monitoramento ambiental da bacia do rio mogi mirim

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ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 1 Adilson José Rossini Tecnólogo Sanitarista formado pela UNICAMP em 1976. Exerce atividades de controle de poluição ambiental na CETESB desde Maio /1976. Atualmente é Gerente da CETESB - Agência Ambiental de Limeira e Professor da Faculdade de Tecnologia FT – UNICAMP. Gustavo Henrique Assis Borim Tecnólogo em Saneamento Ambiental formado pela UNICAMP em 2009. Exerce atividade junto à Assessoria de Planejamento e Meio Ambiente do Serviço Autônomo de Água e Esgotos de Mogi Mirim – SAAE. Endereço: Rua Santo Agostinho, nº98 – Vila Bianchi. Mogi Mirim – SP. Cep: 13801-470 - Brasil - Tel: +55 (19) 3552-5485 (19) 9733-5405- e-mail: [email protected] RESUMO Os cursos hídricos foram e são fundamentais para o desenvolvimento das atividades humanas. Além de vários usos, também são utilizados como forma de destino final de despejos domésticos e industriais de esgotos, tratados ou não. Mogi Mirim, município da região administrativa de Campinas, SP, possui um rio principal, o qual dá nome à cidade. O rio Mogi Mirim nasce em área rural do município, passa pela área urbana e desemboca no rio Mogi Guaçu. Possui diversos afluentes, tanto em sua área urbana quanto rural, sendo que muitos, juntamente com o próprio rio Mogi Mirim, sofrem pressões antrópicas, as quais deterioram a qualidade de suas águas. Assim, este estudo visa o monitoramento ambiental do rio Mogi Mirim e de seus principais afluentes na área urbana, a fim de diagnosticar a qualidade destes corpos hídricos, tendo como ferramenta o Índice de Qualidade das Águas (IQA), desenvolvido pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB). MONITORAMENTO AMBIENTAL DOS CORPOS D´ÁGUA DO MUNICÍPIO DE MOGI MIRIM – SP

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Artigo de Monitoramento Ambiental através do Índice de Qualidade das Águas (IQA), apresentado no congresso nacional da ASSEMAE, em 2010.

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Page 1: Monitoramento Ambiental da Bacia do rio Mogi Mirim

ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 1

Adilson José Rossini

Tecnólogo Sanitarista formado pela UNICAMP em 1976.

Exerce atividades de controle de poluição ambiental na CETESB desde Maio /1976.

Atualmente é Gerente da CETESB - Agência Ambiental de Limeira e Professor da Faculdade de

Tecnologia FT – UNICAMP.

Gustavo Henrique Assis Borim

Tecnólogo em Saneamento Ambiental formado pela UNICAMP em 2009.

Exerce atividade junto à Assessoria de Planejamento e Meio Ambiente do Serviço Autônomo de

Água e Esgotos de Mogi Mirim – SAAE.

Endereço: Rua Santo Agostinho, nº98 – Vila Bianchi. Mogi Mirim – SP. Cep: 13801-470 - Brasil -

Tel: +55 (19) 3552-5485 (19) 9733-5405- e-mail: [email protected]

RESUMO

Os cursos hídricos foram e são fundamentais para o desenvolvimento das atividades

humanas. Além de vários usos, também são utilizados como forma de destino final de despejos

domésticos e industriais de esgotos, tratados ou não. Mogi Mirim, município da região

administrativa de Campinas, SP, possui um rio principal, o qual dá nome à cidade. O rio Mogi

Mirim nasce em área rural do município, passa pela área urbana e desemboca no rio Mogi Guaçu.

Possui diversos afluentes, tanto em sua área urbana quanto rural, sendo que muitos, juntamente

com o próprio rio Mogi Mirim, sofrem pressões antrópicas, as quais deterioram a qualidade de

suas águas. Assim, este estudo visa o monitoramento ambiental do rio Mogi Mirim e de seus

principais afluentes na área urbana, a fim de diagnosticar a qualidade destes corpos hídricos,

tendo como ferramenta o Índice de Qualidade das Águas (IQA), desenvolvido pela Companhia

Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB).

MONITORAMENTO AMBIENTAL DOS CORPOS D´ÁGUA DO MUNICÍPIO DE MOGI MIRIM – SP

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ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 2

Palavras-chave: Índice de Qualidade das Águas (IQA), Recursos Hídricos, Monitoramento

Ambiental, esgotos.

1. INTRODUÇÃO/OBJETIVOS

Os recursos hídricos (água doce) representam 2,5% do total do volume estocado nos

principais reservatórios hídricos do planeta Terra. Destes, 0,3% representam rios e lagos e 29,9%

a água doce subterrânea.

O Agravamento da crise ambiental é marcante nas grandes cidades brasileiras, onde a

poluição das águas transparece como um sinal da incapacidade de enfrentamento dos problemas

de uso e ocupação do solo, e da ausência de infra-estrutura urbana de saneamento, agravada nas

periferias das cidades, onde a conservação dos mananciais hídricos e os remanescentes de

ecossistemas naturais são impactados pelo crescimento urbano sem planejamento, em áreas

desvalorizadas para o não-uso e que acabam, de fato, sendo o único estoque de áreas destinadas

ao uso dos mais pobres, face à total ausência de políticas públicas (PHILIPPI, 2005).

A avaliação da qualidade da águas envolve estudos e pesquisas que visam determinar os

padrões de qualidade para uso humano dos diferentes sistemas hídricos e as interferências

humanas sobre esses padrões, por meio, por exemplo, de contaminação. O tema evoca estudos

relacionados ao abastecimento e esgotamento de cidades, vilas e povoados e outros usos da

água onde a influência humana interfere sobre a quantidade e qualidade do recurso água. Os

fatores físicos, químicos e biológicos da água fornecem importantes subsídios à tipologia dos

principais cursos d´água, sua produtividade e, aliados aos dados do regime de cheias, podem

indicar potencialidades e vulnerabilidade dos sistemas hídricos e das populações locais,

notadamente, relacionadas à saúde e à qualidade de vida (REBOUÇAS, 2002).

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) desenvolveu o índice de

qualidade das águas (IQA). É calculado pelo produtório ponderado das qualidades de água

correspondentes às nove variáveis que integram o índice. São elas: Coliformes Fecais, pH,

Demanda Bioquímica de Oxigênio, Nitrogênio Total, Fósforo Total, Temperatura, Turbidez,

Resíduo Total e Oxigênio Dissolvido. As variáveis foram selecionadas devido à sua relevância

para a avaliação da qualidade das águas, tendo como determinante sua utilização para o

abastecimento público.

Mogi Mirim, município localizado na região administrativa de Campinas (SP), possui uma

área de 499,1 Km² e conta com uma população de 87.800 habitantes (IBGE, 2008). Possui

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ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 3

fragilidades ambientais como a rede fluvial, que tem o rio Mogi Mirim como espinha dorsal,

apresentando, várias vezes, margens desprovidas de vegetação ciliar e cursos d´água urbanos,

com nascentes localizadas dentro da área urbana.

O presente trabalho objetiva, através do monitoramento ambiental, realizar um diagnóstico

da qualidade das águas da bacia hidrográfica do rio Mogi Mirim.

2. METODOLOGIA

Através de carta do Instituto de Geografia e Cartografia (IGC) de 2003, delimitou-se a

bacia hidrográfica do rio Mogi Mirim. Também foram delimitadas as sub-bacias dos principais

afluentes do rio Mogi Mirim, em seu trecho urbano, conforme Figura 01.

FIGURA 01: Bacia hidrográfica do rio Mogi Mirim e destaque para seus principais afluentes na

área urbana. Fonte: BORIM, G. 2009.

Foram selecionados pontos de amostragem do rio Mogi Mirim e seus principais afluentes

da área urbana, conforme tabela 01 e esquema unifilar na Figura 02.

Corpo hídrico Ponto de amostragem

Localização Coordenadas

UTM

Mogi Mirim PM03 Ponte da Rodovia SP-147 7.515.768,58 N

300.454,23 E

Bela Vista PM05 Ponte na Av. Adib Chaib 7.517.062,52 N

299.311,84 E

Page 4: Monitoramento Ambiental da Bacia do rio Mogi Mirim

ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 4

Lavapés PM02 Junção dos córregos Pq.

Industrial e Maria Beatriz,

Av. Luiz Gonzaga de

Amoedo Campos

7.516.325,46 N

297.230,88 E

Lavapés PM01 Lago II – Complexo Lavapés

– Av. Luiz Gonzaga de

Amoedo Campos

7.516.621,13 N

297.626,20 E

Lavapés PM06 Ponte na Av. Adib Chaib 7.517.382,14 N

299.009,22 E

Toledo PM07 Ponte na Av. João Vieira

Ramalho

7.518.191,74 N

299.580,06 E

Santo Antônio PM08 Ponte na Av. Luiz Gonzaga

de Amoedo Campos

7.518.825,60 N

299.044,72 E

Bairrinho PM09 Ponte na Av. Nagib Chaib 7.519.614,97 N

299.179,62 E

Mogi Mirim PM10 Ponte da Rodovia Nagib

Chaib (Morro Vermelho)

7.519.988,25 N

298.986,98 E

Mogi Mirim PM11 Ponte da Rodovia SP-340 7.522.179,67 N

297.005,85 E

TABELA 01: Pontos de amostragem selecionados do rio Mogi Mirim e seus principais afluentes.

Fonte: BORIM, G. 2009.

FIGURA 02: Esquema unifilar dos pontos de amostragem do rio Mogi Mirim e seus principais

afluentes na área urbana.

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2.1 DESCRIÇÃO DAS SUB-BACIAS

2.1.1 SUB-BACIA DO CÓRREGO BELA VISTA

A sub-bacia do Bela Vista, afluente contribuinte da margem esquerda do rio Mogi Mirim,

caracteriza-se por ter sua nascente em uma área pouco urbanizada, porém industrializada. As

áreas ao longo do corpo hídrico, também caracterizadas por áreas de baixa ocupação, estão

sofrendo processo de urbanização devido à instalação de novos loteamentos urbanos. A sub-

bacia hidrográfica sofre impactos no que tange à contaminação do corpo hídrico, devido a

lançamentos de esgotos industriais e impactos decorrentes de movimento de solo, devido à

abertura destes novos loteamentos.

Além dos impactos supracitados, há também contaminação da bacia por efluentes

domésticos devido à má condição do coletor tronco de esgotos Bela Vista, devido a seu tempo de

vida e tecnologia existente na época de sua construção (manilhas de barro sem rejunte ou com

rejunte de pasta de cimento). Assim sendo, a bacia também sofre impactos devido a vazamentos

de esgotos do coletor tronco deteriorado.

O córrego Bela Vista passa por dentro do Horto Florestal e Zoológico Municipal, passando

por um lago artificial e, após sair do Horto Florestal, entra em uma área bem urbanizada sem a

presença de mata ciliar ou respeito legal à área de preservação permanente. Após, desaguando

no rio Mogi Mirim.

2.1.2 SUB-BACIA DO CÓRREGO LAVAPÉS

O Córrego do Lavapés, o qual abriga o denominado “Complexo Lavapés”, cartão de visita

da cidade e a grande área de lazer do mogimiriano, inserido em um dos bairros mais nobres da

cidade, é formado pelos córregos Maria Beatriz, proveniente do bairro de mesmo nome da zona

Sul do município, e por um córrego sem nome comumente conhecido por córrego Parque

Industrial por ter sua nascente do distrito em questão. Nos anos 80, o poder público municipal

realizou uma barragem no córrego, criando assim o denominado Complexo Lavapés. Hoje, uma

grande área de lazer com área para caminhada, Cooper, ciclovia e outros esportes.

A sub-bacia em questão dispõe de uma proteção ambiental precária pelo fato de sua

proximidade com o Parque Industrial. Há histórico de lançamentos clandestinos de esgotos

industriais nesse corpo d´água, inclusive o mesmo sendo objeto de um termo de ajustamento de

conduta (TAC) firmado junto com o Ministério Público. Também considerando que o sistema de

esgotos existente nesta sub-bacia é o que recebe os esgotos dos Parques Industriais I e II e o

mesmo ser deficitário devido ao seu tempo de vida e à metodologia empregada na época

(manilhas de barro com e/ou sem rejunte de cimento), tendo vários incidentes envolvendo

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vazamento de esgotos, o qual pode ser considerado o principal deteriorador da qualidade das

águas nesta sub-bacia.

Anualmente, na época da estiagem, o lago sofre processo de eutrofização, pois, devido à

baixa vazão e falta de chuvas, característica de épocas de estiagem, o lago, com a carga

poluidora orgânica, em termos de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) constante, favorece o

crescimento algal com a possibilidade de mortandade da fauna aquática, devido às baixas

concentrações de oxigênio dissolvido.

A sub-bacia também dispõe de mata ciliar precária, tendo esta bem formada somente no

trecho compreendido após a Rodovia SP-147 e antes da Avenida Luiz Gonzaga de Amoêdo

Campos.

2.1.3 SUB-BACIA DO CÓRREGO TOLEDO

A sub-bacia do Toledo encontra-se na zona Leste do município, caracteriza-se por

encontrar-se em uma área mista de área urbana com área rural, tendo assim fontes de poluição

das duas origens citadas. Em alguns trechos, o curso d´água não possui vegetação ciliar e, em

outros trechos, possui uma vegetação ciliar diminuta, com a presença de criação de bovinos e

outros animais. Somente em seu trecho final há mata ciliar definida.

Já em sua nascente sofre impactos ambientais negativos devido à contaminação por

esgotos provenientes de ligações clandestinas no sistema de drenagem de águas pluviais,

contaminação devido a resíduos sólidos lançados em seu leito menor e maior, além de

contaminação por dejetos produzidos por animais nas proximidades do curso hídrico.

O córrego do Toledo cruza com a estrada férrea da “Mogiana” e passa sob a Rua do

Mirante, sofrendo canalização nestes trechos. Após, segue passando por lotes particulares,

também sofrendo impactos ambientais negativos devido à falta de vegetação ciliar. Após cruzar

sob a Av. João Vieira Ramalho (local de amostragem), possui uma vegetação ciliar definida até a

confluência com o rio Mogi Mirim.

2.1.4 SUB-BACIA DO CÓRREGO SANTO ANTÔNIO

A sub-bacia do córrego Santo Antônio abrange o córrego de mesmo nome, o qual nasce

em área rural, antes da SP-340, e flui ao rio Mogi Mirim passando pelo bairro Santa Cruz e

Centro, paralelo à Avenida Brasil. O córrego Santo Antônio também recebe contribuição do

córrego da Voçoroca, proveniente de uma movimentação geológica, a qual deu o nome ao

córrego.

Os principais impactos ambientais desta sub-bacia são a própria Voçoroca. Segundo

Toledo Filho (2007), em algumas partes houve a estabilização dos processos erosivos e em

outras, onde a erosão atingiu o lençol freático, o processo erosivo continua, agravado por

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ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 7

enxurradas das chuvas que se encaminham pelas trilhas e fogo criminoso. Fato que se confirma

devido à cor barrenta que se deposita em dois lagos a jusante da voçoroca e que estão sendo

assoreados.

O córrego Santo Antônio, após sua nascente, possui um grande trecho canalizado que

torna-se um canal aberto tendo em suas margens a Av. Brasil (avenida de grande movimento, a

qual dá acesso ao centro da cidade). Em grande parte, o leito definido do córrego é um canal

artificial com seção trapezoidal, não possui mata ciliar e nem ao menos seus limites de área de

preservação permanente respeitados. A sub-bacia sofre com o fato de que, como nas outras sub-

bacias, a rede de esgotos é deficitária e antiga, sendo que em muitos pontos há vazamentos

desta para a rede de drenagem de águas pluviais, além de ligações clandestinas de esgotos no

mesmo sistema de drenagem de águas pluviais. Conseqüentemente, estes esgotos alcançam o

corpo d´água, poluindo-o. Soma-se a isso o fato do sistema de esgotos possuir dispositivo tipo

comporta instalado, para que, quando a rede de esgotos estiver em sobrecarga, os esgotos

possam ser lançados in-natura no córrego.

2.1.5 SUB-BACIA DO CÓRREGO BAIRRINHO

A sub-bacia em questão, locada no Nordeste do município, possui vegetação rasteira na

maioria de seus trechos, sendo que, no trecho compreendido entre as avenidas Nagib Chaib e

Adib Chaib (avenidas duplicadas no início de 2009) foi conservada uma área de vegetação

definida e vegetação ciliar, protegendo a foz do talvegue e a junção com o rio Mogi Mirim.

Esta área possui baixa densidade demográfica, porém já com grandes impactos

ambientais, como a pedreira “Degrava”, fonte de extração de minerais desativada há mais de 20

anos devido à proximidade com a urbanização e a escavação da mesma ter atingido o nível do

lençol freático. Hoje, caracteriza-se como um imenso passivo ambiental.

Na mesma sub-bacia também há uma jazida onde, atualmente, ainda há extração irregular

de solo.

Até o início do ano de 2009, funcionava aos fundos do prédio da FATEC, que se

encontrava em construção, um aterro de resíduos inertes, a aproximadamente 200 metros da

margem do córrego do Bairrinho. Atualmente o aterro foi encerrado, porém, o passivo ambiental

ainda existe.

O SAAE também possui nesta sub-bacia sua estação de tratamento de água principal

(ETA I). No processo de tratamento de água, os resíduos resultantes são, após sedimentação,

lançados através de canais neste corpo d´água. Os esgotos do bairro Jardim Patrícia também são

lançados diretamente no córrego devido ao fato do SAAE ainda não possuir coletor tronco de

esgotos neste bairro.

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2.1.6 BACIA DO RIO MOGI MIRIM

Formada por todas as sub-bacias deste estudo e demais afluentes, a bacia do rio Mogi

Mirim está localizada dentro da bacia hidrográfica do rio Mogi-Guaçu (UGRHI 09). Possui uma

área de aproximadamente 23 Km² e o talvegue principal com extensão de aproximadamente 40

Km. A região é caracterizada por encontrar-se em fase de industrialização e tem fragilidades no

que tangem à somatória dos problemas de todas as sub-bacias hidrográficas citadas no presente

estudo, além de demais lançamentos de esgotos in-natura diretamente no rio Mogi Mirim,

assoreamento do rio em questão, poluição difusa e desrespeito ao limite de área de preservação

permanente, além de vegetação ciliar precária.

Um dos problemas socioambientais demasiadamente visíveis na bacia hidrográfica do rio

Mogi Mirim, trata-se de loteamentos urbanos irregulares, onde os mesmos foram abertos sem

nenhum critério técnico ou legal. O bairro Parque das Laranjeiras é o principal representante deste

tipo de loteamento irregular. Loteamento de baixa classe, onde parte dos habitantes ainda sofre

com a precariedade de abastecimento de água, falta de rede de esgotos, ruas sem pavimentação

asfáltica, falta de iluminação e segurança.

A bacia também carrega passivos ambientais no que diz respeito à exploração de minerais

de maneira irregular, contaminação de seus córregos por efluentes e ocupação de áreas de

preservação permanente, entre outros.

2.2 ÍNDICE DE QUALIDADE DAS ÁGUAS – IQA

Realizou-se o monitoramento ambiental nos pontos de amostragem supracitados com a

coleta e análise laboratorial dos padrões do IQA e cálculo deste conforme normas da CETESB.

O IQA é calculado pelo produtório ponderado das qualidades de água correspondentes às

variáveis que integram o índice.

A seguinte fórmula é utilizada:

IQA qi

n

i

wi==

∏1

onde:

IQA: Índice de Qualidade das Águas, um número entre 0 e 100;

qi: qualidade do i-ésimo parâmetro, um número entre 0 e 100, obtido da respectiva “curva média

de variação de qualidade”, em função de sua concentração ou medida e,

wi: peso correspondente ao i-ésimo parâmetro, um número entre 0 e 1, atribuído em função da

sua importância para a conformação global de qualidade, sendo que:

Equação 01: Fórmula para calculo do IQA. Fonte: CETESB, 2008

Page 9: Monitoramento Ambiental da Bacia do rio Mogi Mirim

ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 9

w i

i

n

==

∑ 11

em que:

n: número de variáveis que entram no cálculo do IQA.

3. RESULTADOS

Corpo hídrico Ponto de Monitoramento

IQA

Março Maio Julho Setembro

Mogi Mirim PM03 43 61 61 55

Bela Vista PM05 50 84 72 54

Lavapés PM02 49 60 73 62

Lavapés PM01 54 57 60 51

Lavapés PM06 54 38 34 37

Toledo PM07 48 61 44 37

Santo Antônio PM08 47 53 35 37

Bairrinho PM09 55 44 38 38

Mogi Mirim PM10 28 50 31 29

Mogi Mirim PM11 25 57 29 30

TABELA 02: Resultados do IQA para o rio Mogi Mirim e seus principais afluentes em área urbana.

Fonte: SAAE Mogi Mirim, 2009.

Classificação do IQA

Identificação Classificação Ponderação

Água Ótima 79 < IQA ≤ 100

Água Boa 51 < IQA ≤ 79 Água Regular 36 < IQA ≤ 51 Água Ruim 19 < IQA ≤ 36 Água Péssima IQA ≤ 19

TABELA 03: Identificação da Classe do IQA segundo normas da CETESB. Fonte: CETESB,

2008.

Equação 02: Fórmula para cálculo do IQA. Fonte: CETESB, 2008

Page 10: Monitoramento Ambiental da Bacia do rio Mogi Mirim

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4. DISCUSSÃO

Na campanha de amostragem em questão ocorreu um único ponto em que a água

apresentou-se na classe “Água Ótima”, sendo a maior parte classificada como “Água Boa” ou

“Água Regular”.

Nota-se que conforme se aproxima da foz do rio Mogi Mirim, suas águas possuem menor

qualidade devido à contribuição dos afluentes, poluição por lançamento de esgotos in-natura e

poluição difusa.

Mogi Mirim realizou em 2007 concessão dos serviços de tratamento de esgotos, onde a

concessionária construirá os principais coletores tronco de esgotos do município, construirá e

operará a estação de tratamento de esgotos, com perspectiva para entrar em operação no ano de

2011 já tratando 64% dos esgotos gerados.

O SAAE também já está executando o coletor tronco de esgotos Bela Vista, obra qual não

entrou na concessão, mas o SAAE captou recursos junto ao Fundo Estadual dos Recursos

Hídricos (FEHIDRO) e foi contemplado. Também já foi pleiteado pelo SAAE recursos para

concepção de projeto de tratamento da fase sólida dos resíduos resultantes do processo de

tratamento de água. O pleito foi aceito e está em fase de assinatura do contrato.

Assim, espera-se a eliminação dos lançamentos de esgotos in-natura e demais poluentes

nos corpos hídricos do município e conseqüente recuperação da qualidade das águas,

contribuindo para a conservação dos recursos hídricos de toda bacia hidrográfica e melhoria na

qualidade de vida dos munícipes.

Quanto aos loteamentos irregulares, a Prefeitura Municipal de Mogi Mirim já encaminhou à

Secretaria de Habitação do Estado de São Paulo nove dos treze processos para regularização

dos loteamentos irregulares espalhados pela cidade. A previsão é que até o fim do atual governo

todos os pontos implantados sem rigores da legislação sejam regularizados através do programa

Cidade Legal do governo estadual.

5. CONCLUSÃO

Conclui-se que o monitoramento ambiental realizado mostra impactos negativos na

qualidade das águas do rio Mogi Mirim e seus principais afluentes na área urbana do município

pelo lançamento de esgotos sanitário sem tratamento.

No entanto, com a implantação e funcionamento do novo sistema de afastamento e

tratamento de esgotos do município, objeto de concessão pública, espera-se eliminar a

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contribuição de esgotos nos corpos hídricos, recuperando assim a qualidade deste recurso natural

cada dia mais valioso e escasso.

Além do sistema de afastamento e tratamento de esgotos, outras medidas mitigadoras

contribuíram e estão contribuindo positivamente para a recuperação e preservação dos afluentes

do rio Mogi Mirim e do próprio rio em questão.

Também conclui-se que o IQA mostrou-se uma boa ferramenta de monitoramento,

demonstrando através de um índice (nota) a qualidade dos corpos hídricos.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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municípios –Saneamento. Belo Horizonte: Escola de Engenharia da UFMG, 1995.

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Mirim – SP. Monografia Tecnologia em Saneamento Ambiental. Universidade Estadual de

Campinas, 2009.

• CETESB - Índices de Qualidade das Águas, Critérios de Avaliação da Qualidade dos

Sedimentos e Indicador de Controle de Fontes – Apêndice B, Qualidade das Águas

Interiores no Estado de São Paulo, série Relatórios, 2008.

• CETESB - Relatório de qualidade das águas interiores do estado de São Paulo 2008 - São

Paulo, 2009.

• CETESB - Significado Ambiental e Sanitário das variáveis da qualidade das águas e dos

sedimentos e metodologias analíticas e de amostragem – Qualidade das águas interiores

do estado de São Paulo, série relatórios, apêndice A, 2008.

• FONSECA, P.W. Avaliação do desempenho e caracterização de parâmetros em Lagoas

Facultativas e de Maturação. Dissertação (Mestrado em Ciências). Engenharia Civil.

Universidade Federal do Rio de Janeiro. COPPE. 2005.

• Mapa do Município de Mogi Mirim – Plano Cartográfico do Estado de São Paulo - IGC

2003.

• MOTA, Suetônico - Urbanização e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: ABES, 1999.

• PHILIPPI JR, Arlindo - Municípios e Meio Ambiente: Perspectivas para a Municipalização

da Gestão Ambiental no Brasil. São Paulo: Associação Nacional de Municípios e Meio

Ambiente, 1999.

• Plano Diretor Municipal - Relatório Suplementar (Anexo 15).

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• PORTO, M.F.A. Estabelecimento de parâmetros de controle da poluição. In: PORTO,

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NOGUEIRA, V.P.Q. Hidrologia Ambiental. São Paulo; Edusp; Associação Brasileira de

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• REBOUÇAS, A. C. Águas Doces no Brasil – Capital Ecológico, Uso e Conservação.

2ªEdição. Escrituras, São Paulo – 2002.

• TOLEDO FILHO, Demétrio V. – Regeneração da Flora Arbustiva Arbórea de um Cerrado

nas Bordas de uma Voçoroca em Mogi Mirim – SP. Anais do III Forúm Ambiental da Alta

Paulista, Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista, 2007.