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Módulo 4 Ameaças e incidentes envolvendo bombas Apresentação do Módulo Neste módulo você estudará sobre a classificação e o modelo de avaliação de ameaças, bem como sobre os princípios operacionais, modelo de busca e objetos suspeitos de serem bombas e explosivos. Objetivos do Módulo Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de: Classificar uma ameaça de bomba; Categorizar os incidentes com bombas; Identificar um modelo de avaliação de ameaça; Reconhecer a importância da escala de segurança; Planejar um plano de busca. Estrutura do Módulo Este módulo é formado por 5 aulas: Aula 1 Ameaça de bomba Aula 2 Incidentes com bombas Aula 3 Operações antibombas Aula 4 Prioridade de segurança e risco operacional Aula 5 Planejamento de busca Aula 1 Ameaça de bomba 1.1. Definição É a comunicação direta ou indireta, informação ou suspeita fundada da existência de uma bomba em determinado local. São os incidentes mais frequentes que ocorrem no Brasil,

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Módulo 4 – Ameaças e incidentes envolvendo bombas

Apresentação do Módulo

Neste módulo você estudará sobre a classificação e o modelo de avaliação de ameaças,

bem como sobre os princípios operacionais, modelo de busca e objetos suspeitos de serem

bombas e explosivos.

Objetivos do Módulo

Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:

Classificar uma ameaça de bomba;

Categorizar os incidentes com bombas;

Identificar um modelo de avaliação de ameaça;

Reconhecer a importância da escala de segurança;

Planejar um plano de busca.

Estrutura do Módulo

Este módulo é formado por 5 aulas:

Aula 1 – Ameaça de bomba

Aula 2 – Incidentes com bombas

Aula 3 – Operações antibombas

Aula 4 – Prioridade de segurança e risco operacional

Aula 5 – Planejamento de busca

Aula 1 – Ameaça de bomba

1.1. Definição

É a comunicação direta ou indireta, informação ou suspeita fundada da existência de

uma bomba em determinado local. São os incidentes mais frequentes que ocorrem no Brasil,

cujas consequências têm se demonstrado danosas devido à falta de padronização de

procedimentos técnicos e operacionais sobre como atuar nesse tipo de incidente, tanto por

parte de órgãos públicos como privados.

1.2. Classificação

As ameaças de bombas recebem as seguintes classificações:

Ameaça falsa – Quando as informações ou análise da suspeita forem

consideradas infundadas, não havendo elementos ou provas que confirmem a possível

existência da bomba.

Ameaça real – Quando existem elementos materiais ou testemunhais que

comprovem ou confirmem a possível existência da bomba. São característicos de tais casos

testemunhas que viram a montagem e instalação da bomba, pedaços de explosivos, acessórios

ou mecanismos da possível bomba, informações sobre a sua exata localização.

Em uma ameaça de bomba, é fundamental manter a calma e conversar com o

ameaçador, pois ele é a única pessoa que sabe como é a bomba, onde ela está, com que se

parece, qual a potência, como funciona, que tipo e que quantidade de explosivo possui, etc.

Portanto, o atendimento eficaz e satisfatório dessa ocorrência depende, em grande

parte, das informações obtidas durante o recebimento da ameaça.

Veja a seguir um modelo de avaliação de ameaça.

1.3. Modelo de avaliação de ameaça

O modelo de avaliação de ameaça é o procedimento realizado após o recebimento da

ameaça, cujo objetivo é classificar o grau de veracidade da ameaça através de uma análise

completa da situação, verificando:

Objetivo: A quem foi dirigida a ameaça?

Oportunidade que teve o agente: Teve tempo? Como entrou?

Meios empregados: Quais os disponíveis no mercado local?

Forma de atuação: Artefato instalado/artefato colocado.

Motivação para o atentado: Política, religiosa, pessoal, ideológica, comercial.

1.3.1. Análise da motivação de ameaças

As motivações sobre ameaça estão relacionadas a três motivações: trote, criminosa ou

terrorista. O quadro a seguir tipifica essas três motivações:

Motivação Características Objetivos Agentes

Trote

Apresenta a ameaça como

evento imediato, informando

horários e alertando para a

necessidade de desocupação;

Fala rápida e curta;

Disfarce da voz ou sotaques

forçados;

O ameaçador não é receptivo à

conversação;

Não apresenta detalhes técnicos

ou objetivos da ameaça;

Não insiste no convencimento da

ameaça.

Alertar, criar

clima de

instabilidade,

tumulto,

confusão, e insegurança;

Provocar a

paralisação das

atividades e liberação dos

funcionários.

Crianças, estudantes e

funcionários.

Criminosa

Faz exigências ou condiciona a

ameaça a pedidos;

Conversação tensa ou inquieta;

Direciona a ameaça para

determinada pessoa ou local;

Procura dar convencimentos ou

provas da veracidade.

Vingança;

Extorsão;

Paralisação ou

danos nas

atividades.

Ex-funcionários, ex-

namorados, ex-marido e outras pessoas de

relacionamento

anterior; grupos criminosos

especializados.

Terroristas

Apresenta a ameaça como

possibilidade futura de ocorrer;

Declara suas intenções,

motivações e grupo a que

pertence;

É receptivo à conversação;

Demonstra conhecimentos

técnicos sobre explosivos;

Procura dar convencimentos ou

provas da veracidade da ameaça.

Criar clima de

medo e insegurança;

Chamar a

atenção para

determinada causa.

Extremistas e grupos radicais motivados por

política, religião ou

questões sociais, entre outros.

Quadro 5 – Motivações de ameaças.

Importante!

Cabe salientar que uma ameaça, por mais que os procedimentos técnicos e

operacionais possam ser realizados por agentes privados, sempre haverá a necessidade de que

a polícia seja avisada dos procedimentos adotados, até mesmo porque, no caso de localização

de objetos suspeitos de serem bombas ou explosivos, caberá aos policiais altamente

qualificados atuar nesse tipo de ação delituosa, da mesma forma que, se já houver acontecido

uma explosão, também caberá ao especialista em explosivos, juntamente com o perito técnico

científico, colher todas as evidências com o fim de que sejam realizadas as investigações

necessárias para o descobrimento do autor do delito.

1.3.2. Análise da decisão

Não fazer nada: essa decisão não significa ignorar a ameaça, mas deixar de adotar

qualquer procedimento de busca e evacuação, por ter sido analisada a ameaça como

totalmente falsa ou por ser impossível a existência de uma bomba no local.

Fazer a busca sem a evacuação do local por agentes qualificados: decisão

utilizada em situações que caracterizem a ameaça falsa, isto é, não se tem certeza nem provas

da existência da bomba, o nível de risco é baixo e a ameaça é infundada. A busca é feita pelas

pessoas que conhecem o ambiente ameaçado ou com as suas colaborações. Nenhuma

atividade é paralisada e a evacuação somente ocorre após a localização e confirmação de

algum objeto suspeito de ser bomba, momento em que deve ser acionada a unidade

antibombas.

Fazer a busca com evacuação parcial do local: essa alternativa deve utilizada em

locais com diferentes níveis de segurança, isto é, áreas restritas e áreas de circulação pública,

onde seja possível a colocação da bomba em um determinado local e seja difícil em outros, de

modo a limitar as áreas de risco, ou então, em locais com ameaças direcionadas.

Evacuar imediatamente o local e depois fazer a busca: essa decisão deve ser

considerada em situações de ameaças reais, em que se tenha prova material da existência da

bomba no local ameaçado, mas não se tenha a certeza da sua localização ou então o potencial

de danos previstos é elevado. É uma situação crítica e deve ser considerada somente em

situações de alto risco.

Aula 2 – Incidentes com bombas

Os incidentes com bombas ou incidentes de bomba compreendem todas as situações de

emergência em que haja a probabilidade da existência ou a presença confirmada de bombas

ou explosivos, usados de forma criminosa.

2.1. Categorias para incidentes com bombas

Na doutrina norte-americana, imposta pelo Centro de Bombas do FBI 1 , os incidentes

com bombas são classificados em oito categorias:

Atentado à bomba – Qualquer incidente em que um artefato explosivo ou

incendiário funcione perfeitamente;

Tentativa de atentado – Incidente no qual um artefato explosivo ou incendiário foi

colocado no alvo, mas não funcionou por falha ou mal funcionamento, ou foi

desativado a tempo;

Recuperação de bomba – Artefato explosivo ou incendiário localizado durante uma

busca preventiva. Se a bomba foi localizada na condição final de seu emprego, já

cabe a classificação de tentativa de atentado;

Explosão acidental – Explosão que ocorra com o construtor ou manipulador da

bomba, quando estiver fabricando ou colocando o artefato. Não se enquadram aqui

as explosões acidentais em situações legais ou profissionais;

Falsa bomba – Artefato falsificado para simular uma bomba ou explosivo, com ou

sem a realização de uma ameaça de bomba;

Roubo de explosivos – Roubo ou furto de produtos explosivos comerciais ou

militares de seu usuário legal;

1 FBI BOMB DATA CENTER GENERAL INFORMATION BULLETIN. Incident reporting form and bomb

squad activity reporting form. Washington, DC, v. 97-3, 1997)

Recuperação de explosivos – Localização de produtos explosivos comerciais ou

militares; e

Extravio de explosivos – desaparecimento de produtos explosivos comerciais ou

militares de seu usuário legal, que não tenham sido caracterizados como furto ou

roubo.

Aparentemente completa, essa definição pode tornar-se muito extensa em um cenário

com poucos incidentes, como ocorre no Brasil. Uma classificação mais simples e mais

didática pode englobar todas essas situações, sem deixar de ser igualmente completa. Assim,

podem-se classificar os incidentes com bombas em três categorias básicas, conforme o quadro

abaixo.

INCIDENTES COM BOMBAS

1. AMEAÇAS DE BOMBA REAIS

FALSAS

2. LOCALIZAÇÕES

DE BOMBAS

DE EXPLOSIVOS

DE FALSAS BOMBAS

3. EXPLOSÕES DE BOMBAS

Quadro 6 – Incidentes com bombas.

Importante!

As explosões de bombas compreendem os incidentes em que ocorra a detonação da

bomba, resultando nos efeitos do seu potencial, quer sejam eles explosivos, incendiários,

tóxicos ou de outros resultados danosos. A explosão pode ter sido decorrência de ação

prevista pelo seu agente como também acidental, por manuseio errôneo ou falha de algum

mecanismo, mas sempre dentro de um contexto criminoso.

2.2. Classificação de incidentes em categorias de risco

Um padrão adotado pela doutrina norte-americana 2 e seguido por alguns países é a

classificação dos incidentes de bombas em categoria de risco. Essa classificação pode ser

aliada ao princípio das prioridades de segurança, auxiliando os operadores a determinar o

nível de risco em que deverão atuar. A classificação prevê três categorias de incidentes:

Categoria A – Constituem os incidentes de bombas em que haja risco iminente e

direto para pessoas e para bens materiais, sendo as operações desencadeadas em caráter

emergencial e com a máxima urgência. Nessa situação, as prioridades de segurança

operacional poderão ser quebradas e poderá ser admissível o risco de vida para os operadores.

São exemplos dessa categoria, bombas em pessoas que utilizam cinto-bomba, colar-bomba,

colete-bomba em locais onde não seja possível ser feita a evacuação das pessoas como a UTI

de um hospital.

Categoria B – Constituem os incidentes com bombas em que haja risco indireto para

pessoas e bens materiais, como bombas em edificações cujos danos são calculados como

limitados, locais com evacuação parcial das pessoas ou evacuação com distâncias

insatisfatórias para a segurança. Todos os princípios de segurança operacional deverão ser

adotados e não há a necessidade de os operadores se arriscarem. Apesar da condição

emergencial da situação, podem ser adotados tempos de espera para planejamento e

segurança, assim como medidas de preparação para a redução dos danos, como corte de

energia elétrica e de gás, retirada de materiais que podem ser projetados, colocação de sacos

de areia para contenção de fragmentos e direcionamento da onda explosiva.

Categoria C – Constituem os incidentes com bombas em que se identifique não

haver riscos para as pessoas ou bens materiais. Essa condição deve ser considerada após

descartadas as hipóteses de categoria A ou B. Apesar do caráter emergencial do incidente, as

operações não são urgentes, havendo tempo para planejamento e preparação da operação. Não

há motivos para os operadores correrem riscos e todos os procedimentos de segurança devem

2 DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Contramedidas em

incidentes com explosivos. Baton Rouge, ATAP, 1997. n.p.)

ser adotados. São exemplos dessa categoria, incidentes em que haja a possibilidade de

evacuação total e dentro das distâncias mínimas de segurança; incidentes em áreas abertas,

sem possibilidade de causar danos efetivos; incidentes em locais cujos danos são irrisórios e

incidentes cuja remoção da bomba ou do explosivo é imediatamente detectada como possível.

Aula 3 – Operações antibombas

3.1. Definição, origem e contextualização do nome

As operações antibombas compreendem todos os procedimentos adotados por

unidades antibombas para garantir a segurança e a integridade das pessoas físicas e jurídicas,

bens materiais e a ordem pública, quando ameaçados ou lesionados por bombas e explosivos.

A Polícia Militar do Estado de São Paulo (1996) adotou a concepção de ações

antibomba e ações contrabomba baseado nos conceitos de antiterrorismo e contraterrorismo,

que definem, respectivamente, as operações preventivas, como legislação específica,

preparação e treinamento de pessoal, segurança de autoridades, controle de estrangeiros,

contrainteligência e as operações repressivas, como captura de terroristas, negociação e

libertação de reféns e retomada de instalações.

Assim, o conceito de ações antibomba passou a ser entendido como:

Operações e procedimentos policiais de caráter preventivo ou de reação imediata

a um atentado à bomba até o momento da localização de um objeto suspeito, quando a

ação passa a ser caracterizada como contrabomba, que são as operações de reação ao

atentado, como identificação do objeto suspeito, remoção e neutralização.

Fora do Brasil, não há a expressão antibomba ou contrabomba. A doutrina norte-

americana, a espanhola e a colombiana não seguem essa conceituação, entendendo que todas

as operações são de combate às bombas, diferenciando-as apenas o momento do evento em

relação ao efetivo emprego da bomba – a explosão. Nesses países, usam-se as denominações

de ações pré-incidentais ou pós-incidentais, respectivamente, às operações que ocorrem antes

de uma explosão (prevenção, segurança, busca, treinamento de pessoal, remoção e

desativação de bombas) e após a explosão (coleta de evidências, investigação, perícias).

Entretanto a expressão “antibomba” popularizou-se na comunidade policial brasileira,

na população e entre a mídia nacional, devido aos trabalhos operacionais executados pelos

órgãos especializados no Brasil, de modo que o termo “antibomba” passou a ter uma

abrangência e significado especial e inegável, que engloba no Brasil, todos os procedimentos

de prevenção, combate e investigação de bombas e explosivos em situações criminosas.

3.2. Operações antibombas

A definição para “operações antibombas”, inicialmente apresentado, é conceitual o

suficiente para englobar as operações apresentadas a seguir:

Operações pré-incidentais;

Operações de desativação;

Operações pós-incidentais;

Operações especiais.

Veja cada uma delas!

Operações pré-incidentais – Compreendem as operações de segurança e prevenção

que antecedem o incidente com bombas e as operações de busca e localização de bombas e

explosivos. São exemplos de operações pré-incidentais:

Elaboração e aplicação de procedimentos preventivos em órgãos públicos e privados;

Orientação e fiscalização na confecção e aplicação de planos de segurança e planos

de emergências com bombas;

Treinamento de pessoal leigo em procedimentos preventivos;

Acompanhamento e análise de incidentes de bombas.

Operações de desativação – Compreendem as ações que são desencadeadas após a

localização de uma bomba, explosivo ou objeto suspeito, com a finalidade de tornar os

materiais seguros para o manuseio, transporte e para o trabalho pericial ou investigativo. São

exemplos de operações de desativação:

Desmontagem de bombas e explosivos;

Neutralização de bombas e explosivos;

Destruição de bombas e explosivos.

Operações pós-incidentais – Compreendem as operações realizadas após uma

explosão ou depois de terem sido realizadas as operações preventivas ou de desativação.

Os procedimentos periciais e investigativos são de suma importância para a elucidação

do delito e para o desencadeamento dos demais procedimentos de polícia judiciária. Apesar

de serem procedimentos legalmente atribuídos aos órgãos de polícia científica e polícia

judiciária, a unidade antibombas pode ser requisitada para dar um suporte técnico, requisitada

como órgão pericial ad hoc em bombas e explosivos, quando não constituir o próprio órgão

de perícia para esses casos. São exemplos de operações pós-incidentais:

Buscas preventivas em locais de explosão;

Busca e coleta de evidências em locais de explosão;

Perícia de bombas, explosivos e locais de explosão;

Apoio técnico aos órgãos de polícias científica e judiciária.

Operações especiais – Compreendem o apoio técnico e operacional às unidades

táticas e de operações especiais dos órgãos policiais ou militares, oferecendo suporte técnico

para ações que necessitem do pessoal, de técnica e equipamento da unidade antibombas, de

trabalho de demolição ou outro emprego de explosivos. Apesar de geralmente serem autos

suficientes em trabalhos de demolição e manuseio de explosivos, as unidades de operações

especiais não são especializadas nesse campo e às vezes não mantêm treinamento e

aperfeiçoamento constante, podendo ficar defasadas em técnicas e recursos materiais,

havendo a necessidade de intercâmbio com as unidade antibombas. São exemplos de

operações especiais com o uso de explosivos:

Arrombamento tático de portas e janelas com explosivos;

Demolição de obstáculos;

Neutralização e destruição de bombas e explosivos localizados em operações.

Aula 4 – Prioridade de segurança e risco operacional

O fator de maior preocupação em um incidente de bombas é a garantia de segurança

para as vidas humanas. A explosão de bomba ocorre em uma fração de segundos, sendo

impossível adotar algum procedimento de contramedida ou de garantia de vidas no momento

em que ela ocorrer.

A ordem de prioridade de segurança para operações antibombas, segundo conceito

doutrinário mundial está assim estabelecida:

Em primeiro, as vidas humanas;

Em segundo, a vida dos operadores antibombas;

Em terceiro, bens materiais;

Em quarto, provas e evidências.

A divisão das vidas humanas em duas prioridades – vidas humanas em geral e depois a

vida dos técnicos em bombas – ocorre devido à obrigação profissional e moral dos

profissionais envolvidos nas operações antibombas em proteger as demais pessoas. A

existência de uma unidade antibombas já é uma motivação da necessidade de proteção em

situações de alto risco para outras pessoas, inclusive para as forças de segurança, que

necessitam de equipamentos, operadores e técnicas especiais para essas situações.

Importante!

Um exemplo desse primeiro princípio de prioridade de segurança é a situação de

evacuação das pessoas para áreas de segurança distantes do local onde a bomba se encontra e

não permitir a presença de pessoas naquele local que não estejam envolvidas com a operação.

4.1. Critérios de ação

Souza (1995) considera necessário o uso dos chamados critérios de ação para lidar

com incidentes envolvendo bombas, que compreendem os referenciais que servem para

nortear o tomador de decisão em qualquer evento crítico e assim facilitar o processo decisório

no curso de uma crise, incluindo aqui uma crise gerada a partir de um incidente com bombas.

Esses critérios são:

A necessidade indica que toda e qualquer ação somente deve ser implementada

quando for indispensável. Esse critério é resumido pela pergunta: “Isso é realmente

necessário?”;

A validade do risco, que preconiza que toda e qualquer ação tem que levar em conta

se os riscos dela advindos são compensados pelos resultados. A pergunta chave agora é: “Vale

a pena correr esse risco?”;

A aceitabilidade, implicando que toda a ação deve ter respaldo e aceitação legal,

moral e ética, isto é, todo o ato deve estar amparado pela lei (qualquer decisão ou ação que

tomar no curso de uma crise deve estar em consonância com as normas em vigor) e deve

também abranger o campo moral (não devem ser tomadas decisões ou praticadas ações que

estejam ao desamparo da moralidade e dos bons costumes) e ético (não devem ser tomadas

decisões que causem constrangimentos entre os colegas profissionais e os princípios de

carreira).

Aula 5 – Planejamento de busca

5.1. Definição

Planejamento de busca é a capacidade que tem o agente de segurança em realizar um

plano específico cujo objetivo é o planejamento de uma ação coordenada em um local

ameaçado de haver uma bomba ou explosivo, através do emprego de técnicas de busca como

resposta imediata a uma ameaça, levando em consideração a análise do grau de risco.

5.2. Objetivos

Identificar a motivação da busca;

Decidir sobre a forma de ser realizada, com ou sem abandono do local;

Designar áreas de busca para as equipes;

Instalar o posto de comando.

5.3. Aplicações da busca

A busca compreende o emprego de técnicas operacionais de varreduras dos locais sob

suspeição, visando localizar objetos suspeitos. A busca é o procedimento mais eficiente para a

detecção de bombas e pode ser empregada em diversas situações, como:

Reação imediata a uma ameaça;

Rotina de segurança;

Prevenção por ocasião de um evento especial.

5.4. Meios que podem ser empregados na busca e suas vantagens e desvantagens

Meio Vantagens Desvantagens

Sugestão

de

emprego

Pessoas

Baixo custo

Rapidez

Amplitude

Baixo nível de

detecção:

sujeito ao

julgamento

pessoal

Buscas de

baixo risco

Cães

Detecção exata

do tipo de

explosivo

Alto custo

Limitações de

tempo e

emprego

Buscas de

alto risco,

em objetos

específicos

Detectores

Rapidez

Amplitude

Pequeno

tempo de

Buscas de

alto risco

trabalho. Não

detecta o tipo

de explosivo

Importante!

O procedimento de reação imediata a uma ameaça de bomba é a realização da busca.

Mesmo que a ameaça seja imediatamente caracterizada como falsa, deve-se considerar

sempre a probabilidade da existência de uma bomba no local ameaçado e realizar todos os

procedimentos de segurança até a confirmação de que nada existe no local. Portanto, se o

ambiente ameaçado não tiver agentes qualificados para a realização de uma busca, caberá

imediatamente acionar a unidade antibombas para que seja feito todo o procedimento técnico-

operacional.

5.5. Classes de busca

Busca preventiva – Quando da necessidade de realizar procedimentos

preventivos.

Ex: Quando da realização de uma varredura em um ambiente em que irá acontecer

algum evento ou que irá receber alguma autoridade para prevenir algum risco.

Busca reativa – Quando já existe um objeto suspeito.

Ex: Existência de um objeto suspeito de ser uma bomba em um determinado local..

5.6. Tipos de busca

Pessoal;

Veicular;

Ambientes internos e externos (linear, espiral, quadrantes, zig zag).

Veja cada uma delas!

Busca pessoal:

Tipo policial minuciosa que tem a finalidade de vistoriar o corpo de um

indivíduo suspeito de estar portando explosivos ou substâncias análogas;

Vistoriar objetos de uso pessoal (maletas, casacos, guarda-chuva, bolsas,

pacotes e livros).

Busca veicular:

Carros – Tem como objetivo vistoriar um veículo suspeito de estar

transportando algum artefato explosivo, em seus mais variados locais disponíveis, conforme

foto a seguir:

Carro:

Motocicletas:

Caminhões:

Ônibus

Buscas em ambiente I:

Linear – Utilizada em ambientes abertos, em especial estradas, pistas de

pouso, áreas abertas em geral.

Buscas em ambiente II:

Espiral – Utilizada em ambientes fechados e pequenos como quartos, salas

etc.

Buscas em Ambiente III:

Quadrantes – Considerado o método mais utilizado e eficaz em ambientes

fechados.

Buscas em ambiente IV:

Zig Zag – Método bastante utilizado em ambientes fechados, como teatro,

centro de convenções, cinemas, entre outros.

Níveis de busca em áreas edificadas

Nesse caso são levadas em consideração as características da edificação, para que o

agente de segurança possa realizar a busca de forma eficaz, seguindo os seguintes pontos:

Nível 01 – A vistoria será feita observando todos os objetos no ambiente,

desde o solo até a altura da cintura;

Nível 02 – A vistoria será feita observando todos os objetos no ambiente,

desde a altura da cintura até a altura dos olhos;

Nível 03 – A vistoria será feita observando todos os objetos no ambiente a

partir da altura dos olhos, até o teto;

Nível 04 – A vistoria será feita em locais como forros e sótãos;

Aula 6 – Localização de objetos suspeitos

6.1. Definição

É a capacidade do agente de segurança em analisar, detectar e definir as características

de um objeto suspeito3 de ser uma bomba ou um explosivo. As localizações de bombas e

explosivos são os incidentes mais perigosos e os que mais colocam em risco a vida dos

técnicos antibombas, pois as operações desenvolvidas para a contenção dessa crise podem

resultar em acidentes fatais para as pessoas ou danos materiais de proporções iguais àquelas

previstas pelo causador da crise. Ao se localizar um objeto suspeito de ser bomba ou

explosivo, o primeiro procedimento de segurança é o seu isolamento.

6.2. Subdivisão dos incidentes de localização em:

Localização de bomba – Incidente em que é localizada e identificada a presença de

uma bomba, tanto explosiva, incendiária, tóxica ou em qualquer outra situação de emprego.

Localização de explosivos – Incidente em que é localizada e identificada a presença

3 Objetos desconhecidos e abandonados.

de produtos explosivos convencionais, comerciais e militares, tais como dinamites, emulsões,

detonadores e outros acessórios de detonação.

Localização de falsas bombas – Incidente em que é localizado um objeto suspeito

com características similares ao de um produto explosivo ou de uma bomba, mas que se

verifique ser inofensivo.

6.3. Procedimentos básicos

O objeto não deve ser mexido, tocado ou removido, seguindo uma regra operacional

imperativa, usada entre os técnicos antibombas:

“NÃO MEXER! NÃO TOCAR! NÃO REMOVER!”.

Em seguida, deve-se fazer a caracterização do objeto localizado como objeto suspeito.

Isso é essencial antes da evacuação, pois, durante uma busca preventiva ou durante uma busca

de reação a uma ameaça, muitos objetos podem ser considerados como suspeitos e serem,

após uma breve investigação, desconsiderados.

6.3.1. Caracterização

Descrição do objeto: aparência externa, odores, manchas, cor, presença de metais,

invólucro, marcas e outros elementos de identificação;

Dimensões do objeto: volume e peso aproximado para explosivos;

Localização do objeto: área onde se encontra (sala, banheiro, rua, garagem, telhado)

e ponto de localização dentro do ambiente (em cima do sofá, no chão, dentro do armário,

embaixo da mesa).

6.3.2. Posicionamento do objeto

São também necessárias informações sobre as circunstâncias da sua localização:

Autor da localização: Quem localizou o objeto, se já houve algum manuseio ou

remoção do objeto (quem e quando foi feito).

Motivo da localização: Decorrente de uma busca preventiva, de uma busca de

reação a uma ameaça de bomba ou de mera suspeição do objeto;

Motivo da suspeição: Por que o objeto está sendo considerado suspeito de ser uma

bomba;

Origem do objeto: Como o objeto pode ter chegado ao local onde foi encontrado,

quais os pontos e condições de acesso a esse local.

Condições do ambiente: Existência de produtos perigosos próximos (bombas de

gasolina, depósitos de produtos químicos), áreas críticas ou estratégicas (caixa de força, caixa

d’água, cofre forte, escritório ou seção de documentos sigilosos), possibilidade de danos

elevados em caso de explosão, possibilidade de evacuação do local.

6.3.3. Condições de localização

Havendo uma confirmação de suspeição, o procedimento seguinte será a evacuação

do local. Torna-se fundamental nessa situação, a realização da evacuação, mesmo que isso

possa causar prejuízos pela paralisação de alguma atividade. Nesse caso, a preservação das

vidas humanas é fundamental, pois está caracterizada uma situação de risco de vida.

6. 4. Exemplo de coleta de dados sobre um objeto suspeito localizado:

Situação: Objeto suspeito localizado em um escritório de advocacia.

Dia:

20fev2001

Hora da localização:

08h

Hora no local:

09h

Características físicas:

- Altura: 10 cm / Largura: 20 cm / Comprimento: 30 cm

- Peso aproximado 4.800 g (4,8 Kg)

- Caixa de papelão, cor marrom, com a marcação “Para o Doutor João”.

- Manchas de óleo nas laterais.

Situação:

- Localizado pela secretária ao abrir o escritório pela manhã.

- Não estava no local no dia anterior, às 20h.

- Tempo máximo que se encontra no local: 13h.

- Não foi manuseado por ninguém.

Posição:

- O objeto está sobre a mesa da recepção, junto à parede.

- A sala possui 7 m X 4 m (28 m2). No prédio há mais uma sala e um banheiro.

- Não há produtos perigosos no local. Há documentos sigilosos no escritório.

- De frente ao objeto há uma porta de vidro.

Croqui:

4 m

7 m

Todas as regras e procedimentos são eficientes desde que cumpridos.

As regras e procedimentos estabelecidos nesse trabalho são resultado de intercâmbios

de aprendizagem com profissionais muito experientes do Brasil e do exterior, na área de

terrorismo e atentados à bomba. São comprovadamente eficientes, desde que seguidas à risca,

com seriedade e dedicação.

Objeto

suspeito

1. A SEGURANÇA própria e alheia é nossa principal preocupação e não deve,

em hipótese alguma, ser comprometida.

2. Não seja curioso, seja técnico.

3. Se você não sabe o que fazer ou está em dúvida, NÃO FAÇA. Analise e

informe ao técnico em bombas.

4. Por mais experientes e capacitados tecnicamente que sejamos todos, possuímos

limitações, quer sejam de conhecimentos ou meios materiais.

5. Lembre-se: O melhor parceiro do bom senso é o conhecimento.

6. Nunca realize nenhum procedimento com explosivo sem orientação de um

técnico em bombas.

7. Todos os procedimentos preventivos deverão ser feitos respeitando as normas

de segurança e eles terminam no momento da identificação do objeto suspeito, em que o local

deverá ser devidamente isolado e de imediato ser acionada a unidade antibombas para fazer os

procedimentos de remoção, neutralização, destruição ou desativação de acordo com a analise

do técnico em bombas.

Finalizando...

Neste módulo, você estudou que:

As ameaças de bombas recebem as seguintes classificações: ameaça falsa e

ameaça real;

O modelo de avaliação de ameaça é o procedimento realizado após o

recebimento da ameaça, cujo objetivo é classificar o grau de veracidade da ameaça através de

uma análise completa da situação;

As motivações sobre ameaça estão relacionadas a três motivações: trote,

criminosa ou terrorista;

Os incidentes com bombas ou incidentes de bomba compreendem todas as

situações de emergência em que haja a probabilidade da existência ou a presença confirmada

de bombas ou explosivos, usados de forma criminosa;

O fator de maior preocupação em um incidente de bombas é a garantia de

segurança para as vidas humanas;

A busca compreende o emprego de técnicas operacionais de varreduras dos

locais sob suspeição, visando localizar objetos suspeitos. A busca é o procedimento mais

eficiente para a detecção de bombas e pode ser empregada em diversas situações, como:

reação imediata a uma ameaça; rotina de segurança e prevenção por ocasião de um evento

especial.