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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA VARA DA
FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE BELO HORIZONTE/MG
“Conforme o caso, a Administração Pública pode ser, a um só tempo,
elemento mortal ou vital à proteção ambiental: cabe-lhe, via de regra,
o poder de preservar ou mutilar o meio ambiente. Assim, na medida
em que compete à Administração Pública o controle do processo de
desenvolvimento, nada mais perigoso para a tutela ambiental do que
um administrador absolutamente livre ou que não sabe utilizar a
liberdade limitada que o legislador lhe conferiu”. (Antônio Herman
V. Benjamin. Os princípios do estudo de impacto ambiental como
limites da discricionariedade administrativa).
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, pelos
Promotores de Justiça infra-assinados, vem, perante Vossa Excelência, com fundamento nos
artigos 127 e 129, inciso III, da Constituição Federal; artigo 1º, inciso I c/c artigo 5º, inciso I,
da Lei nº 7.347/85; artigo 25, inciso IV, alínea a, da Lei n°. 8.625/93; artigo 66, inciso VI,
alínea a, da Lei Complementar Estadual n.º 34/94, ajuizar AÇÃO CAUTELAR
AMBIENTAL em face de
1. DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM DO ESTADO DE MINAS
GERAIS, pessoa jurídica de direito público, inscrita no CNPJ sob o n.º 17.309.790/0001-
94, sediada na Avenida dos Andradas, nº 1120, bairro Centro, Belo Horizonte/MG, CEP
30120-010; e de
2. ESTADO DE MINAS GERAIS, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no
CNPJ sob o nº 00.957.404/0001-78, a ser citado na pessoa do Advogado-Geral do Estado,
com endereço na Avenida Afonso Pena, n.º 1.901, bairro Funcionários, Belo
Horizonte/MG, o que faz em conformidade com os fatos e fundamentos expostos a seguir.
I. DA COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA CAPITAL
Considerando que o empreendimento objeto da presente demanda têm
impactos ambientais previstos nos municípios de Timóteo e Marliéria, que integram a
1
Comarca de Timóteo, e Dionísio e São José do Goiabal, que integram a Comarca de São
Domingos do Prata, conforme atesta o Parecer Único SUPRAM Leste Mineiro (Doc. 01),
ganha aplicação a regra competencial de processamento da demanda na capital do Estado,
conforme previsão contida no artigo 93, inciso II, do Código de Defesa do Consumidor (Lei
n.º 8.078/90).
II. DOS FATOS
II.1. Do processo de licenciamento ambiental
Conforme Parecer Único de lavra da Superintendência Regional de Meio
Ambiente do Leste Mineiro (SUPRAM – LM) (Doc. 01) e seu respectivo adendo (Doc. 02),
tramita na Unidade Regional Colegiada Leste Mineiro do Conselho Estadual de Política
Ambiental (COPAM – URC Leste Mineiro) o procedimento administrativo de licenciamento
ambiental 09043/2010/001/2010, em que figura como requerente o Departamento de Estradas
de Rodagem do Estado de Minas Gerais (DER).
Trata-se de requerimento de licenças prévia e de instalação concomitantes para
pavimentação de trecho de 57,09 km da rodovia MG-320/LMG 760 - Trecho entroncamento
BR 262 - Cava Grande, atravessando os municípios de Timóteo, São José do Goiabal,
Dionísio e Marliéria, tendo sido o processo de licenciamento formalizado pelo réu DER, em
25/08/2010, com o protocolo dos estudos ambientais exigidos pela SUPRAM – LM, quais
sejam, Relatório de Impacto Ambiental e Plano de Controle Ambiental (RCA/PCA).
O empreendimento foi enquadrado na Classe 3, conforme parâmetros da
Deliberação Normativa COPAM n. 74/04. Ressalta-se que a estrada existente não possui
licença ambiental.
No bojo do processo de licenciamento foram detectadas pelo órgão ambiental
diversas omissões nos estudos apresentados pelo DER, o que exigiu a apresentação de
informações complementares, em 26/10/2010, 27/04/2011, 16/04/2012, 20/12/2012 e
13/03/2013. Assim, em razão dos estudos apresentados pelo empreendedor, houve lentidão na
análise do licenciamento.
A estrada em apreço tem uma característica muito especial, que deveria ter
demandado o máximo de critério na análise de viabilidade ambiental do empreendimento:
está localizada em área extremamente sensível, na zona de amortecimento do Parque Estadual
do Rio Doce, margeando, na maior parte do trecho, os limites da Unidade de Conservação.2
A implantação da estrada, conforme projeto atual, dependerá da supressão de
vegetação nativa, inclusive em áreas de preservação permanente. A obra, além de margear o
Parque do Rio Doce, está inserida no Bioma Mata Atlântica, em área prioritária para a
conservação da biodiversidade da categoria de máxima relevância, denominada “Especial”.
O processo de licenciamento em questão foi pautado para deliberação do
COPAM na 97ª Reunião Ordinária da URC Leste Mineiro, realizada no dia 22/10/2013. Na
oportunidade, o processo foi objeto de pedido de vistas por diversos conselheiros, já se
encontrando pautado para deliberação na próxima reunião ordinária (Doc. 03), designada para
12/12/2013.
Diante dos pedidos de vista, as licenças prévia e de instalação concomitantes
foram concedidas ad referendum do colegiado pelo Secretário de Estado de Meio Ambiente e
Presidente do COPAM, com fundamento de que já foram iniciadas as obras.
Conforme restará demonstrado, o licenciamento ambiental da rodovia
encontra-se eivado de vícios diversos e intransponíveis, que representam riscos imediatos e
diretos a uma das áreas mais relevantes para conservação do Estado de Minas Gerais. Além
das omissões e equívocos dos estudos ambientais apresentados, foram descumpridos
procedimentos básicos previstos na legislação ambiental, indispensáveis para assegurar a
devida avaliação de viabilidade do projeto.
Objetiva-se, com a presente ação, a suspensão cautelar das licenças prévia e de
instalação concomitantes, concedidas ad referendum pelo Presidente do COPAM, bem como
a retirada de pauta do processo de licenciamento ambiental atinente à pavimentação da
rodovia MG-320/LMG-760, evitando-se, desta forma, o licenciamento antes do amplo
saneamento do processo, coibindo-se o início das obras e a consolidação de riscos
incalculáveis e irreversíveis ao meio ambiente.
II.2. Da relevância ambiental do Parque do Rio Doce e seu entorno
Conforme dados extraídos do sítio eletrônico do Instituto Estadual de Florestal
(IEF)1, o Parque Estadual do Rio Doce está situado na porção sudoeste do Estado, a 248 km
de Belo Horizonte, e abriga a maior floresta tropical de Minas, em seus 35.970 hectares, além
de ser a primeira unidade de conservação estadual criada em Minas Gerais, em 14/07/1944.
1 http://www.ief.mg.gov.br/component/content/195?task=view3
O Parque possui árvores centenárias e uma infinidade de animais nativos, que
compõem o cenário de um dos raros remanescentes de Mata Atlântica bem conservada no
Brasil. Possui, também, notável sistema lacustre, composto por quarenta lagoas naturais.
Diversas espécies da flora e da fauna ameaçadas de extinção ocorrem na
Unidade de Conservação, com destaque para grandes mamíferos, como a onça-pintada e a
onça-parda, que dependem de grandes territórios para sua sobrevivência. A Zona de
Amortecimento da Unidade de Conservação também é imprescindível para garantir o
equilíbrio ecológico, já que os elementos do parque não estão restritos aos seus limites.
Segundo o Plano de Manejo do Parque, as estradas intermunicipais estão entre
as principais atividades conflitantes com a Unidade de Conservação, ao lado da caça e pesca
ilegais, dos incêndios florestais, do vandalismo e da expansão urbana.
A região do Parque do Rio Doce é prioritária para a conservação da
biodiversidade em todos os grupos temáticos da publicação “Biodiversidade em Minas
Gerais: Um Atlas para sua Conservação”: mamíferos (categorias de prioridade especial, alta e
muito alta), aves (categoria de prioridade extrema), répteis e anfíbios (categoria de prioridade
extrema), peixes (categoria de prioridade especial), invertebrados (categoria de prioridade
especial) e flora (categoria de prioridade especial).
2
2 Foto de P. G. Azevedo4
3
4
Não é demais lembrar que a Deliberação Normativa COPAM nº 55/2002,
estabelece normas, diretrizes e critérios destinados a nortear a conservação da Biodiversidade
de Minas Gerais, com base no documento “Biodiversidade em Minas Gerais: Um Atlas para
sua Conservação”, publicação de iniciativa do Governo do Estado de Minas Gerais, processo
este desenvolvido pela SEMAD, IEF, Fundação Biodiversitas e Conservation International do
Brasil, contendo diretrizes e outras recomendações importantes para garantir a manutenção
da qualidade ambiental e da diversidade biológica do Estado.
O documento contempla diretrizes e critérios para a criação e a gestão de
espaços protegidos, recomendações para a revisão dos instrumentos fiscais e financeiros para
a conservação e propostas de criação de novos instrumentos, assim como a identificação de
3 Imagens extraídas do site do CBH Rio Doce: http://www.cbhdoce.org.br/Materia_PERD.asp4 Imagens extraídas do site Amigos do Parque do Rio Doce: http://aamigosdoperd.blogspot.com.br/2012/05/fauna-e-flora-do-perd.html
5
linhas de ação destinadas a aprimorar a gestão de políticas públicas de proteção à
biodiversidade.
Inegável, portanto, o elevado interesse do Estado de Minas Gerais na adequada
gestão e conservação da região do Parque do Rio Doce, indicada como prioridade para
conservação no Atlas citado.
III. DO DIREITO
III.1. Da dispensa irregular de Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto
Ambiental
A Constituição da República de 1988 erigiu o meio ambiente ao caráter de
direito fundamental constitucional difuso, portanto, imprescindível à sadia qualidade de vida e
bem estar da comunidade.
Visando a compatibilizar as intervenções antrópicas diversas com a necessária
preservação ambiental, o texto constitucional determinou a exigência de devido processo de
licenciamento ambiental, com a apresentação de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e de
Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), para aferir o potencial que um empreendimento
pode ter de causar dano ao meio ambiente (art. 225, §1o, IV).
Seguindo orientação traçada pelo dispositivo constitucional, a Lei 6.938/1981
incumbiu ao CONAMA estabelecer normas e critérios para licenciamento ambiental, bem
como fixar as hipóteses em que se deve exigir EIA/RIMA (art. 8º, I e II, da Lei).
Neste sentido, a Resolução CONAMA 237/1997 exigiu que a licença ambiental
para os empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de
significativa degradação do meio fosse precedida de prévio estudo de impacto ambiental e
respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), garantida a realização de
audiências públicas e total publicidade (art. 3º da Resolução).
E não poderia ser de outra forma. Afinal, o licenciamento ambiental, com a
apresentação de EIA/RIMA, visa, em síntese: a) a prevenção de danos ambientais; b) a
transparência administrativa quanto aos efeitos ambientais de um determinado projeto; c) a
consulta aos interessados; d) propiciar decisões administrativas informadas e motivadas5.
5 BENJAMIN, Antônio Herman V.. Os princípios do estudo de impacto ambiental como limites da discricionariedade administrativa. Revista Forense, vol. 317. p. 30.
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Pois bem. Coube à Resolução CONAMA 1/1986 elencar as hipóteses de
obrigatória elaboração do EIA/RIMA, entre elas figurando as estradas de rodagem com
duas ou mais faixas de rolamento (art. 2º, I, da Resolução).
Vale dizer, as atividades relacionadas na Resolução CONAMA 1/1986
possuem presunção absoluta de serem causadoras de significativo impacto ambiental.
Nessas hipóteses, não pode o Estado dispensar os estudos ambientais
completos (EIA/RIMA), sob pena de afronta à Constituição Federal, de insubordinação ao
princípio da hierarquia vertical das normas e malferimento ao princípio do due process
ambiental, como inclusive já decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça:
INCIDENTE DE ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE – DIREITO
AMBIENTAL – UNIÃO E ESTADO – COMPETÊNCIA CONCORRENTE –
DELIBERAÇÃO NORMATIVA Nº 74, DE 09.09.2004, DO CONSELHO
ESTADUAL DE POLÍTICA AMBIENTAL – DISPENSA DA REALIZAÇÃO DE
“ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL – EIA” E DO CORRESPONDENTE
“RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL – RIMA” – DISPOSIÇÃO
CONTRÁRIA À NORMA FEDERAL – VULNERAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
PROTEÇÃO AMBIENTAL – INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL E
MATERIAL.
1. A competência legislativa em matéria ambiental privilegiará sempre a maior e mais
efetiva preservação do meio ambiente, independentemente do Ente Político que a
execute, haja vista que todos receberam da Carta Constitucional aludida competência
(artigo 24, V, VI e VIII; 30, II). Todavia, no exercício da competência concorrente há
prevalência da União no que concerne à regulação de aspectos de interesse nacional,
com o estabelecimento de normas gerais endereçadas a todo o território nacional, as
quais, como é óbvio, não podem ser contrariadas por normas estaduais ou municipais.
2. A fim de suprir lacunas, na ausência de legislação da União sobre normas gerais,
poderão os Estados ocupar o vazio, exercendo a competência legislativa plena para
atender as suas peculiaridades (artigo 24, §3º, da CF/1988), sendo que a
superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual,
no que for incompatível com esta (artigo 24, §4º, da CF/1988).
3. A indigitada Deliberação Normativa nº 74/2004, do COPAM, ao permitir o
desenvolvimento de várias atividades agropecuárias, em áreas superiores a 1.000 ha
(mil hectares), com base em mera “Autorização Ambiental de Funcionamento –
AAF”, sem qualquer estudo ambiental prévio, mostra-se flagrantemente
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inconstitucional diante dos vícios formal e material, sendo que, o primeiro, por dispor
de modo contrário à norma federal geral; o segundo, porque a dispensa da realização
do “Estudo de Impacto Ambiental – EIA” e do correspondente “Relatório de Impacto
Ambiental – RIMA” vulnera o princípio da proteção ambiental”. (Arg
Inconstitucionalidade 1.0024.11.044610-1/002, Relator Des. Elias Camilo, ÓRGÃO
ESPECIAL, julgamento em 24/04/2013).
Em que pesem todas estas questões, o Estado de Minas Gerais, através da
SUPRAM Leste Mineiro, em absoluta afronta à legislação federal pátria e evidente retrocesso
ambiental, não apenas dispensou a apresentação de EIA/RIMA no licenciamento da rodovia
MG-320/LMG-760, como também entendeu que o empreendimento não causaria impacto
ambiental significativo.
Apenas a título de exemplo, passamos a enumerar alguns dos impactos
ambientais inerentes às estradas:
a) Impactos radiais: via de regra dispensados de análise nos estudos ambientais
e no licenciamento ambiental. No entanto, tais impactos podem ser até mais significativos que
aqueles relativos ao leito da rodovia, tais como ocupação não planejada de novas áreas
(fomento à urbanização), aumento da ocorrência de incêndios, fragmentação de áreas
protegidas, entre outros. Destaca-se que tais impactos já são considerados a principal ameaça
ao Parque do Rio Doce;
b) O desenvolvimento de ocupações em locais despovoados, que se inicia com
a facilitação do acesso;
c) Aceleração do processo de fragmentação de ecossistemas;
d) Aumento do desmatamento no entorno;
e) Abandono de áreas de empréstimo e bota-fora, bastante comum na
implantação das rodovias, sem a recuperação ambiental necessária. Existe enorme passivo em
Minas Gerais decorrente destas áreas, que se tornam foco de severos processos erosivos;
f) desenvolvimento de processos erosivos, assoreamento e contaminação de
cursos d’água em razão do carreamento de sedimentos na drenagem pluvial;
g) A utilização de gramíneas exóticas com grande potencial invasor na
recuperação de taludes de estradas causa grande impacto, especialmente no caso de
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empreendimentos localizados em áreas de ocorrência de campos naturais, onde o capim se
espalha como praga, e unidades de conservação;
h) Impactos sobre as comunidades, tais como emissão de particulados, poluição
sonora, risco de acidentes, alteração da dinâmica de vida local e afluxo de população.
i) Alteração do curso d’água (intervenção em APP, transposição de cursos
d’água), com consequências severas para a vida aquática;
j) Poluição de recursos hídricos, pelo transporte de químicos para a faixa lateral
de estradas e além (nutrientes, sais corrosivos, metais pesados, pesticidas e agrotóxicos);
k) Perda de biodiversidade pela supressão de vegetação para implantação,
melhoramento e alargamento de rodovias, causado fragmentação e isolamento de populações;
l) Perda de biodiversidade (fauna) pela perda de habitat, com a supressão de
vegetação, e pela ocorrência de atropelamento da fauna silvestre e doméstica. Tais questões
ainda são tratadas de forma tímida no licenciamento ambiental.
Tais impactos se tornam ainda mais graves ao lado de uma unidade de
conservação de proteção integral. Ainda que não houvesse previsão expressa de exigência de
EIA/RIMA para o licenciamento de estradas de rodagem na Resolução CONAMA Nº 01/86,
resta claro que o empreendimento em apreço, especialmente por sua localização, é
potencialmente causador de impactos ambientais de alta significância, sendo indispensável o
instrumento.
Em julgamento de casos análogos, decidiu o Supremo Tribunal Federal:
CONSTITUCIONAL. MEIO AMBIENTE. ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL.
EIA. CF art. 225, § 1º, IV. Cabe ao Poder Público exigir, na forma da lei, para
instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação
do meio ambiente, estudo de impacto ambiental, a que se dará publicidade.
Considerando-se a importância do EIA como poderoso instrumento preventivo ao
dano ecológico e a consagração, pelo constituinte, da preservação do meio ambiente
como valor e princípio, conclui-se que a competência conferida ao Município para
legislar em relação a esse valor só será legítima se, no exercício dessa prerrogativa,
esse ente estabelecer normas capazes de aperfeiçoar a proteção à ecologia, nunca, de
“flexibilizá-la ou abrandá-la”. (STF AgRg no RE 396.541-7 – RS – Rel. Min. Carlos
Veloso. J. 14.06.2005.
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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 182, § 3º, DA
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SANTA CATARINA. ESTUDO DE IMPACTO
AMBIENTAL. CONTRAIEDADE AO ARTIGO 225, § 1º, IV, DA CARTA DA
REPÚBLICA. A norma impugnada, ao dispensar a elaboração de estudo prévio de
impacto ambiental no caso de áreas de florestamento ou reflorestamento para fins
empresariais, cria exceção incompatível com o disposto no mencionado inciso IV do §
1º do artigo 225 da Constituição Federal. Ação julgada procedente, para declarar a
inconstitucionalidade do dispositivo constitucional catarinense sob enfoque. (STF –
ADI 1086/SC – SANTA CATARINA – Rel. Min. ILMAR GALVÃO. J.
10/08/2001).
Registre-se que o estudo apresentado pelo réu no licenciamento ambiental da
rodovia MG-320/LMG-760, Relatório de Controle Ambiental, além de ser por natureza muito
mais simplificado que o EIA, possui inúmeras falhas metodológicas, omissões e informações
incorretas, conforme demonstra o laudo anexo (Doc.), elaborado por instituição técnica por
solicitação do Ministério Público.
A diferença entre o nível de detalhamento e exigência entre o EIA e o RCA fica
patente pela leitura do art. 5º da Resolução CONAMA 01/1986:
Artigo 5º - O estudo de impacto ambiental, além de atender à legislação, em especial
os princípios e objetivos expressos na Lei de Política Nacional do Meio Ambiente,
obedecerá às seguintes diretrizes gerais:
I - Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto,
confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto;
II - Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de
implantação e operação da atividade ;
III - Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos
impactos, denominada área de influência do projeto, considerando, em todos os casos,
a bacia hidrográfica na qual se localiza;
lV - Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantação
na área de influência do projeto, e sua compatibilidade.
O RCA não cumpre, ou cumpre de forma deficiente, as diretrizes acima. O
estudo de alternativas técnicas e de localização seria imprescindível no caso em tela.
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Correções no traçado e obras de arte especiais, específicas para uma estrada que passa ao lado
de uma unidade de conservação de proteção integral, são questões básicas, desconsideradas
no caso. Tampouco houve identificação e avaliação sistemática dos impactos previstos para as
fases de implantação e operação, o que poderia, talvez, explicar a absurda conclusão do órgão
ambiental pela inocorrência de impactos ambientais significativos.
III.2. Não comprovação da viabilidade ambiental do empreendimento. Risco de
extinção de espécies
Aqui, toca-se em um ponto-chave na avaliação do empreendimento: a
possibilidade de extinção de espécies. Estudos na área da Biologia da Conservação indicam
que o tamanho da população é o parâmetro que permite avaliar a chance de sobrevivência de
cada espécie.
Geralmente, o tamanho populacional (e aspectos genéticos correlatos) está
relacionado com o tamanho e a qualidade do ambiente propício (habitat) para cada espécie.
Um conceito que permite uma resposta aproximada é a Análise da População Mínima Viável,
ou seja, quantos indivíduos são necessários para a sobrevivência em longo prazo da espécie
(conseqüentemente, qual a área mínima com qualidade de habitat que a espécie requer para
sobreviver).
Ora, a Constituição Federal de 1988 estabelece que toda atividade econômica
deve respeitar o meio ambiente, assegurando a todos uma existência digna (art. 170, caput e
inciso VI), ao passo em que impõe ao Poder Público e à coletividade o dever de defender e
preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações (art. 225, caput). É o que se
costumou chamar de desenvolvimento sustentável, definido como “aquele que atende às
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
atenderem a suas próprias necessidades” 6.
E para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente para as presentes e
futuras gerações, a Constituição Federal incumbiu expressamente o Poder Público, dentre
outros deveres, de proteger a fauna e a flora, vedando, expressamente, qualquer prática
que possa provocar a extinção de espécies (inc. VII do §1o do art. 225 da Constituição
6 in, Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nosso Futuro comum. 2ª ed. Rio de Janeiro:
FGV, 1991, p.46.11
Federal), dispositivo que inspirou determinação semelhante na Constituição do Estado de
Minas Gerais (art. 214, §1o, V e VI, da CE).
De acordo com o Princípio da Precaução, que deve orientar a análise de todos
os processos de licenciamento ambiental, “quando houver ameaça de danos sérios ou
irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para
postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”.7
Vale dizer que, em caso de dúvida ou incerteza, deve-se agir prevenindo. Nas
palavras de PAULO AFFONSO LEME MACHADO, “o princípio da precaução, para ser
aplicado efetivamente, tem que suplantar a pressa, a precipitação, a improvisação, a rapidez
insensata e a vontade de resultado imediato.”8
Fundamental a aplicação do princípio da precaução no presente caso. Uma
parte dos impactos da estrada sobre as espécies ameaçadas já é amplamente conhecida: perda
de habitat e consequente contribuição para o processo de extinção. Mas dados científicos
acerca da população, variabilidade genética e hábitos territoriais são desconhecidos. Assim,
não se sabe quantos indivíduos serão impactos pelo empreendimento, e nem de que forma.
Qualquer decisão do COPAM no sentido de liberar a implantação do
empreendimento estará sendo tomada com base em suposições, ou talvez nem isso.
Destarte, em obediência ao Princípio da Precaução, considerando que existem
sérias dúvidas sobre a viabilidade ambiental do empreendimento, tem-se a dizer que os
estudos que instruíram o procedimento de licenciamento revelaram-se insuficientes.
Nesses termos, é de clareza solar a presença de vício de conteúdo no
procedimento sob exame, haja vista lastrear-se em avaliações incompletas acerca dos
impactos sobre o Parque do Rio Doce, notadamente à fauna, revelando-se situação paradoxal,
que gera perplexidade.
Ensina a melhor doutrina que:
“A licença ambiental foi concebida como fórmula de controle em favor do meio
ambiente. Volto a insistir, não é mera formalidade a ser cumprida pelo administrador.
Tem uma ratio dirigida a um resultado. E quando falta este resultado, o ato como que
clama por invalidação, já que 'cada Ato Administrativo é idôneo para um certo fim; é
veículo hábil para atender determinado desiderato, pois exprime uma competência 7 Princípio 15 da Declaração do Rio de Janeiro, de 1992. 8 Direito Ambiental Brasileiro. 13ª Ed. São Paulo: Malheiros Editores. Pág. 75.
12
instituída em vista de um dado resultado”. (Édis Milaré e Antonio Herman Benjamin.
In Estudo Prévio de Impacto Ambiental, RT, 1993, p. 103).
Note-se que, em razão da superficialidade do RCA, sequer foram apresentados
ou exigidos dados primários relativos à fauna atingida. Foram utilizados apenas dados
secundários do Plano de Manejo do Parque Estadual do Rio Doce. Nem mesmo o
monitoramento prévio para constatação dos hábitos dos animais silvestres na área do
empreendimento foi realizado, trabalho fundamental para identificar os pontos mais
acessados, onde seriam necessários mecanismos especiais de passagem de fauna, redutores de
velocidade, sinalização específica ou mesmo relocação do trecho. Tais omissões foram da
seguinte forma evidenciadas (Doc.):
Os estudos do meio biótico de flora e fauna foram baseados no Plano de Manejo do
Parque Estadual do Rio Doce (IEF 2002), apresentando um resumo dos itens flora e
fauna. Não houve coleta de dados na Área Diretamente Afetada e Área de Influência
Direta do empreendimento. Os únicos dados primários coletados constam no
inventário florestal e no levantamento de árvores a serem suprimidas no traçado da
rodovia.
Apesar de fornecer dados importantes sobre a biota do Parque, o diagnóstico do Plano
de Manejo está desatualizado. Atualmente, já existe um acréscimo de publicações
científicas com dados recentes em todos os grupos biológicos. A lista de trabalhos
publicados relativos à biota do Parque é extensa, tanto sobre a flora quanto a fauna e
ambientes aquáticos. Nesse ponto, o RCA/PCA desta estrada negligenciou a extensa
bibliografia existente sobre o Parque e seu entorno.
(...)
A compilação de dados do Plano de Manejo do Parque Estadual do Rio Doce
apresentada no RCA foi feita para a avifauna, mastofauna e ictiofauna. As espécies
ameaçadas de extinção destes grupos são citadas no estudo. Porém os estudos RCA e
Plano de Manejo não apresentaram estudos para a herpetofauna (anfíbios e répteis).
Na área do Parque ocorrem 38 espécies de anfíbios anuros (Feio et alli 1998), mas não
existe uma estimativa atualizada para os répteis.
(...)
Além disso, a probabilidade de encontrar espécies raras deve ser considerada pelo
empreendedor. Um novo registro de Bothriopsis bilineata (Viperidae), espécie de
13
serpente arborícola da Mata Atlântica, até pouco tempo com distribuição restrita aos
estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Nordeste de Minas Gerais foi
descrito para o Parque (Dias et al. 2008). Esta espécie é considerada rara, de difícil
visualização devido ao habitat arbóreo e ocorre em baixas densidades. É forte
candidata a figurar na próxima revisão da lista da fauna ameaçada, pois no Rio de
Janeiro a espécie está praticamente extinta.
(...)
Anfíbios e répteis apresentam altos índices de atropelamento (Lauxen 2012). Além
disso, anfíbios são totalmente dependentes de corpos hídricos, quer sejam os córregos,
lagoas ou brejos, áreas que podem sofrer impactos pela possibilidade de acidentes
rodoviários envolvendo produtos perigosos. São exemplos de produtos perigosos os
inflamáveis, explosivos, corrosivos, tóxicos, radioativos e outros produtos químicos,
que, embora não apresentem risco iminente, podem, em caso de acidentes,
representarem uma grave ameaça ao meio ambiente (Queiroz et al 2013)
Conclui-se, portanto, que os estudos sobre a herpetofauna do empreendimento foram
negligenciados, prejudicando a análise da viabilidade ambiental.
(...)
A simples menção da presença de espécies ameaçadas de extinção não é suficiente
para realizar uma análise de impactos e proposição de medidas mitigadoras, visto que
cada grupo de fauna tem peculiaridades relacionadas ao seu nicho ecológico, gerando
diferentes implicações nas interações com as mudanças trazidas pelo aumento de
tráfego da estrada. A seguir, listamos algumas espécies presentes nas listas vermelhas,
com alguns dados biológicos relacionados aos possíveis impactos do aumento do
tráfego advindos do asfaltamento da estrada.
• Muriqui-do-norte ou mono-carvoeiro (Brachyteles hypoxanthus) –
Criticamente em Perigo de extinção pela Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de
Extinção (Machado et al., 2005), Em Perigo pela Revisão das Listas das Espécies da
Flora e da Fauna Ameaçadas de Extinção do Estado de Minas Gerais (Biodiversitas,
2007). O Parque abriga uma das maiores populações conhecidas e foram registrados
vários grupos familiares na margem esquerda do rio Doce, incluindo grupos próximos
ao empreendimento.
Apesar de existirem registros de muriquis se deslocando no solo, a probabilidade
desse comportamento ocorrer para eventual travessia da estrada é remota. Todavia, a
facilitação do acesso às áreas de ocorrência da espécie é preocupante e demanda,
obrigatoriamente, reforço na fiscalização das fronteiras do Parque.14
• Sagui-caveirinha ou sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita) – Vulnerável
à extinção pela Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Machado et al.,
2005) e Em Perigo pela lista do Estado de Minas Gerais (Biodiversitas, 2007).
Animais altamente dependentes de sua vocalização característica para defesa de
territórios, estão sujeitos a estresse e alterações comportamentais. Foram observados
na borda do Parque, na margem esquerda do rio Doce.
Espécies do gênero Callithrix frequentemente são observadas atravessando estradas,
mesmo aquelas asfaltadas, sendo o risco de atropelamentos eminente. A espécie nativa
do Parque é o C. aurita, cuja densidade é bastante baixa, entretanto C. penicillata e C.
geoffroyi foram introduzidos na região. Portanto, sugere-se o
monitoramento/levantamento dos grupos sociais que habitam as bordas da estrada
visando a identificação da espécie residente no local e, a necessidade de instalação de
estrutura aérea para passagem de fauna arborícola. Caso se confirme a ocorrência de
espécies invasoras recomenda-se o manejo das mesmas.
• Bugio ou barbado (Alouatta guariba clamitans) – Quase Ameaçado de
extinção pela Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Machado et al., 2005)
e Vulnerável pela lista do Estado de Minas Gerais (Biodiversitas, 2007). Animais
altamente dependentes de sua vocalização característica para defesa de territórios;
estão sujeitos a estresse e alterações comportamentais devido ao ruído gerado pelos
veículos.
• Sauá ou guigó (Callicebus nigrifrons) – Quase Ameaçado de extinção pela
Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Machado et al., 2005). Animais
altamente dependentes de sua vocalização característica para defesa de territórios;
estão sujeitos a estresse e alterações comportamentais devido ao ruído dos veículos.
Espécie com grande potencial de atravessar vias, mesmo asfaltadas, com grande risco
de atropelamento. Recomenda-se o mapeamento das áreas com potenciais para a
instalação de estruturas de passagem de fauna arborícola. A instalação dessas
estruturas deve seguir as orientações apresentadas acima para o gênero Callithrix.
• Macaco-prego (Sapajus nigritus) – Quase Ameaçado de extinção pela Lista
da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Machado et al., 2005). Animais sujeitos a
estresse e alterações comportamentais devido ao ruído gerado.
• Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) – Considerado Vulnerável à extinção
pela Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Machado et al., 2005) e pela
Lista do Estado de Minas Gerais (Biodiversitas, 2007). Animal registrado no entorno
15
do Parque se deslocando nas estradas de acesso. Animais sujeitos a atropelamento nas
estradas de acesso.
• Jaguatirica (Leopardus pardalis) – Considerado Vulnerável à extinção pela
Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Machado et al., 2005) e pela Lista
do Estado de Minas Gerais (Biodiversitas, 2007). Animais sujeitos a atropelamento
nas estradas de acesso e perseguição pela população.
• Gato-do-mato (Leopardus tigrinus) – Considerado Vulnerável à extinção
pela Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Machado et al., 2005) e pela
Lista do Estado de Minas Gerais (Biodiversitas, 2007). Animais sujeitos a
atropelamento nas estradas de acesso.
• Onça-pintada (Panthera onca) – Vulnerável à extinção pela Lista da Fauna
Brasileira Ameaçada de Extinção (Machado et al., 2005). Criticamente em Perigo
pela Lista do Estado de Minas Gerais (Biodiversitas, 2007). Animais sujeitos a
atropelamento nas estradas de acesso e perseguição pela população.
As principais causas de ameaça às onças são a perda de habitat, caça e atropelamento
em estradas. Por apresentarem grandes áreas de vida e se locomoverem por grandes
distâncias, inclusive utilizando estradas, as onças-pintadas ficam expostas ao risco de
atropelamentos e não são raros os casos em que essa fatalidade acontece. A perda de
um indivíduo de onça-pintada representa um impacto muito alto para uma população
remanescente.
• Onça-parda (Puma concolor) – Considerado Vulnerável à extinção pela
Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Machado et al., 2005) e pela Lista
do Estado de Minas Gerais (Biodiversitas, 2007). Animais sujeitos a atropelamento
nas estradas de acesso e perseguição pela população.
• Anta (Tapirus terrestris) – Em Perigo de extinção pela Revisão das Listas
das Espécies da Flora e da Fauna Ameaçadas de Extinção do Estado de Minas Gerais
(Biodiversitas, 2007). O Parque apresenta uma das maiores populações do estado de
Minas Gerais.
• Tatu-canastra (Priodontes maximus) – Vulnerável à extinção pela Lista da
Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Machado et al., 2005), Em Perigo pela
Revisão das Listas das Espécies da Flora e da Fauna Ameaçadas de Extinção do
Estado de Minas Gerais (Biodiversitas, 2007). Registrado na borda do Parque na
margem esquerda do rio Doce.
16
• Morcego (Chiroderma doriae) – Quase Ameaçado de extinção pela Revisão
das Listas das Espécies da Flora e da Fauna Ameaçadas de Extinção do Estado de
Minas Gerais (Biodiversitas, 2007).
• Morcego (Platyrrhinus recifinus) – Considerado Vulnerável de extinção pela
Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Machado et al., 2005).
• Lontra (Lontra longicaudis) – Quase Ameaçado de extinção pela Lista da
Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Machado et al., 2005) e Vulnerável à
extinção pela Lista do Estado de Minas Gerais (Biodiversitas, 2007). Animais sujeitos
a estresse e afugentamento pela poluição sonora.
(...)
Especialmente sobre os dados relativos à fauna, cabe destacar a ausência de dados
sobre travessia e atropelamento de animais na rodovia que será asfaltada. É de
conhecimento, tanto do IEF quanto da comunidade vizinha ao Parque, que os animais
se deslocam entre a paisagem composta pela matriz de eucaliptais, pastos e
fragmentos florestais da região.
Um estudo realizado no trecho da BR 381, onde a rodovia atravessa a área da
CENIBRA nos municípios de Santana do Paraíso e Belo Oriente, localizado pouco
mais ao norte do Parque, monitorou os atropelamentos de fauna no período de sete
anos, entre 2005 e 2012. Foram utilizados os registros de atropelamentos feitos por
voluntários que utilizaram a BR-381, analisando-se os pontos de maior incidência e as
espécies envolvidas. Observou-se maior incidência no mês de agosto e o gambá
(Didelphis sp.) foi a espécie mais afetada, seguida pelo tamanduá-mirim (Tamandua
tetradactyla). Algumas das espécies afetadas são citadas em listas oficiais de espécies
ameaçadas a extinção. Foram elas a jaguatirica (Leopardus pardalis) com 5 (cinco)
atropelamentos, lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) com 2 (dois) atropelamentos e a
onça-parda (Puma concolor) com 3 (três) atropelamentos (Figura 1).
Especificamente, em relação à LMG 760, há um trânsito de animais intenso
atravessando a rodovia entre o Parque e a Serra de Marliéria (Figura 2, ponto 1).
As lagoas e eucaliptais situados ao sul da estrada também são bastante utilizadas
(Figura 2, pontos 2 e 3). Portanto, era de se esperar que os estudos ambientais
incluíssem o monitoramento prévio ao longo da estrada, durante a realização dos
estudos de licenciamento, com o objetivo de detectar pontos e rotas de passagem.
Somente com esses dados seria possível planejar a construção de travessias de fauna 17
adequadas, para tentar minimizar o impacto de atropelamentos e morte de indivíduos,
já que a previsão é de triplicar o atual tráfego da estrada com a pavimentação (Anexo
I). Este tipo de estudo é imprescindível para a análise de viabilidade do asfaltamento
da estrada e sua ausência no processo de licenciamento compromete gravemente a
análise dos impactos e proposição de medidas mitigadoras.
Outro ponto a ser destacado é que algumas medidas de mitigação como construção de
ecodutos (viadutos com cobertura vegetal ou passagens subterrâneas) são equivalentes
às obras de arte especiais em rodovias (ver exemplos de estrutura no Anexo II, Lauxen
2012). A construção dessas passagens deve ser prevista na fase de planejamento, pois
podem exigir movimentação de terra, cortes e aterros além daqueles projetados para a
fase de asfaltamento. Sendo uma estrada já utilizada, mas não pavimentada, é possível
ainda construir estas estruturas que provavelmente seriam eficientes para minimizar os
acidentes com a fauna local.
As medidas de mitigação propostas no PCA são generalistas e representam apenas
duas das medidas preconizadas atualmente para minimizar o impacto de
atropelamento de fauna. Foram elas: 1) implantação de placas de advertência sobre
animais silvestres na região e 2) instalação de quebra molas na entrada e saída dos
fragmentos de mata (pág. 19 do Parecer). Foi citado também que será implantada, na
faixa de domínio, cerca composta de quatro fios de arame farpado. Entretanto, para
evitar a passagem de animais menores pelas cercas, estas devem conter telas com
malha grossa em cima e menor na parte inferior.
(...)
O DER-MG apresentou um documento intitulado “Estudo dos impactos positivos e
negativos causados ao Parque Estadual do Rio Doce, pela implantação e operação da
rodovia entroncamento BR 262/Cava Grande (MG-320 e LMG 760)”, atendendo a
uma solicitação das solicitações de informações complementares da SUPRAM de
2010/11. Neste estudo, há um quadro que lista os elementos ambientais, a
possibilidade de impacto, os elementos da rodovia causadores de impacto, em que fase
(construção/operação) e as modificações ambientais subsequentes. A reprodução de
um trecho sobre espécies ameaçadas indica que os autores não consideraram a
possibilidade de impacto para as espécies raras, ameaçadas de extinção e
protegidas (Figura 2). Tal fato deveria ser reconsiderado pelo empreendedor, pois o
Parque e seu entorno abrigam grande número destas espécies que sofrerão impactos
diretos do asfaltamento da rodovia, como é o caso das mortes por atropelamento que
tem impacto maior em populações pequenas.18
De fato, um dos maiores danos decorrentes do empreendimento é, sem dúvida,
o atropelamento de fauna silvestre. Nas condições atuais da estrada, que não permitem o
desenvolvimento de alta velocidade, o número de atropelamentos já é crítico! Com o
asfaltamento o tráfego será praticamente triplicado, e a velocidade será muito maior. Sem
medidas de mitigação adequadas, o empreendimento se tornará verdadeiro abatedouro de
animais silvestres, inclusive ameaçados de extinção. Tal impacto já existe, e aumentará de
forma exponencial com o asfaltamento, conforme evidenciam as imagens abaixo, tiradas em
outra estrada asfaltada próxima à Unidade de Conservação9.
Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) Jaguatirica (Leopardus pardalis)
9 Registros fotográficos de fauna atropelada. Fonte: Monitoramento de atropelamento de animais silvestres no trecho da BR 381. Autores: Jacqueline Michelle de Oliveira Pereira & Jacinto Moreira de Lana - Cenibra
19
Tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla)
Sagui (Callithrix geoffroyi) Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous)
20
Onça-pintada, que vinha sendo monitorada pelo projeto, recentemente atropelada na rodovia. Ver Anexo III (Doc.). Fonte: Folha do Meio Ambiente, Edição Impressa 200105
Onça atropelada na BR-469, que corta Parque Nacional do Iguaçu. Estimativa é que existam cerca de dez indivíduos na unidade. (Foto: Acervo/Parque Nacional do Iguaçu). Ver Anexo III (Doc.).
Gavião se alimenta de capivara atropelada na estrada que cruza a Estação Ecológica do Taim- RS. Foto: Alex Bager. Ver Anexo III (Doc.).
Gatos-do-mato e outros felinos são constantemente abatidos nas rodovias, tornando-os mais vulneráveis aos riscos de extinção. Foto: Alex Bager. Ver Anexo III (Doc.).
Sem ter bons dados sobre atropelamentos da fauna brasileira, os órgãos ambientais ficam limitados no desenho de medidas que mitiguem os impactos. Ver Anexo III (Doc.).
A pesquisa desenvolvida por Alex Bager na ESEC do Taim revelou o número assustador de 100 mil indivíduos mortos por ano, como a lontra da foto acima. Ver Anexo III (Doc.).
21
Segundo o parecer único da SUPRAM, foram propostas apenas 4 travessias de
fauna, sem fundamento em estudo que relacione os hábitos dos animais que ocorrem na área e
os tipos de passagem ou locais definidos. O próprio órgão ambiental admite a omissão nos
estudos, e da maior gravidade:
Uma vez não foi contemplada a sazonalidade nas campanhas de amostragem, a equipe
interdisciplinar da Supram-LM recomenda que seja feita a revisão no cronograma
deste Programa, de acordo com o que estabelece a Instrução Normativa IBAMA N.º
146, de 10/01/2007, devendo este ser apresentado ao órgão ambiental competente
(Condicionante 13 do Anexo I).
Segundo a referida Instrução Normativa, absolutamente descumprida no caso,
deveriam ter sido feitas ao menos uma coleta de dados primários de todos os grupos da fauna
no período chuvoso e uma no período seco. É o mínimo para conhecimento dos hábitos dos
animais. Tais dados precisam ser anteriores à obtenção da licença prévia, justamente para
fundamentarem a análise de viabilidade e permitirem a adequada definição de medidas de
mitigação de impactos, tais como locais e tipos de travessia de fauna apropriados, antes de
qualquer intervenção.
A exigência posterior dos estudos é praticamente inócua. Os dados serão
totalmente mascarados pelo próprio afugentamento da fauna, causado pelas máquinas.
Em relação à flora, destaca o laudo que são conhecidas pelo menos 17 espécies
vegetais de ocorrência no Parque presentes nas listas de espécies da flora ameaçadas de
extinção (MMA 2008) e Biodiversitas (2007), sendo que destas apenas Ocotea odorifera e
Euterpe edulis são citadas no RCA, porém sem mencionar o status de ameaçada. A situação
de incerteza impediria a elaboração de programas para a mitigação de impactos específicos
para as espécies ameaçadas.
III.3. Ameaça à Mata Atlântica
Importante ressaltar que a aplicação da Lei Federal 11.428/2006 (Lei da Mata
Atlântica) depende da adequada caracterização da vegetação. A ausência de informações
fatalmente levará ao descumprimento da norma.
22
Serão suprimidos aproximadamente 8,5 hectares de Mata Atlântica em estágio
médio de regeneração. Algumas ilegalidades no processo de licenciamento podem ser
facilmente constatadas face ao disposto na Lei da Mata Atlântica. Um primeiro ponto se
refere à inobservância de requisito básico para autorização da supressão, qual seja,
apresentação de estudo de alternativa técnica e locacional , conforme previsão do art. 14 da
citada lei:
Art. 14. A supressão de vegetação primária e secundária no estágio avançado de
regeneração somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública, sendo que a
vegetação secundária em estágio médio de regeneração poderá ser suprimida nos
casos de utilidade pública e interesse social, em todos os casos devidamente
caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir
alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto, ressalvado o disposto no
inciso I do art. 30 e nos §§ 1o e 2o do art. 31 desta Lei.
Portanto, não basta o empreendimento ser declarado de utilidade pública. Deve
ser demonstrado que a alternativa de traçado e as técnicas, especialmente de mitigação de
impactos à fauna, são as melhores para o meio ambiente. Não foram feitos tais estudos no
caso em análise. E nem se diga que existe rigidez locacional em virtude da existência e
estrada de terra. É perfeitamente possível a avaliação de alternativas para afastamento de
trechos.
A SUPRAM Leste Mineiro foi totalmente omissa em relação ao disposto no
art. 11 da Lei da Mata Atlântica, segundo o qual:
Art. 11. O corte e a supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado e
médio de regeneração do Bioma Mata Atlântica ficam vedados quando:
I - a vegetação:
a) abrigar espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção, em território
nacional ou em âmbito estadual, assim declaradas pela União ou pelos Estados, e a
intervenção ou o parcelamento puserem em risco a sobrevivência dessas espécies;
b) exercer a função de proteção de mananciais ou de prevenção e controle de erosão;
c) formar corredores entre remanescentes de vegetação primária ou secundária em
estágio avançado de regeneração;
d) proteger o entorno das unidades de conservação; ou23
e) possuir excepcional valor paisagístico, reconhecido pelos órgãos executivos
competentes do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA;
Não há qualquer discussão acerca das vedações no licenciamento. O Decreto
Federal 6.660/2008, que regulamenta a Lei da Mata Atlântica, ainda vai além:
Art. 39. A autorização para o corte ou a supressão, em remanescentes de vegetação
nativa, de espécie ameaçada de extinção constante da Lista Oficial de Espécies da
Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção ou constantes de listas dos Estados, nos casos
de que tratam os arts. 20, 21, 23, incisos I e IV, e 32 da Lei no 11.428, de 2006, deverá
ser precedida de parecer técnico do órgão ambiental competente atestando a
inexistência de alternativa técnica e locacional e que os impactos do corte ou
supressão serão adequadamente mitigados e não agravarão o risco à sobrevivência in
situ da espécie.
Parágrafo único. Nos termos do art. 11, inciso I, alínea “a”, da Lei no 11.428, de 2006,
é vedada a autorização de que trata o caput nos casos em que a intervenção,
parcelamento ou empreendimento puserem em risco a sobrevivência in situ de
espécies da flora ou fauna ameaçadas de extinção, tais como:
I - corte ou supressão de espécie ameaçada de extinção de ocorrência restrita à área de
abrangência direta da intervenção, parcelamento ou empreendimento; ou
II - corte ou supressão de população vegetal com variabilidade genética exclusiva na
área de abrangência direta da intervenção, parcelamento ou empreendimento.
Não existe o referido parecer no processo, apesar da ocorrência de espécies da
flora e da fauna ameaçadas de extinção. No entanto, a autorização para a supressão já foi
inclusive concedida, através das licenças ad referendum, configurando, em tese, o crime
ambiental do art. 38-A da Lei Federal nº 9.605/1998.
III.4. Indevido fracionamento do licenciamento ambiental
Expediente reprovável, explicitamente adotado para burlar o licenciamento e a
exigência de EIA/RIMA, é a fragmentação do empreendimento em duas fases ou mais fases.
A primeira fase é utilizada para consolidar os impactos e forçar a conclusão de viabilidade
futura de todo o empreendimento. Os impactos são subdimensionados, são exigidos estudos
mais simplificados e a análise de viabilidade é feita com fundamento em dados fragmentados.24
Já há outro processo de licenciamento em trâmite para o segundo trecho da
rodovia, conforme informa o próprio RCA apresentado pelo empreendedor:
Engesolo Engenharia Ltda. apresenta ao Departamento de Estradas de Rodagem do
Estado de Minas Gerais – DER/MG a minuta do Relatório de Controle Ambiental
(RCA) referente ao Contrato, de nº PRC-24.052/08, firmado entre as partes, e ordem
de início em 15/10/08. O objeto do referido contrato consta de Elaboração de Projeto
de Engenharia Rodoviária para Implantação, Melhoramento, Pavimentação,
Restauração e Aumento de Capacidade dos Trechos Timóteo (Contorno) – Entrº São
José do Goiabal, da Rodovia LMG/760, com extensão aproximada de 64,10 km e
Entrº São José do Goiabal – Entrº BR/262, da Rodovia MG/320, com extensão
aproximada de 7,0 km. O presente relatório contempla o trecho "Entroncamento BR-
262 - Cava Grande", uma vez que o complemento do trecho relativo ao "Contorno de
Timóteo" encontra-se ainda em fase de Estudos.
Cumpre esclarecer que, para este segundo trecho, de forma contraditória, está
sendo elaborado EIA/RIMA por exigência da SUPRAM Leste Mineiro. Isso evidencia não
apenas a necessidade de EIA/RIMA para o primeiro trecho, como também a importância de
unificação da análise de viabilidade do empreendimento como um todo. Tal aspecto será
devidamente pormenorizado na Ação Principal a ser proposta.
III.5. Da concessão irregular das licenças ad referendum
Segundo a Constituição Estadual, o órgão de controle e política ambiental deve
ser colegiado, garantida a participação da sociedade civil, competindo-lhe o
estabelecimento de normas regulamentares e técnicas, padrões e demais medidas de caráter
operacional, para proteção do meio ambiente e controle da utilização racional dos recursos
ambientais (inciso IX do §1o do artigo 214 da CE).
Tal exigência da Constituição Mineira está em consonância com o Princípio
da Participação Comunitária na concretização da política ambiental, Princípio de n. 10 da
Declaração do Rio de Janeiro (Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento – ECO-92), ratificada pelo Congresso Nacional via Decreto Legislativo
2/1994, que impõe a participação dos cidadãos no processo decisório da política ambiental,
25
circunstância que atende aos desígnios da CF/1988 sobre a construção de uma sociedade
solidária (art. 3o, I), também no campo de responsabilidade ambiental (art. 225, caput).
Sem embargo, não bastasse a previsão expressa na Constituição do Estado de
Minas Gerais de um órgão colegiado competente para deliberação sobre todas as medidas de
caráter operacional de proteção do meio ambiente e controle da utilização racional dos
recursos ambientais, a Lei Complementar 140/2011, que trata das competências dos entes
federados para as ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum
relativa à proteção do meio ambiente, exige a existência de conselho de meio ambiente no
Estado como conditio sine qua non para o exercício das ações administrativas de
licenciamento e na autorização ambiental, sob pena de atuação supletiva da União, até a
criação do colegiado (inciso I do art. 15 da Lei).
Na mesma linha, enfatizando a importância dos conselhos de meio ambiente, a
Lei Complementar 140/2011 exige que qualquer delegação pelo ente federativo para a
execução de ações administrativas a ele atribuídas somente será admitida se o ente
destinatário da delegação dispuser de conselho de meio ambiente (art. 5o da Lei).
Ainda nesta direção, atuando no exercício da atribuição instituída pela Lei de
Política Nacional do Meio Ambiente (artigos 6o, II, e 8º, VII, da Lei 6.938/81), o Conselho
Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) já havia editado a Resolução 237/1997, segundo a
qual os entes federados, para exercerem suas competências licenciatórias, deverão ter
implementados os Conselhos de Meio Ambiente, com caráter deliberativo e participação
social (art. 20 da Resolução).
Em Minas Gerais, tal colegiado é denominado Conselho Estadual de Política
Ambiental (COPAM), subordinado administrativamente à Secretaria de Estado de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), instituído pelo Decreto nº 18.466, de 29
de abril de 1977, incumbe a análise, concessão ou indeferimento de pedido de licenças
ambientais para atividades causadoras de impactos ambientais, conforme previsão contida no
artigo 10 da Lei nº 6.938/81 c/c artigo 9° do Decreto Estadual nº 44.844/2008 e artigo 11,
inciso VI, do Decreto Estadual nº 44.667/2007.
O COPAM é integrado por diversas Unidades Regionais Colegiadas (URC’s),
as quais consubstanciam unidades deliberativas e normativas, incumbindo-lhes, no âmbito de
sua atuação territorial, a de decidir sobre pedidos de concessão de licença ambiental.
26
Não obstante, fato é que o empreendedor solicitou licença ad referendum ao
Secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, que foi concedida
em 23/08/2013, conforme Ofício nº 027/2013 GAB/PRE/COPAM10.
Todavia, como se faz sentir, é fora de dúvida que as disposições criadas por
Decreto que buscam conferir ao Secretário de Meio Ambiente poderes para decidir casos ad
referendum das unidades competentes do COPAM (inc. V do art. 8o do Decreto 44.667/2007),
entre outras, afastam-se dos limites preconizados na Constituição Estadual, no Princípio 10 da
Rio 92, na Lei Complementar 140/2011, na Resolução CONAMA 237/1997 e no art. 3º da
Lei Delegada 178/2007, pervertendo o comando nelas contido, de definição da política
ambiental por órgão colegiado e com participação social.
Vale dizer, o Decreto Estadual 44.667/2007 criou o ad referendum sem amparo
na norma que regulamenta, a Lei Complementar 178/2007, não existindo fundamento legal
para a concessão desta licença.
Vejamos o que diz o Decreto Estadual 44.667/2007:
Art. 8º - Compete ao Presidente:
(...)
V - decidir casos de urgência ou inadiáveis, do interesse ou salvaguarda do Conselho,
ad referendum da unidade competente do COPAM, mediante motivação expressa
constante do ato que formalizar a decisão;
No presente caso, é fácil notar que não há qualquer urgência a justificar a
licença ad referendum.
É o que evidencia o tramite do próprio licenciamento, já que o asfaltamento da
estrada já é aventado há anos, e o próprio licenciamento teve início em 2010. Desde então,
não ocorreu qualquer desastre, acidente, caso fortuito ou de força maior a justificar
tecnicamente a licença.
Cumpre esclarecer que não existe fundamento legal para a concessão de ad
referendum. O Decreto Estadual nº 4.667/2007 criou o ad referendum sem amparo na norma
que regulamenta, Lei Complementar nº 178/2007. Ainda que se admita a possibilidade de
autorizações emergenciais extraordinárias para garantia de integridade da vida, ou mesmo
para obras emergenciais para evitar acidentes ambientais, no caso em apreço não há nenhum
elemento de urgência.10 Grifos nossos.
27
Segundo o Parecer Único da SUPRAM Leste Mineiro, as justificativas
apresentadas foram (Doc. 01, p.39):
1. O DER obteve informação que os recursos orçamentários-financeiros necessários
para início das obras de melhoria e pavimentação da Rodovia LMG 760 – Trecho
Entrª BR262 – Cava Grande, objeto de contrato PRC-22.038/12, celebrado com a
empresa Tamasa Engenharia S/A, integrante do Programa Caminhos de Minas, serão
disponibilizados em agosto de 2013;
2. Que a referida obra é de grande interesse da comunidade local uma vez que
favorece a trafegabilidade e incentiva as atividades econômicas e sociais dos
municípios envolvidos;
3. A importância do início das obras antes do período chuvoso, evitando que haja
carreamento de material das obras de terraplanagem e processos erosivos;
As justificativas 1 e 2 não são suficientes para fundamentar uma decisão e
obras a toque de caixa, com diversas ilegalidades e omissões graves. Tornam-se ainda mais
questionáveis diante do fato do licenciamento ter se iniciado em 2010. Recursos financeiros
para asfaltamento de uma estrada justificam o risco de extinção da onça pintada na região do
Parque do Rio Doce, que abriga uma das últimas populações viáveis da espécie em Minas
Gerais? Justificam os danos à fauna silvestre ameaçada de extinção, que será constantemente
vitimada por atropelamentos?
Se o asfaltamento é de grande interesse da comunidade, tal circunstância não
surgiu de um dia para o outro. Sempre houve o interesse, o que não configura urgência.
A justificativa nº 3, no entanto, é a que mais insensata, desafiando a
inteligência e o bom senso comuns. Isso porque as obras foram iniciadas no final de
novembro, justamente quando as chuvas torrenciais começaram.
A concessão do ad referendum usurpa a competência licenciatória do COPAM,
órgão legitimado para analisar o processo, inclusive pela própria participação da sociedade no
conselho. No presente licenciamento, a situação é agravada pelo fato de se tratar de licença
prévia concomitante com licença de instalação, ou seja, as obras não apenas foram
autorizadas, como já iniciadas, consumando o dano em situação paradoxal, porque o órgão
competente para analisar a viabilidade do empreendimento sequer se manifestou. As obras
estão sendo realizadas a toque de caixa, consolidando dano irreparável ao meio ambiente.28
Tais situações exigem medidas drásticas e exemplares, a par de demonstrar os
administradores públicos que os limites de sua atuação estão nas leis.
IV. DA LIMINAR
No Direito Ambiental, em razão dos princípios da prevalência do meio
ambiente, da prevenção e da precaução, ganham relevo as tutelas específicas de urgência,
sobretudo aquelas que permitem o afastamento do próprio ilícito (ditas inibitórias),
impedindo-se, consequentemente e não raras vezes, a ocorrência do dano ambiental.
A sistemática da tutela judicial ambiental obedece ao entendimento de que
antes da ocorrência do dano ambiental deve-se optar pelo provimento capaz de inibir ou
remover o ilícito.
Há casos, portanto, em que se verifica um ato antijurídico que deve ser
combatido mesmo que ainda não tenha ocorrido dano ou mesmo que nem venha a ocorrer. A
constatação desse ato, pelo simples fato de ser ilícito, deve ensejar provimento jurisdicional
apto à sua inibição/remoção.
Com efeito, no caso em foco, é inarredável a necessidade da concessão de
provimento jurisdicional de urgência (medida liminar) que retire de pauta o processo de
licenciamento ambiental da rodovia MG-320/LMG-760 e suspenda a licença ambiental
ad referendum concedida , autorizando o início das obras. Ressalte-se que as obras
desenvolvidas desde a concessão do ad referendum já causaram impactos, consumando
parcialmente o dano ambiental.
Assim, é justamente como forma de se garantir que a viabilidade ambiental do
empreendimento seja minuciosamente analisada pelo órgão ambiental competente
(licenciador), bem como para se impedir que mais danos ao meio ambiente sejam
concretizados pelos requeridos, é que se mostra imperiosa a rápida atuação do Poder
Judiciário para coibir os desrespeitos à Constituição Federal e à legislação ambiental.
Estão visivelmente presentes os requisitos da cautelaridade necessários para a
concessão da medida liminar pretendida no caso em foco.
Na hipótese vertente, os fatos alegados encontram-se cabalmente demonstrados
pelo conjunto probatório carreado aos autos.
29
Outrossim, a verossimilhança das alegações é notória, tendo em vista que o ato
administrativo (processo de licenciamento) ora fustigado contraria textos normativos
expressos, conforme exaustivamente acima demonstrado.
Com efeito, o fumus boni iuris reside na normatização aplicável à espécie, que,
conforme dito, tem sede constitucional, posto que a Carta Magna, no que foi esmiuçada pela
legislação infraconstitucional, estabeleceu a obrigação de preservação do meio ambiente e
previu regramento específico relativamente à necessidade de prévio licenciamento ambiental,
com EIA/RIMA, apto a avaliar efetivamente a viabilidade do empreendimento.
Não se olvide que o ato administrativo consubstanciado nas licenças prévia e
de instalação concomitantes eventualmente concedidas ao réu DER será nulo de pleno direito,
tendo em vista que dispensará indevidamente o empreendedor de demonstrar de fato a
viabilidade ambiental do empreendimento, haja vista a ausência, até o momento, de EIA e das
medidas de mitigação indispensáveis pela natureza do empreendimento.
Já o periculum in mora reside no fato de que, caso não seja retirado de pauta o
processo de licenciamento ambiental em foco e suspensa a licença ad referendum, correr-se-á
o risco de concessão da licença de instalação ao empreendimento, com a consequente
autorização para continuidade e imediato início das obras. Como já mencionado, as obras já
foram iniciadas, sendo emergencial sua paralisação, sob pena de consumação de danos
irreparáveis a um dos mais importantes patrimônios biológicos de Minas Gerais.
Qualquer empreendimento que implique em perda e fragmentação de
habitat de espécie ameaçada contribui proporcionalmente com o processo de extinção .
As populações são proporcionais à área disponível. A redução de área pode levar a “reajuste
populacional”. Não seria possível, no caso, estimar qual seria o declínio das populações,
especialmente diante dos impactos já descritos sobre a fauna.
Destaque-se, dentre as espécies ameaçadas já citadas, a onça-pintada, maior
felino da América Latina. Segundo o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de
Extinção (p.794), a eliminação do habitat da onça-pintada é o principal fator de ameaça à
espécie, já que as populações demandam grandes áreas com boa qualidade ambiental para se
manterem reprodutivas e estáveis. A divisão da população em fragmentos isolados de habitat
inviabiliza a existência a longo prazo, sendo fundamental, portanto, a manutenção de
conectividade entre os remanescentes de vegetação nativa. A publicação ainda indica como
30
principal estratégia de conservação da espécie na natureza a proteção de grandes porções de
habitat, com manutenção de conectividade.
No caso do Parque do Rio Doce, as políticas públicas para a conservação são
inexistentes. A unidade de conservação vem sendo estrangulada por inúmeros
empreendimentos avaliados de forma pontual, sem qualquer preocupação com a garantia de
manutenção de áreas no entorno que possam cumprir o papel de corredor ecológico. Isoladas,
as populações de espécies que fazem grandes deslocamentos tendem a diminuir e desaparecer.
Inexplicavelmente, os estudos ambientais apresentados concluem pela não ocorrência de
impactos sobre espécies ameaçadas de extinção.
Salienta-se, portanto, que a não adoção da medida de cautela, imediatamente,
poderá redundar em irremediável dano ao meio ambiente, com potencial EXTINÇÃO de
espécies na região, o que justifica a pretendida medida de urgência, tal como em várias
oportunidades decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais, conforme julgados a
seguir colacionados:
“DIREITO AMBIENTAL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - LIMINAR - PREJUÍZO -
SITUAÇÃO MAIS GRAVOSA - PRESERVAÇÃO AMBIENTAL - PREVENÇÃO -
AGRAVO DE INSTRUMENTO - RECURSO DESPROVIDO. - Quando se cuida de
Direito Ambiental, havendo relevância nas alegações feitas por ambas as partes,
prevalece, até definitivo julgamento, a decisão liminar que previne o risco de dano
ambiental, sabidamente de mais difícil restauração.” (TJMG - 1.0672.03.109073-
7/001(1) – Rel. Des. MOREIRA DINIZ – J. 20/05/2004).
“ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO -
AÇÃO CIVIL CAUTELAR - DEFESA DE BEM DE VALOR PAISAGÍSTICO -
CONCESSÃO DE LIMINAR - PRESENÇA DE REQUISITOS - "FUMUS BONI
IURIS" E "PERICULUM IN MORA" - INTERRUPÇÃO DE ATIVIDADES OU
OBRAS - IMÓVEL QUE SE PRETENDE SEJA TOMBADO - PRESERVAÇÃO DO
PATRIMÔNIO - MANUTENÇÃO - IMPROVIMENTO DA IRRESIGNAÇÃO.
Presentes os indispensáveis requisitos do "fumus boni iuris" e do "periculum in mora",
deve ser mantida a liminar que determinou aos Agravados a interrupção imediata de
quaisquer atividades ou obras realizadas em imóvel que se pretende seja tombado, sob
pena de se tornar inócua a eventual decisão pela preservação do patrimônio, como
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valor histórico e cultural, se se aguardar o trâmite final de Ação Civil de defesa de
bem de valor paisagístico.” (TJMG - 1.0151.05.011808-3/001(1) – Rel. DORIVAL
GUIMARÃES PEREIRA 23/09/2005).
Vale a pena trazer à baila os ensinamentos do mestre RODOLFO DE
CAMARGO MANCUSO11, que assevera: “Compreende-se uma tal ênfase dada à tutela
jurisdicional preventiva, no campo dos interesses metaindividuais, em geral, e, em especial,
em matéria ambiental, tendo em vista os princípios da prevenção, ou da precaução, que são
basilares nessa matéria. Assim, dispõe o princípio n. 15 estabelecido na Conferência da
Terra, no Rio de Janeiro (dita ECO 92): “com o fim de proteger o meio ambiente, os Estados
deverão aplicar amplamente o critério de precaução conforme suas capacidades. Quando
houver perigo de dano grave ou irreversível, a falta de certeza científica absoluta não deverá
ser utilizada como razão para se adiar a adoção de medidas eficazes em função dos custos
para impedir a degradação do meio ambiente”. Igualmente, dispõe o Princípio n. 12 da
Carta da Terra (1997): “importar-se com a Terra, protegendo e restaurando a diversidade, a
integridade e a beleza dos ecossistemas do planeta. Onde há risco de dano irreversível ou
sério ao meio ambiente, deve ser tomada uma ação de precaução para prevenir prejuízos.”
(Grifo nosso).
Disso resulta a necessidade da concessão imediata de tutela de urgência, forte
nos artigos 4o, 11 e 12 da Lei 7.347/1985 (LACP) e 83 e 84, §2º, da Lei 8.078/1990 (CDC).
As Leis referidas integram o sistema de tutela coletiva, em razão do art. 90 do
CDC, que manda aplicar às ações ajuizadas com base nesse Código as normas da Lei de Ação
Civil Pública e do Código de Processo Civil, e do art. 21 da Lei de Ação Civil Pública, que
afirma que são aplicáveis às ações nela fundadas as disposições processuais que estão no
Código de Defesa do Consumidor.
Logo, deve ser deferida a liminar, determinando-se, de pronto, a retirada de
pauta do processo de licenciamento PA/Nº 09043/2010/001/2010, até que ocorra o amplo
saneamento do processo, através da apresentação de EIA/RIMA com a devida consideração
dos impactos ambientais e proposição de medidas mitigadoras efetivas, além da suspensão
das licenças indevidamente concedidas.
11 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação Civil Pública: em defesa do meio ambiente, do patrimônio cultural e
dos consumidores. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p.263.32
Ressalte-se ser absolutamente dispensável a oitiva prévia do Requerido Estado
de Minas Gerais, haja vista ter ele plena ciência dos fundamentos da ação, tendo, inclusive,
apresentado parecer favorável e concedido Licença Ambiental ad referendum ao
empreendimento.
V. DOS PEDIDOS E DOS REQUERIMENTOS:
Diante do exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO:
a) LIMINARMENTE, inaudita altera pars, que seja determinado:
a.1) a suspensão das Licenças Prévia e de Instalação concedidas ad
referendum pelo Presidente do COPAM;
a.2) ao Estado de Minas Gerais, por meio da Presidência da Unidade
Regional Colegiada do Leste Mineiro do Conselho Estadual de Política Ambiental, que
retire da pauta da 98ª Reunião Ordinária da aludida Unidade Regional Colegiada,
designada para o dia 12 de dezembro de 2.013, às 13:30, na cidade de Governador
Valadares/MG, o processo administrativo de licenciamento ambiental PA/Nº
09043/2010/001/2010, relativo à pavimentação da rodovia MG-320/LMG-760;
a.3) ao Estado de Minas Gerais, por meio da Presidência da Unidade
Regional Colegiada do Leste Mineiro do Conselho Estadual de Política Ambiental, que
se abstenha de pautar para julgamento o aludido processo (ou outro com o mesmo
objeto) até que haja decisão judicial final na ação principal, que será proposta no prazo
legal;
a.4) ao réu Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER) que
suspenda imediatamente as obras iniciadas, até que haja decisão judicial final na ação
principal, que será proposta no prazo legal.
tudo sob pena de, não o fazendo ou dificultando o cumprimento das medidas,
serem responsabilizados pessoalmente os seus representantes legais pelo crime previsto no
artigo 330 do Código Penal, sem prejuízo da multa diária a que se refere o artigo 12, § 2º, da
Lei nº 7.347/85 e o artigo 84, § 4º, da Lei nº 8.078/90, a ser fixada por Vossa Excelência, o
que fica desde já requerido à base de R$1.000.000,00 (um milhão de reais), sem prejuízo, 33
ainda, da aplicação da multa prevista no artigo 14, inciso V, do Código de Processo Civil, que
fica desde já requerida à base de 20% (vinte por cento) do valor da causa.
b) a citação dos réus para, querendo, contestarem a presente ação, que deverá
seguir o rito ordinário, no prazo legal e sob pena de revelia.
c) a inversão do ônus da prova, sendo verossímeis as alegações contidas
nesta peça, segundo as regras ordinárias de experiência, sem embargo da produção de todas
as provas em Direito admitidas, notadamente a juntada de outros documentos, realização de
perícias, oitivas de testemunhas, depoimento pessoal dos réus e outras que se fizerem
necessárias.
d) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos,
desde logo, à vista do disposto nos artigos 18 e 21 da Lei 7.347/1985 e no artigo 87 do
Código de Defesa do Consumidor.
e) a intimação pessoal do Ministério Público do Estado de Minas Gerais
de todos os atos e termos processuais, através da entrega dos autos com vista, na pessoa do
Promotor de Justiça Coordenador-Geral das Promotorias de Justiça por Bacia Hidrográfica de
Minas Gerais, situada na Rua Dias Adorno, n.º 367, 8º andar, Santo Agostinho, Belo
Horizonte/MG - CEP: 30190-100, nos termos do §2º do art. 236 do Código de Processo Civil
e do art. 41, inc. IV, da Lei 8.625/1993.
f) ao final, a PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS, tornando-se definitiva a
liminar pretendida, determinando-se:
f.1) a suspensão das Licenças Prévia e de Instalação concedidas ad
referendum pelo Presidente do COPAM;
f.2) ao Estado de Minas Gerais, por meio da Presidência da Unidade
Regional Colegiada do Leste Mineiro do Conselho Estadual de Política Ambiental, que retire
da pauta da 98ª Reunião Ordinária da aludida Unidade Regional Colegiada, designada para o
dia 12 de dezembro de 2.013, às 13:30, na cidade de Governador Valadares/MG, o processo
administrativo de licenciamento ambiental PA/Nº 09043/2010/001/2010, relativo à
pavimentação da rodovia MG-320/LMG-760;
f.3) ao Estado de Minas Gerais, por meio da Presidência da Unidade
Regional Colegiada do Leste Mineiro do Conselho Estadual de Política Ambiental, que se
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abstenha de pautar para julgamento o aludido processo (ou outro com o mesmo objeto) até
que haja decisão judicial final na ação principal, que será proposta no prazo legal;
f.4) ao réu Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER) que
suspenda imediatamente as obras iniciadas, até que haja decisão judicial final na ação
principal, que será proposta no prazo legal.
Dá-se a causa, embora inestimável, o valor de R$1.000.000,00.
Nestes termos,
pede deferimento.
Belo Horizonte/MG, 06 de dezembro de 2.013.
Andrea de Figueiredo SoaresPromotora de Justiça
Curadora do Meio Ambiente de Belo Horizonte
LEONARDO CASTRO MAIA
Promotor de Justiça
Coordenador das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente da Bacia do Rio
Doce
CARLOS EDUARDO FERREIRA PINTO
Promotor de Justiça
Coordenador Geral das Promotorias de Justiça por Bacias Hidrográficas de Minas Gerais
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