conduzir a sérios problemas emocionais.
Como já dito antes, existem diversas nomenclaturas para esse tipo de
problemas. As mais conhecidas são: DMO (distúrbio músculo-esquelético
ocupaciona); LER ( Lesão por esforço repetitivo); LTC (lesão por trauma
cumulativo; e DORT (distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho) essa é
nomenclatura mais recente e foi adotada pela norma do INSS desde 1997.
A denominação mais conhecida no senso comum é LER, porém, esse
termo é muito específico e deixa subentendido que a lesão é causada por esforço
repetitivo, apenas isso. Porém, a repetição dos esforços não é causa única desses
problemas e lesões, e essa nomenclatura pode atrapalhar até mesmo na
compreensão da doença, e gerar problemas e até insucessos na maioria das
doenças ocupacionais.
É necessário que não se limite as causas da doença apenas por esforços
repetitivos, pois, existem outros fatores, como postura e ferramentas de trabalho,
que são tão importantes quanto o esforço repetitivo e, necessitam ser estudados
com maior meticulosidade, para o avanço do tratamento desses problemas.
Devido a esses problemas com a nomenclatura, surgiu uma nova
nomenclatura que desvincula a doença ocupacional somente como esforço
repetitivo. Assim, surgiu o termo DORT, que é a terminologia utilizada hoje, e que
deixa subentendida uma relação mais ampla da causa para as doenças
ocupacionais diretamente relacionadas ao trabalho.
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3.2 Histórico
Precisar historicamente qualquer fato é por si só, uma tarefa complexa, o
trabalho histórico consiste em procurar evidencias que indiquem caminhos para
que possamos situar os eventos históricos no espaço temporal. Quando tratamos
das doenças ocupacionais, existem registros históricos em alguns manuscritos
médicos, anteriores a revolução industrial, que nos indicam o caminho, apontando
para a longa existência dessas doenças.
Nesses registros se encontram anotações que indicam problemas
relacionados ao esforço exagerado, a postura incorreta, que são evidencias de
que, já nesse período, havia manifestações dessas doenças. Profissões antigas
como sapateiro e escriba, onde se permanece muito tempo na mesma posição e
realizando tarefas repetitivas, são evidências da existência dessas doenças no
passado.
A incidência de DORT ficou evidente após a Revolução Industrial (século
XVII), onde surgiram as máquinas e, conseqüentemente, o trabalho se tornou
mais específico, ou seja, mais repetitivo. A Revolução Industrial não deu tempo
para que as pessoas se adaptassem à velocidade das transformações que vinham
ocorrendo no mundo. Diante da expansão capitalista, a exigência de maior
produtividade e lucro colocou em segundo plano os problemas dos trabalhadores,
pois, naquele momento era necessário produzir em grande escala.
A revolução eletrônica foi um passo adiante na incidência de DORT, na
sociedade contemporânea. Com a introdução dos computadores na vida cotidiana,
criou-se um novo estágio de desenvolvimento da doença. Horas sentados à frente
de um computador, realizando movimentos repetitivos, contribuíram para o avanço
das doenças ocupacionais. Deve-se deixar evidente que, o corpo humano não foi
criado para permanecer por muito tempo em uma mesma postura e, essas
profissões modernas exigem que isso se realize, e como conseqüências disso as
doenças ocupacionais aumentaram na população.
Essa nova realidade social representou um avanço por um lado,
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imprimindo um ritmo maior à produção e, portanto, aumentado a produtividade e,
conseqüentemente, a lucratividade, favorecendo o capital. Porém, por outro lado,
as doenças ocupacionais aumentaram consideravelmente nesse período, devido
aos fatos já abordados antes.
O problema do aumento dessas doenças são as grandes despesas
médicas que elas geraram para os capitalistas. Além das despesas, em muitos
casos os funcionários tenham que se afastar durante um longo período da
empresa, o que, inevitavelmente, interferia na produtividade e, conseqüentemente,
na lucratividade da empresa. Diante desse problema, tornou-se imprescindível
investir em ações preventivas. Para a realização dessas ações, seria necessário
uma junta de profissionais de várias áreas, e é nesse momento que o profissional
de fisioterapia ganha espaço.
3.3 Conseqüências do DORT
A realidade dos portadores de DORT é uma realidade cruel e, por muitas
vezes, desconhecida e ignorada. A diferença entre os graus da doença
geralmente tem relação direta com tipo de trabalho exercido e com a região
lesionada. A velocidade e a atenção são fatores determinantes no tratamento da
doença que, quanto mais cedo for tratada, mais chance de recuperação total
possui.
Porém, quanto mais demorado for o atendimento da doença, mais
probabilidade de invalidez do portador. As situações de invalidez são
completamente prejudiciais para a saúde do trabalhador, tanto mental como física.
Um maior comprometimento dos responsáveis, em termos de cumprimento das
normas previstas na lei, conjuntamente com uma fiscalização mais eficaz,
ajudariam a evitar grande parte dessas situações.
Quando tratamos das doenças ocupacionais, não podemos que esquecer
que, antes de tudo, está em jogo uma vida humana, a dignidade humana, e,
portanto, é fundamental que se respeite os direitos do homem. O ser humano é
constituído de duas esferas: a psicológica (social) e a biológica (corpo). Portanto,
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é necessário que haja equilíbrio entre essas duas esferas para que o ser humano
possa ter uma qualidade de vida adequada.
Ao nascer, o individuo inicia seu desenvolvimento nas duas esferas, tanto
a biológica (que já vem se desenvolvendo desde sua concepção) e a esfera
psicológica ou sócio-cultural. Nesse processo de desenvolvimento, ele, o ser
humano em desenvolvimento, vai aprendendo a ser relacionar com mundo,
estabelece suas primeiras relações, que tendem a evoluir durante toda a sua vida.
Das experiências vividas durante esse período de desenvolvimento e
durante a vida toda, é que vai se constituindo nossa personalidade e nosso modo
de compreensão do mundo.
Ao se inserir no campo de trabalho, seja qual for seu trabalho, o individuo
traz, consigo, todas essas experiências acumuladas durante seu tempo de vida.
Esse processo de experiência pessoal é o que nos torna diferentes, ou seja, cada
indivíduo possui uma experiência própria, única e, por esse motivo, ele é único no
mundo.
Porém, quando é integrado ao mundo do trabalho, essas características
de sua experiência pessoal não são levadas em conta, ou seja, todos os
trabalhadores de uma empresa são compreendidos e tratados como iguais, e
espera-se deles os mesmo desempenho ou, além, cobra-se deles os mesmo
desempenho, mesmo sendo fisicamente, psicologicamente, socialmente
diferentes.
Essa realidade vivida pelos empregados por muitas vezes é angustiante e
provoca uma série de conflitos, tanto físicos como psicológicos, que acabam por
afetar sua saúde. Esta combinação perigosa é reflexo do massivo processo de
produção, e pode gerar problemas como o “stress”, que é uma resposta do corpo
a uma determinada solicitação, entendida pelo mesmo, como uma ameaça ou
algo que exige um esforço maior do que ele é capaz de produzir e,
conseqüentemente, é entendido como uma forma de mal-estar.
Existe, presente no senso comum, uma idéia errônea de que apenas
trabalhadores braçais estão sujeitos a problemas de saúde em seu ambiente de
trabalho. A realidade existente hoje em dia desmente essa teoria, pois temos
20
profissionais de vários segmentos que sofrem de DORT, como, por exemplo,
digitador, atendente de tele marketing, caixa de bancos, garis, dentistas,
fisioterapeutas, engenheiros, médicos, etc. Portanto, o DORT é um problema
relacionado ao trabalho, independente da categoria de trabalho, e esse é um dos
motivos pelo quais ele deve receber maior atenção da sociedade.
3.4 ETIOLOGIA
As causas que levam ao DORT são diversas e a associação dessas
causas conduz ao estresse osteomuscular e psicológico. Para a compreensão
desses fatores, iremos tratar destes em uma divisão em dois grupos. O primeiro
grupo de causas são aquelas conhecidas como predisponentes.
As causas predisponentes são aquele grupo que compreende alterações
na anatomia do músculo, e lesões provocadas por alterações hormonais, idade,
etc. O segundo grupo é conhecido como desencadeantes e é compreendido como
fatores de risco que podem levar às lesões e, esse grupo, pode ser divido em:
Biomecânicos, Organizacionais do trabalho e sociais.
Entre os fatores biomecânicos podemos citar: repetitividade; inadequação
na postura; força excessiva ao realizar tarefa; etc. Os fatores organizacionais do
trabalho são outra parte que compõem esse segundo grupo. Quando se fala de
fator organizacional, estamos tratando de tudo aquilo que compõe o ambiente e as
relações de trabalho.
Assim, as condições de trabalho, a mobília, as ferramentas, as pressões
para produção, a urgência em executar as tarefas, são todos fatores de risco e,
por isso, compõem uma parte desse segundo grupo. A ultima parte dessa
subdivisão do segundo grupo se refere as relações sociais desenvolvidas no
ambiente de trabalho.
Existem uma série de problemas sociais que acontecem durante o
período de trabalho que também contribuem no quadro de desenvolvimento das
DORTs, por exemplo, questão salarial, a dupla jornada de trabalho, sedentarismo,
a vida rápida nas grandes metrópoles e a falta de repouso.
21
Além dos fatores já citados, existem ainda outras práticas cotidianas que
podem contribuir para o desenvolvimento de DORTs. A pratica de esportes como
tênis e vôlei, são um exemplo disso, assim como, os afazeres cotidianos de uma
dona da casa. Ambos casos, se realizados de maneira inadequada e sem
cuidados, podem levar a uma sobrecarga, além da permitida pelo corpo, e
consequentemente gerar uma DORT.
O que se pode notar, com toda essa discussão, é que o DORT é uma
doença que não possui uma única origem, ou seja, ela é resultado de uma
diversidade de fatores agregados e, esses fatores associados levam à degradação
da saúde do trabalhador e, muitas vezes, essa degradação o leva à inutilidade
completa, tanto nas tarefas do trabalho, como, também, nas tarefas simples do
cotidiano.
3.5 Mulheres e DORT.
É importante ressaltar que o DORT atinge tanto homens quanto mulheres,
em várias faixas etárias. Porém, a incidência de DORT é maior em mulheres na
fase profissional mais produtiva. Essa maior incidência no caso feminino se deve
ao aumento significativo da participação das mulheres no mercado de trabalho.
Essa participação vem aumentando devido a uma diversidade de fatores,
onde os mais comuns são a necessidade de complementar a renda familiar e a
evolução da figura feminina, que deixou de ser a representação da mulher como
“dona de casa”. Hoje em dia, a figura feminina só vem crescendo e ganhando
espaço no mundo do trabalho, existem áreas onde a mulher tem alcançado um
maior espaço, como, por exemplo, na enfermagem, fonoaudiólogia, e na própria
fisioterapia.
A maior inserção da mulher no mercado de trabalho não é o suficiente
para justificar a maior incidência das DORTs em mulheres, então,será necessário,
em seguida analisar alguns fatores que contribuem para que esses casos sejam
maiores em mulheres.
O primeiro fato que pode justificar essa maior incidência das DORTs em
22
mulheres é o fator de, além da profissão que ela exerce, em muitos casos, a
mulher ainda é responsável por realizar as tarefas do lar, e, essa acumulação de
tarefas é indiscutivelmente prejudicial à saúde da mulher e, portanto, um dos
fatores que contribuem para que a incidência de DORT na população feminina
seja maior que na masculina.
Outro fator que justifica essa maior incidência é a antropometria, ou seja,
a relação de tamanho das mulheres. As mulheres são geralmente doze
centímetros menores que os homens. Esse fator é prejudicial na medida em que a
maior parte das maquinas e acessórios utilizados nas empresas são projetados
tendo, como modelo, os padrões masculinos.
Portanto, as mulheres são obrigadas a se “adaptar” a um sistema que não
foi pensado para elas e, assim sendo, o trabalho se torna bem mais difícil e
fatigante, além de expor muito mais as mulheres a acidentes e lesões.
Além dos dois fatores já citados acima, existe, ainda, uma questão de
ordem biológica, ou seja, as mulheres têm menor resistência muscular que os
homens. A capacidade muscular da mulher é cerca de 70% menor que a de um
homem, logo, caberia às mulheres executarem tarefas que exigissem menor
esforço.
O último fator que contribui pra esse quadro é o fato de a mulher sofrer
constantes alterações hormonais. O ciclo menstrual da mulher dura cerca de 28
dias; aproximadamente. No quarto dia anterior à menstruação, acontece uma
queda em um hormônio feminino denominado progesterona. Essa queda na
produção de progesterona gera irritabilidade na mulher, além de tensão,
depressão, e outros sintomas psicológicos.
Outro problema é relacionado à gravidez ou à menopausa, onde pode-se
observar, também, uma grande variação hormonal que, no trabalho, pode resultar
em uma maior vulnerabilidade e que, conseqüentemente, pode leva-la a erros e
acidentes.
Portanto, fica evidente o porquê de os casos de DORT serem mais
freqüentes em mulheres. Essa é uma situação complexa, pois, essa é uma
condição que, por um lado, é histórico-social (mulheres compreendidas como
23
donas de casa, acumulação de tarefas.) e por outro lado é uma questão biológica,
fisiológica.
3.6 Sintomas e estruturas comprometidas
O DORT atinge geralmente as regiões cervical, escapular e membros
superiores. Isso ocorre devido ao fato de essas serem as regiões mais
sobrecarregadas durante o desempenho de atividades, independente de estas
serem realizadas sentadas ou em pé.
Existem diversos sintomas que podem indicar a presença de DORT,
porém, esses são variáveis, de acordo com o local e a estrutura atingida. O
prognostico é, geralmente, benigno, no entanto, quando a patologia se torna
crônica, a recuperação é lenta e eventualmente pode deixar seqüelas que, por sua
vez, podem tornar o indivíduo inapto para a realização de algumas tarefas.
Como já dito antes, o DORT, atinge diversas regiões do corpo, ou seja,
sua extensão de problemas pode ser ampla. Devido a grande possibilidade de
diferentes áreas que podem ser comprometidas pelo DORT, a seguir, será feita
uma análise de alguns desses casos. O primeiro caso que será observado é um
caso muito comum, é quando o DORT compromete os nervos. É de extrema
importância lembramos que o os nervos são os responsáveis por algumas de
nossas atividades motoras, vasomotoras e sensitivas.
Além disso, uma de suas funções mais importantes é transmitir
mensagens ao sistema nervoso central, essa função é específica dos nervos
periféricos. Os nervos periféricos estão sujeitos a três tipos de lesões: a
Axonotmese, ou seja, a ruptura do axônio; a Neurotmese, ruptura do tronco
nervoso; e a Neuroproxia, que é o bloqueio da condução nervosa.
Dentre esses três casos, no que se refere a DORT, o mais importante é
neuropraxia, que é um bloqueio na condução nervosa, e que conduz a uma perda
temporária da funcionalidade do nervo. Esse problema pode ter graves
conseqüências como, por exemplo, a paralisia.
Outra estrutura afetada pelo DORT são os ossos. Ossos são compostos
24
basicamente de tecidos rígidos e cartilagem, que compõem o esqueleto dos seres
vertebrados. As funções desempenhadas pelos ossos são diversas como:
Proteger órgãos fundamentais como o cérebro e a medula espinhal, depósito de
cálcio e fósforo e oferecer apoio estrutural às ações musculares. Existem dois
tipos de alterações anatômicas que ocorrem nos ossos: Os osteófitos e as
artroses.
Os osteófitos são alterações provocadas pelo atrito durante a
movimentação do corpo. Os casos mais comuns ocorrem na coluna vertebral, em
locais onde existe o contato entre corpos vertebrais. Por sua vez, a artrose, é um
tipo de afecção articular degenerativa. Geralmente, é um conseqüência do
envelhecimento e, em médio e longo prazo, ela pode ser resultado, também, da
realização de movimentos repetitivos.
Os músculos são outro tipo de estrutura importante do corpo humano, que
são afetadas pelo DORT. Os músculos possuem um grande poder de contração e
relaxamento, que são utilizados na realização de uma diversidade de movimentos.
Esse processo de contração e relaxamento pode ou não, ser voluntário.
Quando se trata de músculos, geralmente são divididos em duas
categorias: estriado e liso. Os músculos estriados são divididos em outras duas
subcategorias: Esqueléticos (possuem ação voluntária) e Cardíacos (possuem
ação involuntária). Os músculos denominados lisos são apenas de ação
involuntária. Eles formam as paredes dos sistemas tubulares (aparelho
circulatório, tubo digestivo, órgãos de reprodução e aparelho respiratórios) e as
paredes das vísceras (bexiga e estômagos).
Quando se trata de músculos, o mais importante nos casos de DORT é o
músculo estriado esquelético. Esse músculo é responsável pela movimentação e
manutenção da postura. Esses são os músculos afetados nos casos de DORT,
pois, em caso de esforços acima do permitido pelo corpo, esses músculos podem
sofrer lesões, que ocorrem através de um processo de auto-intoxicação devido ao
acumulo de determinadas substancias, especialmente, o ácido lático.
Os tendões são outras estruturas importantes, em se tratando dos casos
de DORT. Tendões são compostos por tecido fibroso redondo ou achatado, onde
25
terminam os músculos. Eles são responsáveis pela origem dos músculos nos
ossos. A principal função dos tendões é padronizar a transmissão das forças, para
que não aconteça uma grande concentração de cargas entres os diversos
componentes do sistema muscular-esquelético. Essa função é fundamental, pois é
nessas regiões onde ocorrem às concentrações de cargas que geralmente
acontecem às lesões.
Para finalizar essa breve analise das estruturas mais comuns atingidas
por DORT, observa-se, como ultimo exemplo, os ligamentos. Os ligamentos são
estruturas compostas por tecido fibroso, resistente, e que penetra em
extremidades ósseas ou cartilaginosas. Esse processo forma uma união entre
articulações e partes ósseas e cartilaginosas. Os tendões desempenham a função
de modelar a transmissão das forças, tendo, como objetivo, não permitir a
concentração repentina de cargas entre os diversos componentes do sistema
muscular-esquelético. Essa é uma função fundamental, pois nos locais onde
ocorrem as concentrações de cargas, podem ocorrer diversos tipos de lesões,
como, por exemplo, o rompimento do ligamento.
Como visto, nessa breve analise das estruturas, o DORT, pode
comprometer diversas estruturas de nosso corpo. As estruturas escolhidas e
analisadas brevemente nesse tópico são apenas exemplos de alguns desses
casos.
26
Capítulo 4 A atuação da profissional de fisioterapia nas empresas
4.1 Histórico da fisioterapia preventiva
Durante muito tempo, a fisioterapia mantinha seu campo de atuação
restrito a espaços médicos, ou seja, clínicas e hospitais. A relação entre a
fisioterapia e o trabalho era muito restrita, limitando-se aos centros de reabilitação
profissional do INSS. Esses centros de reabilitação tinham como função tornar
aptos, novamente, para o trabalho, profissionais que haviam sofrido algum tipo de
acidente e que, por esse motivo, ficariam afastados do trabalho por um longo
período.
Quando o profissional não possuía condições de se recuperar
completamente da lesão, esses centros, então, investiam em treinamento para
que esses profissionais pudessem atuar em outra área da empresa, ou de seu
trabalho. Essa medida foi tomada para evitar a antecipação da aposentadoria
desses profissionais que, em alguns casos, eram muito novos.
A aposentadoria precoce é um problema grave de fundo psico-social, pois
o trabalhador exposto a essa situação, sente-se inútil perante a sociedade e,
perante aos seus pares. As conseqüências desse sentimento de inutilidade são
muitas, em muitos casos, podem conduzir o trabalhador a um quadro profundo de
depressão.
Os centros de reabilitação do INSS eram compostos por uma diversidade
de profissionais, tais como: fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais,
fonoaudiólogos, etc. É claro, que a atuação desse grupo de profissionais
especializados era de extrema importância, porém, essas intervenções eram
tardias, já que, em grande parte dos casos as lesões já haviam ocorrido e em
alguns deles já havia seqüelas.
Portanto, em grande parte dos casos, não havia muitas possibilidades de
recuperação total do trabalhador, ou nem mesmo, de recuperação deste para o
trabalho em sua empresa.
27
Um dos maiores problemas enfrentados pelos centros de reabilitação era
o baixo investimento na área de saúde, aliado ao rápido desenvolvimento
tecnológico das empresas. A união desses dois foi determinante para o insucesso
desses centros. O investimento necessário para equipar adequadamente os
centros de reabilitação eram muito altos, e, portanto, essa tornou-se uma prática
inviável.
Como conseqüência, a capacidade de reabilitação dos mesmos reduziu-
se. Porém, os centros de reabilitação foram de extrema importância, pois, foi a
partir dessa experiência que surgiu a demanda por estudos que trabalhassem a
prevenção nesses casos.
Diante dessa nova possibilidade, os profissionais de fisioterapia entraram
em conflito com a classificação da categoria que, nesse momento, era incluída na
área de saúde terciária, ou seja, a responsável apenas por reabilitação. Assim, os
profissionais que romperam com essa denominação, passaram a incluir a
fisioterapia na área da Saúde primaria, ou seja, a área responsável pela
prevenção.
Foi nesse momento que surgiram as primeiras oportunidades de ação de
fisioterapia nas empresas, sendo estas reconhecidas como úteis para a
manutenção do processo produtivo. Em seu momento inicial, essas ações ainda
se encontravam presas ao paradigma da cura, ou seja, os fisioterapeutas eram os
responsáveis por “curar” os profissionais que se acidentassem ou sentissem
algum desconforto durante o processo de trabalho.
A idéia da prevenção começou, então, de modo precário, ou seja, havia
divulgação de como se prevenir (através de palestras e cartazes), porém, não
havia nenhuma ação efetiva de prevenção.
Essa situação começou a ser alterada com a introdução dos conceitos de
Ergonomia no Brasil, que foram disseminados pelo renomado professor Itiro Iida e
alguns outros profissionais. Entre os elementos principais difundidos por ele estão
as biomecânicas ocupacionais, de fundamental importância para a entrada dos
fisioterapeutas nas equipes de saúde das empresas.
Esse foi o passo inicial, para se atingir o quadro que se encontra hoje,
28
com grande participação de fisioterapeutas nas empresas. Hoje em dia, empresas
renomadas no país e no mundo como Petrobrás, Coca-Cola, Ford, possuem
fisioterapeutas em sua equipe de Saúde Ocupacional.
4.2 Fisioterapia e Saúde.
A fisioterapia preventiva tem sido compreendida como ações na área da
Saúde Pública ou coletiva e, dessa forma, é direcionada a intervenções em casos
como o câncer de mama e de doenças respiratórias. Além disso, como já dito
antes, as abordagens em muitos casos se restringem a palestras e divulgação de
cartazes e folder explicativos. Esse tipo de ação é um empecilho para o
desenvolvimento de intervenção fisioterapêutica nas empresas, que devem ser
compreendidas como o ato de prevenção com a participação do profissional
fisioterapeuta.
É importante salientar que a ação fisioterapêutica preventiva é de extrema
utilidade pro trabalhador, mas, não apenas para o desenvolvimento de seu
trabalho e sua vida em seu ambiente de trabalhado. O trabalho de prevenção
desenvolvido pode ser levado adiante por esse trabalhador, para o seu lar, sua
comunidade, sua família, seus amigos, ou seja, ele pode contribuir para a melhora
significativa da qualidade de vida de uma parte considerável da sociedade.
Portanto, é necessário que a fisioterapia deixe os consultórios, clínicas e hospitais
e atinja toda a sociedade, contribuindo para uma melhoria da saúde coletiva.
4.3. O processo de intervenção preventiva.
A fisioterapia preventiva ainda é um tema controverso e existem
diferentes pontos de vista sobre o assunto. A própria disciplina de Fisioterapia
Preventiva, na grade do curso de fisioterapia, na maioria dos casos, era entendida
como uma disciplina secundária, para a formação do fisioterapeuta. Devido a
esses e outros fatores, havia pouquíssimos profissionais especializados nessa
29
área, e aptos para ministrarem essa disciplina com excelência.
A situação começou a modificar-se com a explosão dos casos de AIDS.
Esse foi o momento histórico em que a medicina preventiva ganhou espaço e
abriu-se espaço para discussão sobre a prevenção, nessa e em outras áreas.
Essa mudança de paradigma, no entanto, sofreu resistências e se deu de modo
gradual.
Muitos dos que se opunham à mudança tinham como argumento a idéia
pré-concebida do prevencionista, como um burocrata. Porém, essa idéia é
equivocada, pois para trabalhar sobre uma perspectiva de prevenção, é
necessário que, antes, se realizem estudos, se estabeleçam metas, objetivos e
cuidados. A prevenção trabalha com a antecipação do problema, com o objetivo
de que esse não aconteça e, caso venha a acontecer, seja identificado em seu
estagio inicial, onde existe uma maior possibilidade de cura completa.
Atualmente, a situação já apresenta melhoras, com grande parte dos
profissionais envolvidos na questão preocupados com a dimensão preventiva.
Hoje em dia, por exemplo, já existem intervenções preventivas em diversas
empresas e, em alguns casos, estas ocorrem incluindo a aplicação de recursos
curativos aplicados de modo preventivo, ou seja, o que se vê é uma significativa
mudança, fundamental para uma melhor qualidade de vida.
É importante, para essa discussão, compreender como se dá o processo
preventivo. Portanto, nesse momento será proposta uma análise mais específica
de como ele se dá. O processo preventivo é dividido em quatro etapas: Conhecer
os processos fisiopatológicos, divulgação de informações, ação pró-ativa e
conscientização.
O primeiro passo no processo de prevenção é conhecer os processos
fisiopatológicos, ou seja, quando se trata da prevenção de algum caso, é
importante, antes, conhecer a forma como essa ação se manifesta. É necessário
entender os possíveis contratempos que podem ocorrer.
Assim, é de fundamental importância que se possa identificar os sintomas
iniciais, ou seja, qualquer tipo de alteração fisiológica e suas manifestações no
corpo. Para que esse processo possa ser efetivado, com sucesso, é necessário,
30
portanto estar atento a todo o contexto que envolve a ação do trabalho do
individuo.
A segunda etapa do processo de prevenção é informar amplamente a
população trabalhadora sobre os riscos e sintomas. A informação é uma
ferramenta de extrema importância no processo de prevenção, já que, não há
como se prevenir do que não conhece.
Portanto, é necessário que todo o saber adquirido seja amplamente
divulgado, de formas simples e objetiva, pois existem muitos casos de doenças
que se desenvolvem por falta de informação a respeito de como prevenir-se delas.
A terceira etapa nesse processo é a ação pró-ativa, ou seja, a ação
preventiva que obtém resultados satisfatórios é aquela que é fruto de um maior
esclarecimento. Através desse processo de esclarecimento forma-se uma base
para que os profissionais possam ser treinados para apreender a identificar
situações de risco ou, até mesmo, sintomas iniciais. Portanto, é fundamental
oferecer acesso a esses profissionais, mas não apenas a esses, os leigos também
necessitam desse acesso.
A ultima etapa do processo preventivo é a conscientização. Essa etapa é
complicada, pois o processo de conscientização não é instantâneo, ele é
demorado. A conscientização não é sinônimo de inculcar nas cabeças alheias um
modo de viver, ela é algo bem mais amplo. Para que esse processo se efetive
com sucesso, é necessário uma série de fatores, tais como: Atuação de
profissionais capacitados, o desenvolvimento de ações planejadas e a inserção de
conceitos chaves. Essas ações tem como resultado a construção da consciência
preventiva nos indivíduos.
4.4 O Fisioterapeuta do trabalho
Como visto, até esse momento, a construção da fisioterapia preventiva é
um processo longo e complexo, que trabalha com uma imensa diversidade de
fatores. Entre esses fatores, é de fundamental importância analisar quem são os
profissionais que trabalham nessa área, como são formados, quais são suas
31
possibilidades. Portanto, nesse momento, nos preocuparemos com o perfil do
fisioterapeuta do trabalho.
É necessário estar atento a alguns pontos específicos, nesse caso, pois
existem diferentes pontos de vista relacionados a formação do profissional de
fisioterapia. Em grande parte dos casos, a formação desses profissionais tem uma
maior ênfase na dimensão curativa e, conseqüentemente, há uma menor ênfase
na dimensão preventiva.
A própria fisioterapia está situada no setor da Saúde Terciária, ou seja, o
setor da reabilitação. Nesse setor não se trabalha a prevenção, esse setor está
destinado a trabalhar a reabilitação do profissional, ou seja, ele já está lesionado.
Portanto, esse setor compreende a intervenção fisioterapêutica curativa. Nesse
tipo de intervenção, espera-se que o profissional necessitado procure o
fisioterapeuta, seja por indicação médica ou por sentir algum sintoma derivado da
lesão.
Em relação ao do fisioterapeuta do trabalho, ocupacional ou mesmo das
empresas, deve-se ter em mente que esse profissional tem que atingir o publico
alvo de algum modo. Assim, é necessário que ele demonstre a importância de se
investir na prevenção como uma forma de melhorar a qualidade de vida. Portanto,
quando o individuo compreende a necessidade e, além disso, a importância da
prevenção, ele pode mais facilmente procurar um profissional para desenvolver o
trabalho de prevenção.
Assim sendo, quando o individuo se reconhece enquanto paciente o
caminho se torna mais fácil, pois quando enquadrado nessa categoria ele deve
procurar ajuda médica e, assim, o profissional de fisioterapia fica responsável por
realizar o trabalho. É claro que, esse profissional deve preferencialmente ser
especializado em fisioterapia do trabalho.
Como no Brasil não existe uma cultura efetiva de prevenção, cabe ao
fisioterapeuta realizar o processo de busca por clientes, por empresas, ou seja, ele
deve apresentar uma proposta de trabalho, evidenciando os aspectos positivos da
fisioterapia preventiva. Portanto, enquanto não existir uma cultura de fisioterapia
preventiva, é necessário que se busque alternativas para que se possa
32
desenvolver esse tipo de cultura no país.
Campanhas realizadas pelo ministério da saúde, por ONGs, e por outros
meios de comunicação seriam uma forma de incentivar essa prática, porém,
enquanto isso não acontece, é de extrema importância a participação do
profissional de fisioterapia nessa área. Um ponto de apoio para esse problema é a
satisfação do cliente que passou pelo processo e serve como um agente
conscientizador, ou seja, ele é um meio de propagar esse tipo de prática.
O primeiro curso de fisioterapia do trabalho aconteceu no Rio de Janeiro
em 1992 e, desde essa época, existe uma grande diversidade de obstáculos
impostos aos profissionais que se dedicam a essa área. O programa Médico do
Trabalho não conseguia atender a demanda que lhe cabia e, foi a partir desse
problema, que surgiu o espaço para o fisioterapeuta do trabalho.
O médico do trabalho estava preso ao setor de saúde ocupacional, por
sua vez, o fisioterapeuta do trabalho surge como a possibilidade de atuação direta
no campo de atividade do trabalhador. É importante deixar claro que alguns tipos
de intervenção devem ser realizadas em ambulatórios, clinicas ou centro médicos,
por serem intervenções curativas, porém, esse trabalho se atem a intervenções
preventivas.
Mesmo diante de alguns avanços, a fisioterapia do trabalho ainda
continuava enfrentando uma diversidade de problemas. Existiam inúmeras
sugestões para o caso, como a proposta da criação de um centro de serviços
fisioterapêuticos que atendessem aos trabalhadores.
Entretanto, é extremamente fundamental compreender que a fisioterapia
do trabalhado não se limita a aplicação de termoterapia e eletroterapia, sua
atuação é muito mais ampla. A fisioterapia do trabalho não pode ser resumida
apenas a inserção do profissional fisioterapeuta na empresa, é necessário um
trabalho de formação desse profissional.
Para realizar um trabalho de fisioterapia do trabalho adequado, é
necessário que o profissional possua conhecimentos básicos sobre Saúde
Ocupacional, e mais especificamente sobre a saúde do trabalhador, já que existe
uma série de doenças que são características das atividades exercidas durante o
33
tempo de trabalho.
Essa série de doenças próprias do mundo do trabalho necessita de uma
atenção especial, para que possam ser tratadas de forma adequada, ou seja, é
necessário estar atento às Normas regulamentares específicas, a intervenção de
outros profissionais que compõem a equipe de Saúde Ocupacional, aos registros
de acidentes e seus controles.
As doenças relacionadas ao trabalho são muito especificas e, estão
relacionadas a cada atividade praticada pelo trabalhador durante o período de
trabalho. Sendo assim, não se podem limitar essas doenças a casos de DORT. É
necessário que haja uma ação conjunta entre toda a equipe, com participação de
profissionais diversos, como fonoaudiólogos, médicos, enfermeiros, psicólogos,
assistentes sociais.
Outro ponto de fundamental importância quando se trata de fisioterapia do
trabalho é estar atento às normas de segurança do trabalho. É imprescindível o
conhecimento das Normas e Procedimentos de Segurança do Trabalho,
principalmente para o profissional que ira atuar com outros profissionais da
Segurança do Trabalho.
A intervenção da Segurança do Trabalho é indispensável para qualquer
empresa, pois é ela que ira assegurar a segurança de todos que trabalham no
local e evitar acidentes e problemas. A intervenção da Segurança do Trabalho é,
portanto, também, um modo de prevenção.
A Ergonomia também é um outro ponto essencial quando se trata da
fisioterapia do trabalho. A ergonomia é a base para o reconhecimento dos
mecanismos responsáveis por causar lesões e, além disso, é a partir de suas
constatações que se desenvolvem estratégias para solucionar esses problemas.
Não se pode esquecer também, que a ergonomia trata da relação do homem com
o trabalho, com suas atividades de trabalho, com seu ambiente de trabalho, com
as ferramentas utilizadas por ele nesse processo.
O conhecimento de ergonomia é uma ferramenta de extrema utilidade
para o profissional de fisioterapia e, mais especificamente, para o profissional de
fisioterapia do trabalho. O profissional que possui conhecimentos ergonômicos
34
mantém um olhar mais atento aos aspectos da vida laboral, podendo contribuir
para melhoria dessas através desses conhecimentos.
Um dos pontos essenciais para a execução dessa tarefa é a observação
biomecânica ocupacional, que é uma das áreas de domínio do profissional da
fisioterapia do trabalho. O conhecimento ergonômico permite a esse profissional
compreender melhor a atividade laboral e suas relações e, assim, ajudar o
indivíduo durante esse processo.
A presença de um profissional formado em psicologia, e se possível,
especializado em psicologia do trabalho é, também, de fundamental importância
para uma empresa. Esse profissional é responsável por compreender como o
paciente pensa, como ele reage a certos problemas ocorridos durante a atividade
laboral, e como isso afeta sua vida, tanto física como psicológica.
O trabalho conjunto entre fisioterapeuta e psicólogo é de extrema
importância para o diagnóstico mais preciso do paciente. Além disso, é necessário
que o profissional de fisioterapia se aproxime mais de seu paciente, isto é, ele tem
que demonstrar sua preocupação com o lado humano do processo de trabalho.
O fisioterapeuta tem que demonstrar que é um profissional, que está além
dos aspectos técnicos, frutos de sua profissão, ou seja, tem que ser humano. É
necessário que o profissional que opte por trabalhar nessa área, seja consciente
de que sua principal preocupação é com a melhoria da qualidade de vida das
pessoas.
Não é possível atuar nessa área, distanciando do ser humano, o contato
com o humano ( trabalhador) é de fundamental importância para o sucesso do
trabalho. Colocar-se no lugar do trabalhador é um fundamental para a
compreensão das variações comportamentais correntes.
4.5 O programa de prevenção
Uma das maiores demandas na área de fisioterapia do trabalho tem sido
35
a necessidade da criação de programas de prevenção nas empresas. Essa é uma
situação complicada, pois para que essa possibilidade possa se efetivar na
realidade é necessário um alto investimento em profissionalismo, para que os
resultados obtidos sejam satisfatórios. O cuidado na formulação e na
apresentação de programas de prevenção é fundamental, pois em casos de
programas não bem sucedidos a resistência a eles tende a aumentar.
Para a criação de um programa de prevenção de DORT satisfatório é
necessário que se conheça a empresa com um maior grau de profundidade. A
análise específica e das especificidades de cada empresa é um passo
fundamental para o sucesso do programa.
Um bom programa de prevenção deve se preocupar com alguns fatores
como: abrangência, objetividade e clareza, implantação fácil, controle e custo
acessível. Quando se trata de um programa de prevenção de boa qualidade é
evidente a necessidade de que ele atenda o maior número possível de pessoas. A
idéia é que a prevenção funcione como multiplicadora, ou seja, as pessoas que
tiverem acesso a esses programas preventivos se tornam multiplicadores,
podendo levar esses conhecimentos aos seus familiares, amigos, à sua
comunidade, etc.
A objetividade e a clareza do programa também são pontos importantes.
É necessário que o programa seja simples e eficiente, pois um programa
complexo, contendo muitas especificidades acaba se tornando de difícil
compreensão para as pessoas. E quando se trata de programas de prevenção, a
intenção é que até leigos no assunto possam compreender do que se trata. Dessa
forma, a clareza e a objetividade desempenham um papel de extrema importância.
A facilidade de implantação do programa também é uma outra
característica importante nesse processo. O programa deve ser viável para o
maior número de empresas possível e de rápida e fácil implantação. É importante
lembrar sempre, que o objetivo é atender o maior número possível de pessoas.
Assim, quanto mais simples sua implantação mais adeptos pode ter e,
conseqüentemente, mais pessoas o programa deverá atingir. E, por fim, quando
se trata da preparação de um programa preventivo, deve-se, evidentemente, ter a
36
consciência da condição socioeconômica do local onde se pretende implanta-lo.
O programa deve ter um custo acessível, pois caso contrário ele acaba
tornando-se inviável. Não é uma questão de desvalorização do trabalho do
profissional, mas sim, de adequação à realidade social existente, e também, à
necessidade de implantação desses programas para uma valorização do
profissional fisioterapeuta.
A implantação bem sucedida destes programas é uma forma mais que
obvia de demonstrar a importância da fisioterapia no cotidiano das pessoas. Além
disso, não se pode esquecer que o profissional que opta por essa área tem que
estar consciente que é prioridade a preocupação com a melhoria da qualidade de
vida das pessoas.
4.6 A interferência do Estresse no Trabalho
O stress é um elemento importante na constituição de algumas doenças
derivadas do trabalho. Devido a esse fato, acredita-se ser de suma importância
uma breve abordagem desse assunto. Para iniciar essa questão, é necessário
então definir o conceito de Stress.“O estresse é a reação do organismo a uma
situação ameaçadora. Os estressores são causas externas, enquanto estresse é a
resposta do corpo humano aos estressores” (COOPER, 1996; RODHAL, 1993).
Essa é uma das definições de estresse, e é uma opção feita para uma
compreensão mais simples e eficiente do problema. É evidente que existem
variações dessa conceituação. Vale a pena lembrar também, que o conceito de
estresse foi desenvolvido pelo médico canadense SEYLE ( COOPER, 1996).
Como se sabe, o mundo do trabalho exige uma enorme dedicação do
trabalhador, e o desempenho cobrado desse é, em alguns casos, superior ao que
ele suporta. Engendrado nessa cadeia de pressão que é trabalhar sobre
condições que, às vezes, vão além de sua capacidade, em muitos casos o
trabalhador acaba excedendo seus limites e causando danos à sua saúde física e
mental. É nesse contexto que estão inseridos muito dos casos de estresse, como
fica claro na seguinte passagem:
37
“o estado emocional causado por uma discrepância
entre o grau de exigência do trabalho e os recursos
disponíveis para gerencia-lo. É, essencialmente, um
fenômeno subjetivo e depende da compreensão individual
de gerenciar as exigências do trabalho” ( GRANDJEAN,
1998)
Essa é uma das formas de compreensão da forma como se da o
fenômeno do estresse. Porém, existem outras diversas formas de compreensão,
entre elas valem a pena destacar outras duas:
“O estresse é uma condição ambiental, suscetível de
definições e mensuração objetivas. A ênfase esta no
estresse como estímulo, uma variável independente, um
fator de risco, uma influencia variável, medidos
objetivamente em suas propriedades”( COOPER, 1996)
“estresse é um termo relacional particular, ligando
características ambientais e pessoais, em particular,
excesso de demanda ambiental, confrontando-se com a
capacidade individual” (COOPER, 1996)
Como observado nas passagens anteriores, o conceito de estresse
possui diversas definições. O objetivo desse trabalho não é abordar a
complexidade desse conceito, ou buscar uma melhor definição de estresse, o que
se pretende com essa abordagem, é apenas apresentar a idéia do que é estresse
para que se possa compreender sua relação com o mundo do trabalho.
A relação de estresse pode ser percebida em atitudes cotidianas dos
trabalhadores. O desenvolvimento de tiques nervosos, de estado de vigilância
constante, o balançar de pernas e braços constantes são exemplos e sintomas
38
desses casos. Em muitos desses casos o estresse ou os tiques desenvolvidos por
esse problema são descontados em imobiliários ou nas pessoas que estão mais
próximas.
Muitas vezes quando os efeitos são descontados no imobiliário, os
trabalhadores justificam esse ato dizendo que este não possui condições
adequadas, ou seja, não é um imobiliário ergonômico. Portanto como é possível
observar, o estresse é um problema que mantém relação com o trabalho e, por
este motivo, os profissionais envolvidos nessa área devem estar atentos aos
casos de estresse.
CAPÍTULO 5 Fisioterapia preventiva nos casos de DORT.
5.1 Intervenção Terapêutica
Como já foi dito no capítulo anterior, vivemos em uma cultura curativa, e
esse fato é significante para que se possa compreender as dificuldades
encontradas para a compreensão da população sobre a intervenção preventiva.
Diante dessa situação a imagem que predomina sobre a intervenção preventiva é
a de que sua função se limitaria à produção de cartazes, palestras, avaliações de
postura. É evidente que, para realizar a prevenção, é necessária a utilização de
todas essas estratégias, porém a fisioterapia preventiva representa algo além
dessa imagem presente no imaginário social.
O fisioterapeuta do trabalho não restringem sua atuação apenas a
avaliação de postura, de fichas e dados, ou seja, ele não é um burocrata. A
análise dos dados são de extrema importância para o processo de diagnóstico,
39
porém, a intervenção preventiva e o trabalho do fisioterapeuta não se resumem
apenas a esse fato. A aplicação de recursos físicos utilizados na fisioterapia é um
exemplo disso.
Quando se trata de prevenção, é necessário que haja um processo de
antecipação das possíveis doenças, e esse processo se dá através da buscas de
sinas, ou seja, é necessário que o profissional esteja atento aos sintomas
apresentados pelos trabalhadores.
Portanto, para que essa identificação ocorra com maior facilidade, é de
fundamental importância que o fisioterapeuta esteja em contato com o trabalhador,
e sempre atento as suas atividades durante o exercício de seu trabalho.
A atividade do fisioterapeuta do trabalho que atua com a intervenção
preventiva está sujeita à barreiras como, por exemplo, o aspecto legislativo da
saúde, de classificar a fisioterapia no setor de reabilitação e, portanto, impede que
algumas ações na área preventiva sejam concretizadas. Esse problema com a
legislação impede, por exemplo, em alguns casos, que o profissional da
fisioterapia atue na equipe de Saúde Ocupacional, que é a responsável pela
prevenção.
Os próprios gerentes de Recursos Humanos das empresas, em grande
parte dos casos, não admitem o profissional na equipe de saúde ocupacional. A
saída para esse problema é o trabalho conjunto com outros profissionais que já
estão conscientes da importância da fisioterapia preventiva. Assim, com a ajuda
de médicos, enfermeiros, fonoaudiólogos, os fisioterapeutas começam a ganhar
espaço nas equipes de Saúde Ocupacional.
Outro ponto importante que tem que ser trabalhado para que a fisioterapia
preventiva se desenvolva com maior facilidade, é a questão da idéia de paciente e
cliente. A quebra do paradigma é de extrema importância, pois é necessário
desenvolver a idéia de trabalhar com clientes e não com pacientes.
Porém, essa é uma tarefa difícil, modificar a idéia de quem sempre se
enxergou como paciente e os fazer se reconhecer enquanto clientes. Para que
esse processo se desenvolva é necessária uma campanha de esclarecimento
sobre o assunto, que deixe claro que o paciente é o cliente que já esta doente, por
40
sua vez, o cliente não esta doente ainda, e pode através de informações sobre
possíveis sintomas evitar que uma possível doença se desenvolva.
5.2 Estratégias para o desenvolvimento da intervenção preventiva
Para o desenvolvimento de intervenções preventivas é necessário traçar
estratégias para que essa prática penetre o imaginário social, e possa ser aceita
com maior facilidade. Sendo assim, neste momento, serão abordadas algumas
dessas práticas, como a palestra, o auxílio na constituição de uma cultura de
prevenção e outras.
Anteriormente, já abordamos a questão da palestra como um dos meios
de divulgação da prática da intervenção preventiva, mesmo assim, retornaremos a
esse ponto que é importante. A palestra é uma forma comum e de alcance
satisfatório, quando se trata da inserção de conceitos na sociedade. Através dela
as informações são divulgadas com maior clareza e simplicidade, atingindo,
assim, um público bem mais amplo.
A palestra tem o poder de informar e esclarecer acerca do assunto e,
através delas, o público pode esclarecer suas dúvidas e tomar conhecimento
sobre o assunto, podendo, assim, desvincular-se de mitos ou informações
errôneas, divulgadas em meios de comunicação, como revistas e jornais.
Além disso, a palestra é uma ótima oportunidade do profissional de
fisioterapia preventiva apresentar seu programa de prevenção, suas estratégias de
trabalho, e conscientizar a população sobre o assunto.
Estabelecer uma relação de confiança mútua entre profissional, clientes e
empresa, também é uma estratégia importante no desenvolvimento de uma
cultura pró intervenções, preventivas. Através dessa relação de confiança, pode-
se facilitar o acesso dessas pessoas a informações técnicas a respeito do
assunto. Esse é um passo importante, pois o acesso a essas informações pode
colaborar na identificação de sintomas e, desse modo, facilitar a cura.
O estabelecimento da relação de confiança também dá espaço para que
o colaborador sinta-se à vontade em procurar o profissional de fisioterapia a
41
qualquer momento, informando, a este, o que sente. Nesses casos, com o
desenvolvimento prévio de uma cultura de prevenção, o trabalhador incomodado
pode procurar o profissional quando sentir-se incomodado e, não mais apenas
quando sentir dor.
Assim, pode-se investir em ações preventivas e não apenas em cura.
Portanto, investir em cartazes, palestras, ou até mesmo promover semanas da
saúde, só são ações bem sucedidas, se combinadas com o trabalho do
profissional de fisioterapia e com sua aproximação com seus clientes. Desse
modo, fica evidente, a necessidade da participação ativa do profissional em todo o
processo.
O desenvolvimento de uma cultura de prevenção também é primordial,
nesse caso. A constituição desse processo pode ser feita através de abordagens
constantes, mediante a situações inapropriadas. O reconhecimento de algum
problema como uma postura inadequada deve ser trabalho e corrigido através de
um projeto longínquo de conscientização. Tem que se deixar claro que, apenas a
promoção de palestras não é o suficiente para que se mude de atitude. A
construção de uma cultura exige trabalho, atenção, dedicação e repetição. É um
processo longo e gradual.
Segundo Vidal e Couto (1998), uma estratégia importante é a realização
de avaliações ergonômicas das atividades exercidas durante o processo de
trabalho. Através dessas análises, o profissional pode desenvolver um trabalho de
ajuste necessário para que as condições de trabalho se tornem apropriadas. Além
disso, estes profissionais podem auxiliar os trabalhadores a realizar intervenções
preventivas em seu lar, através de treinamentos que os ajudem a realizar
mudanças em problemas que identifiquem em sua casa, comunidade, casa de
amigos.
É importante, também, que o profissional analise a empresa e tome
contato com sua realidade específica. Cada empresa pode desenvolver, em maior
ou menor grau, algum tipo de problema e cabe a esse profissional estar atento a
essas especificidades para a elaboração de seu projeto preventivo.
Após essa etapa de contato com a empresa, é interessante utilizar
42
cartazes como um meio de divulgação simples e direto, e também, realizar
palestras específicas, mostrando o que foi constatado durante o tempo
observação na empresa. Essa proximidade com a realidade local produz um maior
efeito sobre os espectadores, que percebem sua relação com os problemas
apresentados.
Uma outra estratégia fundamental na constituição desse processo é a
inserção da prática no cotidiano do trabalho. Essa inserção pode ser realizada
através da prática de exercícios laborais compensatórios, que podem ser
realizados individualmente ou em grupos pequenos. O ideal é que esses
exercícios sejam executados com um grupo laboral que possua uma mesma carga
de trabalho.
O diagnóstico de sintomas, como desconfortos e, em casos mais
avançados, dores, são nortes para a realização da prática de exercícios laborais
compensatórios. É importante lembrar que, essa prática, por muitas vezes sofre
resistência dos mais interessados, ou seja, dos trabalhadores.
Em muitos casos, como essa não é uma pratica comum à sua sociedade
ou cultura, ele se sente ridicularizado, e nega-se a realizá-la, ou as realiza sem
atenção necessária, com displicência. Portanto, dentro dessa estratégia de inserir
a prática de exercícios laborais em uma empresa, é necessário que se pense
também uma forma de vencer essas barreiras expostas. O profissional deve
procurar tornar esse pratica prazerosa, para que os trabalhadores as desenvolvam
com atenção.
Outro ponto fundamental na formação de sujeitos conscientes em relação
ao seu corpo é o incentivo à pratica de atividades físicas, não apenas no ambiente
da empresa, mas também fora dela. A pratica de atividades físicas, esportivas, é
um elemento importante nesse processo.
Porém, a pratica de atividades físicas deve estar sempre sob a orientação
de um profissional, pois o exagero nesses casos pode conduzir a lesões. A
presença do profissional ajuda a prevenir que lesões mais graves possam ocorrer,
decorrentes de uma prática mal orientada.
Segundo Oliveira (1998), a realização de exercícios de relaxamento e
43
alongamento são fundamentais, especialmente em casos onde existam
incômodos inicias, ou seja, quando a lesão está dando seus primeiros sinais. É
importante, nesses casos, orientar a aplicação de recursos fisioterápicos de
acesso fácil. Entre esses recursos podemos citar alguns exemplos simples como:
a compressa de gelo, e a compressa de calor.
Por fim, uma outra estratégia interessante é a aplicação de recursos
fisioterapêuticos variados, pois estes possuem propriedade analgésica,
antiinflamatórias e antiflogísticas. Dentre esses recursos, podemos citar, como
exemplo, o ultra-som, a compressa de gelo, etc. Esses recursos são importantes e
tem o adendo de serem recursos de fácil acesso, ou seja, podem ser conseguidos
e aplicados com maior facilidade, portanto, promovem o acesso.
Além disso, a intervenção com esses recursos pode contribuir na
identificação de sintomas, e também qualquer sinal de incômodo identificado pode
ser trabalhado e, desse modo, a evolução do sintoma pode ser controlada.
5.3 Práticas efetivas
Como visto, existem diversas formas e modos de trabalhar a construção
de uma cultura preventiva. Além disso, existem, também, diversas estratégias que
podem auxiliar nesse processo. Portanto, para deixar a compreensão mais clara,
iremos abordar alguns tipos de práticas efetivas de prevenção, para efeito de
compreensão.
É importante deixar claro que existem inúmeras práticas efetivas que
podem e devem ser realizadas, quando se trata desse assunto; dentre elas foram
escolhidas algumas para abordar mais especificamente.
A primeira delas é o trabalho muscular estático. O trabalho se realiza de
forma estática quando exige contração continua de alguns agrupamentos
musculares, com o fim de manter determinada postura ou, em outros casos,
manter a estabilidade da ação praticada. Esse tipo de trabalho é altamente
fatigante e deve ser evitado para não causar problemas posteriores.
Caso não seja possível evitar esse tipo de trabalho, é necessário que se
44
realize uma avaliação do trabalho, procurando encontrar soluções para a melhora
desse quadro. Essas soluções podem ser conseguidas através, por exemplo, da
mudança das peças ou uma adequação dessas ao tipo de trabalho e também
através da criação de apoios para as partes do corpo que auxiliem na diminuição
das contrações estáticas dos músculos. Outra alternativa é a introdução de
pausas no período de trabalho para descanso dos músculos, para aliviar a fadiga
e não comprometer os músculos.
Outra prática importante se refere ao trabalho muscular dinâmico. Esse é
o tipo de trabalho muscular que se realiza de modo dinâmico, isto é, quando há
contrações e relaxamentos alternados dos grupamentos musculares envolvidos.
Essas situações são presentes no nosso cotidiano e por muitas vezes passam
despercebidas. Entre elas, podemos citar situações corriqueiras, como: martelar,
serrar, digitar, caminhar, etc.
Esse tipo de situação pode provocar uma série de lesões. Portanto,
nesses casos, é importante manter o ritmo dos movimentos, de forma que eles
sejam executados da forma mais suave possível. A indicação mais comum é que
se evite a pratica da contração estática, como uma maneira de prevenção.
5.4 O alongamento muscular
Ainda no campo das práticas preventivas, o alongamento muscular é um
ponto importante e, por esse motivo, merece uma atenção especial. O trabalho de
alongamento muscular é uma grande ferramenta de auxílio à prevenção e deve
ser utilizada com maior freqüência pelos fisioterapeutas.
“O movimento articular depende da forma de articulação, do
posicionamento dos ligamentos e da ação dos músculos envolvidos.”(OLIVEIRA
apud BRUNSTORM,1999). Diante disto, é fácil compreender que os
encurtamentos musculares tenham uma ação limitante, quando se trata da
articulação. Existem algumas causas para esse encurtamento, como, por
exemplo, a restrição da mobilidade.
Existem alguns processos patológicos comuns quando se trata de
45
DORTs, especialmente quando se refere a repetição de movimentos. A
inflamação, os edemas, a limitação da movimentação são exemplos disso. A
limitação da mobilidade articular pode conduzir à produção de tecido fibroso denso
que surge para substituir o tecido mole normal e, desse processo, resulta a perda
de elasticidade do tecido mole e como conseqüência disso o movimento torna-se
limitado.
Outro caso importante é o das contraturas que são encurtamentos do
tecido mole, e que podem ser tratadas com alongamento. O tratamento da
contratura surtirá maior efeito caso seja identificado no início, ou seja, quando esta
apresentar um incômodo local. O alongamento muscular atua reduzindo a tensão
mecânica que há nos tendões, aliviando, assim, os tendões que se encontram
inflamados e, desse modo, ela atua como um modo de prevenção das tendinites,
que são lesões nos tendões.
Existem diversas técnicas a ser aplicadas, com o fim de oferecer maior
conforto aos trabalhadores (sejam eles digitadores, trabalhadores de uma linha de
produção de uma fabrica) e também que podem atuar como prevenção. Esse tipo
de aplicação é favorável para os dois lados: empregador e empregado.
Geralmente, elas são de fácil aplicação e ajudam na divulgação da prevenção.
O alongamento é uma prática simples, que pode ser aplicada sobre
tendões, músculos e ligamentos. Ele é aplicado através da produção de uma forca
ativa nessas estruturas citadas, e pode ser classificado em quatro tipos: ativo,
passivo, balístico. O alongamento ativo é aquele que acontece a partir da
aplicação ativa de tensões em músculos contrários. Já o alongamento passivo é
aquele que ocorre a partir da aplicação de uma força de alongamento diferente da
tensão entre os músculos contrários.
Por sua vez, o alongamento estático é aquele que acontece através da
manutenção de uma posição de alongamento lento, controlado e persistente
durante certa quantidade de tempo, como, por exemplo, trinta segundos. Por fim,
existe o alongamento balístico que é brusco e de alta intensidade, porém sua
duração é curta e devido a esse fato ele representa um perigo às estruturas
fragilizadas, devido a esse fato, ele não deve ser utilizado como intervenção
46
preventiva.
Dentre os tipos apresentados de alongamento, o passivo é o mais
eficiente, quando tratamos de prevenção. Nesse caso, a presença do
fisioterapeuta é fundamental, especialmente, quando é preciso realizar uma
intervenção mais eficiente. Porém, isso não significa que a pessoa em questão
não possa ou deva realizar o alongamento sem a presença do fisioterapeuta.
Existem políticas positivas, quando tratamos dessa questão, como, por
exemplo, orientações preventivas que vêm junto com produtos como mouse pads,
que contém explicações de como realizar exercícios de auto-alongamento. Essa é
uma ação completamente positiva e um reflexo da evolução desses casos.
Porém, ela é insuficiente para resolver o problema como um todo. A
presença de um profissional formado em fisioterapia, e preferencialmente
especializado em fisioterapia do trabalho, é imprescindível para o sucesso das
práticas preventivas.
5.5 Recursos pré-cinéticos
Em muitos casos, o alongamento não é suficiente para resolver uma série
de problemas. Existem momentos em que há uma dificuldade comum em relaxar a
musculatura, e essa é uma dificuldade que em muitos casos é proveniente da dor.
Diante desses casos, é de extrema importância a presença recursos
fisioterapêuticos pré-cinéticos.
Esses recursos são extremamente importantes, pois desempenham uma
função analgésica, ou seja, aliviam as dores sentidas pelo indivíduo. Esse alívio é
fundamental para que o cliente relaxe e assim possa realizar o processo de
alongamento muscular.
Esses processos podem ser auxiliados por recursos técnicos como o
ultra-som, que é fundamental na identificação de um processo inflamatório.
Esses são recursos que devem estar disponíveis em empresas e que
requerem certo investimento. Desse modo, quando uma empresa se preocupa
com a saúde de seus trabalhadores, existe a necessidade de investimento em um
47
projeto. O ideal é que haja uma sala adequada para que se realizem esses
procedimentos, para que se minimize qualquer situação de timidez, ou vergonha
por parte dos funcionários. É importante, que todos se sintam à vontade com os
procedimentos que serão realizados, e nesse ponto, a formação e atuação da
equipe de saúde são fundamentais.
5.6 A presença do DORT no cotidiano.
Para a prevenção do DORT é fundamental a compreensão de que ele se
manifesta em atividades corriqueiras, cotidianas. Determinadas práticas habituais
que não precisam estar relacionadas com a atividade laboral são fontes de
produção desses problemas, pois se realizam através de movimentos repetitivos.
Atividades como limpar a casa, varrer o chão, lavar louça, trocar de roupas, são
em menor ou maior intensidade e freqüência fontes desse problema.
A prevenção desses casos é, geralmente, complicada, pois recomenda-se
que a repetição dessas tarefas seja evitada e, em muitos casos, o indivíduo que
executa a tarefa, principalmente a doméstica, não pode abdicar dele, e nem
tampouco ter a presença do fisioterapeuta o aconselhando.
Além das práticas domésticas, existem outras atividades cotidianas que
são favoráveis ao desenvolvimento de DORT, se não praticadas com cuidado,
como, por exemplo, as práticas desportivas. Em muitos desses casos, há uma
imposição de força, ou melhor, de uma sobrecarga de força que atingem os
tendões e os músculos e podem conduzir a um tipo de lesão.
A intenção dessa breve passagem é alertar para o fato de o DORT está
presente na vida de qualquer indivíduo, e não apenas na atividade laboral. Assim
sendo, a importância do processo de conscientização e desenvolvimento de uma
cultura preventiva é de fundamental importância em todos os setores da
sociedade.
5.7 Ginástica Laboral e exercícios laborais compensatórios
48
É comum a confusão entre os termos ginástica laboral e exercícios
laborais compensatórios, mas deve-se ficar atento, pois estes são termos
distintos. Entre as diferenças que podemos identificar, estão a forma de
abordagem e os exercícios que são, em si, diferentes. A ginástica laboral é uma
atividade lúdica, é exercida em grupos, e possui um caráter de descontração,
integração do grupo. Por sua vez, o exercício laboral compensatório é uma pratica
direcionada e exercida individualmente, ou em grupos bem restritos. Ela é utilizada
geralmente, em correção das posturas adotadas durante a atividade de trabalho.
A ginástica laboral é aplicada, normalmente, com o objeto de prevenção
de casos de DORT, com uma eficácia considerável. Porém, deve-se deixar claro
que, essa não é uma solução permanente, ela é apenas uma forma de auxilio a
esse problema. Vale a pena ressaltar que a ginástica laboral praticada nas
academias das empresas tem conseguido excelentes resultados, algumas vezes
até mais satisfatórios que os realizados em postos de trabalho.
Porém, existe um problema que deve ser evidenciado, que é o fato de
muitos profissionais da fisioterapia ultrapassar a barreira lhes cabe e invadirem o
espaço que pertence ao profissional formado em educação física. Isto ocorre
quando estes profissionais aplicam modelos de atividades físicas como forma de
prevenção de DORT nas empresas.
É importante ressaltar que, não é uma questão de competição, existe
espaço para os dois tipos de profissionais nas empresas e, como já dito antes,
uma equipe de saúde adequada, deve ser formada por uma diversidade de
profissionais das mais variadas áreas. A integração entre a equipe de saúde é um
passo fundamental no processo preventivo.
Os exercícios laborais compensatórios são de cunho terapêutico, e
possuem como, uma de suas principais características, o trabalho individual. Esse
tipo de exercício tem, como finalidade, atingir os grupos musculares que estão
sobrecarregados pela atividade de trabalho.
Normalmente, durante o período de trabalho o indivíduo já apresenta
sinais de fadiga e de incômodo em diversas regiões do corpo. Tanto a fadiga
como o incômodo são resultados da atividade muscular exercida durante o
49
período de trabalho. Diante desse caso a pausa programada seria uma eficiente
forma de intervenção preventiva. Essa pausa pode ser ativa ou livre, porém na
maioria dos casos ela é livre.
A pausa livre é aquela que é usada geralmente para tomar um café, ir ao
banheiro, sentar-se, ou conversar com os colegas de trabalho, ou seja, ela não é
direcionada para uma atividade pré-determinada. Sendo assim, sua eficiência nos
casos de DORTs é limitada.
Porém, isso não significa que ela não seja importante e necessária para
os trabalhadores. Por sua vez, a pausa ativa é aquele que é direcionada para um
fim específico, ou seja, durante esse tempo é realizada uma série de exercícios
preventivos e esse é o momento perfeito para a introdução dos exercícios laborais
compensatórios, sejam eles ativos ou passivos.
Sendo assim, fica evidente a importância da realização dos exercícios
laborais compensatórios. Eles estão intimamente ligados a uma análise prévia
ergonômica das situações de trabalho às quais estão submetidos os trabalhadores
em questão. Assim, fica clara a importância fundamental que a ergonomia tem na
formação do profissional da fisioterapia do trabalho.
5.8 Ginástica Laboral
A ginástica laboral é uma pratica comum, há algum tempo, em diversas
empresas. Com o surgimento de demandas por uma melhor qualidade de vida no
trabalho, a ginástica laboral ganhou espaço e passou a ser utilizada como prática
freqüente.
A ginástica laboral é utilizada como prática preventiva. Atualmente muitas
empresas possuem em suas instalações academias de ginástica destinadas a
essa prática. Os profissionais que trabalham nessas academias são
especializados em capacitação física, e em prevenção de doenças como estresse
a também doenças cardiovasculares.
Por sua vez, os profissionais formados em fisioterapia com ênfase em
ergonomia são especializados em prevenção de DORTs. Mas essa realidade não
50
condiz com a maior parte das empresas. A ginástica laboral tem sofrido uma
grande resistência em alguns setores das empresas.
A realização dessa prática é necessária para a atividade de trabalho, e
esse fator incomoda os empresários que, em sua grande parte, vêem esse fato
como perda do rendimento, da lucratividade de sua empresa. Um outro problema
enfrentado pelos defensores dessa prática é a acusação de que essa prática seria
ineficiente.
Há diversas formas para o desenvolvimento da ginástica laboral, ela pode
ser aplicada de diferentes maneiras. Para fins de estudo, esse trabalho irá se
atear apenas ao modelo brasileiro, pois é este que condiz com nossa realidade
imediata.
No Brasil o modelo adotado é baseado no alongamento, na coordenação
motora e no fortalecimento muscular. Esses exercícios têm uma duração média de
doze minutos. Existem outros modelos aplicados, porém a variação é pequena, e
a base é comum.
O que varia de um modelo para outro, geralmente é o tempo de duração,
ou a freqüência com que a atividade é aplicada. Porém, existem algumas
empresas, no país, onde a atividade laboral não é o centro das atividades
praticadas, ela possui um papel secundário.
Diante desse fato, surgiram muitos questionamentos sobre a eficácia da
aplicação da ginástica laboral, já que, muitas empresas já a haviam colocado em
um papel secundário. O tempo de duração médio de doze minutos é um dos
pontos questionados. Existem muitas controvérsias sobre esse assunto, e a
pergunta que se faz geralmente é: Seria esse tempo suficiente para realizar o
agrupamento de grande parte dos grupos musculares?
Além disso, ainda relacionado à questão do tempo, caso esse tempo não
fosse suficiente para realizar o alongamento da maior parte dos grupos
musculares, o aumento do tempo do alongamento não afetaria diretamente a
produtividade.
Outro questionamento recorrente é derivado da faixa etária variada dos
funcionários de uma empresa. Diante desse fato, o questionamento que surge é
51
sobre o fato de os exercícios serem realizados em conjunto, independente da faixa
etária, ou se seria necessária a divisão, de acordo com a faixa etária.
O auto-alongamento é um outro ponto polêmico. Existe um alto índice de
questionamento acerca de eficiência dessa prática. A presença do fisioterapeuta
seria dispensável, então, já que os funcionários podem realizar o auto-
alongamento?
Existe uma série de questionamentos a respeito do tema, esses
apresentados são apenas uma forma de ilustrar a situação. É importante saber
que, esses questionamentos não tornam a prática da atividade laboral inválida ou
ineficiente. Porém, deve-se deixar claro que, a inserção da ginástica laboral não
representa a solução dos problemas.
A ginástica laboral, por si mesma, não tem o poder de redução dos casos
de DORTs. Se não aplicada mediante a um projeto consciente de prevenção, ela,
em certo ponto, pode ser prejudicial, pois pode mascarar os sinais e sintomas
iniciais das lesões.
É necessário estar atento à individualidade, ou seja, ao fato de que,
quando trabalhamos com seres humanos, estamos lidando com uma diversidade
de fatores e, que, nesses casos, qualquer tipo de homogeneização é prejudicial. A
prevenção deve ser realizada de acordo com essa inúmera série de fatores e,
desse modo, a individualidade é um ponto de extrema importância.
Esse tipo de prática não pode ser encarado apenas com o caráter lúdico
que contém, ou, até mesmo, como forma de aliviar um desconforto ou uma tensão
muscular. É necessário que os desconfortos, incômodos, sejam tratados de forma
particular antes de se tornarem dores efetivas.
Nesse ponto a ergonomia desempenha um papel fundamental, já que, a
atenção para a particularidade das atividades de trabalho e a forma como são
exercidas são fundamentais no processo de prevenção e recuperação. A postura
dos trabalhadores durante a atividade de trabalho, os esforços realizados, a
repetição das tarefas, são pontos que o profissional com conhecimentos
ergonômicos deve identificar para que possa realizar posteriormente o trabalho
preventivo.
52
Um outro ponto importante é estar atento às relações dos trabalhadores
para que essa prática não venha a se tornar um insucesso entre estes. Expor os
trabalhadores a situações inadequadas, a trabalhar conjuntamente com desafetos,
e especialmente quando envolve o corpo.
Compreender as relações dentro de uma empresa é um fator
determinante para o sucesso de qualquer prática ou projeto que venha a ser
implementado nesta e, com relação à ginástica laboral, não é diferente.
Portanto, a ginástica laboral, nas empresas, é um importante meio de
auxílio a saúde do trabalhador. Porém, se for exercida de modo isolado, seus
efeitos são limitados. Portanto, é necessário que haja contato entre os diferentes
tipos de profissionais que trabalham nessa área, visando sempre a melhoria da
qualidade de vida do trabalhador.
Apenas uma intervenção completa, com a participação de todos os
profissionais inseridos em um projeto com a finalidade de prevenir, é que pode
obter resultados positivos. Os atos isolados são insuficientes quando se trata das
DORTs.
Capítulo 6 Considerações finais
A fisioterapia do trabalho tem a propriedade de transformar paradigmas
53
tanto para os fisioterapeutas quanto para a sociedade. Além disso, ela representa
um processo de humanização do profissional fisioterapeuta, ou seja, uma
aproximação deste das pessoas com quem trabalha, visando o bem estar destas.
Esse processo seria como uma reeducação do profissional de fisioterapia,
que na maior parte dos casos, é preparado apenas para trabalhar em clínicas,
hospitais, e se preocupar com o aspecto curativo e não com a prevenção.
Nesse tipo de fisioterapia, o profissional tem que se relacionar com as
pessoas, observar seu cotidiano, estabelecer uma relação mutua de confiança
com estes. Ele tem que estar atento às relações, ao ambiente de trabalho, a
possíveis problemas que venham a surgir. Sua tarefa é de observador, de amigo.
Através desse tipo de ações é que se pode criar a confiança necessária para o
processo de prevenção.
Ao ver no fisioterapeuta uma pessoa presente em seu dia a dia, como um
colega de trabalho qualquer, as pessoas se sentem mais à vontade para procurá-
lo, caso sintam algum incômodo, algum desconforto. Essa atitude é fundamental
para o desenvolvimento de uma fisioterapia preventiva, sem essa relação, o
trabalho do fisioterapeuta se torna bem mais complicado e, muitas vezes recaem
no campo da reabilitação e não dá prevenção.
Além disso, cabe ao fisioterapeuta realizar uma outra tarefa que, por si só,
é complexa: a conscientização. Esse é um processo longo, e seu
desenvolvimento é gradual. As estratégias para sua abordagem devem ser
desenvolvidas por uma equipe de profissionais de acordo a realidade local.
A exposição de cartazes, as palestras informativas são meios que devem
ser utilizados para se atingir esse objetivo. Como já dito em um momento anterior,
o Brasil é um país onde não há a cultura da prevenção, portanto, é necessário que
se formem pessoas com esse novo tipo de formação, para que aos poucos se crie
esse tipo de cultura.
Outro ponto de fundamental importância é a questão de transformar o
cliente em paciente. O cliente é aquele que está bem, porém sente sinais e
sintomas que representam indicativos de que seu corpo esta sujeito a algum
processo patológico. O cliente, então, tem a oportunidade de tratar esses sintomas
54
prévios, ou seja, de prevenir-se se uma futura lesão.
Em uma situação diferente, está o paciente, visto que, o paciente é
aquele já se encontra com um processo patológico em desenvolvimento. Entre
suas alternativas não está a prevenção, cabe a ele apenas o tratamento da
doença, e em muitos casos essa recuperação não é total.
Desse modo, a fisioterapia preventiva procura agir positivamente sobre a
sociedade, contribuindo para o bem estar das pessoas, para a melhoria da
qualidade de vida do trabalhador e, de alguma forma um progresso no modo como
se encara a medicina preventiva.
Assim, o profissional dessa área está exercendo sua cidadania e, além
disso, sua responsabilidade social, e evidentemente, esse processo será
recompensado de diversas formas, e o reconhecimento de todos aqueles que
tiveram a chance de evitar o desenvolvimento de uma patologia é uma dessas
formas de recompensa. A fisioterapia do trabalho é, portanto, fundamental na
construção de um profissional mais humano, preocupado com as pessoas e com
melhoria de sua qualidade de vida.
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Bibiografia
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