modelagem e migrac˘ao~ de dados s ismicos utilizando … · 2009-11-14 · resumo este trabalho...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE GEOCIENCIAS
CURSO DE GRADUACAO EM GEOFISICA
GEO213 – TRABALHO DE GRADUACAO
MODELAGEM E MIGRACAO DE DADOS
SISMICOS UTILIZANDO OPERADORES
DIFERENCIAIS EXPLICITOS E IMPLICITOS
NEI DAVI COSTA FIGUEIREDO
SALVADOR – BAHIA
Julho – 2009
Modelagem e migração de dados sísmicos utilizando operadores diferenciais
explícitos e implícitos
por
Nei Davi Costa Figueiredo
GEO213 � TRABALHO DE GRADUAÇÃO
Departamento de Geologia e Geofísica Aplicada
do
Instituto de Geociências
da
Universidade Federal da Bahia
Comissão Examinadora
Dr. Reynam da Cruz Pestana - Orientador
Dra. Jacira Cirstina Batista de Freitas
Dr. Raimundo Mesquita
Data da aprovação: 06/07/2009
A Deus,
minha famılia, amigos
e aos irmaos no Senhor.
RESUMO
Este trabalho tem o objetivo de realizar a modelagem e a migracao sısmicas, utilizando
a equacao escalar completa da onda, em modelos simples e complexos. Como parte desse
objetivo, foram utilizados operadores diferenciais explıcitos e implıcitos na aproximacao das
derivadas parciais presentes na equacao da onda. Utilizamos na geracao de sismogramas
sinteticos e na migracao de secoes de afastamento nulo os metodos de diferencas-finitas de
quarta ordem, pseudo-espectral, operador diferencial convolucional e implıcito, para calculo
de derivadas espaciais. Em todos os resultados aqui apresentados foi usado o operador dife-
rencas-finitas de segunda ordem na aproximacao da derivada temporal presente na equacao
da onda.
A modelagem sısmica foi realizada em um modelo simples de tres camadas e em um
modelo mais complexo de intrusao salina, enquanto a migracao reversa no tempo de secoes
de afastamento nulo foi realizada em um modelo de velocidade constante com refletores
inclinados e no modelo do domo SEG-EAGE. Com relacao ao modelo dos refletores inclinados
com velocidade constante, variamos o afastamento entre os tracos visando avaliar o efeito
da dispersao numerica apresentado pelos diferentes operadores diferenciais. Como resultado
dos experimentos numericos realizados foi observado que os operadores diferenciais utilizados
sao eficazes na representacao de eventos de interesse nas secoes de tiro comum e nas secoes
migradas. Alem disso, os resultados aqui expostos demonstram que os operadores implıcitos
apresentam menor dispersao numerica quando comparado com o operador diferencas-finitas.
iii
ABSTRACT
In this work we carry out seismic modeling and migration using the scalar wave equation
for simple and complex models. As part of our objective, we tested explicit and implicit dif-
ferentiate operators to approximate the second order spatial derivatives present in the wave
equation. We generated synthetic seismograms and applied zero-offset reverse time migra-
tion using the fourth-order finite-difference scheme, pseudo-spectral method, convolutional
operator and implicit method to compute the spatial derivatives. For the time derivative,
we used the second order finite-difference scheme for all examples shown in this work.
The seismic modeling was made using a simple model with three layers and also with
a complex salt intrusion model. The zero-offset reverse time migration was applied in a
constant velocity model with reflectors with different dips and for the very well known SEG-
EAEG salt model. The results obtained with this work show the applicability of the explicit
and implicit operators for seismic modeling problem and the reverse time migration of the
dip reflectors dataset shows that the numerical dispersion can be reduced with respect to
schemes based on finite-differences.
iv
INDICE
RESUMO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . iii
ABSTRACT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . iv
INDICE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . v
INDICE DE FIGURAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vii
INTRODUCAO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
CAPITULO 1 Conceitos fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.1 Processamento CMP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.1.1 Aquisicao de dados sısmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.1.2 Nocoes sobre NMO, analise de velocidades e empilhamento . . . . . . 4
1.2 O modelo do refletor explosivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.3 Modelagem sısmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.3.1 Modelagem de grupos de tiro e de secoes de afastamento nulo . . . . 10
1.4 Migracao sısmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.4.1 Metodos de migracao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.4.2 Migracao reversa no tempo - RTM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
CAPITULO 2 Equacoes fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.1 Equacao escalar da onda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2 Operadores diferenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.2.1 Metodo de diferencas-finitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.2.2 Metodo pseudo-espectral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.2.3 Operador diferencial convolucional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.2.4 Operadores espaciais implıcitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
CAPITULO 3 Aplicacao dos operadores diferenciais para modelagem
e migracao de dados sinteticos . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.1 Introducao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.2 Migracao reversa no tempo de secoes de afastamento nulo - Modelo de velo-
cidade constante com refletores inclinados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.3 Modelagem de secoes de tiro comum - Modelo de 3 camadas . . . . . . . . . 42
3.4 Modelagem de secoes de tiro comum - Modelo do domo . . . . . . . . . . . . 45
v
3.5 Migracao reversa no tempo de secoes de afastamento nulo - Modelo do domo
SEG-EAGE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
CAPITULO 4 Conclusoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
APENDICE A Aproximacao de segunda e quarta ordens para a segunda
derivada utilizando o metodo de diferencas-finitas . . . . 57
Referencias Bibliograficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
vi
INDICE DE FIGURAS
1.1 Geometria de aquisicao para (a) fonte comum, (b) receptor comum, (c) afas-
tamento comum e (d) ponto medio comum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 Representacao do CMP de um par fonte-receptor . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.3 Familia CMP oriunda da geometria sugerida na Figura 1.2 . . . . . . . . . . 6
1.4 Correcao NMO usando equacao 1.2. Antes (a) e depois (b) da correcao. . . . 6
1.5 (a) Famılia CMP cuja velocidade da hiperbole de reflexao e 4000 m/s; (b)
Famılia CMP corrigida de NMO com velocidade adequada; (c) Sobrecorrecao
devido a baixa velocidade; (d) Subcorrecao devido a alta velocidade. . . . . . 8
1.6 (a) Geometria de afastamento nulo e (b) modelo do refletor explosivo. . . . . 9
1.7 Secao em tempo de refletor inclinado onde θ e a inclinacao do refletor, A e o
primeiro e B e o ultimo indıcio de incidencia normal . . . . . . . . . . . . . . 11
1.8 Secao migrada do refletor inclinado onde θr e a inclinacao real do refletor . . 11
12
1.10 Hiperbole de difracao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.11 Colapso de difracao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.12 Cubos ilustrativos da construcao da secao migrada utilizando (a) extrapolacao
em profundidade e (b) extrapolacao em tempo reverso. . . . . . . . . . . . . 16
2.1 Esquema de pontos com campo de pressao conhecido requeridos para o ope-
radores de segunda (a) e quarta (b) ordens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
22
2.3 Curvas de dispersao no metodo de diferencas-finitas para diferentes valores de
alfa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.4 Curvas de dispersao no metodo de Fourier para diferentes valores de alfa . . 28
2.5 Filtro convolucional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.6 (a)Filtro convolucional truncado e (b) janela de truncamento . . . . . . . . . 32
2.7 Curvas de dispersao para comparacao do metodo implıcito com outros opera-
dores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.1 (a) Modelo dos refletores inclinados, (b) secao de afastamento nulo do modelo
dos refletores inclinados, secoes migradas para o modelo dos refletores inclina-
dos com afastamento entre tracos de 20 metros usando (c) operador implıcito
(2 − 1) e (d) operador implıcito (3 − 1) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
vii
3.2 Secoes migradas para o modelo dos refletores inclinados com afastamento en-
tre tracos de 20 metros usando (a) diferencas-finitas de quarta ordem, (b)
operador convolucional com 7 coeficientes e (c) pseudo-espectral . . . . . . . 40
3.3 Secoes migradas para o modelo dos refletores inclinados com afastamento en-
tre tracos de 10 metros usando (a) operador implıcito (2 − 1), (b) operador
implıcito (3− 1), (c) diferencas-finitas de quarta ordem e (d) operador convo-
lucional com 7 coeficientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.4 Secao migrada para o modelo dos refletores inclinados com afastamento entre
tracos de 10 metros usando operador pseudo-espectral . . . . . . . . . . . . . 42
3.5 Modelo de 3 camadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.6 Famılia de tiro comum utilizando o operador implıcito dos tipos (a) (2− 1) e
(b) (3 − 1) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.7 Famılia de tiro comum utilizando o operador convolucional com (a) 3 coefici-
entes e com (b) 5 coeficientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.8 Famılia de tiro comum utilizando o operador convolucional com (a) 7 coefici-
entes e o (b) operador pseudo-espectral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.9 Modelo do domo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.10 Famılia de tiro comum utilizando o operador implıcito dos tipos (a) (2− 1) e
(b) (3 − 1) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.11 Famılia de tiro comum utilizando o operador convolucional com (a) 3 coefici-
entes e com (b) 5 coeficientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.12 Famılia de tiro comum utilizando o operador convolucional com (a) 7 coefici-
entes e o (b) operador pseudo-espectral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.13 Modelo do domo - SEG-EAGE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3.14 Secao de afastamento nulo do domo - SEG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3.15 Secao migrada utilizando operador implıcito do tipo (2 − 1) . . . . . . . . . 50
3.16 Secao migrada utilizando operador implıcito do tipo (3 − 1) . . . . . . . . . 50
3.17 Secao migrada utilizando operador diferencas-finitas de quarta ordem . . . . 51
3.18 Secao migrada utilizando operador convolucional com 7 coeficientes . . . . . 51
3.19 Secao migrada utilizando operador pseudo-espectral . . . . . . . . . . . . . . 52
viii
INTRODUCAO
A geofısica e uma ciencia que reune conceitos empregados em Fısica, Matematica
aplicada e Geologia. Entretanto, apesar da multi-disciplinaridade na qual se enquadra, a
Geofısica e uma ciencia em si mesma e e responsavel pelo desenvolvimento de metodo-
logias para investigacao da subsuperfıcie. Com esse objetivo, diversos metodos geofısicos
(Magnetico, Eletrico, Eletromagnetico e Sısmico) sao utilizados para obtencao de informacoes
dos alvos exploratorios atraves de equipamentos adequados para realizacao das medidas.
Na sısmica de reflexao o meio fısico e excitado atraves de fontes artificiais de energia. A
energia da fonte se propagaga atraves do meio e, ao encontrar interfaces que separam meios
com diferentes valores de impedancia, parte dela e refletida e parte e transmitida. A fracao
refletida da energia e registrada em receptores que medem o tempo de percurso e a amplitude
da energia propagante. Esse registro e representado por tracos sısmicos que nada mais sao do
que funcoes temporais resultantes da convolucao do pulso que deu origem a propagacao com
a funcao refletividade da Terra. Entretanto, em dados reais os tracos sısmcos trazem consigo
ruıdos que prejudicam a visualizacao dos refletores nas estruturas em subsuperfıcie. Logo, e
necessario que o dado adquirido em uma campanha de aquisicao sısmica seja devidamente
tratado. O resultado, de acordo com o fluxograma convencional no processamento CMP, e a
secao empilhada. A secao empilhada nos permite ter nocao do posicionamento dos refletores
nos quais a energia da fonte foi refletida e captada pelos canais espalhados na superfıcie de
aquisicao. Atraves dela uma interpretacao e proposta e, baseado nessa interpretacao, um
modelo geologico e concebido.
Entretanto, na secao empilhada a posicao dos refletores nao e necessariamente represen-
tada como eles de fato estao em subsuperfıcie. Para resolver esse problema foi desenvolvido
um procedimento denominado migracao sısmica, que tem como objetivo principal reposicio-
nar os refletores mediante o colapso das difracoes. Agora, com uma secao mais confiavel, um
modelo geologico mais preciso pode ser concebido. Depois de tudo isso, convem investigar a
veracidade do modelo proposto atraves da geracao de sismogramas sinteticos. Tal processo
e denominado de modelagem sısmica.
A modelagem consiste na propagacao direta do campo de ondas em um modelo de
velocidades. Tal propagacao e feita atraves de metodos numericos e os sismogramas gerados
podem ser secoes de tiro comum e de afastamento comum, inclusive afastamento nulo. Um
dos objetivos deste procedimento e testar algoritmos de processamento sısmico e, conforme
citado acima, validar modelos em profundidade para auxiliar interpretes de dados geofısicos
1
2
na exploracao de oleo e gas. Tanto na modelagem quanto na migracao a equacao da onda e
utilizada na construcao dos algoritmos.
Neste trabalho utilizamos operadores diferenciais explıcitos e implıcito para resolver
a equacao da onda. Para a derivada temporal presente na referida equacao utilizamos a
aproximacao por diferencas-finitas de segunda ordem e usamos quatro operadores diferenciais
distintos para aproximacao das derivadas espaciais presentes na mesma equacao. Sao eles:
diferencas-finitas de quarta ordem (Alford, Kelly e Boore, 1974), pseudo-espectral (Kosloff e
Baysal, 1982), convolucional com 3, 5 e 7 coeficientes (Zhou e Greenhalgh, 1992) e implıcito
com dois e tres coeficientes (Kosloff, Pestana e Tal-Ezer, 2008; Figueiredo, Pestana e Kosloff,
2009). Testamos a validade dos operadores na geracao de sismogramas sinteticos em dois
modelos - o modelo de tres camadas e o modelo do domo. Alem disso, atraves da utilizacao
dos mesmos operadores, realizamos a migracao de secoes de afastamento nulo referentes ao
modelo de velocidade constante com refletores inclinados e modelo do domo SEG-EAGE.
Convem enfatizar que nosso objetivo e demonstrar a aplicabilidade dos referidos operadores
na modelagem e migracao sısmicas em modelos simples e complexos.
CAPITULO 1
Conceitos fundamentais
O objetivo da investigacao geofısica e extrair informacoes da Terra atraves de medidas
das suas propriedades fısicas. Em sısmica, mediante excitacao do meio fısico, os tempos
de percurso e a amplitude da energia sısmica propagante (onda sısmica) sao registrados em
canais receptores na forma de tracos sısmicos. Esses tracos sao submetidos a um fluxograma
de processamento com o objetivo de aumentar a razao sinal/ruıdo do dado e fornecer uma
imagem da subsuperfıcie. Neste capıtulo apresentaremos de maneira abreviada nocoes da
tecnica CMP (Common Mid Point), cujo resultado final e a secao sısmica empilhada. Discu-
tiremos tambem a modelagem e a migracao sısmicas para que possamos ter um entendimento
adequado a respeito do proposito dessas tecnicas.
1.1 Processamento CMP
1.1.1 Aquisicao de dados sısmicos
Uma secao sısmica e o resultado de varios experimentos de excitacao do meio a ser inves-
tigado. Esses experimentos sao realizados da seguinte maneira: o meio e excitado por um
pulso sısmico, gerado por um fonte de energia artificial, que se propaga como ondas atraves
das diversas camadas rochosas da Terra. A resposta do meio a excitacao criada e registrada
em canais receptores espalhados ao longo da superfıcie de aquisicao de acordo com diversos
arranjos geometricos (split - spread, end - on, etc.).
O sinal sısmico e registrado na superfıcie como uma serie temporal chamada de traco
sısmico. O grupo de tracos gravados pelos receptores para um determinada fonte e chamado
de famılia de tiro comum (Figura 1.1a). Apos os dados serem adquiridos conforme descrito,
podemos organizar os tracos da forma que for mais conveniente. Por exemplo, podemos
organizar os tracos gravados em um grupo de receptor comum e teremos uma famılia de
receptor comum (Figura 1.1b). Tambem podemos organizar todos os tracos gravados com
distancia entre fonte e receptor fixa, a famılia de afastamento comum (Figura 1.1c). Final-
mente, podemos ordenar os tracos de acordo com o ponto medio entre fonte e receptor, e,
assim, obter a famılia de ponto medio comum ou CMP (Figura 1.1d).
3
4
Superfície
Refletor
(a)
Superfície
Refletor
(b)
Superfície
Refletor
(c)
Superfície
Refletor
(d)
Figura 1.1: Geometria de aquisicao para (a) fonte comum, (b) receptor comum, (c)
afastamento comum e (d) ponto medio comum
A geometria de aquisicao mais simples seria a de afastamento nulo (fonte e receptor
colocados na mesma posicao), pois terıamos incidencia normal nas interfaces refletoras planas
e coincidencia de trajetorias ascendentes e descendentes. Entretanto, esse tipo de aquisicao
e operacionalmente complicada. Entretanto, apesar de inviavel na pratica, o modelo de
afastamento nulo e muito importante no processamento sısmico e da suporte ao modelo do
refletor explosivo, que sera discutido adiante.
1.1.2 Nocoes sobre NMO, analise de velocidades e empilhamento
No processamento CMP trabalha-se com os dados agrupados em famılias de ponto medio
comum. Nestas famılias temos a representacao do mesmo ponto em subsuperfıcie amostrado
diversas vezes para diversos afastamentos, conforme sugere a Figura 1.1d. Considerando
refletores planos, o efeito do afastamento aparece como um atraso no tempo de percurso da
energia sısmica. A Figura 1.2 e excelente para entendermos o efeito do afastamento sobre o
tempo de percurso, de onde podemos concluir que:
SDG2
= SG2+ (2MD)2
(vT (x))2 = x2 + (2vT ′(0))2
T (x)2 = T (0)2 + (x
v)2, (1.1)
onde x e a distancia entre fonte e receptor, v e a velocidade do meio acima da interface
refletora e T (0) e o tempo duplo ao longo da trajetoria MD.
5
SG
M
S’
D
2MD
x
Figura 1.2: Representacao do CMP de um par fonte-receptor
A equacao 1.1 descreve um hiperbole no plano x − T (x). Logo, sabendo que todos
os tracos de uma famılia CMP para refletores planos contem uma reflexao cuja origem e o
mesmo ponto em profundidade (Figura 1.1d) , podemos afirmar que o efeito do afastamento
visto nas famılias CMP e o carater hiperbolico das reflexoes descritas pela equacao (1.1). E
necessario corrigir esse efeito pois o nosso objetivo e obter uma representacao de uma secao
em tempo para a geometria de aquisicao mais simples, a geometria de afastamento nulo.
Assim, a diferenca entre o tempo de percurso que a energia leva para ser medida no receptor
[T (x)] e o tempo duplo da incidencia normal no afastamento nulo [T (0)], e chamada de NMO
(Normal Move-Out). Portanto, a correcao de NMO envolve calculo dos tempos de percurso
em afastamentos nulo (T (0)) e nao-nulos (T (x)) nas famılias CMP.
Vejamos como esse calculo ocorre. Consideremos um dado sısmico associado a geometria
sugerida na Figura 1.2, que foi gerado com afastamento entre fonte e receptores variando de
100 a 6000 metros, intervalo entre tracos de 50 metros e velocidade do meio de 4000 m/s.
Essa famılia CMP no domınio x− T (x) e mostrada na Figura 1.3.
Mediante analise da Figura 1.3, percebemos que o tempo duplo de incidencia normal e
o menor tempo na famılia CMP e, alem disso, o valor T (x) pode ser obtido mediante leitura
do grafico plotado. Portanto, dessa maneira a velocidade pode ser calculada com o auxılio da
equacao (1.1). Assim, desde que a velocidade de NMO seja estimada, os tempos de percurso
podem ser corrigidos para remover a influencia do afastamento e horizontalizar as hiperboles
(Figura 1.4).
6
T (0)
T (x)
xOffset (m)
t (s)
Figura 1.3: Familia CMP oriunda da geometria sugerida na Figura 1.2
T (0)
T (x)
xOffset (m)
t (s)
Δtnmo
( a )
Offset (m)
t (s)
( b )
Figura 1.4: Correcao NMO usando equacao 1.2. Antes (a) e depois (b) da correcao.
A equacao que descreve essa correcao e:
∆Tnmo = T (x) − T (0)
= T (0)
[
1 +
(
x
vnmoT (0)
)2]
1
2
− 1
(1.2)
7
Depois de aplicada a correcao NMO aos tracos das famılias CMP, eles sao somados
para gerar um unico traco empilhado que traz informacoes de um determinado ponto em
profundidade. A amplitude do traco empilhado e dividida pelo numero de tracos somados,
logo nao ha aumento de amplitude no empilhamento e ha aumento na razao sinal/ruıdo.
Seguindo o procedimento acima descrito, cada famılia CMP gera um unico traco empilhado
e quando os tracos gerados pelo empilhamento de cada famılia CMP sao colocados juntos,
temos a secao empilhada.
A secao empilhada representa o modelo em profundidade, entretanto possui algumas
limitacoes na presenca de estruturas geologicas mais complexas:
• Os mergulhos dos refletores representados na secao empilhada nao sao fidedignos.
• Antiformes aparecem muito abertas e sinformes muito estreitas.
• Presenca de hiperboles de difracao que diminuem a qualidade da imagem.
A secao empilhada sera tao melhor quanto forem as velocidades escolhidas para ho-
rizontalizar as hiperboles nas famılias CMP. Por exemplo, se tomarmos a famılia CMP da
Figura 1.3 e utilizarmos na correcao NMO uma velocidade menor que a velocidade do meio,
a hiperbole nao sera horizontalizada e teremos sobrecorrecao (Figura 1.5 c). Por outro lado,
se utilizarmos velocidade maior que a velocidade do meio teremos subcorrecao (Figura 1.5
d). Portanto, a correcao NMO e aplicada a famılias CMP usando valores constantes de
velocidade na equacao 1.2. A velocidade que melhor se ajusta a hiperbole de reflexao e a ve-
locidade que melhor aplica a correcao NMO, sendo esta a base para a analise de velocidades
convencional (Figura 1.5).
Uma outra maneira de fazer analise de velocidades e atraves de uma secao de coerencia
(semblance). Para um faixa de valores dos parametros T (0) e v da equacao (1.2) e cons-
truıda uma funcao bidimensional, usando a formula de coerencia semblance (equacao 1.3).
Na secao de coerencia, localizamos os pontos de maximo local, que correspondem a eventos
hiperbolicos. Os maximos locais dessa secao correspondem ao tempo de afastamento nulo,
T (0), e a velocidade de NMO, vnmo. Logo, com o auxılo do semblance, podemos mapear as
velocidades que melhor se ajustam as hiperboles de reflexao na secao CMP e horizontaliza-las
como e devido. Quanto melhor a determinacao das velocidades na analise de velocidade, me-
lhor sera a secao empilhada resultante. Alem de uma analise de velocidades adequada, uma
outra ferramenta para melhorar a secao empilhada e a migracao sısmica que sera discutida
adiante.
S(t0, v) =
∑
[∑
h U(t(h), h)]2
n∑ ∑
h[U(t(h), h)]2(1.3)
onde t(h) =√
t20 + (2h/v)2.
8
( a )
Offset (m)
t (s)
Offset (m)
t (s)
( b )
( c )
Offset (m)
t (s)
( d )
Offset (m)
t (s)
Figura 1.5: (a) Famılia CMP cuja velocidade da hiperbole de reflexao e 4000 m/s;
(b) Famılia CMP corrigida de NMO com velocidade adequada; (c) So-
brecorrecao devido a baixa velocidade; (d) Subcorrecao devido a alta
velocidade.
9
1.2 O modelo do refletor explosivo
Conforme visto anteriormente, a secao sısmica e o resultado de varios experimentos fısicos
de campo. Entretanto, sao utilizados diversos algoritmos de modelagem de secoes de afas-
tamento nulo e migracao sısmica que utilizam a solucao da equacao da onda no processo de
obtencao da imagem. Neste ponto surge um questionamento: como justificar a utilizacao da
equacao na modelagem e migracao de secoes de afastamento nulo se tais secoes nao corres-
pondem a um fenomeno fısico unico de propagacao? Esta resposta foi dada por Loewenthal,
Lu, Robertson e Sherwood (1976) atraves do modelo do refletor explosivo.
Sabendo que a referida secao simula o registro de acordo com a geometria de aquisicao
de afastamento nulo e que a energia propagante neste caso percorre caminhos iguais de
ida e volta, devido a incidencia normal nas interfaces refletoras (Figura 1.6 a), o modelo
do refletor explosivo considera as fontes posicionadas nos refletores, onde sao detonadas
simultaneamente no tempo t = 0. Ou seja, no referido modelo, a secao sısmica empilhada e
vista como resultado de um experimento fısico unico no qual a energia se propaga a partir
dos refletores e e registrada na superfıcie como um campo de pressao P (x, z = 0, t)(Figura
1.6 b).
Superfície
Refletor
(a)
Superfície
Refletor
(b)
Figura 1.6: (a) Geometria de afastamento nulo e (b) modelo do refletor explosivo.
Logo, a partir dessas informacoes, podemos tirar as seguintes conclusoes com relacao
ao modelo do refletor explosivo:
• Para que haja coincidencia de tempos de propagacao com os tempos duplos nas secoes
sısmicas empilhadas as velocidades devem ser divididas por 2.
• No modelo do refletor explosivo consideram-se somente as ondas ascendentes.
1.3 Modelagem sısmica
A modelagem sısmica e essencialmente uma simulacao do campo de ondas sısmicas, onde
sao determinadas as amplitude sısmicas e o tempo de percurso. O ingrediente principal do
10
processo de modelagem e a extrapolacao do campo de onda em um tempo t e registro da
secao sısmica em z = 0 (superfıcie). Essa extrapolacao e realizada atraves da equacao da
onda. Sao numerosos os objetivos da modelagem sısmica. Entre eles podemos destacar a
geracao de dados sinteticos para testar algoritmos e o entendimento de fenomenos estruturais
ou estratigraficos de interesse em exploracao.
Existem diversas tecnicas de modelagem sısmicas: ha as que sao baseadas na integral
de Kirchhoff (Hilierman, 1970), diferencas-finitas (Alford, Kelly e Boore, 1974) e domınio
f − k (Sherwood et al., 1983). Convem enfatizar que os algoritmos baseados na equacao
acustica da onda sao convenientes para modelagens estruturais, os algoritmos baseados na
equacao elastica da onda sao convenientes para modelagem estratigrafica detalhada, modela-
gem baseada na equacao uni-direcional da onda nao inclui multiplas e modelagem utilizando
equacao completa da onda inclui multiplas (Yilmaz, 1987).
1.3.1 Modelagem de grupos de tiro e de secoes de afastamento nulo
Na modelagem de grupos de tiro a simulacao e do tipo bi-direcional, logo as famılias modela-
das nao contem apenas eventos primarios, mas tambem contem multiplas. Assim, podemos
afirmar que famılias de tiro sao campos de onda modelados. No caso de modelagem de secoes
de afastamento nulo o modelo do refletor explosivo e utilizado em uma propagacao do tipo
uni-direcional e as secoes geradas podem ser utilizadas para testar algoritmos de migracao
pos-empilhamento.
Modelando famılias de tiro podemos organiza-las em famılias CMP e, consequente-
mente, tambem podemos gerar secoes empilhadas. Entretanto, ha uma diferenca entre a
secao de afastamento nulo modelada usando o modelo do refletor explosivo e a secao gerada
a partir de tiros modelados. Para o modelo do refletor explosivo a modelagem e feita me-
diante utilizacao da equacao uni-direcional da onda, logo multiplas nao sao representadas.
No caso da modelagem de secoes de tiro e posterior construcao da secao empilhada, por
usar a equacao bi-direcional da onda, sao incluıdos eventos primarios e multiplas (Yilmaz,
1987).Visto que trata-se de modelagem do campo de ondas, nao apenas modelagem de tempo
de percurso, as famılias de tiro, as famılias CMP e a secao empilhada contem as difracoes
causadas pelas descotinuidades dos refletores no modelo em profundidade.
1.4 Migracao sısmica
Na secao empilhada a representacao dos eventos em subsuperfıcie parte do pressuposto de
que a incidencia normal resultante da geometria de afastamento nulo se da em refletores
planos e paralelos. Todavia, a Terra nao e constituıda apenas por camadas plano-paralelas.
Pelo contrario, na etapa da exploracao geofısica nao sao raras as vezes que nos deparamos
11
com fatores geologicos mais complexos, como grandes mergulhos, falhas e dobras. Portanto,
na maioria das vezes, uma secao empilhada de acordo com o modelo do refletor explosivo,
como uma amostragem do campo de pressao na superfıcie, P (x, z = 0, t), nao representa
fidedignamente o modelo em profundidade, P (x, z, t = 0).
0
A B
C
D
x
t
Figura 1.7: Secao em tempo de refletor inclinado onde θ e a inclinacao do refletor,
A e o primeiro e B e o ultimo indıcio de incidencia normal
Para facilitar o entendimento, consideremos o refletor inclinado na secao em tempo da
Figura 1.7. E notorio que um dos motivos pelo qual a secao empilhada nao representa bem
o modelo em profundidade, para o caso de refletores com mergulho, e que os segmentos AC
e BD sao tratados como se fossem de incidencia normal. Assim, a reflexao da secao em
tempo (CD) nao esta na sua verdadeira posicao. Dessa forma, a migracao sısmica tem como
objetivo fazer um mapeamento do domınio x− t para o domınio x− z (Figura 1.8).
, t
Figura 1.8: Secao migrada do refletor inclinado onde θr e a inclinacao real do refletor
12
Atentando para o exposto na figura 1.8 e considerando um meio de velocidade constante,
para que os eixos t e z sejam intercambiaveis (Yilmaz, 1987) devemos fazer as seguintes
consideracoes:
v =vreal
2
v = 1 → t = z
Logo, podemos afirmar que:
• O angulo do refletor no modelo em profundidade e maior ou igual que na secao em
tempo - θr ≤ θ. Assim, a migracao torna o refletor mais ıngreme.
• O comprimento do refletor no modelo em profundidade e menor ou igual que na secao
em tempo, ou seja, a migracao encurta o refletor.
Alem do falseamento do mergulho ha outra razao para as discrepancias na secao empi-
lhada: o espalhamento da energia por difracao. O efeito deste fenomeno na secao em tempo
e muito bem ilustrado pela abordagem feita em torno do exemplo ilustrativo da Figura 1.9.
Figura 1.9: Barreira portuaria, adaptado de Claerbout (1985).
Podemos descrever o ocorrido na Figura 1.9 da seguinte forma: uma onda plana se
propaga no oceano e incide sobre uma barreira portuaria com descontinuidade no ponto P ;
ao atingir o ponto de descontinuidade a energia e espalhada, propagando-se em frentes de
onda semi-esfericas ate ser registrada na areia da praia (z = 0), onde estao posicionados
receptores. Considerando que os receptores sao igualmente espacados podemos afirmar que
a energia propagante sera registrada primeiramente em (x3, z0) e depois em (x2, z0) e (x1, z0),
13
nessa ordem. E, obviamente, o registro nas coordenadas (x2, z0) e (x4, z0) ocorrera simul-
taneamente, ocorrendo o mesmo com o registro em (x1, z0) e (x5, z0). Assim, se plotarmos
uma secao em tempo do experimento acima descrito veremos que um ponto P em x− z gera
uma hiperbole em x − t, sendo essa a representacao do efeito de espalhamento da energia
por difracao (Figura 1.10).
X
Z
X
t
0
1
2
Figura 1.10: Hiperbole de difracao
Uma maneira de resolver esse problema e atraves do somatorio de hiperboles de difracao
via integral de Kirchhoff (Schneider, 1978). Entretanto, aqui consideraremos como resolver
este problema por continuacao descendente do campo de onda. Se colocarmos os canais
receptores da Figura 1.9 na profundidade z1, depois em z2 e finalmente em z3, estaremos
aproximando a linha de canais da barreira. A consequencia imediata disso e que o sinal sera
registrado em tempos cada vez menores e as hiperboles serao menos robustas a medida que
nos aproximamos da barreira (Figura 1.11).
Em outras palavras podemos dizer: usa-se a hiperbole obtida com os canais receptores
colocados na praia (Figura 1.9) para construir a hiperbole que seria obtida caso os canais
receptores fossem cada vez mais aproximados da fonte pontual na barreira. Esse processo
termina quando a hiperbole e colapsada (Figura 1.11d). No experimento do porto (Figura
1.9) isso ocorre quando os receptores sao colocados na barreira, ou, equivalentemente, quando
t = 0 (condicao de imagem no modelo do refletor explosivo).
14
X
t
0
1
2
X
t
0
1
2
X
t
0
1
2
X
t
0
1
2
a b c d
Figura 1.11: Colapso de difracao
Por fim, convem enfatizar que o experimento descrito pode ser simulado no computador.
Ou seja, mover os canais receptores da praia ate a barreira e como fazer o deslocamento dos
canais da superfıcie ate as interfaces refletoras, e a descontinuidade na barreira e equivalente
a pontos difratores nos refletores. Assim, a continuacao descendente do campo ascendente
registrado na superfıcie pode ser considerada equivalente ao posicionamento de canais recep-
tores no interior da Terra, em posicoes proximas a interfaces refletoras de interesse. Isso faz
com que ocorra na simulacao o colapso de difracoes de acordo com o visto na Figura 1.11.
1.4.1 Metodos de migracao
Metodos via integral de Kirchhoff
Nos primordios da aplicacao da migracao sısmica eram utilizados metodos estatısticos basea-
dos no somatorio de difracoes. Todavia, essa maneira de resolver o problema do espalhamento
da energia trazia consigo um problema: as amplitudes eram tratadas sem a aplicacao de pe-
sos adequados. Pensando nisso, French (1974) e Schneider (1978), mediante aplicacao da
equacao da onda, transformaram o metodo estatıstico do somatorio de difracoes no metodo
determinıstico da migracao via integral de Kirchhoff. A partir disso, faz-se uma integracao
aplicando correcoes de amplitude e fase ao longo da hiperbole de difracao, derivadas a partir
da equacao da onda e nao uma simples soma de amplitudes.
15
Metodos espectrais
Nos metodos espectrais o campo de ondas e convertido mediante transformada de Fourier
para o domınio frequencia-numero de onda f − k. O desenvolvimento desses metodos teve
inıcio com Stolt (1978) e esse tipo de migracao ficou conhecida como migracao Stolt. E bom
ressaltar que esse tipo de migracao exige velocidade constante em toda a secao.
Posteriormente, outros metodos mais precisos surgiram. Entre eles esta o metodo
“Phase Shift”, que e a migracao por mudanca de fase. Essa migracao, ao contrario de Stolt,
admite variacao vertical de velocidade (Gazdag, 1978). Mas, apesar do metodo “Phase Shift”
ser um avanco, ainda havia o problema da variacao lateral de velocidade em modelos com-
plexos. Assim, alguns anos depois surgiu o metodo “Phase Shift Plus Interpolation”, PSPI
(Gazdag e Sguazzero, 1984) - mudanca de fase e interpolacao.
Metodos por diferencas-finitas
Os metodos que utilizam diferencas-finitas na aproximacao das derivadas presentes na equacao
da onda tiveram inıcio com Claerbout (1970). Tais metodos caracterizam-se por sua recur-
sividade e por nao apresentarem restricoes relativas ao modelo de velocidades utilizado no
processo. Entretanto, ha que se ter cuidado com questoes relacionadas a estabilidade e
dispersao numerica nos algoritmos utilizados (Claerbout, 1970).
1.4.2 Migracao reversa no tempo - RTM
A base para migracao de secoes empilhadas e o modelo do refletor explosivo, conforme
descrito no item 1.2. De acordo com esse modelo a secao em tempo registrada na superfıcie
e uma aproximacao da secao empilhada ou de afastamento nulo que seria registrada na
regiao. O proposito da migracao, baseada no referido modelo, e recuperar as amplitudes no
tempo zero, corrigindo assim a posicao dos refletores.
Sendo assim, podemos afirmar que a extrapolacao do campo de ondas e uma etapa
basica em qualquer metodo de migracao baseado na equacao da onda. De maneira geral,
dois caminhos alternativos podem ser adotados para realizacao da referida extrapolacao: (a)
calculo do campo nas diversas profundidades, obtendo assim uma secao em tempo para cada
profundidade e armazenando as amostras no tempo zero de cada uma destas secoes (Figura
1.12 a) ou (b) calcular o campo nos diversos intervalos de tempo, utilizando propagacao no
tempo, a partir do tempo final da secao empilhada, utilizada como entrada nos processos
ate o tempo nulo (Figura 1.12b).
16
Seção Migrada
z
x
t
(a)
0
Seção Migrada
z
x
t
(b)
0
Figura 1.12: Cubos ilustrativos da construcao da secao migrada utilizando (a) ex-
trapolacao em profundidade e (b) extrapolacao em tempo reverso.
Neste trabalho escolhemos trabalhar com a propagacao em tempo reverso para migracao
de dados sısmicos. A migracao por extrapolacao inversa em tempo de secoes empilhadas, co-
nhecida como migracao reversa no tempo (RTM), considera a secao em tempo como condicao
de contorno na superfıcie e o campo e calculado iterativamente, do tempo final ate o tempo
inicial, quando os valores de amplitudes calculados representam a secao migrada.
Segundo Baysal, Kosloff e Sherwood (1983) o processo inicia-se com o campo zerado
para t > tf , onde tf e o tempo final na secao empilhada. E, alem disso, ele afirma que,
tomando a secao empilhada P (x, z = 0, t) como condicao de contorno e aplicando a marcha
reversa no tempo, podemos calcular os valores do campo de ondas para cada tempo ate
recuperarmos o modelo em profundidade no tempo nulo - P (x, z, t = 0).
Ainda segundo Baysal, Kosloff e Sherwood (1983), as vantagens da RTM em relacao a
migracao que utiliza continuacao do campo em profundidade sao basicamente as seguintes:
possibilidade de contemplar quaisquer variacoes de velocidade e evitar problemas com ondas
evanescentes.
Utilizando a equacao completa da onda pode-se realizar a migracao atraves de opera-
dores diferenciais que aproximem as derivadas espaciais e temporais presentes na equacao.
Aqui, utilizaremos a aproximacao por diferencas finitas de segunda ordem para as deriva-
das temporais e para as derivadas espaciais utilizaremos os seguintes operadores: diferencas
finitas de quarta ordem (Alford, Kelly e Boore, 1974), pseudo-espectral (Kosloff e Kessler,
1990; Kosloff e Baysal, 1982), convolucional (Zhou e Greenhalgh, 1992) e implıcito (Kosloff,
Pestana e Tal-Ezer, 2008; Figueiredo, Pestana e Kosloff, 2009). Todos estes operadores serao
detalhados no capıtulo 2.
CAPITULO 2
Equacoes fundamentais
2.1 Equacao escalar da onda
A equacao escalar da onda descreve a propagacao de um campo de pressao em meios
acusticos. Trata-se de uma equacao diferencial parcial linear de segunda ordem que possui
duas solucoes distintas, uma para o campo descendente e outra para o campo ascendente.
A equacao bidimensional da onda para meios com densidade constante e:
1
c(x, z)2
∂2P (x, z, t)
∂t2=
∂2P (x, z, t)
∂x2+
∂2P (x, z, t)
∂z2, (2.1)
onde P (x, z, t) e o campo de pressao, c(x, z) e a velocidade de propagacao da onda no meio,
x e z sao as coordenadas espaciais e t e o tempo.
A equacao (2.1) tem sido muito utilizada para simulacoes de propagacao de ondas e
imageamento de estruturas em subsuperfıcie, sendo portanto util na exploracao de petroleo.
O que ocorre e que o campo de ondas gerado na superfıcie por uma fonte sısmica e utilizado
para obter informacoes das estruturas em subsuperfıcie em forma de energia refletida por
camadas com diferentes impedancias. O processo de obtencao da estrutura em subsuperfıcie
atraves do campo registrado na superfıcie e chamado de migracao, e a simulacao da resposta
sısmica a excitacao do meio fısico e chamada de modelagem.
Tanto na modelagem quanto na migracao, e necessario fazer extrapolacao do campo
de ondas atraves de metodos numericos. Essa extrapolacao pode ser feita em profundi-
dade, calculando o campo nas diversas profundidades, e em tempo, calculando o campo nos
diversos intervalos de tempo. Pode-se calcular o campo de ondas no tempo utilizando a
equacao completa da onda. Entretanto, para que isso seja possıvel, e necessario discretizar
o meio fısico e aproximar, mediante metodos numericos adequados e com grau de precisao
elevado, as derivadas parciais presentes na equacao da onda. Dessa maneira, os algoritmos
utilizados permitem extrapolacao direta (modelagem) ou inversa (migracao), e podem ser
implementados atraves da utilizacao de algoritmos diversos, como veremos a seguir.
17
18
2.2 Operadores diferenciais
2.2.1 Metodo de diferencas-finitas
Na pratica, cada operacao diferencial presente na equacao (2.1) pode ser substituıda por
uma aproximacao em diferencas-finitas mediante truncamento da serie de Taylor. Conforme
demonstrado no apendice A, os operadores de segunda ordem para o calculo das derivadas
espaciais e temporais sao dados por:
∂2P (x, z, t)
∂x2≈
P (x + ∆x, z, t) − 2P (x, z, t) + P (x− ∆x, z, t)
(∆x)2(2.2)
∂2P (x, z, t)
∂z2≈
P (x, z + ∆z, t) − 2P (x, z, t) + P (x, z − ∆z, t)
(∆z)2(2.3)
∂2P (x, z, t)
∂t2≈
P (x, z, t + ∆t) − 2P (x, z, t) + P (x, z, t − ∆t)
(∆t)2(2.4)
Para melhorar a precisao na aproximacao das derivadas, podemos aumentar a ordem
do operador acima e utilizar operadores de diferencas-finitas de quarta ordem. Como visto
tambem no apendice A, podemos escrever os operadores de quarta ordem da seguinte forma:
∂2P (x, z, t)
∂x2≈
−1
12(∆x)2[P (x + 2∆x, z, t) − 16[P (x + ∆x, z, t) + P (x− ∆x, z, t)] +
30P (x, z, t) + P (x− 2∆x, z, t)] (2.5)
∂2P (x, z, t)
∂z2≈
−1
12(∆z)2[P (x, z + 2∆z, t) − 16[P (x, z + ∆z, t) + P (x, z − ∆z, t)] +
30P (x, z, t) + P (x, z − 2∆z, t)] (2.6)
Solucao da equacao da onda utilizando operadores de diferencas-finitas
Para que os operadores de diferencas-finitas acima expostos possam ser aplicados para
solucao da equacao da onda e necessario que o meio fısico seja discretizado. Essa discre-
tizacao e feita mediante definicao de uma malha de pontos posicionados de maneira a re-
presentar adequadamente a distribuicao das propriedades fısicas em subsuperfıcie. Ou seja,
a cada ponto da malha de discretizacao utilizada esta associado um valor de determinada
propriedade fısica (velocidade, densidade, etc). Quanto mais refinada a malha maior a quan-
tidade de pontos sobre o modelo, e a derivada do campo de pressao calculado para cada
ponto fornecera uma melhor representacao da propagacao em subsuperfıcie e reconstituira
de forma satisfatoria as estruturas de interesse exploratorio. O calculo do campo de pressao e
feito ponto a ponto na malha discreta e a medida que a ordem do operador e aumentada mais
19
P(m,n) P(m+1,n)
P(m,n-1)
P(m,n+1)
P(m-1,n)
mÄxn
Äz
Äx
Äz
X
Z (a)
P(m,n) P(m+1,n)
P(m,n-1)
P(m,n+1)
P(m-1,n)
mÄx
nÄ
z
Äx
Äz
X
Z
P(m,n+2)
P(m+2,n)P(m-2,n)
P(m,n-2)
(b)
Figura 2.1: Esquema de pontos com campo de pressao conhecido requeridos para
o operadores de segunda (a) e quarta (b) ordens
pontos com campo de pressao conhecido sao requeridos para calculo das derivadas conforme
sugere a Figura 2.1.
Assim, para que esse calculo seja efetuado, as variaveis contınuas presentes na equacao
(2.1) devem ser substituıdas por variaveis discretas de acordo com a seguinte notacao:
P (x, z, t) = P (m∆x, n∆z, l∆t) = P lm,n
Substituindo as equacoes (2.2), (2.3) e (2.4) na equacao (2.1), utilizando a notacao acima,
podemos obter uma aproximacao de segunda ordem para a equacao da onda:
1
(c∆t)2(P l−1
m,n − 2P lm,n + P l+1
m,n) =1
(∆x)2(P l
m−1,n − 2P lm,n + P l
m+1,n) +
1
(∆z)2(P l
m,n−1 − 2P lm,n + P l
m,n+1) (2.7)
Rearrumando os termos da equacao (2.7), podemos calcular o campo em um determi-
nado instante a partir de valores do campo em instantes anteriores (Fernandes, 1998), de
acordo com a seguinte equacao:
P l+1m,n = 2P l
m,n − P l−1m,n + Ax[P
lm−1,n − 2P l
m,n + P lm+1,n] +
Az [Plm,n−1 − 2P l
m,n + P lm,n+1] (2.8)
onde Ax =(
c∆t∆x
)2e Az =
(
c∆t∆z
)2
De maneira analoga, podemos reescrever a equacao da onda utilizando operadores de
diferencas-finitas de quarta ordem para as derivadas espaciais e de segunda ordem para
20
derivadas temporais. Com esse fim, substituimos as equacoes (2.4), (2.5) e (2.6) na equacao
(2.1) e obtemos:
1
(c∆t)2(P l−1
m,n − 2P lm,n + P l+1
m,n) = −1
12(∆x)2[P l
m−2,n − 16(P lm−1,n + P l
m+1,n) +
30P lm,n + P l
m+2,n] −
1
12(∆z)2[P l
m,n−2 − 16(P lm,n−1 + P l
m,n+1) +
30P lm,n + P l
m,n+2] (2.9)
A equacao (2.9) pode ser escrita explicitamente como segue (Faria, 1986):
P l+1m,n =
Ax
12[16(P l
m−1,n + P lm+1,n) − (P l
m−2,n + P lm+2,n)] +
Az
12[16(P l
m,n−1 + P lm,n+1) − (P l
m,n−2 + P lm,n+2)] +
[
2 −5
2(Ax + Az)
]
P lm,n − P l−1
m,n (2.10)
Portanto, assim como na equacao (2.8), com a equacao (2.10) podemos calcular o
campo de onda em qualquer instante, conhecendo-o em instantes anteriores. E bom ressaltar
que a equacao (2.10) pode ser simplificada se optarmos pela definicao de uma malha de
discretizacao quadrada. Assim, para ∆x = ∆z = h, a equacao acima pode ser reescrita da
seguinte forma:
P l+1m,n = g[P l
m−2,n + P lm,n−2 − 16(P l
m−1,n + P lm,n−1 + P l
m+1,n + P lm,n+1) +
60P lm,n + P l
m+2,n + P lm,n+2] + 2P l
m,n − P l−1m,n (2.11)
onde:
g = −1
12
(
c∆t
h
)2
Estabilidade do metodo
Os operadores de diferencas-finitas, utilizados para solucionar a equacao da onda, nao podem
ser aplicados de forma indiscriminada. Pelo contrario, ha um limite de estabilidade para o
processo. Alford, Kelly e Boore (1974) definiram que, para precisao de segunda ordem das
derivadas espaciais e temporais, utilizando malha quadrada (∆x = ∆z = h), a condicao de
estabilidade e dada por:(
c∆t
h
)2
≤1
2, (2.12)
Na precisao de quarta ordem para derivadas espaciais e segunda ordem para derivadas
temporais, ainda para o caso de malha quadrada, a condicao de estabilidade e dada por
21
(Alford, Kelly e Boore, 1974):(
c∆t
h
)2
≤3
8(2.13)
Faria (1986) apresentou o desenvolvimento matematico para malhas retangulares (∆x 6=
∆z) para precisao de segunda e quarta ordens das derivadas temporais e espaciais, respecti-
vamente. Nesse caso, a condicao de estabilidade e dada por:
(
c∆t
∆x
)2
+
(
c∆t
∆z
)2
≤3
4, (2.14)
Baseado nas expressoes (2.12), (2.13) e (2.14), podemos afirmar que a estabilidade
tem relacao direta com a malha de discretizacao utilizada no processo e com o intervalo de
amostragem temporal. Assim, se para todos os casos acima considerarmos o intervalo de
amostragem espacial fixo e pre-definido, podemos entender a condicao de estabilidade como
uma restricao a rapidez com que a simulacao numerica e realizada. Segundo Fernandes
(1998), o intervalo de tempo entre dois passos consecutivos deve ser tal que a frente de onda
mais rapida nao se propague por uma distancia superior ao espacamento de celulas vizinhas
da malha de discretizacao. Logo, podemos afirmar que um esquema de diferencas-finitas
e dito estavel se a diferenca entre as solucoes teorica e numerica da equacao de diferencas
permanece inalterada com o incremento temporal, com ∆t fixo, para todos os pontos da
malha (Mitchell, 1969).
Dispersao numerica
Outro efeito que merece consideracao em simulacoes numericas para abordagens de pro-
blemas em sısmica de reflexao e a dispersao numerica. Uma forma de onda propagante e
caracterizada por dois conceitos geometricos basicos e fundamentais: frente de onda e raio
de onda (Telford, Geldart, Sheriff e Keys, 1976). No caso das ondas sısmicas a frente de
onda e a linha imaginaria que conecta todos os pontos que estao em fase. O conceito de
frente de onda, entretanto, nao nos permite concluir nada no que diz respeito a direcao de
propagacao. Portanto, com esse fim, surgiu o conceito de raio de onda. O raio de onda e a
linha imaginaria perpendicular a frente de onda e que indica a direcao de propagacao.
Nos experimentos sısmicos, o meio fısico e excitado por fontes artificiais que inserem
no meio um pulso energetico que se propaga percorrendo a subsuperfıcie ate ser captado
em canais receptores espalhados ao longo de uma superfıcie de aquisicao. As distancias
percorridas pela energia disparada pela referida fonte primaria sao muito grandes e os pontos
de observacao (receptores) tambem estao a grandes distancias. Assim, a frente de onda,
circular para meios homogeneos e isotropicos, tende a ser plana. Baseado no conceito de onda
plana podemos entender os conceitos de velocidade de fase e de grupo e, consequentemente,
22
estaremos aptos para avaliar o fenomeno de dispersao numerica, sendo este o nosso objetivo
neste topico. A figura a seguir e uma representacao ilustrativa da propagacao em meios
anisotropicos, onde os raios nao sao necessariamente perpendiculares as frentes de onda.
Nesta figura temos a representacao da frente de onda em dois instantes, t e (t + ∆t) com as
frentes de onda GG e HH, respectivamente. E bom ressaltar que representamos a propagacao
em meio anisotropico para evidenciar a distincao na representacao geometrica das velocidades
de fase e de grupo e facilitar didaticamente a nossa explanacao, pois em meios isotropicos as
velocidades em questao sao iguais e tal fato dificultaria nossa analise para compreensao do
fenomeno abordado. Vejamos a figura:
v
g
Figura 2.2: Representacao geometrica de velocidade de fase e de grupo. Adaptado
de Fernandes (1998).
Baseado na Figura 2.2, podemos escrever: OP = |g(φ)|t, onde g(φ) e a velocidade
de transporte da energia ou velocidade de grupo. Agora, considerando a representacao da
frente de onda por ondas planas, podemos afirmar que: RR′ = |v(θ)|∆t, onde v(θ) e o vetor
velocidade de fase (a onda plana mantem a mesma fase). Portanto, a partir dessa analise e
com o auxılio da Figura 2.2, podemos afirmar que a velocidade de fase e menor ou igual a
velocidade de grupo. As velocidades de fase e grupo sao definidas como:
cp =w(k)
k(2.15)
e
cg =∂w(k)
∂k, (2.16)
onde cp e a velocidade de fase, cg e a velocidade de grupo, w e a frequencia angular e k e o
numero de onda.
Entretanto, como estamos representando a solucao numerica da equacao da onda por
operadores de diferencas-finitas, as referidas velocidades passam a ser funcao do espacamento
23
entre os pontos da malha, gerando dispersao numerica no sinal produzido. Para atestar a
veracidade desta afirmacao, representemos o campo de pressao presente na equacao da onda
por uma onda plana harmonica para o caso 1-D na forma:
P lm = ei(kmdx−wldt) (2.17)
Utilizando essa solucao na aproximacao de diferencas-finitas de segunda ordem mos-
trada na equacao (2.2), obtemos:
∂2P
∂x2= e−iwldte
ik(m+1)dx − 2eikmdx + eik(m−1)dx
dx2
= −4
dx2ei(kmdx−wldt)
[
sin2 kdx
2
]
(2.18)
Analogamente, podemos escrever:
∂2P
∂t2= −
4
dt2ei(kmdx−wldt)
[
sin2 wdt
2
]
(2.19)
Logo, substituindo (2.18) e (2.19) na equacao da onda de segunda ordem na forma
explıcita para o caso 1-D , temos:
w =2
dtsin−1
[
cdt
dxsin
kdx
2
]
(2.20)
Agora, a equacao (2.15) pode ser reescrita e podemos avaliar o comportamento disper-
sivo das simulacoes numericas atraves da seguinte expressao:
cp
c=
2
αkdxsin−1
[
α sinkdx
2
]
(2.21)
onde α = cdtdx
Assim, para a condicao de estabilidade na aproximacao de diferencas de segunda ordem
(2.12) para o caso 1-D, α deve ser menor ou igual a um (Kosloff e Kessler, 1990). A razao para
isso e que se α for maior que um, teremos um valor maior que a unidade no argumento do
seno da equacao 2.20 para o componente espacial de Nyquist (kdx = π). Entao, certos de que
α ≤ 1, podemos concluir que quando α = 1 nao existe dispersao numerica, conforme sugere
a Figura 2.3. Assim, variando os valores de α podemos estimar os valores para os quais a
dispersao e mınima, ou seja cp ≈ c. Alem disso, com o auxılio das curvas plotadas na Figura
2.3, pode-se notar que para kdx < π5(≈ 0, 63) os efeitos da dispersao sao suficientemente
24
pequenos. Portanto, sabendo que k = 2πλ
, podemos determinar o numero de pontos da
malha de discretizacao por comprimento de onda, conforme sugere a proxima expressao:
kdx =π
5⇒
2π
λdx =
π
5⇒ λ = 10dx (2.22)
Baseado nisso, podemos dizer que o comprimento de onda para o qual a dispersao
numerica e considerada suficientemente pequena e o de 10 pontos da malha, quando utiliza-
mos o operador diferencas-finitas de segunda ordem.
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5
cp/c
kdx
alfa 0.2alfa 0.4alfa 0.6alfa 0.8alfa 1.0
Figura 2.3: Curvas de dispersao no metodo de diferencas-finitas para diferentes
valores de alfa
2.2.2 Metodo pseudo-espectral
O metodo pseudo-espectral e um metodo de alta precisao que utiliza operadores diferencas-
finitas de segunda ordem na aproximacao das derivadas temporais e aplica a propriedade da
derivada na transformada de Fourier para calculo das derivadas espaciais (Kosloff e Kessler,
1990). Para compreensao do metodo, convem fazer uma breve revisao sobre a Transformada
de Fourier e, em particular, a propriedade da derivada.
25
Transformada de Fourier
A transformada de Fourier e uma ferramenta matematica que torna possıvel a mudanca de
domınio no qual uma determinada funcao existe. O sinal sısmico registrado nas aquisicoes
geofısicas e uma serie temporal que pode ser amostrada no domınio da frequencia de acordo
com a seguinte notacao:
S(w) = F [s(t)], (2.23)
onde F e a transformada direta de Fourier, s(t) e o sinal sısmico e S(w) e o sinal no domınio
transformado.
As transformadas direta e inversa de Fourier, podem ser escritas, respectivamente,
como:
S(w) =
∫ +∞
−∞
s(t)e−iwtdt (2.24)
s(t) =1
2π
∫ +∞
−∞
S(w)eiwtdw (2.25)
onde t e o tempo e w e a frequencia angular.
De maneira analoga, no domınio kx − x, podemos escrever:
S(kx) =
∫ +∞
−∞
s(x)e−ikxxdx (2.26)
s(x) =1
2π
∫ +∞
−∞
S(kx)eikxxdkx (2.27)
onde kx e o numero de onda.
Aplicacao da transformada de Fourier a solucao da equacao da onda
Para compreender a propriedade da derivada na transformada de Fourier e necessario derivar
a equacao (2.27) duas vezes em relacao a x, como segue:
∂s(x)
∂x=
1
2π
∫ +∞
−∞
(ikx)S(kx)eikxxdkx
∂2s(x)
∂x2=
1
2π
∫ +∞
−∞
−k2xS(kx)e
ikxxdkx
26
Logo, temos uma relacao de equivalencia aqui:
∂2s(x)
∂x2⇔ −k2
xS(kx) (2.28)
De maneira analoga, para o domınio w − t, podemos escrever:
∂2s(t)
∂t2⇔ −w2S(w) (2.29)
Portanto, podemos afirmar que o calculo de ∂2s(x)∂x2 e equivalente, no domınio trans-
formado, a multiplicar −k2x por S(kx). Utilizando essas relacoes de equivalencia, podemos
reescrever a equacao da onda (2.1) no domınio transformado de acordo com a seguinte ex-
pressao:
−w2
c2P (kx, z, w) = −k2
xP (kx, z, w) +∂2P (kx, z, w)
∂z2(2.30)
Rearrumando os termos da equacao (2.30), obtemos:
∂2P (kx, z, w)
∂z2+ k2
zP (kx, z, w) = 0 (2.31)
onde
kz = ±
√
w2
c2− k2
x, (2.32)
que e a relacao de dispersao.
Transformada rapida de Fourier (FFT - Fast Fourier Transform)
Conforme dito anteriormente, o metodo de Fourier utiliza a transformada rapida de Fou-
rier (FFT) para calcular as derivadas espaciais e a aproximacao por diferencas finitas para
derivadas temporais. O algoritmo de Fourier para calculo da segunda derivada pode ser
entendido de acordo com o seguinte esquema:
P lm,n → FFT → P → −k2
xP → FFT−1 →∂2P
∂x2
l
m,n,
ou seja:
Primeiro passo: Aplicacao da transformada direta de Fourier ao campo de pressao no
domınio (x, z, t).
27
Segundo passo: Multiplicacao do campo de pressao no domınio transformado por −k2x.
Terceiro passo: Aplicacao da transformada inversa de Fourier a −k2xP e consequente
obtencao da segunda derivada no domınio (x, z, t).
Analogamente, para o eixo z, temos:
P lm,n → FFT → P → −k2
z P → FFT−1 →∂2P
∂z2
l
m,n,
e os passos sao os mesmos acima descritos.
Portanto, representando a segunda derivada calculada pelo metodo de Fourier no eixo
x por Fxlm,n e no eixo z por Fzl
m,n, a equacao explıcita da onda no referido metodo e dada
por:
P l+1m,n = 2P l
m,n − P l−1m,n + c2
m,n∆t20(Fxlm,n + Fzl
m,n) (2.33)
Dessa forma, no metodo de Fourier tambem podemos calcular o campo de pressao em
qualquer instante conhecendo-o em instantes interiores.
Estabilidade e dispersao numerica
Para fins didaticos utilizaremos o caso 1-D nas consideracoes deste topico. Tomemos a
equacao (2.17) e a propriedade da derivada na transformada de Fourier. O resultado e o
seguinte:
∂2P
∂x2= −k2ei(kmdx−wldt) (2.34)
Substituindo esse resultado e a equacao (2.19) na equacao da onda unidimensional,
temos:
w =2
dtsin−1
(
kcdt
2
)
(2.35)
Portanto, podemos reescrever (2.15) para o metodo de Fourier e, consequentemente,
podemos avaliar o comportamento dispersivo atraves da seguinte relacao:
cp
c=
2
kcdtsin−1
[
kcdt
2
]
(2.36)
Segundo Kosloff e Kessler (1990) se dt for muito menor que 1 isso implicara em:
sin−1(
kcdt2
)
≈ kcdt2
. Substituindo tais consideracoes na relacao de dispersao em (2.36) obte-
mos wk
= c. Ou seja, velocidade de fase igual a velocidade do meio. Isso implica em ausencia
28
de dispersao numerica. Alem disso, sabendo que o argumento do seno deve ser menor que
1, podemos definir o limite de estabilidade como sendo dado por:
kmax(cdt
2) ≤ 1
Sabendo que kmax e dado pelo componente de Nyquist, temos:
π
dx
cdt
2=
π
2
cdt
dx=
π
2α ≤ 1 ⇒ α ≤
2
π(2.37)
Portanto, podemos avaliar o fenomeno de dispersao no metodo de Fourier plotando um
grafico da velocidade normalizada em funcao de kdx para diferentes valores de α.Vejamos:
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5
cp/c
kdx
alfa 0.2alfa 0.4alfa 0.6alfa 0.8alfa 1.0
Figura 2.4: Curvas de dispersao no metodo de Fourier para diferentes valores de
alfa
2.2.3 Operador diferencial convolucional
Neste topico pretendemos discutir o operador diferencial convolucional (Zhou e Greenhalgh,
1992). Trata-se de um operador utilizado na aproximacao de derivadas espaciais, com a
mesma forma do operador diferencas-finitas e com os mesmos benefıcios dos metodos de
diferencas-finitas convencional e de Fourier. Como veremos adiante, os resultados utilizando
o operador convolucional com cinco pontos sao aceitaveis e ao utilizar operadores longos (7
pontos) os resultados sao comparaveis ao metodo de Fourier.
29
A equacao escalar da onda e o operador diferencial convolucional
Representemos a segunda derivada com relacao a x na equacao escalar da onda (2.1) da
seguinte maneira:
ϕ(x, z, t) =∂2P (x, z, t)
∂x2(2.38)
Como nosso objetivo e calcular a segunda derivada atraves de um operador convoluci-
onal, podemos reescrever (2.38) como segue:
ϕ(x, z, t) = d2(x) ∗ P (x, z, t), (2.39)
onde “*” indica uma convolucao no eixo x e d2(x) e o operador diferencial convolucional
para a segunda derivada.
Sabendo que a convolucao na equacao (2.39) e equivalente a uma multiplicacao no
domınio de Fourier e lembrando da propriedade da derivada na transformada de Fourier
discutida na equacao (2.28), podemos escrever d2(x) no domınio transformado como:
d2(kx) = −k2x (2.40)
Para determinacao de d2(x) e calculo da segunda derivada, conforme sugerido pelas
equacoes (2.38) e (2.39), foi definido que:
d2(kx) =
{
−k2x se |kx| ≤ kxn
0 se |kx| > kxn
(2.41)
, onde kxn e o numero de onda de Nyquist.
Usando a transformada de Fourier
d2(x) =1
2π
∫ +∞
−∞
d2(kx)eikxxdkx
para x 6= 0, temos:
d2(x) =1
2π
∫ kxn
−kxn
−k2xe
ikxxdkx = −1
πx
([
k2xn −
2
x2
]
sin(kxnx) +2kxn
xcos(kxnx)
)
Logo, podemos escrever:
d2(0) =1
2π
∫ kxn
−kxn
−k2xe
ikxxdkx = −k3
xn
3π
30
Portanto, o operador diferencial convolucional para a segunda derivada em relacao a x
e:
d2(x) =
{
− 1πx
([
k2xn − 2
x2
]
sin(kxnx) + 2kxn
xcos(kxnx)
)
se x 6= 0
−k3xn
3πse x = 0
(2.42)
Raciocınio analogo pode ser aplicado ao eixo z e, baseado no que foi apresentado nas
equacoes (2.41) e (2.42), podemos reescrever a equacao escalar da onda (2.1):
1
c(x, z)2
∂2P (x, z, t)
∂t2= (d2(x) ∗ P (x, z, t)) + (d2(z) ∗ P (x, z, t)), (2.43)
onde “*” representa a operacao de convolucao.
Discretizacao do operador
Iniciemos nossas consideracoes para o operador d2(x). Sabendo que, no domınio discreto,
x = m∆x, podemos escrever:
kxn =π
∆x
kxnx = mπ
sin(kxnx) = sin(mπ) = 0
cos(kxnx) = cos(mπ) = (−1)m
Aqui, ∆x e o intervalo de amostragem no eixo x e m e o ındice de amostragem. Substi-
tuindo essas consideracoes em (2.42), obtemos o operador diferencial convolucional discreto.
Vejamos:
d2(m∆x) =
{
2m2∆x3 (−1)m+1 se m 6= 0
− π2
3∆x3 se m = 0(2.44)
O operador diferencial convolucional para o eixo z e obtido de maneira analoga e pode
ser escrito como:
d2(n∆z) =
{
2n2∆z3 (−1)n+1 se n 6= 0
− π2
3∆z3 se n = 0(2.45)
31
onde ∆z e o intervalo de amostragem na direcao z e n e o ındice de amostragem.
Segundo Zhou e Greenhalgh (1992), o operador d2, apresentado na sua forma discreta
nas equacoes (2.44) e (2.45), possui duas propriedades principais:
• O fator 1n2 contribui para um rapido decrescimo do operador d2, assim e possıvel calcular
os termos da convolucao espacial usando operadores convolucionais com poucos pontos;
• Os coeficientes do operador sao simeticos.
Operador de resposta impulsiva finita (RIF)
Apesar de o operador convolucional ser infinito em comprimento, sua amplitude decai ra-
pidamente para zero a medida que se afasta da origem (Fig. 2.5). Sendo assim, podemos
fazer truncamento por implementacao pratica de janelas de interesse no operador. Entre-
tanto, a utilizacao de uma janela retangular simples no truncamento do operador maximiza
o efeito Gibbs (oscilacao do espectro de amplitude de um filtro nas proximadades da regiao
de corte). Tal fato implica que as janelas de truncamento no operador devem ser definidas
de maneira a fazer com que as pequenas oscilacoes em torno da amplitude nula (Fig. 2.5)
a medida em que aumentamos o numero de pontos sejam, de fato, zeradas. Dessa forma,
reduziremos as implicacoes do efeito Gibbs. Neste trabalho utilizamos a janela , dada pela
seguinte expressao (Scheuer e Oldenburg, 1988):
W (k) =
[
2α − 1 + 2(1 − α) cos2
(
πk
2(mx + 2)
)]β2
, (2.46)
onde |k| = 0, 1, 2, . . . ,mx, mx e o comprimento do truncamento uni-lateral no numero de
amostragem, α e β sao constantes que definem o tipo de janela utilizada - retangular (α = 1
ou β = 0), do tipo Hanning (α = 0.5, β = 6) ou do tipo Hamming (α = 0.54, β = 6). Assim,
o operador convolucional para a janela w e dado por:
d2(m∆x) = d2(m∆x)W (m) (2.47)
O erro espectral do operador d2 pode ser expresso como:
e(kx) = d2(kx) − FFT [d2], (2.48)
onde FFT [d2] e a transformada de Fourier do operador convolucional truncado.
E bom ressaltar que o princıpio para a escolha da janela de truncamento citada an-
teriormente e a minimizacao do erro na equacao (2.48) e um operador modificado possui
32
(2mx+1) pontos. Alem disso, convem lembrar que, segundo Zhou e Greenhalgh (1992), um
operador com (2mx+1) pontos corresponde aproximadamente ao esquema diferencas-finitas
de ordem (2mx).
0 10 20 30 num of points
-1.0
-0.5
0
0.5A
mpl
itude
Filter : 31 points
Figura 2.5: Filtro convolucional
( a ) ( b )
Figura 2.6: (a)Filtro convolucional truncado e (b) janela de truncamento
33
Equacao escalar da onda na forma explıcita
Neste ponto, podemos reescrever a equacao (2.43) explicitamente, utilizando operador dife-
rencas-finitas de segunda ordem no calculo das derivadas temporais e operador diferencial
convolucional para as derivadas espaciais, de acordo com a seguinte expressao:
P l+1m,n = 2P l
m,n − P l−1m,n +
c2m,n∆t2 (∆x
mx∑
i=−mx
d2(i∆x)P lm−i,n +
∆zmz∑
j=−mz
d2(j∆z)P lm,n−j), (2.49)
onde mx e mz sao os comprimentos uni-laterais do operador ao longo dos eixos x e z,
respectivamente.
Usando a simetria do operador convolucional d2 podemos reescrever a equacao (2.49)
como:
P l+1m,n = 2P l
m,n − P l−1m,n +
c2m,n∆t2 ([∆xd2(0∆x) + ∆zd2(0∆z)]P l
m,n +
∆x
mx∑
i=1
d2(i∆x)[P lm−i,n + P l
m+i,n] +
∆zmz∑
j=1
d2(j∆z)[P lm,n−j + P l
m,n+j ]) (2.50)
Tanto na modelagem quanto na migracao utilizamos a equacao (2.50). Segundo Zhou
e Greenhalgh (1992), pode-se demonstrar que a condicao de estabilidade da equacao (2.50)
e dada por:
|Vmax∆tk| ≤ 2, (2.51)
onde Vmax e a velocidade maxima do meio investigado e k e definido por:
k =
√
|FFT [d2(m∆x)]|+ |FFT [d2(n∆z)]| (2.52)
34
2.2.4 Operadores espaciais implıcitos
Todos os metodos numericos para aproximacao de derivadas parciais mostrados anterior-
mente sao explıcitos. Ou seja, calcula-se o campo de pressao em determinado instante a
partir dos valores do referido campo em instantes anteriores. No esquema que apresentare-
mos neste topico sao utilizados operadores de derivadas espaciais implıcitos na aproximacao
das derivadas espaciais de segunda ordem. Esse esquema, proposto para solucao da equacao
da onda, com operadores implıcitos de segunda e quarta ordens, consegue reduzir significa-
tivamente o efeito de dispersao numerica nos resultados obtidos. Assim, vejamos como as
aproximacoes sao feitas.
Seja uma funcao P (x) contınua. Admitindo-se uma discretizacao para essa funcao,
podemos estabelecer a seguinte notacao:
x = mdx → P [m] = P (x = mdx)
Pode-se demonstrar que uma aproximacao recursiva para a derivada segunda da funcao
P [m] pode ser escrita como (Kosloff, Pestana e Tal-Ezer, 2008):
∂2Pm
∂x2=
a0 + a1∆1 + a2∆2 + . . . + aN∆N
1 + b1∆1 + b2∆2 + . . . + bM∆M
Pm, (2.53)
onde ∆kPm = Pm+k + Pm−k.
Considerando M ≤ N , a equacao (2.53) pode ser escrita como:
∂2Pm
∂x2= (c0 + . . . + cN−M∆N−M +
d0
1 + β0∆0
+
. . . +dM−1
1 + βM−1∆1)Pm (2.54)
Os coeficientes em (2.54) podem ser relacionados aos coeficientes em (2.53). A equacao
(2.54) e mais conveniente para efeito de calculo, enquanto a equacao (2.53) e mais adequada
para determinacao dos coeficientes. Os primeiros termos c0 + . . . + cN−M∆N−M , formam um
operador explıcito. Mas cada termodj
1+βj∆1
resulta em um sistema tridiagonal de equacoes.
Os coeficientes al e bl da equacao (2.53) sao calculados atraves de ajuste no domınio
espectral, de acordo com a seguinte equacao:
−(k2)L = a0 + 2a1cos(kLdx) + 2a2cos(2kLdx) +
. . . 2aNcos(NkLdx) + 2b1(k2)Lcos(k1dx) +
. . . 2bM(k2)Lcos(MkLdx) + (−1)Lε (2.55)
35
onde L = 1 . . . N + M + 2.
Os termos a0, a1, . . . , aN , b1, . . . , bM sao os coeficientes a serem determinados e ε e o
erro. Os N + M + 2 componentes de numero de onda kL estao dentro do intervalo 0 ≤ kL <
kmax < πdx, onde kmax e definido pelo usuario. Esse valor e definido com o objetivo de obter
o melhor compromisso entre a precisao no ajuste e o menor comprimento de onda que se
pode propagar na malha com uma menor dispersao numerica. O sistema (2.55) e resolvido
iterativamente e, em cada tempo, os valores de kL sao selecionados nos pontos extremos da
funcao erro (Kosloff, Pestana e Tal-Ezer, 2008).
Utilizamos neste trabalho um operador de derivadas com dois termos no numerador e
um termo no denominador (operador 2−1) para determinar o operador de derivada espacial
de segunda ordem. A partir de (2.54), esse operador e dado por:
Dx =1
dx2
a0 + a1∆x
1 + b1∆x
= A(1 +B
1 + b1∆x
), (2.56)
onde A = a1
b1∆x2 e B = a0b1a1
− 1
Em nossa aplicacao usamos os seguintes valores para os termos da equacao (2.56):
A∆x2 = 12, 003
B = −1, 20211
b1 = 0, 101057
O caso de tres termos no numerador e um termo no denominador (operador 3 − 1)
tambem resulta na resolucao de um sistema de equacoes tridiagonal para obter as derivadas.
Utilizamos na precisao ate 85% do valor do numero de onda de Nyquist. Neste caso,
Dx =1
dx2
a0 + a1∆x + a2∆2x
1 + b1∆x
= A
(
1 + C∆x +B
1 + b1∆x
)
(2.57)
onde α = A∆x2 = a1
b1− a2, C = a2
b1/α e B = a0
α− 1.
Em nossa aplicacao usamos os seguintes valores para os termos da equacao (2.57):
A∆x2 = 1, 9034
B = −2, 30089
C = 0, 271368
b1 = 0, 245524
36
Para avaliar as equacoes (2.56) e (2.57) temos que resolver um sistema de equacoes. A
matriz do operador 1 + b1∆x e tridiagonal. Desde que a decomposicao LU deste operador e
pre-calculada, o calculo da derivada segunda e obtida de forma eficiente, fazendo com que
este metodo tambem seja relativamente rapido em termos computacionais.
Precisao dos operadores de derivada segunda
Consideremos a aplicacao do operador de derivada espacial a funcao f [m] = eikmdx para
diferentes valores de k, e denotemos o resultado dessa aplicacao como −k2f [m]. A velocidade
de fase numerica normalizada e dada por cf = k/k. A velocidade de fase normalizada, para
diferentes operadores, e plotada versus numero de onda. Na Figura (2.7) (fd−4) representa
o operador de diferencas-finitas de quarta ordem, enquanto (3 − 1) denota um operador
obtido de (2.55) com N = 3 e M = 1. No caso ideal o operador deveria conseguir um
valor de velocidade de fase igual a 1 ate o numero de onda de Nyquist, kfdx = π. No
calculo do operador, o maximo valor do numero de onda (kmax) foi ajustado para fornecer
o maximo erro da velocidade de fase normalizada menor que 0.5%, considerando-se a faixa
0 ≤ kL ≤ kmax.
Figura 2.7: Curvas de dispersao para comparacao do metodo implıcito com outros
operadores
37
Nota-se na Figura (2.7) que a inclusao de mais um termo implıcito no operador de
derivada melhora de forma significativa a sua precisao. Em particular, o operador 3 − 1
produz uma boa resposta. Tambem nota-se que o operador 3 − 0 tem uma resposta melhor
do que o operador de diferencas-finitas de quarta ordem, possuindo um numero menor de
coeficientes.
CAPITULO 3
Aplicacao dos operadores diferenciais para
modelagem e migracao de dados sinteticos
3.1 Introducao
Neste capıtulo apresentaremos os resultados obtidos na modelagem direta de secoes de tiro
comum e na migracao reversa no tempo de dados sısmicos sinteticos 2-D atraves da aplicacao
dos operadores descritos no capıtulo anterior. Nosso objetivo aqui e examinar a aplicabili-
dade dos operadores de derivada segunda, visando melhorar a eficiencia na modelagem e na
migracao reversa no tempo. Para obter os resultados gerados utilizamos a aproximacao por
diferencas-finitas de segunda ordem para a derivada temporal presente na equacao da onda
em todos os casos. A base de nossa discussao aqui e, entretanto, ressaltar a eficiencia dos ope-
radores na aproximacao das derivadas espaciais presentes na equacao da onda comparando
seus resultados.
3.2 Migracao reversa no tempo de secoes de afastamento nulo -
Modelo de velocidade constante com refletores inclinados
Iniciaremos nossa exposicao atraves do uso dos operadores na migracao reversa no tempo em
um modelo simples de refletores inclinados (Figura 3.1a). O modelo dos refletores inclinados
simula diversas inclinacoes de um refletor em um meio com velocidade constante. Utilizamos
esse modelo para mostrar que todos os operadores aqui apresentados atuam bem tanto no
reposicionamento dos refletores quanto no colapso de difracoes. Adicionalmente, avaliaremos
como se comportam no tocante a dispersao numerica. A secao em tempo de afastamento nulo
para o modelo foi gerada atraves do pacote de processamento sısmico gratuito denominado
Seismic Unix (SU).
A Figura (3.1b) mostra a secao sısmica correspondente ao modelo do refletor inclinado
(Figura 3.1a). As Figuras (3.1c), (3.1d), (3.2a), (3.2b) e (3.2c) mostram as secoes migradas
com afastamento entre tracos de 20 metros e nas Figuras (3.3a), (3.3b), (3.3c), (3.3d) e
(3.4) temos as secoes migradas para afastamento entre tracos de 10 metros, todas referentes
38
39
ao modelo dos refletores inclinados. Os operadores utilizados na aproximacao das derivadas
espaciais para migracao reversa no tempo foram: implıcito (2−1) e (3−1) , diferencas-finitas
de quarta ordem, convolucional com 7 coeficientes e pseudo-espectral.
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500
0.0
Distância (m)
Profundidade (m)
500
1000
1500
2000
2500
3000
( a )
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
1.2
1.4
1.6
1.8
Distância (m)
Tempo (s)
( b )
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500
0.0
Distância (m)
Profundidade (m)
( c )
500
1000
1500
2000
2500
3000
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500
0.0
Distância (m)
Profundidade (m)
( d )
500
1000
1500
2000
2500
3000
Figura 3.1: (a) Modelo dos refletores inclinados, (b) secao de afastamento nulo do
modelo dos refletores inclinados, secoes migradas para o modelo dos
refletores inclinados com afastamento entre tracos de 20 metros usando
(c) operador implıcito (2 − 1) e (d) operador implıcito (3 − 1)
40
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500
0.0
Distância (m)
Profundidade (m)
( a )
500
1000
1500
2000
2500
3000
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500
0.0
Distância (m)
Profundidade (m)
( b )
500
1000
1500
2000
2500
3000
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500
0.0
Distância (m)
Profundidade (m)
( c )
500
1000
1500
2000
2500
3000
Figura 3.2: Secoes migradas para o modelo dos refletores inclinados com afasta-
mento entre tracos de 20 metros usando (a) diferencas-finitas de quarta
ordem, (b) operador convolucional com 7 coeficientes e (c) pseudo-
espectral
41
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500
0.0
Distância (m)
Profundidade (m)
( a )
500
1000
1500
2000
2500
3000
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500
0.0
Distância (m)
Profundidade (m)
( b )
500
1000
1500
2000
2500
3000
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500
0.0
Distância (m)
Profundidade (m)
( c )
500
1000
1500
2000
2500
3000
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500
0.0
Distância (m)
Profundidade (m)
( d )
500
1000
1500
2000
2500
3000
Figura 3.3: Secoes migradas para o modelo dos refletores inclinados com afasta-
mento entre tracos de 10 metros usando (a) operador implıcito (2− 1),
(b) operador implıcito (3− 1), (c) diferencas-finitas de quarta ordem e
(d) operador convolucional com 7 coeficientes
42
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500
0.0
Distância (m)
Profundidade (m)
500
1000
1500
2000
2500
3000
Figura 3.4: Secao migrada para o modelo dos refletores inclinados com afastamento
entre tracos de 10 metros usando operador pseudo-espectral
Os resultados obtidos com o operador implıcito do tipo (2 − 1) (Figura 3.1c) foi se-
melhante ao obtido com o diferencas-finitas de quarta ordem (Figura 3.2a). Aumentando o
numero de coeficientes no operador implıcito para (3− 1) ha uma melhora significativa com
relacao ao efeito de dispersao numerica (Figura 3.1d). O resultado obtido com o operador
implıcito do tipo (3−1) e semelhante ao resultado gerado com o operador convolucional com
7 coeficientes (Figura 3.2b), que e equivalente a um esquema de diferencas-finitas de sexta
ordem.
Alem disso, e notorio que a diminuicao do afastamento entre os tracos (refinamento da
malha de discretizacao) produz resultados excelentes. Conforme visto nas Figuras (3.3a) a
(3.4), o operador implıcito do tipo (2 − 1) utilizando afastamento entre tracos de 10 metros
apresenta melhor resultado que o diferencas-finitas de quarta ordem para o mesmo afasta-
mento. Adicionalmente, o resultado com o operador implıcito do tipo (3 − 1) (Figura 3.3b)
foi semelhante aos gerados com o operador convolucional com 7 coeficientes (Figura 3.3d) e
pseudo-espectral (Figura 3.4). Entendemos que os melhores resultados foram obtidos com
o metodo implıcito, convolucional e pseudo-espectral. Assim, utilizaremos estes operadores
para a modelagem de tiros nos proximos itens e utilizaremos o operador pseudo-espectral
como referencia em termos de qualidade da imagem gerada.
3.3 Modelagem de secoes de tiro comum - Modelo de 3 camadas
Consideremos o modelo de tres camadas da Figura (3.5). O modelo possui 338 pontos em x
e 210 em z, com espacamento de 40 e 20 metros em x e z, respectivamente. O campo gerado
foi registrado na superfıcie atraves de receptores espalhados por todo o modelo, separados a
43
cada 40 metros. A fonte foi posicionada na parte central do modelo em (6, 0), coordenada em
quilometros. O intervalo de amostragem temporal utilizado no registro foi de dt = 2.0ms e
foram coletadas 1000 amostras por traco. O modelo utilizado e composto por tres camadas
isotropicas, cujas velocidades estao expostas na tabela (3.1) em (m/s). Utilizamos esse
modelo simples (Figura 3.5) para observar o desempenho dos operadores implıcito (Figura
3.6a e 3.6b), convolucional (Figura 3.7a, 3.7b e 3.8a) e pseudo-espectral (Figura 3.8b) na
modelagem de secoes de tiro comum. Foram gerados paineis de tiro comum utilizando 2
e 3 coeficientes no numerador do operador implıcito e 3, 5 e 7 coeficientes no operador
convolucional.
Camada Velocidade (m/s)
1 2000
2 2500
3 3000
Tabela 3.1: Parametros do modelo
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13Distância (km)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
Profundidade (km)
Figura 3.5: Modelo de 3 camadas
44
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13Distância (km)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0Tempo (s)
( a )
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13Distância (km)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0Tempo (s)
( b )
Figura 3.6: Famılia de tiro comum utilizando o operador implıcito dos tipos (a)
(2 − 1) e (b) (3 − 1)
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13Distância (km)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0Tempo (s)
( a )
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13Distância (km)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0Tempo (s)
( b )
Figura 3.7: Famılia de tiro comum utilizando o operador convolucional com (a) 3
coeficientes e com (b) 5 coeficientes
45
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13Distância (km)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0Tempo (s)
( a )
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13Distância (km)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0Tempo (s)
( b )
Figura 3.8: Famılia de tiro comum utilizando o operador convolucional com (a) 7
coeficientes e o (b) operador pseudo-espectral
As figuras (3.6) a (3.8) mostram que nossa aproximacao da equacao completa da onda
garante uma apresentacao adequada dos eventos sısmicos de interesse em um sismograma.
Alem disso, oferece a possibilidade de comparar os operadores propostos em termos de
eficiencia na aproximacao e dispersao numerica associada a propagacao em meio discretizado.
Portanto, analisando os resultados obtidos podemos perceber que o operador implıcito do
tipo (2−1) (Figura 3.6a) apresenta resultado parecido com o do operador convolucional com
3 coeficientes (Figura 3.7a) e inferior ao do operador convolucional com 5 coeficientes (Figura
3.7b). Aumentando o numero de coeficientes do operador implıcito para (3−1) (Figura 3.6b)
obtemos resultado equivalente ao obtido utilizando 7 coeficientes no operador convolucional
(Figura 3.8a). Tal fato sugere que um melhor ajuste dos parametros do operador implıcito
nos conduziria a resultados proximos ao obtido com o operador pseudo-espectral (Figura
3.8b).
3.4 Modelagem de secoes de tiro comum - Modelo do domo
Consideremos agora um modelo mais complexo, o domo da Figura (3.9). O modelo possui
338 pontos em x e 210 em z, com espacamento de 40 e 20 metros em x e z, respectivamente. O
campo gerado foi registrado na superfıcie atraves de receptores espalhados por todo o modelo,
separados a cada 40 metros. A fonte foi posicionada na posicao (2, 0) do modelo, coordenada
em quilometros. Essa coordenada de posicionamento da fonte foi escolhida por se tratar de
uma regiao com muitas reflexoes e onde o alto contraste de velocidade devido a presenca do
sal nao prejudica a qualidade dos sismogramas gerados. O intervalo de amostragem temporal
46
utilizado no registro foi de dt = 2.0ms e foram coletadas 1000 amostras por traco.
Esse modelo do domo foi utilizado para demonstrar que os operadores se comportam
de maneira satisfatoria na modelagem de tiros em modelos complexos e com alto contraste
de velocidade. Assim como no item anterior, os resultados foram obtidos com os operadores
implıcitos (Figura 3.10a e 3.10b), convolucional (Figura 3.11a, 3.11b e 3.12a) e pseudo-
espectral (Figura 3.12b) na modelagem das secoes.
vel (m/s)
Figura 3.9: Modelo do domo
47
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13Distância (km)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0Tempo (s)
( a )
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13Distância (km)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0Tempo (s)
( b )
Figura 3.10: Famılia de tiro comum utilizando o operador implıcito dos tipos (a)
(2 − 1) e (b) (3 − 1)
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13Distância (km)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0Tempo (s)
( a )
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13Distância (km)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0Tempo (s)
( b )
Figura 3.11: Famılia de tiro comum utilizando o operador convolucional com (a) 3
coeficientes e com (b) 5 coeficientes
48
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13Distância (km)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0Tempo (s)
( a )
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13Distância (km)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0Tempo (s)
( b )
Figura 3.12: Famılia de tiro comum utilizando o operador convolucional com (a) 7
coeficientes e o (b) operador pseudo-espectral
Como visto nas Figuras (3.10) a (3.12), os operadores apresentam resultados confiaveis
na modelagem em meios fısicos complexos. Esses resultados mostram que todos os opera-
dores discutidos aqui sao precisos para a simulacao do campo de ondas em meios diversos.
O operador implıcito apresentou resultados aceitaveis (Figuras 3.10a e 3.10b) se compara-
dos com o operador convolucional (Figuras 3.11a,3.11b e 3.12a) e pseudo-espectral (Figura
3.12b), demonstrando assim sua equivalencia quanto ao resultado final obtido com os opera-
dores explıcitos citados. Logo, tomando como referencia o operador pseudo-espectral base-
ado nos resultados obtidos com os outros modelos, podemos afirmar que todos os operadores
apresentam resposta satisfatoria.
3.5 Migracao reversa no tempo de secoes de afastamento nulo -
Modelo do domo SEG-EAGE
Nesta secao usaremos mais um modelo (domo SEG-EAGE, Figura 3.13) que representa uma
situacao geologica de interesse em exploracao geofısica. Trata-se de um domo de sal cercado
de diversas estruturas de falhas geologicas. Esse modelo de sal possui 1290 amostras em x,
300 amostras em z e dx = dz = 12, 2m. A secao em tempo de afastamento nulo (Figura
3.14) referente a este modelo possui 1290 tracos, espacamento entre tracos de 12, 2m, 2504
amostras temporais e intervalo de amostragem temporal de 2ms. Nosso objetivo e avaliar
o comportamento dos operadores no posicionamento correto dos eventos sısmicos na secao
migrada mediante marcha reversa no tempo. Este modelo, juntamente com a secao de
afastamento nulo , servira como dado de entrada para a migracao reversa.
49
vel (feet/s)
Figura 3.13: Modelo do domo - SEG-EAGE
0Distância (kft)
0.0
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50
Tempo (s)
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0
Figura 3.14: Secao de afastamento nulo do domo - SEG
50
0Distância (kft)
0.0
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50
1.0
2.0
3.0
4.0
5.0
6.0
7.0
8.0
9.0
10.0
11.0
Profundidade (kft)
Figura 3.15: Secao migrada utilizando operador implıcito do tipo (2 − 1)
0Distância (kft)
0.0
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50
1.0
2.0
3.0
4.0
5.0
6.0
7.0
8.0
9.0
10.0
11.0
Profundidade (kft)
Figura 3.16: Secao migrada utilizando operador implıcito do tipo (3 − 1)
51
0Distância (kft)
0.0
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50
1.0
2.0
3.0
4.0
5.0
6.0
7.0
8.0
9.0
10.0
11.0
Profundidade (kft)
Figura 3.17: Secao migrada utilizando operador diferencas-finitas de quarta ordem
0Distância (kft)
0.0
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50
1.0
2.0
3.0
4.0
5.0
6.0
7.0
8.0
9.0
10.0
11.0
Profundidade (kft)
Figura 3.18: Secao migrada utilizando operador convolucional com 7 coeficientes
52
0Distância (kft)
0.0
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50
1.0
2.0
3.0
4.0
5.0
6.0
7.0
8.0
9.0
10.0
11.0
Profundidade (kft)
Figura 3.19: Secao migrada utilizando operador pseudo-espectral
53
Foram realizadas migracoes com o operador implıcito dos tipos (2 − 1) (Figura 3.15) e
(3− 1) (Figura 3.16), com o operador diferencas-finitas de quarta ordem (Figura 3.17), com
o operador convolucional com 7 coeficientes (Figura 3.18) e com o metodo pseudo-espectral
(Figura 3.19). Os resultados mostram que os quatro operadores aqui apresentados atuam
bem na reconstituicao do modelo em profundidade atraves da migracao por marcha reversa
no tempo. As estruturas de interesse exploratorio (dobras a esquerda do domo e falhas em
torno do domo, inclusive abaixo do mesmo) sao muito bem reconstruıdas e, tanto o topo
como a base da intrusao sao bem delineadas. Dessa forma, podemos afirmar que os resultados
aqui apresentados sao satisfatorios em termos de qualidade da imagem gerada no final do
processo.
CAPITULO 4
Conclusoes
Mostramos a aplicabilidade dos operadores diferenciais na modelagem sısmica, atraves
da geracao de sismogramas sinteticos, e na migracao reversa no tempo, atraves da reconsti-
tuicao do modelo em profundidade utilizando a condicao de imagem do modelo do refletor
explosivo. Os operadores tiveram sua precisao comprovada na aproximacao da equacao
completa da onda e forneceram bons resultados.
Demonstramos que a utilizacao dos operadores diferencas-finitas de quarta ordem,
pseudo-espectral, convolucional e implıcito na modelagem sısmica foi efetiva no sentido de
que os eventos sısmicos de interesse em um sismograma sao adequadamente apresentados
tanto para um modelo geologico simples de tres camadas quanto para um modelo de uma
intrusao salina, que constitui uma situacao geologica mais complexa e de interesse na ex-
ploracao geofısica. Em ambos os casos, os operadores mostraram-se precisos. Concluimos
tambem que um melhor ajuste do operador implıcito certamente fornecera resultados com-
patıveis com o operador pseudo-espectral.
Atraves de um modelo de velocidade constante com refletores inclinados (Figura 3.1a),
vimos que os operadores apresentam resultados satisfatorios para diversos espacamentos en-
tre tracos na secao de afastamento nulo. De acordo com o exposto nas figuras (3.1c - 3.2d),
o simples aumento na quantidade de coeficientes no numerador do operador implıcito ( de
2 para 3 coeficientes) gerou uma melhora significativa nos resultados em relacao ao metodo
de diferencas-finitas de quarta ordem, apresentando um grau de proximidade elevado com o
operador convolucional com 7 coeficientes (equivalente ao diferencas-finitas de sexta ordem),
podendo ser melhorado para alcancar resultados equivalentes ao operador pseudo-espectral.
Associado a esse aumento no numero de coeficientes, refinamos a malha de discretizacao tra-
balhando com um afastamento entre tracos equivalente a metade do usado anteriormente,
e os resultados foram expressivos quanto a qualidade da imagem em todos os casos. Alem
disso, utilizamos tambem para a migracao reversa no tempo pos-empilhamento o modelo do
domo da SEG-EAGE (Figura 3.13) para demonstrar que os operadores sao precisos para alto
grau de complexidade em modelos geologicos de interesse exploratorio. Nesse ponto, demons-
tramos a funcionalidade e precisao das aproximacoes aqui utilizadas, pois todas as estruturas
de interesse contidas no modelo em profundidade foram devidamente reconstruıdas.
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Portanto, podemos afirmar que os operadores atuam de forma precisa na aproximacao
das derivadas espaciais presentes na equacao da onda, com vistas a sua solucao diferencial,
tanto na propagacao direta no tempo (modelagem) quanto na marcha reversa temporal (mi-
gracao), fornecendo uma boa reconstituicao do modelo em profundidade livre de dispersao,
quando expandidos de forma adequada.
Agradecimentos
A Deus, de quem sao todas as coisas e para quem existo (1 Corıntios 8:6). A Ele meu
coracao e grato por todo o suprimento e encorajamento ao longo desta jornada. Baseado
nisso, como o apostolo Paulo eu posso declarar:“Ele e quem a todos da vida, respiracao e
tudo mais”(Atos 17:25b). Ao querido Senhor Jesus Cristo seja dada a honra devida pela
conclusao dessa etapa, pois Ele tem sido minha vida todos os dias!
Aos meus pais, Rau e Leca, pela dedicacao e empenho em meio a restricoes variadas.
Sem eles nada disso seria possıvel. Toda a eternidade e necessaria para expressar a gratidao
que sinto, pois eles foram os canais usados por Deus para suprir tudo o que foi necessario
nessa trajetoria. Neles encontrei amor, apoio e disponibilidade sem limites! Como sou grato
ao Senhor Amado por ter me dado voces!
A meus irmaos, Iria e Thiago, que estiveram presentes em todas as etapas da minha
vida e com os quais sempre compartilhei tudo. Foram eles que sempre tiveram que me aturar
quando estava tenso e rir com minhas historias de viagens, professores e colegas. Amo voces
e sou grato pela paciencia que tem comigo ate hoje.
A minha esposa, Carla, que sempre foi para mim um apoio. Alguem com quem posso
contar para tudo e que possui o equilıbrio e estabilidade que me falta em situacoes de pressao
extrema. Voce e para mim um presente do Senhor Amado!
Aos irmaos e irmas no Senhor, a respeito dos quais o salmista declara:“Quanto aos
santos que ha na Terra, sao eles os notaveis nos quais tenho todo o meu prazer”(Salmos
16:3). Faco das palavras do salmista as minhas!
Ao professor Reynam, por ter me orientado e por todo o apoio e paciencia ao longo
desses anos de convivencia. A ele devo quase tudo que sei em sısmica. A minha expectativa
e que Deus te abencoe ao maximo com Sua doce presenca!
A banca examinadora por ter aceitado o convite.
A ANP pelo apoio financeiro.
Aos amigos e colegas com quem convivi ao longo do curso e que ja fazem parte da
minha historia, entre os quais estao os colegas da turma 2005.1 e os que conheci e por quem
desenvolvi apreco ao longo dos anos de convivencia.
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APENDICE A
Aproximacao de segunda e quarta ordens
para a segunda derivada utilizando o metodo
de diferencas-finitas
Considerando o caso unidimensional e um meio discretizado, a expansao em serie de
Taylor de uma funcao P (x) e dada por:
P (x + ∆x) = P (x) + ∆x∂P (x)
∂x+
(∆x)2
2!
∂2P (x)
∂x2+
(∆x)3
3!
∂3P (x)
∂x3. . . , (A.1)
e
P (x− ∆x) = P (x) − ∆x∂P (x)
∂x+
(∆x)2
2!
∂2P (x)
∂x2−
(∆x)3
3!
∂3P (x)
∂x3. . . (A.2)
Se somarmos as expansoes acima, podemos obter aproximacoes para derivadas pa-
res.Vejamos:
P (x + ∆x) + P (x− ∆x) = 2P (x) + (∆x)2∂2P (x)
∂x2+ 2
(∆x)4
4!
∂4P (x)
∂x4. . . (A.3)
Desprezando os termos de ordem superior a 2 e rearrumando a expressao (A.3), podemos
escrever:
∂2P (x)
∂x2≈
P (x + ∆x) − 2P (x) + P (x− ∆x)
(∆x)2(A.4)
Logo, a expressao (A.4) e uma aproximacao de segunda ordem para a segunda derivada
da funcao P em relacao a x, conforme querıamos demonstrar.
Para melhorar a precisao na aproximacao da derivada segunda, basta aumentar a ordem
do operador de diferencas-finitas.Tomemos a equacao (A.3) e representemos os termos de
ordem superior a 2 por 0(∆x)4, de acordo com a seguinte expressao:
0(∆x)4 = 2(∆x)4
4!
∂4P (x)
∂x4+ 2
(∆x)6
6!
∂6P (x)
∂x6+ 2
(∆x)8
8!
∂8P (x)
∂x8+ . . . (A.5)
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Desprezando os termos de ordem superior a 4, podemos reescrever a expressao acima:
0(∆x)4 = 2(∆x)4
4!
∂4P (x)
∂x4= 2
(∆x)4
4!
∂2
∂x2
[
∂2P (x)
∂x2
]
(A.6)
Substituindo a expressao (A.4) na expressao (A.6) acima, podemos escrever:
2(∆x)4
4!
∂4P (x)
∂x4= 2
(∆x)4
4!
∂2
∂x2
[
P (x + ∆x) − 2P (x) + P (x− ∆x)
(∆x)2
]
, (A.7)
onde:∂2P (x + ∆x)
∂x2≈
P (x + 2∆x) − 2P (x + ∆x) + P (x)
(∆x)2(A.8)
∂2P (x− ∆x)
∂x2≈
P (x)− 2P (x− ∆x) + P (x− 2∆x)
(∆x)2(A.9)
Assim, substituindo o termo entre colchetes da equacao (A.7) pelas aproximacoes da-
das em (A.4), (A.8) e (A.9), obtemos o operador de diferencas-finitas de quarta ordem.Dessa
forma, desprezando os termos de ordem superior a 4 na equacao (A.3) e substituindo na
mesma a equacao (A.7), depois de serem feitas as devidas aprximacoes, obtemos uma ex-
pressao de diferencas de ordem 4 para calcular a derivada segunda de P em relcao a x:
∂2P (x, z, t)
∂x2≈ −
1
12(∆x)2[P (x + 2∆x, z, t) − 16[P (x + ∆x, z, t) + P (x− ∆x, z, t)] +
30P (x, z, t) + P (x− 2∆x, z, t)] (A.10)
Analogamente, podemos escrever:
∂2P (x, z, t)
∂z2≈ −
1
12(∆z)2[P (x, z + 2∆z, t) − 16[P (x, z + ∆z, t) + P (x, z − ∆z, t)] +
30P (x, z, t) + P (x, z − 2∆z, t)] (A.11)
Dessa forma, temos a aproximacao de ordem 4 para a segunda derivada de P em relacao
a x e z.
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