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MOÇÃO AVALIAÇÃO DO ENSINO CENTRADO NO ESTUDANTE Segundo o Relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, Education at a Glance 2015, do ponto de vista dos próprios profissionais que compõem o sistema educativo, Portugal pertence ao grupo dos quatro principais países que lideram na falta de inovação no sector da Educação, em contraste com outras vertentes da economia. O cenário torna-se ainda mais complicado quando se analisa a posição de Portugal entre estes quatro países, situando-se como o menos inovador a par da República Checa. No livro 40 Anos de Políticas de Ciência e de Ensino Superior, de Maria de Lurdes Rodrigues e Manuel Heitor, é demonstrado, através de dados concretos e estruturais, que o processo de contratação de docentes e investigadores atinge taxas extremamente elevadas nas Instituições de Ensino Superior Portuguesas para membros já pertencentes à academia, existindo um nível baixo de contratação de elementos exteriores a essa comunidade. Por exemplo, Portugal encontra-se bastante próximo (a este nível) de Espanha, tendo uma taxa de 95%, enquanto países como o Reino Unido atingem apenas os 17%. Aos factos elencados anteriormente, adicionam-se ainda outras problemáticas, como a falta de conhecimento das European Standards and Guidelines (ESG), a falta de flexibilidade curricular existente nos diferentes cursos e o fosso nas metodologias de aprendizagem aplicadas num 1o ciclo e num 2o ciclo, no âmbito do modelo do Ensino Centrado no Estudante executado em Portugal. O Ensino Centrado no Estudante é a aprendizagem focada nos estudantes e nas suas necessidades, envolvendo-os no seu próprio processo de ensino. Considerado por peritos da área das Ciências da Educação como um ensino inovador, este tipo de ensino permite que o estudante esteja sempre na linha da frente do seu processo formativo, não se limitando a uma simples metodologia de aprendizagem, mas sim a uma mudança na cultura dentro e fora da sala de aula, implementado no processo de Bolonha. De acordo com o relatório Overview on Student Centred Learning in Higher Education in Europe da European Student’s Union, que teve por base as respostas de 20 países da União Europeia (Portugal incluído), apenas cerca de 26% do total da população estudantil tem conhecimento e compreende completamente o modelo do Ensino Centrado no Estudante. Também o artigo Implementação de novas práticas pedagógicas no Ensino Superior, datado de 2013, apontava a necessidade de uma melhoria significativa na qualidade pedagógica dos docentes, valorizando a interação e a troca de informação entre docente e aluno, desejando-se, cada vez mais, o estímulo à criatividade dos estudantes em detrimento de uma exposição passiva dos conhecimentos já existentes. A relação entre a formação, a investigação e a inovação revela-se central num tipo de ensino mais focado no estudante. Uma das filosofias do Ensino Centrado

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MOÇÃO

AVALIAÇÃODOENSINOCENTRADONOESTUDANTE

Segundo o Relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico,Education at a Glance 2015, do ponto de vista dos próprios profissionais que compõem osistema educativo, Portugal pertence ao grupo dos quatro principais países que lideram nafaltadeinovaçãonosectordaEducação,emcontrastecomoutrasvertentesdaeconomia.Ocenário torna-seaindamaiscomplicadoquandoseanalisaaposiçãodePortugalentreestesquatropaíses,situando-secomoomenosinovadorapardaRepúblicaCheca.

Nolivro40AnosdePolíticasdeCiênciaedeEnsinoSuperior,deMariadeLurdesRodrigueseManuelHeitor,édemonstrado,atravésdedadosconcretoseestruturais,queoprocessodecontrataçãodedocenteseinvestigadoresatingetaxasextremamenteelevadasnasInstituiçõesdeEnsinoSuperiorPortuguesasparamembrosjápertencentesàacademia,existindoumnívelbaixo de contratação de elementos exteriores a essa comunidade. Por exemplo, Portugalencontra-se bastantepróximo (a este nível) de Espanha, tendouma taxade 95%, enquantopaísescomooReinoUnidoatingemapenasos17%.

Aosfactoselencadosanteriormente,adicionam-seaindaoutrasproblemáticas,comoafaltadeconhecimentodasEuropeanStandardsandGuidelines(ESG),afaltadeflexibilidadecurricularexistentenosdiferentescursoseofossonasmetodologiasdeaprendizagemaplicadasnum1ocicloenum2ociclo,noâmbitodomodelodoEnsinoCentradonoEstudanteexecutadoemPortugal.

O Ensino Centrado no Estudante é a aprendizagem focada nos estudantes e nas suasnecessidades,envolvendo-osnoseupróprioprocessodeensino.ConsideradoporperitosdaáreadasCiênciasdaEducaçãocomoumensino inovador,estetipodeensinopermitequeoestudanteestejasemprenalinhadafrentedoseuprocessoformativo,nãoselimitandoaumasimplesmetodologiadeaprendizagem,massimaumamudançanaculturadentroe foradasaladeaula,implementadonoprocessodeBolonha.

DeacordocomorelatórioOverviewonStudentCentredLearninginHigherEducationinEuropedaEuropeanStudent’sUnion,queteveporbaseasrespostasde20paísesdaUniãoEuropeia(Portugalincluído),apenascercade26%dototaldapopulaçãoestudantiltemconhecimentoecompreende completamente omodelo do Ensino Centrado no Estudante. Tambémo artigoImplementaçãodenovaspráticaspedagógicasnoEnsinoSuperior,datadode2013,apontavaanecessidadedeumamelhoriasignificativanaqualidadepedagógicadosdocentes,valorizandoa interação e a troca de informação entre docente e aluno, desejando-se, cada vezmais, oestímulo à criatividade dos estudantes em detrimento de uma exposição passiva dosconhecimentosjáexistentes.Arelaçãoentreaformação,ainvestigaçãoeainovaçãorevela-secentralnumtipodeensinomaisfocadonoestudante.UmadasfilosofiasdoEnsinoCentrado

no Estudante passa pela reflexão contínua entre docentes, alunos e Instituições sobre osmétodosdeensino,paraconseguiremalcançarosobjetivospretendidos.

Aoníveldagarantiadaqualidadedosistemadeensinoportuguês,existemdoispatamaresdeavaliação:dopontodevistadaInstituiçãoedopontodevistadosciclosdeestudo.Estasduastipologias,realizadaspelaAgênciadeAvaliaçãoeAcreditaçãodoEnsinoSuperior(A3ES),vêmaoencontrodospressupostosdeBolonha,tantodasdiversasDeclaraçõesMinisteriais,comodas ESG. Contudo, falta concretizar um passo fundamental que, aliás, está a ser executadoneste momento através de um projeto piloto da União Europeia: a avaliação do EnsinoCentradonoEstudante.Este terceiropatamarserácrucialparaoculminardeumaavaliaçãoqueconsigaabrangertodasasvertentesdareformadeBolonha,fechandooprópriociclodeacreditação. Ao mesmo tempo, conseguirá melhorar o ensino dos ciclos de estudo,aumentandooescrutíniodotrabalhodesenvolvidopeladocêncianasdiferentesacademias.

Todas as medidas terão de ser acompanhadas da devida reciclagem de conhecimentos doquadro docente, uma vez que um dos principais entraves à implementação do Processo deBolonha foi um período de adaptação em Portugal mal aplicado. O ensino precisa de serurgentemente reformado, sob pena dos ciclos de estudo não estarem devidamentepreparadosparaosnovosdesafiosdesteséculo.Aarticulaçãodestastrêspolíticas(aplicação,avaliaçãoeformação)promoverãoamaiorreestruturaçãodoensinoemPortugalalgumavezexperienciado,podendocolocaropaísapardosrestantesparceiroseuropeusnarevitalizaçãodoEnsinoSuperior.

Assim, as Associações e Federações Académicas e de Estudantes, reunidas em sede deEncontro Nacional de Direções Associativas nos dias 10 e 11 de setembro, consideram deextremarelevância:

-AcriaçãodeumacomissãoespecíficanointeriordaA3ES,cujafunçãoseriadesenvolverumaestratégia para a aplicação do modelo de Ensino Centrado no Estudante nas Instituiçõesportuguesaseparaconstruirumsistemadeavaliaçãodoensinoporpartedosdocentes,emarticulaçãocomoMovimentoAssociativoNacional,oConselhodeReitoresdasUniversidadesPortuguesas, o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos e a AssociaçãoPortuguesadoEnsinoSuperiorPrivado;

-A comissão teria como tarefa a concretização de uma bolsa de avaliadores para o EnsinoCentradonoEstudante;

-Acomissãoteriatambémcomoobjectivoaimplementaçãoodeformaçõespedagógicasparaarenovaçãoodoquadrodocente.

Évora,11desetembrode2016