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*ANBIMA: Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais MODELAGEM PARAMÉTRICA DE CURVAS DE CRÉDITO NO MERCADO BRASILEIRO Leonardo Medina Sandro Baroni ANBIMA* ANBIMA* RESUMO Após a crise financeira de 2008, é perceptível a intensificação de esforços globais para aperfeiçoar métodos de avaliação de risco e ajuste de exposição de capital para tornar o sistema financeiro mundial mais sólido e consistente. O objetivo deste trabalho é propor um modelo de estimação de curvas de crédito privado no Brasil, aplicando a modelagem paramétrica de Nelson & Siegel (1987) a uma amostra de preços de debêntures. Os resultados obtidos poderão ser utilizados para auxiliar reguladores e profissionais de mercado com análises de risco, apreçamento de ativos ilíquidos e percepção de expectativas. Palavras-chave: Estrutura a termo. Curvas de Crédito. Debêntures.

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*ANBIMA: Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais

MODELAGEM PARAMÉTRICA DE CURVAS DE CRÉDITO NO MERCADO

BRASILEIRO

Leonardo Medina Sandro Baroni

ANBIMA* ANBIMA*

RESUMO

Após a crise financeira de 2008, é perceptível a intensificação de esforços globais para

aperfeiçoar métodos de avaliação de risco e ajuste de exposição de capital para tornar o

sistema financeiro mundial mais sólido e consistente.

O objetivo deste trabalho é propor um modelo de estimação de curvas de crédito

privado no Brasil, aplicando a modelagem paramétrica de Nelson & Siegel (1987) a uma

amostra de preços de debêntures. Os resultados obtidos poderão ser utilizados para auxiliar

reguladores e profissionais de mercado com análises de risco, apreçamento de ativos ilíquidos

e percepção de expectativas.

Palavras-chave: Estrutura a termo. Curvas de Crédito. Debêntures.

1.INTRODUÇÃO

Avanços em termos de estabilidade econômica têm sido observados no Brasil após a

adoção do plano de metas de inflação, maior disciplina fiscal e ajustamento das contas

externas, possibilitando redução de taxas de juros com estabilidade inflacionária. Em cenários

macroeconômicos como esse, é natural que investidores busquem opções de investimento

com maior rentabilidade, mesmo que tenham que incorrer em maiores riscos.

O risco de crédito, ou de default, é a incerteza associada à probabilidade de um

emissor de uma dívida não honrar, parcial ou totalmente, os pagamentos pactuados em

contrato. Investidores em busca de rentabilidades altas costumam exigir retornos acima da

taxa livre de risco da economia para financiar empresas. Tais retornos, denominados spreads

de crédito, são tão maiores quanto a probabilidade do emissor não arcar com suas

responsabilidades financeiras.

Com a difusão desta classe de ativos, representada no Brasil pelo número crescente de

emissões de debêntures, e após a crise americana 2008, é perceptível a intensificação de

esforços globais para aperfeiçoar métodos de avaliação de risco e ajuste de exposição de

capital para tornar o sistema financeiro mundial mais sólido e consistente.

Portanto, é um destaque na literatura internacional a busca de instrumentos e

metodologias capazes de traduzir variáveis que afetem o comportamento de spreads de

crédito.

O objetivo deste trabalho é propor um modelo de estimação de curvas de crédito

privado no Brasil para auxiliar reguladores e profissionais de mercado com análises de risco,

apreçamento de ativos ilíquidos e percepção de expectativas. O insumo básico utilizado será

uma amostra de preços de debêntures, ativo mais representativo no mercado de crédito

brasileiro.

Neste estudo, são extraídas curvas, paralelas entre si, que traduzem o spread de crédito

médio do mercado brasileiro para os níveis de risco AAA, AA e A, utilizando uma variação

do modelo de Nelson & Siegel (1987), proposta por Diebold et al (2008). O desafio a ser

contornado é a grande dispersão de preços existente neste mercado, em que os patamares de

preços se confundem entre os níveis de risco.

Conforme fica claro ao longo do texto, por tratar-se de um mercado com pouca

liquidez, há uma preocupação constante em avaliar o impacto de informação com baixa

qualidade que possa refletir volatilidades não inerentes ao mercado.

Os resultados obtidos mostram estruturas de spreads aderentes ao comportamento dos

spreads em mercado, principalmente se for considerada a dispersão observada nos preços. No

período de 2012 ao primeiro semestre de 2013, o formato das curvas é crescente com a

maturidade. Devido à mudança estrutural percebida em mercado no decorrer do final de 2013,

houve uma pressão de fechamento nos spreads mais longos, tornando as estruturas um pouco

menos crescentes.

2. NELSON & SIEGEL – MODELO PARAMÉTRICO

Estrutura a termo das taxas de juros, ou curva de rendimento, é a denominação

utilizada para a relação existente entre a rentabilidade de obrigações e o tempo. É uma

ferramenta de extrema importância por ter aplicações práticas em apreçamento de ativos de

renda fixa e previsão de política monetária, já que traduz os rendimentos e prêmios de risco

exigidos pelos investidores.

Esta curva é obtida a partir de rentabilidades observadas em mercado e, devido à

raridade de ativos zero cupom com vencimentos diários em uma economia, se faz necessário

utilizar métodos de interpolação para construir os pontos intermediários às maturidades.

Destacam-se entre eles McCulloch (1971, 1975), Vasicek & Fong (1982), Nelson & Siegel

(1987) e Svensson (1994). Algumas destas técnicas permitem, ainda, a extração de

expectativas a partir de ativos que pagam cupons intermediários de juros.

Na década de 1970, diversos estudos propunham a construção de estruturas a termo

através de métodos de interpolação polinomial, com grande destaque para a metodologia de

cubic splines (McCulloch , 1971, 1975), que consiste na modelagem da função desconto

como combinação de polinômios de terceiro grau. Apesar do extenso uso desta técnica, estas

curvas tendem a apresentar formatos explosivos nas maturidades mais longas da amostra.

Charles Nelson e Andrew Siegel, em seu artigo “Parsimonious Modeling of Yield

Curve” (1987), introduziram um modelo paramétrico parcimonioso capaz de explicar, através

de uma função matemática simples, 96% nos movimentos da curva de rendimentos dos títulos

da dívida soberana no mercado norte-americano no período entre 1981 e 1983.

Motivados pela busca de funções capazes de representar movimentos associados a

curvas de juros - nível, inclinação e curvatura – e supondo que as taxas spot são geradas por

equações diferenciais, os autores propuseram um modelo de estimação de taxas forward

baseando-se na solução de equações diferenciais de segunda ordem. Segundo Nelson e Siegel,

a modelagem da taxa forward instantânea para o prazo τ segue a relação:

eef 210)τ( (2.1)

Geralmente é mais comum na literatura a previsão de taxas spot em vez de taxas

forward. A função para taxa spot é facilmente obtida integrando-se a equação (2.1). Portanto,

τλ-τ-λ

2

τ-λ

10 eτλ

e-1

τλ

e-1)τ( r (2.2)

A modelagem proposta sintetiza três movimentos apontados por pesquisadores como

mais comuns em curvas de juros. Separando a equação acima em três fatores, o primeiro pode

ser interpretado como nível da curva, o segundo termo, como inclinação e o terceiro e último

termo possui a interpretação de curvatura.

O estudo destes componentes foi aprofundado na literatura por Litterman e

Scheinkman em seu trabalho “Common Factors Affecting Bond Returns” (1991), onde os

autores descrevem um método baseado na sensibilidade dos preços de títulos do Tesouro

Americano a choques em suas taxas de retorno e ao spread sobre a taxa de livre de risco

(excesso de retorno). A conclusão é de que um modelo de três fatores é capaz de explicar 96%

destas variações.

Além da interpretação dos movimentos, é possível realizar análises por prazo através

dos parâmetros β0, β1 e β2. A constante β0 representa o nível das taxas de longo prazo, já

que o limite da função quando o tempo tende a infinito é o próprio β0. O β1 multiplica um

termo exponencial que tende a zero quando o prazo tende a infinito, representando portanto as

taxas de curto prazo. É possível afirmar, portanto, que a taxa de curtíssimo prazo é

determinada por (β0 + β1).

Finalmente, β2 é interpretado como termo de médio prazo, já que este multiplica um

termo exponencial com formato de U. Há uma tendência a zero quando o prazo é baixo,

aumentando à medida que o prazo cresce e revertendo a tendência com assíntota em zero nas

maturidades mais longas.

Existe ainda um parâmetro λ, que governa a velocidade de decaimento exponencial da

taxa )τ(r , onde valores mais altos implicam em decaimento mais rápido e consequente

melhor ajuste para os ativos de curto prazo, assim como, valores pequenos implicam

decaimento lento e melhor ajuste em prazos mais longos. Toda esta análise pode ser

observada na figura abaixo.

Figura 1: Componentes da curva forward

3. METODOLOGIA E DADOS

O objetivo deste trabalho é estimar estruturas a termo zero cupom que sintetizem o

spread de crédito associado a cada prazo no mercado brasileiro para diversos níveis de risco.

Como os ativos de crédito privado que têm apresentado maior destaque em liquidez nos

últimos cinco anos são as debêntures, a estimação das curvas será baseada na observação de

rendimento destes ativos.

3.1 DADOS:

O mercado de debêntures brasileiro, ainda que expressivo domesticamente, é pouco

líquido, dificultando a obtenção de séries de dados robustas para construção de modelos. No

entanto, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais

(ANBIMA), com objetivo de divulgar informações para marcação a mercado das carteiras de

renda fixa, mantém um trabalho diário de coleta e divulgação de preços de referência para

uma amostra significativa de debêntures mais negociadas em mercado.

Esta amostra inclui ativos remunerados em DI1, IGP-M e IPCA com classificações de

risco acima de grau de investimento, sendo o primeiro e segundo grupos a parte de destaque

em número de ativos precificados. Devido à baixa representatividade do grupo IGP-M,

decidiu-se excluí-lo da amostra. O uso desta base de dados permite obter preços diários para

uma amostra de ativos independente da realização de negócios.

Em síntese, para estimar curvas de crédito zero cupom no mercado brasileiro são

utilizados os preços indicativos das debêntures remuneradas em DI e IPCA, calculados e

divulgados diariamente pela ANBIMA, no período de 2010 a 2013. Além disso, são coletadas

informações de características dos ativos no site www.debentures.com.br, também mantido

pela Associação, a taxa diária de DI no site da CETIP e as taxas de ajuste dos contratos de DI

futuro na BM&FBovespa.

3.2 MODELO E METODOLOGIA:

Na abordagem tradicional, a estimação da curva de crédito é obtida pela diferença

entre as taxas com risco e as livre de risco, gerando estruturas sem formato definido e com

grande volatilidade histórica (Jankowitsch, 2002). Estes resultados não são razoáveis, já que

alterações de nível no spread de crédito são geralmente associadas a mudanças estruturais,

seja na economia em geral ou em algum setor específico.

Dielbold, Li e Yue (2008), ao estimar curvas de juros com fatores globais para

diversos países, perceberam empiricamente que na maioria das vezes a curvatura é estimada

com baixa precisão devido à falta de dados nas maturidades muito curtas e muito longas,

muitas vezes atrapalhando o ajuste da curva aos dados. Os autores propõem o uso do modelo

1 A Taxa de Depósito Interfinanceiro (DI) é a taxa que lastreia operações do mercado interbancário, sendo

esta resultado das operações de transferência de recursos entre instituições superavitárias e deficitárias. Constitui um dos principais instrumentos de renda fixa do país, sendo negociado por um dia ou por prazos mais longos, garantindo a liquidez no mercado.

de Nelson & Siegel apenas com fatores de nível e inclinação para eliminar o problema,

método que será denominado no restante deste trabalho como Nelson e Siegel reduzido.

A função que determina a taxa de juros spot para o prazo τ fica reduzida ao formato

abaixo:

τλ

e-1)τ(

τ-λ

10 r (3.2.1)

A proposta deste trabalho é aplicar o modelo descrito acima (Nelson e Siegel

reduzido) aos rendimentos de debêntures brasileiras para estimar as curvas de crédito por

níveis de rating AAA, AA e A. Os demais níveis de risco serão desconsiderados devido à

indisponibilidade de dados amostrais no período analisado.

A escassez de preços observados em mercado, devido à baixa liquidez, torna

complicada a estimação de curvas completamente independentes entre si, problema já

apresentado por Almeida, Duarte e Fernandez (2000) ao desenvolver um modelo de estrutura

a termo e spreads de crédito para o mercado de Eurobonds. Para solucioná-lo, os autores

realizaram uma estimação conjunta de estruturas a termo para diferentes níveis de risco em

um único passo.

Outra abordagem foi discutida por Jankowitsch (2002) em seu trabalho Parsimonious

estimation of credit spreads, onde o autor discute a vantagem da estimação conjunta de

estruturas de crédito e da curva livre de risco sobre a abordagem tradicional.

De maneira análoga, propõe-se então estimar neste modelo conjuntamente a curva

livre de risco prefixada e as três curvas de spread de crédito, onde a primeira será modelada

por Nelson e Siegel tradicional e as outras por Nelson e Siegel reduzido, conforme equações

abaixo.

τλ-

di

τ-λ

2

di

τ-λ

1dididi

didi

eτλ

e-1

τλ

e-1)τ( r (3.2.2)

τλ

e-1)()τ(

credito

τ-λ

AAAAAA

credito

incr (3.2.3)

τλ

e-1)()τ(

credito

τ-λ

AAAA

credito

incr (3.2.4)

τλ

e-1)()τ(

credito

τ-λ

AA

credito

incr (3.2.5)

Onde: τ é o prazo em anos

βcdi, βAAA, βAA, βA, λdi e λcrédito são parâmetros do modelo de Nelson e

Siegel

É importante notar que os parâmetros de inclinação (βinc) e decaimento (λcrédito) são

comuns às três curvas de risco, mas cada uma possui um parâmetro próprio de nível,

representando a diferença de crédito. Essa estruturação define o formato das curvas utilizando

todos os ativos da amostra, independente dos seus níveis de risco, possibilitando a estimação

em mercados com poucas observações.

A premissa básica do modelo de estimação de curva de juros é de que o preço de um

ativo de renda fixa é o valor presente dos seus fluxos de pagamento, descontados por uma

taxa de juros de mercado, ou seja, com risco embutido. No caso de ativos de crédito, as taxas

de desconto são resultados de spreads de crédito acrescidos à taxa livre de risco.

Supondo DI e REAL as taxas livres de risco prefixada e real, respectivamente, e S o

spread zero cupom a ser adicionado à elas, a função desconto a ser modelada é:

))1(*)1((/1 SDIDFi , no caso de debêntures remuneradas em DI

))1(*)1((/1 SREALDFi , no caso de debêntures remuneradas em IPCA

Onde: S é o spread de crédito modelado segundo

τλ

e-1)τ(

τ-λ

10 r

CDI a taxa de ajuste de DI Futuro da BM&F interpolado para o prazo.

REAL: Curva zero cupom IPCA da ANBIMA descontado o prêmio de risco2

Por consequência, o preço do ativo será determinado pela equação:

n

i

FCixDFiP1

(3.2.6)

Onde: DFi é a função desconto modelada para o prazo i

FCi é o valor do fluxo de pagamento no prazo i

Para estimar os parâmetros, utiliza-se a técnica de mínimos quadrados ponderados. O

ponderador é necessário porque pequenos choques na taxa de desconto influenciam os preços

dos ativos de longo prazo mais significativamente do que os de curto prazo (Vasicek & Fong,

1982).

Desta forma, para determinar as estruturas, resolve-se o problema de otimização

abaixo:

2 Para compatibilizar os spreads das debêntures remuneradas em DI e em IPCA, é necessário descontar o

prêmio de risco do governo da curva base de NTN-B. O cálculo do prêmio realizado neste trabalho consiste na diferença entre a curva zero cupom prefixada da ANBIMA, disponível no site da Associação, e a curva de ajuste de DI Futuro da BM&F interpolada.

CDIRating

n

i/ 1

2

AnbimaAnbimaModeloi )P/)P-(P(WMin

Onde,

Pmodelo: Somatório do fluxo de caixa do ativo descontado a valor presente pela curva zero

cupom (vide fórmula 3.2.6)

PAnbima: Preço observado em mercado

3.3 RATINGS

Os ratings são opiniões expressas por empresas especializadas, agências de rating,

sobre a saúde financeira ou a capacidade de um emissor de dívida honrar seus compromissos.

Para atribuir uma nota, rating, cada agência faz uma análise de expectativas sobre a

performance da empresa analisada, levando em consideração não só seus relatórios contábeis,

mas também a estrutura do mercado em que ela se enquadra.

A qualidade do rating é baseada na confiança dos agentes de mercado nestas análises,

que geralmente é determinada pelo desempenho histórico da agência. Atualmente, destacam-

se no cenário internacional a Standard & Poors, a Fitch Ratings e a Moody’s Investors

Service.

A capacidade de pagamento e a probabilidade de um emissor não honrar suas dívidas

afetam o preço dos ativos em mercado. De maneira intuitiva, quanto maior for esta

probabilidade, menor será seu rating e, consequentemente, o investidor exigirá um prêmio

maior por assumir o risco de carregar este ativo em sua carteira.

Alguns problemas podem surgir ao estimar curvas por níveis de crédito. Em primeiro

lugar, não há uma padronização na nomenclatura das notas emitidas por agências diversas, ou

ainda, podem existir notas em níveis diferentes para um mesmo ativo. Portanto, é necessário

compatibilizá-las de modo a obter uma classificação única para a modelagem e desenvolver

uma metodologia de escolha em caso de divergência.

A tabela abaixo mostra a compatibilidade de ratings entre as agências:

STANDARD & POOR´S FITCH RATINGS MOODY´S INVESTORS

SERVICE

brAAA AAA (bra) Aaa.br

brAA AA (bra) Aa.br

brA A (bra) A.br

brBBB BBB (bra) Baa.br

brBB BB (bra) Ba.br

brB B (bra) B.br

brCCC CCC (bra) Caa.br

brCC CC (bra) Ca.br

brC C (bra) C.br

brD DDD (bra), DD(bra) e D (bra) --

Tabela 1: Tabela de compatibilização de ratings

Da mesma forma, descreve-se abaixo a metodologia empregada para selecionar o risco de

crédito associado a um determinado ativo.

1) Agências: Standard & Poor’s, Fitch Ratings e Moody’s Investors Service. Todos os

ativos da amostra estão classificados por pelo menos uma destas.

)(

1

anosem

iDuration

W

2) Desconsideram-se as variações de sinal dentro de uma mesma escala, ou seja, não há

distinção entre as classificações neutro, plus e minus.

3) Caso haja mais de uma agência, será considerado o rating mais conservador sempre.

3.4 FILTROS APLICADOS AOS DADOS

3.4.1 OPÇÕES EMBUTIDAS

Algumas debêntures apresentam opções embutidas em suas cláusulas, o que torna o

risco destes papéis um pouco maior, já que o emissor tem o direito de resgatá-los antes da

maturidade pelo seu valor ao par3. Para esta classe de ativos, o investidor exige uma

rentabilidade maior para assumir o risco, forçando uma queda de preço em relação àqueles de

mesmo rating sem cláusulas de recompra antecipada.Com isso, não seria prudente estimar

curvas sem a devida distinção entre estas duas classes.

Serão consideradas debêntures “callables” todas aquelas que apresentarem em sua

escritura cláusulas de resgate antecipado ou amortização antecipada. Quando isso ocorrer, o

ativo será desconsiderado da amostra.

Em um mercado com poucas informações, como é o caso do brasileiro, o ideal seria

desenvolver técnicas para apreçamento destas opções e incorporá-las à modelagem, o que não

está no escopo deste trabalho. Um método de apreçamento destas foi proposto por Pereira

(2010), no trabalho “apreçamento de opções embutidas em debêntures com risco”.

3.4.2 RESTRIÇÃO DE ESPAÇAMENTO

Um grupo de ativos mal apreçados pode influenciar as curvas, acarretando a junção ou

mesmo inversão dos níveis de crédito. Não é plausível que isto ocorra já que, em geral,

maiores riscos implicam exigência de maiores retornos, conforme já discutido anteriormente.

Para evitar que este tipo de anomalia ocorra, foi necessário incluir uma restrição quanto ao

espaçamento entre as curvas de risco.

A técnica conhecida como vetor autoregressivo (VAR) consiste na construção de um

sistema de equações lineares com o objetivo de prever a dinâmica de um modelo sem sua

prévia especificação. Para isso, basta que sejam informadas as variáveis que interagem entre

si e o número de defasagens capaz de capturar os efeitos que uma variável tem sobre a outra

(Pindyck e Rubinfeld, 2004). No diagrama abaixo, p é o número de defasagens para as

variáveis. Os coeficientes e as constantes podem ser obtidos por mínimos quadrados.

3 Diz-se que um ativo está ao par quando seu preço é exatamente igual ao valor de face, ou seja, sem ágio ou

deságio.

Voltando ao modelo, a restrição incluída é baseada no espaçamento entre as curvas

obtido pelo VAR com 126 observações e defasagem de um dia. Sendo Y1 e Y2 a diferença

dos parâmetros de nível das curvas de crédito, o modelo de VAR(1) segue:

AAi

AAAi

AAi

AAAi

BB

BB

Y126126

11

1

Ai

AAi

Ai

AAi

BB

BB

Y126126

11

2

11

11

212

211

iii

iii

fYeYdY

cYbYaY

Após estimar os coeficientes, estes são multiplicados pela média amostral de Y1 e Y2

para projetar o espaçamento entre as curvas. Portanto:

Defino a matriz

1

1

2

1

1

i

i

Y

YX

Espaçamento (AAA/AA) = [a b c] X

Espaçamento (AA/A) = [d e f] X

Logo, encontrando os valores acima, supõe-se que o distanciamento atual entre as

curvas não deve ser menor do que aquele observado historicamente na dinâmica. Os valores

encontrados para Espaçamento (AAA/AA) e Espaçamento (AA/A) são, então, incorporados

na otimização do modelo como restrição de espaçamento mínimo.

3.4.3 ATIVOS DE CURTO PRAZO

Empiricamente percebe-se em mercado uma redução significativa da liquidez do ativo

quando este se aproxima do vencimento, acarretando em muitos casos distorções de preços.

Com o objetivo de que estas divergências não influenciem as curvas de forma errônea,

já que observações de curto prazo têm maior peso na estimação, ativos remunerados em DI

com menos de 21 dias úteis e indexados ao IPCA com menos de 252 dias úteis para o

vencimento são desconsiderados da amostra. Estes prazos consideram não só a instabilidade

de preços das debêntures, como também a variação da curva base, que no caso das IPCA

apresenta volatilidades de curto prazo que poderiam gerar spreads irreais.

Para incluir referências de curto prazo, são inseridos títulos sintéticos com maturidade

de um dia para cada um dos níveis de risco. Seus preços são baseados no histórico de 126 dias

úteis da taxa de curtíssimo prazo, obtida pelo somatório dos parâmetros de nível e inclinação

(B0 + B1).

3.4.4 IDENTIFICAÇÃO DE OUTLIERS

Por tratar-se de uma amostra de preços com heterogeneidade de emissores, é comum

encontrar observações distorcidas capazes de influenciar os resultados finais da modelagem.

Para tratar o problema, foi aplicada uma métrica baseada na análise de resíduos de

Cook (1977), em que calcula-se a razão entre o erro quadrático médio incluindo todos os

ativos e o erro quadrático médio sem o i-ésimo ativo da amostra, de acordo com a descrição

abaixo:

1. Calcula-se o erro quadrático médio com todos os ativos da amostra (EQM).

2. Elimina-se da amostra um dos ativos, o ativo i.

3. Estima-se novamente as curvas e calcula-se o erro quadrático médio(EQMi).

4. Encontra-se a razão EQM/EQMi para o ativo i, denominada aqui de valor crítico.

Os procedimentos (2) a (4) são repetidos até que todos os ativos tenham sido

selecionados. Desta maneira, obtém-se um vetor de valores críticos para toda a amostra, de

modo que o preço do ativo i estará distante da distribuição sempre que seu valor crítico for

muito alto. Por fim, elimina-se da amostra valores que excedam a média somada a dois

desvios padrões do vetor de valores críticos.

Adicionalmente, com o objetivo de reduzir a possível volatilidade ocasionada por

sucessivas entradas e saídas de ativos em períodos de ajuste de preços, a observação

eliminada no método de identificação proposto só retornará à amostra 21 dias depois.

4. RESULTADOS

Os gráficos disponíveis no ANEXO I deste trabalho mostram o resultado da estimação

para uma seleção aleatória de datas nos anos de 2010 a 2013. As curvas de crédito geradas

para o período de 2010 ao primeiro semestre de 2013 apresentam spreads crescentes com

prazo. Este resultado é considerado razoável porque, salvo casos muito específicos, o

investidor exigirá um prêmio maior para ativos com prazos mais longos, já que incorrerá em

maior risco por estar exposto a incertezas na economia.

No segundo semestre de 2013, novas condições de mercado propiciaram emissões

com prazos mais longos e spreads pouco mais achatados, o que influenciou o longo prazo das

curvas de crédito.

Um método muito utilizado na literatura para avaliar a qualidade de modelos é a

análise do comportamento e da magnitude dos desvios entre os dados observados e os

modelados (ver Nelson & Siegel (1987), Bliss (1996)).

Em primeiro lugar, a série histórica do erro quadrático percentual, resultado da função

objetivo a ser otimizada no modelo, mostra desvios em torno de 0,03% em 2010, 2011 e

2012. Este valor sobe para 0,06% a partir do final de 2012 devido à inclusão dos ativos

remunerados em IPCA, que apresentam uma dispersão de preços maior quando comparada a

dos ativos DI.

Geralmente, é mais intuitivo em análises de mercado observar desvios diretamente no

taxa de retorno dos ativos, já que facilita a percepção dos gestores de carteiras de

investimento acerca do impacto causado pelo uso de modelos. Sob esta perspectiva, percebe-

se que o erro médio oscila em torno de 30 pontos base (0,30%)4.

Por tratar-se de uma metodologia que engloba em uma única estrutura informações de

diversos emissores, diferentes tipos de remuneração e com garantias de dívida heterogêneas

em um mercado de baixa liquidez, acredita-se que desvios desta magnitude são bastante

razoáveis.

Análises similares podem ser realizadas segregando a amostra por níveis de risco e

prazo. No primeiro caso, é possível perceber maiores desvios em ativos de menor risco. Já no

caso da segregação por prazo, há percepção de maior volatilidade nos erros acima de 3 anos.

Figura 2: Comportamento do erro por nível de risco

4 1 ponto base corresponde a 0,01% em TIR

Figura 3: Comportamento do erro por prazo

5. CONCLUSÃO

O aumento da demanda por ativos de crédito no mercado brasileiro nos últimos anos

trouxe a necessidade de desenvolver ferramentas capazes de auxiliar investidores, analistas de

risco e reguladores na tomada de decisões.

Este trabalho propôs uma metodologia para modelagem paramétrica de curvas de

spread de crédito privado no mercado brasileiro, aplicando o modelo de Nelson & Siegel

(1987) a uma amostra de preços de debêntures. A baixa liquidez e consequente falta de

informação representou uma dificuldade na obtenção de um modelo robusto.

Apesar disso, a aplicação do modelo aos preços de mercado mostrou uma aderência

significativa. A magnitude dos erros em torno de 0,30% é considerada satisfatória, já que o

modelo exprime em uma simplificação de risco de crédito para diferentes empresas emissoras

de dívida.

Conclui-se, portanto, que esta pode ser considerada uma ferramenta robusta

investidores, analistas de risco e reguladores.

6. ANEXO I: RESULTADOS GRÁFICOS

29/01/2010

30/06/2010

28/01/2011

30/06/2011

29/06/2012

31/12/2012

28/06/2013

31/12/2013

7. BIBLIOGRAFIA

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