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Moçambique, 40 anos de Independência:

Unidade Nacional, Paz e Progresso

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Ficha técnica:

Título: Moçambique, 40 anos de Independência: Unidade Nacional, Paz e ProgressoAutores: Ângélica João e Edith ChongoDirecção: João Baptista FenhaneCoordenação: Djalma Lourenço e José PitaColaboração: Célio Tiane e Arrissis MudenderDesigner: Cândido NhaquilaEdição: ARPAC – Instituto de Investigação Sócio-CulturalImpressão: AcadémicaTiragem: 2000 ExemplaresNúmero de Registo: D8453/RLINLD/2015Colecção Embondeiro: Edição Especial

Maputo, 2015

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Moçambique, 40 anos de Independência: Unidade Nacional, Paz e Progresso

Índice

Abreviaturas ……………...................................................……… 4Prefácio.............................................................................................. 5Introdução……………..............................................................…. 7

1. O Processo da Luta pela Independência em Moçambique….................................................................…. 8

1.1. Antecedentes……….......................................................….. 81.2. O Recrudescer do Nacionalismo em

Moçambique……....................................................……… 111.3. O I Congresso da FRELIMO e o Início da Luta de

Libertação Nacional…........................................................ 171.4. 25 de Junho de 1975: O Dia em que a Bandeira

Moçambicana Irradiou os Céus....................................… 232. Dez Anos da Independência de Moçambique:

Reconstruindo o Tecido Económico e Social................... 283. A Paz e o Desenvolvimento como Prioridades

Nacionais..........................................................................… 344. Moçambique: 30 Anos de Independência Rumo ao

Progresso..........................................................................… 415. Moçambique: 40 Anos de Independência Nacional...… 47

Referências Bibliográficas…............................................. 57 Anexos............................................................................… 60

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Abreviaturas

BM – Banco MundialCDSM – Centro de Documentação Samora MachelCFF – Centro de Formação FotográficaCNCD – Companhia Nacional de Canto e DançaFAM/FPLM – Forças Armadas de Moçambique/Forças Populares de Libertação de MoçambiqueFIIL – Fundo de Investimento de Iniciativas Locais FMI – Fundo Monetário InternacionalFRELIMO – Frente de Libertação de MoçambiqueMANU – União Nacional Africana de MoçambiqueNESAM – Núcleo de Estudantes Secundários Africanos de MoçambiqueONU – Organização das Nações UnidasOUA – Organização da Unidade AfricanaPIB – Produto Interno BrutoPIDE – Polícia Internacional e de Defesa de EstadoPME – Pequenas e Médias EmpresasPPI – Plano Prospectivo IndicativoPRE – Programa de Reabilitação EconómicaPRES – Programa de Reabilitação Económica e SocialRNT – Rede Nacional de Transporte de EnergiaSAAVM – Sociedade Algodoeira Africana Voluntária de MoçambiqueTANU – Tanganyika African National UnionUDENAMO – União Democrática Nacional de MoçambiqueUNAMI – União Africana de Moçambique IndependenteUNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e CulturaURSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

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Esta brochura é uma singela contribuição do Ministério da Cultura e Turismo às comemorações do 40° Aniversário da Independência Nacional, proclamada a 25 de Junho de 1975. A efeméride é celebrada neste ano (2015) sob o lema “Moçambique, 40 anos de independência: Unidade Nacional, Paz e Progresso”.

Não trazemos, nestas linhas, a trajectória cronológica da nossa história, pois ela não caberia nestas páginas. Buscamos apenas o que mais marcou o povo moçambicano, dos reinos à chefaturas tradicionais, da resistência à colonização, passando pelos ventos da consciência nacionalista, assim como a necessidade da Luta Armada como resposta ao anseio do povo, depois do assassinato de centenas de moçambicanos, em Mueda, no dia 16 de Junho de 1960.

A forma didático-pedagógica desta brochura permite facilmente passar a mensagem da necessidade da consolidação da Independência Nacional, da Paz, condição básica para se atingir o progresso. É neste contexto que a Cultura é chamada para cimentar a Independência e construir a identidade nacional moçambicana. Pois, ao longo da nossa história, a Cultura trouxe ganhos imensuráveis ao país.

Ao longo dos 40 anos da nossa independência foram criadas instituições de formação artística, de promoção, de pesquisa e preservação do património cultural tanto imaterial quanto material do povo moçambicano. O reconhecimento pela UNESCO do património imaterial e material constitui orgulho para o povo moçambicano porque sem a independência jamais

Prefácio

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a Ilha de Moçambique, o Nyau e a Timbila seriam reconhecidas como patrimónios culturais de valor universal. Por isso, a Cultura não deve ser vista apenas como uma riqueza a ser preservada e protegida, ela é dinâmica, é fonte da criatividade e vector indispensável do progresso da humanidade, não pode ser reduzida à função de acessório do crescimento económico. Se o fim dos programas e projectos de desenvolvimento é satisfazer as ansiedades ou necessidades do Homem, então, essas ansiedades só podem ser compreendidas a partir da Cultura. O verdadeiro lugar é o de constituir o fulcro das dinâmicas do desenvolvimento.

Para o caso de Moçambique, a Cultura é, como se referiu Samora Machel, “Sol que nunca desce”, elemento aglutinador da nação.

Junho de 2015

Silva Dunduro

Ministro da Cultura e Turismo

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Introdução

A 25 de Setembro de 1964, deu-se início ao processo de construção de Moçambique, como uma nação livre e independente, com o lançamento da Insurreição Geral Armada contra a ocupação estrangeira. Na altura, os moçambicanos unidos e guiados pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), decidiram Lutar pela Libertação da Terra e do Homem Moçambicano.

A Unidade Nacional, determinação e perseverança dos moçambicanos logrou os seus intentos quando a 25 de Junho de 1975, Moçambique declarou a sua Independência Nacional, conquistando o pleno direito de País Livre e Soberano no concerto das nações.

Hoje, passam 40 anos do histórico momento vivido no Estádio da Machava que contagiou os moçambicanos a nível nacional; a Declaração de Independência pelo Presidente Samora Moisés Machel. São 40 anos de uma caminhada repleta de vitórias, sucessos e progresso nas mais diversas áreas, mas também, são 40 anos de desafios.

É no âmbito das festividades da independência da jovem nação moçambicana que o Ministério da Cultura e Turismo produziu esta brochura, para que, de forma resumida, os leitores recordem-se do passado glorioso do povo moçambicano que culminou com a Independência Nacional.

A celebração dos 40 anos de Independência Nacional é um momento de festa, de exaltação da nossa História, da celebração das nossas conquistas, momento de consolidação do espírito de Unidade Nacional, da cultura de Paz e do espírito de auto-estima.

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1. O Processo da Luta pela Independência

em Moçambique

1.1. Antecedentes

“O Estado Colonial Português em Moçambique foi, na ponta das baionetas, montado para servir os diversos interesses do capital internacional. Toda legislação publicada entre o fim do século passado e 1930 destinou-se a amordaçar os moçam-bicanos no estreito e desumano perímetro da sua condição de ‘indígenas’ e de trabalhadores forçados. Por isso e para isso o Estado Colonial usou mais os aparelhos repressivos e menos os aparelhos ideológicos”.

Serra (2000); In História de Moçambique, Volume I.

A ocupação efectiva de Moçambique por parte do Estado colonial português encontrou uma forte resistência do Povo Moçambicano que, organizado de diversas formas opôs-se à dominação que lhe era imposta. Em toda a extensão do território moçambicano, diversos estados e povos negaram, pacificamente, a subjugação, erguendo-se em diversas formas de resistência, pois, mais do que a exploração do Homem e dos recursos naturais, a fixação estrangeira implicava a descaracterização dos autóctones por via da desvalorização e/ou banimento dos seus conhecimentos e tradições seculares, em suma, a sua História Cultural. No entanto, apesar da sua audácia, as primeiras formas de resistências foram todas elas vencidas. Dois grandes factores ditaram o fracasso destes levantamentos: a superiodidade bélica do colonizador e, sobretudo, a falta de coesão entre o povo moçambicano, que vezes sem conta foi intencionalmente criada pelo colonialismo.

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A partir da segunda metade do século XX, o colonialismo português passou a usar métodos mais sofisticados que incluíam estratégias de incitação à divisão dos chefes locais, conquistando apoio de alguns e ganhando vantagens militares em relação às unidades políticas mais resistentes. Esta estratégia culminou com a queda das resistências, dentre as quais se destacaram o Império de Gaza, em 1895, o Estado de Bárue, em 1918, e a última em 1920, no Planalto dos Makonde. Como consequência, a ocupação do território moçambicano tornou-se efectiva o que permitiu a implantação da administração colonial portuguesa (Tembe, 2014).

Economicamente frágil, Portugal adoptou uma estratégia de colonização virada fundamentalmente para a satisfação das necessidades de capitais internacionais, alienando o nosso País as potencias coloniais mais fortes. A forma de acumulação de capital usada por Portugal nesta altura foi a venda de mão-de-obra para as economias agrárias e mineiras da região, bem como a concessão de terras e desenvolvimento de portos e prestação de serviços ao capital estrangeiro, sobretudo britânico que explorava as colonias da Rodésia do Sul e Norte, e a África do Sul. Para assegurar a produção interna, Portugal desencadeou o uso de força de trabalho em regime coercivo e a cobrança de impostos a população, conhecida na legislação colonial como “indigenas”.

Mondlane (1995:37), refere-se a este aspecto sublinhando que “entre 1890 e 1910 ficaram definidas as principais características do colonialismo português: uma rede administrativa centralizada e autoritária; a aliança com a igreja católica; a utilização de companhias, muitas vezes estrangeiras para explorar os recursos naturais; o sistema de concessões; trabalho forçado; e exportação em grande escala de trabalhadores para a África do Sul”.

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A institucionalização da aquisição da força produtiva através do trabalho forçado, também designada por “chibalo”, foi uma das características marcantes do regime colonial. Tratava-se de um sistema baseado na opressão e na exploração dos moçambicanos, no trabalho das plantações coloniais, construção de infra-estruturas como estradas, pontes e caminhos de ferro a troco de salários de miséria. Muitas vezes, estes trabalhadores eram vítimas de maus tratos por parte dos empregadores e privados de direitos básicos. Sobre esta matéria, Adam (2000:387), destacou:

“O sistema do chibalo foi montado com base na pilhagem e utilização abusiva do campesinato. Forçado a trabalhar para poder pagar o imposto e evitar a prisão, o trabalhador foi en-gajado sem direitos de espécie alguma. O pagamento dos salá-rios podia ser diferido ou negligenciado por períodos longos, segundo o capricho dos patrões; alguns proprietários rurais adoptaram a táctica de maltratar os trabalhadores no último mês de trabalho de modo que, se eles fugissem, evitavam, as-sim, pagamentos de qualquer ordem”.

A situação de exploração e opressão conduziu ao recrudescimento do sentimento de revolta contra o regime colonial português. Com efeito, a partir da década de 1930, começaram a observar-se manifestações populares e de trabalhadores em oposição ao sistema. A título de exemplo, como forma de manifestação contra as culturas forçadas do algodão e do arroz, os camponeses passaram a cozer as sementes, reduziram as áreas de produção e abandonaram as suas aldeias. Merece menção a ascensão do movimento operário das plantações e do sector ferroviário. Tais foram os exemplos das greves da Açucareira de Xinavane, em 1949 e dos estivadores dos portos de Lourenço Marques, da Beira e de Nacala. Estas últimas, ao longo dos anos, tiveram um carácter sistemático tendo ocorrido em 1948, 1956 e 1963.

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Perante as crescentes ondas de contestação, o regime colonial endureceu a sua máquina repressiva contra o povo moçambicano. As perseguições, prisões, maus tratos e torturas levadas a cabo pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) em colaboração com o exército colonial aumentaram de intensidade. O extremo destas barbaridades aconteceu em Mueda, a 16 de Junho de 1960, quando um grupo de moçambicanos dirigiu-se à administração local para, de forma pacífica, reivindicar a liberdade e justiça social. A reunião tinha sido convocada pelo administrador alegadamente para responder as reivindicações dos camponeses da Sociedade Agrícola Africana e Voluntária de Moçambique e da União Makonde que pediam o fim do trabalho forçado, a autorização para abertura de lojas cujos donos fossem negros e, a venda livre e a preços aceitaveis de alguns produtos agro-pecuários (Tembe, 2014). A resposta colonial a esta acção pacífica não poderia ter sido mais fatal. Centenas de cidadãos foram barbaramente assassinados.

1.2. O Recrudescer do Nacionalismo em Moçambique

Como anteriormente mencionado, a acção colonial portuguesa em Moçambique foi marcada por uma intensa revolta cujo cúmulo ocorreu com o Massacre de Mueda a 16 de Junho de 1960. Importa, pois, analisar factores de ordem estrutural que na década de 50-60 teriam galvanizado este movimento até atingir a forma de Movimento de Libertação Nacional.

Na segunda metade da década 1950 o processo de libertação em África começou a fazer-se sentir com maior impacto. Nesta altura, influenciados pelo movimento pan-africanista, destacados líderes africanos intensificaram as suas acções com vista a pôr fim à colonização dos seus países. De entre estas figuras, destacam-se

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Kwame N’krumah, do Ghana, Jomo Kenyatta, do Quénia, Patrice Lumumba, do Congo, Gamal Abel Nasser, do Egipto, Julius Nyerere, da Tanzania e Leopold Senghor, do Senegal. Para além da acção exercida directamente pela influência dos intelectuais africanos, pode igualmente ser mencionada a pressão exercida pela Organização das Nações Unidas, do exemplo trazido pelas independências dos primeiros países de África em 1957 (Ghana) e de políticas pró-independentistas de algumas potencias ocidentais ávidas de mercados para exportar os seus capitais e explorar matérias-primas, como foi o caso dos Estados Unidos da América.

Da influência destes factores, surgiram dois polos nacionalistas em Moçambique, uma nos centros urbanos, fundamentalmente suportadas nas artes e cultura, e outra, no meio rural, corporizada pelas associações agrícolas. No meio urbano assistiu-se à formação de várias associações que, com recurso a poesia, pintura e escultura denunciavam as atrocidades a que os moçambicanos estavam sujeitos. Foi nesta altura que alguns periódicos empenharam-se, ainda mais, em escrever artigos para chamar a atenção da comunidade internacional sobre a situação em Moçambique1.

De facto, a essência do sentimento nacionalista tinha como pano de fundo a valorização da cultura africana/moçambicana. Segundo Cabaço (2010), a literatura com um carácter eminentemente “denunciador” das humilhações e brutalidades alimentava a utopia de um amanhã em liberdade. De facto, o sonho de “nação” foi ganhando forma e se massificando com os poemas de José Craveirinha, Noémia de Sousa, Rui Nogar, Kalungano2, dentre outros.

1Dentre as associações neste período destacam-se o Núcleo dos Estudantes Secundários de Moçambique (NESAM) e o Centro Associativo dos Negros da Colónia de Moçambique. Na imprensa escrita surge como exemplo o jornal A Tribuna, fundado em 06 de Outubro de 1962. 2Um dos nomes artísticos de Marcelino dos Santos.

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Mondlane (1995), faz menção do papel das artes e da cultura no movimento contestatário referindo que a reacção dos moçambicanos era expressa em canções, danças e esculturas; formas tradicionais de expressão cultural que o colonizador não comprendia e através das quais ele podia ser secretamente ridicularizado, denunciado e ameaçado. O mesmo autor traz na sua obra duas letras de canções onde a crítica às políticas coloniais está patente (Mondlane, 1995:88 e 89):

• Crítica ou sátira sobre os valores mercantis europeus:

“Como fiquei espantado,Meu irmão Nguissa,

Como fiquei espantadoPor ter de levar dinheiro para comprar o meu caminho”.

• Ridicularização das tentativas de impor os costumes portugueses:

“Oiçam a canção da aldeia ChigombeÉ aborrecido dizer ‘bom dia’ a toda hora

Macarite e Babuane estão na prisãoPorque não disseram ‘bom dia’

Tiveram que ir a Quissico dizer ‘bom dia’.”

No meio rural, vários camponeses organizaram-se em cooperativas na tentativa de criarem uma base de apoio mútuo na produção e comercialização de produtos agrícolas e, deste modo, melhorar a sua situação económica. Foi no seio destas associações que começaram os debates políticos e que rapidamente ganharam contornos nacionalistas. O exemplo ilustrativo é o da formação, em 1957, da Sociedade Algodoeira

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Africana Voluntária de Moçambique (SAAVM), que viria articular os ideais de auto-determinação entre a população da região do Planalto dos Makonde. Segundo Mondlane (1995), as autoridades portuguesas levantaram restrições as actividades levadas a cabo pelas cooperativas o que contribuiu para que elas passassem a ter um teor marcadamente político e hostil perante a administração colonial.

O aumento das restrições impostas pela administração colonial teve como consequência a emigração em massa de moçambicanos para os territórios vizinhos como a Tanzania, Rodésia do Norte, Rodésia do Sul e Niassalândia, regiões onde a actividade política dos africanos já tinha atingido alguma maturidade. Os moçambicanos emigrados, inspirados na experiência destes países formaram movimentos políticos com a finalidade de reivindicar a independência dos seus territórios.

Assim, no ano de 1960, em Salisbúria (actual Harare), no Zimbabwe foi fundada a União Democrática Nacional de Moçambique (UDENAMO). No mesmo ano, foi fundada a União Africana de Moçambique Independente (UNAMI) no Malawi, e a União Nacional Africana de Moçambique (MANU), em 1961 na Tanzania (Dove et al, 2008).

No interior de Moçambique, a efervescência nacionalista atingiu um dos momentos mais altos em 1961 quando Eduardo Chivambo Mondlane, na altura funcionário das Nações Unidas, visitou Moçambique em gozo de férias. Apesar da vigilância cerrada da PIDE, Mondlane conseguiu realizar encontros com jovens nacionalistas na Paróquia da Missão Suíça do Khovo, na então cidade de Lourenço Marques. Eduardo Mondlane participou de um culto na Paróquia de Chamanculo, muito concorrida pelos jovens, que viam-no como o “farol” que os pudesse guiar nas suas pretensões.

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Eduardo Mondlane, firme nas suas convicções nacionalistas, estabeleceu contactos com os vários movimentos políticos sem no entanto filiar-se a nenhum deles. Estudioso de assuntos africanos, estava convicto que maior parte das resistências africanas haviam sido derrotadas pelos europeus em virtude da falta de união. Cabaço (2010:278), refere-se a este aspecto sublinhado que “a história das resistências ensinava que as múltiplas revoltas contra a ocupação portuguesa tinham sido derrotadas pela desunião e descoordenação entre os povos locais. Portanto, assegurar uma plataforma de unidade que permitisse a organização da confrontação com o ocupante constituía prioridade de Eduardo Mondlane (…)”.

O posicionamento de Mondlane ia de encontro com a visão de outros líderes africanos como Nkwame Nkrumah e Julius Nyerere que haviam aconselhado os movimentos políticos moçambicanos a unirem-se numa única frente. Assim, sob a iniciativa de Mondlane, a UDENAMO, MANU e UNAMI, fundiram-se, constituindo a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) a 25 de Junho de 1962, em Dar-es-Salaam, na Tanzania.

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Eduardo Chivambo Mondlane a sua chegada à Dar-es-Salaam, para unificação dos moçambicanos, recebido pelos representantes da UDENAMO, MANU e UNAMI

Nesta altura começava a fortificar-se a ideia de Unidade Nacional entre os moçambicanos. Eduardo Mondlane acreditava que só com a Unidade podia-se vencer o inimigo. A essência subjacente na ideia de Unidade resumia-se na inclusão de todos os moçambicanos numa única causa, sem olhar para a cor da pele, credo religioso, origem étnica, condição financeira, dentre outras características. Neste conceito, incluía-se, igualmente, a dimensão territorial. Com esta visão contrapunha-se uma das principais armas do inimigo que se baseava na ideia de “dividir para reinar”.

A unidade preconizada pela FRELIMO é descrita por Cabaço (2010:278), como sendo uma “unidade que englobasse todos os moçambicanos, sem discriminação, consubstanciada

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na unidade ideológica do movimento, na unidade entre os guerrilheiros e o povo, na unidade entre elites e massas, trabalho intelectual e trabalho manual, cidade e campo (…). Esta unidade forjar-se-ia na participação da libertação nacional e no comportamento quotidiano, conquistar-se-ia pela comunhão dos sofrimentos vividos, pela convergência nos propósitos da luta, pelo estabelecimento de relações de tipo novo que deveriam ultrapassar tanto a experiência colonial como a tradicional”. Foram, efectivamente, estes os princípios que viriam a nortear todo o processo de luta do povo moçambicano para a sua libertação da dominação estrangeira.

1. 3. O I Congresso da FRELIMO e o Início da Luta de Libertação Nacional

De 23 a 28 de Setembro de 1962, foi realizado o I Congresso da FRELIMO, em Dar-es-Salaam, na Tanzania. Este magno evento revestiu-se de importância histórica, na medida em que, para além de oficializar o Movimento que acabara de ser criado, foi também o Congresso da Unidade, em que moçambicanos oriundos de vários quadrantes se reuniram e tomaram decisões relevantes sobre o seu futuro.

No I Congresso foram aprovadas várias resoluções, com destaque para a que preconizava o emprego de todos os esforços para o alcance da Independência Nacional. Com efeito, de acordo com o programa aprovado, a FRELIMO defendia a “liquidação geral do colonialismo português em todas as suas formas e manifestações e a lutar por todos os meios para a liquidação em Moçambique, da dominação colonial portuguesa e de todos os vestígios do colonialismo e imperialismo” (Tembe, 2014:82).

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Baseando-se neste pressuposto, a FRELIMO iniciou os preparativos para o desencadeamento da Insurreição Geral Armada de todo o povo moçambicano. Na sequência, foi lançada uma vigorosa campanha de sensibilização nas comunidades visando explicar os propósitos da Luta, a definição clara do inimigo, que na óptica dos documentos orientadores da FRELIMO era o colonialismo português e seus ideais e não o povo português. As nobres ideias libertárias atraíram jovens de todo o País que, de diversas formas, se juntaram a Frente de Libertação de Moçambique.

Consolidada a visão e a ideologia para lutar contra o colonialismo, a FRELIMO passou para a criação de condições logísticas e materiais para o desencadeamento da Luta Armada de Libertação Nacional. Esta acção consistiu na busca de apoio junto de países e organizações que se identificavam com a causa do povo moçambicano, enquanto na Tanzania era formado o comando da guerrilha.

Assim, em 1963 foram enviados os três primeiros grupos de guerrilheiros para treinos militares na Argélia. No ano seguinte, outros grupos seguiram para China, Egipto, Israel e a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Regressados à Dar-es-Salaam, os quadros preparados no exterior passaram a ser envolvidos no treinamento de outros nacionalistas para o seu engajamento na causa libertária. Reunidas as condições necessárias, a FRELIMO declarou a Insurreição Geral Armada contra o regime colonial português, a 25 de Setembro de 1964, através de um comunicado lido pelo Presidente da FRELIMO, Dr. Eduardo Chivambo Mondlane, nos seguintes termos:

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“Moçambicanas e Moçambicanos,Operários e camponeses, trabalhadores das plantações, das serrações (...) trabalhadores das minas e dos caminhos de ferro, dos portos e das fábricas, intelectuais, funcionários, es-tudantes, soldados moçambicanos no exército português, ho-mens, mulheres e jovens, patriotas:Em vosso nome, a FRELIMO declara hoje, solenemente, a insurreição geral armada do povo moçambicano, contra o colonialismo Português, para a conquista da independência total e completa de Moçambique. O nosso combate não ces-sará senão com a liquidação total e completa do colonialismo português” (FRELIMO, 1975:68).

Eduardo Mondlane e Samora Machel, durante a Luta de Libertação Nacional

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No seguimento desta declaração, os guerrilheiros da FRELIMO desencadearam operações militares em quatro frentes, nomeadamente, Cabo Delgado, Niassa, Tete e Zambézia. O ataque ao Posto Administrativo de Chai na Província de Cabo Delgado por um grupo de guerrilheiros liderados por Alberto Joaquim Chipande, foi tomado como o acto simbólico que marcou o início da Luta Armada de Libertação Nacional em Moçambique. A conjuntura pouco favorável e o posicionamento ambíguo do Malawi face a Luta de Libertação no nosso País, e do processo de transferência de poderes que ainda decorria na Zâmbia, levaram a Frente de Libertação de Moçambique a suspender estrategicamente as acções militares nas províncias de Tete e Zambézia, em 1965.

Nas Frentes de Niassa e Cabo Delgado a luta avançava de forma impetuosa, permitindo a criação das primeiras Zonas Libertadas, em 1967. Em 1968, foi realizado o II Congresso da FRELIMO, o primeiro em território moçambicano, um marco indelével na História da Luta Armada. Designado “Congresso da Vitória”, ficou marcado pela tomada de importantes resoluções, cuja implementação nas zonas do interior possibilitaram a reabertura da Frente de Tete, considerado o “estômago do inimigo”.

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Parte dos participantes ao II Congresso da FRELIMO, em Matchedje

A partir de Tete, a luta progrediu de forma imparável, abrindo as Frentes de Manica e Sofala, a região Sul e Zambézia. Inequivocamente, o inimigo perdia a sua capacidade combativa a favor dos guerrilheiros da FRELIMO. Como forma de contrariar o ímpeto militar da FRELIMO e controlar a mobilidade das populações, o regime colonial decidiu lançar a “Operação Nó Górdio”. Esta operação assentava num cerco e batida com grandes meios, prevendo-se o isolamento da área do Planalto de Mueda, onde se encontravam as grandes bases da FRELIMO. Foi nesta altura que a base logística de Limpopo, em Namatil, Cabo Delgado, foi ocupada pela tropa colonial.

Considerando a importância geo-estratégica do local, os guerrilheiros da FRELIMO não abandonaram por completo a região. O aquartelamento colonial sofria frequentes ataques. Como consequência, em 1974, foi tomado de assalto a Base Omar, um dos últimos redutos militares da tropa colonial.

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Diante da eminente vitória militar da FRELIMO, não restava outra opção as autoridades coloniais portuguesas senão a concessão da independência ao povo moçambicano. Assim, foram encetadas várias conversações que culminaram com a assinatura dos Acordos de Lusaka a 7 de Setembro de 1974, na Zâmbia.

Momento da assinatura dos Acordos de Lusaka, em 1974, na Zâmbia, vendo-se Samora Machel, a proferir o seu discurso

Como corolário dos Acordos de Lusaka, a 20 de Setembro de 1974, foi empossado o Governo de Transição. Com a tomada de posse deste Governo, iniciava uma nova fase na derradeira caminhada para a descolonização, portanto, o último passo para a Independência Total e Completa de Moçambique.

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Membros do Governo de Transição, destacando-se dois Ex-Presidentes da República de Moçambique, Joaquim Chissano e Armando Guebuza

1.4. 25 de Junho de 1975: O Dia em que a Bandeira Moçambicana Irradiou os Céus

Os Acordos de Lusaka preconizavam que a independência total e completa de Moçambique seria solenemente proclamada a 25 de Junho de 1975. Refira-se que assinados os acordos, o Presidente da FRELIMO, Samora Moisés Machel, efectuou um périplo pelo território nacional designado “Marcha Triunfal do Rovuma ao Maputo”. A Marcha tinha como propósito o reconhecimento dos problemas que preocupavam o povo moçambicano e que a Revolução devia levar em conta. Por outro lado, pretendia divulgar as perspectivas do desenvolvimento do país, a luz dos princípios preconizados pela Frente de Libertação de Moçambique. Serviu, igualmente, para partilhar com o povo “o sabor da vitória” contra

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o regime colonial e o processo de transferência do poder para os moçambicanos. Esta marcha teve o seu término em Maputo, no dia 23 de Junho de 1975, com a entrada triunfal a esta cidade de Samora Moisés Machel, Presidente da Frente de Libertação de Moçambique.

Samora Machel na Beira. Fonte: Sopa, 2001

A euforia nas vésperas da proclamação da Independência Nacional contagiou por completo os moçambicanos do Rovuma ao Maputo. Como forma de preparar o “Grande Dia”, o povo moçambicano levou a cabo várias acções, como a ornamentação e iluminação das cidades e bairros, preparação de actividades desportivas e limpeza das ruas. Várias actividades culturais e festivas como exibições de teatro, canto e dança aconteciam em simultâneo. Um dos exemplos foi a 1ª exposição de Numismática no Banco de Moçambique.

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O Presidente Samora Machel, acompanhado pelo vice-presidente, Marcelino dos Santos, membros dos Comités Central e Executivo da FRELIMO, dezenas de delegações estrangeiras3 e milhares de moçambicanos, fizeram-se ao Estádio da Machava, para testemunhar a cerimónia de Proclamação da Independência Nacional. No local, assistiu-se de forma emotiva ao arrear da bandeira portuguesa, executada por três elementos que representavam as forças armadas portuguesas4 e o astear da nova Bandeira Nacional, acto efectuado pelo combatente Alberto Joaquim Chipande.

Içar da bandeira Nacional3Integrava o presidente da OUA e da Somália, Siad Barre; o representante da ONU, o vice-presidente da TANU e primeiro-ministro da Tanzania, Rashid Kawana; o primeiro-ministro de Portugal, Vasco Gonçalves, entre outros. 4Um cabo da Marinha de Guerra, um cabo da Força Aérea e um Militar do Exército.

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Com a Bandeira Nacional já hasteada, esvoaçando ao sabor da brisa do Índico, Samora Moisés Machel, em nome do povo moçambicano, proclamou solenemente a Independência Total e Completa de Moçambique, às 00:00 horas do dia 25 de Junho de 1975. Com este acto, resgatava-se definitivamente a dignidade dos moçambicanos e, nascia Moçambique, Nação alicerçada na Unidade Nacional.

Momento em que Samora Moisés Machel lia a mensagem da proclamação da independência. Fonte: CFF

No prosseguimento das festividades do dia da proclamação da Independência Nacional, Samora Machel presidiu a cerimónia do lançamento da primeira pedra do Monumento aos Heróis da Luta de Libertação Nacional, na rotunda do Aeroporto Internacional de Maputo, pelas 13:00 horas. O acto ficou assinalado por uma placa na qual se lia “a primeira pedra deste monumento foi colocada pelo Presidente da FRELIMO e da República Popular de Moçambique, camarada Samora Moisés Machel, aos 25 de Junho de 1975, dia da proclamação da independência” (Notícias, 26/06/1975).

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Festejos nas ruas pela proclamação da Independência Nacional

Com a Proclamação da Independência Nacional, materializava-se a vitória do povo moçambicano. Com este acontecimento, era proclamada a República Popular de Moçambique, e entrava em vigor a primeira Constituição, aprovada dias antes na Reunião da Praia de Tofo, na Província de Inhambane. O novo texto constitucional era composto por 73 artigos.

Reunião de Tofo. Fonte: CDSM

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2. Dez Anos da Independência de Moçambique:

Reconstruindo o Tecido Económico e Social

A Independência Nacional constituiu um momento de viragem no ordenamento político, social, económico e cultural do país, caracterizado por uma nova estrutura de governação assente em suportes ideológicos, inspirados pela doutrina socialista. Através desta perspectiva, Moçambique socializou a educação e a saúde, reordenou os assentamentos populacionais rurais e interveio, directamente, no processo do desenvolvimento económico.

Estas medidas visavam garantir o acesso equitativo e equilibrado de todos os sectores da sociedade aos bens e serviços económicos, assim como a implementação de uma gestão participativa da coisa pública. O Estado predispôs-se a afastar o espectro da miséria, da fome e do analfabetismo; eliminar a “exploração do Homem pelo Homem”, incorporando todos os valores culturais “positivos” no Homem Novo, livre dos preconceitos tradicionais e inspirado no saber científico, como elemento identitário. Esta proposta, segundo Cabaço (2010) se consubstanciava no projecto de “criação do Homem Novo”. O modelo projectado repudiava o “colonial” e o “tradicional” e “o Homem Novo”, preconizando a gradual convergência das identidades dos grupos etnolinguísticos numa realidade “modernizadora”.

Os primeiros momentos da Independência Nacional foram marcados por uma fuga massiva de cérebros e capitais financeiros, que sustentaram, durante anos, a máquina administrativa colonial, facto acompanhado por acções de sabotagem em unidades produtivas e de funcionamento social. A agravar a situação, o Estado Popular foi prejudicado pelos

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posicionamentos hostis dos regimes segregacionistas da África do Sul e da Rodésia do Sul que, de forma indirecta impunham sanções ao Estado Moçambicano e dificultam todo o processo de construção da jovem nação.

Para superar os desafios e contrapor o défice em recursos humanos, o Governo Popular chamou os jovens que nessa altura tinham já alguma formação académica. Foi o célebre chamado “8 de Março”. Neste dia, no então Pavilhão do Sporting, hoje Pavilhão do Maxaquene na baixa de Maputo, Samora Machel exortou os jovens a responder ao chamamento da Pátria, um acto que se tornou histórico e constituiu a “Geração 8 de Março”. Foi esta geração de jovens que, num elevado sentido patriótico, garantiu a gestão e administração públicas, de um Estado acabado de nascer.

Alcido Nguenha (2012), um dos jovens integrantes da “Geração 8 de Março”, debruçou-se sobre este aspecto aquando da realização do Simpósio dos 50 Anos da FRELIMO, nos seguintes termos:

“As medidas do “8 de Março” de 1977 visavam responder a situação surgida com a saída massiva de técnicos portugueses e servidores do sistema colonial, conjugado com as acções de sabotagem económica, como reacção a independência e ao novo poder popular instalado no Moçambique independente. Os jovens estudantes foram formados e colocados em vários sectores fundamentais e vitais da vida nacional.(…) A preparação da juventude tornou-se uma exigência ob-jectiva. Assim, a juventude estudantil, ao responder ao cha-mamento da pátria na voz do camarada Presidente Samora Machel, assumiu e implementou as decisões do ‘8 de Março’, que se enquadravam no processo de construção de uma nova nação, da concepção da moçambicanidade e da cidadania e, sobretudo, a formação do homem novo”.

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Com efeito, no sector da educação foi lançada uma campanha de âmbito nacional com vista a reverter as elevadas taxas de analfabetismo. Estabeleceram-se mecanismos de intercâmbio cultural, com base no pressuposto segundo o qual, a língua portuguesa serviria como factor de Unidade Nacional. No concernente à saúde, foram nacionalizadas as instituições privadas e promovidas campanhas de saneamento do meio, de vacinação e de acesso gratuito aos serviços.

No campo económico, o Estado moçambicano dirigido por Samora Machel orientou-se por um pragmatismo prudente, procurando estabelecer um equilíbrio entre o proteccionismo e a abertura ao mercado financeiro internacional. Neste contexto, foram criadas empresas estatais responsáveis pela exportação, importação e distribuição de produtos diversos.

Em 1979, foi aprovado o Plano Prospectivo Indicativo (PPI) para o período 1980-1990. O mesmo era definido como guia de acção e instrumento fundamental para a construção de uma economia socialista relativamente desenvolvida. Para tal foram defendidos três eixos centrais: (i) a socialização do campo e o desenvolvimento agrário; (ii) a industrialização; e (iii) a formação e qualificação da força de trabalho (Castel-Branco, 1994).

Dentre os vários empreendimentos concebidos à luz do PPI, apontam-se a Rede Nacional de Transporte de Energia (RNT), a fábrica de produção de alumínio de Caia, o Porto de Nacala, as açucareiras de Luabo, de Marromeu e do Búzi, a indústria do Chá do Gurúe, e a fábrica Têxtil de Mocuba (Dava e Tamele, 2011).

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Na década de 1980, começou a operar-se uma viragem económica em Moçambique. Este cenário levou a que o Governo aderisse às instituições de Bretton Woods, nomeadamente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM). Era o início da formulação do paradigma do mercado e da concepção dos modelos neo-liberais que viriam a ser aplicados através dos Programas de Reajustamento Estrutural.

Enquanto Moçambique procedia a organização e sistematização da estratégia de construção da nação e do plano de reconstrução nacional, parte dos recursos tiveram que ser realocados para enfrentar a acção de desestabilização desencadeada pelo regimes minoritários da Rodésia do Sul e da África do Sul. Os ataques militares directos aos objectivos económicos e sociais desencadeados contra Moçambique viriam a transformar as acções de desestabilização num conflito armado que acabou dilacerando o país por cerca de 16 anos.

Foi dentro desta conjuntura política e económica que Moçambique celebrou os 10 anos de Independência Nacional, em 1985, sob o lema “Defender e Consolidar a Independência Nacional”. Diversas realizações de carácter político, produtivo, cultural e recreativo foram programadas visando a comemoração da data. A população dos bairros da cidade preparou-se entusiasticamente através da realização de jornadas de limpeza, embelezamento e ornamentação de locais públicos e residenciais e ensaios para o desfile, para além da preparação de grupos culturais. Em sessão de gala no Cine Teatro África, a Companhia Nacional de Canto e Dança, apelidada de “Embaixadores da nossa Cultura”, apresentou um espectáculo oficial comemorativo (Notícias, 13/06/1985).

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Companhia Nacional de Canto e Dança, apresentando o bailado O Sol Nasceu. Fonte: CNCD

Na altura foi outorgada pela Comissão Permanente da Assembleia Popular, a condecoração de 1400 cidadãos moçambicanos. Entre os agraciados perfilaram os membros dos órgãos do Partido FRELIMO e do Estado, com destaque para o Chefe do Estado. Globalmente, a maioria das condecorações foi atribuída a trabalhadores de diversos sectores de actividade, entre operários, camponeses, funcionários, intelectuais, dirigentes religiosos, combatentes das FAM/FPLM e membros da defesa e segurança, que na produção, na prestação de serviços, nas criações literárias e artísticas, na defesa e noutras frentes se notabilizaram pelo seu empenho e patriotismo (Notícias, 24/06/1985).

Em 1986, Moçambique viveu um dos momentos mais negros e tristes da sua história, com a morte do Presidente Samora

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Moisés Machel quando regressava da Zâmbia em busca da Paz para a região austral de África. O avião presidencial no qual se fazia transportar com a sua comitiva despenhou-se nas colinas de Mbuzini, território sul-africano. Moçambique perdia o seu presidente, a África um dos mais carismáticos líderes e o mundo um político profícuo e clarividente. Este duro golpe não demoveu os moçambicanos que, em uníssono gritaram que o esforço e sacrifício do Presidente Samora seria valorizado e continuado.

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3. A Paz e o Desenvolvimento como Prioridades

Nacionais

Com a morte de Samora Moisés Machel, Joaquim Alberto Chissano foi nomeado, pelo Comité Central da FRELIMO, presidente da República de Moçambique, em Novembro de 1986. Joaquim Chissano iniciou o seu ciclo de governação privilegiando a busca da Paz, a consolidação da democracia e da Unidade Nacional. A estabilidade e o desenvolvimento económico passaram, igualmente, a constituir prioridade na agenda nacional de governação, não obstante a guerra de desestabilização a que o país estava sujeito.

Joaquim Alberto Chissano, Presidente da República de Moçambique. (1986-2004). Fonte: Daniel de Andrade, In: google image

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Como forma de reverter o cenário macro-económico deficitário, em 1987 o Governo moçambicano introduziu o Programa de Reabilitação Económica (PRE)5 que, dentre vários objectivos, visava assegurar o crescimento contínuo da produção, sobretudo agrícola; fortalecer a balança de pagamentos; reabilitar as infra-estruturas e a capacidade industrial; reduzir os desequilíbrios financeiros internos e externos; reduzir as intervenções administrativas na economia e reforçar o papel das instituições na programação e controlo da execução das políticas, e reduzir a pobreza (Castel-Branco, 1994).

Não obstante os relativos sucessos económicos alcançados pelo Estado moçambicano liderado pelo Presidente Chissano, o país continuava a ser dilacerado pela guerra de desestabilização. A busca pela paz mostrava-se cada vez mais urgente, pois, estava claro que a paz era a condição sine qua non para o sucesso das iniciativas de promoção do desenvolvimento e bem-estar social. Assim, por volta de 1989, o Governo moçambicano empreendeu novos esforços para obter um entendimento que levasse ao fim da guerra. Esta iniciativa foi, igualmente, abraçada por algumas congregações religiosas como as igrejas Católica e Anglicana, e o Conselho Cristão de Moçambique6.

Como resultado dos entendimentos preliminares e a convicção mútua de que a paz era imprescindível para os moçambicanos, as delegações do Governo moçambicano e da RENAMO, chefiadas por Armando Emílio Guebuza e Raúl Domingos, respectivamente, iniciaram conversações abertas em Roma, com 5Anos após a implementação deste programa e alcançados alguns objectivos macro-económicos que se propunha, verificou-se que era importante a integração da componente social no mesmo. Nesse sentido, o mesmo foi reestruturado e passou a designar-se Programa de Reabilitação Económica e Social (PRES).6Dentre os religiosos que se empenharam afincadamente para o estabelecimento de contactos entre o Governo e a RENAMO destacam-se Don Alexandre dos Santos e Don Jaime Gonçalves.

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o apoio da Comunidade de Sant’ Egídio e do Governo Italiano. Em 1990, a Assembleia Popular aprovou uma nova Constituição que consagrou um sistema de democracia multipartidária e representativa.

Enquanto decorriam as negociações para o alcance da paz efectiva, Moçambique via o seu nome inscrito em letras douradas e garrafais no panorama cultural mundial. Com efeito, em 1991 um dos mais emblemáticos Património Cultural Moçambicano, a Ilha de Moçambique, em tempos local de confluência de culturas e povos, alcançava o merecido reconhecimento ao ser atribuído o titulo de Património da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

Vista parcial da Ilha de Moçambique, Património Mundial da Humanidade. Fonte: google image

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Em 1992, ano em que o país assinalava 17 anos de Independência, Moçambique registou um marco importante na sua História, a reconquista da Paz. Com efeito, a 04 de Outubro de 1992, o Presidente de Moçambique, Joaquim Alberto Chissano e o líder da RENAMO, Afonso Marceta Macacho Dhlakama assinaram o Acordo Geral de Paz, na capital italiana, Roma, pondo fim a 16 anos de hostilidades no país.

A assinatura do Acordo Geral de Paz foi efusivamente festejada pelos moçambicanos em todo o território nacional. Nos grandes centros urbanos, nas vilas, aldeias, localidades e povoados, o povo irradiava alegria e satisfação. À sua chegada a capital moçambicana, o Presidente Joaquim Chissano foi recebido por uma multidão eufórica que entoava canções de alegria e exibia várias danças que configuram o rico e diversificado património cultural moçambicano. Nos diferentes campos de batalha, as hostilidades conheceram o seu término.

O Acordo de 1992 constituiu um marco indelével na história recente de Moçambique, pois, permitiu que o povo moçambicano vivesse, ainda hoje, uma paz notória, conferindo-lhe reconhecimento internacional como uma nação de consensos e de estabilidade política, sendo uma referência na manutenção da paz no concerto das nações. Nos anos seguintes à assinatura do Acordo, o país passou por profundas mudanças, com destaque para a realização das primeiras eleições gerais e multipartidárias, em 1994.

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Moçambicanos participando do processo de votação. Fonte: reuters, in google image

Moçambique comemorou o vigésimo aniversário da Independência Nacional, em 1995, ano em que, igualmente, celebrou-se o terceiro aniversário do Acordo Geral de Paz. As festividades do dia 25 de Junho foram marcadas pela realização de vários eventos, com destaque para actividades artístico-culturais. Com efeito, a casa da Cultura do Alto-Maé, em Maputo, promoveu um festival de teatro amador, enquanto a Associação dos Músicos organizou uma série de concertos em vários pontos da cidade capital. De igual modo, a Companhia Nacional de Canto e Dança brindou o público da capital com as suas memoráveis obras “Ntsay” e “A Grande Festa”. Grupos de jovens não filiados a organizações culturais organizaram dois festivais no Pavilhão do Maxaquene. A propósito desta data, o Presidente da República Joaquim Chissano afirmou, na sua mensagem à nação, “que pela primeira vez o povo moçambicano festejou o seu Dia Nacional livre dos fantasmas de um possível retorno à guerra e à violência, tanto no interior do nosso país, como na região” (Notícias, 19/06/1995).

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Bailado N’tsay Fonte: CNCD

Bailado A Grande FestaFonte: CNCD

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A Paz e a estabilidade tiveram um impacto inestimável para o país e para a região austral de África. Milhares de moçambicanos que se haviam refugiado nos países vizinhos retornaram à terra que os viu nascer. Internamente, várias famílias optaram por deixar os grandes centros urbanos regressando às suas zonas de origem. Este movimento impulsionou a actividade agrícola, uma das prioridades no combate a pobreza e erradicação da fome.

Com a implementação do Acordo de Paz, assistiu-se a redução da população que vivia abaixo da linha da pobreza de 69.4%, em 1997, para 54.1%, em 2003. Registaram-se, igualmente, melhorias assinaláveis dos indicadores macroeconómicos com uma média de crescimento na ordem dos 8%, entre 1995 a 2005 (Valá, 2009).

O sector agrário registou também um crescimento a uma taxa anual de 6%, entre 1992 e 1996, e de 6.6% entre 1996 e 2004, tendo contribuído para o Produto Interno Bruto (PIB) com cerca de 22% e 24%, entre os anos 2000 a 2010 (Agenda 2025, 2013). Estes dados mostram que com a Paz, o país havia se alinhado rumo ao progresso.

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4. Moçambique: 30 Anos de Independência Rumo

ao Progresso

Em 2005, ano em que Moçambique comemorava o trigésimo aniversário da Independência Nacional, o país assistiu a investidura do segundo presidente democraticamente eleito, Armando Emílio Guebuza. A acção do Governo iria centrar-se na consolidação da Unidade Nacional, da Paz, da Soberania, do Estado de Direito, da Auto-estima e da Moçambicanidade.

Nesse sentido, a governação aberta foi concebida como um exercício central, levando a que o então Chefe de Estado declarasse que o estilo de Presidência Aberta devia se replicar a todos níveis para que o nosso povo acompanhasse, a par e passo, a contribuição de cada dirigente e instituição no combate contra a pobreza (Guebuza, 2006).

Com o novo impulso dado às presidência abertas, a população sentiu-se envolvida no processo de governação e parte integrante na busca de soluções. Por conseguinte, de forma aberta e franca, o povo passou a ter cada vez mais oportunidades de interagir com os mais altos dirigentes do Estado Moçambicano.

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Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique (2004-2014), em Presidência Aberta

O investimento em infra-estruturas económicas e sociais passou, também a figurar nas prioridades da agenda governativa. Foi neste contexto que ocorreram a construção e reabilitação de estradas, pontes, linhas-férreas, barragens, fontes de abastecimento de água, escolas, hospitais, redes de comunicações e energia elétrica, entre outras. A título de exemplo, destaca-se a ponte sobre o rio Zambeze em Caia, ligando o Centro e o Norte de Moçambique, uma espinha dorsal na circulação de pessoas e bens. Ainda neste âmbito, foi erguida a Ponte da Unidade sobre o rio Rovuma ligando Moçambique à Tanzania.

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Ponte Armando Emílio Guebuza, sobre o rio Zambeze

Refira-se que, o povo moçambicano, uma vez mais, voltou a orgulhar-se com a inscrição de bens do Património Cultural Moçambicano, na lista oficial da UNESCO do Património da Humanidade. Com efeito, em 2005 o país engalanou-se para receber a distinção do Nyau e da Timbila como Obras Primas do Património Oral e Imaterial da Humanidade, que se juntariam à Ilha de Moçambique.

Nyau

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Timbila

Quando o país comemorou 32 anos de independência, em 2007, o povo foi agraciado por mais uma conquista; a reversão da Barragem de Cahora Bassa para o Estado Moçambicano. Para além do impacto económico, este acontecimento revestiu-se de um imensurável simbolismo, pois, representou a remoção do último reduto da dominação estrangeira. Em todo o território nacional popularizou-se a expressão “Cahora Bassa é nossa.”

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Barragem de Cahora Bassa

Ciente de que o progresso torna-se efectivo e sustentável com a conjugação de várias sinergias e esferas da sociedade, a par do investimento em infra-estruturas referido anteriormente, o Governo Moçambicano criou oportunidades para a promoção de pequenas e médias empresas (PME’s). No âmbito da descentralização, e visando criar plataformas de financiamento as iniciativas empreendedoras e a pequenas associações económicas nas comunidades como forma de alargar a inclusão económica, foi lançado o programa popularmente designado “7 milhões”.

Na sequência, através do Fundo de Investimento de Iniciativas Locais (FIIL) passaram a ser alocados 7 milhões aos 128 distritos do país. De forma galopante, ocorreu a dinamização e aumento da produção e da produtividade agrárias, a revitalização da rede comercial nas zonas rurais, o desenvolvimento da pesca

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artesanal, dentre outros aspectos. Deste modo, os distritos foram assumidos como verdadeiros “Polos de Desenvolvimento”.

O sector da Cultura que desde o período da Luta Armada vinha assumindo um papel aglutinador, muito contribuiu para a consolidação da Unidade Nacional e a construção da Nação moçambicana. De facto, como soi dizer-se, a Nação Moçambicana é fruto da sua Cultura, pois esta permitiu o fortalecimento do sentido de pertença e, portanto, da moçambicanidade, sem prejuízo da sua diversidade.

Um dos mecanismos usados para o fortalecimento da Nação moçambicana, uma nação multiétnica, foi a promoção de festivais culturais. Estes garantem, por um lado, o resgate das nossas tradições e conhecimentos seculares e, por outro, reforçam a moçambicanidade e a unidade na diversidade, desiderato perseguido desde a altura da luta pela independência e autodeterminação, aspecto distintivo de Moçambique no concerto das nações.

A iniciativa do Estado moçambicano em transformar os tradicionais festivais da canção e música tradicional e de dança popular, em festivais multidisciplinares, a partir de 2008, iria, uma vez mais, cravar o nome de Moçambique em letras douradas na História Cultural do país, da região da SADC e do Mundo.

Importa referir que os festivais expõem à Nação moçambicana e ao Mundo o rico e diversificado Património Cultural moçambicano, fonte inesgotável para a geração de renda familiar, contribuindo para a redução da pobreza e das desigualdades sociais. Ademais, tem o condão de fortalecer a moçambicanidade e a auto-estima, bem como a solidariedade internacional. Sobre este último aspecto, merece destaque a participação de delegações estrangeiras como convidadas.

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5. Moçambique: 40 Anos de Independência Nacional

“O meu compromisso é de servir o povo moçambicano como meu único e exclusivo Patrão”.

Filipe Jacinto Nyusi, Discurso de Investidura, 2015.

O inicio do ano de 2015 foi marcado pela investidura de Filipe Jacinto Nyusi como presidente da República de Moçambique, eleito no pleito eleitoral realizado em Outubro de 2014, nas quintas eleições gerais e multipartidárias. Este facto espelha a consolidação da democracia em Moçambique. Filipe Nyusi definiu como linhas de governação, a consolidação da Unidade Nacional; a promoção da Paz e coesão entre os moçambicanos; a melhoria do bem-estar dos moçambicanos; a elevação da juventude e da mulher na vida económica e social; a criação de condições essenciais para um desenvolvimento económico equilibrado bem como a melhoria da qualidade dos serviços prestados pelas instituições.

No seu discurso de tomada de posse, Filipe Jacinto Nyusi destacou como prioridades servir o interesse do povo moçambicano e respeitar o Estado de Direito Democrático. Outro aspecto destacado foi a valorização e preservação das conquistas dos moçambicanos, como a Independência, a Unidade Nacional e a Paz, pautando por uma inclusão a todos os níveis.

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Filipe Jacinto Nyusi, recebendo a Bandeira Nacional, durante a tomada de posse. Fonte: google image

O compromisso do Estado moçambicano com a promoção do desenvolvimento e do bem-estar tem sido uma nota constante e positiva nas políticas de governação. Contudo, logo no inicio do mandato do novo Governo, o País foi assolado por cheias e inundações nas regiões Centro e Norte. Perante esta adversidade, mecanismos adicionais tiveram de ser accionados para minimizar o impacto desta calamidade. Estas acções assentaram na conjugação de esforços entre o sector público e o privado, bem como o espírito de solidariedade dos moçambicanos.

Um marco importante na presente governação é a celebração do quadragésimo aniversário da Independência Nacional, festejado sob o lema “Unidade Nacional, Paz e Progresso”. No seu comunicado, o Presidente Filipe Nyusi exortou a todos moçambicanos a participarem nesta grande festa da emancipação

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política, sem discriminação racial ou em razão da filiação partidária, origem social, crença religiosa, idade ou grupo étnico (Notícias, 20/03/2015). Na sua exortação, o Presidente afirmou:

“Vamos todos participar com entusiasmo, solidariedade e sentido patriótico neste evento de exaltação e valorização da nossa independência como uma das maiores e principais con-quistas (…). Mobilizemo-nos para uma celebração condigna do 40º aniversário da nossa independência e à altura da sua grandeza e significado. Façamos das celebrações deste impor-tante marco histórico uma grande festa popular, participan-do nas diversas actividades culturais, políticas, desportivas e científicas organizadas para o efeito em todo o país”.

No âmbito das festividades dos 40 anos da Independência Nacional, foi promovido um amplo movimento cultural a escala nacional, sob auspício do Ministério da Cultura e Turismo. Esta efeméride foi lançada a 20 de Março de 2015, na Fortaleza situada na cidade de Maputo, pelo Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, que intervindo na ocasião exortou a todos os moçambicanos para que de forma festiva e efusiva exaltassem a história do país e dos seus melhores obreiros e servidores que em “determinado momento da sua vida, consentiram sacrifícios indescritíveis para que a nossa liberdade perante o jugo colonial fosse uma realidade” (Notícias, 21/03/2015).

O sentimento generalizado entre as diversas personalidades ligadas a vários sectores da sociedade moçambicana foi de que a Unidade Nacional continua, nos dias de hoje e sempre, a ser indispensável para as vitórias que os moçambicanos têm alcançado no seu dia-a-dia, no quadro da luta contra a pobreza

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e promoção do bem-estar social. A Unidade Nacional é um veículo mobilizador, uma força motriz para encarar os desafios do presente e do futuro.

O Secretário-Geral do Partido FRELIMO, Eliseu Machava, um dos convidados ao encontro, entrevistado pelo Jornal Notícias, afirmou:

“(…) são os próprios moçambicanos que trabalharam, não só para libertar a terra e o povo, mas projectando um futuro riso-nho. É com agrado e orgulho que olhando para trás ganhamos a vontade de falar do passado e do presente, projectando o futuro. É com orgulho que olho para este país e vejo que é pro-duto do esforço colectivo dos moçambicanos. Olho para o país com muito optimismo e espero que continuemos a trabalhar de forma colectiva para chegarmos ao objectivo. (…) o fun-damental neste momento é continuar-se a reforçar a Unidade Nacional, consolidar a Paz e cultivar o espírito de trabalho e o desejo de vencer os obstáculos. (…) os moçambicanos devem ter em mente que viver em paz é o desejo de todos e condição fundamental para o progresso e criação do bem-estar” (Notí-cias, 23/03/2015).

Ainda no quadro das festividades do quadragésimo aniversário da Independência Nacional, foi lançada a 7 de Abril, em Namatil, Localidade de Nachitenje, Posto Administrativo de N’gapa, Distrito de Mueda, Província de Cabo Delgado, a quarta edição da Chama da Unidade, pelo chefe de Estado, Filipe Jacinto Nyusi. Na verdade, Namatil, naquele dia, tornou-se a capital cultural do país. Juntaram-se mais de três dezenas de grupos culturais e de música ligeira e mais de setecentos artistas deram brilho à festa. Cruzaram-se sabores gastronómicos de Moçambique, cimentando a Unidade Nacional.

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Presidente da República de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, ateando a Tocha da Chama da Unidade, em Namatil

Elegeu-se Namatil pelo facto deste local ser um marco incontornável no contexto da Luta Armada de Libertação Nacional. De facto, em 1964, Namatil acolheu o primeiro grupo de guerrilheiros da FRELIMO que abriu a frente de Cabo Delgado. Como resultado da sua localização geo-estratégica, foi montado o destacamento Limpopo, uma base logística. No âmbito da Operação Nó Górdio, os guerrilheiros da FRELIMO empreenderam um recuo estratégico tendo o local sido ocupado pela tropa colonial que instalou o Aquartelamento de Omar. Este último viria a ser assaltado e capturados cerca de 137 soldados portugueses, em 1974.

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Presidente da República de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, com a Tocha da Chama da Unidade, em Namatil

Namatil registou a última operação militar realizada pela FRELIMO. Este acto de força consubstanciou-se no prenúncio do fim das hostilidades nas frentes combativas, e reforçou a posição da FRELIMO nas negociações que conduziram aos Acordos de Lusaka. Referindo-se a escolha deste local, o Chefe de Estado destacou:

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“Escolhemos este lugar para estas cerimónias para nos re-cordarmos da travessia do primeiro grupo de guerrilheiros da Frente de Libertação de Moçambique que por aqui entrou no dia 01 de Agosto de 1964, um mês antes do início da luta de libertação nacional. (…) E, finalmente, é aqui que depois dos guerrilheiros terem sido forçados a sair, em 1970, se reorga-nizaram nas cercanias. Em Agosto de 1974 os bravos guer-rilheiros voltaram a instalar-se, numa batalha que entrou na história como uma das mais decisivas para o fim da ocupação estrangeira. A batalha para a retomada desta região teve o condão de ter atingido o âmago do exército colonial de forma múltipla” (Notícias, 09/04/2015).

Populares participando da cerimónia do lançamento da Chama da Unidade, em Namatil

De acordo com Filipe Nyusi, a Chama da Unidade simboliza a identidade dos moçambicanos e sintetiza a moçambicanidade e a

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capacidade de união, convivência e tolerância. Frisou ainda que a chama representa um legado histórico dos libertadores da pátria e dos fundadores da Nação, cujos ensinamentos impulsionam as novas gerações para enfrentarem com firmeza os desafios de hoje, consolidar a Unidade Nacional e a reconciliação dos moçambicanos.

Rapidamente, a chama da unidade, pelo simbolismo que insere contagiou os presentes à cerimónia. Centenas de populares acorreram para junto da tocha com o intuito de tocá-la. Esta euforia alastrou-se ao longo das aldeias e vilas onde a população esperava horas a fio para contemplar e tocar o símbolo da unidade.

População eufórica, em torno da Tocha da Chama da Unidade, em Namatil

Refira-se que em Moçambique, a iniciativa da marcha da Chama da Unidade inspira-se em valores universais, como a Tocha da Chama Olímpica, no entanto, alicerçada nas tradições culturais,

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transmitidas de geração em geração, tendo como função, a consolidação da identidade de Moçambique (Dava, et al, 2010:8).

A primeira edição da marcha da Chama da Unidade teve lugar em 1975, aquando dos preparativos da proclamação da Independência Nacional. Esta simbolizava a união de todo o povo moçambicano do Rovuma ao Maputo, na edificação de um novo Estado, em que nascia uma forte esperança relativamente ao desenvolvimento do país. Este evento reforçou a consciência patriótica e a Unidade Nacional. Durante a celebração do trigésimo aniversário da Independência Nacional, foi lançada a segunda edição da marcha da Chama da Unidade, em 2005. Sob o lema, “Do Rovuma ao Maputo, Juntos na luta Contra a Pobreza”, a marcha da Chama visava exortar os cidadãos moçambicanos, não só para a importância da consolidação da Unidade Nacional, como também para o maior envolvimento dos moçambicanos na luta contra a pobreza. A auto-estima foi um outro paradigma trazido por esta marcha, salientando o papel de cada moçambicano como actor proactivo, que olha para a pobreza não como uma fatalidade ou predestinação, mas como um obstáculo transponível (Dava, et al, 2010).

Em 2010 lançou-se a terceira edição da marcha da Chama da Unidade, sob o lema “35 anos Unidos na Luta contra a Pobreza, Três Gerações, um só Povo, uma só Nação”, integrada nas celebrações do trigésimo quinto aniversário da Independência Nacional7. Esta edição teve a particularidade de destacar o 7Momentos depois do acto solene do acender da chama pelo ex-Presidente Armando Guebuza, esta passou para os representantes da geração 25 de Setembro, “8 de Março” e da “viragem”.

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protagonismo da juventude. Com o seu envolvimento pretendia-se inculcar os valores históricos da luta de libertação nacional, da reconstrução pós-independência entre outros desafios (Dava, 2010).

Volvidos 40 anos, os ganhos resultantes da Independência Nacional são inquestionáveis. Tendo sido um factor preponderante e decisivo para o triunfo da luta contra o colonialismo português no passado recente, a Unidade Nacional, continua, nos dias de hoje, a ser uma arma indispensável para as vitórias que os moçambicanos estão a alcançar no seu dia-a-dia, na edificação de uma sociedade preocupada em reduzir as desigualdades sociais.

Moçambique é, actualmente, uma jovem Nação em contínua construção e que se distingue no concerto das Nações como um exemplo de sucesso no que diz respeito à preservação da Paz e da concórdia entre os seus cidadãos, ao desenvolvimento e progresso. Aliás, sobre estes últimos aspectos, Moçambique tem observado uma evolução bastante assinalável, cuja economia cresce em média, cerca de 7% ano.

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Anexos

Celebração da proclamação da Independência Nacional

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Bailado Ode à Paz, pela Companhia Nacional de Canto e Dança. Fonte: CNCD

Mapiko, exibindo-se com uma réplica da Chama da Unidade

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Ponte da Unidade sobre o Rio Rovuma

Monumento em memória ao II Congresso da FRELIMO, Matchedje

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Moçambique, 40 anos de Independência: Unidade Nacional, Paz e Progresso

Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República de Moçambique, inaugurando o Monumento em memória ao assalto a Base Omar

Membros do Governo e Deputados da Assembleia da República, com a Tocha da Chama da Unidade

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Moçambique, 40 anos de Independência: Unidade Nacional, Paz e Progresso

Membros do Governo, da Comissão Política da FRELIMO, Deputados da Assembleia da

República e Representantes de Partidos Políticos, com a Tocha da Chama da Unidade

Ministros da Cultura e Turismo, e da Defesa Nacional, na companhia de alguns

combatentes que participaram no assalto a Base Omar

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