modelação e simulação sistemas fotovoltaicos mestrado.pdf
TRANSCRIPT
-
INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE LISBOA
Departamento de Engenharia Mecnica
ISEL
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos
PEDRO MANUEL SAMPAIO DE CARVALHO (Licenciado em Engenharia do Ambiente)
Trabalho Final de Mestrado para obteno do grau de Mestre
em Engenharia Mecnica
Orientadores:
Professor Nuno Paulo Ferreira Henriques Professor Doutor Pedro Miguel Abreu Silva
Jri:
Presidente: Professor Doutor Joo Carlos Quaresma Dias Vogais:
Professor Doutor Joo Manuel Ferreira Calado
Professora Doutora Cludia Sofia Sneca da Luz Casaca
Professor Nuno Paulo Ferreira Henriques
Professor Doutor Pedro Miguel Abreu Silva
Abril de 2013
-
"Algo s impossvel at que algum duvide e acabe por provar o contrrio"
Albert Einstein
-
I
Agradecimentos
Gostaria de agradecer minha famlia e amigos por todo o apoio que deles recebi durante os
ltimos dois anos de bastante trabalho mas tambm satisfao, e que culminam agora com
esta dissertao. Sem eles esta caminhada teria sido bem mais difcil de concretizar.
Um agradecimento especial tambm aos meus orientadores, Professor Nuno Henriques, e
Professor Pedro Silva, pelo acompanhamento que me deram na elaborao desta dissertao,
e ainda ao Professor Lus Melo pelo ensino de alguns dos conceitos chave aqui abordados.
A todos o meu Obrigado.
-
II
-
III
Resumo
Os sistemas fotovoltaicos produzem energia elctrica limpa, e inesgotvel na nossa escala
temporal. A Agncia Internacional de Energia encara a tecnologia fotovoltaica como uma das
mais promissoras, esperando nas suas previses mais optimistas, que em 2050 possa
representar 20% da produo elctrica mundial, o equivalente a 18000 TWh.
No entanto, e apesar do desenvolvimento notvel nas ltimas dcadas, a principal
condicionante a uma maior proliferao destes sistemas o ainda elevado custo, aliado ao seu
fraco desempenho global. Apesar do custo e ineficincia dos mdulos fotovoltaicos ter vindo
a diminuir, o rendimento dos sistemas contnua dependente de factores externos sujeitos a
grande variabilidade, como a temperatura e a irradincia, e s limitaes tecnolgicas e falta
de sinergia dos seus equipamentos constituintes.
Neste sentido procurou-se como objectivo na elaborao desta dissertao, avaliar o potencial
de optimizao dos sistemas fotovoltaicos recorrendo a tcnicas de modelao e simulao.
Para o efeito, em primeiro lugar foram identificados os principais factores que condicionam o
desempenho destes sistemas. Em segundo lugar, e como caso prtico de estudo, procedeu-se
modelao de algumas configuraes de sistemas fotovoltaicos, e respectivos componentes
em ambiente MatlabTM
/SimulinkTM
. Em seguida procedeu-se anlise das principais
vantagens e desvantagens da utilizao de diversas ferramentas de modelao na optimizao
destes sistemas, assim como da incorporao de tcnicas de inteligncia artificial para
responder aos novos desafios que esta tecnologia enfrentar no futuro.
Atravs deste estudo, conclui-se que a modelao no s um instrumento til para a
optimizao dos actuais sistemas PV, como ser, certamente uma ferramenta imprescindvel
para responder aos desafios das novas aplicaes desta tecnologia. Neste ltimo ponto as
tcnicas de modelao com recurso a inteligncia artificial (IA) tero seguramente um papel
preponderante. O caso prtico de modelao realizado permitiu concluir que esta igualmente
uma ferramenta til no apoio ao ensino e investigao. Contudo, convm no esquecer que
um modelo apenas uma aproximao realidade, devendo recorrer-se sempre ao sentido
crtico na interpretao dos seus resultados.
Palavras Chave: sistemas fotovoltaicos, optimizao, modelao, operao, desempenho.
-
IV
-
V
Abstract
Photovoltaic systems produce clean and inexhaustible electric energy at our human scale. The
International Energy Agency sees photovoltaic technology as one of the most promising,
expecting in their optimistic forecasts that it can represent 20% of the worldwide production
by 2050, the equivalent to 18000 TWh.
However, and notwithstanding its remarkable development on the last decades, the main
constraint to a larger dissemination of these systems is its still high cost, combined with is
reduced global efficiency. Despite the reduction in both cost and photovoltaic modules
inefficiency, the systems global efficiency is still dependent on highly variable external
factors such as the temperature and irradiance, the technological barriers and lack of synergy
between its components.
Thus, it was defined as an objective of this dissertation, to evaluate the optimization potential
of photovoltaic systems resorting to modeling and simulating techniques.
For this purpose, the main conditioning factors to the systems performance were identified in
the first place. Secondly, and as a case study, several configurations and components of
photovoltaic systems were modeled in MatlabTM
/SimulinkTM
developing environment. Then,
an analysis of the main advantages and disadvantages was conducted on the use of several
modeling tools in photovoltaic systems optimization, as well as on the incorporation of
artificial intelligence techniques to respond to the challenges this technology might face in the
near future.
Through the making of this study, it was concluded that modeling is not only an useful tool to
optimize photovoltaic systems, as it will surely become an indispensable tool to respond to
this technologys new challenges. The modeling case study also allowed to determine its
importance for education and investigation purposes. However, it should be noted that a
model will always be an approximation to reality, and thus it calls for a permanent critical
judgment to interpret its results.
Keywords: photovoltaic systems, optimization, modeling, operation, performance.
-
VI
-
VII
ndice
Agradecimentos ........................................................................................................................... I
Resumo ..................................................................................................................................... III
Abstract ..................................................................................................................................... V
ndice ....................................................................................................................................... VII
ndice de Figuras ...................................................................................................................... XI
ndice de Quadros ................................................................................................................. XVII
Lista de Abreviaturas ............................................................................................................ XIX
1 - Introduo ........................................................................................................................ 1
1.1 - Enquadramento ........................................................................................................ 1
1.2 - Objectivos do trabalho ............................................................................................. 8
1.3 - Estrutura da dissertao ........................................................................................... 9
2 - Sistemas Fotovoltaicos .................................................................................................. 10
2.1 - A clula fotovoltaica como base dos Sistemas Fotovoltaicos ............................... 10
2.1.1 - A clula fotovoltaica ....................................................................................... 10
2.1.2 - Parmetros Caractersticos das Clulas Fotovoltaicas .................................... 11
2.1.3 - O mdulo fotovoltaico .................................................................................... 14
2.1.4 - O gerador fotovoltaico Array ...................................................................... 15
2.1.5 - A importncia da radiao solar ..................................................................... 16
2.1.6 - Influncia da irradincia e temperatura no desempenho das clulas PV ........ 17
2.2 - Introduo aos Sistemas Fotovoltaicos .................................................................. 19
2.2.1 - Sistema flutuante ............................................................................................ 23
2.2.2 - Sistema Autnomo ......................................................................................... 25
2.2.3 - Acumuladores de Energia ............................................................................... 27
2.2.4 - Sistema com regulador de carga da bateria .................................................... 33
-
VIII
2.2.5 - Inversor ........................................................................................................... 34
2.2.6 - Sistema completo ............................................................................................ 36
2.2.7 - Sistema completo com conversor CC/CC (LPMP) ........................................ 36
2.2.8 - Sistema conectado rede ................................................................................ 40
2.3 - Optimizao de Sistemas Fotovoltaicos ................................................................ 42
2.3.1 - Factores que condicionam o desempenho dos Sistemas PV .......................... 44
2.3.2 - Estado actual e tendncias futuras na optimizao de Sistemas PV ............... 51
2.3.3 - Utilizao de Ferramentas de Modelao/Simulao ..................................... 54
2.3.4 - Tcnicas de Inteligncia Artificial em Sistemas PV ...................................... 58
3 - Modelao ..................................................................................................................... 62
3.1 - Introduo modelao ........................................................................................ 62
3.1.1 - Conceitos chave .............................................................................................. 62
3.1.2 - Tipos de modelos: contnuos, discretos e estatsticos..................................... 63
3.1.3 - Introduo Modelao de Sistemas Fotovoltaicos com SimulinkTM
........... 65
3.2 - Modelo de Clula Fotovoltaica e Gerador Fotovoltaico ........................................ 66
3.2.1 - Modelo de Clula PV utilizado ...................................................................... 66
3.2.2 - Explicao da construo do modelo utilizado nas simulaes ..................... 68
3.2.3 - Modelo utilizado no SimulinkTM .................................................................... 69
3.2.4 - Modelo Ideal ................................................................................................... 71
3.3 - Modelo da Bateria .................................................................................................. 72
4 - Simulaes .................................................................................................................... 76
4.1 - Determinao das Curvas Corrente/Potncia-Tenso ............................................ 76
4.1.1 - Curvas I-V e P-V da clula Mtodo por controlo da carga ......................... 76
4.1.2 - Curvas I-V e P-V da clula Mtodo por controlo da tenso ........................ 79
4.1.3 - Simulao do funcionamento do sistema flutuante definindo o consumo ..... 83
-
IX
4.2 - Anlise aos ciclos de carga e descarga de uma bateria de acumuladores de
chumbo-cido ....................................................................................................................... 87
4.2.1 - Simulao de ciclos de descarga de baterias de Chumbo-cido .................... 87
4.2.2 - Simulao de ciclos de carga (sem consumo) ................................................ 90
4.3 - Simulao de um Sistema Autnomo .................................................................... 92
4.4 - Simulao de um Sistema Autnomo com Inversor .............................................. 94
4.5 - Consideraes Finais ............................................................................................. 95
5 - Concluses .................................................................................................................... 97
6 - Lista de Referncias .................................................................................................... 100
-
X
-
XI
ndice de Figuras
Figura 1.1 Recursos energticos disponveis (IEA, 2011a). ................................................... 1
Figura 1.2 Investimento em Investigao & Desenvolvimento da tecnologia PV (IEA, 2011a). ...... 2
Figura 1.3 Investimento em Investigao & Desenvolvimento de Sistemas PV (IEA, 2011a). ......... 2
Figura 1.4 Diagrama de Sankey de um sistema PV em Creta (Kymakis et al., 2009). ........... 4
Figura 1.5 Diagrama causa-efeito no desempenho de sistemas PV (Luque & Hedegus, 2011). ..... 5
Figura 1.6 Evoluo da eficincia das clulas PV (NREL, 2012). ......................................... 6
Figura 2.1 Esquema de uma clula fotovoltaica tpica de juno p-n (USDE, 2005). .......... 10
Figura 2.2 Curva I-V de um mdulo PV (Omran, 2010; Rekioua & Matagne, 2012). ......... 11
Figura 2.3 Curva I-V tpica de um dodo (Osorio, 2009). ..................................................... 12
Figura 2.4 Dodos de bloqueio num gerador fotovoltaico (Omran, 2010). .......................... 12
Figura 2.5 Curva P-V de um mdulo fotovoltaico (Omran, 2010). ...................................... 13
Figura 2.6 Pontos tpicos da curva I-V de um mdulo PV (Rekioua & Matagne, 2012). .... 13
Figura 2.7 Esquema de um mdulo PV com 36 clulas conectadas em srie (Dzimano, 2008). . 14
Figura 2.8 Estrutura de um gerador fotovoltaico (PV Array) (Dzimano, 2008) ................... 15
Figura 2.9 Irradiao solar - dependncia da declinao e coordenadas geogrficas (Luque &
Hedegus, 2011). ......................................................................................................................... 16
Figura 2.10 Relao entre Insolao e Irradincia solar (Rekioua & Matagne, 2012). ........ 16
Figura 2.11 Componentes da radiao solar (Luque & Hedegus, 2011). ............................. 17
Figura 2.12 Curvas I-V e P-V da clula PV para diferentes valores de irradincia e
temperatura constante (Omran, 2010) ...................................................................................... 17
Figura 2.13 Curvas I-V e P-V da clula PV para diferentes valores de temperatura e
irradincia constante (Omran, 2010) ........................................................................................ 18
Figura 2.14 Classificao de Sistemas Fotovoltaicos (Dzimano, 2008). .............................. 20
Figura 2.15 Classificao de Sistemas Fotovoltaicos (Luque & Hedegus, 2011). ............... 21
Figura 2.16 Esquema elctrico do sistema flutuante (Murillo, 2003). .................................. 23
-
XII
Figura 2.17 Regime de funcionamento do sistema flutuante (Murillo, 2003) ...................... 23
Figura 2.18 Sistema flutuante: irradincia e temperaturas nos mdulos PV e tenso e
corrente do circuito (Murillo, 2003). ........................................................................................ 24
Figura 2.19 Esquema elctrico do sistema autnomo (Murillo, 2003). ................................ 25
Figura 2.20 Regime de funcionamento do sistema autnomo (Murillo, 2003). ................... 25
Figura 2.21 Sistema autnomo: Tenso do sistema, corrente produzida pelos mdulos PV, e
corrente na bateria e nas cargas(Murillo, 2003). ...................................................................... 26
Figura 2.22 Evoluo do nvel de energia na bateria (Murillo, 2003). ................................. 27
Figura 2.23 Relao da capacidade (Ah) com o tempo de descarga (h) (EU, 2004). ........... 29
Figura 2.24 Curvas de descarga de uma bateria de chumbo-cido (Seeling-hochmuth, 1998). .... 29
Figura 2.25 Ciclo de vida til de acumuladores de Chumbo-cido (a negro) (EU, 2004). ......... 30
Figura 2.26 Esquema elctrico do sistema com regulador de bateria (Murillo, 2003) ................. 33
Figura 2.27 Regime de funcionamento com regulador de bateria (Murillo, 2003). ................ 33
Figura 2.28 Tenso e corrente da bateria e dos mdulos PV (Murillo, 2003) ................................ 34
Figura 2.29 Curva de eficincia de um inversor em funo da carga (factor de potncia)
(Seeling-hochmuth, 1998). ....................................................................................................... 35
Figura 2.30 Esquema elctrico do sistema completo (Murillo, 2003). ................................. 36
Figura 2.31 Regime de funcionamento do sistema completo (Murillo, 2003). .................... 36
Figura 2.32 Esquema elctrico do sistema completo com MPPT (Murillo, 2003). ................ 38
Figura 2.33 Pontos de funcionamento dos mdulos, bateria e cargas (Murillo, 2003). ................ 38
Figura 2.34 Curvas de potncia e corrente, e zona de trabalho do conversor (a verde).
(Murillo, 2003) ......................................................................................................................... 39
Figura 2.35 Evoluo da tenso nos mdulos PV (a) e corrente de sada do conversor
CC/CC (b) (Murillo, 2003). ...................................................................................................... 39
Figura 2.36 Evoluo da tenso e corrente entrada do inversor (Murillo, 2003). ...................... 40
Figura 2.37 Evoluo da tenso e corrente sada do inversor (Murillo, 2003). ................ 40
-
XIII
Figura 2.38 Esquema elctrico do
sistema conectado rede (Murillo, 2003). ............................................................................... 41
Figura 2.39 Tipologias/Configuraes de Sistemas PV ligados rede (Omran, 2010). ....... 41
Figura 2.40 Influncia dos Factores Humanos no ciclo de vida dos Sistemas PV ................ 44
Figura 2.41 Influncia dos Factores Tecnolgicos no ciclo de vida dos Sistemas PV .......... 44
Figura 2.42 Componentes tpicos principais dos Sistemas PV .............................................. 45
Figura 2.43 Produo diria de 20m2 de rea de instalao PV numa pequena habitao com
boa exposio solar (a verde), e respectivo consumo (a azul) (IEA, 2011a). .......................... 52
Figura 2.44 Vendas de veculos elctricos e veculos hbridos (IEA, 2011a). ....................... 52
Figura 2.45 Como os veculos elctricos podem nivelar a curva de consumo (IEA, 2011a).
.................................................................................................................................................. 53
Figura 2.46 Interface da aplicao PV Sol (TSDC, 2012). .................................................... 56
Figura 2.47 Interface da aplicao PVCad (ISET, 2012). ...................................................... 56
Figura 2.48 Interface da aplicao DASTPVPS (Mayer, 2012). ........................................... 57
Figura 2.49 Interface da aplicao HOMER (HE, 2011). ...................................................... 57
Figura 3.1 Sistema contnuo (Brito & Teixeira, 2001). ........................................................ 63
Figura 3.2 Diagrama de blocos de simulao (Brito & Teixeira, 2001). .............................. 64
Figura 3.3 Sistema discreto (Brito & Teixeira, 2001). .......................................................... 64
Figura 3.4 Possiveis metodologias de simulao no SimulinkTM (Osorio, 2009). ................ 65
Figura 3.5 Circuito Equivalente da clula PV obtido da equao do modelo de dupla-
exponencial (Gow & Manning, 1999). ..................................................................................... 67
-
XIV
Figura 3.6 Modelo de dodo nico de uma clula PV (Omran, 2010). ................................. 68
Figura 3.7 Processo de modelao da clula PV (Gow & Manning, 1999). ......................... 69
Figura 3.8 SimulinkTM - Modelo de 5 parmetros da clula PV (Isc e Voc) ........................... 70
Figura 3.9 SimulinkTM - Modelo de 5 parmetros da clula PV (Is e Iph0) ........................... 70
Figura 3.10 SimulinkTM - Modelo de 8 parmetros da clula PV ......................................... 70
Figura 3.11 Curvas de descarga tpicas de uma bateria (SimulinkTM) .................................. 73
Figura 3.12 Curva de carga de uma bateria (SimulinkTM) .................................................... 74
Figura 3.13 Efeito de Histerese na carga/descarga das baterias de chumbo-cido (Tremblay
& Dessaint, 2009). .................................................................................................................... 74
Figura 3.14 Bloco do modelo de bateria (SimulinkTM) ......................................................... 74
Figura 3.15 Janela de parametrizao do Modelo de Bateria ............................................... 75
Figura 4.1 Modelo utilizado para obter as curvas caractersticas da clula atravs da
variao da carga (resistncia). ................................................................................................ 77
Figura 4.2 Curva de Tenso (V) da clula PV em funo da resistncia () da carga ......... 77
Figura 4.3 Curva de Corrente da clula PV em funo da resistncia () da carga ............. 77
Figura 4.4 Curva de potncia da clula PV em funo da resistncia da carga .................... 78
Figura 4.5 Modelo utilizado para obter as curvas caractersticas da clula atravs da
variao da tenso. ................................................................................................................... 79
Figura 4.6Modelo utilizado para obter as curvas caractersticas de um mdulo PV com 36 clulas. 80
Figura 4.7 Curva I-V de um mdulo com 36 clulas. ........................................................... 80
Figura 4.8 Modelo utilizado para obteno das curvas caractersticas de 2 mdulos PV. .... 81
Figura 4.9 Curva I-V de dois mdulo com 36 clulas cada. ................................................. 81
Figura 4.10 Efeito da Irradincia e da Temperatura na eficincia de um gerador PV. ......... 82
Figura 4.11 Modelo para controlo do sistemas flutuante atravs da variao da potncia de consumo.
.................................................................................................................................................. 84
Figura 4.12 Diagrama de carga do sistema flutuante para o perodo de simulao. ............. 84
Figura 4.13 Diagrama de carga do sistema flutuante para o perodo de simulao. ............. 84
-
XV
Figura 4.14 Diagrama de carga do sistema flutuante para o perodo de simulao. ............. 85
Figura 4.15 Potncia pedida clula ..................................................................................... 86
Figura 4.16 Controlo de Resistncia. .................................................................................... 86
Figura 4.17 Resultado da simulao: Tenso, Corrente e Potncia, de resposta da clula ... 86
Figura 4.18 Curvas nominais de descarga de uma bateria de Pb-cido de 6.5Ah e 12V ..... 88
Figura 4.19 Curvas de descarga a 5 A de uma bateria de Pb-cido de 6.5Ah e 12V ........... 89
Figura 4.20 Curvas de descarga a 3 A de uma bateria de Pb-cido de 6.5Ah e 12V ........... 89
Figura 4.21 Curvas de descarga a 2 A de uma bateria de Pb-cido de 6.5Ah e 12V ........... 89
Figura 4.22 Curvas de descarga a 1 A de uma bateria de Pb-cido de 6.5Ah e 12V ........... 89
Figura 4.23 Curvas de descarga a 0,5 A de uma bateria de Pb-cido de 6.5Ah e 12V ........ 89
Figura 4.24 Curvas de descarga a 50 A de uma bateria de Pb-cido de 6.5Ah e 12V. ........ 90
Figura 4.25 Modelo - Simulao de ciclos de carga (sem consumo) .................................... 90
Figura 4.26 Simulao de ciclos de carga (sem consumo) Irr=1000W/m2 EDCi=50% ......... 91
Figura 4.27 Simulao de ciclos de carga (sem consumo) Irr=200W/m2 EDCi=50% ........... 91
Figura 4.28 Modelo de sistema autnomo ............................................................................ 92
Figura 4.29 Simulao de sistema autnomo: produo e consumo & propriedades da bateria
(Irr=1000W/m2 EDCi=80% Pcons=100W) ................................................................................ 92
Figura 4.30 Simulao de sistema autnomo: produo e consumo & propriedades da bateria
(Irr=800W/m2 EDCi=50% Pcons=50W) .................................................................................... 93
Figura 4.31 Modelo de sistema autnomo com inversor ....................................................... 94
Figura 4.32 Simulao 1 - alimentao de carga em corrente alternada com recurso a um
inversor: corrente e tenso no lado do consumo (esq.) & propriedades da bateria (dta.) ........ 94
Figura 4.33 Simulao 2 Tenso de sada com amplitude de 325V (230 V RMS) ............ 94
-
XVI
-
XVII
ndice de Quadros
Quadro 2.1 Vantagens e desvantagens da utilizao de energia fotovoltaica (adaptado de
Luque & Hedegus, 2011). ........................................................................................................ 21
Quadro 2.2 Sntese das principais vantagens dos sistemas PV ............................................. 42
Quadro 2.3 Sntese das principais desvantagens dos sistemas PV ........................................ 43
Quadro 2.4 Factores gerais que condicionam o desempenho dos sistemas PV. .................... 45
Quadro 2.5 Factores que condicionam a captao e converso da energia solar. .................. 48
Quadro 2.6 Sntese - Factores condicionantes ao desempenho das baterias de acumuladores
.................................................................................................................................................. 50
Quadro 2.7 Factores associados converso e distribuio de energia. ................................ 51
-
XVIII
-
XIX
Lista de Abreviaturas
AC - corrente alternada. LCOE - Custo nivelado da electricidade produzida.
Bateria - bateria de acumuladores electroqumicos. PMP - Ponto de Mxima Potncia.
BSF - Balanceamento do sistema fotovoltaico. LPMP - Operao no ponto de mxima potncia.
BUS Barramento. PV Fotovoltaico / fotovoltaicos.
DC - corrente contnua. PV Array - Gerador Fotovoltaico.
SHER - Sistemas hbridos de energia renovvel. EDC - estado de carga de uma bateria.
IA - inteligncia artificial. CTR - Condies de teste de referncia.
IEA Agncia Internacional de Energia. VE Veculos Elctricos.
Impp - Corrente no ponto de mxima potncia. Vmpp - Tenso no ponto de mxima potncia.
Ipv - corrente da clula/mdulo PV. Voc - Tenso de circuito aberto.
Isc - Corrente de curto-circuito. Vpv - tenso da clula/mdulo PV.
-
XX
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 1/102
1 - Introduo
1.1 - Enquadramento
Apesar da incerteza vivida, em relao s perspectivas de crescimento econmico, como
resultado da crise econmica mundial que o mundo atravessa, a procura por energia primria
cresceu 5% em 2010, levando as emisses de CO2 a um novo mximo. expectvel que esta
tendncia de crescimento se mantenha, perspectivando-se um aumento de um tero do
consumo, entre 2010 e 2035 (IEA, 2011b). O aumento do consumo e do preo dos
combustveis fsseis aliado aos problemas ambientais resultantes da sua utilizao, tem vindo
a favorecer nos ltimos anos a utilizao de tecnologias de energia renovvel, de reduzido
impacte ambiental, baixo custo, fcil fabrico, utilizao e aceitao social (Dali, Belhadj, &
Roboam, 2008).
A tecnologia fotovoltaica (PV) disso um exemplo: produz energia elctrica a partir da fonte
de energia mais abundante, limpa e inesgotvel nossa escala temporal: a energia solar
(Dzimano, 2008; IEA, 2011a) (Figura 1.1); o seu custo tem vindo a baixar intensamente, e
tm recebido uma grande aceitao por parte dos consumidores e sociedade em geral (Luque
& Hedegus, 2011).
Figura 1.1 Recursos energticos disponveis (IEA, 2011a).
Explica-se assim que nas ltimas dcadas se tenha assistido a um desenvolvimento notvel da
tecnologia fotovoltaica, demonstrado pelo aumento do investimento em investigao e
desenvolvimento (Figura 1.2), pelo crescente nmero de publicaes cientficas, e elevado
nmero de instalaes operacionais a nvel mundial (Gilman, Lilienthal, & Lambert, 2006).
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 2/102
Figura 1.2 Investimento em Investigao & Desenvolvimento da tecnologia PV (IEA, 2011a).
De facto, a taxa da curva de aprendizagem1 dos mdulos PV tem sido a mais elevada de
qualquer tecnologia do sector energtico nas ultimas dcadas: 19.3% entre 1976 e 2010
(Figura 1.3). Tal deve-se em parte ao facto desta tecnologia ser uma spin-off da tecnologia de
semicondutores, com elevadas taxas de aprendizagem2 (IEA, 2011a).
Figura 1.3 Investimento em Investigao & Desenvolvimento de Sistemas PV (IEA, 2011a).
O custo dos mdulos PV tem vindo a baixar 20% cada vez que a capacidade instalada duplica
(IEA, 2011a). taxa actual o seu custo poder atingir US 1$ /W, quando a capacidade
instalada crescer mais uma ordem de magnitude (de 100.000 para 1.000.000 de MW) (Luque
& Hedegus, 2011).
A agncia internacional de energia (IEA) encara esta tecnologia como uma das mais
promissoras, esperando num cenrio de promoo da sua utilizao que esta possa, em 2050,
representar 20% da produo elctrica mundial, o equivalente a 18000 TWh (IEA, 2011a).
Contudo, apesar de se verificar uma reduo dos custos e aumento da eficincia dos mdulos
fotovoltaicos, tal no significa que o mesmo suceda para os restantes componentes dos
1 A curva de aprendizagem, um mtodo utilizado para prever a evoluo do custo de um bem.
2 As taxas de aprendizagem para a tecnologia de condutores so das mais elevadas: i.e. 45% para chips de memrias DRAM, e 35% para
LCDs (IEA, 2011a). Taxa de aprendizagem: 1% para Hidroelctricas, 5% para biomassa e geotrmica, 7% para a elica offshore..
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 3/102
sistemas PV. Os sistemas PV so na maior parte das aplicaes compostos por equipamentos
com distintas tecnologias, niveis de maturidade, custo e fiabilidade. Assim, nem todos os
componentes do sistema tm o mesmo nvel de maturidade tecnolgica dos mdulos PV
(Luque & Hedegus, 2011).
No conjunto dos seus elementos, estes sistemas ainda enfrentam obstculos que impedem a
sua disseminao massiva, nomeadamente o seu custo, e baixa eficincia global, reflectida no
preo por kWh de energia produzida (Omran, 2010).
De facto, o indicador mais adequado para comparao entre tecnologias de produo
energtica, o valor total de custo de produo e fornecimento de electricidade ao
consumidor at ao final do ciclo de vida de cada tecnologia (LCOE3). O LCOE contabiliza j
a eficincia global de todo o sistema.
Os motivos pelos quais o LCOE ainda elevado nos sistemas PV, est relacionado com os
seguintes factores:
natureza intermitente da produo de energia, dependente da irradiao solar, que
condiciona a fiabilidade no fornecimento de energia. Esta obriga, nas aplicaes
autnomas, a recorrer a equipamentos de acumulao da energia, normalmente
baterias, resultando o processo de acumulao em perdas que afectam o rendimento do
sistema.
para obter a mxima produo do gerador fotovoltaico necessrio recorrer a a
conversores CC/CC comandados por controladores electrnicos para controlo da
tenso de operao em funo das condies de temperatura e irradincia exteriores.
para possibilitar ainda a utilizao de aparelhos elctricos alimentados pelas redes
comuns de distribuio torna-se tambm necessrio recorrer a conversores (inversores
e transformadores) para converter a corrente contnua produzida pelos geradores
fotovoltaicos, em corrente alternada, e transformar tambm a tenso de sada do
sistema.
em sistemas fotovoltaicos (PV) que possibilitem a injeco da electricidade produzida
rede de distribuio, necessrio recorrer a inversores com as caractersticas
adequadas para efectuar o sincronismo com a rede. Sem esquecer a necessidade de
equipar o sistema com os dispositivos de proteco adequados.
3 O custo global de electricidade, ou Levelised cost of electricity (/kWh), o indicador utilizado para comparar o custo da electricidade
produzida por diferentes tecnologias. Cobre todos os investimentos e custos operacionais ao longo da vida do sistema, incluindo os
combustveis consumidos e a substituio de equipamentos (IEA, 2011a).
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 4/102
Apercebemo-nos assim do grau de complexidade que um sistema fotovoltaico pode alcanar,
e das inmeras variveis que condicionam a sua operao e desempenho.
Como veremos em maior pormenor ao longo deste trabalho, so diversos os factores que
condicinam a desempenho de um sistema PV:
1. factores ambientais (externos);
2. factores internos intrinsecos tecnologia dos seus equipamentos constituintes;
3. factores relacionados com a relao utlizador-tecnologia.
Relativamente aos primeiros (1 e 2), podemos observar como exemplo na Figura 1.4 os
efeitos a nvel da perda de eficincia global, para o caso de um sistema PV conectado rede
para venda de energia (sem acumulao). Neste exemplo, mesmo sem a existncia de
dispositivos de acumulao, apercebemo-nos do nmero de variveis que esto envolvidos,
no computo da desempenho global do sistema.
Analisando a figura, observa-se que deve-se em primeiro lugar, considerar a quantidade de
energia que chega superfcie dos mdulos solares (irradincia) antes de ocorrer o processo
de converso fotoelctrico. Esta varia ao longo do dia consoante o local e a hora (latitude e
longitude), com o grau de inclinao do colector, e tambm ao longo do ano, consoante o
movimento aparente do sol.
Figura 1.4 Diagrama de Sankey de um sistema PV em Creta (Kymakis et al., 2009).
O processo de converso, determinado pela eficincia da clula, tem um rendimento de
apenas 15%4, significando que 85% da energia proveniente da irradincia que incide sobre os
4 Em condies de teste de referncia (STC) (ver Anexo I.2)
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 5/102
mdulos desperdiada. Para alm do nvel de irradincia existem ainda outros factores
ambientais externos, como a temperatura, e o vento, que condicionam o desempenho das
clulas, como veremos adiante (Cap. 2.1).
Aps converso fotovoltaica, do total de energia elctrica produzida pelas clulas h que
subtrair as perdas nos mdulos: perdas internas por degradao nos mdulos (5%), perdas
trmicas (7,12%), e perdas por acumulao de poeiras nos mdulos (5,86%). Assim, da
energia convertida no processo fotovoltaico, apenas 82% (produo lquida) sai realmente
do campo de geradores.
Contudo, entre o gerador, e as cargas, ocorrem ainda perdas adicionais: perdas internas na
rede do lado da produo (6%), perdas na converso para corrente alternada, nos inversores
(7,84%), perdas na transformao da tenso (2%), e ainda as perdas na rede de distribuio
(4,54%). Do total de energia elctrica lquida produzida pelos geradores, apenas 80% chega
ao consumo final (Kymakis et al., 2009). Ainda se considerarmos todo o processo de
produo, distribuio e consumo, as perdas atingem os 38% do total de energia produzida
pelas clulas PV, como vimos no exemplo anterior. No caso de sistemas com acumulao de
energia com baterias h que considerar ainda as perdas associadas aos ciclos de carga e
descarga.
Por ultimo, para alm dos factores ambientais e tecnolgicos, existem ainda factores
relacionados com a interface utilizador-tecnologia (Figura 1.5), como o dimensionamento, a
instalao, o controlo da carga de baterias, a manuteno, os factores ambientais externos, a
operao, o transporte e ainda a logstica de aquisio, que influenciam o desempenho de um
sistema (Luque & Hedegus, 2011).
Figura 1.5 Diagrama causa-efeito no desempenho de sistemas PV (Luque & Hedegus, 2011).
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 6/102
De facto, tendo em conta o referido, muito pouca ateno tem sido dada aos equipamentos
responsveis pelo balanceamento do sistema fotovoltaico (BSF5), nomeadamente a nivel do
seu desenvolvimento, e promoo de sinergias entre estes (gerador, acumulador, e
equipamentos de electrnica de potncia e controlo), assim como aos factores externos, e de
relao utilizador-tecnologia.
As baterias solares, por exemplo, so consideradas o elo mais fraco destes sistemas
(Seeling-hochmuth, 1998), pois utilizam ainda a tecnologia de chumbo-cido, com mais de
100 anos, que no foi desenvolvida especificamente para a aplicao a sistemas PV (Luque &
Hedegus, 2011).
Considerando todos estes factores, e o facto da eficincia das clulas fotovoltaicas, alcanar
actualmente, na melhor situao (NREL, 2012); 43% em clulas de multijuno com
concentrao solar, 29,1% para clulas com uma nica juno de GaAs, 27,6 e 25% para
clulas cristalinas de silicio com, e sem concentrao respectivamente, 20,3% para
tecnologias de filme fino, e dentro das tecnologias mais recentes: 11,8% para dye-sensitized, e
10% para clulas orgnicas, faz sentido que seja aproveitada ao mximo toda a energia que
seja por elas produzida (Figura 1.6).
Figura 1.6 Evoluo da eficincia das clulas PV (NREL, 2012).
5 Ou BOS na sigla anglosaxnica referente a Balance of System
Efi
cin
cia
(%)
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 7/102
De facto, comparativamente ao forte investimento para melhoria da relao custo-eficincia
das clulas fotovoltaicas, pouco tem sido feito para optimizar os sistemas como um todo, o
que se dever complexidade destes sistemas.
Contudo, utilizando o potencial computacional disponvel nos dias de hoje, j possvel lidar
com sistemas deste nvel de complexidade, recorrendo sua modelao e simulao. Neste
sentido tm-se vindo a recorrer a tcnicas de modelao, resultando no desenvolvimento de
aplicaes informticas que permitem modelar e simular o desempenho destes sistemas.
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 8/102
1.2 - Objectivos do trabalho
O objectivo desta dissertao o de avaliar o potencial de utilizao da modelao e
simulao para optimizao dos sistemas fotovoltaicos como um todo, identificando as
principais vantagens e desvantagens da sua utilizao.
Como objectivos especficos props-se:
inferir sobre o modo como a modelao poder contribuir para a optimizao dos
sistemas fotovoltaicos, e quais os principais condicionantes.
elucidar sobre as vantagens da modelao, e utilizao de aplicaes informticas em
geral pode trazer nas aplicaes energticas em geral, e nos sistemas fotovoltaicos em
particular.
identificar as limitaes e cuidados a ter na modelao e simulao.
avaliar o potencial da modelao, como um mtodo de ensino para ensino e
investigao.
Para o efeito, em primeiro lugar foram identificados os principais factores que condicionam o
desempenho destes sistemas recorrendo ao estudo dos sistemas fotovoltaicos na bibliografia
especializada. Em segundo lugar, e como caso prtico de estudo, procedeu-se modelao de
algumas configuraes de sistemas PV, e respectivos componentes em ambiente
MatlabTM
/SimulinkTM,
tendo para isso sido necessrio estudar esta aplicao de
programao/simulao, e os modelos dos componentes dos sistemas PV. Por ltimo foram
analisadas as vantagens e desvantagens da utilizao de diversas ferramentas de modelao e
optimizao de sistemas PV.
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 9/102
1.3 - Estrutura da dissertao
A dissertao pode-se considerar dividida em duas partes: uma parte inicial de
desenvolvimento terico, na qual feita a apresentao dos sistemas fotovoltaicos, e
identificao dos principais factores de optimizao; e uma parte prtica, correspondente ao
trabalho de simulao de sistemas fotovoltaicos realizado. Por ltimo apresenta-se um
captulo com as tendncias/estado de arte da optimizao, finalizando com as concluses do
trabalho.
No Captulo 1 feita um breve enquadramento aos sistemas fotovoltaicos, e so referidos os
objectivos e estrutura do trabalho. O segundo captulo inicia-se com a introduo aos
princpios chave subjacentes tecnologia fotovoltaica (Cap 2.1). A partir da descrio da
clula fotovoltaica - o elemento base do gerador fotovoltaico introduzido o princpio
fotovoltaico, so apresentadas as curvas de corrente-tenso, e as principais condicionantes ao
desempenho da clula e mdulos PV: a irradincia e a temperatura de operao.
No captulo 0 feita uma introduo aos sistemas fotovoltaicos do ponto de vista tecnolgico.
Para facilitar a compreenso dos diferentes tipos de sistemas fotovoltaicos, e das
condicionantes sua operao, apresentam-se sequencialmente, segundo o seu grau de
complexidade, diversas configuraes de sistemas PV.
Inicia-se a descrio partindo da configurao mais simples (gerador conectado directamente
carga), at chegar, atravs da introduo de elementos adicionais (bateria, reguladores de
carga, etc.) a configuraes mais complexas. Em cada sistema apresentado, so discutidas as
suas valncias e constrangimentos adicionais, (comparativamente aos anteriores),
introduzindo os conceitos/critrios necessrios para a compreenso da problemtica do
controlo e optimizao destes sistemas.
No captulo 2.3, realizada inicialmente uma anlise aos vrios factores que condicionam o
desempenho os sistemas PV. ento abordado o estado actual e tendncias na optimizao
destes sistemas, e so estudadas algumas ferramentas de simulao, assim como o estado da
arte da utilizao de tcnicas de inteligncia artificial em sistemas fotovoltaicos.
No captulo 2.3, apresentam-se conceitos de modelao, e os principais modelos dos sistemas
utilizados. Os resultados da modelao (simulaes) so apresentados no captulo 4.
Por ltimo, no captulo 5, so apresentadas as concluses do trabalho efectuado no mbito
desta dissertao.
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 10/102
2 - Sistemas Fotovoltaicos
2.1 - A clula fotovoltaica como base dos Sistemas Fotovoltaicos
2.1.1 - A clula fotovoltaica
Uma clula fotovoltaica um dispositivo semiconductor que converte a energia solar em
corrente contnua atravs do efeito fotovoltaico (Seeling-hochmuth, 1998).
As clulas fotovoltaicas geram electricidade quando iluminadas por luz solar ou artificial. A
energia solar fotovoltaica obtida atravs da converso da radiao solar em electricidade
atravs do efeito fotovoltaico. O efeito fotovoltaico, descoberto em 1839 por Edmond
Becquerel, consiste na criao de uma diferena de potencial nos extremos de uma estrutura
de material semi-condutor6, produzido pela absoro de luz (Abro, 2011). Estas contm uma
juno entre dois tipos de materiais diferentes na qual se gera um campo elctrico.
Figura 2.1 Esquema de uma clula fotovoltaica tpica de juno p-n (USDE, 2005).
Apesar da teoria de semicondutores se encontrar fora do mbito da maioria dos artigos e
dissertaes encontradas, incluindo desta dissertao, aconselha-se a anlise do trabalho de
(Mark, Gray, & Alam, 2011) da Universidade de Purdue, sintetizado num webinar sobre a
teoria dos semicondutores de clulas PV, que explica estes conceitos avanados de forma
clara e compreensvel.
6 Seria exaustivo, e fora de mbito deste trabalho, descrever em detalhe o processo de converso fotovoltaica. Contudo, para obter mais
informao sugere-se a consulta do trabalho de Mark et al. (2011), referido na bibliografia.
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 11/102
2.1.2 - Parmetros Caractersticos das Clulas Fotovoltaicas
Cada clula ou mdulo fotovoltaico tem uma relao corrente-tenso tpica que dada pela
respectiva curva I-V (Seeling-hochmuth, 1998) (Figura 2.2).
Figura 2.2 Curva I-V de um mdulo PV (Omran, 2010; Rekioua & Matagne, 2012).
Existem alguns parmetros tpicos da curva I-V importantes para caracterizar uma clula ou
mdulo fotovoltaico: a corrente de curto-circuito (Isc) e a tenso de circuito-aberto (Voc). A
corrente de curto-circuito medida fazendo um curto-circuito (shunt) aos terminais da clula
e corresponde corrente quando a tenso na clula nula (Vpv=0). A tenso de circuito-aberto
a tenso quando a corrente nula (Ipv=0) (Rekioua & Matagne, 2012).
Como se pode observar na Figura 2.2 a corrente mantm-se aproximadamente constante
desde o ponto de curto-circuito Isc at um determinado valor de resistncia da carga. A partir
desse ponto o valor da corrente diminui acentuadamente, at se anular no ponto de tenso
mxima, Voc (correspondente ao ponto em que o circuito se encontra aberto). Este valor de
tenso pode ser medido nos contactos da clula7. Como veremos adiante, no captulo de
simulao, os valores da curva I-V podem ser calculados recorrendo a uma resistncia
varivel (potencimetro), um voltmetro e um ampermetro (Pereira & Oliveira, 2011).
A potncia mxima que possvel fornecer por um gerador fotovoltaico obtida atravs da
seguinte expresso:
(W) (Eq. 2.1)
Sendo produzida energia sempre que (valores de potncia positivos) sempre que Vpv satisfaa
a seguinte condio:
(Eq. 2.2)
7 O Voc toma normalmente o valor de 0,6V para a maior parte das clulas (Pereira & Oliveira, 2011)
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 12/102
Uma vez que a clula PV tem um comportamento semelhante ao de um dodo8 (Figura 2.5),
fora deste intervalo, ou seja, para valores de tenso negativos, a clula actua como uma carga,
dissipando energia.
Figura 2.3 Curva I-V tpica de um dodo (Osorio, 2009).
Assim, a clula actuar como carga resistiva quando a irradincia for insuficiente para a
polarizar: em situaes de sombreamento, ou nos perodos nocturnos. Para evitar que tal
suceda so utilizados nos mdulos fotovoltaicos dodos de bypass em anti-paralelo (Figura
2.4), para permitir que a corrente se desvie das clulas obscurecidas evitando o seu
sobreaquecimento (Pereira & Oliveira, 2011).
Figura 2.4 Dodos de bloqueio num gerador fotovoltaico (Omran, 2010).
Em caso de falha, ou no existncia dos dodos de bypass, as clulas actuam como resistncia,
recebendo e dissipando termicamente toda a corrente produzida pelas clulas a montante, o
que d origem criao de pontos quentes que danificam, e afectam severamente a operao
do mdulo.
8 Podendo ser utilizada a equao de Schockley-Read para modelar o seu comportamento (ver Cap. 3.2 ).
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 13/102
Como vemos, o sombreamento pode ser um dos factores responsveis pela reduo do
desempenho dos mdulos, e por conseguinte de todo o sistema PV9.
Atravs da equao anterior (Eq. 2.1) obtm-se a curva que relaciona a potncia produzida
pela clula ou mdulo solar, em funo da sua tenso (Figura 2.5):
Figura 2.5 Curva P-V de um mdulo fotovoltaico (Omran, 2010).
O ponto da curva no qual a potncia gerada pelo gerador mxima denominado por ponto
de potncia mxima, ou Maximum Power Point (MPP). Os valores correspondentes de Vpv e
Ipv so chamados de Vmpp e Impp (Figura 2.6). Neste ponto o valor de potncia designado
Pmpp (Rekioua & Matagne, 2012).
Figura 2.6 Pontos tpicos da curva I-V de um mdulo PV (Rekioua & Matagne, 2012).
A potncia mxima produzida pela clula pode ser obtida atravs da Eq. 2.3.
(Eq. 2.3)
Conclui-se assim que para a gama de tenses na qual operam a clula, ou mdulo PV, existe
um valor de tenso e corrente (um ponto caracterstico da curva I-V) no qual a produo
elctrica mxima. Assim a produo de uma clula, ou mdulo, pode ser controlada em
funo da tenso na qual opera.
9 Esta falha enquadra-se na categoria 3 (factores de relao homem-tecnologia), referida na introduo.
Po
tn
cia
(W)
Tenso (V)
Co
rren
te (
A)
Tenso (V)
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 14/102
O controlo da tenso de funcionamento da clula, mdulo, ou gerador PV um dos
factores tecnolgicos de optimizao.
Como veremos adiante, a maximizao da produo elctrica depender tambm da
irradincia e temperatura (factores ambientais externos).
A eficincia de converso de um mdulo ou clula fotovoltaica corresponde razo entre a
energia convertida para energia elctrica, e a energia da luz solar recebida, pelo que, como
vimos depender directamente do ponto de funcionamento (tenso) da clula. Ou seja, se a
clula/mdulo operar no ponto MPP a sua eficincia ser mxima.
A eficincia de uma clula PV depende do ponto da curva I-V no qual esta opera.
2.1.3 - O mdulo fotovoltaico
Os mdulos comerciais so compostos normalmente por 36 ou 72 clulas conectadas em srie
(Figura 2.7), de forma a elevar a sua tenso, e assim a potncia debitada. Uma vez que a tenso
em circuito aberto de uma clula comercial de 0,6 V, a tenso de cada mdulo em circuito
aberto poder ser da ordem dos 20 V ou 40 V (Pereira & Oliveira, 2011).
Figura 2.7 Esquema de um mdulo PV com 36 clulas conectadas em srie (Dzimano, 2008).
Numa ligao em srie a mesma corrente flui por todas as clulas, e a tenso nos terminais de
um mdulo corresponde soma das tenses individuais de cada clula. Por outro lado,
quando as clulas so ligadas em paralelo, a corrente ser a soma da corrente de cada clula
individual, e a tenso ser equivalente tenso de uma nica clula (Dzimano, 2008). A
potncia do mdulo, em condies de referncia varivel entre 10 e 150 W e o seu tamanho
entre 0,2 a 1,5 m2 (Pereira & Oliveira, 2011).
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 15/102
O mdulo tem tambm como funo proteger as clulas individuais da gua, da sujidade, e
outros elementos, cumprindo tambm a funo de proteco mecnica, sendo que as clulas
so colocadas no mdulo numa estrutura com uma ou duas lminas de vidro.
2.1.4 - O gerador fotovoltaico Array
Um gerador fotovoltaico, ou array, uma estrutura que consiste num nmero de mdulos
conectados para fornecer energia elctrica para uma determinada aplicao. Os geradores
podem variar em potncia de poucas centenas de watts a centenas de quilowatts (Dzimano,
2008). Como vimos, as clulas so ligadas em srie para formar um mdulo fotovoltaico. Para
aumentar a tenso os mdulos podem ser ligados em srie formando uma fileira (string). Por
ltimo, para aumentar a corrente as fileiras podem ser ligadas em paralelo formando um
array, conhecido por gerador fotovoltaico. O nmero de mdulos em cada fileira definido
em funo da tenso requerida para o gerador (Figura 2.8). Do mesmo modo que o nmero de
fileiras em paralelo definido de acordo com a corrente necessria ser fornecida pelo
elemento gerador (Omran, 2010).
Figura 2.8 Estrutura de um gerador fotovoltaico (PV Array) (Dzimano, 2008)
Assim, a corrente e tenso para n mdulos conectados em srie dada por:
(Eq. 2.4)
(Eq. 2.5)
A corrente, e tenso, para m mdulos conectados em paralelo dada por:
(Eq. 2.6)
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 16/102
(Eq. 2.7)
Com a associao de mdulos em srie obtm-se valores de tenso mais elevados, mas a
corrente mantm-se. Por outro lado, com a associao de mdulos em paralelo obtm-se
valores de corrente mais elevados, mas a tenso mantm-se.
2.1.5 - A importncia da radiao solar
Como seria de prever, o nvel de irradiao solar afecta o desempenho da clula e mdulos
PV. Como vimos, a quantidade de irradiao solar recebida numa superfcie num determinado
local depende de vrios factores: da localizao geogrfica10
, da hora do dia, da estao do
ano, da morfologia e do clima local (Figura 2.9) (Dzimano, 2008).
Figura 2.9 Irradiao solar - dependncia da declinao e coordenadas geogrficas (Luque & Hedegus, 2011).
A irradiao11
mede a radiao solar recebida numa determinada rea de superfcie num
determinado perodo (i.e. kWh/m2 por dia e corresponde ao integral no tempo da irradincia
(Rekioua & Matagne, 2012). A irradincia corresponde quantidade instantnea de fluxo
solar incidente numa superfcie (kW/m2) (Figura 2.10).
Figura 2.10 Relao entre Insolao e Irradincia solar (Rekioua & Matagne, 2012).
10 Uma vez que o ngulo de incidncia da luz numa determinada superfcie ir depender da sua orientao (da latitude).
11 A insolao outro nome dado irradiao, sendo normalmente expresso em horas de radiao padro de 1 kW/m2.
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 17/102
A densidade de radiao no exterior da atmosfera corresponde a 1.373 kW/m2, mas apenas 1
kW/m2 chega superfcie terrestre (Figura 2.11).
Figura 2.11 Componentes da radiao solar (Luque & Hedegus, 2011).
A irradiao incidente numa dada superfcie, e o seu espectro, variar assim tambm de
acordo com as condies climatricas: i.e. nebulosidade, composio de gases da atmosfera.
A irradiao (ou irradincia), juntamente com a temperatura de operao da clula, um dos
parmetros ambientais externos que condicionam o desempenho dos sistemas fotovoltaicos.
Assim, o conhecimento da radiao solar dos factores mais preponderantes a ter em conta na
modelao, e optimizao de sistemas fotovoltaicos (ver Cap. 2.3.4.4).
2.1.6 - Influncia da irradincia e temperatura no desempenho das clulas PV
As caractersticas elctricas de uma clula fotovoltaica dependem fundamentalmente da
irradincia e da temperatura qual a clula se encontrar exposta. Nas figuras seguintes
(Figuras 2.12 e 2.13) podemos observar o efeito da irradincia e da temperatura no
comportamento da clula atravs da anlise das curvas corrente-tenso (I-V).
Figura 2.12 Curvas I-V e P-V da clula PV para diferentes valores de irradincia e temperatura constante (Omran, 2010)
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 18/102
Como podemos observar na Figura 2.12, para a mesma temperatura de operao, o aumento
da irradincia provoca, um aumento linear da intensidade de corrente na zona linear da curva
(aumento da corrente de curto-circuito, Isc). No entanto, a tenso de circuito aberto (Voc)
apenas aumenta ligeiramente com a elevao da irradincia.
Figura 2.13 Curvas I-V e P-V da clula PV para diferentes valores de temperatura e irradincia constante (Omran, 2010)
Por outro lado, o aumento de temperatura, para o mesmo valor de irradincia, provoca uma
diminuio significativa da tenso de circuito-aberto, Voc, reduzindo a gama de tenso de
operao na qual o valor de corrente da curva tem um comportamento linear (constante).
Verifica-se tambm um aumento muito ligeiro da corrente na zona linear da curva (Figura
2.13).
A temperatura um parmetro importante no funcionamento de qualquer sistema PV pois as
clulas tm tendncia a aquecer devido exposio directa radiao solar. Para alm disso,
internamente, parte da energia captada no transformada em energia elctrica sendo
dissipada sob a forma de calor. Por este motivo, a temperatura de operao da clula sempre
mais elevada do que a temperatura ambiente.
No vero, devido ao aumento de temperatura, pode-se verificar uma diminuio na potncia
produzida de 35%, sendo que para evitar este fenmeno os mdulos devem ser capazes de
dissipar o calor para o exterior (Pereira & Oliveira, 2011).
A temperatura outro dos factores ambientais (externos) que condiciona o
desempenho das clulas e mdulos PV.
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 19/102
2.2 - Introduo aos Sistemas Fotovoltaicos
Os sistemas fotovoltaicos mudaram a forma como pensamos acerca da energia. Esta
tecnologia provou ser possvel gerar electricidade para o homem numa variedade de
aplicaes, escalas, climas e localizaes geogrficas. Estes sistemas tanto podem fornecer
energia a uma famlia de agricultores localizados numa zona remota sem acesso
electricidade, bombeando gua para consumo prprio ou de animais, ou fornecer electricidade
a estaes de comunicaes em zonas remotas sem ser necessrio construir uma estrada.
Podem tambm permitir a uma famlia na cidade produzir parte do seu consumo anual, e
ainda vender electricidade rede. Do espao, at ao sector dos transportes podemos encontrar
aplicaes dos sistemas fotovoltaicos.
Para alm disso a energia produzida tem a vantagem de ser silenciosa, ter baixos custos de
manuteno e no depender do abastecimento de combustveis (Seeling-hochmuth, 1998).
A tecnologia PV fornece neste momento energia a cerca de 10% da populao mundial rural
sem acesso rede (Luque & Hedegus, 2011). Outra evidncia que demonstra a importncia
dos sistemas fotovoltaicos, o facto de o mercado dos mdulos PV ter multiplicado mais de
20 vezes na dcada entre 1998 e 2008 (Luque & Hedegus, 2011) sendo a tecnologia de
produo de energia com crescimento mais rpido nos ltimos dez anos (IEA, 2011a).
Os sistemas PV podem ser instalados tambm como sistemas hbridos, nos quais a energia
fotovoltaica combinada com outras fontes de energia tal como a energia elica, com
pequenas centrais hidroelctricas ou geradores convencionais a combustveis fosseis. Assim
possvel tirar partido de vrias fontes de energia melhorando o rendimento global e a
viabilidade da instalao12
.
Os sistemas PV podem ser instalados em modo autnomo (conhecidos como sistemas off-
grid na designao anglo-saxnica) no qual cada instalao individual abastece um
determinado consumo, ou serem utilizados sistemas de maior dimenso para alimentar
pequenas redes elctricas (mini-grids). No caso dos sistemas autnomos, a energia produzida
dever cobrir necessariamente o consumo (Dzimano, 2008).
Normalmente sistemas com um mdulo de 10-40W e uma pequena bateria tm capacidade
suficiente para alimentar quatro lmpadas fluorescentes compactas. Sistemas com 50-100W
com baterias de 100Ah possibilitam alimentar rdios, leitores de CD e pequenas televises.
12 Para mais informao sobre sistemas hbridos fotovoltaicos consultar o Anexo II.1 onde feita uma pequena introduo a estes sistemas.
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 20/102
Com sistemas maiores possvel alimentar todos os equipamentos de uma casa, no entanto, o
seu custo torna-se muito elevado (Luque & Hedegus, 2011).
Por ultimo os sistemas PV tambm podem fornecer energia a uma habitao e ser conectados
a rede de distribuio de energia, permitindo fornecer electricidade para consumo prprio e/ou
para injeco (venda) de electricidade rede.
Em reas edificadas os sistemas PV podem ser instalados nas coberturas dos edifcios -
conhecidos como BAPV (building-adapted PV systems) - ou ser integrados na sua cobertura
ou fachadas (sistemas conhecidos como BIPV - building-integrated PV systems).
Existem diversos tipos de sistemas e aplicaes para os sistemas PV, sendo por esse motivo
estes normalmente classificados em funo de serem dependentes ou no da rede elctrica de
distribuio (Figuras 2.14 e 2.15), e do seu tipo de aplicao.
Figura 2.14 Classificao de Sistemas Fotovoltaicos (Dzimano, 2008).
PV
Sistemas Autnomos Sistemas
conectados rede
Sistemas directamente
conectados rede
Conectados atravs de
instalao domstica
Sem acumulao Com acumulao
Utensilios
Peq. aplicaes
AC autnomo
DC autnomo
Sistemas Hbridos
Com turbina
elica
Com gerador
diesel
Com cogerao
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 21/102
Figura 2.15 Classificao de Sistemas Fotovoltaicos (Luque & Hedegus, 2011).
A utilizao de sistemas fotovoltaicos tem inmeras vantagens (Quadro 2.1). Contudo
existem tambm algumas desvantagens inerentes, cujo impacte se tem tentado minorar atravs
da optimizao dos sistemas, e que sero objecto de estudo desta dissertao.
Quadro 2.1 Vantagens e desvantagens da utilizao de energia fotovoltaica (adaptado de Luque & Hedegus, 2011).
Vantagens Desvantagens
Fonte energtica abundante, facilmente acessvel, e
infinita escala temporal humana. Fonte energtica difusa e de baixa densidade.
No contribui directamente para as alteraes
climticas ou poluio ambiente: no produz
emisses gasosas ou resduos.
Custo de investimento inicial elevado.
Baixos custos de operao (no necessita de
combustvel). Produo horria e diria difcil de prever.
No h movimentao interna de peas: reduzido
desgaste.
Falta de meios de acumulao de energia com boa
relao tecno-econmica.
Elevada fiabilidade (garantias dos fabricantes de
mais de 30 anos)
Modularidade (permite expandir o sistema
facilmente).
Integrao paisagstica (pode ser integrado em
edifcios novos ou j existentes).
Instalao rpida perto de qualquer ponto de
consumo.
Produo anual pode ser facilmente estimada.
Para cobrir as necessidades de consumo em momentos de indisponibilidade solar, os sistemas
autnomos utilizam frequentemente um mdulo de apoio acumulador de energia, que poder
Residencial Produtos de
Consumo Comercial Vila/Aldeia Aeroespacial Residencial Comercial Utility
Iluminao de
Jardim
Carregadores
Semforos
Relgios
Calculadoras
Sist. de
Rega
Proteco
Catdica
Telecomuni
caes
Telecomuni
caes
Refrigerao
Prod. Mdicos
Casa com
armazenam.e
m DC
Casa com
armazenam.
em AC
C
Casa com armazename
nto em DC PV + Diesel
(Hbrido)
Microrede Acumulao
Sem
Acumulao
BIPV
Telhado
Fachada
Solo
Central
Distribuido
PV
Off-grid On-grid
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 22/102
ser uma bateria de acumuladores. No caso dos sistemas conectados rede (on-grid) a prpria
rede elctrica cumpre a funo do mdulo de apoio.
Os sistemas autnomos necessitam de um meio de acumulao de energia: i.e.
normalmente baterias de acumuladores electroqumicos.
Uma vez que os mdulos PV produzem corrente contnua em baixa tenso, um sistema de PV
requer normalmente componentes adicionais, tal como inversores DC/AC e transformadores
de elevao de tenso para garantir as condies necessrias no lado do utilizador, para
alimentar os equipamentos utilizados nas redes convencionais.
Ao produzirem corrente contnua em baixa tenso torna-se necessrio, na maior parte
dos casos recorrer equipamentos conversores (inversores) e transformadores de
tenso.
Para optimizar e controlar a operao dos sistemas fotovoltaicos so utilizados dispositivos de
controlo de potncia (power conditioning units PCU). As unidades de condicionamento so
responsveis pela execuo de diferentes tipos de funes de condicionamento de sinal e
potncia, consoante o tipo de sistema e sua aplicao. Um mesmo equipamento pode integrar
mais que uma funcionalidade (i.e. inversor com controlo de carga da bateria de
acumuladores), facilitando assim a instalao e a operao do sistema.
Para facilitar a compreenso dos diferentes tipos de sistemas fotovoltaicos existentes, e a
identificao dos principais factores que condicionam o seu desempenho optou-se por
apresentar nos sub-captulos seguintes, de forma sequencial segundo o seu grau de
complexidade, diversas configuraes de sistemas PV.
Inicia-se a descrio partindo da configurao mais simples (elemento gerador conectado
directamente carga), at chegar, atravs da introduo de elementos adicionais (bateria de
acumuladores electroqumica, regulador de carga, inversor) a configuraes mais complexas.
Comea-se com a anlise do sistema flutuante, formado apenas por mdulos fotovoltaicos e
cargas DC. Continua-se com a introduo de uma bateria de acumuladores, definindo-se
assim o sistema autnomo. Em seguida introduzido um regulador de carga sistema com
regulador de bateria. Com a incorporao de um inversor passam a existir dois (barramentos)
de potncia DC e AC, denominando-se este o sistema completo. Um conversor CC/CC entre
painis e baterias permite aplicar estratgias de controlo na gerao de energia, denominando-
se este por sistema controlado. Por ltimo introduz-se no sistema um ponto de acesso rede,
no sistema conectado rede.
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 23/102
Em cada sistema apresentado, so discutidas as suas valncias e constrangimentos adicionais,
introduzindo os conceitos necessrios para a compreenso da problemtica da optimizao
destes sistemas.
2.2.1 - Sistema flutuante
O sistema flutuante o sistema mais simples de todas as configuraes possveis num sistema
fotovoltaico. Este consiste simplesmente em conectar directamente os mdulos fotovoltaicos
s cargas (Figura 2.16).
Figura 2.16 Esquema elctrico do sistema flutuante (Murillo, 2003).
Neste sistema apenas existe uma tenso e corrente. So as cargas que fecham o circuito,
polarizando assim os mdulos e definindo o ponto de trabalho do sistema (Figura 2.17)
(Murillo, 2003).
Figura 2.17 Regime de funcionamento do sistema flutuante (Murillo, 2003)
Note-se que este sistema no poder cumprir com quaisquer requisitos de potncia quando
no exista suficiente disponibilidade solar (irradincia) uma vez que no dispe de meios de
acumulao de energia.
Murillo & Bergs (2003) realizaram uma experincia controlada em laboratrio para um
sistema flutuante. Considerando os valores de entrada (irradincia e temperatura nos painis, e
Tenso (V)
Co
rren
te (
A)
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 24/102
resistncia e temperatura de funcionamento da carga) obtiveram-se os valores de corrente e
tenso no sistema presentes na Figura 2.18, recorrendo a simulao efectuada em MatlabTM
.
Figura 2.18 Sistema flutuante: irradincia e temperaturas nos mdulos PV e tenso e corrente do circuito (Murillo, 2003).
O perfil de carga corresponde activao de cargas de 120W controladas mediante rels de
activao. Observou-se claramente, a partir dos resultados obtidos que os mdulos solares so
incapazes de alimentar correctamente as cargas. A tenso situa-se muito prxima da tenso de
circuito-aberto (ver Figura 2.17), no se conseguindo gerar potncia suficiente (Murillo,
2003).
Assim, relativamente ao sistema flutuante pode-se concluir o seguinte:
1. No possibilita alimentar cargas em momentos de nula ou fraca irradincia;
2. em momentos com algum nvel irradincia nem sempre consegue alimentar as cargas,
uma vez que a resistncia da carga condiciona o ponto de funcionamento (tenso) do
sistema a um valor que no maximiza (optimiza) a produo de energia13
.
13 Relativamente a este ponto, ver Captulo Determinao das Curvas Corrente/Potncia-Tenso (4.1).
Tempo (h) Tempo (h)
Tempo (h) Tempo (h)
Ten
so
(V
)
Co
rren
te (
V)
Irra
di
nci
a (W
/cm
2)
Tem
per
atu
ra (
C)
(W/c
m2)
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 25/102
2.2.2 - Sistema Autnomo
O sistema autnomo ou stand-alone formado por mdulos fotovoltaicos, bateria de
acumuladores e cargas. Este sistema pode considerar-se como a ampliao do sistema
flutuante, incorporando uma bateria de acumulador configurao apresentada anteriormente.
Figura 2.19 Esquema elctrico do sistema autnomo (Murillo, 2003).
Continua a existir uma nica tenso no circuito, mas as correntes que circulam por cada
elemento so distintas. Neste caso, a bateria fora o ponto de trabalho do sistema a localizar-
se na margem do seu regime de tenso de operao normal, identificado na zona amarela da
Figura 2.20, onde se representa o regime de funcionamento do sistema autnomo (neste caso
utilizada uma bateria com tenso nominal de 24V).
Figura 2.20 Regime de funcionamento do sistema autnomo (Murillo, 2003).
A corrente que circula pela bateria a corrente gerada pelos mdulos fotovoltaicos subtrada
da corrente consumida pelas cargas. Ao contrrio do sistema flutuante, o sistema autnomo
dispe de alguma capacidade para alimentar as cargas quando diminui a irradincia solar.
Note-se que esta configurao j permite simular a maior parte dos sistemas fotovoltaicos
convencionais, pois dispe dos elementos indispensveis: mdulos fotovoltaicos, bateria e
cargas (Murillo, 2003).
Utilizando os mesmos dados climticos (irradincia e temperatura no exterior, e resistncia e
temperatura de funcionamento da carga) do exemplo anterior, Murillo (2003) simulou a
Tenso (V)
Co
rren
te (
A)
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 26/102
evoluo da tenso do sistema e da corrente gerada pelos mdulos, e a corrente que flui pela
bateria e pelas cargas (Figura 2.21).
Nota: valores empricos representados a cor vermelha e valores simulados representados a cor azul.
Figura 2.21 Sistema autnomo: Tenso do sistema, corrente produzida pelos mdulos PV, e corrente na bateria e nas cargas(Murillo, 2003)
14.
Note-se que a corrente que flui pela bateria bidireccional: nas horas de mxima irradincia
os mdulos geram corrente suficiente para alimentar as cargas e carregar a bateria, enquanto
que durante a noite toda a corrente fornecida pela bateria.
Verifica-se que a colocao da bateria no sistema permitiu solucionar os problemas de
alimentao das cargas, que existia no sistema flutuante. Contudo isso feito custa
sobretudo da energia acumulada na bateria (Figura 2.22).
Constata-se neste caso que o nvel de energia da bateria decresce continuamente ao largo dos
6 dias analisados (Figura 2.22), devido incapacidade dos mdulos carregarem
suficientemente a bateria durante as horas de irradincia.
14 A trao vermelho apresentam-se os valores empricos (medidos) e a azul os valores simulados A diferena entre os valores medidos e
simulados devem-se actuao no prevista de um regulador de bateria.
Bateria - Tempo (h) Cargas - Tempo (h)
Mdulos PV - Tempo (h) Tempo (h)
Ten
so
(V
) C
orr
ente
(A
)
Co
rren
te (
A)
Co
rren
te (
A)
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 27/102
Figura 2.22 Evoluo do nvel de energia na bateria (Murillo, 2003).
Nos sistemas autnomos com recurso a acumulao em baterias, o seu
dimensionamento e desempenho depende da capacidade e estado de carga da bateria.
A eficincia da bateria por sua vez dependente das condies de irradiao solar, entre
outros factores. No captulo seguinte iremos abordar com mais detalhe este elemento.
Assim podemos concluir que a bateria de acumuladores um elemento de apoio til para
alimentar cargas em momentos de fraca ou nula irradincia. Contudo a sua capacidade
limitada.
2.2.3 - Acumuladores de Energia
Como vimos os sistemas autnomos utilizam uma bateria de acumuladores de elementos
electroqumicos como forma de armazenamento de energia para fornecer energia quando no
existe disponibilidade solar e para possibilitar a resposta a diferentes perfis de consumo. No
fundo a bateria de acumuladores utilizada para situaes em que o elemento gerador PV no
consegue responder s necessidades de consumo da instalao.
As baterias de acumuladores electroqumicas armazenam energia na forma qumica. A
maioria dos sistemas utiliza baterias de acumuladores (baterias) de chumbo-cido de descarga
profunda (Seeling-hochmuth, 1998). Estas baterias tm a melhor relao preo-eficincia, e
podem assegurar correntes de carga tanto elevadas como reduzidas com uma boa eficincia
(EU, 2004).
A sua maior limitao o facto de terem de ser operadas dentro de limites bem definidos uma
vez que so susceptveis a danos em determinadas condies, tais como sobrecarga, subcarga
e permanecerem durante longos perodos de tempo num baixo estado de carga. No entanto
caso as suas condies de funcionamento sejam favorveis estas podero durar at 15 anos em
configuraes de sistemas autnomos (Seeling-hochmuth, 1998).
Tempo (h)
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 28/102
As baterias consistem em um ou mais elementos electroqumicos (clulas) conectadas em
srie. Cada elemento constitudo por placas que se encontram imersas num electrlito. A
tenso de cada clula depende da natureza do electrlito. Quando descarregadas ocorre uma
reaco qumica entre as placas, e o electrlito produz electricidade, ocorrendo o inverso
quando a bateria carrega (Seeling-hochmuth, 1998).
A espessura das placas dos elementos da bateria determina a descarga mxima aps a qual a
bateria sofre danos. As baterias de ciclos rpidos (de descargas pouco profundas) no devem
ser descarregadas para alm de 10 a 20% na gama da sua capacidade nominal (profundidade
de descarga) correndo o risco de se deteriorarem. As baterias de placas tubulares, indicadas
para ciclos profundos, podem ser descarregadas frequentemente at 70 a 80% da sua
profundidade de descarga. No entanto tm o inconveniente de no poder ser carregadas e
descarregadas de forma rpida (Jimenez, 1998).No dimensionamento do sistema, a seleco
da tenso nominal da bateria depende do inversor ou controlador de produo utilizado,
podendo a sua tenso variar de 12, 24, 48 at 120 e 240 V DC. Assim, as baterias devem ser
seleccionadas e combinadas em srie para satisfazer estes requisitos de tenso. O nmero de
linhas de baterias (em srie) que podem ser conectadas em paralelo normalmente limitado a
cerca de cinco para evitar custos de monitorizao e manuteno.
A bateria de acumuladores dever ser dimensionada correctamente, para evitar falhas
no fornecimento de energia assim como para evitar acrscimo de custo demasiado
elevado ao sistema (relao custo-benefcio).
2.2.3.1 - Capacidade de um acumulador
A capacidade (C) de um acumulador a quantidade de electricidade que a bateria pode
fornecer at ficar totalmente descarregada, em determinadas condies de descarga. A
capacidade varia consoante a intensidade da corrente de descarga e com a temperatura.
Quando a temperatura diminui, a capacidade diminui, devido influncia da temperatura na
densidade do electrlito, influenciando os processos internos. Segundo EU (2004), se a
temperatura descer de 20 C para 0 C, a capacidade disponvel poder diminuir at 25 %.
O valor da capacidade da bateria depende das condies de sua utilizao: da temperatura, das
correntes de carga e descarga, do tipo de descarga (parciais, ou profundas). Todos estes
factores afectam cumulativamente as condies e capacidade da bateria ao longo do seu ciclo
de vida, como veremos em seguida (Seeling-hochmuth, 1998).
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 29/102
Nos sistemas fotovoltaicos, a capacidade de armazenamento situa-se geralmente entre 0,1 e
100 kWh, embora j tenham sido implementados alguns sistemas na gama dos MWh (EU,
2004).
2.2.3.2 - Descarga
A corrente de descarga influencia a capacidade de uma bateria. Vejamos o seguinte exemplo:
para uma descarga de 100 horas, possvel extrair da bateria 100 Ah (C100), podendo ser
descarregada durante 100 horas com uma corrente de 1A. Os fabricantes de baterias
costumam representar a capacidade de baterias em Ah. Embora no seja uma medida directa
da energia de uma bateria (como o joule (J) ou watt-hora (Wh)), uma medida comum de
quanto uma bateria deve durar. Se a mesma bateria for descarregada por uma intensidade de
corrente de 8 A, a tenso final de descarga atingida ao fim de 10 h, pelo que apenas pode
fornecer 80 Ah. Assim, a capacidade da bateria C10 de 80 Ah.
Figura 2.23 Relao da capacidade (Ah) com o tempo de descarga (h) (EU, 2004).
Vejamos noutro exemplo (Figura 2.24) a diferena entre duas curvas de descarga, a 1 e 20 A
para uma bateria de 12V e 90 Ah.
Figura 2.24 Curvas de descarga de uma bateria de chumbo-cido (Seeling-hochmuth, 1998).
Tempo de descarga (h)
Cap
acid
ade
(Ah
)
Profundidade de descarga (%)
Ten
so (
V)
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 30/102
As descargas profundas (tenso da bateria baixa muito) diminuem o tempo de vida til das
baterias. Com elevadas correntes de descarga ocorre o fenmeno de sulfatao: as molculas
de sulfato depositam-se nas placas no incio do processo e bloqueiam a rpida penetrao das
restantes molculas (EU, 2004).
Normalmente define-se um valor limite de descarga. A profundidade de descarga, a
percentagem de carga retirada a uma bateria, at ao valor limite de descarga (tenso) pr-
definido. essencial que as baterias de chumbo-cido de ciclo longo nunca descarreguem
mais de 60% da sua carga total (Pereira & Oliveira, 2011).
O nmero de descargas e nvel de profundidade atingida condiciona o tempo de vida das
baterias. A curva caracterstica da Figura 2.25 ilustra o ciclo de vida til de uma bateria de
chumbo-cido. Para profundidades de descarga de 70 % (o que significa que 70% da sua
capacidade descarregada regularmente), atinge um ciclo de vida de apenas 200 ciclos. Para
50 %, aumenta significativamente para um nmero algures acima de 400 ciclos e, para 20 %,
atinge 1.000 ciclos. (EU, 2004).
Figura 2.25 Ciclo de vida til de acumuladores de Chumbo-cido (a negro) (EU, 2004).
Por este motivo, a capacidade nominal da bateria Cn tem de ser sempre especificada
juntamente com a respectiva corrente de descarga ou, como habitual, em funo do tempo
de descarga para o qual a capacidade nominal da bateria expressa. (EU, 2004). A capacidade
nominal o produto da descarga constante In e do tempo de descarga tn: Cn = In x tn 15
(EU,
2004).
15 A capacidade de uma bateria mede-se em Ah e no em Wh porque a corrente um valor mensurvel que independente da tenso do
circuito assim possvel comparar baterias em circuitos com diferentes tenses).
Nmero de ciclos de carga e descarga
Pro
fun
did
ade
de
des
carg
a (%
)
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 31/102
2.2.3.3 - Carga de uma bateria
O processo de carga no constante: para a bateria de chumbo-cido, nas primeiras 4 horas a
bateria carrega 80% da sua capacidade e 20% nas trs horas seguintes (Pereira & Oliveira,
2011).
A sobrecarga e a operao a temperaturas elevadas pode causar um fenmeno conhecido por
gassing, em que quantidades excessivas de H2 e O2 so formadas. Este fenmeno diminui o
tempo de vida da bateria, o que pode provocar um aumento da resistncia interna, perdas de
gua conduzindo a sulfatao e curto-circuito, e reduo da capacidade e do ciclo de vida.
Para prolongar a sua durabilidade as baterias devero ser carregadas no mximo a 10-20% da
sua capacidade nominal por hora. i.e. uma bateria com 100Ah dever carregar a um mximo
de 20Ah (Pereira & Oliveira, 2011).
Parte da energia utilizada para carregar a bateria perdida no processo de converso electro-
qumico. No processo de carregar e descarregar a bateria a eficincia global poder variar,
tipicamente entre 50 a 80% (Seeling-hochmuth, 1998).
2.2.3.4 - Auto-Descarga
Para alm das perdas que se verificam durante a carga e descarga, na bateria ocorre tambm
um fenmeno de auto-descarga quando no est a ser utilizada.
Para reduzir a auto-descarga, as baterias que no estiverem a ser utilizadas devem ser
armazenadas a baixas temperaturas. A bateria com menor efeito de auto-descarga a de
chumbo-cido, mas tambm a que tem menor nmero de ciclos de vida. A taxa de auto-
descarga pode duplicar a cada 10C de aumento de temperatura. A percentagem de auto-
descarga mensal anda a volta de 2 a 4% dependendo do tipo de bateria (Pereira & Oliveira,
2011).
Por outro lado, para optimizar o desempenho as baterias no devem estar durante perodos
longos (mais de duas semanas) com baixos estados de carga. Sujeitas a ciclos parciais nestas
condies tornam as baterias susceptveis sulfatao (corroso das placas) e estratificao
do electrlito, ambas reduzindo a capacidade e ciclo de vida (Seeling-hochmuth, 1998).
As baterias devem ser equalizadas uma vez por ms. A equalizao um processo no qual se
procede sobrecarga controlada das baterias para evitar que as vrias baterias do sistema
tenham tenses diferentes, o que pode provocar a ocorrncia de correntes parasitas (Pereira &
Oliveira, 2011; Seeling-hochmuth, 1998).
-
Modelao e Simulao de Sistemas Fotovoltaicos Dissertao de Mestrado Pg. 32/102
2.2.3.5 - Proteco da bateria (reguladores de carga ou carregadores)
Para proteger as baterias de situaes de sobre-carga, sobre-descargas e auto-descarga, entre
outros dos efeitos indicados anteriormente, so utilizados dispositivos chamados
controladores ou reguladores de carga. Algumas das funes dos reguladores de carga
incluem: proteco contra sobrecargas e subcargas, controlo de operao do mdulo ou
gerador PV no ponto de mxima eficincia, funes de equalizao, tenses de flutuao,
alarmes, compensao por temperatura da bateria.
Uma bateria electroqumica tem as seguintes tenses de operao: tenso nominal (do
fabricante), tenso de flutuao (tenso aplicada bateria para evitar a auto-descarga),
tenso de carga (tenso que se aplica para nivelar a tenso entre vrias baterias num
circuito), tenso final de descarga (tenso correspondente ao valor limite de descarga
permitido para uma bateria, aps o qual ocorrem danos irreversveis) (Pereira & Oliveira,
2011).
Estes valores de tenses so parametrizveis na maioria dos reguladores: tenso de corte de
sobrecarga Vsc, acima da qual interrompida a ligao do gerador com a bateria, tenso de
recarregamento de carga Vrc, acima da qual restabelecida a ligao da bateria com o
gerador), tenso de corte de descarga profunda Vsd, abaixo da qual se desconectam as cargas
de consumo, tenso de recarregamento da recarga Vrd, acima da qual se restabelece a
conexo com as cargas de consumo (Pereira & Oliveira, 2011).
Os controladores de carga so equipamentos essenciais para garantir boas condies
de funcionamento das baterias, e prolongar o seu tempo de vida til.
2.2.3.6 - Concluses
Para aproveitar o mximo da capacidade das baterias, as descargas devem ser lentas (a
corrente de descarga deve ser baixa), aumenta-se assim a eficincia e o tempo de vida til
(Pereira & Oliveira, 2011).
No dimensionamento das baterias devem ter-se em conta estes parmetros, devendo ser feito
um trade-off entre uma profundidade de descarga baixa, em que a bateria ser menos afectada
pela sulfatao, mas poder ser interrompida a alimentao e ocorrero mais ciclos de
carga/descarga, e uma profundidade de descarga elevada, em que apesar da alimentao ser
mais constante, e o nmero de ciclos reduzido, o tempo de vida da bateria poder ser reduzido
devi