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Colectânea de Comunicações do Chefe de Estado (2005 - 2014) Moçambique Pátria de Heróis Moçambique: Pátria de Heróis

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Page 1: Moçambique: Pátria de Heróis - - Armando Emilio Guebuza · Heróis Nacionais: Símbolos e referências na construção do orgulho de uma Nação ... De entre todos os precursores

Colectânea de Comunicações do Chefe de Estado (2005 - 2014)

Moçambique Pátria de Heróis

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Moçambique

Pátria de Heróis

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Ficha Técnica:

TÍTULO:Moçambique - Pátria de Heróis

EDITORES:Professor Doutor Renato Matusse, Dras. Josina Malique e Joharia Issufo

DESIGNER:Dr. Cândido Nhaquila

REVISOR:Dr. Moisés Mabunda

FOTOS:Gabinete de Imprensa da Presidência da República

IMPRESSÃO:ACADÉMICA

NÚMERO DE REGISTO:8319/RLINLD/2015

TIRAGEM:1000 Exemplares

© Direitos reservados

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Eduardo Chivambo Mondlane: Insigne filho de Moçambique,

percutor da nossa Nacionalidade................................... 8

Eduardo Mondlane: Símbolo da persistência do moçambicano

e exemplo de dedicação por Moçambique........................... 14

Eduardo Mondlane: Intelectual exemplar, nacionalista

esclarecido e dirigente carismático................................. 19

Eduardo Chivambo Mondlane: A juventude vulgar de um

Homem invulgar.......................................................... 25

Da Resistência à Dominação Estrangeira à Libertação de

Moçambique: As lições do Presidente Mondlane................... 30

Samora Machel: Uma figura imortal, uma referência

obrigatória no nosso quotidiano...................................... 34

Samora Machel: Um icone da nossa libertação e da afirmação

da nossa moçambicanidade............................................ 41

Samora Machel: Cultor da complementaridade entre a geração

do 25 de Setembro e a do 8 de Março, pelo progresso de

Moçambique.............................................................. 46

Samora Machel: Arquitecto do Palácio da Ponta Vermelha

como ponto de convergência.......................................... 52

Samora Machel: Promotor da Paz e da libertação política

e económica na África Áustral........................................ 55

Samora Machel: O líder de quem emanam as aspirações de

um Povo.................................................................. 59

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MOÇAMBIQUE: Pátria de Heróis

Samora Machel: Promotor de valores nobres que a todos

nós orgulham............................................................ 64

Samora Machel: Uma figura emblemática em Moçambique

e no Mundo................................................................ 67

Samora Machel: Seu papel no desenvolvimento de Tete e na

liderança de Tete para a Libertação Nacional e do

Zimbabwe................................................................. 69

Samora Machel: Combatente pela Paz na Região e promotor

da solidariedade entre os Povos...................................... 75

Samora Machel: Um diplomata que promoveu mudanças na

Região e no Mundo....................................................... 80

Samora Machel: As circunstâncias da morte do líder que ainda

vive........................................................................ 87

Presidente Samora Machel: Seu papel na construção de um

Moçambique sempre melhor........................................... 93

Presidente Samora Machel: A celebração de uma vida e

obra que não cabe num ano civil..................................... 99

Presidente Samora Machel: Nossa fonte de inspiração na

construção do nosso futuro melhor.................................. 103

O Livro: Fonte do conhecimento para produção de mudanças

positivas na sociedade................................................. 108

Joaquim Chissano: o quebrador de barreiras...................... 111

Herói Nacional: Um patriota que desafiou a pré-destinação,

auto-superou-se e superou desafios................................. 116

Monumento: Síntese de um percurso, farol para a caminhada

do futuro................................................................ 121

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MOÇAMBIQUE: Pátria de Heróis

Josina Machel: Símbolo maior da emancipação da mulher,

um nome que se agiganta com o tempo.......................... 126

Josina Machel: Uma referência sobre a grandeza da Mulher

Moçambicana........................................................... 131

Trajectória política de Josina Machel: Exemplo de dedicação

e de amor por Moçambique e seu Povo............................ 137

Mateus Sansão Muthemba: O homem dos ventos que

tempestades gerou para abalar o colonial fascismo..............140

Paulo Samuel Kankhomba: Mais um herói na Pátria de

Heróis.................................................................... 146

Os nossos heróis: Fonte de inspiração na nossa Luta Contra a

Pobreza .............................................................. 151

José Macamo: Dedicado enfermeiro e destemido dirigente

da guerrilha............................................................. 158

John Issa: Exemplo de compatriota que soube articular e

partilhar convicções.................................................. 163

Armando Tivane: Um Herói desta Pátria de Heróis.............. 168

Francisco Manyanga: O exemplo de como se molda um

Herói..................................................................... 175

Joaquim Marra: Obreiro de um legado que nos inspira

hoje e sempre.......................................................... 180

Tomás Nduda: Nacionalista abnegado e combatente

destemido................................................................ 186

Heróis Nacionais: Símbolos e referências na construção do orgulho

de uma Nação............................................................ 191

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MOÇAMBIQUE: Pátria de Heróis

Homens de Valor: Referências na Luta Contra a Pobreza e na cons-trução de um Moçambique sempre melhor.......................... 197

Robati Carlos: Dono de uma obra que orgulha a Nação

Moçambicana............................................................. 208

Obras Biográficas da Luta de Libertação Nacional: Fascículos da

História que nos fez, da História que fizemos....................... 210

A Documentação dos Nossos Processos Políticos e Sociais como

Contribuição para a Historiografia Moçambicana................ 216

Luta de Libertação Nacional: Nossa fonte de inspiração e de orgulho.. 222

José Craveirinha: O autor de uma obra que transcende os limites

do seu tempo e da sua Pátria Amada................................ 227

Reencontro com José Craveirinha: O Poeta da Moçambica-

nidade................................................................... 231

Libertação da Pátria Moçambicana: Um processo glorioso e nobre

mas irrepetível....................................................... 234

Malangatana:O Filho prodigioso que Matalana gerou............ 240

As Habilidades como Complementares às Habilitações: Que mu-

danças paradigmáticas para a Universidade Moçambicana?..... 246

Justino Chemane: O Homem incontornável que cantou Moçambi-

que na sua plenitude................................................... 249

Biografia: Como o percurso de Homens e Mulheres de valor constrói a História duma Nação................................ 253

Emília Daússe: Um nome, uma figura, uma homenagem

merecida................................................................ 258

Bernabé Adison Kajika: O filho e servidor do Povo aclamado

Herói Nacional pelos seus feitos...................................... 263

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MOÇAMBIQUE: Pátria de Heróis

As FADM na Promoção da moçambicanidade e no Combate Contra

a Pobreza................................................................. 268

FADM: Na frente da produção e da defesa da economia e do

desenvolvimento nacional........................................... 271

FADM: Abordando os desafios do aumento da sua capacidade

e qualidade das suas intervenções................................... 274

FADM: O orgulho de ser herdeiro de valores nobres e

continuador de causas justas........................................ 278

Amor ao Povo, à Pátria, à Paz e ao Progresso: Valores identitários dos obreiros da nossa nacionalidade, herdados pelas Forças de

Defesa de Moçambique................................................. 284

CHAI: Torrão emblemático da nossa capacidade de lutar com meios próprios para realizarmos os nossos ideais.......................... 289

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Eduardo Chivambo Mondlane:

Insigne filho de Moçambique, percutor da nossa

Nacionalidade1

De entre todos os precursores do nosso processo político e históri-co a figura do Camarada Eduardo Chivambo Mondlane sobressai de maneira ímpar. Na sua obra, Lutar por Moçambique, ele articulou de forma clara e visionária a agenda da luta contra a pobreza que hoje prosseguimos. Estas são as suas palavras:

“A libertação não significa para nós simplesmente a expulsão dos

portugueses; significa reorganizar a vida do País e lançá-la na via

do sólido desenvolvimento nacional. Para isto é necessário tirar o

poder político das mãos dos portugueses visto que estes se opuse-

ram sempre ao seu progresso social e estimularam somente aquele

desenvolvimento económico que podia beneficiar uma elite pe-

quena e quase exclusivamente estrangeira. Mas, o movimento de

libertação não poderá reivindicar o êxito até que, através dele, o

Povo consiga o que os portugueses lhe recusaram [isto é]:

nível de vida tolerável,

instrução,

condições de desenvolvimento económico e cultural; [e]

oportunidade de participar no seu próprio governo”.

1Comunicação apresentada pelo Camarada Presidente do Partido FRELIMO, Armando

Emílio Guebuza, por ocasião da inauguração da Estátua de Eduardo Chivambo Mondlane.

Maputo, 3 de Fevereiro de 2007.

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É justamente por isso, que hoje, depois do Estado o ter feito através de monumentos, escolas, localidades e ruas, à largura e extensão do nosso Moçambique, a FRELIMO decidiu homenagear, de maneira particular:

o seu fundador;

o percursor da nossa nacionalidade;

o visionário da nossa libertação política e económica.

Esta homenagem acontece no ano em que a FRELIMO, uma das mais importantes obras de Mondlane celebra 45 anos da sua exis-tência. São 45 anos de um Partido:

coerente com a sua agenda;

persistente na sua materialização; e

convicto no alcance dos resultados que persegue.

São 45 anos de uma FRELIMO que continua:

reflexo da imagem do seu fundador;

promotora da Unidade Nacional, da auto-estima, da Paz e da luta pelo desenvolvimento Nacional; e

inspiradora dos moçambicanos para novas vitórias.

*****

O sucesso académico e profissional de Eduardo Chivambo Mondla-ne, construído com convicção e perseverança, fez dele uma figu-ra encarada com muita estima e consideração e, acima de tudo, de esperança, por vastos sectores do nosso Povo, muito antes da emergência de formas organizadas de contestação pela nossa li-berdade.

Em 1949, vindo da África do Sul, de férias, Eduardo Mondlane im-pulsiona a fundação do NESAM, uma organização que congregaria jovens de diferentes crenças religiosas e oriundos de diferentes

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pontos de Moçambique. Mondlane viria a apelidar estes jovens de “geração de insurrectos, activos e determinados a lutar pelos seus próprios meios e não dentro dos parâmetros impostos pelo governo colonial”. Ele fez esta observação quando notou o seu sentido de auto-estima e a força com que abalavam as estruturas políticas do fascismo colonial;

em 1961, a sua visita ao nosso Moçambique, já como fun-cionário das Nações Unidas, revestiu-se de características sócio-políticas invulgares. Por todos os lugares por onde Mondlane passou, foi recebido como figura porque se espe-rava para que algo de sagrado, de essencial e de definiti-vo acontecesse. Os núcleos nacionalistas que, já por essa altura, se haviam organizado em vários lugares do nosso País, encararam Mondlane como o líder esperado para en-cabeçar a luta pela reconquista da nossa dignidade.

foi assim no Khovo e na apoteótica recepção que se lhe organizou na Igreja Presbiteriana de Moçambique, no Cha-manculo.

foi assim no Xai-Xai, em Mandlakazi, em Kambine, na Beira e entre os moçambicanos em Salisbúria.

A expectativa do Povo Moçambicano, sobre ele, e a sua ânsia de liberdade não passaram despercebidas da perspicácia de Eduardo Mondlane. Após o seu regresso aos Estados Unidos, Mondlane já estava convencido de que teria que abdicar do seu conforto para que a libertação do nosso belo Moçambique fosse possível. Subse-quentemente, ele abandona as suas funções na Organização das Nações Unidas como primeiro passo para o seu engajamento pleno na luta de libertação.

*****

eduardo Mondlane poderia ter simplesmente decidido go-zar da sua liberdade e conforto pessoais que o seu douto-ramento lhe conferia;

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eduardo Mondlane poderia ter decidido cultivar uma car-reira na prestigiada Organização das Nações Unidas e so-nhar nostalgicamente com Moçambique e o seu Povo:

o visitando-os como turista; e

o lendo as atrocidades do regime colonial-fascista e da sua sanguinária polícia política, a PIDE, como uma fic-cionada história de tortura.

eduardo Chivambo Mondlane poderia ter decidido aceitar o convite que lhe foi formulado pelas autoridades coloniais para leccionar numa universidade portuguesa.

Porém, Eduardo Chivambo Mondlane soube interpretar a ansiedade do Povo Moçambicano, renunciando ao sonho de um futuro melhor só para ele e família. Ele decidiu regressar à terra que o viu nascer para acender a chama de libertação. Essa chama seria transporta-da por homens e mulheres valorosos e patriotas rectos por todos os quadrantes do nosso Moçambique.

Eduardo Mondlane decidiu liderar o projecto de unir os moçam-bicanos para, numa única frente, a FRELIMO, juntos lutarem pelo seu sonho colectivo de se verem livres da dominação estrangeira. Foi tão intensa a campanha pela unidade encetada e dinamizada por Mondlane que quando a 25 de Junho de 1962 as três organi-zações nacionalistas que então existiam decidiram unir-se numa única frente, foi à volta deste filho predilecto do nosso Povo que se congregaram. É em reconhecimento do seu papel de líder clarivi-dente, desde esta fase da nossa luta, que este insigne nacionalista é considerado o Arquitecto da Unidade Nacional.

*****

Foi sob a direcção do Presidente Eduardo Chivambo Mondlane que as estruturas da FRELIMO foram constituídas e consolidadas atra-vés de um processo contínuo de formação de quadros e de aper-feiçoamento das modalidades de expressão da nossa linha política. A estruturação da FRELIMO ocorreu em circunstâncias particular-mente difíceis da formação de um pensamento comum e coeso e

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de formulação da linha política que viria a determinar o percurso da FRELIMO ao longo da nossa luta e mesmo depois da conquista da Independência Nacional. O carácter coeso, disciplinado e de clare-za de políticas do nosso Partido deve muito a Mondlane.

A clara definição do inimigo naquela fase decisiva deveu-se, em grande medida, à liderança esclarecida de Mondlane. Para Mon-dlane, o inimigo a combater não era o Povo Português, mas as ins-tituições políticas, administrativas e económicas que sustentavam a colonização de Moçambique. Esta clareza permitiu à FRELIMO mobilizar apoios em vários quadrantes do mundo, incluindo en-tre os combatentes anti-fascistas portugueses. Foi no meio destas complexas definições que, sob a liderança de Mondlane, se selec-cionaram os primeiros 250 homens que vieram a dar início à Luta Armada de Libertação Nacional em Cabo Delgado, Niassa, Tete e Zambézia, a 25 de Setembro de 1964.

A vocação democrática do nosso Partido tem os seus funda-mentos na liderança de Mondlane;

A emancipação da mulher teve em Mondlane o seu promo-tor principal.

O sentido de unidade-crítica-unidade e a cultura de valo-rização e de auto-valorização de cada moçambicano são legados que construímos sob a liderança de Eduardo Mon-dlane.

Com Mondlane demos os primeiros passos na construção de uma educação relevante ao contexto nacional e assumimos a nossa cultura na sua rica diversidade, como património de todos moçambicanos.

*****

Para paralisar a nossa luta, os inimigos de Moçambique alvejaram Mondlane. Vaticinavam eles que a sua morte significaria a morte da esperança de liberdade que ele representava para todos nós:

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Não se haviam dado conta de que o Povo Moçambicano se havia apropriado da grandeza e nobreza dos seus ideais;

Não se haviam dado conta de que a ânsia de liberdade dos moçambicanos não poderia mais ser adiada;

Não se haviam dado conta de que as labaredas da liberta-ção jamais poderiam ser nem contidas nem extinguidas.

Outros destacados filhos da nossa terra tombaram também, no es-forço de corporizar o sonho comum pela independência. Todavia, como o nosso próprio processo nos ensinou, os grandes homens não morrem:

Eles tornam-se figuras lendárias e omnipresentes;

Os seus pensamentos influenciam gerações; e

Os seus actos tornam-se fontes inesgotáveis de inspiração.

Reconhecendo o papel de Mondlane no nosso processo, decidimos convencionar o dia 3 de Fevereiro, a data do seu assassinato, como a data em que todos nós nos curvamos perante os moçambicanos que, como Mondlane, não se pouparam a esforços para que o nosso país fosse livre da dominação estrangeira. Neste dia também nos curvamos perante os homens e mulheres que fazem de cada dia, um 3 de Fevereiro, lutando pela melhoria das condições de vida pessoais, da família e da Nação. Neste dia curvamo-nos perante aqueles que, com afinco e determinação, lutam pela materializa-ção do sonho que perseguimos desde 1962 muito bem articulado por Eduardo Mondlane no seu livro “Lutar por Moçambique”.

Ontem, os nossos heróis fizeram a sua parte para tornar o nosso sonho de libertação da dominação estrangeira uma realidade. Hoje os nossos heróis fazem a sua parte para que o sucesso da nossa Agenda Nacional de Luta contra a Pobreza seja uma realidade.

Muito obrigado pela vossa atenção.

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Eduardo Mondlane:

Símbolo da persistência do moçambicano e exemplo de dedicação por Moçambique2

É com grande emoção que nos fazemos presentes hoje a esta al-deia generosa de Nwadjahane, terra que gerou Eduardo Chivambo Mondlane, uma das maiores referências na História da nossa Pá-tria Amada. Nwadjahane é uma aldeia semelhante às milhares de aldeias que povoam o nosso Moçambique.

semelhante pela beleza;

semelhante pelo seu passado de luta e de vitórias;

semelhante pela forma como encarna e contribui para o nosso sucesso colectivo na luta contra a pobreza.

Porém, Nwadjahane destaca-se por ter oferecido à Nação Moçam-bicana, o seu querido filho que, como farol, iluminou a nossa ca-minhada e guiou-nos rumo à nossa libertação e independência. Foi sob sua liderança, que a heróica Geração do 25 de Setembro acei-tou pegar em armas para enfrentar um inimigo muito poderoso que se instalara em Moçambique, passavam já cinco séculos.

Mondlane em todos nós incutia a justeza da nossa causa e a irre-versibilidade da nossa vitória e que, por isso, se fosse necessário, regaríamos o nosso solo pátrio com o nosso generoso sangue, cien-tes de que um dia, o sol nasceria para iluminar um Moçambique li-vre e independente. Ele próprio deu o que tinha de mais precioso, a sua vida, tornando-se um dos mártires da nossa libertação.

O percurso de Eduardo Chivambo Mondlane rumo à sua auto-valo-rização, como homem, deve ser fonte de inspiração para os jovens

2Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique, na cerimónia de inauguração do monumento em honra do Presidente Eduardo Chivambo Mondlane. Nwadjahane, 20 de Junho de 2009.

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de hoje. Ele é um exemplo vivo de persistência na luta pelo alcan-ce de objectivos que nos fixamos.

tendo ficado órfão de pai e mãe em tenra idade, ele tinha muitas razões para se resignar e deixar a pobreza tomar conta de si. Porém, Mondlane não desesperou;

o sistema de dominação estrangeira impunha muitas bar-reiras para os moçambicanos terem acesso à sua formação. Porém, Mondlane encarou essas barreiras como um desafio que estava ao seu alcance.

tendo terminado a terceira classe rudimentar, num ensi-no primário para africanos, que era de 6 anos, contra os quatros anos para os portugueses, Mondlane poderia ter-se preparado para se juntar aos seus contemporâneos no trabalho migratório na África do Sul ou como empregado doméstico nas cidades. Porém, ele fixara-se a meta de es-calar mais degraus no ensino, para realizar o seu sonho de auto-valorização. Emigrou de Nwadjahane não para as mi-nas ou para o trabalho doméstico nas cidades. Ele emigrou para Lourenço Marques para concluir o ensino primário, depois para Cambine para se especializar em agricultura de sequeiro e, mais tarde, para a África do Sul, para fazer o seu ensino secundário.

expulso da África do Sul, pelo regime do Apartheid, já a frequentar o ensino superior, Mondlane tinha, uma vez mais, uma justificação para se resignar. Porém, ele explo-rou outras janelas de oportunidades. Escalou brevemen-te Portugal e depois os Estados Unidos, onde concluiu o ensino superior e onde se empregou como funcionário da Organização das Nações Unidas e se iniciou como Professor Universitário.

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com tão prestigiados postos de trabalho, Eduardo Mondlane tinha inúmeras justificações para desfrutar, em paz, dos re-sultados do seu sacrifício de muitos anos. Porém, ele deci-diu que a sua paz de espírito não seria completa sem a paz social em todo o nosso Moçambique, sem a independência da nossa Pátria Amada.

Ele estava consciente das incertezas e dos perigos envolvidos. Ele estava consciente das dificuldades porque passaria, ao refugiar-se num país que acabara de se libertar da dominação estrangeira e sem muitos recursos.

Tendo analisado as razões do fracasso dos nossos antepassados na sua luta contra a penetração e dominação estrangeiras, Eduardo Chivambo Mondlane formulou a Unidade Nacional como a mais po-derosa e imbatível arma ao dispor dos moçambicanos. Ele demons-trou como todos nós, moçambicanos, éramos vítimas da mesma opressão e exploração coloniais e como juntos poderíamos pôr fim a essa dominação estrangeira. Graças à Unidade Nacional vence-mos em treze anos um colonialismo que se enraizara em Moçambi-que há quinhentos anos.

*****

O exemplo de Eduardo Chivambo Mondlane, de amor pelo Povo Moçambicano e de entrega pela causa da nossa libertação, não dignifica apenas Nwadjahane. Também dignifica toda esta Pátria de Heróis. Sob a sua esclarecida liderança:

consolidamo-nos como um movimento de libertação;

assumimo-nos como continuadores das lutas de resistência dos nossos antepassados;

compenetramos da justeza da nossa causa; e

reforçamos o nosso amor pelo maravilhoso Povo Moçambi-cano.

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Por isso, os 250 guerrilheiros que iniciaram a Luta de Libertação Nacional em 1964, multiplicaram-se numa força que se espalhou por todos os cantos do nosso Moçambique:

semeando pavor entre os nossos inimigos;

acalentando a esperança de libertação no seio do nosso Povo; e

levando, a 25 de Junho de 1975, ao fim dessa ocupação e dominação estrangeiras.

Reconhecendo os feitos heróicos do Presidente Eduardo Chivam-bo Mondlane, o nosso Governo decidiu dedicar-lhe 2009 como seu ano. O monumento que acabamos de inaugurar integra-se num vas-to programa nacional de exaltação da vida e obra do Arquitecto da Unidade Nacional. Esta obra de arte, em particular:

sublinha a admiração que a Nação Moçambicana tem por este Herói Nacional;

homenageia a sua inspirada liderança; e

imortaliza os seus feitos por Moçambique e seu Povo.

Sabemos que o Presidente Eduardo Mondlane merece muitos mais monumentos que Moçambique possa edificar em qualquer canto da sua vasta extensão. Todavia, todos os monumentos que pudésse-mos erguer, em honra deste grande e querido filho de Moçambique simbolizariam, apenas, uma pequena parte do nosso reconheci-mento e da nossa homenagem à sua incomensurável contribuição para o despertar da nossa consciência nacional e para a nossa ac-tiva reivindicação da nossa condição de membros de pleno direito no Concerto das Nações.

Mondlane quis sempre o bem para o seu Povo. Continuemos pois a lutar contra a pobreza e a construir a prosperidade nesta Pérola do Indico, consolidando a Paz e a Unidade Nacional.

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*****

Queremos saudar, de forma particular, a Camarada Janet Mondlane e os seus queridos filhos pelo seu incansável empenho na recolha e sistematização da vida e obra do Presidente Eduardo Mondlane, como parte da valorização da nossa História. Admiramos a forma como têm estado a iniciar e a cultivar entre os netos do Arquitecto da Unidade Nacional o valor histórico da sua obra, de Nwadjahane e da sua população.

As nossas saudações são extensivas à população de Nwadjahane pela contribuição que tem vindo a dar na promoção e valorização desta aldeia natal do seu querido filho, que é, afinal, de todos nós, de toda a Humanidade.

Em miniatura, a Nação Moçambicana, do Rovuma ao Maputo e do Indico ao Zumbo, está hoje aqui convosco, ao reencontro com a sua História. É esta Nação Moçambicana que veio também teste-munhar o lançamento do primeiro computador Made in Mozambi-que, com uma valiosa contribuição de talentos moçambicanos. Em honra do nosso Herói Nacional e por tudo aquilo que ele representa para a nossa Pátria Amada decidimos atribuir a este computador o nome de Dzowo.

Dzowo junta-se aos múltiplos mecanismos e processos para a in-cessante busca e disseminação do conhecimento, como Eduardo Mondlane nos ensinou, e de consolidação da Unidade Nacional e projecção de Moçambique no exterior, outras lições deste lendário e carismático dirigente do nosso processo de libertação. Dzowo é aqui lançado como mais um instrumento ao nosso dispor na luta contra a pobreza e pelo bem-estar nesta Pátria de Heróis.

Viva a memória inesquecível do Presidente Eduardo Mondlane!

Nwadjahane, Hoye!

Povo Moçambicano unido do Rovuma ao Maputo, Hoye!

Muito obrigado pela vossa atenção.

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Eduardo Mondlane:

Intelectual exemplar, nacionalista esclarecido e

dirigente carismático3

Nestas belas terras de Nwadjahane, terras de homens e mulheres valentes e muito dedicados ao trabalho, nascia, a 20 de Junho de 1920, Eduardo Chivambo Mondlane. Mondlane viria a revelar-se um intelectual exemplar, nacionalista esclarecido, dirigente carismá-tico e portador de uma nova estratégia para a libertação do nosso Moçambique.

Seguindo as regras de um dos procedimentos da nossa rica tradi-ção, Eduardo viria a receber o nome de um antepassado da sua fa-mília. Ele passou, assim, a ser tratado como o Chivambo-o-Velho, o antigo chefe nestas terras de quem ele herdara o nome.

No seu livro Chitlango, filho de Chefe, escrito com André Clerc, entre 1945 e 1946, no qual ele adopta o pseudónimo de Chitlango, ele cita a sua mãe a dizer: “Ficas sabendo que tu não és igual aos outros rapazes, tu és o nosso grande Chitlango que reinou anos e anos sobre este país. Agora, toda a gente o sabe. E se as mulheres de Chitlango-o-Velho vêem ver me muitas vezes e trazem bebida e presentes de castanhas assadas, é porque reconhecem em ti o seu chefe e marido”.

Apesar de reincarnar essa figura muito respeitada no seio da sua família e na sua comunidade, Eduardo Chivambo procurava levar a vida vulgar de qualquer outro jovem de Nwadjahane. Como escre-veu numa das suas autobiografias, ele dedicou-se à pastorícia, ins-tigou rapazes e animais à luta, caçou passarinhos e lebres e trepou árvores para arrancar os seus frutos.

3Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, por ocasião da celebração do 40o aniversário do desaparecimento físico do

Presidente Eduardo Mondlane. Nwadjahane, 3 de Fevereiro de 2009.

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Para além da humildade que o caracterizava, Eduardo Chivambo Mondlane era um compatriota sempre atento aos fenómenos so-ciais e políticos da época. Por isso, mesmo as cartas que ele escre-via para familiares, amigos e superiores, eram documentos de uma análise profunda. Vemos isso no Volume I da colectânea dessas car-tas, editada por Janet Mondlane, sua esposa e nossa companheira nesta jornada de construção de um Moçambique melhor para todos nós.

Eduardo Chivambo Mondlane teve que enfrentar e ultrapassar mui-tos obstáculos na sua vida. Em 1933 matriculou-se na Escola Primá-ria da Missão Suíça de Maússe. Já órfão de pai aos 2 anos de idade, Eduardo Mondlane perdeu a sua mãe no mesmo ano que iniciava os seus estudos em Maússe. Passava assim, a ser órfão de mãe aos 13 anos de idade.

O sistema de educação colonial tinha sido estruturado para difi-cultar, o máximo possível, a educação do nosso Povo. As escolas, incluindo as do ensino primário, eram poucas e bem longe de onde os alunos viviam. Por outro lado, o ensino primário para os chama-dos indígenas estava desenhado para ser feito em 6 anos.

Por exemplo, ao iniciar os seus estudos aos 13 anos, o jovem Eduar-do Chivambo só poderia vir a concluir o ensino primário quando já tivesse 19 anos, portanto idade muito avançada para entrar na escola secundária onde o limite eram 14 anos. Em contrapartida, o ensino primário desenhado para os colonos era concluído em 4 anos.

Apesar da sua situação de órfão e das dificuldades porque passava quer na família quer na escola, Eduardo Chivambo Mondlane guiou-se pelos conselhos da sua mãe, de que deveria estudar e estudar sempre. Explorou, assim, as oportunidades que a sua igreja lhe abria e aplicou-se nos estudos, superando, em cada etapa, os obs-táculos que o sistema colonial colocava à sua frente.

Um exemplo da persistência de Mondlane e da sua dedicação aos estudos pode ser encontrado no facto de, depois de expulso da África do Sul, em 1949, não ter tido outra opção que não fosse

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fazer a sua preparação para os exames da sua Universidade de Witwatersrand, em Lourenço Marques, onde não havia nenhuma universidade, e onde não tinha acesso a aulas, tutores, biblioteca ou colegas. Porém, Mondlane conclui estes exames com sucesso.

Eduardo Chivambo Mondlane foi galgando mais escadas académi-cas em Portugal e, mais tarde, nos Estados Unidos onde também foi Professor universitário e funcionário das Nações Unidas. Apesar de todo o prestígio que ele foi conquistando, Mondlane nunca se esquecia das suas origens humildes, que as articulava e as assumia publicamente com muito orgulho.

Eduardo Chivambo Mondlane fazia isto, por um lado, para crista-lizar a sua ligação com o seu Povo e expressar a sua contínua soli-dariedade com o seu sofrimento. Por outro, procedia deste modo, num exercício pedagógico para demonstrar que quanto mais for-mado se estiver, mais perto do nosso maravilhoso Povo se deve estar, nele se inspirando, constantemente.

*****

Eduardo Chivambo Mondlane, este nobre filho de Nwadjahane, es-tando tão próximo do seu Povo não poderia ficar alheio à opressão e dominação estrangeira, que se manifestavam:

através da sua recusa sistemática em abrir espaços de pro-gressão aos moçambicanos;

através da manutenção do hediondo sistema de trabalho forçado; e

através da negação da nossa história e cultura;

Mondlane, sempre atento aos fenómenos políticos e sociais da sua época, identificou como fundamental a necessidade de se gerar, entre os moçambicanos, a consciência de que estavam todos sob o mesmo jugo colonial.

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ele ensinou-nos que a exploração e a dor sentidas pelo con-tratado do chibalo, não eram diferentes da discriminação de que o assimilado era vitima, no seu dia-a-dia.

ensinou-nos ainda que os salários de miséria pagos aos esti-vadores na então Lourenço Marques conduziam às mesmas frustrações porque passavam os cooperativistas do Planalto de Mueda.

Mondlane levou-nos a descobrir que do mesmo modo que os jovens moçambicanos não podiam aspirar a muito mais que o ensino primário, também os chamados assimilados não po-diam sonhar senão com as posições subalternas que o colo-nialismo lhes reservava no seu sistema de administração.

Numa palavra: Eduardo Chivambo Mondlane ensinou-nos que o co-lonizador poderia variar as suas tácticas aqui e acolá, mas a sua estratégia era a mesma, isto é, manter os moçambicanos sob o seu jugo e os nossos recursos sob o seu controle.

Mondlane reconheceu e exaltou a bravura e valentia dos nossos antepassados que, de armas na mão, resistiram à ocupação colo-nial. Ao mesmo tempo, reconhecia que a sua derrota resultara da ausência da consciência de que unidos e coordenados poderiam ter saído vitoriosos.

Mondlane assimilou essa experiência, de forma sábia e crítica, para formular uma nova estratégia para a libertação de Moçam-bique. Por isso, ele entra na nossa História como o Arquitecto da Unidade Nacional.

Para Mondlane, a Unidade Nacional era a arma mais poderosa e imbatível ao dispor dos moçambicanos para a realização do seu sonho de liberdade e independência. Como estarão certamente recordados, tinha sido do seu génio organizador que resultara, em 1949, a fundação do Núcleo dos Estudantes Secundários Africanos de Moçambique, a NESAM.

O seu conceito de Unidade partia de uma definição correcta do

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inimigo a enfrentar. Por isso encorajou-nos a orgulharmo-nos da diversidade das nossas origens e das nossas manifestações cultu-rais. Ao mesmo tempo, liderava-nos no combate a quaisquer ma-nifestações de tribalismo, regionalismo, racismo, elitismo e outras formas de divisão. Ele ensinou-nos a valorizar a contribuição de cada um para o projecto comum que era a libertação da Pátria Moçambicana.

Mondlane não nos ensinou estas lições apenas através das suas in-tervenções mas também através do contacto directo com os guer-rilheiros, os alunos e professores nas nossas escolas, com as mulhe-res e com os mais velhos, no interior e no estrangeiro.

Ele sempre nos inspirou a acreditar que unidos venceríamos a do-minação estrangeira. Na sua comunicação Tribos ou Grupos Étnicos Moçambicanos, seu significado na Luta de Libertação Nacional, ele recordava-nos que “não há antagonismo entre a realidade de exis-tência de vários grupos étnicos e a unidade nacional. Nós lutamos juntos, e juntos reconstruimos e recriamos o nosso país, produzin-do uma nova realidade, um Moçambique Unido e Livre”.

*****

Reunimo-nos aqui em Nwadjahane para prestar uma justa homena-gem a este grande filho de Moçambique, na terra que o viu nascer. Viemos reiterar que os seus ensinamentos continuarão a ser o farol na nossa luta pela construção de um Moçambique cada vez mais próspero, unido e em paz. Viemos reafirmar ainda que o seu exem-plo continuará a guiar os moçambicanos de hoje e das gerações vindouras.

Saudamos a presença dos mais de 300 jovens oriundos de todos os 128 distritos desta Pátria de Heróis. Apraz-nos saber que ao longo dos dias do seu acampamento, estes jovens têm tido oportunida-des não só para absorverem as lições do Presidente Mondlane como também para reafirmarem a sua prontidão de dar expressão ao seu sonho na actualidade, o sonho de lutar e vencer a pobreza.

Que transportem essa lições e determinação para os outros jovens que não tiveram a oportunidade de aqui estarem ainda. Como va-

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ticinara o Arquitecto da Unidade Nacional, na sua comunicação Tribos ou Grupos Étnicos Moçambicanos, seu significado na Luta de Libertação Nacional, “Os elementos positivos da nossa vida cul-tural, tais como as nossas formas de expressão linguística, a nos-sa música e danças típicas, as peculiaridades regionais de nascer, crescer, amar, e morrer, continuarão depois da independência para florir e embelezar a vida da nossa nação.”

A presença, hoje, em Nwadjahane, do nosso belo Moçambique, através desta significativa amostragem, traduz em realidade essa profecia do Arquitecto da Unidade Nacional, Eduardo Chivambo Mondlane.

Viva a memória inesquecível do Presidente Eduardo Chivambo Mondlane;

2009, Ano Eduardo Mondlane Hoye!

Unidade Nacional hoye!

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Eduardo Chivambo Mondlane:

A juventude vulgar de um Homem invulgar4

No quadro das diversas actividades alusivas às celebrações do Qua-dragésimo Quinto Aniversário da Fundação da FRELIMO, de vários cantos de Moçambique e do Mundo, fizemo-nos a esta verdejante aldeia de Nwajahane para prestarmos a merecida homenagem a Eduardo Chivambo Mondlane fundador e primeiro Presidente des-te grande, prestigiado e glorioso Partido, a FRELIMO. Viemos aqui precisamente no dia do seu octogésimo sétimo aniversário natalí-cio e a cinco dias da passagem dos 32 anos da nossa Independência Nacional, um dos produtos de valor inestimável para o Povo Mo-çambicano e para essa FRELIMO fundada por Eduardo Mondlane.

aqui em Nwajahane Eduardo nasceu, cresceu e participou no processo de socialização no sistema de valores do seu povo e na identificação e conhecimento da rica fauna e flora da sua comunidade.

aqui em Nwadjahane, Eduardo foi:

o absorvendo a heroicidade dos seus antepassados;

o observando a tenacidade e dedicação dos seus com-patriotas ao trabalho e ao seu apego e orgulho pela sua cultura;

o foi igualmente tomando contacto com o sistema de opressão colonial, particularmente através do traba-lho forçado.

4Comunicação do Camarada Presidente da FRELIMO e da República de Moçambique,

Armando Emílio Guebuza, por ocasião da visita a Nwadjahane, terra natal do Primeiro

Presidente da FRELIMO, Eduardo Chivambo Mondlane, no contexto das celebrações do 45º

aniversário da FRELIMO. Nwadjahane, 20 de Junho de 2007.

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aqui em Nwadjahane, Eduardo foi iniciado na educação e formação e no seu papel para melhor se conhecer o sistema de dominação estrangeira, então vigente.

Como podemos testemunhar, neste Museu Aberto de Nwadjahane e imaginando aquilo que era este local há mais de oitenta anos, podemo-nos aperceber que o jovem Eduardo teve uma origem e juventude rodeadas de muita pobreza, exacerbada pela domina-ção colonial e fascista. Porém, podemos também, hoje, aperce-bermo-nos que Eduardo foi um jovem de qualidades excepcionais:

apascentou gado, como qualquer outro jovem desta aldeia. Porém, Eduardo era um sonhador de realidades não comuns em Nwadjahane;

pisou este chão arenoso, como qualquer outro jovem da época, mas depois partiu à busca dessas realidades com que sonhava e que não eram comuns em Nwadjahane;

o sistema colonial tinha erguido uma série de obstáculos para impedir o progresso social de qualquer africano da al-tura.

porém, Eduardo foi persistente e determinado a materia-lizar os seus sonhos e, um a um, foi ultrapassando esses obstáculos. Algumas das árvores que ele então trepou, nas brincadeiras infantis e à busca dos seus frutos, que ainda so-brevivem aqui na aldeia, são testemunhas silenciosas desse seu percurso brilhante e exemplar.

Foi graças a estas suas qualidades excepcionais, que Eduardo Mon-dlane foi evoluindo na sua formação académica, logrando sempre ultrapassar as barreiras que lhe eram impostas pelos inimigos do progresso dos moçambicanos e granjeando as simpatias dos seus próximos. Foi graças à experiência que Mondlane foi acumulando que lhe fez acreditar que só formada e organizada, a juventude moçambicana poderia realizar os seus sonhos e os sonhos do seu povo. Por isso, em 1949 lidera a criação do Núcleo dos Estudan-tes Secundários Africanos de Moçambique, o NESAM, que se torna numa das forjas do nacionalismo em Moçambique.

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Em 1961, durante a sua visita a Moçambique, já como funcioná-rio das Nações Unidas, ele deixou como uma das suas mensagens centrais, a necessidade de os jovens persistirem na sua formação académica. Para criar maior impacto, e dadas as restrições que eram impostas à liberdade de expressão pelo colonial fascismo, Mondlane usou a parábola da águia. Esta águia tinha sido colocada numa capoeira, pelo seu proprietário, na tentativa de domesti-cá-la à imagem dos galináceos. Mondlane deixava subentendido que tal como a águia que voou para nunca mais voltar à capoeira, quando se lhe foi dada a oportunidade, os jovens moçambicanos, com formação, estariam em melhores condições para se liberta-rem da dominação estrangeira.

Foi também graças à sua persistência na perseguição dos seus sonhos que Eduardo Chivambo Mondlane emergiu e se consagrou como o Arquitecto da Unidade Nacional, por ter impulsionado a fusão dos três movimentos da aurora do nosso nacionalismo. Mon-dlane agigantou-se como uma figura de grande prestígio dentro da FRELIMO, em Moçambique, em África e no mundo. Mondlane criou a FRELIMO e, em dois anos, liderou a preparação das condições políticas e militares para o desencadeamento da Luta Armada de Libertação Nacional. Dos cerca de duzentos e cinquenta homens iniciais, política e militarmente treinados, os membros da FRELIMO foram crescendo para os milhares quer na frente do fogo liberta-dor, quer na clandestinidade. A FRELIMO de Mondlane, a nossa FRE-LIMO, demonstrava, assim, ser um movimento de um povo inteiro, desejoso da sua liberdade e independência. A FRELIMO tinha, deste modo, como tem tido até hoje, a sua agenda sincronizada com a agenda do Povo Moçambicano e, por isso, era já imparável na sua marcha.

Todavia, os inimigos de Moçambique e do progresso do seu povo assassinaram cobardemente o Camarada Presidente Eduardo Chi-vambo Mondlane. Pensavam que a sua morte representaria o fim desse sonho do Povo Moçambicano. Pensavam que poderiam parar o vento da História com as suas próprias mãos. Enganaram-se!!! As labaredas do fogo libertador foram-se agigantando, mesmo na frente clandestina, até forçar o sistema colonial português a reco-

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nhecer o direito do Povo Moçambicano à sua Independência. Por isso, treze anos depois da criação da FRELIMO, por Eduardo Mon-dlane, era hasteada a bandeira multicolor de Moçambique, simbo-lizando o fim da dominação colonial estrangeira que já perdurava há quinhentos anos.

*****

Merece o aplauso de todos nós, o lançamento d’ O Eco da Tua Voz, uma obra que nos traz cartas e outros documentos pessoais de Eduardo Mondlane e com ele relacionados, desde a sua adolescên-cia até à sua partida para Portugal. Neste espólio documental, re-vemos um Eduardo perspicaz, um jovem lutador, um estudante bri-lhante. Revemos um leitor voraz das realidades que o circundam e um compatriota sempre ávido em partilhar essas realidades com os outros. Nesta obra, sobressai um Eduardo Mondlane questionando e interpretando factos e acontecimentos, conferindo-lhes dimen-sões sociológicas, antropológicas e políticas. Se ao contemplar o Museu Aberto de Nwajahane nos fascinava este jovem, a leitura da obra Eco da Tua Voz adensa a nossa certeza de que estamos peran-te um compatriota:

com uma juventude vulgar mas uma visão extraordinária;

com um percurso cheio de esplendor mas prenhe de muitas peripécias e precalços.

A nós que convivemos e trabalhámos intensamente com Eduardo Mondlane, como nosso Presidente, O Eco da Tua Voz faz-nos rever:

as origens da sua simplicidade e capacidade de ouvir os ou-tros;

o seu poder comunicativo e a firmeza nas suas convicções;

o seu amor por esta Pérola do Índico e o valor que dava à contribuição de cada de um de nós na materialização do sonho do maravilhoso Povo Moçambicano de liberdade, in-dependência e dignidade.

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Queremos felicitar a digníssima Camarada Janet Mondlane e a dis-tinta Família Mondlane por esta obra e por terem trazido o eco da voz de Eduardo Mondlane para connosco celebrar o percurso do fundador e primeiro Presidente da FRELIMO. Muito obrigado por esta obra que vai enriquecer os conhecimentos de muitos, sobre Mondlane, e inspirar outros para a nova batalha que temos pela frente.

*****

Ontem, a vontade do Povo Moçambicano era de se ver livre da dominação estrangeira. Esse era um passo necessário para se con-centrar na luta contra a pobreza, a nossa agenda da actualidade. Para o sucesso nesta luta, definimos o distrito como o pólo do nosso desenvolvimento, o ponto a partir e para o qual devem irradiar as nossas acções de combate contra este flagelo que a todos nós afec-ta, homens e mulheres, no campo e na cidade:

é no distrito onde vive a maioria da nossa população. Porém, é também lá onde encontramos os rendimentos mais baixos;

é no distrito onde jazem muitos dos nossos recursos naturais. Todavia, é também lá onde a pobreza é mais acentuada;

é no distrito onde temos o nosso maior potencial agrícola. Porém, é no distrito onde também temos os mais graves problemas de segurança alimentar.

Mondlane e a sua geração do 25 de Setembro libertaram Moçam-bique da dominação estrangeira. A geração de hoje, tem como missão engajar-se na epopeia libertária do Povo Moçambicano da pobreza, o sonho de Mondlane, o sonho de todos nós.

Por isso, gostaríamos de, uma vez mais, exortar os jovens moçam-bicanos, a partir desta mesma terra que viu Eduardo Chivambo Mondlane nascer, a assumirem o seu papel nesta luta que travamos contra a pobreza: “Jovens, o distrito também chama por vós!”

Muito obrigado pela vossa atenção Camaradas!

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Da Resistência à Dominação Estrangeira à Libertação de Moçambique:

As Lições do Presidente Mondlane5

Juntamo-nos hoje, dia 2 de Fevereiro, à heróica população de Mar-racuene para as celebrações dos 114 anos da batalha que opôs os destemidos guerreiros de Nwamatibjana, Mabjaia, Mahazule e Zihlahla aos invasores coloniais portugueses. Com valentia e bra-vura e de lança em punho, os nossos antepassados impuseram uma resistência feroz e heróica ao invasor porque reconheciam-se como Homens de valor e porque se orgulhavam da sua cultura e das suas instituições. Empreenderam essa resistência tenaz porque conhe-ciam o valor da dignidade, soberania, liberdade e independência. Impuseram-se ao invasor porque tinham certeza de que a domi-nação estrangeira significaria a sua despersonalização e perca de poder para decidir sobre o seu presente e futuro.

Ao celebrarmos os 114 anos da batalha de Marracuene, recorda-mo-nos dos outros filhos valentes de Moçambique que também se opuseram à invasão estrangeira.

recordamo-nos, por exemplo, de Ngungunyan, Khupula, Farlai, Mussaquanto, Megama, os Mataka e o Makombe;

recordamo-nos ainda dos palcos dessa resistência arma-da como são os casos de Magul, Coolela, Chaimiti, Báruè, Memba, Mussoril, Angoche, Nametil, Majune, Mwembe e Mavago, bem como o Sul de Cabo Delgado e o Planalto de Mueda;

Todavia, a derrota dos nossos antepassados no campo de batalha não significou o fim da resistência dos moçambicanos à dominação estrangeira. Muitos são os relatos de formas criativas que o nosso 5Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República, por

ocasião dos 114 anos da Batalha de Marracuene. Marracuene, 2 de Fevereiro de 2009.

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Povo empreendeu em protesto e negação à presença e dominação colonial. São exemplos dessas acções de resistência:

as revoltas de camponeses contra as monoculturas, in-cluindo a cozedura de sementes de algodão antes do seu plantio;

a promoção das nossas manifestações culturais, num meio em que eram vigorosamente combatidas;

os levantamentos dos estivadores e dos trabalhadores nas plantações de monoculturas; e

a migração para países vizinhos para frustrar os recruta-mentos para o trabalho forçado.

*****

Vontade e força de resistir e depois de combater a dominação es-trangeira nunca faltou aos nossos antepassados. Não foi o tipo de armamento que tinham para enfrentar o invasor que foi o factor determinante para a sua derrota. O que foi determinante foi o fac-to de as suas acções de resistência e de luta serem feitas de forma isolada, umas das outras. Nalguns casos uns só queriam proteger apenas a sua própria dignidade ou o seu território.

Noutros casos, os vizinhos eram instrumentalizados para se rivali-zarem uns contra os outros. Neste ou naquele canto de Moçambi-que não havia consciência de que era a mesma colonização portu-guesa que queria arrancar a sua soberania e espezinhar-lhes. Não sabiam que juntando as diferentes formas de luta poderiam vencer a dominação estrangeira.

Durante a sua visita em 1961, já como funcionário das Nações Uni-das, o Dr. Eduardo Chivambo Mondlane dirigiu-se a uma moldu-ra humana no espaço da Igreja Presbiteriana de Moçambique, no Chamanculo, em Maputo. A concluir a sua intervenção, que era dirigida a todos os moçambicanos, ele contou-nos a parábola da Águia. Dizia ele que um certo avicultor estava convencido que ti-nha domesticado uma Águia, simplesmente porque a tinha forçado a conviver com galinhas, patos e outras aves de capoeira.

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Depois de uma discussão entre o avicultor e um naturalista, os dois acordaram em fazer uma experiência. Coube ao cientista fazer o teste. Este pegou na Águia, ergueu-a bem alto e disse-lhe para que batesse as asas e voasse.

Porém, a Águia olhou para todos os lados e viu as suas companhei-ras da capoeira muito animadas a debicar o grão. Em vez de voar, a Águia fez-se ao chão, juntando-se às outras aves de capoeira. Contente, o avicultor exclamou que tinha razão, que aquela não era uma Águia, que aquela era uma galinha.

Inconformado, o cientista pediu mais uma oportunidade para pro-var o contrário. A segunda tentativa foi feita pelo cientista. Contu-do, à ordem de voar a Águia voltou a fazer-se ao chão para sabo-rear os grãos, com as outras aves!

A terceira tentativa foi feita mais longe da capoeira, de manhã muito cedo na encosta de uma montanha. A ordem de voar foi dada pelo cientista à Águia. Esta correspondeu com um voo rápido, elegante e determinado. Não mais regressou à capoeira, provando assim que era, na verdade, uma Águia.

Eduardo Chivambo Mondlane que em 1961 nos falara da parábola da Águia iria ensinar-nos em 1962 que unidos, como um Povo, ven-ceríamos a dominação estrangeira. Ele seria assim, o nosso cientis-ta e guia incontestável no nosso voo imparável na luta pela nossa independência nacional. Voamos e libertamo-nos da escravidão colonial.

Hoje também nos apercebemos que não somos aves de capoeira. Que a pobreza não é um castigo divino. Que nós nos podemos li-bertar deste flagelo, trabalhando, cada um de nós fazendo a sua parte.

Como nos ensinou o Dr. Eduardo Mondlane, nós somos Águias. Nós não estamos predestinados a viver na capoeira. Nós podemos voar. Nós vamos voar. Nós estamos a voar. Nós estamos a vencer a pobre-za nesta Pátria de Mondlane, nesta Pátria de Heróis.

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Por isso, neste 2009, Ano de Eduardo Mondlane, exaltemos todos esses nossos heróis da resistência, os diferentes locais onde trava-ram batalhas, celebrando-as e assinalando os locais com marcos. Neste ano de reflexão e de evocação de Eduardo Chivambo Mon-dlane queremos que se multipliquem, através do génio do nosso Povo, as invenções, inovações e exposições que estimulem a nossa auto-estima e a certeza de que vamos vencer, também nesta luta conta a pobreza.

Um Moçambique onde se consolida a Unidade Nacional, se exalta a moçambicanidade, se aprofunda a Paz e se realiza o Progres-so constitui uma homenagem digna e merecida para o Presidente Eduardo Chivambo Mondlane e para todos aqueles homens e mu-lheres que à largura e extensão do nosso Moçambique resistiram e lutaram contra o invasor estrangeiro. Voemos mais alto ainda, como o Presidente Eduardo Chivambo Mondlane nos ensinou e li-bertemo-nos deste flagelo chamado pobreza.

Gwaza Mthini hoye!

ANO Eduardo Mondlane Hoye!

Unidade Nacional Hoye!

Moçambique hoye!

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Samora Machel:

Uma figura imortal, uma referência obrigatória no nosso quotidiano6

Saudamos a todos os presentes, vindos de diferentes pontos desta Província e de vários cantos da Nação Moçambicana e do Mundo para aqui participarem nas celebrações dos 75 anos de Samora Moisés Machel. Do Rovuma ao Maputo e do Índico ao Zumbo têm estado a decorrer cerimónias idênticas:

marcadas pelo plantio de 75 árvores numa escola em cada província da nossa Pátria Amada;

marcadas ainda por palestras sobre a vida e obra do Presi-dente Samora Moisés Machel; e

por actividades diversas em homenagem ao combatente e proclamador da nossa Independência Nacional.

*****

Há 75 anos nasceu aqui em Chilembene Samora Moisés Machel. Samora falava com muito amor e orgulho dos seus pais, Moisés Mandhande Machel e Guguiye Thema Dzimba, bem como de ou-tros membros da sua família alargada que tinham contribuído para a sua formação integral. Ele também expressava uma particular eterna gratidão à sua mãe, Guguiye, pela orientação e sentido que tinha dado à sua vida. Samora orgulhava-se igualmente de ter nascido aqui em Chilembene e de a sua casa ter acolhido outros compatriotas vitimas das cheias, pessoas com quem convivia e se solidarizava.

6Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique, nas celebrações do 75° aniversário do Presidente Samora Moisés Machel.

Chilembene, 29 de Setembro de 2008.

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Aqui em Chilembene, Samora cedo compreendeu que Moçambique era uma terra ocupada, escravizada e explorada:

ainda jovem, absorveu a heroicidade dos nossos antepassa-dos e a sua oposição à dominação estrangeira;

na sua juventude, testemunhou a crueldade da administra-ção colonial especialmente quando esta obrigou os moçam-bicanos a abandonarem as suas terras férteis para darem lugar ao Colonato do Limpopo que era reservado aos portu-gueses;

na escola, aqui perto, em Marrambajane, Samora aperce-beu-se que o ensino para os moçambicanos estava desenha-do de forma a ser um obstáculo ao seu avanço porque eram obrigados a concluir a 4ª classe em seis anos, se não repro-vassem em nenhuma das classes. Quando concluíssem este nível de ensino tinham idade já avançada para continuarem com os seus estudos no ensino secundário.

Ainda na sua juventude, e particularmente já como enfermeiro, em Lourenço Marques, e como guerrilheiro e dirigente da FRELI-MO, no Tanganyika, Samora demonstrou ser um homem que usava todas as oportunidades para se informar e se formar, por exemplo, através da leitura, escuta de noticiários e troca de impressões com pessoas das suas relações. Atento aos fenómenos políticos e sociais em Moçambique e no mundo, Samora empenhava-se em interpre-tá-los e compreendê-los, buscando informação complementar nas suas leituras, nos programas radiofónicos e nas consultas a amigos e a outras pessoas das suas relações.

Graças ao grande interesse que manifestava, por esses processos, ele foi acompanhando as primeiras independências de países afri-canos como a do Ghana, da Guiné-Conacri e do Tanganyika e o resgate, pela Índia, de Goa, Damão e Diu, territórios que estavam sob ocupação portuguesa. Ele foi também acompanhando a luta pela independência da Zâmbia e do Malawi e o assassinato do Pri-meiro Ministro Patrice Lumumba, logo depois da independência do Congo-Kinshasa.

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Esta série de acontecimentos reforçaram a sua consciência políti-ca, cuja iniciação tinha tido lugar aqui em Chilembene. Ele con-vencia-se, cada vez mais, que Moçambique também devia livrar-se da dominação estrangeira.

As notícias da formação da FRELIMO, no Tanganyika, fizeram cres-cer em Samora a ideia de que essa independência de Moçambique era mesmo possível. Sobretudo, este acontecimento político refor-çou a sua certeza de que tinha chegado a hora para ele participar directamente nas acções que levariam ao fim do sistema de domi-nação estrangeira em Moçambique.

*****

Já nas fileiras da Frente de Libertação de Moçambique, Samora Machel aperfeiçoou as suas qualidades de nacionalista e de líder político em que se iniciara aqui em Chilembene.

Demonstrou grande capacidade de mobilização dos guerrilheiros e do povo para cumprirem missões nobres da Pátria:

como Chefe do Campo de Preparação Político Militar de Kon-gwa, Samora distinguiu-se na formação do homem para fazer uma guerra de guerrilha, alimentada, sustentada e protagoni-zada pelo heróico Povo Moçambicano. Foi de Kongwa que par-tiram os 250 guerrilheiros que lançaram os primeiros ataques contra alvos da administração colonial e que se multiplicaram em milhares de homens e mulheres combatendo de diferentes formas, em diferentes partes do nosso solo pátrio.

Homem com grande sentido de disciplina, o Presidente Sa-mora Machel tinha a virtude de identificar oportunidades e buscar forças onde muitos só viam factores de desânimo. A sua capacidade de auto-superação era verdadeiramente notável, mesmo perante uma dor. Numa cerca ocasião, em 1966, Samora lesionou-se gravemente na coluna durante uma sessão de ginástica, um dos seus passatempos prefe-ridos.

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Por causa do sofrimento físico de que padecia, houve quem duvi-dasse da sua capacidade de se auto-superar e voltar a ser o Chefe e comandante da guerrilha que tinha até então sido. Com aquela sua força de carácter, Samora Machel ultrapassou a dor e a lesão e voltou a assumir o seu posto, com o mesmo aprumo e verticalidade bem como a sua intensa agenda de trabalho de sempre.

sob sua direcção aquilo que era uma simples machamba, foi transformado no famoso Centro de Preparação Político Militar de Nachingweya. Neste Centro afinavam-se as estra-tégias da guerrilha e desenvolviam-se outras actividades de formação de quadros e de produção agrícola.

Esta experiência de produção agrícola foi transmitida aos outros centros da FRELIMO e às zonas libertadas.

com os ensinamentos de Samora e da Direcção da FRELIMO, os guerrilheiros sentiam-se como peixe na água, no seio do nosso maravilhoso Povo. Do Povo os guerrilheiros recebiam informações úteis para as suas operações e dele também recebiam apoio em comida e no transporte de material de guerra.

Como Presidente da FRELIMO, ele liderou a implementação das decisões do Segundo Congresso e a derrota da operação Nó Górdio.

Foi o Presidente Samora que neutralizou a tentativa das novas au-toridades portuguesas, saídas do 25 de Abril de 1974, de prolongar a colonização de Moçambique, através de um Referendo. O Pre-sidente Samora foi firme ao enfatizar, junto dessas novas autori-dades portuguesas, que não se pergunta a um escravo se quer ser livre, particularmente se esse escravo já se tiver revoltado.

*****

Na sua viagem triunfal, Do Rovuma ao Maputo, de 24 de Maio a 23 de Junho de 1975, o Presidente Samora Machel reforçou o nosso orgulho, como um Povo com história e com capacidade de dirigir os seus próprios destinos. Com os seus vigorosos vivas, preparava o

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Povo para escutá-lo atentamente, e com o seu dedo indicador em riste alertava-nos para não nos contentarmos apenas em afirmar que Moçambique detinha muitas riquezas. Que era preciso que nos entregássemos ao trabalho, consolidando continuamente a Unida-de Nacional e mantendo sempre a vigilância contra os inimigos da nossa Independência e bem-estar. Sob sua direcção:

foi nacionalizada a terra e transformada em recurso coloca-do ao serviço da luta contra o subdesenvolvimento;

foram concebidos e implementados planos de desenvolvi-mento social e económico, com destaque para a educação, saúde, pontes, estradas, telecomunicações e energia eléc-trica;

foi reforçada a capacidade de defesa da nossa soberania agredida pelos regimes racistas da Rodésia do Sul e da África do Sul do Apartheid; e

foram apoiadas as lutas de libertação dos povos oprimidos, mais intensamente na África Austral.

Durante a sua governação, o Presidente Samora seguiu esta agenda com muita dedicação e energia.

Com o seu grito “Independência ou morte”, ele incutia no nosso Povo, nos seus concorridos comícios, que, nesta etapa, também venceríamos o subdesenvolvimento.

O Presidente Samora Machel era uma voz respeitada e atentamente ouvida na Linha da Frente, na SADCC, na organização da Unidade Africana, nas Nações Unidas e noutras organizações internacionais.

Graças ao seu prestígio, Moçambique tornou-se num País incontor-nável para a resolução dos conflitos na Africa Austral.

Todavia, como acontecera com o Presidente Eduardo Chivambo Mondlane, os nossos inimigos pensavam que eliminando fisicamen-te o Presidente Samora, também eliminariam as causas que ele defendia.

Enganaram-se! Não se tinham apercebido que no seu estilo de lide-rança, o Presidente Samora sabia partilhar o seu sonho e galvanizar

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a direcção da FRELIMO e o Povo Moçambicano para participarem na sua materialização.

Por isso, o sonho do Presidente Samora Machel está já a ser uma realidade nesta Pérola do Indico:

hoje, temos muitas escolas e universidades e milhares de alunos e estudantes;

hoje, temos muitas unidades sanitárias e mais pessoal de saúde;

hoje, estamos a estender a nossa rede de estradas, de energia e de telecomunicações a muitos pontos deste nos-so belo Moçambique.

O Zimbabwe, a Namíbia e a África do Sul estão hoje sob governos de maioria, livres do racismo e do Apartheid. Estes países dão hoje o seu valioso contributo ao processo de aprofundamento da coope-ração regional na SADC de que este querido filho de Chilembene, de Moçambique e de Africa foi um dos grandes impulsionadores.

*****

O Presidente Samora Moisés Machel proclamou a nossa Indepen-dência Nacional e foi o primeiro Chefe de Estado desta Pátria de Heróis. Por este motivo, o nosso Governo decidiu atribuir à sua terra natal, Chilembene, o estatuto de Património Cultural.

O Presidente Samora Machel era um homem de grandes virtudes:

um filho orgulhoso dos seus pais, da sua família alargada e da sua terra natal;

um pai atencioso e amigo dos continuadores;

um estratega para os grandes desafios da Nação Moçambi-cana;

um estadista sempre preocupado com as condições de vida do seu povo;

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um internacionalista que queria ver todos os povos do mun-do a gozarem dos seus direitos e liberdades.

Chilembene deve orgulhar-se por ter gerado um filho com estas qualidades e virtudes. Como sempre sublinhámos, um homem des-ta estatura não termina em si mesmo: ele começa em si mesmo e mistura-se com os ideais do seu Povo. Torna-se imortal, torna-se uma referência obrigatória do nosso quotidiano.

Por isso, o Presidente Samora Moisés Machel vive em cada um de nós, hoje, amanhã e sempre.

Viva a memória inesquecível do Presidente Samora Moisés Machel!

Unidade Nacional hoye!

Moçambique hoye!

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Samora Machel:

Um icone da nossa libertação e da afirmação da

nossa moçambicanidade7

Acabamos de descerrar o monumento em honra de um grande fi-lho desta Pátria Amada, um destacado combatente pela sua li-bertação, o proclamador da sua independência e defensor da sua integridade e afirmação no concerto das Nações. Referimo-nos ao saudoso Presidente Samora Moisés Machel que, se hoje estivesse vivo, ele completaria setenta e três anos de idade no próximo dia 29 de Setembro de 2006.

Ainda jovem, Samora testemunhou a crueldade do regime opres-sor colonial através do trabalho forçado, da obrigatoriedade das monoculturas e da discriminação racial. O jovem Samora também cedo descobriu que o ensino para as pessoas da sua condição social estava concebido para frustrar qualquer progresso dos moçambi-canos, obrigando-os a fazer a quarta classe em seis anos. Esta si-tuação desqualificava a grande maioria dos poucos que conseguiam concluir aquela classe a matricular-se, por exemplo, no liceu, por-que tinham já ultrapassado a idade permitida para aquele nível de ensino.

A construção do colonato do Limpopo também entra no imaginário de Samora pela violência que acompanha a expropriação de terras para a fixação de portugueses vindos de Portugal. As famílias cam-ponesas africanas foram transferidas para as zonas menos férteis e obrigadas a providenciar mão-de-obra, a preços de fome, no co-lonato.

Não foi apenas a longa noite de opressão e humilhação que tes-temunhou e viveu na sua província e as histórias de resistência 7Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na cerimónia de descerramento do monumento do Presidente Samora Moi-

sés Machel. Pemba, 25 de Setembro de 2006.

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à dominação que ouvia dos mais velhos bem como os diferentes factores de integração social e cultural que moldam a personalida-de política do jovem Samora. O curso e a prática de enfermagem dão-lhe oportunidades de interagir com outros moçambicanos e de deles ouvir testemunhos de como as crueldade e a dominação es-trangeira abrangiam todo o Moçambique e que o opressor poderia usar tácticas diferentes em diferentes parcelas do País, mas que era o mesmo opressor. A Independência do Ghana e da República Democrática do Congo bem como o assassinato do seu Primeiro-Ministro Patrice Lumumba adensam em Samora e noutros jovens da sua época que eles não só tinham uma missão de libertação de Moçambique mas, e sobretudo, que essa missão era possível.

Depois de passar por várias dificuldades, algumas das quais pondo em risco a sua própria vida, Samora chega a Dar-es-Salaam e segue para a formação político-militar na Argélia. Durante os treinos, Samora revela a sua capacidade de organização e de liderança e a sua personalidade de um nacionalista recto e de um patriota que sabe valorizar e enquadrar cada um para a missão do colectivo. São estes dotes que levam Samora a ascender à liderança do seu grupo e a assumir a chefia do Campo de Preparação Político-Militar de Kongwa e, mais tarde, do emblemático campo de Nachingweya, cuja construção ele liderou.

Cumprindo as orientações da direcção máxima da FRELIMO:

Samora orienta o envio dos guerrilheiros para o interior, com o objectivo de fazer o reconhecimento, em preparação do desencadeamento da Luta Armada de Libertação Nacional.

Ele também contribui para incutir, nos guerrilheiros, um for-te sentido de disciplina, amor pelo Povo e por Moçambique.

Com sua participação e apoio, as Zonas Libertadas, que ele regularmente visitava, transformaram-se em verdadeiros centros de resgate e de promoção dos nossos valores e da nossa determinação de construir o nosso Moçambique, con-tando com as nossas próprias forças, em primeiro lugar.

Quando os nossos inimigos assassinaram o Presidente Eduardo Chi-vambo Mondlane, o arquitecto da Unidade Nacional, previam o fim

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da insurreição geral armada de um Povo sedento da sua liberdade e Independência. Enganaram-se. Samora foi chamado a liderar o movimento libertador e, de imediato, ele transformou a dor e o desalento da tremenda perda que se apossara dos combatentes em força para a continuação da nobre missão libertária.

com Samora derrotamos o General Kaúlza de Arriaga e a sua operação Nó Górdio;

com Samora atravessamos o Rio Zambeze e levamos o fogo libertador a Manica e Sofala;

com Samora demos a nossa contribuição para fim da dita-dura e do fascismo em Portugal.

O Golpe de Estado em Portugal não abriu, de imediato, as por-tas para a nossa Independência. Houve propostas de um referendo para se perguntar aos moçambicanos se queriam a sua indepen-dência de Portugal. Houve sugestões de uma independência sem descolonização, num figurino em que Moçambique estaria integra-do na administração portuguesa “na sua forma multicontinental”. Samora foi directo nas suas respostas. Primeiro, disse às novas au-toridades portuguesas que não se pergunta a um escravo se ele quer ser livre, especialmente quando esse escravo já se revoltou. Segundo, Samora aconselhou a Junta de Salvação Nacional portu-guesa que o Povo Moçambicano não pegara em armas para fazer parte de Portugal.

No terreno a luta armada foi intensificada e a ofensiva político-diplomática reforçada. Neste exercício, pudemos demonstrar às novas autoridades portuguesas e ao mundo que Portugal já há mui-to que tinha perdido a iniciativa político-militar em Moçambique e que a insistir, caminharia para a sua humilhante capitulação. Dos factos mais marcantes podemos referir:

à reabertura da Frente da Zambézia, a 1 de Julho de 1974;

à captura de mais de 130 soldados portugueses no posto de Omar, aqui em Cabo Delgado, a 1 de Agosto do mesmo ano;

a Cimeira da Organização da Unidade Africana na capital Somali que reiterou a sua defesa pela nossa causa; e

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a Organização das Nações Unidas, também se pronunciou a nosso favor.

*****

Proclamada a nossa independência, o Presidente Samora Machel liderou o processo de resgate da nossa moçambicanidade e sempre nos recordava que a cultura é o sol que nunca desce. O Festival que trouxe, em Julho passado, a música e a canção tradicionais para Pemba, a maior Baía de África, tem origem na governação do Presidente Samora.

O Presidente Samora assumiu, como defendia o Presidente Mon-dlane, que a Independência não é um fim em si mas um meio para realizarmos o sonho dos nossos antepassados de viver em prospe-ridade. Para dar passos concretos nessa luta contra a pobreza e pelo bem-estar o Presidente Samora liderou a concepção do Plano Perspectivo Indicativo (PPI).

Foi o Presidente Samora que declarou que o Estado não poderia continuar a vender agulhas. Subsequentemente, ele liderou a con-cepção do Plano de Reabilitação Económica (PRE), abrindo, deste modo, um maior espaço para a participação do sector privado no desenvolvimento de Moçambique.

No plano regional, o Presidente Samora liderou a Nação Moçam-bicana no seu apoio à luta contra os regimes racistas que ainda prevaleciam na região e que nos destabilizavam para desencorajar a nossa solidariedade. Hoje orgulhamo-nos pela nossa contribuição para a libertação do Zimbabwe, da Namíbia e da África do Sul.

O Presidente Samora foi igualmente um dos fundadores da Con-ferência de Coordenação do Desenvolvimento da África Austral, a SADCC, em 1980. Moçambique teria na área dos transportes e comunicações a sua responsabilidade específica para reduzir a de-pendência da região da então África do Sul do Apartheid.

*****

falar de Samora Machel é falar de um compatriota que des-cobriu nas frustrações e humilhações porque passava, o seu papel para participar na missão libertária que era imposta

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aos jovens do seu tempo;

falar de Samora é falar de um estratega militar, um político visionário, um dirigente clarividente;

falar de Samora é falar de um libertador da nossa Pátria Amada e da África Austral.

Por isso, o descerramento da sua estátua, que hoje aqui se ergue, lança, da melhor maneira, o movimento nacional das celebrações dos setenta e três anos do seu nascimento e dos vinte anos do seu assassinato, com outros 34 membros da sua delegação, nas colinas de Mbuzini, pelo regime do Apartheid - gostaríamos de reiterar que o Governo de Moçambique não descansará até que as circunstân-cias em volta da sua morte estejam esclarecidas.

Queremos, uma vez mais, exortar a todos os moçambicanos a pro-moverem e a participarem nos diversos programas para assinalar a passagem destas datas sob o lema “Samora Machel vive na nossa luta contra a pobreza”.

A terminar gostaríamos de destacar que a melhor e mais indelével homenagem ao fundador da Nação Moçambicana será:

um Moçambique unido do Rovuma ao Maputo e do Indico ao Zumbo, orgulhoso da sua soberania e história e valoriza a sua diversidade cultural e linguística;

um Moçambique em paz e livre da pobreza, com a sua pros-peridade construída pelos moçambicanos;

Um Moçambique onde a auto-estima é uma divisa nacional, o patriotismo, um valor assumido, e a auto-superação cons-tante, uma maneira de ser e de estar de todos nós.

Povo Moçambicano hoye!

Moçambique hoye!

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Samora Machel:

Cultor da complementaridade entre a geração do 25 de Setembro e a do 8 de Março, pelo progresso de

Moçambique8

Há homens e mulheres que se tornam míticos em vida, omnipre-sentes pela sua obra e lendários pelo seu legado. Samora Moisés Machel, cujo percurso político e papel na libertação de Moçambi-que e de outros povos oprimidos têm sido evocados, desde o dia 25 de Setembro, é uma destas figuras.

Por isso, por todo o lado, a sua figura e obra são recordados com nostalgia e emoção.

por isso, por todo o lado, a forma trágica como de nós se apartou incendeia consternação e dor, que o tempo não consegue apagar.

Este simpósio tem a grande virtude de reunir personalidades que vão contribuir para sistematizar, sob diversos ângulos, perspecti-vas e concepções, o papel do Presidente Samora Machel em Mo-çambique, na região e no mundo. Assim, nesta hora de evocação da sua trajectória e obra, permitam-nos que

em nome do Povo e do Governo da República de Moçambique de-sejemos as nossas boas-vindas aos ilustres participantes neste im-portante evento. A vossa presença, nesta magna sala, por ocasião desta efeméride, é elucidativa do quão grande foi e é a estima e consideração que nutrem por este que foi grande filho de Moçam-bique e de África.8Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na abertura do simpósio, “Moçambique no contexto da África Austral: da

Independência ao Acordo Geral de Paz”. Maputo, 5 de Outubro de 2006.

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Saudamos, em particular, a presença dos convidados estrangeiros entre antigos Chefes de Estado e de Governo, intelectuais e ho-mens da cultura. Reconhecemos e enaltecemos a vossa entrega à causa que o tempo e a História determinaram como imperativo para os desígnios supremos da nossa Pátria Amada e da nossa bela Mãe África. Por isso, saudamos-vos com muito calor e afecto pela vossa presença no nosso Moçambique, porção de terra que a mãe-natureza fez dela uma grandiosa e formosa Pérola do Índico.

*****A vida e obra do Presidente Samora Moisés Machel oferece-nos vá-rias leituras e nós vamo-nos cingir ao seu papel no cultivo e con-solidação

de um perfil das Forças Populares de Libertação de Moçambique caracterizado pela clareza política da sua missão, disciplina e res-peito pelo povo e empatia com outros povos oprimidos do mundo.

Estes são valores que foram herdados pelas actuais Forças Armadas de Defesa de Moçambique.

A segunda faceta que vamos abordar refere-se ao seu papel na re-construção de Moçambique.

Vamos aqui dar ênfase particular ao 8 de Março e ao papel dos jo-vens desta geração.

Comecemos pelas FPLM. De entre as muitas responsabilidades que Samora assumiu, a de liderar a transformação da Farm 17,

no emblemático Centro de Preparação Político-Militar de Nachin-gweya merece grande destaque. Aqui se prepararam homens e mu-lheres em todas as dimensões, nas actividades políticas, militares, sociais, económicas e culturais.

Sob sua liderança em Nachingweya:

forjou-se a Unidade Nacional, o sentido de Pátria e de mis-são entre os combatentes;

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aprofundou-se a moçambicanidade e a consciência de con-tar com as próprias forças; e

deu-se corpo ao processo de emancipação da mulher, com a criação do Destacamento Feminino.

Com Samora, Nachingweya também mudou a face social dos com-batentes:

com a água que se captava em cisternas, em cuja cons-trução ele participou directamente, passou-se a produzir verduras e outros produtos, parte dos quais introduziam uma nova dieta alimentar nos combatentes;

no campo recreativo constitui-se uma equipa de futebol que passou a competir com equipas tanzanianas, evoluindo para aquilo que é o Matchedje hoje;

Importa aqui recordar que foi em Nachingweya onde foram treina-dos os jovens que iriam integrar as futuras forças de defesa e segu-rança do Moçambique independente. Eles tinham sido recrutados em todo o nosso Moçambique, depois do 7 de Setembro de 1974.

*****

Já durante a Luta de Libertação Nacional Samora cultivava o ca-rácter internacionalista das FPLM, a partir do convívio com os ou-tros movimentos de libertação em Kongwa. Estes convívios esten-deram-se para as Zonas Libertadas que receberam combatentes de outros movimentos, desejosos de aprender da nossa experiência política e militar. Este foi o caso do ANC, no Niassa Oriental, e da ZANU, em Nachingweya e Tete. Porém, é depois da nossa Indepen-dência Nacional que o internacionalismo das FPLM ganha maior visibilidade:

quando em 1978 Kagera foi invadida pelo regime de Idi Amin, as FPLM foram em socorro do Povo Irmão da Tanzâ-nia, ajudando a por fim à ocupação desse pedaço do terri-tório da República Unida da Tanzânia;

quando os rodesianos começaram a atacar-nos, o Presi-dente Samora não só aplicou as sanções decretadas pelas

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Nações Unidas. Ele declarou que os moçambicanos apoia-riam, sem reservas, a luta do Povo do Zimbabwe. Os nossos internacionalistas marcharam com os zimbabweanos até a vitória final. Hoje uma das maiores avenidas de Harare os-tenta o nome de Samora Machel.

quando comandos sul-africanos atacaram Matola em Janei-ro de 1981, assassinando 16 membros do ANC, não espe-ravam a resposta que o Presidente Samora daria. Falando num comício na Praça da Independência, ao lado de Oliver Tambo, Presidente do ANC, declarou que seríamos 35 mi-lhões de moçambicanos e sul-africanos a marchar até Pre-tória. Hoje o regime do apartheid passou para a História;

Inspirados nesse legado internacionalista do Presidente Samora, as nossas forças armadas têm apoiado outros povos irmãos a res-gatarem a paz que precisam para se relançarem na rota do desen-volvimento. Estes foram os casos de Timor Leste, Burundi, RDC, Comores e Sudão.

*****

O Presidente Samora teve um papel preponderante na reconstru-ção do nosso País. Na sua mensagem apresentada na cerimónia de tomada de posse do Governo de Transição ele assegurava aos portugueses que a FRELIMO nunca lutara contra o Povo Português ou contra a raça branca e que, “por isso, todos aqueles que vivem do seu trabalho honesto, e que sabemos constituem a esmagadora maioria da população branca, têm uma contribuição positiva a dar à reconstrução nacional do nosso País, com todo o Povo Moçambi-cano”. Este apelo foi também replicado pelos membros do Gover-no de Transição, incluindo os da parte portuguesa.

Porém, apesar de todo este esforço, o êxodo de portugueses, que constituíam a esmagadora maioria dos funcionários públicos e dos proprietários e trabalhadores de empresas privadas, não abrandou entre 1974-1975. A título elucidativo, podemos inferir a gravidade do êxodo, olhando para as estatísticas do nível médio. Em 1974-75 estavam matriculados no 6º e 7º anos, 1.330 alunos. Este número baixou drasticamente para 645 em 1976 ou seja para cerca de 50% do número do ano anterior.

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Depois da proclamação da Independência Nacional colocavam-se grandes desafios de quadros. A este problema acrescia-se a sabo-tagem económica e a ameaça externa à nossa segurança nacional, iniciada através dos ataques do regime racista rodesiano.

Como fora o caso, com a luta de libertação nacional, impunha-se a mobilização de todas as forças nacionais para estes novos desafios. Coube ao Presidente Samora liderar a Nação para vencer esses de-safios. No seu discurso de 8 de Março de 1977 ele articulou esses desafios à Nação e proclamou o chamamento dos jovens que, nesse ano, deveriam frequentar a 10ª e 11ª classes para serem integra-dos em diversos sectores de actividade.

Foi a partir destes jovens da “Geração do 8 de Março” conjugados com os “Geração de 25 de Setembro” que se consolidaram as ba-ses para a defesa da soberania ameaçada e para a reconstrução nacional. Sob a liderança do Presidente Samora, estas gerações de patriotas contribuíram para que:

as nossas forças de defesa e segurança se colocassem à altura dos desafios nacionais e regionais do momento;

os sectores económicos e sociais se soerguessem dos es-combros da sabotagem e da fuga de quadros de que tinham sido vítimas;

Nesta interacção e diálogo de gerações criaram-se simbioses e enriqueceram-se experiências, conceitos e métodos de trabalho. Neste processo, reforçou-se a Unidade Nacional e o espírito pa-triótico e consolidou-se a visão comum de que a independência não era um fim, mas um meio para realizarmos o sonho dos nossos antepassados de bem-estar, um sonho que também é nosso.

*****

Este simpósio propõe-se abordar um período de cerca de duas dé-cadas de realizações e experiências, de avanços e reveses no nosso percurso político e social. Este é um período em que desponta a complementaridade entre as gerações do 25 de Setembro e do 8

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de Março, lideradas pelo Presidente Samora Machel, na construção dos conteúdos deste evento.

Esperamos que o debate académico que aqui se vai desenrolar, du-rante os próximos dois dias, logre sistematizar o manancial desses saberes. Que ele seja um momento não só de reflexão académica e científica sobre a obra de Samora Machel, mas, e sobretudo, um momento de homenagem condigna merecida por Homens da sua estatura de Estadista. Que seja igualmente um momento de home-nagem aos membros e funcionários do Governo, oficiais das forças de defesa e segurança, jornalistas e homens da cultura, diploma-tas, profissionais da aviação civil e pessoal médico que tombaram em Mbuzini.

São cidadãos nacionais e estrangeiros que a História reclama reco-nhecimento e cujas obras em vida, uma vez sistematizadas, servi-rão de referências indeléveis para inspirar o combate pelo nosso bem-estar que Samora e eles colocavam, com ênfase e ardor, no seu quotidiano. Por isso, fazemos votos para que o lema “Samora Machel vive na nossa luta contra a pobreza”, escolhido para as ce-lebrações do seu aniversário e para assinalar os vinte anos do seu assassinato, reverbere e permeie os debates deste simpósio.

Com estas palavras temos a honra de declarar aberto o simpósio “Moçambique no contexto da África Austral: da Independência ao Acordo Geral de Paz”, recordando a palavra de ordem que sempre caracterizou Samora, uma palavra de ordem que sempre fazia es-tremecer os nossos inimigos em Moçambique, na região e no mun-do e mobilizava-nos para causas nobres. Essa palavra de ordem é “A Luta Continua”.

Muito obrigado pela vossa atenção!

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Samora Machel:

Arquitecto do Palácio da Ponta Vermelha como ponto de convergência9

É com grande prazer que temos a honra de vos acolher na casa que recebeu Samora Moisés Machel, a 24 de Junho de 1975, no término da sua histórica e triunfal viagem “do Rovuma ao Maputo”:

daqui partiu para proclamar a nossa Independência Nacio-nal;

daqui prosseguiu a materialização do sonho dos moçambi-canos de bem-estar;

daqui também contribuiu

para a liberdade e independência de outros povos da re-gião e do mundo.

Por isso, este Palácio da Ponta Vermelha enche-se de significados simbólicos relevantes para a História. Por aqui passa a História mais marcante da afirmação de Moçambique, como uma Nação e dos moçambicanos como um Povo.

Este Palácio foi e é a casa da solidariedade dos moçambicanos entre si, e deles com outros povos, unidos pelos mesmos ideais, sonhos e anseios, ontem e hoje.

Como no dia 25 de Setembro, dia das Forças Armadas, em Pemba, quando lançámos as celebrações do seu septuagésimo terceiro ani-versário natalício e que também servem para assinalar o vigésimo ano do seu assassinato, a meio desta tarde, quando nos dirigimos ao simpósio, esta noite é também um momento para partilhar a emoção de recordar um homem notável, uma figura lendária, um 9Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, no Banquete oferecido aos participantes no “Moçambique no contexto da

África Austral: da Independência ao Acordo Geral de Paz”. Maputo, 5 de Outubro de 2006.

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ícone do nosso processo político e histórico. Fazê-lo aqui onde ele habitou e onde ele sonhou com a África e o mundo e os seus povos livres é, para nós, um momento de grande júbilo e emoção.

O simpósio internacional que hoje teve início, é uma ocasião ím-par para revisitarmos a nossa História, num quadro temporal rico de acontecimentos. Assim, perante a distância do tempo e desses acontecimentos, podemos melhor apreciar e compreender muitos dos aspectos, particularmente os característicos da arquitectura que enforma a paz e a estabilidade que hoje vivemos em Moçam-bique e a cooperação regional, no contexto da SADC.

*****

Gostaríamos de dirigir uma palavra especial aos companheiros de luta de Samora, nacionais e estrangeiros, que nos prestigiam aqui com a sua presença.

Entre eles reconhecemos antigos Chefes de Estado e de Governo, combatentes da Luta de Libertação Nacional, jovens da Geração do 8 de Março e intelectuais de prestigiada estatura. Reconhece-mos também, entre os presentes, aqueles que foram testemunhas desse processo empolgante da nossa história comum de luta e de afirmação Eles encontram-se entre os herdeiros e depositários des-se rico património cuja documentação e divulgação deve ser tarefa de todos nós, no quadro da cooperação que iniciamos em Kongwa e impulsionámos na Linha da Frente.

Neste contexto, gostaríamos de felicitar e saudar o Centro de Do-cumentação Samora Machel pela iniciativa que teve de promover este simpósio internacional, com epicentro em Samora, essa figura lendária, mas com incursões que ligam esta figura e Moçambique aos processos políticos e sociais da região e do mundo. Os depoi-mentos e as comunicações que dão corpo a este simpósio

permitem-nos reviver momentos épicos da nossa gesta libertária, apreciar os desafios de então e o lugar cimeiro que a nossa au-to-estima e a nossa unidade na acção ocuparam para lograrmos realizar os nossos sonhos. Este simpósio é assim, mais uma fonte

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de inspiração para a luta que travamos contra a pobreza e as suas diversas manifestações.

*****

O Presidente Samora Machel foi bárbara e cobardemente assassi-nado nas colinas de Mbuzini há 20 anos.

a nós compete celebrar a sua obra e a trajectória de todos aqueles que com ele tombaram.

a nós compete, ainda, valorizar e exaltar os seus feitos e materializar os seus sonhos.

compete-nos, igualmente, fazer dessa indisfarçável dor, fonte de novas forças, dando um testemunho ao mundo de que somos herdeiros de um legado alto e nobre.

Aos nossos visitantes reiteramos a nossa gratidão por terem aco-lhido o nosso convite para, juntos, celebrarmos Samora, Moçam-bique, a África Austral e a libertação dos nossos países e povos. Desfrutem da nossa hospitalidade e, esta noite, da gastronomia moçambicana, feita com o orgulho e auto-estima, que eram as bandeiras da afirmação da moçambicanidade do saudoso Presiden-te Samora Moisés Machel.

A terminar permitam-nos que convidemos a todos os presentes para que nos acompanhem num brinde:

à vida e obra do Presidente Samora Moisés Machel,

à paz e progresso de Moçambique,

à paz e progresso da nossa região da África Austral e do Continente Africano,

à paz e estabilidade no mundo.

Um bom apetite a todos e muito obrigado

pela vossa atenção!

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Samora Machel:

Promotor da Paz e da libertação política e económica na África Áustral10

As nossas primeiras palavras são de agradecimento ao Povo e ao Governo da República da África do Sul, com destaque para o nosso irmão e amigo, Sua Excelência Presidente Thabo Mbeki, por terem criado as condições para assinalarmos, em seu território, com a dignidade à altura dos evocados, a tragédia de Mbuzini. Este é mais um sinal das boas relações prevalecentes entre os nossos dois países e povos. São relações que se entrecruzam, há muitos sécu-los, quer do ponto de vista histórico quer do ponto de vista social, e que ganharam um novo ímpeto no processo da luta comum pela nossa libertação e dignidade.

Convergimos de várias partes do mundo para exaltar a vida e obra do Presidente Samora Moisés Machel, cobardemente assassinado pelo regime do Apartheid, nestas colinas de Mbuzini. Há vinte anos perdemos, neste lugar, o fundador da Nação Moçambicana, o in-cansável combatente pela libertação e cooperação na África Aus-tral e no mundo. Esta sua dimensão e estatura explicam o luto e o pesar que se observou a nível internacional, em sua memória. Explica igualmente a indignação que a notícia do seu desapareci-mento físico causou em Moçambique e no Mundo inteiro.

Todos se interrogavam, incrédulos, porquê o regime do Apartheid se teria atrevido a arrancar a vida do homem cujos ideais já não lhe eram exclusivos, porque já transformados em património do seu povo e dos povos da região e do mundo. Questionavam se o

10Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, nas celebrações do 20o aniversário da tragédia de Mbuzini. Mbuzini, 19 de

Outubro de 2006.

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Apartheid não se apercebera que o Presidente Samora Machel não era apenas uma personalidade dotada de predicados e pendor para causas nobres mas também um símbolo e fonte de inspiração, vivo ou morto, de muitos oprimidos, mesmo no interior da África do Sul. Por isso, contrariamente ao que vaticinara o Apartheid, a morte do Presidente Samora Machel não ofuscou os ideais que ele defendia com toda a convicção e abnegação.

a sua morte, em vez de esmorecer, reforçou, em todos os povos do mundo, a determinação de luta contra os inimigos da paz, do progresso e do bem-estar de toda a Humanidade.

a sua morte veio igualmente exacerbar, mais ainda, o ódio contra o regime do Apartheid, já declarado um crime contra humanidade pela Organização das Nações Unidas.

*****

Para o Presidente Samora Machel, Moçambique, que ele apelidava de zona livre da Humanidade, só teria uma independência dig-na desse significado depois da libertação dos povos oprimidos da África Austral e dos de outros quadrantes do mundo. Por isso, lí-deres e membros de movimentos cívicos e de libertação de todos os quadrantes do mundo fizeram de Moçambique o seu outro país de estadia e de sonhos, a sua retaguarda segura. Ali se inspiraram, estudaram, trabalharam e fizeram amizades indeléveis. Dali par-tiram para libertar os seus países e para instalar uma nova ordem social e política.

O Presidente Samora ainda testemunhou a libertação do Zimba-bwe do regime racista de Ian Smith mas não teve a oportunidade de celebrar com os namíbios e com os sul-africanos o hastear das suas respectivas bandeiras que proclamavam o fim da discrimina-ção e da humilhação institucionalizadas. Ele não chegou a ver o fim da ditadura no Chile e as primeiras eleições gerais da República Democrática do Congo, nem a Independência de Timor-Leste. O Presidente Samora não teve a oportunidade de saudar a paz por-que os angolanos ansiavam para relançarem o seu País na rota do desenvolvimento.

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*****

O Presidente Samora estava preocupado com o aprofundamento da cooperação, como meio de libertação económica da África Aus-tral. Ele queria que, na primeira oportunidade, o troar das armas fosse substituído pelo roncar das máquinas a produzir comida e a implantar infra-estruturas;

que esse troar das armas cedesse o seu lugar às buzinas dos comboios e dos camiões, transportando projectos e planos de desenvolvimento, produtos e serviços;

que igualmente, esse troar das armas desse lugar à inte-racção entre os cidadãos da região:

o para aprofundarem a sua confiança mútua,

o para cultivarem a estabilidade política; e

o para concertarem as suas posições sobre as agendas regionais, continentais e internacionais.

É em resposta a estes objectivos estratégicos que nasce a Confe-rência para a Coordenação do Desenvolvimento da África Austral. É esta SADCC que lança as bases sólidas para que hoje, no contexto da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, cami-nhemos rumo a uma África Austral mais integrada e estável, unida e próspera.

Para que a paz fosse duradoira e a SADCC tivesse os sucessos que almejava, o Presidente Samora defendia a eliminação de todos os focos de instabilidade na região. Ele encontra a sua morte justa-mente quando voltava de mais uma missão para a paz duradoira para a região austral da África. Como que a sublinhar a sua dimen-são e estatura, o Presidente Samora Machel;

perece, aqui em Mbuzini, com moçambicanos de diferentes grupos etários, raças e zonas do nosso Moçambique, unidos pela vontade de ver a nossa Pérola do Índico a prosperar e a partilhar as suas capacidades com a região e o mundo.

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ele perece nestas colinas com cidadãos de diferentes partes do mundo, também amantes da paz e da liberdade, da coo-peração e da prosperidade.

Ele perece nas entranhas do Apartheid misturando o seu sangue com o sangue dos combatentes pela libertação da África do Sul, cujo movimento nacionalista influenciava, desde 1912, a libertação da África Austral e do Mundo.

Por todo este legado, nós dizemos: Samora não morreu. Samora vive entre nós.

o Presidente Samora inspira-nos na implementação da nos-sa Agenda Nacional de Luta contra a Pobreza, que também era sua agenda.

o Presidente Samora Machel inspira as cimeiras bilaterais que mantemos com a África do Sul e os projectos que con-cebemos com os nossos vizinhos, no contexto da SADC e da sua agenda de integração regional.

Por isso, o estrondo do Tupolev 134A não se confinou a Mbuzini, nem no tempo nem no espaço, contra a vontade dos inimigos do nosso progresso. Esse estrondo, embora funesto, dinamizou uma nova consciência que aproximou ainda mais os povos da região e acelerou a derrocada do hediondo regime que o provocara. Eis-nos, vinte anos depois, evocando os ideais porque o Presidente Samora viveu, lutou e morreu. Eis-nos celebrando e contemplando uma África Austral em paz e em processo de integração. Persista-mos nesta caminhada, pois uma África Austral integrada e próspera será o maior monumento que ergueremos, colectivamente, para o Presidente Samora Moisés Machel.

A terminar gostaríamos de reiterar o compromisso do nosso Gover-no de persistir na busca da verdade sobre as causas do despenha-mento da aeronave que transportava o Presidente Samora Moisés Machel e a sua comitiva. Os resultados desta investigação não são apenas do interesse de Moçambique. O Presidente Samora Machel, por mérito próprio, era já cidadão de todo o mundo.

Muito obrigado pela vossa atenção!

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Samora Machel:

O líder de quem emanam as aspirações de um Povo11

As nossas primeiras palavras são de agradecimento pela forma hos-pitaleira, calorosa e cheia de irmandade e moçambicanidade como nos acolheram nesta visita à Província de Nampula.

Logo à nossa chegada, no Aeroporto Internacional de Nampula, fo-mos acolhidos pelos nossos irmãos e irmãs desta bela Província, alegres, cantado e dançado, fazendo-nos sentir bem, como sempre o fizeram. Muito obrigado população de Nampula por mais este gesto de moçambicanidade, um gesto que nos engrandece como um Povo, um Povo alegre, um Povo que gosta da paz e promove-a todos os dias. Uma Paz para realizar as suas actividades sociais e económicas, uma paz para lutar contra a pobreza e pelo progresso da Nação Moçambicana.

São estas qualidades que fazem do Povo Moçambicano um Povo muito especial, um Povo maravilhoso.

Por isso, é com um profundo sentimento de júbilo que estamos aqui, hoje, para convosco procedermos à inauguração da estátua do saudoso Presidente Samora Machel, o nosso dirigente que per-deu a vida quando buscava a paz para Moçambique e para a África Austral.

Na história do nosso Moçambique, livre e independente, a data de hoje assume uma dimensão de grande valor, porque com o acto inaugural de há pouco tempo marcámos, de forma indelével, a consagração de uma figura incontornável no nosso processo de li-bertação e de afirmação como um Estado, o Presidente Samora Moisés Machel.

11Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique, por ocasião da inauguração da estátua do Presidente Samora Machel,

na Cidade de Nampula. Nampula, 8 de Dezembro de 2011.

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Na verdade, apesar da sua ausência física entre nós, o Presidente Samora Machel, continua a ser o nosso guia inspirador nesta missão de luta contra a pobreza, de reafirmação da nossa moçambicani-dade, da nossa auto-estima e do nosso orgulho de sermos donos do nosso próprio destino.

O Presidente Samora Machel foi uma figura heróica e carismáti-ca que conduziu a luta de libertação nacional que culminou com a Independência de Moçambique. Por isso, a sua figura coloca-se acima de todas as tonalidades políticas e partidárias e de todas as diferenças de ordem étnica, racial ou religiosa que caracterizam uma sociedade plural como a nossa, porque a Independência e a paz porque o Presidente Samora Machel lutou e de que hoje des-frutamos são bens de valor inestimável que a todos nós cobrem e dignificam.

Hoje, passados 25 anos após o seu bárbaro assassinato, pelo regime racista do Apartheid da África do Sul, a sua voz firme, livre e liber-tadora, continua a ecoar nos nossos ouvidos. Vinte e cinco anos de-pois do seu assassinato, o Presidente Samora Machel continua a ser evocado e recordado em todos os meios e extractos sociais. Vinte e cinco anos depois do seu desaparecimento físico, a sua visão e o sonho que sempre teve de ver o seu povo vivendo em liberdade, em paz e na felicidade continuam actuais e relevantes.

Tendo-se assumido como um herdeiro do pensamento do fundador do nosso movimento de libertação e arquitecto da Unidade Nacio-nal, o saudoso Presidente Eduardo Mondlane, o Presidente Samora Machel soube incutir o seu ideal de liberdade, independência e luta pelo bem-estar para o nosso maravilhoso Povo,

sempre guiado pela Unidade Nacional, pelo princípio de contar com as próprias forças e pela apologia do trabalho árduo. Ele soube in-cutir estes valores e princípios não apenas nos homens e nas mu-lheres da sua geração, mas também nos das gerações subsequentes que tomaram o seu exemplo, como referência a emular, a seguir.

Por isso, os valores e princípios defendidos pelo Presidente Samora Machel extravazam o simples âmbito político para se estenderem aos valores da sociedade nos planos ético, moral e cultural.

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São valores e princípios que caracterizam a nossa moçambicanida-de e através dos quais todos nos revemos e nos identificamos como um Povo, como uma Nação.

*****

Ao descerrarmos a estátua do saudoso Presidente Samora Machel estamos a prestar uma justa homenagem:

a um grande comandante de guerrilha;

a um líder de grande craveira;

a um estadista que soube ultrapassar as fronteiras do seu próprio País para se projectar como uma figura de dimen-são internacional.

O Presidente Samora Machel respondeu, de pronto, ao chamamen-to do Presidente Eduardo Mondlane para participar na libertação da nossa Pátria ocupada. Ele entregou-se a esta causa do nosso Povo, com bravura, tenacidade e visão de um grande estratega militar e liderou-nos na luta pela nossa independência. Seria na sua voz que, a 25 de Junho de 1975, proclamaríamos o fim da do-minação estrangeira.

Liderados pelo Presidente Samora Machel lançámo-nos no processo de reconstrução nacional e na defesa e valorização da nossa Inde-pendência Nacional. Ao mesmo tempo, ele estendia a mão solidá-ria do nosso Povo para os povos da região e do mundo.

O Presidente Samora Machel foi conhecido e reconhecido como um grande militar e um estratega de renome.

Todavia, ele era um ardente amante da paz e isto encontra eco no impulso que deu ao processo de paz na África Austral. A sua coragem, determinação e visão ajudaram a alargar as fronteiras da liberdade na África Austral e no mundo. Por isso, não foi ape-nas Moçambique que chorou o seu trágico e bárbaro assassinato, em Mbuzini, pois a nós se juntou o soluço de dor e pesar da nossa Mãe-África e do mundo inteiro que, com legitimidade, também reivindicam o Presidente Samora Machel como seu Herói.

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Por tudo isto, nós sentimos a obrigação sempre presente de ve-nerar a memória deste Herói Nacional e de fazer dos seus ensina-mentos o nosso guia para a acção rumo ao desenvolvimento social e bem-estar do nosso povo.

Tal como o Presidente Samora preconizou:

resgatámos a paz e continuamos a consolidá-la no quotidia-no;

persistimos no reforço da Unidade Nacional, da moçambica-nidade e da auto-estima;

centramos as nossas atenções na luta contra a pobreza, rumo à criação do bem-estar para o nosso maravilhoso Povo; e

prosseguimos com acções que contribuem para aumentar o prestígio desta Pátria de Heróis no concerto das Nações.

*****

Ao inaugurarmos a estátua do nosso saudoso Presidente Samora Ma-chel queremos eternizar a memória daquele filho de Moçambique a quem todas as gerações de Moçambicanos estarão sempre gratas pelo papel por ele desempenhado para se tornarem homens e mu-lheres livres. Pela via da sua acção heróica, e sob a direcção do nosso movimento de Libertação, liderado pelo Presidente Samora Machel, a quem hoje homenageamos, os moçambicanos ousaram ser dignos de uma pátria que ao erguer-se do jugo da dominação colonial, logrou afirmar-se como uma Nação igual no concerto das outras nações.

É também justo dizer que ao prestarmos esta homenagem fazemo-lo com um misto de saudade e de angústia porque não nos esquecemos que o Presidente Samora Machel foi bárbara e cruel-mente assassinado, em circunstâncias que até hoje ainda não fo-ram esclarecidas.

Os moçambicanos e o mundo aguardam até hoje, e com justificada ansiedade, a explicação total dos factos que conduziram ao seu

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bárbaro assassinato. Uma vez mais, reafirmamos que continuare-mos a trabalhar neste dossier até que essas circunstâncias sejam esclarecidas e os seus actores levados à justiça.

*****

Neste ano de 2011, neste que é o Ano Samora Machel, queremos reiterar o nosso convite a todos os nossos irmãos e irmãs, do Ro-vuma ao Maputo e do Índico ao Zumbo, a fazerem uma reflexão colectiva sobre os feitos desta grande figura e sobre os seus ensina-mentos de grande alcance e visão. Que a partir destes ensinamen-tos continuemos a buscar força e inspiração para a implementação da nossa agenda nacional de luta contra a po breza que é, por sua vez, a expressão do desejo do nosso povo por uma vida cada vez melhor.

Por isso, os ensinamentos do Presidente Samora Machel vão para além do Ano Samora Machel. Por isso, Samora Vive!

Muito obrigado pela vossa atenção.

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Samora Machel:

Promotor de valores nobres que a todos nós

orgulham12

Estamos a chegar ao fim dos trabalhos do Simpósio Internacional alusivo à vida e obra do Presidente Samora Machel. Queremos ma-nifestar a nossa imensa gratidão ao Presidente Robert Mugabe, aos Antigos Presidentes Joaquim Chissano e Kenneth Kaunda, ao Anti-go Secretário Executivo do Comité de Libertação da Organização da Unidade Africana e a todas as outras personalidades, nacionais e estrangeiras, incluindo os familiares do Presidente Samora, aos académicos e investigadores que nos honraram com a sua presen-ça, bem como pelas comunicações com que brindaram este en-contro. São comunicações que nos levaram ao reencontro com o proclamador da nossa Independência Nacional, ao reencontro com momentos empolgantes da nossa História.

Temos consciência que os nossos oradores tiveram que comprimir longas experiências, lições e conhecimentos sobre o Presidente Sa-mora Machel e sobre a sua contribuição para o nosso processo de libertação e para o processo de libertação da região e de outros povos do mundo. Foi um desafio que colocou à prova a sua ca-pacidade de trazer para a nossa atenção aquelas que seriam as nervuras fundamentais desse saber, no pouco tempo que lhes foi alocado. Queremos saudar-vos, senhores oradores, por essa capa-cidade que contribuiu para que, com sucesso, partilhassem essas vossas experiências e saberes.

Na verdade, as comunicações aqui apresentadas, cristalizam a es-tatura e a dimensão dessa figura emblemática, desse símbolo da solidariedade nacional, regional e mundial, desse homem da paz e 12Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, no encerramento do simpósio “Samora Machel: a frente diplomática e os

Estados da Linha da Frente”. Maputo, 18 de Outubro de 2011.

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promotor da liberdade dos povos da região e do mundo. Por isso, a grande virtude deste simpósio foi o de demonstrar o quão relevan-te e inspiradora é a vida e obra do Presidente Samora Machel para os desafios do presente.

Este evento também teve o condão de proporcionar uma platafor-ma de interacção entre moçambicanos e seus convidados para, em conjunto, realizarem uma incursão pela história gloriosa, épica e heróica do nosso maravilhoso Povo e da nossa região. Foi gratifi-cante ver na audiência docentes e estudantes, das nossas institui-ções de ensino superior, que tiveram assim mais uma oportunidade para aprofundarem os valores nobres que caracterizaram a vida do Presidente Samora Machel.

Esperamos que, deste diálogo, e particularmente das apresenta-ções pelos oradores e das questões colocadas pelos participantes, resultou evidente que o Presidente Samora Machel é e sempre será uma referência e uma inesgotável fonte de inspiração para ven-cermos na luta contra a pobreza e para realizarmos o sonho de integração regional e continental. Esta foi assim, mais uma oportu-nidade para prestarmos o tributo merecido ao Presidente Samora Machel não só como Herói Nacional como também pela sua quali-dade de Herói na região e no mundo.

Um agradecimento muito muito especial vai para a Universidade Eduardo Mondlane pela iniciativa de promover este simpósio inter-nacional sobre a contribuição do Presidente Samora Machel para a nossa libertação e afirmação como Estado e para a liberdade na região. Estão de parabéns, Magnífico Reitor!

É nossa expectativa, que depois de demonstrarem esta capacidade de organização de um evento deste quilate e com estes resultados, não parem por aqui, nem parem em Maputo apenas, tendo em conta que parcerias com outras instituições de ensino superior e outras entidades podem ser firmadas.

As comunicações aqui apresentadas dão-vos novos campos de pes-quisa sobre esta grande figura do nosso processo histórico. O pró-prio processo histórico moçambicano, incluindo o do pós-indepen-

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dência até aos dias de hoje, oferece-vos temáticas para pesquisa, debate e publicação. Contamos convosco nestes desafios.

*****

Continuemos juntos a lutar pelo bem-estar nos nossos países, pelo reforço da cooperação bilateral e pela integração regional e con-tinental. Continuemos a apropriamo-nos do seu exemplo de luta pela paz e de solidariedade entre os povos.

Deste modo, e continuando a empunhar o seu estandarte podere-mos afirmar, de viva voz, que SAMORA VIVE!

Com estas palavras temos a honra de declarar encerrado o simpó-sio sobre a vida e obra do Presidente Samora Machel.

Muito obrigado pela vossa atenção.

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Samora Machel:

Uma figura emblemática em Moçambique

e no Mundo13

Queremos, uma vez mais, agradecer a vossa presença amiga nas celebrações do dia 19 de Outubro, data em que o saudoso Presi-dente Samora Machel perdeu a sua vida. Emprestaram-nos o calor e a solidariedade que sempre caracterizou o proclamador da nossa Independência Nacional, o combatente pela liberdade na Africa Áustral e no mundo.

A inauguração do monumento em sua homenagem, esta manhã, representa um dos marcos mais importantes das celebrações do Ano Samora Machel, em todo o nosso Moçambique e no estrangei-ro. São celebrações marcadas por uma variada gama de eventos e pela presença de uma multiplicidade de nacionalidades que, uma vez mais, sublinham o amor que o Presidente Samora Machel gran-jeia entre nós e expressam a sua dimensão de cidadão de todo o mundo.

Recordar o Presidente Samora Machel em Moçambique é buscar a inspiração, a força e a determinação para prosseguirmos na longa epopeia rumo à nossa libertação da pobreza:

é consolidarmos a nossa auto-estima, a Unidade Nacional e a paz;

é reforçarmos a nossa certeza de que a nossa causa de lutar contra a pobreza é justa e, por isso, vai triunfar.

13Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, na recepção oferecida aos Chefes de Estado e Governos e outras personalidades participantes nas celebra-ções do 19 de Outubro. Maputo, 19 de Outubro de 2011.

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Recordar o Presidente Samora Machel na região e no mundo:

é reafirmarmos o nosso empenho com a solidariedade entre os povos;

é reiterarmos o nosso compromisso com a Paz, segurança, cooperação e desenvolvimento.

Esta recepção cria o ambiente favorável para continuarmos a tro-car impressões sobre a vida e obra do Presidente Samora Machel e para cristalizarmos, mais ainda, o seu papel no processo da nossa libertação, construção da nação e apoio a outros povos para a con-quista e gozo dos seus direitos e liberdades.

Apraz-nos notar que o Ano Samora Machel tem sido uma grande oportunidade para a nossa juventude, em particular, tomar conhe-cimento e apropriar-se dos valores nobres

que o Presidente Samora Machel defendeu e pelos quais perdeu a sua preciosa vida.

Uma vez mais, queremos agradecer a todos pela presença nestas celebrações e neste encontro de confraternização.

Muito obrigado pela vossa atenção.

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Samora Machel:

Seu papel no desenvolvimento de Tete e na liderança de Tete para a Libertação Nacional e do Zimbabwe14

As nossas primeiras palavras são de agradecimento pela forma ca-lorosa, hospitaleira e cheia de irmandade como nos receberam neste torrão de Moçambique chamado Tete.

Os vários grupos culturais que se fizeram ao aeroporto e a este local onde estamos reunidos demonstraram como se dança, e se dança muito bem, em Tete para receber hóspedes.

Ao longo da nossa rota para esta bela Cidade fomos saudados por homens e mulheres, de diferentes idades, estratos sociais e ori-gem, todos eles de semblantes alegres, sorridentes.

São cidadãos que em todo o nosso percurso iam-nos saudando, ace-nando e esbracejando, fazendo-nos sentir sempre bem acolhidos nesta nossa outra casa.

Saudamos o Governo, os partidos políticos e as organizações da so-ciedade civil pela forma como mobilizaram e enquadraram a popu-lação para este dia de homenagem ao saudoso Presidente Samora Moisés Machel, simbolizada pelo descerramento do monumento a ele dedicado, no Ano Samora Machel.

Esta homenagem está carregada de emoção porque reaviva as nos-sas memórias da sua última visita a esta Província, de cerca de uma semana, com início no dia 15 de Setembro de 1986. Com efeito, o Presidente Samora Machel visitou alguns distritos desta Província

14Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, por ocasião da inauguração da estátua do Presidente Samora Machel em

Tete. Tete, 10 de Novembro de 2011.

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e, uma vez mais, constatou que a ausência da Paz era um grande impedimento para o desenvolvimento social e económico de Tete. Aliás, no comício que realizou aqui em Tete, no dia 21 de Setembro de 1986, ele colocou acento tónico no resgate da Paz para o desen-volvimento de Tete, de Moçambique e da região.

Foi no quadro da busca da Paz que ele se deslocara ao Malawi no dia 11 de Setembro de 1986.

Naquele país, nosso vizinho, ele reuniu-se com o Dr. Kamuzu Ban-da, acompanhado pelo Presidente Kenneth Kaunda, da Zâmbia, e pelo então Primeiro-Ministro do Zimbabwe, Robert Mugabe.

O encontro tinha em vista sublinhar a necessidade de boa vizinhan-ça entre todos os países da África Austral. Foi no mesmo contexto que no dia 19 de Outubro de 1986, ele participou num encontro com o Presidente Mobutu Sese Sekou, do Zaire, na companhia de outros dois Chefes de Estado da Linha da Frente, nomeadamente Kenneth Kaunda, da Zâmbia, e José Eduardo dos Santos, de Ango-la. O encontro tinha por objectivo persuadir o Presidente do Zaire para deixar de apoiar a UNITA que estava a assassinar cidadãos an-golanos e a destruir aquele Estado da Linha da Frente. De regresso a Maputo, o seu avião despenhou-se nas colinas de Mbuzini.

O Presidente Samora Machel era assim barbaramente assassinado pelo regime do Apartheid.

Nesta visita a Tete ele deixara claro que a Paz era a condição para o nosso desenvolvimento.

Vinte e cinco anos depois, podemos dizer que Tete, como o resto da nossa Pátria Amada, é exemplo da realização desse seu sonho. Vamos dar alguns exemplos:

a Barragem de Cahora Bassa, que ele visitou no dia 18 de Se-tembro de 1986, não só passou para o nosso controle, como também electrifica mais Distritos, Postos Administrativos e Localidades desta Província e deste nosso belo Moçambique, promovendo o nosso desenvolvimento social e económico.

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Países vizinhos também se beneficiam da nossa energia e há planos para um maior aproveitamento do potencial hidro-e-léctrico do nosso majestoso Rio Zambeze.

o carvão de Tete, que o Presidente Samora Machel viu amon-toado na CARBOMOC, no dia 19 de Setembro de 1986, já é escoado através da reabilitada Linha de Sena para o mundo. Estão hoje em curso planos de intensificação da actividade mineira e de exploração de outras vias de escoamento deste recurso mineral.

a produção agrária, que o Presidente Samora Machel teste-munhou no Complexo Agro-Industrial de Angónia, no dia 16 de Setembro de 1986, intensificou-se e diversificou-se nesta Província.

Uma unidade de agro-processamento está em construção, em Ulóngué, local onde o Presidente Samora Machel foi en-tusiasticamente recebido nesse dia 16 de Setembro.

Hoje, Tete pode orgulhar-se por estar a realizar o sonho do Presi-dente Samora Machel não só nestas como também em outras fren-tes a que ele fez referência no comício daquele dia 21 de Setembro de 1986.

Referimo-nos ao desenvolvimento, na forma de mais infra-estrutu-ras sociais e económicas, como são os casos de escolas, unidades sanitárias, fontes de abastecimento de água, estradas e unidades industriais.

Referimo-nos também ao desenvolvimento cultural que se regista através do incremento da actividade desportiva, artística e cultu-ral. Em particular, com orgulho, Tete festejou a proclamação do seu Nyau, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, UNESCO, como Obra Prima do Património Oral e Imaterial da Humanidade.

Por isso, parabéns, caros compatriotas de Tete, por tudo o que têm feito para honrar o sonho do nosso saudoso Presidente Samora Machel. Este monumento, ao lado da Ponte Samora Machel, teste-

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munha o nascimento de mais uma infra-estrutura para facilitar a travessia do Rio Zambeze.

Tete está a crescer. É Moçambique a desenvolver-se, pois o que vemos aqui em Tete está a acontecer em outras partes desta nossa Pérola do Índico.

*****

Tete foi um dos berços da epopeia nacionalista do Povo Moçambi-cano na luta pela conquista da Independência Nacional.

Aberta em 1964, a “Frente de Tete” viria a ser interrompida pouco depois, por motivos logísticos. Reaberta em 1968, esta frente viria a desempenhar um papel de grande relevo para o desenvolvimento e sucesso da luta nesta Província e para a abertura da “Frente de Manica e Sofala”, em 1972. Esta nova realidade levou o Presidente Samora Machel a declarar, “já estamos a operar no estômago do inimigo!”.

Com o Presidente Samora Machel, Tete seria um dos marcos da nossa solidariedade para com o Povo do Zimbabwe.

Nas nossas Zonas Libertadas recebemos e treinámos os guerrilhei-ros da ZANU que, em 1972, entraram no seu país para realizar operações de guerrilha.

Sob a orientação do Presidente Samora Machel, Tete acolheu, ain-da no Governo de Transição, zimbabweanos que fugiam da repres-são do regime ilegal de Ian Smith. Tembwe, em Chifunde, desta-ca-se como um desses campos que acomodou esses nossos irmãos do Zimbabwe. Alguns desses zimbabweanos decidiram pegar em armas e lutar para a restauração da dignidade do seu Povo.

Moçambicanos também participaram nessas operações porque nós queríamos a Paz para realizar o nosso sonho de desenvolvimento.

O monumento que descerrámos há pouco é, assim, uma homena-gem digna e merecida a este nosso dirigente, por aquilo que fez por Tete, por Moçambique, pela África Austral e pelo mundo. Deste

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modo, a expressão Samora Vive não é apenas retórica, desprovida de significado.

Ela é, muito pelo contrário, testemunho do nosso reconhecimen-to da validade, importância e actualidade dos seus ideais e visão para fazermos face, hoje, aos desafios que se nos colocam na luta contra a pobreza.

O Presidente Samora Machel era dotado de excelentes qualidades de liderança e visão que lhe permitiam fazer leituras e, de forma proactiva, introduzir as necessárias adaptações tácticas para rea-lizar o nosso projecto de um Moçambique próspero, sempre unido e em paz e com crescente prestígio no concerto das nações. Foi neste contexto que anunciou, em 1984, que o Estado não poderia continuar a vender agulhas, abrindo assim espaço para a iniciativa privada. Subsequentemente, liderou-nos na reprivatização das lo-jas e de pequenas empresas.

Orientou-nos, igualmente, para a adesão de Moçambique ao Fundo Monetário Internacional, ao Banco Mundial e aos países da Conven-ção de Lomé.

O Programa de Reabilitação Económica, conhecido por PRE, lança-do em 1987, foi concebido sob a liderança do Presidente Samora Machel.

No Presidente Samora Machel ainda nos inspiramos na árdua mis-são de construção do nosso bem-estar. A semente que ele lançou à terra já desabrochou plena e robusta em todo o nosso belo Mo-çambique.

Exortamos a todos os nossos compatriotas a persistirem na consoli-dação da Unidade Nacional, em homenagem a este Herói Nacional e porque este é o pressuposto fundamental para continuarmos a registar índices de desenvolvimento social e económico. A Unida-de Nacional garante que todos nós, moçambicanos, realizemos os nossos sonhos pessoais e participemos, de forma mais estruturada, dinâmica e efectiva na luta contra a pobreza. Gostaríamos de re-cordar a todo o nosso maravilhoso Povo que foi graças à Unidade

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Nacional que conquistamos a Independência Nacional. Os comba-tentes da Luta de Libertação Nacional consentiram indescritíveis sacrifícios, incluindo as suas preciosas vidas, não em nome de uma tribo mas, isso sim, em nome de todo o nosso Povo, entregaram-se para libertar todo o nosso belo Moçambique.

Hoje, devemos manter a Unidade Nacional e cada um de nós, este-ja onde estiver deve sentir-se como estando em sua própria terra. O moçambicano de Cabo Delgado a viver na Zambézia, deve sentir-se como estando na sua própria terra, em Moçambique e nunca se deve sentir como estrangeiro. O Presidente Samora Machel foi um grande defensor da Unidade Nacional.

Por isso, a árvore que ele plantou, hoje frondosa e na forma da paz, da Unidade Nacional, do desenvolvimento social e económico e integração regional, muito orgulharia o proclamador da nossa Independência Nacional. Por isso repetimos:

Samora Vive em cada um de nós, em cada espaço do nosso solo pátrio, na região e no mundo.

Muito obrigado pela vossa atenção.

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Samora Machel:

Combatente pela Paz na Região e promotor da

solidariedade entre os Povos15

Queremos saudar a presença amiga de todos e expressar a nossa grande satisfação em ver uma audiência rica na diversidade de re-presentatividade, política, diplomática, económica e social. Para este local também convergiram cidadãos de diferentes nacionali-dades, o que também nos agrada.

Este vasto leque de representatividade traduz a transversalidade da admiração, carinho, amizade e simpatia que o Presidente Sa-mora Machel granjeou, quer entre os seus camaradas, dirigentes e entre o nosso Povo, quer entre dirigentes e povos da região e do mundo. Para nós e para eles, o Presidente Samora Machel era um líder carismático, sempre perto do seu Povo, dirigente sempre preocupado com o bem-estar de todos, um Estadista internaciona-lista amante da paz e solidário com os povos da região e do mundo.

Dirigimos uma palavra de gratidão e apreço ao nosso irmão, o Pre-sidente Jacob Zuma e ao Governo da República da África do Sul pelo apoio que prestaram para a realização desta cerimónia, com dignidade e solenidade. Para aqui voltaremos, muitas vezes, para nos curvar e prestar a devida homenagem a este grande filho de Moçambique, de África e do Mundo.

*****

Dentro de dias, vamos assinalar os 25 anos desde o bárbaro as-sassinato, pelo regime do Apartheid, do nosso saudoso Presiden-

15Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique, na cerimónia que marca a passagem do 25º aniversário da tragédia de Mbuzini, no contexto das comemorações do “Ano Samora Machel”. Mbuzini, 17 de Outubro de 2011.

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te, Samora Moisés Machel, Primeiro Presidente da República de Moçambique, o Estadista que nos liderou nos primeiros passos da consolidação e defesa da nossa soberania e valorização da nossa Independência nacional.

Foi neste local onde, na noite do dia 19 de Outubro de 1986, se despenhou o avião em que ele e os membros da sua delegação se faziam transportar, vindos de Mbala, na Zâmbia, numa missão que lhe fora incumbida pela Linha da Frente, a missão de busca da Paz para Angola, martirizada pela destabilização interna e pela invasão do regime do Apartheid. A Cimeira de Mbala seguia-se à Cimeira da Linha da Frente, realizada em Maputo, onde fora prestado o rela-tório do encontro dos Presidentes Samora Machel, Kenneth Kaunda e Robert Mugabe com o Presidente Kamuzu Banda, em Blantyre, sobre a busca da paz para Moçambique.

O Presidente Samora Machel levantara voo na manhã desse fatídico dia 19 de Outubro e não mais voltou a pisar o nosso solo pátrio, com os 33 membros da sua delegação que também perderam a vida neste local. Ao derramar o seu sangue nestas terras de Mbuzini, na África do Sul, o Presidente Samora Machel tornou-se um mártir da Paz, da solidariedade regional e internacional e da causa da liber-dade dos povos da África Austral e do mundo.

Mbuzini tornou-se assim, num espaço do mundo e, por isso, todos os anos chegam aqui visitantes, vindos de diferentes partes do glo-bo. Para aqui convergem, irmanados pela admiração que têm pelo Presidente Samora Machel ou para retribuírem o gesto solidário que ele lhes estendeu e que mudou as suas vidas ou a vida dos seus países. Para aqui se deslocam para lhe prestar a merecida home-nagem.

Em reconhecimento dessa trajectória, tanto em vida como a título póstumo, o Presidente Samora Machel foi, diversas vezes, galar-doado, por Estadistas e organizações internacionais. Mesmo deste País, África do Sul, ele recebeu, em 1996, a título póstumo, a Or-dem da Boa Esperança. São distinções que nos orgulham e elevam a nossa auto-estima, como moçambicanos, como povos da África Austral.

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*****

Hoje, uma vez mais, vimos exaltar a vida e obra do combatente pela libertação do Povo Moçambicano e dos povos irmãos da África Austral, o amante da paz em Moçambique e no mundo. Por isso, o Presidente Samora Machel defendia que a independência de Mo-çambique, recentemente alcançada com muito sacrifício, só teria significado pleno depois de os outros povos da nossa região se te-rem liberto dos regimes minoritários e racistas que lhes negavam o gozo dos seus direitos e liberdades. Para além disso, ele estava convicto que Moçambique não poderia implementar, com sucesso, o seu projecto de Estado e de sociedade com regimes que eram hostis a essa agenda.

Com determinação, firmeza e bravura, o Presidente Samora Ma-chel liderou-nos no apoio aos povos oprimidos da África Austral:

acolhémos os nossos irmãos e irmãs da região;

providenciámos-lhes apoio multiforme para prosseguirem com a sua luta pela conquista da liberdade, dignidade e do respeito pleno dos seus direitos;

fizemos da sua causa, nossa causa, no contexto da Linha da Frente e das Nações Unidas.

Este espírito de solidariedade e de irmandade regional provocou a ira dos regimes minoritários do Apartheid e da Rodésia do Sul que insistiam em perpetuar o seu sistema, visavando a diferenciação das pessoas por raça, culturas, religiões e por outras formas de dividir para melhor dominar e reinar.

Por isso, pagámos caro pela nossa decisão pan-africanista:

nossos compatriotas foram raptados, mutilados ou assas-sinados;

nossas infra-estruturas sociais e económicas foram sabota-das ou destruídas; e, de um modo geral;

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o nosso tecido social e económico foi gravemente afectado.

Sentimo-nos muito orgulhosos por termos contribuído para a paz, segurança e desenvolvimento na África Austral. Sentimo-nos or-gulhosos por termos misturado o nosso sangue com o sangue dos filhos dos povos em luta na África Austral, reforçando assim a nossa irmandade e comunhão de destino, no contexto da Linha da Frente e da SADCC, com dois cês, organizações que inscrevem o nome do Presidente Samora Machel como um dos seus fundadores.

*****

O Presidente Samora Moisés Machel foi um grande líder! Um homem de visão ampla e de uma trajectória invulgar que fez dele uma referência singular, uma figura consensualmente admirada e res-peitada no nosso País e noutros quadrantes do mundo. Nos fóruns regionais e internacionais, o Presidente Samora Machel transpor-tava e articulava mensagens nobres: mensagens de paz, liberdade e dignidade para os povos e de coexistência pacífica entre Estados bem como de cooperação e desenvolvimento para todas as nações do mundo. Eram mensagens derivadas da sua experiência de Com-batente pela nossa liberdade, de Estadista e de figura internacio-nalista.

Por isso, recordar o Presidente Samora Machel é buscar a inspira-ção, a força e a dinâmica para a prossecução da longa caminhada pela consolidação da paz e da Unidade Nacional em Moçambique.

Recordar o Presidente Samora Machel é reafirmar a pertinência dos seus ideais de reforço e de diversificação da nossa cooperação bi-lateral e de complementaridade das nossas economias, no quadro da SADC e da sua agenda de integração regional.

Estes são ideais do Presidente Samora Machel que devemos trans-mitir às novas gerações nos nossos países e na região.

*****

Em Moçambique, 2011 foi declarado “Ano Samora Machel”, como forma de, colectivamente, celebrarmos a vida e obra deste grande

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herói na nossa Pátria de Heróis. Hoje estamos aqui, em Mbuzini, a exaltar essa sua trajectória com os nossos irmãos sul- africanos e de outras partes do mundo, porque queremos que a figura e os ideais do Presidente Samora Machel se perpetuem como referên-cia, como modelo e como exemplo para a nossa juventude. Por isso, para nós, o Presidente Samora Machel apenas desapareceu do nosso convívio físico, pois ele vive em cada um de nós através:

dos seus ideais e da sua visão;

da justeza das causas que defendeu;

do amor que conquistou do seu povo;

do seu exemplo de determinação e perseverança; e

da sua inabalável crença na força de um povo unido, para vencer os desafios em presença.

Memória inesquecível do Presidente Samora Machel hoye!

Amizade entre Moçambique e África do Sul hoye!

Cooperação e integração regional na SADC hoye!

Muito obrigado pela vossa atenção!

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Samora Machel:

Um diplomata que promoveu mudanças na Região e no Mundo16

É com muita honra e satisfação que damos as nossas mais calorosas boas vindas a todos os participantes neste simpósio, um evento internacional que se insere no âmbito das celebrações do Ano Sa-mora Machel. Aos Chefes de Estado e de Governo e outras perso-nalidades estrangeiras que acederam ao nosso convite, endereça-mos uma palavra de gratidão e reconhecimento pela sua presença amiga e pela oportunidade que nos dão de, através das suas co-municações, cristalizar a dimensão internacionalista do saudoso Presidente Samora Moisés Machel.

A todos os participantes neste simpósio vão os nossos votos de uma participação activa e profícua para que, no fim dos trabalhos, sin-tam que valeu a pena aqui terem estado e dado a vossa singela contribuição para o aprofundamento do nosso conhecimento co-lectivo sobre o Presidente Samora Machel, esta grande figura na-cional e internacional.

Esta é uma grande contribuição para a Historiografia Africana e Mundial. Ao dedicarmos o ano de 2011 ao Presidente Samora Ma-chel, quisemos estender um convite a uma reflexão sobre o sig-nificado da sua vida e obra, a todos os moçambicanos, e a todos aqueles que, não o sendo, conheceram-no, admiraram-no, ou que com ele privaram e sonharam futuros. Quisemos, deste modo, rea-firmar que o Presidente Samora Machel nunca se apartou de nós, que o sentimos presente no nosso quotidiano e que o eco da sua inconfundível voz ainda se propaga em toda a largura e extensão da nossa Pátria Amada, da região e do mundo.

16Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na abertura do simpósio “Samora Machel: a frente diplomática e os Estados

da Linha da Frente”. Maputo, 18 de Outubro de 2011.

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*****

O Presidente Samora Machel, cuja vida e obra estamos hoje a es-calpelizar, teve Moçambique apenas como seu berço natalício. A sua vida e obra catapultaram-no para cidadão da África Austral, da Mãe-África e do Mundo inteiro. Na verdade:

o seu carácter pan-africanista e internacionalista;

os valores que defendeu;

a causa nobre porque viveu, lutou e pereceu inserem-no na galeria das grandes figuras que marcaram o século pas-sado.

Trazemos para esta audiência alguns elementos que dão expressão e conteúdo à liderança político-diplomática do Presidente Samora Machel a favor dos povos da região e do mundo, bem assim o seu papel na promoção da solidariedade com os povos oprimidos de outros quadrantes do globo.

São acções que foram desenvolvidas no contexto dos princípios e valores que defendia e que guiavam a sua conduta no relaciona-mento com outros povos do mundo.

O Presidente Samora Machel, como Chefe do Departamento de De-fesa da FRELIMO, ainda no decurso da Luta de Libertação Nacional, desempenhou um papel de grande relevo no apoio, em material de guerra, ao MPLA. Sob sua liderança, garantimos que parte do nosso material de guerra, que deveria seguir para as nossas frentes, fos-se canalizado, através de Lusaka, para os nossos companheiros das FAPLA, que combatiam na Frente Leste, a região que faz fronteira com a Zâmbia.

Esta foi uma decisão estratégica que contribuiu para uma maior in-serção político-diplomático de Angola na África Austral, através do MPLA, e nos processos subsequentes que aqui foram desenvolvidos no âmbito da Linha da Frente e da SADCC, com dois cês.

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A descolonização de Angola foi sui generis. No dia 10 de Novembro de 1975, Portugal declarou transferir a sua soberania sobre Angola não para um movimento de libertação específico, mas para o Povo Angolano.

Nessa altura, o Presidente Samora Machel era Presidente da Confe-rência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, a precursora da CPLP. Pouco antes desta declaração das autoridades portuguesas, ele convocara para Maputo uma Cimeira desta orga-nização para analisar a situação em Angola. A decisão tomada foi de o Presidente Agostinho Neto proclamar a independência nacio-nal, algo que também os outros movimentos fizeram. O Presiden-te Samora Machel organizou, no Palácio da Ponta Vermelha, uma escuta colectiva da transmissão, em directo, dessa cerimónia. Ele estava na companhia do Presidente Aristides Pereira e de membros da direcção da FRELIMO e do Governo de Moçambique.

Na sequência deste evento histórico, o Presidente Samora Machel mandou estabelecer uma ponte aérea de Maputo para Luanda para transporte da nossa oferta de material de guerra, para apoiar o novo Governo de Angola, sob a direcção do MPLA a suster a agres-são de que era vítima. Por outro lado, com os seus pares, desen-volveu um amplo trabalho na frente político-diplomática para as-segurar o reconhecimento, pela Organização da Unidade Africana, da Independência Nacional de Angola, proclamada pelo Presidente Agostinho Neto. Não foi fácil, mas graças a essas intensas movi-mentações a FNLA e a UNITA foram perdendo terreno e Angola, sob a direcção do Presidente Agostinho Neto, acedeu a Membro de pleno direito desta organização continental.

Foi também sob a direcção do Presidente Samora Machel que lan-çámos um vasto movimento de recolha de contribuições em apoio a Angola, País irmão agredido pelo regime do Apartheid e desesta-bilizado militarmente pela UNITA e pela FNLA.

Foi neste contexto que nasceu o Banco de Solidariedade para apoio mais sistemático ao Povo Angolano e a outros povos oprimidos do mundo.

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Como é do domínio público, o Presidente Samora Machel perdeu a vida quando regressava de Mbala, na Zâmbia, onde participara numa Cimeira que reunira os Chefes de Estado da Zâmbia, de An-gola e do Zaire. Trata-se de um evento que tinha em vista levar o Presidente Mobutu Sese Seko e o líder da UNITA, Jonas Savimbi, a adoptarem uma postura mais positiva para a restauração da Paz na República de Angola.

O Presidente Samora Machel viria também a assumir um papel no-tável na luta de libertação do Zimbabwe. Embora a FRELIMO inte-grasse os movimentos de libertação chamados de “autênticos”, ao lado do ANC, MPLA, PAIGC, SWAPO e ZAPU, com o Presidente Samo-ra Machel empenhámo-nos em garantir uma estreita cooperação também com a ZANU, que não pertencia a este “clube”.

O critério de divisão dos movimentos em “autênticos” e “não au-tênticos” baseava-se na avaliação que os seus potenciais apoiantes faziam sobre o apoio popular desse movimento, sua representativi-dade e ideologia política que seguia e, por isso, reflectia o conflito sino-soviético que a FRELIMO sempre transcendeu para desenvol-ver uma cooperação profícua com ambas potências. Foi nas nossas zonas libertadas, em Tete, onde recebemos e treinámos os guer-rilheiros da ZANU que, mais tarde, iniciaram as operações dentro do Zimbabwe.

O Presidente Samora Machel viria a estender a mão solidária do Povo Moçambicano para a recepção e acolhimento de zimbabwea-nos fugidos da repressão do regime ilegal e racista de Ian Smith. Muitos foram os campos de refugiados criados em diferentes pro-víncias do nosso País para acolher esses nossos irmãos.

Aplicámos as sanções decretadas pelas Nações Unidas o que impli-cou o encerramento dos nossos complexos ferro-portuários de Ma-puto e da Beira e a consequente perda de postos de trabalho para muitos moçambicanos e de receitas para o nosso Estado. Estamos também conscientes do facto de que foi em resultado desse apoio ao Povo do Zimbabwe que o regime de Ian Smith nos moveu uma guerra aberta de desestabilização e de desgaste. Foram massacra-dos cidadãos moçambicanos em Tete, Chimoio, Nyazónia, Mapai,

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Chokwe, entre outros locais e destruídas muitas infra-estruturas sociais e económicas. Por isso, para restaurar a paz em Moçambi-que, e não para derrubar o regime de Ian Smith, enviámos moçam-bicanos para combater ao lado das ZANLA.

Ao assumir o poder como Primeira-Ministra da Grã-Bretanha, em Maio de 1979, Margareth Thatcher sabia que a descolonização total e completa do Zimbabwe passava por interagir com o Presidente Samora Machel. Na verdade, o Presidente Samora Machel foi de-cisivo no alcance do Acordo de Lancaster House, de Dezembro de 1979.

Aos movimentos de libertação da África do Sul concedemos apoio multiforme na luta pela libertação do seu país do regime do Apar-theid. Aqui acolhémos os nossos irmãos sul-africanos e apoiámos as suas missões militares rumo à libertação do seu País.

Em retaliação ao apoio multiforme que dávamos a esses nossos irmãos sul-africanos fomos vítimas de muitos ataques:

chantagem, na forma de redução da mão-de-obra moçambi-cana para as minas sul-africanas;

sabotagem económica como, por exemplo, a decisão unila-teral sul-africana de não transferir os pagamentos em ouro ao trabalho dos mineiros moçambicanos;

a destruição de infra-estruturas que estavam também ao serviço do projecto de integração regional; e

muitos cidadãos moçambicanos assassinados.

O próprio Presidente Samora Machel viria a ser um dos mártires da libertação da África do Sul, vítima do regime do Apartheid.

Ainda no contexto da paz e segurança na região, o Presidente Sa-mora Machel empreendeu missões político-diplomáticas de grande relevo. Quando o Presidente Idi Amin, do Uganda, invadiu e ten-tou anexar a região tanzaniana de Kaguera, o Presidente Samora Machel, em resposta ao apelo do Presidente Julius Nyerere, da Tanzania, enviou quadros militares que, lado a lado, com as Forças Armadas Tanzanianas, afastaram a ameaça que essa invasão re-presentava para a paz, segurança e desenvolvimento da República

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Unida da Tanzania. No nosso quartel de Montepuez, em Cabo Del-gado, treinámos jovens ugandeses que se encarregariam, mais tar-de, de consolidar a estabilidade do Uganda para este país melhor contribuir para a paz, estabilidade, segurança e desenvolvimento na região dos Grande Lagos.

O Presidente Samora Machel desenvolveu uma acção político-di-plomática a favor do Povo Saharawi e da sua luta pela independên-cia nacional.

O fim da dominação espanhola do Sahara Ocidental, em 1975, le-vou à imediata invasão deste país por Marrocos e pela Mauritânia. O Presidente Samora Machel condenou este fenómeno como uma nova colonização e apelou ao seu fim. A Mauritânia acabaria por se retirar em 1979. Todavia, Marrocos não só se manteve e ocupou nominalmente o que a Mauritânia abandonara, como também se retirou da Organização da Unidade Africana quando o Presidente Samora Machel e outros líderes africanos votaram a favor da ad-missão da República Árabe Democrática Saharawi, como membro de pleno direito.

A 28 de Novembro de 1975, Timor Leste proclama a sua indepen-dência nacional de Portugal. Todavia, em Dezembro do mesmo ano, a Indonésia invade e anexa o País como a sua vigésima sétima província.

Ao êxodo de timorenses fugidos da repressão, o Presidente Samora Machel estende a sua mão solidária. Muitos timorenses aqui vive-ram, estudaram, trabalharam e fizeram de Moçambique a outra sua Pátria.

Fugidos da repressão fascista e ditatorial, chilenos encontraram neste Moçambique do Presidente Samora Machel uma terra amiga e o ambiente para fazerem muitos amigos e contribuírem para a sua reconstrução. O mesmo se pode dizer de palestinos cujos ter-ritórios continuam hoje ocupados por Israel.

*****

Com esta folha de serviço político-diplomático e de solidariedade com os povos do mundo, não nos surpreende, que ao nosso choro colectivo pelo bárbaro assassinato do Presidente Samora Moisés

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Machel, pelo regime do Apartheid, se tenha juntado o soluço de dor e pesar da nossa Mãe-África e do mundo inteiro que, com le-gitimidade, também reivindicam Samora Machel como seu Herói.

Ao Presidente Samora Machel povos do mundo inteiro estão irma-nados pela comunhão do ideal de liberdade, de independência, de respeito pela vida e dignidade humanas e pelo espírito de solida-riedade que esta comunhão engendra.

É, para nós, moçambicanos, muito agradável saber que alguns dos cidadãos estrangeiros que beneficiaram da acção político-diplomá-tica do Presidente Samora Machel e da sua mão solidária são hoje dirigentes dos seus países ou dão uma valiosa contribuição para o seu desenvolvimento em diferentes domínios ou servem organiza-ções regionais e internacionais empenhadas na criação do bem-es-tar de toda a Humanidade.

O Presidente Samora Machel deu um valioso contributo não só para a realização dos objectivos dos Estados da Linha da Frente como também para o lançamento das bases para o nascimento da sua sucessora, a Conferência de Coordenação do Desenvolvimento da África Austral, a SADCC com dois cês.

Por causa de toda esta sua entrega, ao longo de toda a sua vida, em prol de Moçambique e do seu Povo, da região e do mundo, rea-firmamos o nosso empenho em ver desvendadas as circunstâncias que determinaram a morte do Presidente Samora Moisés Machel. Para este fim, a colaboração e apoio de todos é fundamental. Rei-teramos que não descansaremos enquanto a justiça não tiver sido feita.

Com estas palavras e aguardando ansiosamente pelas comunica-ções que vão preencher o nosso dia de hoje, oferecendo-nos vários ângulos de leitura e de análise do legado do Presidente Samora Machel, temos a honra de declarar aberto o simpósio intitulado “Samora Machel: a frente diplomática e os Estados da Linha da Frente”.

Muito obrigado pela vossa atenção.

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Samora Machel:

As circunstâncias da morte do líder que ainda vive17

No dia 19 de Outubro de 1986, a Nação Moçambicana e o Mundo foram colhidos de surpresa, pela notícia do desaparecimento físico do Presidente Samora Machel e dos membros da sua delegação, nas colinas de Mbuzini, do lado sul-africano. Esta triste notícia concre-tizava as ameaças directas ao nosso Chefe de Estado, feitas publi-camente e de forma reiterada, por membros séniores do Governo do Apartheid da África do Sul.

O Presidente Samora Machel regressava de Mbala, na Zâmbia, onde participara numa Cimeira que reunira outros Chefes de Estado da Linha da Frente, nomeadamente da Zâmbia e de Angola com o Chefe do Estado do Zaire. Estes três Chefes de Estado da Linha da Frente tinham sido mandatados pelos seus pares, no fim da Cimei-ra desta organização realizada a 12 de Outubro, aqui em Maputo, para falarem com o Presidente do Zaire. A Cimeira de Maputo con-denara, com veemência, o regime do Apartheid e os seus aliados, pela agressão e destabilização da nossa Pátria Amada.

Especificamente, a sua missão era tratar da questão da Paz em An-gola, com o Presidente do Zaire, pessoalmente, porque a Maputo, ele enviara o seu Primeiro-Ministro. Na altura, o Zaire dava apoio directo à UNITA que, em aliança com o regime do Apartheid, estava a ceifar vidas humanas em Angola e a destruir aquele País, nosso irmão. Já no dia 11 de Setembro, o Presidente Samora Machel e os seus pares da Zâmbia e do Zimbabwe tinham-se reunido, em Blan-tyre, com o Presidente Kamuzu Banda, do Malawi, para tratar das questões da paz em Moçambique e na região.

17Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na inauguração da estátua do Primeiro Presidente de Moçambique, livre e

independente. Maputo, 19 de Outubro de 2011.

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O avião que transportava o Presidente Samora Machel foi desviado da sua rota, tendo ido embater, de forma violenta, nas colinas de Mbuzini, às 21 horas, 21 minutos e 39 segundos, do dia 19 de Outu-bro, despedaçando-se de seguida. O Apartheid assassinava, assim, e de forma bárbara, o nosso Presidente cuja aterragem em Maputo estava prevista para as 21:30.

Reiteramos, caros compatriotas, que sejam conhecidas as circuns-tâncias da sua morte e que a justiça seja feita.

Com apenas 53 anos de idade, desaparecia do nosso convívio físico quotidiano:

o nacionalista recto;

o destemido comandante da guerrilha;

o proclamador da nossa independência;

o dirigente do nosso Moçambique, livre e independente;

o internacionalista solidário com os povos oprimidos de África e do Mundo.

Porém, o Presidente Samora Machel não derramou o seu sangue em vão porque os ideais porque lutou estão a tornar-se realidade:

a Paz em Moçambique completou 19 anos a semana passa-da;

a região está livre do Apartheid e das forças de desestabi-lização;

Países como Uganda e Timor-Leste estão hoje em paz con-sigo próprios e com os seus vizinhos;

argentinos, Brasileiros e Chilenos que ele apoiou e em Mo-çambique se exilaram, durante uma fase difícil da sua his-tória, desfrutam das liberdades que o Estado de Direito lhes confere nos seus países.

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Devemos hoje, em honra desse seu ideal reafirmar o nosso apoio à luta justa do Povo Saharawi, pela sua auto-determinação e inde-pendência, e ao povo palestino, pela consagração do seu direito inalienável a um Estado soberano, membro das Nações Unidas.

A 19 de Outubro de 2006, na cerimónia de lançamento da primei-ra pedra para a construção do monumento que acabámos de des-cerrar, destacámos a escolha deste local para cristalizar o vínculo entre esta Praça da Independência e o Presidente Samora Machel, bem assim com alguns dos momentos mais marcantes de Moçambi-que e da região por ele protagonizados. Com efeito, esta Praça foi palco de grandes realizações políticas, intrinsecamente ligadas ao percurso da liderança do Fundador do Estado Moçambicano e que sublinhavam o seu carácter internacionalista:

aqui o Presidente Samora Machel proferiu o seu discurso de tomada de posse, como Primeiro Chefe de Estado do nosso Moçambique, livre e independente;

aqui dirigiu concorridos comícios populares para anunciar importantes decisões, com grandes implicações políticas, económicas e sociais para a vida do nosso maravilhoso Povo;

aqui o Presidente Samora Machel anunciou importantes me-didas de apoio aos povos oprimidos da África Austral;

neste local ele acolheu estadistas e outras importantes per-sonalidades da vida política regional internacional;

foi aqui, onde o Povo Moçambicano, do Rovuma ao Mapu-to e do Índico ao Zumbo, disse o seu derradeiro ADEUS ao seu carismático Presidente, nobre filho de Moçambique e de África e cidadão de todo o mundo, reafirmando que, à terra só entregava o seu corpo porque o Presidente Samora Ma-chel, a sua vida e obra, os seus ideais, manter-se-iam vivos entre nós.

Por isso hoje dizemos, SAMORA VIVE!

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*****

Falar do Presidente Samora Machel:

é render homenagem à clarividência, coragem e determinação de um nacionalista e líder da guerrilha;

é dar o devido destaque à sua visão, perspicácia e proactividade.

é sublinhar a frontalidade e verticalidade de um Estadista perante os inimigos do maravilhoso Povo Moçambicano;

é destacar a encarnação da integridade e firmeza de carácter, reunidos numa só figura.

O Presidente Samora Machel encarnou os mais sublimes sonhos do nosso povo heróico e, de corpo e alma, entregou-se, ele próprio, como mecanismo para a sua realização. Ele era um homem do Povo e fiel intérprete das suas aspirações.

Chilembene, no Distrito do Chókwé, Província de Gaza, é a terra que o viu nascer, terra que também foi berço de muitos outros mo-çambicanos que, como ele, tiveram uma vida igual, própria daque-la comunidade rural. Todavia, foi justamente neste meio, entre iguais, onde NELE se forjou algo de extraordinário: ele destacou-se entre os seus pares para sobressair como diferente entre iguais.

O sonho de liberdade e independência, com o tamanho da nossa Pátria Amada, dele se apoderou e ele assumiu a sua realização como uma missão patriótica, como uma responsabilidade Históri-ca. Palmilhou planícies e vales, galgou montanhas, consentiu sacri-fícios, correu riscos mas persistiu porque a busca dessa liberdade e independência para o seu Povo, para a sua Pátria Amada ocupada eram imperativos insubstituíveis.

Dentro do nosso movimento de libertação, o Presidente Samora Machel voltaria a revelar grandes qualidades de liderança. Com tenacidade, determinação e bravura destacou-se:

como um estratega militar de primeira água;

um líder político de grande craveira; e

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um diplomata de tacto inquestionável.

Ele liderou-nos até à vitória final sobre a dominação estrangeira e a ele coube a histórica missão de proclamar a nossa irrepetível independência nacional, naquele 25 de Junho de 1975.

excelente pedagogo;

carismático comunicador; e

exímio leitor das dinâmicas políticas e sociais, o Presidente Samora Machel tinha uma maneira muito peculiar de intera-gir com o seu povo, de mobilizá-lo para a acção e de levá-lo a vencer obstáculos. Arrastador e magneto de multidões, distinguia-se pela forma simples, clara mas profunda e inci-siva como se dirigia ao seu Povo para lhe incutir a auto-es-tima, o patriotismo, a cultura de trabalho e a solidariedade com outros povos do mundo. Ele interagia, horas a fio, com o seu Povo e de forma directa interpelava-o com a sua céle-bre e recorrente expressão discursiva “É OU NÃO É?”.

O Presidente Samora Machel liderou-nos na defesa, valorização e consolidação da nossa independência nacional, duramente con-quistada.

Sob sua direcção, concebemos e materializámos políticas públicas para que o sonho de 25 de Junho de 1962 ganhasse expressão e realização. Por isso, em cada canto da nossa Pátria Amada, em cada passo que damos, e em cada sector de actividade, lemos mais um capítulo dessa sua obra.

a nossa luta pelo bem-estar;

a nossa maneira de estar como um Povo muito especial;

o nosso profundo sentido de auto-estima, de Unidade Nacio-nal e de compromisso com a Paz; bem como

a nossa firme convicção de que nesta Pátria de Heróis, nós, os moçambicanos, seremos os heróis da nossa própria liber-tação da pobreza, têm o timbre do Presidente Samora Ma-

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chel. Como líder do nosso processo de libertação e como Chefe do nosso Estado, ele aprofundou o nosso sentido de solidariedade para com os povos do mundo. O Presidente Samora Machel destaca-se, assim, pela sua omnipresença.

*****

Notamos, com agrado, que os eventos que estão a ser organizados para celebrar a vida e obra do Presidente Samora Machel desta-cam-se pela diversidade de actividades e pela grande aderência que registam. Isto é possível porque da Nação Moçambicana e do Mundo, o Presidente Samora Machel granjeou respeito e admiração e fez muitos amigos. A presença, entre nós, de Chefes de Estados e de Governo e outras personalidades sublinha este facto.

Esses eventos apresentam-se oportunos e necessários pois, per-mitem-nos buscar na nossa História, o seu exemplo de heroísmo e dedicação ao seu Povo e aos povos de outros quadrantes do mundo, ensinamentos e inspiração indispensáveis para continuarmos nesta caminhada rumo à libertação do Homem Moçambicano do flagelo da pobreza, a etapa que complementa a libertação, total e com-pleta, da terra, que alcançámos a 25 de Junho de 1975.

*****Um homem com a estatura do Presidente Samora Moisés Machel não termina em si mesmo: ele começa em sí mesmo e mistura-se com os ideais do seu Povo. Torna-se imortal! Por isso, SAMORA VIVE!

memória inesquecível do Presidente Samora Machel hoye!

Povo Moçambicano unido do Rovuma ao Maputo Hoye!

Unidade Nacional Hoye!

Muito obrigado pela vossa atenção.

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Presidente Samora Machel:

Seu papel na construção de um Moçambique

sempre melhor18

Descerrámos há pouco a estátua do nobre filho da nossa Pátria Amada, o saudoso Presidente Samora Moisés Machel, o proclama-dor da nossa Independência Nacional e Primeiro Presidente do nos-so Moçambique livre e independente.

Este acto, carregado de emoção, História e patriotismo, confere o merecido destaque à vida e obra:

do clarividente dirigente do nosso movimento de liberta-ção;

do líder do povo que para o povo e com o povo viveu e por ele lutou e morreu;

do dirigente que idealizou e realizou muitos projectos indu-tores do desenvolvimento de Moçambique;

do Estadista combatente pelas causas nobres dos povos da África Austral e do Mundo.

Se a administração colonial vaticinava que assassinando o Arqui-tecto da Unidade Nacional, o Doutor Eduardo Chivambo Mondlane, assassinaria o nosso sonho colectivo de liberdade e independência, o Presidente Samora Moisés Machel veio reafirmar que, sob a sua liderança, a nossa causa triunfaria.

Na verdade, no contacto com o nosso Povo em armas, ele demons-trou com a sua coragem, firmeza e clarividência que poderíamos e estávamos a vencer a sofisticada máquina de dominação e opres-são. 18Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, por ocasião da inauguração da estátua do Presidente Samora Machel, na

Cidade de Chimoio. Chimoio, 25 de Abril de 2012.

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Homenagear o Presidente Samora Moisés Machel é recordar um eminente filho de Moçambique, um jovem igual aos demais da sua época e que nessa condição podia ter seguido o trilho aberto pe-los seus antepassados que outros da sua geração palmilharam, por exemplo:

ser pastor de gado;

trabalhar nas minas ou plantações na África do Sul; ou

conformar-se com a carreira de enfermeiro.

Porém, movido pelo espírito nacionalista, o Presidente Samora Ma-chel recusou-se que fossem terceiros a escrever a sua biografia, traçando ele mesmo o seu próprio destino, ao entregar-se à rea-lização do ideal maior de liberdade e independência deste Povo muito especial, o maravilhoso Povo Moçambicano. Ele e os outros que se juntaram à causa da nossa libertação, tinham aprendido do chão da nossa terra que o Povo Moçambicano não podia viver eternamente sob o jugo colonial, que não podia viver eternamente ajoelhando-se ao colonizador estrangeiro para receber ordens.

Sabia que a acção de libertar a terra e os Homens devia ser obra dos moçambicanos, pois eram eles que sentiam na pele e na alma os efeitos dessa opressão e dominação, através, por exemplo:

da humilhação;

do trabalho forçado;

da prisão; e

do assassinato.

O Presidente Samora Moisés Machel colocou-se sempre na linha da frente da mobilização de mais moçambicanos para se juntarem à causa da libertação e independência desta Pátria de Heróis. Servir este Povo maravilhoso era uma grande virtude sua e, por isso, com o povo sempre esteve até ao dia 19 de Outubro de 1986, data em que foi bárbara e cobardemente assassinado pelo regime do Apar-theid.

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*****

A contribuição da população de Manica na libertação da nossa Pá-tria Amada foi objecto de saudação e de elogios do saudoso Presi-dente Samora Moisés Machel durante a sua passagem por esta Pro-víncia, a 12 de Junho de 1975, no contexto da sua Viagem Triunfal: do Rovuma ao Maputo.

Aos mais novos podemos recordar a recepção e o apoio logístico que a população desta Província forneceu aos guerrilheiros que abriram a Frente de Manica e Sofala, a 25 de Julho de 1972, com os primeiros ataques ao inimigo ocupante em Mandie, Macossa, Mungári e Catandica.

O Presidente Samora Machel voltaria mais vezes, ao longo da sua Governação, a esta Província para impulsionar o seu desenvolvi-mento e para falar da importância da Unidade Nacional, da Paz e do trabalho de todos e de cada um de nós no seu desenvolvimento e na criação da prosperidade em toda a Nação Moçambicana.

Por exemplo, na sua visita à cooperativa de Chinhamacungo, no Distrito de Manica, e a outros projectos de produção agrária, nesta Província, o Presidente Samora Machel deu grande destaque à ne-cessidade de nos mantermos empenhados no combate à fome, uma das mais cruéis manifestações da pobreza.

O Presidente Samora Machel sonhou e colocou em marcha o Com-plexo Industrial IFLOMA, Indústrias Florestais de Manica, em Mes-sica. Trata-se de um projecto de uso intensivo de mão-de-obra, portanto, com potencial para gerar muitos postos de trabalho e assim contribuir para a resolução de um outro problema marcante do subdesenvolvimento a que fomos votados pelos 500 anos de do-minação estrangeira.

O Presidente Samora Machel visitou este complexo a 6 de Setem-bro de 1985 e congratulou-se com o facto de o seu funcionamen-to estar a ser assegurado por operários e técnicos moçambicanos, formados no País e no estrangeiro e apoiados por especialistas de outros países, na altura designados de cooperantes. Para ele, a formação de quadros moçambicanos era vital para se garantir a exploração sustentável dos vastos recursos naturais de que Manica e todo o nosso Moçambique são dotados.

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Sempre atento à necessidade de impulsionar o desenvolvimento desta província, o Presidente Samora Machel para aqui voltaria, para mais uma visita entre os dias 17 e 24 de Dezembro de 1985.

Foi no contexto dessa visita que interagiu com técnicos e operários moçambicanos em diferentes empreendimentos sociais e econó-micos. Como sublinharia nesses encontros, os grandes projectos de exploração florestal, agrícola e mineira complementavam os pequenos e médios projectos que floresciam nesta Província, no-meadamente:

o fabrico de charruas, enxadas e catanas;

a criação de animais de pequeno porte; e

a construção de represas e barragens.

*****

Manica respondeu de forma firme e resoluta ao apelo do Presidente Samora Machel para que prestássemos todo o nosso apoio e solida-riedade ao Povo do Zimbabwe.

O Presidente Robert Mugabe teve os seus primeiros dias de liberda-de, em 1975, aqui em Manica, depois de ter conseguido sair do seu País, onde cumprira 10 anos de prisão nas cadeias do regime ilegal e racista de Ian Smith.

Nesta Província, foram também acolhidos outros zimbabweanos, depois de escaparem do controle da máquina de repressão do regi-me rodesiano. Aqui se organizaram e com o apoio das nossas Forças de Defesa e Segurança e do nosso Povo intensificaram as operações políticas, diplomáticas e militares para a libertação do seu País. Manica e Moçambique pagaram caro por esta solidariedade para com o Povo do Zimbabwe.

Nesta Província podemos citar os massacres de Nyazónia e de Chi-moio e as muitas infra-estruturas destruídas como pontes, material rolante e unidades de produção. Aqui e noutros cantos do nosso Moçambique:

nossos compatriotas foram mutilados e assassinados;

outros tantos transformam-se em deslocados internos ou em refugiados em países vizinhos; e

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nossas infra-estruturas diversas foram destruídas.

Falando no comício que orientou na Vila de Manica, no dia 19 de Dezembro de 1985, o Presidente Samora saudou a coragem, deter-minação e bravura da população desta província pela forma como se entregou à causa da libertação do Povo do Zimbabwe. Ele re-cordou como essa agressão rodesiana agravara as nossas condições de vida mas que mesmo assim persistíramos porque a paz no Zim-babwe era fundamental para o desenvolvimento de Moçambique.

Hoje, o regime ilegal e racista de Ian Smith passou à História, em parte, graças à solidariedade da população de Manica. Reiteramos os nossos agradecimentos pela vossa persistência e sentido de mis-são. Que cada um de vós sinta orgulho nesta valiosa contribuição.

Afastado o espectro da agressão rodesiana e com a paz em Moçam-bique, continuamos a desenvolver esta Pérola do Índico, dando curso ao desejo do Presidente Samora Machel de ver Manica a de-senvolver-se.

São muitos os projectos em curso nesta Província, dos quais des-tacamos:

o alargamento do ensino superior para esta Província;

as obras para a implantação das escolas técnicas de Chigo-dole e de Machaze;

a reabilitação em curso da estrada Chimoio/Sussundega/

Espungabera;

a reabilitação do sistema de abastecimento de água de Chicamba;

a entrada em funcionamento das pontes sobre os rios Mu-sapa, Lucite e Nhancuarara;

a revitalização do projecto florestal IFLOMA;

a criação de unidades de produção, processamento e co-mercialização do milho, hortícolas, algodão e jatropha e o aumento da produtividade agrária; e

a electrificação de sete dos dez distritos da Província.

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*****

Que a partir desta estátua cada um de nós se sinta mais encoraja-do e desafiado a divulgar a exemplar vida e obra deste destemido combatente pela libertação do Povo Moçambicano e de outros po-vos da região e do mundo. Queremos que as suas palavras conti-nuem a reverberar no quotidiano de todos e de cada um de nós, com a actualidade de terem sido hoje proferidas.

Que as mensagens de Unidade Nacional, de Paz e de trabalho que o Presidente Samora Machel foi transmitindo à população de Ma-nica continuem a iluminar-nos e a orientar-nos nesta nossa missão histórica de luta contra a pobreza. Continuemos todos a dar forma e expressão ao Moçambique com que o Presidente Samora Machel sonhou e pelo qual lutou até à morte.

Trata-se de um sonho que se realiza através de acções concretas e, sobretudo, com muita coragem, determinação e perseverança. Foi desse modo que conquistámos a nossa Independência. Foi desse modo que resgatámos a Paz.

É desse modo que estamos e vamos vencer a pobreza nesta Pátria de Heróis.

Memória inesquecível do Presidente Samora

Machel hoye!

Povo Moçambicano unido do Rovuma ao

Maputo hoye!

Unidade Nacional hoye!

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Presidente Samora Machel:

A celebração de uma vida e obra que não cabe

num ano civil19

Dedicamos o ano de 2011 à exaltação da vida e obra do saudoso Presidente Samora Moisés Machel. Do Rovuma ao Maputo e do Índi-co ao Zumbo, bem como no estrangeiro, foram organizados diver-sos eventos que deram expressão e substância a uma variada gama de actividades em homenagem a esta emblemática figura do nosso processo de libertação e de afirmação como um Estado.

Nesta missão patriótica, a Província do Niassa deu uma valiosa con-tribuição para o avolumar do caudal de actividades de celebração dos feitos deste Herói Nacional, este insigne Herói desta Pátria de Heróis.

Tivemos a oportunidade de testemunhar este envolvimento e ac-tiva participação do Niassa no Ano Samora Machel, no contexto da Presidência Aberta e Inclusiva, quer através dos informes que nos foram prestados, quer através das intervenções do nosso maravi-lhoso Povo nos comícios populares.

O monumento que hoje inauguramos complementa esta diversida-de de iniciativas que Niassa concebeu, organizou e implementou para que, em uníssono com o resto da Nação Moçambicana, a re-gião e o mundo, gritasse em voz alta e firme que “Samora Vive”. Exactamente porque “Samora Vive” a exaltação da sua vida e obra não se pode confinar ao Ano Samora Machel. Vai muito para além deste calendário!

Na verdade, para nós, celebrar a vida e obra do saudoso Presidente Samora Machel é sinónimo de valorização contínua e permanente

19Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique, na inauguração do Monumento do Presidente Samora Machel. Lichinga, 27 de Junho de 2012.

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da heroicidade do nosso Povo, um Povo cujos valores, ideais e visão ele encarnou e entregou-se para a sua realização.

este Povo que decidiu que não tinha outra alternativa que não fosse pegar em armas para se libertar do jugo colonial.

este Povo que sabe que só pegando na enxada e no livro pode hoje produzir a riqueza e assim se libertar da pobreza.

este Povo que sabe que deve cultivar-se intelectual e espi-ritualmente, sempre e sempre, para aumentar o seu con-tributo também para o progresso do resto da Humanidade.

O saudoso Presidente Samora Machel preenchia todas estas facetas que caracterizam o nosso Povo muito especial:

era um destemido nacionalista;

um clarividente comandante de guerrilha;

um patriota de convicções inabaláveis;

um Estadista de grande craveira.

Sobretudo, o Presidente Samora Machel era o homem do Povo, o dirigente que acarinhava os sonhos dos moçambicanos e os reflec-tia na sua acção política e diplomática. O Presidente Samora Ma-chel ensinou-nos a amar muito mais Moçambique do que amávamos e a projectar esta Pátria de Heróis para além das nossas fronteiras, sem subserviências, mas com grande sentido de Estado e de solida-riedade com outros povos do Mundo.

O Presidente Samora Machel era um homem imerso na cultura do seu Povo, tendo-a definido como o sol que nunca desce.

Ele soube espelhar com galhardia o vigor e o entusiasmo da nossa cultura, promovendo a sua divulgação pelo nosso belo Moçambique e por diversos quadrantes do Mundo.

É esta vida e obra, é este legado glorioso do Presidente Samora Machel que queremos preservar através desta estátua que inaugu-rámos há pouco. Que cada um dos que a contemplem sinta o orgu-

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lho de ser moçambicano que caracterizava o proclamador da nossa Independência Nacional. Que cada um que contemple esta estátua se sinta mais motivado para apreender e apropriar-se do legado deste nosso herói e assuma a responsabilidade de a transmitir às gerações presentes e futuras da nossa Pátria Amada.

*****

A cerimónia que hoje temos a honra de presidir, permite-nos re-cordar algumas das mais emblemáticas e indeléveis marcas do Presidente Samora Machel nesta Província. Na sua qualidade de dirigente político-militar do nosso movimento de libertação, o Pre-sidente Samora Machel dirigiu as operações político-militares que culminaram, em Outubro de 1965, com a abertura da Frente do Niassa Oriental em M’sawize – no actual Distrito de Mavago.

Nessa altura a Frente de Libertação de Moçambique dividia esta Província em Niassa Ocidental, que compreendia os actuais distri-tos de Lichinga, Lago e Sanga; o Niassa Oriental, que compreendia os actuais distritos de Mavago, Mecula, Majune, Marrupa, Nipepe e Metarica. Finalmente, Niassa Austral, que compreendia os distritos de Cuamba, Ngaúma, Mandimba e Mecanhelas.

Este acto guerrilheiro de grande bravura marcou uma etapa funda-mental na gesta libertadora do nosso Povo e, com isso, o nome do Presidente Samora Machel ficou indelevelmente gravado no chão desta Província a partir dessa altura.

Recordamo-nos, ainda, que já na sua qualidade de Presidente da República, Samora Machel deixou um vasto legado de obras, pro-jectos e sonhos dirigidos a esta Província. São projectos e progra-mas que, no seu conjunto, reflectem a grande expectativa que ele alimentava em relação ao Niassa como uma base fundamental para o desenvolvimento do nosso belo Moçambique.

foi o Presidente Samora Machel que sonhou transformar o Niassa numa Universidade da Humanidade;

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foi o Presidente Samora Machel que sonhou em erguer em Unango uma cidade modelo, para o orgulho dos moçam-bicanos e para o benefício de todos aqueles cidadãos do mundo que interagem com o nosso País;

através do projecto dos 400.000 hectares que, nesta Pro-víncia, abarcava Lichinga, Unango e Mandimba, o Presi-dente Samora Machel idealizou um projecto produtivo que deveria colocar a população desta bela Província e de toda a nossa Pátria Amada, numa posição vantajosa na luta con-tra a pobreza e o sub-desenvolvimento e na criação das bases materiais para o progresso desta Pérola do Indico.

Queremos, finalmente, convidar os nossos compatriotas mais jo-vens, por ocasião da inauguração desta majestosa estátua, a estu-darem e a aprofundarem o seu conhecimento sobre a nossa história e a se inspirarem nos actos sublimes dos nossos heróis para darem sentido à nossa independência e a conferirem vitalidade ao lema “libertar a terra e os homens”. Que o exemplo da vida e obra do Presidente Samora Machel inspire as gerações presentes e vindou-ras na luta pelo progresso de Moçambique, pela paz, pela unidade nacional e pela consolidação da democracia do Rovuma ao Maputo, do Indico ao Zumbo, em todo o nosso solo pátrio.

Memória inesquecível do Presidente Samora

Moisés Machel Hoye!

Povo Moçambicano unido do Rovuma ao Maputo Hoye!

Unidade Nacional Hoye!

Muito obrigado pela vossa atenção!

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Presidente Samora Machel:

Nossa fonte de inspiração na construção do nosso

futuro melhor20

A Província de Cabo Delgado e o Município de Pemba brindam-nos hoje com mais uma oportunidade para exaltarmos a vida e obra do Presidente Samora Moisés Machel, uma vida e obra que são nossas fontes de inspiração na construção do nosso futuro melhor. Por isso, com muita alegria e emoção dirigimo-nos aos presentes e, através de todos vós, à Nação Moçambicana e ao mundo, por oca-sião desta cerimónia solene de inauguração desta estátua em mais um gesto de merecida homenagem:

ao comandante da nossa guerrilha;

ao dirigente do nosso movimento de libertação;

ao proclamador da nossa irrepetível Independência; e

ao primeiro Presidente do nosso Moçambique livre e inde-pendente.

*****

Durante a Luta de Libertação Nacional, o Presidente Samora Ma-chel visitou várias vezes esta Província:

para ajudar na organização das forças guerrilheiras;

para apoiar na mobilização da população para a guerra pro-longada; e

para incutir a crença na vitória da FRELIMO e do Povo Mo-çambicano contra a dominação estrangeira.

20Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique, na cerimónia de inauguração da estátua do Presidente Samora Machel na Cidade de Pemba. Pemba, 25 de Setembro de 2012.

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Queremos recordar à Nação Moçambicana e ao mundo que o Presi-dente Samora Machel recebeu a triste notícia do bárbaro assassi-nato do Presidente Eduardo Mondlane pela sanguinária PIDE, no dia 3 de Fevereiro de 1969, quando se encontrava nas zonas libertadas desta Província de Cabo Delgado. O Presidente Samora Machel en-contrava-se aqui, em mais uma missão de apoio ao avanço da Luta de Libertação Nacional.

Com o nível de preparação que ele logrou incutir nos combatentes da Luta de Libertação Nacional aqui, em Cabo Delgado, e noutras províncias, a “Operação Nó Górdio”, a maior operação militar lan-çada pelo regime colonial, com a promessa de acabar com a FRELI-MO em seis meses, encontrou Cabo Delgado muito bem preparada.

Organizados em pequenos grupos e apoiados pela população, no seio da qual se sentiam como peixe na água, os guerrilheiros fo-ram desferindo golpes em diferentes partes da máquina de guerra colonial que sangrava em direcção ao estado de anemia e de ero-são da sua força anímica.

O sucesso da nossa luta era tal que as tropas coloniais não tinham certeza de quem voltaria, são e salvo, quando saíssem do seu quar-tel, o único lugar onde sentiam relativa segurança. Foi esse suces-so da guerrilha nesta Província e em todas as outras províncias que levou as autoridades coloniais a assinarem o documento da sua rendição, a 7 de Setembro de 1974.

*****

O Presidente Samora Moisés Machel foi herdeiro e continuador ín-tegro da promoção e defesa de um dos marcos que define o Presi-dente Eduardo Mondlane: a Unidade Nacional. De forma criativa, concebeu e realizou a viagem triunfal sob o signo “do Rovuma ao Maputo”. Esta viagem começou aqui mesmo, em Cabo Delgado, no Distrito de Mueda, a 24 de Maio de 1975. O Presidente Samora Moisés Machel entrava assim em Moçambique, depois dos Acordos de Lusaka, tendo escolhido Cabo Delgado como ponto de entrada.

Aqui em Cabo Delgado, visitou locais históricos e infra-estrutras económicas e sociais diversas. Mais importante ainda, foi aqui nesta Província onde reafirmou um dos marcos da sua governação

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do Moçambique livre e independente: segundo as suas palavras, a sua governação seria orientada por um mecanismo que permitisse, “conhecer a fundo os problemas do povo”. Como viemos todos a acompanhar, o Presidente Samora Machel fez do contacto directo como o seu Povo uma marca distintiva da sua governação. Era um contacto feito através de comícios, visitas a empreendimentos e reuniões com os órgãos, entre outras formas de interacção e de acompanhamento, no terreno, da realidade e do evoluir dos pro-cessos.

Por outro lado, o conhecimento profundo dos problemas do povo viria a caracterizar a solidariedade que nos liderou para estender aos povos oprimidos e ainda em luta, na região e no mundo. Uma vez mais, Cabo Delgado viria a assumir um papel de grande relevo nesta missão. Com efeito, em Montepuez foram treinadas as tro-pas do Exército de Resistência Nacional do actual Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, um processo que tinha sido iniciado em Nachingweia.

Lideradas pelas Forças Populares de Defesa da Tanzania e com o apoio das Forças Populares de Libertação de Moçambique, as for-ças ugandesas iriam libertar o seu País da ditadura do Presidente Idi Amin e restaurar o clima de estabilidade interna e de paz com os países vizinhos. Recorde-se que o Presidente Idi Amin, do Ugan-da, tinha já invadido e tentado anexar a região de Kagera, parte integrante do território da República Unida da Tanzania.

Ainda no contexto da promoção da Unidade Nacional, o Presidente Samora Machel concebeu e deu expressão à Chama da Unidade que partiu do Distrito de Nangade, a 9 de Junho de 1975, numa viagem do Rovuma ao Maputo.

Neste quadro, a Chama da Unidade percorreu todo o nosso belo Moçambique:

contagiando-nos com as emoções que irradiava;

galvanizando-nos para a Independência Nacional; e

iluminando o caminho a seguir depois de 25 de Junho de 1975, um caminho em que despontavam muitos desafios

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com particular destaque para o desafio da extensão do Es-tado ao serviço do Povo que vínhamos construindo desde 25 de Junho de 1962.

O Presidente Samora Machel sonhou e liderou-nos na concretiza-ção de vários projectos estruturantes para combater a fome e a pobreza em Cabo Delgado. Dois destes projectos merecem o nosso destaque. Primeiro, é o projecto dos 400 mil hectares que também abrangia a vizinha Província do Niassa. Tratava-se de um projecto integrado de produção e processamento agrários, apoiado por sis-temas de irrigação como os de Ingúri e Chipembe. O segundo é o da Textemanta, uma unidade têxtil que iria promover o aumento da produção algodoeira e um maior aproveitamento, em Moçambi-que, da cadeia de valor do algodão.

*****

Era notável o apego e carinho que o Presidente Samora Machel nutria por esta Província de Cabo Delgado e por todas as províncias do nosso belo Moçambique. Na sua interacção com o seu Povo, eram visíveis a admiração, a simpatia e a empatia mútuas.

Para além disso, ao Presidente Samora Machel se deve a decisão de atribuir o nome de Pemba a esta Cidade que no tempo colonial era conhecida por Porto Amélia. Num comício popular, ele perguntou à população quem era Amélia. Perante o silêncio da população, perguntou sobre o nome porque era conhecido aquele local. A po-pulação respondeu: Pemba! E esse passou a ser o nome da capital provincial de Cabo Delgado.

A ele também se deve o plantio das casuarinas ao longo da Praia do Wimbe que, hoje, no seu sibilar, recordam-nos o assobio do nosso saudoso Presidente com que iniciava uma das suas favoritas can-ções “Não vamos esquecer o tempo que passou”.

*****

Todos os anos, desde o bárbaro assassinato do Presidente Samora Moisés Machel nas colinas de Mbuzini, pelo regime do Apartheid,

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muitas têm sido as homenagens organizadas para reviver, celebrar e eternizar a sua vida e obra, em Moçambique e no estrangeiro. Contudo, todos estes gestos tornam-se insuficientes para descre-ver a vida, o percurso e o legado de um homem da grandeza do Presidente Samora Moisés Machel.

Mesmo aqueles que com ele conviveram e partilharam sonhos con-tinuam a buscar elementos que lhes permitam conhecê-lo melhor. Por tudo isto, proclamamos de forma reiterada que Samora Vive.

que Samora vive em cada projecto que concebemos e im-plementamos em Cabo Delgado e em outros espaços geo-gráficos da nossa Pátria Amada.

que Samora Vive na unidade do nosso Povo, do Rovuma ao Maputo e do Índico ao Zumbo.

enfim, que Samora vive em cada canto desta Pérola do Índico, omnipresente na causa interminável da paz, da so-lidariedade e do progresso.

Muito obrigado pela vossa atenção!

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O Livro:

Fonte do conhecimento para produção de mudanças positivas na sociedade21

É enorme o prazer que nos invade e imensa a satisfação que sen-timos por testemunhar o lançamento do primeiro volume da auto-biografia:

do nosso companheiro de armas;

diplomata de primeira água;

estadista de grande craveira; e

promotor da paz e estabilidade em Moçambique, em África e no mundo.

Queremos felicitar-lhe, Caro Presidente Chissano, por, depois de tantos anos:

de concepção;

de busca;

de selecção; e

de triangulação de factos, ter vertido uma parte das suas memórias para um suporte duradouro como este com que nos brinda hoje.

Por isso, estamos aqui para expressar a nossa alegria e, sobretudo, para partilhar este momento muito especial na sua vida, conhecida que é a importância do livro na sociedade. Editar uma auto-bio-grafia é um privilégio impar e contar nesse exercício com o apoio

21Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, no lançamento da obra “Vidas, Lugares e Tempos” de Joaquim Alberto

Chissano. Maputo, 29 de Março de 2011.

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de familiares e pessoas amigas, que dela também se apropriam considerando-a “nosso livro”, é um privilégio ainda maior.

Sabemos que esses agradecimentos já foram dirigidos mas quere-mo-nos associar a eles. Assim, queremos saudar a também nossa companheira de armas, a nossa compatriota Marcelina Chissano, os filhos e os netos pelo encorajamento e apoio que concederam ao Presidente Chissano para que esta obra conhecesse a luz do dia. Escrever é um exercício solitário e calculamos que tiveram que lhe compreender nas vezes que teve que se isolar do resto da família para produzir mais períodos, parágrafos e capítulos.

As nossas felicitações são extensivas à Vovó Mariana e a todos aqueles que emprestaram o seu testemunho e lhe apoiaram na sis-tematização dos dados reunidos na obra que justifica a cerimónia desta noite.

Uma palavra de gratidão vai para o Vovó Alberto Chissano, o Guid-janyani, nome porque era conhecido antes do baptismo, por ter iniciado o nosso companheiro de armas no nacionalismo, usando o artigo do jornal, reportando o início da formação superior de Eduardo Mondlane. O muito obrigado do próprio Presidente Chis-sano sobre este artigo e o seu efeito político sobre si parece estar patente no abraço efusivo e caloroso com o seu pai na fotografia na página 114 desta obra!

*****

Cientes do seu papel no enriquecimento da nossa História, os com-batentes da Luta de Libertação Nacional têm publicado as suas memórias. Agrada-nos e enche-nos de orgulho que este processo tenha começado. Queremos usar desta oportunidade para enco-rajar outros compatriotas nossos, que não estiveram envolvidos na Luta de Libertação Nacional, a seguirem o exemplo dos liber-tadores da Pátria, trazendo-nos mais publicações sobre os proces-sos políticos, económicos e sociais dos últimos 36 anos da nossa História. Como é do domínio público, o livro facilita a transmissão do conhecimento quer do ponto de vista intra-geracional e entre

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diferentes grupos etários quer entre uma nação e outra, ganhando no processo, a Humanidade inteira.

Esta cerimónia de lançamento de Vidas, Lugares e Tempos, consti-tui-se num acto que, em si mesmo, pode contribuir para fomentar uma maior aproximação dos nossos compatriotas ao livro e incen-tivar a sua leitura. Nós apregoamos que a leitura de um livro tor-na-se um exercício indispensável em qualquer momento da nossa vida e não pode ser substituído, mas complementado pela rádio, televisão e outras tecnologias de informação e comunicação. Ler, caros compatriotas, faz bem a todos e a cada um de nós.

Numa instituição como aquela que nos acolhe hoje, a leitura não se destina apenas para se sair bem nos testes. Serve também, e sobretudo, para construir cidadãos do futuro, dotados de capaci-dades e habilidades para continuarem a aprender depois da sua graduação, para continuarem a auto-superar-se e assim enfrenta-rem, com maior sucesso ainda, os múltiplos e complexos desafios de servir o nosso maravilhoso Povo, com tacto, profissionalismo e sentido patriótico, sempre imbuídos de auto-estima. Neste con-texto, recomendamos a todos, especialmente à nossa juventude, a apropriarem-se do conhecimento que o livro nos pode transmitir tanto do ponto de vista sistemático, através das nossas instituições de ensino, como do ponto de vista informal, através da leitura extensiva.

Queremos uma vez mais felicitar o Presidente Chissano por esta obra que termina com a sua chegada a Dar-es-Salaam, constituin-do-se num aperitivo do que ainda está por vir. Aguardaremos an-siosa e impacientemente pelos próximos volumes que nos promete no final deste livro. Reiteramos a nossa expressão de gratidão ao Presidente Chissano por nos presenteado com esta obra.

Muito obrigado pela vossa atenção.

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Joaquim Chissano:

O quebrador de barreiras

Em dias como o de hoje, todas as palavras de reconhecimento e de apreço são dedicadas ao aniversariante. Isso está correcto e era de esperar. Todavia, gostaríamos de trazer para a atenção desta ilus-tre audiência duas decisões ousadas do nosso compatriota Alberto Chissano, o Guijanyani, in memoriam, para melhor apreciarmos uma das qualidades do nosso aniversariante, a qualidade de que-brador de barreiras.

Na primeira decisão, o Guijanyani obrigou o Dambuza, nosso ani-versariante, a ler e a reler, até à perfeição, madrugada adentro, um artigo de jornal que reportava a trajectória e o sucesso de um jovem moçambicano, Eduardo Chivambo Mondlane, da África do Sul aos Estados Unidos, com passagem por Portugal. Pela manhã, o nosso aniversariante foi obrigado a regurgitar o que lera, aos com-padres do seu pai, com quem se cruzavam a caminho da igreja, em Chongoene, Xai-Xai. No seu livro Vidas, Lugares e Tempos, o Pre-sidente Chissano recorda-nos este episódio nos seguintes termos “contei [o que lera no jornal] com muito entusiasmo e orgulho. A ele [meu pai] saíam-lhe lágrimas de alegria enquanto me escutava como se estivesse a ouvir a história pela primeira vez.

[...] nesse Domingo, recontei muitas vezes a minha leitura do jor-nal, antes e depois da missa. Difundi o nome de Eduardo Mondla-ne”.

O Guijanyani incutira no filho a ideia de que era possível quebrar barreiras.

A segunda decisão resume-se no seu singelo acto de levar, pela sua mão, o seu filho, o Dambuza, para matriculá-lo, no Liceu Salazar,

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hoje Escola Secundária Josina Machel. Trata-se de uma instituição de ensino que era, na altura, frequentada por alunos de cor bran-ca. Para elucidar a nossa audiência, vale a pena voltar a citar a obra auto-biográfica do Camarada Presidente Chissano. “Uma senhora que não pôde resistir à curiosidade abordou-o [ao meu pai]:

ó rapaz [referia-se nestes termos pejorativos ao pai do Dambuza] estás a trazer algum menino para os exames?

sim, senhora, eu trago um menino;

a senhora olhou de volta e perguntou enquanto continuava a procurar com os olhos;

e onde está o menino?

está aqui, respondeu o meu pai, puxando-me para junto de si;

ah mas este é teu filho. Onde está o menino?’ Pensou que havia engano. ‘mas tu não sabes que esta escola não é para vocês? Devias ir à Escola Técnica!’Dambuza tornava-se assim, no primeiro aluno da sua cor a frequentar aquela escola, quebrando assim as barreiras raciais impostas pelo colonial fascismo.

Guijanyani preparara, assim, o nosso aniversariante para quebrar barreiras maiores ainda. Foi neste espírito que veio a liderar o Núcleo dos Estudantes Secundários Africanos de Moçambique (NE-SAM), movimento fundado por Eduardo Mondlane, o homem sobre quem lera e relera para contar a terceiros, anos antes, sobre a sua trajectória da África do Sul aos Estados Unidos da América, passan-do por Portugal.

O nosso quebrador de barreiras integraria aquilo que o próprio Eduardo Mondlane na sua obra Lutar por Moçambique apelidaria de, “geração de insurrectos, activa e decidida a lutar nos seus pró-prios termos, e não nos termos impostos pelo Governo colonial.”

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Neste mesmo espírito de quebrador de barreiras em que foi mol-dado pelo seu pai, o Camarada Joaquim Chissano abandona os seus estudos em Portugal para se juntar ao nosso movimento libertador, em cujo Congresso formativo participara, passando a conviver de forma muito directa e intensa com o Presidente Mondlane. Nacionalista convicto, ele viria a desempenhar um papel muito preponderante no processo da Luta de Libertação Nacional. A sua fluência em Ki-swahili foi de capital importância, em particular, durante a crise de 1968 em que ele próprio escapou por um triz da sanha assassina dos marginais à luta, recrutados para frustrá-la, saindo sem camisa dos nossos escritórios, em Dar-es-Salaam, cercados e invadidos. A sua capacidade de quebrar barreiras, com a ponderação, diligência e saber maduro, viria a pesar na sua no-meação para Primeiro-Ministro do Governo de Transição. Colocou-se à altura dos desafios dando, assim, início à concretização de uma das etapas do nosso sonho de 25 de Junho de 1962: a conquis-ta da independência nacional. Ministro dos Negócios Estrangeiros por onze anos, o nosso aniver-sariante trouxe mais uma vez à tona, a sua veia de quebrador de barreiras. Na verdade, perante os nossos parceiros bilaterais e multilaterais, mesmo perante os nossos detractores, cumpriu, e bem, a missão de:

em primeiro lugar, defender a nossa agenda de paz e de-senvolvimento;

em segundo lugar, articular o nosso não-alinhamento, a so-lidariedade com os povos oprimidos e boa vizinhança; e

em terceiro lugar, levar a nossa contribuição para a paz, segurança e desenvolvimento, à escala planetária.

Seria sob a sua direcção, na sua qualidade de Chefe de Estado, que Moçambique inauguraria a era do multipartidarismo. Em en-trevista publicada na edição do Jornal Domingo de 5 de Agosto de 1990, respondendo aos que vaticinavam o fim da FRELIMO nesta nova era, o Camarada Presidente Chissano sublinhou, “não vale de

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nada dizer que a FRELIMO agora está enfraquecida”. Tinha razão, Camarada Presidente Chissano:

“FRELIMO ayina mwisho” [a FRELIMO não tem fim]. Hoje, como sempre, continuamos este partido forte, omnipresente e com ca-pacidade de se reinventar para permanecer o mesmo.

Ao cristalizar os caminhos que nos levariam à conquista da Paz, o Camarada Presidente Chissano teve que quebrar:

barreiras estereotipadas;

preconceitos enraizados; e

fobias inculcadas.

Hoje ele é merecidamente o Artífice da Paz em Moçambique. Este quebrador de barreiras, de obra feita, não cabe num discurso, cabe, isso sim, nos corações de cada um de nós. Se mais espaço houvesse, se mais tempo se dedicasse, muitos mais seriam os que quereriam estar neste encontro, para a este evento se associarem e para deporem em saudação a este:

dirigente do movimento estudantil;

nacionalista recto;

diplomata de primeira água; e

estadista de grande craveira.

Atraídos pelas suas qualidades de quebrador de barreiras, muitos países e organizações, de forma recorrente, solicitam os seus ser-viços político-diplomáticos que os desempenha com muito sucesso. Estarão recordados que em 2007 o ex-Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, Chefe do Comité do Prémio Mo Ibrahim sobre Boa Governação, teve muitas dificuldades para contactá-lo e dar-lhe, em primeira mão, a notícia de que era o vencedor desse pré-mio, nesse ano. O Camarada Presidente Chissano estava numa zona sem rede de telefonia móvel, no interior do Uganda, a quebrar barreiras, no contexto da busca da paz naquele país irmão.

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Por isso, estamos todos aqui, hoje, para lhe desejar, Camarada Presidente Chissano, muitos e muitos anos de vida:

viemos dizer muito obrigado Camarada Marcelina, filhos, ir-mãos e outros familiares por continuarem a acarinhar e a dar todo o apoio que o Camarada Presidente Chissano preci-sa para se manter esse quebrador de barreiras;

viemos dizer à vovó Mariana e ao Guijanyani, in memoriam, muito obrigado por nos terem moldado o Dambuza com estas qualidades de quebrador de barreiras;

viemos dizer, muito obrigado a todos os Tongandhe, a todos os Mathavele, a todos os Chissano, por terem gerado este di-rigente que tudo abandonou para ficar ao lado do seu povo;

viemos dizer muito obrigado Camarada Presidente Chissano por continuar a ser este quebrador de barreiras.

A todos, muito obrigado pela vossa atenção.

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Herói Nacional:

Um patriota que desafiou a pré-destinação,

auto-superou-se e superou desafios22

Descerrámos, há pouco, uma placa. Aquele acto não marcava ape-nas a inauguração do Monumento dedicado ao nosso saudoso Pre-sidente Samora Moisés Machel. É um acto que também simboliza o lançamento oficial do ano dedicado a este:

dirigente do nosso movimento de libertação;

proclamador da nossa Independência Nacional; e

nosso líder na sua defesa e valorização até à data do seu bárbaro assassinato, pelo regime do Apartheid, nas colinas de Mbuzini, em território sul-africano.

Quando celebrámos o Ano Eduardo Chivambo Mondlane, prestámos homenagem ao espírito de Unidade Nacional que ele concebeu e fez efervescer em cada um de nós. Ao longo desse ano, exaltámos igualmente os valores que subscrevemos como um Povo heróico, valores esses que o Presidente Eduardo Mondlane encarnou e in-cutiu nos obreiros da nossa nacionalidade. O Presidente Samora Moisés Machel foi herdeiro, guardião e dinamizador do compro-misso do Presidente Eduardo Chivambo Mondlane com a Unidade Nacional e com todos os valores nobres que nos caracterizam como um Povo, um Povo muito especial.

Quando recebeu o testemunho de liderança do nosso movimento de libertação nacional, nas difíceis condições de luta, em 1969, o

22Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na inauguração do Monumento dedicado a Samora Machel que marca o

lançamento do Ano Samora Machel. Xai-Xai, 3 de Fevereiro de 2011.

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Presidente Samora Machel reafirmou, como o fizera como naciona-lista e comandante da nossa guerrilha, o seu compromisso de honra com a nossa colectiva e inquebrantável vontade de liberdade e independência.

Foi nesse ideal e valores que se inspirou para conduzir a nossa glo-riosa epopeia de libertação até à derrota das forças estrangeiras e à subsequente proclamação da nossa Independência Nacional.

*****

O Ano Samora Machel, através do qual assinalamos os 25 anos des-de o assassinato do nosso saudoso Presidente, reveste-se de um significado muito profundo.

com o Ano Samora Machel não estamos só a homenagear aquele que nos conduziu nos momentos mais difíceis da nossa trajectória de luta pela nossa liberdade, indepen-dência e prossecução do nosso bem-estar;

com este ano a ele dedicado não estamos só a recordar o guia sábio por cuja mão vimos a luz da liberdade e nos iniciámos no deleite da doce independência que tão amar-gamente nos custou conquistar;

com o seu Ano não estamos só a recordarmo-nos:

o do líder carismático;

o do galvanizador do Povo Moçambicano para as gran-des batalhas;

o do Estadista admirado pelo mundo fora e temido pe-los nossos inimigos internos e externos.

Ao declararmos o Ano Samora Machel estamos também, e sobretu-do, a cristalizar algo que toca os nossos corações, no contexto da luta que travamos contra a pobreza e pelo nosso bem-estar. Para o sucesso célere na luta contra este flagelo, Moçambique clama por mais homens e mulheres que, como o Presidente Samora Machel:

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acreditam em si;

têm fé nas suas habilidades;

estão convictos dos seus objectivos;

impõem-se disciplina individual suficiente para levarem a bom termo os seus planos, os planos para o bem-estar do maravilhoso Povo Moçambicano.

A crença em si, a fé nas habilidades, a convicção nos objectivos e a disciplina individual são traços de carácter que descrevem melhor do que quaisquer outras qualidades a personalidade do Presidente Samora Moisés Machel. Ele soube combinar estas qualidades para colocá-las ao serviço de um valor muito nobre, isto é, a luta pelo resgate e preservação da dignidade dum povo, o Povo Moçambica-no.

*****

A biografia de Samora Machel é um comentário vivo e colorido des-tas qualidades. Ele teve a infância reservada a qualquer jovem africano da sua época. O seu horizonte individual foi, como o de muitos outros moçambicanos, do Rovuma ao Maputo e do Índico ao Zumbo, o horizonte delimitado pelas condições de humilhação, exploração e opressão que revestiam a nossa vida no período da dominação estrangeira. Se a sua biografia tivesse seguido o curso que lhe fora pré-destinado, ele teria nascido, vivido e morrido sem registo para a posteridade senão, talvez, na memória dos seus en-tes queridos e amigos.

O facto de a sua biografia não se ter conformado ao pré-destino diz muito sobre a sua personalidade e explica porque as qualidades que marcaram o seu carácter são importantes hoje. Samora tes-temunhou a crueldade da dominação estrangeira quando dos seus pais foram expropriadas as terras férteis onde produziam para o seu sustento. Essas terras foram entregues ao Colonato do Limpopo para ali instalar agricultores europeus.

Samora voltaria a testemunhar esta crueldade da dominação es-trangeira quando se matriculou na escola primária onde descobriu

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que havia ensino diferenciado para africanos e para europeus. Mais tarde, quando quis fazer o exame da quarta classe observou que as religiões também não tinham tratamento igual.

Esta realidade discriminatória de então voltou a ficar clara no Cur-so de Enfermagem: embora africanos e europeus fossem submeti-dos ao mesmo currículo, no fim do curso, a designação profissional dependia da cor da pele de cada um deles.

Tudo estava traçado para frustrar o seu avanço. Todavia, Samora Machel contrariou, já naquela época, o roteiro que a implacabili-dade da opressão e humilhação colonial impunham a todo o jovem africano com ambição. Pela sua tenacidade e sentido de propósi-to, desafiou não só o sistema de admnistração estrangeira como também, e acima de tudo, o destino. Formando-se ele afirmou, da forma mais enfática possível, que ele não seria vítima do destino, mas sim dono da sua própria biografia, obreiro da sua trajectória de vida e narrador principal da sua história de vida.

Vidas e obras como as de Samora Machel documentam, de forma inequívoca, o momento de ruptura com a dominação estrangei-ra. Elas documentam a alvorada da liberdade e o despertar da consciência do lugar privilegiado que cada um de nós ocupa na construção do seu próprio futuro. A sua adesão ao movimento de li-bertação nacional, a sua merecida ascensão à liderança bem como os seus feitos militares, diplomáticos e políticos sublinham a sua entrega total e abnegada à causa do nosso heróico Povo, à região e ao mundo.

*****

A vida e obra do Presidente Samora Machel documentam ainda o talento e o potencial que vivem em cada um de nós. Recordar os seus feitos é a melhor forma de afirmar as qualidades que ele incorporou e trazê-las à atenção de todo o moçambicano compro-metido com a sua Pátria, esta Pátria de Heróis.

Samora Machel foi o líder que foi porque não deixou o seu talento e o seu potencial morrerem nas mãos da adversida-de colonial.

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Samora Machel foi o líder que foi porque não deixou que as circunstâncias fossem donas do seu destino.

Samora Machel foi o líder que foi porque respondeu ao cha-mamento da Pátria valorizando-se a sí próprio e procuran-do, na auto-estima, a fonte de inspiração e de força para a construção dum mundo melhor para sí e para o seu Povo.

Ao longo do Ano Samora Machel, do Rovuma ao Maputo e do Indico ao Zumbo, concebamos e multipliquemos os eventos e as activida-des em honra deste nosso Herói Nacional. Exaltemos os valores que ele promoveu e incutiu em cada um de nós para nos galvanizarmos para a vitória na Luta contra a pobreza e pelo nosso bem-estar na nossa Pátria Amada.

Temos assim a honra de declarar oficialmente lançado o

“Ano Samora Machel”.

Memória inesquecível do Presidente Samora Moisés Machel hoye!

Unidade Nacional hoye!

Povo Moçambicano unido do Rovuma ao Maputo hoye!

Pela vossa atenção, muito obrigado!

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Monumento:

Síntese de um percurso, farol para a caminhada do futuro23

Reunimo-nos hoje nestas belas terras de Chilembene, Distrito do Chókwè para inaugurar um monumento em honra do nosso primei-ro Presidente da República, Samora Moisés Machel, na data em que completaria 78 anos de vida e no ano que a ele dedicamos, pela passagem dos 25 depois do seu bárbaro assassinato, pelo regime do Apartheid, nas colinas de Mbuzini, do lado sul-africano. Este momento reveste-se de muita solenidade e simbolismo porque não estamos apenas a pôr a descoberto mais uma estátua que vai enri-quecer o nosso património político, histórico e cultural. Estamos a fazer muito mais do que isso.

Ao descerrarmos esta estátua ao nosso olhar e ao olhar de todos quantos doravante a passarão a contemplar, estamos a reforçar os nossos laços com a nossa História, a exaltar a heroicidade do nosso maravilhoso Povo e a dar o devido destaque ao exemplo dessa he-roicidade que o Presidente Samora Moisés Machel foi ao longo da sua vida. Ao descerrarmos esta estátua estamos a colocar o Presi-dente Samora Machel no patamar que merece, por mérito próprio, e a reconhecer a sua esclarecida, carismática e firme liderança da Luta de Libertação Nacional que nos levou à conquista da nossa liberdade. Nele também reconhecemos o timoneiro dos nossos pri-meiros passos em liberdade e o seu papel na valorização da nossa independência nacional e soberania.

Por isso, não estamos apenas perante a estátua do saudoso Presi-dente Samora Moisés Machel. Estamos perante a figura de um ho-mem de início vulgar para se revelar invulgar ao longo da sua vida. As dimensões dessas virtudes, e da forma como construiu esse seu

23Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na inauguração da Estátua dedicada a Samora Machel. Maputo, Chilembe-

ne, 29 de Setembro de 2011.

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percurso invulgar, só podem ser devidamente resgatadas se for-mos capazes de recuperar o contexto político, social e económico em que ele lutou, a partir daqui, destas terras para alcançar essa grandeza.

Com efeito, ao olharmos para aquela estátua não vemos apenas o nosso saudoso Presidente Samora Machel; vemos, acima de tudo, um homem que foi autor da sua própria biografia e, nisso, facultou a todos nós alguns dos enredos necessários à elaboração das várias narrativas que conferem sentido à nossa História, uma História de muitas honras e glórias.

Samora Machel foi autor da sua própria biografia num sentido mui-to particular: ele nunca aceitou o que o seu tempo lhe reservou como realização pessoal.

nasceu neste meio rural, de Chilembene, de Chokwe, tendo como horizonte de realização pessoal uma vida de pastor de gado e de agricultor de subsistência. No entanto, Samora Machel não se contentou com esse horizonte e, consequen-temente, transcendeu-o formando-se e notabilizando-se como um jovem com potencial.

com a terceira classe rudimentar em Nsonguene e mais tar-de com a quarta classe em Messano, no contexto de um sis-tema de dominação colonial que franzia tudo à sua volta, o seu horizonte de realização potenciava-o para passar o res-to da sua vida como um empregado subalterno numa dessas instituições coloniais públicas ou privadas que funcionavam no meio rural. Porém, Samora Machel não se contentou com esse horizonte e, consequentemente, transcendeu-o acres-centando à sua escolarização uma formação vocacional.

Essa formação transformou num enfermeiro, o jovem cujo pré-destino devia ter sido a pastorícia, agricultor de subsistência ou empregado subalterno. Apesar do prestígio que a enfermagem lhe garantia, apesar dessa profissão ter alargado o seu horizonte, ob-viamente melhor e mais auspicioso do que o ser pastor ou empre-gado subalterno numa instituição colonial rural, pública ou priva-da, Samora Machel não se contentou.

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Samora Machel nunca foi homem para aceitar as limitações im-postas pelo tempo. O trabalho como enfermeiro, a vida urbana, o contacto com outros moçambicanos e cidadãos de outros quadran-tes do mundo trouxeram-lhe novos elementos para aprofundar os pilares em que assentavam os obstáculos que, no seu tempo, pres-creviam o destino subalterno do moçambicano.

Graças a esta análise, ele tomou maior consciência de que o obstá-culo ao seu progresso e ao progresso dos outros moçambicanos era o sistema de dominação estrangeira e a posição para a qual esse sistema empurrava e confinava os moçambicanos.

Samora Moisés Machel decidiu fazer a sua parte, lutando contra esse sistema que pré-determinava não só o seu horizonte como também os horizontes de todos os moçambicanos, cujo potencial esse sistema atrofiava e desperdiçava, propositadamente, para ne-gar ao nosso maravilhoso Povo a sua História, o seu progresso e o seu direito de assumir o seu lugar no concerto das nações.

Foi persistindo em ser escritor da sua própria biografia, que Samora Machel juntou-se a outras figuras nobres do nosso panteão nacional e a outros grandes heróis desta Pátria de Heróis para escancarar a porta que servia de obstáculo à realização do nosso potencial como indivíduos dignos e capazes, imbuídos de auto-estima, como Nação, como um Povo.

Quando a sanguinária PIDE descobriu que Samora Machel era um dos combatentes da Luta de Libertação Nacional, descarregou a sua fúria sobre os seus pais. Como se humilhá-los e torturá-los não fosse suficientemente cruel, o Governo colonial decidiu instalar o seu posto administrativo exactamente no terreno da Família Ma-chel.

A Família do nosso saudoso Presidente Samora Machel foi translo-cada e reassentada num terreno vizinho com a porta da sua casa virada para o escritório da administração colonial para esta poder controlar todos os que entravam e saiam daquela casa da Família Machel e o que esta família fazia no seu dia-a-dia.

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*****

Quando descerramos aquele monumento não colocamos apenas uma estátua a descoberto. Fizemos muito mais do que isso. Cria-mos mais uma oportunidade para cada um de nós se rever nos valores representados pelo Presidente Samora Moisés Machel. Que-remos que cada um de nós redescubra mais uma gloriosa página da História que fez de nós um Povo unido e determinado, um Povo muito especial.

Queremos que nesse acto cada um de nós também redescubra os homens e as mulheres que marcaram essa História gloriosa, épica e heróica. Queremos que ao olhar para essa História cada um de nós redescubra como é parte integrante do processo da sua constru-ção, pois o Moçambique que temos hoje foi construído por todos e por cada um de nós. O Moçambique que teremos amanhã também será construído por todos e por cada um de nós.

Samora Machel é Herói na nossa História por causa de todas as qualidades e virtudes que gostaríamos de ver emuladas por todos os moçambicanos, hoje engajados na luta contra a pobreza. O Pre-sidente Samora Machel é Herói na nossa História por causa da sua trajectória invulgar, da sua entrega à causa do nosso maravilhoso Povo, do seu papel determinante na conquista da nossa indepen-dência e na afirmação de Moçambique como nação soberana.

Samora Machel é nosso Herói porque teve a particularidade de nun-ca assumir os seus defeitos e pontos fracos como fatalidades nem as condições que o rodeavam como obstáculos ao seu progresso e à realização dos seus sonhos. Samora Machel olhou para esses pon-tos fracos e para as condições que o rodeavam como um estímulo para trabalhar em si e, imbuído de auto-estima, auto-superar-se e desafiar o pré-destino para ser autor da sua própria biografia.

Só para dar um exemplo, temos muitos entre nós aqui que viram como ele nos liderou na transformação da inabitável Farma 17 num centro emblemático e de referência, o Centro de Preparação Polí-tico Militar de Nachingweia.

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*****

Aos mais novos queremos com esta estátua oferecer uma referên-cia de inconformismo, de luta e de determinação para melhorarem continuamente as suas condições de vida e do nosso Povo muito es-pecial, este maravilhoso Povo Moçambicano. Sobretudo, têm aqui uma fonte de inspiração, uma oportunidade para se recordarem sempre que a nossa História foi feita por homens e mulheres que tiveram de crescer para além de si próprios e se colocarem ao ser-viço das causas nobres do nosso Povo heróico.

Aos mais velhos queremos com esta estátua oferecer uma referên-cia e uma oportunidade para descobrirem e exaltarem as obras que eles mesmos realizaram ao longo da sua vida.

A todo o nosso Povo queremos com esta estátua oferecer a memó-ria viva do nosso devir histórico e do nosso continuado empenho colectivo por um futuro cada vez melhor e mais merecedor dos sacrifícios consentidos por Homens valiosos como o Presidente Sa-mora Moisés Machel.

O teste de que merecemos a nossa História, a História que estamos a construir, caros compatriotas, está no que fazemos hoje para honrar a coragem, valentia, abnegação e o exemplo de auto-su-peração constante que o saudoso Presidente Samora Machel nos deixou. O monumento, que há pouco desvendamos é o nosso olhar para a frente, a aceitação dos desafios que o presente nos coloca para sabermos definir para onde queremos levar a nossa História e para que não seja ela a levar-nos para onde nos quiser levar.

Memória inesquecível do Presidente Samora Moisés Machel hoye!

Ano Samora Machel Hoye!

Unidade Nacional hoye!

Povo Moçambicano unido do Rovuma ao Maputo hoye!

Pela vossa atenção, muito obrigado!

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Josina Machel:

Símbolo maior da emancipação da mulher, um nome que se agiganta com o tempo24

Hoje estamos em festa. Hoje, a Mulher Moçambicana, do Rovuma ao Maputo e do Índico ao Zumbo celebra o seu dia. Programas de ca-rácter político, cultural e desportivo têm estado a preencher este dia, envolvendo mulheres e homens de todas as idades e condições sociais. Mahotas está particularmente de parabéns por ser o palco central destas celebrações do Dia da Mulher Moçambicana. Sauda-mos as estruturas e a população deste Bairro por terem respondido ao desafio que lhes foi colocado pela Nação Moçambicana de aco-lher, condignamente, as festividades deste grande dia. A alegria que lemos em cada um de vós é sinal de que também se sentem realizados por terem cumprido bem a tarefa que receberam. Por isso, reiteramos os nossos parabéns por se terem mobilizado e se organizado para nos acolherem com a mesma hospitalidade que caracteriza todos os moçambicanos.

*****As celebrações do dia da Mulher Moçambicana deste ano têm um carácter muito especial. A 4 de Março celebrámos os 41 anos do Destacamento Feminino. Nessa data, em 1967, dava entrada, no Centro de Preparação Político Militar de Nachingweya, na Tanza-nia, um grupo de 25 jovens, vindas do interior de Moçambique para se submeterem aos treinos da guerrilha, uma importante compo-nente da nossa Luta de Libertação Nacional. Algumas delas estão entre nós aqui nas Mahotas.

Este ano também é especial porque celebrámos, a 4 de Março, os 35 anos da Organização da Mulher Moçambicana. Foi em 1973, no

24Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, por ocasião dos 35 anos da Organização da Mulher Moçambicana. Maputo,

7 de Abril de 2008.

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Centro Educacional de Tunduru, na Tanzania, que, de 4 a 16 de Março, mulheres representando todo o nosso belo Moçambique, se reuniram para aprofundarem as reflexões em torno da problemáti-ca da emancipação da mulher. Este é um assunto que foi parte da agenda do nosso movimento de libertação desde a sua fundação em 1962, porque a mulher moçambicana foi sempre considera-da parte integrante da nossa luta. Nessa histórica Conferência foi eleita a nossa compatriota Deolinda Guezimane para o cargo de Secretária Geral da Organização da Mulher Moçambicana. Ela tam-bém está aqui connosco.

Hoje, dia 7 de Abril, recordamo-nos também de Josina Machel, um dos símbolos maiores da emancipação da mulher moçambicana. Josina começou por revelar as suas qualidades de nacionalista ín-tegra ainda no Moçambique ocupado:

participou nas células clandestinas da FRELIMO;

foi detida na Rodésia, já perto da fronteira com a Zâmbia, quando tentava juntar-se ao movimento libertador, e re-patriada para Moçambique, directamente para as mãos da sanguinária PIDE;

essa mesma PIDE ensaiou várias tentativas para aliciar Jo-sina para abandonar os ideais do seu Povo. Recusou-se e manteve-se do lado do seu Povo e da sua justa causa pela independência.

Josina sofreu muito na Suazilândia, rota que iria usar nesta segunda tentativa de chegar à Tanzania. Havia falta de co-mida e as condições de alojamento eram muito precárias. Mas ela não vergou. No actual Botswana foi de novo detida, com outros nacionalistas, mas graças à intervenção do Pre-sidente Eduardo Mondlane foram todos libertos e prossegui-ram a sua viagem até à Tanzania.

o ali, Josina submeteu-se aos treinos político-militares.

o com outros combatentes, ela marchou várias vezes pelo interior do Niassa e Cabo Delgado.

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o no movimento de libertação, ela veio revelar grande amor pelas crianças e o seu nome está ligado ao con-ceito de infantário na Luta de Libertação Nacional. Por isso, numa das zonas libertadas no Niassa, funcionou o infantário Josina Machel, em homenagem a esta com-batente da Luta de Libertação Nacional.

o Josina amava tanto o seu povo que declinou uma bolsa de estudos na Suíça. Preferiu continuar a abraçar a vida dura e violenta do interior porque queria estar perto das crianças e dos seus infantários e prestar assistên-cia às mulheres dos combatentes e aos mutilados pelas bombas, balas e minas do inimigo opressor.

o mesmo quando a doença a corroía e a debilitava, e con-tra os conselhos de médicos e de amigos, ela continuou a empreender as longas marchas para o interior, para estar perto do seu povo.

o Josina perdeu a vida quando lhe faltavam cerca de 4 meses para completar 26 anos.

o contudo, em um quarto de século ela ajudou a construir uma obra que se agiganta à medida que o tempo passa. Ela foi assim assumida pela própria mulher moçambica-na como um dos símbolos maiores e fonte permanente de inspiração na sua luta incessante pela sua própria emancipação.

Em sua homenagem e em homenagem a toda a mulher moçambi-cana foi instituído o dia 7 de Abril, data em que deste mundo para sempre Josina de nós se apartou, como o Dia da Mulher Moçam-bicana. Neste dia não festejamos apenas a vida e obra de Josina Machel. Também, e sobretudo, festejamos a vida e obra de toda a mulher moçambicana e exaltamos o seu compromisso com Moçam-bique e o seu Povo, ontem, hoje e amanhã.

*****Ao longo do nosso processo histórico, a mulher moçambicana vem demonstrando que é ela própria que assume o papel central da sua própria emancipação. A mulher moçambicana não é emancipada por terceiros. Ela emancipa-se. Foi assim ontem, ao engajar-se

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na luta de libertação nacional. É assim hoje ao engajar-se na luta contra a pobreza, o nosso inimigo da actualidade.

Cerca de 46 anos depois de nos termos organizado para lutar e ser-mos donos do nosso próprio destino, 41 depois da criação do Des-tacamento Feminino e 35 depois da fundação da OMM, fazemos um balanço positivo da emancipação da mulher moçambicana, essa estrela que ilumina esta Pátria de Heróis.

Temos hoje muitas mulheres em posições de direcção do nosso Estado:

o na Assembleia da República, com destaque para a chefia de comissões parlamentares;

o no Executivo com destaque para os membros do Go-verno, Vice-Ministras, Governadoras, Administrado-ras e Chefes de Posto, bem como Secretárias Perma-nentes, a todos os níveis;

o nos municípios, com destaque para a sua Presidência e para chefes de comissões de trabalho e vereação;

o na Administração da Justiça, com destaque para ma-gistradas, juízas, advogadas, oficiais e assistentes de oficiais de justiça;

Temos igualmente muitas mulheres em posições de desta-que nas organizações da sociedade civil.

Neste período também cresceu, de forma exponencial, o número de mulheres profissionais em diferentes áreas da actividade humana. Temos, por exemplo, muitas professo-ras, médicas, enfermeiras, funcionárias públicas, jornalis-tas, artistas, operárias, artesãs e motoristas.

Estas e outras conquistas, são resultado do labor, empenho e en-trega da mulher na sua própria emancipação. O Governo continua-rá a facilitar e a encorajar este processo através, por exemplo, da expansão das oportunidades de acesso à educação e à formação, com a abertura de mais escolas. Continuará a prestar particular atenção ao acesso da rapariga à escola, sua permanência e con-

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clusão de níveis de formação cada vez mais altos porque acredita-mos que educar uma mulher é educar uma família, é educar uma sociedade inteira. Estamos confiantes de que a mulher é, e será sempre, o principal veículo de transmissão destas mensagens de apoio ao processo da sua própria emancipação investindo na sua auto-estima, criatividade e força de vencer todos os obstáculos que se colocam à sua frente.

Neste dia de festa exortamos a mulher moçambicana a continuar activa na luta contra o HIV e SIDA e nas campanhas para a redução dos índices da mortalidade materna, neo-natal e infantil. Exor-tamo-la ainda a continuar exemplar na luta contra a pobreza e a multiplicar acções de mobilização e de enquadramento de outros compatriotas na luta contra este flagelo. Sobretudo, que a todos transmita a certeza de que vamos vencer a pobreza na nossa Pátria Amada.

Viva a Mulher Moçambicana!

Moçambique hoye!

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Josina Machel:

Uma referência sobre a grandeza da Mulher

Moçambicana25

A nossa presença aqui em Chilembene, vindos de todos os cantos:

deste Posto Administrativo;

do Distrito de Chókwè;

da Província de Gaza;

de Moçambique; e

do Mundo, a nossa presença, dizíamos, empresta um am-biente muito especial às celebrações do 7 de Abril deste ano, o ano dedicado ao Presidente Samora Machel.

Os actos solenes de há pouco, nomeadamente, a deposição de uma coroa de flores e o descerramento da lápide no monumento dedi-cado à heroína Josina Machel, marcam, de forma muito especial, a homenagem merecida a esta combatente pela libertação da nossa Pátria, quarenta anos depois do seu desaparecimento físico. O 7 de Abril é, pois, uma data celebrada por ser célebre, memorável, ontem, hoje e sempre.

É neste contexto que convergimos aqui, em Chilembene, de to-dos os cantos de Moçambique e do Mundo para expressar o nosso reconhecimento, respeito e gratidão pela sua contribuição para que Moçambique, esta Pátria de Heróis, esta realidade política,

25Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na inauguração do Monumento dedicado à Heroína Nacional Josina Machel.

Chilembene, 7 de Abril de 2011.

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jurídica e geográfica, emergisse e se afirmasse na comunidade das nações.

Estamos aqui para nos curvarmos perante uma compatriota que soube reunir em si, um são equilíbrio de virtudes, entre elas a:

de jovem de fácil trato;

de nacionalista cheia de audácia e bravura;

de mulher de princípios;

de compatriota defensora de causas nobres; e de guerrilhei-ra com um forte sentido de servir Moçambique e o seu Povo.

Josina Machel destaca-se assim como uma personalidade detento-ra de excepcionais qualidades e virtudes que a configuram como uma exemplar cidadã, mãe, esposa e, sobretudo, Heroína Nacio-nal, uma heroicidade certificada e autenticada pela sua brilhante participação na Luta de Libertação Nacional. Estamos aqui para re-afirmar que os sacrifícios por ela consentidos na libertação da nos-sa Pátria Amada não foram em vão, pois são hoje os alicerces em que assenta a Independência Nacional e a nossa soberania. É tam-bém neste pedestal que assentam a nossa auto-estima, a Unidade Nacional, a cultura de paz e todo o nosso empenho para levarmos de vencida a pobreza que ainda grassa o nosso rico Moçambique.

Josina Machel perdeu a vida com apenas 25 anos de idade, uma idade tenra e de pouca história na vida para muitos compatriotas nossos. Porém, para o caso de Josina, jovem de muita fibra, foram 25 anos intensamente vividos e inteiramente dedicados à causa da libertação da terra e dos homens em Moçambique. Por isso, quan-do a morte lhe surpreendeu, ela já tinha sido imortalizada pela sua obra. Ela já se erguia para a eternidade. No tempo em que perdeu a vida, ela tinha já alcançado a intemporalidade.

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*****

Josina Machel é uma referência no panteão dos ilustres filhos da nossa Pátria Amada. Iniciada nos valores mais nobres do nosso ma-ravilhoso Povo no seio da sua família, a família Muthemba, Josina cresceu e consolidou a sua consciência política nos meandros da luta pela defesa desses princípios e valores. É neste prisma que a sua vida e obra demonstram que são muitos os campos de afirma-ção heróica do moçambicano podendo ser sequenciais, simultâ-neos ou até complementares.

A sua primeira tentativa de chegar à Tanzania foi frustrada quando ela foi detida, com outros nacionalistas, pela polícia rodesiana e deportada para Moçambique para as mãos da sanguinária PIDE. Ela não se deixou amedrontar pelas chantagens e torturas de diversas descrições contra sí e contra a sua família protagonizadas pela tenebrosa PIDE.

Quando foi liberta do cativeiro empreendeu a segunda tentativa para se juntar ao movimento de libertação. Depois de escalar a Swazilandia e atravessar a África do Sul, foi detida pelas autorida-des coloniais da Bechuanalândia, actual Botswana, na companhia de outros nacionalistas.

Mais tarde, foi liberta por pressão do Presidente Eduardo Mondla-ne, tendo seguido para a Zâmbia e dali para a Tanzania.

Já na sede do nosso movimento de libertação, Josina Machel vi-ria a destacar-se como uma combatente com uma paixão especial pelas causas sociais nobres, com destaque para a emancipação da mulher moçambicana e para o cuidado com as crianças. Não nos surpreendeu que ela tenha optado por se submeter aos treinos político-militares em Nachingweya em vez de se beneficiar de uma bolsa de estudos para a Suíça que lhe fora proposta.

fazendo longas caminhadas, que duravam muitos dias e se-manas;

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iludindo a vigilância do inimigo ou as suas emboscadas, bombas ou minas anti-pessoais;

passando muitos dias com sede, fome e sem abrigo em con-dições, Josina deu expressão e forma aos infantários nas Zonas Libertadas.

Era nestes infantários onde as crianças dos combatentes eram abri-gadas, libertando assim os seus pais para as outras missões da Luta de Libertação Nacional.

Ao mesmo tempo, e sempre de punho erguido e de arma na mão, Josina participava na mobilização da mulher moçambicana para se enquadrar na agenda da libertação da Pátria como parte da sua própria agenda de emancipação. Mesmo quando a sua saúde não aconselhava longas marchas pelo interior de Moçambique, pelas nossas Zonas Libertadas, Josina persistia argumentando que era com a mulher combatente e com as crianças que queria estar, a toda a hora. Tomar conta das crianças e dar apoio à mulher na sua luta pela emancipação eram tarefas que Josina desempenhava com muito brio e paixão também no nosso Centro Educacional de Tunduru e noutros locais onde se encontravam os moçambicanos.

Graças a este percurso exemplar e de referência, Josina Machel consagrou-se Heroína Nacional. Não são poucos os moçambicanos que atribuíram o nome de Josina a suas filhas, como manifestação de admiração pela sua vida e obra e como expressão de esperança de que elas também tenham um percurso glorioso como o da Josi-na Machel, para que sejam orgulho para a família e para a Nação Moçambicana, como ela é.

*****

Neste quadro, celebrar a vida e obra de Josina Machel é, ao mes-mo tempo, uma oportunidade para uma reflexão sobre os sonhos que orientam a vida da nossa juventude e sobre o lugar que ocupa no seu coração a dignidade humana porque ela consentiu tantos sacrifícios e entregou a sua tenra e valiosa vida. É também uma

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oportunidade para os jovens se questionarem sobre quão vivo e candente esse espírito de servir o nosso maravilhoso Povo continua neles vivo e sobre o que mais podem fazer para levar a pobreza de vencida nesta Pátria de Heróis.

O monumento que acabámos de inaugurar, mais do que reconhecer os actos nobres da Josina Machel, ergue-se como um símbolo da grandeza desta Heroína Nacional e da Mulher Moçambicana na sua luta pela sua própria emancipação. Todavia, reconhecemos que este monumento é insuficiente para expressar a nossa gratidão por aquilo que ela fez pela Mulher Moçambicana e por aquilo que a Mu-lher Moçambicana faz por este Povo muito especial, o maravilhoso Povo Moçambicano.

*****

O dia 7 de Abril foi proclamado Dia da Mulher Moçambicana, em re-conhecimento do papel da Josina Machel na luta pela emancipação da mulher moçambicana. Por isso, neste dia, também celebramos as conquistas da mulher moçambicana, do Rovuma ao Maputo e do Índico ao Zumbo. O lema destas celebrações, “40 anos dos desafios da mulher, valorizando os feitos da Josina Machel”, cristaliza esta relação entre Josina Machel e a Mulher Moçambicana.

Neste dia histórico, recordamo-nos do longo, difícil e complexo percurso que a Mulher Moçambicana tem estado a palmilhar rumo à sua plena emancipação. Recordamo-nos dos feitos da nossa Mu-lher, cuja humilhação no período da dominação estrangeira acres-centou mais motivos para empreendermos a luta que nos trouxe a liberdade e a independência.

Neste dia muito especial, exaltamos as virtudes e as conquistas da Mulher Moçambicana na luta pela sua emancipação e pela igual-dade na nossa sociedade. Neste dia, também prestamos homena-gem a toda a Mulher Moçambicana que se encontra nas diferentes frentes de luta contra a pobreza, no campo e na cidade, em todo o nosso solo pátrio. Neste dia e todos os dias continuemos a cultivar

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os valores nobres que Josina e todas as mulheres moçambicanas incutem na família e na Nação Moçambicana.

Reiteramos as nossas saudações à Mulher Moçambicana por este dia e fazemos votos de muitos mais sucessos na sua luta pela eman-cipação e pela sua participação, muito bem-sucedida, em muitos mais domínios da intervenção humana e para o sucesso da nossa Agenda Nacional de Luta contra a Pobreza.

Memória inesquecível de Josina Machel hoye!

Mulher Moçambicana hoye!

Unidade Nacional hoye!

Povo Moçambicano unido do Rovuma ao Maputo hoye!

Muito obrigado pela vossa atenção!

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Trajectória política de Josina Machel:

Exemplo de dedicação e de amor por Moçambique

e seu Povo26

A Nação Moçambicana regista, com letras de ouro, o nome dos seus filhos que ao longo da sua vida se destacam pelo que realizam para o engradecimento da História desta Pátria de Heróis. Exalta-os pe-los feitos cujo brilho não se ofusca, mesmo na distância do tempo. Josina Machel integra este plantel de filhos notáveis da Nação Mo-çambicana.

Nascida numa família de nacionalistas e educada nos meandros do nacionalismo moçambicano, Josina Machel desponta no firmamen-to político nacional tanto por aquilo que realizou na História de Moçambique como pelo exemplo que a sua trajectória foi e conti-nua a ser para todos nós.

Os emocionantes testemunhos aqui apresentados, em lírica, prosa e poesia, complementam-se para traçar o perfil de uma compa-triota persistente na realização dos seus sonhos, uma jovem que conduziu a sua vida de forma exemplar e influenciou, talvez até mudou, a trajectória dos outros para integrarem a Geração do 25 de Setembro. Dedicando maior atenção aos outros e à Pátria Mo-çambicana, Josina fez da sua existência uma referência, plantan-do, ao longo do seu quarto de século de vida, sementes que hoje brotam por todo o nosso Moçambique, do Rovuma ao Maputo e do Índico ao Zumbo.

26Comunicação de Sua Excelência, Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, por ocasião do lançamento do livro “Josina Machel: ícone da emancipação

da mulher moçambicana” de Renato Matusse e Josina Malique. Xai-Xai, 11 de Julho de

2008.

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*****Há, para nós, uma emoção especial que nos invade nesta cerimó-nia de lançamento da obra que documenta o perfil e a contribuição de Josina no processo épico da nossa libertação.

Trata-se de uma compatriota com quem partilhámos os sonhos do resgate da nossa dignidade, liberdade e Independência. Certamen-te que Josina seguia, à distância, o trabalho que desenvolvíamos, aqui no Xai-Xai, com a Esperança Muthemba, a Juvenália Muthem-ba e o Milagre Mazuze e outros jovens de Gaza e de Maputo, para a implantação da delegação do Núcleo dos Estudantes Secundários Africanos de Moçambique, também conhecido por Núcleo ou NE-SAM.

Recordamo-nos do apoio e encorajamento para a materialização desse projecto, que recebemos de figuras de destaque na vida so-cial e cívica de Gaza entre eles os Muthembas e os Mazuzes. Com a Josina e outros compatriotas aprendemos que o cansaço, a fome e a sede sublimam-se perante convicções partilhadas. Esta foi uma das lições da vida que aprendemos, em 1964, quando tivemos que fazer, a pé, os 80 quilómetros, entre Mapai e Chicualacuala e con-tinuar a marchar mais de 30 quilómetros de Chicualacuala a Twi-za, em território da Rodesiano do Sul, onde apanhámos o comboio para Salisbúria, hoje Harare. Quando fomos detidos pela polícia rodesiana e entregues à sanguinária PIDE, juntos descobrimos que onde as convicções são fortes, a frustração colectiva transforma-se em esperança e força para vencer qualquer intimidação ou violên-cia física.

Na Swazilandia, a Josina voltou a demonstrar ser uma compatriota destemida e determinada. Por isso, aceitou galgar os caminhos da incerteza, que a levariam a passar pelo território sul-africano, por-que tinha a certeza da justeza da causa que defendia. Na FRELIMO ela tornar-se-ia uma das insignes combatentes não só pela liberta-ção da nossa Pátria Amada como da própria mulher moçambicana. Ela, como a FRELIMO, defendia que a mulher não é emancipada por terceiros, que ela emancipa-se a ela própria, participando no pro-cesso da luta que, no seu tempo, era pela Independência Nacional.

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O lançamento da vida e obra da Josina, que hoje testemunhamos, reveste-se de um simbolismo particular. Na verdade, para além dos familiares directos da Josina, esta cerimónia conta com a presença de representantes de todas as províncias do nosso belo Moçambi-que participantes no evento maior da promoção e valorização da nossa cultura milenar, esteio dessa moçambicanidade que Josina ajudou a moldar e um dos condimentos da nossa efervescência patriótica.

Josina foi exemplo de mulher defensora de causas nobres. Que cada um de vós se sinta mais inspirado para persistir na luta contra a pobreza e para continuar a cultivar a certeza de que, uma vez mais, como ontem, durante a luta pela nossa Independência, ven-ceremos a pobreza nesta Pátria de Heróis.

Muito obrigado pela vossa atenção.

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Mateus Sansão Muthemba:

O Homem dos ventos que tempestades gerou para abalar o colonial fascismo27

Reunimo-nos hoje, nestas belas terras de Chicumbane, para cele-brar a vida e obra de:

um compatriota íntegro;

nacionalista consequente; e

combatente cheio de bravura e determinação.

Estamos pois aqui para homenagear um dos nossos compatriotas que se juntou aos continuadores da resistência dos nossos antepas-sados à dominação estrangeira. Trata-se de um compatriota que participou, de forma activa, na luta heróica que conduziu o Povo Moçambicano à liberdade e à independência e, sobretudo, à recon-quista da sua terra.

Graças ao sacrifício deste e de outros filhos desta Pátria de Heróis, hoje os moçambicanos gozam da liberdade de aumentar as suas àreas de cultivo e de apascentar, à vontade, o seu gado bem como de atrair e acolher investimentos nacionais e estrangeiros, públi-cos e privados.

Ainda muito jovem, Mateus Muthemba iniciou-se na vida política de Moçambique no seio da sua família, uma família detentora de um valoroso palmarés de auto-estima, moçambicanidade e patrio-tismo. O seu pai fora incorporado, bastante adulto, para o exército colonial, durante a Primeira Guerra Mundial, facto que ampliou os seus horizontes sobre a colonização de Moçambique por forças

27Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na celebração da vida e obra de Mateus Sansão Muthemba, 40 anos depois

do seu assassinato. Chicumbane, 6 de Junho de 2008.

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estrangeiras. Para além disso, Samson Muthemba escrevia regular-mente para a secção em Tsonga do Brado Africano, denunciando a humilhação, a opressão e a exploração desenfreada do colonial fascismo, com sofisticada ironia como se pode depreender desta citação do seu artigo na edição deste jornal do dia 23 de Outubro de 1920:

A República Portuguesa diz que todas as pessoas são iguais. Porém, quando o nosso pedido [...] foi atendido, o Senhor Governador [...] decidiu abrir duas escolas. Na primeira escola, frequentarão apenas os que usam calças e sapatos [...] na segunda escola frequentarão os que usam capulana, lenço de cabeça, calças e andam descalços.

Na família e na comunidade Mateus absorve os ecos épicos das guerras de resistência, identifica e apropria-se das razões porque esses homens e mulheres, mal-equipados, sustentaram essa re-sistência armada à dominação estrangeira: Marracuene, Magule, Coolela, Chaimiti e Languene, aqui perto no Vale do Limpopo, são alguns dos lugares marcos dessa resistência que fazem parte da iniciação de Mateus Muthemba na política nacional.

Inspirado nestes marcos, legado e valores, Mateus Sansão Muthem-ba foi desenvolvendo a sua consciência nacionalista ainda nestas terras para onde hoje convergimos, de diferentes partes de Gaza, de Moçambique e do Mundo. Na ex-cidade de Lourenço Marques alarga os seus horizontes sobre a questão colonial pois passa a con-viver com muitos mais moçambicanos oriundos de outros cantos do País, que também tinham inscrito o seu nome como marcos da resistência à ocupação estrangeira. Estes relatos e a segregação racial que lhe confronta já adulto, de forma mais intensa, fize-ram sedimentar a sua vontade de se engajar, de forma directa, no desmantelamento desse sistema de dominação e opressão dos moçambicanos.

Movido por este espírito nacionalista, Mateus Sansão Muthemba integra o grupo que se encarregou pela organização da recepção em homenagem ao Dr. Eduardo Chivambo Mondlane, funcionário

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das Nações Unidas, aquando da sua visita a Moçambique, em 1961. Este grupo também integrava outros nomes de destaque na vida social e cívica de Gaza como são os casos de Abiatar Sansão Mu-themba, seu irmão e pai da lendária combatente Josina Machel, Afonso Casalino Mazuze, Afonso André Huhlwani, Alberto Chissano, António Ribeiro, Damásio Loforte, Eusébio Tamele ou Zeburani, Marcos Novele, Gil Mazuze e Nicolau Abílio Fernandes.

Como militante da Frente de Libertação de Moçambique, na clan-destinidade, Mateus Sansão Muthemba fez parte do núcleo que propagou, pela região Sul de Moçambique, a nova dimensão que a luta pela libertação de Moçambique passava a assumir com a adopção da Unidade Nacional, a 25 de Junho de 1962, como a arma mais sofisticada para vencer a dominação estrangeira. É em sua casa, no Chamanculo, onde se hospeda Maduna Xinana, o Co-missário Político da IV Região Político-Militar da FRELIMO, um dos guerrilheiros enviados para criar as condições para o início da luta armada em Inhambane, Gaza e ex-Lourenço Marques. Ele tem as-sim, a sua missão facilitada para fazer contactos, particularmente com os jovens filiados no Núcleo dos Estudantes Secundários Afri-canos de Moçambique (NESAM) que incluiam Ângelo Chichava, líder de uma importante rede clandestina da FRELIMO.

Em contacto com Maduna Xinana e outros guerrilheiros e a rede clandestina que ajudava a tecer e a consolidar, Muthemba con-tribuiu, assim, para incendiar o espírito nacionalista latente em muitos jovens moçambicanos.

Mateus Sansão Muthemba foi trabalhador numa empresa comercial no Xai-Xai. Mais tarde, foi professor em diferentes escolas da mis-são suíça, que em 1949 adopta o nome de Igreja Presbiteriana de Moçambique. O edifício onde ele lecionou na cidade de ex-Louren-ço Marques localiza-se do lado direito para quem entra pelo portão principal do Cemitério de Lhanguene. Ele também foi agricultor. Todavia, ele ganha uma alcunha que condiz com o seu pensamento nacionalista. Por isso, quando chega à Tanzania, o velho Muthem-ba, como carinhosamente o tratávamos, trazia já essa alcunha de Nwa Mimoya, o homem dos ventos, em resultado de ter sido um famoso funcionário dos Serviços Meteorológicos.

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Se em Moçambique este homem dos ventos só contribuira para gerar remoinhos, na Tanzania viria a participar na geração de tempestades que abalaram as fundações do colonial fascismo. Nwa Mimoya ocupou, na FRELIMO, o cargo de responsável pelas acções ligadas à luta de libertação de Moçambique na região que com-preendia Inhambane, Gaza e ex-Lourenço Marques, provocando mais tempestades contra a dominação estrangeira. Depois, usan-do a sua experiência de meteorologista, o velho Muthemba viria a contribuir para gerar mais tempestades ainda ao montar e pôr em funcionamento o centro de comunicações da FRELIMO, na casa anexa à residência do Presidente Mondlane, onde ele vivia. Este centro tornou-se num importante instrumento de coordenação das acções políticas, militares e diplomáticas de um Povo em luta pela sua liberdade.

Mateus Sansão Muthemba seria assassinado por marginais à luta de libertação nacional, mobilizados para se juntarem àqueles que, a soldo do inimigo da nossa liberdade e dignidade, queriam, deses-peradamente, parar a tempestade da FRELIMO com as suas pró-prias mãos. Este grupo invade, a 9 de Maio de 1968, os escritórios da FRELIMO, em Dar-es-Salaam, tendo brutalmente agredido Ma-teus Sansão Muthemba. Em consequência dos graves ferimentos contraídos nas mãos destes sanguinários, ele viria a perder a vida a 6 de Junho de 1968, há 40 anos portanto, no Hospital de Muhimbili, na capital tanzaniana.

Contrariamente ao que os nossos inimigos tinham planeado, a tem-pestade que Muthemba tinha ajudado a gerar ganhou mais força. Através do centro de comunicações:

interagíamos com os nossos centros de preparação políti-co-militar e as bases da guerrilha, no interior;

interceptávamos ainda as comunicações quer civis quer militares de Lisboa para Lourenço Marques. Esta informa-ção era-nos muito útil quer para acompanhar os planos coloniais e para conceber medidas para frustrá-los quer para denunciar, a nível internacional, a própria máquina de dominação e opressão, com base em informação de primeira mão do próprio regime colonial.

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O centro que o velho Muthemba montou, reforçou o sistema de comunicações da FRELIMO que ia abrangendo todo o nosso Mo-çambique. Já em 1974, durante as conversações de Lusaka, a FRE-LIMO tinha atingido um nível tal de autonomia em comunicações que fomos montar os nossos próprios equipamentos no Palácio do Chefe de Estado da Zambia para, a partir dali, mantermos os com-batentes informados sobre o que se estava a passar na mesa das conversações.

Por meio destes equipamentos, o Presidente Samora Machel tam-bém se comunicou com as bases da guerrilha, informando-as que se Portugal não parasse com o levantamento reaccionário do 7 de Setembro a guerra continuaria com maior ímpeto ainda. Esta co-municação foi deliberadamente feita em sinal aberto para que os portugueses a captassem e se apercebessem da gravidade da crise que iriam criar. Foi este equipamento que igualmente assegurou a coordenação das operações das festividades da Independência Nacional, proclamada no dia 25 de Junho de 1975.

*****

Celebrar a vida e obra de Mateus Sansão Muthemba é exaltar o nosso processo de libertação, de construção da moçambicanidade e de reforço da nossa auto-estima.

Celebrar a vida e obra de Nwa Mimoya é uma das formas de en-sinar aos jovens que na terra é muito importante deixarmos uma referência, um nome que perdure. Assim, fica claro que não é o malogrado que faz convergir esta entusiática moldura humana a Chicumbane porque, neste dia, há 40 anos, muitos outros moçam-bicanos perderam a vida. É a obra de Muthemba que, como um íman, atrai esta multidão, relatos extensos e elogios.

Muita gente envolveu-se voluntariamente na preparação desta ho-menagem e muitos deram contribuições financeiras e em espécie, para se erguer o monumento em sua honra cuja lápide descerrá-mos há pouco. Fizeram isto porque se identificam com a obra e o exemplo que Muthemba é, nesta Pátria de Heróis.

Este é momento para prestarmos igualmente homenagem à Rebeca Muthombene, sua esposa, e aos seus filhos que, apesar das perse-guições e privações porque passaram, souberam manter-se fiéis

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à causa do Povo Moçambicano. Estendemos este reconhecimento aos seus irmãos Abner e Abiatar pelo seu patriotismo e por terem sido fontes de inspiração para os seus filhos e outros compatriotas nossos.

Para os jovens de hoje queremos deixar dois desafios. O primeiro é saber conservar e valorizar o legado de Muthemba

e de todos aqueles valorosos filhos de Moçambique que lutaram e lograram devolver a terra aos seus legítimos donos: o heróico Povo Moçambicano. Mantenham-se vigilantes contra as várias, e por ve-zes veladas, tentativas de retirar a terra das mãos dos moçam-bicanos, o símbolo de maior significado e destaque da soberania nacional. Garantam que o investimento público e privado conviva, harmoniosamente, com o direito dos moçambicanos à terra para a agricultura, pastagem do seu gado e para realizar outras activi-dades sociais e económicas. Não há e nem deve haver conflito ou incompatibilidade entre uma e outra actividade. Pelo contrário, estas actividades complementam-se.

O segundo desafio prende-se com a necessidade de cada um dos nossos jovens construir o seu legado, fazendo a sua parte na luta contra a pobreza. Queremos ver Chicumbane, Xai-Xai, Gaza e Mo-çambique mais verdes e mais prósperos. Queremos ver os jovens a assumirem a subida dos preços dos cereais como uma oportunidade para revelarem o seu talento e criatividade, a Revolução Verde como um desafio ao seu alcance e o distrito como o pedestal onde vão exibir o legado porque querem ser recordados.

Camarada Mateus Sansão Muthemba,

Reafirmamos nesta sua terra natal a certeza de que nesta luta con-tra a pobreza, como foi com a luta de libertação nacional, também sairemos vitoriosos.

Viva o Heroísmo de Mateus Sansão Muthemba!

Viva o Povo Moçambicano do Rovuma ao Maputo!

Unidade Nacional hoye!

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Paulo Samuel Kankhomba:

Mais um Herói na Pátria de Heróis28

Moçambique é, minhas senhores e meus senhores, uma verdadeira Pátria de Heróis. Este facto a todos nós deve orgulhar, no presente e no futuro. Só ao longo deste ano, exaltámos a vida e obra de al-guns desses heróis da nossa Pátria Amada, nomeadamente:

John Issa, em Macalange, Distrito de Mecula, Província do Niassa;

Tomás Nduda, em Nampanha, Distrito de Muidumbe, Pro-víncia de Cabo Delgado;

Mateus Sansão Muthemba, em Chicumbane, Distrito do Xai-Xai, Província de Gaza; e

José Macamo, em Mbambane, Distrito do Chibuto, Provín-cia de Gaza.

Hoje, juntamo-nos aqui em Chilola, para celebrar a vida e obra de Paulo Samuel Kankhomba, um desses nossos estimados heróis nacionais. Viemos partilhar com Chilola o seu orgulho por ter con-tribuído com mais um nome para a nossa galeria de heróis, para a nossa longa lista de heróis.

*****Paulo Samuel Kankhomba aqui nasceu e aqui entrou em contacto com o sistema de valores do seu Povo de que se foi apropriando, através dos mecanismos de socialização da sua comunidade.

28Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na homenagem ao Herói Nacional, Paulo Samuel Kankhomba. Chilola, 22

de Dezembro de 2008.

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Neste meio social foi também absorvendo as lições de coragem e determinação dos nossos antepassados e dos nossos Heróis da Resistência. São lições que eram transmitidas de geração em ge-ração, através da tradição oral e que demonstravam que o fim da resistência activa não significava o fim dos ideais porque o nosso povo se tinha oposto e lutado contra a ocupação estrangeira, com tanta bravura.

Não foram apenas as lições de resistência desses nossos antepas-sados e a forma como os moçambicanos eram discriminados, opri-midos e explorados pela dominação estrangeira, na sua própria terra, que moldaram o sentimento de revolta em Paulo Samuel Kankhomba. Ele era crente da Igreja Anglicana, aluno e professor nas escolas da Missão Anglicana de Messumba. Por causa da toma-da de posição a favor da nossa libertação, por parte desta Igreja, alguns dos padres, professores e alunos desta Missão de Messumba

e das suas escolas, desempenharam um papel exemplar na mo-bilização de moçambicanos para a Luta de Libertação Nacional. Na verdade, só a presença de dirigentes religiosos moçambicanos, num contexto colonial em que esses postos eram ocupados por es-trangeiros, era já um elemento suficiente para despertar os ideais nacionalistas em mais moçambicanos.

Todas estas experiências e o ambiente político criado levaram Pau-lo Samuel Kankhomba à tomada de consciência política mais apu-rada.

Com essa atitude ele começou a sentir a Pátria a chamar por si, a convidá-lo a fazer a sua parte para a libertação do Povo Moçambi-cano.

Ele não hesitou! Aceitou o convite da sua Pátria, com sentido de muita responsabilidade e urgência. Ele decidiu assim juntar-se à Frente de Libertação de Moçambique, primeiro à sua rede clandes-tina, instalada na própria Missão Anglicana de Messumba.

Mais tarde, Paulo Samuel Kankhomba parte para a Tanzania para participar na guerrilha.

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Nacionalista convicto, Kankhomba integraria o grupo que seria submetido aos treinos político-militares na República Popular da China, formação que concluiu com sucesso. De regressado à Tan-zania, seguiu para o Centro de Preparação Político-Militar de Kon-gwa, ponto de encontro dos diferentes grupos treinados em países amigos e de onde saíram os grupos que abriram as primeiras fren-tes da Luta de Libertação Nacional.

De Kongwa, Paulo Samuel Kankhomba foi enviado para o interior de Cabo Delgado, como Comissário Político Provincial.

Nessa qualidade, mobilizava mais moçambicanos:

para promoverem a Unidade de todos os moçambicanos, como condição da vitória contra o opressor estrangeiro;

mobilizava-os ainda para assumirem a justeza da sua causa pela libertação de Moçambique, missão que era da respon-sabilidade de todos os moçambicanos, e que, por conse-guinte, deviam participar na luta;

ele também os mobilizava para produzirem e estudarem.

Sobretudo, Paulo Samuel Kankhomba tinha a missão de explicar as razões da luta, elevar a moral dos guerrilheiros e motivar os com-batentes para transformarem as dificuldades da luta em desafios.

Ele desempenhou estas funções e dirigiu missões combativas, com muita dedicação, sentido de Pátria e de servir Moçambique e o seu Povo. Isso fazia com que ele fosse mais estimado e admirado pelos combatentes da Luta de Libertação Nacional.

Ainda na Província de Cabo Delgado, Kankhomba foi designado Chefe Provincial das Operações. Uma vez mais, assumiu esta tarefa com muito zelo e sentido de muita responsabilidade.

Forjado e temperado na frente do fogo libertador, este carismáti-co guerrilheiro e destemido combatente pela causa nacional, foi designado Chefe–Adjunto Nacional da Secção de Operações do De-partamento de Defesa.

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*****

Através da Luta de Libertação, o Povo Moçambicano começava a saborear os frutos da sua vitória na luta contra a dominação es-trangeira. De zonas ocupadas nasciam zonas semi-libertadas e, destas nasciam as zonas libertadas.

Nestas zonas libertadas, sob administração da FRELIMO, nascia um novo poder, o poder popular, que integrava o nosso Povo nas suas estruturas. Livres da ocupação colonial e mais motivados com a sua participação numa administração que era sua, as populações nas zonas libertadas começavam a aumentar a sua produção e a criar excedentes que eram exportados para a Tanzania. As crianças passavam a ter acesso à escola e os mais velhos à alfabetização. A emancipação da mulher estava a tornar-se uma realidade, uma vez que crescia o número de mulheres engajadas nas diferentes frentes de luta, lado a lado com os homens.

Como hoje, também naquele tempo tínhamos inimigos do bem es-tar do nosso Povo. Esses inimigos do bem estar do nosso Povo rea-giram contra o desenvolvimento e a segurança que se registava nas zonas libertadas. Eles também reagiram contra os avanços da nova administração popular e contra a emancipação da mulher. Esses inimigos do nosso Povo mobilizavam os menos esclarecidos e os ignorantes para se juntarem a eles, mesmo na tentativa de pro-clamar a independência das zonas já libertadas, contra a Unidade Nacional que defendíamos.

O alvo principal desses inimigos do nosso desenvolvimento era a direcção que liderava o nosso Povo para estes sucessos. Eles pen-savam que liquidando a Direcção da FRELIMO acabariam com essas conquistas do nosso Povo. Paulo Samuel Kankhomba pertencia a essa Direcção esclarecida da FRELIMO. Por isso, ele perde a vida,

barbaramente assassinado por esses inimigos do progresso do nosso Povo.

Esqueceram-se esses nossos inimigos que o sonho de liberdade e independência dos nossos antepassados não se revelava apenas

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através de Paulo Samuel Kankhomba. Esqueceram-se esses nossos inimigos que Paulo Samuel Kankhomba não era o único combatente que estava empenhado em transformar o sonho do Povo Moçambi-cano, de liberdade e independência, em realidade.

Por isso fracassaram. A título de exemplo:

as zonas libertadas expandiram-se e multiplicaram-se;

a produção nas zonas libertadas aumentou e foi melhor or-ganizada;

mais mulheres integraram as diferentes frentes da luta;

a nossa administração popular consolidou-se, vindo desa-guar na proclamação da Independência Nacional.

*****

Viemos a Chilola reafirmar a nossa determinação de continuar a valorizar a vida e obra de Paulo Samuel Kankhomba. Viemos igual-mente reafirmar que o seu exemplo de dedicação e de amor a Moçambique e ao seu Povo inspiram-nos na luta que hoje travamos contra a pobreza. Como na luta em que participou Paulo Samuel Kankhomba também nesta luta contra a pobreza, havemos de ven-cer.

Nós somos um Povo heróico. Nós somos filhos de uma Pátria de Heróis.

Viva a memória inesquecível de Paulo Samuel Kankhomba!

Viva a Unidade Nacional!

Moçambique Hoye!

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Os Nossos Heróis:

Fonte de inspiração na nossa Luta Contra a Pobreza 29

Reunimo-nos aqui, hoje, no quadro dos diversos eventos que es-tão sendo organizados para assinalar a passagem do quadragésimo aniversário do bárbaro assassinato, na Província do Niassa, por um agente do inimigo, do combatente da Luta de Libertação Nacio-nal, Filipe Samuel Magaia. Este nobre filho de Moçambique foi e será sempre recordado como um dos principais organizadores e propulsores do desencadeamento da Luta Armada de Libertação Nacional.

Foi igualmente, um dos impulsionadores da estratégia que resultou na constituição do embrião das Forças Populares de Libertação de Moçambique. Os cerca de 250 homens, cuja formação político-mi-litar ele coordenou, claros da sua missão patriótica e certos de que a razão lhes assistia, ainda que mal equipados, viriam a multipli-car-se num exército numeroso, combatendo de diferentes formas e em diferentes frentes. Foi este exército que através da sua acção política, militar, diplomática, cultural e cívica, entre outras, der-rotaria, dez anos mais tarde, a máquina da dominação estrangeira de Moçambique.

A vontade do Povo Moçambicano de ser dono do seu próprio desti-no não encontrou acolhimento por parte do regime colonial. Com efeito, as petições, greves e outras formas de exigência da sua in-dependência e bem-estar, não provocavam a simpatia mas a ira das autoridades coloniais que, subsequentemente, reforçavam a sua máquina de repressão e de dominação sobre os moçambicanos. Por

29Comunicação de Sua Excelência, Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na cerimónia em homenagem a Filipe Samuel Magaia, por ocasião do qua-

dragésimo aniversário da sua morte. Maputo, 10 de Outubro de 2006.

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isso, os moçambicanos aperceberam-se de que deviam encontrar outras formas de luta que pudessem, mais eficazmente, abalar os alicerces do poder colonial e forçá-lo a render-se à sua vontade.

Depois da formação da Frente de Libertação de Moçambique e da sua opção pela alternativa militar, os desafios de então incluíam, dentre outros:

A mobilização e treino de homens;

A identificação de países que pudessem assegurar essa for-mação e disponibilizar os meios necessários para se fazer face à sofisticada máquina colonial;

A identificação, no então Tanganyika, de zonas propícias para o estabelecimento de campos de treino e apoio logís-tico às frentes de combate.

Filipe Samuel Magaia é um nome a reter sempre que nos referimos a estes desafios iniciais.

Filipe Samuel Magaia desempenhou um papel preponderante na concepção da Luta Armada de Libertação Nacional. Filipe Samuel Magaia é um Herói da nossa libertação.

Por isso, celebrar os 40 anos desde que de nós foi cobardemen-te afastado para sempre, constitui uma ocasião ímpar para reme-morarmos aspectos importantes da gestação da moçambicanidade e do resgate da nossa auto-estima. Neste momento em que em-preendemos um vigoroso esforço para a implementação da nossa Agenda Nacional de Luta contra a Pobreza, evocar Magaia é buscar um exemplo inspirador para que os combatentes de hoje, contra a pobreza, se engajem com o mesmo entusiasmo dos nossos heróis, no passado.

A evocação, durante a Luta Armada de Libertação Nacional, dos combatentes nas guerras contra a ocupação colonial e a desig-nação das bases político-militares com os seus nomes, contribuiu para ligar o combate que o Povo Moçambicano travava então, com aquelas guerras anteriores, tornando-as assim, etapas do mesmo processo.

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Hoje, a necessidade desse recurso repete-se e revela-se pertinen-te: temos que ter sempre presente que a luta contra a pobreza que hoje travamos, tal como as anteriores, é feita no quotidiano. Cada um de nós deve acreditar e assumir que:

esta luta é a continuação das outras que travámos no pas-sado;

ela é necessária e inadiável dada a sua pertinência para a valorização da nossa Independência Nacional.

Mais importante ainda, temos que nos convencer que, como no passado, a vitória na luta que hoje travamos também é possível e que para acelerar o alcance dessa vitória, cada um de nós deve fazer a sua parte.

*****

Filipe Samuel Magaia fez parte da geração dos jovens que decidi-ram reacender e erguer bem alto o facho da luta contra a domi-nação estrangeira. Representando uma evolução dos processos an-teriores de luta, para a geração de Magaia, a luta só teria sucesso se estivesse integrada num esforço pro-activo e deliberado para que o conceito de Nação nascesse e florescesse. Esta tomada de consciência era, em si, uma forma de luta, que devia começar na cabeça de cada combatente. Era, em última análise, a negação da política de divisão engendrada, instigada e sustentada pelo ocu-pante estrangeiro.

Inspirada e guiada por Eduardo Chivambo Mondlane, “a Geração do 25 de Setembro” fez da Unidade Nacional o instrumento inque-brantável do processo libertador.

Filipe Samuel Magaia nasceu a 7 de Março de 1937 em Mocuba, na Província da Zambézia.

Filho de pai enfermeiro, Magaia teve a oportunidade de conviver com pessoas de diversas origens étnicas, graças às transferências frequentes a que os enfermeiros estavam sujeitos. Esta experiên-cia e as que se seguiram no quadro do cumprimento do serviço mi-

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litar português, abriram a Magaia a possibilidade de conhecer um pouco mais deste nosso Moçambique, entrando em contacto com as diversas facetas da sua beleza e dos desafios que enfrentava e, convivendo com as populações e identificando as suas aspirações.

Enquanto estudante secundário, nível que frequentou naquilo que é a actual Escola Comercial de Maputo, Filipe Samuel Magaia mili-tou no Núcleo dos Estudantes Secundários de Moçambique, NESAM. Tratou-se de uma organização juvenil que através de várias acti-vidades culturais, cívicas e, de forma discreta, políticas, forjou vários nacionalistas que se viriam engajar na Luta de Libertação Nacional.

Magaia foi obrigado a concluir o Quinto Ano naquela escola, parale-lamente com o cumprimento do serviço militar português. Estando aquartelado, na primeira parte do serviço militar, em Boane, teve a possibilidade de continuar os seus estudos, à noite, naquela mesma escola, na então cidade de Lourenço Marques.

Em 1960 ingressou no quadro dos Caminhos-de-Ferro de Moçambi-que, como Aspirante, cargo a que teve acesso após concurso públi-co, depois de cumprido o serviço militar. Este era dos poucos car-gos, com alguma proeminência, a que os moçambicanos poderiam aspirar, sob o jugo do sistema colonial segregacionista.

Na cidade da Beira, para onde fora colocado na sua condição de funcionário dos Caminhos-de-Ferro de Moçambique, Magaia viria a ser preso e encarcerado durante três meses pela famigerada PIDE.

Assim, goradas as tentativas de empreender uma luta política no interior do território colonizado e atento aos ventos de mudança que sopravam no Mundo e, particularmente, em África, Filipe Sa-muel Magaia tomou a decisão de se engajar na luta pela libertação do seu País.

Parte assim para o Tanganyiga, numa altura em que se intensifica-vam os esforços visando a unificação dos três principais movimen-tos nacionalistas numa única frente.

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*****

Desde a fase preparatória do I Congresso da Frente de Libertação de Moçambique, Filipe Samuel Magaia fazia parte dos jovens que defendiam que os moçambicanos se deviam preparar militarmente para, de armas em punho, expulsar os colonialistas do nosso Mo-çambique, caso a via pacífica não resultasse. Por isso, ele fez parte da delegação que, depois do Congresso, negociou com o Governo argelino a recepção de moçambicanos para serem submetidos à formação militar.

Bem sucedidos nas negociações, Magaia veio a pertencer ao pri-meiro grupo de jovens que foram enviados para aquele País onde se prepararam nas técnicas da guerra de guerrilhas, estratégia es-colhida para forçar o fim da dominação estrangeira em Moçambi-que.

Findo o programa de formação militar, e após o seu regresso a Dar-Es-Salam, Filipe Samuel Magaia recebeu a missão de organizar o comando militar no seio do DSD, o Departamento de Segurança e Defesa. Posteriormente, Magaia foi indigitado para a chefia deste Departamento. Assim, coube-lhe, na condição de Chefe do Depar-tamento de Segurança e Defesa, a tarefa de preparar todas as condições necessárias para o desencadeamento da Luta Armada de Libertação Nacional. A preparação destas condições incluía:

a concepção de planos de formação político-militar em países amigos, tanto dentro como fora do continente Afri-cano;

incluía também a identificação de locais apropriados para a instalação de bases de treino e de passagem no território tanzaniano;

incluía ainda, o destacamento de guerrilheiros para se ocu-parem das diferentes áreas, enquadradas no esforço geral de uma luta de libertação, sendo de destacar:

o a realização de operações de reconhecimento dentro do território nacional, e

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o a mobilização do povo para se engajar nas diferentes tarefas da Luta de Libertação Nacional.

Desejoso de aprender das experiências de outros países amigos sobre a organização de um exército popular, Filipe Samuel Magaia parte para formação na República Popular da China, chefiando um grupo de outros guerrilheiros. Ali aprofunda não só os conhecimen-tos de estruturação do exército como também adensa os seus co-nhecimentos sobre o papel do homem no sucesso de uma luta de libertação que deveria ter sempre um carácter popular.

Os sucessos iniciais da Luta de Libertação Nacional não fizeram Filipe Samuel Magaia perder de vista a noção de que os moçambi-canos travavam uma guerra contra uma autoridade colonial que:

em primeiro lugar, tinha uma administração implantada em todo o nosso Moçambique;

em segundo lugar, era apoiada por um exército regular, com diferentes ramos, sendo cada um deles constituído por numerosos efectivos e com recurso a sofisticados meios logísticos e operacionais;

em terceiro lugar, era essa autoridade colonial que domi-nava a economia moçambicana; e

em quarto lugar, essa autoridade beneficiava do apoio de outras forças que não estavam a favor da nossa libertação e Independência.

Por isso, Magaia estava claro da necessidade de se fragilizar estes pilares, incutindo, nos combatentes, o conceito de que a guerra seria prolongada. Neste quadro, ele defendia a adopção de uma estratégia que levassem ao gradual, mas crescente, desgaste mo-ral, psicológico e material das forças inimigas e de toda a máquina que sustentava a guerra colonial e a colonização de Moçambique.

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Para o sucesso desta estratégia, ele advogava que as operações mi-litares fossem desencadeadas depois de um trabalho político pro-fundo, junto das populações, e operações de reconhecimento que permitissem aquilatar a capacidade e a rotina das forças inimigas.

Todo este conjunto de ensinamentos, práticas e experiências con-tribuíram para o lançamento das bases para a constituição de um exército popular forte e patriótico. Foi pois esse embrião dos cerca de 250 homens que viria, mais tarde, a constituir-se nas poderosas Forças Populares de Libertação de Moçambique, o exército que, com o apoio das outras frentes de combate, derrotou o colonialis-mo português.

*****

As actividades que estão sendo organizadas vão contribuir para evocar e destacar o papel de Filipe Samuel Magaia no panorama político nacional. Porém, mais do que realçar a heroicidade de Ma-gaia e dos outros libertadores da nossa Pátria Amada, temos que nos interrogar sobre como estamos a assegurar a interacção entre a sua geração e a juventude de hoje para que esta herde, valorize e preserve o legado da “Geração do 25 de Setembro” e nela se inspire para a luta que hoje travamos contra a pobreza. Este é um desafio para todos nós moçambicanos, do Rovuma ao Maputo e do Índico ao Zumbo.

Muito obrigado pela vossa atenção.

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José Macamo:

Dedicado enfermeiro e destemido dirigente

da guerrilha30

Saudamos a alegria que vemos estampada no rosto desta entusiás-tica audiência, constituída por homens e mulheres de diferentes regiões de Gaza, de Moçambique e do mundo. Cada um de vós, usando os meios de que dispunha, para esta bela localidade de Mbambane se deslocou para participar na merecida homenagem ao Herói Nacional José Pahlane Macamo. Vieram atraídos pelo exem-plo de moçambicano dedicado à causa da liberdade e Indepen-dência do Povo Moçambicano que este filho de Mbambane e de Moçambique foi.

José Macamo testemunhou a dominação estrangeira, aqui em Mbambane, directamente através dos símbolos, autoridades e prá-ticas cruéis desse poder. Também testemunhou essa presença inde-sejável, de forma indirecta, através dos relatos de outros moçam-bicanos recrutados para o xibalo ou vitimas de outras injustiças.

O seu ingresso nos serviços de saúde criaram-lhe muitas mais opor-tunidades para interagir com muitos mais moçambicanos de várias origens, igualmente testemunhas dessa dominação estrangeira. Desta interacção cresceu a sua consciência de que Moçambique estava sob o jugo do mesmo sistema colonial que poderia variar as suas tácticas, nesta ou naquela zona, mas que cumpria a mesma estratégia: dominação e exploração dos moçambicanos e dos seus recursos.

30Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, nas celebrações do 40 anos do desaparecimento físico de José Macamo,

Herói Nacional. Mbambane, 5 de Outubro de 2008.

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Em Quelimane e na Beira, onde esteve a trabalhar, Macamo con-frontou-se, várias vezes, com atitudes racistas e foi vitima de de-tenções injustas e outras formas de humilhação, perpetradas por pessoas que achavam que ele, como Inspector de Saúde, não lhes deveria impor a lei. Neste ambiente cresceu o seu orgulho e maior identificação com Mbambane. Todavia, à sua aldeia natal acres-centou muitas outras aldeias, muitas outras convivências e muitas outras experiências.

Como alguns dos outros moçambicanos que se encontravam no xi-balo, no professorado, no funcionalismo público e mesmo no exér-cito colonial e noutras actividades colectivas, como o desporto e a cultura, essas aldeias, essas convivências e experiências multipli-cadas, davam a José Macamo o sentido de Moçambique dono:

de montanhas, colinas e vales sem igual;

de uma cultura, rica na sua diversidade;

de cursos de água, fauna e flora que lhe conferem uma beleza especial.

Sobretudo, davam a José Macamo o sentido de um Moçambique com uma história de bravura, heroicidade e sentido de unidade territorial, do Norte ao Sul e do Este ao Oeste. Neste cruzamento de experiências, de percursos e de visões forjou-se o sentimento nacionalista de José Macamo. Assim, ele passa a sentir que não é só filho e dono de Mbambane, mas filho e dono de todo este belo Moçambique. Desperta também para a missão histórica que esse Moçambique atribui à sua geração, a missão da libertação da terra e dos homens. Com este sentimento nacionalista a vibrar dentro de si, José Macamo adere ao chamamento da Pátria, esse seu belo Moçambique, e engaja-se na Luta de Libertação Nacional.

*****

Durante a Luta de Libertação Nacional, José Macamo, um grande animador de conversas e sempre firme nas suas posições, reve-lou-se um dedicado enfermeiro e abnegado dirigente da guerrilha. Ele tinha sempre presente que devia empenhar-se para livrar os

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combatentes de bactérias, vírus e outros males que lhes causavam dores e doenças. Ao mesmo tempo, tinha presente que a opressão colonial era um ataque violento à saúde do nosso corpo social, a nossa sociedade.

José Macamo integrou o primeiro grupo constituído por onze nacio-nalistas que foi fazer formação de guerrilha na República Popular da China. O grupo era liderado pelo Chefe do Departamento de Segurança e Defesa, Filipe Samuel Magaia, e José Macamo era seu Adjunto.

Depois da sua formação inicial na guerra de guerrilha, no Campo de Preparação Político Militar de Bagamoyo, no Tanganyika, Maca-mo dava, ao partir para a República Popular da China, passos mais firmes para contribuir para livrar o nosso corpo social, a socieda-de moçambicana, dessa doença que era a dominação estrangeira. Tanto no Centro de Preparação Político Militar de Kongwa, para onde foi depois de regressar da China, como no de Nachingueia, em cuja construção ele participou, José Macamo revelou-se um combatente determinado a livrar o corpo social de Moçambique dessa doença chamada colonialismo.

Também partilhou esta experiência com outros moçambicanos de-sejosos de verem a sua pátria livre e a prosperar porque acreditava que quanto maior fosse o número desses combatentes mais irre-versível se tornaria a libertação de Moçambique. A sua participa-ção nas operações guerrilheiras, no Niassa Oriental, faziam parte deste seu compromisso com Moçambique e o seu Povo. Também fazia parte deste compromisso a mobilização e organização da po-pulação para participar na Luta de Libertação Nacional, de diver-sas formas.

Por outro lado, Macamo acreditava que para se garantir que os combatentes se vissem livres de bactérias, vírus e outros males que lhes causavam dores e doenças era preciso multiplicar o pes-soal treinado para o efeito e a população para se defender desses males.

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Deste modo, José Macamo intensificou a organização do sistema de saúde no Niassa Oriental através:

da formação de socorristas;

da criação de postos de saúde nos destacamentos; e

da sensibilização da população e dos combatentes sobre prevenção de doenças e saneamento do meio.

Como prova desta sua entrega, José Macamo, enfermeiro e diri-gente da guerrilha, interpretava os desafios do nacionalismo como uma convocação do seu dever profissional em socorro do corpo social, da sociedade moçambicana. José Pahlane Macamo deu a sua valiosa contribuição, simultaneamente para os combatentes se verem livres de bactérias, vírus e outros males que lhes causavam dores e doenças e para Moçambique e seu Povo se livrarem dessa outra doença chamada colonialismo.

*****

José Macamo não viveu para ver os resultados do seu empenho por-que balas traiçoeiras, nas circunstâncias que foram aqui relatadas, tiraram-lhe a vida, há 40 anos. A independência nacional foi um passo importante na luta pela defesa do nosso corpo social porque Macamo se empenhou e deu a sua própria vida.

A multiplicação dos profissionais de saúde, em muitas centenas, e sua colocação em vários cantos da nossa Pátria Amada, recorda-nos o compromisso de José Macamo de assegurar que cada vez mais moçambicanos se vissem livres de bactérias, vírus e outros males que lhes causam dores e doenças. O Hospital Geral em Maputo que leva o seu nome constitui uma chama viva deste seu compromisso.

Por isso, viemos a Mbambane exaltar o pensamento que José Pahlane Macamo cultivou, no seu quotidiano, ao longo da sua vida. Segundo este pensamento, a dignidade dos moçambicanos estava posta em causa, por um lado, pela doença que afectava o seu cor-

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po social, a dominação estrangeira, e, por outro, pelas bactérias, vírus e outros males que lhes causam dores e doenças.

Viemos também reiterar que o burocratismo, o espírito de deixa andar, a corrupção e o crime são os ataques da actualidade à integridade do nosso corpo social e que, por isso, contra eles e contra as doenças endémicas continuaremos a lutar com o mesmo empenho, firmeza e determinação que José Macamo nos ensinou. Homenageemos e celebremos a vida e obra deste Herói Nacional, renovando o nosso compromisso de honra para continuarmos a va-lorizar o seu legado, lutando e vencendo esses desafios da actua-lidade, sempre unidos e a construir a nossa prosperidade em Paz.

Viva a memória inesquecível de José Macamo,

Viva a Unidade Nacional,

Moçambique Hoyé

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John Issa:

Exemplo de compatriota que soube articular e

partilhar convicções31

Há homens e mulheres que para pôr fim aos 500 anos de dominação estrangeira e para o resgate da nossa dignidade, como um Povo, inscreveram o seu nome com bravura, sentido de auto-estima e de pátria.

São homens e mulheres que, muito cedo, compreenderam que ti-nham uma missão histórica a cumprir, em nome de Moçambique e do seu Povo. A Nação Moçambicana trata estes homens e mulheres de Geração do 25 de Setembro, em reconhecimento da sua heroi-cidade no cumprimento, com sucesso, dessa missão histórica.

Trata-se de uma Geração que nasceu de um percurso abragente da Nação e que influenciou a sedimentação da moçambicanidade e, hoje, continua a inspirar a nossa Pátria Amada para os desafios do presente e do futuro, sempre numa perspectiva unitária da Nação, este belo Moçambique Unido do Rovuma ao Maputo e do Índico ao Zumbo.

A missão que a Geração do 25 de Setembro abraçou traduzia-se:

pela colocação de um ponto final à humilhação e opressão dos moçambicanos;

traduzia-se também pela revalorização da nossa cultura e artes espezinhadas pela dominação estrangeira; e

31Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na homenagem ao Herói Nacional, John Issa. Macalange, 7 de Julho de

2008.

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pela colocação de Moçambique no mesmo pedestal ocupa-do pelas outras nações do mundo.

John Issa, homem que é a razão do nosso encontro de hoje, é uma dessas figuras. Por isso, estamos aqui hoje em Macalange para ce-lebrar a vida e obra deste querido filho de Mecula e de Moçambi-que, homem que decidiu fazer a sua parte para que o sol de Junho nascesse e brilhasse para sempre, em todo o nosso solo pátrio. Vie-mos também partilhar com Macalange o orgulho de Mecula de ter um filho cujo nome ecoa em toda a nossa Pátria Amada, um nome que enriquece os manuais da História de Moçambique.

Ao celebrarmos a vida e obra deste valoroso filho desta Pátria de Heróis fazemo-lo também como um exercício pedagógico, em complemento ao trabalho dos nossos dedicados professores e dos debates que têm sido levados a cabo por diversas instituições do Estado e da sociedade civil. Deste exercício, sairemos todos, sem dúvida, política e culturalmente mais ricos e mais orgulhosos da nossa história e feitos.

*****

Nestas terras que hoje palmilhamos, John Issa passou os seus pri-meiros anos de vida e nelas formou os sentimentos e emoções que alimentariam o seu amor por Moçambique e pelo seu Povo. Quan-do ingressou na Frente de Libertação de Moçambique, ele veio provar tratar-se de um homem de convicções que fariam dele um brilhante e destemido guerrilheiro quer durante os seus treinos político-militares quer na frente de combate contra o ocupante estrangeiro.

Provada a sua capacidade de articular e agir sobre as suas con-vicções, John Issa, rapidamente passou da simples responsabiliza-ção pela sua própria arma, para merecer a confiança de assumir a responsabilidade não só de outros guerrilheiros, igualmente arma-dos, como também da mobilização e enquadramento da vontade do nosso heróico povo de lutar para ser dono dos seus próprios

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destinos. Quer como instrutor, quer como Comissário Político quer ainda como Comandante da guerrilha, John Issa irradiava confian-ça, firmeza e bravura no seio dos seus companheiros de armas. Com as suas convicções estampadas no seu rosto, ele mobilizava os guerrilheiros a amarem o Povo, em nome de quem consentiam esses indescritíveis sacrifícios.

Por outro lado, liderava as populações a garantirem a logística da guerrilha e a estudarem e a produzirem, mesmo naquelas condi-ções de uma guerra cruel e injusta que lhes era imposta pelo ocu-pante português.

com as suas convicções e actos de bravura, John Issa enri-queceu a trajectória da Geração do 25 de Setembro.

com o seu empenho e dedicação contribuiu, de forma deci-siva e significativa, para o processo de afirmação e de conso-lidação da consciência de Nação, uma Nação moçambicana que ia para além da povoação, da tribo, da região e da raça.

com os seus feitos heróicos John Issa adensava a nossa cer-teza de que a vitória estava ao nosso alcance, bastando que cada um de nós continuasse a fazer a sua parte.

Todavia, ele não viveria para ver a realização do seu sonho, o so-nho do maravilhoso Povo Moçambicano de liberdade e independên-cia. Bombas inimigas puseram fim à sua vida.

Porém, contrariamente ao que o nosso inimigo previa, essas bom-bas mortíferas não puseram fim ao sonho que alimentava as con-vicções de John Issa na frente de combate.

Impelido pelas convicções que afinal não eram apenas de John Issa, chorámos a sua morte, como a morte de um mártir, e pegámos na sua arma para continuar a luta rumo à nossa ardentemente dese-jada libertação.

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Por isso, ao ser consagrado Herói Nacional, John Issa é reconheci-do como um dos suportes da Nação Moçambicana e como uma das nossas permanentes fontes de inspiração.

*****

Para esta celebração de hoje, juntaram-se gerações de moçambi-canos que conheceram John Issa em diferentes etapas da sua vida.

estão entre nós os seus familiares directos, alguns dos quais o viram nascer e crescer;

estão aqui os que o conheceram como jovem e que com ele se iniciaram na vida e no sistema de valores do Povo Moçambicano;

estão também entre nós os seus companheiros de armas e da longa mas exaltante marcha rumo à nossa libertação.

Viemos todos, caro compatriota John Issa, reafirmar, 40 anos de-pois do teu desaparecimento físico, que o sacrifício que consentis-te, na sua forma mais alta que é a da oferta da tua própria vida, não foi em vão:

a dominação estrangeira passou para a História;

a consciência de Nação e de Unidade Nacional florescem nesta Pátria de Heróis;

a vida dos moçambicanos melhora à medida que mais mar-cos da pobreza são eliminados da nossa terra.

Viemos dizer-te que estamos a valorizar o teu sacrifício e o legado dessa valorosa Geração do 25 de Setembro.

Aos nossos jovens, exortamos para que se sintam contagiados pela heroicidade de John Issa que hoje nos reúne. John Issa lutou pela nossa Independência Nacional imbuído da convicção de que a do-minação estrangeira tinha fragilidades e que, por isso, poderia ser vencida.

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que os jovens de hoje abracem, com a mesma convicção de John Issa, a luta contra a pobreza, assumindo que ela, como a dominação estrangeira, tem fragilidades.

que depois transformem essa convicção em certeza de que, por causa dessas fragilidades, a pobreza pode ser vencida.

que se empenhem, subsequentemente, em transformar essa certeza em realidade, fazendo a vossa parte na luta contra este flagelo.

Valorizar as conquistas da Geração do 25 de Setembro e fazer a po-breza passar à história será uma digna homenagem a todos aqueles que, como John Issa, nesta bela Pátria, ousaram lutar e trazer-nos a Independência Nacional.

Viva o Heroísmo de John Issa!

Viva o Povo Moçambicano unido do Rovuma ao

Maputo!

Moçambique hoye!

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Armando Tivane:

Um Herói desta Pátria de Heróis32

As nossas primeiras palavras são de saudação a todos quantos se dignaram honrar este dia com a sua presença amiga. De longe e de perto, para aqui em Maqueze, este acolhedor e pitoresco torrão do nosso belo Moçambique, convergimos com o objectivo de nos curvarmos perante a vida e obra de Armando Tivane:

um dos combatentes da Luta de Libertação Nacional;

um dos obreiros da nossa nacionalidade;

um dos heróis nesta Pátria de Heróis.

Endereçamos uma saudação especial à população de Maqueze, de Chibuto e de Gaza, nossos anfitriões, pelo trabalho preparatório que realizaram para que esta cerimónia decorresse num ambiente que dignifica o legado de Armando Tivane, seu querido filho, valo-roso filho que a nossa Pátria Amada gerou.

*****

Em finais de Janeiro deste ano Maqueze, Chibuto e grandes exten-sões de outras regiões da Província de Gaza sofreram os efeitos das cheias que se saldaram:

em vítimas humanas a lamentar e em compatriotas nossos desalojados;

saldaram-se ainda em culturas perdidas e em muitos bens arrastados pelas águas, incluindo gado e nós sabemos o

32Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique, nas celebrações dos 40 anos do desaparecimento físico do Herói Nacional Armando Tivane. Maqueze, 1 de Setembro de 2013.

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quão precioso é o gado aqui em Maqueze, aqui no Chibuto, aqui em Gaza;

saldaram-se também em estradas cortadas, pontes destruí-das e em outras infra-estruturas arrasadas pelas águas.

Os sinais desta destruição são ainda visíveis e o seu impacto senti-do pela nossa população.

Porém, aqui no Chibuto orgulham-se de dizer que quando caiem, soerguem-se, diríamos hoje, antes do bipeiro desligar o celular. Por isso, graças ao vosso sentido de auto-estima não se resignaram perante tantas perdas e dor. Estão a soerguer-se muito rapidamen-te!

Este é também o espírito que encontramos nos homens e nas mu-lheres de Gaza e de todo o nosso Moçambique. Muito, muito obri-gado Gaza por mais estas lições de auto-estima, de determinação e de perseverança na luta contra a pobreza.

*****

Viemos celebrar a vida e obra de Armando Tivane na sua terra na-tal, facto que sublinha que os nossos heróis e as pessoas notáveis deste nosso belo Moçambique não nascem como estrelas, não nas-cem famosas.

Fazem-se heróis, pessoas famosas e de referência:

quando dão significado especial à sua vida;

quando interpretam e se apropriam da agenda de cada etapa do nosso Povo; e

quando dão uma contribuição de reconhecido valor e mé-rito à sua Pátria, ao nosso Moçambique.

No meio de tantos desafios que tinham força suficiente para lançá-lo para o anonimato, Armando Tivane soube dar rumo certo à sua vida, definindo o seu papel na História de Moçambique para, assim,

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transformar esses desafios em oportunidades que iluminariam o seu caminho para integrar o panteão dos nossos heróis.

Aqui em Maqueze Armando Tivane foi integrado no sistema dos valores milenares da sua comunidade, através da educação tradi-cional:

uma educação virada para o saber fazer, vendo como se faz e fazendo;

uma educação virada para formar o homem para saber ser e estar na sociedade;

uma educação virada para incutir valores sobre a forma como os homens e as mulheres se devem relacionar e rela-cionar-se com as instituições e a natureza.

Ele foi integrado neste sistema de valores através, por exemplo:

da participação nas actividades culturais e recreativas;

da prática da pastorícia e da agricultura de subsistência; bem como

através da participação em ritos e cerimónias da sua famí-lia e da sua comunidade.

Por causa das barreiras impostas pelo regime colonial português, Armando Tivane não tinha uma escola perto, por isso, frequentar uma instituição de ensino estava muito longe das suas possibilida-des, dos seus horizontes.

Quando emigrou para os centros urbanos como Chibuto e Maputo e, mais tarde, para as minas da África do Sul, Armando Tivane não só procurava novos meios de sustento como também ensaiava formas de dar um outro rumo à sua vida, despertando, no proces-so, para os múltiplos métodos, insidiosos e abertos, de exploração e de dominação dos moçambicanos. Neste despertar vai também consolidando a sua consciência nacionalista.

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*****

Não há palavras, actos ou homenagens que esgotem o reconheci-mento da exemplar vida e obra do Herói Nacional Armando Tivane.

Esta é uma vida cheia de lições para todos nós, é uma verdadeira escola para a presente e para as futuras gerações.

Para além de um grande promotor da cultura, cujos fundamentos adquiriu aqui em Maqueze, Armando Tivane veio a revelar-se um grande Comissário Político, durante a Luta de Libertação Nacional. Nesta qualidade tinha a missão:

de dar moral aos guerrilheiros para vencerem as dificulda-des e ganharem forças para vencerem o inimigo que nos combatia de armas na mão;

ele devia ainda explicar à população as razões que nos ti-nham levado a pegar em armas para uma luta que estava concebida para ser prolongada porque o inimigo não aceita-va entregar-nos a nossa independência e nós não desistiría-mos até conquistá-la;

ele devia também mobilizar a população para:

o produzir;

o transportar o material de guerra; e

o apoiar a guerrilha de várias formas.

Armando Tivane veio a revelar as suas qualidades de nacionalista, de guerrilheiro e, sobretudo, de Comissário Político, na Frente de Tete. Nessa altura estava em construção a Barragem de Cahora Bassa.

As águas da albufeira desta barragem seriam usadas como uma barreira para impedir o avanço da Luta de Libertação Nacional, para o que na altura se chamava de Província de Manica e Sofa-la. Esta albufeira tem cerca de 270 quilométros de comprimento,

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portanto daqui de Maqueze até mais ou menos Boane, na Província de Maputo, ou daqui de Maqueze até Machaíla, em linha recta. A distância de uma margem dessa albufeira para a outra é de cerca de 30 quilómetros, portanto daqui de Maqueze a Nalazi ou daqui de Maqueze a Fumane, em linha recta. Desta forma, esta barra-gem estava concebida para ser uma barreira difícil de transpôr pe-los guerrilheiros. Para além disso, a implantação de um colonato, como aquele que tinha sido implantado aqui perto, no Chókwè, serviria de uma outra barreira ao avanço da nossa guerrilha.

Como complemento a estas barreiras, o sistema de administração estrangeira concentrou muitas tropas e muito equipamento militar em diferentes pontos de Tete e do Vale do Zambeze.

Todavia, os nossos guerrilheiros, sob o comando de compatriotas de fibra como Armando Tivane empenharam-se para frustrar estes planos coloniais. Eles vinham de diferentes províncias de Moçam-bique e estavam unidos por uma causa justa e nobre, a causa da libertação nacional.

Por isso, sempre dizemos que como moçambicanos devemos pre-servar e valorizar a Unidade Nacional porque nós moçambicanos, de diferentes espaços geográficos deste nosso belo Moçambique libertámos juntos os diferentes espaços geográficos deste nosso belo Moçambique. É neste contexto que não se compreenderia que hoje, depois de termos lutado juntos para nos libertarmos da dominação estrangeira, hostilizássemos os nossos irmãos moçam-bicanos só porque não nasceram ali onde vivem ou trabalham ou porque não falam a língua nacional dominante nesse local. A pala-vra Unidade Nacional tem sido fundamental desde que decidimos viver como um Povo que vê na sua diversidade cultural, artística e linguística riqueza e fonte de orgulho.

Foi graças ao sentido de Unidade Nacional de homens e mulheres de valor como Armando Tivane, que colocámos, em Tete, os portu-gueses em estado de aflição ao ponto de serem forçados a convidar os rodesianos, ao serviço do regime de Ian Smith, para apoiá-los na luta contra a guerrilha da FRELIMO.

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Armando Tivane não se intimidou com a chegada desses reforços e manteve-se:

fiel aos ideais do nosso Povo;

firme no cumprimento da sua missão; e

convicto de que a vitória final seria para os moçambicanos.

Em Setembro de 1973 perde a sua preciosa vida, ao cair numa em-boscada dos rodesianos quando realizava uma missão de reconhe-cimento em preparação de mais um combate.

Tinha 36 anos de idade! Trinta e seis anos de vida!

A presença dos rodesianos no teatro das operações demonstrava que não lutávamos apenas contra o colonialismo português.

Demonstrava que lutávamos contra regimes que insistiam que Mo-çambique, África do Sul, Rodésia do Sul, hoje Zimbabwe, Namíbia e Angola deviam ser dirigidos por eles, racistas e opressores dos nossos povos.

Contudo, tentar impedir a vontade de um povo é como tentar tra-var o vento com as próprias mãos e, por isso, a vontade desses ra-cistas e opressores não teve sucesso. Armando Tivane teve a opor-tunidade de celebrar connosco a abertura da Frente de Manica e Sofala, em Julho de 1972, um marco importante na nossa marcha imparável rumo a um Moçambique livre e independente.

Porém, não testemunharia, em vida, a proclamação dessa Inde-pendência Nacional porque consentira tantos sacrifícios que culmi-nariam com o derramamento do seu precioso sangue.

*****

A melhor homenagem que podemos prestar ao Herói Nacional, Ar-mando Tivane:

passa pela valorização da nossa auto-estima, da Unidade Nacional e da nossa irrepetível Independência;

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passa igualmente pela nossa continuada entrega na imple-mentação da nossa Agenda Nacional de Luta contra a Po-breza;

passa ainda pela consolidação da Paz, para que continue-mos a registar mais conquistas na luta contra esse flagelo da pobreza;

passa, enfim, pelo reforço do Estado do Direito, diversifi-cação dos canais de diálogo e pelo respeito das instituições legítimas e legitimadas por processos democráticos, facto-res que enriquecem a referência maior na Nação Moçambi-cana: a nossa Constituição.

Memória inesquecível de Armando Tivane hoye!

Unidade Nacional hoye!

Povo Moçambicano unido do Rovuma ao Maputo hoye!

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Francisco Manyanga:

O exemplo de como se molda um Herói33

Queremos agradecer a presença amiga de todos, com particular destaque para:

os familiares e amigos de Francisco Manyanga;

os companheiros de luta deste combatente da Luta de Li-bertação Nacional;

os homens e as mulheres que se reveem no exemplo deste Herói Nacional, constituindo para eles fonte de inspiração na luta contra a pobreza.

Estamos aqui reunidos para celebrar a vida e obra de um valente filho destas terras de Charre, o Herói Nacional Francisco Manyan-ga, um compatriota que pelos seus feitos passou a ser reclamado por toda a nossa Pátria Amada, como seu filho, como filho de todos nós. Por isso, os relatos que aqui foram feitos, sobre a personalida-de, a integridade e as capacidades de Francisco Manyanga, ainda que se referindo a um período que recua dos quarenta anos para trás, não deixam de nos emocionar porque estamos perante rela-tos de um caso de persistência, coragem e entrega abnegada por causas nobres.

Estamos perante a vida e obra de:

um homem de carácter;

um político maduro;

33Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, nas celebrações dos 40 anos do desaparecimento físico do Herói Nacional,

Francisco Manyanga. Charre, 9 de Agosto de 2013.

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um nacionalista íntegro, reconhecido e aplaudido por todos os que aqui estão e por outros companheiros que com ele fizeram essa trajectória.

*****Caetano Augusto Mendonça, mais conhecido pelo seu nome de guerra, Francisco Manyanga, experientou a amargura da discrimi-nação imposta pelo regime colonial, quer no ambiente rural, onde nasceu e cresceu, quer ainda no urbano, na escola ou no trabalho, o que contrastava com o seu sentido de justiça e vontade de ajudar os outros. Manyanga não cruzou os braços perante esta situação. Inteligente, auto-didacta e empreendedor, persistiu, quer a nível da sua formação escolar, quer a nível da aprendizagem informal de línguas, quer ainda a nível da sua formação profissional, exploran-do as suas habilidades, sempre à busca de melhores condições de vida.

Como professor, Manyanga explorou a oportunidade para abrir por-tas para mais jovens realizarem o seu sonho de ter alguma forma-ção, mesmo perante as barreiras estruturais que eram impostas pelo sistema de dominação estrangeira.

Quanto mais discriminado e oprimido se sentia mais crescia em si a convicção de que lamentar não era solução para o fim dessa dis-criminação e opressão. A solução era, isso sim, responder ao cha-mamento da Pátria e juntar-se aos outros nacionalistas para pôr cobro a essa situação que colocava a dignidade e auto-estima do moçambicano em causa. É neste contexto que Francisco Manyanga se forja como um dos obreiros da nossa nacionalidade, passando a fazer parte do movimento clandestino e, mais tarde, a integrar as fileiras do movimento libertador, na Tanzania.

Antes éramos chamados portugueses. Porém, graças à luta que homens e mulheres de fibra como Francisco Manyan-ga empreenderam, reconquistámos a nossa nacionalidade: hoje somos, orgulhosamente, moçambicanos!

Antes éramos chamados Província ultramarina de Portugal, hoje somos um Estado soberano, livre e independente, com um papel a desempenhar na comunidade das nações.

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Graças à data histórica e heróica do 25 de Junho de 1962 e às labaredas que acendeu, Moçambique libertou-se dos 500 anos de dominação estrangeira. Por isso, hoje, são os moçambicanos que governam e decidem pelos seus desti-nos.

Formado como guerrilheiro na Argélia, Francisco Manyanga seria um dos fundadores dos Centros de Preparação Político Militar de Kongwa e de Nachingueia. Nestes centros exerceu com brio a fun-ção de instrutor, incutindo coragem, determinação e sentido de missão e de pátria aos guerrilheiros.

Destemido Comandante de guerrilha, Francisco Manyanga, na sua qualidade de Secretário Provincial, função que acumulava com o cargo de Chefe do Departamento de Defesa Provincial, deu um impulso ao avanço da Luta de Libertação Nacional, ao comandar, com sucesso, a reabertura da Frente de Tete. Esta frente seria fundamental para quebrar a espinha dorsal do inimigo ao alastrar as labaredas do fogo libertador para Manica e Sofala.

Com a abertura da Frente de Tete e a consequente travessia dos guerrilheiros para a margem sul do rio Zambeze, graças ao traba-lho de mobilização, organização e formação de mais guerrilheiros, sempre num convívio e relacionamento são com a população, a Independência Nacional anunciava-se muito mais próxima e mais pavor se instalava entre o regime de ocupação e dominação es-trangeira.

Este não foi o único legado de Francisco Manyanga. O Segundo Con-gresso da FRELIMO, em que ele participou como delegado, tendo depois sido eleito membro do seu Comité Central, orientou para a intensificação da produção. Francisco Manyanga seria então trans-ferido da Frente de Tete para o Centro Educacional de Tunduro, Centro que tinha como uma das suas tarefas tomar conta das crian-ças, muitas delas órfãs ou cujos pais se encontravam na frente de combate, bem assim dos compatriotas enfermos ou que tivessem contraído deficiências durante os combates, para além de mulhe-res e idosos.

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O Centro Educacional de Tunduro complementava as acções con-cebidas e desenvolvidas no Centro de Preparação Político Militar de Nachingueia, ao assumir o papel de Centro de Conferências da FRELIMO. Na verdade, ali realizaram-se:

o Primeiro Seminário do Departamento de Educação e Cul-tura, em Dezembro de 1968;

o Primeiro Seminário Pedagógico Nacional, em Janeiro de 1973; bem como

A Primeira Conferência da Organização da Mulher Moçambi-que, em Março de 1973.

Foram ainda realizadas reflexões nas áreas de saúde e produção que, como as outras, demonstram que a FRELIMO era e agia como a força dirigente de um Estado com uma agenda virada para os interesses supremos do nosso povo heróico.

*****Trazemos para a atenção da Nação Moçambicana algumas das pas-sagens da vida e obra de Francisco Manyanga para demonstrar como se molda um herói nacional, nesta Pátria de Heróis.

É a heroicidade de Francisco Manyanga que justifica a nossa pre-sença hoje, aqui em Charre.

Francisco Manyanga e os seus companheiros de luta contra a domi-nação estrangeira legaram-nos a Unidade Nacional e um Moçambi-que livre e independente. A verdadeira homenagem que podemos prestar a ele e a esses seus companheiros de luta é continuarmos a valorizar esse legado, unindo-nos e cerrando as fileiras à nossa volta para enfrentarmos os novos desafios, com fé na vitória final. Por isto, neste dia, também homenageamos os que continuam a distinguir-se e a distinguir-nos, contribuindo com a sua coragem, inteligência, mérito e empenho para a construção de um Moçam-bique cada vez melhor, livre da pobreza, mais próspero, em paz e sempre unido.

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Francisco Manyanga perdeu a sua preciosa vida aos 42 anos de idade.

Nesse curto espaço de tempo construiu uma obra que a todos nós orgulha e que perdurará para todo o sempre. Ao contemplar essa majestosa obra, cada um de nós deve interrogar-se, no silêncio da sua alma, sobre o legado que terá já construído para referência na sua família e na Nação Moçambicana.

*****Hoje, 40 anos depois do desaparecimento físico de Francisco Manyanga, este insigne filho de Moçambique, nascido neste chão de Charre, juntamo-nos e juntámos o Moçambique que ele ajudou a moldar para lhe assegurarmos que o seu sacrifício não foi em vão.

O Moçambique com que ele sonhou e lutou para que se transfor-masse em realidade está a crescer e a granjear crescente prestígio a nível regional e internacional.

Memória inesquecível do Herói Nacional Francisco Manyanga hoye!

Povo Moçambicano Unido do Rovuma ao Maputo hoye!

Unidade Nacional hoye!

Muito obrigado pela vossa atenção!

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Joaquim Marra:

Obreiro de um legado que nos inspira

hoje e sempre34

É para nós um prazer imenso retornar a estas belas, exuberantes e refrescantes terras de Caia, um regresso para tomarmos parte num evento digno e dignificante – a celebração do legado de Luís Joaquim Marra. Este é um momento solene para:

exaltarmos a vida e obra deste Herói Nacional;

rememorarmos o processo da nossa libertação; e

renovarmos a relevância dos ideais de um Moçambique livre e independente, próspero, sempre unido e em Paz, ideais porque ele deu a sua preciosa vida.

Esta cerimónia reveste-se de especial carácter cívico e his-tórico não só para a população de Caia e de Sofala como também para todo este nosso Povo muito especial. Do pon-to de vista de educação cívica esta cerimónia recorda-nos que, tal como ontem, durante o processo de libertação da dominação estrangeira, também hoje, os nossos heróis podem e estão a fazer-se em qualquer espaço do território nacional.

Sobretudo, fica aqui a lição de que entregar-se ao serviço da Pá-tria e deste maravilhoso Povo, seja em que missão e em que nível for, deve ser sempre motivo de orgulho para cada um de nós, um orgulho que nos deve impelir para a auto-superação, o zelo e a satisfação interior por estamos a cumprir essa missão com respon-sabilidade.

34Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da Repúbica de

Moçambique, nas celebrações dos 40 anos do desaparecimento físico do Herói Nacional

Joaquim Marra. Caia, 25 de Outubro de 2013.

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Importa sublinhar aqui o valor do compromisso, pois o nosso ho-menageado de hoje, quando se lançou à dura e exaltante missão de lutar pela sua pátria, não disse para si que queria conquistar o estatuto de herói, mas a sua entrega, o seu olhar crítico e visioná-rio para a conquista do ideal intemporal que foi a independência fizeram dele o homem da estatura que hoje celebramos.

Esta cerimónia assume também um carácter histórico porque neste torrão de Moçambique, banhado pelo majestoso Zambeze, entra-mos em contacto com as primeiras pegadas de um dos heróis que nesta Pátria de Heróis abraçou e deu substância e relevância

ao ideal de liberdade e independência. Nestas terras, ele teve as suas brincadeiras de infância e aqui se integrou no sistema de va-lores que expressam a diversidade cultural para enriquecer a Uni-dade Nacional.

Viemos aqui recordar que a cortina espessa da máquina colonial de opressão que ofuscava os horizontes dos homens e mulheres de Caia não logrou travar os fulminantes ventos de liberdade e inde-pendência que viriam a dar um rumo nobre à vida de Luís Joaquim Marra. Neste contexto, para este Herói nacional:

o fracasso dos nossos heróis da resistência deveria ser fonte de inspiração para a nossa vitória contra essa dominação estrangeira;

as injustiças desse sistema de dominação estrangeira deve-riam ser a levedura para efervescer o espírito nacionalista do nosso aguerrido Povo;

a vilania e a humilhação a que estávamos a ser sujeitos de-veriam catapultar-nos para o resgate da nossa dignidade e auto-estima, porque a libertação da terra estaria incomple-ta sem a libertação dos homens e das mulheres desta nossa nobre Pátria de Heróis.

*****

Nascido a 26 de Setembro de 1946, nestas terras generosas que sempre retribuem, e bem, quem as trabalha com mãos amorosas e fé no futuro melhor, Luís Joaquim José Marra sentiu desde tenra idade a opressão colonial, primeiro na discriminação no acesso à

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formação e, mais tarde, no emprego já nas Oficinas Gerais dos Ca-minhos de Ferro de Moçambique, na Beira.

Todavia, não se limitou a contemplar e a lamentar esperando que alguém alterasse essa situação política com impacto na sua vida e progresso, aliás, cada aspecto desta realidade que acima des-crevemos revelava-lhe a convicção de que deveria mudar o curso dos acontecimentos. Por isso, cedo integrou a rede clandestina da FRELIMO, tendo participado na mobilização de mais moçambicanos

para se juntarem ao nosso Movimento de resgate da nossa digni-dade e contribuído para dar uma maior expressão aos diferentes movimentos cívicos que despontavam e animavam a vida cultural, e de forma discreta, a actividade política na Cidade da Beira.

O trabalho clandestino em cuja dinamização Luís Joaquim Marra participava, envolvia muitos e constantes riscos.

Todavia, a sua determinação de içar bem alto a nobre bandeira da liberdade fez com que ele assumisse o risco e olhasse para o mesmo como mais uma oportunidade para se lançar ao trabalho político, de forma abnegada.

Quando considerou que as condições estavam criadas, tomou mais uma decisão difícil, porém digna de homens de valor como ele: iniciou a sua marcha para se juntar ao fogo libertador que partia da Tanzania.

Naquele País irmão e amigo, País que era a retaguarda segura da FRELIMO, inicia os seus treinos no emblemático Centro de Prepara-ção Político-Militar de Nachingwea.

Durante a sua formação em artes de guerrilha e em outras maté-rias da ciênca militar, Luís Joaquim Marra volta a revelar-se um acérrimo defensor da causa da libertação do nosso Povo. Integrado na Frente de Cabo Delgado, dá uma valiosa contribuição no uso efectivo da artilharia. Mais tarde, viria a aprimorar as suas habili-dades e aperfeiçoar os seus conhecimentos sobre este tipo de ar-mamento pesado, ao ser submetido a mais uma formação na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Concluída essa formação, Luís Joaquim Marra regressa à Frente de Cabo Delgado, fixando-se na Base Ngungunyane, no Segundo Sector.

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Esta Base assumia um papel de grande importância estratégica para a FRELIMO e para o avanço da Luta de Libertação Nacional pois concentrava uma parte considerável do nosso material de guerra pesado.

Nesta Base, Marra seria afecto na área de artilharia.

Durante a Luta de Libertação Nacional, a Frente de Cabo Delgado estava dividida em quatro sectores:

o Primeiro Sector estendia-se do Rio Rovuma à estrada Mueda-Mocímboa da Praia;

o Segundo Sector partia da estrada Mueda-Mocímboa da Praia ao Rio Messalo;

o Terceiro Sector compreendia a área entre o Rio Messalo e o Rio Montepuez; e

o Quarto Sector estendia-se do Rio Montepuez ao Rio Lúrio.

*****

Procurando auto-superar-se sempre no que fazia e orientava para ser feito, Luís Joaquim Marra era um dirigente que se embrenhava no trabalho e planificava todas as operações com rigor, para o seu sucesso. Foi em reconhecimento desta postura e qualidade de tra-balho e entrega pela causa nacional que Luís Joaquim Marra viria a desempenhar um papel de grande relevo na derrota da Operação Nó Górdio, lançada pelo exército colonial português em princípios de Julho de 1970 para, nas suas palavras, acabar com a FRELIMO em seis meses.

Longe estava o exército colonial de se aperceber que Luís Joaquim Marra e os seus companheiros já vinham aprimorando e aplicando, com rigor, desde o início da Luta de Libertação Nacional, princípios basilares da guerrilha.

Era com a artilharia que Luís Joaquim Marra incomodava o inimigo, durante a Operação Nó Górdio, não lhe dando tréguas e causan-do-lhe mais baixas em locais e circunstâncias que só aumentavam pavor, desespero e aflição porque não sabia quem seria a próxima vítima da nossa guerrilha.

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Assim, graças ao crescente apoio popular e ao sucesso do conjunto das outras operações guerrilheiras, como é o caso das emboscadas e do accionamento de minas, que complementavam os bombar-deamentos de artilharia, Marra e seus companheiros de armas iam desferindo pequenos mas contundentes golpes em várias partes da máquina de guerra colonial, que sangrava sem parar.

Cada vez mais anémica, em face das vitórias das nossas forças de guerrilha, a Operação Nó Górdio caminhava, gradual mas inevi-tavelmente, para a sua derrocada. De facto, esta operação fica registada na História como uma operação colonial massiva, massi-vamente derrotada pela FRELIMO.

Em reconhecimento do seu desempenho, potencialidades e capa-cidade operativa, Luís Joaquim Marra voltaria, uma vez mais, a ser submetido à formação na União das Repúblicas Socialistas Soviéti-cas, naquilo que era já a sua área de especialização e de eleição: artilharia. Concluída essa formação ele regressa, de novo, à Frente de Cabo Delgado, onde viria a assumir os cargos de Comandante Provincial Adjunto de Artilharia e de Comandante Regional do Se-gundo Sector. Uma vez mais, ele viria a evidenciar-se como um combatente abnegado, que planificava e dirigia, com sucesso, as operações contra a máquina colonial que insistia em não reconhe-cer que a sua derrota total estava eminente.

Infelizmente, a dura morte não quís que o nosso Herói testemu-nhasse a derrocada final do exército colonial português. Aos 5 de Setembro de 1973, no teatro das operações onde o nosso herói dava substância ao seu sonho de liberdade do seu povo, viria a per-der a sua vida numa emboscada perpetrada pela tropa colonial. Na sua raiva e retaliação, a tenebrosa e sanguinária PIDE chegou a prender, torturar e enterrar vivos, alguns familiares do nosso Herói Nacional.

*****

Foi graças à Luta de Libertação Nacional, à clareza e entrega de homens e mulheres do quilate de Luís Joaquim Marra que nasceria, a 25 de Junho de 1975, uma nação determinada a fazer a pobreza passar para a história, uma nação em prontidão permanente para

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desempenhar um crescente número de papéis no concerto dos Es-tados livres e independentes do mundo inteiro. Foi esta luta de Luís Joaquim Marra e dos seus companheiros de armas que:

forjou a Unidade Nacional e a comunhão de destino;

enformou a nossa nacionalidade e;

estimulou o orgulho pela nossa história, heróis e feitos.

A liberdade e independência vislumbradas e pelas quais Luís Joa-quim Marra deu a sua própria vida, são hoje uma realidade consa-grada na nossa Constituição. É esta Constituição que nos incute, como cidadãos, a noção e consciência do indeclinável dever de ob-servância e respeito pelas instituições democráticas e pelo Estado de Direito Democrático. Para isso, é fundamental que continuemos a promover e a cultivar a Paz, nas nossas mentes e no nosso rela-cionamento com outros cidadãos. Luís Joaquim Marra, que integra o panteão dos nossos heróis, é um nome que se deve invocar sem-pre que for necessário para buscarmos inspiração para continuar-mos a consolidar a Paz e, deste modo, prosseguirmos a nossa luta contra a pobreza que já está a dar resultados bem vincados mesmo aqui, em Caia!

Memória inesquecível de Luís Joaquim Marra hoye!

Unidade Nacional hoye!

Povo Moçambicano unido do Rovuma ao Maputo hoye!

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Tomás Nduda:

Nacionalista abnegado e combatente destemido35

De muitos cantos do nosso belo Moçambique convergimos para Mui-dumbe com o objectivo de dar continuidade ao movimento nacio-nal de celebração da vida e obra dos nossos heróis tombados na Luta de Libertação Nacional, há 40 anos. Este movimento foi lan-çado no dia 10 de Outubro de 2006, com a homenagem ao primeiro Chefe do Departamento de Segurança e Defesa, Filipe Samuel Ma-gaia, assassinado por balas inimigas no interior do Niassa.

Ao longo deste ano, e nos próximos, haverá mais nacionalistas cuja vida e obra deve ser celebrada e exaltada, do Rovuma ao Maputo e do Índico ao Zumbo, por todos e por cada um de nós. Participemos e diversifiquemos as formas de recordar os homens e mulheres que deram as suas vidas para que Moçambique se tornasse um Estado, livre e independente. Em memória de todos eles pedimos a todos que observemos um minuto de silêncio.

Hoje viemos homenagear Tomás Ndunda, nacionalista abnegado e combatente destemido, que estas terras de Nampanha, viram nascer. Aqui se juntam hoje muitos combatentes que com Ndu-da marcharam em muitas frentes de batalha. Os testemunhos que acabámos de ouvir dos seus companheiros de luta constituíram-se num emocionante desfiar das suas virtudes de valoroso lutador nesta Pátria de Heróis.

Viemos a Nampanha:

para ver as terras que Tomás Ndunda palmilhou;

as árvores que trepou e nelas se abrigou do calor escaldan-te; e

35Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, nas celebrações do 40º aniversário do desaparecimento físico de Tomás

Nduda. Muidumbe, 23 de Março de 2008.

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para conviver com a sua família, amigos e companheiros da longa mas exaltante caminhada rumo à nossa libertação.

Sobretudo, viemos, como sempre declaramos, reiterar que pegá-mos na arma do nosso companheiro Tomás Nduda e prosseguimos com a luta até à vitória final. Viemos reafirmar que, como ele, continuamos a realizar, pedra a pedra, o sonho de um Moçambique mais unido, em Paz e enraizando a democracia que, com ele lan-çámos os seus alicerces. Continuamos igualmente empenhados na construção da prosperidade do nosso Povo e a assegurar que este seu Moçambique, o nosso Moçambique, ocupe o seu devido lugar na Comunidade de Nações.

*****

A evocação da memória dos nossos heróis perpetua a relação que com eles devemos sempre estabelecer e manter. Sobretudo, este é um acto de reconhecimento e exaltação do seu papel na construção da nossa Pátria Amada. Eles, como os nossos antepassados, os nos-sos mitos e lendas, as nossas datas e locais históricos, são esteios da nossa própria personalidade, como um Povo, e engrandecem a nossa moçambicanidade, rica na sua diversidade e dinâmicas. Em todo este património assenta o nosso sentido de auto-estima e de orgulho por sermos donos e responsáveis pelos destinos da nossa Pátria Amada e de sermos continuadores destes nossos heróis e guardiões do património que por eles nos foi legado.

É também neste contexto político, histórico, social e cultural que se alicerçam as nossas convicções de que, como vencemos a do-minação estrangeira, também venceremos a fome, a miséria e a carência de bens essenciais à vida. Numa palavra, a vitória sobre a pobreza está ao nosso alcance. Que, como ontem, cada um de nós continue a fazer a sua parte nesta nova luta.

*****

A trajectória de Tomás Nduda que hoje celebramos e exaltamos, faz-nos reviver momentos empolgantes da nossa libertação da do-minação estrangeira e da bravura e determinação dos moçambica-nos, em todo o nosso solo pátrio, de realizar os seus sonhos. A sua

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incorporação no exército colonial em nada corroeu a sua vontade de fazer a sua parte para a nossa libertação do jugo colonial.

Pelo contrário, esse convívio com elementos do exército portu-guês, em Moçambique e em Macau, nele adensou a sua consciência e determinação em continuar a desmistificar a falsa crença de que a raça, a tribo ou a crença religiosa eram critérios para a diferen-ciação de homens e mulheres em Moçambique e no mundo. A sua incorporação também lhe deu ricas lições de táctica militar e de manipulação de artefectos de guerra que lhe vieram a ser úteis mais tarde.

O trabalho forçado a que eram sujeitos os seus compatriotas, o massacre de Mueda e os ventos da mudança que sopravam na Afri-ca Austral, incluindo a Independência do Tanganyika, impeliram Nduda a dar o próximo passo. Ele integra, assim, a rede clandesti-na do nosso movimento de libertação e assume as tarefas que lhe são confiadas, com bravura e sentido de missão e pátria. Ele con-segue encontrar formas criativas para iludir a vigilância colonial e realizar um trabalho de mobilização e de recrutamento de mais compatriotas para o movimento de libertação.

Esta experiência vai também ser-lhe útil nas próximas tarefas que recebe. Ele viria a ser treinado como guerrilheiro nas zonas li-bertadas em Moçambique, facto que testemunha a presença per-manente e crescente dos combatentes no interior, logo depois do desencadeamento da Luta de Libertação Nacional. Para que estes treinos político-militares fossem realizados havia necessidade:

de se criarem rotinas;

garantir-se a produção; e

a assistência social e logística; isto é, era necessário criar, sofisticar e exercer a administração política social e eco-nómica destes espaços geográficos, livres da dominação estrangeira. A transformação de instituições de ensino em quartéis, como aconteceu em Nambuda, era sinal de que o fogo libertador estava a ter um efeito directo sobre a máquina colonial, no seu todo, e a criar desespero no seio da instituição militar, em particular.

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Os destacamentos por onde Tomás Nduda passou, como o de Inham-bane, demonstram como, desde o início, colocámos ênfase na Uni-dade Nacional, a arma mais sofisticada que levaria à derrota de um numeroso e bem equipado exército colonial, apoiado por uma polícia política sanguinária, a PIDE, e por um sistema de adminis-tração racista e fascista.

Baptizar as bases com esses nomes retirados da toponímia nacional tinha, como um dos objectivos, cultivar e cimentar a consciên-cia, nos combatentes da nossa Luta de Libertação e na população em geral, de que Moçambique se estendia do Rovuma ao Maputo. Tinha como outro objectivo demonstrar que a guerra prolongada em que se encontravam engajados era a continuação de outras guerras de resistência que tinham tido lugar em diferentes pontos geográficos do seu Moçambique que davam nome a estas bases e destacamentos.

Hoje também notamos, com muito agrado, como, no quadro da consolidação da Unidade e consciência nacionais, localidades, ar-térias de cidades e infra-estruturas, como escolas, ostentam no-mes de heróis, de locais e de datas históricas nacionais. Por exem-plo, uma das artérias de Pemba leva o nome de Tomás Nduda. Situação idêntica encontramos em Maputo, a nossa cidade capital. Outras iniciativas de atribuição de nomes que celebram a nossa au-to-estima e o orgulho pelo nosso passado heróico estão em curso, facto que louvamos e encorajamos, exortando para a sua célere conclusão.

Tomás Nduda também se destacou pela sua bravura, tenacidade e capacidade de mobilizar o nosso Povo para a luta. Homem sem pavor, não hesitava em enfrentar o inimigo no seu próprio redu-to, onde este pensava que se sentia mais seguro: os seus próprios quartéis. Foram várias as missões de mobilização do povo, de re-conhecimento de alvos e de combate em que esteve envolvido. Em todas estas missões ele revelou-se um nacionalista abnegado e combatente destemido, sempre comprometido com a causa do Povo Moçambicano. Ele encontra a morte, justamente no cumpri-mento de mais uma destas missões, em Nambuda.

Quarenta anos depois da sua morte em combate, aqui estamos, Ca-marada Tomás Ndunda, para dizer que o sacrifício que consentiste,

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na sua forma mais alta que é a da oferta da própria vida, não foi em vão. O Moçambique porque lutaste já é livre e independente. O futuro risonho com que sonhaste para o teu Povo está em cons-trução, com a paz e com a Unidade Nacional como nossas fontes de inspiração permanente.

A jornada é ainda longa como podemos testemunhar mesmo aqui em Nampanha. Muitas são ainda as necessidades básicas a satisfa-zer, mas estamos comprometidos, como tu também estiveste, em transformar os recursos de que somos dotados, incluindo os inte-lectuais, para continuar a construir este nosso belo Moçambique. A luta contra a pobreza será, como foi a luta de libertação nacional, uma luta prolongada, mas como ontem, hoje também reafirmamos a certeza de que desta nova luta também sairemos vitoriosos. Este é o monumento que estamos a construir em tua homenagem e em homenagem a todos aqueles que deram as suas vidas por esta Pé-rola do Indico.

Reiteramos a nossa exortação para todos participarmos neste mo-vimento de exaltação da vida e obra dos nossos heróis. Este é, aci-ma de tudo, um movimento de consolidação da nossa auto-estima e de expressão do orgulho pela nossa História e feitos.

Viva a memória inesquecível de Tomás Nduda;

Viva a Unidade Nacional;

Moçambique hoye!

Muito obrigado pela vossa atenção.

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Heróis Nacionais:

Símbolos e referências na construção do

orgulho de uma Nação36

É para nós motivo de orgulho e de muita satisfação juntarmo-nos a outros compatriotas nossos, nestas belas terras de Muatide, para recordar, exaltar e celebrar a vida e obra de um moçambicano que respondeu ao chamamento da nossa Pátria Amada, ocupada e explorada, para se entregar, de corpo e alma, no processo da sua libertação. É graças ao sacrifício, dedicação e bravura de homens e mulheres da fibra de Romão Fernandes Farinha que hoje somos livres e independentes. Por isso, não haverá homenagem que possa corresponder ao que ele e ao que os outros heróis desta Pátria de Heróis fizeram por Moçambique e para os outros Moçambicanos.

graças a esses homens e mulheres de valor, hoje somos do-nos dos nossos recursos e do nosso destino;

graças a esses homens e mulheres de valor, hoje podemos participar em reuniões:

o para aconselhar o nosso governo;

o para propor melhorias na governação aqui e acolá;

o para pedir mais infra-estruturas sociais e económicas e aguardar que o nosso Governo, que é um Governo de todos os moçambicanos, um Governo que escuta o seu Povo, integre esses pedidos e conselhos na sua agenda de governação.

36Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na homenagem ao Herói Nacional, Romão Fernandes Farinha. Muatide, 23

de Abril de 2013.

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graças a esses homens e mulheres de valor, hoje, como uma Nação soberana, somos chamados a colaborar com outros países da região e do mundo nos processos de paz e segu-rança e a contribuir para as questões de desenvolvimento internacional.

Ao celebrarmos a vida e obra de moçambicanos de valor como Romão Fernandes Farinha queremos, em última análise assegurar que o seu exemplo de vida se perpetue e os valores que ajudaram a forjar e a cristalizar sejam apropriados pelas novas gerações de moçambicanos, com orgulho e sentido patriótico.

Ter homens e mulheres de valor como referência, permite ao nosso Povo muito especial orientar-se no aprofundamento da sua auto-estima e espírito patriótico, bem como na consolidação da Unida-de na diversidade e da cultura de paz e de trabalho.

*****

Romão Fernandes Farinha é uma referência quando falamos de au-to-estima, de patriotismo e de Unidade Nacional em Moçambique. Ele deve servir de bússola para os que, dentre nós, nascem com poucas posses e em famílias humildes para não baixarem os braços e deixarem de lutar por um futuro melhor. O exemplo de auto-es-tima de Romão Fernandes Farinha demonstra que podemos todos sonhar mais alto e, se acreditarmos nas nossas capacidades, pode-mos vencer os obstáculos que se colocam à nossa frente.

Acreditar, trabalhar e seguir em frente são as palavras de ordem que animaram Romão Fernandes Farinha para lutar e romper o cerco que a dominação estrangeira tinha construído à sua volta. Na verdade, o sistema de educação colonial estava desenhado para que ele e muitos dos seus contemporâneos vivessem confinados às suas aldeias. Ele acreditou que podia romper esse cerco e empe-nhou-se na sua formação até graduar-se como professor, amplian-do assim os seus horizontes.

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Ainda na sua juventude, Romão Fernandes Farinha desperta para uma missão mais nobre, a missão de participar na libertação da Pá-tria para que os nossos filhos e netos e os que viessem depois deles tivessem mais escolas, mais professores e melhores condições de vida. Junta-se primeiro à rede clandestina da FRELIMO, fazendo a sua parte na mobilização de mais compatriotas nossos para engros-sarem as fileiras do nosso movimento de libertação.

Mais tarde, Romão Fernandes Farinha é integrado num grupo que foi fazer a sua formação político-militar na antiga União das Repú-blicas Socialistas Soviéticas, mais concretamente na Ucrânia. De-pois de uma passagem pelo Centro de Preparação Político Militar de Nachinguea, para a moçambicanização dos conhecimentos que trazia, ele segue para a Frente do Niassa Ocidental. Nessa altura a FRELIMO dividia a Província do Niassa em:

Niassa Ocidental, que compreendia os actuais distritos de Lichinga, Lago e Sanga;

Niassa Oriental, que compreendia os actuais distritos de Mavago, Mecula, Majune, Marrupa, Nipepe e Metarica;e, finalmente,

Niassa Austral, que compreendia os distritos de Cuamba, Ngaúma, Mandimba e Mecanhelas.

Na Frente do Niassa Ocidental, Romão Fernandes Farinha revelou-se um comandante esclarecido, determinado e destemido.

ele comandou várias operações de sucesso contra os aquar-telamentos inimigos;

organizou várias emboscadas contra as tropas inimigas; e

desbaratou várias linhas de reabastecimento do inimigo, tornando as vias terrestres intransitáveis.

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Ao lado dos seus companheiros de armas, assegurou o crescimento do apoio popular à Luta de Libertação Nacional mesmo em face da multiplicação das atrocidades inimigas contra a população indefe-sa que incluíam:

prisões;

assassinatos; e

destruição das suas culturas.

Com a mesma mestria, zelo e entrega, Romão Fernandes Farinha viria a desempenhar as funções de Chefe Provincial do Efectivo ten-do à sua responsabilidade a compilação de informação confidencial sobre o número de guerrilheiros na Província do Niassa, cuja lista era depois enviada para o Centro de Preparação Político Militar de Nachingwea. Com base nesta informação, eram esboçados e postos em acção os planos de formação, de abastecimento em material bélico e de expansão da Luta de Libertação para outros pontos do nosso Moçambique ainda ocupado.

O seu desempenho positivo desta missão e o seu espírito patriótico levaram a direcção da FRELIMO a confiar-lhe as funções de Chefe Provincial das Operações. Nesta qualidade, passou a estabelecer metas de operações que os comandantes regionais, de Destaca-mentos, de Bases e de sub-Bases deviam efectuar contra o inimigo. Ele queria que o inimigo, estivesse onde estivesse, sentisse sempre o fogo libertador da FRELIMO. Por isso, estas ofensivas desgasta-vam, moral e materialmente, a tropa colonial e as baixas que re-gistavam, quer nos quartéis, quer nas estradas, serviam de aviso que seriam derrotados pela força invencível de um Povo em armas. Este é o maravilhoso Povo Moçambicano que não só abastecia os guerrilheiros como também os forneciam informações sobre:

movimentações das tropas inimigas;

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localização de quartéis e outros locais de concentração de tropas; bem como

sobre os seus planos de operações.

Estas informações eram conjugadas com aquelas que eram obti-das através do reconhecimento feito pelos próprios guerrilheiros e contribuíam, assim, para uma maior eficiência e impacto das nos-sas operações contra a máquina de dominação estrangeira.

Como Chefe Provincial das Operações, o Herói Nacional Romão Fer-nandes Farinha, tinha também a tarefa de visitar as Bases para fis-calizar a sua prontidão combativa, acompanhar os seus planos de ataque ao inimigo e de incutir mais coragem nos guerrilheiros. Ele não terminava a sua missão aí. Envolvia-se, directamente, na pla-nificação e na execução dos planos de ataque às tropas inimigas, comandando, ele próprio, os guerrilheiros. Deste modo, ele servia de exemplo do que ele apregoava para as forças guerrilheiras.

A sua morte a 28 de Março de 1973, abalou os guerrilheiros mas, como dizíamos, durante a Luta de Libertação Nacional, a melhor forma de chorar um camarada é pegar na sua arma e prosseguir com a luta. Foi precisamente isso que fizemos até à libertação da nossa Pátria Amada da dominação estrangeira.

*****

O Herói Nacional Romão Fernandes Farinha é uma referência quan-do falamos de Unidade Nacional. Nasceu aqui em Muatide, Cabo Delgado. Porém, foi combater contra a dominação estrangeira no Niassa, ao lado de outros moçambicanos oriundos daquela Provín-cia e de outras Províncias desta Pátria de Heróis.

Hoje, devemos buscar este exemplo para também vencermos na consolidação da Unidade Nacional, da auto-estima espírito patrió-tico e na luta contra a pobreza. Moçambicanos falantes de dife-

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rentes línguas, oriundos de diferentes espaços geográficos desta Pérola do Índico e com diferentes níveis de formação e origem social devem continuar juntos a lutar e determinados a vencer a pobreza, nos diferentes espaços geográficos onde se encontram.

Viemos hoje a Muatide dizer: queremos que o Herói Nacional Ro-mão Fernandes Farinha continue a ser uma dessas bússolas que nos orientam nesta luta.

Viva a memória inesquecível de Romão Fernandes Farinha;

Viva a Unidade Nacional;

Moçambique hoye!

Muito obrigado pela vossa atenção.

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Homens de Valor:

Referências na Luta Contra a Pobreza e na construção de um Moçambique sempre melhor37

Queremos saudar a presença de todos neste dia de exaltação da vida e obra:

de um compatriota íntegro;

um nacionalista consequente;

um combatente esclarecido e esclarecedor, um destemido comandante.

Juntamo-nos hoje para celebrar o exemplo de uma vida que se inspirou no espírito de resistência do nosso Povo contra a penetra-ção estrangeira para se forjar como combatente abnegado pela causa da liberdade e independência do heróico Povo Moçambicano. Viemos celebrar a vida de um herói, um intérprete da vontade in-domável do nosso Povo de, conquistada a independência nacional, continuar a lutar pelo seu bem-estar. Viemos exaltar e celebrar a vida de um compatriota cuja imagem, energia e sorriso contagian-tes ainda vivem nas nossas mentes e no imaginário daqueles que com ele escreveram páginas inapagáveis da nossa História.

Francisco Orlando Magumbwa juntou-se aos outros obreiros da nos-sa nacionalidade para demonstrar à dominação estrangeira que as labaredas do fogo da resistência dos nossos antepassados à sua penetração tinham apenas se transformado em fogo latente. Um

37Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na celebração da vida e obra de Francisco Orlando Magumbwa. Messumba,

17 de Junho de 2013.

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fogo embrionário que, desde 25 de Junho de 1962, tinha subido de categoria para se transformar em torrentes incandescentes de um vulcão!

*****

Francisco Orlando Magumbwa nasceu nestas belas terras que hoje nos acolhem e, com outras crianças do seu tempo, entretinham-se com brincadeiras de infância, nalgumas das quais simulavam o que lhes esperava quando fossem adultos. Este conjunto de actividades integrava:

dançar Mganda;

escutar os adultos falarem de lendas educativas e de acon-tecimentos importantes do passado; bem como

apoiar os pais em actividades domésticas e na produção agrícola.

Estas actividades tinham por objectivo preparar os jovens para a sua integração social efectiva e para serem orgulhosos promotores do sistema de valores da sua comunidade.

Ainda jovem, Francisco Orlando Magumbwa descobriu como o sis-tema de dominação estrangeira se tinha estruturado para criar barreiras para o acesso dos africanos à formação e ao progresso social. Todavia, ele não se sentiu desencorajado e enfrentou esses obstáculos com determinação, inteligência e persistência, até fa-zer o seu curso de enfermagem.

Seria esta profissão que lhe colocaria, de forma mais directa e intensa, com o nosso Povo. Através deste contacto directo com o quotidiano de mais moçambicanos sofredores, ele reforçou a sua convicção de que para além das doenças que tratava, no seu dia-a-dia, ele podia preparar-se para tratar uma outra doença mais grave ainda que também afectava os moçambicanos: esta doença chamava-se dominação estrangeira!

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Na verdade, com a formação da FRELIMO e o envio dos combaten-tes da Luta de Libertação Nacional para o interior de Moçambique, a vida na nossa Pátria Amada não mais seria como fora antes.

As mudanças, que seriam protagonizadas e lideradas pela FRELI-MO, a favor do nosso Povo muito especial, começaram a ganhar corpo, dinamismo e crescente visibilidade.

mais homens e mulheres despertaram para o facto de que a dominação estrangeira não era uma fatalidade;

mais homens e mulheres voluntariaram-se para se junta-rem à causa da libertação da Pátria;

mais homens e mulheres despertaram as consciências de mais compatriotas nossos.

Francisco Orlando Magumbwa é um destes compatriotas nossos que escutou e cumpriu com o chamamento da nossa Pátria Amada se-denta da liberdade dos seus filhos. Ele junta-se ao movimento de libertação e dá a sua valiosa contribuição para a libertação desta Pátria de Heróis.

*****Logo nos seus primeiros treinos na Base de Instrução de Mepoche, aqui no Niassa Ocidental, o Herói Nacional Francisco Orlando Ma-gumbwa, destacou-se como um nacionalista convicto, compatriota bem articulado e homem de fácil trato entre os seus companheiros da gloriosa e honrosa jornada de libertação da Pátria.

Para além da parte político-militar que entrava no seu quotidiano, ele continuou a exercer a sua profissão de enfermeiro, tratando os guerrilheiros e a população. A sua entrega pela causa do nosso povo não passou despercebida aos seus superiores hierárquicos.

Foi neste quadro que o Herói Nacional Francisco Orlando Magum-bwa foi seleccionado para frequentar um curso militar na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

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De regresso, e depois de uma passagem pelo emblemático Centro de Preparação Político-Militar de Nachingwea, para a moçambi-canização dos seus conhecimentos adquiridos no exterior, ele foi destacado para o interior de Moçambique.

Como comandante de bases da FRELIMO, Francisco Orlando Ma-gumbwa:

mobilizou a população para a defesa das Zonas Libertadas e para acções como produção, educação e saúde;

assegurou a prontidão combativa dos guerrilheiros, sob sua responsabilidade;

montou emboscadas que causavam muitas baixas ao inimigo invasor, desmoralizando-o e criando-lhe dúvidas sobre quem dos seus homens sobreviveria para testemunhar a passagem do dia seguinte;

organizou, com sucesso, operações de ataque aos aquarte-lamentos do inimigo, passando a mensagem de que nem nes-tas unidades militares se poderiam sentir seguros, a mensa-gem de que, talvez, só se poderiam sentir seguros fora de Moçambique.Face às sucessivas derrotas, o regime colonial multiplicou, através da sua sanguinária e tenebrosa polícia política, a PIDE, e das suas forças militares, as suas acções:

de brutalidade e repressão;

de prisão e desterro de nacionalistas moçambicanos; bem como

de ataque e assassinato de populações indefesas, cuja úni-ca culpa era estarem nas zonas sob controle da FRELIMO e de apoiarem a Luta de Libertação Nacional.

Para além disso, o sistema colonial de ocupação e dominação ten-tou infiltrar os seus agentes no nosso seio e obrigou as nossas forças guerrilheiras a enfrentarem, aqui no Niassa Ocidental, a combi-

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nação de todas as suas forças: marinha, força área e infantaria. Tudo isto na tentativa vã de travar, com as suas próprias mãos, os ventos da mudança, com a intensidade de uma tempestade, que eram gerados pela FRELIMO. Não conseguiram travar esses ventos da mudança porque homens e mulheres de fibra, valor e determi-nação do calibre de Francisco Orlando Magumbwa opuseram-se de arma em punho, imbuídos de espírito nacionalista e da convicção de que a sua causa era uma causa justa que, por isso, deveria triunfar. Francisco Orlando Magumbwa perdeu a vida no dia quatro de Janeiro de 1973,

morto pelas balas assassinas do inimigo. Por isso, infelizmente, não chegou a viver os momentos exaltantes da nossa libertação do jugo colonial, marcados pelo desfraldar, para todo o sempre, da nossa bandeira multicolor.

*****

O percurso do Herói Nacional Francisco Orlando Mugumbwa é um exemplo vivo e dignificante de como a História nos dá a oportuni-dade de participarmos na sua redacção e enriquecimento. O Dia de hoje constitui-se numa feliz ocasião de celebração da vida e obra de um compatriota que, com determinação e bravura, se empe-nhou em vencer muitos obstáculos para escrever belas páginas da História de Moçambique.

O acto de hoje, cheio de historicidade, simbolismo e solenidade, representa mais um momento exaltante de homenagem e reco-nhecimento dos seus feitos e da sua vida dedicada ao nosso ma-ravilhoso Povo que todos os oradores que nos antecederam, nesta cerimónia, fizeram questão de sublinhar.

As qualidades ímpares deste combatente da Luta de Libertação Nacional foram aqui destacadas porque se sente nele o exemplo e o orgulho de se ser moçambicano e de ser referência na construção da nossa Nação.

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Hoje, Francisco Orlando Magumbwa é referência na luta contra a pobreza.

É um exemplo que nos recorda que nesta Pátria de Heróis os heróis nascem e crescem como cidadãos humildes, conhecidos apenas na sua aldeia mas que, graças à forma como se apropriam e imple-mentam a agenda do nosso Povo, transformam-se em referências da Pátria, sendo, por isso, reclamados como filhos dignos de toda a Nação.

Memória inesquecível do Herói Nacional Francisco Orlando Magumbwa hoye!

Moçambique hoye!

Povo Moçambicano Unido do Rovuma ao

Maputo hoye!

Unidade Nacional hoye!

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Robati Carlos:

Dono de uma obra que orgulha a Nação

Moçambicana38

Gostaríamos de iniciar a nossa intervenção, agradecendo a todos os que estiveram envolvidos na organização desta cerimónia. Foram inúmeras as horas despendidas e muitos os sacrifícios consentidos para que este evento tivesse lugar com a qualidade e dignidade que merece e que todos estamos agora a testemunhar e a elogiar. Queremos igualmente saudar a presença de representantes de to-dos os distritos e municípios desta Província de Cabo Delgado. Das populações que dirigem, trouxeram o calor, a amizade e os votos de sucessos desta cerimónia, deste reencontro de moçambicanos de Cabo Delgado e de toda a nossa Pátria Amada.

As nossas saudações são extensivas aos grupos culturais pelas dan-ças que apresentaram, pelas canções que entoaram e pelas men-sagens que nos transmitiram através dessas danças e canções e de outras expressões culturais e artísticas que prepararam para esta festa.

Inscrevemos uma mensagem de apreciação à família do Herói Na-cional Robati Carlos, pela forma hospitaleira como nos acolheu em sua casa. Sentimos que, como nós, está consciente das responsa-bilidades que recaem sobre os seus ombros por terem gerado um homem que é reclamado por todos os moçambicanos como sua referência e exemplo a seguir.

38Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na cerimónia de homenagem ao Herói Nacional, Robati Carlos. Muadi, 17

de Março de 2012.

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Um agradecimento especial vai para os que dirigiram orações nes-ta cerimónia. Referimo-nos, em particular:

ao Senhor John Samuel, em representação da Igreja Cató-lica; e

ao Sheik Abilali Issa Liyavila, da religião Islâmica.

A todos muito obrigado pela vossa contribuição para esta festa.

*****

Reunimo-nos hoje nesta bela aldeia de Muadi para recordar, cele-brar e exaltar a vida e obra de Robati Carlos, destacado comba-tente da Luta de Libertação Nacional, um Herói desta Pátria de Heróis.

Viemos aqui para conviver com os membros da sua estimada famí-lia, com os seus amigos de infância e com os seus vizinhos. Viemos aqui para pisar a terra que ele também pisou e contemplar as pai-sagens que ele apreciou na sua juventude.

Robati Carlos foi vítima da dominação estrangeira que também oprimia todo o nosso Povo, do Rovuma ao Maputo e do Índico ao Zumbo. Ainda na sua juventude, por exemplo, testemunhou quão difícil era para um moçambicano ter acesso à educação. Na ver-dade, naquele tempo esse era um feito só conseguido por muito poucos moçambicanos e à custa de muitos sacrifícios!

Inteligente, dedicado e persistente, Robati Carlos pertenceu ao grupo desses poucos moçambicanos que venceram os obstáculos impostos pela dominação estrangeira ao seu avanço. Todavia, de-pois da 3ª Classe, as dificuldades para continuar com os seus estu-dos cresceram e teve que abandonar esse sonho, pois precisava de encontrar fontes de rendimento para si e para a sua família.

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Auto-didacta e dedicado no que fazia, Robati Carlos viria a revelar-se um alfaiate que costurava com qualidade e em tempo útil. Rapi-damente, conquistou fama não só aqui em Muadi como também em N’tamba, para onde acabaria por se mudar, facilitando o acesso da sua crescente clientela aos seus serviços.

No seu quotidiano, Robati Carlos testemunhava igualmente a hu-milhação dos seus compatriotas pela administração colonial, bem como a opressão a que eram sujeitos através, por exemplo, do tra-balho forçado e da prática de monoculturas. Às suas reclamações contra essas e outras injustiças, o colono respondia com palmató-ria, prisão e desterro.

Robati Carlos viria a demonstrar ser um jovem imbuído de auto-estima, de espírito nacionalista e animado da certeza de que os obstáculos podem ser vencidos. Deu este exemplo ao passar da constatação dessas injustiças à acção contra elas. Assim, integra a rede clandestina da FRELIMO, o nosso movimento de libertação unido e determinado, um movimento que este ano completa cinco décadas de vida. Deu assim uma valiosa contribuição para a inser-ção do nosso movimento nacionalista no seio do nosso Povo:

disseminando a mensagem de que os moçambicanos se po-deriam libertar da dominação estrangeira;

mobilizando mais compatriotas seus para a causa da liber-tação; e

incutindo confiança de todos no fim vitorioso do seu ideal de liberdade e independência.

Esta era uma missão cheia de riscos, incluindo a prisão e o assas-sinato nas mãos cheias de sangue da tenebrosa PIDE e de toda a máquina de opressão que, através dos seus agentes, exercia uma vigilância cerrada contra os que contestassem ou pusessem em causa a sua agenda de opressão e dominação. Todavia, Robati Car-

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los era um homem determinado, cheio de coragem e bravura. Por isso, ele entregava-se de corpo e alma à causa da libertação do seu belo Moçambique.

Nem a perseguição implacável exercida pela máquina de opressão, nem a sua prisão em Mocímboa da Praia e Palma, foram suficientes para debelar as labaredas das suas convicções, nem para arrefecer o seu ímpeto constante de luta pela dignidade deste Povo muito especial, o maravilhoso Povo Moçambicano.

Foi graças aos seus actos de bravura que muitos outros nacionalis-tas escaparam da prisão da sanguinária PIDE. Por exemplo, certa vez, quando se apercebeu que os movimentos dos seus camaradas estavam a ser seguidos, muito de perto, pela PIDE, decidiu reco-lher e esconder no mato uma mala contendo os cartões que eles iam distribuindo aos novos membros que, deste modo, engrossa-vam as fileiras da FRELIMO.

*****

Nos Centros de Preparação Político Militar de Bagamoyo e de Kon-gwa, na Tanzania, Robati Carlos viria a destacar-se:

como um nacionalista de grande craveira;

como um combatente de uma impressionante resistência física; e

como um político muito articulado e com grande capaci-dade de levar os seus camaradas a interiorizarem a causa do nosso Povo e a lutarem por ela, à custa de muitos sa-crifícios.

As suas virtudes de auto-didacta, de abnegação e de auto-supera-ção constante chamaram a atenção dos seus superiores hierárqui-cos. Por isso, foram-lhe sendo confiadas grandes responsabilidades quer na formação de guerrilheiros, quer no seu comando na frente do fogo libertador. Uma destas responsabilidades, foi a de chefiar

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a Base de Mepochi, no Niassa. Desta base, ele comandou os guerri-lheiros em operações tendentes:

à confinação do inimigo aos seus quartéis;

à criação de dificuldades para o seu avanço terrestre; e

ao ataque às suas colunas; bem como

ao corte das suas rotas de re-abastecimento e de comuni-cações.

Com estas acções guerrilheiras, Robati Carlos deu uma valiosa contribuição para reduzir a capacidade de mobilidade das forças inimigas do nosso Povo, no Niassa. Deste modo, ajudou a criar as condições necessárias para a consolidação das Zonas Libertadas, onde o nosso Povo lançava as fundações de um Estado Popular, ao serviço do qual:

as crianças já podiam ir à escola;

os doentes podiam ser tratados;

os camponeses podiam produzir; e

o nosso Povo podia envolver-se na construção e no usufruto da democracia participativa, uma novidade em 500 anos de dominação estrangeira.

Para o sucesso nas operações que lhe tinham sido confiadas, Robati Carlos, comandante destemido, sempre em prontidão combativa, usou os seus conhecimentos de engenharia militar que aperfei-çoara na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas para formar mais guerrilheiros nesta área e noutras áreas fundamentais para o sucesso da guerrilha. Foi assim capaz de aumentar a nossa ca-pacidade de multiplicar os pequenos golpes que íamos infligindo à formidável e sofisticada máquina de guerra colonial que acabaria por assinar a sua rendição a 7 de Setembro de 1974, como primeiro passo para a proclamação da nossa Independência Nacional a 25 de Junho de 1975.

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Sempre bem articulado e comprometido com a causa da libertação da nossa Pátria Amada, Robati Carlos teve um papel fundamental na mobilização dos seus Camaradas que pensavam que o cobarde e bárbaro assassinato do Presidente Eduardo Chivambo Mondlane re-presentava a transformação do nosso sonho colectivo de liberdade e independência em miragem e pesadelo.

Alguns destes compatriotas nossos mostravam-se divididos entre continuar na FRELIMO e aceitar a alegada vida fácil que lhes era prometida por aliciadores sem amor ao nosso maravilhoso Povo e à nossa Pátria Amada.

Robati Carlos pertence à geração dos obreiros da nossa nacionali-dade, a geração que nos brindou com a nacionalidade moçambi-cana, depois de 500 anos a sermos chamados estrangeiros no chão da nossa terra.

Ele foi um destemido guerrilheiro, um excelente comandante e um nacionalista que nos permite hoje, através da sua exemplar vida e obra, ver retratada uma importante parte do nosso trajecto, rumo à nossa libertação, conquista da nossa dignidade e independência. Ele tornou-se um dos actores desse processo de libertação, um fiel intérprete dos anseios mais profundos do nosso Povo heróico e consequente realizador desse sonho.

O seu universo político começou por ser Muadi e N’tamba, mas cedo, ele apropriou-se do território da moçambicanidade. Ele nas-ceu aqui nestas belas terras mas, graças à sua bravura e entrega pela causa do nosso Povo heróico, tornou-se herói de todo o nosso Povo e, por isso, a audiência que se reúne aqui hoje mostra e de-monstra que ele é reclamado por todos nós.

Robati Carlos deixou-nos esta valiosa lição de que o ser humano resiste a qualquer provação com estoicismo e dignidade, quando a sua luta é pela justiça e liberdade. Por isso, ele deu uma valiosa contribuição no adensar da consciência nacionalista em Muadi, em N’tamba e em todo no nosso Moçambique.

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*****Ao recordamo-nos hoje do nosso compatriota Robati Carlos, desta-ca-se entre nós a convicção de que a sua conduta e exemplo ser-vem à nossa História como referências permanentes para a cons-trução de um Moçambique sempre bem melhor para todos nós. O seu poderoso exemplo de dedicação inabalável e intransigente à causa de uma sociedade mais justa, foi o maior legado que deve-mos transmitir às actuais e às futuras gerações.

Essa é a nossa grande responsabilidade! A sua obra é património colectivo de todos nós. Ao engajarmo-nos na luta contra a pobre-za, estamos a valorizar o sacrifício deste e de outros heróis da nossa libertação. Estamos a valorizar a independência pela qual deu a sua preciosa vida.

Memória inesquecível de Robati Carlos hoye!

Unidade Nacional hoye!

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Obras biográficas da Luta de Libertação

Nacional:

Fascículos da História que nos fez, da História

que fizemos39

Quis o General Salésio que hoje revivêssemos a História que fize-mos, a História que nos fez, ao juntar-nos para este momento de lançamento da sua auto-biografia, Minha contribuição para a Independência e edificação do Estado Moçambicano: Me-mórias de um General da Linha da Frente. Decidiu, assim, juntar alguns dos protagonistas dos processos que reporta nesta obra, o da nossa libertação e o da construção do nosso Moçam-bique, livre e independente; decidiu juntar alguns protagonistas desses processos, dizíamos, com outros das gerações mais novas para que juntos reafirmássemos que somos um Povo que se orgulha da sua História, de que é obreiro, uma História que mantem cris-talina a noção:

do que fomos;

do que somos; e

do que queremos ser.

Uma História que nos recorda:

donde viemos;

onde estamos;

para onde vamos; e

como havemos de lá chegar.39Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente de Moçambique, na cerimónia de lançamento da obra de Salésio Nalyambipano, combatente da Luta de Libertação Nacional. Maputo, 29 de Novembro de 2013.

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Juntou-nos aqui para nos recordar como superámos desafios para passarmos a nossa História, de uma existência em notas de rodapé da História de um outro Povo, para se inscrever em volumes pró-prios e com as suas próprias notas de rodapé. Juntou-nos, enfim, para nos recordar do nosso desconforto colectivo com a amnésia e com uma História que se contenta apenas com a sua existência livresca.

O General Salésio decidiu, pois, que hoje ouvíssemos alguns capí-tulos da nossa História, articulados por nós próprios, protagonistas dos processos que descreve nesta obra. Nas páginas desta obra, lemos a História que fizemos, a História que nos fez, a pedir para abrirmos as alas para que ela diga “presente” e para connosco celebrar as Bodas de Ouro da filiação do General Salésio à FRELIMO, pois, foi no dia 15 de Julho de 1963, que recebeu o cartão de membro das mãos do seu cunhado, Lucas Makwati, em Luvango- Maca!

*****

Ao folhearmos este livro, observamos que a formação da consciên-cia nacionalista do General Salésio inicia a sua maturação:

no processo da sua formação escolar;

no convívio com outros jovens da época; e

na interacção com os seus colegas professores, incendiada pelo Uhuru do Tanganyika e pelas injustiças coloniais de vá-ria ordem.

Todavia, a sua determinação de que é chegado o momento de par-ticipar, de forma directa, no processo da libertação da sua Pátria conhece o ponto mais alto depois do Massacre de Mueda, como ele enfatiza nesta obra. Gerações de moçambicanos que iniciaram a sua formação depois de 1975 conhecem “Mueda” como um marco importante da nossa História. Sabem o papel que esse marco de-sempenhou na cristalização da vontade do nosso maravilhoso Povo de recuperar, pela força das armas, a sua liberdade e dignidade. Aprenderam nos bancos da escola que a Independência Nacional

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exigiu que a História fosse re-escrita para devolver ao nosso mara-vilhoso Povo o protagonismo merecido na condução dos seus des-tinos. Como alunos ou estudantes, fizeram provas em que tiveram que associar o nome “Mueda” à data “16 de Junho” e à chacina de moçambicanos, cujo crime único era a exigência da sua indepen-dência. Com a distância do tempo, alguns talvez não tenham sido capazes de recuperar o profundo sentido que o nome leva consi-go, nem de apreciar, devidamente, o protagonismo de homens e mulheres reais, homens e mulheres de corpo e alma, homens e mulheres cuja trajectória resultou em importantes fascículos da nossa História.

Com a sua autobiografia, o General Salésio embrenha-se no sentido mais profundo e no impacto multidimensional de Mueda. Deixa cla-rividente que depois de Mueda, depois daquele hediondo massa-cre, as coisas não seriam como antes ele próprio identifica-se com esse processo que mudaria Mueda e Moçambique para o melhor. O General Salésio passa, assim, a traçar a sua trajectória que tece e se tece com a epopeia que trouxe a liberdade ao nosso Povo muito especial.

O “Massacre de Mueda” adensou a sua consciência nacionalista e marcou-o profundamente não só para o resto da vida como tam-bém o resto da História que ele ajudaria a escrever, a História dum povo que se ergueu para reclamar o seu lugar no concerto das na-ções. Esta é uma História viva porque ela não é a epopeia de quem nasce herói, mas sim a História de pessoas simples e humildes que, pelas circunstâncias da vida, e também pelo seu compromisso com a pátria e com o nosso Povo, se ergueram à altura dos desafios que a História nos impôs, superando o seu início vulgar na aldeia onde nasceram para se revelarem invulgares ao longo da sua vida e, pelo seu Povo, reconhecidos como tal.

O relato autobiográfico contido neste livro integra os fascículos e capítulos da nossa História, uma História feita por todos nós, uma História que é o retrato do que devem fazer todos aqueles que assumiram o compromisso de pertença a uma nação. A questão que esta autobiografia levanta, portanto, não diz apenas respeito

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à trajectória individual que ela documenta, embora isto seja de extrema importância e seja o pretexto da nossa presença aqui. A questão diz respeito à importância que uma História viva tem na consolidação da nação para cuja realização foram necessárias vi-das como a que é aqui relatada.

Essa História viva é a História duma nação que se faz pelo empenho de cada um de nós, uma História que não é feita por heróis, mas sim produz os seus heróis, homens e mulheres simples que ganham a dimensão da epopeia dum Povo. É esta História de que este livro é um dos fascículos, uma História que tem lugar já reservado nas estantes de bibliotecas de instituições de ensino, culturais e cívi-cas bem como nas residências e outros locais abertos a privados e ao público em geral, não para ser mais um livro a acumular poeira, mas, isso sim, para ser mais uma obra que inspira a produção de outras obras, por outros protagonistas do nosso processo histórico, cujas bodas de ouro celebrámos a 25 de Junho de 2012.

Nesse lugar, este fascículo da nossa História, da História do Povo moçambicano, unido do Rovuma ao Maputo e do Índico ao Zumbo, vai ocupar essas estantes para falar sobre o que de mais sublime temos como um Povo, como uma Nação, nomeadamente, a valentia de homens e mulheres simples que souberam crescer até atingirem o tamanho da História que a realização do sonho nacional exigia. É esta História que vai permitir uma maior identificação com o bem comum, uma relação cada vez mais forte entre as novas gerações e o tempo que as antecedeu.

*****

Moçambique como Nação resulta, por um lado, do despertar da nossa consciência colectiva de que estávamos todos sob o jugo do mesmo sistema de dominação estrangeira e, por outro, da fer-mentação e efervescência da nossa vontade comum de juntar os milhões de braços desse nosso povo para sermos uma única força para:

expulsar o invasor;

defender a nossa soberania ameaçada; e

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assumirmos as rédeas do nosso destino.

Moçambique como Nação resulta ainda da cristalização da nossa consciência de comunhão de destino e da nossa reafirmada fé num fim vitorioso da nossa causa, ontem, hoje e sempre. A nossa rela-ção com Moçambique, a nossa Pátria Amada, faz-se e nutre-se a partir do reconhecimento da importância e significado destas ma-trizes nas nossas vidas e do papel que cada um de nós desempenha na sua articulação, realização e consolidação.

O General Salésio pertence à geração desses homens e mulheres que, em primeiro lugar, despertaram para a extensão das frontei-ras políticas e administrativas coloniais, que iam para além da sua região, tribo, raça ou religião. Em segundo lugar, deram expres-são à Unidade Nacional forjada pelo seu Arquitecto, o Dr. Eduardo Mondlane. Em terceiro lugar, ele integra os homens e as mulheres que se predispuseram a lutar de armas na mão para que Moçam-bique fosse um País livre e independente. Em quarto lugar, ele continua na linha da frente na luta pela realização desse sonho de 25 de Junho de 1962.

A sua vida, que ele relata neste livro, com toda a paixão que o compromisso com a terra que o viu nascer lhe incute, é um do-cumento histórico da vontade que fez este País, um monumento em honra dos homens e mulheres que fizeram das suas respectivas biografias a vanguarda e a lanterna da luta pela nossa liberdade e pela valorização da nossa independência, duramente conquistada. O General Salésio fala do seu percurso, dos desafios da vida, dos companheiros da jornada e da vontade inquebrantável do nosso Povo de se libertar da dominação estrangeira e de construir o seu belo Moçambique. Não obstante, reduzir a substância do conteúdo à pessoa seria ignorar a majestade do momento que é representa-do pelas suas memórias, pois elas são efectivamente as memórias de como:

se construiu a nossa matriz identitária;

se conquistou a nossa bandeira; e

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se urdiu o nosso hino.

É neste sentido que este livro, de leitura empolgante, não pode de modo nenhum ser apenas a história dum homem. É a História, ela própria, a formação de Moçambique como esta comunidade de valores em que nos tornámos, este país africano que brevemente vai entrar na quarta década da sua independência. Este país em cuja construção o General participou.

*****

Muito obrigado por partilhar connosco estes relatos da sua vida e, por essa via, nos proporcionar uma visita à História que nos fez, à História que nós fizemos. É uma oportunidade que nos dá para nos recordarmos que somos uma nação nascida da vontade reco-nhecida por homens e mulheres de valor, homens e mulheres cujo sacrifício pessoal nos trouxe a liberdade e independência e a con-solidação do nosso Estado.

A celebração que fazemos hoje, portanto, é a celebração da nos-sa liberdade, da nossa independência, da nossa existência como um povo soberano. Celebramos um homem, uma vida, uma obra, um País, uma História, a nossa História, a nossa determinação e compromisso com a dignidade humana. Por isso, esta obra, não é exactamente uma autobiografia da qual se espera um princípio e um fim. É, acima de tudo, a História dum povo e, por isso, tem apenas um princípio. Não tem um fim porque esse fim se consubs-tancia com a realização dos anseios do Povo sujeito dessa História, o nosso compromisso de 25 de Junho de 1962, o compromisso de construção de um Moçambique próspero, sempre unido e em Paz e com crescente prestígio no concerto das nações.

Muito obrigado pela vossa atenção!

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A documentação dos nossos processos políticos e

sociais como contribuição para a Historiografia

Moçambicana40

É para nós motivo de muita satisfação dirigirmo-nos a esta au-diência, constituída por homens e mulheres de diferentes gera-ções, testemunhos e actores de diversos processos e detentores de valiosas experiências e saberes sobre Moçambique e seu Povo. O nosso júbilo redobra-se pelo facto de aqui estarmos reunidos para testemunharmos o lançamento de uma obra que resgata, para a escrita, parte importante de uma das fases mais empolgantes do nosso percurso, rumo à nossa libertação. Efectivamente, o livro “do Rovuma ao Maputo-a Marcha Triunfal de Samora Machel”

destaca uma figura-mor nesse processo da nossa liberta-ção: Samora Moisés Machel.

descreve, mormente com recurso à fotografia, momentos emocionais da nossa História, que alguns dos presentes guardam na sua memória;

regista o entusiasmo popular e a confiança do nosso Povo na certeza do futuro que ele próprio quer construir para si mesmo, como sua contribuição para o bem estar do Povo Moçambicano.

Queremos por isso, felicitar o seu autor, Raimundo Domingos Pachi-nuapa, nacionalista convicto, combatente, desde a primeira hora, pela libertação do nosso solo pátrio, antigo Comissário Político Na-cional e Tenente-General na Reserva. Através desta obra o General

40Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, por ocasião do lançamento da obra “Do Rovuma ao Maputo: a marcha

triunfal de Samora Machel”. Maputo, 1 de Fevereiro de 2006.

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Pachinuapa e sua família encontraram nesta publicação, uma for-ma de homenagear aquele que em vida partilhou com eles muitos momentos, alguns alegres, alguns tristes.

Reunir e processar dados que resultam numa obra como esta não é um exercício fácil. Exige dedicação, concentração, persistência e, e acima de tudo, capacidade de sistematização e encadeamento da informação e dados que se tem disponíveis. O Camarada Pachi-nuapa não é hóspede neste tipo de exercícios. Porém, mais do que produzir a obra que hoje conhece a luz do dia, ele está a transmitir aos outros moçambicanos que este exercício é necessário, possível e útil à nossa sociedade e à Humanidade.

Muito obrigado camarada Pachinuapa!

Muito obrigado por esta grande oportunidade que nos dá de reen-contro com a história da libertação do Povo Moçambicano.

Muitos moçambicanos foram testemunhos e actores de importan-tes processos de impacto na vida politica, social, económica e cul-tural do nosso belo Moçambique.

Muitos guardam nas suas memórias factos que comprovam o seu patriotismo, sentido de missão e a sua capacidade de realizar ac-tos nobres.

A sua sistematização e transcrição para uma obra destas memórias e factos teria pelo menos três grandes vantagens:

a primeira é que obras desta natureza, cheias deste tipo de lições são também fontes de auto-estima porque nos tra-zem referências que nos impelem a vencer os desafios que temos pela frente, buscando inspiração noutros moçambi-canos que lograram sucessos em circunstâncias similares;

a segunda é que obras desta natureza tornaria essas lições de moçambicanidade indeléveis e disponíveis para um pú-blico mais vasto;

a terceira é que teríamos disponíveis mais obras escritas

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ou organizadas ou compiladas por moçambicanos, sobre processos moçambicanos;

Gostaríamos por isso de aplaudir esta lição exemplar que o ca-marada Pachinuapa nos ensina, a coragem que injecta nos outros moçambicanos e o desafio que lança, particularmente ao mundo académico chamando a sua atenção para o facto de existir muita matéria-prima para recolher, interpretar e disseminar.

os processos moçambicanos precisam de ser documenta-dos.

as dinâmicas moçambicanas devem ser pesquisadas e pu-blicadas.

*****

Hoje podemos sair de um canto de Moçambique para o outro num ápice. Hoje podemo-nos cruzar em diferentes pontos deste nos-so País e preocuparmo-nos não em estabelecer o grupo étnico do nosso interlocutor mas em nos recordar onde nos cruzamos em ocasiões anteriores.

Hoje podemos fixar residência em qualquer parte deste território, sermos acolhidos e ganhar a vida em qualquer espaço geográfico do nosso vasto e rico território.

Estas são conquistas que só foram possíveis graças a coragem que os moçambicanos tiveram de lutar pela sua autodeterminação, porque a colonização fomentava a divisão, semeava ódios e pro-movia estereótipos e desconfiança entre moçambicanos.

A vitória sobre a ocupação estrangeira no nosso País, abriu as por-tas para se operarem as mudanças num contexto em que tinha que ser o Povo Moçambicano a definir o seu próprio destino:

foi a marcha triunfal do Rovuma ao Maputo que exaltou e alargou estas mudanças;

foi a marcha triunfal que exaltou a Unidade Nacional entre todos os moçambicanos, a consciência de pertença a uma Pátria que se estende do Rovuma ao Maputo.

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A marcha triunfal do Rovuma ao Maputo promoveu, igual-mente outros valores e atitudes que já eram prática nas zonas sob administração da FRELIMO: o orgulho de termos uma história e cultura, heróis e conquistas porque nos po-demos orgulhar.

Samora Machel foi o precursor deste processo, seu principal dina-mizador.

Foi durante esta marcha triunfal que Samora realizava comícios durante os quais estabelecia um diálogo aberto e directo com as populações. Nestes encontros populares Samora:

ia explicando, as razões porque o Povo Moçambicano pega-ra em armas;

falava dos valores em que iria assentar a sociedade que se ia construir em Moçambique;

enfatizava o papel de cada moçambicano na reconstrução da Pátria e na restauração da dignidade ao Povo Moçambi-cano;

falava da importância da Unidade Nacional, da necessida-de de todos participarmos na eliminação das sequelas dos quinhentos anos da dominação estrangeira.

Samora irradiava nesses encontros populares a sua certeza de que com a combinação da força e da inteligência de cada um de nós, juntos, poderíamos mudar as nossas vidas e construir o bem estar do Povo Moçambicano.

Nos seus encontros populares Samora enaltecia o papel da mulher desde a luta de libertação. Ele reservava para a mulher um lugar de destaque nas tarefas de reconstrução nacional, reconhecendo-a como uma verdadeira compenheira inseparavel do homem.

A viagem triunfal de Samora pode-se, pois, considerar como uma onda que à medida que ia passando, ia cobrindo Moçambique e os moçambicanos com novos valores, novas formas de equacionar a sua participação na construção do seu futuro e novas formas de estar no mundo.

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É esta onda que acosta no Estádio da Machava:

com a chegada da Chama da Unidade;

com o hastear da nossa bandeira nacional multicolor; e

com a proclamação solene da nossa Independência.

*****

O lançamento desta obra acontece no ano em que assinalamos o vigésimo aniversário do desaparecimento físico do Presidente Sa-mora.

Herdeiro, como muitos outros moçambicanos de várias partes deste nosso belo Moçambique, de tradições da resistência do nosso ma-ravilhoso Povo, Samora assumiu o seu papel histórico de libertação com elevado sentido de missão, com muita bravura e clarividência.

Cedo revelou as suas qualidades de dirigente político esclarecido e de estratega militar de grande relevo.

Quando Eduardo Chivambo Mondlane foi assassinado por aqueles que prenunciavam que a sua morte seria o fim do sonho de um Povo sedento da sua liberdade, a figura de Samora impõe-se como sendo um clarão no meio das trevas. Ele intensifica o combate libertador até à derrocada da dominação estrangeira e subsequente procla-mação da Independência Nacional.

Samora liderou o processo de construção do Estado Moçambicano e quando menos esperávamos, foi barbaramente assassinado nas colinas de Mbuzini.

Este triste acontecimento, há vinte anos, cobriu com manto som-brio Moçambique, Africa e o mundo.

A melhor forma de valorizar os ideais porque Samora viveu e lutou:

é continuarmos a consolidar a Unidade Nacional, a promover a paz e a participação de todos na luta contra a pobreza;

é criamos e multiplicarmos as oportunidades para a

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divulgação da sua vida e obra, como o faz hoje o Camarada Pachinuapa.

A terminar gostaríamos de endereçar o nosso sincero apreço a to-dos aqueles que deram o seu saber, apoio e encorajamento para que este sonho se tornasse realidade.

Destaque particular à Marina que o próprio autor da obra chama de “companheira de luta e de vida”.

Está lançado o desafio para que outros moçambicanos se entre-guem a esta tarefa de registar

e editar memórias, recolher, tratar e publicar dados sobre os pro-cessos políticos, sociais, económicos e culturais de Moçambique. Este exercício de registar os factos históricos de Moçambique e seu Povo e uma iniciativa a ser seguida por nós todos, escrevermos a nossa história, a história de Moçambique.

Fazemos votos para que mais moçambicanos se entreguem a este exercício.

Muito obrigado pela vossa atenção.

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Luta de Libertação Nacional :

Nossa fonte de inspiração e de orgulho41

É uma grande honra e motivo de júbilo dirigirmo-nos a esta ilustre audiência que vem testemunhar o lançamento da obra que tem o nosso companheiro de armas, o Major General na Reserva Mariano de Araújo Matsinha, como figura principal. Trata-se de um livro que destaca algumas das muitas nervuras da sua vida e obra, com particular destaque para a sua participação na Luta de Libertação Nacional e na extensão do nosso modelo de Estado a todo o nosso solo pátrio.

Queremos saudar o nosso compatriota Zito Sampaio, pela iniciativa de recolher, editar e publicar o depoimento do General Mariano de Araújo Matsinha sobre o seu longo percurso político. Estendemos as nossas saudações a todos aqueles que se dignaram a prestar o seu testemunho para esta obra. No seu todo, estes depoimentos deixam clara a mensagem de que cada um de nós faz escolhas na vida, algumas das quais nobres e exemplares como aquelas que fez o General Mariano Matsinha.

A partir da celebração destas suas escolhas, que são a razão desta cerimónia, podemos dizer que a História desta Pátria de Heróis pode ser traduzida numa premissa de grande relevância e alcance. Esta premissa é: a nossa independência não foi um erro.

não foi um erro querermo-nos ver livres da dominação es-trangeira e da opressão colonial.

41Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, no lançamento da obra “Um Homem, mil exemplos: a vida e a luta de Ma-

riano Matsinha”. Maputo, 6 de Setembro de 2012.

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não foi um erro querermos ser respeitados na nossa digni-dade humana.

não foi um erro querermos ser nós, e não outros, a decidir o rumo a dar às nossas próprias vidas.

Lutámos tendo como meta a conquista da nossa independência para que fosse possível juntarmo-nos a outros povos do mundo na celebração da liberdade, da dignidade e do progresso.

Quem aceita esta premissa que é fundamental:

na nossa História;

na História que nos fez; e

na História que nós fizemos, também aceita que a vida dos homens e das mulheres que lutaram pela nossa indepen-dência não pode ter sido um erro. Aceitar essa premissa é reconhecer o valor e o papel de certos homens e mulheres no nosso devir como Nação, como um Povo.

Quem aceita esta premissa, a premissa de que lutar pela indepen-dência não foi um erro, sabe porque tem nas suas mãos ou espera ter nas suas mãos a obra “Um Homem, mil exemplos: a vida e a luta de Mariano de Araújo Matsinha”.

Quem aceita essa premissa, fez-se presente a esta cerimónia para exaltar a forma heróica:

como a nossa Pátria Amada se soergueu dos escombros da humilhação secular para repor a dignidade humana;

como enterrou o desespero para criar a esperança e a cren-ça num futuro melhor construído pelo nosso génio e mãos dextras; e

como se libertou do anonimato, da sua condenação a uma existência nas notas de rodapé duma História que não era a sua, para assumir e desempenhar um papel de grande relevo e prestígio em África e no mundo.

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Tudo isto foi possível graças à valentia dos filhos e filhas desta Pá-tria de Heróis, contando-se entre eles, este jovem da Geração do 25 de Setembro, o General Mariano Matsinha:

um dos obreiros da nossa nacionalidade;

um dos combatente da Luta de Libertação Nacional;

um dos dirigentes do nosso Estado.

Se a premissa que dá conteúdo a esta nossa reflexão consiste na ideia de que a nossa independência não foi um erro, então a Luta de Libertação Nacional ocupa um lugar de grande destaque na His-tória de Moçambique. Esta Luta não se reduz apenas aos 10 anos durante os quais nos confrontámos com o exército colonial pela via das armas, nem se limita à frente militar. Ela tem início no mo-mento em que, embora rodeados pela omnipresente máquina de repressão colonial, nos sentíamos livres nas nossas mentes.

Foi nessa altura que decidimos dizer “basta à dominação estran-geira” e nos organizámos através da FRELIMO, a 25 de Junho de 1962. Organizámo-nos para abrir várias frentes, incluindo a frente clandestina e a frente diplomática.

Moçambique nasceu neste momento principal da nossa História e na FRELIMO tivemos, pela primeira vez, a oportunidade de ver e de apreciar esse Moçambique em miniatura, um Moçambique que criávamos e que, ao mesmo tempo, nos criava como um Povo. Quer isto dizer que este momento de lançamento desta obra cristaliza a intersecção de dois grandes actores: a História de Moçambique e a biografia de homens e mulheres que criaram essa História e por essa História foram criados. Com efeito, Moçambique nasceu do cruzamento entre a marcha do tempo e todas as suas vicissitudes, por um lado, e o percurso exemplar dos seus filhos cujas vidas po-deriam ter seguido outro rumo, por outro lado.

Pensar o momento principal da nossa História é pensar o que fi-lhos valentes da nossa terra fizeram das suas vidas. Folheando esta obra,

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apercebemo-nos que os Heróis desta Pátria de Heróis não nasce-ram com uma estrela que lhes indicava o caminho a trilhar. Ne-nhum deles nasceu herói. A condição de colonizados limitava, mais ainda, as suas opções na vida.

Agravado por essa condição, cada um deles só podia nascer como uma tábua rasa, aberta para todo o tipo de inscrições. Esta é uma maneira de dizer que eles nasceram, que o General Mariano Matsi-nha nasceu potencialmente com várias vidas por viver.

Só uma dessas vidas é que se cruzou de forma feliz e nobre com a História de Moçambique: a vida de compromisso com o povo, de dedicação à causa nacional e de intransigência e perseverança na prossecução do ideal de liberdade, dignidade e progresso para este povo muito especial, o maravilhoso Povo Moçambicano.

Se a nossa independência não foi um erro, a nossa História, a His-tória do nosso povo, não pode ser um erro.

De igual modo, a biografia de homens e mulheres que fizeram essa História e por ela foram feitos não pode ser um erro. A biografia de homens como o General Mariano Matsinha é, não só o relato duma vida que valeu a pena viver - e continuar a viver –, como também o testemunho dum momento da nossa História que não foi em vão.

A biografia do General Mariano Matsinha é a vida prática a partir da qual se podem construir teorias enriquecedoras da epistemologia da Humanidade inteira. É, portanto, a História que se apresenta na sua forma mais directa e sugere, pelo relato dos momentos empol-gantes da biografia que lhe é subjacente, os quadros teóricos que os estudiosos necessitam para tornar coerente a epopeia da nossa liberdade. Todavia, porque não é possível apreciar devidamente a estatura dum homem que fez a nossa História sem um referencial teórico, a biografia do General Mariano Matsinha é a teoria ela própria, mas uma teoria que se forja nas opções que um homem valente e determinado tomou em momentos cruciais da sua exis-tência, opções essas que formaram o indivíduo que dá coerência ao relato que faz de si próprio.

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esta biografia é o nosso Moçambique em momento de intros-pecção.

é a nossa Pátria Amada que se olha no espelho e descobre o esplendor da sua História, a bravura dos seus filhos.

é, enfim, uma narrativa que explica como foi possível homens e mulheres do quilate do General Matsinha romperem com as amarras coloniais para:

o revelarem o seu talento, bravura e persistência;

o darem expressão ao chamamento da Pátria oprimida; e

o demonstrarem que afinal é possível assumir-se o con-trolo da biografia de cada um de nós.

Queremos, uma vez mais, reiterar a nossa satisfação por teste-munhar o lançamento de mais esta obra sobre o processo de li-bertação do nosso Moçambique e de construção do nosso Estado, um Estado ao serviço do nosso Povo e da sua agenda de Unidade Nacional, de Paz e de desenvolvimento.

Endereçamos palavras de apreço e gratidão a todos os que deram a sua valiosa contribuição para que esta obra pudesse conhecer a luz do dia. Façam por outros compatriotas nossos aquilo que fizeram pelo General Matsinha.

É verdade que do General Matsinha também esperamos que parti-lhe, um dia e em auto-biografia, as suas memórias.

Muito obrigado pela vossa atenção.

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José Craveirinha:

O autor de uma obra que transcende os limites do seu tempo e da sua Pátria Amada42

Num depoimento auto-biográfico de 1977, José Craveirinha, o poe-ta-mor da moçambicanidade, deixou registado:

que nasceu pela primeira vez a 28 de Maio de 1922;

que nasceu pela segunda vez quando lhe fizeram descobrir que era mulato;

que nasceu uma vez mais no “O Brado Africano”;

que foi nascendo à medida das circunstâncias impostas pe-los outros e;

que a partir de cada nascimento ele tinha a felicidade de ver um problema a menos e um dilema a mais.

Se nos permitem entrar na onda dos muitos nascimentos deste embondeiro, promotor da nossa auto-estima, podemos dizer que ele nasce hoje, uma vez mais, em Vila Borghesi e Outros Poemas de Viagem e em Tâmaras Azedas de Beirute, as duas obras que acabam de ser lançadas. Mas mais importante ainda é que José Craveirinha nasce e renasce através do seu legado, um legado que celebramos hoje, amanhã e sempre.

Com muita alegria e orgulho, juntamo-nos a todos os que, atraídos pelo exemplo da vida e obra de José Craveirinha, este nosso poe-ta, contista, prosador, jornalista e cronista, para aqui convergiram para, com a sua família, celebrar:

42Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, por ocasião do lançamento, a título póstumo, de duas obras inéditas de

José Craveirinha, com os títulos: ´Vila Borghesi e Outros Poemas de Viagem´ e ´Tâmaras

Azedas de Beirute´ . Maputo, 17 de Dezembro de 2012.

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o seu nonagésimo aniversário natalício;

o nono do seu desaparecimento físico;

o quinquénio da inauguração da sua Casa-Museu; e

o lançamento simultâneo destas duas obras inéditas.

Este evento serve de mais uma demonstração de como homens da estatura de José Craveirinha não terminam em si mesmos. Pelo contrário, eles começam em si mesmos e misturam-se com os ideais do Povo e da Nação. Tornam-se imortais.

José Craveirinha fez da literatura e da sua poesia de intervenção política, social e cultural, uma importante arma de luta contra a dominação e opressão e um poderoso instrumento de afirmação da moçambicanidade e de libertação. Trata-se de uma literatura que despertava consciências e reforçava o sentimento de libertação interior, um importante passo para quem abraçava o nacionalismo.

Esta atitude de militante pela causa da liberdade, justiça e igual-dade entre os homens e mulheres deste planeta, valores que só podiam ser alcançados com a independência de Moçambique, fi-zeram de José Craveirinha vítima do regime colonial. Por isso, tal como muitos outros nacionalistas do seu tempo, sofreu as sevícias da sanguinária e tenebrosa polícia política portuguesa, a PIDE.

Foi neste contexto que José Craveirinha foi encarcerado por 4 anos, de 1965 a 1969, acusado de fazer parte do grupo dos nacionalistas moçambicanos que, de várias formas, lutava pela libertação da terra e dos Homens.

Contudo, ainda que rodeado e vítima da multiforme e omnipresen-te opressão do regime colonial, Craveirinha, como os outros na-cionalistas, porque sentia a liberdade interior a galvanizá-lo para a acção, adensava a certeza de que muito poucos fariam muitos, para criar uma força imparável, capaz de abanar as fundações do regime colonial até ao seu desmoronamento. Vemos alguns desses marcos da liberdade no pensar de Craveirinha, num dos seus fabu-losos poemas: “Poema do Futuro Cidadão”, do qual extraímos o seguinte trecho:

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“Vim de qualquer parte

De uma Nação que ainda não existe.

Vim e estou aqui!”

Alcançada a Independência Nacional, e já cidadão daquela Nação que outrora não existia, José Craveirinha não hibernou. Como que saboreando a doce independência, duramente conquistada, ele re-carregou as baterias e com a sua pena leve, inspirada e inspirado-ra, brindou-nos com poemas extraordinários, mais tarde reunidos no livro “Babalaze das Hienas”, do qual destacamos “As Saborosas Tangerinas de Inhambane” que foram disseminadas através das on-das da Rádio Moçambique pela voz do saudoso poeta e jornalista Gulamo Khan.

O lançamento, hoje, de mais duas obras suas demonstra, de for-ma inequívoca, que José Craveirinha é um Poeta prolífico, cuja obra transcende o seu próprio ciclo de vida, não só pelo conteúdo transversal e multidisciplinar dos seus escritos, mas também, e sobretudo, pelo fôlego criador a que nos habituou desde o início da sua carreira no histórico jornal O Brado Africano. A sua carreira resultou num extenso acervo que enriquece a História de Moçam-bique e, de forma particular, o nosso género literário, sobre o qual escolas e universidades se debruçam, no país e no estrangeiro.

A decisão de transformar a sua casa em Museu abriu espaço para que mais cidadãos moçambicanos e de outros quadrantes do mun-do:

partilhem a sua criatividade;

apreciem a sua obra; e

se deleitem com o ambiente idílico que ele criou naquilo que é a Casa-Museu.

Saudamos a Família Craveirinha pela recolha e sistematização de parte do rico espólio que corporiza o legado do nosso poeta-môr, e de que frutaram as obras que conhecem, hoje, nove anos após o

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seu desaparecimento físico, a luz do dia, o renascimento, mais um, do seu autor. As nossas saudações são extensivas a todos os que contribuíram para tornar possível a realização desta cerimónia.

Saudamos o FUNDAC pela forma como acarinhou e empenhou-se na transformação do sonho da Família Craveirinha em realidade, sublinhando, deste modo, o papel do Estado Moçambicano na di-vulgação do nosso rico Património Cultural, na nossa Pátria Amada e além fronteiras. Reiteramos, neste contexto, o compromisso do nosso Governo com o resgate, promoção, divulgação e preservação da nossa cultura e artes, que são:

esteios da nossa matriz identitária;

fontes da nossa auto-estima; e

estandartes da nossa comunhão de destino.

Os festivais de artes e cultura, que temos estado a realizar, de dois em dois anos, devem também ser vistos neste prisma.

A terminar, saudamos, uma vez mais, a Família Craveirinha e todos aqueles que colaboraram para a produção e lançamento de “Vila Borghesi e Outros Poemas de Viagem” e de “Tâmaras Azedas de Beirute”. Esta é uma forma nobre e louvável de celebrar a vida e obra de um prolífico promotor da moçambicanidade e da auto-es-tima.

Muito obrigado a pela vossa atenção!

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Reencontro com José Craveirinha:

O Poeta da Moçambicanidade43

Constitui para nós motivo de grande alegria fazermo-nos hoje, aqui, presentes, nesta cerimónia de lançamento das diversas ac-tividades que corporizarão as celebrações do octogésimo quinto aniversário natalício do nosso malogrado poeta, contista, prosador e cronista, José Craveirinha. Nascido a 28 de Maio de 1922, José Craveirinha, de nós para sempre se apartou a 6 de Fevereiro de 2003, deixando um grande vazio quer nos nossos corações quer na literatura moçambicana.

No seu percurso, Craveirinha agigantou-se através da sua poesia de intervenção política, social e cultural. Trata-se de uma produ-ção literária que incomodava e embaraçava o colonial fascismo e galvanizava os moçambicanos, antes e depois da Independência Nacional, a reapropriarem-se da sua cultura, vilipendiada pelo co-lonizador, e a resgatarem a sua auto-estima, posta em causa pelas políticas de assimilação. Obras como Xigubo, Karingana wa Karin-gana, Cela 1, Maria, Babalaze das Hienas, Poemas da Prisão, entre outras, pelo seu punho escritas, constituem hoje, verdadeiras relí-quias literárias no panorama nacional e internacional e são motivo de orgulho para todos nós e constituem importantes ingredientes para a exaltação da nossa moçambicanidade. Por isso, o lugar ci-meiro que a sua obra ocupa no mosaico cultural nacional e interna-cional constitui uma demonstração do seu inestimável contributo no enriquecimento do património literário de toda a Humanidade.

*****

A passagem de mais este aniversário natalício do nosso grande poeta não é assim o único motivo que junta esta ilustre audiên-

43Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique, por ocasião do octogésimo quinto aniversário natalício do malogrado poeta

moçambicano José Craveirinha. Maputo, 22 de Junho de 2007.

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cia. A obra deste nosso poeta-mor foi, quanto a nós, o magneto mais expressivo que atraiu, para este local, homens e mulheres de diferentes cantos de Moçambique e do mundo. Falar da obra de José Craveirinha é revisitar algumas das páginas áureas da gesta da moçambicanidade e da épica luta pela nossa libertação da do-minação estrangeira. Efectivamente, com muita argúcia, coragem e determinação, José Craveirinha soube fazer da literatura uma arma para a libertação dos moçambicanos.

Por isso, é salutar que esta celebração, marcada pelo descerra-mento da lápide nesta Casa-Museu, inaugure um conjunto de ac-tividades, de âmbito cultural, em que se destacam o lançamento da obra que inclui escritos inéditos do nosso poeta-mor e do disco de poemas por ele declamados – ainda há pouco, ouvimos essa voz inconfundível de Craveirinha declamando um desses seus poemas:

com uma dicção cheia de vida e cor;

com uma entoação de muito esplendor; e

com as pausas calculadas para criar e sustentar o suspense e a insaciabilidade do auditório.

Estas obras, que vão ser lançadas no quadro das celebrações do aniversário natalício de José Craveirinha, irão contribuir para o enriquecimento do nosso firmamento literário e das nossas refe-rências bibliográficas. Este será, assim, um importante passo para a difusão da nossa literatura nesta Pérola do Índico e pelo mundo fora. Encorajamos a todos os que estão envolvidos nestes e noutros projectos em homenagem a José Craveirinha a persistirem para que esses projectos conheçam a luz do dia.

*****

Gostaríamos de saudar a todos aqueles que têm dado o seu melhor para a promoção das artes e da cultura na nossa Pátria Amada. Por todo o nosso Moçambique têm sido organizados festivais de diversa índole, concursos de canto e dança, saraus de poesia e exposições de artes plásticas, só para citar alguns exemplos. Estas diferentes manifestações culturais asseguraram o funcionamento

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pleno da cadeia de transmissão do sistema dos valores que nos são peculiares e concorrem para promover a nossa cultura, rica na sua diversidade.

é com esta diversidade que continuamos a reforçar a Unidade Nacional;

é com esta Unidade Nacional que estamos a fragilizar a pobreza no nosso rico Moçambique.

será neste rico Moçambique que construiremos a prospe-ridade para todos e para cada um de nós.

Ao longo dos cerca de dois meses de Presidência Aberta e Inclusi-va, na sua vertente de interacção com o nosso maravilhoso Povo, notámos, com muita satisfação, esta determinação e entrega dos nossos compatriotas na construção do nosso futuro melhor. Nes-te périplo, também testemunhámos o papel que a cultura está a desempenhar na implementação dessa nossa Agenda Nacional de Luta contra a Pobreza. Uma vez mais, saudamos a família Cravei-rinha pelo seu empenho para imortalizar a vida e obra do nosso grande poeta, o nosso herói nacional.

Muito obrigado pela vossa atenção!

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Libertação da Pátria Moçambicana:

Um processo glorioso e nobre mas irrepetível44

Cada etapa do nosso percurso, dá-nos oportunidades ímpares de participar na elaboração da História do nosso maravilhoso Povo, assumindo assim um lugar de relevo nas suas páginas.

O nosso companheiro de armas, o Major-General (na Reserva) João Facitela Pelembe tomou consciência de que tinha essa oportuni-dade e entregou-se a fazer a sua parte na elaboração do capítulo que lhe foi confiado, redigindo-o com letras de ouro. Por isso, o seu orgulho de ter participado e de ter palmilhado esse percurso irrepetível na nossa História é captado de forma muito feliz no tí-tulo do seu livro: Lutei pela Pátria: memórias de um combatente da Luta de Libertação Nacional.

Como ele próprio sublinha, entrou para o movimento de libertação nacional na sua aurora e hoje apresenta-nos a sua contribuição, resumida nestas páginas do livro cuja cerimónia de lançamento nos reúne aqui hoje. Com efeito, desde que se juntou à epopeia liber-tária do nosso Povo heróico, o General Pelembe esteve envolvido, de corpo e alma, nas acções de materialização do ideal de liberda-de e independência desta Pátria de Heróis. Foi neste contexto que integrou o Comando das Frentes de combate do Niassa, de Cabo Delgado e de Tete.

Foi neste contexto que também esteve, nas Zonas Libertadas, na organização da população para:

44Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, por ocasião do lançamento

do livro de memórias de João Facitela Pelembe, com o titulo: ´Lutei pela Pátria: memó-

rias de um combatente da Luta de Libertação Nacional´. Maputo, 2 de Agosto de 2012.

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a sua auto-defesa;

produção; e

para uma variada gama de acções sociais.

Foi ainda neste contexto que esteve sempre com os guerrilheiros e com a população, mobilizando-os e incutindo-lhes o espírito de sacrifício, de pátria e de missão. Ele fez a sua parte, e de forma brilhante, para que a guerra prolongada em que estávamos envol-vidos continuasse a desgastar o inimigo, física e psicologicamente, através dos pequenos mas persistentes golpes que lhe desferíamos no quotidiano, e nos galvanizasse, como um Povo, para mantermos incólume a indefectível fé no fim vitorioso da nossa causa, custasse o que custasse.

Como documenta o General Pelembe, nesta sua obra, a Luta de Libertação Nacional não era um convite para um jantar, o que ex-plica que tenha havido muitos mártires, causados pelo inimigo, de forma directa, pela via dos ataques às nossas bases, e de forma in-direta, pela via dos seus infiltrados no nosso seio. Assim, o comba-tente da Luta de Libertação Nacional tinha, por um lado, que lutar contra o colonial-fascimo português, de armas na mão ou através do seu estoicismo face às torturas e sevícias a que era submetido nas suas masmorras. Por outro lado, tinha que lutar internamente, consigo mesmo, para reiterar a si próprio e no quotidiano, que era um digno continuador de uma missão nobre iniciada pelos heróis da resistência à penetração colonial em Moçambique. Tinha, enfim, que se compenetrar do facto de que nós, os moçambicanos, e mais ninguém, deveríamos ser os heróis da nossa própria libertação da dominação estrangeira.

Trata-se de uma dominação estrangeira sobre a qual o General Pelembe lança um feixe de luz para nos trazer algumas ilustrações das várias formas de humilhação, discriminação e opressão que utilizava. Por exemplo:

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ele recorda-nos como o moçambicano era obrigado a fazer em seis anos o ensino primário que os europeus faziam em quatro.

ele explica-nos que era um exímio avançado-centro, o que voltaria a demonstrar durante a Luta de Libertação Nacio-nal.

todavia, viu recusada a sua integração numa determinada equipa de futebol em Lourenço Marques, que dele muito precisava, simplesmente porque não era assimilado!

a praia da Costa do Sol estava vedada aos filhos da terra, porque reservada para os europeus. Aos donos da terra, aos moçambicanos, restavam áreas como a zona da SONE-FE, segundo nos recorda o General Pelembe.

ele também nos fala da sua injusta detenção, por volta das 21:00, no chão da sua terra, pela polícia colonial, porque não trazia consigo o seu documento de identificação. Teve que pagar uma multa para sair daquela prisão!

*****

Do Rovuma ao Maputo e do Indico ao Zumbo, estamos hoje enga-jados numa longa marcha, uma marcha que visa a nossa libertação da pobreza para no lugar deste flagelo erguermos o edifício do nosso bem-estar. Quer dizer, o primeiro passo, como na Luta de Libertação Nacional, é livrarmo-nos do que nos oprime e atenta contra a nossa dignidade para depois darmos os passos necessários rumo à realização do nosso sonho de 25 de Junho de 1962, o sonho de prosperidade e bem-estar num Moçambique sempre unido e em paz e com crescente prestígio no concerto das nações.

Os passos para a realização desse desiderato são dados por cada um de nós, moçambicanos, e por todos nós em conjunto. As vi-tórias que estamos a registar contra a pobreza são resultado do empenho de cada um de nós e devem ser celebrados não apenas

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como marcos, mas, e sobretudo, como fontes de inspiração para nos compenetrarmos da certeza de que nós, os moçambicanos, com cada um a fazer a sua parte, seremos, uma vez mais, os heróis da nossa própria libertação da pobreza.

A longa marcha dos 13 anos de luta pela nossa independência, de-sencadeada com a união dos moçambicanos, tem rostos concretos, homens e mulheres que hipotecaram a sua juventude e juntaram sinergias para que a causa do nosso Povo triunfasse.

Foram esses moçambicanos, bravos e briosos, esses obreiros da nossa nacionalidade, irmanados pelo desejo de ver o país livre do jugo colonial, que construíram as bases e nos trouxeram a irrepetí-vel independência, para o gozo pleno dos nossos direitos e sermos donos do nosso próprio destino.

Nesta obra, o General Pelembe mostra-nos uma outra faceta das suas múltiplas habilidades. Ele revela-se um excelente narrador, que, através dos enredos, da sua bem urdida tessitura, cativa o leitor a com ele embrenhar-se por esse passado de opressão, mas, ao mesmo tempo, de luta e de heroicidade dos destemidos Comba-tentes da Luta de Libertação Nacional e dos pioneiros na constru-ção do Estado Moçambicano.

traz-nos histórias de sucesso, como a consolidação das frentes e a sincronia entre os guerrilheiros e a população;

fala-nos de episódios dolorosos como a perda de um com-panheiro de armas de substancial quilate como John Issa;

ele demonstra a capacidade de reacção da FRELIMO para enfrentar desafios. Relata-nos, por exemplo, a reorgani-zação que foi preciso empreender, para minimizar os ele-vados danos que poderiam ser infligidos à população e à luta por guerrilheiros que se entregavam ao inimigo com os nossos planos de guerrilha, passando a guias da tropa colonial nas suas acções de chacina.

conta-nos casos anedóticos como aquele em que uma ca-marada do Destacamento Feminino, em Cabo Delgado, lhe aconselhou, debaixo de um intenso bombardeamento ini-

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migo, a não abrir a boca porque o brilho dos seus dentes poderia denunciar a localização dos guerrilheiros, tornan-do-os alvos da aviação inimiga! Ele cumpriu com o conse-lho!

O General Pelembe documenta o convívio entre a FRELIMO e ou-tros movimentos de libertação da África Austral em Kongwa, na Tanzania, um convívio que se mantém inquebrantável até aos dias de hoje e que serve de pilar que sustenta o processo de integração regional no âmbito da SADC. Documenta ainda o apoio ao ANC, da África do Sul, e à ZANU, do Zimbabwe, na sua preparação em guer-ra de guerrilha nas Zonas Libertadas de Tete.

Recolher, editar e publicar as nossas memórias constitui-se num exercício necessário e pertinente para que as gerações vindouras reconheçam e se apropriem não só da heroicidade dos Heróis des-ta Pátria de Heróis, mas do ambiente em que essa heroicidade foi construída e cristalizada. É preciso que as gerações futuras tenham a dimensão do preço alto que tivemos que pagar para sermos livres da dominação colonial fascista. É preciso que as gerações vindou-ras saibam que uma deserção ou uma traição saldava-se em muitas perdas de vidas humanas! É preciso que saibam que foi graças:

à auto-estima;

à disciplina;

à consciência patriótica;

à Unidade Nacional; e

ao trabalho com o nosso Povo que sempre soubemos supe-rar os desafios em presença. Hoje não seria de outro modo!

É neste prisma que vemos o lançamento da obra “Lutei pela Pátria” como um acto de educação patriótica de grande alcance. Mais do que um exercício de dar um testemunho de participação no nosso devir como Nação, este é um importante exercício de reconstituição da História da nossa Pátria Amada. Este é mais um indispensável fascículo, escrito com letras de ouro, que vem enriquecer a nossa História.

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Publicações deste género permitem que sejam cruzados testemu-nhos diferenciados de homens e mulheres que estiveram envolvi-dos em diferentes frentes, em diferentes missões e em diferentes níveis de participação e ou de direcção da Luta de Libertação Na-cional e do processo de alargamento, a todo o nosso Moçambique, do modelo de Estado que concebemos e vínhamos aprimorando desde a sua génese em 1962.

*****

Convergimos para este local para lhe felicitar por esta obra. So-bretudo, estamos aqui para saudar e reconhecer os seus feitos na nossa saga independentista, gloriosa e vitoriosa. Ao felicitar-lhe por esta obra, fazemos votos para que ela inspire os demais obrei-ros da nossa nacionalidade, essa geração do 25 de Setembro, a primarem por este caminho.

Muito obrigado pela vossa atenção.

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Malangatana:

O Filho prodigioso que Matalana gerou45

Convergimos de vários pontos da nossa Pátria Amada e do Mundo para, aqui em Matalana, participar na homenagem ao Grande Mes-tre que este belo torrão de Moçambique gerou.

Referimo-nos a este homem de olhar imponente e penetrante, de uma voz timbrada, livre e libertadora, um homem humilde, gene-roso e de fácil trato.

Referimo-nos ao Grande Mestre Malangatana Valente Ngwenya.

A composição tão diversa da audiência que testemunha este acto, reflecte as múltiplas facetas do homenageado. Ele é pintor, escul-tor, poeta, dançarino, dinamizador das artes e cultura, político e promotor da paz e da harmonia entre os homens e uma perso-nalidade de intervenção substantiva, só para mencionar algumas dessas facetas.

a composição tão diversa desta audiência reflecte ainda o facto de, há muito que Malangatana Valente Ngwenya, ter elevado o seu nome para além de Matalana;

reflecte, igualmente, a simpatia que ele granjeia em Mo-çambique e no resto do Mundo.

Malangatana Valente Ngwenya nasceu há 70 anos, e hoje é um ho-mem do Mundo:

sendo ele de Matalana já não pertence, de todo, a Matala-na;

45Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na cerimónia de homenagem ao Grande Mestre Malangatana pelos seus 70

anos. Matalana, 7 de Maio de 2006.

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sendo ele de Moçambique, já não pertence apenas a esta Pérola do Indico.

Malangatana pertence a Africa.

Malangatana pertence a todos os povos do mundo e a sua arte é Património da Humanidade.

A sua trajectória começou nestas terras de Matalana das quais ele nunca se desligou.

Por isso, é feliz, louvável e salutar a decisão que se tomou de se realizar esta homenagem, exactamente onde tudo começou.

Como a esmagadora maioria das crianças de Matalana, do seu tem-po, Malangana iniciou o seu processo de socialização no sistema de valores da sua comunidade envolvendo-se em várias actividades indutoras:

enchotou galinhas que tentavam debicar os cereais que a mãe reparava ou a comida já pronta nos pratos;

apascentou cabritos, montou armadilhas, experimentou e saboreou diferentes frutos silvestres; e

graduou-se, depois, para pastor de bovinos, aprofundando os seus conhecimentos sobre o meio ambiente e as dinâmi-cas sociais locais.

Neste processo de absorção dos valores da sua comunidade:

familiariza-se com as diferentes instituições locais;

descobre os critérios e os fundamentos da hieraquização, dentro da sua comunidade;

interioriza as tradições, as lendas e os mitos da sua comu-nidade, através das canções, estórias e provérbios.

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O seu pai era mineiro e passava longos períodos afastado da sua família. Por isso, Malangatana cresce muito ligado à sua mãe, de quem aprecia o desenho e as cores com que decorava cabaças ou bordava cintos de missangas.

Em 1947, sua mãe adoece e Malangatana, na tenra idade dos onze anos, vê-se na contingência de apoiar a médica tradicional que a trata. Neste processo, ele acaba por se inserir nos segredos e misticismos desta medicina milenar, um dos componentes da nossa rica e dinâmica diversidade cultural.

São estes saberes, experiências e convivências, adquiridos no pro-cesso de socialização, que terão contribuido para:

lhe conferir o cunho artístico que hoje o notabiliza;

a empatia pelo Povo Moçambicano que demonstra; e

o espírito de perseverança que o caracteriza.

*****

À sua personalidade social, em formação, Malangatana agrega a formação escolar, entrando, aos nove anos, na Escola da Missão Suiça na Matalana.

Aqui aprende a ler e a escrever, em ronga, e inicia-se na religião e no canto coral.

Com o encerramento da sua escola, no quadro da aplicação dos acordos entre Portugal e a Santa Sé, Malangatana tem então que se transferir para a Escola da Missão Católica em Bulázi. Aqui, depois de concluir a terceira classe rudimentar, em 1948, parte para a então cidade de Lourenço Marques.

Cedo, Malangatana descobriu que a luzidia cidade não se traduzia em vida fácil para todos. Porém, ele não não se deixou intimi-dar nem desistiu. Embrenhou-se na dura batalha de ganhar a vida, conseguindo o primeiro emprego no quintal como criado de crian-

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ças. Depois de trabalhar em vários quintais como empregado do-méstico, em 1953 conseguiu emprego de “apanha-bolas” no Clube de ténis de Lourenço Marques.

Da cave deste clube, onde vivia, Malangatana revela-se amante das artes, das cores e da beleza, puxando para si os dotes artísticos que antes vira em sua mãe, aqui em Matalana.

Era na esteira da prossecução da sua exposição às coisas da arte que aproveitava os restos das fitas e dos enfeites das festas do Clube para embelezar o seu quarto, material que se juntava aos recortes de revistas e fotografias já estampados nas paredes. Pou-co depois, usando aguarelas, também se iniciava no desenho e na pintura.

Acreditando em si e na sua capacidade de vencer desafios, Malan-gatana iniciava assim, o seu itinerário como artista plástico. Nos anos 60 ganha notoriedade. Aliás, a sua primeira individual moti-vou espanto e admiração em Lourenço Marques.

As suas telas, não muito tempo depois, inundam o panorama pic-tórico moçambicano, africano e mundial com um novo e poderoso imaginário. Porém, para Malangatana, o artista não devia estar alheio ao sofrimento do Povo que lhe inspirava:

devia ser um actor activo no processo de mudanças. Para ele, a arte não devia ser apenas um produto para deleite: devia ser um instrumento de intervenção política e de mobilização de consciên-cias e vontades.

É, em defesa destes princípios e convicções que se junta à rede clandestina da FRELIMO, criada pelos guerrilhairos que integravam a Quarta Região, que englobava as Províncias de Inhambane, Gaza bem como a Província e Cidade de Maputo.

Em 1965, Malangatana Valente Ngwenha é preso pela PIDE, junta-mente com outros nacionalistas. Liberto, e apesar de estar sob vi-gia da sanguinária polícia política colonial, ele organiza o primeiro

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festival de arte aqui em Matalana, explorando, deste modo, mais uma oportunidade para despertar, nos seus conterrâneos, a cons-ciência de que tinham uma cultura tão rica e dinâmica como qual-quer outra do mundo. É também neste contexto que deve ser vista a sua participação, em 1972, como actor, dançarino e intérprete musical na peça teatral Os Noivos ou a Conferência Dramática so-bre o lobolo, de Lindo Hlongo.

Assumindo-se comprometido com a liberdade do Povo Moçambica-no, Malangatana recusa-se a participar em exposições conotadas com a opressão dos Povos, em Moçambique e no estrangeiro. A combinação da sua bravura e das investidas e chantagens da PIDE contra si agigantaram o seu nome à dimensão e imagem da sua obra. Por isso, o seu nome e a sua obra se destacam no processo da nossa libertação e no resgate da nossa auto-estima.

*****

Estamos diante desta figura tutelar e emblemática da nossa pin-tura, da nossa cultura e da nossa moçambicanidade. Estamos pe-rante um homem que tem uma biografia gigantesca e uma galeria que exibe diplomas e medalhas nacionais e estrangeiras em reco-nhecimento da sua contribuição nas diferentes esferas da vida, no nosso Moçambique e no mundo. Uma biografia que estas singelas palavras apenas destacaram algumas das muitas nervuras.

O gigantismo da sua figura e a genialidade da sua obra são reco-nhecidos em todos os quadrantes do mundo. A sua obra galgou fronteiras para muito longe de Matalana.

O mundo inteiro aplaude e se curva perante a originalidade dos seus quadros e perante o poderoso imaginário que revelam. Porém, todos estes predicados entram em contraste com o próprio home-nageado. Trata-se de um homem humilde e generoso:

só a sua humildade e generosidade é que lhe impelem nes-ta incansável perseguição do sonho de Matalana. Referimo-nos ao projecto cultural que ele aqui impulsiona,

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com a participação de muitos colaboradores, alguns dos quais anónimos;

só a sua humildade e generosidade é que lhe animam no seu projecto em que inicia as crianças do seu bairro, nas artes e cultura.

Enfim, a sua humildade e generosidade serviram de magneto para atrair e aglutinar uma audiência de composição tão diversa. Eis-nos, pois Malangatana Valente Ngwenya, todos aqui. Aqui estamos para te homenagear pelos teus setenta anos. Melhor dito, nós es-tamos aqui para sermos homenageados pela tua obra e pelo teu exemplo.

Khanimambo Grande Mestre Malangatana;

Khanimambo Matalana por este filho prodigioso que ge-raste para Moçambique, para África e para o Mundo;

Khanimambo Sinkwenta Gelita Mhangwana, companheira inseparável do Grande Mestre.

Muito obrigado pela vossa atenção.

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As Habilidades como Complementares às

Habilitações:

Que mudanças paradigmáticas para a Universidade Moçambicana?46

Hoje é um dia histórico para o Grande Mestre Malangatana. Hoje reconhece-se que as suas habilidades artísticas também se desta-cam no campus universitário. A lição magistral que acaba de profe-rir e que nós vivamente elogiamos e saudamos, enquadra-se neste reconhecimento público. Bem vistas as coisas, mais do que um dia histórico para o Grande Mestre Malangatana é um dia histórico para a própria Universidade Moçambicana que desperta para uma maior valorização das experiências e saberes nacionais.

A dominação estrangeira, como é do nosso conhecimento, incidiu, com maior enfoque, a sua acção na erosão da nossa auto-estima e do orgulho pelo que é nosso. De forma concertada, essa dominação estrangeira pretendia que nos considerássemos inferiores a outros povos do mundo e assumíssemos que não tínhamos história, cultu-ra, heróis e outras figuras nacionais de referência. Pretendia ainda induzir-nos a pensar que o nosso saber milenar, um saber que tem gerado soluções para os inúmeros e complexos problemas que a existência humana nos impõe era um conhecimento sem qualquer validade ou relevância no mundo.

A dominação estrangeira pretendia igualmente que não só nos en-vergonhássemos de exibir os conhecimentos que fomos acumulan-do sobre onomástica, decoro, etiqueta, arte, medicina, resolução e gestão de conflitos, bem como sobre constituição, funciona-mento e relacionamento entre instituições. Mais ainda, era seu

46Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na cerimónia de atribuição do título de Honoris Causa ao artista Malanga-

tana Valente Ngwenya, pela Politécnica. Maputo, 13 de Setembro de 2007.

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fervoroso desejo que vilipendiássemos quem tentasse exibir esse conhecimento! Esse sistema queria que este mar de ricos saberes e experiências não transpusesse o muro do campus universitário para ser partilhado com a academia e enriquecer o conhecimento científico porque os seus detentores não tinham as habilitações académicas qualificativas.

Dizíamos que hoje é um dia histórico para a Universidade Moçam-bicana porque ela está a consolidar uma tendência salutar de va-lorização da moçambicanidade, nas suas diferentes vertentes. Pri-meiro foi a UEM a conferir o Grau de Doutor Honoris Causa, ao poeta da Moçambicanidade, José Craveirinha. Depois foi o ISCTEM a conferir idêntico grau ao nosso companheiro de armas em punho, Marcelino dos Santos. Hoje, como dissemos, apraz-nos registar a consolidação desta tendência que a Universidade Moçambicana está a assumir ao conferir, através da Politécnica, este prestigiado Grau Doutor Honoris Causa ao Grande Mestre Malangatana Valente Ngwenya. Estes desenvolvimentos são sinais positivos e encoraja-dores pois abrem o campus para partilhar esses saberes e experiên-cias, enriquecendo, no processo, o conhecimento científico que se gera na nossa universidade. Com este passo, ganhará a nossa Universidade que se torna, assim, mais relevante ao desiderato co-lectivo dos moçambicanos, isto é, a sua vontade de se libertarem da pobreza no seu rico Moçambique.

*****

A nossa Agenda Nacional é de luta contra a pobreza. Para o sucesso nesta luta a participação de todos e de cada um de nós não se re-vela apenas indispensável. Também se revela inadiável. Saibamos pois tirar vantagem de todos os recursos que temos disponíveis, incluindo os intelectuais, para acelerarmos o passo para que a vi-tória contra este flagelo, chamado pobreza, seja alcançado mais cedo ainda.

A Universidade Moçambicana tem uma responsabilidade especial nesta jornada. Os avanços que se registam em cada momento na Universidade celebram, seja qual for o campo profissional ou de estudo, as possibilidades do nosso crescimento intelectual e cien-tífico e para o aumento da produção e da produtividade, em bene-

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fício de Moçambique e do seu brioso Povo. Mantendo o seu enfoque na nossa Agenda Nacional de Luta contra a Pobreza, que tem o distrito como o seu epicentro, a Universidade Moçambicana saberá ser sempre relevante aos anseios da nossa Pátria Amada, do Rovu-ma ao Maputo e do Índico ao Zumbo. Cada passo que for a dar será efectivamente um passo para a frente se tiver esta agenda como seu ponto de partida e de chegada.

Reiteramos, minhas senhoras e meus senhores, as nossas sauda-ções ao Grande Mestre Malangatana por esta merecida homena-gem. Como sublinhávamos em Matalana, no dia 7 de Maio de 2006, por ocasião da homenagem pelos teus 70 anos e repetimo-lo aqui:

Não é o Grande Mestre Malangatana que é hoje homenageado. So-mos todos nós aqui presentes que viemos para sermos homena-geados pela tua obra e pelo teu exemplo, Grande Mestre e Doutor Honoris Causa, Malangatana Valente Nguenha.

Muito obrigado pela vossa atenção.

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Justino Chemane:

O Homem incontornável que cantou Moçambique na sua plenitude47

É uma feliz coincidência que esta singela homenagem a Justino Chemane tenha lugar no mês em que, há 33 anos, era para sempre desfraldada a nossa Bandeira Nacional ao som do Hino Nacional da autoria deste que é o maestro de todos os tempos. Compositor, intérprete e maestro, Chemane cantou Moçambique em toda a sua plenitude e marcou, de forma notável e indelével, as artes e letras nesta Pátria de Heróis. Através do canto coral:

promoveu a afirmação da nossa auto-estima e dignidade;

apontou os contornos do ideário programático de um Povo amante da sua liberdade e paz e orgulhoso da sua cultura e história;

cultivou o devir da Nação Moçambicana e exortou o nosso maravilhoso Povo a erguer-se para os desafios que a sua construção impunha.

Foi graças à sua obra e à forma como ajudou outros moçambicanos na configuração de um novo sentir da música que ele foi agraciado, pelo nosso maravilhoso Povo, com o título de Maestro. Maestro foi-o, mesmo para maestros, líderes de grupos culturais e de artistas saídos dos bancos de instituições das belas artes. Deste homem carismático e humilde, erudito e cheio de humor e de perspicácia, se abeiravam cultores das letras e artes para dele apreender o que na cátedra lhes escapara ou para dele aperfeiçoarem técnicas de representar, articular e projectar o mundo à sua volta.

47Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na homenagem ao Maestro Chemane. Matola, 19 de Junho de 2008.

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Porém, o Maestro Chemane não foi produto de uma gestação es-pontânea nem tão-pouco obra do acaso. Ele é exemplo do moçam-bicano que sonha, acredita e se empenha na realização do seu sonho, trabalhando arduamente. No meio familiar não se limitou a absorver a sabedoria milenar do seu Povo como qualquer outro jovem que palmilhava o chão cultural de Chidenguele e de Moçam-bique. Ele apreendeu esse saber milenar do seu Povo, penetrou-lhe no âmago e assumiu-se como um dos ícones da sua promoção.

Isto explica porque de concurso em concurso Chemane saía ven-cedor. Isto explica também como ele se transformou num perspi-caz leitor da sociedade, compondo canções que revelavam, na sua plenitude, as diferentes nervuras que configuram esta Pérola do Índico. Só a título de exemplo:

Chemane cantou as enxurradas que ciclicamente criavam desgraça, no Xitalamati, na esquina entre as Avenidas de Angola e Joaquim Chissano.

Este drama só passou para a história depois da nossa Independên-cia Nacional com a construção do actual sistema de drenagem das águas pluviais;

no seu reportório Chemane articula mensagens de educa-ção cívica, moral e patriótica, de apelo à Unidade Nacio-nal, ao trabalho, à paz e à harmonia;

nas vésperas da Independência exortou Moçambique a soerguer-se para se congratular com o heroísmo dos seus melhores filhos que, com bravura e determinação, se ti-nham entregue, de corpo e alma, para a sua libertação.

Chemane manteve-se omnipresente no nosso universo cultural depois da Independência Nacional. Por um lado, ele continuou a compor canções que documentavam o processo da cristalização da nossa auto-estima, da moçambicanidade e da Unidade Nacio-nal. Por outro lado, marcava presença no cenário cultural nacional através da formação de grupos corais de instituições cívicas, públi-cas e privadas e através do apoio e encorajamento que dava para

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a emergência de novos talentos em Moçambique. Alguns dos seus discípulos lideram hoje grupos de sucesso e são novas referências para outros aspirantes à categoria do Maestro Chemane. O grupo Cultural do Banco de Moçambique é exemplo ilustrativo.

*****

Chidenguele foi a terra que gerou Chemane mas a sua obra cata-pultou-o para muito longe da órbita da sua terra natal para o seu nome ecoar em todo o nosso solo pátrio. A sua épica canção “Des-perte Moçambique” não foi apenas escolhida, depois do histórico Acordo de Lusaka de 1974, para substituir o hino português nas emissões radiofónicas em todo o nosso Moçambique. Essa canção também serviu de senha da nova cadência galvanizadora dos mo-çambicanos rumo ao seu almejado 25 de Junho. Esta proeza só pode ser inscrita por homens da grandeza artística de Chemane. Na verdade, só homens da grandeza artística de Chemane é que podem trocar uma sua obra por uma outra como símbolo nacional, como aconteceu com o hino nacional da sua autoria que saudou a nossa Independência Nacional e foi entoado nesta Pátria de Heróis durante 27 anos.

Figura reconhecidamente já incontornável nas artes e letras mo-çambicanas, Chemane seria um dos co-autores da Pátria Amada.

Na região, Justino Chemane registou o seu nome na lista dos pre-cursores do processo que culminou com a adopção do hino da Co-munidade para o Desenvolvimento da África Austral. Por isso, a sua criatividade artística embora soberbamente moçambicana, ela já ganhou uma dimensão que ultrapassa o território da nossa moçambicanidade, e se afirma num espaço mais amplo, o de ho-mem universal, o da humanidade inteira, onde só cabem obras de exuberante quilate. Chemane é, pois, um nome que se impõe, de forma transcendente, perante os homens do seu tempo, do pre-sente e do futuro. Foi com a sua poderosa e sublime obra que este compatriota, auto-didacta e imponente, inscreveu o seu nome no panteão dos Heróis Nacionais.

Para nós, homens profícuos e comprometidos com Moçambique e o seu Povo, como Chemane, são incontornáveis enquanto vivos e im-

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prescindíveis depois do seu desaparecimento físico porque esteios e estandartes da Nação.

Recordar a vida e obra do Maestro Chemane não é apenas um gesto que contribui para a consolidação da moçambicanidade, da nossa auto-estima e para a exaltação do nosso processo de libertação e de construção da nossa Pátria Amada. É, sobretudo, um exercício pedagógico de grande valor patriótico para que em homens como Chemane os nossos jovens, em particular, se iluminem na árdua tarefa de preservar e valorizar as conquistas dos nossos heróis e de construir o seu próprio legado. Queremos que nasçam mais maes-tros Chemanes para elevarem o nome de Moçambique mais alto ainda no concerto das nações.

Por isso, impõe-se, a cada um de nós, conhecer e valorizar esse seu espólio para que fiquemos política e culturalmente mais ri-cos e para que o seu exemplo de compatriota comprometido com Moçambique e o seu Povo nos sirva de fonte de inspiração na luta contra a pobreza e para a nova caminhada no chão da cultura, na galeria da nossa literatura e história.

Saudamos o Banco de Moçambique por esta homenagem a Justino Chemane. Enaltecemo-la, por ter o condão de incluir a participa-ção de grupos cantando parte do seu reportório que, apesar de ínfimo, dá-nos a dimensão deste homem, compositor, maestro e Herói Nacional.

Fazemos votos para que desta homenagem saiamos mais persuadi-dos e encorajados a erguer bem alto o móbil, o legado e o projecto de Chemane que assenta na auto-estima, moçambicanidade e sen-tido de pátria. A todos os que na sua senda têm sido portadores de mais oxigénio e de mais sinergias no reforço da consciência de Na-ção e na mobilização do nosso Povo na luta contra a pobreza, quer através das letras e das artes, quer ainda através da palavra e de actos patrióticos vai a nossa expressão de gratidão e a exortação para prosseguirem nessa caminhada.

Muito obrigado pela vossa atenção!

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Biografia:

Como o percurso de Homens e Mulheres de valor constrói a História duma Nação48

Homens e mulheres deste Planeta têm vida. Esta é uma verdade cristalina que confere uma dimensão biológica a cada um de nós. Todavia, mais do que um truísmo, esta afirmação reveste-se de uma profundidade e alcance muito grandes que vale a pena pro-blematizar um pouco mais.

O ponto de partida seria que só pode haver relatos da vida de ho-mens e mulheres porque estes:

são seres com alma, coração e sentimentos idiossincráticos;

têm características exteriores singulares e códigos genéti-cos próprios; e

têm um nome próprio, uma família e uma árvore genealó-gica de raízes que se enterram nas profundezas do tempo.

Neste sentido, as nações não teriam vida e, logo, não teriam bio-grafia, nem História própria.

Hoje, porém, reúne-nos um acontecimento que desconstrói esta forma de ver uma Nação. Hoje, reúne-nos um acontecimento que demonstra que homens e mulheres de valor dão substância e ex-pressão à biografia de uma Nação. Quer isto dizer que a História de uma Nação é construída a partir das biografias desses homens e mulheres de valor. Nesse sentido, uma Nação pode, e muito bem, ter uma biografia, uma História.

Essa biografia da Nação é construída na confluência das biografias dos seus filhos de valor, aqueles que sabem interpretar e dar curso aos sentimentos que fervilham no íntimo da sua Pátria.

48Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçmbique, no lançamento do livro contendo entrevistas biográficas de combatentes da Luta de Libertação Nacional. Maputo, 10 de Dezembro de 2012.

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Podemos então concluir e tendo como pano de fundo o lançamento desta obra, Protagonistas da Luta de Libertação Nacional, que a História de Moçambique é construída a partir da biografia dos ho-mens e mulheres que fizeram Moçambique, esses homens e mulhe-res de valor, patriotas e determinados, que esta Pátria de Heróis gerou.

Cada um destes protagonistas desse processo de libertação nacio-nal, esses obreiros da nossa nacionalidade, apresenta-se neste li-vro como um ser único, original, concreto, insubstituível e dono de uma obra intransmissível. Na leitura às suas entrevistas, aperce-bemo-nos como cada um deles resiste à homogeneização e apre-senta-se como guardião da heterogeneidade e, por consequência, da originalidade, do diferente e de um percurso irrepetivelmente palmilhado, em consequência das decisões que tomou e que con-dicionaram e definiram o percurso da sua vida.

Cada um dos testemunhos que preenchem as páginas deste livro constitui o relato duma experiência individual e única.

Todavia, cada uma dessas experiências é inteligível porque faz sentido quando integrada numa matriz, tecida pelo sentimento na-cionalista e patriótico, pela defesa de uma causa nobre e pela con-fiança no fim vitorioso dessa causa. Essas experiências individuais entrelaçam-se para escrever a epopeia de um Povo, a História da sua Nação.

A inteligibilidade destes relatos vem do facto de constituírem a descrição do processo através do qual nos tornámos uma Nação, um Povo, um destino.

Por isso, estas não são vidas quaisquer!

São vidas que souberam interpretar e dar curso aos sentimentos de liberdade e independência que fervilhavam no íntimo da nossa Pátria oprimida. A partir desse momento, sentiram que estavam a ser atraídos por uma causa comum que lhes levaria a cruzar as suas vidas, vidas que seriam intensa e patrioticamente vividas, para produzirem Moçambique:

primeiro como um projecto no imaginário de cada um;

depois como uma Nação em miniatura; e

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mais tarde como um Estado soberano, com o seu hino, a sua bandeira e a sua Constituição.

Vemos nesta obra como os combatentes da Luta de Libertação Na-cional dão relato, em primeira mão, sobre o que lhes moldou na vida e sobre como se iniciaram e persistiram num percurso grati-ficante e empolgante, porque voluntariamente abraçado, um per-curso cheio de riscos, muitas vezes sinuoso e sempre com desafios por superar e mistérios por desvendar. Nesta obra, está claramente sublinhado que, para além da visão algo romanceada da luta de libertação, ela era uma luta que se travava no quotidiano de cada um de nós, pois era preciso que cada um de nós:

renovasse, no dia-a-dia, as razões que o levaram a partici-par na nossa luta;

se auto-superasse como indivíduo para vencer os desafios em presença; e

participasse na gestão das relações com outros camaradas, vindos de horizontes diversos e de uma sociedade muito complexa porque diversificada e, sobretudo, porque não integrada, de forma deliberada pela dominação estrangei-ra que promovia e aplicava o princípio de dividir para rei-nar.

As biografias aqui reunidas trazem-nos algumas das nervuras sobre como nasce uma Nação, a Nação Moçambicana.

trata-se de uma Nação que foi gizada pelo nosso assumir de que a experiência de humilhação, exploração e opres-são, que cada um dos testemunhos aqui reunidos relata, abrangia a todos nós;

uma Nação fundada na clarividência com que cada um dos protagonistas destes testemunhos se orientou na vida e pro-curou conferir sentido à sua própria existência;

uma Nação configurada pela bravura, abnegação e perseve-rança com que cada um dos obreiros da nossa nacionalida-de, celebrado nesta obra, se aplicou no importante desafio de devolver aos moçambicanos:

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o a sua dignidade espezinhada;

o a sua soberania sonegada;

o os seus sonhos recalcados; e

o a sua História alienada para constar apenas nas notas de rodapé da História de um outro Povo.

É neste sentido que podemos dizer, de forma enfática, que uma Nação tem uma biografia e que essa biografia é o conjunto dos re-latos das vidas dos homens e mulheres de valor.

Ela resulta da contribuição dos percursos individuais desses patrio-tas para a sua emergência e afirmação.

*****

Os testemunhos reunidos nesta obra demonstram que, nestas cir-cunstâncias, Moçambique viu a luz do dia graças ao estoicismo, espírito nacionalista e patriótico daqueles homens e mulheres de valor que criaram a FRELIMO e que através dela cimentaram a Uni-dade Nacional e a consciência da comunhão de destino entre nós. Através destes testemunhos, observamos que a FRELIMO se tornou num movimento forte, visionário e ainda hoje vitorioso e glorioso porque defende e assenta em valores nobres e na identificação cla-ra e inequívoca das prioridades do maravilhoso Povo Moçambicano, em cada etapa histórica.

Através desta obra, notamos que Moçambique nasceu graças a es-ses homens e mulheres de valor que o sonharam e perseguiram esse seu sonho:

na frente clandestina e nas masmorras da PIDE;

no exílio e nos campos de preparação político-militar;

na frente do fogo libertador e nas Zonas Libertadas do in-vasor;

na frente diplomática e em outras plataformas internacio-nais.

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Se esses homens e mulheres de valor tivessem vacilado perante a omnipresente máquina atroz de repressão colonial. Se tivessem vergado perante as investidas militares de grande envergadura que tentavam anular a nossa acção de guerrilha.

Se tivessem sucumbido à propaganda da acção psico-social que tentava incutir a ideia de que éramos portugueses, então Moçam-bique poderia continuar, ainda hoje, como um pedaço de Portugal, um apêndice da vontade do poder que marcou a relação entre África e a Europa.

Moçambique é o quadro geral onde os detalhes da contribuição de cada um dos obreiros da nossa nacionalidade são destilados para produzirem as narrativas coerentes que os alunos e estudantes aprendem na escola e na universidade. Esta publicação representa uma iniciativa louvável de desenterrar o conhecimento que jaz na oralidade, para, através de suportes bibliográficos, ser preserva-do e transmitido de geração para geração. Com esta publicação, garantimos que cada uma das narrativas seja multiplicada pelos vários exemplares que vão entrar nos lares moçambicanos, nas nossas bibliotecas e nos acervos da região e do mundo. Mais impor-tante ainda, que vão ser ávida e vorazmente lidos, partilhados e discutidos pelas novas gerações.

*****

Endereçamos uma palavra de apreço e de saudação à autora, Ana Bouene Mussanhane, que reuniu, editou e trouxe para a luz do dia esta obra, Os protagonistas da Luta de Libertação Nacional.

A ela e a todos os que deram o seu valioso apoio vão os nossos agra-decimentos e encorajamento para que apoiem iniciativas idênticas no futuro.

Muito obrigado pela vossa atenção.

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Emília Daússe:

Um nome, uma figura, uma homenagem merecida49

Ao longo destes quase dez anos da nossa governação, presidimos cerimónias de homenagem aos heróis da nossa libertação, aqueles filhos desta Pátria de Heróis que não se conformaram com o so-frimento e a humilhação a que o nosso heróico Povo era sujeito. Assumindo que essa nossa condição de colonizados não era uma fa-talidade, ergueram-se e lutaram, com bravura e tenacidade, para resgatar a nossa dignidade, liberdade e independência.

De diferentes cantos deste nosso belo Moçambique convergirmos aqui, em Nyaakamba, terras deste novo Distrito de Marara, para celebrar a vida e obra de uma heroína da nossa libertação, a Combatente Emilia Daússe, uma vida que serve de inspiração para outros mo-çambicanos nesta fase de luta contra a pobreza e pelo nosso bem-estar.

Ao exaltarmos hoje, dia 16 de Junho, os feitos de auto-estima, bravura e patriotismo da heroína Emilia Daússe, recordamo-nos também dos homens e mulheres de fibra, honra e valor que, há 54 anos, foram massacrados em Mueda porque ousaram concentrar-se no edifício da Administração colonial, em Mueda, para exigir, de forma pacífica, a Independência do seu Moçambique, do nosso Moçambique.

Foi em resposta a este Massacre e a outras formas violentas e cruéis com que o colonial-fascismo reagia ao nosso clamor de dignidade, liberdade e independência que filhos de valor que a nossa Pátria Amada gerou, decidiram que chegara o tempo para enveredar pela Luta de Libertação Nacional.

49Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na cerimónia de homenagem à heroína nacional Emília Daússe. Nyaakam-

ba, 16 de Junho de 2014.

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Neste dia muito especial, gostaríamos de saudara todos pela forma carinhosa, hospitaleira e cheia de irmandade e amizade, como nos acolheram, nestas terras de Nyaakamba. Saudamos a todos pela sua presença amiga nesta cerimónia que tem em vista reviver e cele-brar a vida e obra desta jovem dedicada ao que fazia, Combatente eHeroína Nacional.

*****

Emilia Daússe é um nome muito conhecido na nossa Pátria Amada pois, como forma de reconhecimento dos seus feitos:

foi atribuído a estabelecimentos de ensino, que os nossos filhos frequentam;

consta da lista dos nomes de artérias porque passamos ou cujo endereço usamos para localizar residências ou insti-tuições; e

é referenciado como heroína nesta Pátria de Heróis, de outras formas.

Neste contexto, a nossa Heroína Nacional, a Combatente Emilia Daússe é mais conhecida através dessas homenagens do que por aquilo que foi o seu percurso e a sua valiosa contribuição para que hoje fóssemos livres e independentes. Hoje, temos a oportunidade de preencher esse vazio com base em testemunhos:

de quem conheceu esta destemida Combatente da Luta de Libertação Nacional;

de quem dela recebeu ensinamentos úteis para a vida; e

de quem com ela privou e partilhou a trincheira, o percur-so e o sonho de liberdade e independência.

Queremos, por isso, saudar e agradecer os testemunhos que nos fo-ram, muito gentilmente, concedidos pelos seus familiares e amigos e pelos combatentes da Luta de Libertação Nacional que com ela escreveram, cada um à sua maneira, as páginas da nossa gloriosa e heróica epopeia libertária.

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Emilia Daússe nasceu em 1953 e, ao longo da sua vida foi sentindo na pele a discriminação, as privações, a opressão e a violência do colonial fascismo.

Foram tantos os obstáculos que a nossa homenageada teve que enfrentar que só aos 12 anos é que ingressou numa escola, a Escola Primária e Missionária da sua aldeia natal, Nyaakamba.

Aluna brilhante e aplicada, não conseguiu, infelizmente, prosse-guir com os seus estudos depois de concluir a segunda classe, por-que o sistema de dominação colonial, de forma deliberada, tinha trancado todas as portas para o progresso dos moçambicanos.

Emilia Daússe não se deixou ficar pela lamentação do que se pas-sava. Passou à acção, integrando a rede clandestina que apoiava as Forças Populares de Libertação de Moçambique com víveres, ludibriando a vigilância da tenebrosa PIDE e da cruel tropa portu-guesa. Mais tarde, a nossa homenageda viria a integrar a guerrilha libertária, evidenciando-se na organização de grupos de mulheres para o transporte de material bélico, medicamentos e víveres para abastecer as frentes de combate.

*****

A entrega e dedicação da heroína Emilia Daússe não passaram des-percebidas aos seus superiores hierárquicos. Por isso, tendo em vista aumentar os seus conhecimentos para melhorar a qualidade do seu desempenho em prol da Luta de Libertação de Moçambi-que, Emilia Daússe recebeu a missão de participar nos treinos, no histórico Centro de Preparação Político-Militar de Nachingueya, na Tanzania, em Março de 1972.

Terminada a sua formação, Emília Daússe regressou à procedência, na Frente de Tete, em Setembro de 1972, tendo, depois da sua en-trada, sido enviada para a Base Kassuende, uma importante base logística da FRELIMO nesta frente. Eraaqui onde chegava todo o material vindo da Tanzania,via Zâmbia, para ser distribuído pelas frentes do nosso povo em luta pela sua liberdade.

A zona de Nyaluiro, onde a combatente Emilia Daússeestava insta-lada, encontrava-se cercada por várias posições do exército colo-nial, com todo o seu poderio bélico.

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Todavia, isso não diminuíu a sua entrega e dedicação pela causa da nossa libertação. Pelo contrário, a presença e raiva inimigas refor-çaram a sua valentia e determinação.

Em reconhecimento dessa sua bravura e capacidade de liderança, a nossa homenageda foi promovida, em Janeiro de 1973, a Chefe de Pelotão na Base de Nyaluiro que também tinha a responsabili-dade de assegurar o abastecimento em material e víveres ao estra-tégico Quarto Sector.

Foi apartir deste sector que se abriu e era abastecida a frente de Manica e Sofala, a frente que aumentou o pavor e o desespero dos colonos perante o avanço da nossa luta de libertação.

No cumprimento de mais uma missão de transporte de material para o abastecimento do Quarto Sector, a Combatente Emilia Daússe foi atingida mortalmente por uma bala inimiga. Perdia a vida aos vinte anos de idade!

Com apenas vinte anosde idade, tornava-se mártir da nossa liber-tação! Os seus vinte anos foram preenchidos por muitos e ricos exemplos de patriotismo.

Nesse fatídico 11 de Novembro de 1973, terminava, de forma trá-gica, o percurso heróico da jovem nacionalista Emilia Daússe. Ter-minava a vida da Combatente cujo exemplo continuou a inspirar as suas companheiras e toda a FRELIMO na luta pela nossa liberdade e independência. Quatro décadas depois, o seu legado continua a inspirar a mulher moçambicana na luta pela sua emancipação, para aumentar,mais ainda, a sua contribuição na criação de um Moçambique cada vez melhor para todos nós.

*****

Os restos mortais da Heroína Nacional Emilia Daússe repousam na Cripta da Praça dos Heróis, em Maputo, a capital desta Pátria dos que ousaram lutar e devolver a auto-estima do nosso Povo e, com ela, a independência e a soberania. Que os nossos jovens, em par-ticular os que completam 20 anos, este ano, façam hoje uma in-trospecção sobre aquilo que têm feito pela nossa Pátria Amada,

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seguindo o exemplo da nossa heroína Emilia Daússe. Convidamos a todos os nossos compatriotas, a continuarem a consolidar a nossa independência, a Unidade Nacional e a Paz, porque moçambica-nos como Emilia Daússe deram a sua preciosa vida. Continuemos todos a lutar pela realização do ideal de um Moçambique cada vez melhor para todos nós como a melhor homenagem que podemos prestar aos heróis e mártires da nossa libertação.

Povo Moçambicano unido do Rovuma ao Maputo hoye!

Memória inesquecível da Heroína Nacional Emilia Daússe hoye!

Paz hoye!

Muito obrigado pela vossa atenção!

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Bernabé Adison Kajika:

O filho e servidor do Povo aclamado Herói Nacional pelos seus feitos50

Juntamo-nos todos aqui em Metangula, este belo e aprazível tor-rão de Moçambique para, uma vez mais, exaltarmos a história de vida de Bernabé Adison Kajika, filho destas terras de Chuwanga e Metangula, combatente da Luta de Libertação Nacional, um Herói que esta Pátria de Heróis gerou. As visitas e os momentos de in-teração com os familiares deste Herói Nacional que preencheram a primeira parte do nosso programa de hoje impressionaram-nos pelas suas fundações culturais seguras e firmes, fundações essas revisitadas através da sua árvore genealógica em Chuwanga, local onde ele deu os primeiros passos de uma vida que viria a ser céle-bre e celebrada por todos nós.

Impressionaram-nos igualmente a clareza dos testemunhos aqui prestados e as emoções geradas pelas narrativas da sua heroicida-de, bravura e amor ao nosso Povo heróico.

*****

Desfilaram aqui muitos detalhes sobre a vida e obra de Bernabé Kajika, desde o seu nascimento, a 29 de Agosto de 1938, até à sua trágica e prematura morte com a tenra idade de 36 anos, a 10 de Maio de 1974.

Como exemplo que os jovens de hoje devem seguir, Bernabé Adi-son Kajika foi um aluno dedicado que também se destacava pela sua capacidade de mobilizar e organizar os seus colegas para o cumprimento das tarefas curriculares e sociais. A sua vontade de escalar mais degraus para a sua formação e de colocar o seu saber ao serviço do nosso Povo levaram-no a ingressar no curso de enfer-

50Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique, na cerimónia de homenagem ao Herói Nacional Bernabé Adison Kajika.

Metangula, 11 de Junho de 2014.

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magem, no ano de 1956, curso que viria a concluir, com sucesso, em 1958. Foi neste mesmo ano que começou a trabalhar como en-fermeiro no Hospital da Missão de Messumba, aqui no Niassa, pas-sando, desta forma, a ter um contacto directo com o nosso Povo, suas experiências, expectativas e visões.

Mais tarde, em 1962, concluiu, também com sucesso, o curso de Intérprete das Autoridades Coloniais. Mais do que a enfermagem, esta nova profissão colocava-lhe muito mais próximo, e no quoti-diano, da barbárie do colonial fascismo contra o nosso Povo.

Sem se intimidar com os riscos que corria, ele procurava instruir os seus compatriotas sobre como formular as respostas às perguntas das autoridades coloniais ou aos interrogatórios dos seus carrascos que eram os sipaios, polícias e agentes da PIDE.

Para além disso, procurava omitir nas suas traduções, as partes que poderiam incriminar gravemente os seus compatriotas, dando, assim, sinais claros do muito amor que nutria pelo nosso Povo.

A PIDE começou a suspeitá-lo de não ser fiel à administração colo-nial e de integrar a rede clandestina da FRELIMO. Antes que fosse preso, Bernabé Kajika conseguiu ludibriar as autoridades coloniais e em Março de 1965 juntou-se à FRELIMO, na Base de Segurança de Chitope, tendo dali sido encaminhado para Mepoche onde seria submetido aos treinos militares.

Muito cedo, a sua coragem, dedicação e responsabilidade no cum-primento das suas tarefas, despertaram a atenção dos seus su-periores e colegas. Kajika demonstrava ainda ser um nacionalista carismático e com grande capacidade de mobilização da população para as diferentes tarefas da Luta de Libertação Nacional.

Foi assim que depois de ter sido apurado nos treinos em Mepoche, Bernabé Adison Kajika foi selecionado para uma formação e treinos mais rigorosos e apurados no Centro de Preparação Político-Mili-tar de Bagamoyo, em Outubro do mesmo ano em que ingressou na FRELIMO, 1965. Demonstrando, uma vez mais, aptidão física, capacidade de liderança e dedicação à causa do nosso Povo, ele

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seria enviado para a então União das Repúblicas Socialistas Sovié-ticas, para formação na área de Comando das Tropas de Infantaria Terrestre.

Concluída, com sucesso, a sua formação em 1966, e depois de uma passagem pelo Centro de Preparação Político Militar de Nachin-gweya para a moçambicanização dos conhecimentos adquiridos no exterior, Bernabé Kajika seria enviado para a Frente do Niassa Oriental, como Vice-Comissário Político. Uma vez mais, demons-trou:

capacidade na mobilização da população e dos combaten-tes da Luta de Libertação Nacional para persistirem na de-fesa da sua causa;

coragem e bravura na frente de combate; e

empenho em tudo o que fazia em prol do seu comando e da FRELIMO.

Depois de uma destacável passagem pela Frente do Niassa Orien-tal, onde se notabilizou pelo seu trabalho, e depois de participar nos trabalhos do Segundo Congresso, em Matchedje, como delega-do, ele viria a ser enviado para a Frente do Niassa Ocidental, como Comissário Político, no Comando Provincial de Mepoche.

Uma vez mais, ele revelou-se um combatente comprometido com a causa da nossa libertação da dominação estrangeira. Foi neste contexto que se empenhou pela liderança da população na orga-nização da vida e das actividades sociais e económicas nas Zonas Libertadas e na transmissão, junto dos combatentes, da justeza da nossa causa e da irreversibilidade do seu triunfo.

*****

As heróicas missões da luta pela nossa liberdade e dignidade exi-giam mais do que a presença física dos guerrilheiros e do arma-mento que carregavam.

Exigiam muito acompanhamento, muita motivação e uma explica-ção clara e exaustiva sobre a natureza e os objectivos da luta, bem

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assim a reposição da verdade face às campanhas de desinformação levadas a cabo pelas autoridades coloniais para desencorajar a po-pulação e desmotivar os guerrilheiros. Como Comissário Político, o nosso Herói Nacional, Bernabé Kajika, percorria as zonas sob sua responsabilidade para cumprir a sua missão de mobilizar, organi-zar e combater. Importa referir que aqui no Niassa os portugueses tinham concentrado todos os ramos, comandos e especialidades, tendo em vista travar a Luta de Libertação Nacional.

O carisma e a habilidade com que Bernabé Kajika se relacionava com a população foram cruciais para manter elevada a prontidão combativa das Forças Populares de Libertação de Moçambique, mesmo em face da Operação Nó Górdio e para inspirar o nosso Povo para reforçar as suas relações com os seus filhos, combaten-tes pela sua liberdade.

Especializado no Comando das Tropas da Infantaria Terrestre, o Herói Nacional Bernabé Kajika participou na planificação e ope-racionalização de muitas ofensivas contra o exército colonial que resultaram nos sucessos que se somavam aos registados nas outras frentes para reduzir a capacidade do inimigo de suster e de jus-tificar a guerra colonial injusta que tinha imposto ao nosso Povo, amante da Paz, ontem, hoje e sempre.

*****

Bernabé Adison Kajika viria a perder a vida a 10 de Maio de 1974, vítima das balas assassinas do colonial fascismo, quando se encon-trava em mais uma missão de combate, desta feita, ao aquarte-lamento das tropas coloniais estacionadas na região de Lupiliche.

Ele perde a vida:

aos 36 anos de idade;

quatro meses antes dos Acordos de Lusaka a 7 de Setembro de 1974; e

um ano antes da proclamação da Independência Nacional pela qual tanto se empenhara e pela qual tantos sacrifícios consentira.

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Apagava-se, assim, mais uma estrela na constelação dos nossos heróis, os combatentes da nossa nobre e justa causa libertária.

Morria Bernabé Adison Kajika mas ficava a sua obra. Ficava con-nosco o seu exemplo de vida, uma história de luta pela libertação deste Moçambique de todos e para todos nós.

*****

Em reconhecimento aos seus feitos em prol da conquista da Inde-pendência Nacional de Moçambique, em 1984, os restos mortais de Bernabé Kajika foram transladados para a Cripta da Praça dos He-róis, em Maputo, onde repousam juntamente com os de outros He-róis desta Pátria de Heróis. A título póstumo, foi patenteado como Tenente–Coronel e condecorado com a Ordem de 25 de Setembro, pela Assembleia da República de Moçambique.

Para além da atribuição do seu nome a uma artéria da Capital do País, este ano, o Governo da República de Moçambique, no espírito da crescente valorização dos libertadores desta Pátria de Heróis, condecorou-o, uma vez mais, com o título honorífico de “Herói da República de Moçambique”.

Exortamos a todos os nossos compatriotas a valorizarem a vida e obra deste Combatente da Luta de Libertação Nacional, inspiran-do-se nos seus feitos para a luta contra a pobreza. Aos nossos jo-vens, exortamos para que emulem o seu exemplo de patriotismo, de trabalho e de auto-superação no cumprimento das missões que vos são confiadas.

Memória inesquecível do Herói Nacional Bernabé Adi-son Kajika hoye!

Povo Moçambicano unido do Rovuma ao Maputo hoye!

Unidade Nacional hoye!

Muito obrigado pela vossa atenção!

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As FADM na promoção da Moçambicanidade e no Combate Contra a Pobreza51

Tomamos nota do vosso compromisso de continuarem a colocar-se na linha da frente do combate que travamos hoje: a luta contra a pobreza. Saudamos essa reiterada determinação de continuarem defender a soberania nacional e de sempre servirem Povo Moçam-bicano e a sua Pátria. Neste dia, e através de vós, queremos saudar as Forças Armadas de Defesa de Moçambique que no próximo dia 25 de Setembro celebram o seu dia.

Há quarenta e um anos, o heróico Povo Moçambicano tomou a de-cisão de que cabia a si, e somente a si, libertar a Pátria ocupada. Os primeiros tiros disparados no dia 25 de Setembro de 1964, nas províncias do Norte e do Centro de Moçambique eram a revela-ção da coragem, bravura e sentido de responsabilidade histórica e patriótica desses jovens da “Geração de 25 de Setembro”. Era a demonstração da sua entrega pela remoção do obstáculo que im-pedia o Povo Moçambicano de exerecer a sua soberania e de usar os seus recursos para lutar contra a pobreza.

Os apoios e a solidariedade vieram e vieram de muitos cantos do mundo. Porém esse apoio moral e material teve o impacto deseja-do porque nós moçambicanos assumímos que a tarefa de libertar a Pátria ocupada era nossa própria responsabilidade.

Galvanizados por esse mágico espírito de moçambicanidade, ho-mens e mulheres de diferentes idades, sem distinção de origem étnica, religião, cor da pela e formação académica, juraram e uniram as suas forças nesta luta. Sobretudo, acreditaram em si mesmos e na sua capacidade de vencer a dominação estrangei-ra. No trabalho forçado, nas frentes político-militar, diplomática 51Comunicação apresentada pelo Comandante-em-Chefe das Forças de Defesa e Segu-

rança por ocasião da cerimónia de saudação pelas FADM. Maputo, 23 de Setembro de

2005.

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e cultural, nas zonas libertadas e nas masmorras da PIDE/DGS, os moçambicanos demonstraram o seu mais alto sentido de Pátria, resistindo à ocupaçao e lutando até à vitória final.

O ódio que os regimes racistas da região destilavam contra a nossa Independência, trouxe novos desafios ao Povo Moçambicano. Uma vez mais, unidos do Rovuma ao Maputo, do Zumbo ao Índico sou-bemos defender e preservar a nossa soberania ameaçada. Unidos e determinados soubemos resgatar a Paz e relançarmo-nos na luta para materialização do nosso sonho colectivo de nos vermos livres da pobreza.

*****

Tal como ontem, hoje os moçambicanos são uma vez mais chama-dos a libertar a sua Pátria de um novo inimigo: a pobreza. O sector da defesa nacional tem um papel preponderante neste combate. Como uma das principais forjas da moçambicanidade, as Forças Armadas de Defesa de Moçambique devem:

continuar a insuflar e a sedimentar a Unidade Nacional, o espírito patriótico e a enraizar a cultura de Paz;

continuar a cultivar a disciplina, o aprumo, o respeito pelas hieraquias e pelas instituições, como sua contribuição para a formação de moçambicanos íntegros e comprometidos com Moçambique e o seu Povo;

Continuar a pugnar pela promoção da auto-estima, da dig-nidade e a pautar por um comportamento exemplar nas suas relações com o nosso Povo.

Queremos, caros oficiais, ver as FADM a desenvolverem iniciativas de carácter económico, social e cultural de combate contra a po-breza. Acreditamos que intensificando a exploração dos recursos disponíveis localmente, as nossas Forças Armadas podem não só garantir a auto-suficiência das suas unidades militares, como tam-bém contribuir para a melhoria das condições de vida das comuni-dades à sua volta.

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Através da sua participação de manutenção da paz, as FADM pro-movem a nossa política externa de paz e solidariedade. Esta par-ticipação reforça a simpatia por Moçambique e mobiliza mais par-ceiros para a nossa Agenda Nacional de combate contra a pobreza. Esta é uma das valiosas contribuições das nossas Forças Armadas.

*****

Para o sucesso na nova batalha é imperioso que mudemos de atitu-de e comportamento. Temos que nos compenetrar de que há coisas que fazemos, mas que podemos fazer melhor e de forma mais efi-ciente. Temos que aceitar este desafio e inculcar em cada um de nós que a nossa determinação e entrega são fundamentais para a vitória contra a pobreza.

Para terminar gostaríamos de convidar a todos vós que nos acom-panhem num brinde:

Pelo sucesso das FADM,

À Paz e progresso de Moçambique,

À Paz e estabilidade em Africa e no mundo.

Muito obrigado.

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FADM:

Na frente da produção e da defesa da economia e do desenvolvimento nacional52

Queremos saudar e tomar boa nota do compromisso que acabam de reiterar, através da vossa mensagem apresentada pelo Chefe do Estado-Maior General, de cumprirem fiel e integralmente com os vossos deveres constitucionais e de honrar o legado dos libertado-res da nossa Pátria Amada.

Há 48 anos, no dia 25 de Setembro de 1964, erguíamo-nos, de ar-mas em punho, como Povo, unido e determinado, a conquistar a sua liberdade e independência. Hoje, curvamo-nos perante os jo-vens da Geração do 25 de Setembro que, com auto-estima, sentido de Pátria e de missão, acreditaram que era possível enfrentar e vencer a sofisticada máquina de guerra, de tortura e de opressão da dominação estrangeira.

Ao celebrar a heroicidade, a bravura e a valentia desses obreiros da nossa nacionalidade, reafirmamos a necessidade de continuar-mos a reforçar a qualidade, a estrutura e o produto final do con-junto de actividades que consubstanciam a capacidade defensiva nacional. Referimo-nos, em particular, à sua componente militar - as Forças Armadas de Defesa de Moçambique, herdeiras e suces-soras das gloriosas Forças Populares de Libertação de Moçambique.

*****

Moçambique, esta Pátria de Heróis, conhece desenvolvimentos que abrem boas perspectivas para acelerarmos o passo na luta contra a pobreza. Ao mesmo tempo, estes desenvolvimentos apresentam

52Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique e Comandante-Chefe das Forças Armadas de Moçambique, nas celebrações

do 48º aniversário das FADM. Pemba, 25 de Setembro de 2012.

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desafios complexos para as Forças Armadas de Defesa de Moçam-bique, alguns dos quais novos. Dois exemplos servem para eluci-dar estes desafios. Por um lado, os desafios advindos das ameaças de pirataria e, por outro, o imperativo de realizar operações pro-longadas na plataforma continental em defesa das actividades de prospecção de hidrocarbonetos nas águas nacionais.

Estes desafios juntam-se aos mais tradicionais de garantir a sobe-rania, a integridade territorial e a defesa das fronteiras terrestres, marítima, lacustres e fluviais, bem como do espaço aéreo da Repú-blica de Moçambique.

Quer isto dizer que as Forças Armadas de Defesa de Moçambique têm um papel preponderante a desempenhar na defesa da nossa agenda de luta contra a pobreza. Esta é a agenda de todos os mo-çambicanos, do Rovuma ao Maputo e do Indico ao Zumbo.

Como sempre, a nossa aposta foi e continua a ser no Homem. Não obstante a sofisticação e a rápida evolução técnica de equipamen-tos postos à disposição da defesa, o Homem é ainda o elemento preponderante, mas, e por mais paradoxo que pareça, também o mais vulnerável de todo o sistema de defesa. É no Homem que de-vemos continuar a investir, formando-o, educando-o e incutindo-lhe os valores que nos foram legados pelos libertadores da Pátria Moçambicana.

Isto implica que as Forças Armadas de Defesa de Moçambique de-vem continuar proactivas e assumirem sempre que os resultados do seu desempenho dependem de si e de mais ninguém. Outros podem dar apoios diversos mas não se vão substituir a quem tem uma missão consagrada constitucionalmente, a missão de defesa da independência nacional, da soberania e da integridade territo-rial da República de Moçambique.

Devem ter sempre presente que a adversidade é o melhor dos mes-tres

e que os desafios devem ser transformados em oportunidades para reiterarem o vosso amor pelo nosso maravilhoso Povo e por esta bela Nação. Neste quadro, a auto-superação constante é um im-perativo e,

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neste contexto, devem acreditar que há sempre uma melhor forma de fazer o que estão a fazer hoje.

*****

As ameaças de hoje são tipicamente transnacionais, difusas e mais imprevisíveis, o que exige das Forças Armadas de Defesa de Mo-çambique um elevado nível de adaptabilidade e flexibilidade. Esta conjuntura adversa requer elevados níveis de coordenação e de articulação inter-institucional. Há, pois, necessidade de desenhar respostas cooperativas e abordagens multilaterais, abrangentes e integradas, combinando as componentes militares com as civis.

Requer igualmente o constante aprofundamento das vossas análi-ses, previsões e estudos prospectivos para continuarem a crescer em respostas rápidas e de maior qualidade ainda, em casos de situações que exijam a vossa intervenção.

Por isso, neste dia de festa, de celebração e de reflexão, queremos exortar as Forças Armadas de Defesa de Moçambique a uma maior dedicação e empenho na preparação e prontidão combativa, bem como na educação dos seus efectivos e na produção para o auto-sustento das unidades militares. Por ocasião do 25 de Setembro, renovamos os votos de maiores êxitos na vossa nobre missão de defensores da nossa Pátria Amada.

Muito obrigado pela vossa atenção.

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FADM:

Abordando os desafios do aumento da sua capacidade e qualidade das suas intervenções53

Muito obrigado pela saudação que, através de si, Senhor Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambi-que, nos endereçam, por ocasião das celebrações do quadragésimo nono aniversário do início da Luta Armada de Libertação Nacional, a saga independentista protagonizada pelos Heróis desta Pátria de Heróis. Retribuímos as vossas saudações e felicitamos as gloriosas Forças Armadas de Defesa de Moçambique pelo seu empenho na defesa da Independência Nacional, da soberania e integridade ter-ritorial, bem como pela sua valiosa e prestigiante participação em missões de apoio à paz e de interesse público e nos mecanismos colectivos de segurança, a nível regional e internacional.

Através da direcção do Ministério da Defesa Nacional e do Estado Maior das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, saudamos todos os militares e funcionários do quadro administrativo da ins-tituição militar que têm estado a cumprir, com zelo, patriotismo e responsabilidade, diversas missões ao serviço dos interesses mais nobres da Nação Moçambicana. São homens e mulheres que, sob o signo da continuidade do heroísmo da Geração do 25 de Setem-bro, do qual se apropriaram, servem com honra, dedicação e ab-negação a Nação, quando e onde a Pátria determina, no País e no estrangeiro.

*****

Congratulamo-nos com o trabalho em curso tendo em vista conferir crescente pujança, mobilidade e capacidade operativa às nossas gloriosas Forças Armadas. Todavia, devem continuar a crescer para 53Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique e Comandante-Chefe das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, nas

celebrações do 49o aniversário das FADM. Maputo, 22 de Setembro de 2013.

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garantirem maior capacidade e qualidade das vossas intervenções para respaldarem, por um lado, a grande estima e simpatia que as nossas Forças Armadas granjeiam no seio do nosso Povo e, por outro lado, o crescente prestígio político e diplomático, social e económico da nossa Pátria Amada, na região e no mundo.

Os dois desafios, o aumento da capacidade das nossas Forças Ar-madas e da qualidade das suas intervenções para responderem às expectativas da Nação e do mundo, entram numa relação simbióti-ca para se apoiarem mutuamente, tendo em vista a contínua afir-mação da prosperidade da Nação, sempre unida e em paz. Alguns exemplos ilustram esse imperativo de aumento da capacidade das nossas Forças Armadas e da qualidade das suas intervenções para responderem às expectativas da Nação e do mundo. Olhemos para o primeiro exemplo. As previsões meteorológicas indicam a possi-bilidade de ocorrência de calamidades naturais na próxima época chuvosa.

a vossa participação nas operações de sensibilização do nosso Povo sobre os riscos que corre, mantendo-se em zo-nas vulneráveis.

o vosso papel no resgate de vidas em perigo; e

a prestação de socorro e assistência às vítimas dessas ca-lamidades têm merecido comentários elogiosos do nosso maravilhoso Povo, que toma assim contacto com um dos papeis desempenhados pelas Forças Armadas de Defesa de Moçambique em tempo de Paz. Por isso, devem continuar a fazer mais e a auto-superarem-se, reforçando, deste modo, as relações civis-militares.

Ainda neste contexto do reforço das relações civis-militares, rei-teramos as nossas saudações por terem retomado os festivais cul-turais e desportivos. Estes eventos são um importante momento de exaltação das virtudes e culto de valores que são referência permanente nas nossas Forças Armadas e em toda a Nação Mo-çambicana, como são os casos, por exemplo, da Unidade Nacional, da auto-estima, do patriotismo e da Paz. Testemunhamos ontem como se reforçaram essas relações civis-militares e se sublinhou a

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subordinação dos militares ao poder democrático civil, de acordo com a Constituição:

em primeiro lugar, através daquelas crianças que apresen-taram aquela bela coreografia sobre a Paz;

em segundo, através dos artistas e desportistas civis; e

em terceiro lugar, através do público, maravilhoso, cari-nhoso e entusiástico, que acorreu à cerimónia de abertura e vai certamente afluir aos locais de realização dos even-tos.

Prestemos agora atenção ao segundo exemplo que nos coloca o imperativo de aumento da capacidade das nossas Forças Armadas e da qualidade das suas intervenções para responderem às expec-tativas da Nação e do mundo. A nossa bela Pátria é detentora de:

recursos naturais diversos;

infra-estruturas estratégicas;

extensas fronteiras terrestres; e de

águas jurisdicionais, que também abrigam muitas riquezas nossas e que, elas próprias, precisam de ser preservadas, do ponto de vista ambiental e de biodiversidade, e de serem protegidas por serem, em particular, vias de comunicação da marinha mercante.

Os anúncios de descobertas de significativas reservas de hidrocar-bonetos na Bacia do Rovuma trouxe novos activos para a agenda das nossas Forças Armadas.

Este desafio já entrou na vossa matriz e nas vossas missões insubs-tituíveis de defesa da soberania e dos interesses da Pátria Moçam-bicana.

Estes dois exemplos, o reforço das relações civis-militares e a pro-tecção dos nossos diversos recursos, sublinham a necessidade per-manente de se apostar nos homens e nas mulheres que servem a instituição militar, pois estes são os recursos estratégicos que têm ao seu dispor para cumprir com as suas missões. Temos que reco-

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nhecer e sublinhar que a crescente qualidade das diferentes inter-venções nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique, incluindo aquelas maravilhas com que nos brindaram ontem, é resultado da também crescente qualidade dos homens e mulheres que servem a instituição militar. Por isso, são o seu mais valioso bem, sendo por conseguinte importante continuarmos a apostar na sua formação.

*****

A terminar, queremos convidar a todos os presentes a acompanha-rem-nos num brinde:

Ao sucesso das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, no cumprimento das suas missões;

Ao nosso contínuo sucesso na Agenda de Luta contra a Po-breza;

À paz e segurança ao nível mundial; e

À saúde de todos os presentes.

Muito obrigado pela vossa atenção!

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FADM:

O orgulho de ser herdeiro de valores nobres e

continuador de causas justas54

Queremos saudar e agradecer os organizadores desta cerimónia por nos terem abrilhantado com importantes páginas da nossa His-tória.

a História que nos fez;

a História que fizemos;

a História que estamos a fazer, no quotidiano.

Descortinámos, através das actividades que aqui foram exibidas, a ligação entre a resistência dos nossos antepassados ao invasor colonial e a prontidão combativa das Forças Armadas de Defesa de Moçambique. Testemunhamos como o desfile de crianças, artistas, Veteranos da Luta de Libertação Nacional, Prestadores do Serviço Cívico de Moçambique e membros das Forças Armadas de Defesa de Moçambique apresentou-se como uma das correias de transmis-são de valores que nos projectam como Pátria de Heróis.

Muito obrigado a todos por estas lições de História, de auto-esti-ma, de Unidade Nacional, da Paz e da projecção do progresso da nossa Pátria Amada. Muito obrigado Ministério da Defesa Nacional, Estado Maior General, Comandantes dos Ramos, Oficiais Generais, Oficiais Superiores, Oficiais Subalternos, Sargentos e Praças pela demonstração da prontidão combativa das Forças Armadas de De-fesa de Moçambique.

54Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique e Comandante-Chefe das Forças Armadas de Moçambique, na cerimónia das

celebrações do jubileu de Ouro das Forças Armadas de Defesa de Moçambique. Zimpeto,

25 de Setembro de 2014.

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*****

A História é como um rio que segue, impertubável, o seu curso. Para esse efeito e para os propósitos por ele próprio definidos, o rio pode criar afluentes, abrir novos leitos e mesmo abandonar o conforto do seu leito para se espalhar pelas planícies como, aliás, muitos dos nossos rios têm feito, muitas vezes provocando a morte e a destruição, mas cada vez mais, e graças às nossas acções de prevenção e resiliência, irrigando os solos para a nossa própria prosperidade. São assim os rios, é assim a História na sua marcha soberana pelos tempos e através das sociedades humanas.

Todavia, há momentos em que os acontecimentos se densificam e conferem à História novos ritmos, conteúdos e direcção. Esses mo-mentos são protagonizados por homens e mulheres de fibra, honra e glória. São homens e mulheres que sonham e compenetram-se do imperativo

de que podem e devem assumir um papel preponderante na mu-dança do rumo da História, o mesmo que acontece quando o en-genho humano constrói uma barragem que altera o curso natural do rio.

São homens e mulheres que tiveram um apurado sentido do seu próprio devir e clareza do sentido e pertinência do chamamento da nossa Pátria Amada, ocupada, oprimida e explorada.

A 25 de Junho de 1962 esses homens e mulheres de fibra, honra e glória decidiram fazer das suas respectivas biografias a vanguarda e a lanterna da luta pela nossa liberdade e independência. O 25 de Junho de 1962 não fez Moçambique porque este já existia como possibilidade.

As condições dessa possibilidade foram os acasos históricos que permitiram que vivêssemos experiências comuns de humilhação, exploração e sofrimento nas mãos de invasores externos e de sis-temas económicos que nos foram impostos de fora para nos retirar do curso em que a História nos tinha colocado, como nos recorda-ram as danças guerreiras aqui exibidas.

Com a sua auto-estima, determinação e sentido patriótico, esses homens e mulheres nacionalistas recusaram o que a História colo-

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nial lhes tinha pré-destinado, juntando-se, sob a liderança do Ar-quitecto da Unidade Nacional, Eduardo Chivambo Mondlane, como um só Povo, como uma só força, para contrariar o roteiro que a implacabilidade da opressão e da humilhação coloniais impunham a todos nós moçambicanos. A administração colonial subestimou a nossa decisão, o nosso clamor e vontade de liberdade e indepen-dência, recusando colocar ponto final ao problema colonial.

O 25 de Setembro de 1964 foi a nossa resposta estruturada a essa recusa obstinada das autoridades coloniais de reconhecer o nosso direito inalienável à liberdade e independência.

Era a nossa resposta firme aos massacres com que respondia ao nosso clamor contra as injustiças, a humilhação e a exploração desenfreada dos nossos recursos, cujo resultado era o crescente empobrecimento do nosso Moçambique.

O 25 de Setembro 1964 foi, nestas circunstâncias, a decisão que viabilizou o 25 de Junho de 1962, o projecto de Estado que se con-sumou a 25 de Junho de 1975 com o desfraldar para sempre, da nossa bandeira multicolor.

O 25 de Setembro de 1964 foi um importante passo na mudan-ça, pelos moçambicanos, do rumo da História do seu Moçambique. Nessa data, vincamos, de forma mais audível, perante África e o Mundo, a nossa vontade e determinação de sermos uma nação li-vre, independente e soberana.

O 25 de Setembro de 1964 é o dia em que o Moçambique que nas-cera a 25 de Junho de 1962, ganhou uma nova configuração,

mais cristalina, reluzindo, mais ainda, nos nossos corações. Com o 25 de Setembro de 1964 a Nação Moçambicana, rica na sua di-versidade, ganhou maior conteúdo e consistência. Ela consolidou-se como uma meta a alcançar, primeiro como liberdade do jugo colonial, e depois como progresso e bem-estar em termos por nós próprios definidos.

O 25 de Setembro de 1964 é uma data empolgante no processo de construção de Moçambique como nação.

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não é a violência que nos foi imposta pelo colonizador que faz do 25 de Setembro empolgante.

não é apenas a valentia dos homens e mulheres que deram as suas vidas pela causa proclamada a 25 de Junho de 1962 que faz do 25 de Setembro de 1964 empolgante.

não são apenas os sacrifícios que a Geração do 25 de Setem-bro consentiu para que o sonho de liberdade, anunciado a 25 de Junho de 1962, que faz do 25 de Setembro empolgante.

O que faz do 25 de Setembro de 1964 empolgante é o facto de a In-surreição Geral Armada ter constituído o momento em que os mo-çambicanos consolidaram a consciência de comunhão de destino.

Como proclamava nesse dia histórico o Presidente Eduardo Mondla-ne, o patrono da nossa nacionalidade, “O nosso combate não ces-sará senão com a liquidação total e completa do colonialismo por-tuguês [...] reforcemos continuamente a nossa unidade, a união de todos os moçambicanos do Rovuma ao Maputo [...]”.

O dia 25 de Setembro de 1964 tornou Moçambique mais viável ainda como projecto e mais orgulhoso da valentia, heroicidade e bravura dos seus filhos que se predispuseram a ser mártires da sua liberta-ção. São estes seus filhos, que elevaram bem alto a sua bandeira nas diferentes frentes em que se encontravam engajados:

nas frentes de combate directo contra as forças de opres-são;

nas masmorras da PIDE;

na frente clandestina; e

na frente diplomática.

O 25 de Setembro de 1964 entra assim na nossa História como o momento da efervescência patriótica da nossa nacionalidade, que mais do que o documento que nos identifica como moçambicanos é a voz e o direito que temos de ocupar o nosso merecido lugar no concerto das nações.

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*****

O 25 de Setembro de 1964 foi protagonizado por um grupo de cer-ca de 250 guerrilheiros, esses heróis nesta Pátria de Heróis. Mui-to cedo, porém, multiplicaram-se e, em catadupa, porque a sua causa era a causa de um Povo, a causa do Povo Moçambicano. Disciplinadas, patrióticas e sempre amigas do nosso Povo e claras de quem era o seu inimigo, as Forças Populares de Libertação de Moçambique, de arma em punho, foram avançando em diferentes frentes, desferindo golpes mortais ao inimigo e fazendo sangrar a sua máquina de guerra até 7 de Setembro de 1974, o dia da nossa Vitória.

Foi durante o processo da Luta de Libertação Nacional que as For-ças Populares de Libertação de Moçambique consolidaram as re-lações de amizade com outros combatentes da região e de outras latitudes, aprofundando assim o seu sentido de solidariedade com a luta desses povos, à semelhança do que fazíamos na CONCP. Foi neste contexto que, sob a égide da FRELIMO, as FPLM desenvolve-ram relações de camaradagem com os guerrilheiros nacionalistas do ANC, do MPLA, da SWAPO, da ZANU e da ZAPU e, mais tarde, com as forças progressistas do Uganda, dirigidas pelo actual Presi-dente da República daquele País amigo, Yoweri Musseveni.

Hoje, os valores identitários das Forças Populares de Libertação de Moçambique integram a matriz identitária das Forças Armadas de Defesa de Moçambique. Como o têm feito em outras ocasiões, as Forças Armadas de Defesa de Moçambique voltaram hoje a de-monstrar como se sentem orgulhosas herdeiras das honras e glórias do 25 de Setembro de 1964. Demonstraram isso durante o desfile, reafirmando o seu compromisso com a Unidade Nacional, a Paz e o progresso na Nação Moçambicana. Demonstraram ainda a sua en-trega a causas nobres e à consolidação das relações civis-militares.

Queremos uma vez mais saudar as Forças Armadas de Defesa de Moçambique pelo 25 de Setembro, seu dia, o dia da celebração das Bodas de Ouro da sua ligação umbilical com o nosso Povo muito especial, o maravilhoso Povo Moçambicano.

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A terminar, sublinhamos, uma vez mais, que foi o 25 de Junho de 1962, temperado pelo 25 de Setembro de 1964 e por outras lutas de libertação nacional nas outras colónias portuguesas, de então, que produziram o 25 de Abril de 1974, um importante passo para a libertação do Povo Português do fascismo e da ditadura, bem como para a introdução da democracia multipartidária em Portugal.

Povo Moçambicano Unido do Rovuma ao Maputo hoye!

Unidade Nacional hoye!

Geração 25 de Setembro hoye!

Forças Armadas de Defesa de Moçambique hoye!

Muito obrigado pela vossa atenção.

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Amor ao Povo, à Pátria, à Paz e ao Progresso:

Valores identitários dos obreiros da nossa nacionalidade, herdados pelas Forças de Defesa de Moçambique55

Não é todos os dias que temos a honra e o privilégio de presidir ao lançamento duma obra na presença não só dos seus autores como também de alguns dos principais protagonistas desse processo his-tórico que alterou o curso da História de Moçambique. Na verdade, o livro, “História da Luta de Libertação Nacional, Vol. 1”, apresen-ta-se como um certificado que justifica o acto de galardoação de parte desses Obreiros da nossa Nacionalidade, que tivemos a honra de presidir há pouco. Esta obra é um relato de uma epopeia prota-gonizada por homens e mulheres de valor, honra e glória, amantes de quatro p’s emblemáticos:

Povo, Pátria, Paz e Progresso, isto é, homens e mulheres que amam:

o Povo Moçambicano;

a sua Pátria, Moçambique;

a sua Paz como alternativa à própria Paz; e

o seu Progresso, indutor do bem-estar.

Estes homens de valor, honra e glória são heróis nesta Pátria de Heróis porque colocaram as suas vidas e os seus sonhos pessoais abaixo do bem colectivo.

São homens e mulheres que num momento muito especial, no mo-mento em que a Pátria por eles chamou, encontraram a força aní-mica, o estoicismo, a bravura e a perseverança para cumprirem a missão histórica que sentiam que era sua. Esta é a Geração do 25

55Comunicação de Sua Excelência, Armando Emílio Gubeuza, Presidente da República de

Moçambique, na galardoação com insignias de títulos honoríficos e condecorações dos

Veteranos da Luta de Libertação Nacional e do Lançamento do Livro “História da Luta de

Libertação Nacional, Vol. 1”. Maputo, 25 de Setembro de 2014.

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de Setembro, uma geração que, com alto sentido patriótico, de-terminação e inconformada com as condições desumanas que o co-lonizador nos impunha, decidiu unir as suas forças e soube manter viva, e cada vez mais devoradora, a chama da Unidade Nacional até à vitória final. Essa Geração acreditou e fez acreditar, a cada vez mais compatriotas nossos, que com a Unidade Nacional, auto-estima, sentido de missão e de pátria, tudo era possível incluindo, a Independência Nacional.

Com a sua fé no fim vitorioso da nossa causa deram um novo rumo e ritmo a Moçambique e à sua História. Por isso, hoje, com o lança-mento desta obra e com a galardoação de alguns dos Veteranos da Luta de Libertação Nacional, estamos a exaltar a nossa capacidade de fazermos a nossa própria História, uma História que escreve-mos como epopeia desde o dia 25 de Junho de 1962, o dia em que decidímos que seríamos nós, os moçambicanos, os heróis da nossa própria libertação da dominação estrangeira e donos do nosso pró-prio destino.

As páginas dessa epopeia foram escritas:

por cada um dos heróis da nossa libertação que evocamos, hoje e sempre;

por cada um dos homens e mulheres que hoje galardoamos; e

por todos os que complementaram o nosso empenho com a sua solidariedade para o êxito deste processo, digno e dig-nificante.

Hoje as páginas dessa epopeia continuam a ser redigidas por ho-mens e mulheres da Geração da Viragem, a Geração que integra a Geração do 25 de Setembro e a Geração do 8 de Março. É a Geração da Viragem que está hoje a produzir novos heróis desta Pátria de Heróis, no quotidiano da luta contra a pobreza e pelo nosso bem-estar. É a Geração da Viragem que está a produzir os heróis de superação dos desafios que a História nos coloca, heróis do compromisso com a causa nacional.

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A galardoação dos Veteranos da Luta de Libertação Nacional e o lançamento desta obra, que também integra os feitos destes Vete-ranos, servem para nos recordar como os Obreiros da nossa Nacio-nalidade, que constituem hoje, para todos nós, fonte de inspiração e de sabedoria, sonharam com um Moçambique livre e indepen-dente, mesmo rodeados de opressão e repressão.

Intrépidos e visionários foram cristalizando esse Moçambique na sua mente como uma realização possível. Mais importante ainda, foram capazes de transmitir esse seu sonho e o Moçambique que visualizavam na sua mente a outros compatriotas nossos e mobi-lizá-los a juntarem-se a essa epopeia libertária. Eles transmitem-nos hoje, lições seminais de que os problemas não são para serem contemplados.

São para serem resolvidos e que os desafios são um teste ao nosso génio para superá-los.

Na actualidade, estas lições seminais integram o leque do patrimó-nio epistemológico das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, que hoje celebram o seu dia, o seu jubileu de ouro. São, igual-mente, lições que têm estado por detrás dos seus muitos sucessos, simpatia e empatia com o nosso Povo heróico.

*****

As cerimónias de lançamento desta obra e de galardoação dos Ve-teranos da Luta de Libertação Nacional demonstram que o longo caminho da construção do Estado Moçambicano é rico em ensina-mentos de amor ao nosso Povo, à Pátria Moçambicana, à Paz e ao nosso Progresso. Estes ensinamentos devem ser resgatados, preser-vados, promovidos e perpetuados para as novas e futuras gerações.

O moçambicano que não conhece a História do seu Povo, dela não se pode orgulhar;

O moçambicano que não se orgulha da História do seu Povo, tende a admirar a História de outros Povos;

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O moçambicano que admira a História de outros povos, em detrimento da História do seu próprio Povo, corre o risco de pensar que dessa História se pode apropriar;

O moçambicano que pensa que está a apropriar-se da His-tória de outros Povos corre o risco de entrar numa crise de identidade, ao rejeitar o que devia ser seu e ao não se encaixar no espaço identitário de outros povos que aspira que lhe passe a pertencer.

Por isso, queremos saudar a todos os que estiveram envolvidos na produção deste livro, com particular destaque para o Ministério dos Combatentes, investigadores e académicos. Estas iniciativas devem ser multiplicadas, a todos os níveis, e de forma sistemática e coordenada, entre as várias instituições interessadas para evitar duplicações evitáveis. Há que encontrar outras formas de divulga-ção:

da História que fizemos;

da História que nos fez; e

da História que estamos a fazer, hoje e no quotidiano.

Temos que ter presente que as memórias vivas do processo da nossa libertação vão desaparecendo e com elas, todo o legado histórico.

Deixar a memória desta epopeia desaparecer é deixar que aquilo que faz de nós uma nação livre e orgulhosa também desapareça. Não podemos aceitar tão dramático destino.

O que faz de nós Nação é a nossa História que vamos escrevendo e protagonizando. Na nossa História documentamos a nossa existên-cia como um povo com orgulho da sua identidade e cultura.

Moçambique inspira-se no seu passado para, no presente, projec-tar o seu futuro.

As cerimónias de lançamento deste livro e de galardoação dos Ve-teranos da Luta de Libertação Nacional nesta data histórica são também um convite para que todos os Obreiros da nossa Naciona-lidade sintam que os seus sacrifícios não foram em vão e estão a ser valorizados.

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Serve ainda para que eles também sintam, cada vez mais, a insa-ciável sede de transmitir a História real vivida, individual e colecti-vamente, durante todo o processo da Luta de Libertação Nacional.

À Comissão Nacional dos Títulos Honoríficos e Condecorações vão as nossas felicitações pela sincronia estabelecida com o Ministério dos Combatentes para que estas duas cerimónias elevassem bem alto a essência, significado e o alcance do dia 25 de Setembro, Dia das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, dia das celebrações da passagem do quinquagésimo aniversário do desencadeamento da Luta Armada da Luta de Libertação Nacional, dia do Jubileu do 25 de Setembro de 1964.

Muito obrigado pela vossa atenção!

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CHAI:

Torrão emblemático da nossa capacidade de

lutar com meios próprios para realizarmos

os nossos ideais56

É uma coincidência feliz que as celebrações do quadragésimo quinto aniversário das Forças Armadas de Defesa de Moçambique tenham lugar em Chai, um dos símbolos da nossa auto-estima, bravura e capacidade de lutarmos e persistirmos nessa luta até ao alcance dos nossos ideais. Em Chai e de Chai queremos saudar a Geração do 25 de Setembro, aqueles homens e mulheres que consentiram indescritíveis sacrifícios, incluindo o da própria vida, para que hoje fossemos um Povo livre e independente.

Foi graças a essa geração de obreiros da nossa nacionalidade, des-temidos combatentes e patriotas dedicados à causa do maravilho-so Povo Moçambicano que hoje ocupamos o nosso lugar no concer-to das nações e participamos, de forma activa, na defesa da paz, segurança e desenvolvimento internacionais.

Em Chai e de Chai saudamos esses homens e mulheres que soube-ram vencer preconceitos contra outros moçambicanos, preconcei-tos esses que lhes tinham sido inculcados pela dominação colonial, para assumirem-se como filhos do mesmo povo, o Povo Moçambi-cano. São homens e mulheres que quando neles despertou o fervor da Pátria e a consciência da moçambicanidade por elas se uniram e lutaram até à vitória final.

56Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de

Moçambique e Comandante Chefe das Forcas Armadas de Moçambique nas celebrações

do 45º aniversario das FADM. Mueda, 25 de Setembro de 2009.

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O primeiro tiro de Chai e os que foram disparados noutros cantos do nosso Moçambique ocupado e oprimido constituíram-se em cla-mores pela nossa liberdade e independência e abalaram as funda-ções de uma dominação estrangeira que se enraizara já há cinco séculos. Neste prisma, o Museu de Chai, aqui instalado, eleva-se ao pedestal de homenagem a esses combatentes que enfrentaram, com bravura, audácia e determinação, a sofisticada máquina de guerra colonial porque:

Sabiam que a razão lhes assistia;

Sabiam que a sua causa era justa; e que, por isso,

Um dia ela se iria impor.

Celebramos o quadragésimo quinto aniversário das Forças Arma-das de Defesa de Moçambique no Ano Eduardo Mondlane, assim declarado em homenagem ao Arquitecto da Unidade Nacional. Foi sob a liderança do Presidente Eduardo Chivambo Mondlane que os cerca de 250 moçambicanos se uniram para desencadear a Luta de Libertação Nacional.

Foi sob a sábia e esclarecida liderança do Presidente Mondlane, o primeiro Comandante-Chefe das nossas forças de libertação, que essas duas centenas e meia de libertadores da nossa Pátria se mul-tiplicaram em milhares de combatentes, cada um lutando com os meios ao seu alcance, até à derrocada, em 13 anos, da adminis-tração estrangeira que se instalara em Moçambique há 500 anos.

O 25 de Setembro é um importante marco da nossa história, um símbolo indelével do nosso processo de libertação e de construção da Nação. Por isso, nesta data recordamo-nos das bases sobre as quais assenta a nossa identidade e afirmação da moçambicanidade e o denodo com que impusemos e fizemos triunfar o nosso direito à existência como um Povo soberano, dono dos seus destinos, de-fensor da paz e da liberdade.

Reiteramos as nossas saudações à Geração do 25 de Setembro, es-ses homens e mulheres que estão sempre prontos a cumprir tare-

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fas patrióticas em prol do nosso Povo. Hoje, vemo-los engajados na luta contra a pobreza, a nossa agenda da actualidade. Ontem ousaram lutar e vencer a dominação estrangeira. Hoje ousam lutar contra a pobreza, certos, como todo o nosso Povo, de que também vão vencer este flagelo.

Pelo seu exemplo eles recordam-nos que são heróis nesta Pátria de Heróis.

*****

As Forças Armadas de Defesa de Moçambique desempenharam um papel decisivo em todo o percurso da edificação desta nossa bela Pátria. Cumprida a missão de expulsar o ocupante invasor, as nos-sas forças armadas assumiram-se como baluarte da defesa da in-dependência, assegurando a integridade territorial, combatendo sempre em defesa do nosso maravilhoso Povo.

Demonstrando sempre um alto sentido patriótico e elevada disci-plina, as nossas forças armadas contribuíram, em diferentes etapas do percurso da edificação do nosso Estado, com inúmeros exemplos de patriotismo, bravura e de amor ao nosso Povo.

Depositários dessas epopeias heróicas e das ricas tradições da Ge-ração do 25 de Setembro as nossas forças armadas hoje forjam-se como uma escola do patriotismo, da Unidade Nacional, do aprumo, da disciplina e do respeito pelas hierarquias.

Por isso, saudamos as iniciativas que têm tomado para participar na implementação, com sucesso, da nossa Agenda Nacional contra a Pobreza.

A meta aqui deve ser a criação de capacidades para que, por um lado, cada unidade militar não dependa de terceiros em produtos de consumo que pode produzir. Por outro, para que cada militar adquira habilidades práticas que possam ser úteis à sua unidade e si próprio, mesmo depois de passar à disponibilidade ou à reforma. Queremos, sobretudo, que continuem a manter a vossa prontidão combativa:

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quer para o cumprimento da vossa missão principal;

quer para as operações humanitárias como o resgate das po-pulações vítimas das cheias, que têm realizado com êxito;

quer ainda para responderem às solicitações para interven-ções em missões de apoio à Paz na região e noutros pontos do planeta.

A contínua capacitação das Forças Armadas de Defesa de Moçam-bique continuará no topo das nossas atenções pois, uma defesa credível, actuante e pronta para defender a soberania, a paz e a estabilidade é fundamental para o desenvolvimento da nossa Pá-tria Amada.

Com a paz e estabilidade garantiremos que os moçambicanos se ocupem da prioridade nacional da actualidade, a luta contra a po-breza. Também com a paz e estabilidade atrairemos mais investi-mentos, nacionais e estrangeiros, para gerarem mais renda e pos-tos de trabalho para os moçambicanos.

*****

O quadragésimo quinto aniversário das Forças Armadas de Defesa de Moçambique tem lugar em plena campanha eleitoral, rumo às eleições Presidenciais, Legislativas e para as Assembleias Provin-ciais, conquistas maiores do Povo Moçambicano. Reiteramos a nos-sa exortação para que esta campanha decorra livre de quaisquer formas de intimidação e violência. Que no dia 28 de Outubro todos afluamos aos locais de votação para exercermos o nosso direito de cidadania.

As Forças Armadas devem agudizar o sentido de vigilância, discipli-na e isenção, garantindo, pela sua postura e prontidão combativa, a defesa da soberania, uma das condições para que

o nosso processo eleitoral decorra de forma exemplar, como os anteriores.

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*****

Celebremos o 25 de Setembro, exaltando os sucessos já alcançados e neles nos inspiremos para superar os desafios do futuro que se colocam no processo da construção de uma nação próspera, uni-da e sempre em paz. Que as nossas Forças Armadas continuem a reforçar a sua preparação técnico-militar e científica com vista a dominar, cada vez mais, os avanços que ocorrem na ciência e arte militares.

Desejamos a todos os nossos militares e ao nosso maravilhoso povo, um feliz dia de festa.

Muito obrigado pela vossa atenção.

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Sua Excelência Armando Emílio Guebuza

Nasceu a 20 de Janeiro de 1943, em Mur-rupula, Província de Nampula onde, seu pai, Miguel Guebuza, exercia a função de enfermeiro e sua mãe, Marta Bocota

Guebuza, doméstica.

Em 1948, o seu pai é transferido para Lourenço Marques, nome como era chamada a Cidade de Maputo, no período colonial. Aqui, aos seis anos, Armando Guebuza inicia os seus estu-dos no Centro Associativo dos Negros da Colónia de Moçambique, no Bairro de Xipamanine.

Como crente da Igreja da Missão Suíça é integrado nas Patrulhas (Mintlawa), que para além das actividades religiosas, desenvol-viam outras de carácter social e cultural que exigiam a participa-ção de todos, irmanados no espírito de sacrifício, ajuda mútua e promoção de uma visão comum.

No ensino secundário, junta-se a outros jovens, membros do Núcleo dos Estudantes Secundários Africanos de Moçambique (NESAM), e que era conhecido por “Núcleo”, uma organização cívica fundada por Eduardo Mondlane em 1949. O Núcleo tinha como actividades principais, a realização de aulas de compensação ou sejam, ex-plicações, educação cívica e cultural e, de uma forma discreta, a mobilização política.

Em 1963, Armando Guebuza é eleito Presidente do Núcleo cargo anteriormente exercido por Joaquim Chissano, antes da sua saída para Portugal em 1960. A sua escolha correspondeu à expectativa, tornando o Núcleo um centro de atracção e de referência para muitos jovens e adolescentes de então. No mesmo ano de 1963, Ar-mando Guebuza junta-se à rede clandestina da FRELIMO, na então Cidade de Lourenço Marques.

A sua experiência na direcção do Núcleo, a sua qualidade de moni-tor da escola dominical e o seu carisma concorreram para promo-ver e desenvolver o trabalho clandestino no meio estudantil.

Biog

rafia

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Em Março de 1964, Armando Guebuza e outros colegas, decidem deixar Moçambique para se juntarem à FRELIMO. Para escapar ao controlo da PIDE, a tenebrosa polícia secreta do regime colonial, tiveram que abandonar, em Mapai, cerca das 4 horas da manhã, o comboio em que se faziam transportar para sair de Moçambique.

Fizeram depois os mais de 80 quilómetros de Mapai à vila fron-teiriça de Chicualacuala a pé, enfrentando o cansaço, a fome e a sede. Vinte e quatro horas depois de terem deixado o comboio, e encontrando-se do lado rodesiano, continuaram a caminhar inin-terruptamente mais de 30 Kms até retomarem o comboio para Sa-lisbúria, hoje Harare. Neste percurso a eles se juntam mais dois moçambicanos seguindo a mesma viagem.

De Salisbúria, o grupo que integrava Armando Guebuza, retoma a viagem para a Zâmbia. No comboio, são presos pela polícia rode-siana, quando se preparavam para abandonar aquele país, e encar-cerados em Victoria Falls.

Armando Guebuza e os seus colegas são entregues à PIDE e durante aproximadamente cinco meses são torturados para se lhes extrair confissões.

Entretanto, por alturas da sua libertação são presos os guerrilhei-ros da Quarta Região que se preparavam para abrir a Frente Sul. Apesar de estarem em liberdade vigiada, Armando Guebuza e os seus camaradas decidem vingar-se da acção da PIDE e reafirmar com actos de coragem que a FRELIMO estava activa.

Na noite de 24 para 25 de Dezembro de 1964, espalham panfletos, na Região Sul de Moçambique, constituída por Inhambane, Gaza e Maputo, que continham a fotografia do Presidente Eduardo Mon-dlane. Esta situação forçou a PIDE a divulgar, um comunicado com a lista dos guerrilheiros detidos, dando detalhes sobre a trajectória política de cada um deles.

Não obstante as intimidações e chantagens da PIDE, Guebuza e os seus companheiros retomam o sonho de se juntarem à FRELIMO. Refugiam-se na Suazilândia, onde permanecem por alguns meses.

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Mais tarde, conseguem atravessar clandestinamente a África do Sul e, no protectorado britânico da Bechuanalândia, hoje Botswana, são novamente detidos e ameaçados com a deportação pelas auto-ridades britânicas.

Em resultado da intervenção do Dr. Eduardo Mondlane, Presidente da FRELIMO, exigindo a sua incondicional libertação, o grupo é en-tregue ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados e conduzido para a Zâmbia. Dali, mais tarde, o grupo segue para a Tanzânia, conduzido por Mariano Matsinha, então representante da FRELIMO na Zâmbia.

Na Tanzânia, Armando Guebuza é submetido aos treinos militares em Bagamoyo. Faz depois parte do grupo de combatentes que abre o Campo de Preparação Político Militar de Nachingweya.

Em 1966, é transferido de Nachingweya para Dar-es-salam, para exercer as funções de Secretário Particular do Presidente Mondla-ne, em substituição de Joaquim Chissano que se preparava para seguir para formação na União das Repúblicas Socialistas Sovié-ticas. Cumulativamente, Armando Guebuza lecciona no Instituto Moçambicano.

Mais tarde e ainda nesse mesmo ano de 1966 é nomeado Secretário para a Educação e Cultura. Por inerência destas funções passa a membro do Comité Central da FRELIMO, nesse mesmo ano.

Em 1968, é nomeado Inspector das escolas da FRELIMO e em 1970 Comissário Político Nacional.

No Governo de Transição Guebuza ocupa a pasta da Administração Interna, cargo que acumula com o de Comissário Político Nacional. No primeiro Governo do Moçambique independente é nomeado Mi-nistro do Interior.

Em 1974, Armando Emílio Guebuza, dirige na sua qualidade de Co-missário Político, o processo de criação e implantação dos Grupos Dinamizadores.

Em 1977, Armando Guebuza é eleito membro do Comité Político Permanente da FRELIMO, sucessivamente denominado por Bureau Político e Comissão Política.

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No mesmo ano, o Comité Político Permanente designa Armando Guebuza para dirigir a Comissão de reassentamento das popula-ções vítimas das cheias na Província de Gaza. É em resultado desse esforço, e em colaboração com as autoridades e populações locais, que nascem as aldeias comunais erguidas nas partes altas do Vale do Limpopo, e hoje em franco progresso.

Ainda em 1977, o Comissário Político Nacional Armando Guebuza é nomeado Vice-Ministro da Defesa Nacional e, em 1978, acumula estes cargos com o de Governador da Província de Cabo Delgado.

Em 1981, é designado Governador da Província de Sofala, e em 1983, é novamente, nomeado Ministro do Interior.

Em 1984, é nomeado Ministro na Presidência, responsável pela coordenação das áreas da Agricultura, Comércio, Indústria Ligeira e Turismo, assim como a cooperação com a China, Coreia do Norte, Paquistão e Vietname.

Em 1986, assume a pasta dos Transportes e Comunicações e da Pre-sidência do Comité de Ministros dos Transportes e Comunicações da Comunidade para o Desenvolvimento da Africa Austral.

Em 1990, é nomeado chefe da delegação do Governo às conversa-ções de Roma que resultaram na assinatura do Acordo Geral de Paz em 1992.

Em 1992, é designado Chefe da Delegação do Governo na Comis-são de Supervisão e Implementação do Acordo Geral de Paz para Moçambique.

Armando Guebuza, Tenente-General na Reserva, esteve também envolvido no processo de Paz do Burundi sob a égide do faleci-do Presidente da Tanzânia Julius Nyerere e, mais tarde, do anti-go Presidente sul-africano, Nelson Mandela. Armando Guebuza foi responsável da Comissão sobre a Natureza do Conflito Burundês, Problemas do Genocídio e Exclusão e suas Soluções.

Em 2000 ele foi escolhido, por consenso, pelas partes em conflito no Burundi para presidir à Comissão sobre as Garantias para a Im-plementação do Acordo resultante das negociações de Paz.

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Guebuza foi Chefe da Bancada da FRELIMO desde o primeiro par-lamento multipartidário, saído das Eleições Gerais de 1994, até ao VIII Congresso da FRELIMO.

Em 2002, é eleito Secretário-Geral da FRELIMO e candidato deste Partido às eleições Presidenciais de 2004.

Em Fevereiro de 2005 foi empossado como terceiro Presidente da República, depois da sua vitória nas Eleições de Dezembro 2004. Em Março do mesmo ano foi eleito Presidente da FRELIMO tendo sido reeleito no IX Congresso realizado em Novembro de 2006.

Em Janeiro de 2010 foi empossado para o segundo mandato depois da sua vitória nas Eleições de Outubro de 2010.

Sua Excelência Armando Emílio Guebuza é casado com Maria da Luz Guebuza, e é pai de 4 filhos e tem três netos.

Títulos, Medalhas e Homenagens

Titulos1

Moópoli, o Salvador - O salvador, aquele que resgata as pessoas de uma situação aflitiva, aquele que muda a condição social de mal para o bem (Distrito de Balama, 2004).

Malokiha, o endireitador, o que corrige coisas mal feitas. Aquele de quem se esperam só boas coisas, o corrector (Distrito de Chiúre, 2006)

1Entre os AMAKHUWA existe a tradição de entronamento do indivíduo cuja estatura so-

cial é encarada com prestígio e, por isso, na linhagem de transmissão do poder, assume

facilmente a sua candidatura. Essa candidatura ou admissão para a entrada no areópago

dos influentes é feita por decisão consensual por um colégio de sábios, (Macyée = Wa-

zée(Kiswahili), Mahumu, Mapewe), os quais estabelecem o título ou cognome por que

a pessoa eleita passa a ser conhecida. Antigamente essa pessoa era-lhe atribuída um

território e um conjunto de súbditos.

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Maréériha, o que torna as coisas bonitas. O pacificador, o purifi-cador. O polidor, purificador, o que faz as coisas ficarem bonitas/boas. (Namuno, 2009).

Mpéwe Nan’teka, o Rei Construtor. Aquele que constrói (Aldeia Sa-mora Machel Chiúre, 7.6.11.

Professor Doutor, com nota vinte sobre a sua tese com o título: Mwhusiha (Professor): fonte de Esperança (Alto Molócuè 10.04.14)

Maseko Nkwakwa- Rei dos Ngunis – Acto Orientado pela Rainha Inkossi Ya Makhosi (Angónia 14.06.14).

Plantador, como corolário do sucesso das iniciativas presidenciais um aluno, uma planta por ano e um líder, uma floresta comunitá-ria nova Barwé (19.06.14).

Medalhas e prémios

Ordem Eduardo Mondlane do 1º Grau, Resolução 6/85, de 17 de Junho;

Ordem Amizade e Paz do 1º Grau, Decreto Presidencial 12/2005, de 1 de Fevereiro;

Ordem de Mérito, Chile, 8.05.08;

Prémio do Instituto Afro-Americano, edição 2008, em reco-nhecimento pelo desenvolvimento humano;

Ordem Amílcar Cabral do 1º Grau, 16.11.08;

Prémio africano “Nandi” 2009, em reconhecimento do seu papel na promoção do género;

Prémio Crans Montana 2009, em reconhecimento do seu tra-balho visando minorar o sofrimento dos cerca de 20 milhões de moçambicanos;

Prémio de ouro, atribuído pela Rede de Investigação de po-líticas Agrícolas e Recursos Naturais, FANRPAN, em reconhe-cimento do seu papel na promoção da Revolução Verde em

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Moçambique e pelo facto do seu governo estar a injectar os 7 milhões para o desenvolvimento acelerado das zonas ru-rais e pela segurança alimentar e Revolução Verde, Maputo, 1.09.09;

Prémio do Conselho do Superior do Desporto em Africa pela sua liderança na criação de condições para a realização, com sucesso da X Edição dos Jogos Africanos Maputo 2011;

Prémio do Comité Olímpico Internacional edição 2011, pela forma como tem contribuído e participado na promoção dos ideais olímpicos no País e no mundo.

Prémio “Excellence Award”, atribuído pela Aliança dos Líde-res Africanos Contra a Malária (ALMA), pela sua determina-ção no combate a esta doença.

Prémio de Ouro da FAO de 2012, pelo seu papel no desenvol-vimento rural.

Embaixador de Boa Vontade sobre a Saúde Materna e Infantil 2013, conferido pelas Primeiras Damas de África, pelo seu papel na promoção da saúde materna, neonatal e infantil.

Ordem Excelente da Pérola de África em reconhecimento pela República do Uganda em 2013, do seu papel a nível político e diplomático no país e na região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

Cruz de São Marco do Primeiro Grau, por Sua Beatitude Papa e Patriarca de Alexandria e de toda África, Theodoros II, em 2014, em reconhecimento do seu papel na promoção da li-berdade religiosa em Moçambique.

Prémio da Revista The Business Year pelo seu papel nas re-formas e melhoria do ambiente de negócios em Moçambique 27.06.14;

Ordem Infante D. Henrique, 3.11.14;

Prémio Mérito Ambiental, atribuído pelo Ministério do Meio Ambiente, por ocasião dos seus 20 anos, pelo lançamento e

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liderança da Iniciativa Presidencial “um aluno, uma planta por ano” e “um líder, uma floresta nova”, 19.12.14;

Reconhecimentos

Presidente do Órgão da SADC para a Cooperação nas áreas de Política, Defesa e Segurança, 2009-2010;

Presidência da III Cimeira sobre Clima, em 2009, em reco-nhecimento do seu papel gestão de calamidades;

Presidente dos PALOP (2010-2012);

Presidente da CPLP (2012-2014);

Presidente da SADC (2012-2013);

Membro do Movimento Internacional de promoção da Nutri-ção “Scaling Up Nutrition (SUN) Movement”, desde 2012;

Membro da equipa nomeada em 2013 pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, Educação em primeiro lugar;

Presidente do Conselho de Paz e Segurança da União Africa-na, Março de 2014.

Homenagens

Serviço de Informações e Segurança do Estado, 23.04.14;

Artistas e homens da cultura, 14.08.14;

Ministério de Energia, 28.08.14;

Confederação das Associações Económicas, CTA, 26.09.14;

Organização Nacional dos Professores, 12.10.14;

Organização Continuadores, 25.10.14;

Ministério da Agricultura, 5.10.14;

Desportistas, 27.10.14;

Titulares dos Órgãos do Sistema de Administração da Justi-ça, 5.11.14;

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Ministério das Obras Públicas e Habitação, 12.11.14;

Instituto Superior de Estudos de Defesa “Tenente-General Armando Emílio Guebuza”, 21.11.14;

Conselho de Ministros, 9.12.14;

Casa Militar, 11.12.14;

Ministério dos Transportes e Comunicações, 13.12.14;

Conselho da Polícia da República de Moçambique, 17.12.14;

Doutor Honoris causa em Economia do Desenvolvimento, Universidade Eduardo Mondlane, 18.12.14.