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103
MODELAGEM DE UM TUBO CAPILAR DE UMA BOMBA DE CALOR OPERANDO COM DIÓXIDO DE CARBONO (CO 2 ) EM CICLO DE COMPRESSÃO DE VAPOR TRANSCRÍTICO MATHEUS DE MENDONÇA HERZOG Belo Horizonte, 20 de julho de 2010

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MODELAGEM DE UM TUBO CAPILAR DE UMA

BOMBA DE CALOR OPERANDO COM DIÓXIDO DE

CARBONO (CO2) EM CICLO DE COMPRESSÃO DE

VAPOR TRANSCRÍTICO

MATHEUS DE MENDONÇA HERZOG

Belo Horizonte, 20 de julho de 2010

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Matheus de Mendonça Herzog

MODELAGEM DE UM TUBO CAPILAR DE UMA

BOMBA DE CALOR OPERANDO COM DIÓXIDO DE

CARBONO (CO2) EM CICLO DE COMPRESSÃO DE

VAPOR TRANSCRÍTICO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais,

como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em

Engenharia Mecânica;

Área de concentração: Calor e Fluidos

Orientador: Prof. Luiz Machado

(Universidade Federal de Minas Gerais)

Co-orientador: Prof. Ricardo Nicolau Nassar Koury

(Universidade Federal de Minas Gerais)

Belo Horizonte

Escola de Engenharia da UFMG

2010

ii

MODELAGEM DE UM TUBO CAPILAR DE UMA BOMBA DE CALOR OPERANDO COM DIÓXIDO DE CARBONO (CO2) EM CICLO DE COMPRESSÃO DE

VAPOR TRANSCRÍTICO

MATHEUS DE MENDONÇA HERZOG

Dissertação defendida e aprovada em 18 de maio de 2010, pela Banca Examinadora

designada pelo Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da

Universidade Federal de Minas Gerais, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de “Mestre em Engenharia Mecânica”, na área de concentração de

“Calor e Fluidos”.

____________________________________________________________

Prof. Dr. Luiz Machado – Universidade Federal de Minas Gerais – Orientador

____________________________________________________________

Prof. Dr. Ricardo Nicolau Nassar Koury – Universidade Federal de Minas Gerais – Co-

orientador

____________________________________________________________

Prof. Dr. Márcio FonteBoa Cortez – Universidade Federal de Minas Gerais –

Examinador

____________________________________________________________

Prof. Dr. Antônio Augusto Torres Maia – Universidade Federal de Minas Gerais –

Examinador

iii

Dedico este trabalho aos meus pais, José Vitor e Vânia, à minha esposa,

Siomara, e às minhas irmãs Mayra e Marina.

iv

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1 1. DISPOSITIVOS DE EXPANSÃO ........................................................................ 3

1.1 Introdução ....................................................................................................... 3 1.2 Principio de funcionamento de máquinas operando em ciclos de compressão de vapor.................................................................................................. 3 1.3 Tipos de dispositivos de expansão................................................................. 9

1.3.1 Tubo capilar.............................................................................................. 9 1.3.2 Válvula de expansão manual .................................................................. 12 1.3.3 Válvula de expansão à pressão constante ............................................... 12 1.3.4 Válvula de bóia....................................................................................... 14 1.3.5 Válvula termostática ............................................................................... 15 1.3.6 Válvula de expansão elétrica .................................................................. 16

1.4 Mecanismos de transferência em tubos capilares...................................... 17

1.4.1 Equação da conservação da massa ......................................................... 17 1.4.2 Equação da conservação da energia ....................................................... 18 1.4.3 Equação da conservação da quantidade de movimento.......................... 19 1.4.4 Perda de pressão em tubos capilares....................................................... 19

1.5 Modelos matemáticos de tubo capilar operando com CO2....................... 21 1.6 Considerações finais..................................................................................... 22

2. PERDA DE PRESSÃO EM ESCOAMENTOS BIFÁSICOS.......................... 23

2.1 Introdução ..................................................................................................... 23 2.2 Escoamentos monofásicos............................................................................ 23 2.3 Escoamentos bifásicos.................................................................................. 26

v

2.3.1 Modelo homogêneo ................................................................................32 2.3.2 Modelo de Fases Separadas.................................................................... 36

2.4 Considerações finais..................................................................................... 43

3. O DIÓXIDO DE CARBONO COMO FLUIDO REFRIGERANTE .............. 44

3.1 Introdução ..................................................................................................... 44 3.2 Histórico ........................................................................................................ 44 3.3 Características do dióxido de carbono....................................................... 49 3.4 Considerações finais..................................................................................... 55

4. MODELO MATEMÁTICO DE ESCOAMENTO EM TUBO CAPILAR ..... 57

4.1 Introdução ..................................................................................................... 57 4.2 Hipóteses do modelo..................................................................................... 57 4.3 Equações do modelo..................................................................................... 59 4.4 Validação do modelo matemático............................................................... 66 4.5 Considerações finais..................................................................................... 70

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................... 72

5.1 Introdução ..................................................................................................... 72 5.2 Discretização do domínio e teste de malha................................................. 72 5.3 Simulações e análises.................................................................................... 73

5.4 Considerações finais..................................................................................... 80

CONCLUSÃO............................................................................................................... 81 ABSTRACT .................................................................................................................. 83 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 84

vi

NOMENCLATURA

Letras Latinas

A Área transversal [m²]

B Forças de campo [N]

V Velocidade [m/s]

Potência [W]

Calor [W]

U Energia interna específica [kJ/kg]

D Diâmetro interno [m]

G Velocidade Mássica [kg/m².s]

F Força [N]

P Perímetro molhado [m]

T Temperatura [ºC]

Re Número de Reynolds [adimensional]

Fr Número de Friedel [adimensional]

We Número de Webber [adimensional]

z Direção ao longo do escoamento [adimensional]

u Componente da velocidade na direção x [m/s]

v Componente da velocidade na direção y [m/s]

w Componente da velocidade na direção z [m/s]

p Pressão [Pa]

g Aceleração da gravidade [m/s²]

t Tempo [s]

Vazão mássica [kg/s]

x Título [adimensional]

h Entalpia específica [kJ/kg]

f Fator de atrito [adimensional]

flo Fator de atrito considerando o escoamento total sendo constituído

apenas por líquido [adimensional]

fvo Fator de atrito considerando o escoamento total sendo constituído

vii

apenas por vapor [adimensional]

Componente média da velocidade na direção z [m/s]

Letras Gregas

α Fração de vazio [adimensional]

ρ Densidade [kg/m³]

υ Volume específico [m³/kg]

µ Viscosidade dinâmica [Pa.s]

σ Tensão superficial [N/m]

ε Rugosidade absoluta [m]

θ Ângulo de inclinação da tubulação [graus]

γ Razão de deslizamento [adimensional]

χ Parâmetro de Martinelli [adimensional]

ξ Razão entre as áreas transversais do tubo capilar e tubulação do

evaporador [adimensional]

τw Tensão cisalhante na direção z

φlo Fator de atrito bifásico considerando o escoamento total sendo

constituído apenas por líquido [adimensional]

φl Fator de atrito bifásico considerando apenas o escoamento do

líquido na tubulação [adimensional]

φv Fator de atrito bifásico considerando apenas o escoamento do vapor

na tubulação [adimensional]

Densidade média [kg/m³]

Volume específico médio [m³/kg]

Viscosidade dinâmica média [Pa.s]

Tensão cisalhante média [Pa]

Subscritos

v Vapor

l Líquido

vp Vapor-parede

iv Interface-vapor

lp Líquido-parede

il Interface-líquido

viii TP Bifásico

TC Tubo capilar

evap Evaporador

SC Superfície de controle

VC Volume de controle

lv Propriedade do líquido subtraído da propriedade do vapor

vl Propriedade do vapor subtraído da propriedade do líquido

ix

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1.1 – Comparação entre um ciclo de refrigeração real (1’-2-’3-’4’)

e padrão (1-2-3-4) para o refrigerante R134a........................... 06

FIGURA 1.2 – Ciclo padrão transcrítico de refrigeração por compressão de

vapor para o refrigerante R744. (Adaptado de BENSAFI, A.,

THONON, B., Transcritical R744 (CO2) heat pumps –

Technican´s Manual – Centre Technique des Industries

Aérauliques et Thermiques – 2007)........................................ 08

FIGURA 1.3a – Sistema de refrigeração por compressão de vapor com tubo

capilar....................................................................................... 10

FIGURA 1.3b – Fotografia de um tubo capilar de cobre.................................... 10

FIGURA 1.4 – Desenho esquemático de uma válvula de expansão manual.... 12

FIGURA 1.5 – Desenho esquemático de uma válvula de expansão à pressão

constante................................................................................... 13

FIGURA 1.6 – Desenho esquemático de uma válvula de bóia......................... 14

FIGURA 1.7a – Desenho esquemático de uma válvula termostática................. 15

FIGURA 1.7b – Fotografia de uma válvula termostática................................... 15

FIGURA 1.8 – Esquema de uma válvula termostática externamente

equilibrada................................................................................ 16

FIGURA 1.9 – Desenho esquemático de um sistema com válvula de

expansão elétrica

FONTE – STOECKER et al. (1985), p.308............................. 17

FIGURA 1.10 – Queda de pressão em um tubo capilar

FONTE – Adaptado de GOMES (2003), p.20......................... 20

FIGURA 2.1 – Volume de controle com fluido em regime monofásico.......... 24

FIGURA 2.2 – Volume de controle com fluido em regime bifásico................ 28

FIGURA 3.1 – Diagrama de fases do CO2

FONTE - Adaptado de LADEIRA, H. M. S., FILHO, E. P.

B. – Estudo do dióxido de carbono, CO2, operando como

fluido refrigerante em sistemas de refrigeração. 15º

POSMEC, Universidade Federal de Uberlândia – 2005.......... 50

x FIGURA 3.2 – Comparação entre os processos de compressão do R134a e

R744

FONTE - Adaptada de PETTERSEN, J., Refrigerant R-744

Fundamentals - Norwegian University os Science

Technology (NTNU) SINTEF Research – Trondheim –

Norway.....................................................................................

51

FIGURA 3.3 – Comparação entre o ciclo transcritico do R744 com o ciclo

subcrítico do R134a

FONTE - Adaptado de LADEIRA, H. M. S., FILHO, E. P.

B. – Estudo do dióxido de carbono, CO2, operando como

fluido refrigerante em sistemas de refrigeração. 15º

POSMEC, Universidade Federal de Uberlândia – 2005.......... 52

FIGURA 3.4a – Calor absorvido da fonte fria e trabalho do compressor

representados no ciclo transcrítico.

FONTE - Adaptado de BENSAFI, A., THONON, B.,

Transcritical R744 (CO2) heat pumps – Technican´s Manual

– Centre Technique des Industries Aérauliques et

Thermiques – 2007................................................................... 53

FIGURA 3.4b – Variação da performance da bomba de calor com a pressão

de descarga do compressor.

FONTE - Adaptado de NEKSA et al. (1998)........................... 53

FIGURA 3.5 – Variação do COP com a pressão de operação do resfriador

de gás e comprimento do tubo capilar para D = 1,5 mm, ε =

0,0015 mm e razão de área =1,5.

FONTE - Adaptado de AGRAWAL et al. (2008a).................. 54

FIGURA 4.1a – Regiões de estado do R744 ao longo do tubo capilar

FONTE - Adaptado de DA SILVA et al. (2009)..................... 63

FIGURA 4.1b – Regiões de estado do R744 ao longo do diagrama P x h.

FONTE - Adaptado de DA SILVA et al. (2009)..................... 63

FIGURA 4.2 – Fluxograma do modelo matemático......................................... 65

xi FIGURA 4.3 – Dados experimentais do trabalho de DA SILVA et al. (2009)

onde L = comprimento do TC; D = diâmetro do TC; Pe =

pressão de operação do resfriado de gás; Te = temperatura de

saída do resfriador de gás; Pev = pressão do evaporador; e

Mexp = vazão mássica medida.

FONTE - Adaptado de DA SILVA et al. (2009)..................... 67

FIGURA 4.4 – Relação entre os valores de vazão obtidos

experimentalmente (GOMES, 2003) e computacionalmente

para o tubo capilar a R134a, através do modelo

desenvolvido........................................................................... 68

FIGURA 4.5 – Relação entre os valores de vazão obtidos

experimentalmente (DA SILVA et al. 2009) e

computacionalmente para o tubo capilar a CO2, através do

modelo desenvolvido................................................................ 69

FIGURA 4.6 – Relação entre os valores de vazão obtidos

experimentalmente (DA SILVA et al. 2009) e

computacionalmente para o tubo capilar a CO2, através do

modelo desenvolvido por diâmetro de tubo capilar................. 69

FIGURA 5.1 – Testes de malha para um determinado ponto de operação do

modelo matemático.................................................................. 72

FIGURA 5.2 – Variação da vazão mássica com o comprimento e diâmetro

do TC, para o R134a e R744.................................................... 74

FIGURA 5.3 – Variação da vazão mássica e porcentagem do comprimento

do TC percorrido por escoamento bifásico com a pressão do

resfriador de gás....................................................................... 76

FIGURA 5.4 – Variação da vazão mássica com a temperatura ambiente

(temperatura do evaporador).................................................... 76

FIGURA 5.5 – Variação da porcentagem do comprimento do TC percorrido

por escoamento bifásico e porcentagem de diminuição da

queda total de pressão no TC com temperatura ambiente

(temperatura do evaporador).................................................... 77

xii FIGURA 5.6 – Variação da vazão mássica e porcentagem do comprimento

do TC percorrido por escoamento bifásico com a

temperatura de saída do resfriador de gás................................ 78

xiii

LISTA DE TABELAS

TABELA 2.1 – Parâmetro C da utilizado na correlação Lockhart-Martinelli

FONTE – Adaptado de MACHADO (1996), p.53.................. 39

TABELA 2.2 – Condições para utilização das correlações

FONTE – Adaptado de COLLIER et al.(1994), p. 68............. 43

TABELA 3.1 – Índices de impacto ambiental para diversos fluidos

refrigerantes

FONTE - Adaptada de PEIXOTO, R. A., 11º Seminário de

Comemoração do Dia Internacional de Proteção da Camada

de Ozônio, Centro Universitário Instituto Mauá de

Tecnologia................................................................................

49

TABELA 4.1 – Dados experimentais do trabalho de GOMES (2003).............. 66

TABELA 5.1 – Condições padrão para análises das bombas de calor

operando a R134a e R744........................................................ 73

TABELA 5.2 – Quadro comparativo com percentuais de alteração da vazão

mássica com a variação do diâmetro e comprimento do TC

para os fluidos R134a e R744.................................................. 74

TABELA 5.3 – Resumo dos testes realizados com o R744............................... 75

TABELA 5.4 – Resumo dos resultados de GOMES (2003) com o tubo

capilar operando com R134a.................................................... 79

TABELA 5.5 – Resumo dos resultados obtidos com o R744 e com o R134a

(GOMES, 2003)....................................................................... 80

xiv

RESUMO

A utilização do dióxido de carbono (CO2) como fluido de trabalho em refrigeradores e

bombas de calor vem crescendo devido às questões relativas ao aquecimento global e

destruição da camada de ozônio provocada pelo uso dos CFCs e HCFCs, impulsionando

inúmeros trabalhos sobre o assunto. O CO2 possui excelentes propriedades termofísicas

e de transferência de calor; GWP = 1; toxicidade, flamabilidade e ODP nulos; baixa

razão de pressão e alta capacidade volumétrica de refrigeração, além de possuir baixo

custo e ser de fácil obtenção. Estas características o tornam o principal candidato para

substituição dos HCFCs e HFCs. A utilização do ciclo transcrítico em bombas de calor

que operam com o dióxido de carbono é determinante em equipamentos que possuem

este fluido como refrigerante, pois permite projetos com elevado COP. Nestes

equipamentos, o tubo capilar é a principal escolha de dispositivo de expansão devido a

sua simplicidade construtiva, ausência de necessidade de manutenção e permitir a

operação ótima mesmo com pequenas variações na condição ambiental. No entanto, o

correto dimensionamento do tubo capilar é mais crítico e delicado nos ciclos

transcríticos do que nos subcríticos, pois naqueles a pressão e temperatura da linha de

alta pressão são independentes e existe uma pressão de alta que garante a maximização

do COP do sistema. O controle desta pressão ótima de operação é fortemente

influenciado pelas características dimensionais do tubo capilar. Neste trabalho é

apresentado um modelo matemático para o cálculo da vazão em regime permanente em

um tubo capilar adiabático utilizado em bombas de calor operando com CO2 em ciclo

transcritico. O modelo é validado com dados obtidos de estudos experimentais

anteriores e várias simulações são feitas para determinar vazões típicas para tubos

capilares de várias dimensões. O modelo ainda pode ser utilizado para auxiliar a análise

da taxa de transferência de calor para a água pela bomba de calor operando a diferentes

temperaturas de evaporação, ou seja, variando as condições ambientais a que está

sujeito o equipamento.

Palavras-chave: Tubo capilar, bomba de calor, ciclo transcrítico, Dióxido de carbono, Modelo de fases separada

1

INTRODUÇÃO

A utilização de equipamentos de refrigeração e bombas de calor vem crescendo nas

últimas décadas assim como o apelo mundial pela preservação do meio ambiente e

preocupação com o aquecimento global e destruição da camada de ozônio. Essas

preocupações levaram ao ressurgimento da idéia de utilizar fluidos naturais como

fluidos refrigerantes em equipamento térmicos.

Neste cenário, o dióxido de carbono (CO2) ou R744 surgiu como uma boa alternativa

como refrigerante para bombas de calor. Devido as suas características termofísicas

singulares, sua utilização em bombas de calor levou ao desenvolvimento de

equipamentos que operam em ciclo de compressão transcríticos. Nestes ciclos, os

dispositivos de expansão têm papel crítico, pois influenciam diretamente o coeficiente

de performance do equipamento. Dessa forma, o seu correto dimensionamento é

essencial para um bom projeto de bomba de calor operando com o R744.

O tubo capilar é um dispositivo de expansão muito simples, barato e de fácil

manutenção, porém os fenômenos que ocorrem em seu interior são de extrema

complexidade, tornando seu estudo e modelagem muito complicados.

O objetivo deste trabalho é elaborar um modelo matemático para o escoamento, em

regime permanente, de dióxido de carbono em um tubo capilar operando em uma

bomba de calor transcrítica.

O trabalho é dividido em 5 capítulos. No primeiro capítulo é feito uma introdução aos

equipamentos que utilizam o ciclo de compressão transcrítico e a descrição de diversos

tipos de dispositivos de expansão. O capítulo ainda apresenta os mecanismos de

transferência de energia, momento e massa em um tubo capilar. No segundo capítulo

são apresentados os mecanismos e modelos matemáticos para o cálculo de perda de

pressão em escoamentos. Primeiramente é tratado o escoamento monofásico e

posteriormente a modelagem do escoamento bifásico é detalhada com apresentação dos

2 principais modelos e correlações utilizadas na estimativa de perda de pressão. O terceiro

capítulo apresenta um histórico do uso do dióxido de carbono como fluido refrigerante.

As características deste gás e peculiaridades de equipamentos que o utilizam através do

ciclo de compressão transcrítico são apresentadas. No quarto capítulo é apresentado o

modelo matemático utilizado no trabalho com suas hipóteses e limitações. No quinto

capítulo são apresentados os resultados e análises obtidos com a utilização do modelo

proposto. Por fim, a dissertação é finalizada com uma conclusão final sobre tema

apresentado.

3

1. DISPOSITIVOS DE EXPANSÃO

1.1 Introdução

O dispositivo de expansão é um dos quatro principais componentes de máquinas

térmicas que operam com ciclo de compressão de vapor. Eles fazem, assim como o

compressor, a ligação entre as linhas de baixa pressão e alta pressão. Neste capítulo

serão descritos dois tipos de ciclo de compressão de vapor, o ciclo subcrítico e o ciclo

transcrítico. Serão ainda estudados vários tipos de dispositivos de expansão e os

mecanismos de transferência de massa, energia e momento que ocorrem no interior de

tubos capilares, objetos de estudo deste trabalho.

1.2 Principio de funcionamento de máquinas operando em ciclos de compressão

de vapor

As máquinas térmicas que operam com ciclo de compressão de vapor são as mais

utilizadas no mundo. Neste tipo de ciclo, trabalho é realizado em um fluido frigorífico

ou refrigerante por um compressor, fazendo com que o fluido adquira energia para

passar pelos diversos componentes do sistema, realizando as devidas trocas de calor. O

ciclo de refrigeração ou de uma bomba de calor é baseado em um ciclo teórico ideal,

denominado ciclo de refrigeração de Carnot. Em tal ciclo, há a retirada de calor de uma

fonte fria, e através de trabalho injetado no sistema, transfere-se calor para a fonte

quente. Dependendo de qual energia transferida será utilizada na para fins práticos, tem-

se um refrigerador de Carnot ou uma bomba de calor de Carnot. Caso a energia útil seja

a transferida da fonte fria, tem-se o refrigerador de Carnot, caso seja a energia

transferida para a fonte quente a de utilização prática tem-se a bomba de calor de

Carnot. O ciclo de Carnot é constituído de quatro processos: Transferência isotérmica

de calor da fonte fria para o fluido; compressão adiabática e reversível; transferência

isotérmica de calor do fluido para fonte quente; e expansão adiabática e reversível.

4 O ciclo de Carnot é uma abstração, no qual as transferências de calor ocorrem através de

variações de temperaturas infinitesimais entre o fluido e o ambiente, além de os

processos de expansão e compressão não possuírem irreversibilidades. Apesar de ser

uma idealização, a sua análise é importante, pois ele pode ser usado como referência na

comparação com sistemas reais, uma vez que o ciclo de refrigeração de Carnot,

operando em uma determinada temperatura de fonte fria e temperatura de fonte quente,

é o ciclo mais eficiente de todos. Além disso, o ciclo de Carnot pode ser utilizado na

estimativa das temperaturas que produzem a eficiência máxima.

O desempenho de um refrigerador e bomba de calor é dado pelo coeficiente de

performance (COP). Quando se tratar de refrigerador o COP é calculado de acordo com

a EQ. 1.1 enquanto que quando para bomba de calor o COP é calculado segundo a EQ.

1.2.

COP = refrigeração útil

trabalho líquido (1.1)

COP = calor rejeitado por ciclo

trabalho líquido (1.2)

Para o ciclo de Refrigeração de Carnot, pela primeira e segunda leis da termodinâmica,

pode-se demonstrar que:

COP = 1

2 1

T

T T− (1.3)

COP = 2

2 1

T

T T− (1.4)

onde 1T e 2T são as temperaturas, em Kelvin, das fontes fria e fonte quente,

respectivamente.

5 O ciclo de Carnot, por ser um ciclo idealizado, possui inúmeras dificuldades práticas

que impedem a sua implementação. Assim, com as devidas modificações, obtêm-se o

ciclo padrão de refrigeração por compressão de vapor. Este ciclo é constituído dos

seguintes processos:

1-2 => Transferência de calor da fonte fria para o fluido à pressão e temperaturas

constantes, produzindo a evaporação do refrigerante até o estado de vapor saturado.

2-3 => Compressão adiabática reversível (isoentrópica) desde o estado de vapor

saturado até a pressão de condensação.

3-4 => Transferência de calor do fluido para a fonte quente à pressão e temperatura

constantes, produzindo a condensação do refrigerante até o estado de líquido saturado.

4-1 => Expansão irreversível e adiabática (isoentálpica) desde o estado de líquido

saturado até a pressão de evaporação.

O ciclo padrão de refrigeração por compressão de vapor necessita de algumas alterações

a fim de ser utilizado em aplicações práticas. Além disso, características do escoamento

do fluido frigorífico dentro da tubulação e do compressor real alteram a forma do ciclo

padrão. Assim, obtém-se, na prática, o ciclo real de refrigeração de vapor que ilustra

todos os processos reais que ocorrem em uma máquina frigorífica ou bomba de calor.

O ciclo real de refrigeração possui algumas diferenças em relação ao ciclo padrão de

refrigeração. Nos processos 1’-2’ e 3’-4’, há uma leve perda de pressão e, desse modo, à

transferência de calor não ocorre à temperatura e pressões constantes na prática. No

final do processo 1’-2’, deve haver um superaquecimento do refrigerante até que este

atinja uma temperatura de vapor superaquecido, pois, assim, evita-se a entrada de

líquido no compressor. O processo 2’-3’ é uma compressão adiabática e irreversível,

pois, na prática, não existem compressores isentos de irreversibilidade. Este processo

pode, eventualmente, ser isoentrópico, caso o compressor seja considerado não-

adiabático. No final do processo 3’-4’, tem-se um subresfriamento do refrigerante até o

estado de líquido comprimido, a fim de evitar a entrada de vapor no dispositivo de

6 expansão. Desse modo, o processo 4’-1’ será uma expansão adiabática e irreversível

(isoentálpica), desde o estado de líquido comprimido até a pressão de evaporação. A

temperatura do fluido na expansão pode ser considerada constante durante o

escoamento monofásico no dispositivo de expansão. A FIG. 1.1 mostra a comparação

entre um ciclo de compressão padrão (Ciclo 1-2-3-4-1) e um ciclo real (1’-2’-3’-4’-1’)

para o fluido refrigerante R134a no diagrama pressão x entalpia.

FIGURA 1.1 – Comparação entre um ciclo de refrigeração real (1’-2-’3-’4’) e padrão (1-2-3-4) para o refrigerante R134a.

Até o presente momento, foram apresentados apenas ciclos de compressão de vapor

subcríticos, ou seja, em nenhum processo do ciclo a temperatura e pressão críticas

foram superadas ao mesmo tempo. Desse modo, neste tipo de ciclo, o fluido está sempre

na forma de líquido, vapor ou mistura líquido-vapor. As transferências de calor se dão à

temperatura e pressão constantes ou quase constantes (devido à perda de carga) e com

mudança de fase (mistura líquido-vapor). Para alguns fluidos especiais, entre eles o

dióxido de carbono, utiliza-se outro tipo de ciclo, denominado ciclo transcrítico. Neste

7 tipo de ciclo, alguns processos ocorrem acima dos valores da pressão e da temperatura

criticas ao mesmo tempo, de forma que o refrigerante se apresenta, durante o ciclo, na

forma líquida, vapor, mistura líquido-vapor e na forma de gás. Os processos presentes

em um ciclo padrão transcrítico de refrigeração por compressão de vapor são:

1-2 => Transferência de calor da fonte fria para o fluido à pressão e temperaturas

constantes, produzindo a evaporação do refrigerante até o estado de vapor saturado.

2-3 => Compressão adiabática reversível (isoentrópica), desde o estado de vapor

saturado até uma temperatura e pressão acima da temperatura e pressão criticas. O

fluido se encontra no final da compressão no estado de gás.

3-4 => Transferência de calor do fluido para a fonte quente à pressão constante (a

temperatura neste caso não é constante), produzindo o resfriamento do refrigerante

gasoso até à temperatura crítica.

4-1 => Expansão irreversível e adiabática (isoentálpica), desde o estado de gás à

temperatura crítica e pressão de condensação até a pressão de evaporação.

O ciclo real transcrítico de refrigeração por compressão de vapor apresenta diferenças

em relação ao ciclo padrão transcrítico análogas às encontradas no caso subcrítico. Nos

processos 1-2 e 3-4, existe uma perda de carga mais expressiva no processo 3-4, pois o

escoamento é de um gás. O superaquecimento no final do processo 1-2 é semelhante ao

superaquecimento no sistema subcrítico. No subresfriamento, o gás fica abaixo da

temperatura crítica para evitar a entrada de gás no dispositivo de expansão. A expansão

4-1 do fluido ainda é isoentálpica, mas, neste caso, a temperatura do fluido não é

constante em nenhum momento.

Neste trabalho será enfatizado o ciclo de compressão de vapor transcrítico, pois este é o

tipo de ciclo em que opera o dióxido de carbono ou R744 para aplicações de bomba de

calor. Um ciclo padrão transcrítico (1-2-3-4-1) de dióxido de carbono no diagrama

pressão x entalpia é mostrado na FIG. 1.2.

8

FIGURA 1.2 – Ciclo padrão transcrítico de refrigeração por compressão de vapor para o refrigerante R744. (Adaptado de BENSAFI, A., THONON, B., Transcritical R744 (CO2) heat pumps – Technican´s Manual – Centre Technique des Industries Aérauliques et Thermiques – 2007) -

Os elementos constituintes de um ciclo transcrítico de compressão de vapor são:

• Evaporador

No evaporador, o fluido refrigerante absorve calor da fonte fria (fluido secundário ou

ambiente) entrando em ebulição. Na parte inicial do evaporador, o refrigerante é uma

mistura de vapor e líquido em ebulição a temperatura e pressão são constantes. Na parte

final do evaporador, o refrigerante, já na forma de vapor saturado, continua se

aquecendo, promovendo o grau de superaquecimento necessário para evitar a entrada de

líquido no compressor. A pressão continua constante, mas a temperatura varia.

• Compressor

No compressor, o vapor superaquecido é comprimido, recebendo trabalho, o que eleva

sua pressão e temperatura. A temperatura e pressão são elevadas acima da pressão e

temperatura críticas. O estado final é de gás à alta temperatura e pressão.

9 • Resfriador de Gás

O resfriador de gás recebe o fluido a alta pressão e temperatura. O refrigerante, na

forma de gás ou fluido supercrítico, cede calor para a fonte quente (fluido secundário ou

ambiente) à pressão constante. A temperatura não é constante em toda extensão do

resfriador. O fluido pode deixar o resfriador a gás como fluido supercrítico, caso a

temperatura esteja acima da temperatura crítica, ou pode deixar o resfriador como fluido

transcrítico caso a temperatura esteja abaixo da temperatura crítica.

• Dispositivo de Expansão

O dispositivo de expansão é uma restrição que faz com que o fluido refrigerante, na

forma de líquido comprimido, se expanda, ocasionando uma perda de pressão e

temperatura. O fluido, na parte inicial do tubo, se encontra como líquido comprimido. O

fluido, ao longo do tubo, torna-se uma mistura de líquido-vapor, até atingir uma mistura

com título em torno de 20%, dependendo das condições do ciclo.

1.3 Tipos de dispositivos de expansão

1.3.1 Tubo capilar

O tubo capilar é o dispositivo mais utilizado em sistemas frigoríficos pequenos, como

equipamentos de refrigeração, ar condicionado e bombas de calor domésticas, devido a

seu preço reduzido e quase ausência de necessidade de manutenção. É o sistema mais

simples, sendo constituído por um tubo de pequeno diâmetro, com 1 a 6 m de

comprimento e diâmetro da ordem de 1 a 2 mm, que conecta diretamente o condensador

ao evaporador. Devido ao pequeno diâmetro do tubo capilar, o fluido refrigerante

líquido que entra perde pressão à medida que escoa por ele, em virtude do atrito e

aceleração do fluido, resultando na evaporação de parte do refrigerante e, desse modo, o

fluxo de refrigerante através do sistema é limitado. A FIG. 1.3a mostra um sistema com

tubo capilar e a FIG. 1.3b mostra uma foto de um tubo capilar de cobre.

10

FIGURA 1.3a – Sistema de refrigeração por compressão de vapor com tubo capilar

FIGURA 1.3b – Fotografia de um tubo capilar de cobre

Em um projeto, diversas combinações de diâmetro e comprimento de tubo são possíveis

a fim de obter o efeito desejado. Porém, para uma dada combinação, não é possível

acomodar vazão para variações grandes de carga ou pressões de descarga e de aspiração

e o sistema trabalhará com uma eficiência razoável dentro destas condições. Um ponto

de equilíbrio é atingindo entre o tubo capilar e o compressor, na qual as pressões de

aspiração e de descarga permitem ao compressor fornecer exatamente a mesma

quantidade de fluido com que o tubo capilar alimenta o evaporador. Uma variação de

carga pequena causa o desequilíbrio entre esses componentes. Porém, isso é temporário,

de forma que rapidamente a condição de equilíbrio é novamente atingida.

O comprimento e diâmetro do tubo capilar também devem ser escolhidos de forma a

garantir um grau de superaquecimento na saída do evaporador suficiente para proteger o

compressor contra golpes de líquido. Muitos tubos capilares são montados junto à linha

de aspiração, formando um trocador de calor que utiliza o vapor de aspiração para

resfriar o refrigerante no tubo capilar, garantindo um sub-resfriamento e, assim,

retardando a formação de vapor no interior do tubo capilar.

Dentre as desvantagens dos tubos capilares estão a impossibilidade de regulagem para

atender condições de carga distintas, a possibilidade de obstrução por algum material

estranho e a exigência de manter a carga de refrigerante dentro de limites estreitos

limitando seu uso em unidades herméticas, para as quais a possibilidade de vazamentos

é reduzida. O tubo capilar é projetado para uma estreita faixa de operação e, desse

11 modo, qualquer variação pequena de carga térmica ou temperatura de condensação em

relação ao projeto acarreta uma redução da eficiência operacional.

Outro problema do tubo capilar está no fato de que, sendo um dispositivo fixo, ele não

se fecha quando o equipamento deixa de funcionar devido ao comando do termostato.

Desse modo, as pressões de alta e baixa se igualam, fazendo com que se igualem

também a temperatura do fluido no evaporador e condensador. Isto se torna crítico em

equipamentos para refrigeração de alimentos, que podem, eventualmente, descongelar e

estragar. Para evitar que isso ocorra, o compressor acaba entrando em funcionamento

muitas vezes, ficando sobrecarregado. Por este motivo, os equipamentos frigoríficos

domésticos não possuem recipiente de líquido para repor o refrigerante conforme ele

deixa o condensador. Assim, a quantidade de refrigerante utilizado nestes sistemas é

sempre a mínima possível, fazendo com que a circulação ocorra da forma mais

eficiente. Com isso, somente uma pequena parte do fluido quente entra no evaporador

quando o sistema pára de funcionar. Porém, uma vez que o tubo capilar esteja bem

dimensionado para o sistema, o fato de ele não se fechar deixa de ser uma desvantagem,

virando uma vantagem. Quando o sistema deixa de funcionar, a pressão de condensação

se iguala à pressão de evaporação, diminuindo muito a resistência para recolocar o

motor do compressor em funcionamento. Desse modo, podem-se utilizar motores

elétricos de menor potência nestes equipamentos, tornando-os ainda mais baratos.

Outro fenômeno que ocorre em tubos capilares é o chamado escoamento blocado. Este

fenômeno ocorre devido à perda de pressão ocasionada pelo atrito, levando a um

aumento do volume específico e conseqüentemente da velocidade do escoamento até

que a velocidade do som seja atingida. A partir deste ponto, reduções posteriores da

pressão não produzem aumento da vazão. Os estados termodinâmicos são representados

pela linha de Fanno no diagrama entropia x entalpia. Ao se atingir a velocidade sônica

do escoamento seria necessária uma diminuição da entropia no escoamento o que

violaria a segunda lei da termodinâmica para um sistema adiabático. O resultado da

blocagem do escoamento no tubo capilar de um sistema é que as curvas de vazão em

função da pressão de aspiração atingem um patamar para o qual reduções sucessivas da

pressão na aspiração não alteram a vazão de refrigerante através do tubo capilar.

12 1.3.2 Válvula de expansão manual

A válvula de expansão manual é um tipo de válvula muito simples, onde o tamanho do

orifício de passagem do fluido refrigerante é alterado de tamanho por um eixo operado

manualmente, controlando o fluxo de fluido refrigerante e perda de carga. Na FIG. 1.4 é

mostrado um desenho técnico de uma válvula deste tipo. Este dispositivo de expansão é

normalmente utilizado em sistemas frigoríficos de grande porte, pois é necessária a

vigilância constante de um técnico que alterará o tamanho do orifício dependendo da

variação da carga térmica.

FIGURA 1.4 – Desenho esquemático de uma válvula de expansão manual

1.3.3 Válvula de expansão à pressão constante

A válvula de expansão à pressão constante funciona mantendo-se constante a pressão na

sua descarga, ou seja, na entrada do evaporador. O uso destas válvulas ocorre em

sistemas com potência menor que 30 kW, em que a carga de fluido refrigerante é crítica,

evitando a inundação do evaporador. Sua maior vantagem é em sistemas em que há

necessidade de manter a temperatura de evaporação fixa, a fim de controlar a umidade

ou evitar o congelamento de resfriadores de água. Essa válvula também é interessante

em aplicações onde a limitação da pressão seja necessária para proteger o compressor

contra sobrecargas, em virtude de altas pressões de aspiração.

13

FIGURA 1.5 – Desenho esquemático de uma válvula de expansão à pressão constante

O funcionamento desta válvula se baseia em uma mola ajustável conectada a um

diafragma metálico, conforme mostrado na FIG 1.5. O refrigerante entra no

compartimento inferior da válvula, passa pelo orifício, expande e exerce uma pressão

para cima do diafragma. A pressão de ajuste da mola é fixa e determina a pressão

constante no evaporador. Se por alguma razão a pressão do refrigerante cai abaixo da

pressão determinada pela mola, a pressão para baixo do diafragma supera a pressão da

expansão do fluido para cima, empurrando o obturador para baixo, abrindo o orifício da

válvula. Isso permite uma maior entrada de refrigerante, aumentando a pressão. Se

ocorrer o contrário, a pressão do refrigerante aumenta, de forma que a pressão para cima

vence a pressão fornecida pela mola, fazendo um diafragma subir. Dessa forma, a

passagem pelo orifício é reduzida, diminuindo o fluxo de refrigerante e a pressão. Desta

forma, a válvula consegue manter a pressão no evaporador constante de acordo com o

ajuste da mola.

14 1.3.4 Válvula de bóia

A válvula de bóia mantém constante o nível de líquido em um recipiente ou no

evaporador. A manutenção do nível constante de liquido no evaporador estabelece

condições de equilíbrio entre o compressor e a válvula de bóia. Em sistemas de grande

porte, empregam-se válvulas de bóia, combinadas com solenóides acionados pela chave

de bóia. Essa combinação torna possível a regulagem da vazão em evaporadores

inundados em função do nível de refrigerante líquido no lado da carcaça do evaporador

ou em uma câmara em comunicação com o evaporador.

FIGURA 1.6 – Desenho esquemático de uma válvula de bóia

O principio de funcionamento desta válvula baseia-se em uma chave acionada por bóia,

que se abre ou se fecha quando o nível de líquido cai ou se eleva em relação a

determinado nível de referência, respectivamente. A FIG 1.6 mostra um esquema deste

tipo de válvula. Dado um estado de equilíbrio inicial, se a carga de refrigeração diminui,

a pressão de aspiração diminui e o nível de líquido aumenta o que provoca o

fechamento da válvula, resultando em um novo ponto de equilíbrio. Caso a carga de

refrigeração aumente, a temperatura e pressão de evaporação aumentam também,

permitindo ao compressor bombear uma vazão maior que a proporcionada pela válvula,

fazendo com que esta se abra a fim de manter constante o nível de líquido,

estabelecendo um novo ponto de equilíbrio.

15 1.3.5 Válvula termostática

Este tipo de dispositivo de expansão é o mais largamente utilizado para instalações de

tamanho médio. Ela funciona mantendo constante a temperatura de superaquecimetno

na aspiração do compressor. A válvula de expansão, analogamente a válvula de bóia,

opera no sentido também de manter aproximadamente a mesma quantidade de líquido

no evaporador. A operação deste tipo de válvula se dá através de um bulbo remoto cheio

do mesmo refrigerante que circula no sistema ou de um refrigerante com propriedades

próximas a este. Este bulbo se conecta a parte superior de um diafragma metálico e sua

outra extremidade esta em contato com a tubulação de saída do evaporador de modo que

a temperatura do fluido no interior do bulbo é próxima da temperatura do fluido

frigorífico do sistema na aspiração. O esquema de montagem é mostrado na FIG 1.7a e

a foto de uma válvula termostática é mostrada na FIG 1.7b. A pressão do fluido do

bulbo age na parte superior do diafragma enquanto que a pressão no evaporador age na

superfície inferior. Além disso, a força resultante da ação da mola age no sentido de

fechar o orifício. Para que o diafragma seja empurrado para baixo, abrindo o orifício, a

pressão do fluido do bulbo deve ser maior que a força resultante da mola somado com a

força resultante da pressão de saturação no evaporador.

FIGURA 1.7a - Desenho esquemático de uma válvula termostática FIGURA 1.7b – Fotografia de uma válvula termostática

Se a temperatura de superaquecimento aumentar, a pressão do bulbo remoto aumenta

fazendo com que a haste se mova para baixo abrindo o orifício. Desta forma, uma

quantidade maior de fluido refrigerante passa no interior do evaporador, reduzindo o

16 superaquecimento na saída do mesmo. A pressão no bulbo diminui e o diafragma

retorna novamente ao seu ponto de equilíbrio. Caso a temperatura de superaquecimento

diminua, a pressão do bulbo remoto diminui fazendo com que a haste se mova para

cima fechando o orifício da válvula. Assim, menos refrigerante entra no evaporador,

aumentando o superaquecimento na saída dele. A pressão no bulbo remoto aumenta e o

diafragma retorna ao equilíbrio.

Há ainda as válvulas termostáticas externamente equilibradas, que possuem um tubo

que conecta a saída do evaporador ao diafragma. Assim, no diafragma não atua somente

a pressão do fluido na entrada do evaporador. Deste modo, contabiliza-se a perda de

pressão devido ao atrito do fluido no evaporador (as válvulas termostáticas comuns

trabalham considerando iguais à pressão na entrada e saída do evaporador) evitando-se a

evaporação completa do refrigerante antes que este alcance a saída do evaporador,

tornando o superaquecimento excessivo. O esquema de montagem de uma válvula

termostática externamente equilibrada é mostrado na FIG 1.8.

FIGURA 1.8 – Esquema de uma válvula termostática externamente equilibrada

1.3.6 Válvula de expansão elétrica

Esta válvula usa um termistor para detectar a presença de fluido refrigerante líquido na

saída do evaporador. Quando não há presença de líquido, a temperatura do termistor se

eleva, reduzindo sua resistência, o que permite que uma corrente elétrica maior passe

pelo aquecedor instalado na válvula. Assim, a válvula abre permitindo uma vazão maior

17 de refrigerante. Sua maior aplicação é em sistemas que operam tanto como refrigerador

quanto como bomba de calor, pois como o controle é independente das pressões do

fluido refrigerante, a válvula de expansão elétrica pode operar com vazões em qualquer

sentido. Um esquema de montagem de uma válvula deste tipo é mostrado na FIG. 1.9.

FIGURA 1.9 – Desenho esquemático de um sistema com válvula de expansão elétrica FONTE – STOECKER et al. (1985), p.308

1.4 Mecanismos de transferência em tubos capilares

Os fenômenos que ocorrem dentro de um tubo capilar são muito complexos. O fluido

passa por processos complicados de aceleração e atrito, perdendo pressão e mudando de

fase. O escoamento é errático, a principio monofásico, mas, a partir de certo ponto no

tubo capilar, o escoamento se torna bifásico, aumentando mais a complexidade de sua

análise. A fim de conseguir calcular os campos de pressão, temperatura e velocidade

dentro do tubo é necessário resolver as equações de conservação da massa, energia e

quantidade de movimento. Essas equações são resolvidas com auxílio de correlações

obtidas experimentalmente.

1.4.1 Equação da conservação da massa

A conservação da massa resulta da hipótese de continuidade da matéria, ou seja, da

idéia segundo a qual o fluido pode ser tratado como uma distribuição contínua de

matéria. Essa hipótese resulta em uma representação de campos das propriedades dos

18 fluidos, que são definidos por funções contínuas das coordenadas espaciais e do tempo.

Os campos de massa específica e velocidade estão relacionados através da conservação

da massa. Para um volume de controle diferencial, tem-se

0Vt

ρρ ∂∇ ⋅ + =∂

r r (1.5)

e, em coordenadas cartesianas, obtém-se

( ) ( ) ( )0

u v w

x y z t

ρ ρ ρ ρ∂ ∂ ∂ ∂+ + + =∂ ∂ ∂ ∂

(1.6)

onde ρ é a massa específica do fluido, Vr

é o vetor velocidade e u, v e w são os módulos

das velocidades nas direções x, y e z, respectivamente. Para regime permanente, as

propriedades do fluido são independentes do tempo, ou seja, ( ), ,x y zρ ρ= e assim

0Vρ∇ ⋅ =r r

(1.7)

1.4.2 Equação da conservação da energia

A equação da conservação da energia resulta da primeira lei da termodinâmica, ou seja,

do princípio físico fundamental de que a energia não é criada nem destruída, mas sim,

transformada. Para o processo de escoamento no interior de um tubo capilar é

necessário utilizar a primeira lei da termodinâmica aplicada a um volume de controle.

Desse modo, tem-se, aplicando a primeira lei a um volume de controle,

2

2EIXO CISALHAMENTO OUTROS VC SC

VQ W W W e dV U p gz V dA

tρ υ ρ ∂− − − = + + + + ⋅ ∂

∫ ∫rr

& & & &

(1.8)

19

onde 2

2

Ve U gz= + + , ρ é a massa específica do fluido, U é a energia específica do

fluido, υ é o volume específico do fluido, Vr

é o vetor velocidade, Ar

é o vetor área, Q&

é o calor trocado pelo volume de controle e W& é o trabalho (cada subscrito identifica

um tipo).

1.4.3 Equação da conservação da quantidade de movimento

A equação da quantidade de movimento advém da aplicação da segunda lei de Newton.

Aplicando essa equação para um fluido, considerando-se um elemento de massa

diferencial, considerando um fluido newtoniano, escoamento incompressível com

viscosidade constante, tem-se

2DVB p V

Dtρ µ= − ∇ + ∇

rr r

(1.9)

onde ρ é a massa específica do fluido, Vr

é o vetor velocidade,Br

é o vetor forças de

campo, p a pressão, µ a viscosidade dinâmica do fluido e DV Dtr

é a chamada

derivada substancial do vetor velocidade, dada em coordenadas cartesianas por

{aceleração localaceleração convectiva

DV V V V Vu v w

Dt x y z t

∂ ∂ ∂ ∂= + + +∂ ∂ ∂ ∂

r r r r r

144424443

(1.10)

onde u, v e w são os módulos das velocidades nas direções x, y e z, respectivamente.

1.4.4 Perda de pressão em tubos capilares

Os fenômenos físicos que ocorrem no escoamento no interior de um tubo capilar são

complexos. As equações gerais que descrevem o escoamento foram mostradas nas

20 seções anteriores. O gráfico da FIG. 1.10 mostra, qualitativamente, como acontece a

perda de pressão no interior de um tubo capilar.

FIGURA 1.10– Queda de pressão em um tubo capilar FONTE – Adaptado de GOMES (2003), p.20

Ao entrar no tubo o escoamento sofre uma pequena perda de pressão (1-2) devido ao

estreitamento do tubo. O escoamento continua perdendo pressão a partir deste ponto de

forma linear. Isso ocorre enquanto o escoamento é monofásico. A partir do ponto 3,

chamado de ponto de “flacheamento”, o escoamento se torna bifásico. Neste ponto pode

ocorrer o fenômeno de metaestabilidade, ou seja, o fluido refrigerante continua líquido a

uma temperatura superior à sua temperatura de saturação. No escoamento bifásico a

perda de pressão tem caráter não-linear. A pressão cai mais abruptamente que no

escoamento monofásico devido à aceleração e aos efeitos do atrito de uma fase sobre a

outra. Na saída do tubo, ponto 4, a uma queda de pressão devido à expansão do fluido.

Neste ponto pode ocorrer a condição de escoamento bloqueado, onde é atingida a

velocidade sônica no escoamento e reduções adicionais na pressão de evaporação não

alteram o fluxo de massa.

21 1.5 Modelos matemáticos de tubo capilar operando com CO2

A modelagem matemática de tubos capilares é uma ferramenta importante no auxilio ao

projeto destes dispositivos. Vários modelos com diferentes graus de complexidade e

fluidos de operação vêem sendo estudados ao longo dos anos. Ainda não são numerosos

os trabalhos que possuem dados experimentais para validação dos modelos de tubo

capilar com o CO2, mas recentemente alguns trabalhos se destacaram apresentando

alguns dados empíricos (MADSEN et al. 2005 e DA SILVA et al. 2009). Alguns

trabalhos apresentam modelos de tubo capilar operando com o dióxido de carbono

formulados para simular a operação de refrigeradores e bombas de calor.

AGRAWAL et al. (2008a) apresentaram um modelo de tubo capilar adiabático e

operando em regime permanente para simular o funcionamento de uma bomba de calor

com CO2. No trabalho o funcionamento da bomba de calor com o tubo capilar é

comparado com o funcionamento de uma bomba de calor operando com uma válvula de

expansão otimizada. O escoamento bifásico é baseado no modelo homogêneo e é

utilizada a correlação de Lin (LIN et al. 1991) para o cálculo da parcela do atrito

bifásico. O modelo é validado através de alguns dados experimentais do trabalho de

MADSEN et al. (2005).

MADSEN et al. (2005) apresentaram um estudo sobre tubos capilares em refrigeradores

a CO2. Para o fator de atrito bifásico foi utilizado o modelo de fases separadas com uso

da correlação de FRIEDEL (1979). O modelo foi validado com dados experimentais do

próprio trabalho apresentando ótimos resultados.

DA SILVA et al. (2009) apresentaram um estudo cujo modelo de tubo capilar foi

validado com 66 pontos experimentais obtidos com um aparato que simula o

funcionamento de uma bomba de calor. O modelo formulado é adiabático e em regime

permanente e utiliza o modelo homogêneo para a fase de escoamento bifásico.

22 1.6 Considerações finais

Neste capítulo foram apresentados os principios de funcionamento de máquinas

frigoríficas que operam segundo o ciclo de compressão de vapor subcrítico e

transcrítico. Foram analisadas as questões relativas a diferenças de ambos, mais

especificamente a troca de calor não ocorrer a temperatura constante nos equipamentos

que operam com ciclo tanscrítico. Viu-se a necessidade e importância especiais dos

dispositivos de expansão para estes equipamentos e a sua grande variedade. A partir da

descrição dos vários dispositivos foram explicitadas as vantagens do uso do tubo capilar

e os mecanismos de transferência de energia, momento e massa no mesmo. A variação

da pressão ao longo do escoamento no interior do tubo capilar foi mostrada,

explicitando a característica linear do escoamento monofásico linear e a não-linearidade

do escoamento bifásico subseqüente. Alguns exemplos de trabalhos análogos a este

foram brevemente apresentados explicitando algumas características dos modelos

matemáticos de tubo capilar estudados na literatura.

23

2. PERDA DE PRESSÃO EM ESCOAMENTOS BIFÁSICOS

2.1 Introdução

A perda de carga em um escoamento é um processo complexo e importante no estudo

de tubos capilares. Como a transferência de calor do fluido para o ambiente é

praticamente insignificante em tubos capilares, a perda de energia do fluido se deve

principalmente ao atrito deste com a parede da tubulação. A perda de carga é calculada

através da equação da quantidade de movimento. Porém, a parcela referente ao atrito é

estimada, de modo geral, através de equações e correlações empíricas e semi-empiricas.

Existem inúmeras correlações, cada uma especifica para determinada condição e regime

de escoamento. Em um tubo capilar, cujo fluido frigorífico não possui contaminantes, o

escoamento inicia-se como uma única fase (líquida) e, conforme o fluido perde pressão,

ele se evapora, tornando o escoamento bifásico (líquido e vapor). Desta forma, a perda

de pressão deve ser estimada através de equações e correlações para escoamentos

monofásicos e bifásicos.

2.2 Escoamentos monofásicos

Dada uma tubulação de seção circular de diâmetro constante, de área transversal A,

conforme mostrado na FIG. 2.1, aplicando a equação da conservação da quantidade de

movimento ao escoamento no volume de controle especificado, considerando o

escoamento unidimensional, obtém-se

24

FIGURA 2.1 – Volume de controle com fluido em regime monofásico

Contribuição da pressão: dp

p A p dz Adz

⋅ − + ⋅ ⋅

(2.1)

Contribuição da força de cisalhamento: w D dzτ π− ⋅ ⋅ (2.2)

Contribuição da força da gravidade: g A dz senρ θ− ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ (2.3)

Taxa de variação da quantidade de movimento: m

dzt

∂∂&

(2.4)

Variação na quantidade de movimento devido à aceleração: ( )m w dzz

∂ ⋅∂

& (2.5)

Assim,

( )w

dp mp A p dz A D dz g A dz sen dz m w dz

dz t zτ π ρ θ ∂ ∂ ⋅ − + ⋅ ⋅ − ⋅ ⋅ − ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ = + ⋅ ∂ ∂

&& (2.6)

Aplicando a equação da conservação da massa ao volume de controle tem-se:

25

( ) 0 0G

w At t

ρ∂ ∂⋅ ⋅ = ⇔ =∂ ∂

(2.7)

Dividindo a EQ. 2.6 por A dz⋅ e utilizando a EQ. 2.7, obtém-se

24 wdp dg sen G

dz D z

τ υρ θ⋅= − − ⋅ ⋅ −∂

(2.8)

e fazendo 21

2w f wτ ρ= , onde f é um fator de atrito, obtém-se a equação para a perda de

pressão em um escoamento unidimensional em regime permanente monofásico,

222dp f G d

g sen Gdz D dz

υ υρ θ⋅ ⋅ ⋅= − − ⋅ ⋅ − (2.9)

O primeiro termo do lado direito da EQ. 2.9 é a contribuição do atrito com a parede para

a perda de carga, o segundo termo é a contribuição referente à inclinação da tubulação

em relação à horizontal e o último termo refere-se à contribuição da aceleração (efeito

Bernouli) para a perda de carga no escoamento. O fator f é obtido através de correlações

empíricas e semi-empíricas. Para um escoamento laminar o valor de f não depende da

rugosidade interna da tubulação, podendo ser calculada analiticamente pela correlação

de MOODY (1944) apresentada em MACHADO (1996), a saber,

64

Ref = Re 2300≤ (2.10)

e para o regime de transição e regime turbulento, o coeficiente f é obtido através de

correlações empíricas de MOODY (1944) para tubos lisos também apresentadas em

MACHADO (1996), a saber,

0,25

0,316

Ref = 2300 Re 20000< < (2.11)

[ ] 21,82log(Re) 1,64f

−= − Re 20000≥ (2.12)

26

Uma outra correlação formulada por CHURCHILL (1977) leva em conta a rugosidade

do tubo e abrange todos os regimes de escoamento, e é dado por:

( )

112 12

1,5

8 1

Ref

A B

= + +

(2.13)

16

0,9

12,457 ln

7 0,27Re

A

D

ε

= +

(2.14)

1637530

ReB

=

(2.15)

onde ε é a rugosidade absoluta interna da tubulação.

2.3 Escoamentos bifásicos

Primeiramente é necessário definir algumas grandezas que caracterizam um escoamento

bifásico. A fração de vazio α é definida, para escoamentos unidimensionais, como

v

v l

A

A Aα =

+ (2.16)

e o título x é dado por

v

v l

mx

m m=

+&

& & (2.17)

27 onde vA e lA são as áreas transversais ocupadas pelo vapor e líquido, respectivamente,

e vm& e lm& são as vazões mássicas do vapor e líquido, respectivamente.

Pode-se ainda definir a razão de deslizamento, que é calculada pela razão entre a

velocidade do vapor e a velocidade do líquido, ou seja,

v

l

w

wγ = (2.18)

Desse modo, a partir destas definições, pode-se deduzir a chamada relação fundamental

do escoamento bifásico. A razão entre as vazões mássicas de líquido e gás é:

l l l l

v v v v

m w A

m w A

ρρ

=&

& (2.19)

e das EQ. 2.16, EQ. 2.17 e EQ.2.18 obtém-se

( ) ( )1 11l

v

x

x

αρρ γ α

− −= ⋅ ⋅ (2.20)

e a fração de vazio pode ser calculada pela expressão:

11

1 v

l

x

x

αρ γρ

=− +

(2.21)

Estas relações ilustram a complexidade do escoamento bifásico. Há uma relação de

dependência entre o título, fração de vazio e razão de deslizamento. O movimento

médio das fases que definem a razão de deslizamento depende de inúmeros fatores

operacionais, geométricos e físicos tornando o cálculo deste parâmetro complexo e não

permitindo generalizações de soluções específicas.

28 O escoamento bifásico é um fenômeno complexo e algumas hipóteses devem ser

consideradas. A hipóteses são:

a) o líquido e o vapor escoam mantendo cada um sua identidade preservada, ou seja, a

área ocupada pelo vapor é ( )Aα e a área ocupada pelo líquido é ( )1 Aα− ⋅ , as

propriedades das fases são particulares, assim como os fenômenos resultantes do

transporte dos fluidos;

b) a distribuição das velocidades das fases é uniforme na seção transversal ocupadas

pela fase, assim como a densidade de cada fases;

c) as forças exercidas pelas fases na interface são iguais e opostas, isto é, as pressões

das fases são iguais na interface (não se considera qualquer efeito da ação da tensão

superficial).

Dada uma tubulação de seção circular de diâmetro constante conforme mostrado na

FIG. 2.2, aplicando a equação da conservação da quantidade de movimento ao volume

de controle, considerando o escoamento bifásico líquido-vapor estratificado

unidimensional e as hipóteses tem-se:

FIGURA 2.2 – Volume de controle com fluido em regime bifásico

• Para a região de vapor

29

Contribuição da pressão: v v

dpp A p dz A

dz ⋅ − + ⋅ ⋅

(2.22)

Contribuição da força de cisalhamento entre o fluido vapor e a parede: vpdF− (2.23)

Contribuição da força de cisalhamento na interface vapor-líquido: ivdF− (2.24)

Contribuição da força da gravidade: v vg A dz senρ θ− ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ (2.25)

Taxa de variação da quantidade de movimento do vapor: vmdz

t

∂∂&

(2.26)

Variação na quantidade de movimento devido à aceleração do vapor: ( )v vm w dzz

∂ ⋅∂

&

(2.27)

Variação na quantidade de movimento devido ao fluxo de massa resultante da ebulição

do líquido: v ldm u⋅& (2.28)

Assim,

( ) ( )vv vp iv v v v v v l

mdpA dz dF dF g A dz sen dz m w dz dm w

dz t zρ θ ∂ ∂− ⋅ ⋅ − − − ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ = + ⋅ − ⋅

∂ ∂&

& &

(2.29)

• Para a região de líquido

Contribuição da pressão: l l

dpp A p dz A

dz ⋅ − + ⋅ ⋅

(2.30)

Contribuição da força de cisalhamento entre o fluido líquido e a parede: lpdF− (2.31)

30 Contribuição da força de cisalhamento na interface líquido-vapor: ildF− (2.32)

Contribuição da força da gravidade: l lg A dz senρ θ− ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ (2.33)

Taxa de variação da quantidade de movimento do líquido: lmdz

t

∂∂&

(2.34)

Variação na quantidade de movimento devido à aceleração do líquido: ( )l lm w dzz

∂ ⋅∂

&

(2.35)

Variação na quantidade de movimento devido ao fluxo de massa resultante da ebulição

do líquido: l ldm u⋅& (2.36)

Assim,

( ) ( )ll lp il l l l l l l

mdpA dz dF dF g A dz sen dz m w dz dm w

dz t zρ θ ∂ ∂− ⋅ ⋅ − − − ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ = + ⋅ − ⋅

∂ ∂&

& &

(2.37)

O equilíbrio de forças e a conservação da massa na interface líquido-vapor fornece as

seguintes equações

il ivdF dF= − (2.38)

e

v ldm dm= −& & (2.39)

Aplicando as EQ. 2.38 e EQ. 2.39, podem-se combinar as EQ. 2.29 e EQ. 2.37 obtendo-

se

31

( )

( ) ( )

lp vp l v v l l

l v v v l l

dpA dz dF dF g A dz sen A A

dz

m m dz m w m w dzt z

θ ρ ρ− ⋅ ⋅ − − − ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ + ⋅ =

∂ ∂= + ⋅ + ⋅ + ⋅∂ ∂

& & & &

(2.40)

onde v lA A A= +

Dividindo a EQ. 2.40 por A dz⋅ tem-se

( ) ( )222 1

11

lvv l

F

xxdp dp dg sen G

dz dz dz

υυθ α ρ α ρα α

− ⋅ ⋅ = − − ⋅ ⋅ ⋅ + − ⋅ − + −

(2.41)

onde

1 vp lp

F

dF dFdp

dz A dz dz

= ⋅ +

(2.42)

Na EQ. 2.41 o primeiro termo é a contribuição da força de atrito dos fluidos com a

parede da tubulação para a perda de carga. O segundo termo é a contribuição da

inclinação da tubulação em relação à horizontal e o terceiro termo é a parcela referente à

aceleração (efeito Bernouli) que contribui para a perda de carga no escoamento. Nota-se

uma certa similaridade entre as EQ. 2.9 e EQ. 2.41. As diferenças entre as duas estão

basicamente na forma de cálculo das propriedades densidade e volume especifico para a

mistura vapor-líquido. O outro problema no cálculo da perda de carga total no caso de

escoamentos bifásicos é a necessidade de se conhecer a priori a relação funcional entre

a fração de vazio e o título a fim de integrar em z o termo que contém a contribuição da

aceleração. A parcela de atrito na EQ. 2.41 leva em conta a contribuição do atrito pelo

escoamento do líquido e vapor como era de se esperar.

A EQ. 2.42 representa a contribuição do atrito com a parede para a perda de carga total.

As forças exercidas pelo vapor em escoamento na parede e pelo líquido em escoamento

na parede podem são resultantes de tensões entre o vapor com a parede e do líquido com

a parede, respectivamente. Assim,

32

vpvp v

dFP

dzτ= (2.43)

e

lplp l

dFP

dzτ= (2.44)

onde vP e lP são os perímetros molhados da fase vapor e líquida, respectivamente. Não

é trivial calcular estas tensões nem os perímetros molhados, e assim, torna-se necessário

trabalhar com uma tensão cisalhante média que engloba todas as particularidades

presentes em um escoamento bifásico. Desse modo, tem-se:

( )1lp l vp v

F

dp PP P

dz A Aτ τ τ

= ⋅ + =

(2.45)

onde P é o perímetro do tubo e a tensão média é dada por:

2

2TP

wfτ ρ

=

(2.46)

O fator de atrito bifásico TPf é obtido através de diferentes correlações. Existem dois

modelos principais para o cálculo da parcela referente ao atrito da perda de carga total,

representado pela EQ. 2.42, o modelo homogêneo e o modelo de fases separadas. Na

próxima seção serão dados mais detalhes de cada um destes modelos.

2.3.1 Modelo homogêneo

A premissa básica neste modelo é que as fases estão tão intimamente misturadas que se

pode admitir que a mistura seja homogênea. Além disso, as duas fases devem estar em

equilíbrio termodinâmico e há uma tensão cisalhante média τ que representa a

33 resistência oferecida ao escoamento da mistura resultante da viscosidade inerente dos

fluidos. Esse modelo se aproxima da realidade física do fenômeno quando o escoamento

exibe um padrão de “escoamento em bolhas”, onde o vapor está disperso de maneira

razoavelmente homogênea no líquido. O equilíbrio termodinâmico exige a superposição

de:

a) Equilíbrio mecânico: os dois subsistemas, gás e líquido, considerados isoladamente

não podem efetuar trabalho um sobre o outro por qualquer interação possível. Não

pode haver movimento relativo entre as fases nem gradiente de pressão;

b) Equilíbrio térmico: não pode haver gradiente térmico entre as fases;

c) Equilíbrio de fases: Se a mistura gás líquido forma uma substancia única, as funções

de Gibbs de cada fase são iguais e, se o gás e líquido são substâncias diferentes, o

requisito é que a função de Gibbs molar parcial de cada substancia seja a mesma em

cada fase;

d) Equilíbrio químico: não pode haver qualquer reação química entre as fases.

Desse modo, nesse modelo pode-se escrever a seguinte igualdade,

l vw w w= = (2.47)

onde w é uma velocidade média da mistura líquido-vapor. Com as EQ. 2.18 e EQ. 2.47

pode-se deduzir que, no modelo homogêneo, a velocidade de deslizamento é 1γ = , e

assim, a EQ. 2.20 fica

( ) ( )1 1l

v

x

x

αρρ α

− −= ⋅ (2.48)

e assim,

34

(1 )v l l lvx x xυ υ υ υ υ= + − = + (2.49)

e

(1 )v l l lvρ αρ α ρ ρ αρ= + − = + (2.50)

onde υ é o volume específico médio da mistura, ρ é a densidade média da mistura,

lv v lυ υ υ= − e lv v lρ ρ ρ= − .

No modelo homogêneo, a velocidade de deslizamento é unitária. Assim, a expressão

para o cálculo da fração de vazio fica:

11

1 v

l

x

x

αρρ

=− +

(2.51)

A tensão cisalhante por sua vez é dada por

21

2TPf wτ ρ =

(2.52)

onde TPf é um fator de atrito bifásico. Assim, a parcela referente ao atrito fica, para um

tubo de seção circular,

22 TP

F

f Gdp

dz D

υ − =

(2.53)

Torna-se necessário definir o fator de atrito bifásico para que se possa calcular a parcela

de perda de pressão referente ao atrito. Desse modo, o fator de atrito bifásico, TPf , é

obtido utilizando uma viscosidade média, µ , nas correlações usuais de atrito. A relação

entre µ e x deve ser tal que sejam satisfeitas as seguintes relações:

35

0 lx µ µ= ⇒ = (2.54)

e

1 vx µ µ= ⇒ = (2.55)

Utilizando a relação proposta por MCADAMS et al.(1942),

1 (1 )

v l

x x

µ µ µ−= + (2.56)

E assumindo que o fator de atrito bifásico pode ser calculado pela Equação de Blasius,

a saber,

14

0,079TP

GDf

µ

− =

(2.57)

pode-se obter a seguinte expressão para o gradiente de pressão devido ao atrito,

2lo

F F lo

dp dp

dz dzφ

− = − ⋅

(2.58)

onde F lo

dp

dz

é o gradiente de pressão devido ao atrito assumindo que escoamento

total (líquido e vapor) seja apenas líquido, ou seja,

22 lo l

F lo

f Gdp

dz D

υ − =

(2.59)

e

36

14

0,079fol

GDf

µ

=

(2.60)

e o 2loφ é o chamado multiplicador de atrito bifásico, dado por (considerando a EQ. 2.56)

1

42 1 1lv lvlo

v v

x xυ µφυ µ

= + ⋅ +

(2.61)

O valor de 2loφ está associado ao modelo da viscosidade adotado no cálculo e é uma

função das propriedades do fluido. Assim, a perda de carga por atrito no escoamento

bifásico pode ser calculada como um múltiplo da perda de carga por atrito de um

escoamento monofásico de liquido de mesmas densidade e viscosidade ocorrendo em

uma tubulação de mesmo diâmetro.

2.3.2 Modelo de Fases Separadas

A premissa básica neste modelo é que as fases mantêm sua identidade no escoamento.

As hipóteses para utilização deste modelo são:

a) As velocidades das fases são diferentes na mesma seção transversal do escoamento;

b) A pressão é uniforme na seção transversal (não se considera a ação da tensão

superficial);

c) Há uma tensão cisalhante média, τ , que representa a resistência oferecida ao

escoamento da mistura e que resulta da viscosidade inerente aos fluidos.

O termo de atrito é calculado a partir da tensão cisalhante média, τ , agindo sobre o

perímetro molhado pela mistura, P , na tubulação de área de seção transversal A, ou

seja,

37

F

dp P

dz Aτ

− =

(2.62)

Foram desenvolvidos diversos procedimentos, por diferentes pesquisadores, para o

cálculo da tensão cisalhante média. Serão apresentados alguns destes métodos cujas

correlações são mais utilizadas para o cálculo da perda de carga por atrito.

• Correlação de Lockhart-Martinelli

Lockhart e Martinelli (1949) desenvolveram um método baseado nas seguintes

hipóteses:

a) O volume ocupado pelo líquido mais o volume ocupado pelo gás, em qualquer

instante, é igual ao volume total da tubulação. Assim, na seção transversal do

escoamento:

v lA A A+ = (2.63)

b) A pressão é uniforme na seção transversal do escoamento e o gradiente de pressão

no líquido é considerado igual ao gradiente de pressão do gás, independente do

regime de escoamento apresentado. Conseqüentemente, o mesmo se aplica à mistura

bifásica. A parcela referente à perda de carga devido à aceleração e à inclinação da

tubulação são consideradas desprezíveis em relação à parcela de perda de carga

devido ao atrito, e assim:

F F FTP l v

dp dp dp

dz dz dz

− = − = −

(2.64)

38

onde F TP

dp

dz

é a perda de carga devido ao atrito na mistura bifásica e F l

dp

dz

e

F v

dp

dz

são as perdas de carga devido ao atrito na fase líquida e gasosa,

respectivamente.

Lockhart e Martinelli mostraram, através de manipulações das equações e relações

empíricas, que as perdas de carga devido ao atrito numa mistura bifásica podem ser

calculadas com qualquer das duas expressões,

2 222 (1 )l ll

F FTP l

f G xdp dp

dz dz D

υ φ −− = − = ⋅

(2.65)

ou

2 222 v vv

F FTP v

f G xdp dp

dz dz D

υ φ

− = − = ⋅

(2.66)

onde

22

11l

Cφχ χ

= + + (2.52)

2 21v Cφ χ χ= + + (2.53)

e lf e vf são fatores de atrito calculados através de qualquer correlação considerando o

escoamento de apenas o líquido ou vapor na tubulação, respectivamente, e χ é o

parâmetro de Martinelli, dado por

0,5 0,10,91 v l

l v

x

x

ρ µχρ µ

− = ⋅ ⋅

(2.54)

39 O parâmetro C das EQ. 2.52 e EQ. 2.53 depende do regime de escoamento das fases e é

dado pela TAB. 2.1.

TABELA 2.1 Parâmetro C da utilizado na correlação Lockhart-Martinelli

Regime de Escoamento da Parte Líquida

Regime de Escoamento da Parte Gasosa

C

Turbulento Turbulento 20 Laminar Turbulento 12

Turbulento Laminar 10 Laminar Laminar 5

FONTE – Adaptado de MACHADO (1996), p.53

A correlação de Lockhart-Martinelli foi desenvolvida para escoamentos horizontais

bifásicos a baixas pressões (próximas à pressão atmosférica) e segundo COLLIER et al.

(1994) a sua utilização em outras situações não é recomendada.

• Correlação de Chisholm

Chisholm (1968) formulou uma expressão mais geral do coeficiente C das EQ. 2.52 e

EQ. 2.53, dada por

( )0,5 0,5 0,5

2lv v l

v l v

C Cυ υ υλ λυ υ υ

= + − +

(2.55)

onde

( )20,5 2 2nλ −= − (2.56)

Para tubos rugosos, 1λ = (n = 0 na equação de Blasius); para tubos lisos 0,68λ = (n

= 0,25 na equação de Blasius); e para a pressão crítica ( ) ou 0l v lvυ υ υ= = , C = 2 para

tubos rugosos e C = 1,36 para tubos lisos. Para escoamento de misturas vapor-líquido

em tubos cuja pressão seja inferior a 30 bar, Chisholm recomenda o seguinte

procedimento para cálculo do fator 2lφ :

40 a) Se *G G≤

Para tubos lisos: * 22000 /G kg m s= e o cálculo de C é feito pela EQ. 2.55 com

0,75λ = (n = 0,2 na equação de Blasius) e ( )*2C G G= .

Para tubos rugosos: * 21500 /G kg m s= e o cálculo de C é feito pela EQ. 2.55 com

1λ = (n = 0 na equação de Blasius) e ( )*2C G G= .

b) Se *G G>

Para tubos lisos ( )* 22000 /G kg m s= e tubos rugosos ( )* 21500 /G kg m s= ,

22

11l

Cφ ψχ χ

= + + ⋅

(2.57)

Onde

2 2

1 11 1

C C

T T T Tψ = + + + +

(2.58)

0,5 0,5

v l

l v

Cυ υυ υ

= +

(2.59)

( )2 12 2

1

n nn

l l

v v

xT

x

µ υµ υ

− = ⋅ ⋅ −

(2.60)

Para tubos lisos o cálculo de C na EQ. 2.58 é feito pela EQ. 2.55 com (n = 0,2 na

equação de Blasius) e ( )*2C G G= .

41 Para tubos rugosos o cálculo de C na EQ. 2.58 é feito pela EQ. 2.55 com 1λ = (n = 0

na equação de Blasius) e ( )*2C G G= .

• Correlação de Friedel

FRIEDEL et. al. (1979) formularam uma das mais acuradas correlações para o cálculo

de perda de carga em escoamentos bifásicos. Sua correlação é baseada na otimização do

fator 2loφ utilizando uma grande quantidade de dados experimentais. A correlação de

Friedel é válida para escoamentos horizontais e verticais para cima, e é dada por

2 2 31 0,045 0,035

3,24lo

A AA

Fr Weφ = +

⋅ (2.61)

onde

( )2 21 1 l vo

v lo

fA x x

f

ρρ

= − + ⋅

(2.62)

( )0,2240,782 1A x x= ⋅ − (2.63)

0,91 0,19 0,7

3 1l v v

v l l

Aρ µ µρ µ µ

= ⋅ ⋅ −

(2.64)

Fr e We são os números de Friedel e Weber, respectivamente, dados por

2

2

GFr

g Dρ= (2.65)

2G DWe

ρ σ= (2.66)

42 onde σ é a tensão superficial do fluido e ρ é dado por

11

v l

x xρρ ρ

− −= +

(2.67)

Os valores de lof e vof são obtidos de uma correlação para o fator de atrito

considerando a velocidade mássica total e o escoamento sendo constituído apenas de

líquido e gás, respectivamente.

• Correlação de Lim-Kim

LIM et al. (2005) formularam uma correlação para perda de carga em escoamentos

adiabáticos baseada em medidas experimentais utilizando os fluidos R134a, R123 e

misturas desses fluidos. A correlação foi originalmente desenvolvida para escoamentos

horizontais, para qualquer padrão de escoamento (escoamento em bolhas, em bolsas,

estratificado e anular) e valores de velocidade mássica baixas (150 kg/m².s < G < 600

kg/m².s). LIM et al. (2005) propõe um novo multiplicador de atrito bifásico, que é

função dos parâmetros de Martinelli (EQ. 2.54), Friedel (EQ. 2.65) e Weber (EQ. 2.66)

e é dado por

2 0,75 0,03 0,15lo A Fr Weφ χ= ⋅ ⋅ ⋅ (2.68)

onde

0,00361,405 GA e−= , para 150 kg/m².s < G < 600 kg/m².s

COLLIER et al. (1994) recomendam a utilização das correlações de Lockhart-

Martinelli, Chisholm e Friedel da maneira mostrada TAB. 2.2.

43

TABELA 2.2 Condições para utilização das correlações

Condições para Utilização da Correlação

Correlação

( ) 1000l vµ µ < Correlação de Friedel

( ) 21000 e 100 /l v G kg m sµ µ > > Correlação de Chisholm

( ) 21000 e 100 /l v G kg m sµ µ > < Correlação de Lockhart-Martinelli FONTE – Adaptado de COLLIER et al.(1994), p. 68

2.4 Considerações finais

Neste capítulo foram apresentados modelos de escoamento monofásico e bifásico.

Verifica-se que ambos modelos resultam em equações análogas para perda de pressão,

mas pode-se notar a extrema complexidade do escoamento bifásico em comparação

como monofásico. A parcela referente ao atrito é estimada, em ambos os casos, através

de correlações empíricas ou semi-empíricas, porém, no escoamento bifásico, além do

atrito com a parede do tubo há ainda o atrito entre as fases, fenômeno de natureza

complexa e difícil de ser mensurado. No escoamento bifásico há uma relação de

dependência entre o título, fração de vazio e razão de deslizamento tornando o cálculo

da parcela referente à aceleração do fluido muito mais complicada. Concluindo o

capítulo foram apresentadas algumas correlações úteis para a estimativa da parcela da

perda de carga referente ao atrito na região de escoamento bifásico.

44 3. O DIÓXIDO DE CARBONO COMO FLUIDO REFRIGERANTE

3.1 Introdução

Aparelhos de refrigeração, ar condicionado e bombas de calor encontram inúmeras

aplicações na sociedade moderna. Os fluidos refrigerantes são parte indispensável ao

funcionamento destes equipamentos e a sua utilização é alvo de debates na comunidade

cientifica uma vez que quase a totalidade destas substâncias é nociva ao meio ambiente.

A utilização de fluidos menos agressivos ao meio ambiente vem aumentando nas

últimas décadas devido à importância que a questão ambiental vem adquirindo frente ao

grande impacto que o desenvolvimento tecnológico da sociedade está causando ao

nosso planeta. Com isso, vários estudos estão sendo feitos com o intuito de substituir os

fluidos utilizados atualmente, que são nocivos ao meio ambiente, por fluidos

refrigerantes naturais e que possuem pouco impacto ambiental. O dióxido de carbono ou

R744 é o mais indicado para diversas aplicações de pequeno porte como ar

condicionado automotivo e residencial, refrigeradores compactos e bombas de calor

para aquecimento de água. Também tem grande potencial de aplicação em

equipamentos de médio e grande porte no comercio e indústrias em sistemas com ciclo

transcríticos e em sistemas em cascata operando conjuntamente com a amônia, outro

fluido natural.

3.2 Histórico

A refrigeração utilizando fluidos refrigerantes teve seu início em 1834 quando Jacob

Perkins patenteou o que se considera como o primeiro sistema de refrigeração operando

com ciclo de compressão de vapor que utilizava o éter como fluido refrigerante. No

inicio do século, os refrigerantes utilizados eram inflamáveis e/ou tóxicos, limitando a

aplicação dos sistemas de refrigeração às indústrias. A utilização comercial da

refrigeração ainda era pequena, pois havia problema de vazamentos que tornavam tais

sistemas impróprios para uso comercial e doméstico em larga escala. Com o

aperfeiçoamento dos compressores herméticos e da selagem mecânica das tubulações

45 houve um incremento na utilização de sistemas de refrigeração para fins domésticos e

comerciais, porém ainda utilizavam-se fluidos inflamáveis e instáveis como o dióxido

de enxofre, cloreto de metila, propano, isobutano e amônia.

No final do século 19, os sistemas de compressão de vapor começaram a se tornar mais

populares que os sistemas de absorção. Em instalações em terra, a eficiência do sistema

começou a ser o fator mais importante na escolha de determinado tipo de planta de

refrigeração. Segundo PEARSON (2005), ciclos a ar necessitavam 8-10 vezes mais

carvão que sistemas que utilizavam amônia, e sistemas de absorção utilizavam 60%

mais combustível do que sistemas de compressão de vapor. Desse modo, a amônia se

tornou o principal refrigerante utilizado neste período em plantas de refrigeração em

terra, e os sistemas de compressão de vapor se tornaram os mais utilizados. Contudo,

em sistemas embarcados em navios, a utilização da amônia era evitada devido a sua

toxicidade sendo substituída pelo dióxido de carbono, que permitia uma utilização

muito segura por ser atóxico e não inflamável. Além disso, os compressores que

operavam com este fluido eram muito mais compactos que os que operavam com a

amônia, porém mais difíceis de construir devido às altas pressões envolvidas no

processo. Os sistemas de ciclo aberto a ar utilizados anteriormente em navios eram

menos confiáveis e eficientes que os sistemas fechados que usavam o dióxido de

carbono. Com isso, o R744 se tornou o fluido refrigerante mais popular para utilização

em sistemas de refrigeração de grande porte em navios, onde fatores como segurança e

espaço eram essenciais.

Devido às suas características, o uso do R744 como fluido refrigerante ficou restrito a

sistemas de navios. De acordo com PEARSON (2005), nesta época, a rejeição de calor

do condensador nestes sistemas era feita para a água do rio ou mar, e desse modo, em

climas temperados como da Grã-Bretanha e norte dos EUA era possível tais sistemas

operarem na região subcrítica de acordo com o ciclo Rankine convencional. No entanto,

em águas tropicais, onde a temperatura de condensação era mais elevada, a eficiência

destes ciclos ficava muito reduzida devido à diminuição significativa do calor latente

próximo ao ponto crítico. Além disso, o desenvolvimento dos métodos de soldagem, a

utilização de motores elétricos ao invés de motores a vapor e o advento de compressores

mais compactos para amônia fizeram com que este fluido começasse a se popularizar

46 também em sistemas embarcados, antes supridos com os sistemas de dióxido de

carbono. Segundo PEARSON (2005), os sistemas que utilizavam amônia eram mais

eficientes e tinham bom rendimento em condições tropicais.

Ainda segundo PEARSON (2005), no inicio da década de 30 o dióxido de carbono,

quase completamente abandonado em detrimento da amônia, aparece em alguns

sistemas híbridos que o utilizavam no estágio de baixa pressão e um pequeno sistema de

amônia para prover a refrigeração necessária para condensar o dióxido de carbono a

temperaturas e pressões moderadas. Este tipo de sistema tinha como função minimizar o

perigo de grandes instalações de amônia. Porém, os sistemas híbridos não se

consolidaram na indústria da época que já aceitara os riscos inerentes de grandes plantas

operacionais que utilizavam a amônia como fluido refrigerante e não via vantagem em

instalar caros trocadores de calor em cascatas necessários para o funcionamento das

plantas híbridas.

Ainda no inicio da década de 30 houve o grande salto tecnológico com a descoberta e

fabricação dos clorofluorcarbonetos (CFCs), composto obtidos a partir da halogenação

do metano e etano. Em 1931, teve inicio a produção comercial do CFC 12 (CCl2F2)

seguido do CFC 11 (CCl3F). Posteriormente foi desenvolvido o HCFC 22 (CHClF2),

um fluido atóxico, não inflamável e com boas propriedades termodinâmicas e

mecânicas. O HCFC 22 faz parte do grupo dos hidroclorofluorcarbonetos (HCFCs),

haloalcanos em que nem todos os átomos de hidrogênio foram substituídos por

halogênios. Os CFCs e HCFCs possuíam a eficiência e flexibilidade da amônia com a

segurança e confiabilidade do dióxido de carbono. Com isso, os fluidos halocarbônicos

dominaram o mercado de refrigerantes em aplicações industriais, comerciais e

residenciais até o inicio da década de 70.

Em 1973, Sherwood Roland e Mario J. Molina, dois pesquisadores da Universidade da

Califórnia, formularam a hipótese de que emissões atmosféricas de compostos

halocarbônicos clorados provocavam a destruição da camada de ozônio existente na

extratosfera terrestre, um filtro natural que protege o planeta de níveis indesejáveis de

radiação ultravioleta proveniente do Sol. Em 1985, foi observada a ocorrência de um

47 buraco na camada de ozônio sobre a Antártida, confirmando a hipótese de Roland e

Molina.

Os CFCs produzem uma reação catalítica cíclica com o ozônio presente na extratosfera

degradando-o. Os compostos halocarbônicos clorados reagem com a energia ultravioleta

proveniente do Sol perdendo os átomos de cloro. Estes radicais de cloro quebram a

ligação da molécula de ozônio criando monóxido de cloro e oxigênio diatômico que é

liberado na atmosfera. Radicais de oxigênio presentes na atmosfera reagem com o

monóxido de cloro quebrando sua ligação e formando oxigênio diatômico e liberando o

radical de cloro que irá reagir novamente com outra molécula de ozônio. Assim, a

reação é cíclica e um único radical de cloro é responsável pela destruição de inúmeras

moléculas de ozônio.

No inicio da década de 90 começou-se a discutir o aquecimento global, ou seja, o

aumento da temperatura da Terra devido ao balanço energético entre a radiação solar

incidente e o calor irradiado de volta para o espaço na faixa do infravermelho. Os

refrigerantes fluorados possuem participação direta no aquecimento global, pois

absorvem a radiação infravermelha intensificando-o.

Com as novas informações sobre impactos ambientais causados pelos fluidos

refrigerantes, a escolha destes se tornou não apenas uma busca por propriedades

adequadas de flamabilidade, toxicidade, estabilidade e desempenho energético, mas

também de índices de impacto ambiental aceitáveis. Estes índices foram criados a fim

de quantificar quão nocivo ao ambiente é determinado refrigerante. São eles:

• ODP (Ozone Depletion Potencial): Índice usado para medir o grau de degradação à

camada de ozônio determinado refrigerante possui. Foi adotado como base o ODP

do CFC 11, refrigerante mais deletério à camada de ozônio, cujo ODP foi postulado

igual a 1.

• GWP (Global Warming Potencial): Índice usado para quantificar o potencial do

refrigerante como gás do efeito estufa, relativo ao efeito de aquecimento de uma

massa similar de dióxido de carbono (CO2) por um período de 100 anos.

48

• TEWI (Total Equivalent Warming Impact): Índice que reflete o potencial para o

aquecimento global não apenas devido à emissão do fluido refrigerante, mas

também, devido às eficiências associadas a geração e uso da energia necessária a

operação de sistemas de refrigeração e climatização.

Em 1985 realizou-se a Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio, um

acordo ambiental multilateral, que atuava como estrutura para os esforços internacionais

para proteger a camada de ozônio, porém não incluía objetivos de redução legais para o

uso de CFCs e HCFCs, principais agentes degradantes do ozônio. As metas para

redução do uso dos CFCs e HCFCs só foram instituídas com o Protocolo de Montreal,

em 1987 (entrou em vigor a partir de 1989), quando vários paises se comprometeram a

substituir as substâncias nocivas, principalmente o CFC 11 e CFC 12, por refrigerantes

menos agressivos ao meio ambiente. Foram traçadas metas de redução e paralisação da

fabricação e consumo de CFCs até 2010. Os HCFCs, substitutos imediatos aos CFCs,

foram permitidos, com lenta redução na fabricação e consumo até 2040.

Em 1997 foi assinado o Protocolo de Kyoto que visava à redução de emissão dos gases

do efeito estufa. Assim, a pressão pela redução de HCFCs e HCFs, halocarbônicos

fluorados que possuem grande impacto no aquecimento global aumentou muito. A

TAB. 3.1 mostra índices de impacto ambiental para vários fluidos refrigerantes. Pode-se

observar que os fluidos naturais (Dióxido de carbono e Amônia) possuem um

baixíssimo impacto ambiental, ou seja, a contribuição destes refrigerantes para a

destruição da camada de ozônio e aquecimento global é desprezível. Por outro lado, os

CFCs são altamente nocivos à camada de ozônio e tem grande contribuição para o

aquecimento global enquanto que os HCFCs e HFC possuem pequeno impacto na

destruição da camada de ozônio, porém tem grande impacto no aquecimento global.

49

TABELA 3.1 Índices de impacto ambiental para diversos fluidos refrigerantes

Denominação Denominação Química GWP (100 anos)

GWP (500 anos)

GWP (1000 anos)

ODP

R-744 Dióxido de Carbono 1 1 1 0 CFC-11 Triclorofluormetano 4600 1600 1125 1 CFC-12 Diclorofluormetano 10600 5200 NA 0,82

HCFC-123 2,2-Dicloro-1,1,1-trifluoretano

120 36 19 0,012

HCFC-141b 1,1-Dicloro-1-fluoretano 700 220 115 0,086 HCFC-22 Clorofluormetano 1900 590 324 0,034 HFC-125 Pentafluormetano 3800 1200 651 5 3,0 x 10−< HFC-134a 1,1,1,2-Tetrafluoretano 1600 500 356 5 1,5 x 10−< HFC-152a 1,1-Difluoretano 190 58 31 0 HFC-227ea 1,1,1,2,3,3,3-

Heptafluorpropano 3800 1300 695 0

HFC-245fa 1,1,1,3,3-Pentafluorpropano

820 NA 189 0

HFC-32 Difluormetano 880 270 174 0 R-717 Amônia <1 NA NA 0

FONTE - Adaptada de PEIXOTO, R. A., 11º Seminário de Comemoração do Dia Internacional de Proteção da Camada de Ozônio, Centro Universitário Instituto Mauá de Tecnologia, 2006.

Dessa forma, inúmeras ações e pesquisas estão em curso com intuito de substituir os

antigos refrigerantes sintéticos por fluidos refrigerantes naturais, principalmente o

dióxido de carbono (CO2), amônia e os hidrocarbonetos (HCs).

3.3 Características do dióxido de carbono

O dióxido de carbono (CO2) ou R744 é um gás a temperatura e pressão ambiente que

está envolvido em inúmeros processos naturais como combustão, respiração e

fotossíntese. Possui pressão crítica de 73,8 bar, temperatura crítica de 31,1 ºC e ponto

triplo cuja temperatura é -56,6 ºC e pressão 5,2 bar conforme FIG. 3.1.

50

FIGURA 3.1 – Diagrama de fases do CO2 FONTE - Adaptado de LADEIRA, H. M. S., FILHO, E. P. B. – Estudo do dióxido de carbono, CO2, operando como fluido refrigerante em sistemas de refrigeração. 15º POSMEC, Universidade Federal de Uberlândia – 2005

Para utilização como fluido frigorífico apresenta como grandes vantagens o fato de ser

atóxico, não inflamável, apresentar ODP = 0, GWP = 1, excelentes propriedades

termofísicas e de transferência de calor, baixa razão de pressão e alta capacidade

volumétrica, além de ser muito mais barato em comparação com outros fluidos, uma

vez que é resíduo em muitos processos industriais. Na FIG. 3.2 é mostrada uma

comparação entre o processo de compressão do vapor de R134a e o R744. Pode-se

observar que o dióxido de carbono possui baixa razão de pressão (π = 3,1) em

comparação com o R134a (π = 5,0) o que eleva sua eficiência, pois a eficiência

volumétrica de uma compressor é dada por

( )1v

p

ccc cη π= + − ⋅ (3.1)

onde cond evapP Pπ = é a razão entre a pressão de condensação e a pressão de

evaporação, c é a taxa de espaço morto (razão entre o volume da câmara de compressão

e a cilindrado do compressor) e vc e pc são os calores específicos a volume e pressão

constantes, respectivamente.

51

FIGURA 3.2 – Comparação entre os processos de compressão do R134a e R744 FONTE - Adaptada de PETTERSEN, J., Refrigerant R-744 Fundamentals - Norwegian University of Science Technology (NTNU) SINTEF Research – Trondheim – Norway, 2002

A maior desvantagem do CO2 é o baixo COP obtido quando operado em ciclos de

refrigeração à alta temperatura ambiente. Essa desvantagem pode ser contornada

utilizando-o em equipamentos com ciclos em cascata, onde o R744 é operado no ciclo

de baixa temperatura e outro fluido opera no ciclo de alta temperatura ou fazendo o

fluido operar em ciclos transcríticos, neste caso, porém, surgem problemas técnicos e

aumento de custos em equipamentos devido às grandes pressões exigidas para a

operação. A FIG. 3.3 mostra um comparativo entre o ciclo subcrítico do R134a e o ciclo

trascrítico do R744 onde se pode observar a diferença das pressões exigidas em cada

ciclo, sendo no caso do R744 exigidas pressões muito maiores que para o R134a.

52

FIGURA 3.3 – Comparação entre o ciclo transcritico do R744 com o ciclo subcrítico do R134a FONTE - Adaptado de LADEIRA, H. M. S., FILHO, E. P. B. – Estudo do dióxido de carbono, CO2, operando como fluido refrigerante em sistemas de refrigeração. 15º POSMEC, Universidade Federal de Uberlândia – 2005

Em bombas de calor que operam com ciclos transcríticos, não há relação funcional entre

a pressão e temperatura no resfriador de gás, diferentemente dos ciclos subcríticos onde,

no condensador, a pressão é fixada pela temperatura de condensação, que é uma função

do tamanho do condensador e da temperatura e vazão do fluido secundário. Nesses

sistemas, a pressão deve ser fixada por um dispositivo de controle para que o ciclo opere

com a eficiência máxima.

53

FIGURA 3.4a – Calor absorvido da fonte fria e trabalho do compressor representados no ciclo transcrítico. FONTE - Adaptado de BENSAFI, A., THONON, B., Transcritical R744 (CO2) heat pumps – Technican´s Manual – Centre Technique des Industries Aérauliques et Thermiques – 2007

FIGURA 3.4b – Variação da performance da bomba de calor com a pressão de descarga do compressor. FONTE - Adaptado de NEKSA et al. (1998)

Conforme ilustrado na FIG. 3.4a, um sistema cujo resfriador de gás opera a um

determinado valor de pressão, retirando da fonte fria uma quantidade de calor Q através

do evaporador através do trabalho W, fornece um calor para a fonte quente de Q + W.

Nessas condições, a temperatura do fluido na saída do resfriador de gás é T. Se o

sistema operar com o resfriador de gás a uma diferente pressão, mas à mesma

temperatura T, que é definida pelas condições operacionais a que a bomba de calor está

sujeita, ambos os valores, Q e W, vão variar e alterar o valor do COP. Essa variação é

mostrada na FIG. 3.4b, onde se pode observar a existência de um valor ótimo de

pressão, para a qual o COP é máximo. Segundo NEKSA et al. (1998), a variação do

COP em torno do ponto ótimo é suave e o quão suave esta variação será depende das

condições de operação, da forma da curva de eficiência isentrópica do compressor e do

comprimento do trocador de calor interno, caso este exista no circuito.

De acordo com o exposto, conclui-se que o dispositivo de expansão se torna de extrema

importância ao funcionamento satisfatório de bombas de calor operando em ciclos

transcríticos, onde são utilizados aparatos que permitem o controle da pressão do

resfriador a gás durante a operação do sistema. De acordo com AGRAWAL et al.

(2008a), a maioria dos estudos realizados com este tipo de ciclo trata de válvulas de

controle como dispositivos de expansão. Ainda segundo AGRAWAL et al. (2008a), um

54 estudo recente (CASSON et al. 2003) propôs um sistemas de estrangulamento que

consistia em uma válvula diferencial, um separador e uma válvula de expansão

termostática para otimizar a pressão de alta assim como controlar o superaquecimento; e

outro estudo (SARKAR et al. 2006) apresentou uma simulação de bomba de calor

transcrítica de CO2 operando com uma válvula de estrangulamento controlável como

dispositivo de expansão, considerando o processo de expansão isoentálpico.

Apesar de muito mais simples, o tubo capilar vem sendo estudado para aplicações em

bombas de calor transcríticas. Porém, a utilização deste dispositivo de expansão requer

cuidados, pois suas características dimensionais devem ser muito bem dimensionadas a

fim de permitir o sistema operar próximo ao COP máximo. No dimensionamento de um

tubo capilar deve-se levar em consideração o seu diâmetro, rugosidade interna,

comprimento e a razão entre a área do resfriador de gás e a área do evaporador. A FIG.

3.5 mostra a variação do COP e da pressão de operação do resfriador de gás para uma

determinada bomba de calor.

FIGURA 3.5 – Variação do COP com a pressão de operação do resfriador de gás e comprimento do tubo capilar para D = 1,5 mm, ε = 0,0015 mm e razão de área =1,5. FONTE - Adaptado de AGRAWAL et al. (2008a)

No estudo de AGRAWAL et al. (2008a) foi realizado uma comparativo entre válvulas

de expansão controláveis e tubos capilares em bombas de calor transcríticas operando

com R744. Neste estudo foi utilizado um modelo matemático da bomba de calor e

55 inúmeras simulações foram feitas a fim de caracterizar a utilização de tubos capilares

nestes sistemas e compará-la com o uso de válvulas de expansão controláveis.

Ao contrário dos sistemas baseados na utilização de válvulas de estrangulamento

controláveis, a pressão de operação do resfriador de gás não é uma variável

independente nos sistemas baseados na utilização do tubo capilar, quando seu

comprimento é especificado. Segundo os autores, o comportamento do sistema com

tubo capilar sujeito a variação da temperatura ambiente mostrou que estes sistemas são

tão bons como os sistemas que utilizam a válvula de expansão controlável.

AGRAWAL et al. (2008a) concluem que a performance dos sistemas é um pouco

melhor com a utilização de tubo capilar quando a temperatura de saída do resfriador de

gás é alta. Além disso, no estudo se concluiu que o tubo capilar é um dispositivo de

expansão efetivo para utilização em bombas de calor transcríticas operando com CO2,

onde o sistema está apto a operar com a pressão de alta próxima a pressão ótima,

mesmo sujeito a pequenas variações de condições ambientais.

3.4 Considerações finais

Este capítulo inicia com um histórico da utilização do dióxido de carbono como fluido

refrigerante de máquinas frigoríficas. Mostrou-se que o dióxido de carbono foi

amplamente utilizado como refrigerante em máquinas frigoríficas de navios até a

década de 20 do século passado. Perdeu seu posto para os fluidos sintéticos, que

apresentavam características mais atrativas e, hoje, sua utilização volta a ser discutida

devido ao grande apelo pelo uso de fluidos naturais que não agridam a camada de

ozônio e não promovam o aquecimento global. É mostrado que o dióxido de carbono

apresenta como grandes vantagens o fato de ser atóxico, não inflamável, apresentar

ODP = 0, GWP = 1, excelentes propriedades termofísicas e de transferência de calor,

baixa razão de pressão e alta capacidade volumétrica, além de ser muito mais barato em

comparação com outros fluidos. Mostra-se a necessidade de se utilizar o ciclo

transcrítico devido a sua baixa temperatura crítica e as peculiaridades deste tipo de ciclo

de compressão de vapor, onde pressão e temperatura são parâmetros independentes no

56 resfriador de gás e, portanto, esse tipo de dispositivo apresenta uma pressão de alta

ótima que maximiza o COP. Por último, são apresentados estudos que mostraram que a

utilização de tubos capilares como dispositivos de expansão em bombas de calor

operando com o dióxido de carbono permite ao sistema operar de forma otimizada,

mesmo sujeita a variações de condições ambientais não muito grandes.

57

4. MODELO MATEMÁTICO DE ESCOAMENTO EM TUBO

CAPILAR

4.1 Introdução

A inexistência de uma pressão de condensação em bombas de calor com ciclo

transcrítico operando com R744 e a existência de uma pressão ótima de operação

aumenta a necessidade de um bom projeto de dispositivo de expansão para que o

sistema opere com máximo COP. O tubo capilar é um dispositivo de expansão

adequado para este tipo de equipamento, pois ele é de fácil construção e manutenção,

possui baixo custo e, se bem dimensionado, permite que a bomba de calor opere

próximo ao COP máximo mesmo com pequenas variações das condições ambientais.

Assim, a elaboração de um modelo matemático que permita o correto dimensionamento

deste dispositivo será de grande utilidade, auxiliando no projeto de bombas de calor

operando com R744, sistemas cuja utilização pela sociedade será mais comum devido

ao apelo mundial pelo uso de fluidos refrigerantes naturais.

4.2 Hipóteses do modelo

O modelo matemático desenvolvido é baseado em algumas hipóteses que simplificam

as equações básicas de conservação da massa, energia e quantidade de movimento,

facilitando sua implementação computacional.

• Escoamento unidimensional

O escoamento será considerado unidimensional, ou seja, apenas a velocidade axial do

escoamento será considerada.

• Tubo Reto, Horizontal, com diâmetro e rugosidade constantes

58 Não serão consideradas variações da energia potencial gravitacional nem variações de

pressão no escoamento causadas pela forca da gravidade. Tensões no fluido causadas

por velocidade angulares ao longo do tubo capilar também serão desconsideradas. O

diâmetro interno e a rugosidade interna serão considerados constantes.

• Escoamento em Regime Permanente Variações na vazão de fluido refrigerante em equipamentos de refrigeração e bombas de

calor operando em regime permanente são causadas por mudanças na carga térmica.

Como variações de carga térmica ocorrem em intervalos de tempo longos, o escoamento

no tubo capilar pode ser considerado em regime permanente.

• Processo de Expansão Adiabática

O tubo capilar é um tubo de pequeno diâmetro e, portanto, tem pequena área de troca de

calor. O processo de expansão ocorre com extrema rapidez, sendo pequeno o intervalo

de tempo para a troca de calor com o ambiente. Além disso, no início do processo de

expansão, o fluido está a uma temperatura superior à temperatura ambiente enquanto

que no final do processo o fluido está a uma temperatura inferior à temperatura

ambiente. Devido a estes fatos, a condução axial e radial, a convecção e radiação ao

longo das paredes do tubo capilar são desprezíveis, ou seja, o processo de expansão

pode ser considerado adiabático.

• Processo de expansão ocorre em equilíbrio termodinâmico

O modelo não permite determinar a ocorrência e localização de regiões de

metaestabilidade, ou seja, regiões de atraso na evaporação do fluido refrigerante. Sendo

assim, este tipo de desequilíbrio termodinâmico não será considerado nos cálculos.

• Fluido refrigerante considerado puro

Em sistemas de refrigeração e bombas de calor é comum a contaminação do fluido

refrigerante por certa quantidade de óleo lubrificante do compressor. Isso será

59 desconsiderado no modelo assim como quaisquer outras contaminações do refrigerante,

como, por exemplo, ar e umidade.

4.3 Equações do modelo

Aplicando as considerações do modelo às equações de conservação de massa, energia e

quantidade de movimento, EQ. 1.7, EQ.1.9 e EQ.1.10, respectivamente, a cada volume

de controle obtém-se:

• Equação da Conservação da Massa

Para um escoamento em regime permanente unidimensional, a EQ. 1.7 fica:

( )0

d w

dz

ρ= (4.1)

e como a área do tubo é constante tem-se:

0 0

A wd

dGAdz dz

ρ = ⇔ = (4.2)

onde G m A= & é a velocidade mássica e m wAρ=& é a vazão mássica do fluido.

• Equação da Conservação da Energia

Para um escoamento unidimensional, em regime permanente, adiabático e

desconsiderando variações da energia potencial gravitacional, a EQ. 1.9 se torna:

( ) ( ) ( ) ( )0 0 0saida entradaSC SC

U p wdA h w dA h wA h wAυ ρ ρ ρ ρ+ = ⇔ = ⇔ − =∫ ∫ (4.3)

60 onde h U pυ= + é a entalpia do fluido frigorífico. Combinando a EQ. 4.3 com a EQ.

4.2 obtém-se,

( ) ( ) 0saida entrada

h h− = (4.4)

ou

0dh

dz= (4.5)

• Equação da Quantidade de Movimento

A perda de pressão é dada pela EQ. 2.9 em um escoamento monofásico em regime

permanente, unidimensional em um tubo reto inclinado de seção constante. Em

escoamentos de líquidos, como o que ocorre no início de um tubo capilar para ciclos

subcríticos, o fluido pode ser considerado incompressível para fins práticos. Desse

modo, a densidade ou volume específico é constante, ou seja, 0d dzυ = e o terceiro

termo do lado direito da EQ. 2.9 é nulo. Porém, em um escoamento transcrítico, onde a

variação do volume específico do fluido próximo ao ponto crítico é grande, o termo

referente à aceleração do fluido não deve ser desconsiderada e será mantida no cálculo.

O termo referente à contribuição da inclinação é nulo devido ao tubo ser considerado

horizontal. Com isso, no modelo matemático somente são considerados efeitos de atrito

e aceleração, ou seja, apenas o terceiro termo do lado direito da EQ. 2.9 é desprezado

nos cálculos, assim

2

atrito

dp dp dG

dz dz dz

υ = − −

(4.6)

A perda de pressão referente ao atrito pode ser expressa pela seguinte equação,

2

2atrito

dp f G

dz D

υ − = −

(4.7)

61

onde D é o diâmetro interno do tubo capilar e f é um fator de atrito obtido através de

correlações empíricas ou semi-empíricas.

Para a fase de escoamento monofásico, será utilizada a correlação de Churchill

(CHURCHILL, 1977) dada pela EQ. 2.13. Para a região de escoamento bifásico,

novamente desprezando a inclinação do tubo, a EQ. 2.41 fica

( )222 1

1lv

atrito

xxdp dp dG

dz dz dz

υυα α

− ⋅⋅ = − − + − (4.8)

No cálculo da parte bifásica, será utilizado o modelo de fases separadas. Este modelo

será usado, pois, de acordo com AGRAWAL et al. (2008) e GOMES (2003), a

utilização do modelo de fases separadas leva a um melhor resultado. Desse modo, para

este modelo será utilizado a correlação de Lockhart-Martinelli, cujo processo de cálculo

é descrito no item 2.3.2. A escolha desta correlação se deve a bons resultados obtidos

com simulação do tubo capilar operando com R134a apresentado no trabalho de

GOMES (2003).

O fluido perde pressão ao entrar e sair do tubo capilar. Existem algumas correlações e

expressões para o cálculo destas variações de pressão. Na entrada do tubo capilar, onde

o fluido ainda está em regime monofásico, a perda de pressão é calculada de acordo

com IDELCHIK (1960)

20,75eP Gυ∆ = (4.9)

Na saída do tubo capilar, o escoamento é bifásico, e a expressão utilizada para o cálculo

da perda de pressão é dada por COLLIER et al. (1994) , a saber,

2 (1 ) 1 lvs l

l

xP G

υυ ξ ξυ

∆ = − +

(4.10)

62 onde lvυ é o volume específico do líquido menos vapor e σ é dado por

TC

evap

A

Aξ = (4.11)

onde TCA e evapA são as áreas transversais do tubo capilar e evaporador,

respectivamente.

O fluido que expande através do tubo capilar passando por quatro diferentes regiões de

estado. O R744 inicia o percusso pelo tubo capilar como um fluido supercrítico, onde

sua temperatura e pressão são superiores à temperatura e pressão críticas,

respectivamente. Com a posterior queda de temperatura e pressão, o fluido passa para o

estado de fluido transcrítico, onde sua temperatura está abaixo da temperatura crítica,

porém a pressão é superior à pressão crítica. Após essa região, o fluido passa, devido a

constante queda de pressão no decorrer do escoamento, à região de fluido subresfriado,

onde a pressão e temperatura estão abaixo da pressão e temperatura críticas,

respectivamente, mas a temperatura do fluido é maior que a temperatura de saturação

correspondente à pressão que o fluido está. Com a sucessiva perda de pressão, a

temperatura do fluido se iguala à temperatura de saturação correspondente à pressão que

o fluido, e este entra na região de fluido bifásico, a quarta e última região de estado do

fluido. Isso é mostrado na FIG. 4.1a e FIG. 4.2b, que contém um paralelo explicitando

as regiões de estado do fluido ao longo do comprimento do tubo capilar e no diagrama p

x h.

63

FIGURA 4.1a – Regiões de estado do R744 ao longo do tubo capilar FONTE - Adaptado de DA SILVA et al. (2009)

FIGURA 4.1b – Regiões de estado do R744 ao longo do diagrama p x h. FONTE - Adaptado de DA SILVA et al. (2009)

O modelo foi desenvolvido no programa EES – Engeenering Equation Solver, cujos

cálculos das propriedades do fluido R744 estão inbutidas no próprio software,

facilitando a elaboração do modelo, limitando os erros decorrentes de ajuste de curvas

para cálculos das propriedades termodinâmicas.

A estrutura do algoritmo de solução do modelo segue a seguinte lógica: A pressão de

entrada é corrigida com a equação da perda de pressão de entrada do fluido no tubo

capilar. Com isso, a queda de pressão total no tubo capilar é calculada através da

diferença entre a pressão de entrada corrigida no tubo capilar e a pressão de evaporador

que é, posteriormente, dividida em vários seguimentos de igual valor. A vazão mássica

é estimada e, com auxílio das equações e correlações, as variações de comprimento são

calculadas (em função da queda de pressão) para todos os seguimentos de variação de

pressão. Por último é calculado a variação de comprimento relativa à queda de pressão

resultante da saída do fluido do tubo capilar. Após esses cálculos, todas as variações de

comprimento calculadas são somadas e comparadas com o comprimento real do tubo

capilar (um dos dados de entrada do modelo). Caso os valores sejam próximos a ponto

de satisfazer uma condição arbitrária, finaliza-se o cálculo, caso contrário, o valor da

vazão mássica é corrigido e o cálculo é repetido até que a condição imposta seja

satisfeita. A convergência do algoritmo de solução do modelo utiliza o método de

Newton-Raphson para corrigir a vazão mássica estimada até que o critério de

convergência seja atingido.

64 A partir da elaboração das hipóteses simplificadoras do modelo, definem-se as variáveis

de entrada e saída. Desse modo, estruturam-se todas as equações necessárias e variáveis

de modo que uma lógica de cálculo permita obter as variáveis de saída a partir das

variáveis de entrada. A estrutura lógica do algoritmo de solução do modelo matemático

é mostrada através de um fluxograma na FIG 4.2.

65

FIGURA 4.2 – Fluxograma do modelo matemático

66 4.4 Validação do modelo matemático

O modelo matemático formulado será validado por através de dois trabalhos que

possuem dados experimentais de equipamentos que simulam o funcionamento de

bombas de calor. No primeiro trabalho, GOMES (2003), há medições experimentais de

vazão do fluido R134a em um aparato que simula o funcionamento de uma bomba de

calor subcrítica em regime permanente. O modelo matemático será validado através

destes pontos fazendo pequenas alterações no modelo para que as propriedades

calculadas sejam do R134a. Desse modo será possível verificar se o modelo também

funciona para outros fluidos e para o regime subcrítico.

No segundo trabalho, DA SILVA et. al. (2009), há um conjunto de medidas obtidos

com um aparato experimental que reproduz um ciclo de refrigeração transcrítico de

R744. A validação do modelo será feita as medidas obtidas durante a operação do

aparato em regime permanente, utilizando tubos capilares de vários diâmetros e

comprimento de 4 metros.Os dados experimentais dos trabalhos de GOMES (2003) e

DA SILVA et al. (2009) são mostrados na TAB. 4.1 e na tabela da FIG. 4.3 ,

respectivamente.

Tabela 4.1 – Dados experimentais do trabalho de GOMES (2003) DADOS TESTE 01 TESTE 02

Diâmetro do Tubo Capilar (mm) 1,08 1,08

Comprimento do Tubo Capilar (cm) 58 58

Temperatura de Condensação (ºC) 38 48

Temperatura de Evaporação (ºC) -3 1,6

Grau de Sub-resfriamento (ºC) 14 20

Vazão Mássica Medida (kg/h) 24,2 0,6± 28,0 0,6±

67

FIGURA 4.3 – Dados experimentais do trabalho de DA SILVA et al. (2009) onde L = comprimento do TC; D = diâmetro do TC; Pe = pressão de operação do resfriado de gás; Te = temperatura de saída do resfriador de gás; Pev = pressão do evaporador; e Mexp = vazão mássica medida. FONTE - Adaptado de DA SILVA et al. (2009)

Nas simulações a rugosidade interna dos tubos capilares foi ajustada a fim de se adequar

às medidas experimentais realizadas. Assim, para a simulação do tubo capilar operando

68 com o fluido R134a em ciclo subcrítico a rugosidade foi ajustada para 5 µm e dois

testes mostrados na TAB. 4.1 foram executados. Os resultados são mostrados no gráfico

da FIG. 4.4 onde se tem no eixo das abscissas o valor medido experimentalmente e no

eixo das ordenadas o valor da vazão obtida com o modelo. A linha sólida central

representa os pontos onde as duas vazões são iguais e as linhas tracejadas onde a

diferença entre as vazões medidas e simuladas é de -10% e +10%.

FIGURA 4.4 – Relação entre os valores de vazão obtidos experimentalmente (GOMES, 2003) e computacionalmente para o tubo capilar a R134a, através do modelo desenvolvido.

Para o tubo capilar operando com CO2, os 35 testes da tabela da FIG. 4.3 foram

realizados com o modelo. Os resultados são mostrados na FIG. 4.5 onde a linha sólida

central representa os pontos onde as duas vazões são iguais e as linhas tracejadas onde a

diferença entre as vazões medidas e simuladas é de -15% e +15%.

69

FIGURA 4.5 – Relação entre os valores de vazão obtidos experimentalmente (DA SILVA et al. 2009) e computacionalmente para o tubo capilar a CO2, através do modelo desenvolvido.

Na FIG. 4.6 temos os resultados os resultados dispostos no mesmo gráfico para cada

diâmetro de tubo capilar.

FIGURA 4.6 – Relação entre os valores de vazão obtidos experimentalmente (DA SILVA et al. 2009) e computacionalmente para o tubo capilar a CO2, através do modelo desenvolvido por diâmetro de tubo capilar.

70

Pode-se observar que o resultado do modelo operando com R134a houve ótima

convergência entre os valores computacionais e experimentais. Devido ao número

pequeno de pontos experimentais a validação do modelo é válida apenas para vazões

próximas àquelas apresentadas nos dados experimentais.

Nas FIG. 4.5 e FIG. 4.6 pode-se observar que houve uma grande dispersão nos valores

obtidos computacionalmente em relação aos pontos experimentais. Para vazões entre 5

kg/h e 10 kg/h e entre 15 kg/h e 20 kg/h houve uma tendência do modelo em subestimar

o valor da vazão enquanto que nas vazões entre 10 kg/h e 15kg/h houve uma grande

dispersão dos valores, não sendo possível visualizar uma tendência nos valores

computacionais. Essa dispersão ocorreu para o tubo capilar de diâmetro maior (D = 0,83

mm). Esses erros podem ter sido resultados de um tubo com rugosidade maior que a

utilizada no modelo ou apenas erros no processo de medição da vazão experimental,

fato que provavelmente ocorreu também com alguns valores que dispersaram muito

para o tubo de diâmetro 0,64 mm, conforme mostrados na FIG. 4.6

4.5 Considerações finais

No presente capítulo o modelo matemático foi proposto e a utilização do modelo de

fases separadas para a modelagem do escoamento bifásico é justificada por alguns

estudos. As diversas hipóteses e simplificações foram utilizadas para simplificar as

equações de transferência e permitir utilizá-las no modelo. O domínio escolhido para a

discretização foi o da pressão a fim de evitar problemas de convergência do método,

problema que ocorre quando o domínio escolhido é do comprimento do tubo capilar. A

utilização da correlação de Lockhart-Martinelli foi influência de modelo semelhante

apresentado e validado experimentalmente para o R134a operando em ciclo subcrítico

(GOMES, 2003). O escoamento monofásico foi modelado com auxilio da correlação

Churchill (CHURCHILL, 1977) O modelo foi validado com medições experimentais

(GOMES, 2003 e DA SILVA et al., 2009) apresentando ótimo resultado para o R134a

apesar do número reduzido de pontos experimentais e um resultado satisfatório para o

71 R744 em uma faixa de vazão de 5 kg/h até 10 kg/h e 10 kg/h até 15 kg/h, apresentando

uma tendência a subestimar os valores de vazão mássica nessas faixas de operação.

72

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Introdução

Neste capítulo serão apresentados os resultados das análises feitas com o modelo

matemático desenvolvido para o R744, utilizando a correlação de Lockhart-Martinelli e

também algumas comparações da bomba de calor operando por ciclo transcrítico com o

R744 e uma bomba de calor operando por ciclo subcrítico com o R134a, simulada

através do modelo apresentado por GOMES (2003).

5.2 Discretização do domínio e teste de malha

O domínio escolhido para a discretização, conforme estrutura do modelo apresentada na

FIG. 4.2, foi a queda de pressão total a que o tubo capilar está submetido. Este domínio

foi escolhido, pois leva a uma convergência mais rápida e otimizada, permitindo que o

modelo funcione de maneira satisfatória. O diferencial de pressão total foi dividido em

pequenas variações de pressão, para determinado ponto de operação, e foram testadas

várias dimensões para esses ∆P, obtidos variando-se o número de divisões da queda de

pressão total. Os resultados são mostrados na FIG. 5.1.

FIGURA 5.1 – Testes de malha para um determinado ponto de operação do modelo matemático

73 Como é mostrado, o resultado da simulação converge a partir de 120 divisões. Desse

modo, nos cálculos e análises será utilizado o número mínimo de 150 divisões para a

correta convergência da solução.

5.3 Simulações e análises

Foi feita uma simulação para comparar o funcionamento de duas bombas de calor, uma

operando com R744 e outra com o R134a. As condições das duas são mostradas no

TAB. 5.1. A situação simula as bombas de calor funcionando para aquecimento de água

para banho a 40 ºC, cujo evaporador está em contato com o ar ambiente a 25 ºC. Assim,

para a bomba de calor operando com R134a, foi utilizada uma temperatura de

evaporação 10ºC abaixo da temperatura ambiente e uma temperatura de condensação 15

ºC acima da temperatura do fluido a ser aquecido. Para o R744 foi utilizada uma

temperatura de saída do resfriador de gás de 40ºC (temperatura igual à temperatura

requerida para o líquido ser aquecido), a temperatura de evaporação igual a 10º abaixo

da temperatura ambiente e uma pressão de operação do resfriador de gás igual a 9500

kPa,

TABELA 5.1 – Condições padrão para análises das bombas de calor operando a R134a e R744. Fluido R134a R744

Temperatura ambiente (ºC) 25 25

Temperatura de evaporação (ºC) 15 15

Temperatura de Condensação (ºC) 55 -

Pressão de Operação do Resfriador de Gás (kPa) - 9500

Temperatura na Saída do Resfriador de Gás (ºC) - 40

Variando-se o diâmetro e comprimento do tubo capilar, obtém-se o gráfico mostrado na

FIG. 5.2.

74

FIGURA 5.2 – Variação da vazão mássica com o comprimento e diâmetro do TC, para o R134a e R744

Pode-se notar, através do gráfico da FIG. 5.2, que a vazão necessária para operar uma

bomba de calor aumenta com o aumento do diâmetro do tubo capilar e com a

diminuição do seu comprimento para os dois fluidos (R134a e R744). Isso ocorre

porque com o aumento do diâmetro o atrito no interior do tubo capilar diminui. Além

disso, com a diminuição do comprimento, diminui-se também o percurso do fluido no

interior do tubo, de forma que é necessária uma maior vazão de fluido para permitir a

mesma queda de pressão. A alteração no diâmetro altera mais significativamente a

vazão do que uma alteração no comprimento. Essa característica é praticamente igual

para os dois fluidos, conforme mostrado na TAB. 5.2.

TABELA 5.2 – Quadro comparativo com percentuais de alteração da vazão mássica com a variação do diâmetro e comprimento do TC para os fluidos R134a e R744

Comprimento do TC (m)

Diâmetro do TC (mm)

Vazão Mássica (kg/h)

Variação Percentual da Vazão Mássica

2 0,5 1,4013 0,5 1,2112 0,5 1,4012 0,75 4,172 0,5 4,2043 0,5 3,3472 0,5 4,2042 0,75 12,57

R13

4aR

744

Diminuição de 13,6 %

Aumento de 197 %

Diminuição de 20 %

Aumento de 199 %

75 O aumento percentual de 50% no diâmetro do tubo capilar produz um aumento na vazão

em aproximadamente 200%, enquanto um aumento de 50% no comprimento do tubo

faz a vazão diminuir em aproximadamente 14% e 20% para o R134a e R744,

respectivamente.

Foram feitas outras simulações variando individualmente os parâmetros: Pressão do

resfriador de gás, temperatura de evaporação e temperatura de saída do resfriador de

gás. O resumo dos testes é mostrado na TAB. 5.3.

TABELA 5.3 – Resumo dos testes realizados com o R744

Parâmetro TESTE 01 TESTE 02 TESTE 03Pressão Resfriador de Gás (kPa) Variando 9500 9500Temperatura Ambiente (C) 25 Variando 25Temperatura Evaporador (C) 15 Variando 15Temperatura Saída do Resfriador de Gás (C) 40 40 variandoDiâmetro do TC (mm) 0,5 0,5 0,5Comprimento do TC (m) 2 2 2

Fluido R744

No primeiro teste, conforme mostrado na FIG. 5.3, a vazão mássica aumenta com o

aumento da pressão de operação do resfriador de gás. Isso ocorre devido ao aumento do

diferencial total de pressão (diferença entre a pressão no início e final do TC). Como o

comprimento do tubo capilar continua o mesmo, para uma queda maior de pressão é

necessária uma maior vazão de fluido. O aumento da vazão ainda é influenciado pelo

fato de o comprimento do tubo capilar percorrido por escoamento bifásico diminuir

percentualmente com o aumento da pressão do resfriador de gás. Como no escoamento

bifásico os coeficientes de atrito são maiores que os do escoamento monofásico, a vazão

tende a aumentar para compensar este fato e garantir a queda de pressão no mesmo

comprimento de tubo capilar. Assim, a soma dos dois efeitos, aumento do diferencial

total de pressão e diminuição percentual no comprimento relativo ao escoamento

bifásico, eleva significativamente a vazão mássica com o aumento da pressão de

operação do resfriador de gás.

76

FIGURA 5.3 – Variação da vazão mássica e porcentagem do comprimento do TC percorrido por

escoamento bifásico com a pressão do resfriador de gás

No segundo teste, a vazão apresenta uma leve diminuição com o aumento da

temperatura ambiente e conseqüente aumento da temperatura do evaporador.

FIGURA 5.4 – Variação da vazão mássica com a temperatura ambiente (temperatura do evaporador)

Isso acontece devido à combinação de dois efeitos opostos. Conforme mostrado no

gráfico da FIG. 5.5, há uma diminuição do comprimento percentual do TC percorrido

pelo escoamento bifásico. Porém, em contrapartida, há diminuição do diferencial total

de pressão no tubo capilar. Como o primeiro efeito tende a aumentar a vazão, e o

77 segundo tende a diminuí-la, os efeitos se combinam de forma a amortecer o efeito de

cada um sobre a vazão mássica. Dessa forma, a variação desta grandeza é minimizada.

FIGURA 5.5 – Variação da porcentagem do comprimento do TC percorrido por escoamento bifásico e porcentagem de diminuição da queda total de pressão no TC com temperatura ambiente (temperatura do evaporador)

No terceiro teste, conforme gráfico da FIG. 5.6, a vazão diminui com o aumento da

temperatura de entrada do tubo capilar (temperatura de saída do resfriador de gás). Isso

ocorre devido ao aumento percentual do comprimento do tubo capilar percorrido pela

mistura bifásica. Como o atrito é maior no caso de escoamentos bifásicos, é necessária

uma menor vazão para permitir a mesma queda de pressão.

78

FIGURA 5.6 – Variação da vazão mássica e porcentagem do comprimento do TC percorrido por escoamento bifásico com a temperatura de saída do resfriador de gás.

De acordo com resultados apresentados por GOMES (2003), o R744 tem

comportamento análogo ao R134a no que diz respeito a variações de vazão mássica

com a variação da temperatura ambiente (temperatura de evaporação). Fazendo uma

analogia entre a pressão de operação do resfriador de gás e pressão de condensação, os

dois fluidos também possuem comportamento análogo. O mesmo comportamento

análogo para os dois fluidos é observado se for feita uma analogia entre variação da

temperatura de saída do resfriador de gás e grau de sub-resfriamento.

O resultados do trabalho de GOMES (2003) com o tubo capilar operando com R134a

são mostrados nas TAB. 5.4.

79

TABELA 5.4 – Resumo dos resultados de GOMES (2003) com o tubo capilar operando com R134a.

Pressão de Condensação (kPa) Vazão Mássica (kg/h)1017 17,41319 19,71683 22,1

Temperatura de Evaporação (C) Vazão Mássica (kg/h)-10 17,500 17,2510 16,80

Grau de Sub-resfriamento (C) Vazão Mássica (kg/h)0 14,510 18,4

R134aVariação da Pressão de Condensação

Variação da Temperatura de Evaporação

Variação do Grau de Sub-resfriamento

Comparando estes resultados com os resultados obtidos com o tubo capilar operando

com R744 em ciclo transcrítico, compilados na TAB. 5.5, pode-se observar que as

alterações que ocorrem na vazão mássica das bombas de calor operadas com o R134a

(subcrítica) e R744 (transcrítica) são muito semelhantes em relação à variação dos

parâmetros de operação dos equipamentos. De maneira geral as alterações dos

parâmetros de operação das bombas de calor provocam maiores alterações na vazão de

bombas de calor a R744 Isso ocorre principalmente, conforme TAB. 5.5, quando se

altera a pressão de operação do resfriador de gás, fato que promove uma mudança na

vazão muito mais expressiva na bomba de calor a R744 do que a mudança na pressão de

condensação em uma bomba de calor a R134a.

80

TABELA 5.5 – Resumo dos resultados obtidos com o R744 e com o R134a (GOMES, 2003)

Fluido Refrigerante Causa Efeito

R134aAumento de 29% na pressão de condensação

Elevação da vazão em 13%

R744Aumento de 10% na pressão de operação do resfriador de gás Elevação da vazão em 23%

R134aAumento de 10 ºC na temperatura de evaporação Redução da vazão em 2,6%

R744Aumento de 10 ºC na temperatura de evaporação Redução da vazão em 3,3%

R134aAumento de 10ºC no sub-resfriamento

Elevação da vazão em 27%

R744Redução de 10ºC na temperatura de saída do resfriador de gáspressão de condensação Elevação da vazão em 34%

5.4 Considerações finais

Os resultados obtidos neste capitulo mostram que o as variações que ocorrem na vazão

de fluido em tubos capilares com R134a e R744 quando se alteram os parâmetros

construtivos do mesmo ou as condições de operação da bomba de calor são muito

semelhantes, porém são sentidos de forma mais extrema nas bombas de calor a R744.

Dessa forma, o correto dimensionamento do tubo capilar nestes equipamentos é ainda

mais crítico. Os resultados obtidos neste capítulo são úteis para auxiliar o projeto do

controle do grau de superaquecimento em bombas de calor a R744. Esse tipo de

controle é importante, uma vez que a redução no grau de superaquecimento permite

diminuir o consumo de energia na bomba de calor, cujo coeficiente de performance é

prejudicado pela operação transcrítica do sistema, conforme foi explicado na revisão

bibliográfica deste trabalho.

81

CONCLUSÃO

No último capítulo as simulações para a bomba de calor operando com CO2 operando

em ciclo transcrítico foram feitas através do modelo proposto. Foram também feitas

simulações para uma bomba de calor operando com R134a em ciclo subcrítico através

de modelo análogo ao proposto por GOMES (2003). Verificou que, para condições

semelhantes de operação, as vazões necessárias para a bomba de calor à CO2 são, de

maneira geral, maiores que para a bomba de calor à R134a. Isto ocorre devido a um

maior comprimento do tubo capilar ser percorrido por escoamento monofásico para a

bomba de calor à CO2, levando a coeficientes de atrito menores e, portanto maiores

vazões. Além disso, o diferencial de pressão total a que está submetido o tubo capilar é

maior na bomba de calor à CO2. De maneira geral, o COP de uma bomba de calor à CO2

é menor que o COP de uma bomba de calor à R134a operando em condições

semelhantes, mesmo quando a bomba de calor à CO2 trabalha na pressão de alta

otimizada.

As simulações também mostra semelhanças entre os dois tipos de bombas de calor no

que se refere à variação de diâmetro e comprimento do tubo capilar. Ambas apresentam

variações muito parecidas de vazão quando o diâmetro e comprimento são variados. A

vazão tende a aumentar quando o diâmetro é aumentado ou o comprimento é reduzido.

A influência do diâmetro nessa variação de vazão e cerca de 10 vezes maior que a

influência da variação do comprimento para as duas bombas de calor. As bombas de

calor a R744 tendem a apresentar variações maiores de vazão devido às alterações nos

parâmetros construtivos.

Ainda foram estudadas a influência da temperatura ambiente (temperatura de

evaporação), temperatura de entrada no tubo capilar (temperatura de saída do resfriador

de gás) e pressão de operação do resfriador de gás na vazão mássica. Mostrou-se que a

temperatura ambiente pouco influencia a vazão, enquanto esta tende reduzir e aumentar

com o aumento da temperatura de entrada no tubo capilar e pressão de operação do

resfriador de gás, respectivamente.

82 No projeto de uma bomba de calor saber a vazão é essencial uma vez que este

parâmetro tem influência direta na capacidade frigorífica do equipamento. A entalpia

também tem uma influência direta, mas é um parâmetro que não permite controle direto,

uma vez que depende do fluido utilizado. Além disso, conhecer bem a vazão de uma

bomba de calor permite um correto dimensionamento do evaporador minimizando o

grau de superaquecimento, o que leva a um menor gasto energético do compressor

elevando o COP do equipamento. Dessa forma este trabalho contribui para o auxílio no

projeto mais otimizado de bombas de calor operando em ciclo transcrítico de dióxido de

carbono tornando-as mais competitivas em relação às bombas comerciais que utilizam

refrigerantes sintéticos.

83

ABSTRACT

The use of carbon dioxide (CO2) as the working fluid in refrigerators and heat pumps is

growing due to environmental issues regarding the use of CFCs and HCFCs, driving

many papers on the subject. The CO2 has excellent thermophysical properties and heat

transfer; GWP = 1; toxicity, flammability and zero ODP, low pressure ratio and high

volumetric capacity, and have low cost and it is easy to obtain. These characteristics

make it the main candidate for replacement of HCFCs and HFCs. The use of carbon

dioxide as a refrigerant in heat pumps that operate with transcriyical compression cycle

gives good results, allowing the construction of equipment for heating water for

residential use, compact and with high COP. In such equipment, the capillary tube is the

primary choice of expansion device due to its simple construction, lack of maintenance

needs and allow optimum operation even with small variations in environmental

condition. However, the correct sizing of the capillary tube is more critical and delicate

in trancritical cycles than in the subcritical, since in those pressure and temperature of

the high pressure are independent and there is a high pressure that ensures the

maximization of the COP of the system. The control of optimum operating pressure is

strongly influenced by the dimensional characteristics of the capillary tube. We present

a mathematical model that allows the calculation of steady flow in an adiabatic capillary

tube used in heat pumps operating with CO2 transcritical cycle. The model is validated

with data obtained from previous experimental studies and several simulations are made

to determine typical flow rates for capillary tubes of various sizes. The model also assist

the analysis of the rate of heat transfer to water by the heat pump operating at different

evaporating temperatures, in other words, varying environmental conditions to which

the subject equipment.

Keywords: Capillary tube, heat pump cycle transcript, Carbon Dioxide, Model separate

phases

84

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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