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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PRODUÇÃO DE LEITE MODELAGEM DOS PRINCIPAIS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE DO MUNICÍPIO DE TRÊS PASSOS/RS. Três Passos/RS 2009

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PRODUÇÃO DE LEITE

MODELAGEM DOS PRINCIPAIS SISTEMAS DE PRODUÇÃO

DE LEITE DO MUNICÍPIO DE TRÊS PASSOS/RS.

Três Passos/RS

2009

II

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PRODUÇÃO DE LEITE

MODELAGEM DOS PRINCIPAIS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE

LEITE DO MUNICÍPIO DE TRÊS PASSOS/RS.

Monografia apresentada como requisito

parcial à obtenção do título de especialista em

produção de Leite no Curso de Pós-

Graduação Lato Sensu em Produção de Leite

da Faculdade de Ciências Biológicas e de

Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Mikael Neumann

Três Passos/RS

2009

III

Título: Modelagem dos principais sistemas de produção de leite do município de

Três Passos/RS.

Instituição Executora: Universidade Tuiuti do Paraná

Órgão Executor: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão - PROPPE

Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde

Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Produção de Leite

Período do curso: Durante o ano de 2008 e primeiro semestre de 2009

Monografia elaborada como requisito parcial para a obtenção do grau de

Especialista em Produção de Leite da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da

Universidade Tuiuti do Paraná.

Orientador: Eng. Agr., Dr., Prof. Mikael Neumann – UNICENTRO/PR

Equipe: Alunos: Vanderlei R. Santos

Ivar José Kreutz

Três Passos, setembro de 2009

IV

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................ 01

1. CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO E DO MUNICÍPIO DE TRÊS PA SSOS 03

1.1 A região de Três Passos/RS........................................................ 03

1.2 A produção de leite no Estado e região....................................... 04

1.3 O município e a produção de leite..................................................... 07

1.4 Estratificação da produção de leite.............................................. 09

2. A IMPORTÂNCIA DA VISÃO SISTÊMICA NO DESENVOLVIME NTO 15

2.1 Entre o global e o local............................................................... ......... 16

2.2 A adoção da compreensão sistêmica........................................... 18

3. OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DO MUNICÍPIO............ ................ 23

3.1 Os Sistemas Leiteiros.............................................................. 23

3.1.1 Sistema Semi Extensivo.......................................................... 23

3.1.2 Sistema Semi Intensivo............................................................ 24

3.1.3 Sistema Intensivo.................................................................... 25

3.2 A caracterização dos subsistemas........................................... 26

3.2.1 Sistema Semi Extensivo - Subsistema Potreiro/Leite.................. 26

3.2.2 Sistema Semi Intensivo - Subsistema Fumo/Leite....................... 27

3.2.3 Sistema Semi Intensivo - Subsistema Grãos e Leite................... 29

3.2.4 Sistema Semi Intensivo – Subsistema Leite............................... 31

3.2.5 Sistema semi intensivo - Subsistema Suino/Leite....................... 33

3.2.6 Sistema Intensivo - Subsistema Semi Confinado....................... 34

3.2.7 Sistema Intensivo - Subsistema Confinado............................... 36

3.3 Uma síntese dos sistemas.......................................................... 38

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................ .............................. 41

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................... ........................ 43

ANEXO I.................................................................................................... 45

V

TABELAS E FIGURAS

Figura 01 – Estrutura fundiária de Três Passos/RS................................ .......... 08

Figura 02 – Sistemas de produção predominante entre os maiores produtores

de leite de Três Passos.............................................................................. ......... 13

Figura 03 – Esquema da Roda de Carroça.............................................................. 21

Tabela 01 – Estratificação da produção leiteira do ano de 2007 em Três Passos .... 10

Tabela 02 – Estratificação da produção de leite de 2008 em Três Passos.......... . 10

Tabela 03 – Os 20 maiores produtores de leite de Três Passos.......................... 12

Tabela 04 – Os Sistemas e Subsistemas de produção de leite de Três Passos/RS 39

INTRODUÇÃO

Com a presente monografia pretende-se construir uma maior e melhor

compreensão sobre os fatores envolvidos na constituição dos principais sistemas de

produção, utilizando a atividade leiteira como referência. A escolha da atividade

leiteira decorre de sua abrangência, que só no município de Três Passos/RS

envolve mais de oito centenas de agricultores. A atividade depende de inúmeras

variáveis, muitas delas internas a própria propriedade, que se relacionam entre si e o

meio e que precisam ser administradas pelos atores envolvidos

Têm-se assim como premissa contribuir na constituição de um espaço

promissor de geração de conhecimentos, necessários para a qualificação acadêmica

e, principalmente, na revelação das potencialidades e oportunidades locais, quesitos

indispensáveis ao desenvolvimento de determinado local. Pretende também

constituir um espaço para dirimir dúvidas que não se calam sobre as potencialidades

e limites dos diversos sistemas de produção de leite, questões não respondidas nas

disciplinas afins e principalmente pela disciplina de análise de sistemas leiteiros.

Como problema escolheu-se a precarização das condições de produção, a

baixa reprodução social na atividade, o envelhecimento dos agricultores que ainda

permanecem na terra e a rápida exclusão de muitas famílias de agricultores da

atividade leiteira.

As inquietações foram agrupadas em um objetivo geral no qual se busca

modelar e estudar os diferentes sistemas de produção de leite do município de Três

Passos/RS e traçar perspectivas de sustentabilidade frente a diversas abordagens.

A opção metodológica utilizada aproxima-se de uma pesquisa exploratória

que consiste na busca de dados secundários e contatos informais com lideranças e

agricultores. Como procedimentos de decodificação dos dados e informações, foram

utilizados algumas ferramentas da “análise de conteúdo temático”.

Na primeira parte do trabalho consta de dados e informações sobre o

município de Três Passos/RS e região. O diagnóstico envolve a formação histórica,

população, estrutura fundiária para, em seguida detalhar a evolução da atividade

leiteira que será necessário para demonstrar aspectos da realidade local. Procurou-

se também buscar explicações para o incremento da atividade pelos 50 maiores

produtores de leite do município, revelando que a fertilização do solo com os dejetos

2

suínos foi fundamental para a produção de pasto em maior quantidade e melhor

qualidade.

No segundo capítulo se aborda a noção de sistemas e procura-se estabelecer

referenciais para sistemas de produção de leite, com a finalidade de identificar iniciativas

distintas, num contexto em que os fluxos de recursos e interesses serão, freqüentemente,

antagônicos. Entende-se que a compreensão da atividade leiteira associada a visão

sistêmica possa ser promissora para entender as particularidades de cada propriedade, que

forma um sistema de produção singular, não homogeneizado. Ainda, proporcionar a

compreensão dos agroecossistemas, que estão inseridos em um bioma característico e que

possuem uma capacidade de suporte ou utilização limitada, sob pena de entrar em colapso.

No último capítulo são descritos três sistemas predominantes que envolvem a

atividade leiteira e a partir dos quais são estabelecidos subsistemas. A

caracterização leva em conta premissas gerais da atividade do leite, com ênfase

para os oito fatores que se estabeleceu como fundamentais para manter o esquema

de roda de carroça de pé e girando. Em outras palavras, representa a busca da

viabilização da atividade nas suas diversas dimensões, que em última análise, deve

representar a sustentabilidade do sistema existente em cada propriedade.

Na última seção estão sintetizadas algumas considerações que se julgam

relevantes para atividade em si, para os agricultores, para os profissionais e para a

constituição de políticas públicas. São observações e de reelaborações das

pesquisas, da troca de idéias e experiências, do debate com os professores com

seus distintos conhecimentos e da elaboração da presente monografia.

3

CAPÍTULO I

1 Caracterização da região e do município de Três P assos

1.2 A região de Três Passos/RS:

O meio rural da região noroeste do Rio Grande do Sul teve inicialmente seu

contexto ligado a dicotomia entre o campo nativo e as áreas de florestas. O

município de Três Passos/RS se constitui praticamente todo ele em cima de terras

de florestas (mata atlântica) que, segundo Zarth (2000), deu origem a uma

agricultura que no decorrer da história aglutinou remanescentes de indígenas,

caboclos expulsos dos campos, militares e mais tarde, imigrantes de origem

européia. Além da busca por novas áreas para desenvolver a agricultura e fazer a

sucessão, o acesso a água dos mananciais existentes sempre foi um ponto

importante. As terras novas (férteis) que tinham muita matéria orgânica, boa

fertilidade natural e a água farta, eram atrativos para imigrantes europeus que se

sujeitavam a longos dias de viagem em busca do tão sonhado pedaço de chão.

No contexto da região de Três Passos/RS, torna-se relevante a noção de

território de desenvolvimento. Para Schmidt; Schmidt e Turnes (2003), os limites de

um território normalmente são definidos a partir de alguns indicadores de

homogeneidade, sejam eles, naturais, culturais ou históricos. Esta condição, no

entanto, mascara uma série de especificidades e heterogeneidades quase sempre

presentes no interior de unidades administrativas e estas diferenças podem

constituir-se numa riqueza local, quando se postula que a sociedade é constituída

por um conjunto de fatores, certamente inclusos na cadeia do leite.

O desenvolvimento que aconteceu na região, com destaque a modernização

conservadora levada ao meio rural, potencializam as práticas predatórias dos solos

e dos mananciais hídricos superficiais. Na verdade, os segmentos sociais do rural

têm suas atividades muito atreladas a fatores naturais como água, solo e clima,

mesmo com a adoção de inovações. No discurso operado por especialistas sobre

desenvolvimento no meio rural, afirma-se que só o uso da técnica permite tirar a

região da condição de atraso e assim superar os antigos meios de produção

(BONETI, 2006).

4

Na análise do funcionamento da região de Três Passos/RS, que exerce um

papel importante na definição das políticas para o desenvolvimento regional, parece

que se mantém o forte viés de esperar que o poder público gere demandas. Mesmo

assim, certamente existe uma crescente participação da população na discussão de

temas ligados aos seus interesses. Disso resulta a constituição de um planejamento

com mais comprometimento, que chega a constituir, embora ainda timidamente,

interessantes ações de gestão social. Percebe-se que os movimentos são

recíprocos e complementares em um processo que busca a participação. De um

lado, se alguém gera estímulos, normalmente disponibilizando recursos financeiros,

de outro, há organizações que lutam por seu espaço e por recursos que possam ser

acessados. Da mesma forma que pode ser visualizada a importância da contribuição

da sociedade civil no encaminhamento de políticas públicas, cresce a necessidade

das empresas e organizações da sociedade pública ou privada construírem

instrumentos conjuntos que atendam a interesses de consumidores e produtores, de

modo que resultem em desenvolvimento local e regional.

É preciso reconhecer que o processo de “empoderamento” dos cidadãos

não é um processo rápido e simples, restrito a uma ação específica; é, isso sim, uma

construção progressiva de conhecimentos usados pelos atores sociais para seu

autodesenvolvimento. Representa uma certa fuga do fordismo, migrando para o

toyotismo, pois o setor leite, por exemplo, trabalha com muitas variáveis que não

podem seguir o ritmo de uma esteira. Neste sentido, é inegável a contribuição dos

processos de envolvimento regional que oportunizam a reflexão sobre a

possibilidade de substituição do modelo de exclusão social e degradação ambiental,

por um de inclusão social regional e de maior preservação ambiental, que pode ter

um dos pilares na cadeia do leite.

1.2 A produção de leite no Estado e região:

A atividade leiteira do Rio Grande do Sul, segundo Zoccal (2007), é

predominantemente familiar e hoje contribui com aproximadamente 10% da

produção nacional. Na verdade, a produção de leite acompanha o processo de

urbanização e colonização. Nas regiões onde há concentração de população

também apresenta elevada produção leiteira. No noroeste gaúcho houve expansão

e intensificação da atividade leiteira. Entre os anos de 1998 e 2007 a produção

cresceu 83,28%.

5

Esse cenário apresenta um viés contemporâneo: enquanto a atividade leiteira

tem se ampliado e intensificado, novos empreendimentos industriais têm escolhido o

Rio Grande do Sul para seus investimentos, alguns deles muito próximos a região

de Três Passos. Isso representa que a região apresenta potencialidades inerentes

que superam em muito suas limitações. A articulação do local em torno de suas

potencialidades pode constituir o fluxo ascendente de demandas e expectativas por

parte dos atores sociais locais, elaborando uma pauta de equilíbrio entre os

interesses das partes.

No entanto, a região não é uma bacia leiteira histórica. Os imigrantes que

aportaram na região traziam uma a duas vacas crioulas que produziam leite para

alimentar os bezerros e as pessoas das respectivas famílias. Logo, a produção de

leite era para o sustento, não representando uma fonte de renda. Esta realidade

somente foi sendo mudada no início dos anos setenta, quando um laticínio do

município de Três de Maio (distante aproximadamente 80 quilômetros de Três

Passos/RS) começou a recolher leite. A atividade começou a despertar atenção

principalmente nas mulheres, pois se estava em pleno auge da revolução verde,

onde a produção de grãos era o foco dos homens. A renda desta atividade

significava, portanto, um valor extra que podia ser administrado pelo público

feminino em coisas menos importantes. Porém, em curto espaço de tempo, o

dinheiro se tornou fundamental para o racho da família.

Uma década depois veio o discurso da diversificação. As cooperativas

agropecuárias foram envolvidas no contexto e surge no Estado a Cooperativa

Central Gaúcha de Leite (CCGL). Muitas destas cooperativas organizaram um

quadro de técnicos para acompanhar especificamente a atividade. O poder público

municipal também foi convidado a participar, oportunidade em que se organizaram

algumas políticas públicas para o setor. A produção foi aumentando, passando pela

fase da desregulamentação estatal do preço do leite e atingindo o final do século

diante de muitas incertezas.

O impacto mais contundente foi a saída das cooperativas do setor lácteo,

depois da venda da CCGL. Por um lado, a assistência técnica mais pública e

qualificada deixou de existir, deixando os agricultores em contato e freqüentemente

na dependência dos compradores de leite (na região representado pelos freteiros) e

vendedores de insumos. O período também coincidiu com a crise de preços das

commodities, fazendo com que os pequenos plantadores de grão não conseguissem

6

garantir renda. Nesta época, os homens entram mais decididamente na atividade,

não tanto pelo gosto pela atividade, como pela necessidade. Portanto, a participação

masculina acontece em um momento em que as informações são escassas e sem

um maior referencial que tinha sido constituído pelo sistema cooperativo. Este

cenário ainda não está superado, tendo certamente muitos desafios e

estrangulamentos para serem superados. Hoje existem experiências interessantes

que podem contribuir para a nova síntese da atividade na região.

A atividade, portanto, deve ser compreendida no contexto e de forma

sistêmica, inserida em um ambiente de produção sustentável, sob pena de se

instalar uma infra-estrutura significativa e alojar um expressivo rebanho, que em

poucos anos pode chegar a degradar os meios de produção da região (água é a

restrição do momento). A ação que incorpora a noção de agroecossistemas parece

inevitável para se elaborar um projeto estratégico de desenvolvimento.

Nesta região, especialmente na última década, os fenômenos climáticos têm

causado prejuízos econômicos, sociais e ambientais. Segundo dados da Embrapa

Unidade de Pelotas (2009), foram registrados entre o período de 1998 a 2008, ou

seja, em dez anos, oito anos com secas em municípios de nossa região. Os

registros das Comissões da Defesa Civil destes municípios demonstram que nestes

oito anos de deficiência hídrica, existem em média quatro decretos de emergência

devido às secas.

As pesquisas realizadas pelo Câmara (2007) no Instituto Nacional de

Pesquisas Espaciais – INPE, apontam para a possibilidade de serem freqüentes

estes fenômenos no Brasil, em decorrência das mudanças climáticas, exigindo

ações de mitigação e adaptação diante deste cenário. A avaliação das ações

desenvolvidas tem demonstrado suas limitações e preocupa ainda mais aos

gestores locais os possíveis agravamentos da situação, principalmente quando se

observa os prognósticos construídos pelos pesquisadores e instituições referentes

às mudanças climáticas e suas possíveis manifestações.

Mesmo considerando estas alterações no clima, os dados da seqüencia

histórica sobre a precipitação pluviométrica têm mostrado médias anuais em torno

dos 1700 milímetros de chuva por ano, porém, bastante irregulares, ou seja,

ocorrem chuvas intensas em curto período de tempo seguido de intervalos

prolongados sem chuvas significativas que possam permitir, por exemplo, o

reabastecimento dos mananciais hídricos. Esta distribuição irregular comprovada é

7

uma das principais justificativas para propor ações de armazenamento de água, para

de certa forma suprir as carências no abastecimento nos períodos de menor

precipitação.

A conjugação dos fatores solo e água são imprescindíveis para o

desenvolvimento da bovinocultura de leite. Sabe-se que a maioria dos animais da

região são obrigados a beber água de péssima qualidade por períodos

representativos, normalmente de cacimbas ou bebedouros escavados no solo e

ainda produzir leite de qualidade.

1.3 O município e a produção de leite:

O município de Três Passos, segundo o IBGE (2007) possui uma população

de 23.467 habitantes . A população urbana é de 18.087 habitantes, enquanto que a

população rural 5.380 pessoas. Está localizado na região celeiro do Rio Grande do

Sul (Noroeste do Estado), distante 480 Km da capital Porto Alegre. Apresenta uma

taxa de urbanização de 73,58% e tem base econômica na indústria de

transformação (frigorífico de suínos da Sadia) e setor têxtil. Também encontra

sustentação no comércio e na produção agropecuária, baseada na estrutura familiar,

onde 95% das propriedades rurais possuem menos de 50 hectares. As políticas de

transferência de renda como a aposentadoria rural e bolsa família são sustentáculos

de parte da população rural. Das 1215 bolsas família do município, 430 atentem

famílias no meio rural, muitos dos quais envolvidos com a atividade leiteira.

O município de Três Passos/RS possui 1800 estabelecimentos rurais com

média de área de 13,43 hectares. Na figura 01 pode ser verificada a estrutura

fundiária do meio rural do município, com ênfase para a condição minifundiária.

8

Figura 01 – Estrutura fundiária de Três Passos/RS.

207

565

794

234

Área e número de propriedades

até 5ha

5 a 10ha

10 a 20ha

20 ou mais

Fonte: IBGE (2007).

A figura dá a clara noção dos limites que a estrutura impõe para a maioria das

atividades agropecuárias. A atividade leiteira não foge ao contexto e é submetida a

forte limitação em função da falta de área. É necessário também considerar que boa

parte da área das propriedades é imprópria para a agropecuária, restringindo mais

ainda a capacidade produtiva. Por sua vez, são aproximadamente 11% das

propriedades que possuem menos que 5,0 hectares de terra e 13% com mais de 20

hectares, ou seja, apenas o percentual de 13% dos agricultores possuem um ou

mais módulos rurais

Estas unidades familiares se desenvolveram até as décadas de 70 e 80 em

sistemas de produção baseadas na policultura, ou seja, parte da produção

diversificada era destinada para a subsistência das famílias e outra para a

comercialização na região. A especialização da produção após a década de 70

potencializou algumas destas atividades, especialmente as culturas de trigo e soja e,

mais recentemente, a produção de suínos. Na década de 90, em meio a

reestruturação da cadeia produtiva da suinocultura, acontece a verticalização da

9

produção, que vincula o agricultor a agroindústria, momento em que o agricultor

participa somente de uma das etapas da cadeia produtiva. Foi mais um elemento

que fez emergir gradativamente a atividade da bovinocultura de leite como nova

alternativa ou como única opção para muitos. Paralelo a este cenário acontece o

declínio da produção de alimentos para autoconsumo e a agricultura adere a

massificação do consumo, tornando a produção de alimentos uma atividade

progressivamente marginal nas unidades produtivas.

No entanto, o que se deve observar é que este processo de “especialização”

foi gerando o empobrecimento social e econômico de boa parte destas famílias do

município, que não tiveram condições de participar destas cadeias produtivas de

forma eficiente. Simultaneamente, estas famílias foram abandonado a produção de

alimentos para auto-consumo. Na década de 90, emerge uma grande preocupação

com estas camadas pobres do campo, aspecto que vai induzir a construção de um

conjunto de políticas públicas na esfera federal, estadual e municipal para fazer

frente a esta situação. No âmbito de algumas destas políticas devemos destacar a

universalização da educação e saúde, a seguridade especial para homens e

mulheres do meio rural, e o reconhecimento dos agricultores familiares como um

público especial das políticas públicas através do Programa de Fortalecimento da

Agricultura Familiar (PRONAF). Silva Neto (1998), por sua vez, considera que o

maior obstáculo ao desenvolvimento dos agricultores da região é a falta de

mecanismos de financiamento adequados, principalmente para a efetivação de

projetos de recorversão. Outros projetos e ações foram sendo postos em prática,

procurando sempre gerar inclusão social de famílias rurais empobrecidas. A

efetividade do processo é extremamente questionável por ter focado no crédito rural

e não ter trabalhado de forma integrada e sistêmica.

1.4 Estratificação da produção de leite

A estrutura fundiária é perversa e limitante ao processo de desenvolvimento

da atividade leiteira. Na estratificação da produção de leite encontra-se um quadro

que se assemelha a da distribuição de terras, dados que podem ser conferidos nas

tabelas 01 e 02 que se encontram a seguir.

10

Tabela 01 – Estratificação da produção leiteira do ano de 2007 em Três Passos.

Fonte: Secretaria Municipal da Agricultura de Três Passos (2009).

Tabela 02 – Estratificação da produção de leite de 2008 em Três Passos.

Fonte: Secretaria Municipal da Agricultura de Três Passos/RS

Fonte: Secretaria Municipal da Agricultura de Três Passos (2009).

11

A primeira consideração que é preciso fazer é que o número total de

agricultores que vendem leite não é real, pois muitos vendem em grupo, ou na nota

de um dos agricultores com vista a obter melhor remuneração. Estima-se que o

município tenha em torno de 850 bovinocultores de leite, ou seja, 30%, mais do que

está registrado.

Entende-se que a produção total seja bastante confiável, pois o município

mantém um programa denominado Renda Leite, que remunera em R$ 0,01 o litro de

leite vendido e lançado no bloco de produtor. Portanto, certamente o número de

pequenos agricultores deve aumentar ainda mais. Existem alguns grupos com

produções maiores, mas a alteração maior parece residir na baixa produção.

No entanto, os dados dão conta que aproximadamente 35% dos agricultores

produzem apenas em torno de 4% da produção, ou seja, são os agricultores que

produzem até 20 litros por dia. Por sua vez, 65% dos agricultores do município

produzem até 50 litros por dia, o equivalente a em torno de 14% da produção total.

Em suma, os dados demonstram que a produção diária da maioria das propriedades

é muito baixa, capaz de inviabilizar a utilização de equipamentos para a manutenção

da qualidade do leite e de viabilizar a logística de recolhimento.

Na seqüencia, a análise de dados e informações foi direcionada aos 50

maiores produtores de leite. O objetivo foi o de buscar as razões que poderiam ter

impulsionado a produção nestas propriedades que são responsáveis por 41% do

leite produzido em Três Passos/RS. Depois de uma primeira avaliação, pode-se

perceber que uma das evidências já estava estampada entre os 20 maiores

produtores que se encontram relacionados na tabela 03. O que na verdade se busca

elucidar é a quantidade produzida por ano, mês e dia.

12

Tabela 03 – Os 20 maiores produtores de leite de Três Passos.

Fonte: Secretaria Municipal da Agricultura de Três Passos.

Os dados mostram um rápido decréscimo da produção, tanto que o 12º

agricultor já está na faixa dos 300 e poucos litros de leite por dia. No patamar de 300

litros de produção parece que se concentram os agricultores que utilizam mão de

obra familiar, muitos com a participação de sucessores da atividade.

No momento seguinte se buscou enquadrar os 50 agricultores nos diferentes

sistemas de produção para verificar possíveis sinergias entre as atividades. Com

isso, foi possível constituir a figura 02 que ilustra melhor o resultado da pesquisa.

13

Figura 02 – Sistemas de produção predominante entre os maiores produtores de

leite de Três Passos.

Fonte: Dos próprios autores, a partir da pesquisa.

A figura mostra que o sistema de produção predominante é o do leite com

suínos. A primeira impressão pode parecer que o fato está relacionado a maior

capitalização em função das duas receitas. Na verdade, o que estimula a maior

sinergia parecem ser os dejetos dos suínos que passam a ser utilizados na

fertilização dos solos, que em conseqüência produzem mais pastagens e de melhor

qualidade. Foi nestas propriedades que se encontrou as melhores pastagens

perenes de tifton. A produção de todas as forragens acontece em outro contexto

com nutrição superior e resultados animadores.

O sistema com fumo foi outra revelação. Os dois agricultores encontrados

entre os 50 maiores produzem fumo em áreas planas e cultivam o milho na resteva

da primeira cultura e colhem este milho para silagem de pé inteiro. Assumem que a

atividade leiteira é exigente, tanto que não abrem mão de coordená-la, enquanto que

dizem que contratam mão de obra para fazer o trabalho braçal da atividade fumo.

Portanto, os fertilizantes utilizados na cultura do fumo dão suporte excelente para o

14

milho que em conseqüência vira pasto de qualidade para as vacas. Novamente a

fertilização do solo se torna o diferencial da atividade.

No sistema com grãos tem existido evoluções, mas continuam muito

presentes os pastejos intensos no inverno (formando os rapadores) e o cultivo do

soja no solo sem palha no verão, período em que as vacas ficam nos potreiros,

normalmente com escassez de comida. No sistema que apenas tem leite o foco é a

atividade e todos os esforços são para que sejam obtidos bons resultados. No

entanto, não tem sido fácil manter o solo produzindo pasto o ano inteiro e de

organizar um sistema que seja capaz de fazer a ciclagem de nutrientes em toda a

área da propriedade.

Depois desta abordagem resumida de contexto, segue-se para uma análise

das implicações da visão sistêmica na bovinocultura de leite. A revelação fica por

conta do esquema da roda de carroça que tem ajudado muito a entender o sistema

e o equilíbrio de forças para que a mesma não se desestruture.

15

CAPÍTULO II

2. A importância da visão sistêmica no desenvolvim ento

Toda vez que ocorre um debate técnico na cadeia produtiva da atividade

leiteira sobre "sistemas de produção", surgem as representações múltiplas e

contraditórias dos interlocutores sobre este conceito, contribuindo para gerar

confusão sobre qual o caminho que o produtor deverá escolher. É sabido que a

palavra sistema já tem uma trajetória, no entanto, ainda é pouco entendida pela

maioria. O que se busca introduzir com a visão sistêmica é a inter-relação das

diversas atividades e seus atores sociais, normalmente em busca de sinergias. A

insuficiência de uma perspectiva centrada em atividades (grãos, leite, suínos, fumo,

gado de corte), criou a necessidade de uma atenção do conjunto solo, planta, animal

e o ser humano.

Para Silva Neto (1998) evidencia que o atual desenvolvimento da agricultura

do Noroeste de Rio Grande do Sul está longe de provocar uma tendência a

homogeneização das unidades de produção, pelo contrário, apresenta grande

complexidade, aumentando a diversidade tanto entre unidades produtivas como

entre microrregiões. Desta forma, a simples noção de que só permanecerão na

agricultura os mais “eficientes torna-se insuficiente.

O reconhecimento de que a realidade da agricultura é complexa e

heterogenia confere uma nova perspectiva à antiga e ainda presente discussão

sobre a baixa taxa de adoção de tecnologias pelos agricultores e os sucessivos

fracassos de muitos projetos de desenvolvimento. Com efeito, é crescente a tomada

de consciência entre pesquisadores e extensionistas de que muitos dos problemas

encontrados decorrem de uma análise insuficiente das condições e modalidades de

produção existentes e da conseqüente inadequação das alternativas propostas aos

agricultores.

Inaugura-se assim, uma nova fase em que se reconhece a importância dos

processos sistêmicos. Entretanto, para que aconteçam ações menos pontuais, é

preciso garantir espaços em que os profissionais superem suas limitações

acadêmicas e procurem entender e trabalhar a complexidade que envolve cada

sistema de produção. Esta constatação fez com que muitos passassem a

16

reconhecer, na liberdade e na valorização dos “saberes” das pessoas de um

determinado espaço, o principal meio para o desenvolvimento do conjunto das

atividades. A microrregião de Três Passos/RS iniciou um processo pioneiro de

distinção do espaço rural nos anos noventa e que se aprofundou nos últimos anos

com a combinação de atividades que contribuíram para enaltecer as potencialidades

da atividade leiteira.

A partir deste enfoque, a noção de agroecossistema ganha relevância e se

fortalece a necessidade de compreender mais e melhor os sistemas de produção

voltados ao leite da microrregião.

2.1 Entre o global e o local

A agropecuária da microrregião de Três Passos/RS tem passado por

profundas mudanças nos últimos anos. Durante a revolução verde as propriedades

se estruturam em cima da produção de grãos, mesmo em áreas reduzidas.

Gradativamente a pecuária leiteira foi ganhando espaço, mas como atividade das

mulheres. Na última década transformou-se em atividade das famílias da região.

Para Zoccal (1988), na região Sul existe um forte atrativo dado pela possibilidade de

aumento de renda por área, quando comparada com a cultura de grãos. Tem

ocorrido expansão das áreas de pastagens perenes com melhoria no manejo e

adubação e aumento de conservação de forragens. Faz-se também referência a

instalação e projetos de novas indústrias na região também como propulsoras do

aumento de produção que foi de mais de 80% nos últimos 10 anos.

Portanto, com a abordagem se procura compreender os efeitos da

globalização das empresas do leite sobre a situação local, efeitos estes

representados pelo fluxo descendente de decisões e ações. Espera-se também

compreender o imobilismo e o pessimismo que tomam conta de muitas regiões –

provavelmente também sobre a região de Três Passos - quando estas não são

contempladas com empreendimentos externos, vistos muitas vezes como a única

forma de desenvolvimento.

O referencial teórico se apóia principalmente em Buarque (2002), que associa

a descentralização (compreensão dos fatores que atuam sobre o sistema de

produção característico de cada propriedade) ao fortalecimento do poder local e

entende este como fator decisivo para a participação e para a democratização do

processo decisório, sem ignorar a sua importância para a própria educação política

17

da sociedade. O autor entende que a descentralização também contribui, no sentido

de atuar sobre a efetividade das iniciativas e ações do planejamento, fazendo com

que todos se sintam parte do processo e com condições de reconhecer e de

incorporar demandas novas na atividade leiteira.

No entanto, é necessária a compreensão do desenvolvimento da cadeia do

leite com o enfoque de deslocamento no sentido horizontal, tanto para o lado da

globalização, como para o da ação local. Se esse conceito for assumido, o

desenvolvimento não será norteado somente por um desses processos, de mercado

ou de desenvolvimento local, mas por ambos, modificando-se apenas a intensidade

do fluxo, aspecto que pode ser administrado, em certa medida, nas instâncias

regionais.

Segundo Schmidt, Schmidt e Turnes (2003), para muitos a globalização

levaria a uma homogeneização cultural, e as políticas neoliberais, a uma possível

homogeneização técnico-produtiva (apenas um sistema de produção – modelito).

Apesar de ser necessário reconhecer o peso desse processo e dessas políticas,

bem como, as tendências homogeneizadoras que deles decorrem, também é

necessário destacar que a realidade aponta para as diversidades. Assim, para os

autores, deve-se ter em conta que, junto ao processo de globalização, existem

também os processos de fragmentação e de valorização das características

diferenciadoras, expressas no reforço de identidades locais ou regionais, ligadas, em

geral, às políticas ambientais e/ou culturais (grifo do autor).

Portanto, podem ser identificadas duas interpretações ou hipóteses opostas

sobre a globalização: primeira, ao promover a padronização, esse processo levaria

ao declínio das identidades locais; segunda, a globalização não significa o fim de

toda identidade territorial estável, mas, ao contrário, cada sociedade ou grupo social

é capaz de preservar e desenvolver seu próprio quadro de representações,

expressando uma identidade ao mesmo tempo espacial e comunitária em torno da

localidade. Esta segunda hipótese permite vislumbrar um horizonte de atividades

que podem ser desenvolvidas e permite romper com o imobilismo, a incapacidade e

a crença de que tudo está dado e delimitado para o leite.

As características interdisciplinares, transversais, sistêmicas, não

representam uma única “entrada” para compreender os aspectos que envolvem o

desenvolvimento de um espaço geograficamente delimitado. Mesmo que cada um

desses componentes tenha suas variáveis, elas estabelecem uma profunda inter-

18

relação entre si e agem sobre o espaço local. Portanto, quando as lideranças

regionais estabelecem uma ação local, através de seus públicos, com a condição de

estabelecer políticas descentralizadas que estimulem a participação dos atores

sociais nos projetos, cria-se uma condição propícia para reorganizar os rumos do

planejamento. Isto é possível por meio da incorporação de demandas da população

na atividade leiteira, envolvendo-a em processos de reflexão, decisão e ação, que

desemboquem num processo de gestão da própria sociedade.

2.2 A adoção da compreensão sistêmica

Para Franco (2000), a ascensão do pensamento sistêmico, o estudo dos

padrões, das redes e dos sistemas complexos, enfim, a emergência de auto-

organização, tem revelado que em sistemas em que predominam fortes

desigualdades sociais podem se desenvolver processos surpreendentes de

amplificação de pequenos estímulos por meio de laços de realimentação e reforço,

onde eventuais instabilidades podem gerar novas formas de organização. Tudo isto

tem sugerido uma nova maneira de olhar a realidade dos processos produtivos.

Assim, a visão sistêmica tem contribuído muito para a compreensão da

complexidade, das particularidades locais e da importância da participação dos

atores locais, onde cada um é considerado um observador e tem uma interpretação

singular sobre determinada realidade.

O desenvolvimento de uma região e de seu entorno depende de uma melhor

produtividade que muitos querem medir pela maximização e soma das

produtividades micro-econômicas. A simples soma de lucros obtidos com alta

produtividade, sem levar em conta as conseqüências refletidas sobre as condições

de vida da sociedade, não pode ser referência exclusiva para a avaliação do

desenvolvimento. Zimmermann (2004) observa, por exemplo, que muitos

empresários e economistas explicam que jogar os dejetos no rio pode ser mais

barato em curto prazo e, não raras vezes, entendem que ambientalistas são

freqüentemente exagerados.

Porém, essa atitude em relação ao meio ambiente, pode ser uma falsa ilusão

de dinheiro economizado, já que rios poluídos tendem a gerar doenças e gastos

consideráveis em saúde curativa, além da perda de áreas de lazer, dentre outras

conseqüências. Além disso, para fazer a recuperação da água poluída, investem-se

os impostos em obras freqüentemente pouco efetivas e custos maiores do que teria

19

sido o da prevenção. Ao serem desconsiderados estes custos nas análises

econômicas da produtividade, ou seja, ao ser desconsiderado o balanço social e

ambiental, pode ser gerado um impacto social capaz de comprometer o

desenvolvimento local ou regional.

Isso apenas demonstra, segundo Pinheiro (2000), que nos sistemas mais

complexos e abstratos como são os rurais, o interesse passa a ser o entendimento

das relações humanas e as interações dos seres vivos (vacas) com o meio

ambiente, cujos resultados se refletem em uma nova síntese.

No entanto, na esfera rural, o estímulo à participação torna o ambiente

propenso à aprendizagem, capaz de compreender as relações entre os diversos

componentes dos agroecossistemas. São da mesma maneira importantes as

relações das pessoas do local com os agentes externos, e de ambas as partes com

o ambiente, buscando uma melhor compreensão do contexto, visando manejar os

agroecossistemas dentro de um enfoque ecológico. Isto certamente representa um

processo de desenvolvimento rural mais complexo e, talvez, mais lento, que deve

ser construído com a participação e planejamento da maioria dos atores sociais do

município.

A partir destas premissas surgem dois conceitos importantes para entender

melhor o contexto. O primeiro é de sistema agrário que é considerado, antes de

tudo, um modo de exploração do meio historicamente constituído, um sistema de

forças de produção, um sistema tecnicamente adaptado às condições bioclimáticas

de um espaço determinado, que responde às condições e às necessidades sociais

do momento. Portanto, incorpora a noção histórica (tempo) em que as atividades

são desenvolvidas com determinada tecnologia com vistas a suprir necessidades de

um período pré-determinado.

A noção de sistema determinados por sua estrutura incorpora bem o contexto

dos sistemas agrários. Caso não aconteça uma intervenção mais contundente

(estratégica), com certa facilidade é possível prever o cenário futuro. Em

contrapartida, os sistemas de produção são estruturas extremamente dinâmicas,

portanto, trata-se de entidades complexas, pela interação dos componentes clima,

20

solo, planta, animal, mercado, economia, administração, aspectos humanos e

sociais.

Este caráter multidisciplinar segundo Hodgson (1990, apud NEUMANN,

2008), faz com que soluções pontuais (uso de determinado fertilizante, substituição

de planta forrageira por outra, uso de algum aditivo na conservação de forragens ou

na ração dos animais ou ainda uso de programas modernos de computadores) não

gerem resultados de produtividade e lucratividade, uma vez que existe um

mecanismo de equilíbrio e compensação sobre as respostas de componentes

individuais ao manejo de função de outros componentes indiretos

Na escala de um estabelecimento agrícola, o sistema de produção pode ser

definido como uma combinação (no tempo e no espaço) de recursos disponíveis

para a obtenção das produções vegetais e animais.

A complexidade normalmente é inquietante, principalmente quando não se

tem elementos elaborados que possam contribuir na sua elucidação. Durante o

curso cada professor trazia uma abordagem, todas interessantes, mas que tinham

dificuldades em responder a pergunta chave: em que condições se tem condições

de produzir leite na região. Isto porque como profissionais todos estavam em busca

de respostas para as mais diversas dificuldades dos agricultores. Existe um

contingente significativo de pequenos agricultores que são excluídos

periodicamente, mas também tem agricultor consolidado, com assistência técnica

que está ficando para trás.

A abordagem sistêmica inicialmente parecia mais um devaneio acadêmico.

No entanto, a ilustração e relação com a roda de carroça abriu horizontes para

compreender melhor os fatores que incidem sobre àqueles que produzem leite. A

figura 03 busca demonstrar oito fatores que interferem diretamente na produção

leiteira de nossa região. Assume-se que existem bem mais fatores, no entanto,

procura-se abordar os mais relevantes para a realidade local.

21

Figura 03 – Esquema da Roda de Carroça.

Fonte: Cecim (2009) adaptado pelos autores.

A figura tenta demonstrar, apesar das limitações, uma roda de carroça com

oito raios. A parte central é oca e em condições de ser acoplada a um eixo que viria

a ser a família do agricultor. Ao redor deste eixo existe uma parte mais larga e

reforçada formada pelo conhecimento e a sinergia dos atores sociais, capaz de

sustentar os raios que vem da parte externa e que tem contato com o meio. A cinta

da roda representa mais um mecanismo de proteção da unidade familiar e de

coesão frente aos diferentes fatores de produção. Cada raio é um sustentáculo

desta estrutura que precisa ser mantida de pé e rodando. Não se pode descuidar de

nenhum dos fatores sob pena de colocar em risco a roda, em conseqüência o

sistema de produção.

22

O desafio técnico perece estar em assumir uma visão mais interdisciplinar

para poder contribuir de maneira efetiva com os agricultores. A ação pontual pode

ser extremamente nefasta, pois pode contribuir ainda mais no desequilíbrio da

unidade produtiva. Este conhecimento sistêmico normalmente é pouco trabalhado

nos cursos técnicos e de nível superior, o que dificulta sua adoção pelos

profissionais. Esta limitação parece longe de estar superado, embora exista um

esforço dos profissionais de campo.

No próximo capítulo será descrito os diferentes sistemas de produção do

município de Três Passos/RS. A noção de todos os sistemas leva em conta os

fatores de produção apresentados no esquema da roda de carroça.

23

CAPÍTULO III

6. Os sistemas de produção do município:

6.1 Os Sistemas Leiteiros:

A abordagem do tema requer um primeiro agrupamento dos diversos

sistemas de produção de leite, considerando fatores de ordem mais abrangente.

Inicia assim o processo de modelização que para Garcia Filho (1999), na mais é que

identificar e quantificar os “grupos alvo” e dimensionar com mais precisão os

diferentes arranjos produtivos e seus possíveis impactos. A partir deste pressuposto

se delimitou três sistemas que não se encontram estanques e bem delimitados entre

um e outro, no entanto, possuem características similares e que permitem a

distinção. A seguir se encontram descritos o sistema semi extensivo, semi intensivo

e intensivo.

6.1.1 Sistema Semi Extensivo:

Caracterização:

- O gado é mantido em potreiros (cercados) contínuos que envolvem áreas com

gramados, mata e áreas impróprias para a lavoura;

- Neste espaço são mantidos todos os ruminantes, independente de sua categoria.

É o lugar das vacas, novilhas, bois, animais de engorda, etc.

- As cercas são com arame farpado de 3 a 5 fios, normalmente construídas sem

muita atenção;

- As áreas sem matas são roçadas periodicamente, mesmo assim, são

normalmente sujas;

- As propriedades não possuem planejamento forrageiro convencional (tem cana

de açúcar para os períodos críticos) e nenhuma conservação de alimentos;

- Os animais leiteiros e até as juntas de bois são freqüentemente recolhidas a

noite nas estrebarias;

- Não existe maior preocupação com a qualidade dos pastos;

- Não é realizada a recuperação de solos e nem utilizado adubação em pastagens

perenes;

- Os animais são cruzados, mas com fortes traços leiteiros;

24

- As ordenhas acontecem duas vezes ao dia e é pouco freqüente o terneiro ao pé;

- Em períodos de muita escassez de pasto (inverno) são utilizados farelos como

volumoso para garantir a sobrevivência do animal e da produção do leite;

- Não existe preocupação com indicadores de produção com pico e período de

lactação, intervalo entre partos, produção por lactação;

- Tem normalmente muita dificuldade com a criação da terneira, pois se vê

obrigado a vender o leite da pouca produção obtida;

- A atividade é pouco tecnificada e de baixa renda por área, fator que pode ser

decisivo para a não reprodução social da unidade familiar;

- Os baixos investimentos também representam menores riscos;

- Enquadra-se como semi extensivo o subsistema de potreiro/leite;

6.1.2 Sistema Semi Intensivo:

Caracterização:

- É o sistema que incorpora a maior diversidade de combinações

- No mínimo 30% do requerimento alimentar é fornecido no cocho durante a maior

parte do ano. O picador de pasto, vulgo forrageiro é um equipamento muito

importante na maioria das propriedades;

- Os animais normalmente têm pastagem anual de inverno, enquanto que a

pastagens anual de verão é reduzida ou inexistente;

- Existe pelo menos alguma programação, mesmo que deficiente, para produção

ou armazenamento de volumoso;

- É comum os agricultores piquetearem as áreas com vistas a fazer o pastejo

rotativo (descontínuo). Também é freqüente a presença de gramíneas do gênero

cynodon e braquiárias nas propriedades. Existe também a busca por forrageiras de

maior qualidade;

- Manifestam alguma preocupação com a recuperação de solos e adubação de

forrageiras;

- Os animais são de raças leiteiras, a maioria das raças jersey e holandesa;

- Durante a noite os animais normalmente são mantidos fora das instalações;

- Ganha importância a quantidade produzida por área e animal;

- As famílias buscam tecnificar a atividade com resultados de produção por área

ainda baixos e duvidosos.

25

- São freqüentes os investimentos na atividade leiteira não planejados

estrategicamente, que aumentam custos e não produzem o retorno desejado,

endividando as famílias. Mesmo com o gasto com o investimento, a prioridade da

família continua sendo outra atividade;

- Enquadram-se no Semi intensivo os agricultores que conjugam as atividades do

Fumo/Leite, Grãos/Leite, somente Leite e Suínos/Leite;

6.1.3 Sistema Intensivo:

Caracterização:

- Busca uma maior padronização da produção. É freqüente a utilização de outras

atividades no empreendimento;

- Os animais recebem a maior parte do ano, aproximadamente 90% da alimentação

no cocho;

- É freqüente o fornecimento de alguma forragem verde no cocho, utilizando neste

caso a mecanização;

- O pastejo, quando existe, é muito mais para o bem estar animal, que para garantir

a ingestão de quantidade de alimentos;

- Existe algo de piqueteamento de pastagens, neste caso, praticamente se restringe

a forrageiras do gênero Cynodon que garantem um bom suporte de animais;

- Os agricultores manifestam preocupação com o aproveitamento de dejetos dos

animais, pois representam uma excelente fonte de adubação quando utilizados

adequadamente, caso contrário, são um risco para o meio ambiente;

- Periodicamente é realizada a recuperação dos solos e sempre é utilizada uma boa

adubação nas culturas destinadas para a produção de forrageiras e de silagem;

- Os animais são de raças leiteiras, praticamente todas da raça holandesa;

- A infra-estrutura é expressiva, principalmente no sistema confinado;

- A produtividade por área e animal é considerável e está sempre presente nas

tomadas de decisão;

- Com a concentração dos animais em áreas limitadas da propriedade, espera-se

menos desgaste dos mesmos, otimização da produção de alimentos, fluxos mais

coordenados e menos penosos de mão de obra, menos dependência de fatores

climáticos adversos;

26

- O sistema requer altos investimentos que significam um caminho sem volta. Depois

de ter imobilizado valores expressivos, é preciso vencer os desafios que surgem na

seqüência;

- Surgem como subsistemas do sistema intensivo, o semi confinado e o confinado;

6.2 A caracterização dos subsistemas:

A partir do maior detalhamento e modelagem de cada sistema anteriormente

descrito, foi possível identificar um ou mais subsistemas que possuem peculiaridade

intrínsecas. A compreensão da diversidade entre os diferentes subsistemas e de

como cada qual se comporta frente as oportunidades e adversidades, torna a

descrição mais desafiante, no entanto, não menos estimulante. Assume-se que não

existe uma linha imaginária que possa delimitar um subsistema do outro, mas

algumas convenções que sevem de parâmetro para estabelecer a diferenciação.

Entende-se também que exista a migração das unidades de produção entre os

diferentes subsistemas, dependendo do contexto e da finalidade da atividade.

3.2.1 Sistema Semi Extensivo - Subsistema Potreiro/ Leite:

Alguns aspectos:

- O potreiro com gramíneas perenes de verão é espaço principal dos animais para

buscar o alimento, ter acesso as fontes de água e sobra no verão.

- A lavoura nestas propriedades está praticamente toda ela em áreas com

acentuada declividade;

- Freqüentemente estes agricultores possuem alguma área mecanizada que se

encontra arrendada para um produtor de grãos;

- Neste tipo de propriedade se prioriza a produção de subsistência para as pessoas

e animais;

- Na maior período do ano, parte significativa da alimentação é atirada para dentro

dos potreiros sem nenhum fracionamento. Em certas épocas do ano também

acontece o fornecimento de alguma forragem picada, farelo e até ração no cocho.

- Os alimentos oferecidos normalmente visam a manutenção dos animais e o

mínimo de produção;

- As instalações de ordenha, quando existem, são muito precárias. O resfriamento é

outro problema sério, pois acontece na geladeira, em congeladores, em

27

congeladores transformados em resfriadores ou em resfriadores antigos ou de

qualidade duvidosa;

Fatores:

- As famílias carecem de qualificação e informações. Freqüentemente dependem

também de programas de transferência de renda. A força de trabalho está presente

em um número expressivo de propriedades;

- De forma geral, estas famílias se encontram descapitalizadas e com baixo poder

de compra;

- Normalmente a forragem somente é suficiente para suprir a manutenção dos

animais;

- Os animais não possuem um procotolo sanitário e apenas são medicados quando

apresentam algum sintoma de anomalia;

- Os animais são mantidos em um único cercado, ocupando sempre a mesma área

de pasto Em certos períodos do ano, principalmente no inverno, depende de pasto

que é atirado sobre a grama. Tem sérias limitações na criação da terneira;

- O potencial leiteiro existe só que poucas semanas durante o ano tem condições de

se manifestar;

- O solo está esgotado pelo uso de métodos extrativistas de manejo, a água é de

bebedouro e o relevo declivoso, normalmente com a presença de pedras;

O Sistema:

Um sistema relativamente equilibrado, de baixo custo e risco, no entanto, de receitas

muito reduzidas. Dificilmente se mantém como atividade principal. No esquema na

roda, o presente sistema representa uma roda pequena capaz de se manter intacta,

desde que as necessidades da família sejam baixas.

3.2.2 Sistema Semi Intensivo - Subsistema Fumo/Leit e:

Alguns aspectos:

- A cultura do fumo é de galpão e a atividade requer envolvimento dos agricultores

durante aproximadamente nove meses do ano;

- Normalmente o fumo é a atividade principal;

- O fumo vinha ocupando áreas acidentadas da propriedade. Nos últimos anos têm

sido escolhidas áreas mais planas;

- Como a cultura requer muitos insumos, nestas áreas é cultivado o milho safrinha

com excelentes resultados;

28

- Este milho tem sido utilizado na alimentação animal e como silagem de pé inteiro;

- São implantadas algumas pastagens de inverno, muito pouco no verão;

- Os animais recebem parte da alimentação no cocho, cujo volumoso normalmente

é de baixa qualidade;

- Nos períodos de plantio e colheita do fumo os animais – vacas e novilhas - são

deixados em segundo plano;

- Nos períodos de entressafra do fumo existem iniciativas maiores com a atividade

leiteira;

Fatores:

- A qualificação dos recursos humanos é restrita. Respondem relativamente bem as

orientações das fumageiras que são pontuais. Existem casos de falta de mão de

obra;

- A renda principal é oriunda do fumo e o leite é considerada uma renda

complementar;

- As propriedade possuem potreiro e algum piqueteamento de pastagem

permanente;

- Não possuem nenhum protocolo sanitário para os animais, intervindo apenas

quando aparecem os problemas;

- Os animais dependem muito da oferta de pasto vindo de outras partes da

propriedade e em alguns períodos recebem suplementação. A criação da terneira é

muito precária;

- O potencial leiteiro dos animais existe, mas é reprimido na maior parte do ano;

- O solo normalmente se encontra esgotado, por isso mesmo a área de fumo

representa a oportunidade de produzir forragem de qualidade com o adubo residual.

A água é de bebedouro de qualidade duvidosa e o relevo acidentado;

- Os animais se concentram em lugares abertos delimitados pelo cercado, com

ampla sombra;

O Sistema:

Vem carregado com forte desajuste entre aquilo que se espera e que é possível

atingir. Divide a atenção entre duas atividades, normalmente favorecendo a cultura

do fumo. A falta de atenção com os animais em determinada época do ano, reflete-

se nos meses subseqüentes. Os fluxos das atividades, via de regra, são penosos. A

ensilagem do milho cultivado na resteva do fumo tem mudado significativamente o

29

cenário do subsistema. Encontram-se muitos agricultores que fizeram investimentos

significativos na atividade leiteira e que não estão obtendo a resposta esperada.

3.2.3 Sistema Semi Intensivo - Subsistema Grãos e L eite

Alguns aspectos:

- O símbolo dos grãos se encontra na cultura da soja que na região concentra o

plantio no mês de novembro e colheita em abril;

- A cultura da soja inviabiliza o plantio do milho, tanto safra como safrinha. Isso

significa que a presença de silagem de pé inteiro praticamente inexiste neste tipo de

propriedade;

- As áreas de pastagens anuais de verão são poucas, pois competem pelo espaço

com a cultura da soja;

- As área marginais (que normalmente não podem ser mecanizadas) são

reservadas para as vacas de leite, principalmente no verão;

- As áreas com pastagens nativas melhoradas normalmente são restritas;

- No inverno normalmente são implantadas pastagens anuais da estação,

principalmente nas áreas que tem restrições ao trigo;

- Boa parte do ano os animais são submetidos a restrição alimentar;

- Os animais encontram a sombra e as aguadas nos potreiros, que também são

responsáveis por parte da alimentação;

- Os animais são freqüentemente submetidos aos rapadores, principalmente no

inverno, tirando toda a forragem possível, não deixando nada para o solo e sua

respectiva micro vida;

- O manejo dos animais é muito pouco funcional, a infra estrutura não é prioridade, o

que torna a atividade leiteira penosa;

- Estes agricultores são tidos como eternos compradores de vacas. Não criam

novilhas e compram vacas por valores altos quando o preço do soja está em baixa

e vendem estes animais por preços baixos quando a o preço do soja reage.

Fatores:

- A atividade leiteira fica relegada as mulheres que tem tido poucas oportunidade de

participar de eventos de aperfeiçoamento. Os filhos normalmente são pouco

estimulados a participar das atividades, tornando-se freqüentemente os operadores

do trator, que muitas vezes é semi novo;

30

- O foco dos homens é a lavoura, com ênfase para a produção de grãos, facilmente

limitando a produção de forragens. Somente dão algum valor para o leite quando a

cultura da soja apresenta preços não remuneradores;

- Vive o efeito sanfona, quando os preços das commodities melhoram, ele fica com

um pé fora da atividade e quando a situação se inverte, tenta retornar;

- Os investimentos são fortemente dirigidos as máquinas, tanto na produção de

grãos como no leite o que leva a um expressivo endividamento;

- A produção de forragem normalmente é significativa no inverno, mas restritiva no

verão. Existe uma oscilação de produção e oferta de pasto muito variável durante o

ano e que se agrava em anos em que a soja possui preços melhores;

- A sanidade do rebanho está intimamente ligado a atenção que é dada aos

animais, que é melhor em anos que o preço da soja é menor ou que a mesma tenha

sido atingida por adversidades climáticas;

- Praticamente todas as famílias deste subsistema têm uma pequena área de

pastagem perene de verão que é subdividida e utilizada alternadamente. O restante

da comida é buscado no potreiro. No inverno, a área mecanizada e reservada para a

cultura de verão é cultivada com forragens da estação que são fornecidas no

sistema de pastejo direto em piquetes;

- Os animais apresentam um bom potencial genético, com forte presença da raça

holandesa, muitas vezes introduzido na propriedade com altos custos e que não tem

espaço para manifestação, ou apenas em períodos curtos do ano;

- É freqüente o desleixo com o solo da propriedade, principalmente na sucessão

com as pastagens; a água no período em que os animais mais precisam dela é de

rio, açude ou bebedouro. Como a atividade leiteira depende das áreas marginais,

principalmente no verão, muitas destas são formadas por áreas de forte declive,

dificultando a locomoção de animais de genética mais apurada e mais sensíveis ao

calor;

- Os animais são mantidos durante a noite e nas horas quentes do dia em um

espaço amplo e com a presença de sombra;

O Sistema:

O subsistema é muito instável porque depende sempre do mercado dos grãos. O

foco destas propriedades muda freqüentemente, tornando-a vulnerável as diferentes

oscilações. Existe um forte apelo a mecanização sem que a mesma esteja vinculada

a sua viabilização.

31

3.2.4 Sistema Semi Intensivo – Subsistema Leite

Alguns aspectos:

- A principal atividade da unidade de produção é o leite. Na maioria das vezes

produz os produtos para a subsistência ou outros produtos agrícolas. Com certa

freqüência exerce a multifuncionalidade do meio rural ou até tem um familiar que

desempenha funções fora da propriedade;

- Tem preocupação com a produção de forragens de qualidade e que parte da

mesma possa ser buscado pelo próprio animal;

- Destina uma área significativa para a produção de volumosos de inverno e verão;

- Os investimentos se concentram na atividade leiteira e manifesta preocupação

com a infra-estrutura;

- Nos últimos anos tem se preocupado e organizado para a produção de produtos

armazenados;

- Os animais normalmente ficam nos piquetes a noite, realizando assim a ciclagem

de nutrientes;

- Encontra-se em constante crise entre produzir forragem perene e anual, o que o

faz mudar muito;

Fatores:

- Existe o envolvimento da família na atividade;

- A família normalmente tem boas informações sobre a atividade leiteira e está em

constante busca de novos conhecimentos;

- A mecanização é mediana e muitas atividades e operações são realizadas em

mutirão;

- As propriedades possuem certo grau de endividamento, mas que normalmente é

compatível com a receita gerada na propriedade. Os investimentos tem tido certo

foco, contribuindo com a racionalização das ações;

- O fornecimento de ração acontece em todos os meses do ano. Tem tido muitas

dificuldades no manejo de forrageiras perenes para que produzam uma forragem de

qualidade. Trabalha com reserva de alimentos, mas geralmente sub dimensionado;

- Utilizam protocolos mínimos de acompanhamento do rebanho com vistas a garantir

uma razoável sanidade e a reprodução animal;

- O esforço está sempre presente para oferecer as melhores condições para o

animal. Existe a preocupação com o manejo dos animais adultos e com a criação da

32

terneira, tendo sempre presente que este animal jovem será a futura vaca do

rebanho;

- Normalmente tem animais de boa genética que está longe de ser explorado na sua

plenitude, pois a qualidade e a diversidade das forragens têm mudado muito durante

o ano;

- Geralmente tem limitações de área apta para a produção de forragem. Mesmo

utilizando toda a terra da propriedade na atividade leiteira, a mesma é pouca para os

desafios atuais e futuros;

- Em praticamente todas as unidades existe um extrativismo do solo, sem o devido

retorno através dos dejetos. O empobrecimento do solo ou o alto custo com insumos

agrícolas deixa a propriedade em estado de alerta, principalmente quando localizada

longe de unidade de engorda de suínos, onde normalmente tem alguma

disponibilidade de dejetos;

- As famílias têm preocupação em fornecer água de qualidade para os animais e que

normalmente é canalizada;

- Os animais são mantidos fora de áreas íngremes e com presença de pedras.

Mesmo assim, existem empecilhos, pois os acidentes geográficos dividem as áreas

melhores logo, precisam ser atravessados periodicamente.

- Existe preocupação com bem estar animal das vacas e com a criação das novilhas

– futuras matrizes;

O Sistema:

O foco é a atividade leiteira e toda família assume esta condição, procurando

constantemente vencer as limitações e aproveitar as oportunidades. O grande

estrangulamento parece residir na manutenção e incremento da fertilidade dos solos

que tem relação direta com o manejo inadequado dos dejetos dos bovinos e que

leva ao desperdício de uma fonte de matéria orgânica e de nutrientes. Esta postura

de não aproveitamento de dejetos tem elevado os custos de produção e dificuldades

de aproveitamento dos nutrientes que vem de fora da propriedade. Também é

comum se deparar com a quantidade limitada de área para expandir a produção;

33

3.2.5 Sistema semi intensivo - Subsistema Suino/Lei te

Alguns aspectos:

- São propriedades que normalmente possuem uma boa infra-estrutura;

- A suinocultura possui um expressivo imobilizado. Existe a preocupação com a

sucessão familiar, pois foram realizados grandes investimentos;

- Não raras vezes toda a área da propriedade é utilidade na atividade leiteira;

- Conseguem produzir forragem de qualidade e em quantidades expressivas por

área. É comum ter pastagens perenes de verão – tifton – em excelentes condições

sobre a qual se faz a sobre semeadura de pastagens de inverno, principalmente de

azevém;

- A qualidade destas pastagens é resultante da utilização dos dejetos suínos sobre a

mesma, não necessitando tantos insumos químicos externos a propriedade;

- As lavouras, principalmente àquelas destinadas para a silagem, apresentam um

potencial bem acima da média;

- Na maioria dos locais as vacas são desafiadas a produzir. A ração é utilizada em

todo o rebanho;

- Existe um expressivo aumento do fornecimento de volumoso no cocho;

- Tem aumentado muito a produção nos últimos anos;

Fatores:

- Nestas propriedades existe uma constante busca por informações e o

conhecimento. Não raras vezes, existe a falta de mão de obra familiar, necessitando

de uma definição sobre a contratação ou não de mão de obra de terceiros. Com a

limitação de mão de obra, teve agricultor desistindo da atividade leiteira e ampliando

a suinocultura, que requer menos envolvimento e as atividades são rotineiras,

facilmente assimiláveis por terceiros;

- São propriedades que tem um alto grau de imobilização, principalmente na

suinocultura e freqüentemente por isso tem valores expressivos em investimentos.

No entanto, conseguem ter boa liquidez e renda distribuída durante o ano;

- Os animais dispõem de forragens de excelente qualidade durante a maior parte do

ano em decorrência da utilização dos dejetos suínos. A ração sempre está presente

e faz parte da nutrição do rebanho;

- Os animais possuem uma boa sanidade e os cuidados estão sempre presentes. No

entanto, é preciso considerar que a utilização dos dejetos suínos tem dado origem a

distúrbios e doenças correlatas.

34

- A todo o momento são realizados ajuste para racionalizar a condução dos animais

dentro da propriedade, buscando a maior eficiência animal, planta e solo;

- O potencial genético dos rebanhos está muito presente e vem sendo utilizado com

certa racionalidade nas unidades de produção. Existe a prevalência da raça

holandesa sobre a Jersey;

- Os solos das propriedades têm melhorado significativamente em fertilidade e nos

níveis de matéria orgânica, principalmente naquelas propriedades em que se procura

ciclar os nutrientes através do pastoreio rotacionado. A água, embora presente, tem

sido escassa em função da grande demanda dos suínos e bovinos. A superação

deste estrangulamento passa por ações de infra- estrutura que representam mais um

custo. As áreas destinadas a bovinocultura de leite normalmente tem sido

mecanizadas o que representa que não são muito acidentadas. Porém, existe um

contingente significativo de áreas impróprias a mecanização e que tem sido utilizadas

no leite e que se constitui em fator limitante;

- A maior concentração de animais em função da maior disponibilidade de pastos tem

aumentado os problemas com a falta de sombra de qualidade e bem localizados na

propriedade e de barro nos corredores e nas entradas das instalações.

O sistema:

A combinação da engorda de suínos com a produção de leite representa duas fontes

de renda na propriedade, mas constitui o maior impacto sobre as condições físicas e

químicas do solo, que resulta numa maior produção e melhor qualidade de forragens

por área. Como a estrutura fundiária é minifundiária, a terra é o fator escasso e sua

otimização tem se revertido em resultados animadores. A imobilização é expressiva e

existe uma clara vocação para a sucessão.

3.2.6 Sistema Intensivo - Subsistema Semi Confinado

Alguns aspectos:

- Os animais recebem 90% da alimentação no cocho;

- A ração é utilizada conforme o potencial produtivo dos animais. A silagem de grão

úmido está bastante presente nestas propriedades;

- A alimentação de volumosos é à base de silagem de pé interno conservado perto do

galpão de alimentação. O feno ainda é pouco utilizado;

- Maior parte do tempo os animais ficam em pastagens perenes de verão e sombras,

mais para acomodá-los do que para buscar volumosos;

35

- O relevo é levemente ondulado a ondulado, mas normalmente em condições de ser

utilizado para pastagens permanentes. As áreas mais acidentadas são utilizadas para

novilhas e vacas secas;

- O solo é classe três com profundidade de um a dois metros;

- Normalmente são plantéis mais expressivos;

- Apresentam uma infra estrutura expressiva e bem organizada;

Fatores:

- São agricultores relativamente bem informados e que freqüentemente tem um

sucessor que já participa das lides diárias. A mão de obra é familiar, com alguma

participação de terceiros;

- Tem um expressivo grau de imobilização e também de contas a pagar. No processo

de intensificação têm sido utilizadas cada vez mais máquinas e equipamentos;

- A produção é praticamente constante durante o ano. A alimentação dos animais tem

atenção especial com o intuito de explorar todo o potencial produtivo;

- Embora existam alguns protocolos um tanto empíricos de vacinação e medidas de

prevenção de doenças, têm ainda muito a ser realizado;

- A saúde dos animais é uma das premissas do subsistema. A vaca realiza pequenos

deslocamentos até as pastagens e busca alguma forragem no piquete com a

finalidade de não perder características inerentes aos ruminantes;

- Nas pastagens os animais são manejados em piquetes. Tem galpão de alimentação

onde os animais recebem alimentação diferenciada conforme a produção;

- O potencial genético é relativamente bem aproveitado. A maioria dos animais é da

raça holandesa de média a alta produção;

- O solo é profundo e de boa fertilidade natural e não pode ser considerado um fator

escasso. As propriedades possuem uma área mecanizada bastante significativa e que

permite fazer silagem. Procuram aproveitar todos os dejetos na adubação das

pastagens e lavoura. A água é fornecida em reservatórios especificamente

construídos para esta finalidade. O relevo não interfere muito, pois os animais

somente se locomovem nas imediações das instalações. Pode haver a formação de

barro em locais de transito intenso de animais;

- Existe preocupação com a sombra e com a água para os animais. Também com

local que os animais posam que sempre é no pasto, local com boa cobertura vegetal

e o mínimo de umidade;

36

O Sistema:

O Sistema tem um alto custo de entrada e de saída pelo fato de possuir um

expressivo imobilizado e investimentos em máquinas e equipamentos. A alimentação

depende muito das forragens conservadas. Agrega valor por área e por animal. Está

bastante receptiva a inovação e tem estimulado a participação de jovens na atividade.

Trabalha com receitas e despesas altas. Tem adotado fluxos de atividades

progressivamente mais racionais e com redução da penosidade das ações ligadas ao

sistema leite. Tem tido bons resultados em termos de sanidade e, principalmente, em

bem estar animal;

3.2.7 Sistema Intensivo - Subsistema Confinado

Alguns aspectos:

- Os animais recebem 100% da alimentação no cocho. Não pedem energia se

deslocando a procura de pastos. Permanecem às 24 horas nas instalações

específicas onde tem alimentação e água sempre disponíveis. A sobra é feita pelo

próprio telhado do galpão, auxiliado por ventiladores e aspersão de água. Os animais

descansam em camas específicas;

- A alimentação de volumosos é à base de silagem de pé interno conservado perto do

galpão de alimentação. O feno é utilizado;

- A ração é fornecida no esquema de mistura total. As vacas são divididas em lotes,

levando em conta a produção e o período de lactação.

- São planteis mais expressivos formados por vacas holandesas, portanto, de uma só

raça;

- Apresenta uma infra-estrutura expressiva e bem organizada. Por outro lado, existe

uma grande imobilização de recursos e investimentos em máquinas.

- O solo é profundo e o relevo levemente ondulado a ondulado, mas em condições de

implantar culturas que possam ser utilizados na silagem. As áreas não mecanizadas

são utilizadas pelas novilhas e vacas secas;

- Os animais não amassam barro e não degradam o solo em dias de chuva. Não

existem os tradicionais caminhos que freqüentemente viram valas;

- Requer mão de obra mais qualificada e a maioria das atividades são realizadas em

baixo de telhados;

37

Fatores:

- Os agricultores são relativamente bem informados e normalmente tem um sucessor

que já participa das lides diárias. Mesmo assim dependem de muita mão de obra de

terceiros em função da expansão da atividade, que geralmente não tem qualificação e

que representam um custo substancial. O fluxo das atividades é concentrado no

galpão dos animais, no entanto, as ações são muito mais complexas;

- O subsistema requer grandes investimentos em instalações e máquinas que

facilmente geram o endividamento. Engessam também o processo, não tendo muitas

opções de administrar os custos em épocas de crise que coincide com períodos de

altos custos da alimentação e preços menos remuneradores. Tem um alto grau de

imobilização e também de contas a pagar;

- A produção é praticamente constante durante o ano. Busca-se fornecer todos os

nutrientes para que a vaca possa manifestar o seu potencial produtivo. As pastagens

permanentes, quando existem, são cortadas diariamente e fornecidas no cocho;

- São realizados os mais diversos protocolos sanitários, mas o desafio da produção

expõe fragilidades sobre a saúde animal. O confinamento e a precariedade das

instalações aumentam a exposição aos problemas;

- Os animais seguem uma mesma rotina todos os dias o que tira a complexidade do

manejo;

- O potencial genético existe e é bem aproveitado;

- A área terra mecanizada é utilizada para fazer silagem, no entanto, é escassa. A

limitação é substituída pelo arrendamento de áreas a custos elevados. Os solos

possuem boa fertilidade natural e são beneficiados pelos dejetos que são

integralmente aproveitados. A água é de qualidade e disponível durante todo o dia. O

relevo não interfere na vida do animal que fica no barracão;

- Existe uma preocupação e também de limitação com o bem estar animal, acentuado

nos meses de verão. Serão necessários muitos avanços sobre o tema, envolvendo

instalações, para que o sistema prospere;

O Sistema:

O Sistema tem um alto custo de entrada e de saída pelo fato de possuir um

expressivo imobilizado e investimentos em máquinas e equipamentos. Agrega valor

por área e por animal. Está bastante receptiva a inovação e tem estimulado a

participação de jovens na atividade. Trabalha com receitas e despesas altas. Tem

adotado fluxos de atividades progressivamente mais racionais e redução da

38

penosidade das ações ligadas ao sistema leite; Tem enfrentado limites em termos

área de terras para a produção de volumoso, sanidade e bem estar animal.

3.3 Uma síntese dos sistemas

No presente capítulo se descreveu três sistemas e mais sete subsistemas. Assim,

buscou-se dar forma (modelagem) de cada um, longe de querer algo definitivo, pelo

contrário, sabe-se que estará em constante troca. A caracterização aconteceu em

cima de alguns fatores, que sinalizam para aspectos que são próximos em cada

sistema e por isso mesmo podem ser agrupados.

Para poder visualizar melhor como diferentes fatores interferem sobre cada sistema,

que se montou a Tabela 04. Procura-se assim, de forma resumida e esquemática,

demonstrar como se comporta cada sistema de produção de leite frente aos fatores

pré-estabelecidos, em função da realidade local. Convencionou-se, para tanto, três

níveis de relação com os fatores, quais sejam, satisfatório, regular e limitante.

Certamente não são suficientes para revelar a complexidade, no entanto, capazes de

dar conta de uma certa fidelidade do desenho das propriedades.

39

Tabela 04 – Os Sistemas e Subsistemas de produção de leite de Três Passos/RS.

Fonte: Elaborado pelos autores

+++ Satisfatório ++ Regular + Limitante

Fatores de

produção

Semi –

extensivo

Semi-intensivo Intensivo

Potreiro/leite Fumo/leite Grão /leite Leite Suínos / leite Semi

confinado

Confinado

Rec. Humanos + + + +++ ++ ++ +

Financeiro + ++ ++ ++ ++ ++ ++

Nutrição + + + ++ +++ +++ +++

Sanidade + + + ++ ++ ++ +

Manejo + ++ ++ ++ +++ ++ +++

Genética ++ ++ +++ +++ +++ +++ +++

Solo/Água/Relevo +/+/+ ++/+/+ +/++/+ ++/+++/++ +++/+/++ ++/+++/++ +/+++/+++

Bem estar animal ++ ++ ++ +++ ++ ++ +

Total 12/30 15/30 16/30 24/30 23/30 23/30 21/30

% Propriedades 40 25 19,5 5 10 0,3 0,2

39

Na tabela se encontram reunidas as informações descritas na caracterização

de cada sistema. Pelos sinais, é possível verificar que o subsistema potreiro/leite

apresenta limitações em praticamente todos os setores. É restritivo, mas não

desequilibrado. Pode ser comparada a uma roda pequena, que se mantém de pé ao

longo dos anos, mas que não suporte grandes lastros.

Os sistemas de leite com fumo e com grãos são exemplos de sistemas

bastante desequilibrados. Uma das razões está na priorização que recai sobre as

culturas, ficando o leite em segundo plano. O sistema confinado também apresenta

sérios desequilíbrios, com raios próximos a se partir, no entanto, as restrições são

de ordem mais técnica ou então de conhecimento dos agricultores e dos

profissionais. Isto porque é uma forma de criação pouco conhecida na região, que

tem suas peculiaridades e reage a tecnologia, normalmente trazida de outras

regiões, com particularidades, surpreendendo seguidamente os envolvidos.

Os agricultores que escolheram a atividade leiteira possuem restrições e que

eles sabem que precisam superar, pois fizeram a escolha que é praticamente sem

volta. Mesmo que existam desequilíbrios, toda a sinergia será para manter a roda de

pé.

Os subsistemas semi confinado e com suínos tem apresentado equilíbrio

e tem sido importante para o aumento da produção de leite do município. Tem

produzido volumosos de qualidade e em quantidade necessária. Trabalham com

forragem armazenada o ano inteiro.

É importante ter claro que não existe um sistema perfeito. É necessário, isto

sim, um sistema que consiga estabelecer um equilíbrio entre os fatores de produção

e das expectativas das famílias. A conjugação da dimensão humana e produtiva é

imprescindível para que se tenha um sistema que se sustente ao longo do tempo.

41

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando se começou a pensar na monografia, na verdade, estava-se em busca de

algumas respostas para temas relevantes da atividade leiteira do município e região.

Durante a pesquisa e elaboração do trabalho teve-se a oportunidade de ir em busca

de explicações para diversas inquietações, ao mesmo tempo que se abria um novo

leque de questionamentos. Diante deste quadro, pode-se constituir uma série de

percepções que são registradas a seguir:

- Não existe um modelo ideal para ser recomendado para o município e região. É

preciso conhecer e trabalhar as potencialidades de cada unidade de produção;

- Não existe uma delimitação exata entre um sistema e outro e acontece um

deslocamento horizontal entre sistemas, podendo apontar para uma maior ou menor

intensificação da atividade;

- Torna-se necessário sempre considerar que são inúmeros os fatores

determinantes da organização de um sistema sustentável. Quanto mais aspectos

forem incorporados na análise, mais chances de êxito haverá no empreendimento

agropecuário;

- Nos diferentes sistemas existem famílias que estão construindo sua viabilização,

tendo como uma das atividades a bovinocultura de leite. No entanto, muitos outros

agricultores apresentam potencialidades no leite, oportunidades estas que precisam

ser estimuladas, principalmente através de políticas públicas regionais e municipais;

- Existe um contingente muito grande de famílias de pequenos agricultores

completamente marginalizados dos serviços públicos e privados. A informação não

chega até esta população, ou quando chega, está cheia de ruídos;

- Está em curso um processo sutil, mas não menos intenso de exclusão de famílias

da atividade, por falta de qualidade do produto. Isto decorre das péssimas condições

de obtenção e armazenamento da matéria prima, como higiene no processo,

instalações, equipamentos de ordenha e de resfriamento;

- A quantidade exclui indiretamente, pois não gera renda suficiente para construir ou

adquirir o básico para entregar leite de qualidade e viabilizar a logística de

recolhimento;

- A estrutura fundiária do município depõe contra a expansão da atividade em muitas

propriedades e em outras já representa o gargalo da atividade;

42

- Os profissionais das ciências agrárias precisam buscar entender a complexidade

dos sistemas de produção, em particular o sistema de produção de leite, sob pena

de serem muito ativos e pouco efetivos;

- Parece necessário e urgente uma requalificação profissional na atividade leiteira

para constituir referenciais que incorporem a noção de contexto e de sistema;

- Na medida em que se concentram mais animais na propriedade, o processo

produtivo tende a se organizar como sistema de criação progressivamente mais

intensivo;

- No município um percentual expressivo de famílias se mantém nas propriedades

em função das políticas de transferência de renda como a aposentadoria e a bolsa

família. A bolsa família beneficia nada menos que um terço da população rural, ou

seja, 430 famílias.

43

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BONETI, Lindomar W. Conceitos e Dimensões da Pobreza e da Exclusão Soci al – Uma Abordagem Transdimensional . Ijuí: UNIJUÍ, 2006. 240 p.

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CAMARA, Gilberto. Perspectivas INPE 2007-2015 . São José dos Campos, 2007. CD-ROM

CECIM, Marcelo. Análise de Sistemas Leiteiros . Aula ministrada no curso de pós-graduação em produção de leite em Três Passos. 2009. Slides.

EMBRAPA. Zoneamento de riscos climáticos: abordagem para agr icultura familiar, bioenergia e pastagens . Disponáivel em: www.cnpae.embrapa.br/projeto-zoneamento-risco-climatico_mp1_pdf. Acesso: 07 de setembro de 2009.

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NEUMANN, Mikael. Planejamento Forrageiro em Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária . Aula ministrada no curso de pós-graduação em Produção de Leite em Três Passos. 2008. Slides.

PINHEIRO, S. L. G O enfoque sistêmico e o desenvolvimento rural sust entável: uma oportunidade de mudança da abordagem hard-systems para experiências com

44

soft-systems. Porto Alegre: Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável – EMATER/RS, v. i, n.2, abr/mai/jun, 2000. p. 27-35.

PREFEITURA MUNICIPAL. Secretaria Municipal da Agricultura. Programa Renda Leite . Três Passos, 2009.

SCHMIDT, Wilson; SCHMIDT, Wilson; TURNES, Valério A. Desenvolvimento local em espaços rurais: a construção de um “território” nas Encostas da Serra Geral, em Santa Catarina. In: PAULILO, Maria Ignez S.; SCHMIDT, Wilson. (org.) Agricultura e espaço rural em Santa Catarina . Florianópolis: Ed. da UFSC, 2003. pp. 287-307. SILVA NETO, B. (coord.) ET all. Dinâmica e Perspectivas da Agricultura da Região de Três Passos (RS). Ijuí, Ed. UNIJUÍ, 1998. (Coleção trabalhos acadêmico-científicos. Relatório de Pesquisa).

ZIMMERMANN, Claudete M. Processos sustentáveis em cooperativas do setor de agronegócios: um estudo sobre a produção orgânica. 2004. 152 p. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais para o Mercosul) Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. Florinópolis, SC.

ZARTH, Paulo A. Do Arcaico ao Moderno – O RS Agrário do Século XIX . Ijuí: UNIJUÍ, 2000. 320 p.

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ZOCCAL, Rosângela; CARNEIRO, Alziro V. Uma análise conjuntural da produção leiteira. Panorama do Leite – on-line , Juiz de Fora, ano II, nº 19, mai, 2008.

45

ANEXO I

Ficha Técnica

a) Dados gerais

Nome:_____________________________Localidade:_______________________

Núcleo Familiar na propriedade________________________________________

Mão de obra de terceiros_______________________________________________

Área de terra próprias ___ha Áreas de Terras arrendadas ___ha Total ___ ha

Responsáveis pela ordenha____________________________________________

b) Sistema de produção:____________________________ _____________

c) Rebanho

Número total de vacas _______ novilhas _______ Terneiras ____________

Vacas em lactação______ Produção de leite ________ litros/dia; _______ litros/ano

d) Assistência técnica

Instituições________________________________________________________

Á quanto tempo:_______Que tipo de acompanhamento:_____________________

Onde busca informações:_____________________________________________

Tipo de estímulo do município:_________________________________________

O que acha mais Interessante na atividade leiteira:__________________________

e) Tipos de pastagens

1)_______________________________________área _____________________

2)_________________________________________área_____________________

3)________________________________________área_____________________

4)_________________________________________área_____________________

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f) Forragem armazenada :

Espécie___________________________________quantidade________________

Espécie___________________________________quantidade________________

Espécie___________________________________quantidade________________

g) Considerações sobre:

a) Recursos Humanos

_____________________________________________________________

______________________________________________________________

b) Financeiro

______________________________________________________________

_____________________________________________________________

c) Bem estar animal

______________________________________________________________

______________________________________________________________

d) Nutrição

______________________________________________________________

______________________________________________________________

e) Solo/Relevo

______________________________________________________________

_____________________________________________________________

f) Sanidade

______________________________________________________________

_____________________________________________________________

g) Manejo

______________________________________________________________

______________________________________________________________

h) Genética

______________________________________________________________

_____________________________________________________________

Obs.: _______________________________________________________________________________________________________________________________________