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1 TIAGO DA COSTA MODERNIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE REGISTRO PÚBLICO DO BRASIL: PROPOSTA DA AVERBAÇÃO ELETRÔNICA DA PENHORA DE IMÓVEIS FLORIANÓPOLIS – SC 2009

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TIAGO DA COSTA

MODERNIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE REGISTRO PÚBLICO DO

BRASIL: PROPOSTA DA AVERBAÇÃO ELETRÔNICA DA

PENHORA DE IMÓVEIS

FLORIANÓPOLIS – SC

2009

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

TIAGO DA COSTA

MODERNIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE REGISTRO PÚBLICO DO

BRASIL: PROPOSTA DA AVERBAÇÃO ELETRÔNICA DA

PENHORA DE IMÓVEIS

Dissertação apresentada à Universidade do Estado de Santa Catarina como requisito para a obtenção do título de Mestre em Administração.

Orientador: Carlos Roberto De Rolt Co-orientador: Julio da Silva Dias

FLORIANÓPOLIS – SC

2009

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TIAGO DA COSTA

MODERNIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE REGISTRO PÚBLICO DO

BRASIL: PROPOSTA DA AVERBAÇÃO ELETRÔNICA

DA PENHORA DE IMÓVEIS

Dissertação aprovada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em

Administração, no curso de Mestrado profissional em Administração, do Programa de Pós-

Graduação em Administração da Universidade do Estado de Santa Catarina.

Banca Examinadora: Orientador: Prof. Dr. Carlos Roberto De Rolt Universidade do Estado de Santa Catarina Co-Orientador: Prof. Dr. Julio da Silva Dias Universidade do Estado de Santa Catarina Membro: Prof. Dr. Mário César Barreto Moraes Universidade do Estado de Santa Catarina Membro Externo: Prof. Dr. Ricardo Felipe Custódio Universidade Federal de Santa Catarina

Florianópolis - SC, __/__/___

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A Deus pelo dom da existência e oportunidade de ser

útil e ao meu querido avô Roque (in memoriam) grande

amante dos livros e incentivador do saber.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela companhia em todos os momentos nessa desafiadora caminhada.

A minha família, Solange, Gabriela e Edil, pelo apoio e expectativa do meu

crescimento e sucesso.

À minha esposa, Larissa, pela motivação para entrar no mestrado, pelo apoio e suporte

constantes, pela compreensão pela minha falta de tempo e pelo companheirismo e amor.

Ao meu orientador, Prof. De Rolt, pelo tratamento autêntico, objetivo e sincero, e

pelas inúmeras supervisões e sugestões para o desenvolvimento desta pesquisa, sempre

fundamentadas em uma visão ampla e empreendedora que o diferencia em seus projetos.

Ao Prof. Julio Dias, pela simplicidade, competência, e disponibilidade.

A Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, na pessoa do seu presidente, Sr. Manuel

Matos, que acreditou no trabalho, e não mediu esforços para prestar todo o suporte necessário

para a realização das atividades.

Ao Instituto do Registro Imobiliário do Brasil, na pessoa do seu presidente, Dr.

Helvécio Castelo e do seu diretor executivo Dr. Carlos Fleury, pelo apoio constante prestado

no decorrer da pesquisa e pelo suporte financeiro a esta atividade.

À Associação de Registradores de Imóveis de São Paulo, na pessoa do seu presidente,

Flauzilino dos Santos, e do seu analista de sistemas, Walter de Oliveira, pela disponibilidade

de informações acerca de iniciativas de modernização análogas a esta pesquisa.

À Bry Tecnologia, na pessoa do seu presidente Marcelo Brocardo, pelas reuniões e

suporte para o desenvolvimento da proposta e à Darlan Vivian pela contribuição na

especificação das tecnologias digitais propostas no projeto.

Aos diversos profissionais consultados, que não mediram esforços para prestar

informações com boa vontade. Em especial, gostaria de destacar os seguintes nomes: Dra.

Roberta Castelo, Dr. Joelcio Escobar, Dra Gleci Melo, Dr. Reinaldo Fernandes, Dr. Carlos

Fleury, Dr. Alexandre Golin, Dra Germaine Tillwitz, Dra Juliana Coelho e Uberdan Lopes.

A Universidade do Estado de Santa Catarina, em especial aos professores do mestrado

em administração que compartilharam seu conhecimento e sabedoria, sendo verdadeiros

educadores, e aos companheiros do Laboratório de Tecnologias de Gestão, pela oportunidade

de participação em projetos de grande relevância e por toda contribuição estrutural e apoio

para a consolidação desta pesquisa.

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RESUMO

Esta pesquisa está inserida no esforço de modernização dos serviços de registro

público através da utilização de tecnologias organizacionais adequadas às transformações

oriundas do avanço da economia digital, promovendo o desenvolvimento de novas aplicações

tecnológicas e técnicas de gestão alinhadas às demandas da sociedade brasileira para a área de

registros públicos. Para tanto foi focalizado o estudo dos processos do serviço de averbação

de penhora de imóveis, com o objetivo de estruturá-lo para sua integração com as aplicações

da Central Registral de Serviços Eletrônicos Compartilhados – CRSEC. A CRSEC é uma

iniciativa das entidades representativas dos registradores do Brasil que tem o objetivo de

fornecer serviços com alto grau de eficiência para seus usuários, mediante a utilização de

tecnologias digitais e de documento eletrônico com segurança e validade jurídica. A pesquisa

foi pautada por uma abordagem teórico-empírica, na qual além da revisão de literatura sobre o

assunto, procurou-se verificar a coerência com a realidade, para conceber um conjunto de

informações que servissem de referência para o desenvolvimento de contribuições práticas

para o problema em questão. Com a finalidade de coletar fontes de evidência que auxiliassem

na compreensão do processo focalizado, foram feitas visitas a diversas organizações e

profissionais ligados a temática, o que permitiu a evidenciação da situação atual do processo

de averbação de penhora de imóveis e possibilitou o desenvolvimento da proposta de uma

nova sistemática, com o desenvolvimento da averbação eletrônica de penhora de imóveis. Os

resultados de pesquisa mostraram que a nova sistemática é passível de implantação, entretanto

são necessários novos estudos que aprofundem o tema, e forneçam a base técnica adequada

para sua implantação.

PALAVRAS-CHAVE: Modernização Serviços de Registro Público – Penhora de Imóveis – Gestão de Processos

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ABSTRACT

This study is inserted on the effort of modernization of the public services register

through adequate organizational technologies coming from transformations of the

advancement of the digital economy, promoting the development of new technological

application and techniques of management according to the demands of brazilian society for

the public services register area. This research was focused on business process analisys of

property attachment register, with the objective to structure him for his integration with the

application to the Center of Electronic Shared Services – CESS. This organization is an

initiative of the representative register entities of Brazil that has the objective to supply

service with high rate of efficiency for it users, by means of the utilization of digital

technologies and electronic document with security and legal validity. The study was guided

by a theoretical-empirical approach, further revision of literature about the question problem,

was verified the coherence with the reality, to conceive relevance information that reference

the development of practical contributions for the intended situation. Using a purpose to

collect evidences that helped the comprehension of the focused process, some organizations

and professionals were visited, which permitted to discover the actual process executed, and

becoming possible the development of the new systematic proposal, using a electronic

technology to property attachment register. The results of this research shows that its possible

this implementation proposal, however its necessary new studies about the subject, supplying

adequate technical base for its implementation.

KEYWORDS:

Modernization Public Services Register – Property Attachment – Process Managment

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Posicionamento do LabGes na estrutura da UDESC/ESAG ............................

Figura 2 – Modelo Colaborativo de Serviços Compartilhados ....................................................

Figura 3 - Competências requeridas para adoção de Serviços Compartilhados ..........................

Figura 4 - Modelo de Gestão da Modernização dos Serviços de Registro Público do

Brasil .......................................................................................................................

Figura 5 - Aplicações da CRSEC .................................................................................................

Figura 6 - Etapas do Desenvolvimento de Aplicações de Serviço na CRSEC ...........................

Figura 7 – Componentes Básicos da CRSEC ..............................................................................

Figura 8 - Integração de Usuários e Serventias às Aplicações da CRSEC ..................................

Figura 9 - Homepage da CRSEC na Internet ...............................................................................

Figura 10 - Exemplo do Esquema de Funcionamento do Ofício Eletrônico ..............................

Figura 11 - Tipos de Eventos .......................................................................................................

Figura 12 - Tipos de Atividade ....................................................................................................

Figura 13 - Tipos de Gateway ......................................................................................................

Figura 14 – Conectores ................................................................................................................

Figura 15 - Área de Concentração........................................................................................

Figura 16 – Raias ....................................................................................................................

Figura 17 – Artefatos ...................................................................................................................

18 38 43 45 49 50 52 54 58 59 66 67 68 70 71 71 72

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Figura 18 - Eventos e atividades do processo de Averbação de Penhora de Imóveis .................

Figura 19 - Apresentação da Documentação no Registro de Imóveis .........................................

Figura 20 - Protocolação de Documentação Apresentada no Registro de Imóveis .....................

Figura 21 - Qualificação de Documentação .................................................................................

Figura 22- Procedimento de Dúvida no Registro de Imóveis ......................................................

Figura 23 - Execução da Averbação de Penhora no Registro de Imóveis ...................................

Figura 24 - Arquivamento de Documentação no Registro de Imóveis ........................................

Figura 25 - Entrega/Encaminhamento de Documentação Averbada ...........................................

Figura 26 - Representação do fluxo de dados entre os participantes do Processo de

averbação de penhora ...............................................................................................

Figura 27 – Participantes envolvidos no processo de averbação eletrônica de Imóveis

da CRSEC ....................................................................................................................

Figura 28 – Esquema representativo do processo de averbação eletrônica de penhora

de imóveis ....................................................................................................................

Figura 29 – Esquema representativo do processo de averbação eletrônica de penhora

de imóveis ..............................................................................................................

Figura 30 - Aplicações Estruturais utilizada pela Averbação Eletrônica de Penhora ...

Figura 31 – Fluxo da Averbação Eletrônica na execução fiscal e trabalhista sem nota

de devolução .................................................................................................................

Figura 32 – Fluxo da Averbação Eletrônica nos demais tipos de execução sem nota de

devolução ................................................................................................................

Figura 33 – Fluxo da Averbação Eletrônica na execução fiscal e trabalhista com nota

de devolução ...............................................................................................................

Figura 34 – Fluxo da Averbação Eletrônica nos demais tipos de execução com nota de

devolução ................................................................................................................

83 84 86 92 96 98 101 102 103 107 109 111 115 117 118 119 120

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Níveis de Análise x Competências Requeridas em Serviços Compartilhados ..........

Quadro 2 - Princípios da CRSEC .................................................................................................

Quadro 3 – Metodologia de Coleta e Análise de Dados ..............................................................

Quadro 4 – Relatório de visitas à organizações para coleta de dados ..........................................

Quadro 5 - Fluxo de dados enviados pelo apresentante/interessado para o registro de

imóveis ......................................................................................................................

Quadro 6 - Fluxo de dados enviados do registro de imóveis para o apresentante .................

44 48 76 77 104 105

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LISTA DE ABREVIATURAS

ARISP – Associação dos Registradores Imobiliários de São Paulo

BPMI – Business Process Management Initiative

BPMN – Business Process Management Notation

CAMARA E-NET – Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico

CRSEC – Central Registral de Serviços Eletrônicos Compartilhados

E-PING – Padrões de Interoperabilidade de Governo Eletrônico

EV – Empresa Virtual

GV – Gestor Virtual

ICP-BRASIL – Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileiras

IRIB – Instituto de Registro Imobiliário do Brasil

LABGES – Laboratório de Tecnologias de Gestão

UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina

OV – Organização Virtual

PV – Plataforma Virtual

SRP – Serviços de Registro Público

TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação

XML - Extensible Markup Language

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................

1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA..............................................................................................

1.2 OBJETIVOS ..........................................................................................................................

1.2.1 Objetivo Geral..................................................................................................................

1.2.2 Objetivos Específicos .......................................................................................................

1.3 RELEVÂNCIA DO ESTUDO................................................................................................

1.4 ESTRUTURA DO DOCUMENTO .....................................................................................

2. FUNDAMENTAÇAO TEÓRICA ........................................................................................

2.1 REGISTROS PÚBLICOS – DEFINIÇÃO .............................................................................

2.2 REGISTROS PÚBLICOS – BREVE HISTÓRICO E EVOLUÇÃO ....................................

2.2.1 Registro civil de pessoas naturais ...............................................................................

2.2.2 Registro de títulos e documentos e civil de pessoas jurídicas ..........................................

2.2.3 Registro de Imóveis ........................................................................................................

2.3 A BASE CONCEITUAL PARA MODERNIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE

REGISTRO PÚBLICO .................................................................................................

2.3.1 Organizações virtuais .........................................................................................................

2.3.1.1 Formação de organizações virtuais .................................................................................

2.3.2 Serviços compartilhados ....................................................................................................

2.4 A PROPOSTA DE GESTÃO PARA MODERNIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE

REGISTRO PÚBLICO ...................................................................................................

2.4.1 A Central Registral de Serviços Eletrônicos Compartilhados ............................................

2.4.1.1 Princípios da CRSEC ......................................................................................................

2.4.1.2 As aplicações da CRSEC .................................................................................................

2.4.1.3 Os componentes da CRSEC .............................................................................................

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2.4.1.4 Canais de acesso à CRSEC ......................................................................................

2.4.1.5 O funcionamento de uma aplicação de serviço – o caso prático do Ofício

Eletrônico .......................................................................................................................

2.5 FERRAMENTA PARA ANÁLISE DE PROCESSOS ..................................................

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .........................................................................

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO.....................................................................................

3.2 DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO .................................................................................

3.3 LIMITAÇÕES DO ESTUDO ...............................................................................................

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA COLETA DE DADOS ..............................

4.1 AVERBAÇÃO DE PENHORA DE BENS IMÓVEIS .........................................................

4.1.2 Descrição do processo de averbação penhora de bem imóvel ............................................

4.1.2.1 Apresentação da documentação .......................................................................................

4.1.2.2 Protocolação da documentação ........................................................................................

4.1.2.3 Qualificação da documentação ........................................................................................

4.1.2.3.1 Nota de devolução com declaração de exigências ........................................................

4.1.2.3.2 Nota de devolução com declaração de dúvida ..............................................................

4.1.2.3.3 Dúvida inversa ..............................................................................................................

4.1.2.4 Averbação da penhora ......................................................................................................

4.1.2.5 Arquivamento de documentação ......................................................................................

4.1.2.6 Entrega da documentação .................................................................................................

4.1.3 Estrutura do fluxo de dados ................................................................................................

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA ...................

5.1 PROPOSTA DA AVERBAÇÃO ELETRÔNICA DE PENHORA DE IMÓVEIS ..............

5.1.1 Sistemática proposta para o funcionamento da Averbação Eletrônica de Penhora ............

5.1.2 Redesenho do fluxo do processo de averbação de penhora para implantação da

proposta ..............................................................................................................................

6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................................

7 REFERÊNCIAS .....................................................................................................................

8 GLOSSÁRIO .................................................................................................................

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1 INTRODUÇÃO

A dinamicidade dos mercados vem exigindo das organizações uma capacidade cada

vez maior de adaptação às novas realidades, adaptação esta, possível de se identificar como

fator preponderante de sobrevivência. A rapidez com que as mudanças são impostas às

organizações, mais que conseqüência de um determinismo ambiental, é potencializadora da

ampliação da capacidade de previsibilidade e de respostas das próprias organizações às

exigências do ambiente. Entretanto, esta capacidade de previsão e de resposta ao mercado não

são percebidas de modo idêntico por todas as organizações, potencializando a perda de

vantagem competitiva das mesmas (MORAES, 2001).

Neste contexto ambiental, onde a visão estratégica contempla a identificação das

necessidades de mercado, a previsão de futuro, a internação de metas e a inovação, ocorrem

impactos na estrutura organizacional e operacional de uma organização competitiva (COSTA;

DE ROLT; DIAS, 2008).

Como impactos de maior visibilidade estão a redução e horizontalização dos níveis

hierárquicos, a formações de times interdisciplinares e a intensificação do uso da tecnologia

da informação e comunicação (TIC). Os impactos maiores com relação à estrutura

operacional estão na visão baseada em processos e atuação na competência essencial

(MARCELINO, 2007).

Ocorre, que em um ambiente transacional com tais características, torna-se difícil para

uma organização se manter competitiva em todas as atividades de sua cadeia de valor. Por

isso, a estratégia competitiva que se desenha como a mais adequada para a sobrevivência e

atuação em ambientes dinâmicos é baseada na cooperação entre organizações (POWELL e

GRODAL 2005).

Dentro dessa temática vem surgindo novos conceitos e práticas no campo da

administração que visam o desenvolvimento de propostas de colaboração e cooperação

organizacionais que visam o aumento da competitividade das organizações, a redução dos

riscos inerentes à operação conjunta entre diferentes organizações, o impacto direto no

aperfeiçoamento dos processos e a geração de valor para os usuários.

Esta pesquisa utilizará como base conceitual de referência alguns desses conceitos

ligados às áreas de gestão de processos de negócio (GONÇALVES, 2000a), organizações

virtuais (FRANKE, 2002), organizações em rede (POWELL e GRODAL, 2005), e serviços

compartilhados (IPF, 2006), tomando como foco temático, o processo de modernização dos

Serviços de Registro Público do Brasil.

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Os Serviços de Registro Público (SRP) são processos legais e administrativos que

fazem parte da história e do cotidiano dos indivíduos e das organizações em nosso país. A

evolução dos tempos propiciou mudanças na formalização destes serviços, que na atualidade

são exercidos por delegação do poder público mediante realização de concurso público, por

oficiais de registro em organizações denominadas cartórios extrajudiciais – também

conhecidos pelo termo “serventias”. As serventias extrajudiciais têm finalidade

eminentemente pública, e seu funcionamento é regido fundamentalmente pelo seguinte

conjunto de leis:

• Constituição Federal Brasileira de 1988 – Artigo 236;

• Lei Federal n. 6.015 - de 31 de dezembro de 1973 - que dispõe sobre os registros

públicos, e dá outras providências;

• Lei Federal n. 8.935, de 18 de novembro de 1994 - que regulamenta o artigo 236 da

Constituição Federal, dispondo sobre serviços notariais e de registro;

• Código de Normas da Corregedoria Geral dos Estados e do Distrito Federal.

Os SRP, por sua vez, podem ser agrupados de acordo a especialidade dos oficiais

titulares de serviços de registro. A Lei 8.935/1994 classifica estes profissionais da seguinte

forma: (a) oficiais de registro de imóveis; (b) oficiais de registro de títulos e documentos e

civis das pessoas jurídicas; (c) oficiais de registro civis das pessoas naturais e de interdições e

tutelas; (d) oficiais de registro de distribuição e; (e) oficiais de registro de contratos

marítimos. Todos os serviços prestados nas serventias extrajudiciais têm no título/documento

o seu principal ativo.

Ocorre que, devido a fatores como a evolução da economia digital e da utilização da

tecnologia da informação nas organizações, a intensificação do uso do documento eletrônico e

a institucionalização de sua aplicação no Brasil, novas possibilidades de gestão, transferência

e armazenamento de documentos foram criadas para estes serviços, causando um impacto

significativo na gestão dos processos destas organizações e demandando sua modernização de

acordo com esta nova lógica (DIAS, 2004).

Diante da necessidade da organização de um processo de mudança organizacional e

tecnológica para os serviços de Registro Público do Brasil, De Rolt; Dias; Custódio (2007)

desenvolveram uma proposta conceitual para a modernização dos SRP embasada nos

conceitos de Organizações Virtuais (FRANKE, 2002) e Serviços Compartilhados (IPF, 2006),

a partir da criação de um modelo integrado de cooperação entre diversas organizações com

competências complementares, para a atuação em projetos temporários visando o

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desenvolvimento de novas aplicações tecnológicas e técnicas de gestão alinhadas às demandas

da sociedade brasileira para a área de registros públicos.

Esta proposta de modernização dos Serviços de Registro Público do Brasil tem como

principal desdobramento prático o desenvolvimento da Central Registral de Serviços

Eletrônicos Compartilhados (CRSEC), que é um projeto inovador, em desenvolvimento desde

o ano de 2007, a partir de um trabalho colaborativo por parte de uma rede de participantes

composta por entidades representativas das serventias extrajudiciais, laboratórios de pesquisa

acadêmica, entidades multi-setoriais e empresas de tecnologia.

Diante do desenvolvimento de aplicações na CRSEC, sob um enfoque tecnológico

alinhado com o paradigma da economia digital, que tem focalizado a desmaterialização de

processos de Registro Público e a utilização em larga escala das novas tecnologias de

comunicação e informação para estes serviços, este trabalho pretende focaliza o processo do

serviço de averbação de penhora de bens imóveis, realizado nas serventias de registro de

imóveis do Brasil.

O estudo tem a finalidade de servir como embasamento para comparar a situação atual

e a pretendida, de forma a gerar tensão estrutural que impulsionará a mudança organizacional.

Para tanto é necessário o mapeamento do processo como ele é (As-Is), identificando suas

vantagens e limitações, para então criar um modelo de como ele deverá ser (To-Be),

apresentando um mapa de “como” o processo transformado funcionará, fornecendo as bases

para sua implantação (HUNT, 1996).

O conceito de processos de negócio adotado no trabalho é o que está definido por

Gonçalves (2000b) como sendo aqueles processos que caracterizam a atuação da organização

e que são suportados por outros processos internos, resultando no produto ou serviço que é

recebido por um usuário externo.

Para a realização desta pesquisa foi utilizado o método investigativo do estudo de

caso, envolvendo múltiplos casos, segundo uma abordagem descritivo/avaliativa

(MERRIAM, 1988), que tem como objetivo o mapeamento e modelagem dos processos de

negócio relacionado com o objeto de pesquisa definido, analisando-os paralelamente

utilizando ferramenta de gerenciamento de processos, para finalmente definir uma proposta de

integração dos serviços estudados à CRSEC.

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1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

Os recursos advindos do desenvolvimento da tecnologia da informação e comunicação

estão rompendo barreiras de espaço e tempo. Isto pode ser verificado através da difusão dos

recursos da Internet e do crescente uso de tecnologias digitais para troca de informações,

produção do conhecimento e desenvolvimento econômico. Enquanto essas tecnologias

desenvolvem-se rapidamente, as organizações recebem o desafio de redesenhar os seus

processos de negócios em função dos impactos da utilização das tecnologias de comunicação

intermediadas pelo computador, obrigando-as a entrar em um novo ambiente competitivo

conhecido como virtual (DE ROLT, 2000).

Sendo assim, nesta nova dinâmica não há espaço para processos que não agregam

valor. Agregar valor significa qualidade, confiabilidade, velocidade e custos adequados. Sem

estes requisitos competitivos os prestadores de serviços tendem a desaparecer através da

obsolescência. Mesmo para aqueles negócios que são protegidos por barreiras de entrada

criadas pela legislação existe o risco de que a competitividade seja ameaçada pela inovação.

Ocorre que os serviços de registro público prestados pelas serventias extrajudiciais

apresentam um conjunto de processos de complexidade elevada. Esta complexidade decorre

da dependência desta atividade com uma série de outras atividades econômicas e da

regulamentação vigente, que é extensa e requer conhecimento específico de várias áreas.

Por conta disso, embora exista uma importante demanda social em prol da

modernização da gestão dos serviços de registro público no Brasil, a quantidade de pesquisas

aplicadas a esses ambientes de uma forma mais aprofundada ainda tem se mostrado

insuficiente para apoiar este importante processo de modernização desses serviços que são

eminentemente públicos, apesar de serem exercidos em caráter privado.

Esta afirmação é confirmada por levantamento bibliográfico feito em 2007 acerca das

produções acadêmicas na plataforma Lattes1, do Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPQ), sobre a gestão de serventias extrajudiciais.

A conclusão preliminar a que se chegou após a análise das temáticas dos documentos

encontrados no portal do CNPQ, é que o tema da modernização dos serviços de Registro

Público realizados pelas serventias extrajudiciais é abordado sob uma perspectiva mais

específica à realidade individual dos casos estudados, como por exemplo: o aperfeiçoamento

de processos e serviços internos (BARRETO, 2003), impactos da adoção de sistemas de

1 Disponível em <http://lattes.cnpq.br/>

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informação e comunicação (CAMPOS, 2005), desenvolvimento de sites de e-commerce

(JACINTO, 2005), automação e virtualização de processos e uso do documento eletrônico

(DIAS, 2004; BORTOLI, 2002; CASELLA; TASCA; FERREIRA, 2003), entre outros.

Entretanto, não foram localizados estudos que incluam a perspectiva de cooperação

interorganizacional (POWELL e GRODAL 2005), com o desenvolvimento de sistemas de

informação cooperativos com outras entidades fora de suas fronteiras (PEREIRA, 2005); o

compartilhamento de serviços (IPF, 2006), gerenciamento de processos de negócio

(GONÇALVES, 2000a), nem uma análise mais sistêmica acerca do macro-ambiente da

organização (CAPRA, 1996).

De acordo com Capra (1996) e Senge (1994), as análises de objetos de pesquisa

devem estar submetidos a uma visão mais holística e sistêmica das questões internas e

externas à organização, e não em um reducionismo funcionalista, como se fosse possível

estudar subsistemas desligados de outros sistemas que os influenciam. Além disso, Powel;

Grodal (2005) consideram que a prática colaborativa e cooperativa entre as organizações pode

levá-las a melhorias significativas na sua gestão e competitividade, além de reduzir seus

custos de operação de serviços.

Diante disso, o Laboratório de Tecnologias de Gestão (LABGES) da Universidade do

Estado de Santa Catarina, têm focalizado a questão do desenvolvimento de técnicas de gestão

para a modernização dos serviços de registro público do Brasil. Conforme pode ser visto na

Figura 1, o LABGES está posicionado como um grupo de pesquisas ligado ao mestrado

profissional em administração da Escola Superior de Administração e Gerência da

Universidade do Estado de Santa Catarina – ESAG/UDESC.

Figura 1 – Posicionamento do LABGES na estrutura da UDESC/ESAG

Fonte: Adaptado de Schmitz (2006)

UDESC/ESAG

Mestrado Profissional em Administração

Organizações e tecnologias de

gestão

Gestão da co-produção do bem público

LABGES

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O Mestrado Profissional em Administração da ESAG/UDESC tem a área de

concentração em Gestão Estratégica das Organizações e duas linhas de pesquisa: (1)

Organizações e Tecnologias de Gestão e; (2) Gestão da Co-Produção do Bem Público. Os

direcionamentos de pesquisa do LABGES estão enquadrados na primeira linha de pesquisa

citada, que se propõe a realizar estudos e pesquisas, em organizações, considerando um

ambiente dinâmico e de educação continuada, abordando estratégia, decisões e ações, que são

implementadas para promover mudanças organizacionais e das tecnologias de gestão.

Os projetos desenvolvidos no LABGES focalizam especificamente o desenvolvimento

de técnicas de gestão para cooperações de organizações independentes. Tais cooperações

surgem para projetos temporários com objetivos que somente serão atingidos com a aplicação

racional das competências complementares dos participantes de uma rede de organizações.

Os direcionamentos temáticos de pesquisa atualmente adotados no LABGES são:

• Modernização das serventias extrajudiciais no Brasil;

• Gestão de redes de organizações para inclusão digital e social;

• Prestador de serviços de suporte inteligente;

• Desenvolvimento da economia digital.

A presente pesquisa faz parte do primeiro direcionamento citado, que reúne uma série

de projetos de pesquisa que abordam diversas demandas relacionadas à modernização dos

serviços registrais e notariais prestados pelas serventias extrajudiciais no Brasil. Tal conjunto

de projetos está sendo desenvolvido a partir de um trabalho coordenado e integrado, que reúne

entidades interessadas no aperfeiçoamento desses serviços, como é o caso da Câmara

Brasileira de Comercio Eletrônico (CAMARA E-NET), do Instituto dos Registradores

Imobiliários do Brasil (IRIB), da Bry Certificação Digital e do Laboratório de Segurança em

Computação (LABSEC) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), entre outros

participantes.

Tendo em vista a existência de tais linhas de atuação do LABGES, e levando em

consideração as oportunidades de aplicação dos conceitos estudados em uma situação prática,

e as oportunidades de contribuição do meio acadêmico para a compreensão de questões

ligadas à gestão e a proposição de soluções para demandas sociais, este estudo focaliza as

alternativas para modernização dos serviços de registro público nas questões ligadas

especificamente à averbação da realização de Penhora de Bens Imóveis. Neste sentido, a

pesquisa busca responder a seguinte pergunta:

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Como pode ser estruturado o processo do serviço de averbação de Penhora de Imóveis

a partir da possibilidade de modernização dos Serviços de Registro Público oportunizada pelo

desenvolvimento da Central Registral de Serviços Eletrônicos Compartilhados - CRSEC?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

Propor um modelo de fluxo de processos para o serviço de averbação de Penhora de

Bens Imóveis com vistas a sua modernização e integração com as aplicações da Central

Registral de Serviços Eletrônicos Compartilhados (CRSEC).

1.2.2 Objetivos específicos

Dentro do escopo definido para este trabalho, apresentam-se os seguintes objetivos

específicos:

a) Apresentar os aspectos conceituais da CRSEC;

b) Realizar levantamento dos processos de negócio do serviço de averbação de

penhora de bens imóveis;

c) Definir técnicas e ferramentas metodológicas para modelagem e análise dos

processos de negócio selecionados;

d) Mapear, modelar e criar diagramas dos processos de negócio selecionados;

e) Propor a transformação dos processos de negócio para integração com as aplicações

da CRSEC.

1.3 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

No atual ambiente dinâmico é cada vez mais difícil para uma organização se manter

competitiva em todas as atividades de sua cadeia de valor. Em áreas onde progresso científico

ou tecnológico é veloz, e as fontes de conhecimento estão largamente distribuídas, uma

organização isolada não consegue deter todas as habilidades necessárias para se manter

atualizada em todas suas frentes de atuação e apresentar significativas inovações de mercado.

Por isso, a estratégia competitiva para coordenar os desafios do ambiente organizacionais é

cada vez mais baseada na formação de alianças estratégicas (POWEL e GRODAL, 2005).

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Neste sentido, nos últimos anos vêm surgindo uma vasta literatura sobre a existência e

consolidação dos relacionamentos interorganizacionais nos diversos ramos de atividade das

organizações, buscando avaliar como essas formas de estruturação podem alavancar os seus

participantes a retornos econômicos superiores (PEREIRA, 2005). De acordo com Powell e

Grodal (2005), nestes relacionamentos interorganizacionais as organizações podem agrupar

ou trocar recursos e conjuntamente desenvolver novas idéias e habilidades.

De maneira análoga, a evolução da tecnologia da informação tornou possível a

implementação de novas alternativas para a comunicação e coordenação entre os parceiros de

cooperações que, além de aumentar a agilidade na troca de informações entre as operações,

reduzem o seu custo e compartilham investimentos, riscos e oportunidades.

Grande parte destas alternativas é baseada em recursos de TIC, o que tem conduzido

ao desenvolvimento de várias formas virtuais de organizações e processos que exploram as

facilidades do trabalho em rede para, colaborativamente, executarem as tarefas que se

estendem aos limites das organizações participantes da cooperação (CASTELLANI et al,

2003). Estes avanços nas áreas da tecnologia da informação e sistemas de comunicação em

rede vêm sendo progressivamente absorvido em diversas áreas até então impenetráveis aos

processos de inovação, como é o caso das serventias extrajudiciais (FIGUEIREDO, 2007).

Os cartórios têm sido vistos como instituições burocratizadas, com procedimentos

lentos na prestação dos seus serviços e reserva de clientela (BARRETO, 2003). Fatores como

estes têm ocasionado uma visão negativa da opinião pública sobre estas organizações

(CASELLA; TASCA; FERREIRA, 2003).

Mas apesar desta percepção negativa, os serviços prestados por essas organizações

constituem relevante serviço público que visam garantir a publicidade, autenticidade e

segurança nos negócios jurídicos, a preservação da ordem social, bem como representam

elemento de conservação da memória de um povo (BENÍCIO, 2005).

Benício (2005, p. 27), afirma que a gama de atribuições e funções delegadas aos

titulares de serviços notariais e de registro é responsável pela prevenção de litígios que, caso

não fossem evitados, poderiam inviabilizar ainda mais o acesso à Justiça. O autor considera

alguns aspectos que atestam a relevância das atividades de registro para o Brasil:

• Registradores conferem autenticidade e segurança aos atos jurídicos, além de

atuarem como acessores jurídicos qualificados, e muitas vezes gratuitos;

• Registradores estão ligados ao cotidiano das pessoas, sendo, pois, uma profissão de

confiança. Recebem consultas comumente acerca de problemas familiares, econômicos e

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morais, dentre outros, exorbitantes ao mundo estritamente jurídico, transformando-se em

verdadeiros conselheiros das partes;

• Por meio dos dados contidos nos arquivos dos cartórios, viabiliza-se o diagnóstico

de fatores geopolíticos que servirão de base para a tomada de decisões governamentais;

• Os atos registrais podem contribuir na elaboração e revisão dos marcos

regulatórios;

• Os documentos registrais desempenham relevante função histórica, não deixando

com que fatos importantes da vida de um povo se percam no tempo;

• Os registradores são elementos importantes na política de fiscalização de tributos,

uma vez que em decorrência de imposição legal, tais agentes são responsáveis pela

fiscalização da regularidade do recolhimento dos tributos que incidem sobre os atos e

negócios relacionados com o exercício de sua profissão.

Isto posto, fica evidente a relevância dos serviços de Registro Público, e a importância

de uma pesquisa acadêmica que trate dos aspectos procedimentais para a adequação dos

serviços oferecidos pelas serventias extrajudiciais a uma nova realidade organizacional de

modernização da gestão através de modelos colaborativos e cooperados, e do uso de

documentos eletrônicos e tecnologia da informação como forma de aperfeiçoar os serviços

prestados e otimizar os processos adotados.

Ocorre que essa modernização tem aspectos que merecem especial atenção e devem

ser trabalhados para dar maior credibilidade e segurança à toda atividade de transição. Tais

aspectos estão ligados à dificuldade de adequação aos recursos tecnológicos, humanos e

processuais necessários, fatores esses que podem representar verdadeiros limitadores a este

processo, se não trabalhados com exatidão.

Dessa forma, a partir da aplicação da pesquisa será possível aprofundar o

conhecimento da gestão de processos destas organizações, sobretudo nas discussões acerca da

utilização dos conceitos de organização virtual e serviços compartilhados aplicados ao

ambiente organizacional das serventias extrajudiciais, além do desenvolvimento de uma

proposta de transformação de um processo de grande relevância para os seus usuários, que

pode servir de referencial para outros projetos que sejam focalizados no decorrer deste

contínuo processo de modernização.

Além disso, a pesquisa pode fomentar o interesse de outras organizações, de outros

segmentos e atividades, em torno de alternativas de aperfeiçoamento de seus processos,

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aplicando o conhecimento advindo da pesquisa aos seus contextos organizacionais, e dessa

forma, agregando valor à gestão administrativa em busca do desenvolvimento da sua atuação.

1.4 ESTRUTURA DO DOCUMENTO

Quanto a sua estrutura, este trabalho está dividido em seis capítulos, da seguinte

forma:

O primeiro capítulo contextualiza o tema, apresentando a problematização e definindo

o objetivo geral, os específicos, e a relevância da pesquisa.

O segundo capítulo fundamenta teoricamente o estudo, apresentando os conceitos

necessários ao entendimento do tema em estudo. Ele inicia com a definição dos Serviços de

Registro Público, as bases de seu processo de modernização e a estrutura da Central Registral

de Serviços Eletrônicos Compartilhados (CRSEC). A seguir é explorada de forma sucinta a

temática de gerenciamento de processos de negócio como estratégia para estudo dos

processos focalizados para esta pesquisa.

O terceiro capítulo aborda os procedimentos metodológicos da pesquisa realizada,

incluindo sua caracterização, técnicas de coleta e análise de dados e as limitações encontradas

durante a pesquisa.

O quarto capítulo estrutura os dados coletados na pesquisa, apresentando uma

descrição narrativa e gráfica do processo estudado, evidenciando o seu fluxo de execução e de

dados.

O quinto capítulo apresenta a discussão dos dados e o desenvolvimento da proposta

principal do trabalho, que versa sobre a transformação do processo de averbação de penhora

de imóveis para sua integração com a CRSEC.

O sexto capítulo tece as considerações conclusivas do estudo que relaciona os

objetivos propostos aos resultados alcançados, destacando ainda algumas recomendações para

futuras pesquisas.

Finalmente, no sétimo e oitavo capítulos estão enumeradas as referências

bibliográficas que nortearam a dissertação e um glossário para consulta dos principais

conceitos abordados no estudo.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 REGISTROS PÚBLICOS – DEFINIÇÃO

Os serviços de Registro Público são previstos pela constituição brasileira de 1988, em

seu artigo 236, que determina que “os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter

privado, por delegação do Poder Público”. Este artigo é desmembrado em três parágrafos:

1º - Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos

notários, dos oficiais de registro e seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo

Poder Judiciário (Lei 8.935/1994);

2º - Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos

atos praticados pelos serviços notariais e de registro (Lei 10.169/2000);

3º - O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de

provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de

concurso de provimento ou de remoção, por mais de seis meses.

O conceito de Registro Público não é definido precisamente pelas principais leis que o

regulamentam na atualidade. Mas o artigo 1º da Lei 8.935/94, por seu turno, define serviços

notariais e de registro como sendo serviços "de organização técnica e administrativa

destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos"

(BRASIL, 1994).

Segundo Almeida (1966) apud Melo (2004, p. 6), registro público

... é o assento efetuado por um oficial público e constante de livros públicos, do livre conhecimento, direto ou indireto, por todos os interessados, no qual se atestam fatos jurídicos conformes com a lei e referentes a uma pessoa ou a uma coisa, fatos entre si conectados pela referência a um assento considerado principal, de modo a assegurar o conhecimento por terceiros da respectiva situação jurídica, e do qual a lei faz derivar, como efeitos mínimos, a presunção do seu conhecimento e a capacidade probatória.

Dias (2004) define o Registro Público como “serviço público com a função de

perpetuar documentos para a prova de atos jurídicos em qualquer tempo, sua publicidade e

conhecimento de terceiros”.

2.2 REGISTROS PÚBLICOS – BREVE HISTÓRICO E EVOLUÇÃO

De acordo com as leis 6.015/1973; 6.216/1975; 8.935/1994 e Ceneviva (2000), os

registros públicos estão agrupados segundo sua natureza, e são classificados da seguinte

forma:

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• Registro civil de pessoas naturais - registra os nascimentos, casamentos e óbitos e

atos acessórios relativos a esses registros;

• Registro civil de pessoas jurídicas - registra o surgimento, os estatutos e os

contratos sociais das empresas simples, associações civis, religiosas, pias, morais, científicas

ou literárias, bem como as fundações e associações de utilidade pública, inclusive todas as

suas transformações e extinções;

• Registro de títulos e documentos – realiza a transcrição de contratos, instrumentos

particulares, do penhor sobre coisas móveis, da caução de títulos de crédito pessoal e de

dívida pública, além de registrar facultativamente qualquer documento para sua conservação,

cabendo-lhe, também, a realização de qualquer outro registro não atribuído expressamente a

outra entidade;

• Registro de imóveis – realiza o registro e a averbação dos títulos ou atos

constitutivos, declaratórios, translativos e extintivos de direitos reais sobre imóveis

reconhecidos em lei para sua completa eficácia e validade reconhecida contra terceiros;

• Registros de Contratos Marítimos e Registros de Distribuição, funções de uso

restrito a alguns poucos estados brasileiros, tratando os primeiros de atos exclusivamente

relativos a transações de embarcações marítimas, e os segundos, quando previamente exigida,

da distribuição equitativa de serviços de que trata a lei 8.935/94, e atos acessórios e

complementares à função.

A seguir, será apresentado um breve histórico e evolução dos principais grupos de

Registros Públicos que figuram atualmente na realidade brasileira.

2.2.1 Registro civil de pessoas naturais

A história da utilização do Registro Público no Brasil se inicia com a organização do

país, a partir do seu descobrimento, no século XIV. Contudo, antes mesmo do descobrimento

do Brasil e da América do Sul, há informações históricas de que a civilização Inca utilizava

quipos2 para o registro de números e acontecimentos (COTRIM, 2002).

O primeiro conjunto de normas que tratou de aspectos de regulação dos registros

públicos no Brasil foram as chamadas “Ordenações do Reino”. No período de 1535 a 1603,

figuraram as Ordenações Manuelinas, enquanto que de 1603 a 1916, as Ordenações Filipinas

(MESQUITA, 1957).

2 Quipos – cordões coloridos nos quais se davam nós como forma de registro de informações (COTRIM, 2002)

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Com uma população composta basicamente por europeus, africanos e índios, e sob

forte influência da Igreja Católica, até 1850, o registro de nascimento era suprido pelo

assentamento de batismo na igreja, no qual se declaravam os nomes dos pais legítimos.

Também atribuía-se à religião, regular as condições e formas do casamento, e em

conseqüência, fixar as condições para sua validade. No período do império existiram três

formas de casamento: o casamento católico, o casamento misto e o casamento entre pessoas

de seitas dissidentes (BARRETO, 2007).

O casamento católico deveria ser lavrado em livro competente pelo pároco, da mesma

forma que os casamentos mistos. Nestes casos, o celebrante deveria lavrar certidão e registrá-

la dentro de um mês no livro próprio, quando então passariam a subsistir os efeitos civis do

casamento desde sua celebração. O terceiro tipo deveria ser celebrado de acordo com as

determinações das respectivas religiões (BARRETO, 2007).

Foi somente em setembro de 1850, que foi criada a lei n° 586, que em seu art. 17,

parágrafo 3°, autorizava a expedição do primeiro regulamento do Brasil para a organização do

Registro Civil. Para esse fim, foi baixado o decreto n° 788, de 18 de janeiro de 1852, que

declarava que mesmo com a organização do Registro Civil, o registro religioso regulado pelas

disposições do Concílio Trientino e das Constituições do Arcebispado da Bahia não seria

afetado. Este decreto foi substituído por outro de mesma natureza no dia 29 do mesmo mês

(MORELLI, 2002).

Além do registro de nascimento, o Estado também trouxe para seu controle o registro

do casamento, por se lhe reconhecer o eminente valor, como ato principal da vida civil da

comunidade. Assim, em 1861, decretou-se o casamento leigo para os acatólicos, regulado pela

lei n° 3.069, de 17 de abril de 1863 (MORELLI, 2002; MESQUITA, 1957).

Em definitivo, o Registro Civil brasileiro foi criado em 7 de março de 1888, pelo

decreto n° 9.886, vigorando a partir de 1° de janeiro de 1889. Este regulamento começou a

vigorar a partir do decreto nº 10.044 de 22 de setembro de 1888, regulamentando os

nascimentos, casamentos e óbitos mesmo quando tais assentos fossem feitos pelas autoridades

religiosas (MORELLI, 2002; MESQUITA, 1957).

Segundo Mesquita (1957), o diploma legal acima citado não foi dos melhores, porque

em grande parte baseou-se nos costumes e preceitos do direito canônico, falhando na parte

mais importante, no que tange à responsabilidade da declaração. Não se cogitou em identificar

o declarante. Dada a alta relevância da declaração do registro, deveria ser exigida a prova de

identidade do declarante, para efeito de só assim se poder constituir em fato, o que se afirma

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no registro. Apesar dessa e de outras falhas, o autor reconhece a virtude da instituição do

Registro Civil no Brasil.

Em 1890 foi criado o decreto n° 181, que instituiu o casamento civil único

reconhecido oficialmente pelo Estado, decorrendo a sua prova do próprio registro da

solenidade do ato. Sucederam-se a estes muitos outros decretos sobre a matéria, com a

finalidade de facilitar o nascimento ou casamento. Em 1916 foi aprovada a lei federal nº

3.071, que instituiu o primeiro Código Civil Brasileiro, que entrou em vigor em 1917 em

substituição às Ordenações Filipinas que perduravam desde 1603. Em 07 de fevereiro de

1924, foi aprovada a lei nº 4.827 que possibilitou a regulamentação do decreto nº 18.542 de

24 de Dezembro de 1928, para a execução dos serviços dos Registros Públicos estabelecidos

pelo Código Civil Brasileiro (MORELLI, 2002).

Em 1931, o decreto n° 19.710 de 18 de fevereiro, juntamente com suas prorrogações e

a Lei n° 252 de 9 de setembro de 1936, visaram ambas o nascimento, estabelecendo para o

próprio cidadão o dever de se registrar, quando não tivessem feito ou a isso anteriormente

obrigados. Esta Lei ainda acrescentava penalidades para os que não o fizessem. Desta forma,

pela primeira criava-se a obrigação de que todo brasileiro deveria ter registro, e penalidades

para os que não cumprissem este dever (MESQUITA, 1957).

Em 1939, o decreto nº 18.542/1928 foi substituído pelo decreto nº 4.857, aprovado em

09 de novembro daquele ano, o qual por sua vez foi modificado pelos decretos nº 5.318 de 29

de fevereiro de 1940 e nº 13.558 de 30 de setembro de 1943. Finalmente em 31 de dezembro

de 1973 foi aprovada a Lei 6.015, conhecida como a lei dos Registros Públicos. que ainda está

atualmente em vigor e regula os procedimentos adotados para a realização dos serviços de

Registro Público no país (MORELLI, 2002).

2.2.2 Registro de títulos e documentos e civil de pessoas jurídicas

O Registro de títulos, documentos e outros papéis têm sua origem como serviços

sistematizados no Brasil, com a regulação disposta nos títulos 78 e 80, do Livro I das

Ordenações Filipinas. Tais serviços eram atribuídos, na época, aos Tabeliães de Notas.

Separando-se do grupo de competência dos tabeliães, no ano de 1903, foi criado no Rio de

Janeiro o serviço público correspondente ao primeiro ofício privativo do registro facultativo

de títulos e documentos, para a certificação da data, autenticidade, conservação e perpetuidade

de tais papéis (RÊGO, 2002).

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Posteriormente, face ao sucesso da medida e à necessidade de sua implantação, outras

unidades foram criadas nos demais Estados Federados. Em 28 de setembro de 1906, foi

instalado em São Paulo o primeiro ofício de registro de títulos e documentos e civil das

pessoas jurídicas.

Em 1° de janeiro de 1916, revogando as Ordenações, Alvarás, Leis e outras normas,

foi sancionada a Lei n° 3071, consolidando o Código Civil brasileiro, que, em seu Livro III,

Título I, Capítulo IV (arts. 129 e seguintes), disciplinou os meios de prova dos atos jurídicos,

regulando os institutos (RÊGO, 2002).

Com relação às associações, fundações privadas e sociedades não-empresárias, o

registro civil de pessoas jurídicas veio a ser regulado inicialmente pelo Código Civil de 1916

(BENÍCIO, 2005).

Sucederam-se o Decreto Legislativo n° 4827, criado em 7 de fevereiro de 1924, que

reorganizou os registros públicos instituídos pelo Código Civil e, em 24 de dezembro de

1928, e o decreto n° 18.542 que foi editado para disciplinar em âmbito federal sua execução.

Em 31 de dezembro de 1973, foi sancionada a Lei n° 6.015, que está em vigor até o momento,

disciplinando, nos seus arts. 127 e demais parágrafos o Registro de Títulos e Documentos

(RÊGO, 2002).

2.2.3 Registro de imóveis

O Registro Imobiliário iniciou-se no Brasil por meio da documentação lavrada por

funcionários designados pela metrópole portuguesa, que vinculava as terras brasileiras aos

posseiros e ao Rei de Portugal (BENÍCIO, 2005).

A partir da transformação do Brasil em colônia portuguesa, o governo lusitano

adquiriu sobre todo o território brasileiro o título originário da posse. Investido nessa

condição (posseiro), o descobridor, por meio de doações feitas em Cartas de Sesmarias3,

começou a destacar do domínio público partes de terras que viriam a constituir-se em domínio

privado. Esse regime de Sesmarias perdurou desde a época da descoberta do Brasil até sua

independência (em 7 de setembro de 1822), quando se abriu um hiato na atividade legislativa

sobre terras que se prolongou até 1850, desenvolvendo-se, nesse intervalo, a progressiva

ocupação do solo sem qualquer título, mediante a simples tomada da posse, com a utilização

3 Sesmarias eram terras consideradas incultas ou abandonadas, que o Rei português cedia a particulares em condições econômicas de cultivá-las (BENÍCIO, 2005).

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na maior parte das vezes da força do Coronelismo que imperava naquela época (BUSSO,

2002).

A concessão de terras por meio de Sesmarias foi suspensa no regime latifundiário,

mediante resolução do governo real em 17 de julho de 1822. Por meio da Lei 601, de 18 de

novembro de 1850, com a Lei da Terra, criou-se a categoria de terras devolutas representando

os imóveis públicos e não comprometidos no domínio privado (BENÍCIO, 2005).

A Lei 601/1850, mais tarde regulamentada pelo Decreto 1.318, de 1854, legitimou a

aquisição pela posse, separando do domínio público todas as posses levadas ao livro da

Paróquia Católica, o chamado "Registro do Vigário". Com o fim das Sesmarias e a criação da

Lei da Terra, os possuidores das terras eram obrigados a registrar as posses junto ao Vigário

das freguesias do Império. É aí que se originam os registradores de imóveis, responsáveis

pelos registros de atos e vontades das partes interessadas na transferência de propriedade

imóvel (BENÍCIO, 2005). As terras não registradas eram consideradas como devolutas e

incorporavam ao patrimônio das Províncias, que depois passara a ser Estado, por força da

primeira Constituição da República, de 1891 (BUSSO, 2002).

A partir de 1854, mesmo que desordenadamente, passou-se a exigir contrato para

transmissão ou oneração de imóveis, sendo que os atos envolvendo entes vivos exigiam

escritura pública, que, obrigatoriamente, deveriam ser lavradas junto a um Tabelião (aqui

nasce o Cartório de Notas), caso o imóvel apresentasse valor superior a 200 mil réis. Ainda

nesse tempo, a propriedade se dava como efetivamente transmitida não somente pelo contrato,

exigindo-se a tradição para sua formalização. Enquanto o título traduzia uma relação pessoal,

a tradição exprimia um direito real (BUSSO, 2002).

Através da Lei 1.237, de 1864, foi criado o Registro Geral, que atrairia todos os

direitos reais imobiliários, substituindo a tradição pela transcrição, continuando o contrato

antes dela a gerar apenas obrigações. Assim, percebe-se a evolução do direito da propriedade,

porque a tradição, real ou simbólica, uma vez efetuada, não deixa vestígio permanente, ao

passo que a transcrição deixa seu sinal permanente no livro no qual era lançada (BUSSO,

2002).

Com o advento do Código Civil criado em 1916, o Registro Geral foi substituído pelo

Registro de Imóveis, mantendo-se a transcrição, entretanto, com uma mudança substancial:

foi lhe dada nova roupagem, resultando em prova da propriedade juris tantum, ou seja,

admitindo prova em contrário. O código tratava da matéria nos artigos 856 e seguintes

(MELO, 2004).

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Com o Regulamento da Lei nº 4.827, de 1924, consubstanciado no Decreto nº 18.542,

de 1928, foi introduzido no sistema registrário o princípio da continuidade, exigindo-se, para

qualquer transcrição ou inscrição, o registro do título anterior. O regulamento subseqüente, nº

4.857 de 1939, corrigiu a terminologia do ordenamento anterior, separando os atos sujeitos à

transcrição e inscrição. Os primeiros referentes aos atos de transmissão da propriedade; os

segundos à constituição de ônus reais (MELO, 2004).

Em 1973 surge a Lei 6.015, que reuniu em diploma legal todos os princípios

norteadores do Registro de Imóveis, aperfeiçoando uns e criando outros, de maneira que, de

certa forma, houve uma reconceitualização do cadastro predial brasileiro, principalmente no

que tange ao uso de livros, pois além de reduzir a quantidade, centralizou um livro principal

no imóvel, criando a figura da matrícula que representa a individualidade do imóvel, sua

situação geográfica e descrição, sofrendo alterações objetivas e subjetivas através da

averbação, sempre com um mesmo número de ordem, facilitando as pesquisas e expedição de

certidões (MELO, 2004).

A Lei 6.015/73 procurou aprofundar a matéria relativa a registros públicos,

disciplinando-a de forma detalhada, dividindo os atos praticados no Registro de Imóveis em

dois grandes grupos: registro e averbação. O primeiro envolvendo direitos e ônus reais; o

segundo, atos relativos à mutação objetiva ou subjetiva da matrícula (MELO, 2004).

O Novo Código Civil de 2002 outorgou maior importância aos registros públicos,

consagrou princípios registrários, confirmando a importância do Registro de Imóveis no

Brasil e corrigindo algumas imperfeições, mas de um modo geral mantendo a mesma linha do

código anterior (MELO, 2004).

Finalmente, de acordo com Souza (2007) além dos dispositivos constitucionais

mencionados e das Leis 6.015/1973 (Lei dos Registros Públicos), 8.935/1994 (a natureza e os

fins dos serviços notariais e de registro) e 10.169/2000 (normas para fixação de

emolumentos), podem ser incluídas dentre as principais normas aplicáveis atualmente aos

serviços notariais e de registro de imóveis, as seguintes: a) Lei 9.514 – dispõe sobre o Sistema

de Financiamento Imobiliário, institui a alienação fiduciária e dá outras providências; b) Lei

9.492/1997 – regulamenta os serviços concernentes ao protesto de títulos e outros documentos

de dívida; c) Lei 7.433/1985 e o Decreto 93.240/86 – dispõe sobre os requisitos para lavratura

de escrituras públicas; d) Arts. 108 (a escritura pública é requisito de validade dos negócios

jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais

sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País – anote-

se que há exceções) e 215 (estabelece que a escritura é documento dotado de fé pública,

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fazendo prova plena, elencando no artigo 1º requisitos para a sua lavratura) da Lei 10.406/02

(Código Civil); e) Lei 4.591/1964 – dispõe sobre o condomínio em edificações e as

incorporações imobiliárias – devem ser observadas as regras do Código Civil de 2002 que

alteraram a lei em foco; f) Lei 6.766/1979 – dispõe sobre o parcelamento do solo urbano; g)

Lei 10.257/2001 – Estatuto da Cidade – regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição

Federal e estabelece diretrizes gerais da política urbana; h) Lei 5.709/1971 – regula a

aquisição de imóvel rural por estrangeiro residente no país ou pessoa jurídica estrangeira

autorizada a funcionar no Brasil; i) leis estaduais (que fixam emolumentos nas unidades da

Federação); j) normas administrativas das Corregedorias Gerais da Justiça de cada Estado.

2.3 A BASE CONCEITUAL PARA MODERNIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE REGISTRO

PÚBLICO

Considerando os diversos aspectos que apontam para as vantagens provenientes da

inserção digital da sociedade como um todo, em termos de ganhos de eficiência, redução de

diversos custos e oferecimento de serviços adequados aos novos avanços da economia digital,

é notória a oportunidade de aperfeiçoamento dos serviços de Registro Público com o uso de

tecnologias digitais.

Especialmente a partir a criação da Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-

Brasil), através da MP 2200/01 e da Lei 11.419/06, foram abertos caminhos para o

desenvolvimento de novas tecnologias digitais baseadas no fluxo e guarda de documentos

eletrônicos, o que por sua vez possibilitou o desenvolvimento e implementação de aplicações

reconhecidas juridicamente para os serviços de Registro Público.

A partir da adoção do processo eletrônico no Poder Judiciário, diversas frentes do

poder público têm atuado no sentido de desenvolver e apoiar novas propostas de gestão de

processos, novos padrões e requisitos tecnológicos, bem como na abertura de linhas de

financiamento para o aperfeiçoamento dos serviços públicos por atores capacitados para essa

finalidade.

Acompanhando a tendência de desmaterialização dos processos e uso do documento

eletrônico e tecnologias digitais nas relações jurídicas, as entidades representativas dos

serviços de Registro Público do Brasil começaram a se movimentar no sentido de criar um

projeto de modernização que orientasse o processo de adequação tecnológica dos serviços

prestados pelas serventias, e coordenasse a transição gradativa da atual estrutura para uma

situação de uso intenso da tecnologia da informação.

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A necessidade de criação de uma proposta de gestão para a modernização dos serviços

de Registro Públicos ganhou maior efetividade, na medida em que se vislumbrou a

importância do desenvolvimento de uma metodologia consistente para este processo, que

coordenasse o desenvolvimento de todo uma infra-estrutura de soluções, o que por sua vez

possibilitaria a criação de novos serviços em uma plataforma de desenvolvimento integrada.

Tal iniciativa demonstra que os serviços de Registro Público têm buscado se situar por

um novo paradigma tecnológico, que se concentre não só no provimento de equipamentos de

sistemas de informação ou sua interligação em rede, mas sim em uma profunda reavaliação

dos atuais processos, alterando-os, se necessário, a fim de prepará-los para a aplicação de

modernas tecnologias de informação e comunicação, levando sempre em consideração as

demandas sociais (COSTA et al, 2008).

Tendo em vista tal desafio, a partir do trabalho coordenado das entidades

representativas das serventias extrajudiciais de registro (IRIB/ARISP/ARPEN/CDT)4, em

parceria com a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (CAMARA E-NET), o Laboratório

de Segurança em Computação (LabSEC) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),

e o Laboratório de Tecnologias de Gestão (LabGES) da Universidade do Estado de Santa

Catarina (UDESC), foi elaborada a proposta da Central Registral de Serviços Eletrônicos

Compartilhados (CRSEC) que será abordada com maior profundidade na sequência deste

trabalho.

O detalhamento conceitual da proposta da CRSEC foi realizado por De Rolt; Dias;

Custódio (2007) que delinearam uma proposta de gestão para a modernização dos serviços de

registro público baseado nos conceitos de organizações virtuais (FRANKE, 2002) e de gestão

de serviços compartilhados (IPF, 2006). Tal conjunto de conceitos teóricos será brevemente

abordado nos tópicos que se seguem, juntamente com a explicitação da proposta desenvolvida

pelos autores acima citados, e a estrutura da CRSEC.

2.3.1 Organizações Virtuais

O conceito de Organização Virtual, que tem sido predominantemente entendido na

literatura como uma rede temporária de organizações independentes, ligadas pela tecnologia

da informação, e que em sua forma mais pura se ligam a outras para formar uma cooperação,

contribuindo apenas com o que considerar sua competência central (BYRNE, 1993).

4 IRIB – Instituto de Registro Imobiliário do Brasil | ARISP – Associação de Registradores Imobiliários do Estado de São Paulo | ARPEN - Associação dos Registradores de Pessoas Naturais de São Paulo | CDT – Centro de Distribuição de Títulos e Documentos de São Paulo.

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As organizações virtuais são apresentadas como sendo uma versão eletrônica das

empresas tradicionais que buscam, através de uma rede com outras empresas, aproveitar

novas oportunidades de mercado (OPREA, 2003).

O conceito de organização virtual tem ganhado maior relevância científica à medida

que tem sido pesquisado como uma alternativa estratégica para aumentar a competitividade e

os ganhos de uma cooperação entre organizações.

A formação de organizações virtuais envolve um grupo de organizações dispostas a

cooperar entre si através do compartilhamento de processos, recursos e habilidades, com

capacidade de busca e exploração sistemática de novas oportunidades de negócios. De acordo

com Bultje e Wijk (1998) os tipos de organizações virtuais podem ser assim definidos:

• Internas: aplicadas a uma organização para implementar a operação de equipes

internas;

• Estáveis: baseada na cooperação entre organizações diferentes coordenadas por

uma empresa central que contrata e terceiriza as partes do produto;

• Dinâmicas: caracterizam-se por manter uma cooperação profunda que é sempre

temporária e baseada em oportunidades estimuladas pelo ambiente;

• Web-company: conhecidas como organizações ágeis, são redes temporárias de

organizações especializadas suportadas pela Internet. O compartilhamento e a gestão do

conhecimento entre os parceiros é essencial para o bom funcionamento da organização

virtual.

Para Mowshowitz (2007) a organização virtual atualmente se mostra na atualidade

como uma maneira atrativa para administrar as atividades econômicas da organização de

maneira análoga à como a manufatura contribuiu para o aumento da produtividade no início

da revolução industrial.

As principais características das organizações virtuais (BAUER e KÖSZEGI, 2003;

JAGERS; JANSEN; STEENBAKKERS, 1998) permitem identificar a importância dessa

nova concepção de organizações e sua sinergia com as demandas de adaptabilidade,

aprendizado e cooperação impostas pelo atual contexto do ambiente competitivo:

• são redes temporárias de indivíduos, pequenas empresas ou partes de corporações

maiores que se constituem com finalidade específica (exemplo: desenvolver um produto);

• são constituídas por participantes que não se localizam em um escritório central,

mas cada um deles está em um local distinto;

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• colocam ênfase nas competências centrais de cada parte envolvida, o que significa

que todos aqueles fazem aquilo que sabem fazer bem;

• apóiam-se fortemente na comunicação via tecnologias de informação e

comunicação;

• não possuem necessariamente uma estrutura legal comum;

• atuam sobretudo através da auto-gestão e auto-responsabilização, algo que é

possível pela existência de uma meta comum a ser seguida;

• apresentam uma única identidade aos clientes, isto é, os produtos e/ou serviços são

disponibilizados no mercado tal e qual a organização agisse como uma empresa tradicional.

Não obstante a amplitude das possibilidades de relações de negócios observa-se uma

série de dificuldades no crescimento desde modelo organizacional que usa intensivamente a

tecnolo\gia da informação e comunicação para coordenar a integração das atividades,

processos e informações conjuntas (HASSE e DE ROLT, 2006). Entre os obstáculos para o

crescimento das organizações virtuais estão:

• insuficiência de infra-estrutura básica e de tecnologia da informação para integrar a

estrutura virtual;

• falta de metodologias específicas e eficazes para a gestão de organizações virtuais;

• necessidade de desenvolvimento de mecanismos legais e jurídicos de contratação;

• questões sócio-culturais que dificultam o trabalho em alianças;

• despreparo do administrador pela falta de experiências e técnicas de gestão de

empresas em rede;

• falta de segurança na utilização de documentos eletrônicos e a;

• falta de confiança no compartilhamento de informações entre empresas que atuam

conjuntamente para atender a uma demanda de mercado.

2.3.1.1 Formação de organizações virtuais

Para uniformizar os termos utilizados acerca do conceito de organizações virtuais, será

utilizada a nomenclatura apontada por De Rolt; Schimdt; Santos (2005), a saber: Empresa

Virtual (EV), Plataforma Virtual (PV), Gestor Virtual (GV) e Organização Virtual (OV), visto

que há várias definições para os mesmos termos.

A EV é a cooperação temporária em forma de rede de organizações que participam de

uma PV, criada a partir de uma oportunidade de negócios, com o apoio do GV. A PV é uma

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rede dinâmica de empresas que atuam individualmente, que através de pré-acordos resolvem

se manter conectadas, com utilização intensa da tecnologia da informação, sob coordenação

do GV, preparadas para reunir as suas competências com outras organizações em EV’s

(ROLT; SCHMITZ; SANTOS, 2005).

É importante ressaltar que o GV apresenta um papel importante na formação da EV,

pois ele atua como um difusor do conceito de OV e promotor de cooperações

interorganizacionais, facilitando a formação sociedades estratégicas entre organizações

(HACTH, 1995 apud FRANKE, 2001). Conforme afirmam Franke e Hickmann (1999) o GV

atua como uma espécie de maestro, conduzindo a formação da EV, já que o GV conhece as

competências de diferentes organizações e possui um profundo conhecimento sobre o

ambiente.

Ao identificar oportunidades estratégicas no ambiente, o GV as associa com as

competências necessárias e entra em contato com as organizações. Esta forma de constituição

de EV’s pode apresentar menos problemas no aspecto social desde que o GV adote

mecanismos de confiança e selecione as organizações que tenham capacidade de cumprir os

compromissos a serem estabelecidos através dos contratos firmados (SHEREMETIEFF JR,

2003).

O GV, portanto explora uma oportunidade de negócio através da criação de EV’S, que

representam uma reunião de organizações com competências distintas, provenientes da PV. A

função mais importante do GV é a habilidade de integrar as competências das organizações

em uma EV de sucesso, que corresponda às expectativas de seus colaboradores e usuários.

O GV procura detectar as necessidades dos usuários dos produtos e serviços e assim

desenvolver um novo projeto. Dessa forma enquanto as organizações tradicionais buscam

interessados em seus produtos e serviços, na EV o GV analisa o comportamento dos atores e

usuários e faz o contrário, cria novos produtos e serviços adequados às necessidades destes

usuários (FRANKE, 2002).

Esta forma particular de gerenciamento é chamada de metagerenciamento, que é o

gerenciamento de uma tarefa virtualmente organizada. Nesse sentido Mowshowitz (2001)

identificou quatro atividades básicas do metagerenciamento: a) Análise das condições; b)

Rastrear as possibilidades de satisfazer essas condições; c) Desenvolver e manter o processo

para alocar os participantes que possam satisfazer essas condições e; d) Ajustar e otimizar os

critérios para o processo de alocação.

Assim, o GV atua como um coordenador, e exerce várias funções, como arquitetar a

PV, operacionalizá-la, acompanhá-la para que atinja os objetivos propostos e também se

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certificar de sua dissolução ao final do processo. Sendo assim Franke e Hickmann (1999)

afirmam que o GV cumpre três etapas principais na EV: a iniciação, manutenção e formação.

Na iniciação, a primeira tarefa do GV é procurar por companhias e instituições com

recursos complementares e competitivos e capacidade de trabalhar em parceria. Ele atua

promovendo relacionamentos, sendo que o principal objetivo é criar um laço comum e

promover a confiança mútua entre as organizações participantes. No término deste processo

os parceiros da EV concordam com a missão, visão, regras e regulamentos, critérios de

qualificação para novos parceiros e procedimentos de divisão de custos, riscos e lucros da EV

(FRANKE, 2001).

Na manutenção as organizações parceiras desenvolvem padrões de negócios e técnicas

para a estabilidade da cooperação e para produzir EV dinâmicas. O gestor monitora a

performance interna da EV, cuida dos membros mais fracos e dá suporte para que atinjam a

performance desejada. Ele também emprega ações disciplinares, se perceber que um parceiro

obtém vantagens ao custo de outros membros. O GV atua de forma neutra, resolvendo

conflitos somente quando necessário e também observa os ambientes internos e externos da

EV, fazendo propostas sobre mudanças (FRANKE, 2001).

Na formação, assim que uma oportunidade de aperfeiçoamento for detectada, o GV

identifica as competências necessárias para realizar um projeto que se encaixe nessa

oportunidade.

Quanto a quem deve ocupar esta função em uma OV, Franke (2001) diz que os GV’s

são profissionais em gerenciar EV’s ou são entidades especializadas contratadas por uma OV.

No entanto, para manter a posição neutra é preferível que o GV não faça parte de nenhuma

empresa participante. Isto não quer dizer que a idéia de formar uma EV não possa surgir de

uma organização interessada, com um projeto idealizado. Para que a viabilidade de sucesso

seja maior, ela deve contratar um terceiro para fazer o agenciamento.

2.3.2 Serviços compartilhados

Conforme dito anteriormente, o conceito de serviços compartilhados faz parte da base

conceitual do modelo de gestão da modernização dos serviços de registro público. Tal

conceito é definido por Quinn; Cooke; Kris (2000 apud RAMOS, 2004) como a prática

organizacional em que unidades estratégicas de negócios da mesma organização e/ou de

organizações distintas compartilham um conjunto de serviços ao invés de tê-los como uma

série de funções duplicadas.

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Conforme Amato Neto (1995), a empresa moderna deveria dedicar esforços nas

atividades e operações que realmente possam traduzir-se em vantagens competitivas para a

organização, concentrando-se em unidades de negócios, com um número cada vez mais

restrito de atividades, diminuindo o número de processos, reduzindo as estruturas

administrativas (downsizing) e repassando a uma rede de outras organizações (fornecedoras,

subcontratadas) a execução das atividades de apoio. Por isso, a idéia que embasa o conceito

de serviços compartilhados é a de compartilhar elementos comuns de cada negócio a fim de

alcançar mais competitividade e eficiência no uso de seus recursos (SCHULMAN et al,

2001).

Crooks; Spatz; Warman (1995) apresentam também um conceito correlato,

denominado cooperativas de serviços compartilhados, tratando-se de um grupo de empresas

privadas ou instituições públicas que formam uma cooperativa para prover um ou mais

serviços que melhoram ou aumentam a competitividade de suas operações. O papel destas

cooperativas, segundo os autores, é fornecer serviços em resposta a necessidades específicas

dos proprietários-membros. Estas organizações tornam-se uma extensão da operação

individual dos membros.

O alvo das cooperativas de serviços compartilhados é adquirir ou fornecer produtos

e/ou serviços para seus membros a um custo total menor do que os custos combinados que os

membros individuais incorreriam a eles mesmos. O objetivo é gerar uma economia

proporcionada através de baixos custos administrativos, descontos na aquisição de grandes

quantidades, e a garantia de negociações de qualidade com vendedores e fornecedores. Pela

aquisição cooperativa dos serviços, organizações unitárias ou entidades governamentais

podem aumentar a eficiência de suas atividades de aquisição (CROOKS; SPATZ;

WARMAN, 1995).

Segundo Fothergill; Binks; Ryan-Collins (2006), os serviços compartilhados podem

ser entendidos como a criação conjunta de um grupo de serviços back-office ou front-office5,

comuns a várias organizações, que são reunidos e administrados em uma organização única,

ou através de um grupo de organizações. Os autores apresentam um esquema simplificado,

que ilustra o modelo colaborativo de serviços compartilhados, conforme pode ser observado

na Figura 2.

5 Back-office ou retaguarda é um termo associado aos departamentos administrativos de uma empresa, departamentos que mantêm nenhum ou muito pouco contato com os clientes. Já o front-office ou linha de frente são atividades de uma empresa que tem alto contato com o cliente. O back-office fornece o apoio ao front-office e garante que as operações necessárias para a administração da empresa sejam realizadas. (WIKIPÉDIA – Disponível em <http://pt.wikipedia.org/> Acesso em 05 mar. 2008)

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O trabalho da gestão de serviços compartilhados e, por conseguinte, o trabalho de cada

indivíduo que atua em uma organização de serviços compartilhados, é liberar os demais

colaboradores para dedicar tanto tempo quanto possível aos serviços alinhados com as

competências essenciais da organização, e permitir que a gerência administrativa os auxilie no

crescimento e aperfeiçoamento do fornecimento desses serviços (SCHULMAN et al, 2001).

Figura 2 - Modelo Colaborativo de Serviços Compartilhados Fonte: Adaptado de Fothergill; Binks; Ryan-Collins (2006, p. 21)

Segundo Fothergill; Binks; Ryan-Collins (2006), os serviços adequados para o

compartilhamento possuem as seguintes características:

• Transacional e orientado por processos;

• Processos comuns que possam ser padronizados;

• Grande volume;

• Independência geográfica;

• Requer especialista exclusivo;

• Alto nível de capital intensivo;

• A demanda de uma única organização esteja abaixo da quantidade crítica.

A utilização do conceito de serviços compartilhados começou, na maioria dos casos,

na área financeira das organizações, devido ao rápido retorno dos investimentos feitos. O

melhor gerenciamento do capital de giro e a redução dos custos das operações são os

principais resultados dessa decisão. Contudo, o compartilhamento de serviços tem sido

utilizado com sucesso em outras áreas de atividades das organizações.

Organização A

Organização B

Organização C

Organização …

Joint Venture

Serviços Compartilhados

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Segundo Schulman et al (2001), além da área financeira, outras áreas de interesse de

compartilhamento de serviços são: tecnologia da informação, recursos humanos, jurídica,

suprimentos de materiais e comunicações. De acordo com IPF (2006) a adoção da proposta de

serviços compartilhados constitui-se uma iniciativa inovadora pela demonstração de

compartilhamento de serviços corporativos, administrativos ou transacionais, como: Recursos

Humanos e Departamento Pessoal, Finanças, Tecnologia da Informação, Aspectos Legais,

Marketing, Administração de Benefícios, entre outros.

Albretch et al (2004) destaca que um número cada vez maior de organizações têm

buscado alguma forma colaborativa ou compartilhada de serviços na área da tecnologia da

informação como parte de sua estratégia para redução de custos na área de desenvolvimento

de TI. Entre os benefícios apontados por IPF (2006) na adoção de serviços compartilhados

estão:

• Racionalização de atividades de suporte através de economias de escala;

• Adoção das melhores práticas organizacionais por meio de alianças

interorganizacionais. Isto pode conduzir a uma diminuição de serviços duplicados e pode

significar que mais usuários realizem transações já no primeiro ponto de contato;

• Redução de custos de adaptação pela modificação para lógica de unificação de

serviços;

• Diminuição de despesas gerais de gestão e procedimentos realizados com mais

eficiência;

• Diminuição de custos de aquisição através de demanda agregada;

• Aperfeiçoamento de processos, garantindo que os mesmos sejam efetuados de

forma correta, prevenindo retrabalhos e permitindo sua automação quando apropriado;

• Melhoria da administração da informação pelo aperfeiçoamento do processo de

tomada de decisão e suporte para identificação da ocorrência de problemas nos processos de

negócio;

• Melhoria da obtenção de informação gerencial – como por exemplo: se os bens e

serviços estão sendo adquiridos com contratos inadequados – contribuindo para a otimizar a

base de fornecimento;

• Associação e utilização da informação em um ambiente de análise unificado,

assegurando sua clareza e consistência, assim como a adoção e aperfeiçoamento de bases de

dados com interoperabilidade;

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• Esforço organizacional que pode produzir melhorias significativas, desde que haja

participação conjunta da rede e a busca do aprendizado a partir de boas práticas exercidas

pelos parceiros (benchmarking);

• Transparência no custo de fornecimento dos serviços de suporte, o que permite a

execução de um melhor gerenciamento e foco organizacional;

• Melhoria da satisfação com o trabalho e conservação da equipe de suporte, uma vez

que, quando serviços compartilhados são estabelecidos, há um aumento do time de

organizações participantes, o que por sua vez amplia as possibilidades de formação de

network e crescimento profissional;

• O crescimento do tamanho do time de organizações permite que haja um foco na

especialização das organizações em áreas que representem sua competência central,

impactando na obtenção de vantagens competitivas;

• A direção e os colaboradores das organizações são liberados para focar sua atuação

no desenvolvimento estratégico, aperfeiçoamento de serviços de contato direto com o usuário.

Isso permite que a organização responda às mudanças ambientais e forneça propostas

objetivas de gestão dentro de seus próprios departamentos e organizações.

Embora o uso de serviços compartilhados tenha sido utilizado de forma pioneira no

setor privado, muitas entidades públicas e organizações não governamentais estão adotando

os serviços compartilhados. Vale ressaltar que a experiência construída no setor privado

aponta para a necessidade de planejamento cuidadoso e integrado dos serviços compartilhados

com programas mais amplos de mudança organizacional (FOTHERGILL; BINKS; RYAN-

COLLINS, 2006).

Na visão de Fothergill; Binks; Ryan-Collins (2006), os serviços compartilhados estão

proporcionando uma proposta para aperfeiçoamento e melhoria da qualidade e eficiência dos

serviços do setor privado, e seu potencial para transformar a prestação de serviços no setor

público é significativo. O estudo feito por esses autores no Reino Unido aponta que a

economia gerada a partir da colaboração entre prestadores de serviços públicos para a

inovação e transformação dos serviços prestados por instituições públicas pode chegar a 560

milhões de libras em dois anos.

Quando aplicados efetivamente, os serviços compartilhados têm produzido a melhoria

do desempenho e ganhos de eficiência em organizações como Ford, HSBC, General Eletric,

Hewlett-Packard, entre outros. A pesquisa realizada por Fothergill; Binks; Ryan-Collins

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(2006, p. 10) na área de serviços compartilhados, traz os seguintes resultados acerca das

organizações que os adotaram:

• 86% alcançaram ou excederam seus alvos de melhoria de desempenho;

• 100% conseguiram aperfeiçoar a cooperação;

• 70% alcançaram seus alvos de produtividade;

• 84% alcançaram ou excederam os alvos de satisfação dos usuários;

• 73% alcançaram os alvos de economias de custos;

• 100% implantaram melhores tecnologias funcionais.

De acordo com Ramos (2004), a grande parcela do ganho decorrente da implantação

do que o autor denomina Unidade de Serviços Compartilhados (USC) é observado no período

de transição do modelo tradicional para o modelo de compartilhamento. Por isso, é de suma

importância a mensuração do desempenho do modelo anterior, inclusive a apuração dos

custos, para que seja feita a comparação dos resultados obtidos após a adoção do modelo de

compartilhamento.

O mesmo autor afirma que a utilização do conceito de serviços compartilhados no

Brasil é recente e a literatura produzida sobre o assunto ainda é escassa. Grandes empresas

começaram a adotar o compartilhamento de serviços, entre os quais:

• bancário - Associação dos Bancos, Bradesco;

• editoras - Editora Abril;

• industrial – Alcoa, Rhodia, Petrobras, Votorantim Metais, Algar, Dow Química;

• Motorola, Monsanto, Ford (Projeto Amazon), Dana;

• construção civil – Camargo Correia;

• alimentos e bebidas – AmBev, Sadia;

• distribuição de energia – CELPE;

• telefonia – Telemar, Telefônica;

• agro-industrial – Grupo Iracema São Martinho.

Muitas destas organizações já decidiram subcontratar serviços compartilhados para

algumas de suas áreas funcionais. Como resultado, alguns dos aspectos associados com a

transferência do grau de controle sobre a prestação do serviço para outra organização já são

mais conhecidos destas organizações. Ramos (2004) considera que o modelo de gestão de

serviços compartilhados apresenta características de funcionamento diferenciadas das

organizações tradicionais:

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• as transações, mesmo dentro da organização, são objeto de regulação através de

instrumentos contratuais;

• operação dos serviços de apoio em separado das atividades primárias;

• especialização da mão-de-obra e utilização de ferramentas de suporte e tecnologias

específicas para a produção de serviços: call center, sistemas de auto-atendimento para

empregados;

• criação de uma estrutura de governança dedicada ao gerenciamento da unidade de

serviços e da sua relação com as unidades de negócio;

• utilização das economias de escala proporcionada pelo compartilhamento para

reduzir o custo dos serviços e, conseqüentemente, os custos de produção.

O modelo colaborativo de serviços compartilhados também abre a possibilidade de

gestão dos serviços por organizações participantes da própria rede, dependendo do modelo

selecionado. Isto eleva a possibilidade de que os serviços compartilhados possam

proporcionar alguns ou todos os benefícios do processo de subcontratação, sem os problemas

associados com perda de controle sobre o serviço (IPF, 2006).

Em um documento publicado em 2005 pelo National Health Service da Inglaterra

(NHS) entitulado “Developing na Effective Shared Service” são apresentados alguns aspectos

chave para a construção de serviços compartilhados:

• Antes do estabelecimento dos serviços, os parceiros do arranjo cooperativo

deveriam gastar algum tempo juntos, trabalhando com franqueza e honestidade, sobre como

será a realidade deste compartilhamento;

• As organizações necessitarão considerar o estado atual de seus relacionamentos

entre si;

• As diferentes culturas de organizações parceiras necessitam estar alinhadas tanto

quanto possível para assegurar a efetividade do trabalho.

De acordo com o mesmo documento, alguns dos exemplos mais maduros de gestão de

serviços compartilhados têm desenvolvido contratos ou acordos de compartilhamento, os

quais descrevem o risco dessas alianças, seguros indenizatórios, responsabilização pública e o

gerenciamento de conflitos (NHS, 2005).

Uma das grandes forças propulsoras da estruturação dos serviços compartilhados tem

sido a utilização dos recursos da tecnologia da informação. A tecnologia da informação, como

definida por Rezende e Abreu (2003), é o conjunto dos recursos computacionais e

tecnológicos utilizados para a geração e uso da informação. A adoção de tecnologia, em

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particular dos sistemas de informação, tem se destacado por constituírem-se elementos

integradores e úteis para promover a reestruturação das organizações (CAMPOS e

TEIXEIRA, 2004). Dessa forma, a evolução da tecnologia da informação tem contribuído e

possibilitado a estruturação dos serviços compartilhados, proporcionando a comunicação, a

integração das unidades de negócios com as áreas de suporte e a automatização de

procedimentos.

Segundo a organização BEA (2006), os serviços compartilhados são compostos por

aplicações disponíveis por meio de tecnologias tais como web services, os quais

simultaneamente reduzem custos e possibilitam resultados mais dinâmicos. Segundo o mesmo

documento, um aspecto que certamente deve ser considerado é que a adoção de serviços

compartilhados não se trata apenas da escolha de sistemas ou de conectar organizações

separadas. Esta adoção requer o desenvolvimento e uso de padrões, redesenho de processos

tanto nas organizações quanto nas próprias operações de serviços compartilhados.

Segundo o NHS (2005), as organizações que desejam adotar o modelo colaborativo de

serviços compartilhados necessitam de um grupo de competências suficientes para criar o

ambiente certo para que o serviço opere eficientemente. O documento divide esse grupo de

competências em três grupos principais, conforme pode ser visto na Figura 3.

Figura 3 - Competências requeridas para adoção de Serviços Compartilhados

Fonte: Adaptado de NHS, 2005

Para cada um desses grupos, este documento também propõe três níveis de analise para

seu aprofundamento conceitual. São eles: conhecimento, habilidades e comportamento. Estes

necessitam ser consciente e amplamente desenvolvidos para que a possibilidade de sucesso da

iniciativa seja garantida. No Quadro 1 é possível verificar o relacionamento das competências

sugeridas com seus respectivos níveis de análise.

CCoommppeettêênncciiaass ccoommoo

PPaarrcceeiirroo

CCoommppeettêênncciiaass

ddoo TTiimmee

CCoommppeettêênncciiaass

IInnddiivviidduuaaiiss

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Quadro 1 - Níveis de Análise x Competências Requeridas em Serviços Compartilhados

Como Parceiro Time Individual

Conhecimento

As organizações necessitam entender e apreciar as realidades envolvidas no compartilhamento de um serviço, tanto aspectos tangíveis ligados a governança corporativa, como aspectos intangíveis.

A rede precisa entender e compartilhar conhecimento para seus parceiros, e estes devem entender a cultura, prioridades, linguagem e normas das organizações que trabalham na rede. Isto é útil para a discussão e consideração de toda a rede sobre como eles podem se adaptar à outras formas de trabalho, para que essa rede possa produzir serviços com precisão e responsabilidade para cada organização que os utiliza.

Indivíduos necessitam ter uma base de conhecimento técnico e credibilidade em seu campo de atuação. Além disso, para atuar em serviços compartilhados, eles necessitam de conhecimento sobre o comportamento e desenvolvimento organizacional.

Habilidade

Organizações precisam encorajar e adotar habilidades reais como parceiro de negócios, para que seu compartilhamento de serviços tenha sucesso. Este desenvolvimento pode gerar recursos adicionais para o relacionamento em geral entre os parceiros, e representam uma oportunidade ideal para que eles atuem juntos e pratiquem estas habilidades com um risco ambiental baixo. Os parceiros podem aprender juntos aspectos acerca do outro por compartilhar serviços que possam beneficiar amplamente projetos estrategicamente significativos.

A rede em torno dos serviços compartilhados necessita desenvolver o mesmo tipo de comportamento com responsabilidade com o cliente, como em organizações de consultoria organizacional.

Tanto quanto habilidades técnicas em seu campo, indivíduos necessitam de habilidades menos tangíveis associadas com a atuação em serviços compartilhados – tais como tato, diplomacia, sensibilidade cultural, adaptação, flexibilidade e foco no usuário.

Comportamento

As organizações precisam definir padrões de comportamento entre si quando estiverem envolvidas com serviços compartilhados. Fundamentalmente, a maneira como os parceiros se comportam entre si e em relação ao serviço, determinará se a estrutura de serviços compartilhados teve sucesso ou fracasso

A rede necessita considerar e discutir em conjunto o seu comportamento em relação aos seus clientes. Para o serviço ter sucesso, usuários necessitam perceber transparência e segurança dos serviços compartilhados. Limites e segredos organizacionais devem ser respeitados

O comportamento individual necessita demonstrar transparência, credibilidade e confiança. Serviços compartilhados não terão sucesso se os usuários perceberem que há favorecimento de um em detrimento do outro, ou mesmo se as informações confidenciais entre organizações não forem respeitadas.

Fonte: Adaptado de NHS (2005)

Por fim, é relevante dizer que existe resistência por parte das diversas companhias que

adotam o modelo de serviços compartilhados. Esta oposição a este modelo de gestão ocorre

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porque, para muitos, especialmente para a direção de unidades de negócio, os serviços

compartilhados pressupõem centralização e controle corporativo.

Entretanto, quando criados por motivos adequados, implementados apropriadamente,

dirigidos como uma unidade de negócio, para benefício das unidades de negócio parceiras, os

serviços compartilhados são, na atualidade, a chave mestra para uma descentralização de

sucesso (SCHULMAN et al, 2001).

2.4 A PROPOSTA DE GESTÃO PARA MODERNIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE

REGISTRO PÚBLICO

Considerando o quadro teórico proveniente dos conceitos de organizações virtuais e

serviços compartilhados, De Rolt; Dias; Custódio (2007) elaboraram o modelo de gestão que

orienta o desenvolvimento da CRSEC, cuja representação gráfica pode ser visualizada na

Figura 4.

Figura 4 - Modelo de Gestão da Modernização dos Serviços de Registro Público do Brasil Fonte: De Rolt; Dias; Costa (2008)

A sistemática está baseada em um sistema de gestão em rede, na qual, por meio da

complementaridade de competências entre diversas organizações e atores, sejam

desenvolvidas ações integradas para a modernização dos serviços de Registro Público com

uso intenso de tecnologias de informação e comunicação. Este modelo cooperativo visa,

portanto, a criação de novas aplicações tecnológicas e técnicas de gestão alinhadas às

demandas da sociedade brasileira para a área de registros públicos (DE ROLT; DIAS;

CUSTÓDIO, 2007).

Estado

CRSEC

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A Plataforma Virtual é uma cooperação temporária em forma de rede de empresas que

atuam individualmente e que, através de pré-acordos, estão conectadas por meio da tecnologia

da informação, preparadas para reunir as suas competências com outras organizações em

empresas virtuais, caso surjam oportunidades de negócio no ambiente. Nesse sentido, quando

estas oportunidades surgem, os atores atuam de maneira independente, mas continuam

reunidos em uma plataforma representada pelos mecanismos de integração, identidade

comum e objetivos de modernização.

O Gestor Virtual é o representante legítimo dos participantes da Plataforma Virtual

que possui a responsabilidade de gerenciar o esforço de modernização e a manutenção dos

serviços compartilhados. Ele também responde pela promoção de novas oportunidades que

utilizem as competências complementares contidas na Plataforma Virtual e pelas tecnologias

de gestão utilizadas no ciclo de vida das Empresas Virtuais.

As cooperações são a essência do modelo. Por isso, os desafios da modernização

contrastados com a velocidade em que são necessárias obrigam o Gestor Virtual a buscar

competências externas, principalmente no que se refere à infra-estrutura e tecnologias (DE

ROLT; DIAS; CUSTÓDIO, 2007).

As Empresas Virtuais são organizações formadas a partir de uma Plataforma Virtual,

criadas após o surgimento de uma oportunidade de negócios, com o apoio do Gestor Virtual.

O estabelecimento de um grupo de Empresas Virtuais visa o fortalecimento da iniciativa,

sendo que cada uma das organizações apresentaria competências específicas. A

complementaridade destas competências deve ser utilizada para o desenvolvimento de

tecnologias de uso comum.

O Estado, por meio do poder judiciário, desempenha papel fundamental neste esforço

de modernização, pois atua em sintonia com o Gestor Virtual para produzir os parâmetros sob

os quais devem ser desenvolvidas as novas aplicações, bem como, na redução das assimetrias

normativas, possibilitando uma maior padronização dos processos de negócio.

As serventias continuam atuando de forma independente, porém, reunidas pelos

mecanismos de integração, identidade comum e objetivos de modernização. Para participar

desta dinâmica, as serventias precisam desenvolver requisitos de desmaterialização de

processos. Cada serventia pode utilizar as aplicações conforme as suas necessidades e

capacidade de investimento, com base em um plano de integração que levará de uma situação

atual a aquela pretendida que busca a plenitude de modernização vigente.

O aprendizado gerado a partir da dinâmica de desenvolvimento de novas aplicações

proporciona a construção de modelos de referência úteis para o atendimento de novas

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demandas, oportunizando uma preciosa base de conhecimento estratégico e operacional para

os envolvidos nestes futuros projetos.

A CRSEC representa o conjunto de resultados gerados e mantidos pelo processo de

modernização dos SRP. Sua estrutura apresenta dois componentes básicos: Aplicações de

Serviços e Aplicações Estruturais, organizados para fornecer os serviços necessários aos

usuários.

As Aplicações de Serviço destinam-se ao atendimento de requisições realizadas pelos

usuários finais. Estas aplicações implementam processos existentes atualmente nas serventias

extrajudiciais ou novas aplicações demandadas por elas.

As Aplicações Estruturais fornecem insumos básicos necessários para o

funcionamento das aplicações de serviços. São aplicações básicas que requerem infra-

estrutura e investimentos para a sua implantação. Também são pelas aplicações de gestão das

serventias conforme o serviço oferecido e a modalidade de acesso definida pelo canal de

integração utilizado.

A CRSEC viabiliza um novo patamar para a prestação dos serviços para os seus

usuários, e a visibilidade resultante deste esforço tende fortalecer as serventias que poderão se

dedicar à execução de suas atividades principais, atendendo às expectativas de todos os

interessados no aperfeiçoamento da prestação destes serviços (DE ROLT; DIAS;

CUSTÓDIO, 2007).

2.4.1 A Central Registral de Serviços Eletrônicos Compartilhados – CRSEC

2.4.1.1 Princípios da CRSEC

A Central Registral de Serviços Eletrônicos Compartilhados está fundamentada em

princípios básicos conforme pode ser visto no Quadro 2. Os princípios foram determinados

por De Rolt; Dias; Custódio (2007) através do estudo dos requisitos de cada um dos atores

envolvidos, com o objetivo de potencializar a cooperação dos interessados na modernização

dos SRP prestados pelas serventias extrajudiciais.

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Quadro 2 - Princípios da CRSEC

Princípios Descrição Autonomia administrativa São respeitadas as particularidades de cada componente. Cada serventia

extrajudicial deve apresentar autonomia na seleção da forma de utilização do sistema proposto. Os dados gerados pelas serventias extrajudiciais são de propriedade do Estado e ficam sob sua responsabilidade.

Autonomia tecnológica As serventias extrajudiciais têm autonomia na seleção de ferramentas e aplicativos utilizados, respeitando a adoção de padrões e protocolos abertos. A seleção de soluções tecnológicas como forma de armazenamento e utilização dos dados é atribuição das serventias, respeitando a sua autonomia administrativa e os padrões pré-definidos.

Identidade compartilhada Através de uma identificação comum e conjunta, são representados os princípios da cooperação, evitando iniciativas isoladas internas oferecidas pelas serventias e as externas oferecidas por outros prestadores de serviços.

Simetria Normativa Busca da diminuição da assimetria gerada por diferentes interpretações das Corregedorias Estaduais sobre a utilização da Tecnologia da Informação e Comunicação nos SRP.

Gestão cooperada Utilização de mecanismos de gestão que possibilitam a operação em rede de organizações centradas em sua competência central, otimizando a aplicação de recursos através da cooperação, dos consórcios e do compartilhamento de infra-estrutura.

Confiança Constituída entre componentes da rede cooperada com base em pré-acordos e modelo jurídico que viabiliza a ação rápida e cooperada do esforço de modernização.

Integridade a longo prazo Premissa particularmente importante uma vez que as serventias se responsabilizam pela guarda de grande número de documentos que afeta toda a sociedade. As serventias devem se preocupar com a manutenção desta importante propriedade ao longo dos anos.

Gerência de documentos eletrônicos

Permite às serventias a digitalização, armazenamento e indexação dos documentos. Todo o ciclo de vida dos documentos será controlado por sistema específico facilitando o uso por parte das serventias. A falta de um sistema de gerência de documentos eletrônicos dificulta o seu uso.

Interoperabilidade Garantia de comunicação entre as aplicações e serventias de forma transparente utilizando padrões e protocolos abertos. A aderência a arquitetura e-PING e a ICP-Brasil é uma premissa fundamental.

Respeito à especialização As soluções devem respeitar as características próprias de cada especialização. Respeito aos sistemas legados

Os sistemas existentes não serão necessariamente abandonados. Caso seja do interesse da entidade que o utiliza os sistemas em operação serão avaliados pelo Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento, para aderência aos princípios da CRSEC.

Flexibilidade O sistema deve ter a possibilidade de reconfiguração sem maiores problemas devido a mudanças nas regulamentações e a implementação de novos serviços.

Fonte: De Rolt; Dias; Custodio (2007).

2.4.1.2 As aplicações da CRSEC

Uma vez detalhados os princípios sob os quais está sendo desenvolvida a Central

Registral de Serviços Eletrônicos Compartilhados, são apresentados as aplicações que compõe

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sua estrutura. A Figura 5 apresenta as principais aplicações focalizadas pela CRSEC e o seu

estágio de desenvolvimento até a conclusão deste trabalho.

O primeiro tipo de aplicação a ser detalhado é o das aplicações de serviço. Estas

aplicações destinam-se ao atendimento de requisições realizadas pelos usuários finais. Neste

contexto o usuário final pode ser a Justiça, o Poder Público, Instituições Bancárias e

principalmente, o cidadão comum. Esta situação faz com que sejam necessários tipos

diferentes de aplicação, atendendo as especificidades de cada usuário.

Figura 5 - Aplicações da CRSEC Fonte: Adaptado de Costa; De Rolt; Dias (2008)

As aplicações de serviço implementam estruturas aderentes aos processos existentes

atualmente nas serventias extrajudiciais, ou propões novos serviços, a partir das demandas

sociais e de mercado existentes para esta área. Para que estas aplicações possam fornecer aos

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clientes um serviço confiável, são observados dois aspectos: (a) o tecnológico – utilizando

padrões e protocolos abertos e seguros e (b) e o fluxo de dados e atividades entre os atores e

os usuários (processos de negócio) (DE ROLT; DIAS, CUSTÓDIO, 2007).

O desenvolvimento de novas aplicações de serviço na CRSEC, no contexto do

processo de modernização dos serviços de registro público, é orientado por uma série de

etapas que vão desde a identificação do problema até a homologação de novas soluções.

Conforme pode ser visto na Figura 6, estas etapas visam fornecer ao gestor da

cooperação os requisitos e competências necessárias para o desenvolvimento de novos

projetos, além de fornecer um referencial para a rede envolvida acerca da evolução das ações

de modernização.

Figura 6 - Etapas do desenvolvimento de aplicações de serviço na CRSEC Fonte: LABGES, 2008

Na etapa de identificação do problema, após a identificação de uma demanda, deve ser

feito o levantamento os atores envolvidos no processo. Esta demanda pode representar tanto

um problema a ser resolvido, quanto uma oportunidade a ser aproveitada.

Na etapa de pesquisa e estudo da solução deve ser formalizada a proposta de trabalho

para o desenvolvimento do projeto que norteará o processo de desenvolvimento das

aplicações de serviço, criado a partir do estudo de conceitos relacionados à temática e do

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levantamento das possíveis soluções disponíveis no mercado. Com posse dessas informações

será gerada uma proposta inicial contendo a identificação do problema, o embasamento da

proposta, e seus objetivos.

Na etapa de planejamento do projeto, deve ser feito o detalhamento da proposta,

incluindo as ações de mobilização de equipe, planejamento de fases, previsão de recursos

necessários, e elaboração de cronograma com as etapas do projeto atreladas a sistemas de

gerenciamento de projetos.

Na etapa de gerenciamento de processos de negócio devem ser ouvidos os

participantes e interessados na aplicação de serviço para a definição da sistemática existente

(As-Is) e a proposição da sistemática pretendida (To-Be). Para tanto são utilizadas técnicas de

análise de processos, atendendo as etapas de modelagem, análise, desenho, gerenciamento de

desempenho e transformação de processos (ABPMP, 2008).

Na etapa de especificação de requisitos e padrões, com base em um processo

otimizado, deve ser feita a especificação dos aspectos técnicos necessários para

desenvolvimento, monitoramento e controle da aplicação.

Na etapa de prototipação da aplicação, com base na documentação gerada, deve ser

produzido um protótipo da aplicação, que será utilizado para testar e validar o conceito

proposto.

Na etapa de produtação da aplicação, a partir dos resultados obtidos na avaliação do

desempenho do protótipo, procede-se à alteração ou confirmação do projeto formal da

aplicação, e o desenvolvimento do produto da aplicação, que deve estar em condições

suficientes para prestar o serviço demandado adequadamente, com possibilidade de

aprimoramento contínuo a partir do seu uso.

Finalmente, na etapa de homologação do produto é verificado o grau de atendimento

da especificação e padrões definidos para a aplicação.

As aplicações estruturais fornecem insumos básicos necessários às aplicações de

serviços. Como o próprio nome sugere, são aplicações básicas que requerem infra-estrutura e

investimentos para a sua implantação. Tal característica impulsiona a racionalização que

apóia o uso de modelos cooperados para seu o seu desenvolvimento.

Além de servir de estrutura básica para as aplicações de serviço, as aplicações

estruturais podem ser fontes de novos serviços externos e principalmente, elementos de

fortalecimento de uma identidade conjunta da comunidade de registros públicos, razão pela

qual, algumas das aplicações aparecem nas duas classificações.

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2.4.1.3 Os componentes da CRSEC

A CRSEC apresenta na sua estrutura primária quatro componentes básicos: Canal e

Portas de Serviço, Canal e Portas de Integração, Aplicações de Serviços, Aplicações

Estruturais, organizados para fornecer os serviços necessários aos usuários conforme

apresentado na Figura 7.

Figura 7 – Componentes Básicos da CRSEC Fonte: Adaptado de Custódio et al (2007)

Os canais são meios de comunicação disponíveis para acessar portas de serviço, que

podem atender as requisições dos usuários de vários tipos. O Canal de Serviços é o

responsável pelo meio de acesso dos usuários à CRSEC. O uso de um canal de serviço é

controlado, sendo permitido o acesso somente aos usuários autenticados por meio do uso de

Canal de Integração Portas de Integração

Canal de Serviços Portas de Serviço

CRSEC

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certificados digitais ICP-Brasil. Toda a informação que trafegar pelo canal de serviço,

incluindo-se a autenticação dos usuários, o fazem através de um canal seguro SSL/TLS. Desta

forma é garantida a segurança das partes envolvidas, bem como a integridade e validade

jurídica das mensagens (CUSTÓDIO et al, 2007).

O Canal de Serviços apresenta Portas de Serviço, através das quais os serviços são

disponibilizados aos usuários. O uso de uma porta de serviço é possível/permitido a

aplicações que implementem mecanismos padronizados, somente após a autenticação dos

usuários. A autenticação é efetuada utilizando-se serviço implementado por um módulo

administrativo. Estes mecanismos padronizados formam o Canal de Serviços, e foram

projetados sobre padrões abertos, aderentes à arquitetura e-PING.

As aplicações de serviço estão acessíveis através do Canal de Serviços, podendo ser

fornecidas por meio de portas específicas. Estas foram projetadas para atender às premissas de

interoperabilidade, flexibilidade, respeito aos sistemas legados, domínio tecnológico,

autonomia administrativa e tecnológica. Com relação à interoperabilidade, flexibilidade e

respeito aos sistemas legados os serviços são construídos como web services, disponibilizados

de forma modular, permitindo a implementação de acordo com o interesse e grau de

maturidade tecnológica das partes envolvidas. A utilização de padrões e protocolos abertos

garante a autonomia tecnológica e administrativa com as serventias se organizando para

buscar no mercado as melhores soluções para o provimento de serviço aos seus clientes.

As aplicações de instituições financeiras, do Poder Público em geral e da Justiça, em

especial, podem acessar automaticamente os serviços disponibilizados de acordo com a sua

necessidade e o respeito às políticas estabelecidas pelo Módulo Administrativo da CRSEC.

Este acesso automático ocorre através da configuração de uma porta especifica no canal de

serviços, que seria utilizada por aplicações que implementam o conjunto de protocolos

específicos para aquele fim.

O Canal de Integração conecta exclusivamente as serventias e a corregedoria à infra-

estrutura utilizada de forma compartilhada. Através desta conexão as serventias têm acesso às

aplicações estruturais, que permitem a prestação dos serviços aos usuários finais. Esta

organização é configurável, na qual cada entidade seleciona a forma de acesso e quais os

serviços estruturais necessita conforme seus requisitos, características próprias e forma de

operação. Esta flexibilidade assegura a autonomia e independência das serventias.

Este canal permite ao sistema de uma serventia, por exemplo, com base em padrões de

protocolos pré-definidos, receber as demandas por serviços de outras serventias e de usuários

finais, e também acessar as aplicações estruturais necessárias a execução das requisições.

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As aplicações estruturais disponibilizadas através do Canal de Integração, conforme

pode ser visto na Figura 8, são utilizadas de acordo com o especificado pela regulamentação

vigente para fornecer os serviços oferecidos pelo sistema. O uso destas aplicações esta sujeito

também as políticas de uso estabelecidas pela entidade administradora do serviço.

Figura 8 - Integração de Usuários e Serventias às Aplicações da CRSEC Fonte: Adaptado de De Rolt; Dias; Custódio (2008)

Esta estrutura garante grande flexibilidade, permitindo rápida adaptação a mudanças

na regulamentação. Há uma série de serviços estruturais a disposição das serventias, que

podem ser mantidos de forma cooperada reduzindo custos. Nesta classe de serviços estruturais

encontramos a Autoridade Certificadora Brasileira de Registros, as Autoridades de Registro, a

Autoridade de Tempo Registral, o Framework Registral de Documento Eletrônico

Qualificado, a Gerência de Documentos Eletrônicos e o Depósito Legal de Documentos

Eletrônicos (CUSTÓDIO et al, 2007).

Estes serviços estruturais formam blocos básicos utilizados por todas as serventias

para a ampla utilização de documentos eletrônicos que permitirão a disponibilidade das

aplicações de serviços conforme apresentado.

2.4.1.4 Canais de acesso à CRSEC

A CRSEC exige infra-estrutura adequada para fornecer serviços aos usuários bem

como permitir a integração das serventias extrajudiciais e o uso racional de seus recursos. Os

serviços e a infra-estrutura utilizados neste modelo são compartilhados, sendo que sua gestão

CRSEC

CAN

AL D

E IN

TEGRAÇÃO

CAN

AL D

E S

ERVIÇ

O

PORTA 1

PORTA 2

PORTA n

PORTA 1

PORTA 2

PORTA n

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fica a cargo de um gestor da rede definido pelos institutos representativos das serventias,

conforme limitações legais (CUSTÓDIO et al, 2007).

O conjunto de serviços disponibilizados pela CRSEC envolve infra-estrutura, pessoas,

sistemas, conhecimento e outros insumos não encontrados em sua totalidade no ambiente

interno da cooperação. Assim sendo, o desenvolvimento de alianças com redes de

especialistas externos, que dominam elementos e competências essenciais a serem agregadas

aos serviços de registro publico, tem sido fator estratégico para que estes serviços se

modernizem e ampliem o seu atual portifólio, agregando novas aplicações e aproximando a

oferta das necessidades demandas pelos seus usuários.

A arquitetura das aplicações desenvolvidas pela CRSEC também leva em

consideração a existência de diferentes tipos de possibilidades de utilização dos usuários de

suas aplicações e que estes apresentam diferentes contextos sociais e econômicos. Estas

diferenças fazem com que seja necessário o desenvolvimento de uma central de serviços

compartilhados flexível a fim de permitir que as estruturas operacionais dos processos

continuem em funcionamento, mesmo durante o processo de transição para uma situação em

que os documentos eletrônicos sejam utilizados em larga escala.

Como forma de facilitar o acesso dos usuários e serventias da CRSEC às suas

aplicações estruturais ou de serviços, existem canais de acesso que são oferecidas por meio de

portas de serviço ou de integração, sendo que a autenticação dos usuários também ocorre por

meio de certificados digitais ICP-Brasil. Nesse sentido, há duas alternativas: acesso por meio

de aplicativos web disponibilizados na internet pela CRSEC, no qual não há necessidade de

criação ou interligação de aplicativos dedicados por parte do usuário ou da serventia para

utilização das aplicações; ou acesso automatizado por meio de portas de serviço e integração

desenvolvidas especificamente para interligação entre aplicativos dos usuários ou serventias.

Na primeira situação, existem dois canais de acesso: Portal de Serviços e Informações,

específica para os usuários e o Cartório Digital, disponibilizado às serventias.

O Portal de Serviços e Informações oferece a possibilidade da utilização dos serviços

por parte dos usuários que possuem basicamente navegadores para acesso às aplicações.

Nessa situação o usuário acessa um sistema hospedado em um endereço na internet, se

autentica por meio de certificado digital, e interage com as interfaces do sistema, requisitando

o serviço disponibilizado de acordo com o seu perfil.

O Cartório Digital, por sua vez é uma das opções de adesão aos serviços da CRSEC

para as serventias que optam por investimentos menores em infra-estrutura ou que desejem

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iniciar o uso da infra-estrutura imediatamente e adotar outra solução própria ao longo do

tempo.

O sistema de gestão do Cartório Digital é mantido junto à CRSEC, que se

responsabiliza pela sua manutenção, respeitando os princípios de independência preconizados

anteriormente. Para acessá-lo, a serventia necessita apenas de um computador com um

navegador web, mantendo os gastos com recursos de Tecnologia da Informação (TI) num

patamar mínimo (CUSTÓDIO et al, 2007).

Entre as tecnologias e metodologias utilizadas na implementação da CRSEC estão as

de Software as a Service (SaaS) e Web Services6. O primeiro modelo (SAS) é mais adequado

para aquelas serventias que não possuem sistemas de gestão informatizados, ou que

pretendem desenvolvê-los no futuro, mas desejam integração imediata à CRSEC.

Na segunda situação há a possibilidade de desenvolvimento de aplicativos por parte

dos usuários ou serventias que se interligam à CRSEC através de portas de serviço e

integração já existentes na CRSEC, ou a alternativa de integração entre sistemas legados dos

usuários ou serventias com as aplicações da CRSEC, possibilitada partir de uma adaptação do

sistema em questão de modo a utilizar as implementações fornecidas pela porta de integração

ou serviço existente.

Para os usuários que desejam desenvolver aplicativos para acesso automatizado aos

serviços disponibilizados na CRSEC, é disponibilizado um conjunto de padrões e requisitos

de integração para criação de aplicativos aderentes à respectiva sistemática. Para adequação

dos serviços extrajudiciais à esta nova realidade, cada serventia seleciona a solução que

melhor atende às suas necessidades e responsabilidades, sempre respeitando aos padrões e

protocolos definidos pelo conjunto de serventias extrajudiciais unidos nos seus Institutos

Representativos, emanados da CRSEC.

Para as organizações que já possuem sistemas informatizados, a tecnologia de “Web

Services” pode ser usada como estratégia para proporcionar um modo padronizado de integrar

aplicativos baseados na Internet como um meio de as organizações se comunicarem sem ter

um conhecimento extensivo dos sistemas de Tecnologia da Informação entre elas. O que pode

6 Software as a Service (SaaS) – Termo traduzido como ''Software como Serviço'' pode ser definido como um software implementado como um serviço hospedado, que pode ser acessado e utilizado via internet (TORRES, 2007). Web service é uma solução utilizada na integração de sistemas e na comunicação entre aplicações diferentes. Com esta tecnologia é possível que novas aplicações possam interagir com aquelas que já existem e que sistemas desenvolvidos em plataformas diferentes sejam compatíveis. Os Web services são componentes que permitem às aplicações enviar e receber dados em formato XML. Cada aplicação pode ter a sua própria "linguagem", que é traduzida para uma linguagem universal, o formato XML. (WIKIPÉDIA – Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Web_service>. Acesso em 11 mar. 2008)

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ser desenvolvido nesta situação é um conjunto de mensagens padronizadas a serem utilizadas

pelo provedor de serviço, o que é denominado como “portas de serviço”.

Um dos motivos que impulsiona o uso de Web Services é o fato deste modelo ser

baseado em tecnologias abertas e padronizadas, em particular a linguagem XML, em

consonância com os princípios da CRSEC apresentados anteriormente.

As mensagens trocadas através das partes são definidas utilizando XML7 e seus

padrões no que diz respeito à validação de mensagem e a segurança dos dados (XML Schema

e XML Digital Signature, entre outros). A adoção destes padrões permite o intercâmbio

coerente de informações e serviços entre sistemas, possibilitando a substituição de qualquer

componente ou produto usado nos pontos de interligação por outro de especificação similar,

sem comprometimento das funcionalidades do sistema (CUSTÓDIO et al, 2007).

O XML Schema é uma linguagem baseada no formato XML para definição de regras

de validação ("esquemas") de documentos no formato XML. O XML Schema é recomendado

pela instituição internacional W3C. Todas as mensagens utilizadas nas portas e canais de

comunicação deverão ser descritas em XML Schema, desta forma quando um aplicativo

requisitar um serviço, suas mensagens podem ser validadas com base em regras claras e bem

definidas.

A atividade de desenvolvimento e aprimoramento de padrões e protocolos é contínua,

sendo que no momento novos protocolos criptográficos seguros continuam sendo

desenvolvidos para permitir uma comunicação sigilosa e de alta confiabilidade entre os

usuários e as serventias.

Todas as tecnologias utilizadas devem respeitar a arquitetura e-PING e os conceitos da

ICP-Brasil, do governo federal, de forma a garantir os padrões de interoperabilidade definidos

e aceitos no serviço público.

7 O Extended Markup Language (XML) é uma linguagem idealizada por Jon Bozak em 1996, que possibilita ao autor especificar a forma dos dados no documento, além de permitir definições semânticas. Entre os objetivos estabelecidos na especificação da linguagem XML estão as seguintes características: ser diretamente utilizável na Internet; ser legível por humanos; possibilitar um meio independente para publicação eletrônica; permitir a definição de protocolos para troca de dados pelas empresas (independentemente da plataforma de hardware e software); facilitar às pessoas o processamento de dados; pelo uso de softwares de baixo custo; facilitar a utilização de metadados que auxiliam na busca de informações; e aproximar produtores e consumidores de informação (ALMEIDA, 2002, p. 6-8)

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2.4.1.5 O funcionamento de uma aplicação de serviço – o caso prático do Ofício Eletrônico

As aplicações já em funcionamento na CRSEC podem ser acessadas via

http://www.crsec.com.br (ver figura 9). Estas estão sendo desenvolvidas de forma alinhada as

demandas da sociedade brasileira para a área de registros públicos.

Os módulos já implementados, seguindo as premissas e o modelo de desenvolvimento

apresentado, são utilizados em larga escala com avaliação positiva por parte das entidades

envolvidas. Somente o módulo ofício eletrônico, administrado pela ARISP, já realizou cerca

de 1,9 milhão de pesquisas, desde que o sistema foi colocado em operação em 10 de maio de

2005.

Figura 9 - Homepage da CRSEC na Internet Fonte: Extraído de http://www.crsec.com.br em novembro de 2008.

A redução de custos operacionais e a velocidade com que os serviços podem ser

prestados oferecem uma pequena amostra das vantagens e possibilidades de uma Central

Registral de Serviços Eletrônicos Compartilhados. Um exemplo esquemático desse processo

pode ser visualizado na Figura 10, que ilustra de maneira simplificada o funcionamento do

sistema de ofício eletrônico.

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Figura 10 - Exemplo do Esquema de Funcionamento do Ofício Eletrônico Fonte: ARISP, 2008

No exemplo visualizado na Figura 10 o ofício eletrônico é utilizado para a pesquisa de

existência de imóveis em nome de determinada pessoa física ou jurídica. O órgão requerente

envia o ofício eletrônico – cuja procedência é identificada através de certificados digitais

X.509V3 emitidos na ICP-Brasil, o que permite identificar e responsabilizar civil, criminal e

administrativamente a pessoa que dispõe da informação, visando à segurança no tráfego

dessas informações pela Internet.

Por meio desse sistema a autoridade pública ou servidor designado, desde que

devidamente autorizado pela ARISP e mediante autenticação com o uso de Certificado Digital

ICP-Brasil, acessa o banco de dados light que é composto por uma base de dados contendo os

nomes, CPF (Cadastro de Pessoa Física) e CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) dos

proprietários, ex-proprietários e de outros titulares de direitos sobre imóveis registrados a

partir de 1º de janeiro de 1976 e/ou 1º de janeiro de 1991.

O gerenciamento e a atualização diária do banco de dados é de responsabilidade

individual de cada serventia. Por meio de seus profissionais, a ARISP se encarrega do

monitoramento e da segurança dos dados comunicados, auditoria de mecanismos e de práticas

que preservem a confidencialidade, a integridade e a disponibilidade da informação dentro da

infra-estrutura de hardware, software, pessoas e processos devidamente agrupados e

BBAANNCCOO DDEE DDAADDOOSS

AARRIISSPP

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qualificados.

No sistema de ofício eletrônico, o demandante fornece o CPF ou CNPJ da pessoa e

recebe uma resposta padrão, indicando as serventias onde a busca retorna como positiva ou

negativa. As ocorrências positivas prosseguem com a geração automática do ofício de

requisição ou solicitação que é transmitido em tempo real pela Internet para as serventias

demandadas. Nesta situação, a busca prossegue somente para as serventias em que foi

identificado algum registro do CPF/CNPJ indicado, sendo solicitada uma descrição detalhada

da busca. Nas serventias em que não houver ocorrência não há qualquer peticionamento,

eliminando a necessidade de busca detalhada nessas serventias.

A serventia que recebeu a solicitação faz a busca em seu banco de dados próprio, ou

localiza a matrícula no respectivo Livro, e a digitaliza. O arquivo gerado é assinado

digitalmente pelo oficial de registro, anexado, e enviado ao servidor do sistema de ofício

eletrônico. O sistema de ofício eletrônico armazena a certidão da matrícula e a disponibiliza

para o requerente que pode acessar o arquivo pelo próprio sistema ou fazer o download do

mesmo.

Nessa sistemática, portanto, o interessado obtém o resultado da pesquisa em tempo

real e quando couber, peticiona o detalhamento desta através de respectiva certidão eletrônica,

com validade jurídica garantida pela assinatura digital do oficial de registro de imóveis ou de

seu preposto, com certificados digitais ICP-Brasil.

O sistema de ofício eletrônico já é largamente utilizado pelas dezoito serventias de

registro de imóveis do município de São Paulo, em ofícios imobiliários do interior do Estado,

nas cidades de Araçatuba, Ribeirão Preto e Diadema e em serventias do Estado do Pará, nas

cidades de Belém e Ananindeua em respostas às solicitações de órgãos públicos.

Esta aplicação também já é parte do cotidiano de diversos atores do Poder Judiciário,

como Tribunais de Justiça, Procuradorias, Controladorias, além de outros órgãos públicos

como o Ministério Público, Receita Federal e o Instituto Nacional de Seguridade Social

(INSS).

Os ganhos advindos da modernização deste processo são significativos, considerando

a grande demanda por serviços públicos eficientes na atual conjuntura. Além de simplificar e

tornar ágil o trabalho de requisição ou solicitação e de expedição das informações registrais, o

sistema tem um forte conteúdo econômico ao eliminar o consumo de papel, tinta de impressão

e os gastos com envelopes e remessas respectivas.

Além da redução de custos e das facilidades para pesquisa on-line, solicitação real-

time e recebimento on-line das informações registrais, o sistema ainda resguarda a

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privacidade das pessoas envolvidas no processo e/ou o segredo de justiça; garante a

autenticidade e a validade jurídica dos documentos e transações realizadas; impede a

modificação desautorizada e o repúdio dos documentos eletrônicos enviados e recebidos.

O ofício eletrônico simplificou e tornou ágil o processo de solicitação de informações

e certidões às serventias de registro de imóveis. A prestação desses serviços, que está

respaldada legalmente, possibilita a transferência de comunicação oficial dos atos processuais

por meios eletrônicos, atendidos os requisitos de autenticidade, integridade, validade jurídica,

e interoperabilidade da Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira, ICP-Brasil. A aplicação

de serviço ofício eletrônico, cujo acesso é permitido somente ao poder público, tem sido

utilizada em larga escala com avaliação positiva por parte das entidades envolvidas.

Os ganhos advindos do funcionamento de aplicações como o ofício eletrônico indicam

a existência de uma demanda potencial para a adoção de novos projetos que utilizem

tecnologias digitais nos processos de negócio adotados nos serviços de registro público

prestados pelas serventias extrajudiciais.

Neste sentido, a ARISP tem atuado no desenvolvimento outros projetos que utilizem

as tecnologias digitais como forma de aperfeiçoamento e modernização dos serviços prestados

pelas serventias de registro de imóveis aos seus usuários. Este é o caso do projeto do sistema

de Penhora Eletrônica, que se encontra em fase de implantação, cuja sistemática foi utilizada

com um dos principais parâmetros para a especificação da proposta deste trabalho.

2.5 FERRAMENTA PARA ANÁLISE DE PROCESSOS

A transformação de um processo deve ser precedida de um estudo detalhado da

dinâmica procedimental adotada, o que pode evidenciar oportunidades de melhoria e

aprimoramento, bem como apontar a adoção e desenvolvimento de novas tecnologias

adequadas a uma situação pretendida.

Em conformidade com os objetivos desta pesquisa no sentido da estruturação do

processo de averbação de penhora de imóveis para sua integração com as aplicações da

CRSEC, esta pesquisa buscou a utilização de aplicativo com o conjunto de elementos criados

pela Business Process Modeling Initiative (BPMI), amplamente utilizada por gestores de

processo e analistas de negócios, denominada Business Process Modeling Notation (BPMN),

que possibilita a modelagem de processos de negócio por meio de diagramas.

Por conta desta metodologia, este estudo apresenta alguns conceitos ligados à área de

processos e gerenciamento de processos, como fundamento teórico orientador do

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levantamento realizado, e realiza uma breve explanação da ferramenta BPMN, que mais

adiante será utilizada na apresentação e discussão dos dados desta pesquisa.

Em relação aos conceitos que são relevantes para o entendimento da pesquisa, julgou-

se necessário a caracterização de conceitos e subconceitos oriundos de estudos acerca de

processos de negócio em organizações. Os processos utilizam os recursos da organização para

oferecer resultado e objetivo aos seus clientes (HARRINGTON, 1993).

Na definição de Hammer e Champy (1994), processo é um conjunto de atividades

realizadas numa seqüência ordenada com o objetivo de produzir um bem ou um serviço de

valor para um grupo específico de clientes.

Isso significa que os numa tentativa de junção dos conceitos acima mencionados, o

processo pode ser considerado um conjunto de atividades e tarefas necessárias para o bom

funcionamento da organização, que toma um recurso (input), adiciona valor a ele e fornece

um resultado (output) a um cliente específico.

Nas empresas de serviço, o conceito de processo é de fundamental importância, uma

vez que a seqüência de atividades nem sempre é visível, nem pelo cliente, nem pelas pessoas

que realizam essas atividades (GONÇALVES, 2000a). Sendo assim a complexidade de um

processo deve ser compreendida em todas as suas etapas.

Gonçalves (2000b) apresenta o conceito de processos organizacionais (ou de

integração organizacional), que são processos centralizados na organização e viabilizam o

funcionamento coordenado dos vários subsistemas da organização em busca de seu

desempenho geral, garantindo o suporte adequado aos processos de negócio.

Cerqueira Neto (1994) apud Villela (2000) apresenta a classificação de três tipos

distintos de processo: primários, de apoio e gerenciais. Os processos primários são aqueles

que chegam ao cliente, ou seja, a qualquer falha, o cliente logo a identifica; os processos de

apoio são os que colaboram com os processos primários na obtenção do sucesso junto aos

clientes; e os processos gerenciais são aqueles que existem para coordenar as atividades de

apoio e dos processos primários.

Os processos compõem a estrutura organizacional através de uma hierarquia em que é

possível representar níveis mais específicos de detalhamento. Esta hierarquia é proposta por

Harrington (1993) pela seguinte classificação: macroprocesso; processo; subprocesso,

atividades e tarefa.

O macroprocesso é um processo que geralmente envolve mais que uma função na

estrutura organizacional, e a sua operação tem um impacto significativo no modo como a

organização funciona.

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O processo é um conjunto de atividades seqüenciais (conectadas), relacionadas e

lógicas que tomam um input com um fornecedor, acrescentam valor a este e produzem um

output para um consumidor.

O Subprocesso é a parte que, inter-relacionada de forma lógica com outro

subprocesso, realiza um objetivo específico em apoio ao macroprocesso e contribui para a

missão deste.

As atividades ocorrem dentro do processo ou subprocesso. São geralmente

desempenhadas por uma unidade (pessoa ou departamento) para produzir um resultado

particular. Elas constituem a maior parte dos fluxos de processos.

A tarefa é uma parte específica do trabalho, ou seja, o menor enfoque do processo,

podendo ser um único elemento e/ou um subconjunto de uma atividade. Geralmente, está

relacionada à como um item desempenha uma incumbência específica.

O conceito adotado nessa pesquisa é o adotado por Gonçalves (2000b), que considera

os processos de negócio (ou de cliente) como aqueles que caracterizam a atuação da empresa

e que são suportados por outros processos internos, resultando no produto ou serviço que é

recebido por um cliente externo.

O gerenciamento de organizações por processos auxilia as organizações a otimizar

suas operações de serviços, por identificar os problemas nas entradas, nos procedimentos e

saídas, e por propiciar-lhes a solução (OLIVEIRA, 2005a).

Conforme afirma Hamer e Champy (1994), nas organizações de serviços os processos

são invisíveis e sem nome, porque as pessoas pensam em departamentos ou em unidades de

trabalho, e não em processos em que estejam envolvidos. Os autores ainda destacam que as

divisões, unidades e departamentos são conhecidos pelo pessoal da organização, porém não os

processos.

Na visão conceitual de Harrington (1993), o objetivo deste direcionamento gerencial

por processos é o de aperfeiçoamento da gestão no sentido de obter processos: eficazes - ao

produzirem os resultados de acordo com as metas estabelecidas; eficientes - ao otimizarem o

uso de recursos para a produção ou geração de bens e serviços; e adaptáveis - ao

acompanharem as expectativas e as necessidades do cliente.

Como observa Harrington (1993), o gerenciamento por processos foi integralmente

estruturado para resolver problemas, priorizando os que forem mais críticos, melhorando a

habilidade e a eficiência de cada indivíduo, dentro e fora da organização, e ressaltando que

cada processo de operação da empresa deve ser otimizado, sendo necessário entender cada um

dos processos na forma como venha sendo realizado.

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Sendo assim, a estrutura de processos organizacionais permite a realização dos fluxos

de trabalho por meio de processos até que o produto, ou serviço, esteja disponível ao

consumidor. Dessa forma, para modificar o modo como o consumidor percebe o produto ou

serviço em seu resultado final, deve-se entender o fluxo do processo e o modo como este flui

através da organização. Este entendimento dos processos constitui-se em uma parte vital da

mudança planejada, pois nenhuma equipe de projeto pode mudar aquilo que não entende e

nenhuma mudança será colocada em prática se não houver uma justificativa para tal

(VILLELA, 2000).

Uma grande quantidade de aprendizado e melhoria nos processos pode resultar da

documentação e exame dos relacionamentos input-output representados em um mapa de

processos. Afinal, a realização deste mapa possibilita a identificação das interfaces críticas, a

definição de oportunidades para simulações de processos, a implantação de métodos de

contabilidade baseados em atividades e a identificação de pontos desconexos ou ilógicos nos

processos (VILLELA, 2000).

O mapeamento e modelagem de processos desempenha papel essencial de desvendar e

questionar os processos existentes, ajudando a formular uma variedade de perguntas críticas,

como por exemplo: Esta complexidade é necessária? São possíveis simplificações? Existe

excesso de transferências interdepartamentais? As pessoas estão preparadas para as suas

funções? O processo é eficaz? O trabalho é eficiente? Os custos são adequados? (HUNT,

1996; JOHANSSON et al, 1995).

Para Pidd (1998), a modelagem de processos é útil para descobrir os componentes

essenciais e sensíveis em que as melhorias farão diferença, já que as mudanças tecnológicas

permitem que o processo seja alterado no espaço ou no tempo, capacitando a organização a

operar mudanças rapidamente auxiliadas por modelos simulados em computador e pela

engenharia dos processos de negócio.

Segundo Scheer (1998) apud Santos (2002), a modelagem é regida basicamente por

seis princípios que se relacionam. O primeiro princípio, a aderência, norteia o entendimento

do quão perto o modelo está da estrutura e funcionamento da realidade modelada. De acordo

com o segundo, a relevância ou suficiência, cada objeto representado em um dado modelo

deve ter um propósito e, neste sentido, um dado modelo não deve conter mais informações do

que o necessário. Para a aplicação do terceiro, custo/ benefício, deve ser analisada a

quantidade de trabalho necessária para criar o modelo versus utilidade do modelo versus

quanto tempo o modelo será usado. O quarto, a clareza, está relacionado à capacidade do

modelo de ser entendido e usado pelos usuários. A comparabilidade, o quinto princípio, deve

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nortear comparação de diferentes processos. O sexto, a estruturação sistemática, está ligado

capacidade de integrar modelos representando diversos aspectos da realidade e, neste sentido,

a capacidade destes modelos de se estruturarem metodologicamente.

O campo de estudo da representação de processos o engloba padrões de representação

da realidade, ou seja, métodos de modelagem. Os métodos contêm objetos e modelos, com

significados determinados. Dentre todos os métodos disponíveis, optou-se nesta pesquisa pela

utilização do método BPMN (Business Process Modeling Notation), já que este é uma das

notações mais adotadas pelas principais ferramentas de modelagem de processos de negócio

do mercado, segundo as pesquisas de Gartner Group8.

A BPMN é uma proposta da BPMI (Business Process Management Initiative) e está

na versão 1.1. A BPMN representa um conjunto de convenções gráficas para descrever

processos de negócio. A notação da BPMN foi especificamente projetada para coordenar

seqüências de processos e a troca de mensagens existente entre processos participantes de um

conjunto de atividades relacionadas. A intenção de um modelo de processo em BPMN é

capturar detalhes suficientes para permitir que ele seja utilizado como fonte de uma descrição

executável de um processo (BRAGHETTO, 2006).

O rigor semântico da BPMN é bem definido e representado através de linguagem de

marcação, no padrão XML. Embora não haja uma representação explicita das pessoas, como

na UML através de atores, a BPMN utiliza o conceito de raias de atividade para cada

participante (pessoa) do processo. Porém, o participante é identificado somente por um nome,

sem atributos agregados (REIS, 2008; GONÇALVES et al, 2005).

O objetivo da BPMN é oferecer suporte ao gerenciamento de processos tanto pelos

usuários técnicos quanto pelos usuários de negócios, por meio de uma notação intuitiva,

mesmo representando semânticas complexas de negócio, ou seja, ela provê uma notação

prontamente entendível por todos os usuários de negócios desde o analista de negócios até o

técnico desenvolvedor responsável pela implementação da tecnologia, bem como pelo pessoal

de negócios que monitora e gerencia todo o processo (STORELLI, 2006).

A organização BPMI define a especificação BPMN que disponibiliza uma notação

para expressar processos de negócio na forma de Diagrama de Processo de Negócio (Business

Process Diagram – BPD).

Segundo Reis (2008), os principais objetos do método BPMN podem ser agrupados

em objetos de fluxo (atividades, eventos e decisões), objetos de conexão (setas de ligação) e

8 Ver http://www.gartner.com

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artefatos (documentos e sistemas). Desta forma, para cada um desses grupos há elementos

gráficos que contribuem para a representação da modelagem do processo. Essa notação é

assim representada, conforme definições apresentadas nos itens, a seguir:

• Evento (Event)

A Figura 11 corresponde aos elementos utilizados para diagramar um evento (círculos de

centro aberto, para permitir a inserção de marcas). Um evento representa um acontecimento

durante o curso de um processo de negócio. Estes eventos afetam o fluxo do processo e

freqüentemente tem uma execução ou um resultado, ou seja, eles podem começar, interromper, ou

finalizar um fluxo.

Figura 11 - Tipos de Eventos Fonte: OMG, 2008

O tipo de contorno do círculo determina o tipo de evento. Os Eventos de Início,

indicados na figura pela cor verde indicam quando o processo começará. Existem diferentes

“disparadores” que indicam as circunstâncias específicas que iniciam o Processo. Os Eventos

Intermediários ocorrem depois que um processo já tiver sido iniciado e/ou antes do processo ter

sido finalizado e são classificados em dois tipos: captura - aguarda a recepção de uma mensagem,

CCaappttuurraa AAcciioonnaammeennttoo

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e; acionamento - envia uma mensagem e continua o processo. Eventos de Fim indicam quando um

processo terminará. As os diferentes tipos de eventos fim indicam as circunstâncias específicas

que finalizam o processo.

• Atividade (Activity)

A Figura 12 apresenta a notação utilizada para a diagramação de uma atividade

(retângulos com borda arredondada), que é um termo genérico para algum trabalho realizado.

Uma atividade é o trabalho que é executado dentro de um processo de negócio. As atividades

podem ser atômicas, isto é, não decompostas ou não-atômicas que são decompostas. Os tipos

de atividades que são parte do processo de modelagem são: Sub-processo e Tarefa.

Figura 12 - Tipos de Atividade Fonte: OMG, 2008

Uma tarefa é uma atividade isolada que está incluída em um processo. Uma tarefa é

utilizada quando o trabalho no processo não está dividido em um nível específico de

detalhamento. Existem tipos especializados de tarefas para envio e recebimento, ou tarefas

baseadas no usuário, entre outras. Marcadores ou ícones podem ser adicionados à tarefa para

ajudar a identificar o tipo de tarefa, mas devem mudar o padrão gráfico da tarefa ou conflitar

com qualquer outro elemento padrão do BPMN. As tarefas também ter indicações de retorno

(loops) definidas internamente, quando executadas mais de uma vez.

Os sub-processos permitem o desenvolvimento hierárquico do processo. Um sub-

processo é uma combinação de atividades que estão incluídas dentro de um processo. Ele é

uma combinação porque pode ser dividido em um nível de detalhamento mais refinado a

partir de uma série de sub-atividades. Numa versão estratificada de um sub-processo , os

detalhes do sub-processo não ficam visíveis no diagrama. Um sinal de “mais” na parte

inferior-central da forma, indica que a atividade é um sub-processo e tem um baixo nível de

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detalhamento. Para uma versão mais expandida de um sub-processo, os detalhes (o Processo)

são visíveis dentro de seus limites.

• Desvio de Fluxo (Gateway)

O elemento gateway é utilizado para representar um “entroncamento” convergente ou

divergente na seqüência de um fluxo, conforme pode ser visto na Figura 13. Ele pode

representar um desvio, uma ramificação, uma intercalação ou uma junção de caminhos.

Figura 13 - Tipos de Gateway Fonte: OMG, 2008

Por uma questão de inexistência de um termo exato em português que exprima o

significado deste elemento, ele é costumeiramente tratado pelo termo em inglês. O gateway é

um elemento de modelagem usado para controlar como um fluxo de execução se comporta

quando em algum momento assume comportamento convergente ou divergente dentro de um

processo, representando o controle lógico da interação dos fluxos de execução.

O gateway apresenta a forma externa de um losango, e pode conter diferentes tipos de

símbolos internos que indicam os diferentes tipos de comportamento. Todo tipo de gateway

podem tanto separar quanto fundir um fluxo.

O gateway exclusivo é utilizado para exprimir uma decisão dentro de um processo de

negócio onde o fluxo pode tomar dois ou mais caminhos alternativos, mas somente um desses

caminhos é executado. Este é basicamente a “encruzilhada” para um processo, indicando o

caminho válido no desempenho do processo. Eles são também usados para fundir uma

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seqüência divergente em um fluxo. Existem dois tipos de mecanismos de decisão para este

tipo de desvio de fluxo, a decisão baseada em dados e a decisão baseada em eventos.

O gateway exclusivo baseado em dados mais costumeiramente utilizados. Eles podem

ser visualizados com ou sem um “X” na parte interna da figura, sendo mais comum o uso sem

o X. O Gateway (decisão) cria caminhos alternativos baseadas em condições. Já o gateway

exclusivo baseado em eventos representa um ponto de ramificação no processo onde as

alternativas são decididas pelos eventos que o sucedem a partir de um ponto do Processo, ao

invés de condições. Este elemento é identificado por um Evento Intermediário Múltiplo no

interior da figura. Neste caso o evento que se segue a frente do gateway determina o caminho

escolhido e o primeiro evento ativado prevalece sobre os outros.

O gateway inclusivo representa uma decisão em que há mais do que um resultado

possível, ou seja, um ou mais caminhos são executados. Um círculo interno é usado para

identificar este gateway. Eles são freqüentemente sucedidos por uma fusão de atividades em

um novo gateway inclusivo.

O gateway paralelo é um elemento de decisão que exprime uma situação onde todos os

caminhos são executados. Eles não são utilizados para dividir um fluxo na maioria das

situações, e podem ser usados para propostas metodológicas. Um símbolo de “+” é usado para

identificar este gateway. Este elemento também é utilizado para sincronizar (esperar por)

fluxos executados em caminhos paralelos.

O gateway complexo exprime uma decisão em que definições de comportamento mais

avançadas e específicas podem ser definidas. Um asterisco interno é usado para identificar

este elemento. Os comportamentos complexos podem ser definidos tanto por comportamentos

de fusão como de divisão.

• Conectores

Os conectores são úteis para a indicação de ordem, ligação ou associação entre

elementos do fluxo do processo. Eles são classificados conforme apresentado na Figura 14.

O fluxo de seqüência (sequence flow) é representado por uma seta contínua

direcionada (vetor), e é utilizada para mostrar em que ordem as atividades de um processo são

executadas. A fonte e o destino devem ser um dos seguintes objetos: Eventos, Atividades ou

Gateways. Este conector é usado sempre dentro de uma mesma área de concentração (pool),

também denominada piscina, ou entre raias de um mesmo pool.

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Figura 14 – Conectores Fonte: OMG (2008)

O fluxo de mensagem (message flow) é representado por uma seta tracejada, iniciada

com um pequeno círculo, é usada para mostrar o fluxo de mensagens (comunicação) entre

dois participantes preparados para enviá-las e recebê-las. Na notação BPMN, dois pools

separados no diagrama representam dois participantes (papéis ou entidades de negócio).

A associação (association) é representada por uma linha tracejada, e ajudam a

documentar melhor o processo associando dados, informações e artefatos com fluxo de

objetos. Este conector também é útil para indicar entradas e saídas de dados ligados a

atividade e para fazer anotações de texto que podem ser associadas com objetos.

• Área de Concentração (Pool)

As áreas de concentração (pool) representam os participantes do processo (pessoas,

processos, sistemas), conforme pode ser visto na Figura 15.

Elas são conhecidas também como piscinas (swimlane), e podem ser usadas como uma

área especifica que reúne um conjunto de atividades provenientes de outras áreas de

concentração.

Um pool também pode ser uma “caixa preta”, representando apenas um participante,

ou pode conter um processo descrito. A interação entre duas ou mais áreas de concentração é

feita através de fluxos de mensagem. Um conector de fluxo de seqüência não pode cruzar o

espaço de outro pool.

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Figura 15 - Área de Concentração Fonte: OMG, 2008

• Raia (Lane)

As raias (lanes), remetendo a divisórias de uma piscina, são utilizadas para sub-

particionar uma área de concentração (pool), tomando toda a sua extensão, tanto vertical

quanto horizontal. Essas subdivisões servem para organizar e categorizar atividades, e são

úteis na documentação do processo. Um exemplo desse elemento pode ser visto na Figura 16.

Figura 16 - Raias Fonte: OMG, 2008

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As raias são muito utilizadas por desenhos de workflow onde as interações de pessoa

para pessoa são o foco da modelagem, e freqüentemente representam papéis organizacionais

(ex. administrador, assistente), no entanto podem representar qualquer característica desejada

do processo. Entre as raias são usados fluxos de seqüência para indicação da ordem do

processo.

• Artefatos (artifacts)

Os artefatos fornecem a capacidade de mostrar informação além da estrutura do fluxo

do processo e podem ser usados para representar indicadores e documentação associada a

passos do processo. Conforme pode ser visto na Figura 17, existem três padrões de artefatos

atualmente usados no BPMN: Objetos de Dados, Anotações e Grupos.

Figura 17 – Artefatos Fonte: OMG, 2008

O objeto de dados (data object) é considerado um produto ou artefato, porque não

exerce nenhum efeito direto sobre os fluxos de seqüência ou de mensagem de um processo.

Este elemento pode ser utilizado para definir as entradas (inputs) e saídas (outputs) das

atividades. Os objetos de dados podem ser entendidos como um indicador que mostra como

um documento deve ser alterado ou atualizado dentro de um processo

As anotações de texto (text annotations) são mecanismos usados pelo modelador para

fornecer informações adicionais sobre o Processo. Estas podem ser ligadas (conectadas) a

objetos específicos em um diagrama com o uso de uma associação.

Os grupos são artefatos utilizados para destacar determinadas seções de um diagrama

sem afetar o desempenho do fluxo de processos nem adicionar restrições – como um sub-

processo faria. Os grupos podem ser utilizados para categorizar elementos que indicam

finalidades específicas e não estão restritos aos limites dos pools e lanes.

Finalmente, esta notação serviu como padrão para a modelagem e análise dos

processos de negócio focalizados nesta pesquisa, apoiando a transformação destes processos e

possibilitando a proposição do uso de novas tecnologias digitais para o serviço de averbação

de penhora de imóveis.

Objeto de Dados Anotações de Texto Grupo

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A fundamentação teórica preliminar apresentada nos tópicos anteriores deste estudo

tem a finalidade de embasar esta pesquisa e orientar a metodologia a ser utilizada no estudo, a

fim de verificar o problema de pesquisa a ser investigado.

A temática de interesse dessa pesquisa é a que trata sobre a modernização dos serviços

de registro público prestados pelas serventias extrajudiciais do Brasil, com atenção voltada

para a especialidade de registro de imóveis, tratando-se de organização presente em milhares

de comarcas brasileiras que fornecem serviços para um grande número de interessados.

Considerando que as serventias extrajudiciais são organizações que realizam serviços

de caráter público, regidos por normas e leis específicas, e fiscalizados diretamente pelo poder

público, existe certa semelhança na gestão de operações e serviços entre as serventias, o que

não significa que não existam diferenças significativas em relação à sua infra-estrutura física e

tecnológica, gestão funcional, gestão de processos, gestão de recursos humanos,

administração de recursos financeiros, entre outros aspectos organizacionais.

Dessa forma, o critério para escolha de organizações específicas para realização da

coleta dos dados dessa pesquisa respeitou-se os seguintes critérios: (a) a adequação da

organização à proposta de pesquisa; (b) o acesso a registros e documentos que servissem de

apoio a compreensão do processo de interesse da pesquisa; (c) a viabilidade de acesso do

pesquisador à localização geográfica da organização e; (d) a disponibilidade da organização

em fornecer outras informações necessárias ao pesquisador após as visitas.

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO

Conforme já citado no início deste estudo, a pesquisa tem como problemática principal

a modernização dos serviços de registro público, focalizando o processo de averbação da

penhora de imóveis, e adotando como objetivo principal a estruturação do processo de

averbação de Penhora de Bens Imóveis para sua integração com as aplicações da Central

Registral de Serviços Eletrônicos Compartilhados (CRSEC).

Tal proposta de trabalho está embasada na compreensão de um conjunto de

informações específicas do processo, a partir de abordagens metodológicas adequadas para

essa finalidade. Neste sentido, esta pesquisa está pautada por uma abordagem teórico-

empírica, na qual além da revisão de literatura sobre o assunto, procurou-se verificar a

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coerência com a realidade, para conceber um conjunto de informações que servissem de

referência para o desenvolvimento de contribuições práticas para o problema em questão.

Segundo Silva e Roman Neto (2006) no desenvolvimento de estudos teóricos ou

teórico-empíricos no campo das organizações, a delimitação da natureza (ontologia) e do

conhecimento de um fenômeno (epistemologia), além das formas pelas quais podemos

estudá-lo (metodologia), ajudam o pesquisador a entender que o desenvolvimento de um

estudo científico deve estar embasado em pressupostos teóricos e na definição clara de uma

questão de pesquisa que norteará a investigação científica. Isto porque os pressupostos

ontológicos, epistemológicos e teóricos do pesquisador determinam a coerência entre a noção

de sujeito e as relações de objeto, e acabam por definir a escolha metodológica da

investigação (GODOI e BASINI, 2006).

Sendo assim, na perspectiva de abordagem do problema, a pesquisa está enquadrada

como predominantemente qualitativa, já que sua investigação não foi baseada em dados

quantificáveis, mas sim na coleta e organização de dados que fornecessem informações que

possibilitem a construção de análises e conclusões advindas do processo de interação social

com o meio estudado (RICHARDSON, 1999).

Pautando-se por esta abordagem qualitativa, foram coletados e estruturados dados e

informações junto às organizações, através do levantamento, descrição e modelagem do

processo de averbação de penhora de imóveis, o que permitiu a realização de uma análise

descritivo/avaliativa à luz do quadro teórico estudado, possibilitando a construção da proposta

de integração desse processo às aplicações disponibilizadas pela CRSEC.

No que diz respeito à sua natureza, esta pesquisa é considerada como

predominantemente aplicada, já que ela tem como principal finalidade gerar soluções

potenciais para os problemas humanos (ROESCH, 1999), sendo que neste caso específico,

tem a finalidade de construir uma proposta de modernização de um serviço de registro público

prestado pelas serventias de registro de imóveis.

Do ponto de vista dos procedimentos pode-se dizer que o trabalho foi embasado pelo

método de investigação do estudo de caso, envolvendo múltiplos casos. Para autores como

Merriam (1988) e Yin (2001), este método é a uma estratégia de pesquisa que se pauta pelo

exame de um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto e que busca descrever e

analisar holística e intensivamente uma entidade, fenômeno ou unidade social.

De acordo com Yin (2001), o estudo de caso possui duas variações, o estudo de caso

único ou estudo de múltiplos casos. O estudo de caso múltiplo deve ser capaz de prever

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resultados semelhantes ou produzir resultados contrastantes devido a razões previsíveis (YIN,

2001).

Em relação à natureza dos objetivos de pesquisa, pode-se dizer que este estudo foi

caracterizado por uma combinação entre as perspectivas descritiva e avaliativa. Descritiva

por buscar a apresentação de um relato detalhado de um fenômeno social envolvendo sua

configuração, estrutura, atividades, mudanças no tempo e relacionamento com outros

fenômenos, procurando ilustrar a complexidade da situação e os aspectos nela envolvidos. E

avaliativa, por buscar a geração de dados e informações obtidas de forma cuidadosa, empírica

e sistemática, com o objetivo de apreciar o mérito e julgar os resultados e a efetividade de

uma proposta (GODOY, 2006).

Com base neste enquadramento, este estudo produziu um relato detalhado das

atividades e inter-relacionamentos do processo de averbação de penhora de imóveis, sua

análise com base em fontes de informação primárias e secundárias, e o desenvolvimento de

uma proposta de aperfeiçoamento a partir da estruturação destas informações.

3.2 DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO

Para a composição das informações que pautaram a análise do objeto de estudo e o

desenvolvimento de recomendações para esta pesquisa, foram utilizadas algumas técnicas de

coleta e análise de dados.

É importante salientar que em pesquisas de caráter qualitativo, torna-se difícil

demonstrar uma separação clara e distinta entre as etapas de coleta e análise de dados, já que

essas fases geralmente são desenvolvidas segundo uma interação dinâmica. À medida que os

dados vão sendo coletados são identificados novos temas, relações e interpretações, que por

sua vez originam outras questões que levam a busca de novos dados (ALPERSTEDT, 2000).

Por isso é conveniente a adoção de um procedimento de investigação, que privilegie a

coleta e a análise simultânea dos dados. Além disso, pelo fato da abordagem qualitativa

permitir uma maior aproximação da realidade investigada, a reflexão constante sobre as

informações obtidas torna-se indispensável à sistematização da prática da pesquisa,

evidenciando-se a análise de conteúdo. Dessa forma, a interpretação e a triangulação das

informações de campo, podem conduzir a novas verificações a fim de se viabilizar a melhor

qualidade possível, no sentido de esgotar a análise (MORAES, 2001).

Considerando a importância desta interatividade para este estudo, foram escolhidas as

seguintes fontes de evidência (YIN, 2001) para coleta e análise dos dados colhidos nesta

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pesquisa: documentos, entrevista e observação. As etapas da pesquisa e o detalhamento

específico das técnicas e fontes que serão utilizadas em cada etapa podem ser observados no

Quadro 3.

Quadro 3 – Metodologia de Coleta e Análise de Dados

Fonte: Elaborado pelo autor (2008) com base em GODOY (2006); MERRIAM (1988); YIN (2001)

A primeira etapa do projeto foi exploratória, sendo feita uma revisão de literatura

preliminar a partir de levantamento bibliográfico e documental utilizando-se de bases de

dados científicas (portal de periódicos da CAPES), bancos de teses e dissertações on line e em

meio físico, publicações e artigos relacionados à temática.

Na segunda etapa foram identificados materiais informativos institucionais

disponíveis, bem como com livros, revistas e publicações especializadas, informações,

publicações, artigos, leis e resoluções da Corregedoria Geral de Justiça. O exame do material

permitiu a montagem do contexto do processo, caracterizando o ambiente objetivo do mesmo.

Nessa etapa também foram firmado contatos com usuários e profissionais de

organizações ligados ao processo estudado, para a delimitação da sua rede de participantes e

interessados para realização de entrevistas acerca da sistemática do processo de averbação de

penhora de imóveis e das propostas de aperfeiçoamento já existentes para esse processo.

A definição dos locais de pesquisa foi feito a partir de reuniões do pesquisador com os

coordenadores de pesquisa do Laboratório de Tecnologias de Gestão da Universidade do

Estado de Santa Catarina (LabGES/UDESC), e o presidente da Câmara Brasileira de

Comércio Eletrônico (CAMARA E-NET). Após essas reuniões foram definidas visitas a

representantes do poder judiciário, poder executivo, empresas de software para o judiciário,

Etapas - Objeto de Estudo

Técnica de Coleta e Análise de Dados

Fontes de Evidência

Dimensão do Estudo

Revisão de Literatura

Levantamento Bibliográfico

Levantamento Documental

Documentos

Registros em arquivos

Objetiva

Identificação e seleção dos processos de negócio a serem estudados na organização.

Levantamento Bibliográfico

Análise Documental

Entrevista aberta

Documentos

Entrevistas

Subjetiva

Mapeamento, análise do processo de negócio.

Análise Documental

Observação

Modelagem de processos

Documentos

Observação Direta

Registros em Arquivos

Objetiva e Subjetiva

Redesenho do processo e elaboração da Proposta

Levantamento Bibliográfico

Análise Documental

Documentos Objetiva e

Subjetiva

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empresa desenvolvedora de aplicações da CRSEC, entidades representativas das serventias, e

serventias extrajudiciais. O Quadro 4 apresenta mais detalhes acerca das visitas realizadas.

Quadro 4 – Relatório de visitas à organizações para coleta de dados

Fonte: Elaborado pelo autor (2009)

Organização Finalidade Técnica de

Coleta de Dados

Fontes de

Evidência

Cidade/Estado Período

(2008)

Vara de Execuções Fiscais do Município

• Entendimento do processo de execução fiscal

• Entrevista • Entrevista Florianópolis-SC Junho

Desenvolvedor de software para o Poder Judiciário

• Entendimento do software de automação do Judiciário

• Coleta de Documentos

• Entrevista

• Análise Documental

• Entrevista

• Documentos

• Registros em Arquivos

Florianópolis-SC Agosto

Cartório de Registro de Imóveis

• Entendimento do processo de averbação penhora de imóveis

• Coleta de documentos

• Validação de Modelagem

• Entrevista

• Análise Documental

• Entrevista

• Registros em Arquivos

Florianópolis-SC Agosto e Setembro

Desenvolvedor de aplicações da CRSEC

• Entendimento da CRSEC

• Coleta de Documentos

• Apresentação do diagrama do Processo

• Levantamento de tecnologias utilizadas

• Entrevista

• Análise Documental

• Entrevista

• Registros em Arquivos

Florianópolis-SC Setembro e Novembro

Cartório de Registro de Imóveis

• Entendimento do Processo de Averbação de Imóveis

• Coleta de Documentos

• Modelagem de Processo

• Entrevista

• Análise Documental

• Observação

• Entrevista

• Registros em Arquivos

Vitória- ES Setembro

Cartório de Registro de Imóveis (I)

• Entendimento do Processo de Averbação Penhora de Imóveis

• Entendimento do Sistema de Ofício Eletrônico

• Validação de Modelagem

• Entrevista • Entrevista

São Paulo-SP Outubro

Cartório de Registro de Imóveis (II)

• Apresentação de Diagrama de Processo

• Entrevista • Entrevista São Paulo-SP Outubro

Associação de Registradores Imobiliários

• Entendimento do Sistema de Ofício Eletrônico

• Entrevista

• Análise Documental

• Entrevista São Paulo-SP Outubro

Tribunal de Justiça do Estado

• Entendimento dos pontos fortes e fracos dos sistemas ligados ao Poder Judiciário

• Entrevista • Entrevista São Paulo-SP Outubro

Laboratório de Tecnologias de Gestão

• Orientação, avaliação e direcionamento do projeto

• Entrevista

• Levantamento Bibliográfico

• Entrevista

• Documentos

• Registro em Arquivos

Florianópolis-SC Março a Novembro

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A partir das fontes de evidência coletadas, partiu-se para a terceira etapa, em que foi

realizada a modelagem, descrição e análise do processo, para detalhar o fluxo de execução

atual do processo de negócio estudado e obter um conjunto desejável de requisitos funcionais

e não funcionais do processo, que pudessem vir a ser utilizados para sua transformação

posterior.

Nesta etapa, portanto, foi realizada a compreensão da situação atual e da complexidade

das relações existentes para construir uma análise crítica que possibilite a especificação de

possíveis formas alternativas de realização do processo atual. Para a realização desta atividade

após um levantamento de metodologias disponíveis e adequadas para a consecução destes

objetivos, foi escolhido um software de modelagem de processos com a ferramenta BPMN.

Tal ferramenta foi escolhida por razões como: suportar outras ferramentas do mercado,

possuir uma notação de fácil compreensão, facilitando a comunicação entre os atores

envolvidos (pesquisadores, avaliadores, serventias, poder público, desenvolvedores, etc), e

por possuir a capacidade de modelar processos complexos, com a finalidade de atingir um

nível bastante refinado do comportamento do processo e agregar informações que possam

facilitar o desenvolvimento e manutenção de sistemas para a execução destes processos.

Por fim, com posse destas informações e dados, foi realizada a transformação do

processo, com a finalidade de redesenhá-lo de maneira aderente com as aplicações da

CRSEC, definindo uma readequação deste serviço com utilização de tecnologias digitais e

documento eletrônico. O estudo se encerrou com a organização deste relatório final, onde

foram feitas as considerações conclusivas e recomendados estudos subseqüentes.

3.3 LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Para este estudo, considerando também as técnicas e procedimentos utilizados, é

possível destacar a ocorrência e limitações, dentre as quais cabe citar:

• Caráter inovador da iniciativa e do tema em questão: a realização de estudos

organizacionais envolvendo o conceito de organizações virtuais, serviços compartilhados e

registros públicos é relativamente escassa e recente no Brasil;

• Questão cultural de cooperação não disseminada: o interesse em organizações

virtuais e serviços compartilhados possui como requisito uma pré-disposição a cooperação

entre pessoas e empresas. Por isso a introdução de novos paradigmas pode ser acompanhada

de resistência ou indiferença;

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• O estágio ainda inicial de funcionamento da CRSEC, considerando que é uma

proposta inovadora que está sendo objeto de pesquisas técnico-científicas para o

desenvolvimento e aperfeiçoamento de sua sistemática, visando a criação de novas aplicações

e a integração dos processos e serviços dos seus potenciais usuários por todo o país;

• Impossibilidade de generalização: considerando que as conclusões advindas do

caso estudado só se aplicam a ele mesmo. A proposta, entretanto, pode servir como modelo de

referência para outros estudos semelhantes ou complementares:

• A amplitude e profundidade da análise: pode ser comprometida devido ao curto

período de tempo dedicado a consolidação do relatório de pesquisa e ao conhecimento

limitado do pesquisador acerca da temática, da dinâmica do processo e do quadro teórico

utilizado.

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4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA COLETA DE DADOS

Diante da proposta principal deste trabalho que é propor a modernização do serviço de

averbação de penhora de bens imóveis no âmbito das serventias extrajudiciais, através da

criação de uma sistemática eletrônica para tal serviço, entende-se como fundamental uma

breve explanação das características de tal matéria no que concerne à sua sistemática atual.

Os tópicos que se seguem trarão as seguintes abordagens: (1) aprofundamento no tema

da averbação da penhora de bens imóveis nas serventias de registro de imóveis, descrevendo

de forma mais específica os procedimentos que fazem parte da rotina deste processo,

reforçando a importância do conhecimento aprofundado do fluxo de eventos, atividades e

dados que constituem esta sistemática, e (2) discussão dos dados coletados, elencando

propostas de transformação do processo com a utilização das aplicações estruturais da

CRSEC, e o desenvolvimento de novas aplicações que podem contribuir para o

aperfeiçoamento deste serviço.

4.1 AVERBAÇÃO DE PENHORA DE BENS IMÓVEIS

Um dos objetivos deste trabalho é conhecer de forma detalhada o processo de

averbação de penhora de imóveis, realizado nas respectivas serventias de registro de imóveis.

Tal averbação está prevista na legislação brasileira no Código de Processo Civil (CPC) que

disciplina esta matéria no parágrafo 4º do artigo 659, conforme pode ser visto a seguir:

A penhora de bens imóveis realizar-se-á mediante auto ou termo de penhora, cabendo ao exeqüente, sem prejuízo da imediata intimação do executado, providenciar, para presunção absoluta de conhecimento por terceiros, a respectiva averbação no ofício imobiliário, mediante a apresentação de certidão de inteiro teor do ato, independentemente de mandado judicial (BRASIL, 2006).

De forma específica, a Lei 6.015/1973, também conhecida com Lei de Registros

Públicos, prescreve, em seu artigo 167, I, n.5, que no Registro de Imóveis, será feito o registro

das “penhoras, arrestos e seqüestros de imóveis”, prescrição assegurada como obrigatória pelo

artigo 169 da mesma Lei, que especifica que todos os atos numerados no referido artigo 167

são obrigatórios (ASSIS, 2002).

Embora a Lei de Registros Públicos se refira à penhora como um registro, o Código de

Processo Civil, com base no artigo 659, parágrafo 4, disciplina a matéria usando o termo

averbação, sendo esta a última, a oficialmente adotada nos ofícios imobiliários.

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É importante salientar que o tanto o Código de Processo Civil como a Lei de Registros

Públicos são leis de mesma hierarquia, tratando-se de leis ordinárias. Por este fato, a redação

dada pela Lei 11.832/2006 a esta questão de ser a penhora objeto de registro ou averbação no

respectivo Ofício Imobiliário é a que resolve a questão, no sentido que uma lei posterior

revoga a anterior naquilo que for lhe for contraditório. Esta afirmação está embasada pela Lei

de Introdução do Código Civil (4.657/1942), que em seu artigo segundo reza que “...uma lei

terá vigor até que outra a modifique ou revogue”, e no primeiro parágrafo deste artigo

assevera que “...a lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja

com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior”.

Desta forma, a penhora de bens imóveis trata-se de uma averbação que deverá ser feita

na matrícula do imóvel. Azevedo (1976, p.113) esclarece este conceito indicando que

“...averbações são referências que se inserem à margem dos registros ou matrículas, de atos,

de fatos ou julgados, que declarem, esclareçam, atribuam, modifiquem ou extingam direitos

matriculados ou registrados”.

De acordo com Diniz (1992), a averbação da penhora visa à proteção ao terceiro de

boa fé e à segurança dos negócios jurídicos, pois, ao gerar a publicidade, traz a presunção da

ciência a terceiros. A Lei de Registros públicos garante esta eficácia ao trazer a redação para o

artigo 240 que assegura que o registro de penhora faz prova quanto à fraude de qualquer

transação posterior.

A legislação impõe a busca da notícia sobre a situação do imóvel no Ofício Imobiliário, pois a este compete o registro das citações nas ações reais ou reipersecutórias9. Se esse registro não se efetivar, o demandante não poderá tirar proveito da sua inércia, tendo, por isso, o ônus de levar a notícia da demanda para conhecimento de terceiro, requerendo o assento, a fim de tornar segura, em caso de alienação do bem, a posição do adquirente, que saberá da situação jurídica do imóvel. Com o registro da demanda, ter-se-á a possibilidade de existência da fraude de execução, pois haverá presunção de conhecimento (DINIZ, 1992).

A averbação de penhora oferece ampla segurança ao credor, notadamente nas

alienações sucessivas, no que assevera Assis (2002) como sua aplicação mais expressiva, a

saber, a de tornar eficaz a penhora perante os sub-adquirentes, porque gera presunção absoluta

de conhecimento dos atos por terceiros.

Tal necessidade se apresenta porque a publicidade dada pelo processo judicial não

possui a chamada eficácia erga omnes (oponível a todos), ou seja, não faz presumir a ciência

9 As ações reipersecutórias têm por objetivo a obtenção de uma coisa em conseqüência de obrigação assumida pelo réu. Implícito é que se trate de bem imóvel (SERPE, 1955 apud BALBINO FILHO, 1978).

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de terceiros de atos nele praticados, tendo como destinatários apenas os interessados,

certificando entre estes, os atos praticados, que é chamado de efeito inter partes. Dessa forma,

os atos judiciais, para serem oponíveis contra terceiros, devem ser levados a registro, pois só a

publicidade registral estabelecerá a ficção de conhecimento erga omnes (DINIZ, 1992).

O fato da penhora não ser levada a registro, porém, não impedirá a alegação de fraude

contra a execução, mas o credor terá o ônus de provar que o adquirente do imóvel tinha

conhecimento do ato de constrição do imóvel. Isso significa dizer que se não houver o registro

desses atos constritivos, o credor deverá provar o conhecimento pelo terceiro adquirente da

existência do gravame judicial (DINIZ, 1992).

Portanto, conforme considera Diniz (1992), a averbação do ato constritivo é uma

atitude de diligência do credor exeqüente, pois dessa forma, a fraude a execução surgirá como

presumida, e com isso o adquirente que, devido a eficiente publicidade registral foi advertido,

será punido, já que após feito o registro, estará presumido que o ato era de conhecimento do

adquirente e que as alienações posteriores foram feitas em fraude à execução.

4.1.2 Descrição do processo de averbação penhora de bem imóvel

Conforme já explicitado, o registro de penhora, ou seu cancelamento é feito no ofício

imobiliário respectivo. As serventias de registro de imóveis atuam de modo a registrar essa

etapa do processo executório, desde que não haja nenhum óbice para a respectiva averbação.

Com a finalidade de verificar a dinâmica deste processo dentro das serventias, foram

realizadas visitas a três ofícios imobiliários, localizados nos municípios de Florianópolis/SC,

Vitória/ES e São Paulo/SP, onde a partir da utilização de técnicas de coleta de dados – análise

documental, entrevista e observação direta – foi detalhada a dinâmica processual que orienta a

realização da averbação da penhora de imóveis.

A análise foi embasada por fontes de evidência como entrevistas, observação e

registros obtidos a partir das técnicas de análise utilizadas. Posteriormente utilizou-se um

software com ferramenta BPMN (Business Process Management Notation) para retratar

graficamente a dinâmica atual do fluxo de execução das respectivas averbações,

formalizando-o por meio de uma descrição detalhada deste processo.

A partir dessa atividade analítica foi possível compreender a dinâmica do processo

envolvido na averbação da penhora de bens imóveis, e materializar esta compreensão num

relatório que levassem em consideração diferenças tênues entre fluxos adotados em cada

serventia, e a base legal prevista tanto na legislação federal pertinente, quanto nos códigos de

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normas das Corregedorias Estaduais que fornecem as diretrizes para os processos realizados

nas serventias de todo o país.

Com base nessas informações foi possível determinar os eventos e sub-processos

principais deste processo de negócio, que estão representados na Figura 18. Este BPD

(Business Process Diagram) utiliza a notação BPMN, conforme já explicitado na

fundamentação teórica desta pesquisa, e reflete uma visão de alto nível do processo, em que

não são explicitados os fluxos de cada sub-processo, nem os desdobramentos de tratamento de

exceção, que por sua vez gerariam novas regras de negócio. Estas informações, por seu termo,

serão apresentadas de forma específica ao longo deste capítulo.

Figura 18 - Eventos e atividades do processo de Averbação de Penhora de Imóveis.

Fonte: Elaborado pelo autor (2008)

A Figura 18 apresenta de forma sintética, o fluxo de execução do processo de

averbação de penhora de bens imóveis, quais sejam: apresentação, protocolação, qualificação,

execução da averbação, arquivamento e entrega. Para cada uma dessas atividades, existem

tarefas que devem ser executadas, o que aumenta a complexidade da representação, e por

conseqüência seu dimensionamento no espaço disponível no formato dessa pesquisa. Por isso,

as demonstrações gráficas serão agrupadas em sub-processos para não comprometer seu

entendimento.

É importante salientar que a modelagem realizada teve foco de atenção específico no

fluxo de execução do processo realizado pelas serventias de registro de imóveis. Sendo assim,

com exceção do fluxo de suscitação de dúvida (englobado pelo sub-processo qualificação), os

diagramas apresentados neste capítulo especificam o conteúdo do fluxo de execução do

processo realizado pela serventia, sendo que a representação da interação com os demais

participantes é ilustrada por meio de processos abstratos (abstract process), em que é possível

compreender em que momento outros processos se relacionam ou colaboram com o fluxo de

execução em questão, sem especificar o conteúdo do processo em si. `

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A seguir serão explicitadas de maneira narrativa e gráfica, as atividades e tarefas

identificadas neste processo, baseados nas fontes de evidências coletadas nesta pesquisa.

4.1.2.1 Apresentação da documentação

O processo de averbação de Penhora de Imóvel no respectivo Registro de Imóveis se

inicia a partir da apresentação na serventia do documento judicial hábil que solicite a

averbação. Este documento é o mandado judicial ou a certidão extraída do auto pelo escrivão

que funciona no respectivo processo, em que devem constar, além dos requisitos exigidos

para a averbação, o nome do juiz, do depositário, das partes e a natureza do processo. No caso

de averbação à vista de certidão, a partir da qual se fará a indicação dos atos constritivos, esta

será lavrada pelo escrivão do feito, com a declaração do fim especial a que se destina, após a

entrega na serventia, do mandado devidamente cumprido (BRASIL, 1973).

Tal documentação pode ser apresentada na serventia de três formas distintas, conforme

pode ser visto na Figura 19: (1) via advogado ou parte interessada; (2) via unidade de

postagem (Correio); (3) via oficial de justiça.

Figura 19 - Apresentação da Documentação no Registro de Imóveis

Fonte: elaborado pelo autor (2008).

Na primeira possibilidade, o advogado ou parte interessada apresenta a respectiva

documentação judicial, também chamada de título, no balcão (também conhecido como

recepção ou setor de protocolo). O interessado deverá fazer o pagamento antecipado das

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custas dos emolumentos, conforme reza a Lei 6.015/1973 em seu artigo 14, que diz que os

oficiais de registro terão direito aos emolumentos conforme Regimento de Custas do Distrito

Federal, dos Estados e dos Territórios, que por sua vez serão pagos pelo interessado que a

requerer no ato de requerimento ou de apresentação do título. Após uma análise preliminar do

título por parte do responsável pelo atendimento, é feita sua protocolação (no protocolo

auxiliar ou de entrada), dando início a prenotação do título.

No envio de documentação pelo correio, é norma do judiciário a utilização de aviso de

recebimento (AR) emitido pela ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos) anexo a

cada envelope enviado. O AR contém um número que permite o rastreamento da

correspondência, e na sua entrega, exige assinatura do destinatário, com a indicação de dia e

hora de recebimento. Por isso, no caso de recebimento pelo correio, o serventuário designado

da serventia assina os AR’s anexados às respectivos às correspondências recebidas e os

devolve ao agente postal. Após abrir as correspondências, o serventuário responsável faz sua

separação, e os entrega ao oficial titular, ou preposto nomeado para que este ateste seu

recebimento com a indicação da data de entrega e sua assinatura. Após uma análise preliminar

do título, a documentação é encaminhada, via serventuário, para prenotação no setor de

protocolo.

Se o título for apresentado por oficial de justiça, o mesmo entrega a contrafé do termo

ou do auto de penhora, com a ordem de averbação. O oficial de justiça geralmente leva

consigo uma cópia adicional da documentação, que retorna com ele como comprovação do

momento de recebimento do título na serventia. O oficial de registro titular ou preposto atesta

nas vias apresentadas a data, hora de entrada dos respectivos títulos, carimbo próprio e

assinatura. Após uma análise preliminar do título, a documentação é encaminhada, via

secretária, para prenotação no setor de protocolo.

Nos três casos apontados, de apresentação de um título para averbação da penhora, é

importante ressaltar que nenhuma dívida ou pendência fiscal constitui impedimento para o

recebimento do título e sua protocolização na serventia. Excepcionalmente, pode haver recusa

para o ingresso do título apresentado no protocolo e sua prenotação, se parecer ao ofício

imobiliário que o registro é da competência de outra serventia, salvo se a parte solicitar o

ingresso mesmo assim, pagando os respectivos emolumentos, e suscitando dúvida em juízo,

para que o órgão judicante solucione a questão (DINIZ, 1992); (BRASIL, 1973).

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4.1.2.2 Protocolação da documentação

Após a análise preliminar do título apresentado por parte do oficial de registro ou

serventuário responsável por esta atividade na serventia, é feita a protocolação e conseqüente

prenotação do título, com indicação de um número de controle idêntico ao que será lançado

no protocolo oficial (Livro n.1) da serventia e a data de sua apresentação.

Independente da forma de apresentação do título, este procedimento sempre é

realizado, pois é ele que atesta o momento de entrada do título na serventia (neste caso, o

mandado ou certidão de penhora e/ou o auto de penhora) para efeitos de determinação de

prioridade e de vencimento do período de prenotação do título. Na Figura 20 pode ser

observada a representação gráfica deste processo.

Figura 20 - Protocolação de Documentação Apresentada no Registro de Imóveis Fonte: Elaborado pelo autor (2008).

A prenotação é o assentamento prévio, no protocolo. Assegura precedência do direito

real ao qual o título se refere, e tem validade de 30 dias. Tal prazo é contado a partir da data

de lançamento, exceto nos casos em que havendo alguma exigência detectada na qualificação

do título pela serventia, e levantado algum óbice (exigência) para o encaminhamento do título

para averbação da penhora ou seu cancelamento, o interessado, dentro desse prazo, requerer

que seja suscitada dúvida perante juízo competente por não se conformar com a exigência ou

por não podê-la atender. Neste caso se a dúvida for julgada improcedente por sentença

transitada em julgado, novo prazo de trinta dias correrá do dia em que o título, em juízo, for

devolvido ao interessado; se a dúvida for julgada procedente, a prenotação será cancelada

(BRASIL, 1973).

É importante ressaltar que a ordem de prenotação é que define a prioridade do título

no que diz respeito à preferência dos direitos reais a que este documento se refere. Portanto,

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mesmo que sejam exibidos vários títulos simultaneamente por um mesmo apresentante, cada

um deles recebe um número de protocolo distinto obedecendo a seqüência rigorosa em que foi

exibido ao serventuário do ofício imobiliário. Se os títulos não tiverem nenhuma relação um

com o outro, o apresentante indica ao serventuário aquele que deve ser prenotado em primeiro

lugar, mas se tiverem relação entre si, o lançamento é feito na ordem em que serão depois

averbados (DINIZ, 1992).

Com a apresentação do título à serventia, e feita a sua prenotação no sistema

informatizado da serventia com a indicação do número do protocolo, o serventuário

responsável pelo recebimento do título fornece à parte um documento que comprova o

protocolo dos títulos, denominado recibo-protocolo, contendo numeração, para a garantia de

prioridade do título e da preferência do seu direto real.

Conforme o próprio nome já especifica, este comprovante é composto por duas partes:

(a) protocolo – que informa o número de controle, nome do apresentante, do outorgante e

outorgado, nome do atendente, a natureza do título, data prevista para devolução do título com

exigências, data prevista para a prática do ato, data que cessarão automaticamente os efeitos

da prenotação, valor depositado para pagamento de emolumentos (depósito prévio), local para

assinatura do apresentante (no caso de títulos não é requerida esta assinatura) e outras

informações úteis para o apresentante; e (b) recibo – que contém a indicação do depósito

prévio realizado, atestando o valor que o apresentante entregou referente à averbação

solicitada, baseado no calculo prévio das custas e emolumentos. Este cálculo realizado na

entrada tem caráter provisório, já que somente após análise minuciosa do título, na etapa de

qualificação (ou exame) é que se verificarão quais serão os atos (registros e/ou averbações)

que serão praticados, podendo acrescer ou não o valor previamente calculado.

Tal comprovante é preenchido em interface específica do sistema informatizado da

serventia, e impresso em duas vias, sendo que uma é entregue ao apresentante do título para

ser utilizada por este no acompanhamento do processo e outra acompanha o título apresentado

durante todo o fluxo do processo dentro da serventia.

A cobrança de emolumentos também deve ser realizada no ato de requerimento ou de

apresentação do título, exceto nos casos de execução fiscal para a cobrança de dívida ativa da

União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, das autarquias, das empresas

públicas, com base na Lei 6.830/1980 que reza que o despacho judicial que deferir a inicial é

suficiente para ordenar a averbação de penhora, independentemente de pagamento de

emolumentos (BRASIL, 1980) e em processos trabalhistas, conforme o artigo 889 da Lei

5.452/1943 (Consolidação das Leis do Trabalho) que assegura que “... aos trâmites e

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incidentes do processo da execução são aplicáveis, naquilo em que não contravierem ao

presente Título, os preceitos que regem o processo dos executivos fiscais para a cobrança

judicial da dívida ativa da Fazenda Pública Federal”. Além disso, pode haver outros casos de

cobrança posterior (na liquidação do bem) ou mesmo gratuidade de registro prevista nos

respectivos códigos de normas das Corregedorias dos Estados e do Distrito Federal.

Dessa forma, se um mandado ou certidão de penhora, que não se referir a algum dos

casos previstos anteriormente, der entrada na serventia por meio de um oficial de justiça ou

via correio, a protocolização e prenotação são realizadas, porém na qualificação da

documentação, passo que será apresentado em tópico posterior, o título é colocado em

exigência por falta de recolhimento de emolumentos.

No caso de apresentação do título por um oficial de justiça (representando o poder

público como exeqüente), o processo de prenotação é realizado de maneira semelhante, sendo

o oficial recebido diretamente no balcão da serventia, e seguindo o processo normal de

protocolização do título, com a impressão de duas vias do recibo protocolo (uma para a

serventia e uma para o oficial de justiça).

Este procedimento, porém, apresenta pequenas diferenças dependendo da serventia, já

que em algumas situações o oficial é recebido diretamente por um dos serventuários

responsáveis pelo exame formal do título, que protocola o seu recebimento em duas vias de

igual teor apresentadas, retendo uma das vias para a serventia e retornando a outra com o

próprio oficial, que a utiliza como prova do momento exato da apresentação do título na

serventia. Neste caso o oficial não leva uma via do recibo protocolo, sendo este comprovante

impresso apenas para acompanhamento da documentação apresentada. Nos casos em que a

documentação (título) é recebida por via postal (correio) para entrada na serventia, o

comprovante de prenotação (recibo protocolo) acima citado também é impresso em apenas

uma via, acompanhando o título recebido nas demais etapas do processo.

Feita a prenotação do título, as serventias geralmente utilizam pastas plásticas, ou

estantes com repartições retangulares, para o depósito dos documentos que foram

apresentados, juntamente com o respectivo recibo-protocolo. Estas pastas são depositadas em

local específico, próximo às estações de trabalho do balcão, e são periodicamente

encaminhadas para o setor de arquivamento matrícula que realizará duas atividades principais,

o cadastramento das partes e a localização da matrícula do imóvel.

No cadastramento das partes, também chamado de contraditório, os nomes das partes

citadas no processo são inseridos no sistema informatizado, considerando que não podem ser

registrados no mesmo dia, os títulos pelos quais se constituem direitos reais contraditórios

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sobre o mesmo imóvel, relativamente às pessoas dos respectivos devedores ou dos credores

ou titulares (BRASIL, 1973).

A existência da matrícula do imóvel também é imprescindível para a garantia do

registro, considerando o artigo 236 da Lei de Registros Públicos, que assevera que nenhum

registro poderá ser feito sem que o imóvel a que se referir esteja matriculado. Dessa forma

não é possível fazer a averbação de penhora de imóvel que não esteja no nome do devedor.

Dessa forma não é possível fazer a averbação de penhora de imóvel que não esteja no nome

do executado, exceto nos casos de reconhecimento de fraude à execução.

Caso o imóvel, objeto do título apresentado, não estiver matriculado, o serventuário

deverá promover a abertura da sua matrícula, que será feita com base nos elementos

constantes do título apresentado e do registro anterior que constar da própria serventia. Se o

registro anterior tiver sido feito em outra serventia, o novo título será apresentado juntamente

com a certidão atualizada do imóvel, atendendo ao princípio da continuidade do registro, de

forma a comprovar o registro anterior e a existência ou não de ônus (BRASIL, 1973).

Após a pesquisa da existência da matrícula do imóvel, ou de sua devida abertura, o

serventuário tem por procedimento anexar ao processo uma cópia da matrícula, sem valor de

certidão, que é encaminhada para qualificação juntamente com o título apresentado e o

protocolo emitido previamente. O processo é então encaminhado para a qualificação registral

da documentação.

4.1.2.3 Qualificação da documentação

O próximo passo é a realização do exame formal do título, também chamado de

qualificação do título. Segundo Diniz (1992) o pressuposto fático do registro é a apresentação

de um título hábil a operar os efeitos a que visa. Dessa forma, para que a devida averbação

seja feita é imprescindível que o título apresentado contenha os requisitos exigidos por lei.

Essa é a etapa do processo que atende a esta necessidade.

Silva (2002) considera que, se a penhora de bem imóvel é um ato complexo, pois

exige além do seu aperfeiçoamento pela apreensão e depósito do bem, o necessário registro da

constrição no ofício imobiliário da circunscrição em que está situado o imóvel, estes

problemas anteriores se apequenam diante do gigantesco problema que envolve seu registro

em cartório.

Conforme considera Costa (2006) cabe ao oficial da serventia, por dever de ofício,

examinar a legalidade e a validade dos títulos que lhe são apresentados para

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registro/averbação, nos seus aspectos intrínsecos e extrínsecos, uma vez que o oficial somente

pode efetuar o registro quando não encontrar quaisquer irregularidades nos documentos

apresentados, não dando acesso aos títulos que não preencham os requisitos exigidos

legalmente, exarando parecer se o título é registrável ou não.

Segundo Jacomino (2007) é no momento da qualificação registral que o registrador

decide pela registrabilidade ou não-registrabilidade do título. Se ele considerar que o título

está hábil, o procedimento é encerrado nesse mesmo momento, ou seja, ele indica os atos a

serem registrados e o consuma e a questão fica resolvida. Se na consideração do registrador, o

título não estiver hábil ao registro, é elaborada uma nota de devolução, que é um documento

que exprime as razões pelas quais o título não ingressou no registro, fundamentando tais

motivos, e os notificando ao interessado.

Este exame formal do título, portanto, é etapa importante na averbação ou

cancelamento da penhora, pois envolve a questão da responsabilidade do registrador. De

acordo com o artigo 28 da Lei de Registros Públicos os oficiais são civilmente responsáveis

por todos os prejuízos que, pessoalmente, ou pelos prepostos ou substitutos que indicarem,

causarem, por culpa ou dolo, aos interessados no registro. A Lei 8.935/1994, em seu artigo 14

também disserta acerca do tema ao dizer que “os notários e oficiais de registro responderão

pelos danos que eles e seus prepostos causem a terceiros, na prática de atos próprios da

serventia, assegurado aos primeiros direito de regresso no caso de dolo ou culpa dos

prepostos”.

Dessa forma, antes de fazer a respectiva averbação de penhora ou mesmo seu

cancelamento, o oficial registrador deve proceder à fiscalização de atos administrativos,

formais, que possam comprometer esta averbação, e verificar se existem óbices para execução

deste ou de outros atos. Entretanto, conforme afirma Oliveira (2005b), não é de competência

do oficial de registro a intromissão em assuntos de atos em que houve o pronunciamento

jurisdicional, já que suas atribuições são apenas administrativas. Sendo assim, de acordo com

Oliveira (2005b) a qualificação do documento diz respeito a elementos formais do título,

referenciando possíveis exigências, não sendo competência do oficial de registro o exame da

substância do negócio jurídico contido no título.

De acordo com Silva (2002) existe um imenso leque de óbices que podem ser

levantados pelo registrador para concretização de um ato registral. O autor enumera as

hipóteses mais relevantes e comumente levantadas pelo oficial de registro que consistem nos

seguintes óbices:

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1) Impenhorabilidade do imóvel gravado por cédula de crédito industrial ou

comercial;

2) Indisponibilidade do imóvel indicado à penhora pelo devedor em execução fiscal

da União, suas autarquias (especialmente o INSS) e fundações públicas;

3) Não estar o bem penhorado registrado em nome da pessoa jurídica ou natural

executada;

4) Ter havido alienação do bem penhorado a terceiro estranho à relação jurídica

processual;

5) Falta no mandado de registro da penhora, do “cumpra-se” do juiz corregedor

permanente da Comarca;

6) Falta de reconhecimento de firma do juiz que determinou a realização da penhora,

ou do juiz que assinou o mandado de registro da penhora, a carta de arrematação ou a

carta de adjudicação;

7) Falta de intimação do cônjuge do executado ou do credor hipotecário, ou falta de

avaliação do bem penhorado;

8) Falta de recolhimento do ITBI ou de custas e emolumentos atinentes aos atos da

Serventia;

9) Falta de qualificação completa das partes (exeqüente e executado), ou mesmo do

arrematante, em sendo o caso de registro da carta de arrematação;

10) Desconformidade da descrição do imóvel no auto de penhora ou nas cartas (de

arrematação ou de adjudicação), em relação à contida na matrícula do Serviço

Registral.

De acordo com Jacomino (2007), informado dos óbices ao registro/averbação do título

apresentado, o interessado tem duas alternativas:

(a) o interessado pode concordar com a nota de devolução, com as devidas objeções

opostas pelo registrador, e fazer a subsanação, isto é, proceder a uma correção, acrescentar

documentos, etc., com a finalidade de aperfeiçoar e sanar as deficiências do título apontadas

pelo registrador, no prazo da prenotação ou;

(b) o interessado pode não concordar com a nota de devolução, se insurgindo contra a

denegação do registro. Nesse momento, a requerimento, por rogação expressa do interessado,

o oficial de registro deve fazer a suscitação da dúvida, que será remetida a juízo para ser

dirimida. Essas duas alternativas, precedidas de uma nota de devolução serão explicitadas

com mais profundidade nos tópicos que se seguem.

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4.1.2.3.1 Nota de devolução com declaração de exigências

Conforme já explicitado, no exame formal do título é feita a qualificação da

documentação, em que são verificadas a validade e legalidade do título, e se os seus

elementos são suficientes para que este seja considerado apto para averbação. Se existirem

elementos de qualquer ordem que impeçam a execução da averbação, são formuladas

exigências por escrito, de modo claro e objetivo, com identificação, data e assinatura do

oficial responsável ou substituto legal. A Figura 21 apresenta o fluxo de execução deste

processo.

Figura 21 - Qualificação de Documentação Fonte: Elaborado pelo autor (2008).

De acordo com Oliveira (2005b) a declaração de exigência é o requerimento do oficial

para que a parte faça a complementação da documentação apresentada para a realização do

registro. As exigências são feitas por escrito, com cópias, e ficam arquivadas em pastas,

segundo a ordem cronológica, para que seja possível o controle das exigências formuladas e a

observância do prazo legal. A ocorrência de devolução com exigência, após a elaboração da

nota de devolução, é lançada na coluna própria do Livro Protocolo (Livro n.1); reingressando

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o título no prazo de vigência da prenotação, será objeto do mesmo lançamento, em coluna

própria, recebendo igual número de ordem.

Elaborada a nota de devolução, com as devidas exigências, esta é devidamente

assinada e encaminhada junto com a documentação para o seu arquivamento, conforme será

visto a diante, e sua posterior devolução ao apresentante, por meio das formas de

disponibilização da documentação adotadas pela serventia. A notificação da existência de

exigência é feita por parte da serventia que recebeu o título. Entretanto, a serventia não tem a

obrigação legal de notificar o interessado fora da serventia, sendo tarefa deste último o

acompanhamento da situação do título apresentado na serventia.

O apresentante deverá cumprir as exigências dentro do prazo de 30 dias contados do

protocolo, e não da notificação de que deve cumprir exigências, e proceder à reapresentação

do título. Neste caso, na reapresentação do documento o título será submetido a um novo

exame para verificar a sanação do problema. Se estiver apto, o título vai a registro; se não,

novamente é feita a devolução. Se o prazo tiver expirado, far-se-á nova prenotação e novo

exame.

Nos casos de devolução do título com exigências, o prazo para execução do

registro/averbação retornará a fluir da data da reapresentação do título em ordem e apto para o

registro, ou da data em que for satisfeita a exigência, no caso de o título nem chegar a ser

retirado da serventia. Se decorridos trinta dias do lançamento do Protocolo, o título não tiver

sido registrado por omissão do interessado em atender às exigências legais, cessam

automaticamente os efeitos da prenotação (BRASIL, 1973).

Na ocorrência de exigências, as serventias visitadas têm por procedimento orientar o

apresentante a acompanhar a evolução do processo de registro via telefone, após um prazo

específico determinado no comprovante de protocolação do título entregue no ato de sua

apresentação, para tomar conhecimento se o título foi considerado apto para averbação, ou se

foi detectada alguma exigência para sua execução.

Em algumas serventias o processo também pode ser acompanhado pelo próprio

interessado via internet, a partir de interface que informa o status do pedido e a existência de

exigências a serem atendidas; outras serventias contam com o sistema de atendimento via

URA – Unidade de Resposta Audível, que fornece a situação do andamento do título sem

necessidade de contato direto com um operador da serventia, e no caso de existência de

exigências, a possibilidade de recebimento da nota via FAX; também já existem serventias

que enviam mensagens eletrônicas (e-mail) no andamento do título, informando cada uma das

ocorrências, incluídas aí a existência de notas de devolução.

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Os documentos em exigência são devolvidos e disponibilizados diretamente à parte

interessada, quando o título judicial tiver sido apresentado pela parte interessada no balcão.

Quando a parte interessada for o Poder Público, a documentação é encaminhada juntamente

com nota de devolução, via serviço próprio de entrega (geralmente motoboy) ou por via

postal, com uso de aviso de recebimento. Quando o título e a nota de devolução forem

entregues ao interessado é exigido recibo dessa entrega, geralmente com assinatura por parte

do apresentante de um protocolo de entrega, de forma a comprovar essa entrega e documentá-

la na serventia.

Feita a devolução da documentação, se em vez de cumprir as exigências, o

apresentante manifestar discordância e requerer a suscitação de dúvida pelo oficial, conforme

será visto a seguir, deixa de ter importância o prazo de prenotação de 30 dias. O que valerá

será a decisão do procedimento de dúvida. Se procedente, o título não será registrado

enquanto não cumpridas as exigências. Se improcedente a documentação será reapresentada e

o título será averbado.

4.1.2.3.2 Nota de devolução com declaração de dúvida

O procedimento de dúvida ocorre nos casos em que, detectada e informada exigência

para a prática do ato, o apresentante não concorde em satisfazê-la, insistindo no protocolo do

documento apresentado ou nos casos em que o oficial de registro nega a execução da

averbação e mesmo assim o apresentante continue insistindo no cumprimento do ato

(OLIVEIRA, 2005b).

A dúvida surge do direito do apresentante poder impugnar as exigências do oficial.

Pode alegar que a documentação apresentada já é suficiente para o registro, ou alegar a

impossibilidade do cumprimento; nesse caso, se o oficial não aceitar a impugnação, deve

haver a suscitação de dúvida (OLIVEIRA, 2005b).

A suscitação de dúvida é o caminho legal de submeter à apreciação judicial as

exigências formuladas pelos Oficiais do Registro de Imóveis. Sendo assim, se o apresentante

do título não aceitar a exigência feita pelo oficial de registro, por entendê-la descabida ou por

não poder satisfazê-la, pode o apresentante requerer seja o título, junto com a declaração de

dúvida, remetido à análise do magistrado competente (NOVAES, 2005).

A dúvida é um procedimento de natureza administrativa, e sempre é formulada pelo

oficial ou por seu substituto legal, a pedido do apresentante, para que o magistrado se

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pronuncie sobre a legalidade da exigência feita, relativamente a um instrumento ou a vários

documentos, decidindo se é ou não indispensável ao registro pretendido (DINIZ, 1992).

De acordo com Novaes (2005), o oficial de registro, na suscitação, deverá

fundamentar a dúvida com clareza e precisão, com os motivos de fato e de direito que levaram

a adiar ou impugnar o registro solicitado pelo apresentante. Trata-se de obrigação do oficial

de registro, portanto, protocolar a peça de dúvida escrita de forma inteligível, sob pena de

responder administrativamente se tal redação for julgada inadequada.

O procedimento de dúvida é regulado pela Lei de Registros Públicos (6.015/1973),

com os respectivos procedimentos para sua suscitação referenciados nos artigos 198 a 207

desta Lei. O artigo 198 determina que “...havendo exigência a ser satisfeita, o oficial indicá-

la-á por escrito. Não se conformando o apresentante com a exigência do oficial, ou não a

podendo satisfazer, será o título, a seu requerimento e com a declaração de dúvida, remetido

ao juízo competente para dirimí-la”. O referido artigo ainda determina o seguinte:

I - no Protocolo, anotará o oficial, à margem da prenotação, a ocorrência da dúvida;

II - após certificar, no título, a prenotação e a suscitação da dúvida, rubricará o oficial

todas as suas folhas;

III - em seguida, o oficial dará ciência dos termos da dúvida ao apresentante,

fornecendo-lhe cópia da suscitação e notificando-o para impugná-la, perante o juízo

competente, no prazo de 15 (quinze) dias;

IV - certificado o cumprimento do disposto no item anterior, remeterse-ão ao juízo

competente, mediante carga, as razões da dúvida, acompanhadas do título.

A notificação será efetuada pelo Oficial de Registro, seu substituto ou escrevente

autorizado, na qual o apresentante, tomando conhecimento da dúvida suscitada e da sua

fundamentação, possa impugná-la. Esta notificação não é uma citação, mas sim um aviso ao

apresentante, de que a impugnação da dúvida do oficial deverá ser feita perante o juízo

competente dentro do prazo previsto (NOVAES, 2005). Na Figura 22 é possível ver a

representação deste processo.

A impugnação da dúvida, assinada pelo advogado devidamente constituído pelo

interessado, equivalerá a uma contestação; portanto o impugnante poderá apresentar todas as

razões de defesa a que tiver direito desde que constituam complementação de prova

documental, como exibição de títulos anteriores ao que pretende levar a assento, de

documentos públicos ou particulares esclarecedores de algum ponto controvertido, visto ser o

processo de dúvida de natureza administrativa, não admitindo outro tipo de prova, por ser

procedimento especial e sumário (BRASIL, 1973).

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Figura 22- Procedimento de Dúvida no Registro de Imóveis Fonte: Elaborado pelo autor (2008).

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Decorrido o prazo estipulado, apresentada ou não a impugnação, os autos serão

remetidos ao representante do Ministério Público que atuará como fiscal da lei emitindo

parecer no prazo de dez dias, sendo a sua intervenção obrigatória, pelo art. 200 da Lei

6.018/73, sob pena de nulidade; após isso, retornará os autos ao Juízo competente para

prolação de sentença, ficando a prenotação suspensa até final da solução, conforme o art. 198

e seguintes, da Lei 6.015/73 (COSTA, 2006).

De acordo com Jacomino (2007) a dúvida devolve ao juiz o tema da registrabilidade,

cabendo a ele decidir se o procedimento da dúvida é ou não procedente. Sendo assim, a

procedência da dúvida é a confirmação da denegação do registro ou dos óbices opostos ao

registro dele. A não-procedência da dúvida significa que o registrador deverá realizar o

registro.

Se após julgada, a dúvida for considerada procedente, os documentos serão restituídos

à parte, independentemente de translado, dando-se ciência da decisão ao oficial, para que a

consigne no Protocolo e cancele a prenotação. Com base nesta sentença, se houver

irresignação por parte do interessado com a decisão de primeiro grau, este tem a possibilidade

de, dentro do prazo regulamentar de 15 dias, opor recurso de apelação ao órgão competente,

que será recebida nos efeitos devolutivo e suspensivo (COSTA, 2006).

O oficial de registro imobiliário, por sua vez, não pode interpor recurso de apelação

contra a sentença que dirimiu a dúvida, por falta de legitimidade legal. Sendo assim, o oficial

procederá ao processamento do recurso, cuja saída é o provimento ou não-provimento do

recurso. Se o recurso for provido, o registro será feito; se não, mais uma vez se encerra essa

etapa administrativa relacionada ao registro. Se o interessado não recorrer da sentença, esse

processo se encerra, e o registro não será feito (JACOMINO, 2007).

Já no caso de decisão judicial de dúvida improcedente, o interessado apresentará, de

novo, os seus documentos, com o respectivo mandado, ou certidão da sentença, que ficarão

arquivados, para que, desde logo, se proceda ao registro, declarando o oficial o fato na coluna

de anotações do Protocolo (BRASIL, 1973).

A decorrência de uma decisão no processamento de dúvida pela improcedência

acarreta a realização do registro sem mais delongas, mesmo porque, conforme já explicitado,

o prazo da prenotação prorroga-se até a decisão final desse procedimento, que não

necessariamente se esgota aí, já que no âmbito administrativo, existe ainda o procedimento

recursal, sem mencionar as hipóteses jurisdicionais (JACOMINO, 2007).

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4.1.2.3.3 Dúvida inversa

É aquela em que, na área de Registro de Imóveis, o apresentante ou interessado, não se

conformando com as exigências que negam o registro do que pretende, requer sua instauração

diretamente ao Juiz Diretor do Foro. Pode ocorrer, dentre outros casos, naquele em que o

Registrador de Imóveis se recusa até mesmo em protocolar o título sob a alegação de não ser

o Oficial competente para a execução do registro pretendido (NOVAES, 2005).

Em ocorrendo o procedimento da dúvida inversa, o Juiz competente encaminhará o

expediente ao Oficial de Registro de Imóveis para que imediatamente protocole o título e, no

prazo de 15 dias, apresente suas razões para o indeferimento do registro. Esse prazo não se

encontra de forma textual na legislação aplicável a espécie, justificando-se, porém sua

concessão uma vez ser ele também conferido ao interessado no registro para a apresentação

da impugnação das aludidas razões, conforme art. 198, inciso III, da Lei 6.015/73.

4.1.2.4 Averbação da penhora

De acordo com a Lei de Registros públicos, no artigo 188, depois de protocolizado o

título, estando o imóvel devidamente matriculado, não havendo nenhum óbice, proceder-se-á,

em regra, ao registro na serventia da circunscrição (área de abrangência) em que estiver o

imóvel, imediatamente ou dentro de trinta dias, contados da data em que o título ingressou na

serventia, ou no caso de documento em exigência, após a reapresentação do título ou

atendimento da exigência, quando o título nem chega a ser retirado na serventia.

Nesta etapa procede-se à indicação e lançamento dos atos e à execução do

registro/averbação na respectiva matrícula do imóvel. A representação gráfica deste processo

pode ser visualizada na Figura 23.

Figura 23 - Execução da Averbação de Penhora no Registro de Imóveis Fonte: Elaborado pelo autor (2008).

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Se a averbação for para o cancelamento da Penhora, este só poderá ser procedido por

força de sentença definitiva e transitada em julgado. O documento hábil é a certidão de

sentença extraída nas mesmas condições do registro da Penhora, pelo escrivão do processo, e

será lançado na mesma folha de matrícula (BALBINO FILHO, 1978).

Na indicação dos atos para lançamento, algumas serventias utilizam um bloco de

anotações denominado “papeleta”, em que são especificados os atos que deverão ser lançados

referentes aquele registro/averbação. Essa papeleta permite ao serventuário responsável a

indicação de todos os atos que devem ser atrelados ao referido registro/averbação. Esta

papeleta também serve de apoio para o lançamento dos atos no sistema informatizado, quando

este não é feito pelo mesmo serventuário que fez a indicação dos respectivos atos. Em outras

serventias, o lançamento dos atos ocorre diretamente pelo serventuário que faz a indicação

dos atos. Neste caso, indicação e lançamento dos atos ocorrem de forma simultânea,

inexistindo neste caso a necessidade da referida papeleta.

O lançamento dos atos é um procedimento realizado para que, na restituição do título

ao apresentante, sejam especificados resumidamente todos os atos praticados, como forma de

informação ao interessado. Considerando que há um registro para cada ato, este procedimento

permite a identificação rigorosa de todos os assentos lançados na serventia, com o escopo de

noticiar o fato de ter sito levado a registro, a quem quer que tenha o título em mãos (DINIZ,

1992).

Após esta etapa, algumas serventias têm por procedimento a realização de fotocópia

de documentos específicos que consideram que necessitem de arquivamento. Este, porém, não

é um processo obrigatório, sendo uma salvaguarda do serventuário para lhe assegurar a posse

dos documentos originais entregues pelo apresentante na serventia, e a devolução das cópias

para o apresentante.

Lançados os atos, procede-se a elaboração da averbação; de acordo com a Lei de

Registros Públicos, no artigo 169, a averbação é feita pelo oficial da serventia em que constar

o assento à vista da carta de sentença, de mandado ou de petição acompanhada de certidão ou

documento legal e autêntico, e é redigida à margem do assento e, quando não houver espaço,

no livro corrente, com as notas e remissões recíprocas, que facilitem sua busca. Esta deve

indicar minuciosamente a sentença ou ato que a determinar.

Redigida a averbação, em sistema informatizado próprio, ou qualquer meio que a

serventia utilizar para tal finalidade, é feita uma conferência do texto redigido para evitar

quaisquer equívocos ou inconsistências na penhora averbada (ou cancelada) na matrícula

oficial (Livro n.2). Por este motivo, muitas serventias têm por procedimento a impressão da

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averbação digitada em uma folha comum, para que o conferente possa analisar o que foi

redigido, e se necessário, indicar correções no teor da averbação. Em outras serventias, esta

conferência é feita no próprio sistema, inexistindo esta etapa de impressão prévia da

averbação. Portanto, se detectada necessidade de correção, é feita a reedição da averbação.

Conferida a digitação e pronta para sua inserção na respectiva matrícula do imóvel,

deve ser localizada a referida matrícula no (Livro n.2) e retirada para executar a respectiva

averbação. Os livros contidos nas serventias são o seu mais importante patrimônio, o que

torna este procedimento de suma importância no fluxo que está sendo explicitado neste

trabalho. Por isso, antes da inserção de novas averbações ou registros, algumas serventias

mantêm um sistema de conferências múltiplas, onde o mesmo título é analisado mais de uma

vez por serventuários diferentes, prevenindo possíveis erros que possam comprometer a

veracidade e precisão dos elementos contidos na averbação; posicionada a averbação na parte

específica da matrícula, logo após o último registro/averbação, ou em uma nova folha – se a

anterior já estiver toda preenchida, é feita impressão da averbação na matrícula do imóvel

(Livro n. 2). Se mesmo após a inserção da nova averbação na matrícula original do imóvel

forem detectados erros, ou se houver algum problema operacional na impressão que danifique

a matrícula, o serventuário deverá proceder à reconstituição do documento, processo que não

será explicitado neste trabalho.

Inserida a averbação na matrícula, deve haver a assinatura do oficial de registro titular

(ou seu preposto), atestando sua realização. Algumas serventias também incluem a assinatura

do serventuário que realizou a conferência do texto da averbação, como forma de

identificação de quem realizou esta etapa.

Após a assinatura do serventuário responsável no final da averbação na respectiva

matrícula do imóvel a Penhora é considerada como averbada, e já deverá constar no Protocolo

Oficial (Livro n.1) na coluna de anotações como realizada. A escrituração do protocolo (Livro

n.1) é de responsabilidade do oficial titular, substituto legal ou por escrevente auxiliar

designado por estes mediante autorização judicial. Tal protocolo oficial é encerrado

diariamente, por termo assinado e datado pelo oficial habilitado, no final do expediente, para

assegurar as prioridades decorrentes da prenotação nesse Livro dos títulos apresentados a

registro. Tal protocolo também possui termo diário de encerramento, que menciona o número

de títulos protocolados.

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4.1.2.5 Arquivamento de documentação

A Lei que regulamenta o artigo 236 da Constituição, de no 8.935/2004 - artigo 41,

orienta que os oficiais de registro devem praticar todos os atos previstos em Lei para a

organização e execução dos serviços cartoriais, podendo, ainda, adotar sistemas de

computação, microfilmagem, disco ótico e outros meios de reprodução. A mesma Lei diz

prevê no artigo 42 que os papéis referentes aos serviços dos oficiais de registro serão

arquivados mediante utilização de processos que facilitem as buscas.

Neste sentido, de acordo com o código de normas estabelecidas em cada Estado, as

serventias têm a possibilidade de aperfeiçoar a forma de arquivamento dos documentos que

transitam diariamente pelos seus limites, utilizando-se, sobretudo, de alternativas digitais.

A Figura 24 representa a realidade das serventias que fazem fotocópia de todo material

e arquivam os documentos originalmente entregues em arquivos próprios, devolvendo as

cópias aos apresentantes. Já outras serventias, como as que foram visitadas, possuem sistemas

informatizados e equipamentos que permitem a digitalização dos documentos apresentados e

dos demais que vão sendo produzidos dentro da serventia referente ao registro/averbação

solicitada.

Figura 24 - Arquivamento de Documentação no Registro de Imóveis Fonte: Elaborado pelo autor (2008).

Estes sistemas possibilitam o arquivamento digital da documentação, e sua consulta

diretamente pelo sistema informatizado, além de diminuir ou inutilizar a necessidade de

cópias da documentação. Neste caso toda a documentação originalmente entregue é devolvida

ao apresentante quando se tratar de exigência. Existem ainda serventias que utilizam opções

sistemas de microfilmagem e armazenamento e reprodução de documentos por meio de discos

ópticos. Há muitos casos de serventias que adotam mais de um processo de armazenamento,

seja por medida de segurança, ou por inexistência de previsão legal para a adoção de arquivos

digitais em sua totalidade.

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É importante ressaltar o que está previsto no artigo 46 da referida Lei 8.935/1994 que

diz que os livros, fichas, documentos, papéis, microfilmes e sistemas de computação deverão

permanecer sempre sob a guarda e responsabilidade do titular de serviço de registro, que

zelará por sua ordem, segurança e conservação, sendo esta previsão legal aderente com a

proposta de domínio tecnológico defendida neste trabalho.

Dessa forma, é nesta etapa que a serventia faz o arquivamento físico e/ou digital dos

documentos entregues e produzidos no processo de execução da averbação de Penhora,

retendo os documentos que devem ser guardados na serventia e encaminhando o que será

entregue ou enviado ao apresentante.

4.1.2.6 Entrega da documentação

Após a execução da averbação e o devido arquivamento dos documentos, o título

recepcionado estará à disposição do apresentante para sua retirada na serventia, momento em

que serão especificados os atos praticados e feitos os devidos acertos financeiros, bem como

devolvidos outros documentos que não serão arquivados pela serventia ou cópias dos que

ficaram arquivados. A dinâmica desse processo pode ser visualizada na Figura 25.

Figura 25 - Entrega/Encaminhamento de Documentação Averbada Fonte: Elaborado pelo autor (2008).

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Requisição

Execução

Resposta

Registro de Imóveis

Apresentante Apresentação de

documentação na serventia

Registro de Imóveis

Averbação na respectiva matrícula

Apresentante Registro de Imóveis

Entrega documentação comprobatória do ato

Nos casos em que o título é enviado ao Judiciário (para a respectiva Vara), seja por

serviço de entrega própria ou por serviço postal, grande parte das serventias tem por

procedimento noticiar o fato através de ofício. Existem casos também em que a serventia

envia uma cópia sem valor de certidão junto com este ofício. Outras serventias emitem e

encaminham uma certidão (da matrícula) comprobatória do ato junto com o ofício. Outras não

enviam nenhuma comprovação. O fato é que a serventia deve realizar o que foi solicitado no

documento (ofício, mandado ou certidão) recebido, mas não existe um padrão específico de

como a realização desta execução ser noticiada externamente ao poder público.

4.1.3 Estrutura do fluxo de dados

A apresentação do fluxo de atividades e tarefas realizadas no processo de averbação de

penhora de imóveis foi complementada por um levantamento das informações utilizadas no

decorrer da execução do fluxo, com a finalidade de evidenciar os modelos de documentos

utilizados, cujo formato e conteúdo são orientados por legislação específica. Conforme já

explicitado na descrição do processo este fluxo ocorre entre o apresentante (aqui incluso o

Poder Judiciário) da documentação, e o registro de imóveis e vice versa. A Figura 26

representa essa dinâmica.

Figura 26 - Representação do fluxo de dados entre os participantes do processo de averbação de penhora Fonte: Elaborado pelo autor (2008)

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A partir da coleta de registros em documentos nas organizações visitadas, foi possível

realizar o detalhamento do conteúdo padrão dos modelos analisados, resultando nas

informações apresentadas pelos Quadros 5 e 6.

Quadro 5 - Fluxo de dados enviados pelo apresentante/interessado para o registro de imóveis

Documento Dados

Certidão/Mandado

de Penhora e

Intimação

Numero dos Autos; Tipo de Ação; Identificação Exeqüente; Identificação

Executado; valor do débito; data do cálculo; bens; observações; destinatário;

texto mandado; identificação digitador; identificação conferente; data;

identificação do escrivão/juiz; assinatura do escrivão/juiz.

Auto/Termo de

Penhora, Avaliação

e Depósito

Data de cumprimento do mandado; indicação de autos processuais; indicação

exeqüente; indicação executado; descrição dos Bens Penhorados; informação

de no de matrícula do bem e do respectivo ofício imobiliário em que o bem está

registrado; texto auto; Avaliação do Bem (valor dos bens); certidão de

intimação do executado; assinatura executado; assinatura cônjuge (se

houver/couber); assinatura oficial de justiça (para intimação); indicação do fiel

depositário (nome e endereço); assinatura depositário; assinatura cônjuge (se

houver/couber); assinatura oficial de justiça (para depósito).

Ofício Timbre Poder Judiciário; Identificação Poder Público (endereço, e-mail);

número do oficio, data, numero do processo, identificação Exeqüente,

Identificação Executado; indicação do ato (assunto); informação de no de

matrícula do bem; texto ofício; identificação do ofício imobiliário em que o

bem está registrado (endereço); indicação do destinatário (oficial de registro);

indicação do código de rastreamento da ECT (quando enviado via correio);

identificação do servidor; assinatura do servidor.

Sentença Timbre Poder Judiciário; Identificação Poder Público (endereço, e-mail); texto

relatório (nome das partes, suma do pedido, suma da resposta do réu, registro

das principais ocorrências do processo); texto fundamentos; texto dispositivo;

data; identificação do magistrado; assinatura do magistrado.

Fonte: Elaborado pelo autor (2008).

O Quadro 5 detalha os dados contidos nos formulários encaminhados pelo

apresentante para a serventia de registro de imóveis, enquanto o quadro 6 especifica os dados

dos documentos gerados no fluxo inverso.

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Quadro 6 - Fluxo de dados enviados do registro de imóveis para o apresentante/interessado.

Documento Características

Recibo Protocolo PROTOCOLO: Dados Gerais Serventia (nome, endereço, telefones, e-mail,

registrador titular); número do protocolo de registro; data de entrada; hora de

entrada; forma de recebimento (correio, oficial de justiça, balcão);

identificação apresentante (nome, e-mail); identificação favorecido;

identificação atendente; observações; indicação de atos (nome do ato,

quantidade, matrícula e valor); valor do depósito prévio; valor total; indicação

de data de reapresentação (títulos em exigência); data para confirmação de

qualificação de documento; nome apresentante; assinatura apresentante; código

de barras (número do protocolo); data de entrega do título.

RECIBO: Dados Gerais Serventia (nome, endereço, telefones, e-mail,

registrador titular); número do recibo; nome do depositante; valor depositado;

número do protocolo de recibo; data; identificação oficial de registro; indicação

do fluxo dos atos (protocolo anexo; guia-FRJ; exame inicial; exame final;

transferência matrícula mãe).

Nota de Devolução Identificação Serventia (endereço, e-mail, oficial titular); número do oficio;

data; número do protocolo de referência; identificação destinatário (nome,

endereço, comarca, etc); numero do documento de referência recebido (ofício,

autos, mandado); texto exigência/duvida; identificação oficial de registro;

assinatura oficial de registro.

Ofício Identificação Serventia (endereço, e-mail, oficial titular, prepostos, etc);

Identificação Poder Público (nome do destinatário, função, endereço, e-mail);

número do oficio, data, número do protocolo; numero do documento de

referência recebido (ofício, processo, autos); identificação destinatário (nome,

endereço, comarca, etc); texto ofício; identificação oficial de registro;

assinatura do oficial de registro.

Matrícula LIVRO 2 REGISTRO GERAL - Cabeçalho Serventia (nome da serventia,

estado, comarca, oficial titular, substituto legal, escrevente substituto);

identificação do livro; data de criação ou traslado; dados do transmitente, ou

devedor, ou adquirente ou credor (nome, domicílio, nacionalidade, pessoa

física ou jurídica); título da transmissão ou do ônus; forma do título,

procedência e caracterização; valor do contrato, da coisa, ou da dívida, prazo

desta, condições e especificações.

MATRÍCULA - número de ordem, número da folha; identificação do imóvel

(rural ou urbano); identificação proprietário (nome, domicílio, nacionalidade);

número do registro anterior.

Resumo dos Atos

Praticados

Dados Serventia (nome, oficial titular), atos praticados, especificação de custas

e emolumentos, numero protocolo, data do registro/averbação; assinatura

oficial.

Fonte: Elaborado pelo autor (2008).

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5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA

De acordo com Santos (2007) a análise crítica dos modelos de processos deve resultar

em uma listagem de pontos entendidos enquanto problemas e oportunidades de melhoria que

devem ser tratados de forma adequada. A identificação destes problemas pode ser facilitada se

o processo for bem entendido.

Tendo em vista o fluxo evidenciado e as possibilidades de aperfeiçoamento da

sistemática atual, bem como as alternativas advindas do quadro teórico explicitado, no que

tange ao desenvolvimento de novas aplicações aportadas na CRSEC, cabe agora um

detalhamento da estrutura proposta para integração dos diversos participantes do processo de

averbação da penhora de imóveis, e das particularidades que envolvem este processo, dentro

do desafio da propositura de uma nova sistemática.

Tal proposta estará amparada no desenvolvimento da aplicação de serviço denominada

Averbação Eletrônica de Penhora. Embora a nomenclatura possa não ser a mais atraente sob

uma perspectiva mercadológica, já que existem iniciativas em curso para o desenvolvimento

da Penhora On Line, o estudo ora realizado aponta que o termo proposto neste estudo tende a

ser o mais adequado pela consideração dos seguintes aspectos:

1. A proposta aqui apresentada versa sobre o aperfeiçoamento do cumprimento da

resolução exprimida pelo artigo 659, § 4 do Código de Processo Civil (Lei 5869/1973), que

orienta a averbação em ofício imobiliário da contrição de bem imóvel previamente realizada,

como forma dar publicidade ao cumprimento da determinação judicial de penhora do bem.

Portanto, a aplicação não pretende abordar a constrição do bem em si, mas sim sua averbação

no respectivo registro de imóveis, o que atende a finalidade de dar publicidade ao ato, e

conseqüente garantia de conhecimento de terceiros da existência da constrição no imóvel.

2. A proposta também pretende abordar a sistemática procedimental entre os

participantes detectados no fluxo do processo, não tendo a intenção, pelo menos neste

momento, de propor uma reavaliação procedimental detalhada ou profunda de qualquer um

dos participantes do processo que se integrarão a aplicação, exceto naquilo que for necessário

para a viabilidade técnica da nova situação que aqui será proposta.

3. Levando-se em consideração que o processo de averbação da penhora, ou do seu

cancelamento, depende de uma análise qualificadora por parte do ofício imobiliário das

informações ou documentos apresentados pelo poder público ou pelo interessado, não faria

sentido o uso do termo “on line”, que exprime uma transação que remete à prestação de

serviço ou informação em tempo real, o que não se aplica a esta proposta.

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CRSEC

AAvveerrbbaaççããoo EElleettrrôônniiccaa

ddee PPeennhhoorraa

5.1 PROPOSTA DA AVERBAÇÃO ELETRÔNICA DE PENHORA DE IMÓVEIS.

Tendo em vista os fatos acima apresentados, serão delineadas proposições sugestivas

para a sistemática procedimental e informacional que será adotada na Averbação Eletrônica

de Penhora de Imóveis, sendo esta uma aplicação da CRSEC, conforme proposta de Costa;

De Rolt; Dias (2008), cujos atores envolvidos estão identificados na Figura 27.

Figura 27 – Participantes envolvidos no processo de averbação eletrônica de imóveis da CRSEC Fonte: Adaptado de Costa et al (2008)

A figura 27 remete aos principais atores do processo de Averbação Eletrônica,

identificados na pesquisa como os participantes do fluxo da Averbação Eletrônica, que estão

classificados em quatro grupos: Poder Judiciário; Usuários; Serventias Extrajudiciais; e a

Central Registral de Serviços Eletrônicos Compartilhados – CRSEC. Estes grupos, por sua

vez, assumem papéis distintos neste modelo.

O primeiro grupo é composto pelo Poder Judiciário nos seus diversos níveis e

subdivisões. Estes são os requisitantes do serviço de averbação eletrônica, tanto para a

determinação da averbação da penhora, como para a averbação do cancelamento dessa

constrição.

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O segundo grupo, composto pelos usuários, inclui as partes definidas pelo CPC, nos

artigos 566 e 567, a saber: (a) credor; (b) Ministério Público; (c) o espólio, herdeiro ou

sucessores do credor; (d) cessionário; (e) sub-rogado. A definição de permissão para acesso

destas partes no referido processo que as inclua será definido pelo status de exeqüente no

referido processo de execução.

O terceiro grupo, representado pela CRSEC, disponibilizando a estrutura tecnológica

adequada para oferecer aplicações de serviço para o Poder Judiciário, usuários e Serventias,

para a utilização da Averbação Eletrônica de Penhora, além de fornecer aplicações estruturais

que atenderão aos requisitos de segurança e eficiência operacional para os serviços

disponibilizados por ela.

O quarto grupo, composto pelas serventias extrajudiciais que detém a atribuição de

averbar o ato realizado pelo Poder Judiciário, bem como armazenar os documentos gerados,

facilitar consultas, emitir certidões, entre outros serviços que são de sua responsabilidade.

Aqui também estão incluídas as organizações fornecedoras de sistemas para as serventias, que

a partir do atendimento de requisitos definidos pela CRSEC, poderão se adequar seus sistemas

e se integrar à Central.

5.1.1 Sistemática proposta para o funcionamento da Averbação Eletrônica de Penhora

Conforme já explicitado, é somente o Poder judiciário que tem a capacidade de

promover uma execução forçada a pedido do credor, com base no inadimplemento de um

devedor, que não satisfez uma obrigação certa, líquida e exigível consubstanciada em título

executivo (ASSIS, 2002).

Assim, a partir do requerimento da execução por parte do credor, na forma como

solicita o Código de Processo Civil, art. 614 e 615, o Poder Judiciário assume o papel de

mediador para a resolução do inadimplemento, intimando o devedor para que cumpra sua

obrigação dentro dos prazos estipulados, e a partir do não cumprimento, penhorando tantos

bens quanto necessário para o pagamento da dívida, mais despesas processuais.

No que diz respeito à aplicação de serviço proposta neste trabalho, deve ser analisado

o artigo 659, § 4, do código de Processo Civil, que orienta a necessidade de averbação da

constrição realizada no respectivo Registro de Imóveis, mediante certidão de inteiro teor do

ato (independente de mandado judicial), sendo dever do exeqüente o requerimento deste

serviço. Ora, conforme já é conhecido, o Judiciário não é exeqüente de qualquer processo

executivo. Como então considerá-lo como o requisitante deste serviço na CRSEC?

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Ocorre que um dos desafios deste trabalho é a proposição de uma sistemática que

resulte em maior celeridade e eficiência operacional ao processo executivo, inserindo

tecnologias digitais para a troca das informações entre os diversos atores deste processo.

Sendo assim, a primeira consideração sugerida nesta pesquisa para a consecução deste

objetivo é que o encaminhamento da solicitação de realização da devida averbação da

realização da Penhora de Bem Imóvel (ou do seu cancelamento), no respectivo ofício

imobiliário, seja feito diretamente pelo Poder Judiciário, em detrimento da sistemática atual,

que ainda exige a intermediação do exeqüente na tarefa de apresentar na respectiva serventia a

documentação produzida pelo Judiciário. O esquema ilustrativo desta nova dinâmica pode ser

visualizado na Figura 28.

Figura 28 – Esquema representativo do processo de averbação eletrônica de penhora de imóveis Fonte: Elaborado pelo autor (2008).

Poder Judiciário

Requisição

Execução

Registro de Imóveis

Registro de Imóveis Averbação na respectiva

matrícula

Envio de documento eletrônico por meio de Canais e Portas de Integração

CCRRSSEECC

Resposta

CCRRSSEECC

Requisição eletrônica por meio de Canais e Portas de Serviço

Poder Judiciário Registro de Imóveis

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Dentro dessa proposta, não haverá mais necessidade, por parte do exeqüente, de

solicitar no respectivo juízo, a certidão de inteiro teor do ato para apresentação na serventia, já

que os dados contidos neste documento seriam informados diretamente à CRSEC pelo Poder

Judiciário, através de portas e canais de serviço, e a CRSEC por sua vez as repassaria à

serventia indicada, para que esta tome as devidas providências, averbando na respectiva

matrícula do imóvel, a constrição realizada. Dessa forma, se extingue a necessidade de

apresentação do documento judicial, em sua forma física, na locação da serventia, já que esta

receberia e responderia todas as requisições por meio de canais e portas de integração

disponibilizadas pela CRSEC para as serventias.

A sistemática proposta contempla o uso das aplicações estruturais fornecidas pela

CRSEC para adoção de uma sistemática segura para o uso de tecnologias digitais para acesso

e interconexão de sistemas, organização e intercâmbio de informações, documento eletrônico

seguro, requisitos de infra-estrutura apontados pela ICP-Brasil e os padrões de

interoperabilidade e-PING definidos pelo governo federal.

A situação descrita na Figura 28 propõe um fluxo de execução do processo, com

requisição eletrônica partindo diretamente do Poder Judiciário, através de autenticação por

meio de certificado emitido por autoridade certificadora ICP Brasil, sendo encaminhada para

a CRSEC por meio de requisição eletrônica datada por sistema de carimbo do tempo; a

CRSEC por sua vez recebe as requisições e as distribui para as respectivas serventias de

registro de imóveis; na serventia o respectivo oficial (ou responsável) se autentica no sistema,

recebe e acessa as requisições, valendo para efeitos de prenotação este recebimento, que é

informado à CRSEC por meio de notificação eletrônica; a serventia de registro de imóveis

executa a respectiva averbação, seguindo o fluxo já evidenciado neste trabalho; por fim, para

comprovação do ato, a serventia registro de imóveis notifica a realização da averbação e

disponibiliza uma certidão comprobatória do ato assinada digitalmente; a CRSEC notifica o

Poder Judiciário da realização da averbação, e disponibiliza a certidão comprobatória para

acesso e download.

A parte interessada na realização da averbação, representada na Figura 27 pelos

usuários, terá a possibilidade de acompanhar o andamento do processo por meio de

autenticação no Portal de Serviços e informações disponibilizado pela CRSEC. Considerando

que a parte interessada não terá mais a necessidade de apresentar a documentação diretamente

na serventia, os respectivos emolumentos serão calculados pela CRSEC de acordo com tabela

divulgada pelos tribunais de justiça, e o usuário será notificado para que proceda ao

pagamento. A continuidade do processo estará condicionada à confirmação do pagamento,

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Usuários

Consulta

Pagamento

Pagamento de Custas e Emolumentos referentes à

averbação eletrônica

CCRRSSEECC

Consulta por meio de Portal de Serviços e Informações

Usuários

CCRRSSEECC

Resposta

Usuários

CCRRSSEECC

Envio de Notificação informando os dados da

Averbação Eletrônica realizada

exceto nos processos de execução fiscal e trabalhista, em que tal valor ficará pendente para

pagamento na liberação do imóvel ou liquidação da ação. Um esquema ilustrativo dessa

dinâmica pode ser visualizado na Figura 29.

Figura 29 – Esquema representativo do processo de averbação eletrônica de penhora de imóveis Fonte: Elaborado pelo autor (2008).

A partir da explicitação dos fundamentos da proposta de utilização desta nova

sistemática, são disponibilizadas diferentes alternativas para a utilização ou integração dos

participantes às aplicações da CRSEC, respeitando o grau de maturidade tecnológica de cada

um dos seus elos, e oportunizando a utilização das aplicações disponibilizadas pela CRSEC

de forma gradativa.

Estes cenários são introduzidos neste trabalho, com a finalidade de oportunizar a

utilização das aplicações da CRSEC por todos os seus participantes, bem como possibilitar a

utilização dos seus serviços em escala crescente, mesmo antes de se alcançar uma situação de

integração ideal de todos os seus participantes à situação pretendida, que seja a transferência

total do processo físico para o eletrônico.

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Os cenários de integração, portanto, tem a finalidade de analisar as possibilidades de

integração dos participantes do processo à CRSEC, considerando as diferentes estruturas

tecnológicas e sistemas informatizados utilizados pelos atores deste processo, bem como as

possibilidades mais adequadas para cada uma das situações analisadas.

As aplicações de acesso à averbação eletrônica de penhora seguirão as premissas de

acesso definidas pela CRSEC, que assegura a criação e especificação de canais e portas de

serviços para o Poder Judiciário e para os demais perfis de usuários; e de canais e portas de

integração para as serventias de registro de imóveis. Além dessas alternativas, as aplicações

da CRSEC também serão disponibilizadas no portal de serviços e informações, o que

permitirá a utilização desta sistemática por seus participantes sem haja a necessidade de

desenvolvimento de um sistema dedicado para tal fim.

A criação dos canais e portas de serviço deverá possibilitar a troca de informações

eletrônicas enviadas do Poder Judiciário para a CRSEC, com a especificação das informações

solicitadas pela Lei de Registros Públicos, possibilitando o recebimento das requisições com

dados qualificados, o que diminuiria sobremaneira a ocorrência de óbices para a averbação

das contrições, e conseqüentemente a garantia de realização de um número muito superior de

averbações em menor tempo.

A especificação dos canais e portas de integração deve atender às serventias, que

poderão receber as requisições por meio eletrônico enviadas diretamente pela CRSEC no

ambiente informatizado que utilizam em suas serventias. Nesta situação, os próprios sistemas

informatizados das serventias já receberiam as requisições, incluindo-as e atrelando-as ao

fluxo de serviços realizados pelas serventias, gerando um registro histórico de toda a

movimentação de forma integrada e produção de informações aos seus usuários.

Para tanto, será necessária a criação de uma estrutura que permita a troca de

informações entre sistemas aplicativos diferentes, através de rotinas de transferência de

arquivos, mensagens eletrônicas padronizadas, e especialmente a adoção da linguagem XML

– Extensible Markup Language, de forma a criar padrões para troca de dados e documentos

entre transações e sistemas, além de criar uma estrutura de gerenciamento eletrônico de

documentos incorporando o XML como instrumento que viabiliza a troca de dados de fluxos

de trabalho.

Os órgãos do poder judiciário, poder público, e serventias que não possuam sistemas

legados, ou infra-estrutura tecnológica que os permita uma integração direta dos seus sistemas

contarão com desenvolvimento de uma estrutura no portal de serviços e informações da

CRSEC que permita a utilização da estrutura tecnológica da averbação eletrônica de penhora

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a partir de um sistema hospedado no próprio portal. De acordo com perfis de acesso pré-

definidos, todos os participantes poderão utilizar diferentes portas, requisitando os serviços,

respondendo as solicitações e obtendo todas as informações necessárias de forma flexível e

segura, sempre com o uso de certificados digitais ICP-Brasil.

O portal de serviços e informações da CRSEC também será o canal de acesso dos

usuários, por meio de navegadores da internet com autenticação através de certificados

digitais, em que o usuário terá acesso ao serviço cuja parte interessada seja ele, consultando as

informações do seu andamento, bem como interagindo com ele naquilo que for autorizado e

necessário para garantir a prática do ato, além de poder utilizar outros serviços

disponibilizados pela CRSEC, como por exemplo, o pedido da certidão digital da matrícula

em que foi averbada a respectiva penhora.

Finalmente, a partir da definição dos principais participantes do fluxo do processo

averbação eletrônica de penhora de imóveis, e das possibilidades de utilização e integração

disponibilizadas pela CRSEC para uso dessa aplicação, faz-se necessária a especificação do

fluxo de execução da situação pretendida, promovendo o redesenho do processo

anteriormente descrito, com a especificação das situações que o processo pode assumir de

acordo com as regras do processo de negócio já evidenciadas nesta pesquisa.

5.1.2 Redesenho do fluxo do processo de averbação de penhora para implantação da proposta

De acordo com Santos (2007), o redesenho de processos é o ponto central das

aplicações da Gestão de Processos. Nesta tarefa são incorporadas, em modelos da situação

futura, as definições sobre a forma de gestão e execução dos processos.

A questão central repousa na documentação dos modelos de processos que detectem

soluções para os problemas da situação atual ou ofereçam oportunidades de melhorias,

servindo assim como referência para a implantação das mudanças que vão materializar a

evolução da organização. Sendo assim, a definição dos pontos que serão alterados na situação

atual, para a situação pretendida têm importância para clarificar as mudanças que impactarão

os envolvidos nos processos (SANTOS, 2007).

De acordo com Santos et al (2002) para a implantação de sistemas de fluxos de

trabalho (workflow) é necessário que sejam identificados e, idealmente, redesenhados os

processos de negócios. Nestes projetos, a maior parte do tempo é gasto no levantamento e

redesenho dos processos e o restante na implantação, propriamente dita, do sistema. Caso uma

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organização já tenha passado pela primeira fase, os esforços para a implantação destes

sistemas serão bastante reduzidos.

Baseado nesse entendimento, o estudo buscou a definição dos diagramas do fluxo de

execução que devem ser adotados numa possível transformação da sistemática atual. Para esta

finalidade, continuará sendo utilizada a notação BPMN, conforme definição metodológica

para esta pesquisa. A modelagem leva em consideração os papéis principais dos participantes

do processo da aplicação proposta, conforme evidenciado na Figura 27, explicitando as

diferentes possibilidades que o processo pode assumir e a sua respectiva modelagem.

O principal objetivo da construção destes modelos é que eles possam ser capturados,

salvos e utilizados para as fases seguintes do projeto de desenvolvimento da aplicação de

serviço aqui proposta, fornecendo suporte para que os analistas de negócio e de sistemas

formulem o projeto técnico do desenvolvimento e implementação da solução, procedendo por

fim à sua produtação.

Conforme pode ser visto no capítulo de apresentação dos dados coletados nas

serventias estudadas, o processo de averbação de penhora pode assume fluxos diferentes de

acordo com quatro critérios básicos: 1. Forma de apresentação e do documento judicial à

serventia; 2. Forma de envio das respostas emitidas pela serventia ao apresentante; 3. Tipo de

execução judicial e; 4. Resultado da qualificação registral.

O primeiro critério remonta às diferentes possibilidades detectadas para apresentação

do documento judicial na respectiva serventia, que na sistemática estudada pode ocorrer

diretamente no balcão da serventia por parte do interessado ou seu representante, ou pode ser

enviado diretamente pelo Poder Judiciário, através do serviço postal, serviço de entrega ou

por oficial de justiça.

Esta diferença entre procedimentos será suplantada através do envio de todas as

requisições em meio eletrônico partindo do Poder Judiciário para a CRSEC, que por sua vez

as repassará para a respectiva serventia respeitando a mesma ordem de recebimento. Sendo

assim, deixa de existir a diferença de forma de apresentação e de perfil de apresentante,

considerando que as requisições serão enviadas por meio eletrônico partindo do respectivo

tribunal que está julgando a questão.

O segundo critério remonta as possibilidades de entrega/envio das notas de devolução,

certidões comprobatórias, recibos, entre outros. Na situação atual detectada, não foi possível

definir um padrão para esta entrega/envio, já que algumas serventias disponibilizam a

documentação para o apresentante na própria serventia, outros a encaminham pelo correio,

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outros usam serviços de entrega, e em alguns casos é utilizado um tipo de entrega/envio para

cada situação.

Esta diversidade de procedimentos também será resolvida, considerando que todas as

comunicações e documentos enviados ou entregues para o poder judiciário ou interessado

serão feitos em meio eletrônico, com a utilização de tecnologias digitais seguras. Todos os

documentos eletrônicos remetidos pela serventia serão repassados à CRSEC, que notificará o

respectivo participante da existência de um novo registro no processo de seu interesse, e

disponibilizará as informações necessárias por meio da porta de serviço definida, ou do portal

de serviços e informações.

É importante ressaltar que em todos os processos que envolvem a transferência de

documentos eletrônicos entre os participantes, o Sistema de Averbação Eletrônica de Penhora

de Imóveis acessará diversas aplicações estruturais da CRSEC. A Figura 30 aponta as

principais aplicações estruturais que serão utilizadas no sistema de averbação eletrônica de

Penhora.

Figura 30 - Aplicações estruturais utilizadas pela Averbação Eletrônica de Penhora Fonte: Elaborado pelo autor (2008).

CRSEC

APLICAÇÕES ESTRUTURAIS

Carimbo do Tempo

Assinatura Digital

Autoridade Certificadora

Autoridade de Carimbo do Tempo

Protocolo Eletrônico Registral

Notificação Eletrônica Registral

CRSEC

APLICAÇÃO DE SERVIÇO

Averbação Eletrônica de Penhora

...

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O Carimbo do Tempo será utilizado para garantir a tempestividade das notificações de

envio e entrega de documentos. Da mesma maneira, a assinatura digital adotada será realizada

a partir de componentes padronizados, desenvolvidos com base no padrão de assinatura

digital brasileira, determinado pela ICP-Brasil. As aplicações estruturais de Autoridade

Certificadora (AC), Autoridade de Carimbo do Tempo (ACT), e outras, como Protocolo

Eletrônico Registral e Notificação Eletrônica Registral também estarão integradas ao sistema

proposto.

Quanto ao terceiro critério, relacionado ao tipo de execução judicial, conforme já

explicitado neste estudo, os processos de execução fiscal e trabalhista gozam de privilégios

legais no que diz respeito à cobrança de emolumentos no ato de apresentação do documento

judicial. Estas particularidades serão respeitadas pela nova sistemática, que não condicionará

a continuidade do fluxo do processo ao depósito prévio de emolumentos para estes casos.

Nestes casos será registrando o valor dos serviços prestados, que serão cobrados na liquidação

da execução. Nos demais tipos de execução, o fluxo estará condicionado ao pagamento dos

respectivos emolumentos para prosseguir para a respectiva serventia.

Finalmente, o quarto critério considera uma das etapas mais importantes da função

registral, que é a qualificação dos documentos apresentados. No modelo proposto, esta etapa

continuará fazendo parte da execução do processo e o comportamento do fluxo estará

condicionado à avaliação emitida nesta atividade, em que serão informados o interessado e o

Poder Judiciário, por meio da CRSEC, da existência de óbices à prática do ato, bem como das

informações e procedimentos adotados no procedimento de dúvida registral.

Considerando que os dois últimos critérios apresentam restrições ao fluxo, foram

definidas quatro situações principais que serão demonstradas através de diagramas

representativos:

1. Averbação de penhora na execução fiscal e trabalhista sem nota de devolução;

2. Averbação de penhora nos demais tipos de execução sem nota de devolução;

3. Averbação de penhora na execução fiscal e trabalhista com nota de devolução;

4. Averbação de penhora nos demais tipos de execução com nota de devolução.

Tais situações foram apontadas após a análise das particularidades do processo

estudado, que revelaram a dinâmica de atividades e eventos organizados em seqüência lógica

de execução. O fluxo para cada uma dessas situações pode ser visualizado nas Figuras 31, 32,

33 e 34.

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Figura 31 – Fluxo da Averbação Eletrônica na execução fiscal e trabalhista sem de nota de devolução.

Fonte: elaborado pelo autor (2008).

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Figura 32 – Fluxo da Averbação Eletrônica nos demais tipos de execução sem de nota de devolução. Fonte: elaborado pelo autor (2008).

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Figura 33 – Fluxo da Averbação Eletrônica na execução fiscal e trabalhista com de nota de devolução. Fonte: elaborado pelo autor (2008).

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Figura 34 – Fluxo da Averbação Eletrônica nos demais tipos de execução com nota de devolução. Fonte: elaborado pelo autor (2008).

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No fluxo apontado na Figura 31, o Poder Judiciário acessa o sistema de averbação

eletrônica de penhora, que tanto pode ser um sistema próprio integrado a uma porta de serviço

específica, ou a utilização do portal de serviços e informações da CRSEC. Em ambas as

situações o padrão da interface será provido pela CRSEC, ocorrendo por meio de um conjunto

de mensagens XML de requisições e respostas.

Nesta situação pode-se perceber que, após o recebimento ou geração da requisição

pela CRSEC, são calculados os emolumentos previstos de acordo com tabela de custas

divulgadas pelas Corregedorias Estaduais. No entanto, conforme já dito, para esses

procedimentos judiciais não são recolhidos previamente os emolumentos, sendo calculados e

depois comunicados ao magistrado para integração no cálculo final do processo. Portanto,

nesta situação, o pagamento antecipado dos emolumentos não é condição para a continuidade

do fluxo, diferentemente do que é visualizado no fluxo seguinte.

O fluxo da Figura 32 difere do que foi representado na figura anterior em dois pontos

principais: a exigência de pagamento prévio de emolumentos como condição para execução

da averbação; e a autorização e liberação da requisição somente após confirmação deste

pagamento. Sendo assim, após o recebimento da requisição pelo sistema de averbação

eletrônica de penhora de imóveis da CRSEC, a Central envia a requisição para a respectiva

serventia, que calcula o valor dos emolumentos e envia um protocolo eletrônico para a

CRSEC, contendo as informações do cadastro da requisição eletrônica, bem como a

quantidade prevista para pagamento por parte do usuário.

A forma de pagamento será definida pela administração da CRSEC, e a compensação

destes valores para as serventias deverá ser processada por um sistema de controladoria

eletrônica que ainda está passível de desenvolvimento. Somente após a confirmação deste

pagamento é que a CRSEC autoriza, via sistema, a liberação para que a respectiva serventia

de registro de imóveis execute a respectiva requisição eletrônica.

A Figura 33 ilustra a dinâmica da terceira situação apontada, em que nos processos de

execução fiscal ou trabalhista, são detectadas exigências para a execução da averbação e por

conseqüência, emitida nota de devolução. Semelhantemente ao que ocorre na primeira

situação, há cálculo de emolumentos, porém, o seu pagamento é postergado para o cálculo

final do processo, não sendo exigido recolhimento prévio do valor, sendo liberada a

requisição para ser executada.

Nesta situação, porém, encontramos um fator impeditivo para a execução da

requisição, que é o resultado negativo para a qualificação registral, realizada na respectiva

serventia. Não podendo o processo prosseguir sem o atendimento da restrição detectada, fica

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este pendente de continuidade, dependendo para isto da reapresentação de nova requisição,

dentro do mesmo número de protocolo, se este estiver dentro período de prenotação válido

para a requisição.

Finalmente, a Figura 34 ilustra a última situação definida nesta pesquisa, que é a

requisição referente aos demais tipos de execução, com ocorrência de devolução. Tal

diagrama ilustra a requisição de averbação eletrônica de penhora de imóveis nos demais tipos

de execução, em que está prevista a cobrança prévia de emolumentos, sendo que os

procedimentos para recolhimento do valor será a mesma explicitada na segunda situação.

Nesta situação, porém, após a qualificação da requisição são apontados óbices à

prática do ato de averbação, o que resulta na elaboração de nota de devolução, informação que

será encaminhada ou disponibilizada ao usuário e ao Poder Judiciário. A continuidade do

processo, portanto, fica condicionado ao atendimento das exigências levantadas pela

serventia, e repassadas à CRSEC. A reapresentação da requisição deverá partir novamente do

Poder Judiciário, que emitirá nova solicitação, que será atrelada ao mesmo protocolo gerado

anteriormente, desde que a reapresentação se faça dentro do período de prenotação.

Em todos os fluxos apontados a autenticação no sistema ocorrerá por meio de

certificados digitais ICP-Brasil, e a autenticidade e integridade dos documentos enviados será

atendida por técnicas criptográficas contidas na assinatura digital. A âncora temporal que

fornecerá a evidência da existência dos documentos em determinado instante do tempo será

disponibilizada pelo sistema de carimbo do tempo, já em funcionamento na CRSEC, e

recentemente normatizado por norma da ICP-Brasil, que especifica que a datação fornecida

pelo carimbo do tempo registral estará atrelada a uma autoridade de carimbo do tempo, que é

estabelecida por entidade confiável, que possa ser auditada e que apresente relógio de alta

precisão e confiabilidade atrelado à hora oficial brasileira.

É importante salientar que na sistemática aqui proposta, o processamento das

requisições respeitará o princípio da prioridade que garante a precedência do registro sobre

qualquer direito real elencado, o que será garantido pelo recebimento e encaminhamento da

requisição em tempo real pela CRSEC à respectiva serventia, gerando sua prenotação.

Por fim, esta proposta considera que deverá existir uma atuação permanente da

CRSEC, junto aos órgãos regulamentadores dos serviços públicos delegados e entidades

representativas das serventias de registro de imóveis no sentido aprimoramento contínuo dos

serviços oferecidos, adequação da legislação que regula o uso de documentos eletrônicos às

novas tecnologias existentes para a área, e capacitação para o uso da nova sistemática em

larga escala por todos os seus interessados.

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6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A busca por novas alternativas estratégicas na gestão das organizações tem sido a

atividade balizadora de diversos estudos científicos na prática da administração. Isso pode ser

entendido por diversos fatores ligados a transformações ocorridas nos últimos anos no cenário

mundial no que diz respeito à tecnologia da informação.

Inseridas neste cenário que requer um ajuste constante às mudanças do mundo

externo, as organizações precisam adaptar-se para responder às mudanças na velocidade

esperada. Por isso, as organizações estão cada vez mais interessadas em conhecer mais

detalhadamente o negócio que executam, com a utilização de tecnologias de gestão, para que

possam gerenciá-lo de forma apropriada (ARAUJO et al, 2004).

Em uma ambiente de mudanças aceleradas, onde as organizações têm o desafio de

aprimorar-se continuamente, novas formas de organização empresarial têm surgido em

resposta à crescente competitividade em que as organizações estão submetidas (WEGNER et

al, 2004).

Evidentemente que o processo de desenvolvimento da sociedade tem criado novas

demandas que nem sempre conseguem ser correspondidas na mesma velocidade pelas

organizações, entre as quais estão inseridas as serventias. Por este motivo são necessários

novos modelos de gestão para que as organizações utilizem o desenvolvimento tecnológico e

científico a fim atender as demandas atuais e preparar as bases para novas demandas que

certamente existirão (COSTA; DE ROLT; DIAS, 2008).

Além disso, é necessária uma redefinição da natureza da tecnologia, uma mudança de

sua direção e uma reavaliação do seu sistema subjacente de valores, para que seja possível a

criação de tecnologias que promovam a resolução de conflitos, os acordos sociais, a

cooperação, a reciclagem e a redistribuição de riqueza (CAPRA, 1982).

A modernização dos Serviços de Registro Público representa um conjunto de desafios

constituídos pela complexidade dos sistemas, especificidades regionais de cada especialidade,

necessidade permanente de investimentos em infra-estrutura, capacitação e modernização

tecnológica. A superação destes desafios depende em primeiro lugar de capacidade de gestão,

ou seja, da estruturação da rede para atuação cooperada em seu esforço de modernização.

A solução para este quadro, portanto, demanda um esforço cooperado que possa fazer

com que todas as serventias sejam inseridas e possam apresentar à sociedade uma resposta

adequada. Sem este esforço cooperado qualquer iniciativa apresentaria um tempo de

desenvolvimento extenso e custo proibitivo, inviabilizando a inserção de grande parte das

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serventias que não apresenta capacidade econômica suficiente para investimento desta

magnitude.

Atendendo a esta premissa, a inserção de novas tecnologias digitais como a

certificação digital, protocolos criptográficos seguros, carimbo do tempo, canais seguros para

tráfego de dados, dentre outras aplicações oferecem a possibilidade de transformação dos

processos e serviços prestados pelas serventias.

Tais tecnologias têm permeado as ações de modernização dos SRP, mobilizando uma

rede de entidades que apresentam competências complementares para o desenvolvimento,

implantação e manutenção de serviços inovadores.

Para que o desenvolvimento da infra-estrutura necessária seja acelerado, diversas

alianças e convênios têm sido firmados com atores públicos e privados, sendo que o sucesso

destas iniciativas está atrelado à existência de um planejamento adequado, utilizando estudos

desenvolvidos em centros de pesquisa, de reconhecida capacidade.

É neste contexto que se inseriu o presente documento, que focalizou a investigação

detalhada do funcionamento de um dos serviços prestados pelas serventias de registro de

imóveis, a averbação da penhora de bens imóveis, utilizando metodologia adequada para

estudo da situação atual do processo, e a proposição de uma nova sistemática de prestação

deste serviço, tendo como referencial teórico a estratégia de modernização dos serviços de

Registro Público definida por De Rolt; Dias; Custódio (2007).

A condução deste estudo foi realizada a luz dos objetivos propostos, cabendo,

portanto, recuperá-los neste momento para reflexão sobre os resultados alcançados. Quanto

aos objetivos específicos, considera-se que foram atingidos, pois:

a) A arquitetura de funcionamento e desenvolvimento da CRSEC foi apresentada,

sendo esta central fundamentada por um modelo de gestão definido por De Rolt; Dias; Costa

(2008), que utiliza os conceitos de organizações virtuais e serviços compartilhados para a

coordenação das ações de modernização dos SRP. Tal abordagem serviu como embasamento

norteador para a adequação da proposta de pesquisa ao quadro teórico relacionado.

b) O levantamento dos processos de negócio existentes no serviço de averbação de

penhora de imóveis foi realizado por meio das técnicas de coleta de dados definidas no

capítulo metodológico, e a partir do estudo das fontes de evidência coletadas nas organizações

visitadas. Dessa forma, foi possível ter uma compreensão sistêmica do processo, favorecendo

a análise e a proposição de uma nova dinâmica operacional para o processo.

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c) Foram definidas técnicas e ferramentas metodológicas para a modelagem e análise

dos processos, sendo adotado o uso de software específico com o padrão de representação

BPMN, o que permitiu a compreensão da sistemática e sua posterior redefinição.

d) O mapeamento, modelagem e criação de diagramas dos processos de negócio foram

realizados, dando suporte para o entendimento da situação atual e projeção da situação

pretendida.

e) A proposta final foi desenvolvida, promovendo a transformação dos processos

estudados, de forma a adequá-los à uma nova dinâmica de prestação do serviço de averbação

de penhora de bens imóveis com o uso de tecnologias digitais.

O atendimento aos objetivos específicos definidos conduz ao objetivo geral

estabelecido, de forma que a pesquisa efetivamente contribuiu estruturação do processo de

averbação de Penhora de Bens Imóveis para sua integração com as aplicações da Central

Registral de Serviços Eletrônicos Compartilhados (CRSEC).

Entretanto, o presente estudo não teve a expectativa de esgotar o assunto ou privilegiar

a sistemática proposta em detrimento de outras, considerando que este relatório reflete uma

pesquisa de caráter acadêmico, que intenciona fomentar o debate acerca de novas alternativas

para a modernização dos serviços de registro público, especificamente no processo de

averbação de penhora de imóveis, atendendo a uma demanda social em torno da necessidade

de modernização dos serviços públicos delegados.

Desdobramentos práticos deste estudo já têm sido verificados no ambiente de atuação

das serventias. Em junho de 2009 entrará em funcionamento o primeiro sistema eletrônico de

penhora de Imóveis, denominado Penhora on line, desenvolvido pela Associação de

Registradores Imobiliários de São Paulo (ARISP).

Tal sistema será disponibilizado gratuitamente para utilização do Tribunal de Justiça

de São Paulo, abrangidos todas as Varas, Juízos e Ofícios Judiciais, e para todos os

registradores de imóveis do Estado de São Paulo. O aplicativo pretende integrar num mesmo

aplicativo as solicitações de averbação da penhora de imóveis em qualquer uma das serventias

integradas, por meio de tecnologia semelhante ao que já é utilizada no sistema de Ofício

Eletrônico.

Se por um lado o sistema de ofício eletrônico trouxe ganhos significativos para a

justiça brasileira, no sentido de conferir maior celeridade e eficiência às diligências realizadas

pelo poder judiciário para a localização de bens imóveis penhoráveis em nome do devedor, o

sistema de registro eletrônico de penhora de imóveis poderá conferir a este serviço o mesmo

caráter inovador do primeiro, disponibilizando uma solução alinhada com as novas

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possibilidades oferecidas pela tecnologia da informação e comunicação, na tarefa delegada

aos registradores de imóveis de revestir de publicidade registral o ato constritivo realizado,

garantindo o direito de preferência ao credor, e a presunção do ato a terceiros adquirentes do

imóvel.

Os ganhos advindos do desenvolvimento de soluções como o sistema de Penhora on

line tendem a ser muito significativos, pois geram impactos diretos na agregação de valor ao

serviço prestado. Alguns desses atributos podem ser citados como: desmaterialização de

processos, celeridade de procedimentos, racionalização de recursos, inovação tecnológica dos

envolvidos, garantia da segurança das transações eletrônicas, praticidade de uso e acesso às

novas tecnologias, modernização dos serviços de caráter público, desenvolvimento da

economia digital, dentre outros aspectos.

Sendo assim, a consolidação do presente estudo, que se pautou pela compreensão e

análise detalhada de um serviço de grande relevância para a sociedade brasileira, com base

técnica adequada, intenta contribuir para a aderência dos serviços de registro público às

iniciativas resultantes de seu projeto de modernização em curso, focalizando o atendimento

das demandas sociais e organizacionais para esta área.

Espera-se ainda que os resultados deste documento sejam úteis para o

desenvolvimento de novos serviços e aplicações, além de servir como referencial no intuito de

regular e integrar o uso de novos sistemas aplicativos.

Seria de grande valia o desenvolvimento de novos estudos na mesma temática, que

fossem complementares a proposta realizada, aprofundando a nova sistemática sugerida,

sobretudo sob uma perspectiva mais técnica, definindo os padrões e requisitos da aplicação,

dos canais e portas de serviço e integração para os participantes, o uso das aplicações

tecnológicas de forma segura, culminando no desenvolvimento de um protótipo que poderia

ser avaliado e aperfeiçoado pelos usuários para posterior implantação em larga escala no

Brasil.

Por fim, espera-se que os novos estudos e iniciativas provenientes dessa pesquisa

possam contribuir para o desenvolvimento qualitativo e quantitativo dos serviços públicos do

Brasil, impactando, sobretudo, na desburocratização de uma gama de processos legais e

administrativos essenciais para a população como um todo, e trazendo ganhos reais para a

sociedade, através do aperfeiçoamento da gestão de suas instituições e organizações.

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8 GLOSSÁRIO

Averbação - averbações são referências que se inserem à margem dos registros ou matrículas,

de atos, de fatos ou julgados, que declarem, esclareçam, atribuam, modifiquem ou extingam

direitos matriculados ou registrados.

BPMN – Business Process Management Notation (BPMN) é uma proposta da BPMI

(Business Process Management Initiative) que apresenta um conjunto de convenções gráficas

para descrever processos de negócio.

CRSEC – A Central Registral de Serviços Eletrônicos Compartilhados, é uma iniciativa das

entidades representativas dos cartórios extrajudiciais de registro cujo objetivo principal é, por

meio da complementaridade de competências entre diversas organizações e atores,

desenvolver um modelo integrado de gestão de serviços de Registro Público com uso intenso

de tecnologias de informação e gestão.

Organizações virtuais – rede temporária de organizações independentes, ligadas pela

tecnologia da informação, e que em sua forma mais pura se ligam a outras para formar uma

cooperação, contribuindo apenas com o que considerar sua competência central (BYRNE,

1993).

Penhora - a penhora é um ato do processo de execução, por meio do qual o Estado-juiz

invade o patrimônio do devedor e procede à individualização de quantos bens forem

necessários para a satisfação do crédito exeqüendo (SILVA, 2002)

Processo - O processo é um conjunto de atividades seqüenciais (conectadas), relacionadas e

lógicas que tomam um input com um fornecedor, acrescentam valor a este e produzem um

output para um consumidor (HARRINGTON, 1993)

Processos de negócio – processos que caracterizam a atuação da organização e que são

suportados por outros processos internos, resultando no produto ou serviço que é recebido por

um usuário externo (GONÇALVES, 2000b).

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Registro público - assento efetuado por um oficial público e constante de livros públicos, do

livre conhecimento, direto ou indireto, por todos os interessados, no qual se atestam fatos

jurídicos conformes com a lei e referentes a uma pessoa ou a uma coisa, fatos entre si

conectados pela referência a um assento considerado principal, de modo a assegurar o

conhecimento por terceiros da respectiva situação jurídica, e do qual a lei faz derivar, como

efeitos mínimos, a presunção do seu conhecimento e a capacidade probatória (ALMEIDA,

1966 apud MELO, 2004).

Serviços compartilhados – prática organizacional em que unidades estratégicas de negócios

da mesma organização e/ou de organizações distintas compartilham um conjunto de serviços

ao invés de tê-los como uma série de funções duplicadas (QUINN; COOKE; KRIS, 2000

apud RAMOS, 2004)

Serventias extrajudiciais de registro de imóveis – instituições que realizam o registro e a

averbação dos títulos ou atos constitutivos, declaratórios, translativos e extintivos de direitos

reais sobre imóveis reconhecidos em lei para sua completa eficácia e validade reconhecida

contra terceiros

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