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Origami

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  • JOSEFA MARIA COELHO MARQUES

    ORIGAMI NA ARTE CONTEMPORNEA

    BRASLIA, DEZEMBRO DE 2012.

  • JOSEFA MARIA COELHO MARQUES

    ORIGAMI NA ARTE CONTEMPORNEA

    Trabalho apresentado Faculdade de Artes

    Dulcina de Moraes, como requisito parcial

    obteno do ttulo de Licenciada em

    Educao Artstica, com habilitao em

    Artes Visuais, sob a orientao do professor

    Carlos Ferreira da Silva.

    BRASLIA, DEZEMBRO DE 2012.

  • ii

  • iii

    Dedico esta monografia a minha me, Isilda

    Coelho Nogueira, a meu marido, Romeo

    Fensterseifer e a meus filhos, Isabel Cristina

    Marques Fensterseifer e Guilherme Marques

    Fensterseifer, que me apoiaram nesta

    jornada, ouvindo minhas ideias, participando

    das minhas atividades e dando opinies

    valiosas.

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo aos professores da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes que

    contriburam para o meu crescimento pois com suas aulas me incentivaram a buscar novos

    conhecimentos.

    Agradeo ao professor Carlos Ferreira da Silva cuja pacincia e cuidadosas

    orientaes permitiram transformar este tema numa monografia.

    Agradeo aos colegas que percorreram este caminho comigo, em especial a Maria

    Inez Brasil Cavalcante, Olga Celeste Itabora Rodrigues e Flvia Herenio Mota, com as

    quais participei de vrios trabalhos e grupos de estudo, criando laos que permanecero

    depois de terminado o curso.

    Agradeo aos funcionrios da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes que atenderam

    durante nosso percurso na instituio, sempre com profissionalismo e ateno.

    Agradeo o apoio contnuo de minhas amigas Luciana Sabino de Freitas Cussi,

    Nadja Rodrigues Romero, Ana Maria Carvalho da Silva e Cleuza Takafuji que sempre me

    apiam e estimulam a prosseguir em cada nova jornada.

    Agradeo ao Grupo Origamigos de Braslia pelos encontros quinzenais que

    permitiram que eu tivesse muito mais contato com o mundo do origami, pois dobrando

    juntos fazemos peas que individualmente eu nunca pensaria em tentar.

    Agradeo a Lus de Pessoa, presidente do Grupo Origamigos, com quem posso

    partilhar o interesse pelo mundo do origami e suas novidades, que me estimulou a abraar o

    tema desta monografia.

  • v

    Todo origami comea quando pomos as mos

    em movimento. H uma grande diferena entre

    conhecer alguma coisa atravs da mente e

    conhecer a mesma coisa atravs do tato.

    Tomoko Fuse

  • vi

    RESUMO

    Este estudo investigou o origami como uma linguagem em que se utiliza papel para

    criar figuras por meio de dobras. Nesta monografia examinamos o uso do origami nas obras

    da arte contempornea. Para tanto, delimitamos o significado de arte contempornea e

    traamos algumas de suas caractersticas. Examinamos obras que utilizam origami na sua

    confeco (tridimensionais e instalaes) concluindo que elas tm como caractersticas

    comuns a utilizao de material efmero, a manualidade, a tridimensionalidade e a

    perspectiva etnogrfica. Parte das obras escolhidas apresenta tambm a ritualizao. No

    conjunto de obras escolhidas, encontramos vrias caractersticas associadas arte

    contempornea, tais como a apropriao, a utilizao de novas mdias, a perspectiva

    ambiental, a crtica de circuito, o interesse pela memria e o registro fotogrfico da obra.

    Conclumos que as obras de arte escolhidas, por atenderem condies e caractersticas que

    so prprias do perodo contemporneo, se enquadram na arte contempornea.

    Palavras-chave: arte contempornea, origami, tridimensionalidade, perspectiva etnogrfica,

    ritualizao, manualidade, instalao, material efmero.

  • vii

    ABSTRACT

    This study analyzed the origami as a language in which paper is used to create

    figures through the use of folds. In this monograph we examine the use of origami in the

    works of contemporary art. For this purpose, we delimited the meaning of contemporary art

    and traced some of its features. We studied works that use origami in their making (three-

    dimensional works and installations) concluding that they have common characteristics,

    such as the use of ephemeral materials, handicraft, three-dimensionality and ethnographic

    perspective. Some of the chosen works also have ritualization. On the set of selected works,

    we found several characteristics associated with contemporary art, such as appropriation, use

    of new media, the environmental perspective, the critical circuit, interest in memory and the

    photographic record of the work. We conclude that the chosen artworks meet conditions and

    characteristics that are unique to the contemporary period and fit in contemporary art.

    Keywords: contemporary art, origami, three-dimensionality, ethnographic perspective,

    ritualization, handicraft , installation, ephemeral material.

  • viii

    LISTA DE IMAGENS

    Figura 1 - Ignacio de Zuloaga. Retrato de Miguel Unamuno. 1925. .................................... 15

    Figura 2 - Formas bsicas dos mdulos Froebel. ................................................................ 16

    Figura 3 - Soluo para dobrar o airbag. ............................................................................ 22

    Figura 4 - Stent para correo de artrias posicionado no interior da veia. .......................... 23

    Figura 5 - Stent para correo de artrias, fechado e expandido. ........................................ 23

    Figura 6 - Monumento das Crianas Paz. Hiroshima, Japo. ............................................ 39

    Figura 7 - Tomoko Fuse. Exposio Yorokobi (Grande alegria). 2009. .............................. 43

    Figura 8 - Tomoko Fuse. Origamis da Exposio Yorokobi (Grande alegria). 2009. .......... 44

    Figura 9 - Shipo Mabona. Peace ful Koi. 2009. .................................................................. 45

    Figura 10 - Shipo Mabona. Instalao Plague (Praga). 2012. .......................................... 46

    Figura 11 - Robert Lang. Viking Ship, opus 121. 1989. ....................................................... 48

    Figura 12 - Romn Diaz. Goldfish. 2009. ........................................................................... 49

    Figura 13 - Vik Muniz. O origamista. 2010. ....................................................................... 51

    Figura 14 James Roper. Montagem da instalao Chaosmos II. 2010. .......................... 53

    Figura 15 James Roper Instalao Chaosmos II. 2010 ............................................... 54

    Figura 16 - James Roper. Devotion. 2005. .......................................................................... 55

    Figura 17 - James Roper. Devotion (mandala). 2005. ......................................................... 55

    Figura 18 - Ingrid Plum. Murmuration. 2006...................................................................... 57

    Figura 19 Ingrid Plum. "Emergentes". 2007. ................................................................... 58

    Figura 20 - Jacqui Symons. Instalao Juntos Somos Mais. 2010. ...................................... 60

    Figura 21 - Mademoiselle Maurice. No. 2012. .................................................................... 61

    Figura 22 - Detalhe dos origamis utilizados para a instalao. ........................................... 61

    Figura 23 - Mademoiselle Maurice. Rainbow, 2012............................................................ 62

    Figura 24 - Vik Muniz. Paper Cranes for Japan. 2011. ...................................................... 63

    Figura 25 - Rivane Neuenschwander. Imprpria paisagem. 2002........................................ 65

  • ix

    SUMRIO

    INTRODUO ................................................................................................................. 11

    1 ORIGAMI ................................................................................................................... 14

    1.1 ORIGEM DO ORIGAMI...................................................................................... 14

    1.2 O USO DO ORIGAMI NA EDUCAO E ARTETERAPIA .............................. 18

    1.3 USO DE SOLUES COM ORIGAMI NAS CINCIAS.................................... 21

    2 ARTE CONTEMPORNEA ..................................................................................... 24

    2.1 BASES PARA A ARTE CONTEMPORNEA ................................................... 24

    2.2 OS CINCO PARADOXOS DA MODERNIDADE .............................................. 28

    2.3 ARTE CONTEMPORNEA SEGUNDO ANNE CAUQUELIN ........................ 32

    2.4 CARACTERSTICAS DA ARTE CONTEMPORNEA .................................... 34

    3 ORIGAMI NA ARTE CONTEMPORNEA .............................................................. 40

    3.1 ARTE CONTEMPORNEA E O ORIGAMI ....................................................... 40

    3.2 OBRAS TRIDIMENSIONAIS COM ORIGAMI .................................................. 43

    3.2.1 Tomoko Fuse ................................................................................................ 43

    3.2.2 Sipho Mabona ............................................................................................... 45

    3.2.3 Robert Lang .................................................................................................. 47

    3.2.4 Romn Diaz .................................................................................................. 49

    3.2.5 Vik Muniz .................................................................................................... 50

    3.3 RESUMO DAS CARACTERSTICAS DAS OBRAS TRIDIMENSIONAIS COM

    ORIGAMI ...................................................................................................................... 52

    3.4 INSTALAES COM ORIGAMI ....................................................................... 52

  • x

    3.4.1 James Roper ................................................................................................. 53

    3.4.2 Ingrid Plum ................................................................................................... 56

    3.4.3 Jacqui Symons .............................................................................................. 59

    3.4.4 Mademoiselle Maurice .................................................................................. 60

    3.4.5 Vik Muniz .................................................................................................... 63

    3.5 RESUMO DAS CARACTERSTICAS DAS INSTALAES COM ORIGAMI . 64

    3.6 OBRA QUE USA ORIGAMI NA SUA ELABORAO ..................................... 65

    CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................. 68

    REFERNCIAS ................................................................................................................ 70

  • ORIGAMI NA ARTE CONTEMPORNEA

    INTRODUO

    O tema desta monografia a presena de dobraduras (origami) na arte contempornea.

    O objeto do estudo so obras de arte contemporneas que utilizam a linguagem do

    origami na sua elaborao.

    Temos notcia de vrias obras de arte realizadas com a utilizao da tcnica do

    origami e pretendemos aprofundar o estudo para identific-las.

    Examinaremos a utilizao do origami na arte contempornea, relacionando obras que

    utilizam essa tcnica e verificando como elas se encaixam nas caractersticas da arte

    contempornea. Para tanto vamos:

    contextualizar o origami historicamente.

    mostrar a utilizao do Origami para soluo de problemas em diversas reas do

    conhecimento.

    analisar a arte contempornea para identificar algumas de suas caractersticas.

    abordar a utilizao do origami para a realizao de obras de arte e verificar como

    elas se enquadram nas caractersticas da arte contempornea.

    Assim, o problema que vamos abordar pode ser reduzido s seguintes perguntas:

    Quais caractersticas da arte contempornea esto presentes nas obras realizadas com

    utilizao do origami? H caractersticas comuns a vrias obras? Se h, quais so e como se

    justifica essa afinidade?

    Sempre tivemos interesse por origami. Tal interesse nos fez procurar conhecer mais

    sobre o assunto e por isso temos informaes sobre a utilizao do origami em vrios

    contextos.

  • 12

    Matemticos1, cientistas

    2 e engenheiros

    3 descobriram que esta tcnica milenar uma

    possvel soluo para problemas modernos como, por exemplo, dobrar de forma eficiente

    objetos como um mapa rodovirio, um airbag e at telescpios espaciais gigantescos. O

    origami tambm auxilia a demonstrao de teorias matemticas simples e complexas para

    pessoas de todas as idades.

    Tendo conhecimento de obras de arte realizadas com a utilizao do origami

    pretendemos aprofundar o estudo sobre elas para identific-las e verificar quais caractersticas

    da arte contempornea esto presentes nessas obras.

    Para a realizao desta monografia utilizou-se a metodologia qualitativa com pesquisa

    bibliogrfica e a consulta a sites da internet, especialmente sobre os artistas e suas obras.

    No primeiro captulo apresentamos breve histria do origami e sua utilizao na

    educao, na arteterapia e nas cincias. Apresentamos o conceito de origami mostrado por

    Aschenbach (1993) e uma breve histria do origami conforme Carlos Genova (2001). Tal

    histrico importante pois o origami uma arte milenar que se tornou patrimnio da cultura

    japonesa.

    No segundo captulo analisamos o significado de arte contempornea para fins desta

    monografia, com os textos de David Thistlewood (2005), Arthur C. Danto (2006) e Hans

    1 Em 1917 a The Open Court Publishing Company publicou a terceira edio de um livro intitulado

    Geometric exercises in paper folding, de autoria de T. Sundara Rows (Indiano que colocou a data do prefcio do livro como 1893), constando que a traduo foi efetuada por Wooster Woodruff Beman, professor of mathematics in the University of Michigan and David Eugene Smith professor of

    mathematics in Teachers College of Columbia University. J em 2008, foi publicado o livro ORIGAMICS Mathematical Explorations through paper folding, de autoria de Kazuo Haga (japons e professor da University of Tsukuba, Japo), com edio e traduo de Josefina C Fonacier,

    professora da University of Philippines, Filipinas e Masami Isoda, professor da University of Tsukuba,

    Japo, editada por World Scientific Publishing Co. Pte. Ltd. de Singapura. 2 In 2003, Zhong You e Kaori Kuribayashi ambos da University of Oxford desenvolveram um

    origami stent para manter as veias desentupidas. Para isso utilizaram a base de origami chamada de bomba dgua, disponvel em http://www.origami-resource-center.com/origami-science.html# origamiDNA, acesso em 05/11/2012. 3Boletim do Lawrence Livermore National Laboratory apresenta artigo sobre o telescpio Hubble e

    como foi possvel lev-lo ao espao. Disponvel em https://www.llnl.gov/str/March03/pdfs/ 03_03.2.pdf, acesso em 05/11/2012.

  • 13

    Belting (2012). Ainda mostramos a posio de Antoine Compagnon (2010) sobre os cinco

    paradoxos da modernidade. Finalmentemostramos as diferenas, relativamente ao sistema da

    arte, conforme Anne Cauquelin (2005), da arte moderna para a arte contempornea.

    Relacionamos as caractersticas da arte contempornea com base nos textos dos autores j

    citados, de Edward Lucie-Smith (2006) e Ktia Canton (2008) possibilitando a anlise de

    quais delas so atendidas pelas obras que utilizam origami.

    Conclumos que j no h mais estilos, no sentido de uma gramtica que obriga todos

    os artistas, que a instalao, a performance, o happening e a interveno urbana so inerentes

    arte contempornea, que no existe mais nenhum meio privilegiado e que h uma

    perspectiva de onde se pode ver a obra.

    No captulo 3 apresentamos e analisamos as obras de arte escolhidas que so obras

    tridimensionais em origami, instalaes feitas com origami e uma obra que utiliza origami em

    conjunto com outros materiais.

    As principais caractersticas da contemporaneidade identificadas nas obras e

    instalaes com origami so: utilizao de material efmero (papel), uma certa perspectiva

    etnogrfica em que h apropriao da tradio, tridimensionalidade, participao do pblico,

    utilizao de novas tecnologias e registro fotogrfico.

    Esta uma pesquisa que pretendo continuar com enfoque na utilizao das obras

    realizadas com origami para o ensino da arte contempornea.

  • 1 ORIGAMI

    A verdadeira, elegante e duradoura arte do origami

    como um smbolo para a paz mundial.

    Akira Yoshizawa

    O origami uma linguagem em que se utiliza papel para criar figuras por meio

    do emprego de dobras. Em portugus a tcnica chama-se dobradura, mas cada vez mais se

    difunde a utilizao do nome japons.

    Aschenbach, Fazenda e Elias (1993, p. 24) explicam o significado de origami,

    informando que ORI, deriva do desenho de uma mo e significa dobrar; KAMI, deriva do

    desenho de seda e significa papel. Quando pronunciadas juntas o k substitudo pelo g,

    resultando origami.

    A explicao est atrelada aos ideogramas japoneses, que apresentam mais de um

    significado, e formam vrios novos sentidos conforme a juno que deles se faa.

    1.1 ORIGEM DO ORIGAMI

    provvel que o origami tenha comeado na China, que considerada o bero do

    papel. Entretanto se difundiu de tal forma no Japo que considerado um patrimnio da

    cultura japonesa.

    Inicialmente, no Japo, o origami era utilizado nos rituais religiosos. Sua

    dessacralizao ganhou terreno paralelamente reduo do custo do papel. Quando o acesso

    ao papel ficou mais fcil a popularidade das dobraduras aumentou e as crianas passaram a

    aprender com suas mes. As figuras representavam objetos da vida diria (bonecas, barcos,

    etc.). Muitas dessas peas so dobradas at os dias de hoje.

  • 15

    Ilda Rafael (1999) publicou material para um curso de matemtica na internet4 onde

    apresenta a histria das dobraduras e esclarece a situao da Europa, especialmente da

    Espanha:

    A difuso do Origami na Europa iniciou-se com os muulmanos que

    praticavam esta arte e a levaram para a Pennsula Ibrica. A doutrina

    islmica no permitia a criao de figuras e as dobras de papel eram utilizadas em estudos matemticos e astronmicos. Aps a sada dos

    muulmanos do Reino de Granada esta arte continuou a ser desenvolvida sob

    a designao de Papiroflexia, como conhecida em Espanha. A Parajita ou

    Pra Pinta uma figura que representa uma ave e faz parte da cultura popular espanhola desde o sculo XVII. Um grande impulsionador desta

    arte, em Espanha, nos finais do sculo XIX, foi Miguel Unamuno. Quando

    visitou a Exposio Universal de Paris, em 1889, ficou maravilhado com uma exposio de Origami Japons (RAFAEL, 1999, p. 3).

    Miguel de Unamuno5 (1864-1936), foi filsofo e escritor espanhol, considerado por

    muitos como um dos pensadores espanhis mais destacados da poca moderna. Trabalhou na

    Universidade de Salamanca onde foi catedrtico de grego e reitor. Seu envolvimento com a

    papiroflexia to caracterstico que o retrato pintado por Ignacio de Zuloaga, em 1925,

    mostra figuras de origami, com destaque especial para um modelo de pssaro criado por

    Unamuno.

    Figura 1 - Ignacio de Zuloaga. Retrato de Miguel Unamuno. 1925.

    6

    4 O texto da professora est disponvel no seguinte endereo http://www.apm.pt/files/_EM114_pp16-

    22_4e6489d4d25fc.pdf, acesso em 30/10/2012. 5 A biografia est disponvel no site da Associao Espanhola de Papiroflexia, no seguinte endereo

    http://www.pajarita.biz/modules.php?name=unamuno&file=biografia, acesso em 30/10/2012. L

    tambm possvel ver outro retrato pintado por Gutirrez Solana, que tambm mostra figuras de

    origami. 6 leo sobre tela. 105,5 x 121 cm. Encontra-se na Hispanic Society de Nova York. Imagem disponvel

    em http://www.pajarita.biz/modules.php?name=unamuno&file=zuloaga, acesso em 30/10/2012.

  • 16

    Segundo o texto de Oliveira7 (2004, p. 2) as dobraduras tambm fizeram sucesso na

    Europa, sendo ensinadas s crianas:

    O uso de dobraduras no ensino no novo. Friedrich Froebel (1782-1852),

    educador alemo, foi quem iniciou este uso. Ele foi o criador do

    "kindergarten" (jardim da infncia), e na sua abordagem da dobradura dividia-as em 3 estgios:

    Dobras de verdade: que trabalhavam com a geometria elementar com a inteno de que as crianas descobrissem por si s os princpios da

    geometria Euclidiana. Dobras da vida: onde noes bsicas de dobradura tem como finalidade chegar s dobras tradicionais de pssaros e animais. Esse estgio no foi

    muito levado a srio pelos seguidores de Froebel, por considerarem como apenas uma rgida sequncia de memorizao de dobraduras, sem nenhuma

    explorao da criatividade infantil.

    Dobras da beleza: a grande contribuio de Froebel, e cuja inteno levar criatividade e arte. As crianas eram encorajadas a guardarem suas colees de dobras em lbuns ou em caixas. Muitas colees datam do

    sculo 19 e alguns desses lbuns podem ser encontrados em museus da

    Europa.

    O famoso educador alemo utilizou as dobraduras para estimular as crianas no ensino

    infantil e valorizou a criatividade dos pequenos com um tipo de dobradura que permite a

    variao dos modelos, com pequenos acrscimos, como mostra a figura a seguir.

    Figura 2 - Formas bsicas dos mdulos Froebel.8

    7

    Origami: Matemtica e Sentimento, por Ftima Ferreira de Oliveira, disponvel em

    http://educarede.homedns.org/educa/img_conteudo/File/CV_132/2004-10-18_-_Origami-

    Matem_tica_ e_sensibilidade1.pdf, acesso em 25/10/2012. 8

    Imagem disponvel em http://www.flickr.com/photos/londonlime/3423636191/sizes/m/in/ photostream/, acesso em 30/10/2012.

  • 17

    O modelo inicial das dobras chamado at os dias de hoje de mdulo Froebel. Ele

    permite fazer vrias alteraes das dobras finais e uma grande variedade de acabamentos.

    Genova (2001, p; 13) ainda nos esclarece que

    No sculo XX a tradio de considerar o origami como somente uma

    brincadeira para crianas comea a evoluir pelas mos de Isao Honda, no

    Japo, e de Miguel Unamuno, na Espanha. Os dois autores, quase ao mesmo tempo, realizaram uma cruzada para conseguir a considerao das classes

    mais cultas para o origami.

    Genova (2001, p. 12) conta que dos anos 50, vem a ideia de consenso na

    representao grfica das dobras diferenciando, por exemplo, dobras vale e montanha.

    Aps a disseminao dessa representao grfica os esquemas passo-a-passo usam

    smbolos universais, permitindo que se acesse sites e livros de qualquer pas, pois o idioma

    no uma barreira para se aprender o origami.

    Segundo Peter Engel (1994), origamista norte-americano, nos anos 80 formam-se no

    origami duas correntes: a japonesa e a ocidental. Engel afirma que na escola japonesa, o

    origami praticado por artistas como filosofia e arte. A filosofia consiste em expressar,

    sugerir, captar a essncia do que se quer representar com o mnimo de dobras e a figura

    resultante no precisa ser anatomicamente perfeita. Do outro lado, afirma, na escola ocidental,

    o origami tem sido praticado por matemticos, engenheiros, fsicos e arquitetos. Perseguindo

    a exatido anatmica, as patas, antenas e asas dos animais so representadas em formas,

    propores e nmeros exatos.

    Jean-Claude Correia, fundador do Movimento Francs dos Dobradores de Papel,

    prefaciando o livro de David Brill9 (2007), escreveu:

    Dobradura de papel mais do que apenas um passatempo recreativo adotado

    no Oriente longnquo com o nico objetivo de entreter nossas crianas.

    Quando algum dobra um pedao de papel, deixa para traz um trao

    permanente, nominalmente a dobra. Com o passar do tempo nossas alegrias, nossas desventuras, nossas paixes e nossos cuidados so sucessivamente

    marcados em nossas faces; ns as chamamos de rugas. Planalto, vale,

    montanha e depresso so algumas das palavras que usamos para descrever

    9 O livro chama-se Origami Brilhante, editado em portugus, em 2007.

  • 18

    nossos arredores geogrficos. dentro das dobras e contornos do crebro

    que nascem nossas ideias, e o contorno de nossas mos que nos permitem

    acariciar nossos entes queridos. No discorreremos sobre as dobras do corao humano; elas ocultam uma parte secreta de ns, escondem o que

    est dentro, velado aos outros. No desperdicemos isso (BRILL, 2007, p.

    11).

    Nessa fala podemos vislumbrar uma relao do origami com a vida, a poesia, a

    memria, as diferentes culturas, a paisagem, enfim, a arte.

    Pouco se sabe sobre a chegada do origami ao Brasil. Mas, pode-se dizer que a porta de

    entrada, ou melhor, as portas de entrada tenham sido a Argentina, como herana da cultura

    espanhola, e os japoneses que vieram no incio do sculo XX.

    Quando viemos de j fazia uma caixa com papel retangular. Mas durante vrios anos

    s havia algumas revistas e poucos livros sobre origami. Atualmente, com a universalizao

    do conhecimento e a sociedade da informao, podemos achar muitos livros sobre origami e

    encontrar vrios modelos e notcias sobre origami na Internet.

    Neste item apresentamos sucintamente a histria do origami com destaque para o

    Japo, a Espanha e a Alemanha. Tambm percebemos como chegaram ao Brasil as noes

    dessa arte.

    1.2 O USO DO ORIGAMI NA EDUCAO E ARTETERAPIA

    Neste item vamos examinar como o origami pode ser utilizado para a educao e

    tambm como recurso na arteterapia.

    Tommasi e Minuzzo (2010) afirmam que

    O contato com o origami desde a pr-escola propicia a aquisio e

    interiorizao de conceitos como frao, dimenso, proporo e forma. Ao

    observar como se faz, e fazer a dobradura, a criana comea a perceber as coisas, a natureza e os objetos sua volta. Ao mesmo tempo desenvolve a

    autodisciplina, concentrao, memria, raciocnio lgico, psicomotricidade

    fina, imaginao e a criatividade (TOMMASI e MINUZZO, 2010, p. 41/42).

  • 19

    O texto reala a importncia do origami para a educao infantil e fundamental.

    Tratando-se de material concreto um instrumento facilitador para a apreenso de conceitos

    matemticos e geomtricos. A prtica do origami ajuda o desenvolvimento das capacidades

    de percepo, memorizao, concentrao, raciocnio lgico, capacidade motora fina,

    imaginao e criatividade.

    Segundo Drumond (2005) a arte do origami contribui para estimular e melhorar a

    capacidade de concentrao, desenvolver a coordenao motora fina, melhorar a destreza

    manual e a pacincia, reduzir o estresse e melhorar a viso espacial.

    Como visto, a prtica do origami traz benefcios para crianas e jovens. Fazer navios,

    leques, avies de papis j fez parte da infncia de muitas pessoas que hoje buscam no

    origami uma maneira de reduzir o estresse, de se concentrar, de melhorar a memria, de

    descansar no dia a dia.

    Tommasi e Minuzzo (2010, p. 43) afirmam que para o adulto, a princpio um

    passatempo fascinante e relaxante. Ao liberar a prpria criatividade, ele poder criar e recriar

    modelos, buscar solues inditas para algumas formas. Tambm os adultos so beneficiados

    pela prtica do origami, seja como descanso da mente, auxlio a atividades pedaggicas ou

    mesmo pura diverso. Ainda possvel que a confeco de origamis traga idias criativas

    aplicveis em reas do trabalho do praticante.

    Na educao o origami utilizado para que os estudantes aprendam vrias disciplinas

    alm de auxiliar em diversas atividades. A maior quantidade de artigos sobre educao que

    localizamos na Internet tratam da utilizao do origami para o ensino, tanto no ensino

    fundamental como no ensino mdio, das noes de matrias como a matemtica10

    e a

    10

    A matemtica do origami Revista Galileu, disponvel em http://revistagalileu.globo.com/Galileu/

    0,6993,ECT516776-2680,00.html, acesso em 30/10/2012; Origamtica: o origami no ensino aprendizagem da matemtica, disponvel em http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/18223, acesso

    em 30/10/2012; Origami e matemtica as novidades do origami nas cincias, disponvel em http://www.dm.ufscar.br/cursos/grad/cartaz-008-p.pdf, acesso em 30/10/2012; Origami na educao bsica disponvel em http://www.matematicarecreativa.uac.pt/am0910.html, acesso em 30/10/2012.

  • 20

    geometria11

    , mas tambm temos artigos que sugerem a utilizao do origami para o ensino de

    cincias e biologia (confeco de animais12

    e de molcula de DNA13

    ), de histria14

    , para a

    contao de histrias para crianas15

    , a montagem de maquetes, alm das lembranas para

    diversas finalidades (dia das mes, dos pais, etc.).

    Tommasi e Minuzzo (2010) tambm tratam da prtica do origami por adultos,

    especialmente quando doentes, afirmando:

    Na rea da sade o origami ultrapassa as suas fronteiras, pois ao ser

    executado favorece o equilbrio e a harmonia mental. O resultado final

    enaltece a autoestima, estimula o riso e a alegria. A sensao de competncia e realizao domina o corpo, a mente e a alma. Pensamos que seja por isso

    que os japoneses presenteiam os doentes com papel para dobradura

    (TOMMASI e MINUZZO, 2010, p. 43).

    O poder transformador de uma folha de papel que por meio de simples dobras passa a

    mostrar flores, animais ou formas geomtricas imediato e provoca uma sensao de bem-

    estar no doente, que est impossibilitado de fazer vrias coisas. O efeito psicolgico

    benfico sade. Existem vrios voluntrios que ajudam doentes a fazer origamis em

    hospitais para a melhora da situao geral do paciente.

    Alm disso ainda temos o efeito benfico do origami sobre as conexes do crebro.

    Tommasi e Minuzzo (2010) afirmam:

    Cientistas comprovaram tambm que as clulas neuronais no param de

    realizar conexes quando devidamente estimuladas. Portanto, acreditamos

    que a prtica do origami, durante todas as fases da vida, benfica e atua de forma preventiva em relao s doenas do sistema nervoso (TOMMASI e

    MINUZZO, 2010, p. 49).

    11

    Utilizao da arte do origami no ensino da geometria, disponvel em http://www.ime.unicamp.br/ erpm2005/anais/c3.pdf, acesso em 30/10/2012; Aprendendo geometria com origami, disponvel em

    http://www.mat.ufmg.br/~espec/monografiasPdf/Monografia_Leroy.pdf, acesso em 30/10/2012. 12

    Origami nas aulas de cincias do ensino fundamental com confeco de animais disponvel em http://www2.ibb.unesp.br/Museu_Escola/Ensino_Fundamental/Origami/Documentos/indice_origami_

    educacao.htm, acesso em 30/10/2012. 13

    Modelo para fazer a molcula de DNA, disponvel no seguinte endereo http://www.bioinfo.ufpb.br

    /difusao/pdf/odnaemorigami.pdf, acesso em 30/10/2012. 14

    Origamis no ensino de histria, disponvel em http://fabriciamfernandes.blogspot.com.br/

    2012/09/oficina-de-origami-nas-aulas-de-historia.html, acesso em 30/10/2012. 15

    Apostila de contao de histrias com origami, disponvel em http://aprendersempre.org.br/curso-historias-contadas-com-origamis-2/, acesso em 30/10/2012.

  • 21

    A ideia de que as clulas neuronais quando perdem suas conexes no tem mais

    recuperao foi corrigida pela descoberta de que essas clulas podem criar novas conexes. O

    origami um aliado ao estmulo do crebro a par de atividades como palavras cruzadas,

    sudoko, etc.

    Assim, vimos a importncia do origami para as atividades ligadas educao de

    crianas e jovens, para a recreao e estmulo dos adultos, bem como, para a terapia de

    pessoas que se encontram doentes.

    1.3 USO DE SOLUES COM ORIGAMI NAS CINCIAS

    Com o origami possvel dar soluo a problemas que afetam as mais diversas reas

    da vida moderna. Sobre esse assunto, Robert Lang (2008), na palestra16

    disponvel no

    TED17

    ,aps apresentar vrias solues desenvolvidas a partir do origami diz que:

    Quando se tem matemtica envolvida, problemas que se resolvem apenas

    por valores estticos, ou para criar algo belo, transformam-se e acabam tendo uma aplicao no mundo real. E to estranho e surpreendente quanto isto

    possa parecer, origami pode algum dia at mesmo salvar uma vida (LANG,

    2008).

    Na palestra, Robert Lang (2008) fala sobre a utilizao do origami como soluo para

    o problema de transportar os espelhos de telescpios em foguetes, permitindo a reduo de

    seu tamanho no transporte e a abertura quando o foguete chega ao seu destino.

    Tambm apresenta a soluo dada para a colocao de airbag nos carros, que utiliza

    um certo tipo de dobragem. Dias e Croce disseram

    O problema dobre e corte foi solucionado por Erik Demaine (MIT), que

    aplica essa tcnica na Alemanha, no design de airbags para automveis.

    16

    A palestra apresenta diversas solues com origami e chama-se Robert Lang: The math and magic of origami- Disponvel em http://www.ted.com/talks/robert_lang_folds_way_new_origami.html, acesso em 30/10/2012, com transcrio da palestra em portugus. 17

    O TED um site em que esto disponveis diversas palestras de interesse de vrias reas, mas especialmente para educao. O endereo http://www.ted.com/.

  • 22

    Demaine tambm pesquisa os dobramentos de protenas com as tcnicas de

    dobras. Acredita-se que as protenas possuem uma seqncia correta de

    dobras na sua formao e que dobras ruins so responsveis por certas doenas. (DIAS e CROCE, 2012, p. 2)

    Figura 3 - Soluo para dobrar o airbag.18

    Nesta imagem vemos a representao esquemtica da soluo para dobrar o airbag

    desenvolvida pelo jovem cientista Erik Demaine19

    .

    Quase ao final da palestra Robert Lang (2008) mostra a soluo dada por Zhong You,

    para endoprteses expansveis para o tratamento de vrias doenas relacionadas com o

    bloqueio e enfraquecimento dos vasos do corpo humano, com a utilizao de dobras que

    permitem a reduo do tamanho da estrutura para seu transporte nas veias e a sua expanso no

    local onde necessrio corrigir o problema.

    Como se ver nas imagens seguintes a prtese, geralmente chamada por stent,

    transportada fechada pelo corpo (nas veias) e expandida no local onde necessrio corrigir

    o problema de entupimento da veia, geralmente causado por acmulo de gordura.

    18

    Imagem disponivel em http://www.origami-resource-center.com/origami-science.html, acesso em

    30/10/2012. 19

    Eric Demaine em entrevista Revista Superinteressante, de setembro de 2003, disse: uma das primeiras questes que resolvi conhecida como Problema do Dobre e Corte. Basicamente, o que fiz foi encontrar um algoritmo para provar que qualquer forma poligonal, seja ela uma simples estrela

    ou um complexo drago, pode ser feita ao dobrar um pedao quadrado de papel e depois fazer apenas

    um nico corte retilneo. Basta saber dobrar o papel do jeito certo. O resultado desse problema j est sendo aplicado no design de airbags desenvolvidos na Alemanha. Disponvel em http://super.abril.com.br/ciencia/matematico-diversao-444074.shtml, acesso em 06/11/2012. Em 2003,

    data da entrevista Revista Superinteressante, Erik Demaine estava com 22 anos de idade e era o mais jovem professor do MIT.

  • 23

    Figura 4 - Stent para correo de artrias posicionado no interior da veia.20

    Figura 5 - Stent para correo de artrias, fechado e expandido. 21

    em relao a este assunto que Robert Lang (2008) diz que origami pode algum dia

    at mesmo salvar uma vida. A estrutura do stent construda com a utilizao de uma das

    formas bsicas difundidas por todo o mundo do origami: a base da bomba dgua

    (waterbomb base).

    Com a razo o fsico e origamista Robert Lang (2008) quando diz que problemas que

    envolvem matemtica acabam tendo uma aplicao no mundo real.

    Com este tpico ficou claro que o origami utilizado com sucesso na soluo de

    problemas diversos nas cincias, especialmente quando envolvem raciocnio matemtico e

    geomtrico.

    20

    Imagem disponvel em http://www-civil.eng.ox.ac.uk/people/zy/old/research/stent.pdf, acesso em

    30/10/2012. 21

    O dimetro varia de 12 mm fechado a 23 mm aps a expanso. Imagem disponvel em http://www-civil.eng.ox.ac.uk/people/zy/old/research/stent.pdf, acesso em 30/10/2012.

  • 2 ARTE CONTEMPORNEA

    O fim permanente pertence ao ritmo de acelerao

    do breve ciclo da assim chamada modernidade.

    Talvez, diferentemente do que se pensa, seja apenas o fim de um episdio no turno tranquilo de

    um percurso histrico mais longo.

    Hans Belting

    Vrios artistas produzem obras com a utilizao de origami. Neste trabalho

    examinamos obras dos seguintes artistas: Tomoko Fuse, Shipo Mabona, Robert Lang, Romn

    Diaz e Vik Muniz, que fizeram exposies tridimensionais de origamis; James Roper, Ingrid

    Plum, Jacqui Symons, Mademoiselle Maurice e Vik Muniz que fizeram instalaes com

    origamis; e, Rivane Neuenschwander que utilizou origami em uma de suas obras.

    A apresentao e anlise das obras est no Captulo 3 deste trabalho e nesse exame

    relacionamos as caractersticas da arte contempornea presentes nessas obras.

    Entretanto para fazer essa anlise necessrio examinar a arte contempornea e suas

    caractersticas. Logo, a primeira coisa que delimitamos o que arte contempornea: qual a

    base que ser adotada nesta monografia e principais caractersticas.

    2.1 BASES PARA A ARTE CONTEMPORNEA

    Nesta monografia examinamos a utilizao do origami nas obras de arte

    contempornea, assim, de imediato se afigura necessrio saber o que arte contempornea.

    David Thistlewood (2005, p. 114), esclarece como a arte contempornea, indicando a

    prtica corrente a arte que est empenhada no aqui e no agora passa para a histria da arte

    como arte moderna, pois interpretaes crticas e tericas da arte contempornea tornam-na

    paulatinamente mais acessvel para diferentes fraes do pblico.

    O autor apresenta sua posio nos seguintes termos:

  • 25

    De modo similar, o termo contemporneo normalmente indica a prtica corrente a arte que est empenhada no aqui e no agora. O limiar entre a arte moderna e a contempornea mais difcil de ser estabelecido, mas o termo contemporneo usualmente aplicado para a arte que ainda no originou opinies assentadas. Esta no vista claramente como a moderna pois ainda no foi suficientemente trabalhada por crticos e tericos.

    Interpretaes crticas e tericas da arte contempornea tornam-na paulatinamente mais acessvel para diferentes fraes do pblico, e esta

    propagao transforma-a em algo tangvel e real para uma significativa

    parcela da populao. Entretanto, ela ainda reconhecida por exigir esforos de seu futuro apreciador (THISTLEWOOD, 2005, p. 115/116).

    Nesse texto o autor defende que a arte contempornea aquela que os nossos

    contemporneos esto fazendo e s depois de se tornar de mais fcil compreenso que vai se

    juntar arte moderna. Mas havia a ideia de que todos somos modernos, como afirmou Danto

    (2006).

    Esta era a posio adotada pelos tericos da arte: a arte feita por nossos

    contemporneos vai se incorporar arte moderna aps ter sido mais explicitada pelos crticos

    e absorvida pelo pblico.

    Danto (2006) fala sobre a diferena entre moderno e contemporneo esclarecendo:

    Da mesma forma que moderno no simplesmente um conceito temporal, significando, digamos, o mais recente, tampouco contemporneo um termo temporal, significando tudo o que esteja acontecendo no presente

    momento. [...] Por muito tempo, creio eu, arte contempornea teria sido apenas a arte moderna que est sendo feita agora. O moderno, apesar de tudo, implica uma diferena entre o agora e o ainda h pouco: a expresso no teria qualquer utilidade se as coisas permanecessem sempre e em ampla

    medida as mesmas. Isso implica uma estrutura histrica e tem um sentido mais forte do que o termo mais recente. Contemporneo, em seu sentido mais bvio, significa simplesmente o que est acontecendo agora: a arte

    contempornea seria a arte produzida por nossos contemporneos. [...] Mas como a histria da arte evoluiu internamente, a contempornea passou a

    significar uma arte produzida dentro de certa estrutura de produo jamais

    antes vista em toda a histria da arte creio eu (DANTO, 2006, p. 12).

    Realmente, usamos o termo moderno no sentido do que est acontecendo agora, que

    mais recente. Contemporneo tem a mesma significao. Como citado, se considerava que a

    arte contempornea a que est sendo praticada agora pelos nossos contemporneos. A arte

    moderna um rtulo que indica o perodo histrico que se inicia em meados do sculo XIX

    com a crise do academismo. Courbet e Manet na pintura seriam os primeiros modernos,

  • 26

    seguidos pelos impressionistas e simbolistas, por Czanne e Mallarm, pelos cubistas,

    surrealistas etc (COMPAGNON, 2010, p. 10).

    Sobre o mesmo assunto Belting (2012, p. 30) esclareceu que a modernidade vivia da

    oposio de dois modelos, que se voltavam ora para o futuro ora para a tradio, e por isso

    encontrava em si mesma uma resistncia necessria contra as suas prprias utopias.

    Belting est se referindo ao desejo da modernidade de inovao, novidade, mas logo

    se aceita essa novidade, que passa a se incorporar tradio. Em seguida vem a vanguarda,

    questionando a tradio que se instalou, desejando um futuro diferente.

    Lucie-Smith (2006, p. 6) diz que a arte da primeira metade do sculo XX tinha suas

    razes em uma rebelio contra as normas sociais, rebelio essa que passou a integrar o mito

    que os artistas das dcadas seguintes herdaram de seus predecessores.

    As vanguardas traziam novas formas de fazer a arte, rebelando-se contra o status quo.

    A ideia de progresso inerente narrativa histrica faz com que os artistas herdem o que j foi

    trabalhado pelos antecessores.

    Thistlewood (2005, p. 115) explica que insignificantes quantidades de informao a

    respeito da arte de vanguarda tero sido absorvidas pelo conhecimento do pblico, e esta a

    principal razo para a sua grande dificuldade de apreenso. Lembra ainda que a arte de

    vanguarda est envolvida na conquista de novos conceitos, na linha-de-frente da experincia

    esttica.

    Os autores esto se referindo s vanguardas que caracterizaram a arte da primeira

    metade do sculo XX. So os chamados ismos: expressionismo, construtivismo,

    suprematismo, futurismo, dadasmo, fauvismo, cubismo, surrealismo e abstracionismo.

    Ocorre que houve uma mudana, por volta das dcadas de 1960 e 1970, que s se

    tornou mais clara na dcada de 80, quando os tericos da arte passam a tratar sobre o fim da

    arte (DANTO, 2006) e o fim da histria da arte (BELTING, 2012).

  • 27

    Belting (2012) assim se manifesta sobre o fim da narrativa histrica na arte:

    Se a arte atinge seu objetivo no espelho de todos os gneros em que durante

    muito tempo dela foi realizada, agora possvel identificar o que move os

    nimos. Aqui o progresso, que sempre manteve as artes particulares vivas no prprio mdium, enfraquece como necessidade no sentido que deteve at

    agora. O progresso trocado pela palavra de ordem remake. Faamos

    novamente o que j foi feito. A nova verso no melhor, mas tambm no

    pior e, em todo caso, uma reflexo sobre a antiga verso que ela (ainda) no poderia empregar. Os gneros, que sempre ofereceram o enquadramento

    slido que a arte necessitava, se dissolvem. A histria da arte era um

    enquadramento de outro tipo, que fora escolhido para ver em perspectiva o acontecimento artstico. Por isso, o fim da histria da arte o fim de uma

    narrativa: ou porque a narrativa se transformou ou porque no h mais nada

    a narrar no sentido entendido at ento (BELTING, 2012, p. 46).

    V-se que Belting (2012) defende a ideia de que no mais possvel aplicar a

    narrativa histrica, como era feita, arte contempornea.

    Danto (2006, p. 12/13) explicita que da mesma forma que o moderno veio a denotar

    um estilo e mesmo um perodo o contemporneo designa o que acontece depois que no h

    mais perodos em alguma narrativa mestra da arte.

    O autor chama os estilos de arte de narrativa mestra da arte e entende que a arte

    contempornea no pode ser considerada como um estilo, pois designa o que acontece depois

    que os estilos acabaram.

    Danto (2006, p. 15) afirma que apesar do contemporneo se constituir de certa

    perspectiva em um perodo de desordem informativa tambm um perodo de impecvel

    liberdade esttica. Hoje no h mais qualquer limite histrico. Tudo permitido. Prossegue

    dizendo:

    (...) E os artistas, liberados do peso da histria, ficavam livres para fazer arte

    da maneira que desejassem, para quaisquer finalidades que desejassem ou

    mesmo sem nenhuma finalidade. Essa a marca da arte contempornea, e no para menos que, em contraste com o modernismo, no existe essa

    coisa de estilo contemporneo (DANTO, 2006, p. 18).

    Fica claro que no mais possvel pensar a arte contempornea como um estilo que

    enquadra todos os artistas em determinadas condies, mas assinala um novo perodo em que

    cada artista pode seguir sua prpria pesquisa.

  • 28

    Assim, neste trabalho vamos considerar a arte contempornea no s como a arte

    realizada na atualidade, por nossos contemporneos, mas como a que integra um novo

    conceito, com caractersticas prprias, diferentes da arte moderna.

    2.2 OS CINCO PARADOXOS DA MODERNIDADE

    Neste item nos referimos ao livro de Antoine Compagnon (2010) chamado Os cinco

    paradoxos da modernidade. Nele o autor lembra que se utiliza a expresso tradio moderna

    (The Modern Tradition) para

    (...) designar, do ponto de vista de sua esttica, o perodo histrico que se

    inicia em meados do sculo XIX com a crise do academismo. Baudelaire e

    Flaubert na literatura, Courbet e Manet na pintura seriam os primeiros modernos, seguidos pelos impressionistas e simbolistas, por Czanne e

    Mallarm, pelos cubistas e surrealistas etc (COMPAGNON, 2010, p. 10).

    Compagnon (2010) explicita o perodo histrico da tradio moderna que se ope

    tradio clssica, lembrando que a justaposio da tradio com o clssico aceitvel, j o

    termo moderno justaposto tradio evoca a traio da tradio.

    O autor est esclarecendo que durante muito tempo o moderno se ops ao tradicional.

    Moderno era o que rompia com a tradio. E o tradicional resistia modernizao. Assim, a

    juno das expresses formando tradio moderna constitui um paradoxo. Se cada gerao

    rompe com o passado, a prpria ruptura torna-se a tradio. Uma tradio de rompimentos e

    recomeos.

    Compagnon (2010, p. 11/12) lembra que a tradio moderna comeou com o

    nascimento do novo como valor e relaciona os cinco paradoxos que vai examinar: a

    superstio do novo, a religio do futuro, a mania terica, o apelo cultura de massa e a

    paixo da negao.

    O captulo 1 trata do prestgio do novo e nele Compagnon (2010, p. 26) diz que a

    modernidade , assim, conscincia do presente como presente, sem passado, nem futuro; ela

  • 29

    s tem relao com a eternidade. Ainda apresenta os traos da modernidade, a partir da

    opinio de Baudelaire sobre Guys, destacando: 1 o no acabado; 2 o fragmentrio; 3 a

    insignificncia ou a perda de sentido; e, 4 a autonomia, a reflexividade ou a circularidade.

    O captulo 2 trata da religio do futuro. Nele Compagnon (2010, p. 39) lembra que os

    primeiros modernos no procuravam o novo num presente voltado para o futuro e que

    carregara consigo a lei de seu prprio desaparecimento, mas no presente, enquanto presente.

    Esclarece que os primeiros modernos no imaginavam que representassem uma vanguarda.

    Sobre as vanguardas diz que deve-se distinguir duas vanguardas, uma poltica que quer, em

    suma, utilizar a arte para mudar o mundo e outra, esttica, que quer mudar a arte estimando

    que o mundo a seguir (2010, p. 43). O texto est apresentando a estrutura das vanguardas

    que olham para o futuro.

    No captulo 3, Compagnon (2010, p. 63) alude que um outro trao, tambm ele

    contraditrio, se liga, para ns, tradio moderna: seu terrorismo terico. Esclarece que os

    primeiros modernos como Baudelaire ou Manet, ou, ainda, Czanne o foram a despeito

    deles mesmos (...) eles no se viam como revolucionrios, nem como tericos. Lembra que

    havia vantagem em distinguir os valores do novo e do futuro, pois assim se separam, esttica

    e filosoficamente, duas noes muitas vezes confundidas: a modernidade e a vanguarda

    (COMPAGNON, 2010, p. 64). Trata da libertao da forma do contedo, da chegada ao

    abstracionismo e lembra que Kandinski, Mondrian e Malevitch chegaram abstrao por vias

    muito diferentes, mas todos sentiram a necessidade de justificar sua pintura atravs de uma

    teoria que a tornasse aceitvel aos olhos do pblico, assim como para eles mesmos

    (COMPAGNON, 2010, p. 70).

    Abstracionismo refere-se s formas de arte no regidas pela figurao e pela imitao

    do mundo. A decomposio da figura, a simplificao da forma, os novos usos da cor, o

  • 30

    descarte da perspectiva e a rejeio do uso convencional da sombra e luz, so traos

    recorrentes das diferentes orientaes abrigadas sob esse rtulo.

    No captulo 4, Compagnon assim formula o quarto paradoxo:

    (...) enquanto a tradio moderna, desde a metade do sculo XIX e,

    sobretudo, desde que as vanguardas histricas do incio do sculo XX

    reagiram contra a excluso da arte em relao vida moderna, contra a religio da arte, qualificada como burguesa, porque sacraliza o gnio e

    venera a originalidade na produo de um objeto nico, autnomo e eterno,

    essa mesma tradio, longe de alcanar a cultura de massa e a arte popular,

    se isolou, sem dvida cada vez mais, no universo do que se chama em ingls o connaisseurship, ou seja, o meio elitista e confinado dos museus e das

    universidades, da crtica e das galerias. A tradio moderna no aboliu, pois,

    a distino corrente em ingls entre o que se chama high e low art, a arte de elite e a arte de massa, a grande arte e a arte menor, o formalismo e o kitsch;

    paradoxalmente, ela reforou essa oposio at o aparecimento de formas

    como a arte pop, nos anos 60, encenando a morte da arte, quer dizer aproveitando o domnio do mercado para fazer a completa identificao

    entre as obras de arte e os bens de consumo. Ento, com efeito, a distino

    entre arte de elite e arte de massa se aboliu, mas a que preo

    (COMPAGNON, 2010, p. 85/86).

    Neste captulo refere-se trajetria de Pollock at o expressionismo abstrato e observa

    que o grande perodo de Pollock corresponde, justamente, rejeio da imagem e

    substituio mais exata do processo ao objeto (COMPAGNON, 2010, p. 92). Longe de se

    retirar da tela, Pollock fica nela. Com o expressionismo abstrato valoriza-se o processo no

    caso de Pollock praticamente uma performance. O autor apresenta tambm a arte pop e

    observa que ela abolia a distino entre arte de elite e arte de massa: a arte pop lucrou com o

    fim da arte (COMPAGNON, 2010, p. 95). Observa que a sociedade dos anos 60 exigia uma

    arte de consumo mais rpido no que foi atendida pela Pop arte. Ainda trata sobre Duchamp e

    compara-o com a pop arte. Conclui com a seguinte assertiva: a arte pop revelou a natureza

    elitista e esotrica da tradio moderna e desnudou a dependncia de toda arte para com o

    mercado (COMPAGNON, 2010, p. 103). Assim, a tradio moderna chegou ao pop, com

    um ceticismo radical em relao arte.

  • 31

    No captulo 5, tratando do quinto paradoxo a paixo da negao, introduz o tema da

    ps-modernidade, analisando a ps-modernidade na arquitetura, na literatura e na arte.

    Afirma:

    Se a modernidade foi a paixo do presente e a vanguarda uma aventura da

    historicidade, a intencionalidade ps-moderna, que recusa ser pensada em

    termos histricos, parece, pois menos hostil modernidade que vanguarda. A menos que se trata de sua variante cnica e comercial o ltimo avatar do kitsch , o ps-modernismo no se ope modernidade baudelairiana, ela prpria sempre trada pelo vanguardismo, mas idolatria do progresso e dos

    excessos, tpica das vanguardas histricas. No sem razo, alis, que a pintura contempornea, que serve de linguagem formal resultante do

    movimento moderno, mas no mais com esperana de que essa linguagem

    conduza onde quer que seja, chama-se ps-vanguarda (COMPAGNON, 2010, p. 121).

    O autor aduz que se deve distinguir entre o ps-modernismo americano dos anos 60 e

    o ps-modernismo generalizado dos anos 80. Este o texto que esclarece este tema:

    A arte ps-moderna do incio (Rauschenberg e Jasper Johns, na pintura e William Burroughs, na literatura) em reao contra o modernismo doravante

    integrado, ensinado nas universidades e instalado nos museus, representava

    ainda um movimento de vanguarda. [...] Os dois traos discordantes da

    vanguarda, o iconoclasmo e a utopia, estavam presentes, determinando uma nova etapa no questionamento da instituio artstica: o repdio ao museu,

    ltimo refgio, at mesmo para Duchamp, da arte de elite. O desejo de reunir

    a arte e a vida, o otimismo tecnolgico e a valorizao da cultura de massa, o projeto crtico, enfim, tudo isto concordava com a tradio vanguardista

    europia. O ps-modernismo, como vanguarda americana dos anos 60,

    conclui a aventura das vanguardas internacionais do sculo XX.

    (COMPAGNON, 2010, p. 121/122)

    O autor defende que o ps-modernismo dos anos 60 ainda era um movimento de

    vanguarda. A ltima manifestao das vanguardas internacionais.

    O ps-modernismo generalizado de aps 1970 muito diferente. Ele

    claramente ps-vanguardista, ou transvanguardista, (...) Tudo continuamente acessvel, dizem os transvanguardistas, sem mais categorias temporais e hierrquicas de presente e passado, tpicas da

    vanguarda que sempre viveu o tempo voltando-lhe as costas. A citao ainda a figura fundamental, mas no desempenha mais um papel crtico

    como na colagem cubista ou na montagem surrealista ou construtivista. A

    subjetividade do artista e o prazer do espectador so exaltados. O culto do

    inautntico triunfou sobre o da originalidade, e o ecletismo se exibe como superao, de modo a prevenir a acusao de neoacademismo

    (COMPAGNON, 2010, p. 122).

  • 32

    Agora estamos no ps-modernismo. O ps-modernismo resulta de uma crise de

    legitimidade dos ideais modernos de progresso, de razo e superao.

    Finaliza o captulo concluindo que haja um ps-modernismo conservador natural,

    mas no se deveria dissimular que a conscincia ps-moderna, refutando o historicismo e o

    dogma do progresso, retoma tambm as origens da modernidade (COMPAGNON, 2010, p.

    127/128).

    Compagnon (2010) defende que o ps-modernismo faz exatamente o que o moderno

    fazia, estabelece uma ruptura com o que lhe precedeu, o prprio modernismo.

    Compagnon (2010, p. 131) apresenta uma concluso onde diz que a arte alcanou a

    verdadeira autossuficincia, at ento proclamada, aboliu toda a fronteira entre o que

    aceitvel e o que no , suprimiu toda definio do objeto artstico.

    O autor diz que a liberdade do artista no lhe atribui mais responsabilidade social. E

    conclui que com a ps-modernidade recuperamos o atraso do pensamento em relao arte

    desde Baudelaire. (COMPAGNON, 2010, p. 132).

    A ps-modernidade no apenas uma crise a mais, o mais recente episdio de revolta

    do modernismo contra si mesmo, antes um desenlace. Com o fim da crena no progresso

    preciso achar uma maneira diferente de pensar as relaes entre a tradio e a inovao, a

    imitao e a originalidade.

    2.3 ARTE CONTEMPORNEA SEGUNDO ANNE CAUQUELIN

    Sobre a arte contempornea e sua distino da arte moderna recorremos ao texto de

    Anne Cauquelin (2005) que trata especificamente sobre este tema.

  • 33

    Cauquelin (2005, p. 14) afirma que h de fato um sistema da arte, e o conhecimento

    desse sistema que permite apreender o contedo das obras. Aduz que esse sistema, em seu

    estado contemporneo que vai apresentar no livro.

    Cauquelin (2005) observa que o divrcio entre a arte contempornea e seu pblico tem

    sido estudado sob trs ngulos de abordagem: 1 a noo de modernidade se a arte

    contempornea continuidade ou ruptura em relao arte moderna; 2 o mercado de arte

    discusso das funes e agentes envolvidos; e, 3 a recepo analisar onde a arte

    contempornea vista.

    A autora ainda esclarece: para ns, o passado, no que diz respeito arte, foi ontem,

    a arte que dizemos moderna e sobre a qual achamos que fazemos justas apreciaes, que

    reconhecemos como arte verdadeira bastante orgulhosos, por sinal, de possuir suficiente

    cultura para tal (CAUQUELIN, 2005, p. 19). Aduz que essa arte moderna que nos impede

    de ver a arte contempornea, pois nela queremos incluir as manifestaes atuais.

    Apresentamos uma tabela em que resumimos as caractersticas do sistema da arte

    apresentadas por Cauquelin (2005) relativamente arte moderna e arte contempornea.

    ARTE MODERNA ARTE CONTEMPORNEA

    Gosto pela novidade, recusa do passado

    qualificado de acadmico, posio ambivalente

    de uma arte ao mesmo tempo da moda (efmera) e substancial (a eternidade).

    As noes de originalidade, de concluso, de

    evoluo das formas ou de progresso em direo

    a um ideal no so mais aplicveis.

    Perodo econmico da era industrial com

    desenvolvimento para a sociedade de consumo

    Sociedade da comunicao

    REGIME DE CONSUMO

    O valor do progresso (cientfico, tcnico e na escala social) concorre para desenhar um

    modelo com posies claramente definidas:

    REDE

    Os diversos canais esto ligados entre si:

    telefonia, audiovisual ou informtica e

    inteligncia artificial. Os papis podem ser desempenhados por todos envolvidos nesta rede.

    Produtor: Artista O sistema aberto, funciona como uma rede, se

    espalha, inclusive por meios que no so considerados artsticos.

    Intermedirio: Marchand, crtico e curador.

    Consumidor: Colecionador e pblico em geral.

    A obra como produto e o pblico distanciado

    dela. A obra em uma instituio de arte, como

    um Museu, uma galeria ou uma universidade.

    Supe pblico de massa e tenta aes educativas, mas o pblico continua ausente.

    A arte democratizada. Muitas obras dependem

    da participao do pblico. A obra pode estar em

    todos os lugares, no museu, na rua, na internet. O

    pblico est confuso onde est a arte? Onde est o artista? H distanciamento.

  • 34

    A primeira distino aponta que as noes de originalidade, concluso, evoluo das

    formas ou de progresso em direo a um ideal no se aplicam mais.

    Em seguida, vemos que na arte contempornea estamos vivendo na sociedade da

    comunicao e no mais na era industrial, valorizando mais a informao e permitindo-se que

    os papis possam ser exercidos por qualquer dos envolvidos (artista, marchand, crtico,

    curador, colecionador ou pblico) enquanto antes os papis eram claramente definidos. Por

    fim, a arte democratizada, algumas at dependem da participao do pblico. Apesar da

    obra estar na rua, na Internet e poder ser encontrada em qualquer lugar, o pblico est

    confuso. H distanciamento do pblico.

    Cauquelin (2005, p. 161) agrupou assim as constataes: a arte contempornea mal

    apreendida pelo pblico, que se perde em meio aos diferentes tipos de atividade artstica mas

    , contudo, incitado a consider-la um elemento indispensvel sua integrao na sociedade

    atual.

    A autora explica que em uma sociedade de comunicao, a criao artstica a

    atividade mais requisitada e possivelmente a nica capaz de assegurar o funcionamento das

    redes em seu aspecto exclusivo de redes.

    Assim compreendemos que h diferenas cruciais entre o sistema que abrangia a arte

    moderna e o atual que rege a arte na contemporaneidade, especialmente por causa da mudana

    de sociedade industrial para sociedade de comunicao.

    2.4 CARACTERSTICAS DA ARTE CONTEMPORNEA

    Como vimos at aqui, houve uma alterao no sistema da arte por volta da metade do

    sculo XX (CHIPP, 1996) ou por volta da dcada de 60/70 (DANTO, 2006 e BELTING,

  • 35

    2012) ou, ainda, por volta da dcada de 80 (COMPAGNON, 2010). O que importa que

    estamos agora na arte contempornea e no mais na arte moderna.

    De imediato preciso lembrar que no h mais estilos, como afirmou Danto (2006).

    Agora cada artista est realizando sua prpria pesquisa, de acordo com seus prprios desejos,

    livre para fazer o que entender melhor, sem ser obrigado a atender a nenhuma norma imposta

    por motivos inexplicveis. Determinadas condies so prprias do contemporneo, como

    instalaes22

    , happening23

    , performance24

    e intervenes urbanas25

    que so inerentes arte

    contempornea e a perspectiva de onde se pode ver a obra.

    Lucie-Smith (2006) lembra que os artistas, que sempre foram fascinados pela

    tecnologia, esto com a ateno voltada para a fotografia, imagens digitalizadas, vdeo e

    filme, que por sua vez, apresentam-se vinculados a vrias formas de arte ambiental e de

    instalao. Aduz que o que isso quer dizer que, alm de no haver meios de expresso

    22

    Segundo a Enciclopdia Ita Cultural o termo instalao incorporado ao vocabulrio das artes visuais na dcada de 1960, designando assemblage ou ambiente construdo em espaos de galerias e museus. (...) Para a apreenso da obra preciso percorr-la, passar entre suas dobras e aberturas, ou

    simplesmente caminhar pelas veredas e trilhas que ela constri por meio da disposio das peas,

    cores e objetos. Disponvel em http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_

    verbete=3648, acesso em 19/12/2012. 23

    Segundo a Enciclopdia Ita Cultural o termo happening criado no fim dos anos 1950 pelo americano Allan Kaprow para designar uma forma de arte que combina artes visuais e um teatro sui

    generis, sem texto nem representao. Nos espetculos, distintos materiais e elementos so orquestrados de forma a aproximar o espectador, fazendo-o participar da cena proposta pelo artista

    (nesse sentido, o happening se distingue da performance, na qual no h participao do pblico). Disponvel em

    http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=3647, acesso em 19/12/2012. 24

    Segundo a Enciclopdia Ita Cultural Performance Forma de arte que combina elementos do teatro, das artes visuais e da msica. Nesse sentido, a performance liga-se ao happening (os dois

    termos aparecem em diversas ocasies como sinnimos), sendo que neste o espectador participa da

    cena proposta pelo artista, enquanto na performance, de modo geral, no h participao do pblico. Disponvel em

    http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_

    verbete=3646, acesso em 19/12/2012. 25

    Segundo a Enciclopdia Ita Cultural como prtica artstica no espao urbano, a interveno pode ser considerada uma vertente da arte urbana, ambiental ou pblica, direcionada a interferir sobre uma dada situao para promover alguma transformao ou reao, no plano fsico, intelectual ou sensorial.

    Trabalhos de interveno podem ocorrer em reas externas ou no interior de edifcios. Disponvel em http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=8882, acesso em 19/12/2012.

  • 36

    artstica especialmente privilegiados, a escolha deste ou daquele meio especfico no tem a

    menor importncia (LUCIE-SMITH, 2006, p. 3).

    Assim, no mais se fala em pintura e escultura. Na arte contempornea tem pintura,

    tem escultura, tem obras tridimensionais, tem instalaes, tem vdeo, tem fotografia, tem

    qualquer coisa com que o artista resolva trabalhar na sua pesquisa.

    Lucie-Smith (2006) lembra que a arte contempornea adotou o efmero, que nas

    ltimas dcadas do sculo XX, o que se denominava arte contempornea passou a ser

    genuinamente universal (LUCIE-SMITH, 2006, p. 4). Observa que universal no

    uniformidade, pois cada cultura tendeu a mesclar seus prprios elementos locais com outros.

    A combinao dos dois itens anteriores permite dizer que tambm prprio do

    contemporneo o uso de qualquer material, que costuma-se chamar de novos materiais.

    Belting (2012, p. 122) lembra que a arte universal que pertence a todos e a ningum,

    no institui nenhuma identidade, pois esta nasce apenas do sentimento de pertencimento,

    assim a chamada arte universal s adequada para uma cultura que possui uma histria

    comum, mas as minorias no se sentem representadas corretamente em sua prpria cultura, a

    qual no mais percebida por elas no interior de uma histria comum.

    claro que as minorias no se sentem representadas pela arte da classe dominante. Por

    isso cada vez mais se vem obras que pretendem dar visibilidade ao que no se via: situao

    da mulher, questes de gnero (masculino/feminino/homossexualismo), etc.

    O mesmo autor (2012) assim se manifesta sobre as manifestaes artsticas que

    defendem uma causa:

    (...) Atualmente mais importante diante do que o artista toma posio do

    que a forma como o faz. Entraram em voga hoje aqueles artistas que

    assumem uma posio (adressissues) diante do racismo, do sexismo e da Aids, surgindo assim uma relao secreta entre a censura do lado

    conservador e a autocensura no meio artstico (BELTING, 2012, p. 93/94).

  • 37

    Alm de se posicionar quanto a assuntos da ordem da contemporaneidade, como os

    citados no texto, o mais importante aquilo que j comentamos, no importa mais a forma

    como o faz. O artista est livre para utilizar o que entender conveniente para fazer a sua obra.

    Vrios temas so utilizados pelos artistas na contemporaneidade. Ktia Canton (2009)

    publicou uma coleo de pequenos livros com o ttulo Temas da arte contempornea onde

    declara que em vez de trabalhar com movimentos e datas, nesta coleo apresentamos uma

    viso panormica da arte contempornea a partir de temas como as narrativas enviesadas, o

    tempo e a memria, o corpo, a identidade e o erotismo, o espao, as micropolticas

    (CANTON, 2009, p. 49).

    interessante ver os temas escolhidos pela professora. Todos esto fortemente

    ligados contemporaneidade.

    Segundo Archer (2012), depois dos anos sessenta, houve uma diluio do sistema de

    classificao e ampliou-se muito o espectro das articulaes artsticas. O interesse pelo

    corriqueiro, o acaso, a conquista do espao e da luz, os aspectos desanimadores da vida, o tom

    cido das crticas e ironias ao social, as renncias formais e pictricas, o reconhecimento do

    monocromtico, do mnimo, do impessoal, do biogrfico, dos objetos apropriados do

    cotidiano ou modificados, seriam algumas das muitas possibilidades que viriam superar as

    propostas modernistas. Neste campo expandido

    A consequncia do afrouxamento das categorias e do desmantelamento das

    fronteiras interdisciplinares foi uma dcada, da metade dos anos 60 a meados

    dos anos 70 em que a arte assumiu muitas formas e nomes diferentes: Conceitual, Arte Povera, Processo, Anti-forma, Land, Ambiental, Body,

    Performance e Poltica (...) houve tambm uma crescente facilidade de

    acesso e uso das tecnologias de comunicao: no apenas a fotografia e o filme, mas tambm o som com a introduo do cassete de udio e a disponibilidade mais ampla de equipamento de gravao e o vdeo, seguindo o aparecimento no mercado das primeiras cmaras padronizadas

    individuais (ARCHER, 2012, p.61).

    Reala assim, as novas tecnologias que colocadas ao alcance do pblico no podem

    deixar de interessar ao mundo da arte, que se aproveita desses novos meios e os explora para

  • 38

    novas criaes. A tecnologia no pra de trazer novidades, mais memria, mais pixels, mais

    capacidade de transmisso, telas de alta qualidade que podem ser penduradas em qualquer

    parede, enfim, temos um mundo tecnolgico a ser explorado.

    Podemos ainda lembrar vrios temas: o atravessamento do tempo (eu vi os olhos que

    viram...); o estranhamento; as produes de cunho ertico e/ou psicolgico; a utilizao de

    avanos da cincia; a desconstruo de imagens; questes de espao-tempo; o abjeto, exibio

    de fludos; a exposio do invisvel; a documentao, vida privada, fotos e dirios pessoais;

    carter autobiogrfico; congelamento do movimento; fragmentos que no se vem

    normalmente; abordagem etnogrfica; abordagem de gnero; carter ritualstico; efemeridade;

    trabalhar a memria; habitar a obra; trnsito entre a imagem e o texto; instalaes sonoras;

    apropriaes; deslocamentos; citao; retomada da figurao; fazer discurso com a obra;

    utilizao de luzes, vdeo e som; presena x ausncia; trabalhar conceitos; simulacro;

    tridimensionalidade; autorretratos contemporneos; suspenso do tempo; lugar e no-lugar;

    fetiche; cotidiano; objetos perdidos/encontrados; percursos; radicalizao do corpo como

    suporte; crtica de circuitos (poltica institucional); ao poltica e etc.

    Neste item relacionamos vrias das caractersticas e dos temas que encontramos na

    arte contempornea. Compreendemos que h condies que so prprias da arte

    contempornea como a inexistncia de estilos, as instalaes, a perspectiva de onde se v a

    obra, a inexistncia de meios privilegiados e a importncia de novas tecnologias.

    Tambm vimos que a arte contempornea tem um vis universal, mas isso no impede

    que as minorias expressem seus prprios problemas, memrias, anseios, etc. Por fim, vimos

    que as obras de arte na contemporaneidade tem um nmero infindvel de temas sobre os quais

    o artista pode se debruar para atingir sua finalidade.

    Neste captulo analisamos a transio da arte moderna para a atualidade examinando

    as ideias de que a arte acabou, de que a histria da arte acabou e ainda de que a arte moderna

  • 39

    ainda no acabou. Ficamos com a posio de a arte contempornea tem condies e

    caractersticas prprias que a distinguem da arte moderna.

    Pensamos sobre os cinco paradoxos da modernidade apresentados por Antoine

    Compagnon (2010) que aprecia caractersticas que se desencadeiam durante a modernidade e

    vo at a ps-modernidade e comparamos os sistemas da arte moderna e da arte

    contempornea, seguindo o esquema traado por Anne Cauquelin (2005).

    Procuramos relacionar caractersticas das obras da contemporaneidade, concluindo

    que no h mais estilos, que a instalao, o happening, a performance e a interveno urbana

    so inerentes arte contempornea, que no existe mais nenhum meio privilegiado e que h

    uma perspectiva de onde se pode ver a obra.

  • 3 ORIGAMI NA ARTE CONTEMPORNEA

    Neste captulo examinamos quais as caractersticas que pensamos ser aplicveis s

    obras realizadas com a utilizao do origami e focamos as obras realizadas com a utilizao

    do origami, agrupadas em trs conjuntos.

    No primeiro conjunto examinamos exposies que os artista fizeram com obras

    tridimensionais realizadas com origami.

    No segundo conjunto apreciamos instalaes feitas com emprego de origamis, simples

    ou modulares, e em quantidade significativa para permitir adequada visibilidade obra.

    No terceiro conjunto vemos a obra da artista brasileira Rivane Neuenschwander, que

    utilizou um determinado origami para compor a referida obra.

    Nesse exame relacionamos as caractersticas da arte contempornea presentes nessas

    obras.

    3.1 ARTE CONTEMPORNEA E O ORIGAMI

    Neste item examinamos quais as caractersticas que pensamos ser aplicveis s obras

    realizadas com a utilizao do origami.

    De imediato temos que pensar que uma linguagem tradicional que representa um

    aspecto importante da cultura japonesa.

    A linguagem incorpora um conjunto de significaes que lhe so prprias. O

    significado33

    do tsuru34

    , da tartaruga35

    , do sapo36

    , da borboleta37

    , so aspectos da cultura

    japonesa que so difundidos junto com o origami.

    33

    Significados disponveis em http://www.comofazerorigami.com.br/historia/, acesso em 08/11/2012. 34

    O tsuru o smbolo da boa sorte, felicidade e sade. 35

    A tartaruga significa longevidade.

  • 41

    Assim, com a utilizao da linguagem origami est presente um desdobramento

    etnogrfico, com a apropriao de uma tradio exgena.

    Como j salientamos, no h meios de expresso privilegiados. Assim, a linguagem do

    origami pode ser utilizada sem maiores problemas. Alm disso, a arte contempornea adotou

    o efmero, tanto na prpria obra (instalaes e performances) quanto nos materiais. Assim, os

    papis, cuja durao bastante limitada se comparada a materiais tradicionais, esto

    compreendidos nessa efemeridade.

    Nas obras realizadas com origami, notamos que, em geral, elas tendem a ser

    tridimensionais, espalhando-se pelo espao, tanto ocupando-o como criando o vazio entre

    seus elementos, para aprofundar a relao da obra com o espao.

    Outra caracterstica presente nas obras elaboradas com origami a relevncia do fazer.

    A linguagem exige uma atividade manual para a realizao dos origamis. Cada origami tem

    que ser dobrado mo, ainda que haja auxlio na confeco dos modelos. H casos em que o

    artista apresenta a obra informando quantas dobras foram feitas para a sua realizao. Assim,

    h uma manualidade que se impe.

    H uma ideia subjacente ao origami de que em sua confeco pode-se desejar algo,

    que esse desejo ser atendido de alguma forma. Por esse motivo temos a relevncia dada ao

    tema dos 1.000 tsurus. Trata-se de uma lenda em que a pessoa que fizer 1.000 tsurus, com

    um firme propsito, ser atendida.

    Essa lenda passou a ser mais difundida depois da morte de uma menina que, nascida

    em Hiroshima, tinha dois anos de idade quando houve a exploso da bomba atmica e

    sobreviveu exploso, mas acabou falecendo de cncer, 10 anos depois da exploso, quando

    tinha 12 anos de idade. Em razo dela, se construiu um Monumento das Crianas Paz e

    36

    O sapo representa o amor e a fertilidade. 37

    Utilizada nos casamentos representando a unio dos noivos smbolo de uma nova vida.

  • 42

    para l so enviados muitos conjuntos de 1.000 tsurus, dobrados por vrias pessoas. Essa

    histria est disponvel em vrios endereos da Internet38

    .

    Figura 6 - Monumento das Crianas Paz. Hiroshima, Japo.39

    As dobras acabam tendo um carter ritualstico, pois conforme se fazem as dobras e se

    deseja alguma coisa, acredita-se que tal coisa ser conseguida.

    Assim, conclumos que as obras com origami tendem a apresentar as seguintes

    caractersticas, que so decorrentes da prpria linguagem: desdobramento etnogrfico com

    apropriao da tradio, efemeridade relativamente ao material, tridimensionalidade,

    manualidade e carter ritualstico.

    A utilizao de material efmero, a tridimensionalidade e a apropriao so

    caractersticas da arte contempornea, o que por si s j encaixa essas obras no conjunto da

    arte contempornea.

    38

    Considero este o endereo da Internet em que a histria de Sadako Sasaki est melhor apresentada:

    http://www.asiashop.com.br/custom.asp?IDLoja=7773&arq=Origami_Tsuru.html. 39

    O Monumento das Crianas Paz foi inaugurado em maio de 1958. A imagem est disponvel em http://www.hiroshima-is.ac.jp/index.php?page=sadako-story, acesso em 07/11/2012.

  • 43

    3.2 OBRAS TRIDIMENSIONAIS COM ORIGAMI

    Vamos examinar primeiro obras tridimensionais feitas com papel dos seguintes

    artistas: Tomoko Fuse, Shipo Mabona, Robert Lang, Romn Dias e Vick Muniz.

    3.2.1 Tomoko Fuse

    A foto a seguir de uma exposio de Tomoko Fuse40

    realizada na Galeria de

    Origami, em Freising, na Alemanha, em 2009.

    Figura 7 - Tomoko Fuse. Exposio Yorokobi (Grande alegria). 2009.41

    Nesta exposio, a origamista apresenta basicamente dois tipos de origami: um

    conjunto em forma de slidos geomtricos e outro constituindo espirais que se sustentam

    penduradas ou no em um suporte.

    40

    Tomoko Fuse japonesa, formada em biologia, mas vem se dedicando h muitos anos ao origami.

    Possui mais de 70 livros publicados sobre origami, em japons. Vrios de seus livros foram traduzidos

    para ingls, francs, italiano e russo. J visitou o Brasil duas vezes, para eventos ligados ao origami,

    sendo que a segunda vez veio para um evento que foi realizado em Braslia, em 2010. 41

    Exposio de origami de Tomoko Fuse. Galeria de Origami em Freising, Alemanha. Imagem disponvel em http://www.origami-galerie.de/yorokobi/index.htm, acesso em 20/09/2012.

  • 44

    Figura 8 - Tomoko Fuse. Origamis da Exposio Yorokobi (Grande alegria). 2009.42

    Como podemos ver, so peas com aparente simplicidade. Para o pblico mais

    informado sobre o origami e a artista, o impacto ainda maior pois a origamista trabalha seus

    origamis que formam slidos geomtricos juntando, geralmente, 30 mdulos de papel, que

    so montados com o emprego de um sistema de travamento composto por abas e bolsos, sem

    uso de cortes ou cola, e, apesar disso, sua peas no se desmontam.

    Quanto s espirais, vemos sua presena em origamis cujo formato mais geomtrico e

    tambm em peas mais orgnicas, como o caramujo e a concha marinha. As espirais, que tm

    significado simblico de elevao, tanto se apresentam sustentadas por um suporte quanto se

    elevam sem outro apoio que no o das prprias dobras.

    O papel escolhido em razo do tipo de dobra que ser realizada, tem gramatura variada

    e mostra a tcnica apurada da origamista. As cores tambm so uma nota marcante nesta

    exposio.

    Como vimos no captulo anterior esto presentes as caractersticas dadas pela prpria

    linguagem: desdobramento etnogrfico com apropriao da tradio, efemeridade

    relativamente ao material, tridimensionalidade e manualidade.

    42

    Tomoko Fuse. Origamis na Galeria de Origami em Freising, Alemanha. Imagem disponvel em http://www.origami-galerie.de/yorokobi/index.htm, acesso em 20/09/2012.

  • 45

    3.2.2 Sipho Mabona

    Sipho Mabona43

    identifica seus origamis como esculturas em papel. Fez vrias

    exposies e vende suas esculturas por intermdio da Internet. Tem modelos utilizados em

    propaganda.

    Alm da criao de modelos muito detalhados em origami, com os quais faz as

    instalaes, pode-se ver vrios vdeos com animaes feitas com papel na sua pgina na

    Internet.44

    Para esta monografia escolhi duas instalaes: um cardume de carpas e uma revoada

    de gafanhotos.

    Figura 9 - Shipo Mabona. Peace ful Koi. 2009.45

    43

    Nasceu e foi criado na Sua. Sua me sua e o pai Sul Africano. 44

    http://www.mabonaorigami.com/de/videos/origami-rhino-unfolding.html 45

    Cada carpa tem 18 x 22 cm. Imagem disponvel em http://www.mabonaorigami.com/en/galleries /installations.html, acesso em 20/09/2012.

  • 46

    Escolhi esta instalao pela modulao na cor e disposio dos origamis. Este modelo

    de carpa uma de suas criaes em origami. As esculturas possuem um mecanismo especial

    para suspenso no espao. As carpas so elaboradas com papel de aquarela previamente

    pintado com tinta acrlica na cor escolhida.46

    O artista costuma instalar este modelo como um

    cardume prximo a alguma parede. Alm do peixe ter semelhana com o natural, a

    montagem em conjunto das carpas apresenta dinamismo. A colocao de um cardume de

    carpas contra a parede pode causar certo estranhamento pois o cardume de peixes est

    nadando no ar.

    A outra obra que vamos apresentar foi chamada de Praga. Trata-se de uma instalao

    que se compe de vrios origamis de gafanhotos, formando uma revoada.

    Figura 10 - Shipo Mabona. Instalao Plague (Praga). 2012.47

    A instalao da revoada de gafanhotos tem como caractersticas:

    compe-se de muitos origamis do mesmo modelo colocados em formato de revoada;

    46

    Informaes retiradas do seguinte endereo: http://www.etsy.com/listing/77988613/colored-koi-

    installation. 47

    Revoada de Gafanhotos com Nota de Dlar. Japanese American National Museum, de Los Angeles.

    Imagem disponvel em http://www.yatzer.com/assets/Article/2865/images/Mabona-Origami-yatzer-3.jpg.

  • 47

    a revoada causa sensaes contraditrias. Enquanto plasticamente variada e com

    dinamismo, evoca a destruio que um conjunto de gafanhotos pode causar numa

    regio;

    os gafanhotos foram dobrados com notas de dlar americano numa clara referncia

    hegemonia americana, que engole as economias dos demais pases.

    O prprio artista declarou sobre sua instalao48

    :

    Dinheiro o nosso principal significante de ambio e perdio. O dinheiro

    deixou de ser um meio fundamental de cmbio pra ser um meio de

    explorao: uma nuvem colossal de dinheiro quente vibra acima da

    economia global, quase como um enxame bblico de gafanhotos. Assim, o dinheiro a nossa desgraa. No entanto, o dinheiro por si s, quando se olha

    para algo to simples como uma nota de dlar, sempre mantm a sua

    capacidade bsica para funcionar como uma unidade pragmtica de contabilizao de bens e servios. Portanto, o dinheiro tambm uma

    bno.

    A instalao tem um carter de crtica poltica, olhando para a economia mundial e

    colocando os Estados Unidos no foco da discusso, em razo da utilizao da nota de dlar

    americano para realizar os gafanhotos.

    As obras apresentadas deste artista, tm as caractersticas da utilizao de material

    efmero, da manualidade, da tridimensionalidade, da ritualizao e da perspectiva etnogrfica,

    com apropriao de uma tradio exgena a que j nos referimos no captulo anterior e mais a

    de crtica poltica.

    3.2.3 Robert Lang

    Robert Lang49

    j foi citado neste trabalho em razo da palestra sobre a utilizao de

    solues baseadas no origami. Como j visto, o artista consegue representar qualquer coisa

    num papel quadrado com auxlio de um programa de computador desenvolvido por ele.

    48

    Texto disponvel em http://cascoobjetos.com.br/sipho-mabona-faz-enxame-de-origamis-em-dolar/, acesso em 30/10/2012.

  • 48

    Alm das exposies de origamis que criou, tem peas utilizadas em propagandas.

    Para representar a obra de Lang, embora ele tenha muitos modelos, escolhi o origami a seguir

    que feito com uma nica folha de papel, sem cortes.

    Figura 11 - Robert Lang. Viking Ship, opus 121. 1989.50

    Esse modelo de barco viking bastante impressionante pois o autor consegue dobr-lo

    com uma nica folha de papel e criar 12 pontas. Alm disso, ainda tem a cabea e vrios

    detalhes no corpo do navio. Esse modelo foi publicado por Robert Lang em um livro51 de

    1988, permitindo que outros origamistas possam reproduzir a sua criao.

    Este trabalho apresenta as caractersticas j salientadas no captulo anterior de

    utilizao de material efmero, da manualidade, da tridimensionalidade e perspectiva

    etnogrfica com apropriao de uma tradio exgena, decorrentes da prpria linguagem do

    origami.

    49

    Ele fsico e tem atuao em diversas frentes. Usa seu conhecimento de origami para solues

    como a dobragem do telescpio para ser levado ao espao e desdobrado aps sair do foguete que o transportou. Tambm tem obras utilizadas em propaganda. 50

    7 polegadas (17,78 cm). Imagem disponvel em http://www.langorigami.com/art/gallery/gallery.php ?tag=objects&name=viking_ship, acesso em 20/09/2012. 51

    The complete book of origami, com 37 modelos.

  • 49

    3.2.4 Romn Diaz

    Romn Diaz52

    tambm um criador de origami de extraordinria competncia. Tem

    livros publicados tanto de origami complexo, como de modelos mais simples.

    Embora tenha criado vrios origamis, dos quais acho que o mais difundido no Brasil

    um modelo de gato que aproveita a sobra da folha de papel A4, quando dela se retira um

    quadrado, preferi apresentar o origami peixinho dourado (Goldfish) porque considero que

    esse modelo mostra uma nova gerao do origami, sendo um modelo limpo mas que

    representa perfeitamente o que se deseja.

    Figura 12 - Romn Diaz. Goldfish. 2009.53

    Como vemos, realmente um peixinho dourado. O modelo parece simples e tem

    formas arredondadas que do sensao de leveza. O prprio autor54

    disse que as escamas so

    apenas marcas de dobras, pois ele no quer complicar o modelo incorporando escamas. Ele

    entende que essas marcas funcionam muito bem e assim o modelo definitivamente adequado

    para todas as faixas etrias.

    52

    Romn Diaz uruguaio e mora em Montevido. 53

    Imagem disponvel em http://dosisdiaria.blogspot.com.br/2009/04/apto-todo-publico.html, acesso

    em 20/09/2012. 54

    Comentrios no blog do autor em http://dosisdia