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MODELAGEM MATEMÁTICA E EJA: DESVENDANDO CAMINHOS PARA
OS PCN E A TRANSVERSALIDADE.
Edilene Farias Rozal1Universidade Federal do Pará - UFPA
[email protected] Oliveira do Espírito Santo2
Universidade Federal do Pará – UFPA [email protected]
RESUMO
Este artigo consiste na apresentação de um projeto inicial de pesquisa que está em desenvolvimento no Programa de Mestrado em Ciências e Matemáticas, na Universidade Federal do Pará, em Belém. Tem como objetivo conduzir a Modelagem Matemática como agente facilitador de aprendizagem em Matemática para os alunos da EJA3, dentro de uma reflexão de acordo com os PCN e os temas transversais. Apresentamos os procedimentos metodológicos que serão utilizados na perspectiva da pesquisa participante, e como estilo literário, a narrativa. A coleta de dados será feita através da análise de dados por meio da observação direta da professora, enquanto os alunos executarão atividades de modelagem.
Palavras-chave: Modelagem Matemática, Parâmetros Curriculares Nacionais,
transversalidade.
1. Introdução O desejo de desenvolver o trabalho com a educação de jovens e adultos
surgiu da experiência de cinco anos de docência com turmas desta
modalidade. A preocupação em desenvolver uma proposta com a Modelagem
Matemática advém da dificuldade que, como professora da EJA, tenho
percebido que esses alunos chegam nesta série com muitas dificuldades em
Matemática. A expectativa em relação à Modelagem Matemática4 é apoiada
em um anseio de ajudar esses alunos no grau de dificuldades existentes na
1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências e Matemáticas do NPADC/UFPA. 2 Prof.Dr. do Programa de Pós-Graduação em Ciências e Matemáticas do NPADC/UFPA. 3 Educação de Jovens e Adultos 4 Doravante, para evitar repetições textuais, trataremos modelagem matemática apenas por modelagem, exceto nos momentos em que houver necessidade de respeitar uma citação.
ROZAL, E. Modelagem Matemática e Eja: Desvendando Caminhos para os PCN e a Transversalidade.In Anais do SIPEMAT. Recife, Programa de Pós-Graduação em Educação-Centro de Educação – Universidade Federal de Pernambuco, 2006, 8p.
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sala de aula, assim, buscamos na proposta de modelagem relacionar alguns
aspectos destacados nos PCN (BRASIL, 1998) e os temas transversais para a
realização da pesquisa.
A pesquisa está direcionada no sentido de investigar como a modelagem
pode contribuir para melhorar o desempenho dos alunos em Matemática, na
Educação de Jovens e Adultos. Esperamos descobrir como a modelagem pode
ser articulada através da proposta dos PCN (BRASIL, 1998) e os temas
transversais, para proporcionar ao aluno uma aprendizagem mais motivadora.
2. A Pesquisa 2.1 Objetivos
• Investigar a Modelagem Matemática como um instrumento facilitador de
aprendizagem em Matemática para alunos da EJA;
• Levar os alunos a refletirem a Matemática e sua função social
relacionada aos PCN (BRASIL, 1998) e aos temas transversais dentro da
proposta de modelagem;
2.2 Justificativa Justificamos esta pesquisa apoiada na idéia de Blum (1995) que
descreve cinco argumentos para a inclusão de Modelagem no currículo.
Trataremos do segundo e do quinto argumento. O segundo, no pensamento de
Blum, destaca a modelagem como um agente capaz de facilitar a
aprendizagem, pois a partir da modelagem os alunos teriam mais facilidade em
compreender as idéias matemáticas e poderiam conectá-las a outros assuntos.
Como trabalharemos com a Educação de Jovens e Adultos, pensamos
também na utilização do quinto argumento citado pelo autor, o qual defende a
“compreeensão do papel sócio-cultural da matemática, pois assim os alunos
analisariam como a matemática é usada nas práticas sociais”, e observariam o
valor que a matemática exerce na vida social de cada estudante. Destacamos
com este argumento, a relação da modelagem matemática com os PCN
(BRASIL, 1998) e os temas transversais como meios de serem alcançados os
propósitos do argumento exposto pelo autor.
ROZAL, E. Modelagem Matemática e Eja: Desvendando Caminhos para os PCN e a Transversalidade.In Anais do SIPEMAT. Recife, Programa de Pós-Graduação em Educação-Centro de Educação – Universidade Federal de Pernambuco, 2006, 8p.
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A escola em que será desenvolvida a pesquisa, durante muitos anos,
manteve o curso da EJA no turno noturno. Este ano, a turma da EJA foi
transferida para o turno da tarde. Isso aconteceu porque segundo a direção da
escola, foi detectado através de uma análise feita pelo corpo técnico que:
• a turma de EJA estava atendendo em 90% alunos externos, ou
seja, alunos egressos de outras escolas;
• devido a uma grande distorção de alunos passados da idade
própria em turma regular;
• como forma de aceleração para esses alunos com dificuldades em
serem promovidos de ano.
Para o último motivo citado anteriormente, encontramos através da nova
LDB (1996), na secção I, no artigo 24, a lei que reforça a idéia em relação à
aceleração, acrescentando que:
V. a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios:
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso
escolar;
A proposta em andamento, possibilita a ampliação de referenciais
teóricos voltados para a pesquisa nesta modalidade de ensino e futuras
contribuições para o trabalho com a EJA, não somente em relação à
modelagem, mas também, como em outras visões abordadas para outras
áreas de discussão sobre essa modalidade de ensino. Com esta pesquisa,
esperamos mostrar que através de suas experiências e conhecimentos prévios,
os alunos da EJA possuem muitas formas e maneiras diferentes de aprender
dentro de sua realidade social.
2.3 Fundamentação Teórica. - Considerações sobre Modelagem Matemática
Destacamos o conceito de Modelagem Matemática para alguns
estudiosos sobre essa metodologia, no âmbito da Educação Matemática.
Segundo Burak (1992): “A modelagem matemática constitui-se em um conjunto de
procedimentos cujo objetivo é construir um paralelo para tentar
explicar, matematicamente, os fenômenos presentes no cotidiano do
ser humano, ajudando-o a fazer predições e a tomar decisões” p. 62
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Para Biembengut (1999) a autora entende que:
“Modelagem matemática é, assim, uma arte, ao formular, resolver e
elaborar expressões que valham não apenas para uma solução
particular, mas que também sirvam, posteriormente, como suporte
para outras aplicações e teorias” p.20
Barbosa (2001) acrescenta em sua fala a importância de que:
“Modelagem, para mim, é um ambiente de aprendizagem no qual os
alunos são convidados a problematizar e investigar, por meio da
matemática, situações com referência na realidade” p.6
Já para Bassanezi (2004) o autor destaca que:
“A modelagem matemática é um processo que alia teoria e prática,
motiva o usuário na procura do entendimento da realidade que o
cerca na busca de meios para agir, sobre ela e transformá-la”. p.17
Nesse sentido, Chaves (2005, p. 26) apoiada em Bassanezi (2002),
defende em sua dissertação de mestrado que, “a utilização da Modelagem para
o ensino-aprendizagem da Matemática, além de tornar um curso de
matemática atraente e agradável, pode levar o aluno a desenvolver um espírito
de investigação, utilizar a matemática como ferramenta para resolver
problemas em diferentes situações e áreas, relacionar sua realidade sócio-
cultural com o conhecimento escolar e, por tudo preparar os estudantes para a
vida real, como cidadãos atuantes na sociedade.”
- Reflexão sobre a Educação de Jovens e Adultos Diversos questionamentos são refletidos em relação à estratégia que
deve ser utilizada para trabalhar com a EJA, ou seja, de como devemos
trabalhar com essas pessoas que não são mais adolescentes e necessitam
receber uma estratégia mais motivadora.
Pensando nisso, Kooro & Lopes (2005) acrescentam que, “esse
conhecimento que o aluno da educação de jovens e adultos traz para o espaço
escolar é de grande importância, devendo ser considerado pelo educador como
ponto de partida para a aprendizagem das representações simbólicas
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convencionais. Ainda defendem que a educação de adultos não deve ser
pensada como um processo de recuperação de algo que tenha sido perdido ou
que não tenha sido aprendido no momento adequado”.
- Concepções sobre os PCN A finalidade da elaboração dos PCN (BRASIL, 1998) foi pensada a partir
de duas questões:
• Respeitar diversidades regionais, culturais, políticas existentes no país;
• Considerar a necessidade de construir referências nacionais comuns ao
processo educativo em todas as regiões brasileiras.
Esperamos em nosso trabalho articular esses objetivos propostos pelos
PCN (BRASIL, 1998) no sentido de mostrar para o aluno que o conhecimento
que ele adquire na escola pode ser socializado, tendo uma grande relevância
para que se torne mais crítico e reflexivo para a tomada de decisões em sua
vida.
- Uma abordagem para os PCN e a transversalidade O que diz os PCN (BRASIL, 1998) sobre a transversalidade.
Por serem questões sociais, os Temas Transversais têm natureza
diferente das áreas convencionais. Tratam de processos que estão
sendo intensivamente vividos pela sociedade, pelas comunidades,
pelas famílias, pelos alunos e educadores em seu cotidiano...
Entendemos que os temas transversais começam a ter um significado
muito forte a partir do momento em que o professor inicia uma proposta com a
modelagem dentro de temas relacionados com os aspectos sociais. É relevante
que o aluno também aprenda a ter um conhecimento crítico sobre os assuntos
que fazem parte do seu cotidiano. O trabalho via modelagem matemática,
permite tratar dessas especificidades porque através dele os alunos
desenvolvem uma pesquisa sobre o tema escolhido.
Para Araújo (1997):
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Existem várias maneiras de entender a transversalidade. Numa
primeira concepção, temas vinculados ao cotidiano social
“atravessam” os conteúdos curriculares tradicionais, que formam o
eixo longitudinal do sistema educacional.
2.4 Aspectos Metodológicos da Pesquisa Sujeitos da pesquisa: alunos da EJA
Cenário da pesquisa: Uma escola pública, localizada no município de
Castanhal-Pa.
Decidimos optar por uma pesquisa participante, através da modalidade
narrativa como estilo literário. Segundo Veiga (1985), a pesquisa participante é
entendida como a “alternativa epistemológica na qual pesquisadores e
pesquisados seriam sujeitos ativos da produção do conhecimento”.
Das cinco aulas semanais, destinaremos três aulas por semana para a
realização das atividades com a modelagem, que ocorrerão em um período
bimestral. As atividades serão planejadas com base em três temas
transversais, visando sempre trabalhar a modelagem matemática dentro dessa
perspectiva.
O encaminhamento das atividades acontecerá da seguinte forma:
- Aplicação de um questionário objetivando conhecer os sujeitos da
pesquisa e o que pensam sobre a Matemática, momento de interação com
a turma;
- Organização da turma em grupos de quatro alunos para a aplicação das
atividades com a modelagem e os temas saúde, meio ambiente, trabalho e
consumo;
- Aplicação da proposta construída com a professora e a turma de EJA;
- Anotações sobre o desenvolvimento das atividades para posteriores
observações;
- Discussão sobre as atividades, em relação ao que fizeram e quais as
dificuldades encontradas;
- Análise das anotações feitas pela professora em relação ao desempenho
e os obstáculos encontrados pelos alunos nas atividades;
- Registro do desenvolvimento da pesquisa em sala de aula, para posterior
análise.
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- 2.5 A coleta e o registro de dados A coleta e o levantamento do material didático serão feitos a partir dos
resultados apontados através da análise das atividades feitas pelos alunos,
entrevistas e observações em sala de aula registradas pela professora. Para
complementar e sustentar a análise das atividades, buscaremos identificar,
falas e comportamentos que possam corroborar com o objeto da pesquisa.
Contaremos com uma pesquisa bibliográfica, onde serão fundamentadas
observações condizentes com o objeto de pesquisa.
- 2.6 Considerações Finais Esta pesquisa encontra-se em andamento, portanto, pretendemos
avançar nas leituras bibliográficas que certamente nos levarão a tomar
decisões fundamentadas teoricamente, para que possamos dar
encaminhamentos mais definidos, no objetivo de alcançarmos resultados
relevantes para a concretização do referido projeto.
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