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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação
O uso de Sistemas de Informação e Gestão do Conhecimento na Gestão
de desastres
Álvaro Luiz Paulini de Almeida Mello
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O uso dos Sistemas de Informação e Gestão do Conhecimento na Gestão de desastres
Álvaro Luiz Paulini de Almeida Mello
Orientador: João Porto de Albuquerque Pereira
Monografia de conclusão de curso apresentada ao
Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação –
ICMC-USP - para obtenção do título de Bacharel em
Ciências de Computação.
Área de Concentração: Sistemas de Informação
USP – São Carlos Novembro de 2011
i
ii
Posso não concordar com
nenhuma das palavras que
você disser, mas defenderei até
a morte o direito de você dizê-
las.
Voltaire
iii
Dedicatória
Dedico esse trabalho a pessoa mais importante da minha vida, que sempre foi o meu
exemplo para tudo, que foi meu pai e minha mãe ao mesmo tempo, sem ela não estaria aonde
estou. Obrigado Mãe por me apoiar em todas as minhas jornadas por mais que pareçam
impossíveis.
iv
Agradecimentos
Agradeço aos meus amigos Caio, Flávio, André e Eduardo que me deram apoio,
paciência e boa vontade durante o tempo de confecção desse trabalho. Agradeço ao professor
João Porto por ter me dado orientação e oportunidade de desenvolver um trabalho relevante
porém voltado à áreas humanas da computação.
E em especial gostaria de agradecer à minha namorada Vanessa, por ter lido e relido
esse trabalho, e ter me apoiado nos momentos mais excruciantes e cansativos
v
Resumo
O objetivo principal desse estudo baseia-se na análise, através de um estudo de caso da Defesa
Civil de Piracicaba no estado de São Paulo, do funcionamento dos processos, desde o
monitoramento do rio (previsão do tempo e nível do rio), a retirada das famílias que habitam
áreas de risco, fechamento de vias e a recuperação (limpeza das áreas de risco afetadas) após a
ocorrência de uma enchente. Para tal levantamento foram revisados conceitos de Gestão de
Desastres, com o fim de se conhecer a necessidade da padronização dos planos de emergência
e os termos usados, Sistemas de Informação para contextualizar o seu uso e vantagens e pôr
fim a Gestão do Conhecimento explicitando a importância de se manter o conhecimento dentro
de uma dada organização.
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Sumário
LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................... VIII
LISTA DE SÍMBOLOS ............................................................................................ IX
LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................................. XI
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................... XII
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO .................................................................................. 1
1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO E MOTIVAÇÃO ................................................................ 1
1.2. OBJETIVOS ........................................................................................................ 3
1.3. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .............................................................................. 4
CAPÍTULO 2: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................... 5
2.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ...................................................................................... 5
2.2. GERENCIAMENTO DE PROCESSOS DE NEGÓCIOS (BPM – BUSINESS PROCESS
MANAGEMENT) ........................................................................................................................ 5
2.3. NOTAÇÃO DE MODELAGEM DE PROCESSOS DE NEGÓCIOS (BPMN – BUSINESS
PROCESS MODELING NOTATION) ............................................................................................. 7
2.4. GESTÃO DO CONHECIMENTO ................................................................................. 8
2.5. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO ................................................................................. 10
2.6. GESTÃO DE DESASTRES ....................................................................................... 13
2.7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 14
CAPÍTULO 3: DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO ................................... 16
3.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS .................................................................................... 16
3.2. SISTEMAS DE GESTÃO DE DESASTRES ................................................................. 16
3.3. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES REALIZADAS ......................................................... 16
3.3.1. Estudo de caso ............................................................................................. 17
3.3.2. Modelagem dos Processos ........................................................................... 19
vii
3.4. RESULTADOS OBTIDOS ........................................................................................ 20
3.5. DIFICULDADES, LIMITAÇÕES E TRABALHOS FUTUROS ........................................ 25
3.6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 26
CAPÍTULO 4: CONCLUSÃO .................................................................................. 29
4.1. CONTRIBUIÇÕES .................................................................................................. 30
4.2. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CURSO DE GRADUAÇÃO ............................................. 30
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 32
APÊNDICE A – PERGUNTAS DA ENTREVISTA ............................................... 34
APÊNDICE B – GLOSSÁRIO DA MODELAGEM ............................................... 36
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Lista de Abreviaturas
DC …………………………. Defesa Civil
GD ………………………… Gestão de Desastres
GC …………………………. Gestão do Conhecimento
SI …………………………... Sistemas de Informação
BPM ……………………...... Business Process Management
BPMN ……………………... Business Process Model Notation
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Lista de Símbolos
Figura Nome Significado
Task
Uma atividade simples
usado quando o processo
não pode ser representado
com um maior nível de
detalhamento
Gateway
Elementos usados para
controlar a divergência e
convergência do fluxo, ou
seja, separar ou juntar o
fluxo
Message Flow
Usado para mostrar o fluxo
das mensagens entre duas
ou mais entidades ou
processos.
Message Start Event
Indica que uma mensagem
pode ser enviada ou
recebida.
Pool É um container de um
processo único.
Sequence Flow Representa o controle do
fluxo e a sequência das
atividades.
x
Sub-process
É uma atividade composta,
cujos detalhes internos são
definidos como fluxos de
outras atividades.
xi
Lista de Gráficos
Gráfico 1: Enchentes no Brasil de 1948 à 2011 …………………………... 2
xii
Lista de Figuras
Figura 1 - Visão sistêmica dos processos ....................................................................... 6
Figura 2 - Hierarquia da Informação ............................................................................ 12
Figura 3 - Ciclo da Gestão de Desastres ....................................................................... 13
Figura 4 - Plano de prevenção de enchentes ................................................................ 21
Figura 5 - Processo de retirada das famílias das áreas de risco .................................... 23
Figura 6 - Processo de recuperação .............................................................................. 25
Figura 7– Medição dos pluviô metros de Itajaí ............................................................ 27
Figura 8 – Sistema de monitoramento remoto do nível dos rios de Itajaí .................... 28
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CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO
1.1. Contextualização e Motivação
A Defesa Civil do Brasil foi criada em meados da década de 1940 logo após o
naufrágio na costa brasileira dos navios Arara e Itagiba, e também motivada pela
participação do país na Segunda Guerra Mundial. Apesar de possuir mais de 60 anos de
existência, [1], este órgão foi regularizado pela primeira vez em 17 de fevereiro de 2005
pelo decreto 5.376/2005 que foi alterado novamente em 4 de agosto de 2010 pelo decreto
7.257/2012. Esse órgão nasceu com o intuito de prevenir desastres ou minimizar seus efeitos
e melhorar a coordenação entre os órgãos públicos e a integração com a sociedade.
Um desastre pode ser causado pelo homem ou ser origem natural. De acordo com
Soriano (p.1, 2009):
Um desastre é caracterizado por um evento que causa a interrupção
repentina da “normalidade” anterior socialmente estabelecida, são caracterizados
por eventos adversos que proporcionam impactos negativos tanto físicos quanto
sociais nas comunidades atingidas. Segundo a Defesa Civil, um desastre é um
evento danoso capaz de superar a capacidade de resposta da comunidade afetada.
No Brasil, segundo Santos (2007), os desastres mais comuns são os desastres
relacionados aos fenômenos climáticos, que são potencializados pela ação do homem. Um
exemplo de desastre comum e que afeta milhares de famílias por ano são as enchentes.
Nos últimos anos o número de desastres naturais que ocorrem no Brasil, aumentou
drasticamente. De acordo com os dados do EM-DAT (2012), ocorreram 200 desastres
registrados entre 1948 e 2012, dos quais 115, o que representa mais da metade com 57,5%
do total, são enchentes. Desse total de enchentes registradas no Brasil, a grande maioria (99
das 115) enchentes ocorreram depois da década de 1970, o que indica um aumento
acentuado do acontecimento desses tipos de eventos nos últimos 30 anos, como pode ser
visto no Gráfico 1.
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Gráfico 1 - Enchentes no Brasil de 1948 à 2011
Fonte: EM-DAT (2012)
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Segundo Almeida e Pascoalino (2008), percebe-se, por um conjunto de fatores, que
o Brasil não possui uma cultura de risco e não desenvolve gestão de riscos, mas gestão de
crise. Ou seja, não se vê no Brasil uma preocupação maior em evitar os desastres, apenas
em mitigar os danos pós desastres.
1.2. Objetivos
O objetivo principal desse trabalho é propor técnicas de Gestão do Conhecimento e
Sistemas de Informação que possam auxiliar a Defesa Civil no Brasil a formalizar e otimizar
seus processos, a fim de apoiar a tomada de decisões quando ocorrem enchentes, ou seja,
com o conhecimento adquirido em eventos anteriores com o apoio de Sistemas de
Informação as Defesas Civis terem uma ideia melhor de quais as dimensões que uma
enchente pode ter, e saber por exemplo quais áreas de risco devem ser evacuadas primeiro.
Para atingir este objetivo foram estudados: a Gestão de Desastres, para conhecer os
ciclos que ocorrem durante um desastre e ter um conhecimento maior sobre suas
terminologias e métodos; a BPM (Business Process Modeling), para se obter um grau
abstração maior dos processos da Defesa Civil de Piracicaba com o intuito de formalizar e
melhorar seu entendimento; e a Gestão do Conhecimento, para saber como utilizar o
conhecimento adquirido em cada etapa dos processos da Defesa Civil e Sistemas de
Informação com a finalidade de ajudar no armazenamento e processamento do
conhecimento envolvido.
Nesse estudo de caso sobre a Defesa Civil da cidade de Piracicaba no estado de São
Paulo, foi realizada uma entrevista para conhecer o seu funcionamento e auxiliar a
modelagem de todos os processos envolvidos quando ocorre uma enchente. Esse estudo tem
em vista modelar os processos que envolvem a Defesa Civil de Piracicaba, descobrir se há
o uso de atividades de Gestão do Conhecimento, utilização de técnicas de Gestão de
Desastre e também uso de Sistemas de Informação.
Depois de realizar a análise, este trabalho tem como finalidade modelar os processos
da Defesa Civil como levantamento de requisitos para a construção de Sistemas de
Informação e algumas práticas de Gestão do conhecimento, no auxílio da Gestão de
Desastres.
Desta forma pretende-se responder a seguinte questão:
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Como o uso da BPM, Gestão do Conhecimento e Sistemas de Informação podem
auxiliar na melhoria do funcionamento da Defesa Civil no Brasil?
Como resposta à essa pergunta, o principal objetivo da pesquisa será:
Propor o uso de Sistemas de Informação e atividades de Gestão do Conhecimento na
Gestão de Desastres.
1.3. Organização do Trabalho
Os próximos capítulos contêm uma introdução sobre as metodologias usadas para a
confecção desse trabalho.
No capítulo 2 serão abordados os principais temas de apoio à esse trabalho,
começando pela BPM (Business Process Management), pois são padrões de estudos de
processos, que auxiliam na formalização e representação deles. Logo após será abordada a
Gestão do Conhecimento, por ser um conjunto de atividades que dão auxilio no
armazenamento, compartilhamento e uso da informação, sendo seguido por uma revisão
sobre Sistemas de Informação por serem uma importante ferramenta no apoio do
processamento de informações e facilitação de sua transmissão, e por último Gestão de
desastres…
Em seguida, no capítulo 3, será discutido todo o desenvolvimento da pesquisa, desde
a metodologia aplicada, incluindo a modelagem dos processos e a entrevista que foi
realizada com a Defesa Civil, e os resultados obtidos.
Por último, no capítulo 4, serão discutidas as contribuições que esta pesquisa pode
trazer para a Defesa Civil no Brasil, e uma breve consideração sobre o curso de graduação
em Ciências de Computação no ICMC.
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CAPÍTULO 2: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. Considerações Iniciais
Esse capítulo irá abordar mais afundo os conceitos, técnicas, terminologias e
metodologias que foram usadas para auxiliar o presente estudo, elucidando os pontos mais
importantes utilizados e considerados para o estudo.
Será revisado, primeiramente, o Gerenciamento de Processos de Negócios em 2.2,
depois Gestão do Conhecimento no item 2.3, Sistemas de informação logo em seguida em
2.4, logo após Gestão de Desastres em 2.5 e por fim em 2.6 serão dadas as considerações
finais sobre a revisão.
2.2. Gerenciamento de Processos de Negócios (BPM –
Business Process Management)
A palavra processo refere-se a um certo tipo de atividade que tem seus
procedimentos bem definidos e um curto tempo de duração, porém a sua frequência de
ocorrência é alta, ou seja, é uma atividade que é feita muitas vezes durante um período pré
definido. Também como definição de processos temos que é “um encadeamento de
atividades executadas dentro de uma companhia ou organização, que transformam entradas
em saídas” (BALDAM et al., 2011). Ou seja, processos são ativados por um gatilho, como
por exemplo em um sistema de cobrança de cheques, quando um cheque é depositado, é
feita a sua verificação que pode se ter como resultado o cheque ser compensado ou não, ou
seja, a partir da entrada de um cheque a saída do processo é a compensação deste ou não.
Na figura 1 tem se a contextualização da visão sistêmica de processos e os elementos de
entrada e saída.
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A Figura 1 ilustra o contexto em que um processo está envolvido, mostrando os tipos
de influências internas à uma organização, ou seja, quais os atores e informações que
influenciam no funcionamento desse processo, e também as de influências externas. O
processo em si é mostrado como uma “caixa preta” onde temos as entradas que são
processadas gerando saídas.
De acordo com (Scheer, 2006, apud BALDAM et al., p. 25, 2011), a visão de
processos procura entender “o que precisa ser feito e como fazê-lo”.
Uma maneira de se entender os tipos de processos de uma organização é o modelo
proposto por (Scheer, 2006, apud BALDAM et al., p. 22, 2011) que classifica os processos
em três tipos:
Figura 1 - Visão sistêmica dos processos
Fonte: BALDAM et al (2011)
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• Processos de governança: envolvem processos como gerenciamento de
conformidades, gerenciamento de riscos, Business Intelligence, processos de
BPM, desenvolvimento de estratégia, desenvolvimento de negócios e
arquitetura empresarial;
• Processos de gerenciamento: abrangem as atividades diárias e mais comuns
de gerenciamento da organização.
• Processos operacionais: destinados a desenvolver as atividades fins da
empresa.
Nos processos tem-se a presença dos atores, ou seja, são partes integrantes dos
processos, as quais tomam decisões, enviam mensagens e interagem direta ou indiretamente
nos processos.
O termo gerenciamento em processos tem a ver com o entendimento, o desenho, a
execução e a otimização das atividades de negócio envolvendo pessoas ou atores, processos,
sistemas e estratégias.
2.3. Notação de Modelagem de Processos de Negócios
(BPMN – Business Process Modeling and Notation)
Como apoio à BPM tem-se o BPMN (Business Process Model and Notation) que é
uma linguagem unificada de diagramação, ou seja, uma notação gráfica formada por um
conjunto de figuras para representar modelos de processos que captura a lógica das
atividades, mensagens entre vários participantes e toda informação necessária para que um
processo possa ser avaliado, testado e implementado com semântica rica e precisa.
Segundo White (2004), a Business Process Management Initiative Organization
(BPMI) foi quem desenvolveu o padrão Business Process Modeling Notation (BPMN). A
primeira especificação foi liberada ao público em maio de 2004. Essa especificação teve em
torno de dois anos de esforços do BPMI Notation Work Group. O objetivo principal era
prover uma notação que fosse simples de entender por todos envolvidos nos processos,
desde os analistas de negócios que criam os rascunhos iniciais dos processos, os
desenvolvedores técnicos responsáveis pela implementação das tecnologias que serão
usadas nesses processos, e finalmente aos que irão monitorar e gerenciar esses processos.
8
A BPMN consiste em um conjunto de símbolos que são empregados para capturar
as etapas de um processo, ou seja, há símbolos para capturar as atividades, as mensagens
que são passadas de um processo para outro, as decisões que são tomadas durante um
processo.
Utilizando a BPMN é possível representar o funcionamento de um processo de
maneira simplificada, ao invés de termos o processo representado apenas como uma “caixa
preta”, a qual processa entradas e produz saídas, temos uma representação dos elementos
internos ao processo. Com a modelagem correta conseguimos identificar quais são os
eventos que disparam tais processos, qual é a comunicação que ocorre entre os
departamentos de uma organização em cada processo, quais são os seu atores (internos e
externos), e qual o produto final de cada processo.
2.4. Gestão do Conhecimento
Atualmente com o uso intensivo da informática em organizações no auxílio às
comunicações e processos, é gerado um grande volume de dados, os quais devem ser
armazenados e gerenciados. Portanto torna-se necessário compreender e registrar esse
conhecimento adquirido, saber armazenar de forma inteligente, gerenciar e usar esse
conhecimento, com a finalidade de aprender e padronizar os processos em organizações.
Vê-se que a Gestão do Conhecimento é uma atividade inerente ao ser humano, ou
seja, toda vez que deseja-se resolver um problema recorre-se às experiências que já foram
vividas, experiências essas que se resumem em conhecimentos e habilidades necessárias
para a resolução desses problemas. Quando se possui o conhecimento ou as habilidades
necessárias, recorre-se às redes de contatos que são formadas informalmente, às quais são
consultadas para o auxílio e obtenção de conhecimento para a resolução dos problemas
atuais.
A aplicação da Gestão do Conhecimento é sobre a utilização do conhecimento
especifico adquirido, de uma sociedade, ou um departamento em uma organização ou
qualquer tipo de grupo, ou seja, cada parte envolvida, saber como gerenciar, armazenar e
compartilhar seu conhecimento com o propósito de facilitar a resolução de um problema ou
alcançar um objetivo em comum segundo (ROBERT, 2005).
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De acordo com Madanmohan (2005), é importante manter em mente que apenas a
tecnologia não é suficiente para a prática da Gestão do Conhecimento. É necessário que
mesmo que não haja tecnologia, tenha-se uma plataforma de compartilhamento fácil de usar,
que é uma importante ativadora do uso do conhecimento adquirido.
Alguns dos itens que são chave para o suporte da Gestão do Conhecimento, são:
• Aplicações baseadas na web;
• Dispositivos móveis;
• Interface amigável;
• Acesso da organização à estruturas de Gestão do Conhecimento;
• Estrutura padronizada;
Vale a pena ressaltar que a essência da Gestão do conhecimento é centrada nas
pessoas, e não na tecnologia, porém a tecnologia serve de grande apoio a essas práticas
(MADANMOHAN, 2005). Disso tira-se a importância entre saber equilibrar até onde vai o
limite da mente humana em armazenar, processar e interpretar o conhecimento e o uso de
Sistemas de Informação no apoio da Gestão do Conhecimento. Todavia, com o grande
volume de informações geradas hoje em dia, ocasionalmente pode ser impossível para a
uma pessoa por si só entender, gerenciar e armazenar todas essas informações.
Segundo (Braga, Santos, & Vinicius, 2011) se faz útil algumas ferramentas da
Gestão do Conhecimento:
1. Revisão de Ações Realizadas: que objetiva capturar as lições aprendidas
durante e após algumas atividades;
2. Comunidades de Prática: são grupos de pessoas que compartilham seus
conhecimentos em uma área do saber, na qual são especialistas;
3. Melhores Práticas: buscam identificar, capturar e compartilhar as melhores
práticas nas diversas atividades dos processos;
4. Captura de Conhecimento: processo para evidenciar o conhecimento de
especialistas e disponibilizá-lo para outras pessoas na organização;
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5. Entrevistas de Desligamento: consiste em manter na organização o
conhecimento de pessoas saindo.
Vê-se que as atividades de Gestão do Conhecimento não servem apenas para ensinar
a guardar, organizar e a utilizar o conhecimento, mas também provê uma compreensão
maior da própria organização, saber o momento para aplicar esse conhecimento adquirido,
compartilhar e manter tudo que é relevante dentro da própria organização.
A Gestão do Conhecimento se torna importante a partir do momento em que a
organização que a utiliza consegue aprender com erros que já foram cometidos
anteriormente evitando que os mesmos ocorram novamente, enxergar maneiras de facilitar
seus processos, incentivar o compartilhamento do conhecimento entre seus integrantes e
melhorar o seu entendimento por partes externa à organização.
2.5. Sistemas de Informação
Parte muito importante de uma organização, os Sistemas de Informação (SI) são os
principais responsáveis pela coleta, recuperação e processamento do grande volume de
informações que são submetidas e geradas por ela.
Para entender os Sistemas de Informação e suas funções, primeiro é necessário
entender o conceito de um sistema. Na sua forma mais simples, um sistema é um conjunto
de componentes inter-relacionados, com limites bem definidos, trabalhando todos juntos
para atingir um objetivo em comum (O´BRIEN, MARAKAS; 2005). Pode-se inferir a partir
dessa definição que um Sistema de Informação não precisa necessariamente ser complexo e
composto por computadores (hardware), internet e softwares. Sistemas mais simples podem
ser classificados como um Sistema de Informação, como por exemplo um semáforo, que
indica ao motorista o momento em que ele deve parar ou prosseguir, pois nele há
informações que são processadas, no caso o tempo de espera do motorista, informações que
são recuperadas ou transmitidas, ou seja, quando o motorista deve parar ou seguir.
Entretanto, um semáforo é um sistema relativamente simples, pois não há processamento de
grandes volumes de informações e seu entendimento e uso são claros.
Antes de explorar os benefícios do uso de um Sistema de Informação, é necessário
entender os quatro níveis hierárquicos da informação, segundo (URDANETA, 1992, apud
Moresi, 2000):
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• Dados;
• Informação;
• Conhecimento;
• Inteligência.
(Moresi, 2000) afirma que os dados compreendem a classe mais baixa de
informação, ou seja, dados são sinais que ainda não foram processados, avaliados ou
interpretados. A próxima classe é a da informação, aonde os dados já foram processados
previamente e que podem ser entendidos mais facilmente. Depois da informação temos a
classe do conhecimento, que são as informações e dados avaliados de acordo com a sua
confiabilidade, relevância e importância. E por último temos a inteligência que pode ser
entendida como a informação na forma de uma oportunidade e pode ser usada com o fim de
obter-se uma vantagem no ambiente considerado.
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Os Sistemas de Informação são muito importantes no auxílio à tomada de decisões,
pois podem apoiar o entendimento de uma situação, a visualização de um cenário e criar
condições para que o planejamento seja realizado e as ações possam ter um caráter mais
efetivo (MORESI, 2000).
Com o uso dos Sistemas de Informação uma organização ganha muito poder de
entendimento sobre si mesma e sobre o ambiente ao seu redor, conseguindo ser mais ágil no
processamento de suas informações, transformando-as em conhecimento que pode ser
utilizado no auxílio à tomada de decisões.
Um Sistema de Informação é um grande aliado para as organizações que se
interessam em incorporar atividades de Gestão do Conhecimento em seus processos, pois
eles fornecem meios ágeis e confiáveis de armazenamento e processamento das
Figura 2 - Hierarquia da Informação
Fonte: Moresi (2000)
13
informações, auxiliando principalmente no acesso e compartilhamento do conhecimento
adquirido.
2.6. Gestão de Desastres
Desastres são eventos que proporcionam impactos negativos em uma sociedade, ou
seja, estes podem trazer prejuízos financeiros, físicos e até causar mortes. As ocorrências de
desastres têm atingido com severidade, um número maior de pessoas, devido ao aumento da
concentração habitacional em áreas perigosas (Braga, Santos, & Vinicius, 2011, p. 2), sendo
este um dos maiores motivos da ocorrência de desastres no Brasil relacionados a eventos
naturais.
Segundo (Araújo, 2012) desde o surgimento do homem na terra, houve a necessidade
de lidar com crises de todos os tipos. Viver sob a face da terra constitui ainda um
determinado risco, ou seja, desde o seu surgimento o homem convive com a iminência de
desastres ou por falta de conhecimento da população que vive em áreas de risco ou por falta
de políticas públicas que protejam as áreas de risco.
A Gestão de Desastres é a atividade de lidar com riscos, e segundo (Alexander, 2007)
é constituída por quatro fases: a redução de riscos; preparação; gestão de emergências; e a
restauração e reconstrução, como pode ser visto na figura 3.
Figura 3 - Ciclo da Gestão de Desastres
Fonte: Braga et al. (2011)
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A fase de redução de riscos trata da prevenção de emergências e a minimização de
seus efeitos perante à sociedade; A fase de preparação cuida das atividades de preparação
para tratar uma emergência; A fase de gestão de emergências abrange todas as atividades
relacionadas com as reações a uma situação de emergência; E por fim, a fase de restauração
e reconstrução que engloba as atividades de recuperação (Haddow, et al., 2007, apud Braga,
Santos, & Vinicius, p. 4).
Segundo Araújo (2012), os desastres podem ser classificados quanto às suas
ocorrências:
• Súbita: desastres que ocorrem de maneira inesperada, sem que haja tempo
suficiente para o preparo contra seu impacto;
• Cíclica: desastres que ocorrem ao longo da história, estabelecendo uma
periodicidade de forma que haja tempo para as ações preventivas de proteção.
A partir desta classificação, é visto a importância do interesse do poder público em
minimizar os efeitos causados por desastres cíclicos e investir na previsão dos desastres que
ocorrem de forma súbita.
É imperativo para uma organização que tem como seu oficio enfrentar desastres ter
um plano de contingência bem estabelecido, ou seja, ter um plano destinado a minimizar os
efeitos dos desastres que são previstos em determinadas áreas, gerindo de forma otimizada
o emprego de recursos (Araújo, 2012).
2.7. Considerações Finais
Neste capítulo foi disponibilizada a base teórica necessária para compreender o
trabalho realizado nesse estudo de caso sobre a Defesa Civil de Piracicaba. Foram
apresentados todos os conceitos utilizados para o entendimento do estado atual de todo o
funcionamento da Defesa Civil em nível processual.
A partir da teoria que foi discutida nesse capítulo temos a realização da modelagem
dos processos da Defesa Civil de Piracicaba baseada em BPM e BPMN, uma análise das
atividades informais de Gestão do Conhecimento baseadas em Sistemas de Informações.
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No próximo capítulo será descrito o desenvolvimento do trabalho, discutindo-se o
estudo que foi realizado na Defesa Civil de Piracicaba, tendo em vista os resultados obtidos
na entrevista realizada.
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CAPÍTULO 3: DESENVOLVIMENTO DO
TRABALHO
3.1. Considerações Iniciais
Devido ao aumento dos desastres de caráter natural que vem ocorrendo no Brasil
desde a década de 1970, e o consequente aumento das populações que são atingidas por tais,
torna-se necessária a inclusão de metodologias e padrões bem definidos e maduros, que
apoiem a ação dos órgãos responsáveis pelo socorro à população.
Esse trabalho visa aplicar métodos de BPM para fazer uma análise dos processos
envolvidos na Defesa Civil de Piracicaba quando ocorre uma enchente no Rio Piracicaba,
ou no Ribeirão do Piracicamirim.
3.2. Sistemas de Gestão de Desastres
Foi realizado um estudo de caso da Defesa Civil de Piracicaba, a fim de modelar
todos os seus processos e entender o seu funcionamento, desde o monitoramento das
previsões de chuvas na cidade e no estado de São Paulo, o momento em que a Defesa Civil
entra em estado de alerta, as ações que são tomadas quando ocorre uma enchente, o que é
feito após uma enchente, e a comunicação entre a Defesa Civil de Piracicaba e as Defesas
Civis das cidades que estejam interligadas pelos Rios Piracicaba, Corumbataí e o Ribeirão
do Piracicamirim.
3.3. Descrição das Atividades Realizadas
Serão descritas nessa seção todas as atividades que foram executadas nesse projeto.
Uma entrevista estruturada foi realizada com a Defesa Civil de Piracicaba no dia 30 de
agosto de 2012 com o Capitão da Guarda Civil e com o Secretário Executivo da Defesa
Civil. Essa entrevista permitiu fazer a modelagem de todos os processos envolvidos em uma
enchente, e também serviu de auxílio para identificar se na Defesa Civil de Piracicaba são
utilizados Sistemas de Informação aliados ao uso das técnicas de Gestão do Conhecimento.
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Neste trabalho foi obtido a modelagem dos processos da Defesa Civil de Piracicaba
no estado “as is”, ou seja, no estado atual. E a partir da análise destes pretende se sugerir os
processos “to be”, ou seja, sugerir melhorias ao longos dos processos.
O tópico 3.3.1 aborda o conteúdo da entrevista realizada e o tópico 3.3.2 será
analisada a modelagem dos processos.
3.3.1. Estudo de caso
Foi criado um roteiro de entrevista, baseado na leitura de artigos que descreveram os
desastres naturais que já ocorridos no Brasil (com foco em enchentes), como os desastres
que ocorreram em Santa Catarina em 2008 e no Rio de Janeiro em 2011, que foram
fatalidades de grandes proporções que superaram a capacidade local de resposta, deixando
inúmeras pessoas desabrigadas, mortos e muitos prejuízos financeiros.
O principal intuito dessa entrevista foi verificar o fluxo de informações dentro da
Defesa Civil de Piracicaba quando é identificada uma ameaça eminente de enchente, como
funciona a comunicação entre as Defesas Civis de Piracicaba e das cidades adjacentes que
são interligadas pelos rios, no caso Americana, Atibaia e Capivari. As duas primeiras estão
localizadas ao longo do Rio Piracicaba, e a última, cujo rio leva o mesmo nome da cidade,
desagua no Ribeirão do Piracicamirim. As perguntas elaboradas para a entrevista podem ser
consultadas no apêndice A. Com a entrevista foram elucidados pontos importantes sobre o
funcionamento da Defesa Civil de Piracicaba, por exemplo qual a época em que ocorrem as
enchentes, como funciona o monitoramento dos rios, quais são os órgãos envolvidos no
plano de prevenção de enchentes, qual o papel da Guarda Municipal quando ocorrem
enchentes etc.
Durante a entrevista pode-se constatar que a Defesa Civil de Piracicaba é uma
comissão formada pelas doze secretarias da prefeitura, onde o Capitão da Guarda Civil é o
seu presidente e também tem um secretário executivo.
A Defesa Civil tem um plano de prevenção de enchentes que consiste na
identificação das áreas de risco, as quais tem o seu monitoramento intensificado pelos
agentes da prefeitura nas épocas de chuva. Todas as famílias que habitam as áreas de risco
são cadastradas pela Defesa Civil, cadastro esse que contém telefone da casa, os moradores
e para onde a família irá em caso de enchente. Ainda no plano de prevenção de enchentes
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constatou-se que quando a Defesa Civil entra em estado de alerta, ou seja, quando constata-
se que o nível do rio ultrapassou 4,5 metros através de uma régua, que está presente em uma
das áreas de risco, todos os veículos e máquinas pesadas (retro escavadeira por exemplo) do
município ficam à disposição da comissão para a eventual remoção da mobília das famílias
que residem em áreas de risco, e a posterior limpeza das vias afetadas pelas enchentes.
Existe um acordo vigente entre a Defesa Civil de Piracicaba e a CPFL (Companhia
Paulista de Força e Luz), no qual a segunda realiza o monitoramento do clima em todo o
estado, e ao identificar chuvas muito intensas e que se localizam ao longo do rio, esta alerta
a Defesa Civil sobre a ocorrência das chuvas com duas horas de antecedência.
O rio Piracicaba tem a sua cabeceira no extremo sul do estado de Minas Gerais,
entretanto apesar de um monitoramento intensivo das chuvas no estado de São Paulo, não
existe monitoramento sobre chuvas que possam ocorrer em Minas Gerais e afetar o volume
do rio na cidade. Este ainda é represado na cidade de Americana, que fica a 37 km de
Piracicaba, e quando a barragem de Salto Grande atinge seu limite suas comportas são
abertas para que não haja alagamento e outros prejuízos maiores à barragem. Quando ocorre
essa abertura a Defesa Civil de Piracicaba também é avisada, porém a água liberada com a
abertura da barragem demora em média 8 horas chegar à Piracicaba.
Na maior parte do ano a Defesa Civil de Piracicaba se encontra ociosa, pois a maioria
dos desastres que ocorrem na cidade são relacionados às chuvas que ocorrem em maior
volume e periodicidade entre os meses de outubro e fevereiro. Quando a entrevista foi
realizada a Defesa Civil não era acionada há mais de 5 meses, ou seja, desde março. Isso
causa entraves para a contratação de mão-de-obra especializada para a Defesa Civil, pois é
um profissional de alto custo quer permanece ocioso a maior parte do tempo.
Um outro fator que pode levar o aparecimento de pontos de alagamento e até mesmo
enchentes, é a falta de conscientização da população com relação ao descarte de lixo. Pode-
se observar que não existem campanhas nesse sentido e além disso não existem iniciativas
dentro do ensino estadual e municipal que levem os alunos a criarem um senso de educação
ambiental.
As únicas atividades de Gestão do Conhecimento, apesar de serem informais, que
ocorrem em todo o processo são: o cadastro das famílias que moram em áreas de risco e o
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cadastro dos funcionários das outras secretarias. O uso de Sistemas de Informação se limita
apenas ao uso dos sites de meteorologia que informam a previsão de chuvas na região do
rio.
Foram vistos vários pontos sobre o funcionamento da Defesa Civil em Piracicaba
que ajudam a entender e esclarecer melhor seus processos e seu funcionamento. Porém, a
população da cidade na sua grande maioria não sabe que existe a Defesa Civil ou qual o seu
trabalho.
3.3.2. Modelagem dos Processos
A modelagem dos processos da Defesa Civil de Piracicaba foi feita para obter uma
representação gráfica e formal de seus processos e atividades incorporadas a eles com o
objetivo de se obter um maior entendimento sobre seu funcionamento, tendo em mãos
ferramentas que simplifiquem a sua representação, que deem um maior auxílio para
identificação do fluxo de informações fazendo com que seja possível detectar quais são os
órgãos que estão envolvidos em cada ação.
Foi utilizada como apoio para a modelagem dos processos da Defesa Civil de
Piracicaba a revisão bibliográfica sobre BPM e as técnicas de BPMN para se obter um maior
grau de abstração, ou seja, para conseguir ter um modelo fiel à realidade, porém que suas
informações estejam representadas de uma forma mais geral.
O uso dessa ferramenta teve o objetivo de facilitar a captura dos processos que
ocorrem dentro e fora da Defesa Civil de Piracicaba, para facilitar a identificação dos tipos
de eventos que são os gatilhos que iniciam os processos, quais são os atores envolvidos em
cada processo quais são as decisões que são tomadas por eles, e quais são as informações de
entidades externas que influenciam diretamente no fluxo do processo.
Com a utilização do BPM e do BPMN, é possível ter uma maior formalização e
conformidade entre os processos que compõem uma organização, entendendo-se inclusive
como que funciona o fluxo de informação dentro de cada atividade, tendo em vista melhorar
a performance através do gerenciamento dos processos e também a melhoria contínua dos
mesmos. A partir dessa formalização, é mais intuitivo e simples revisar os processos da
organização, a fim de se obter inovação nos mesmos.
20
3.4. Resultados Obtidos
Nesta seção serão mostrados e descritos todos os resultados obtidos com a entrevista
e a aplicação da BPMN, na modelagem dos processos da Defesa Civil de Piracicaba.
Foi identificado, no que tange às enchentes, que a Defesa Civil de Piracicaba possui
três importantes processos: o processo de prevenção de enchentes, o processo de retirada
das famílias que habitam áreas de risco e o processo de recuperação após as enchentes.
Primeiramente será discutido sobre o processo de prevenção de enchentes, no qual o
principal ator do processo é a Defesa Civil de Piracicaba, porém há a presença de atores
externos que são a CPFL, as Defesas Civis de Capivari e Atibaia e a Barragem de Salto
Grande. Com a modelagem desse processo é possível identificar facilmente o fluxo de
informação que ocorre nos processos internos à Defesa Civil e quais são as interferências
causadas por atores externos no fluxo do processo e da informação.
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Figura 4 - Plano de prevenção de enchentes
Fonte: Elaboração do autor
22
A partir da análise da Figura 3, pode-se ver claramente que o começo das atividades
da Defesa Civil se dá no início das épocas das chuvas em Piracicaba, ou seja, entre os meses
de setembro e outubro, assim durante os meses que não há chuvas a Defesa Civil permanece
ociosa. O processo de prevenção de enchentes é bem definido, é possível identificar como
marcos importantes a altura do rio, que é medido por uma régua que está localizada em uma
das áreas de risco do rio e, caso ultrapasse 4,5 metros, faz com que a Defesa Civil de
Piracicaba entre em estado de alerta. A previsão do tempo é outro marco importante na
tomada de decisões desse processo, pois, se há previsão de chuvas na região do rio
Piracicaba e a altura do rio é preocupante, a Defesa Civil também entra em estado de alerta.
Caso a altura do rio ultrapasse 4,8 metros ocorre o fechamento das vias que estão em
áreas de risco, o monitoramento das previsões de chuvas, da régua do rio que mede a altura
do mesmo e das áreas de risco são intensificados. Caso haja previsão de chuvas, ou alguma
mensagem dos atores externos aos processos da Defesa Civil indicando eventos que possam
afetar a altura do rio, todas as famílias que residem em áreas de risco são retiradas. O
processo de retirada foi separado em outro processo, e é ilustrado na Figura 4.
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Após ser constatado que o rio irá atingir a moradia daqueles que residem nas áreas
de risco, é iniciado o processo de retirada das famílias, que é realizado pela Guarda
Municipal. Pode-se ver que esse processo é simples e as informações que o disparam podem
ser as informações internas ao plano de prevenção de enchentes ou pelas informações dos
Figura 5 - Processo de retirada das famílias das áreas de risco
Fonte: Elaborada pelo autor
24
atores externos a esse processo. Como a Defesa Civil já se encontra em estado de alerta, o
que pode ser constatado no processo anterior, é que todas as máquinas, caminhões e
trabalhadores braçais se encontram a sua disposição para retirada dessas famílias. A partir
do cadastro feito anteriormente de todas as famílias que moram nas áreas de risco, a Defesa
Civil tem o conhecimento de onde cada família se encontra, após ter sido retirada de suas
casas.
Ao constatar que não há mais previsões de chuvas e que o nível do rio está
abaixando, é iniciado o processo de recuperação, que consiste em fazer a limpeza das vias
que foram afetadas pelas enchentes, retirando todo o lixo e barro que são trazidos pela
correnteza do rio, essas vias são liberadas para o trânsito normal e as famílias podem retornar
para as suas casas, como visto na Figura 5.
No processo de recuperação não há a intervenção de nenhum ator externo, ou seja,
não existem atores externos a não ser a Defesa Civil de Piracicaba e a Guarda Municipal,
que produzam informações durante os processos anteriores que possam interferir no seu
andamento ou cancelameto.
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3.5. Dificuldades, Limitações e Trabalhos Futuros
Durante a confecção desse trabalho, foram encontradas diversas e obstáculos
impostos.
Figura 6 - Processo de recuperação
Fonte: Elaborada pelo autor
26
A primeira das dificuldades foi conseguir acesso à Defesa Civil de Piracicaba, pois
como o órgão não é muito conhecido pela população e pelos funcionários da prefeitura,
muitas informações sobre a Defesa Civil foi passada erroneamente. Tais como: a
localização, e a qual secretaria a Defesa Civil é subordinada, seu telefone, quem seria o
secretário e quem será o capitão. Também foi muito difícil conseguir um contato com o
Capitão e o Secretário Executivo da Defesa Civil.
Como mostrado nesse trabalho no Brasil não há uma cultura consolidada em relação
à cultura de Gestão de Desastre, por este motivo o número de referências torna-se diminuto,
apesar do auxílio do orientador.
Além disso, é difícil ter uma visão menos lógica dos assuntos abordados, pois no
curso de Ciência de Computação preza-se pelo raciocínio lógico, e conseguir ter um olhar
mais críticos sobre os assuntos abordados que não vemos com muita frequência no curso,
torna-se uma tarefa árdua.
Para trabalhos futuros fica a ideia de buscar o entendimento do funcionamento de
toda a Defesa Civil no Brasil, no que envolve as esferas municipal, estadual e federal, a fim
de ser possível identificar melhorias e padrões em todos os processos.
3.6. Considerações Finais
Neste capítulo foram apresentados o uso de todas as tecnologias, metodologias e
padrões, que foram usados para a análise dos processos da Defesa Civil de Piracicaba
quando ocorre uma enchente, em quais partes dos estudos se encaixam e o porquê do seu
uso.
Foi feita a modelagem dos processos da Defesa Civil de Piracicaba quando ocorre
uma enchente. É interessante notar que muitas organizações têm seus processos muito bem
estruturados, porém por falta de ferramentas ou do conhecimento delas, tais organizações
não conseguem representá-los de uma forma mais clara e objetiva. Com essas formalizações
tornar-se mais fácil e simples diagnosticar gargalos nos processos, identificar pontos com
erros, falha de comunicação entre os atores dos processos, pontos fracos, acertos, etc. A
partir desses pontos a organização pode trabalhar de forma mais objetiva a fim de redesenhar
seus processos e torná-los mais eficientes e eficazes.
27
Na Figura 4, está modelado todo o processo do plano de prevenção de enchentes,
pode-se sugerir alguns pontos de melhoria como por exemplo o uso de um sistema de
informação baseado na Web e unificado, que vem de encontro com uma proposta realizada
pelo CONFEA (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia), em abril de
2011, nesta proposta foram citados alguns tópicos como a criação de uma plataforma
nacional de redução de riscos de desastres, modelo de gestão para redução de riscos de
desastres, mitigação e eliminação de situações de riscos de desastres.
Para facilitar o acesso das Defesas Civis às informações necessárias para a tomada
de decisão, esse sistema apresentaria o resultado do monitoramento de todos os rios do
Brasil, quanto ao seus níveis e vazões, e cada cidade teria acesso aos dados pertinentes aos
rios que cruzam seus territórios. Este sistema deve ser usado na fase de monitoramento dos
rios, e este uso seria intensificado no início da época das chuvas em cada cidade.
Já existe no Brasil iniciativas semelhantes à sugerida acima, por exemplo, em Itajaí-
Santa Catarina, é feito o monitoramento em tempo real dos pluviômetros e dos pontos
críticos dos quatros rios que passam pela cidade: Itajaí-Açu, Itajaí-Mirim, Ribeirão da Murta
e Ribeirão Canhanduba. Este sistema de monitoramento está disponível online no site da
Defesa Civil de Itajaí e pode ser visto nas Figuras 7 e 8, porém essa é uma iniciativa isolada
da Defesa Civil da cidade.
Figura 7– Medição dos pluviômetros de Itajaí
Fonte: Defesa Civil de Itajaí
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No que tange ao uso das atividades de Gestão do Conhecimento torna-se importante
enfatizar o uso de suas ferramentas em pontos específicos dos processos da Defesa Civil.
Como o armazenamento de informações como os históricos de enchentes, históricos dos
monitoramentos dos rios, cadastros das famílias e funcionário. Porém além desse
armazenamento essa informação deve ser usada em análises posteriores para a melhoria dos
processos e aprimoramento dos planos de prevenção de enchentes. Outro ponto importante
a ser armazenado é todo o funcionamento e projetos da Defesa Civil, pois caso haja a troca
Figura 8 – Sistema de monitoramento remoto do nível dos rios de Itajaí
Fonte: Defesa Civil de Itajaí
29
na gestão da mesma, torna-se mais fácil aos sucessores retomarem os trabalhos da maneira
que estavam sendo realizados.
E também relacionado a criação da plataforma nacional de redução de riscos de
desastres, torna-se importante a integração entre as Defesas Civis do Brasil, para um melhor
compartilhamento de informações e exemplos de projetos.
O uso dos Sistemas de Informação e de atividades de Gestão do Conhecimento,
podem integrar, padronizar e agilizar o funcionamento das Defesas Civis no Brasil em nível
nacional.
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CAPÍTULO 4: CONCLUSÃO
4.1. Contribuições
Com a conclusão deste trabalho e a modelagem dos processos da Defesa Civil de
Piracicaba, foram geradas contribuições para a análise do funcionamento das Defesas Civis
no país em um modo geral, por ainda não haver uma conformidade na gestão de desastres
no Brasil.
O desenvolvimento deste trabalho possibilitou o contato técnicas de Gestão do
Conhecimento e de Gerenciamento de Processos de Negócios, que são assuntos não muito
abordados na grade curricular, que porém têm muito a adicionar profissionalmente ao aluno.
4.2. Considerações sobre o Curso de Graduação
Tudo começa quando nos é colocado um dos maiores desafios das nossas vidas, que
é escolher uma profissão, escolher uma faculdade e enfrentar todo o processo de ingresso
em uma instituição pública. Essa escolha que é feita ainda em nossa juventude vai refletir o
que seremos pelo resto das nossas vidas.
Após passar pelo vestibular surge uma das maiores dúvidas, momentâneas, que se
enfrentam na vida acadêmica, será que essa escolha é a correta?
Dentro do curso encontramos muitas matérias que nos motivam a gostar da
computação, porém ainda vemos muitas limitações no curso. Tenho para mim que o nosso
curso tem um rigor acadêmico muito forte, ou seja, o maior objetivo da nossa instituição é
formar pesquisadores que entendam apenas de matemática e computação. Não nos dá uma
maior opção para se voltar ao mercado e entender o mundo.
O que deixo como sugestão de quem gosta de computação, mas não com um caráter
de pesquisador ou desenvolvedor, seria talvez criar algumas matérias, optativas, que dêem a
oportunidade para o aluno pode moldar seu curso como queira, seja esse molde com um
enfoque gerencial, ou de projetos por exemplo. Assuntos estes que são extremamente
relacionados à computação, porém não temos tantas oportunidades de vê-los dentro da
universidade.
31
No mais tenho uma imensa gratidão aos professores que são pacientes no ensino, que
se importam para que o aluno aprenda e que enxergam os alunos não simplesmente como
uma distração de suas pesquisas, mas como a oportunidade de formar pessoas e profissionais
com uma visão de mundo ampla.
Obrigado ICMC!
32
REFERÊNCIAS
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Almeida, L. Q. de, & Pascoalino, A. Gestão de risco, desenvolvimento e (meio) ambiente no brasil - um estudo de caso sobre os desastres naturais de Santa Catarina. Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho”, Rio Claro, p.20. 2008.
Araújo, S. B. Administração de Desastres. 2012.
Baldam, R., Valle R., Pereira H., Hilst, S., Abreu, M., Sobral, V. Gerenciamento de Processos de Negócios. 2 ed. São Paulo, Érica, 2011, p. 240.
Braga, M. D. M., Santos, P. M., & Vinicius, M. Aplicação das Técnicas de Gestão do Conhecimento no Gerenciamento de Desastres Naturais. 111–125. 2011.
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Madanmoham , R. Knowledge Management Tools and Techniques: Practitioner and Experts Evaluate KM Solutions. Oxford, Elsevier, 2005, p. 438.
Moresi, E. A. D. Delineando o valor do sistema de informação de uma organização. Ciência da Informação 2000, 29(1), 14–24. doi:10.1590/S0100-19652000000100002.
O´Brien, J. A., & Marakas, G. M. Introduction to Information Systems. McGraw-Hill 2007, 626 p.
Robertson, S., Brún, C., Servin, G. ABC of Knowledge Management. National Library for Health. http://www.library.nhs.uk/SpecialistLibrarySearch/download.aspx?resID=126403, 2005
Santos, R. F. dos. Vulnerabilidade Ambiental Desastres naturais ou fenômenos induzidos? – Brasília 2007, 192p.
33
Seminário Internacional de Defesa Civil – DEFENCIL, 5, 2009. Soriano, É. Os desastres naturais, a cultura de segurança e a gestão de desastres no Brasil. São Paulo
White, S. A. (2004). Introduction to BPMN, (c), 1–11. Disponível em www.bptrends.com Acesso em: 05 de nov. 2021.
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APÊNDICE A – Perguntas da entrevista
Neste apêndice encontram-se as perguntas que foram abordadas durante a entrevista
que foi realizada com a Defesa Civil de Piracicaba.
Perguntas: 1. Existe algum tipo de atividade de Gestão do Conhecimento na Defesa Civil
de Piracicaba?
2. Sobre as áreas de risco:
a. Como são classificadas as áreas de risco?
b. Como funciona o monitoramento das áreas de risco?
c. Qual o tipo de evento que funciona como um alerta para intensificar
o monitoramento nas áreas de risco?
3. Sobre incentivos públicos:
a. Qual a proveniência desses recursos?
b. Em que tipos de ações, obras são aplicados esses recursos?
4. Sobre políticas de prevenção, prevenção, proteção e recuperação:
a. Na área de previsão: como a Defesa Civil trabalha para prever que irá
acontecer uma enchente?
b. Na área de prevenção: qual o trabalho da Defesa Civil na prevenção
de desastres?
c. Na área de proteção: quais são as obras e as medidas tomadas para
evitar um desastres?
d. Na área de recuperação: quais são as ações tomadas depois da
ocorrência de um enchente?
5. Existe o uso de Sistemas de Informação envolvido na transmissão de dados e
informações durante um evento? E nas comunicações?
6. Quais são os órgãos públicos envolvidos quando ocorre um enchente?
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7. Quando foi criada a Defesa Civil em Piracicaba?
8. Qual a rotatividade dos membros da Defesa Civil?
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APÊNDICE B – Glossário da Modelagem
São explicados nesse apêndice os termos que foram omitidos na modelagem dos
processos da Defesa Civil de Piracicaba, que estão presentes nas páginas 22, 24 e 26.
Monitoramento do Rio: atividade realizada por agentes da Defesa Civil, que
compreende checar a previsão do tempo em Piracicaba e em toda a região do rio e também
fazer a medição do nível do rio na régua que se encontra em uma das áreas de risco do rio.
Defesa Civil em estado de alerta: monitoramento do rio e das áreas de risco são
intensificados por parte dos agentes da Defesa Civil, todas as máquinas, caminhões e
trabalhadores braçais do município ficam à disposição da Defesa Civil e é disparado o
sistema de alerta à população, que consiste em avisos sobre os riscos de enchentes que são
dados através das rádios da cidade, canal de televisão local e carros de som que transitam
pelas áreas de risco.
Limpar as vias: para a limpeza das vias que foram atingidas pelas enchentes, é
utilizado todo o maquinário da prefeitura que fica à disposição da Defesa Civil e após a
limpeza essas vias são liberadas.
Retirada das famílias: atividade feita pela Guarda Municipal de Piracicaba,
consiste na retirada dos habitantes e dos móveis das casas que serão afetadas pela enchente.