modelos hermenêuticos do direito - por miguel reale

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    M6delo~;::t I~~[i~~~yti~OSj' .dQi:DiteifQ'

    . . . E ;~ t~be~~c ic l& ' a Ii ( )~ i i6 i~ r~ lc le ( ) r4~~~~~ tohridico comeo,tlia(!to~odelo normativ()ql,1~cp;~unsCreveeregula a experien-gi:;J,jlll1clica.diretaou indiretamente relacionada com0Estado,emb6ran.ao coincidente coni este, cabe ao jurista nao s6 inter-p~~tci-locomo compreende-lo mediante modelos cientificos oudolltrihanos.

    ,J:)~sgeaforma\!iiQdo Direito Moderno, sobretudo a partird~Sa:vi~Y, tornOu-s~.co1:rentea distincao entre 0Direito como"sist~Ill~de n0l'IIlas:~1~,.a(a:es(!entoeu, para prevenir-nos con-tr,a oforrnali~Ino racionalist~)e de ,"situacoes normadas", deumla.d~~e~d()()~tr(),()I)ir~itocom~ d0tltrina ou forma de co-nlJ.eci~ento.daq\lelesisteina:.e o que 0 mesmo Sayigny deno-minava' DireitoCi~ntifico.- ... - '. --.' ' .

    ....Ant~sde' ~~~ -nada,~q.ll1p:re.lembrar que essa distincaodeveser entendida cum granpsalis, is~e,coIllodevido crite-ri()emedida.~porquanto ja,tiveopoIiunidage.de salientar ain,.tima.impli(!ar;ao que existe entre aexperiencia social e 0

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    conjunto de conceitos te6ricos mediante os quais e ela captadae criadoramente objetivada em estruturascognoscitivas.E claro, pois, que nao se estrutura nem se concebe 0orde-namentojuridico sem se lancar mao de elementos teoricos, tala correlacao que existe, notadamente no mundo cultural en-tre a realidade subjacente e seus sfmbolos expressionais.o fato e , porem, que uma vez objet ivado 0 ordenamentojurfdico, gracas ao poder nomotetico e ordenador do espfrito,nao se deve esquecer que ele surge como base e instrumento dea~ao ou de conduta, tornando~sen)orconseguinte, necessariorecebe-lo e interpreta-lo parainferirsuas consequencias prati-cas, na Iinha ou proje~ao de cadafbntede direitc( .Cada norma, elementonucleardo ordenamento (e 0 quese diz dela pode ser dito. dele) poe-se como uma diretrizprescritiva de organizacao ou de conduta, como algo, pois, de

    valido e objetivamente eficaz, constituilldocornoque uma pla-taforma, a partir do qual os sujeitos dediteito podem formarsuas pretensoes e formular suasexigsncias. 0direito, em sen-tida subjetivo, pressupoe, como e not6rio, a direito objet~vo,'0qual, concomitantsmente, circunscreve e assegUraaseitititu-lar determinado campo de pretensoes e exigibi1idades~dadaanatureza bilateral-atrfbutiva dasnormas jiindicas,colIlolongamente exponho em minha Filosofiado Direito:

    Pais bern, em virtude deser posta pela normajurldicauma "siruacao jurfdica", as diretrizes par ela postas e'estabelecidas adquirem urn sentido d()gniatico,naacep~iio queeste adjetivo possuina CienciaJurfdica, Se em Teologia:dogmae tuna assertive insuscetivel de discussao, nos domfnios doDireitodogma e uma prescricao qUE!;salvo vfcio' denulidade,nao pods, in limine, deixar de ser con:sideradaimperativa~ Dafa denominacao de Dogmatics JUrfdica dada-a Ciericia doDi-reito no momento culminante em que ela elabora jufzos apar-tirdo sistema de norm as em vigor ..

    Pelo que foi exposto nos Capftulos anteriores, ja ficamossabendo que essas normas 'prescritivas somentepodem seremanadas pelasfontes de direito, e, como tais, sao dotadasds10 6

    forc;a'cogen:te;oque corresponde a ..caracteristica de' coercibi-lidade-do-direito.Ora;aqualificaC;ao, pormim feita.danormajurtdica comouma proposicao "bilateral atributiva", considerando ..a.outrcs-sim, "coercivel", sao enunciadosque naoPQssu~mforaobriga-t6ria. 'Irata-se de afirmacoes de.ordem teQPcaou cielltifica,sendo.tcomotais, suscetiveis.dreflltgc;.o;Ela.s.ha,o.p()ss\l~m,por conseguin te, cara ter prescri ti v(};

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    Pois bern, osmodelos de direito.de caraten hermeneutico,se tern em comum urn papel cientifico-doutrin~Q,distribtiem-se, todavia.em diversos tip6s, de conformidade: comque pas-SaIJ10S averificar.

    MOdelosherm:eneuticosd~ : D i r e i t o decaratermetodo16gic(} ..Observe-sa, desdeIogo, quenem tudo noplan~ hermeneuticco da experiencia juridica sesitua na categoriade "modelehernienetItico",pois a interpreta~aodo Direitopode: ser feita

    tambem em virtude de pdricipios, eenunciadosque nao che-gam a se revestir de caracteristicosestruturais; sem osquais,nao ha que falar em modelo.. . . '.Alem disaorque nemtodosos processes metodologicos deinvestigacao do Direito Obietivo'conatituem "modelosjurfdico-hermeneuticos", propriamente ditos.porquarito; por.exemplo;os metodosdedutivos e analogicos, de queo .juristase servepara' conipreensao das normas.jurfdicas, nao diferemd()s .se-guides pelos demais cientistas no estudo daexperienciaemger~tl.Nao ha,em suma, tim metodo de inferencia.dedudvatipi-camente juridico tao-somentepelo fatode versar sobre mate"riajurfdica: sob esse prisma,a Epistemologiajurfdica.coincidecorn 0 esc1areeidoe exposto naEpistemologia CDmOeoria ge-ral dos processos de conhecimento.

    Isto nao obstante; ha normasou.diretrizes.de interprets ..ao que se constituemespecificamenteem razao.do.Direito,isto e,quEl se configuramcomo decorrencia dese.inseriremnosquadros do ordenamentojurfdico;o qualcondiciona a atitudee0. processo de conhecimento do pesquisadorvpor sinal que emcorrslacao com aestrutura historico-culturalna qualvigora.osistema e atua quem oestuda:E dessa correlacao essencial entteato hermeneuticoees-trutura do. ordenamentootie, em.um: estudo.realizado.signifi-cat ivamente em homenagem ao saudosoamigo.Luis.Recasens10 8

    Simes, eIl11974, ousei falar em "hermeneutica juridica estru-tural"50. . ' .., Passoareportar-me, com naturals a:tlIa1iza~6es, a parteessencial desse escrito, pois dificilmente poderiaexpressar-me

    melhor, Nele me contraponho a duas orienta:6es'metodoI6gicas,a meu ver inadmissiveis: uma voltadaapenas paraomomentogenetico e originario das fontes do direito; uma outraempe-nhadaemapresentar a norma jurfdica tao-somenteem'funcaode fatdse valores supervenientes, .Compreendido 0ordenamentojurfdico; digo eu, como umatotalidade organics em' perene dinamismo,: e'.reconliecfdocso-bretud6,a luz da filosofia fenomeI1016gica~ que todo produtohistorico-cultural albergaummotivoe urn sentido queconsubstanciam uma intencionalidade, cumpre reconhecer 0

    . absurdodeuma opcaoentre dois sentidosque saocomplemen-tares: 0 proposito inicial da lei deve ser analisado em necessa-ria cOITela~a()com a sua possivel adequacaoa valores e fatessupervenientas. '.. .. Destarte, alterada a visao da experiencianormativa, quedeixoudecorresponder a mera estrutura 16gico-{ohruil, paraser entendida em termos reirospectioos de (antes e 'prospectiuosde rnodelos,. isto e, em razao de uma estrutura hist6rica con-creta,o problema hermeneutico deve passar a ser resolvido,partindo-se do.pressuposto de que toda norma jurfdica e :. a) ummodelo operacional que tipifica uma ordem de com-petencia, ou disciplina uma classe de comportamentospossiveis;

    b) devendo ser interpretado no conjunto do ordenamentojurfdico;c) a partir dos fatos e valores que, originariamente, 0cons-tituiram.Cumpre ponderar, outrossim, que"a luz dessa compreen-sap globalizante ou estrutural, deve 0jurista procurar atender

    50, Cf. 0 meu estudo "Para uma hermeneutica.jurfdica estrutural", depoisimiertoemEstudos de Filosofia e Giencia doDireito, Saraiva, 1978, pags, 72e segs.

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    tambsm as muta~Cies e i,mp:r:~vi~~osdavid~social, utilizancl()c'se da elasticidade, ineren te a todo modelo jurfdico, panl,a ~,,~.~,,'.,'adequada atualiz~w~o,cab~ndo.,se, outrossim, naoaqandonaros valores essel1.Ciaisde seguranca e decerlezq, que foraIIlPo!'i~tos 13m risco P~19Sa~~:,t(l~~;r-se:uw empe-nho fun,qarnentaimellte. ~tico,' gra~as. a{)s"IIlQq~iqs.hep:neneu-ticos?.e+igidos pela Ciencia, -Iurfdicaem sllata,refade modela-gem ~tica da experiencia. . . ' . . ...E/arazao pela qual.poco ..v~niapar~ rematar estaspaginas,recordando as seguintes diretrizesque;limeuver,constituemnotasdisfintivas da que denomino interpretcir;iio esirutural:a) A interpretaeao das normas juridicas temsempre ca-rateranittirio, deuendo suas dioersasformaeser consi-defiidasriwmentos neceeearios de umaunidadede com-'preeneiio (Unidade do processo hermeneutico).b)'lbda interpretadio juridica e de natureza axiologica,ist6a{pressupoea valoracao objetivada nas proposi-~6esnoTInativas(Ncitureza axiol6gica do ate interpre-tatiuo).c) ' lbdairite:r:preta~aojuridica da-se necessariamente numcontexte, isto e , em funcao da estrutura global do orde-namento(Natureza integrada do ato interpretatiuo).d)NEilhhtrinairitel"preta~ao jurfdica pode extrapolar a es-

    trutura objetiva resultante da significacao unitaria eeo#gfuente dos modelos juridicos positives (Limite ob- .

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    ainda que' a" suag~riesepossarevelara.preseri~a>: d efatores aI6gi_cos'(Natureid'raci6iiril'dOCtdiiiferj)tei\ .;tativoj. . ". . .' . '.. ' '.' ' .....;-g) A 'interpretacao dosIhOdel?s jllrfdicos naopode obede-cera puroscriteriosda L6gica formal~rierii se'redus aUllla anaIiseliriguistidf,deveildodesenvolVei"seseguri"do'exig~:r lCiasda rozao hist6r'icaeritehdida's;:omo'tazaO .problematic a ottco:rijetur'aJ (PtobiemdticismberazoabiZidade do processo hermeneutico);, '.

    h) Sempreque for.possfvel concilia-lo comasnormas 'su-perioresdo ordenamento; devs preservar-searexistenecia do modele juridico (Natufeza~conomic(ldbpro(:es~'so hermeneutico). '. .i) Entrevarias interpretacoes possfveis, optar, por aque-laque mais corresponds aos valores eticbs da pessoa eda convivencia soeiaL(Destina~ao etica do proceesointerpretatioo).j) Compreensao.da interpretacao como elementoconsti-tutivo davisao globa] do mundo eclavida, em cujas~oordenadasse situa 0 quadro twrmatilJqolJjeto dae~eg~s~ CgZobaliciade,de sentido d()pros~ssohftneneutico) .., . ,'., . . < . . . . . . . . . . , . :Eis. afdez"model()s heI'Illen~utic()s. do Diteitd'g~:earatermetocio16gico,'que ~ao~'cQItipt~en~~u ~enaoem f~Il~aoee'mrazao daexperie~e~~Juridic~ .............. .'.. .. ....Naome parece ~ertoafiJ:inarqu~'l:H:nri~~etlt;ic

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    tendidos alguns problemasbasilEites,exatamehteporqtie elessomente poderiam s e rm e t ho r 'c o r ii p r' ee n d i dbS' er h h i v ~ rp : fe dd ; ;;minantemente axiol6gico,como agorapretehdO faze"lo'., 'E que essepostuladoda,razao pt~tic()-jtindicalegitima-se com base ria necessidade~dasOBreVivelicii:idas'eciniurudadesinterna'ejht~rnaci()l1al, '0 que irnpliea.a .iislenciadeurnaor-dem ju#disa is~Iita.a finald~coiltradi~()es.A.hem ver,apre~servallii()4as comunidades n.ii.oesenao tonseqii~ncia da~ueleque p{)d~IIlosconsiderar onodeio~tico~jUrid.i20suI>rell1:0'.Cluee 0 valor incondicionado d(J,pessoa humtuia ~om6 vator-font~de todos osvalores.' . ..,.E'nverdade, se .cada homem vale .colllo unient~ iritdngI~vel, a ideia de aesociacao universal entre iguais',Hvtesdecon-flitos e deinsanaveis contradicoes, pde-se iinpe~ativarnente,no plano interno e no internacional. Dessarte, nao pode deixarde serpostula.do 0 imperativo de pacifica eordenaqacoIlyiven.:cia, sobl~ena de ter-se de admitir 0 ahsurdo

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    Nao se pense, todavia, queosmodelos jurfdicos dotadosde prevalecente sentido axiol6gico planem apenas na B D i c i t s 'al tas instancias da vida do Direi to , porque, em todosos niveisdo ordenamento juridico, deparamo-noscoma necessidade de 'recorrer a regras e modelos d e natureza hernierieutica pararesolver questdes de ordem pratica, quere~ razao daobscuii-,dade: das nonnas de direito, quer em virtude de antin6miasentre elas, ou no caso especial de lacuna ou omissa.o 'da lel,questao que sera melhor examinada na sec~.oseg"UiIl~~. ..

    Alias, quando dizemos que a lei deve ser interpretada secgundo "seu espirito", e naoapenas por aquilo que ela verbal-men Iceenuncia, nao estamos afirmando outra coisa senao q U E : !o significado real dos modelas juridicos e 0 resultado de limprocesso hermeneutico, consubstanciado em proposicoes, e,modelos capazes de revelar-nos 0 valor ou a razao axiologica:do que e preceituado.Refiro-me ao papel da Hermeneutica -Iurfdicanas hipote-ses de obscuridade au antinomia de normas, mas 0recurso' aosmodelos hermeneuticos nao raro se impfie para U 1 n "balan-ceamento de valores" entre preceitos legais ouate mesfu()eri-tre os incisos de uma. mesma disposicao legal, como.se d 4 , p O l 'exemplo, quando da aplicacao do Art. 170 da Consti~Ui~ao de1988. Este mandamento declara,. con'comitantement e , ' que~aoprincipios gerais da ordem economica a livre conc0rI"@n~iae'a'defesa do consumidor, Pois bern, freqiientementeodi~ei1;o queo empresario tern de Iivremente produzir e vexlder ~rit: raemconflito com 0 direito do consumidor aojusto pre~o dasmerea-dorias, a salvo de lucros abusivos, de tal modo que cabe aoadministrador e sobretudo aojuizrealizar u r n "balanceamentode valores in concreto", a fim de que a nprma constitucionalpossa ser aplicada com equidade e sem contradicao,AMm do mais, a relevanciadoelemeIlwaxiol6gico acha-se consagrada emuma serie de brocardos,cujo valor nfro dev!ser d.esprezado s6 pelo fato de varies deles se terem.petrif ica-do, parecendo verdadeiros fosseis da experiencia juridica.116

    Carlos Maximiliano, com 0seu habitual equilfbrio, se con-dena grande numero de paremiasque por largo tempo domi-naram a praxe juridica, emperrando 0 progresso do Direito,nao deixa de reconhecer a atualidade de algumas delas=, Sao,geralmente,adagiOsdeconteudopredori lil iantemente axio-16gico, como, por exemp19;,pS$~g1IiI)..tes: ubi eadem ratio, ibieademdispositio (preservacao dacoerencia 16gicae da isonomiado sistema); non debe(c,lfipl4s,litet, ...ztpd.ntiijus gst.~on,licere(mais'um exemplo dQyalor da.liberddcle e(}lriQPre~~ll~o~to.daatividade lfcita); poenalia'sun,trestri~.g~~cla.:~i~d~tim~,~()r is~qiiencia do valor da liberdade, qtle1l.'~qpq~!.s.~I'r!strip,~giqa.porsan~6e~ penais genericas, on mellio!', sem t~piciQ.:3.d,nres":mo porqueoutro adagio proclama: indubioproiibertate);minimesunt mutanda, quae interpretationem. certam.semperhabuerunt (presuncao do acerto do juizo de valor.formuladouniformemente durante dilatados anos),'; Nenhum dessesedeoutrosadagios;toda\ria,.temum va-lorabsoluto; pois, como-adverteCarlos Maximiliano com rela-c ~ < ? a.ultirila 'paremia, 'iH;insemp~eotradiciorialinente obede-cidomerecesubsistir ante 0 adveIitode'novos valores revela-d()~pelo progresso jl,iridico, o q\ieveIItconfirmar a dialeticidadeaxiot6gicadaexperiendajurfditatambem, e notadamente sob

    " -"" , -." , ::._ ,_- '," ', ,- : . ';" __ : ':, ',:'_'- ., - - ,o prisrija' herin:en~utico .':....E:'e~sadiCl.letiGidi:tclede fundo axiol6gico que nos alertasobre opapel da L6gica Deontica, da Semi6tica ou da Infor-matica Juridicas no mundo do Direito. Ninguem de conheci-mentos atualizados negara a importancia dessas duas formasde investigacao para esclarecer-nos sobre a validade, 0sentidoe opoder de comunicacao dos modelos juridicos, bern como sa-bre 08respectivos liames; mas, por mais que possamos serelucidados do ponto de vista logico, semiol6gico, comunicativoe operacional, jamais poderemos olvidar 0 sentido instrumen-tal de tais estudos, que nao dispensam mas antes exigem para-

    53. cr . CARLOS MAXIMILIANO, Hermeneutica e Aplicaqdo do Direito, lO!ed., Rio de Ja.neiro, pags. 241.e segs.

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    digmas axiol6gicos, que representam, por.assim.dizersa almavivificadoradas norml:3.f;juridica~.5~,..: ...

    Modelos hermeneuticos supletivose complementares..Ja declarei que a plenitude do ordenamento juridico cons-titui umpostulado da razao pratico-jurfdica, cuja legitimidadeprocureiesclarecer, No Direito patrio, esse postulado eexpres~samenteconsagrado pelo Art. 4 2 da Lei de Introducao ao C6di-go Civil que estatui: "Quando a lei for omissa, 0juiz decidiraocaso de acordocom a analogia, os costumes e os principios ge"rais de direito", 0 que e reiterado pelo Art. 126 do C6digo de

    Processo Civil.E obvio que somente se pode falar em omissiio ou lacunaquando se admite que algo deveria ter sido enunciado . e nao 0foi, (Ique revela que, no espirito de nosso ordenamento jurfdi-co, este deve ser concebido como urn sistema desprovido de va-zios nonnativos. Se nao houvesse 0pressuposto da unidade doordenamento, pelo menos in fieri, isto e, de forma tendencial-mente sistematica, s6 caberia reconhecer a irrelevanciajuridi,ca do caso nao legalmente previsto, cabendo aojuiz tao-somen"te deeretar a carencia-da ac;ao,nao por nao teresta fundamen-to em leis, mas pelomotivo especifieo d.en,ao tersido a hip6te-se em apreco objeto de disposicao expressa.54. Sobre estudos de L6gica e de.Informatica Juridicas, l~mbro 0 Co16quiorealizado em Florence, promovido por MARIO LOSANO, pelo "ConsiglioNazionale delle Ricerche", no corrente ana de 1994, conform~ a rela~ao dascomunicacnes organizada por C.BARGELLINI eS. BINAZZIsobo titulo "llconvsgno in breve -A glance at the .Conference";Floren~a,1993, ,C P In im-portantes estudos, de autorta; entre outros, de LUIGI LOMBARDIVILLAVRI, ANTONIO. CAMMELLI,JOOS A. BREuKER, N E v y T O N A .DA COSTA e ROBERTO J. VERNENGO. ........................ ...

    Quanto aos riscos dasteoriasque fazem ab~tra~a{)doconteudo histdrico-axioU~gic~doDireito, vide NELSON SALDANHA,o Te,o!ogiaaMet6dologia,Belo Horizonte, 1993, eOrdem e Hermeneutica, Rio de Janeiro; 1992.118

    Por ser; ao contrario, pressuposta a possibilidade de en-contrar-sesempre umasolucao paratodo e qualquer caso, a leidetermina-que 0juiz naose abstenha desentenciar a pretextode ohscuridade ou omissao, mas antes deve procurar a solucaoadequada, reeorrendo a analogia, aocostume e aos principiosgerais de direito. Cumpre-lhe, par conseguinte, no si lencio ouausencia de urn modele juridico tipicamentaadequado afattispecie, construir urn modelo hermeneutico, COInOojuiz terncompetencia e poder para decidir, e sua deeisaoobtigaas par-tes, o que surge, a bern ver, nesse contexto, e tltnniod"elojurtdi-co hermeneutico, comoconteiido da fonte jurisdicional.Analisemos 0que se contem no.Iembrado Art. 42, ciqual deinfcio, se refere a analogia, que tanto pods set analogid kgiscomo analogia iuris. A complementacao do ordenamento juri-died mediante reeurso a uma outra disposicao legal analoga,com base em raz5es de semelhanca ou identidadede fins (ubieadem ratio, ibi eadem dispositio), e , ameu ver, sinal de que 0Direito patrio acolhe e consagra a tese da plenitude sistematicadomacromodelo doordenamento. Parece-macom efeito, que ainvoca.Ca?da norma analoga s6tern sentido a partir doreconhe-cimento da unidade logico-axiologicado sistema global no qual.aquelanorma se insere. Sem esse pressuposto, a aplicacao danorma analoga nao teria legitimidade, por seraleatoria eatomisticamente invocada. Sendo ela, ao contrario, um ele-mente ou elo do ordenamento, passamos a estarperante urnprocesso de integracao de seus elementos constitutivos, Da-se,assim, uma auto-integraciio "interne corporis" do sistema.o mesmo se diga quanta ao recurso aos usos e costumespara. superar as. omissoesda lei. Por sinal que essa referenciaaos costumes so se explica pelo inveterado apego aos modelosIegais, pois as normas consuetudinarias sao tambem modelosjuridicos,de tal modo que, se elas disciplinam 0 assunto empauta, nao ha que falar em lacuna do ordenamento.A invocacao da regra costumeira e mais uma forma deauto-integracao do sistema geral, 0 que dernonstra que este,na viaao dolegislador.ja contem meios de sanaromiss6es, dadaa complementaridade das fontes do direito. Quando, porern,

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    estas nao contenham.normas ou modelos .adequadosa especie,nao ha. outrorem~diosenao'recoiTer aprincfpiosgerais, . .. A esta altura, poe-se urnproblema que nemsempre ternmerecido a atencao dos tratadistas. Eque deve havenuma or-dem preferencialnQ que tange ao empregodeprincipios ge~rais, os quais podemtanto set pertinentesao ordenamentoju-rfdico patrio como resultar do Direito Comparado, istoe, .deum confronto entre os principios gerais que presidem 0nossoeos ordenamentos alienigenas, ,', .'.: . ..Ora, 0 recurso as Ideias gerais diretoras de macromodelosjuridicos de outros paises s6 pode ocorrer em duaship6teses: aupara. referee da interpretacao dada a modelos juriclioo::;de nossosistema, em virtude da coin,cidencia com o pensado .alhures eIIicasos iguais au analogos (casas em que 0 Direito Comparadoatua. como modelo hermeneutico); ou, entao, para p:reEmcherla-CUU8l de nos so ordenamento, hip6tese em que a Direito Compa-rado desempenha funcao deheterointegrm;iio de nosso sistema,Sou de opiniao que essa segunda hipotese de heteroin-tegracao so pode ser admitida quando impossivelrealiza-l.igracas aos principios gerais de' nosso proprio ordenamento.Quando, em suma, ha antinomia entre oanossos eos principiosgerais vigentes em macromodelos estrangeiros, cab~ a priJila-zia aqueles, 0que nem .sempre tern .sidc obedecido por jurisb:isque sistematicamente se encari..tam comdoutrlIWS. exposta.salhures. Nao se trata, neste ponto,d.eBreconceitonadonal~s-ta, mas sirn de uma ordem de prefer~ncla hermeneutic a queresulta do fato de estarmos preliminarmente subordinados asdiretrizes que integram 0 nossoDireitoPositivocomo expres-sao jurfdica de nossa s()berani8.poli~iCa.. . ,. .i: .QUanta a. analogiaiuris,eorno'processo d~.iIltE!gra9aonormativa, cabe-meponderar que, em ultima an&Iise, elaseconfhnde. com as.princi piosgerais dedil"eW),.prinieiro .n o plartodo Direito patrio,e, em's9guida, sob ()eIlfoquedoDireitoCor n -parade, Naohaquepensarerrianal6gidiw;is'cOmQ t i m tertiumgenus entre a a1ialogiai~giS eosprincipios getais'dedireito55

    ,--:'

    55. Sobre os conceitos de (l~alogia legis e ,analogiaiuri;,v.MIG1JEL REALE,Lir;i5eHPreliminares de Direito, cit., pags. 292~294;.12 0

    Importante e ressaltar a natureza da decisao mediante aqual, verificada a omissao da lei, 0 juiz precede a integracao doordenamento juridico. E ela, fora de duvida, urn ato compara-vel ao do legislador, razao pela qual, com muito acerto, aArt.114 do revogado C6digo de Processo Civil, de 18 de setembrode 1939, assim dispunha:

    "Quando autorizado a decidir por eqiiidade, 0juiz apli-cara a norma que estabeleceria se fosse legislador".Infelizmente, esse corajoso preceito foi substituido pelodo Art. 127 do atual C6digo de ProcessoCivil, que, ambigua-

    mente, declara:"0 juiz so decidira por eqiiidade nos casos previstosem lei".

    Nada mais temeroso e fora da realidade do que esse man-damento, pois, a todo instante, 0 juiz e chamado a decidir parequidade, sobretudo quando - conform.e vimos - as disposicoeslegais se revelam antinomicas, ou omissas, e 0 julgador devesuprir tais defeitos mediante a criacao de modelos hermeneu-ticos que superem as antinomias, ou, entao, proceder a urnbalanceamento de bens ou valores, para realizaeao de justicaconcreta.Esclarecida essa questao, a meu ver de relevancia, naoposso deixar, neste passo, de fazer referencia a uma nunca as-saz louvada inovacao do Direito patrio, ao ser instituido, naConstituicao de 1988, 0 mandado de injunciio, gracas ao IncisoLXXI de seuArt. 5Q, nos seguintes termos:

    "Conceder-se-a mandado de injuneao sempre que afalta de norma regulamentadora torne inviavel a exerci-cio dos direitos e liberdades constitucionais e das prerro-. gativas inerentes a nacionalidade, a soberania e a cidada-nia".Abstracao feita da reduzida repercussao desse mandamen-to, em virtude da timidez daqueles que subordinam a sua apli-cacao a previa existencia.de lei regulamentadora do preceitoconstitucional - tese que, data maxima venia, nao considero

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  • 5/6/2018 Modelos hermenuticos do direito - por Miguel Reale

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    plausivel -, nao h!i duvida que foi dado grande passoa fl .-ente,ao ser estabelecido que,.E:'lll1E ;! tratando de direitos,fulldamen ..tais, a inercia do P~4E:!rLegi$iGlijVf)pOcleseI"Suptidap~Ia,yigi-Iancia dos cidadaos e pelacorajosa Participa~ao d()P.oderJlidi~ciario, ao tamar conhecimento eacolheromandado deinj1Jn~ao.impetrado, sempre que for possfvel is .neceSEjariolevestir deforca judicial. cogentso modele 1il:qneIl8uticPllaborado emrazao dedispositivo fllndameIltal"da:Carta Magn,a' paraprote-~ao dos direitos e liberdades p~relaasseiurados .Eis' a : i umexemplomagnifico de modele herrirei;l.ehtic()que,uma vez recepcionadopela fonte jurisdicionakpassa asuprh'a ausencia de norma regulamentadora do textocOnstiiucionaf.Por ai se ve como a doutrina, queestouexpondo nesteIivro, vern estabelecer uma correlacao essencial e sincronicaentre 0 sistema jurfdico e 0 sistema polit ico vigente no Pais,sat isfazendo, assim, ao Imperat ive que deve ser inerente a todaautentica.teoria do Direitoyque=- como saliento no Prefiiciosomente eplenamente valida see quandose harmonizar comos valores poli ticos. No caso do Brasil, tais valores sao ospr6~prios do Estado Democratico de Direito, consagrado pelaCar-ta de 1988~ 0qualse caracteriza, entre outros princfpios, PEl11lexistencia e pelo desenvolvimel1to de lim ordenamento.jurfdi-co que sejacada vez mais expressao dos interessesedireitosda comunidade,visualizada estacomoum todo rioqllafliber~dade: e igualdade se implicam Iii reciprocamente secompletam,para "bern do povo e felicidads geraI da na~ao", como'secostu-mava dizer em outros tEnupos. .. .

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    INDICE DEAUTORES

    AADEODATO, Joao Mauricio - 60ANDRADE, Cristiano .Jose de - 31ARENDT, Hanna - 62BBARGELLINI, C. - 118BINAZZI- 118BOBBIO, Norberto - 10 1BLOCH, Marc - 54BREUKER, Joss A . - 118

    CCAJ\fMELLI, Antonio -118COELHO, Luiz Fernando - 60COSTA, Newton C.A. - 9,39,118CHEVALIER, J acques - 60DDECUGIS, Henri - 54EENGISCH, Karl - 33ESSER, Jose - 33FFERRAZ JR., Tercio Sampaio - 9, 59, 96FROSINI, Vittorio - 90GGUSMAO, Paulo Dourado de - 54

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