monitoramento sazonal do muco do zoantÍdeo … · nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto...

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA – CAV CURSO DE GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS MONITORAMENTO SAZONAL DO MUCO DO ZOANTÍDEO Palythoa caribaeorum (BABA DE BOI) COLETADO NA PRAIA DE PORTO DE GALINHAS. VITÓRIA DE SANTO ANTÃO-PE/2010.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA – CAV

CURSO DE GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM CIÊNCIAS

BIOLÓGICAS

MONITORAMENTO SAZONAL DO MUCO DO ZOANTÍDEO

Palythoa caribaeorum (BABA DE BOI) COLETADO NA PRAIA DE

PORTO DE GALINHAS.

VITÓRIA DE SANTO ANTÃO-PE/2010.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA – CAV

CURSO DE GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM CIÊNCIAS

BIOLÓGICAS

MONITORAMENTO SAZONAL DO MUCO DO ZOANTÍDEO

Palythoa caribaeorum (BABA DE BOI) COLETADO NA PRAIA DE

PORTO DE GALINHAS.

LEYLIANE GOMES DA MOTA SILVA

VITÓRIA DE SANTO ANTÃO-PE/2010

TCC apresentado ao Curso de Graduação em Licenciatura em Ciências Biológicas como requisito para incremento de Carga Horária de Atividades Complementares do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas. Orientadora: Dr. Jeanne Claine de Albuquerque Modesto.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA – CAV

CURSO DE GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM CIÊNCIAS

BIOLÓGICAS

MONITORAMENTO SAZONAL DO MUCO DO ZOANTÍDEO

Palythoa caribaeorum (BABA DE BOI) COLETADO NA PRAIA DE

PORTO DE GALINHAS.

LEYLIANE GOMES DA MOTA SILVA

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado por banca examinadora em

13 de Dezembro de 2010.

BANCA EXAMINADORA:

Dra. JEANNE CLAINE DE ALBUQUERQUE MODESTO (Orientadora) Centro Acadêmico de Vitória - UFPE Dr. CARLOS DANIEL PÉRES (1º Examinador) Centro Acadêmico de Vitória - UFPE Dra. ERIKA MARIA SILVA FREITAS (2º Examinadora) Centro Acadêmico de Vitória - UFPE

Vitória de Santo Antão

2010

4

Dedico este trabalho aos meus exemplos de vida, a minha mãe Severina Gomes da Silva e a minha avó Irene Gomes Dias, a elas que são a minha razão e fonte inspiradora, agradeço por tanta confiança e apoio que dedicaram a mim, as que sempre me estimularam a dar este grande passo.

5

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar às mãos de quem me moldou, criou-me e orientou-me

durante meus passos até aqui: a Deus, que por graça, deu-me esta vida tão

bela. Por me amparar nos momentos difíceis, me dando força interior para

superar as dificuldades. Graças a ti hoje desfruto dessa valiosa conquista que

nada mais é do que a tua presença em minha vida, e junto com a minha Mãe

do Céu me protegeu nessa longa caminhada.

A minha orientadora e amiga Dr.ªJeanne Claine de Albuquerque

Modesto por acreditar em mim, me mostrando o caminho da ciência, fazendo

parte da minha vida nos momentos bons e ruins, por ser exemplo de

profissional e de mulher a qual sempre fará parte da minha vida. Obrigada por

ser esta profissional correta e competente fonte de inspiração, apoio e ensino

diário.

A minha família, a qual amo muito, pelo carinho, paciência e incentivo.

Que com muita sabedoria, discernimento, bom senso e dedicação estiveram ao

meu lado me encorajando nas horas difíceis e me aplaudindo nos momentos

de glória.

Aos meus amigos, pelos momentos que dividimos juntos, pelo carinho,

compreensão e apoio que me deram, sei que estão felizes por mais uma

conquista em minha vida. Em especial a turma 2007.1 do curso de Licenciatura

em Ciências Biológicas do CAV que tornaram pessoas inesquecíveis em minha

vida.

Aos professores do curso que tão sabiamente, transmitiram seus

conhecimentos, sendo exemplos de profissionais e de grande admiração.

À Coordenação do curso pela atenção e oportunidades oferecidas a nós

graduandos, durante esses quatro anos, nos proporcionando mais esta eletiva

para enriquecer ainda mais os nossos conhecimentos.

Aos funcionários do Centro Acadêmico de Vitória – CAV, pela

amabilidade e colaboração prestada sempre que solicitada.

6

À Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico de vitória -

CAV, pela estrutura capaz de proporcionar a formação profissional e ser

Instituição de referência para várias áreas do conhecimento.

À banca examinadora pela disponibilidade de todos e para o

encaminhamento final do trabalho aqui proposto.

À FACEPE pelo auxílio financeiro.

A elaboração deste trabalho não teria sido possível sem a colaboração,

estímulo e empenho de diversas pessoas. Gostaria, por este fato, de expressar

toda a minha gratidão e apreço a todos aqueles que, direta ou indiretamente,

contribuíram para que esta tarefa se tornasse uma realidade. A todos quero

manifestar os meus sinceros AGRADECIMENTOS.

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“O ser humano vivencia a si mesmo, seus pensamentos como algo separado do resto do universo – numa espécie de ilusão de ótica de sua consciência. E essa ilusão é uma espécie de prisão que nos restringe a nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto por pessoas mais próximas. Nossa principal tarefa é a de nos livrarmos dessa prisão, ampliando o nosso círculo de compaixão, para que ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza em sua beleza. Ninguém conseguirá alcançar completamente esse objetivo, mas lutar pela sua realização já é por si só parte de nossa liberação e o alicerce de nossa segurança interior” Albert Einstein

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RESUMO

Palythoa caribaeorum é um cnidário colonial muito abundante no litoral

pernambucano. Vulgarmente chamado de “Baba-de-boi”, essa espécie de

zoantídeo recebe esse nome em função da produção abundante de muco, que

hidrata seu tecido e evita que ressequem durante a maré baixa. Neste trabalho

foram exploradas possíveis alterações sazonais no conteúdo protéico e de

carboidratos de amostras de muco de P. caribaeorum coletadas em diferentes

meses na Praia de Porto de Galinhas, Pernambuco, Brasil. Além disso, foram

avaliadas uma possível variabilidade sazonal nas ações hemaglutinante e

coagulante destas amostras de muco. Amostras de muco foram coletadas

durante o inverno (julho/08 e agosto/08) e o verão (dezembro/08 e março/09),

durante a maré baixa, pela raspagem das colônias. As amostras foram

submetidas à centrifugações (1.000 g, por 30 minutos, 2X), seguidas pela

diálise dos sobrenadantes e de liofilização. As amostras foram então

submetidas a dosagens de carboidratos e proteínas pelos métodos de Fenol-

Ácido Sulfúrico e de Bradford, respectivamente. O perfil protéico das amostras

foi avaliado por SDS-PAGE 12% corada por Nitrato de Prata. As atividades

hemaglutinante e coagulante das amostras foram determinadas em hemácias

humanas glutarizadas dos tipos A, O e AB, e em plasma humano citratado,

respectivamente. Com relação ao conteúdo dos mucos, os resultados obtidos

demonstraram uma maior concentração protéica e de carboidratos no muco de

Março/09 e um perfil eletroforético bastante distinto também para as amostras

deste mês. No mês de Março/09 foi encontrado também o maior potencial

hemaglutinante sobre hemácias dos tipos A e O (Concentração Mínima

Hemaglutinante(CMH)=0,005 mg/ml) e ação sobre hemácias do tipo AB

(CMH=0,375mg/ml) não evidenciada em nenhuma outra amostra. Ao contrário

do esperado, nenhuma amostra foi capaz de induzir coagulação sanguinea.

Estes resultados indicam que a variabilidade na composição e nas ações

farmacológicas do muco de P. caribaeorum pode ser mensal e não apenas de

acordo com a estação do ano.

Palavras-chave: Palythoa caribaeorum, hemaglutinação, proteínas e carboidratos

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LISTA DAS FIGURAS

Figura 1. Foto do zoantídeo Palythoa caribaeorum da Praia de Porto de

Galinhas, litoral sul Pernambucano.................................................................. 20

Figura 2. Dosagens protéicas das amostras de muco de Palythoa caribaeorum

coletadas na praia de Porto de Galinhas nos meses de Julho/08, Agosto/08,

Dezembro/08 e Março/09................................................................................. 25

Figura 3. Dosagens de carboidratos das amostras de muco de Palythoa

caribaeorum coletadas na praia de Porto de Galinhas nos meses de Julho/08,

Agosto/08, Dezembro/08 e Março/09.............................................................. 25

.

Figura 4. Perfil eletroforético dos mucos de Palythoa caribaeorum. Eletroforese

processada em SDS-PAGE 12% e corada por Coomassie B. Blue............... 27

LISTA DAS TABELAS

Tabela 1. Concentrações Mínimas Hemaglutinantes das amostras de muco de

Palythoa caribaeorum coletadas na praia de Porto de Galinhas.......................28

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LISTA DE ABREVIATURAS

PTX Palitoxina

DRC Domínio Reconhecedor de Carboidratos

PRP Plasma Rico em Plaquetas

x g Unidade de Força Centrífuga Relativa

CMH Concentração Mínima Hemaglutinante

SDS Dodecil Sulfato de Sódio

PAGE Eletroforese em Gel de Poliacrilamida

AgNO3 Nitrato de Prata

P. caribaeorum Palythoa caribaeorum

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SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO.............................................................................................12

2- OBJETIVOS DO PROJETO.........................................................................18

2.1- GERAL............................................................................................18

2.2- ESPECÍFICO...................................................................................18

3- METODOLOGIA............................................................................................19

3.1- ÁREA DE ESTUDO.........................................................................19

3.2- COLETA E PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS........................19

3.3- DOSAGEM PROTÉICA DAS AMOSTRAS.....................................20

3.4- AVALIAÇÃO DO PERFIL PROTÉICO DAS AMOSTRAS POR

ELETROFORESE EM GEL DE POLIACRILAMIDA (SDS-PAGE).........20

3.5- DOSAGENS DE CARBOIDRATOS DAS AMOSTRAS...................21

3.6- DETERMINAÇÃO DA AGLUTINAÇÃO DE HEMÁCEAS

HUMANAS..............................................................................................21

3.6.1- COLETA DE SANGUE E FIXAÇÃO DOS ERITRÓCITOS

EM GLUTARALDEÍDO................................................................21

3.6.2- ATIVIDADE HEMAGLUTINANTE......................................22

3.7- ATIVIDADE COAGULANTE SOBRE O PLASMA HUMANO..........23

4-RESULTADOS E DISCUSSÃO.....................................................................24

4.1- DOSAGENS PROTÉICAS E DE CARBOIDRATOS.......................24

4.2- AVALIAÇÃO DO PERFIL PROTÉICO DAS AMOSTRAS POR

ELETROFORESE EM GEL DE POLIACRILAMIDA (SDS-PAGE)................26

4.3- ATIVIDADE HEMAGLUTINANTE.....................................................27

4.4- ATIVIDADE COAGULANTE SOBRE O PLASMA HUMANO............29

5- CONCLUSÃO..............................................................................................30

6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................31

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1. INTRODUÇÃO

Cnidários são invertebrados aquáticos, coloniais ou solitários,

predominantemente marinhos e com poucas espécies de água doce. Seus

representantes incluem hidras, anêmonas-do-mar, corais pétreos, corais moles,

hidróides e águas-vivas (Ruppert et al., 2005).

Muitas espécies de cnidários adotam uma forma de crescimento

colonial, com as colônias consistindo em zoóides de pólipos, zoóides de

medusa, ou ambos. Estas espécies coloniais dominam vários dos principais

táxons, como corais, hidróides e sifonóforos (Ruppert et al., 2005). Os cnidários

apresentam duas formas corpóreas, a de pólipo e de medusa. Os pólipos se

assemelham a uma flor com o seu pedúnculo e são principalmente bentônicos,

sésseis e fixos. Já uma medusa tem a forma de um guarda-chuva e são

principalmente planctônicas e flutuam livremente (Ruppert et al. , 2005).

A parede do corpo de um cnidário é composta por três camadas de

tecidos a epiderme, gastroderme e mesogléia. Uma característica única e que

define os cnidários é a presença do cnidócito, encontrado tipicamente ao longo

da epiderme, porém, estão em densidades especialmente altas nos tentáculos,

sobre ou próximas à boca. Cnidócitos são células sensoriais e efetoras com o

papel central na captura de presas e na defesa. Cada cnidócito tem uma cnida,

uma cápsula membranosa preenchida por fluido que contém uma longa

invaginação tubular da parede da cápsula (Ruppert et al., 2005). E esta cnida

pode apresentar três formas: nemotocisto, espirocistos e pticocistos (Ruppert et

al., 2005). Os nematocistos armazenam proteínas tóxicas que podem ser

liberadas por estimulação direta (McClintock & Baker, 2001). Essa célula é

altamente especializada e localizada principalmente nos tentáculos, serve à

captura e paralisação de presas, proteção contra predadores e auxílio ao

assentamento de larvas ao substrato (McClintock & Baker, 2001).

Embora sejam variáveis em aparência, todos os cnidários possuem a

mesma estrutura básica e simples, como o corpo em forma de saco, com uma

13

única abertura que funciona como boca e ânus, cavidade gastrovascular e

mesogléia (Ruppert et al., 2005).

Os cnidários conseguem seu alimento por várias vias como predação,

absorção direta de nutrientes dissolvidos ou através de simbiose com

microalgas (Sebens, 1987).

A diversidade de cnidários alcança seu zênite nos recifes de coral,

porém, os cnidários são difundidos e comuns mundialmente em mares rasos,

onde se prendem a objetos duros, escavam em sedimentos, ou vagueiam pelo

plâncton. Das aproximadamente 10.000 espécies conhecidas, apenas 20

ocorrem em água doce (Ruppert,et al., 2005).

O filo Cnidário abrange uma grande variedade de animais estritamente

aquáticos, sendo subdividido em cinco classes: Hydrozoa, Anthozoa

(organismos exclusivamente polipóides), Cubozoa e Scyphozoa (apresentando

as fases polipóide e medusóide, sendo esta última predominante) e Staurozoa

(recentemente proposta e representada por medusas bentônicas) (Marques e

Collins, 2004).

A classe Anthozoa está dividida nas subclasses Octocorallia (=

Alcyonaria) e Hexacorallia (= Zoantharia). Os Octocorallia possuem oito

tentáculos pinados e oito septos completos simples, uma sifonoglife ventral e

um endoesqueleto. Por outro lado, os pertencentes à subclasse Hexacorallia

são geralmente coloniais, possuem tentáculos simples de poucos a muitos

(nunca 8) e nunca ramificados, apresenta 2, 1 ou nenhuma sifonoglife e o

esqueleto, quando presente, é externo e não constituído por espículas (Ruppert

et al. , 2005).

Os Cnidários antozoários incluem organismos exclusivamente marinhos,

apresentam uma grande variedade de formas, tamanhos e cores, habitando

todos os mares do mundo, desde zonas costeiras até abissais. Os antozoários

criam e acentuam as paisagens marinhas dos recifes de coral, representando o

maior táxon dos cnidários, contendo mais de 6.000 espécies. Os antozoários

apresentam somente pólipos, sendo a fase da medusa ausente. Anthozoa é o

único táxon dentre os cnidários que tem todos os três tipos de cnida -

nematocistos, espirocistos e pticocistos (Ruppert et al., 2005).

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O gênero Palythoa pertence à família Zoanthidae, ordem Zoanthidea,

subclasse Hexacorallia (ou Zoantharia) e classe Anthozoa. Na espécie

Palythoa caribaeorum (Duchassaing & Michelotti, 1860) os pólipos estão

conectados por um espesso tecido chamado cenénquima, o qual também

agrega partículas em uma camada subepidérmica.

Vulgarmente chamado de “Baba-de-boi”, a espécie Palythoa

caribaeorum é muito comum no Brasil e recebe esse nome em função da

produção abundante de muco, que hidrata seu tecido e evita que resseque

durante a maré baixa. Apresenta ampla distribuição em toda costa Oeste do

Oceano Atlântico (Hetzel & Castro, 1994; Castro & Pires, 2001), habitando

ambientes normalmente rasos (Kemp et al., 2006) e revestindo rochas ou

formando grandes massas incrustantes. Palythoa caribaeorum é o mais

abundante zoantídeo do litoral Pernambucano, ocupando extensas regiões

sobre os recifes.

O gênero Palythoa ganhou grande repercussão mundial após a

descoberta da palitoxina em colônias de P. tuberculosa do litoral caribenho. A

palitoxina (PTX) é um composto letal, não protéico (Mr 2.681), de origem

bacteriana (Vibrio sp, Aeromonas sp, entre outras) e com forte potencial

citotóxico (Moore & Bartolini, 1981). O mecanismo de ação está relacionado ao

bloqueio da bomba Na+/K+-ATPase e formação de poros permeáveis a cátions

nas membranas plasmáticas, culminando com a lise celular (Frelin & Van

Renterghem, 1995). Todos os efeitos da PTX (contrações de músculos lisos,

constrições de vasos sangüíneos, despolarização celular, etc), incluindo a

letalidade, podem ser explicados por meio do efluxo de K+ e influxo de Na+

induzidos por essa toxina. Além disso, a palitoxina apresenta um forte potencial

carcinogênico (Fujiki et al., 1983; Wattenberg, 2007).

A palitoxina pode ser encontrada, principalmente, em algumas espécies

dos gêneros Palythoa, Protopalythoa e Zoanthus (Moore & Scheuer, 1971;

Gleibs et al., 1995; Gleibs & Mebs 1999) bem como em alguns dinoflagelados

(Ukena et al., 2001). Muitos animais marinhos em estreita associação com

15

colônias de zoantídeos podem conter altas concentrações de palitoxina e obter

uma notável tolerância (Mebs 1998; Gleibs & Mebs 1999). Isso permite elevada

acumulação e seqüestro de palitoxina nas cadeias alimentares marinhas,

podendo causar, eventualmente, uma intoxicação humana após a ingestão de

frutos do mar, como crustáceos e peixes (Okano et al., 1998; Taniyama et al.,

2002; Aligizaki et al., 2008).

Os zoantídeos também são fontes de diferentes carboidratos e

proteínas, incluindo lectinas. Lectinas são proteínas que reconhecem e se

associam de forma reversível, com alta afinidade e especificidade, a

carboidratos sem, contudo, apresentarem atividade enzimática. As lectinas

podem induzir aglutinação de várias células, ligando-se a glicoconjugados na

superfície celular (Peumans & Van Damme, 1995; Gabius et al. , 2002; Loris,

2002). Os animais produzem uma variedade de lectinas, muitos das quais têm

sido implicadas nos fenômenos de reconhecimento celular. Elas constituem

moléculas naturais ubíquas, que interagem com os açúcares através de uma

região denominada domínio reconhecedor de carboidratos (DRC), que é

altamente conservada em cada tipo de lectina (Nl. et al., 1996). Muitas lectinas

pertencem a grupos distintos de proteínas, estas por sua vez, podem

apresentar semelhanças nas suas seqüências e características estruturais.

Embora tenha sido inicialmente detectadas em vegetais superiores, as

lectinas são encontradas em muitos outros organismos, desde vírus e bactérias

até animais invertebrados e vertebrados (Lis & Sharon, 1998; Loris, 2002). O

reconhecimento de carboidratos ocorre nos mais variados contextos biológicos

e por isso as lectinas consistem em um grupo de proteìnas altamente diversas

formada por um grande número de famílias.

Na ausência de imunoglobulinas, mediadoras da imunidade adquirida,

as lectinas presentes em tecidos de organismos invertebrados agem de

maneira semelhante aos anticorpos, fornecendo a primeira linha de defesa,

podendo desencadear um importante mecanismo efetor na eliminação

potencial de patógenos (Bayne et al., 1985; Kilpatrick, 2002).

16

Devido ao fato das lectinas terem a habilidade de ligar-se a carboidratos

e promover a aglutinação de diferentes células, é razoável assumir que essas

moléculas possuem um considerável papel nas reações de reconhecimento do

não-próprio nos invertebrados. Assim como as imunoglobulinas dos

vertebrados, as lectinas dos invertebrados podem aglutinar microorganismos e

favorecer sua fagocitose, por mediar a ligação entre a superfície do hemócito e

o corpo estranho. Existem três diferentes rotas para o reconhecimento de

partículas estranhas, nas quais as lectinas podem interagir: a primeira é

através da interação da lectina da membrana dos invertebrados com o

carboidrato de membrana do microrganismo; a segunda ocorre pela ligação

entre a lectina da membrana do patógeno e o açúcar presente na membrana

das células dos invertebrados; e a terceira rota, ocorre através da ligação de

lectinas humorais com glicoconjugados presentes nos microrganismos,

formando um complexo que se une ao receptor de opsonina da célula de

defesa dos invertebrado( Renwrantz, 1983).

A associação entre corais e dinoflagelados unicelulares é predominante

no ambiente marinho e forma a base trófica e estrutural dos recifes de corais. A

interação lectina/glicano tem sido apontada como um mecanismo de

sinalização durante o início da simbiose entre cnidários e algas (Meints &

Pardy, 1980) e mais recentemente em antozoários (Jimbo, 2000; Lin et al.,

2000).

A presença de moléculas bioativas nos diferentes tipos de organismos

marinhos sofre forte flutuação tanto regional quanto sazonal. Sabe-se que

quanto mais preservado um ambiente, maior a biodiversidade ali encontrada,

tendo como consequência um aumento da competição por espaço entre os

organismos recifais. Neste processo podem ocorrer alterações na produção de

moléculas bioativas e toxicidade das mesmas. A variabilidade no conteúdo das

moléculas bioativas pode ocorrer também de acordo com as condições

ambientais, como variações climáticas, níveis de poluentes na água, radiação

ultravioleta, etc. Além disso, a produção de moléculas bioativas por parte dos

zoantídeos pode sofrer alterações durante a sua fase reprodutiva,

17

provavelmente como uma forma de proteção, como sugeriram Kimura et al.

(1972).

Em estudos realizados nos últimos anos pelo nosso grupo ECOTONE,

com as amostras de mucos normais e branqueados de P. caribaeorum,

coletados durante o verão, nas praias de Suape e Guadalupe localizados em

Pernambuco, mostraram a presença de proteínas e de carboidratos e ação

aglutinante de hemácias humanas do tipo A, B e O em todas as amostras

testadas. Além disso, foi observada uma ação coagulante tardia nas amostras

coletadas em Suape.

Dando continuidade ao estudo do muco da espécie Palythoa

caribaeorum, neste trabalho foram avaliadas variações sazonais no conteúdo

protéico e de carboidratos do muco de P. caribaeorum, bem como nas

atividades hemaglutinante e pró-coagulante sanguínea. A avaliação das

alterações sazonais realizadas neste trabalho foi de suma importância para dar

andamento aos projetos futuros de purificação de proteínas biologicamente

ativas, incluindo lectinas, do muco de P. caribaeorum.

18

2. OBJETIVOS

2.1 GERAL

Avaliar as possíveis alterações de conteúdo protéico, de carboidratos e

de algumas atividades farmacológicas do muco coletado do zoantídeo P.

caribaeorum.

2.2. ESPECÍFICOS

1) Avaliar possíveis variações sazonais nas concentrações de proteínas e

carboidratos dos mucos analisados;

2) Realizar eletroforeses com as amostras coletadas e determinar possíveis

alterações sazonais no perfil protéico dos mucos;

3) Avaliar possíveis variações sazonais na ação aglutinante de hemácias

humanas das amostras e correlacionar os resultados com a presença de

lectinas no muco;

4) Avaliar a existência de uma ação coagulante sazonal dos mucos sobre o

plasma sanguíneo humano.

19

3. METODOLOGIA

3.1. Área de Estudo

A praia de Porto de Galinhas localiza-se no litoral do Nordeste brasileiro,

a 70 quilômetros ao Sul de Recife-PE, no município de Ipojuca. O município de

Ipojuca está localizado ao sul da cidade do Recife e a sede dista 52 km da

capital. Limita-se ao norte com o município do Cabo de Santo Agostinho, ao sul

com o município de Sirinhaém, a leste com o Oceano Atlântico e a oeste com o

município de Escada, possuindo uma área de 507 km².

3.2. Coletas e Processamento das Amostras

Amostras de muco de P. caribaeorum foram coletadas nos meses de

inverno (Julho/08 e Agosto/08) e de verão (Dezembro/08 e Março/09) na praia

de Porto de Galinhas, durante a maré baixa, pela raspagem das colônias com o

auxílio de luvas. O muco coletado foi acondicionado em tubos plásticos e

transportado em gelo até o laboratório, onde as amostras foram submetidas à

forte agitação mecânica, seguida de duas centrifugações a 1.000 g, por 30

minutos. Para os testes, o sobrenadante obtido foi dialisado contra água

destilada (limite de exclusão da membrana de ~ 12000 Da) durante 24h. As

amostras foram, posteriormente, liofilizadas e mantidas a -20º C até o momento

do uso.

20

Figura 1. Foto do zoantídeo Palythoa caribaeorum da Praia de Porto de Galinhas,

litoral sul pernambucano. Colônias expostas durante a maré baixa.

3.3. Dosagem Protéica das Amostras de Muco

A dosagem protéica das amostras foi avaliada segundo o método de

Bradford (1976), utilizando o reagente de Bradford (SIGMA ALDRICH). Para tal

teste, o muco liofilizado foi diluído em uma solução salina a uma concentração

de 1mg/ml. O teste foi realizado misturando-se 50µl de amostra com 1,5 ml do

reagente de Bradford. Após incubação por 50 minutos, as amostras foram lidas

a 590 nm. As concentrações protéicas das amostras foram estimadas através

de uma curva padrão de albumina de soro bovino (0,125 a 1mg/ml).

3.4. Eletroforese em Gel de Poliacrilamida das Amostras de Muco

Para comparação do perfil protéico das amostras mensais de Porto de

Galinhas, as mesmas foram submetidas à eletroforese por SDS-PAGE 12%

(Laemmli, 1970), na presença e ausência de β-mercaptoetanol, A eletroforese

foi então processada a 20 mA por aproximadamente 2 horas e, em seguida e

os géis foram corados por Nitrato de Prata (AgNO3) como descrito a seguir.

Inicialmente, o gel foi mergulhado em uma solução fixadora contendo ácido

acético 10% e etanol 40% por 1 hora. Em seguida, o gel foi submetido a duas

lavagens com etanol 30%, por 20 minutos cada, e uma lavagem em água

destilada por 20 minutos. O gel foi então incubado por 1 minuto, no escuro,

21

com solução de Tiossulfato de sódio100%, sendo posteriormente lavados 3

vezes com água destilada, por 20 segundos cada. Para a coloração, o gel foi

incubado por 20 minutos com uma solução de Nitrato de Prata 99,98%

contendo Formol 0,02%. Após três lavagens com água destilada, o gel foi

revelado pela incubação, por aproximadamente 3 minutos, com uma solução

de Carbonato de sódio 90%, Tiossulfato de sódio 9,9% e Formol 0,08%. Após o

aparecimento das bandas protéicas, o gel foi rapidamente lavado com água

destilada, seguida de uma lavagem em solução de Glicina 100% por 5 minutos.

3.5. Dosagem de Carboidratos das Amostras de Muco

A dosagem de carboidratos das amostras foi realizada pelo método de

Fenol-Ácido Sulfúrico (Dubois, 1956). As amostras de muco liofilizado foram

diluídas em solução salina a uma concentração de 1mg/ml. Para os testes,

100µl de amostra foram misturados a 400µl de fenol (5%) e 2 ml de ácido

sulfúrico. Após 1 min de incubação, as absorbâncias a 490 nm foram

determinadas. O cálculo das concentrações foi realizado com base numa curva

padrão de D-Glucose (0,2 a 1,0 mg/ml).

3.6. Determinação da Aglutinação de Hemácias Humanas pelas

Amostras de Muco

3.6.1. Coleta de Sangue e Fixação das Hemácias em Glutaraldeído

As amostras de sangue humano dos tipos A, O e AB foram coletadas na

proporção de um volume de sangue para 1,6 volumes de solução de Alsever:

2,95 g de dextrose,1,2 g de citrato de sódio, 0,42 g de cloreto de sódio, 0,055 g

de ácido cítrico e água destilada para um volume final de 100 ml (Bukantz et

al., 1963). Para fixação das hemácias em glutaraldeído (Bing et al., 1967), o

22

sangue coletado em solução de Alsever foi centrifugado (1.300 x g, 15 min) e

os eritrócitos ressuspensos em NaCl 0,15 M. Três lavagens com NaCl 0,15 M

foram efetuadas. Uma incubação (4ºC, 30 min, com agitação branda a

intervalos de 5 min) das hemácias (1,5% v/v) foi feita em glutaraldeído 1% (v/v)

diluído em uma solução contendo um volume de tampão fosfato de sódio 0,15

M, pH 8,2, nove volumes de NaCl 0,15 M e cinco volumes de água. Em

seguida, uma nova centrifugação a 1.300 x g, por 10 min, foi realizada. As

hemácias “glutarizadas” foram ressuspensos a 2,5% (v/v), em NaCl 0,15 M e

armazenado a 4º C por até 3 meses.

3.6.2. Atividade Hemaglutinante dos Mucos

A atividade hemaglutinante foi realizada em microplacas de 96 poços,

utilizando hemácias humanas dos tipos A, O e AB de doadores normais,

tratadas com glutaraldeído como descrito no item 3.6.1.

Inicialmente, as quatro amostras de muco foram pesadas e diluídas para

uma concentração protéica de 6mg/ml. Para os testes, foram pipetadas 50 µl

de NaCl 0,15 M nos 18 primeiros poços da microplaca. Em seguida, foram

adicionados ao 2o poço 50 µl de amostra (300 µg de proteínas), sendo então

realizada uma diluição seriada (proporção de 1:2) até o 18o poço. No 1o poço

foram adicionados 50 µl de NaCl 0,15 M (controle negativo). Por fim, foram

adicionados em todos os poços 50 µl da solução de hemácias 2% e a placa

incubada por 1h, a temperatura ambiente, em superfície plana. Neste teste, o

resultado positivo é caracterizado pela formação de um véu de hemácias,

contrastando com o resultado negativo onde se evidencia a formação de botão

compacto no fundo da placa.

23

A Concentração Mínima Hemaglutinante (CMH) foi determinada como a

mínina concentração protéica capaz de permitir a visualização do véu de

hemácias.

3.7. Ação dos Mucos sobre a Coagulação do Plasma Humano

Para os testes de coagulação, amostras de sangue foram coletadas de

doadores normais que não haviam feito uso de antiflamatórios ou analgésicos

pelo menos 3 dias antes da coleta. Imediatamente após a coleta, o sangue foi

misturado a citrato de sódio (3,8%), na proporção de 1 ml do anticoagulante

para 9 ml de sangue, e em seguida centrifugado a 100 x g por 20 minutos. O

sobrenadante, correspondendo ao Plasma Rico em Plaquetas (PRP) foi

utilizado nos testes de coagulação.

A atividade coagulante foi realizada em microplacas de 96 poços.

Inicialmente, foram pipetados nos 12 primeiros poços 50 µl de NaCl 0,15 M, em

seguida, foram adicionados ao 2o poço 50µl de muco (300 µg de proteina),

quando então foi realizada uma diluição seriada, na proporção de 1:2, até o 12o

poço. No 1o poço foram adicionados 50 µl de NaCl 0,15 M (controle negativo).

Posteriormente, foram adicionados a todos os poços 50 µl do PRP e a placa

incubada a temperatura ambiente por 1h em superfície plana. Todos os testes

foram realizados em triplicata. O resultado é considerado positivo pela

visualização de um coágulo no poço.

24

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. Dosagens de Proteínas e de Carboidratos

As dosagens protéicas e de carboidratos das amostras de mucos

coletadas em Porto de Galinhas nos meses de inverno (Julho/08 e Agosto/08)

e verão (Dezembro/08 e Março/09) podem ser observadas nas figuras 2 e 3,

respectivamente.

De acordo com os resultados, para os meses de Julho/08, Agosto/08 e

Dezembro/08 não houve mudança significativa na quantidade de proteínas

(0,569mg/ml ± 0,012, 0,536mg/ml ± 0,017 e 0,593mg/ml ± 0,029

respectivamente) e de carboidratos das amostras (16,771mg/ml ± 0,766,

19,380mg/ml ± 1,572 e 19,252mg/ml ± 1,225, respectivamente). Por outro lado,

um importante aumento em ambas as dosagens pode ser observado na

amostra de Março/09 (0,716mg/ml ± 0,040 e 35,295mg/ml ± 3,355, dosagens

protéicas e de carboidratos respectivamente). Este aumento bastante

significativo nos conteúdos protéico e, sobretudo, de carboidratos não parece

estar relacionado simplesmente à estação da coleta, já que a amostra de

Dezembro/08 também representa o período de verão. O que nos leva a sugerir

que as variações nas concentrações protéicas e de carboidratos entre os

mucos de P. caribaeorum podem sofrer flutuações mensais, e não apenas

sazonais.

A variação ocorrida no mês de Março/09 das dosagens protéicas e de

carboidratos pode ter sido influenciada por fatores abióticos, uma vez que este

mês apresentou um aumento no aquecimento das águas ao longo de todo o

Pacífico Equatorial.

25

Figura 2. Dosagens protéicas das amostras de muco do Palythoa caribaeorum.

Coletados na praia de Porto de Galinhas nos meses de Julho/08, Agosto/08, Dezembro/08 e

Março/09. As dosagens protéicas foram calculadas a partir da fórmula y= 0,77x + 0,0852,

R²=0,09968, obtida a partir de uma curva padrão de albumina de soro bovino (0,125 a 1mg/ml).

Os valores no gráfico expressam a MEDIA±DESVIO PADRÃO das amostras.

Figura 3. Dosagens de carboidratos das amostras de muco do Palythoa

caribaeorum. Coletados na praia de Porto de Galinhas nos meses de Julho/08, Agosto/08,

Dezembro/08 e Março/09. As dosagens de carboidratos foram calculadas a partir da fórmula

y= 0,0146x - 0,0587, R²=0,09968, obtida a partir de uma curva padrão de D-Glucose (0,2 a 1,0

mg/ml). Os valores no gráfico expressam a MEDIA±DESVIO PADRÃO das amostras.

26

4.2 Perfil Eletroforético das Proteínas dos Mucos

Diversas corridas eletroforéticas foram realizadas com as amostras de

muco coletadas em Porto de Galinhas. Em muitas corridas, o grande conteúdo

de carboidratos e a alta viscosidade das amostras prejudicaram a entrada das

proteínas no gel e/ou a coloração das bandas protéicas. A figura 4 mostra o

perfil protéico das quatro amostras de muco, na presença e ausência de agente

redutor.

Os perfis eletroforéticos das amostras de Julho/08, Agosto/08 e

Dezembro/08 foram bastante similares. Na ausência de agente redutor, estas

amostras apresentaram uma banda protéica majoritária de aproximadamente

20 KDa. Esta banda pode ser evidenciada também nas amostras tratadas com

o agente redutor, indicando tratar-se de uma proteína monomérica.

As amostras dos meses de Agosto/08 e Dezembro/08 apresentaram

além das bandas majoritárias, outras bandas protéicas de tamanhos diferentes,

na ausência e presença do agente redutor. A presença dessas bandas

demonstra a existência de mais proteínas presentes no muco. Os meses de

Agosto/08 e Dezembro/08 apresentaram bandas protéicas que variaram entre

tamanhos menores que 20 KDa à 97 KDa.

A alta concentração de carboidratos no muco de Março/09 impediu uma

corrida eletroforética satisfatória para esta amostra, além de interferir na

coloração das proteínas tanto por AgNO3 quanto por Coomassie briliant blue R-

250 (dados não mostrados). Desta forma, não foi possível avaliar a diversidade

protéica desta amostra, nem compará-la com os demais mucos.

27

kDa

97

66

45

30

20

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Figura 4. Perfil eletroforético dos mucos de P.caribaeorum. A eletroforese foi

processada em SDS-PAGE 12 %, a 20 mA por aproximadamente 2 horas. Após a corrida, os

géis foram corados por AgNO3. Poço 1- Padrão de peso molecular; Poços 2, 3, 4 e 5-

Amostras dos meses de Julho/08, Agosto/08, Dezembro/08 e Março/09 na ausência de β-

mercaptoetanol, respectivamente. Poços 6, 7, 8 e 9- Amostras dos meses de Julho/08,

Agosto/08, Dezembro/08 e Março/09 na presença de β-mercaptoetanol, respectivamente.

4.3. Atividade Hemaglutinante dos Mucos

As amostras dos mucos coletados em Porto de Galinhas nos meses de

Agosto/08, Dezembro/08 e Março/09 foram capazes de induzir a aglutinação de

hemácias humanas do tipo O e A. As concentrações Mínimas Hemaglutinantes

(CMH) das amostras para os diferentes tipos sanguíneos são apresentadas na

tabela 1.

28

Sangue O Sangue A Sangue AB

Julho/08 ____ ____ ____

Agosto/08 0,75 mg/mL 0,75 mg/mL ____

Dezembro/08 0,375 mg/mL 0,187 mg/mL ____

Março/09 0,005 mg/ml 0,005 mg/mL 0,375 mg/mL

Tabela 1. Concentrações Mínimas Hemaglutinantas das amostras de muco de Palythoa

caribaeorum coletadas na praia de Porto de Galinhas. Testes realizados em hemácias

humanas glutarizadas dos tipos O, A e AB.

Por outro lado, a amostra de Julho/08 não apresentou atividade

hemaglutinante sobre nenhum dos tipos sanguíneos testados. Uma análise

visual da amostra revelou falhas no processo de liofilização, que pode ter

ocasionado a perda da atividade de suas proteínas.

Comparando-se as CMH das demais amostras, pode-se observar uma

potente atividade hemaglutinante no muco de Março/09, sendo esta amostra a

única capaz de aglutinar as hemácias do grupo AB. Por outro lado, Agosto/08

mostrou a menor capacidade hemaglutinante (Tabela 1).

A presença de atividade hemaglutinante nas amostras testadas sugere a

presença de lectinas nos mucos. Segundo Sharon e Halina (2001), as lectinas

contêm sítios que se ligam a carboidratos presentes na superfície de hemácias,

resultando na ligação cruzada das células e sua precipitação, o que caracteriza

a hemaglutinação. De acordo com relatos recentes, esta classe protéica está

presente em antozoários e tem importante papel no reconhecimento e na

simbiose com dinoflagelados (Jimbo et al., 2005; Wood-Charlson et al., 2006).

É importante ressaltar que a amostra de Março/09, além de uma potente

ação hemaglutinante, apresentou concentração protéica mais elevada quando

comparada as demais amostras. Conjuntamente, estes dados sugerem uma

maior concentração de lectinas e/ou a presença de lectinas mais potentes na

amostra de Março/09.

29

Landstein e Raubischek, em 1908, foram os primeiros a trabalharem a

especificidade de lectinas. Eles observaram que vários extratos de lectinas

promoviam diferentes propriedades hemaglutinantes quando ensaiados com

eritrócitos de diferentes animais. Alguns desses extratos aglutinavam

fracamente ou mesmo não aglutinavam eritrócitos humanos (Kennedy & cols.,

1995). A atividade ligante das lectinas com especificidade pelos diferentes tipos

sanguíneos pode ser fortemente inibida pelos monossacarídeos determinantes

dos respectivos grupos sanguíneos; como por exemplo, 2-N-

acetilgalactosamina e L-fucose que inibem as lectinas específicas por

eritrócitos do tipo A e O, respectivamente.

4.4. Atividade coagulante sobre o Plasma Humano

Nosso resultado sobre uma possível ação coagulante presente nas

amostras de Julho/08, Agosto/08, Dezembro/08 e Março/09 mostrou que

nenhuma delas é capaz de induzir a formação de coágulo no plasma humano

citratado, mesmo após uma incubação de 1h. De fato, até o momento não há

descrição na literatura da presença de moléculas pró-coagulantes em

antozoários. Além disso, não foram encontradas relatos de lectinas com ação

pró-coagulantes.

Entretanto, em trabalho anterior do nosso grupo (dados não publicados),

havia sido evidenciada ação coagulante tardia, após 1h de incubação, em uma

amostra pontual coletada na praia de Suape, também no litoral sul

pernambucano. Isto pode sugerir que a presença de diferentes classes de

moléculas no muco de P. caribaaeorum pode sofrer influência não só sazonal,

mas também geográfica.

30

5. CONCLUSÕES Com o presente estudo pudemos observar que:

1) O muco do zoantídeo Palythoa caribaeorum coletado em Porto de Galinhas

no mês de Março/09 apresentou um aumento significativo tanto na sua

concentração protéica quanto na de carboidratos quando comparado com os

mucos coletados nos meses de Julho/08, Agosto/08 e Dezembro/08.

2) As amostras dos meses de Agosto/08, Dezembro/08 e Março/09

apresentaram atividade hemaglutinante para os sangues dos tipos O e A. Por

outro lado, apenas a amostra de Março/09 foi capaz de aglutinar hemácias do

tipo AB. A presença de atividade hemaglutinante nas amostras sugere a

presença de lectinas no muco produzido pelo zoantídeo Palythoa caribaeorum.

3) Os mucos de Palythoa caribaeorum coletados nos meses de Julho/08,

Agosto/08, Dezembro/08 e Março/09 não foram capazes de induzir coagulação

em plasma humano, mesmo após uma incubação prolongada. Estes resultados

sugerem a ausência de moléculas pró-coagulantes nas amostras testadas.

4) Conjuntamente, os nossos resultados mostram que o conteúdo e as ações

farmacológicas do muco de Palythoa caribaeorum sofrem variações mensais,

não estando apenas relacionadas a estação do ano (inverno ou verão). Os

resultados apresentados neste trabalho serão de grande importância para

darmos andamento ao processo de purificação e caracterização das proteínas

presentes no muco de Palythoa caribaeorum, orientando-nos nas novas

coletas.

31

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