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MODELO CONCEITUAL PARA O EXTRATIVISMO SUSTENTÁVEL 1 DA MACAÚBA, NA AMÉRICA LATINA. 2 MARCELO MENCARINI LIMA¹; EUGENIO AVILA PEDROZO²; JOSÉ CARLOS 3 FIALHO DE REZENDE³ 4 5 INTRODUÇÃO 6 A produção sustentável de macaúba (Acrocomia Aculeata), pode se tornar 7 alternativa mais sustentável do que atualmente se explora de modo extrativista, 8 predominantes nas regiões tropicais da América Latina (AL). Propõe-se com este artigo 9 estratégias sócio-ambientalmente amigáveis na adoção da visão da organização 10 industrial. Deve ser ligada às necessidades da gestão das cadeias produtivas 11 agroindustriais (CPAs) focada em aspectos distributivos do produto industrial, para 12 ajustar às novas demandas da sociedade por resiliência e biodiversidade. Atualmente as 13 CPAs do produto final óleo de macaúba, no Brasil e Paraguai predominam, nas 14 agroindústrias (AGI), com as respectivas commodities, a seguir descritas: Ynca e 15 cavallaro (sabão), Bisa, Royale, CooperRiachão e Indhor (óleo de polpa e amêndoa), 16 Paradigma (insumo para filtros e óleo da polpa com baixa acidez). Essas AGI foram 17 objeto das entrevistas desta pesquisa todas estas firmas trabalham com produto do 18 agroextrativismo, com fins estritamente econômicos. Conforme Lima (2011) o Paraguai 19 chegou a processar, em 2009, 100 mil toneladas de mBocaya (Acrocomia Totai), mas a 20 pressão sobre os maciços florestais, especialmente devido à expansão urbana diminuiu 21 em aproximadamente 30% a capacidade produtiva. O modelo aqui proposto dedica o 22 olhar do conjunto e preenche as lacunas conceituas relativas à sustentabilidade para a 23 macaúba. Baseia-se em Lima (2011) e foca nas alterações de qualidade do meio 24 ambiente, compreendida como alterações na qualidade de vida. Visa à diferenciação da 25 produção e considera elementos das dimensões do desenvolvimento sustentável (DS) na 26 busca de sustentabilidade, com impactos positivos na redução de emissão de poluentes, 27 a diminuição da degradação do material genético e sua perpetuação. 28 MATERIAL E MÉTODOS 29 A presente proposição parte do pressuposto de que a longo prazo o cresci- 30 ¹Embrapa [email protected]. ² UFRGS; [email protected]. ³ EPAMIG. [email protected]

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Artigo publicado nos anais do Congresso Brasileiro de Macaúba, em 2013.

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Page 1: Modelo conceitual para o extrativismo sustentável da macaúba, na américa latina marcelo mencarini lima final

MODELO CONCEITUAL PARA O EXTRATIVISMO SUSTENTÁVEL 1

DA MACAÚBA, NA AMÉRICA LATINA. 2

MARCELO MENCARINI LIMA¹; EUGENIO AVILA PEDROZO²; JOSÉ CARLOS 3

FIALHO DE REZENDE³ 4

5

INTRODUÇÃO 6

A produção sustentável de macaúba (Acrocomia Aculeata), pode se tornar 7

alternativa mais sustentável do que atualmente se explora de modo extrativista, 8

predominantes nas regiões tropicais da América Latina (AL). Propõe-se com este artigo 9

estratégias sócio-ambientalmente amigáveis na adoção da visão da organização 10

industrial. Deve ser ligada às necessidades da gestão das cadeias produtivas 11

agroindustriais (CPAs) focada em aspectos distributivos do produto industrial, para 12

ajustar às novas demandas da sociedade por resiliência e biodiversidade. Atualmente as 13

CPAs do produto final óleo de macaúba, no Brasil e Paraguai predominam, nas 14

agroindústrias (AGI), com as respectivas commodities, a seguir descritas: Ynca e 15

cavallaro (sabão), Bisa, Royale, CooperRiachão e Indhor (óleo de polpa e amêndoa), 16

Paradigma (insumo para filtros e óleo da polpa com baixa acidez). Essas AGI foram 17

objeto das entrevistas desta pesquisa todas estas firmas trabalham com produto do 18

agroextrativismo, com fins estritamente econômicos. Conforme Lima (2011) o Paraguai 19

chegou a processar, em 2009, 100 mil toneladas de mBocaya (Acrocomia Totai), mas a 20

pressão sobre os maciços florestais, especialmente devido à expansão urbana diminuiu 21

em aproximadamente 30% a capacidade produtiva. O modelo aqui proposto dedica o 22

olhar do conjunto e preenche as lacunas conceituas relativas à sustentabilidade para a 23

macaúba. Baseia-se em Lima (2011) e foca nas alterações de qualidade do meio 24

ambiente, compreendida como alterações na qualidade de vida. Visa à diferenciação da 25

produção e considera elementos das dimensões do desenvolvimento sustentável (DS) na 26

busca de sustentabilidade, com impactos positivos na redução de emissão de poluentes, 27

a diminuição da degradação do material genético e sua perpetuação. 28

MATERIAL E MÉTODOS 29

A presente proposição parte do pressuposto de que a longo prazo o cresci- 30

¹Embrapa [email protected]. ² UFRGS; [email protected]. ³ EPAMIG. [email protected]

Page 2: Modelo conceitual para o extrativismo sustentável da macaúba, na américa latina marcelo mencarini lima final

mento econômico baseado na macaúba nos moldes de baixa distribuição dos benefícios 31

das CPAs é insustentável, devido ao aumento de danos ambientais provocados sobre as 32

culturas da sociobiodiversidade. Diante do atual quadro de restrições ambientais, o 33

objetivo desta pesquisa foi propor um modelo para o extrativismo sustentável da 34

macaúba para a AL, capaz de analisar a evolução dos produtos a partir de macaúba, e 35

orienta-la para propor os próximos passos de decisão, que a diferencie como cultura 36

perene endógena dotada de sistemas de produção sustentáveis. Os parâmetros utilizados 37

foram os de Lima (2011), cujo modelo integra soluções aplicadas na CPA sustentável 38

da macaúba na AL. O foco geográfico foi nos países Brasil e Paraguai e o período de 39

coleta de dados primários e secundários foi de 2006 a 2013. Os tópicos abordados junto 40

aos entrevistados, pertencentes aos ambientes interno e externo às CPAs da macaúba na 41

AL encontram-se no quadro 1. 42

43

A) Desenvolvimento Sustentável B) Diretrizes no nível das CPA

C) micro- macro sugestões de orientação integrativa para sistemas de

produção em suas fases SP 0 e 1

a) Dimensão a’) Elemento

a1) Econômica a’1) Crescimento; a’2) Eficiência;

a’3) Estabilidade.

(ESTRATÉGIA) B1. Estratégico e econômicas

C1) ampliação da utilidade de produtos derivados

C2) aumento qualidade e diminuição dos desperdícios;

C3) adequação simultânea da regras.

a2) Ambiental

a’4) Resiliência/Biodiversidade

a’5) Recursos naturais; a’6) Impactos.

(TECNOLOGIA) B2) Descrever a sucessão de operações de transformação

C4) Custo de recuperação das RL/beneficio para meio ambiente;

C5) Conservação on farm; C6) Equidade inter geracional evitando

poluição e mudanças climáticas .

A3) Social a’7) Empoderamento; a’8) Inclusão.

(RELAÇÕES) B3) Relações comerciais e financeiras

que se estabelecem entre todos os estados de transformação

C7) Equidade intra com incentivo local;

C8) Suprimento de necessidades básicas

Quadro 1: Tópicos abordados junto aos entrevistados, nos ambientes interno e externo 44

45

De acordo com o quadro 1, Lima (2011) fez a combinação de dimensões e 46

elementos do DS e diretrizes da CPA, com sugestões de orientação integrativa para 47

sistemas de produção em suas fases SP 0 e 1. Para definir melhor o material de pesquisa 48

e montar o conceito SP0, o sistema de produção agroextrativista original no tempo zero 49

da análise, Sem Plano de Manejo, cabe aqui sistematiza-lo, em seus aspectos 50

filotécnicos e agroindustriais: 51

Page 3: Modelo conceitual para o extrativismo sustentável da macaúba, na américa latina marcelo mencarini lima final

O SP0 iniciou-se por processo co-evolucionário, por se mostrar resiliente, 52

devido às suas características naturais de tolerância à seca e ao fogo, bem como 53

pelas necessidades sociais dos habitantes de 2000 anos, com a sequência de 54

operações em nível de agricultura, particularmente no segmento familiar, a 55

espécie pioneira, comum em áreas que sofreram intervenção antrópica recente, 56

principalmente as de vegetação herbácea (pastagens), e de ocorrência menos 57

comuns de mata nativa fechada. Habita áreas de vegetação aberta e com alta 58

incidência solar, desenvolve-se bem em solo fértil, mas adapta-se a solos 59

arenosos e com baixo índice hídrico, nas condições edafo-climáticas brasileira. 60

A expansão vegetativa da palmeira é rápida, chegando a crescer um metro por 61

ano até atingir seu desenvolvimento completo, em geral aos seis anos. 62

Geralmente mantém 20 a 30 folhas vivas, cada uma com 3 a 5 m de 63

comprimento, projetando copa com 3 a 4 m de diâmetro. A palmeira inicia a 64

produção quando a estipe está bem caracterizada e projetada da superfície do 65

solo, época em que ocorre a queda das primeiras folhas e acontece normalmente, 66

no sexto ou sétimo ano de vida. Na fase inicial da planta, o número de cachos e 67

de frutos é significativamente inferior quando comparado aos das plantas mais 68

velhas, em plena maturidade. A produção nos primeiros anos, como 69

consequência, é pequena e a produtividade cacho/fruto/planta é muito baixa. A 70

frutificação ocorre durante todo o ano e o amadurecimento dos frutos varia 71

conforme a região. Apresenta aparente bianualidade de produção. A produção 72

prolonga-se pelo período de vida e de produção cuja longevidade descrita em 73

sua ecologia mais de 30 anos de vida útil. É recorrente o depoimento de 74

extrativistas entrevistados de colheita em prazo superior a 100 anos e pode 75

chegar a 150 anos (NOVAES, 1952; HENDERSON et al., 1995, SCARIOT et 76

al., 1995, DA MOTTA et al., 2002, JUNQUEIRA, e BRAGA, 2005, LORENZI, 77

2006, FARIAS, 2008, RUBIO NETO, 2010, LIMA, 2011). 78

79

RESULTADOS E DISCUSSÃO 80

Os dados primários e secundários indicaram nos dois países explora-se de forma 81

emergente esta cultura agroindustrial. O contexto em ambos os países é de mudança na 82

paisagem original que se deu por intensas perturbações antrópicas aos processos 83

ecológicos em níveis que chegaram a mais de 70% de eliminação da biodiversidade 84

Page 4: Modelo conceitual para o extrativismo sustentável da macaúba, na américa latina marcelo mencarini lima final

original, na qual se inclui a macaúba, tanto nos cerrados brasileiros, quanto nos Chacos 85

próximos a Asunción, onde se encontravam os maiores maciços florestais de 86

extrativismo. Consequentemente é cada vez maior a dependência de insumos externos. 87

A reflexão sobre as necessidades de alterações econômico-ambientais nos SP 88

remanescente foi realizada tomando como referencia a necessidade de alterações 89

tecnológicas com ênfase na resiliência dos sistemas. As bases da reflexão do ponto de 90

vista da teoria da resiliência, como uma propriedade dos sistemas de retornarem rápido 91

para o equilíbrio estável, quanto mais o ambiente consegue absorver um impacto 92

positivo ou negativo sem se alterar significativamente ou recompor-se rapidamente, 93

mais resiliente é esse ambiente. Considerando-se o elemento da dimensão ambiental 94

Biodiversidade para o Sistemas de produção SEM plano de manejo, entende-se que 95

apenas promove a manutenção da biodiversidade local pelo processo de conservação 96

dentro da propriedade rural (on farm) e dificulta a propagação da espécie, nas condições 97

naturais do ecossistema. Em Lima (2011) e Lima, Pedroso e Rezende (2011) encontra-98

se disponível a analise detalhada do sistema de produção do agroextrativismo, 99

especialmente com a reflexão sobre as necessidades de alterações econômico-100

ambientais. 101

CONCLUSÕES 102

A presente proposta pode integrar-se mediante o uso sustentável da 103

biodiversidade, com macaúba, planta produtora de óleo, da qual encontra-se de forma 104

incipiente na destinação para biocombustíveis. Mantem-se para usos como cosméticos e 105

na alimentação animal. Seu potencial poderá se revelar como cultura agrícola de ciclo 106

completo, pois contribui para o combate ao problema das mudanças climáticas, para a 107

questão do uso da terra em reservas legais e para diminuição da pobreza. 108

109

LIMA, Marcelo Mencarini. Subsidios para o relatório do projeto 577008/2008-0, CNPq 110

edital 24/2008, Emergência de arranjos produtivos de oleaginosas perenes, no 111

cerrado brasileiro: o caso da cadeia produtiva do biodiesel da macaúba no município 112

de Montes Claros MG./ Marcelo Mencarini Lima (responsável pela elaboração do 113

relatório), Eugenio Avila Pedrozo (orientador), José Carlos Fialho de Rezende 114

(coordenador) – Porto Alegre, 2011. 330 p: il. 115