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o Prémio Leaders & Achievers-Flecha Diamante 2015 PMR Africa Ilec Vilanculos Erik Charas explica Casa Jovem e diz que o projecto é irreversível Há oportunistas no diálogo Nyusi manda recados Pág. 6 Pág. 2, 3 e 4

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Page 1: Moçambique para todos - Prémio Leaders & Achievers-Flecha … · 2015-11-02 · Savana 30-10-2015 TEMA DA SEMANA 3 jecto privado de habitação desde a independência nacional até

o

Prémio Leaders & Achievers-Flecha Diamante 2015 PMR Africa

Ilec

Vila

ncul

os

Erik Charas explica Casa Jovem e diz que o projecto é irreversível

Pág. 4Há oportunistas no diálogoNyusi manda recados

Pág. 6

Pág. 2, 3 e 4

Page 2: Moçambique para todos - Prémio Leaders & Achievers-Flecha … · 2015-11-02 · Savana 30-10-2015 TEMA DA SEMANA 3 jecto privado de habitação desde a independência nacional até

TEMA DA SEMANA2 Savana 30-10-2015

Genuínos ou manipu-

lados, a verdade é que

têm sido recorrentes

os ataques duros e

demolidores contra o empresário

Erik Charas e a “sua” Casa Jovem,

um ambicioso projecto imobiliá-

rio que está a ser desenvolvido na

Costa do Sol. Numa extensa en-

trevista concedida ao SAVANA,

Charas, um desiludido militante

da ala jovem da Frelimo, nega

um iminente colapso do projecto,

explica os contornos do mesmo

e aborda frontalmente a relação

com a família Chissano, via Fun-

dação e o controverso N’naite

Chissano, pertencente ao conhe-

cido núcleo dos “filhos família da

nomenklatura” que acham que

o país lhes pertence. Pelo meio,

Charas não tem dúvidas que é ví-

tima de perseguição movida pelos

pais biológicos dos famigerados

G40 por ter sido um crítico acér-

rimo contra a administração Gue-

buza, através do jornal @verdade,

uma publicação pioneira de dis-

tribuição gratuita de que é direc-

tor. Sossega os clientes e garante

que a Casa Jovem não é nenhum

pesadelo. “O maior pesadelo é

a EMATUM”, riposta Charas,

considerando que o projecto Casa

Jovem é irreversível e todos terão

a sua casa. Siga as partes mais im-

portantes da conversa conduzida

por Francisco Carmona.

No seu lançamento, o Projecto

Casa Jovem foi apadrinhado pela

Fundação Joaquim Chissano, que

tem como patrono o antigo che-

fe de Estado Joaquim Chissano.

Como está o relacionamento en-

tre a Fundação e o Projecto Casa

Jovem?

Eu sempre fui e sempre vou ser um

fã do presidente Chissano. É uma

pessoa por quem nutro muita ad-

miração e orgulho. O presidente

Chissano fez-nos o grande favor

de ter aceitado ser o patrono desta

iniciativa ousada de jovens e quanto

a isso estaremos sempre gratos, pois

selou-nos de credibilidade.

O meu relacionamento com ele,

dentro e fora do País, pois cruza-

mo-nos em muitos fóruns, sempre

foi de muito respeito e de agra-

decimento por ter acreditado em

mim. Mais uma das razões porque

iremos eu e a minha equipa lutar

até às últimas forças para fazer o

projecto acontecer até ao fim.

O relacionamento entre a Funda-

ção e o projecto, tanto quanto eu

sei, está onde sempre esteve, saudá-

vel e de possível admiração mútua.

Efectivamente, a Fundação deixou

de ser accionista da empresa (So-

ciedade de Desenvolvimento de

Chiango) que detinha e implemen-

tava o projecto Casa Jovem. Aliás,

todos os restantes accionistas assim

o fizeram e eu e minha equipa ad-

quirimos todas as quotas. Continuo

a admirar o trabalho que a Funda-

ção faz, continuo e irei continuar a

colaborar com a Fundação, no que

posso em outras áreas, pois acho de

grande importância o que fazem no

e pelo País. O presidente Chissano

é um grande homem, que faz muito

trabalho pelo País e pelo mundo, de

mim só tenho admiração.

Sabemos que N´naite Chissano,

filho do Presidente Chissano,

também fazia parte do projecto.

O que aconteceu para deixar de

fazer parte?

A Sociedade de Desenvolvimento

de Chiango (SDC) tinha como ac-

cionistas uma empresa dirigida por

N´naite Chissano, a Fundação Joa-

quim Chissano e a IMOA (empresa

construtora do projecto) da qual eu

representava. N´naite era PCA da

SDC e eu um dos administradores.

Tivemos alguns conflitos, sobretu-

do, na forma como implementar o

projecto. Levámos muito tempo e

divergirmos. Isso levou nos à justi-

ça, o que atrasou tudo. As divergên-

cias ao longo de três anos atrasaram

a implementação do projecto Casa

Jovem. Felizmente chegamos a um

acordo amigável, que sanou todos

os litígios e, ao abrigo desse acordo,

eu optei por ficar e assumir todos

os clientes e o projecto a 100%. A

Tal Investimentos, a Fundação Jo-

aquim Chissano e a Archi&Focus

deixaram de fazer parte do Projecto

Casa Jovem. Assumi as acções da

SDC a 100% e eles saíram e vão

desenvolver os seus projectos inde-

pendentes.    

 

Projecto à beira da falência?Nos últimos tempos têm apare-

cido informações dando conta

do iminente colapso do Projecto

Casa Jovem. Pode explicar o que

efectivamente está a acontecer?

Em nenhum momento as partes

envolvidas em fazer acontecer este

projecto disseram isso. Aliás, o que

eles têm vindo a dizer é exacta-

mente o contrário. Isto é que tem

de ficar claro. Que as partes que

estiveram envolvidas, tanto no iní-

cio, como as que assumiram agora

o projecto, em nenhum momen-

to falaram de colapso ou de que o

projecto não vai acontecer. Aliás,

sempre reiteraram, e de forma pú-

blica, que o projecto Casa Jovem é

efectivamente irreversível.

Então como explicar as cada vez

mais crescentes informações ne-

gativas sobre o projecto?

Podemos falar que o projecto não

está, e nem vai acontecer da forma

e dimensão como foi planeado ou

que mesmo algumas partes do pro-

jecto estão efectivamente atrasadas,

coisa que também é de conheci-

mento público. É, sobretudo, do

conhecimento dos nossos clientes

que são o activo mais importante

do projecto.

Portanto, essas informações que são

postas a circular têm carácter mali-

cioso e não espelham de forma al-

guma a realidade. São informações

que cumprem objectivos obscuros,

mas que não são de forma alguma

o de ajudar o projecto a acontecer

de forma mais célere ou sequer de

ajudar os clientes. Aliás, são um

grande desrespeito aos 600 clientes

activos que o projecto tem. São in-

formações falsas, que têm o propó-

sito de denegrir o projecto e põem

em causa a imagem do mesmo. São

um atentado contra esses mesmos

clientes e só servem quem quer que

um dia esses mesmos clientes não

tenham as suas casas...

Quantas casas estavam previstas

para o projecto?

O projecto previa 1700 casas no

início. Dividimos e para a fase ac-

tual definimos 1058, com as restan-

tes a serem desenvolvidas depois.

Destas 1058, precisamos de cerca

de 760 casas para fazer o ‘’break-

-even’ (ponto de equilíbrio), mes-

mo com as casas vendidas a preços

que nunca foram feitos neste País,

e que permitiram ao jovem profis-

sional ter acesso e sonhar com casa

própria. Para isso acontecer o plano

de negócios previu um preço que

escalonaram de 25 mil dólares até

a 130 mil dólares, para vários tipos

de casas, desde T1, a T4, incluindo

as nossas vivendinhas. Projectámos

e fizemos acontecer este ambicioso

projecto até a data, de forma a que

seja multifuncional e de habitação

mista. Neste momento temos ven-

didas cerca de 700 casas e estamos

a 60 casas de fazer o break-even, o

que significa que o projecto ande

em velocidade de cruzeiro sem

necessidade de injecção financei-

ra para ir acontecendo por

si só. Estamos a 60 casas de

nos tornarmos o maior pro-

Erik Charas responde aos críticos

O projecto Casa Jovem é irreversível

Parte dos valores que estão a ser aplicados nas obras do projecto da Casa Jovem são empréstimos bancários. Como está a rela-ção com a banca?

A relação com a banca é frágil. Apesar de sermos um caso sólido economicamente, somos também um caso quente e que vem nos jornais e que levanta todas as bandeiras das comissões de riscos que os bancos têm. Temos também os casos de que muitos dos compradores também estão nos bancos.Estou grato pelo relacionamento e pelos bancos que ainda trabalham connosco e continuam a apostar em nós. Estou ciente que não são decisões fáceis, e é meu papel assegurá-los que vai valer a pena investir neste projecto. Irão gerar valor acrescentado com o nosso relacionamento aos seus accionistas.No entanto, somos um projecto que só conseguiu ir buscar menos de 50% do que precisava, por isso gostava que a nossa banca avançasse mais, desse mais chance ao nosso sonho e apostasse mais nos empreendedores locais. Às vezes me pergunto por-que há financiamento para tanta construção es-trangeira por aí, mas para nós nacionais, com casos económicos sólidos, política a parte, é tão difícil...Enfim, continuamos e vamos continuar a acarinhar a banca e a tentar elevar o nosso relacionamento com ela. Ela é importante e fundamental para este projecto, tanto no nosso financiamento, a constru-ção, como no financiamento ao comprador. Estou certo que continuaremos a encontrar soluções que sejam inovadoras para o mercado. Temos neste mo-mento iniciados e reiniciados relacionamentos com

muitos bancos locais e acredito que irão dar bons frutos.

Qual é a actual situação dos trabalhadores con-tratados pelo Casa Jovem? Fala-se de despedi-mentos em massa e sem justa causa. Considerando que em momentos de pico já chega-mos a ter cerca de 700 trabalhadores activos, entre directos e subcontratados e hoje temos cerca de 50. Não há como fazer isso sem despedir. Tivemos de reduzir, tanto porque são trabalhadores sazonais de construção e chegado ao fim do que devem cons-truir não podemos mantê-los, mas também temos vindo a reestruturar, desde o ano passado de forma célere para poder reduzir os custos operacionais e manter a obra em construção e progresso. Fizemos sempre de acordo com a lei e garantindo sempre ao trabalhador o que está previsto pela lei, e nos casos em que não conseguimos honrar por dificuldades de liquidez fizemos compromissos por escrito que garantem que os trabalhadores serão pagos e caso não sejam tenham o que se defender. Em algum momento a nossa liquidez e capacidade de andar com a obra para frente diminuiu consideravelmente e nunca há suficiente e é preciso fazer-se escolhas todos os dias. Não tenho conhecimento de despedi-mento sem justa causa, e não me parece que tenha havido, pois senão eu saberia. No entanto, reparem que diminuir e reestruturar 700 trabalhadores sem cometer erros é completamente impossível. Então admito que possam ter existido erros e enganos, mas nunca nos recusamos a rectificá-los, sempre que foi de nosso conhecimento...

A relação com a banca é frágil

“As grandes obras para a maioria dos apartamentos e casas já foram feitas e estão no local”

Page 3: Moçambique para todos - Prémio Leaders & Achievers-Flecha … · 2015-11-02 · Savana 30-10-2015 TEMA DA SEMANA 3 jecto privado de habitação desde a independência nacional até

TEMA DA SEMANA 3Savana 30-10-2015 TEMA DA SEMANA

jecto privado de habitação desde a

independência nacional até à data.

E com a particularidade de ser para

jovens e ter sido implementado por

jovens. Reparem que nao é a pri-

meira vez que se escreve que este

projecto nunca irá acontecer e, co-

nhecendo as peças que estão à solta

e a mando de sei lá quem, provavel-

mente não será a última.

Os que falaram mal de nós e do

projecto, sempre o fizeram. Desde

a altura do seu lançamento, que es-

creveram e previam que o projecto

não iria acontecer, iria falhar por-

que estava à frente dele um falhado.

Sempre foram uns videntes fata-

listas do projecto e esses não mu-

dam nunca. Aliás, a cada passo de

realização que demos juraram que

era o último, e ainda cá estamos, e

garanto que até a última casa ser

entregue ainda cá estaremos.

Fazemos casas com as pedras que nos atiram... Mas admite que há problemas na

implementação do projecto

Sim. Problemas temos. E muitos. E

ao contrário de muitos, não fugimos

deles, mas assumimos e resolvemos.

Ou morremos a tentar resolvê-los.

A minha geração foi assim ensi-

nada. Tivemos e temos problemas

e sempre lidamos com eles, mes-

mo quando esses são alavancados

e aumentados pelas más línguas

de terceiros. Temos e sempre lida-

mos com problemas laborais, com

problemas financeiros e até com

problemas técnicos e comerciais.

Desde o início do projecto, o fize-

mos e continuamos a tê-los e a lidar

com eles provavelmente até muito

depois do fim do projecto.

Em concreto quais foram os pro-

blemas que tiveram e que culmi-

naram com atrasos no cronogra-

ma previamente desenhado?

Neste projecto tivemos problemas

causados por nós, contudo, tivemos

também muitos problemas causa-

dos por terceiros, muitos dos quais

deveriam ser os primeiros a apoiar e

garantir que este projecto, de e para

jovens moçambicanos, aconteces-

se a 100%. Como disse antes, sem

descurar a nossa cota parte de cul-

pa, ou sequer nos desculparmo-nos

perante os clientes, é preciso consi-

derar que o projecto sofreu enormes

revés com situações de indefinições

do traçado da circular de Maputo,

falta de legislação propícia para

projectos desta dimensão e que ge-

rou posições aleatórias do municí-

pio, casos de conflito de accionistas,

que criaram situações de indecisão

nos trabalhadores, nos processos de

gestão (em algum momento um ac-

cionista deixou de assinar cheques e

contratos, etc etc). Conflito de ac-

cionistas transitaram para a justiça

e criou-nos problemas, que fomos

resolvendo à medida do possível e

sempre continuamos a construir e

a avançar com as obras e a entregar

casas aos clientes...

Sob vontade própria, eu e a mi-

nha pequena equipa de gestão,

para manter o projecto em curso

e as obras a andar, tivemos suces-

sivamente de replanear e redimen-

sionar o projecto e até fomos for-

çados de várias formas a chegar a

um entendimento, com os nossos

sócios para que fossem criadas as

condições para que o projecto con-

tinuasse e pudéssemos redesenhar,

aumentar os seus financiamentos e

sua conclusão. Reparem que hoje,

eu e a minha equipa, voluntaria-

mente, assumimos todos os con-

tratos dos clientes, todas as dívi-

das com os fornecedores e todos e

quaisquer processos de conflito que

existem ou existiam com o projec-

to. E fizemos porque sempre acre-

ditamos desde o início no projecto

e nos clientes e achamos que nin-

guém podia deixar os clientes com

as calças nas mãos. Alguém tinha

de ficar com eles e fazer acontecer

aquilo que eles acreditaram, com

ou sem atrasos. Fizemos também

porque sabemos que é possível fa-

zer acontecer o projecto. Já temos

96 famílias que moram no projecto

e estamos a trabalhar com 80 novas

famílias para ir progressivamente

entregar as suas casas ainda este

ano e no princípio do próximo.

Temos cerca de 400 apartamentos

e vivendinhas em vários estágios

de construção e dependendo do

nível de financiamento com várias

previsões para entrega. E tudo isto

vamos fazendo com as pessoas a

atentarem e a inventarem coisas

contra nós. Imagine então o que

poderíamos fazer se nos deixassem

em paz para trabalhar!!

Somos um projecto, que para além

de tornar públicas informações re-

levantes e que garantam tranquili-

dade aos bancos e fornecedores e

outros parceiros, também tentamos

manter uma comunicação regular

com os nossos clientes pondo-os a

par do que se está a passar. É claro

que eles reclamam que podíamos

comunicar mais.

Qual é a real situação do projecto

agora?

O projecto está hoje num ponto de

viragem. Não será mais, nem pode-

rá ser, aquilo que foi. A construção

que resta fazer é diferente. Prevê

formas diferentes de acontecer:

equipas menores, mais especiali-

zadas, sub-contratadas, as vendas

mais dirigidas, o acompanhamento

doutra forma. As estruturas estão

a ser redesenhadas, para fazer isso

acontecer, sempre na perspectiva

do projecto avançar o mais rápido

possível e também de poupar ao

máximo os custos.

Reconhecemos que estamos em dí-

vida com muitos dos nossos clien-

tes e não estranhamos o timing da

publicidade negativa recentemente

veiculada na imprensa nacional,

contudo estamos focalizados nos

nossos compromissos e no fecho

de soluções em fase de negocia-

ção. Enquanto uns falam mal, nós

optamos por trabalhar. Focalizar

em tranquilizar aos clientes que

estão seguros. Sempre procuramos

encontrar soluções para seguir em

frente.

Quantas pessoas, neste momento,

estão à espera das suas casas?

Com a conclusão da totalidade dos

prédios e vivendinhas, colocaremos

no mercado um total de 842 novos

fogos (entre casas e apartamentos).

Destes estão prometidos vender

597 fogos, num total de 445 apar-

tamentos e 161 vivendinhas. Dos

597 fogos, 35 % estão em atraso, ao

que inicialmente estava previsto e é

sobre estas que estamos a debruçar-

mo-nos, com maior afinco para que

recebam o mais rápido possível.

Quero aqui deixar claro, que temos

menos de 10% dos clientes que pa-

garam a mais, ou na totalidade ou

até mais do que deveriam ter pago

até este momento de construção.

E estes quando o fizeram, fizemos

questão de realçar que estavam a

pagar adiantado, sem necessidade

e sem que tivessem sido cobrados.

E todos eles realçaram que assim o

faziam de livre e espontânea vonta-

de, até para ver a obra a progredir

mais rápido. Então é falso pensar

que temos 700 clientes que pa-

garam as suas casas na totalidade

e agora foram burlados. Aliás, a

maior reclamação que temos dos

clientes é que querem as suas casas

e estão prontos a pagar o que ain-

da têm por pagar. O nosso drama

como construtores é não termos

(ainda) o dinheiro para podermos

construir e efectivamente cobrar os

milhões que temos por receber dos

clientes. Só em Moçambique, uma

pessoa tem clientes e dinheiro ga-

rantido a entrar, mas não consegue

encontrar quem financie o produto

de forma a colectar esse dinheiro. E

mais, já tendo feito e provado que

sim é possível.

Reparem que as instituições que es-

tão ligadas ao desenvolvimento do

projecto têm contas e, por ter re-

lacionamento com os bancos, têm

contas auditadas, tanto pela PWC

como pela BDO, etc. Por isso sabe-

mos onde entrou e como foi gasto

cada dólar, como também sabemos

onde vamos por cada dólar que en-

trar até de forma a gerar o lucro es-

perado. O projecto é viável.

Desses 700 clientes, há casos em

Tribunal?

Dos 700 clientes activos, temos

no total seis casos extrajudiciais, e

cinco casos no tribunal, dos quais

quatro são de clientes e um

de uma ex-colaboradora e se

referem a elementos simples

Em alguns sectores argumenta-se que há

uma campanha contra Erik Charas, vinda

de alguns círculos do regime por causa de

posicionamentos contra a administração

Guebuza que o seu jornal assumiu no passado.

Quer comentar? Eu acredito que sim! Não acho que o presidente Guebuza tenha algo a ver com isso, mas como diz o Azagaia, numa das suas músicas, ele criou pelo me-nos uns 40 cães de raça que até hoje atacam sem dó, nem piedade quem eles sentem que devem atacar, incluindo pessoas dentro do partido como já vimos isso acontecer no passado. Falo concretamente do G40. Esses elementos hoje estão aí, sem muito uso e sem a gratificação que acham que merecem pelo que fizeram e por tal continuam à procura de osso para roer. Querem fazer valer a sua utilidade. Não tenho dúvidas nenhumas que há uma campanha contra mim sim, e que se intensificou nestes últimos dias. E reparem que para derrubar Erik Charas, eles não medem esforço, nem que isso signifique der-rubar e impedir de acabar o sonho de 600 pessoas. Importante realçar que o meu telhado é de vidro neste aspecto. Como expliquei antes, temos a de-vida quota parte de responsabilização do projecto, mas daí a diabolizar o projecto e o seu mentor, considerá-lo um pesadelo ao invés de focar no que o projecto  tenha de positivo, é uma pura e absoluta maldade, mas também uma irresponsabilidade de dimensões titânicas. Afinal, desde quando o ataque ao projecto irá fazer ou trazer algo de positivo, até para os próprios clientes e trabalhadores que pen-sam estar a defender. Afinal, se o projecto não avan-çar, diaboliza-se Erik Charas, validam-se as teses de que estou a soldo de influências externas, mas no fim sou incompetente e depois? Quem vai proteger os clientes? Quem vai acabar as casas deles? Isso não é irresponsabilidade? Neste país temos sim pe-

sadelos de grande dimensão.

A pesadelos se refere?A EMATUM. É nisso que deveríamos conscien-temente focalizar pois foi um processo deliberado, que nos está a trazer a todos (incluindo ao projecto) consequências nefastas. Uma fatalidade à nascença, concebida com as piores intenções desde o início. E pior não sabemos como acordar desse verdadeiro pesadelo e em consciência. Estamos a tentar resol-vê-lo para que não sejam os nossos filhos a pagar por isso. Este projecto (Casa Jovem), no processo de turbu-lência em que está, não se equipara, nem de longe a verdadeiros pesadelos que vivemos todos os dias neste país. O projecto de cariz privado, sem nenhum apoio ou benesse do governo se propôs a trazer uma solução e alternativa de habitação ao jovem. O pro-jecto andou e já deu provas de que é possível. Na-vegou mares difíceis e seguiu em frente continuou a produzir. Agora que finalmente começa a encontrar mares calmos, e que estamos preparados para dar a volta e realizar na totalidade o sonho, então é que vem apelidá-lo de pesadelo? Só podem estar a brin-car comigo e com os 600 jovens e mais outros 300 que ambicionam ainda adquirir casas a preços que não existem no país, nem de forma bonificada.Este projecto está e sempre esteve munido de boas intenções, e teve percalços no caminho, mas  não é, nem nunca foi uma fatalidade. Por isso, acredito sim que há sim uma tentativa de distrair a sociedade diabolizando Erik Charas. Afinal de contas é preci-so continuar a entreter né? Dhlakama já está desar-mado, agora há uma pausa e então há que encher o espaço com outras coisas...Eu sou de uma geração que sabe que depois de tempestades vem arco-íris, e é para lá que caminhamos.

O maior pesadelo é a EMATUM e não o Casa Jovem

Vista da Casa Jovem, onde 96 apartamentos já estão em uso.

Page 4: Moçambique para todos - Prémio Leaders & Achievers-Flecha … · 2015-11-02 · Savana 30-10-2015 TEMA DA SEMANA 3 jecto privado de habitação desde a independência nacional até

TEMA DA SEMANA4 Savana 30-10-2015

O académico e filósofo moçambicano, Severi-no Ngoenha, disse esta segunda-feira, em Ma-

puto, que em Moçambique “não

existem partidos políticos, mas

aparatos políticos”, pelo facto de

os seus membros serem movidos

de interesses pessoais e não pelos

ideais do grupo e muito menos

pelas preocupações da sociedade.

Ngoenha, que falava na abertura

da VI Semana da Comunicação,

uma espécie de jornadas científi-

cas, organizada pela Escola Supe-

rior de Jornalismo, que decorreu

nesta segunda-feira, sob o lema

“Comunicação e Formação como

bases para a Paz, Democracia e

Desenvolvimento em Moçam-

bique”, afirmou que o país deve

apostar seriamente na democra-

cia, mas para tal deve repensar

no modelo eleitoral, embora não

tenha avançado o seu.

“Constatei nas últimas eleições

(gerais de 2014) que, em Mo-

çambique, não temos partidos

políticos, mas aparatos políticos.

Os partidos políticos são um con-

junto de indivíduos que partilham

os mesmos princípios de ser e de

estar na sociedade, que comun-

gam dos mesmos ideais, assim

como opiniões. Mas, em Moçam-

bique verifica-se que os militan-

tes dos nossos partidos políticos

não partilham as mesmas ideias

ou preocupações da comunidade.

Eles entram nos partidos políticos

para benefícios pessoais. Ajudam

o partido a ganhar, por forma a

“A primeira constante sociológica

está relacionada aos candidatos à

presidência da República. Em to-

das as eleições temos dois candi-

datos à presidência da República

(Afonso Dhlakama e um candi-

dato da Frelimo). Segundo, é que

a cada pleito temos tido contes-

tação dos resultados, alegando-se

fraude eleitoral”, esclarece.

Urge comunicar o paísEstando numa escola de comu-

nicação (a ESJ ministra cursos

de Jornalismo; Relações Públicas;

Publicidade e Marketing; e Bi-

blioteconomia e Documentação),

o reitor da UDM falou aos pre-

sentes da necessidade de se co-

municar o país, pois esta é a única

arma de termos um povo formado

e preparado para os desafios da

vida.

Ngoenha conta que é com pre-

ocupação que, quando vê a te-

levisão, ouve telespectadores a

ligarem de diversos pontos do

país, pois este facto traz a ideia de

estarmos “num país coberto pela

comunicação, enquanto não”.

“Quando vejo a televisão é normal

ouvir telespectadores a dizer que

falo de Pemba ou Lichinga, mas

se olharmos as estatísticas dizem

que 20% da população é que tem

acesso à televisão, que 70% não

tem acesso à energia. Ou seja, a

comunicação cobre o Moçam-

bique geográfico e não humano,

pois não chega a toda a popula-

ção”, defende, acrescentado:

“A maior parte dos jornais estão

em português, língua que não

está entre as mais faladas do país

(Macua ou Changana). É preciso

fazer chegar a informação ao ci-

dadão na sua língua. Outro factor

é que os mesmos jornais são ven-

didos da Julius Nyerere à Estátua de Eduardo Mondlane. Ou seja, é uma parcela da cidade que tem acesso a estes meios de comunica-ção”, sublinhou.Outro aspecto que deixa Severino Ngoenha preocupado é o facto de observar uma comunicação social movida por questões políticas e não ético-profissionais.Segundo este, as últimas eleições provaram esse facto: “tivemos dois pólos de debate. Os ‘macu-acuinhas (o famigerado G40)’ e os ‘anti-macuacuinhas’, em que cada um defende uma ala. Para os ‘macuacuinhas’ todas as acções do governo estão correctas. Para os ‘anti-macuacuinhas’ é o contrário. Estes nunca vêem nada de positi-vo nas acções do Executivo”, disse.Recorrendo ao pensamento do fi-lósofo e sociólogo alemão, Jürgen Habermas, Severino Ngoenha afirma que “o grande perigo da comunicação é a sua ideologiza-

ção”, pois “formata espíritos e não

as forma, tornando as opiniões em

verdades”.

Portanto, “é preciso que traba-

lhem no sentido de buscar a le-

tia (verdade) e não viver da doxa

(opiniões)”, alertou aos aspirantes

à área de jornalismo.

Referir que, além de Severino

Ngoenha, passaram da VI Sema-

na da Comunicação, o historiador

Egídio Vaz, os jornalistas Arman-

do Nenane e Arsénio Manhice.

Severino Ngoenha volta à carga:

alcançar os seus objectivos. Isto é

Aparatocracia”, desparrou.

Dirigindo-se à uma plateia cons-

tituída por docentes e estudantes

daquela instituição do ensino su-

perior, o reitor da Universidade

Técnica de Moçambique (UDM)

criticou a política orçamental de-

finida para os pleitos eleitorais e,

particularmente, para a campanha

eleitoral, a propósito dos 70 mi-

lhões de meticais disponibilizados

pela Comissão Nacional de Elei-

ções (CNE), no ano passado, para

financiar a campanha eleitoral.

Segundo Ngoenha, o custo das

eleições é “maior que o custo de

vida dos cidadãos”.

“Durante as eleições, o país foi

pintado por cores partidárias.

Em 45 dias, gastamos o que é

consumido por cinco províncias

mais pobres do país, durante dois

anos”, constata.

Devido a este aspecto, Ngoenha

explica que urge repensarmos no

modelo eleitoral, pois o actual é

oneroso, porém não avança o seu.

Outra preocupação manifestada

pelo académico prende-se com o

facto de em cada pleito eleitoral

verificar-se os mesmos problemas,

ao que chama de “constantes so-

ciológicas”.

“Em Moçambique temos aparatos políticos e não partidos políticos”

e específicos como acordo de

prazo de reembolso de valor

pago e/ou taxa de câmbio.

Nenhum de preocupação

maior...

Quantas receberam as suas casas?

96 pagaram e receberam as suas

casas na totalidade. Temos também

em curso 32 entregas provisórias

em que estamos em conjunto com

os clientes a acabar e entregar os

apartamentos. É preciso notar que

até à data estão entregues e habi-

tados 98 apartamentos, numa área

que anteriormente era um pântano

e que careceu de avultados inves-

timentos terraplanagens, valas de

drenagem e outras infra-estruturas.

O investimento inicial em infra-

-estruturas, energia e água e arru-

amentos etc foi avultado, mas já

está no local, e isso foi complicado.

Estão também 80% dos prédios já

levantados e 70% completamente

fechados. As grandes obras para

a maioria dos apartamentos e ca-

sas já foram feitas e estão no local.

Quem se dignar a ir ao local poderá

constatar lá mesmo o activo impor-

tante que está implantado. Repare

que nem árvores cresciam no local

que se achava que era um pântano.

Hoje temos árvores a crescer e relva

a que levou mais de 2 anos a fazer

acontecer.

Reparem que nos 96 apartamentos

há pessoas que receberam as casas

que custaram 25 mil dólares. Com-

praram, esperaram e receberam.

Quais são as responsabilidades do

Casa Jovem em caso de atrasos na

entrega das casas?

O contrato prevê o atraso nas obras

de várias formas, que na altura nos

ocorreu. Nunca nos ocorreu que em

algum momento iríamos ser per-

seguidos politicamente e por isso

não prevemos esse tipo de atraso. É

preciso dizer que o nosso relaciona-

mento com o cliente está protegido

para ambas as partes pelo contrato

que ambos voluntariamente assi-

namos. O cliente pode, a qualquer

minuto, dar por terminado esse re-

lacionamento conforme e nas for-

mas estipuladas pelo contrato.

Existe o perigo dessas pessoas fi-

carem sem os seus imóveis, depois

de terem pago parte do dinheiro?

Não, o projecto é incontornável e

irreversível. As pessoas vão ter os

seus imóveis, e para isso estamos

a trabalhar. Se o projecto parar

agora, por razões inexplicáveis sim

(por exemplo atentado à minha

integridade física ou dos meus co-

laboradores, terramotos, etc), elas

não terão os imóveis, mas assim

como está mesmo com atraso, isso

é pouco provável, estamos a fechar

soluções casa a casa, prédio a pré-

dio. Temos mais activos, do que é

necessário para construir, então é

tudo uma questão de tempo.

Entendo que os clientes não te-

nham tempo, estejam com urgên-

cias. Alguns comprometeram-se

financeiramente e esperavam já ter

imóveis, outros porque precisam da

habitação para morar, etc etc e te-

mos em mente todos esses casos. A

única solução para todos esses ca-

sos é acabarmos o quanto antes as

casa e cobrarmos, o que nos devem

e entregarmos as casas a quem está

em processo de compra.

Estão disponíveis a devolver o di-

nheiro que as pessoas aplicaram

caso solicitem?

Se amanhã todos os nossos clientes

nos batessem à porta com o intuito

de cancelar os seus contratos, e se

o Casa Jovem aceitasse, teríamos

de entregar cerca de 24 milhões

de dólares. Não dispomos desse

dinheiro. Mas como não prevemos

esse cenário, então também não nos

preocupa.Para alguns casos em que os clien-tes solicitaram a rescisão contratu-al, nós concordamos em devolver o que foi adiantado até à data, con-forme previsto no contrato, e com planos de pagamentos que achamos possíveis de realizar. Nunca tudo de uma só vez, porque não dispomos de muita liquidez e o que dispomos temos sempre onde aplicar, tanto nos fornecedores, trabalhadores, obra etc

Pode explicar como são feitos os pagamentos para se poder ter acesso a uma casa? Quais são as modalidades? 20% na assinatura do contrato pro-messa de compra e venda10% até 10 dias após o inicio da construção

20% até 10 dias após a conclusão

das fundações

30% após a conclusão da estrutura

do prédio

10% após início do trabalho de aca-

Por Abílio Maolela

bamentos

10% na escritura de compra e ven-

da definitiva

Estes pagamentos só acontecem

depois de verificados os trabalhos

no terreno pelo cliente para ga-

rantir que foram feitos. Repara

que esta estrutura de pagamentos

apesar de benéfica e de proteger o

cliente, pois só é obrigado a pagar

depois de verificar que foi efecti-

vamente construído o que lhe está

a ser cobrado, é e constitui um dos

grandes problemas do projecto.

Significa que nós temos de ter em

mão o valor para construir a fase-

adamente e só depois colectamos

e cobramos aos clientes. Obriga-

-nos a financiarmos e a termos de

ter dinheiro a frente para construir.

Em alguns casos em que os clientes

se atrasavam a pagar significa que

era dinheiro a menos que tínhamos

para seguir para outra fase, ou então

que nos ia custar mais juros do que

previsto. Para este projecto em que

o nosso lucro esperado é de 20%,

significa que basta três clientes,

num prédio atrasarem o pagamento

para o custo começar a ser grande

para nós...

Severino Ngoenha

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TEMA DA SEMANA 5Savana 30-10-2015 PUBLICIDADE

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6 Savana 30-10-2015SOCIEDADE

A visita de Estado do Pre-sidente Nyusi à África do Sul de 21 a 23 de Ou-tubro teve no seu fulcro

uma humiliação inesperada. Le-

varam o Presidente Nyusi e a sua

comitiva com uns 60 empresários,

mais os altos funcionários que o

acompanhavam ao local das obras

da futura central térmica de carvão

de Medupi, a 360 quilómetros de

Pretória.

Medupi é um monumento gigan-

tesco à alta corrupção do reino de

Zuma. Com mais de cinco anos de

atraso na obra e um excedente de

já 50% sobre a verba orçamenta-

da, serviu para encher as caixas do

partido ANC, por intermédio do

seu braço empresarial “Chancellor

House”, imposto como parceiro

BEE (emponderamento negro) na

obra. A partir de 2018, Medupi de-

verá produzir 4.000 MW (4 GW)

de energia eléctrica queimando

mega quantidades de carvão de

baixo teor calorífico. Contribuirá

assim substancialmente à degrada-

ção do ambiente e dos recursos de

água na nossa região, aumentando

mesmo os riscos do aquecimento

global.

A visita a Medupi serviu para con-

frontar a delegação moçambicana

com a brutalidade das opções ener-

géticas do ANC. A estratégia ener-

gética do ANC, baseada no carvão

e no nuclear, fundamenta-se nos

interesses da indústria do carvão na

África do Sul e nos favores sem li-

mites que os lobbies da energia nu-

clear estão a prometer. Estas opções

na realidade rejeitam a opção regio-

nal da produção de energia limpa e

económica a partir dos jazigos do

gás natural do Rovuma, quinta ou

sexta maior reserva de gás natural

no mundo.

Na melhor das hipóteses, o custo da

ESKOM para a geração de energia

a partir de Medupi será de 1,22

Randes por KWh, mas é provável

que atinja 1,60 Randes por KWh.

Um cálculo recente dum eventual

custo da energia que poderia ser

produzida na África do Sul a partir

do gás fornecido através dum gaso-

duto Norte-sul (com um período

de implementação de apenas dois

anos), conclui num preço máximo

de 1,10 Randes por KW/h, inclu-

ída a amortização do investimento

(totalizando uns 10 mil milhões de

Dólares).

Para a opção nuclear do ANC, que

prevê a instalação de oito centrais

nucleares a partir de 2016 e dentro

de um período mínimo de constru-

ção de 14 anos, o investimento não

será inferior a 120 mil milhões de

Dólares. Este investimento é pelo

menos dez vezes superior ao custo

da opção da integração energética

a partir do gás do Rovuma, sem

sequer ter em conta o benefício

económico indirecto que poderia

resultar dum aumento das transfe-

rências entre as economias dos dois

países.

A visita a Medupi manifestou o

tradicional papel da África sul de

valentão regional. Mas exactamen-

te por isso, levanta a importante

questão sobre a partilha dos benefí-

cios resultantes do fornecimento de

energia a partir de Cahora Bassa.

Cahora BassaDesde o novo acordo de forne-

cimento de 2007, a ESKOM da

África do Sul compra a energia de

Cahora Bassa ao preço de 0,1256

Randes por KW/h, um preço que

já em 2007 era absurdo, tendo em

conta os níveis de preço da energia

produzida na África do Sul bem

como ao nível mundial. Corrente-

mente, os preços médios da energia

estão a 32 cêntimos do Dólar na

Alemanha, 20 cêntimos na França,

16 no Brasil e 14 na Rússia. Quer

isso dizer que um preço realista

seria de pelo menos 1,80 Randes

por KW/h, em vez de ser 0,1256

Randes.

A energia a partir da Central Tér-

mica de Ressano Garcia está a ser

vendida na base de 1,49 Randes

por KW/h. A enorme diferença

entre os 0,1256 cêntimos do Rand

vencidos pela energia de Cahora

Bassa e os 1,49 Randes cobrados

pela energia de Ressano Garcia re-

flecte o verdadeiro valor da energia

no mercado.

O preço da energia de Cahora Bas-

sa anterior a 2007 era inicialmen-

te de 0,036 Randes por kwh, um

montante na realidade simbólico.

O preço de 0,036 Randes tinha

sido imposto pela África do Sul

na base da guerra de destabilização

que promovia em Moçambique,

tendo a África do Sul a partir de

1982 arruinado e paralisado por

completo a economia de Moçam-

bique.

Em 1982 a quantia de 0,036 Ran-

des era equivalente a 3 cêntimos no

dólar americano, estando o Rand

quase a 1:1, ou seja a par com o

Dólar. O preço a partir de 2007,

de 0,1256 Randes, era na altura

equivalente a 0,017 USD. Hoje, em

2015, é equivalente a 0.009 USD.

Quer dizer que o preço caiu de um

nível de pouco menos de 2 cênti-

mos do Dólar para pouco menos de

1 cêntimo no Dólar.

Quer dizer que hoje em dia a

ESKOM só está a pagar 1/3 do

que pagava pela mesma energia em

1982. Ou em outras palavras, o go-

verno do ANC triplicou a injustiça

praticada pelo governo do Apar-

theid!

Para se ter a noção da dimensão

da pilhagem da energia de Cahora

Bassa, é preciso lembrar que o pre-

ço real e valor de mercado da ener-

gia eléctrica, mesmo no contexto

regional do SADC, é 15 vezes su-

perior ao que está a vencer na venda

dessa energia à África do Sul atra-

vés da longa linha de transmissão a

partir da Cahora Bassa.

Para dificultar a prevalência de

considerações comercias normais,

a linha de transmissão da Cahora

Bassa foi concebida e construída

propositadamente de tal forma a

tornar inviável qualquer abasteci-

mento de energia no território na-

cional moçambicano a partir dessa

linha de transmissão.

Isto quer dizer que a África do Sul

continua confortavelmente e sem

risco de competitividade a receber

1,3 GW (o que representa uns 5%

do seu consumo nacional de ener-

gia) a partir de Cahora Bassa. Ao

preço actual, equivale a um valor

anual de 1.430.332.800 Randes,

ou seja, 106 milhões de Dólares.

Ao preço real de mercado deveria

somar em  1.576.413 milhões ou

1,576 biliões de dólares.

Se Moçambique estivesse a rece-

ber o preço real e de mercado pela

energia, em vez de receber só uns

7,5% desse valor, Moçambique

hoje seria um país em boas vias de

desenvolvimento. A diferença é de

aproximadamente 1  300 milhões

de dólares em vencimentos do Es-

tado por ano.

Assim, Moçambique, o quarto

dos países menos desenvolvidos

no mundo, continua a subsidiar

a economia da África do Sul, um

país com um nível de desenvolvi-

mento médio e um PIB per capita

20 vezes superior ao PIB per capita

de Moçambique. Ao longo das dé-

cadas, o prejuízo de Moçambique

facilmente soma em  40 biliões (em

Brasileiro 40 triliões) de dólares, ou

seja 4012. Este montante significa

que aproximadamente a receita do

Estado durante as últimas duas dé-

cadas poderia ter sido em cada ano

o dobro de que na realidade foi.

A triste conclusão é que o irmão gi-

gante de Moçambique, a África do

Sul, em grande parte goza do seu

desenvolvimento e da sua relativa

riqueza à custa de ao menos duas

gerações de moçambicanos que não

tiveram acesso à educação, saúde e

geralmente à oportunidade ao de-

senvolvimento.

O desafio político está em conven-

cer os irmãos da luta pela indepen-

dência na África do Sul que a inte-

gração energética regional na base

das fontes de energia em Moçam-

bique terá maior vantagem para to-

dos, incluindo o partido ANC.

*Professor Catedrático do Direito Internacional e Comparado na Uni-

versity of South Africa (Unisa)

Cahora Bassa: 40 biliões de dólares desperdiçados- ou como Moçambique subsidia a África do Sul

Por André Thomashausen*

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8 Savana 30-10-2015PUBLICIDADEPUBLICIDADE

+Informações: www.ucm.ac.mz

Edital 201620/10/2015Celebrando Qualidade e Inovação

Processo de Inscrição

Os interessados deverão candidatar-se a uma única Faculdade/ Extensão.

Só irão frequentar os cursos da UCM os candidatos que tiverem concluído

todos os requisitos da 12.ª classe ou equivalente.

Onde adquirir o formulário: nos locais de inscrição.

O período de inscrições referente ao ano académico que inicia em 2016 de-

correrá:

INSCRIÇÕES PARA NOVOS INGRESSOSANO ACADÉMICO 2016

Documentos a anexar ao formulário no acto da entrega:

-

-

As listas dos candidatos admitidos e de espera para a frequência dos cursos

serão afixadas no dia 05 de Fevereiro de 2016 nos locais de inscrição.

Período de Matrículas

As Matrículas e Propinas decorrerão de 01 de Fevereiro a 12 de Fevereiro de

2016.

Taxas das Matrículas

--

-

-

-

Devolução

-

Início das aulas

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9Savana 30-10-2015 PUBLICIDADE

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13Savana 30-10-2015 PUBLICIDADE

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14 Savana 30-10-2015Savana 30-10-2015 15NO CENTRO DO FURACÃO

Celmira da Silva ao SAVANA:

No princípio do mês, a nova

governadora de Cabo Del-

gado, Celmira da Silva,

aceitou, com a sua equipa

e muitos dos administradores dis-

tritais, interagir com um grupo de

reflexão que preparou dois cenários

ficcionados para a província, em

2055. Uma visão catastrófica - de

pesadelo em pesadelo - com agita-

ções político-militares, o espectro

do Boko Haram, o caos, a destruição

do tecido social, da economia, da

lei e ordem. O outro cenário, o po-

sitivo - mel para todos - incluía um

sistema de governação com eleições

locais a todos os níveis, do governa-

dor ao administrador distrital, lai-

cismo de Estado, paridade no acesso

feminino à governação e emprego,

descentralização dos impostos, o fim

da delapidação dos recursos locais e

o progresso das indústrias transfor-

madoras locais. No fim do exercício,

o SAVANA e o jornalista Fernando

Lima desafiaram a nova governadora

a falar, não da miragem de 2055, mas

dos gigantescos desafios do presente.

Eis na íntegra, o frente a frente:

SAVANA - Não se sente em termos

nacionais a visibilidade de Cabo

Delgado e a visibilidade da sua go-

vernadora. Alguma razão?

Governadora Celmira da Silva: De-

pende da percepção que se tem da

visibilidade e quais são os órgãos de

informação ligados a essa visibilida-

de? As pessoas que vêem falam-me

de dias específicos. Sexta-feira, por

exemplo, “Bom Dia Moçambique” e

terça-feira de manhã. Mas fora dis-

so, em quase todos os noticiários da

TVM, que é a estação que tem estado

presente numa boa parte dos eventos,

realmente tenho recebido um bom

retorno. Provavelmente alguns órgãos

não estejam presentes. Eu acredito

que a deslocação a um distrito não é

apenas para cumprir agenda, mas para

contar as estórias das suas gentes, das

formas de estar e a cultura deste povo.

Há distritos onde passamos seis dias.

E há muito que um jornalista pode

explorar na sua permanência num dis-

trito.

Mas sabe que a TVM não é o órgão

mais visionado em matéria de tv

logo que se não atinge outros canais

sabe o papel que hoje tem a televi-

são em se sobrepor a todos os outros

meios de comunicação

Bem também depende muito de linha

editorial. As próprias televisões selec-

cionam

Em Maputo tem-se a percepção que

as províncias que existem em termos

informativos são Sofala e Nampula ,

o resto é paisagem…

Depende. É algo que tomaremos em

consideração. Mas acreditamos que

aqui em Cabo Delgado há muitos

assuntos que podem ser muito bem

explorados. Mas tomamos nota em

relação a essa apreciação.

É a primeira vez que uma mulher é

governadora em Cabo Delgado. Isso

faz alguma diferença, ou nem tanto?

Nem tanto. Fui muito bem acolhida.

Não faz absolutamente diferença ne-

nhuma em termos de linha de gover-

nação. Em termos de trabalho, hierar-

quia e subordinação. Mesmo em ter-

mos de recepção por parte do público,

por parte dos líderes comunitários. Es-

tive em práticas que são exercidas por

homens nas zonas rurais, mas quando

chega uma mulher, automaticamente

a percepção altera-se. Por exemplo,

nos distritos, quando pernoitamos e

fazemos lareiras, que são momentos

de interacção com os líderes em que se

contam estórias sobre o distrito, sobre

a origem dos nomes, toda a riqueza

cultural da região, momentos que são

acompanhados com nacos de cabrito,

com espetadas e habitualmente quem

faz o primeiro corte na peça de carne,

tradicionalmente, é um homem. Eu

questiono isso e a resposta habitual-

mente é que não há problema, não é

uma questão de mulher, é uma questão

de quem representa o poder.

Os sinais da governação

Neste momento temos praticamente

oito meses de nova governação. Em-

bora seja muito cedo há alguma mar-

ca já da governação Celmira Silva?

Eu diria que há já uma marca. E a

marca que existe é em termos de di-

nâmica, do trabalho de equipa, ter-

mos de criação de uma visão comum

e, sobretudo, em termos do afinar da

máquina para os avanços que quere-

mos ter. Nós estamos num quinqué-

nio com uma espécie de mudança de

paradigma, nas abordagens e na for-

ma de fazer as coisas. Sabemos que os

nossos quadros vêm de uma inércia de

outra governação e nesta governação

há palavras de ordem específica que

temos de seguir…

Como quê?

Temos de fazer uma abordagem in-

tegrada, não sectorializada, temos a

palavra de ordem que os sectores têm

de trabalhar mais em coordenação

uns com os outros, temos a palavra de

ordem da meritocracia, temos a pa-

lavra de ordem da inclusão e temos

a palavra de ordem que tem a ver

com os sinais de servir o povo e

a população. Este ano, em termos

orçamentais, foi um ano atípico,

tivemos a alocação do orçamento

tardiamente, mas tivemos uma gran-

de atenção para as consequências das

cheias e das calamidades.

Mas em relação à

nossa governação,

procurámos a

tempo e horas

aferir sobre o

ponto de im-

plementação

dos programas

e os indicadores

de cada uma das

áreas. Fazemos

questão em que

cada distrito ve-

nha ao governo

provincial e nos diga em que ponto

está uma determinada obra.

Isto significa que já se mexeu muitos

nos directores da província

Ainda não, porque primeiro é preciso

conhecer a equipa. Depois é preciso

criar uma dinâmica que permita que

respondam e vermos a capacidade de

resposta de cada um, o que é válido

também para os próprios administra-

dores. Nós estamos a construir uma

equipa baseada num pensamento ino-

vador, num pensamento que permita

gerar mais receitas. Nós procuramos

incutir a mentalidade de trabalhar

com base nos indicadores. Os indi-

cadores que permitem avaliar um di-

rigente, um administrador, têm a ver

com a forma como podemos captar

mais receitas e, desta forma, servir

melhor a população.

Em Moçambique há a percepção de

que há grandes diferenças entre um

dirigente provincial e um adminis-

trador, que um administrador é po-

lítica e culturalmente mais conser-

vador. Sente isso ou não é verdade?

Pode existir. Os governadores das

províncias vêm de todos os lados do

país e têm provavelmente uma visão

diferente da dos administradores. A

forma de acção e de estar dos admi-

nistradores poderá reflectir um pouco

a mentalidade e a forma

de estar do povo.

Há práticas e

formas de

estar que

são espe-

c í f i c a s

da po-

pu la-

ç ã o

e

que o perfil do administrador acaba

por ser influenciado pela população,

até nos próprios formalismos

Bem, por exemplo, para os exemplos

que citou de meritocracia e inclusão,

isto não é mais difícil de perceber

para um administrador do que para

um director provincial?

Eu penso que todo o processo de

governação é um processo de apren-

dizagem contínua, por isso temos de

ser o mais didácticos possível, para

que o administrador perceba qual é o

melhor método de captar recursos e

receitas para fazer mais estradas, mais

escolas, mais centros de saúde, como

atrair investimentos para o seu pró-

prio distrito e como criar dinâmicas

económicas internas. É uma aborda-

gem que estamos a ter desde Feverei-

ro e eu percebo uma evolução muito

grande por parte dos administradores.

O que fica desfasado é quando ele não

compreende o porquê do esforço que

lhe é colocado como responsabilidade.

O partido-Estado

Da anterior governação veio uma

tradição muito forte de subordina-

ção dos vários níveis de governo ao

partido no poder, inclusive ao nível

protocolar, menção em primeiro

lugar dos primeiros secretários do

partido. Há alguma situação nova de

reversão, ou

continua

t u d o

n a

mesma?

Eu julgo que temos uma governação

que os impele à governação, ou nos

desafia à inclusão. O que significa

termos todas as sensibilidades juntas.

Mas nas cerimónias de Estado, por

exemplo, temos uma forma de estar

própria que é abrir espaços para ou-

tros partidos políticos. É certo que

este governo é do Partido Frelimo,

cuja ideologia emana do Partido Fre-

limo, mas o espaço é para todos. Nós

temos uma referência clara para os

partidos políticos

Mas na área da governação há uma

separação clara entre actividades

partidárias e actividades governa-

mentais ou não?

Há uma separação clara e eu devo

confirmar isto porque ao nível do dis-

trito, do posto administrativo e aldeia

nós temos uma linha de governação

que é completamente separada da li-

nha partidária. Temos o administra-

dor distrital, o chefe do posto, o chefe

da localidade, o chefe da aldeia. Esta é

a linha de governação. E é nesta linha

de governação que nos focalizamos na

implementação do plano quinquenal

de governo. Mas sabemos que na linha

partidária temos o primeiro secretário

de zona, de círculo, da célula e por aí

adiante. Estes fazem, naturalmente, a

parte ideológica. A linha governativa

é a máquina que nós temos de afinar

para cada nível e a cada momento. Te-

nho abordado nas minhas visitas aos

distritos a minha visão muito clara

sobre o posto administrativo e a lo-

calidade. Porquê? Porque nas últimas

governações privilegiámos a descen-

tralização do nível central, para o nível

provincial, para o nível distrital. Julgo

que o enfoque agora é a partir do

distrito para o posto administrativo,

a localidade e a aldeia porque

são os níveis mais próximos

da população e é lá onde a

máquina governativa tem de

ser mais activa.

Mas quando o governador da

província vai ao distrito, reú-

ne-se com as estruturas par-

tidárias (da Frelimo)?

Normalmente temos um pro-

grama de trabalho e o nosso pro-

grama é focalizado na governa-

ção. Portanto temos as reuniões

ao nível do governo

distrital, a seguir

temos as reu-

niões com a

população,

a seguir

temos a

reunião

com os

f u n -

cioná-

r i o s

p ú -

blicos, temos os líderes comunitários.

Este é o nosso enfoque principal. Mas

claro sendo membro do partido, se

estou no distrito, há sempre um mo-

mento para cumprimentar os camara-

das (risos).

E na província, o governador reúne-

-se com o partido Frelimo?

Sendo membro do partido Frelimo,

nas reuniões do partido é convidado e

faz parte naturalmente porque a Fre-

limo é quem conduz a ideologia da

governação.

Atenção para Mueda

Há alguma atenção especial deste

governo virada para o planalto de

Mueda ou é apenas uma zona como

outra qualquer nesta província?

Como diz o nosso presidente, ele é o

presidente de todos os moçambicanos

e é presidente de todo o povo de Cabo

Delgado. Então nós aqui ao nível da

província não fazemos nenhuma se-

paração em termos de abordagens.

Sabemos que o planalto tem um pro-

blema sério de água, como temos ou-

tros distritos com o mesmo problema.

Era por aí que eu queria chegar

Não temos uma abordagem especí-

fica. Temos distritos mais populosos

que estão no sul. Não fazemos essa

separação

Mas este governo vai finalmente re-

solver o problema da água em Mue-

da?

O problema da água é estrutural aqui

em Cabo Delgado, como é o problema

da energia.

Mas Mueda é mais complicado.

Houve muitas promessas, houve

projectos que falharam, não foram

realistas, esta população sente-se

um pouco injustiçada porque recebe

sempre promessas de água, mas não

há meio de vir a água.

O que nós procuramos fazer na nossa

governação é um equilíbrio em termos

de resposta. Falamos da costa, falamos

de Pemba. Conseguimos aumentar

agora para mais duas horas o abasteci-

mento aqui na capital. Mesmo assim,

sentimos que ainda não chegámos ao

que nós queríamos. O que as pessoas

não percebem é que são poucas as ci-

dades que têm abastecimento durante

24 horas. Mesmo Maputo não tem.

Mas Mueda vai ter água ou não?

Neste quinquénio vai ter água, como

outros locais vão ter água. Vamos au-

mentar a capacidade de abastecimen-

to. Não será só Mueda, temos todo o

planalto.

Mas há um novo projecto ou é ape-

nas melhorar o que já existe?

Temos sistemas em funcionamento e

temos fontes de água que não estão a

funcionar. O nosso desafio é pôr em

funcionamento o que não está a fun-

cionar e aumentar a capacidade das

novas fontes. Por isso falo de equilí-

brio.

Madeiras e elefantes

Oito meses é muito pouco. Mas há

alguma boa nova nos aspectos muito

feios que são atribuídos a esta pro-

víncia, nomeadamente no dizimar

da riqueza faunística da província e

também a delapidação dos seus re-

cursos florestais?

Em relação aos recursos florestais

devo dizer que temos o problema das

queimadas descontroladas

Mas sabe que não é esse o proble-

ma que preocupa a opinião pública

quero saber dos contentores, das ex-

portações descontroladas…

Tenho tido reuniões sectoriais para

compreender os problemas. E a nossa

compreensão é que a devastação flo-

restal não está só ligada à exploração

de madeira. Está ligada também à ex-

ploração de lenha porque não temos

ainda um sistema sustentado de uso

dos restos da árvore por fazedores de

lenha. Isto seria uma boa fonte de le-

nha ao invés do corte de novas árvores.

A segunda questão é que temos um li-

mite, cerca de 48 mil metros cúbicos

de exploração de madeira na província

e estamos a explorar 18. Porquê, por-

que o principal mercado que é a China

está bloqueado.

Mas sabe que há um grande desfasa-

mento entre as quantidades de ma-

deira que são declaradas à saída de

Moçambique e o que depois é regis-

tado como proveniente de Moçam-

bique na própria China…

É verdade, mas agora estamos numa

fase em que a China bloqueou a im-

portação de madeiras. E esta é a gran-

de preocupação dos madeireiros da

província de Cabo Delgado.

Não ficou chocada quando os ma-

deireiros pediram ao presidente para

continuar a exportar madeira em to-

ros?

Fiquei apreensiva porque o raciocínio

económico de uma província não pode

estar apenas limitado à exploração e

exportação. Tem de estar relacionado

com a transformação. Nós compramos

da China mobílias muitas vezes com

menos qualidade do que nós podía-

mos fazer cá. Um dos nossos grandes

desafios no sector é compreender a

cadeia de valores. Temos necessidades

de carteiras, de caixilharias, de portas,

de parquet, temos o parque imobiliá-

rio para os novos projectos, temos os

mercados regionais. São estas ligações

que queremos que os nossos madeirei-

ros tenham

Se recebesse uma proposta do minis-

tro do Ambiente para se estabelecer

uma moratória sobre a exportação de

madeira, apoiaria?

Apoiaria sem dúvida. Mas teríamos

de pensar numa percentagem para ex-

portação, mas de madeira serrada. Por

outro lado, iria pensar que estávamos

a avançar para um novo entendimen-

to sobre o negócio da madeira que é

a exploração do mercado interno e o

mercado externo, sabermos quem são

os principais importadores de mobí-

lias da China. É preciso que nós como

produtores primários tenhamos esta

visão globalizada, onde está o mercado

e onde, como responder com tecnolo-

gia e inovação ao mercado interno e

aos desafios da exportação de produ-

tos acabados. A cadeia de valor iria

permitir que criássemos mais postos

de trabalho, iria permitir que tivésse-

mos tecnologia adequada e que a eco-

nomia no sector madeiras melhorasse

bastante.

Portanto, o cenário é que há uma di-

minuição de exportações de madeira

para a China?

Não é diminuição, é proibição. Corte.

Com a baixa do dólar, com a situação

em Angola, os mercados importado-

res, com o que importaram antes, não

há embarques para a China.

Na situação da fauna, há novidades

positivas? Esta é uma província onde

há nomes de chefes de polícia e ad-

ministradores envolvidos na explo-

ração ilegal de caça e troféus de es-

pécies faunísticas como é o elefante

Depois das últimas apreensões e do

grande alerta que foram as pontas

incineradas em Maputo, nos últimos

meses não temos recebido informa-

ções novas sobre este tipo de prática.

Uma vez mais, nesta questão da caça

furtiva, isto tem a ver com os merca-

dos. Enquanto os houver há-de haver

sempre quem queira vender ou viabili-

zar este tipo de negócios. E aí iríamos

entrar numa análise profunda sobre o

emprego e actividades da população.

“Quero meritocracia, quero inclusão”

Tecnicamente o mandato de um governador são cinco anos. Gostaria de ficar conhecida como o

governante que teve mão de ferro em relação à defesa da floresta e contra o abate das espécies fau-nísticas da província?Quero ser conhecida como uma

governante que focalize a abor-

dagem integrada do desenvolvi-

mento da província, olhando por

um lado para os aspectos estrutu-

rais, gostaria de ser olhada como

alguém que se preocupou com

as cadeias de valor e que tentou

desenvolver cada sector integral-

mente, gostaria de ser conhecida

como uma pessoa que apoiou os

empresários nacionais e interna-

cionais a compreender como se

faz o desenvolvimento de uma

província, que não é feito apenas

de exploração e exportação, mas

que é feito de tecnologias, criação

de empregos, é feito de inovação e

aumento de competitividade. Ser

conhecida por termos sido ou-

sados ao explorarmos vantagens

comparativas como por exemplo

criar uma fábrica à boca de uma

mina.

Isso significa que não vai haver

um olho especial para a madeira

e a fauna

O que eu quero dizer é que que-

remos fazer uma abordagem de

cadeias de valor na sua plenitude.

Essa é uma resposta politica-

mente correcta que qualquer

governador daria

Certo. O que eu queria dizer é

que as áreas que têm a ver com

floresta e fauna, isto é conserva-

ção e isso é um grande debate

nosso. O que quer dizer que tem

a ver com integridade territorial,

sobretudo a partir do Rovuma.

Conseguimos estancar as incur-

sões do lado do mar, mas não

ainda ao longo do rio Rovuma

que é uma grande extensão. Di-

ria que penso nas causas, na nossa

vulnerabilidade para responder às

questões da madeira e da fauna.

Temos uma governadora “mão

de ferro” ou “soft” (maleável)?

Qualquer governante deve saber

explorar as capacidades criadas,

mas deve renovar também, tem

de analisar cada mente e adequá-

-la ao lugar apropriado.

O legado da governadora

á uma marca. E a

é em termos de di-

ho de equipa, ter-

uma visão comum

ermos do afinar da

avanços que quere-

mos num quinqué-

cie de mudança de

ordagens e na for-

as. Sabemos que os

m de uma inércia de

e nesta governação

dem específica que

ma abordagem in-

orializada, temos a

que os sectores têm

s em coordenação

temos a palavra de

racia, temos a pa-

inclusão e temos

m que tem a ver

servir o povo e

ano, em termos

m ano atípico,

o do orçamento

tivemos uma gran-

consequências das

midades.

à

a mentalidade e a forma

de estar do povo.

Há práticas e

formas de

estar que

são espe-

c í f i c a s

da po-

pu la-

ç ã o

e

reversão, ou

continua

t u d o

n a

parte ideológica. A linha governa

é a máquina que nós temos de afi

para cada nível e a cada momento.

nho abordado nas minhas visitas

distritos a minha visão muito c

sobre o posto administrativo e a

calidade. Porquê? Porque nas últi

governações privilegiámos a desc

tralização do nível central, para o n

provincial, para o nível distrital. Ju

que o enfoque agora é a partir

distrito para o posto administrat

a localidade e a aldeia por

são os níveis mais próxim

da população e é lá ond

máquina governativa tem

ser mais activa.

Mas quando o governador

província vai ao distrito, r

ne-se com as estruturas p

tidárias (da Frelimo)?

Normalmente temos um p

grama de trabalho e o nosso p

grama é focalizado na gover

ção. Portanto temos as reun

ao nível do gove

distrital, a seg

temos as r

niões com

populaç

a seg

temo

reun

com

f u

cio

r i

p

Uma das situações con-frangedoras aqui em Cabo Delgado é que os directores e às vezes o

próprio governador são comple-

tamente alheios aos grandes pro-

jectos. Passam-lhe ao lado, sabem

apenas das visitas e visitantes a

caminho de Palma. Esta situação

está a ser alterada, o governador

está no comando das operações ou

vai apenas recebendo uns e-mails,

mas habitualmente tudo se passa

em Maputo?

Nós temos uma linha de comando

e uma comunicação muito forte ao

nível central sobre tudo o que se

passa.

Mas é novo ou sempre existiu?

O que eu posso dizer é que na nova

governação não há quem venha que

não passe por aqui

O que significa que o director lo-

cal dos Recursos Minerais tam-

bém está bem à vontade sobre

tudo o que se passa no sector…

Está à vontade naquilo que ele co-

nhece. Conhece tudo o que se passa

na Bacia do Rovuma. Sabe do que

se passa na questão dos reassen-

tamentos. As equipas que vêm de

Maputo juntam-se ao pessoal aqui

da província e trabalham em con-

junto. Não vejo razão para esse tipo

de pronunciamentos…

Neste momento aqui em Pemba

há um ambiente de grande pes-

simismo em relação aos grandes

projectos. Existe muito o senti-

mento: “está tudo parado”. Essa é

a sensação da governadora?

Depende dos grupos. Há dois gru-

pos. Realmente houve uma para-

gem e isso foi ditado pelo adiamen-

to do primeiro carregamento de gás

a fazer pela Anadarko em 2018.

Em função disto não há demanda

em termos de negócio por parte das

indústrias de petróleo e gás. Aque-

las indústrias que se tinham insta-

lado aqui começaram a retirar-se

e a diminuir o pessoal, justamente

para fazer tempo até que nova cha-

mada seja feita. Isto, diria, em rela-

ção às indústrias estrangeiras. Mas

temos um grupo que é das indús-

trias nacionais, de empresários lo-

cais onde a sensação de pessimismo

é diferente. Aqui o posicionamento

é de como se vão integrar no pro-

cesso da cadeia de valores da indús-

tria de petróleo e gás. Mas mesmo

assim, há nos dois grupos quem já

identificou em quê pode contribuir

e rapidamente se posicionam. Al-

guns estão no imobiliário. Vou dar

o exemplo da fábrica de cimento

Mas esses não são os tais contro-

versos chineses com problemas

ambientais para fazerem a fábri-

ca?

Não há problemas ambientais. Fal-

tava o estudo de impacto ambiental

antes do início de construção da

fábrica e havia também um proble-

ma de distanciamento em relação

à estrada. A lei diz que tem de ser

um quilómetro para dentro. Mas

o exemplo da fábrica de cimento

é para mostrar que há os que se

posicionam mesmo antes de acon-

tecerem as grandes coisas e os que

esperam para ver. Por isso estamos

a organizar a conferência sobre

cadeias de valor na indústria de

petróleo e gás, lá para Novembro/

Dezembro. Isto para termos uma

noção de quem é quem, quem se

coloca onde, o que está ainda em

falta, que oportunidades terão as

empresas nacionais.

Voltando ao cimento, isto signifi-

ca que a governadora vai respeitar

o que imanar do estudo de impac-

to ambiental?

Com certeza. Em relação a normas

e preceitos nós somos tolerância

zero.

Vendo a banda a passar

Page 15: Moçambique para todos - Prémio Leaders & Achievers-Flecha … · 2015-11-02 · Savana 30-10-2015 TEMA DA SEMANA 3 jecto privado de habitação desde a independência nacional até

16 Savana 30-10-2015SOCIEDADE

Os presidentes de Mo-çambique e da África do Sul, Filipe Nyusi e Jacob Zuma, respectivamente,

comprometeram-se a criar todas as facilidades no domínio político de modo a promoverem negócios do sector privado, visando promover o bem-estar entre os povos dos dois países. O pacto para a facilitação de negó-cios foi firmado semana passada, no decurso da visita de Estado de três dias, que Filipe Nyusi efectou à vizinha África do Sul. A tónica dominante da visita esteve assente na energia e na agricultura. A terra do rand enfrenta um dé-fice energético sem precedentes para responder à demanda da sua indústria, enquanto Moçambi-que dispõe de vastas terras, mas a produção agrícola mostra-se inci-piente para abastecer os mercados nacionais.

Em menos de seis meses, Filipe Nyusi e Jacob Zuma já mantiveram três encontros formais, facto que os estadistas justificam com a alegada urgência em transformar os cerca de 69 acordos existentes entre ambos os países em acções concretas. Foi neste contexto que inauguraram a comissão-binacional, que servirá de mecanismo de monitoria, avaliação e dinamização do estágio de imple-mentação dos referidos acordos.A comissão-binacional vai reunir--se uma vez por ano com os chefes de Estado, trimestralmente com os ministros e mensalmente, através dos técnicos. Assim, Nyusi convidou o seu homólogo Zuma, para participar da segunda reunião da comissão-bi-nacional que terá lugar próximo ano na capital moçambicana. Filipe Nyusi referiu que esta comis-são trata de diversos assuntos nos do-mínios de comércio, indústria, defesa e segurança, transportes, turismo, ci-ência e tecnologia, agricultura e meio ambiente, com enfâse na caça furtiva, uma vez que juntos partilham a fron-teira que liga o Parque Nacional de Limpopo a do Kruger Park.

Diplomacia económicaTanto Nyusi como Zuma frisaram que a diplomacia económica é a que dominou a agenda da vista. A Áfri-ca do Sul precisa de superar o défice energético para responder à demanda cada vez mais crescente da indústria no seu país. “A energia é muito preponderante para a promoção do desenvolvimen-to inclusivo e notamos que Moçam-bique é um parceiro estratégico, por ter muitas alternativas que podem ser bem exploradas pelos dois lados para a geração de emprego”, disse Zuma.Prosseguindo, assegurou que ins-truíram os respectivos ministros de energia para trabalharem com urgên-cia rumo à solução do défice preva-lecente. Filipe Nyusi considerou Moçambi-que um parceiro incontornável para a África do Sul principalmente neste domínio.“Temos várias fontes de geração de energia, tais como a hídrica, gás, car-vão e agora estamos a embarcar para a eólica, o que mostra que podemos ser úteis a para país”, destacou.No entanto, sabe-se que o governo sul-africano está a investir na cons-

trução de centrais térmicas nucleares, um projecto altamente contestado pelo parlamento e diversas organi-zações da sociedade civil, devido à amarga experiência japonesa e aos elevados custos.Nyusi visitou a central térmica de Medupi e o SAVANA apurou que se previa a assinatura de uma acordo no domínio da energia, que não se efectivou, mas o estadista moçambi-cano disse nada temer, porque Mo-çambique tem opções mais baratas e sustentáveis de energia, que podem contribuir para a estabilização da vida naquele país e que a energia não seja um elevado peso nos custos de pro-dução na indústria. Tranquilizou que o governo sul--africano tem consciência disso e, justamente por isso, falou do estrei-tamento das relações entre a EDM e ESKOM para partilha de projectos e infra-estruturas caso se mostre ne-cessário. Segundo Nyusi, na SADC há um défice energético de 1000/mgw ano e Moçambique está a investir de modo que nos próximos tempos disponibi-lize 7000/mgw ano.

Agricultura gera desenvolvimentoA segurança alimentar constitui uma das fortes marcas do manifesto de Nyusi que por via disso mereceu um destaque nas conversações. O esta-dista disse que o objectivo era firmar parcerias para que os sul-africanos possam investir numa agricultura empresarial no nosso país, mas tam-bém colher experiências para que o mesmo seja feito por moçambicanos. “Queremos uma agricultura em-presarial que produz renda, gera impostos, mais postos de trabalhos, bem-estar e sair da dependência no abastecimento de produtos básicos”. Nyusi entende que os dois países devem olhar para agricultura como a base do desenvolvimento e nos hidrocarbonetos como alavancas do primeiro sector, pois, caso contrário, corre-se o risco de cair em ilusórios sonhos tal como está a acontecer com alguns países africanos. Refere que a agricultura, agro processamento, pesca e turismo geram um desenvol-vimento inclusivo e sustentável que não está sujeito à volatilidade das co-

Energia e agricultura dominaram a visita de Nyusi à RSAPor Argunaldo Nhampossa, em Pretória

fortes aplausos por mais de 800 pre-sentes na sala. Sulemane Gulamo falou da falta de abrangência dos serviços de emissão de bilhetes de identidades e passapor-tes, o que fez com que boa parte dos moçambicanos naquele país não obti-vessem a documentação. O registo de crianças não ficou atrás e pediu a ex-tensão dos prazos de vistos de estadia de 30 para 90 dias. Ilunde do Santos, filha do veterano Marcelino dos Santos, disse terem recebido um ultimato segundo o qual depois de 15 de Novembro nenhum estrangeiro deverá movimentar de dentro para fora ou vice-versa sem um passaporte biométrico. De acordo com a mesma, esta decisão fará com que milhares de nacionais que não têm o documento biométrico não se juntem às famílias durante a quadra festiva sob pena de não entrarem mais naquele país.Em jeito de resposta, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Oldemiro Baloi, esclareceu que o uso de pas-saportes e bilhetes de identidade biométricos são uma decisão inter-nacional e não das autoridades sul--africanas. Anunciou que os vistos passam dos 30 para 90 dias de estadia naquele país e que a fronteira de Res-sano Garcia passará a funcionar 24 horas por dia de modo a responder à demanda. Por seu turno, o presidente da Re-pública apontou que o governo vai aumentar o número de brigadas para concessão de documentos biométri-cos, mas apelou à comunidade para se organizar e divulgar a informação para outros de modo a facilitar o tra-balho. Garantiu que a questão do câmbio está a ser resolvida para que esteja em consonância com a dos bancos e que no âmbito dos preparativos da quadra festiva irá dar instruções de modo que a polícia no seu todo não atrapalhe o cidadão, mas sim ajude. Advertiu so-bre a necessidade de revista porque pode haver oportunistas que possam fazer passar mercadorias ilícitas.

modities internacionais que colocam países em incertezas. Este sentimento também foi ma-nifestado por Zuma que disse que os dois países lutaram pela suas in-dependências. Moçambique travou uma batalha contra a dominação colonial portuguesa e a África do Sul contra o regime segregacionista do apartheid, pelo que agora é che-gada a hora de garantir o bem-estar às populações de ambos países, o que passa pela promoção do sector priva-do. As partes garantiram criar todas as facilidades possíveis para que haja investimento do sector privado e que o mesmo gere grande impacto nas respectivas economias.

Uma pedra no sapato empresarialO empresariado nacional que fazia parte da comitiva governamental, para além de pretender abrir novas portas de mercados, levava em man-ga uma preocupação que trava a sua concorrência em concursos públicos naquele país vizinho. Este assunto ficou galvanizado com o discurso dos estadistas que se comprometeram a criar facilidades políticas e assim sur-giu a primeira pedra. O governo sul-africano criou uma lei denominada “black empowerment” que visa promover o empresariado negro daquele país através de con-cessão de incentivos em negócios que envolvem o estado. Com esta lei, todo aquele que pretende intervir em negócios com o governo, entidades públicas ou empresas que forneçam serviços a estas deverá sujeitar-se a este dispositivo. No entanto, os moçambicanos olham para isto como uma “barreira” aos seus projectos, o que faz com que não sejam elegíveis aos concursos.O Governo sul-africano apelou ao respeito pela legislação doméstica de cada país, alegando que foi uma solução encontrada para problemas locais. Por seu turno, Nyusi também falou da necessidade do empresariado nacional saber conviver com aquelas leis e procurar meios para se impor tal como fazem os empresários dos outros países que actuam naquele mercado, uma vez que Moçambique também as suas leis que os outros as vêem como barreiras.

Vistos passam de 30 a 90 dias No seu último dia de visita à terra do rand, Nyusi manteve um encon-tro com a comunidade moçambica-na residente naquele país, por sinal a maior na diáspora. Na mesma oca-sião, apresentou Paulino Macarin-gue, antigo Chefe do Estado Maior General como o novo embaixador, e que dentro de dias será recebido por Zuma para entrega das cartas cre-denciais. Victor Cossa, coordenador geral dos mineiros sediados na RSA, pediu intervenção do chefe de estado na fixação de um câmbio justo na We-nela, porque o que vigora está abaixo do praticado pelos bancos comercias, facto que lhes faz considerar isso como burla. Lamentou o tratamen-to pelo qual são submetidos pelas alfândegas, polícia de trânsito e de protecção, vulgo cinzentinho, quando regressam ao país, tendo arrancando

Filipe Nyusi e Jacob Zuma assumem compromisso de alavancar sector privado

Explicando à comunida-de moçambicana sobre a tensão política que se vive no país, Filipe Nyu-

si disse que a democracia requer paciência porque ainda tem de crescer mais. Referiu que custa dizer o que está a acontecer no país, porque foi-se às eleições depois de uma revisão pontual da lei eleitoral, tendo na ocasião o proponente da reforma dito que estava perante a melhor lei eleitoral do mundo e que tudo estava criado para aceitar os re-sultados.De acordo com Nyusi, termina-das as eleições, os diversos obser-vadores do escrutínio, incluindo internacionais, admitiram a exis-tência de irregularidades cujo impacto em nada alteraria os re-sultados finais. “Assim, gerou-se confusão até ao preciso momento, porque o partido tem armas e faz as suas exigências. Aqui na RSA, a situ-ação é diferente porque não há partidos armados, os problemas são debatidos até se alcançar so-

luções”.Sobre o estágio do diálogo com o líder da Renamo, Nyusi disse que a intenção do governo é de envolver outros actores na busca de soluções e não bipolarizar o diálogo sobre a paz. Aliás, referiu que esta deve ter sido a falha nes-te processo por se ter criado do-nos do debates, mas que também há pequenos grupos que estão à espera dos resultados para depois criticar. Reiterou que o diálogo está em curso e não gostaria de se alongar muito na imprensa porque estão a emergir políticos oportunis-tas que pretendem aproveitar se do silêncio das duas partes para apresentar ideias muitas delas inexequíveis e desfasadas da re-alidade. “Hoje toda a gente sabe pensar, toda a gente sabe pacificar, agitam e não ajudam o sistema, por isso temos de nos concentrar para resolver o assunto”, precisou, tendo de seguida criticado os que ridicularizam a figura do líder da Renamo ou o colocam numa po-sição de fraqueza.

Há oportunistas no diálogo

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17Savana 30-10-2015 SOCIEDADE

O Estado moçambicano pagou mais 8,3% de dívi-da entre Janeiro e Junho deste ano em comparação

com o primeiro semestre de 2014,

desembolsando mais de três mil

milhões de meticais, divulgou esta

terça-feira o Banco de Moçambi-que.

Falando em conferência de impren-sa sobre a “Conjuntura Económica e Perspectivas de Inflação”, o porta--voz do Banco de Moçambique, Waldemar de Sousa, adiantou ain-da que cerca de 54,2% dos juros pagos no primeiro semestre do ano em curso são da dívida externa e re-presentavam 0,28% do Produto In-terno Bruto (PIB) projectado para 2015.Questionado se o incremento do serviço da dívida de Janeiro a Junho do ano em curso está relacionado com o início do pagamento da dí-vida associada aos 850 milhões de dólares usados na capitalização da Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM), o porta-voz do Ban-co de Moçambique escusou-se a singularizar a natureza dos credores do Estado moçambicano.“Compreendo o vosso apetite pela EMATUM, mas já tivemos a oca-sião de nos pronunciarmos sobre esse assunto e não voltaremos a fazê-lo agora”, frisou Waldemar de Sousa.De Janeiro a Junho, diz a “Conjun-tura Económica e Perspectivas de Inflação”, os agentes económicos residentes no território nacional contraíram empréstimos líquidos ao exterior no montante de 411,9 milhões de dólares, contra 757,6 milhões de dólares no período ho-mólogo de 2014.

Durante a conferência de imprensa, o porta-voz do Banco Central mo-çambicano alertou para uma subida da inflação no próximo ano, contra uma projecção inferior a 5% este ano. Em Setembro, assinalou o porta--voz do Banco de Moçambique, a inflação mensal subiu 0,12%, con-tribuindo para uma inflação acu-mulada de 1,28% no terceiro tri-mestre e anual de 2,48%.De 01 de Outubro de 2014 a 30 de Setembro, a taxa de inflação regis-tou 2,73%, com base nos resultados apurados do Índice de Preços ao Consumidor (IPC).Nos três meses que faltam para o final do ano em curso, espera-se que o país entre numa espiral de acele-ração inflacionista, em grande parte devido ao impacto da depreciação do metical face ao dólar e ao rand.Por outro lado, prevê-se um agra-vamento dos preços de cereais no mercado internacional, depois de uma subida de preços de 3,2% no arroz e 7,2% no trigo. Waldemar de Sousa indicou que o Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique decidiu

subir as taxas de juro precisamente para conter a pressão inflacionista.A Facilidade Permanente de Ce-dência, que corresponde à taxa de juro paga pelos bancos comerciais pelos empréstimos que contraem no Banco Central, subiu 25 pontos base, de 7,5% para 7,75%), depois de ter sido mantido nos 8,25% no ano anterior.Em relação à acentuada deprecia-ção do metical nos últimos meses, o porta-voz do Banco de Moçam-bique afirmou que a queda da mo-eda nacional desacelerou no final de Setembro, com o dólar a cotar--se nos 40.04 meticais no mercado interbancário e em 44,33 meticais na taxa de câmbio praticada pelos bancos comerciais.

Crédito mal parado preocupanteWaldemar de Sousa manifestou preocupação com o nível de crédito mal parado, que se situa em 8,9%, contra apenas 3,2% em 2014.Essa taxa, prosseguiu Sousa, deve--se a um grande empréstimo conce-dido por um banco comercial a um cliente que não está a desembolsar a dívida dentro do prazo acordado.Sem esse crédito, a porção do cré-dito mal parado baixa para 4%, uma cifra, que, de acordo com o porta--voz, é, ainda assim, significativa “Os bancos estão expostos a riscos, por causa da concentração do cré-dito”, afirmou Waldemar de Sousa.

PIB desacelerouAinda na mesma conferência de imprensa, o porta-voz do Banco de Moçambique afirmou que o PIB conheceu uma desaceleração para 5,9% no segundo trimestre deste ano, quando comparado com os 7,8% no período homólogo do ano passado.Waldemar de Sousa disse que o comportamento da economia mo-çambicana no período entre Maio e Junho foi influenciado por uma subida anual de 47% do sector pri-mário.“Mesmo num contexto de queda da procura internacional das matérias--primas e de dificuldades logísticas para o escoamento de produtos como o carvão mineral, a produção do ramo da indústria extractiva, ou-tro ramo do sector primário que re-presenta 3,7% do PIB, esteve tam-bém em destaque no período, com um crescimento anual da ordem dos 17,9%”, afirmou Sousa.As reservas internacionais líquidas reduziram 291,9 milhões de dólares para pouco mais de 2,3 mil milhões de dólares no final de Setembro, acrescentou Sousa. Ao que o SAVANA apurou, as quedas das reservas internacionais líquidas são basicamente explica-

das pelas vendas líquidas efectua-

das pelo BM no Mercado Cambial

Interbancário (MCI) no valor de

USD 139,3 milhões, pagamento

de dívida externa pública em USD

125,5 milhões, perdas cambiais no

valor de USD 20,6 milhões e paga-

mentos diversos ao exterior orde-

nado pelo Estado no valor de USD

9,5 milhões.

Moçambique pagou mais 8,3% de dívida no primeiro semestrePor Ricardo Mudaukane

O saldo das reservas internacionais

brutas corresponde a 3,42 meses de

cobertura das importações de bens

e serviços não factoriais quando

excluídas as operações dos grandes

projectos.

Page 17: Moçambique para todos - Prémio Leaders & Achievers-Flecha … · 2015-11-02 · Savana 30-10-2015 TEMA DA SEMANA 3 jecto privado de habitação desde a independência nacional até

18 Savana 30-10-2015OPINIÃO

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CartoonEDITORIAL

Na semana passada, li um

texto na revista Tempo, da

autoria de Luís Carlos Pa-

traquim, um encorajamento

para a produção de literatura policial

na ficção moçambicana. Patraquim

começa por inventariar os mestres

do género, apontando as suas “via-

gens” e os seus espaços de criação.

O texto acaba com um apelo subtil

mas que não deixa de oferecer (já

imagino os candidatos ao género a

esfregarem as mãos contentes) um

personagem e algumas nuances.

Depois de ler o texto, reflecti alguns

instantes, observando os caminhos

por que passaram as narrativas na

Pérola e notei, não sem espanto,

como ao longo destes anos não nos

foi dado conhecer um detective so-

nante, um caso de traição e vingança

com contornos exuberantes (como

convém a um caso de traição e vin-

gança), um assalto com tiros, perse-

guições policiais e detenções falha-

das, tudo no campo da ficção, é bom

que se diga.

Decidi, então, elaborar algumas pro-

postas, com o nosso detective (ofe-

recimento do Patraquim), o Jeremias

Fife:

Um Director Nacional, cujo nome só

saberemos a meio da prosa, descon-

fia que a mulher (uma procuradora

a exercer a actividade há dois anos),

o trai. Como a procuradora elimina

todas as mensagens SMS que rece-

be, o Director Nacional não se pode

servir delas para descobrir o que

quer que seja. Fica a saber, através

do Lopes Massangulo, seu ajudante

de campo, que há um competente

detective ali na Rua de Bagamoyo.

No fim de tarde de quinta-feira,

cumpridas as obrigações no Mi-

nistério, deslizam lentamente pela

Karl Marx, num 4X4 novinho, para

a Baixa, onde esperam encontrar o

detective, de quem não têm o con-

tacto nem a morada. Lopes Massan-

gulo assegura que o detective é visto

constantemente no Gipsy, com as

suas camisas impecavelmente limpas

e o seu chapéu com aba larga. Nos

próximos três meses, as movimenta-

ções da procuradora serão vigiadas

pelo nosso detective. Não há que se

preocupar, diz o detective, não há

que se preocupar.

Precisamos das credenciais do saca-

na do IT. A localização dos protoco-

los IP foi modificada. Procedimen-

to primário. Estão fartos de ouvir

sobre a EMATUM. Vão apresentar

evidências e arrumar o caso. É um

dever. É de interesse público. Tenta-

ram quatro horas. Ocorre-lhes agora

que o melhor é recorrer a técnicas

antigas, os truques de programação

não se prestam ao caso. Falaram-lhes

há tempos dum tal Jeremias Fife,

um antigo companheiro na Escola

Comercial do pai de um deles, que

depois passou pela PIC, detective

capaz de “organizar expedientes” efi-

cazmente. Trata-se de meter-se no

edifício da EMATUM e dali sacar

o agora famosíssimo contrato de que

resultou o “caso EMATUM”.

Está reticente no atender. Estes

números estranhos, pensa Jeremias

Fife. Tenha a bondade, fala o Fife,

Jeremias Fife, em que lhe posso ser

útil? Nunca vacila nos modos. A voz

treme. É de Bilene e dizem que o

caso é recente. Encontre-me no café

36 na Eduardo Mondlane e dou-lhe

os detalhes, esclarece o interlocutor.

Um homem de meia idade, empre-

sário, foi encontrado morto na praia

em Bilene, nu. Uma orelha decepa-

da.

Quem quiser localizações recorra ao

Google Earth. Os arquivos da Es-

cola Comercial dariam para traçar

antecedências. Nos jornais dos úl-

timos seis meses abundam notícias

que alimentariam a trama do “caso

EMATUM”. No mercado Janete há

sempre três ou quatro indivíduos a

falar da EMATUM. Para enredos

mais complicados lembrem-se da

Ema Atum, essa fugitiva (?), propos-

ta pelo Luís Carlos Patraquim. Há

a EMATUM e a Ema Atum. Se-

mântica. Os movimentos do 4X4 do

Director Nacional? Fique atento. O

distinto ajudante de campo, veremo-

-lo sempre prestativo, faça chuva ou

sol, num Ministério, seja qual for.

Réplicas não faltam. Viaje a Bile-

ne, candidato a escritor de policiais,

num fim-de-semana longo e capte a

ambiência que acelerará os aconteci-

mento para o cadáver na praia. Putos

do Departamento de Informática da

Universidade com ideias sobre cra-

char e mandar abaixo páginas online

estão aí. Um caderno comprado nas

ruas da baixa. Ou um computador

em segunda mão. Não importa. Há

rituais? Isso é lá consigo. Lance-se

nesse vuku-vuku que há para mui-

to. O Conselho Municipal pode já

pensar em 30 paus. Uma visita com

guias e tudo, ao edifício da Rua de

Bagamoyo onde funcionava o escri-

tório do Jeremias Fife. Em breve te-

remos bichas com turistas curiosos.

Incontáveis selfies.

Fontes próximas garantem que o

Luís Carlos Patraquim conheceu

muito de perto o detective Jeremias

Fife. Jerry para as prostitutas da Ba-

gamoyo.

Em defesa da literatura policial - tramasPor Tavares Cebola

O futuro da cidade

As estatísticas oficiais indicam a população de Moçambi-

que como sendo maioritariamente rural. O que sugere

que mais de metade dos moçambicanos fazem a sua vida

trabalhando a terra, supostamente o maior sector da acti-

vidade económica do pais.

Mas um olhar crítico sobre a realidade pode justificar o desafio

que se coloca em alguns círculos quanto à veracidade desta asser-

ção. Torna-se cada vez mais questionável que a maioria dos mo-

çambicanos vivam no campo, e que tenham a terra como a sua

principal fonte de sustento.

Com a grosseira negligência a que o sector agrícola e o meio rural

estão a ser devotados no nosso país, é razoável argumentar que a

população moçambicana está a tornar-se cada vez mais urbana,

semi-urbana e peri-urbana, vivendo não mais da agricultura como

foi tradicionalmente, mas do comércio informal e de outras acti-

vidades que permitem a cada um ter algum dinheiro no bolso e

poder responder às necessidades do dia-a-dia.

Cidadãos – maioritariamente jovens – desprovidos de condições

básicas no meio rural refugiam-se nas aldeias, vilas e cidades, onde

o compra-e-vende torna-se o seu principal sustento. Outros ini-

ciam-se no mundo do crime primário, alternando a sua vida entre

o estabelecimento prisional e a liberdade provisória. Os que con-

seguem sobressair-se podem ser motorista ou cobrador de chapa.

Uma viagem ao longo das principais estradas de Moçambique

atesta a esta realidade. Todos os dias, nos meios urbanos em Mo-

çambique, chegam pessoas fugidas da inospitabilidade que se tor-

nou o campo. Não existe movimento inverso.

E como é que é a vida neste meio urbano em que hoje reside a

maioria da população moçambicana?

Como cidadãos, e constantemente preocupados com o hoje (por-

que o amanhã tomará conta de si próprio), raramente nos preocu-

pamos sobre como é que estas nossas cidades são geridas. Mesmo

se os seus gestores o fazem em nosso nome, e por conta do voto

que sobre eles confiamos.

Esperamos que as coisas funcionem, mas exigimos pouco ou qua-

se nada dos nossos dirigentes municipais. Eles próprios nunca

procuram saber de nós o que nós esperamos deles nestas florestas

de betão. E neste ambiente de ausência de autoridade e de res-

ponsabilidade, o caos é o rei. Todas as cidades estão tomadas pelo

comércio informal, o mesmo comércio informal onde compramos

de volta os nossos próprios bens que nos foram roubados no dia

anterior.

Os mais pobres residentes dos centros urbanos subsidiam a boa

vida dos mais ricos porque apesar de pagarem a “Taxa de Lixo” nas

suas facturas, o carro de recolha de lixo nunca vai aos seus bairros,

em contraste com a frequência diária com que o faz nas zonas

onde os ricos vivem.

Na ausência de um sistema de transporte público decente, a posse

de uma viatura individual torna-se obrigatória, mas sem espaço

para estacionamento. Para a cidade de Maputo, esta insuficiên-

cia de que o cidadão não tem culpa, torna-se numa das principais

fontes de receita para a edilidade, num acto de vergonhosa extor-

são a que o cidadão é sujeito. Por cada viatura mal estacionada o

município ganha 750 Meticais. Os poucos espaços livres que ainda

restam na cidade, no lugar de serem aproveitados para a constru-

ção de silos para o estacionamento de viaturas, são presa fácil para

a especulação imobiliária. Com esta bonança, porque se preocupar

em criar melhores condições para o estacionamento?

A expansão urbana, que tem sido a tendência em todas as partes

do mundo, requer uma visão mais ampla sobre o futuro da cidade.

Uma visão que ultrapassa o imediatismo fiscal que se tornou a

característica principal da gestão municipal em Moçambique.

Mas isto nunca será produto do acaso. Só será possível se os re-

sidentes das cidades entenderem que eles são os donos do meio

em que eles próprios vivem, e começarem a ser mais exigentes em

relação ao nível de prestação de serviços que pagam com muito

sacrifício, mas cujo retorno é mesmo nulo.

Page 18: Moçambique para todos - Prémio Leaders & Achievers-Flecha … · 2015-11-02 · Savana 30-10-2015 TEMA DA SEMANA 3 jecto privado de habitação desde a independência nacional até

19Savana 30-10-2015 OPINIÃO

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448

Agora que o tempo e a idade

me permitem olhar para

trás com serenidade e sem

amargura, posso reconhe-

cer a verdade de que a minha vida

decorreu numa toada lenta, como

se o ímpeto vital e a energia fossem

irremediavelmente controlados por

uma força invisível que tornava o

ritmo lento, como se respondesse à

vontade de um retardador.

Na verdade, quando me aventurei

para o primeiro namoro, a maior

parte dos meus amigos já ia no

quinto caso, ou, entre os mais afoi-

tos, alguns deles até estavam às

portas de serem pais pela primeira

vez.

Quando me chegou às mãos a pri-

meira revista da Mafalda, já quase

a terminar o ensino secundário,

a maior parte dos meus amigos e

colegas já assumia os ares dela e

da sua turma e se dava ao luxo de

fazer perguntas impertinentes e até

mesmo insolentes aos professores,

principalmente ao padre Manuel,

que nos dava a disciplina de Moral

e Religião uma vez por semana.

Da mesma forma, posso dizer que

as primeiras obras da Enid Blyton

versando As Aventuras dos Cinco

também me chegaram tardiamente, tal como me chegou tardiamente às mãos o álbum Abraxas, do Carlos Santana; e quando ouvi pela pri-meira vez o Ney Matogrosso com os Secos & Molhados, já muitas das pessoas do meu círculo o ti-nham ouvido até à exaustão. Foi assim também que, por exemplo, só pus os pés numa tarde dançan-te quando já ia para os vinte anos. Ainda três minutos antes de ver o festival de Woodstock, no cinema Manuel Rodrigues, metade do su-búrbio lourenço-marquino já anda-va de cabeleira farta, a imitar o Jimi Hendrix, ostentava grandes meda-lhões de bronze ou cobre no peito ou nas fivelas dos cintos, com a má-xima hippie “make love, not war”, e cumprimentava-se com um sinal do dedo indicador e médio abertos em V, dizendo fraternalmente “pe-ace”. Até essa idade, a única sala de cinema que conhecia por dentro era a do Império, na Avenida Angola.Mas, no caso concreto do cinema, há um acaso, ou vários, que fizeram com que a descoberta de outras sa-las, de outras leituras cinematográ-ficas, de outros actores que não só o John Wayne, o Bud Spencer, a Do-ris Day e o Clint Eastwood acon-tecesse numa era em que, como estava no meu primeiro emprego, já tinha acesso a outras salas de ci-nema da zona urbana de Lourenço

Marques. Nessa época, princípios

dos anos 70, também tinha a pos-

sibilidade de, semanalmente, folhe-

ar a revista Tempo, que, de entre

outras coisas que marcavam o seu

carácter rebelde e inovador, incluía

uma página onde passava em revis-

ta os filmes que corriam nas salas

de cinema da cidade.

Nessa página havia um espaço em

que o corpo redactorial da revista

punha os seus pontos de vista sobre

esses filmes numa classificação que

ia de 0 a 10, sendo 0 atribuído aos

filmes que eram considerados “um

insulto à inteligência do especta-

dor” e 10 aos filmes que tinham

a definição de “excelentes”. Esses dois extremos raramente eram atingidos, mas uma vez e outra lá se atingiam. Essa página servia como meu suporte para a escolha dos filmes que seleccionava para ver aos fins-de-semana. Mas às vezes também me arriscava a ir pelo meu próprio instinto, e, nesses casos, al-gumas vezes levava umas boas ba-nhadas.Mesmo assim, tenho memória de filmes que me marcaram e deixa-ram com boas recordações, como Bonnie and Clyde, Jesus Christ Superstar, A Laranja Mecânica e As Férias do Senhor Hulot. Simul-taneamente, descobri nessa época que um dos meus amigos que tam-bém gostava de cinema tinha um tio que trabalhava na sede do então Cineclube de Lourenço Marques, cujos escritórios e cinemateca fun-cionavam no Prédio Fonte Azul. Passávamos ali tardes inteiras, uma vez por semana, a ver filmes do Charlot, fundamentalmente, e também do Cantinflas.Falando de filmes que me marca-ram pela negativa, há um que re-cordo em particular, que tinha por título Orca, a Fúria dos Mares. Correu no Cinema Scala e fui para ele atraído pelo facto de que, um pouco antes de ele ser colocado em cartaz, eu tinha lido alguma coisa sobre a orca, que é uma subespé-cie da baleia particularmente feroz, vingativa e de atitudes imprevisí-veis. Estava excitado pela ideia de ir ver um filme em que veria uma orca como protagonista. Fiquei mais que desiludido: na verdade, o filme tinha, no lugar de uma baleia, um golfinho.Os golfinhos são animais muito simpáticos e até citados pelo seu alto nível de inteligência; mas co-locar um golfinho no lugar de uma baleia, num filme que era suposto ter uma baleia como personagem principal, era abuso demais para a minha capacidade de compreensão e de aceitação. Saí do filme extre-mamente revoltado e quando me vi fora da sala de cinema senti-me à beira de uma apoplexia. Percebi claramente que, no estado em que

me encontrava, se fosse directa-

mente para casa não seria capaz de

conciliar o sono e a minha revolta

teria crescido a ponto de possivel-

mente passar a noite a dar cabeça-

das na parede.

Enquanto estava nesse torvelinho

de ideias, um pouco zonzo e enrai-

vecido, lembrei-me de que o Ma-

nuel Lemos, um amigo com quem

trocava livros e discos e discutia

sobre cinema, me tinha falado acer-

ca de um filme que corria então na

sala do Cineteatro Avenida e que,

nesse sábado, passaria na sessão da

meia-noite. O filme tinha por título

Irei Como um Cavalo Louco e era do realizador espanhol Fernando Arrabal.Fui para lá a correr, com o cora-ção nas mãos, receando que talvez chegasse tarde e não conseguisse arranjar um lugar. Felizmente con-segui e foi como uma bênção que me caísse do céu: para além de ser um filme com uma abordagem to-talmente nova, para mim, dos fac-tos e da forma de contar uma histó-ria pela imagem, tinha imagens de facto de uma qualidade excepcional e tudo nele não só contribuiu para me mergulhar numa nova forma de ver o cinema, como também me dissipou por completo o amargor na boca que me tinha ficado da Orca do Cinema Scala.Quando saí depois do filme e me vi no passeio, caí na real: era ma-drugada, estava em pleno coração da baixa da cidade de Lourenço Marques, os autocarros dos servi-ços municipalizados de viação já há muito tinham deixado de fazer car-reira e os poucos táxis que se viam habitualmente à saída do cinema já tinham desaparecido por com-pleto, porque trabalhavam ali por contrato e não estavam à caça de passageiros. Percebi que, por mais temerário que fosse, seria loucura eu tentar atravessar toda a cidade urbana e penetrar no subúrbio do Chamanculo, onde ficava a minha casa, a pé, àquela hora, porque das duas três: ou dava de caras com um Land Rover da Polícia de Choque, ou com uma patrulha da Brigada Montada, ou então com maban-didos, hordas de jovens maiori-tariamente oriundos da provín-cia de Gaza, que entre segunda e sexta-feira tinham os movimentos confinados aos quintais da cidade branca, onde trabalhavam como serviçais, e aos fins-de-semana des-ciam para os subúrbios, onde extra-vasavam a sua fúria, frustração ou revolta espancando qualquer um sem piedade, desde que se atraves-sasse no seu caminho e não fosse de raça branca. De qualquer das for-mas, em todas as hipóteses estava sujeito a ser moído à pancada.Nessa altura, lembrei-me de uma coisa que me caiu como um pensa-mento de luz: a escassos quarteirões dali situava-se uma ilha feita de luz e de mulheres de vestes ínfimas, de perucas, ou não, na cabeça, de raça branca, preta ou mulata, mulheres que se moviam como borboletas no

meio de um universo feito de ma-

rinheiros de passagem, de fuzileiros

navais ou comandos de férias, de

poetas ou jornalistas boémios, de

músicos, de artistas ou dos eternos

e omnipresentes chulos. Era a Rua

Araújo. Dirigi-me para lá na ânsia

da minha juventude, com o cérebro

povoado de imagens daquilo que

dela ouvira dizer dos meus amigos,

pois nunca ali tinha posto os pés.

Estava preso de uma ansiedade e de

uma excitação febril. Mergulhei na

Rua Araújo como quem mergulha

de cabeça num caldeirão de ouro

derretido. Champanhe, vinhos,

cerveja, música, marinheiros, chu-

los, prostitutas, música de jukebox,

cabarés, e tudo isso num torvelinho

que me enevoava a cabeça.

Quando a madrugada ia dar lugar

à luz da manhã, vi-me no banco

traseiro de um táxi, ao lado de uma

mulher que sussurrou, inclinando

a cabeça para frente, aos ouvidos

do taxista: “Para a Mafalala, Se-

nhor Gomes”. Foi o mergulho pelo

néon da cidade em alta velocidade,

o mergulho no labirinto do subúr-

bio da Mafalala mal iluminada, um

quintal enorme, quatro ou cinco

casebres dentro dele, de madeira e

zinco, a chave girando num desses

casebres, um espaço de dimensões

que imaginei reduzidas, o lampejo

efémero de um candeeiro a petró-

leo, depois a escuridão, o mergulho

em lençóis e o silêncio feito do res-

pirar profundo e rouco dividido a

dois, um gemido, um espasmo final

e um rugido de fera ferida, e depois

o silêncio.

Quando despertei, apercebi-me

de que a manhã ia já alta, porque

ouvia vozes de homens e mulheres

em conversas animadas fora e de

longe me chegava o bulício de ado-

lescentes que certamente estavam

a incitar-se mutuamente num jogo

de futebol. Soergui-me e para lá do

fundo da cama estava um banco

comprido e largo, por cima do qual

estava uma mala fechada, mas bem

cheia, onde se amontoava meia dú-

zia de roupas femininas, com uma

peruca a coroar. Ao lado da mala

estavam dois ou três pentes de

plástico de medidas diversas e um

maior, de ferro e cabo de madeira,

frascos de cremes e perfumes ba-

ratos, ampolas de batom de várias

cores. Ao lado, no chão, uma bacia

de esmalte, um garrafão de 5L de

água, certamente, e por cima disto 4

ou 5 pregos embutidos na madeira

que segurava o zinco e onde estava

dependurado um pequeno jogo de

toalhas, umas grandes, outras mé-

dias e outras mais pequenas. Na pa-

rede ao lado da cama, um enorme

guarda-fato de madeira, na porta

do qual estava embutido um espe-

lho onde uma pessoa se podia ver

a corpo inteiro. Não havia janelas.

Voltei a deitar-me de costas e senti,

entre as pernas, um corpo a latejar,

atordoado por uma dor aguda e in-

termitente. Percebi sem grande es-

forço que a minha virgindade tinha

ficado entre aqueles lençóis, naque-

la cama, naquela madrugada. Olhei

para o lado e o rosto que surpreendi

era de uma jovem talvez uns dois

ou três anos mais velha do que eu,

de pele de cor de chocolate, preco-

cemente marcada pela cruz de um

destino madrasto.

Tinha o cabelo cortado curto e

encaracolado. Respirava profunda-

mente, num sono inocente e sem

sobressaltos, e os lábios estavam

entreabertos. Aqueles mesmos lá-

bios que horas antes se tinham des-

colado dos meus para me segredar

uma coisa: era a primeira vez que

eram beijados por um homem. Eu

tinha perdido a minha virgindade

e ela tinha-me oferecido o que de

mais profundo e puro a sua alma

de mulher tinha. Poderia dizer que

me ofereceu amor. Naquela manhã

risonha de Maio iniciei a longa ca-

minhada que me tem afastado pro-

gressivamente do hábito das missas

ao domingo.

Maria Madalena

“Toma o mundo pela sua

representação do mundo”

[Karl Marx e Friedrich En-

gels, A Ideologia alemã I]

Se analisarmos o mundo

dos pensamentos e das

representações que se

estende das pessoas às ciências

sociais passando pela imprensa

e pelas redes sociais digitais, ve-

rificaremos rapidamente quanto

pesa a concepção de que é o que

pensamos que determina o que

socialmente fazemos. O mundo

é movimentado pela “cabeça”,

assim defendemos.

A coluna vertebral “material”

dos processos históricos de pro-

dução e reprodução social fica

soterrada por uma montanha de

crenças, de idealismos, de essên-

cias, de acessos de espiritualida-

de absoluta, de posições nefeli-

batas, de seres em si, de pessoas

em si, de indivíduos em si, que

faz com que nos transformemos

num mundo que olha cada vez

mais para cima para não anali-

sar o que se realmente se passa

embaixo.

Ideias e prática social

Page 19: Moçambique para todos - Prémio Leaders & Achievers-Flecha … · 2015-11-02 · Savana 30-10-2015 TEMA DA SEMANA 3 jecto privado de habitação desde a independência nacional até

20 Savana 30-10-2015OPINIÃO

A TALHE DE FOICE

SACO AZUL Por Luís Guevane

Por Machado da Graça

Coloquemos duas ideias: uma

que diz que há vontade do PR

em resolver o problema da paz

em Moçambique, mas que não

encontra força e disciplina suficiente

entre os seus para poder implementar

o que promete e, uma outra, que diz

que ele, por estar no topo, tem conhe-

cimento de tudo o que acontece em

termos político-militares e que seria

injusto e incoerente pensar que ele é

teleguiado, tendo, por isso, simples-

mente um poder formal.

A relação entre o discurso político e a

prática quotidiana na arena político-

-militar tem denotado ausência de

pragmatismo relativamente à sua

operacionalização real. A vontade em

resolver o problema da paz em Mo-

çambique cumpre uma função discur-

A Ponte siva dentro do campo que se pode considerar

como o politicamente correcto. A função de

tradução prática não passa do campo do di-

álogo precário para não dizer aqui que isso é

praticamente o mesmo que ausência de diá-

logo. As dimensões discursiva e prática são

ainda uma ponte por construir. Andam de

costas voltadas. Os seus engenheiros ainda

estão preocupados em digerir os seus ódios,

os seus ressentimentos, as suas vinganças

pendentes. Os engenheiros destas pontes por

construir, desta paz tão desejada, não estão a

conseguir ser, em termos políticos, suficien-

temente adultos para lidar com os seus egos

em benefício dos seus operários, o povo, o

cidadão comum.

É necessário que alguns atinjam a última fase

da adolescência política para se definirem

como adultos políticos capazes de desenhar

e seguir os seus próprios rumos. No início a

família política insurge-se contra esse com-

portamento. Mas, depois percebe que já está

diante de um adulto político que não aceita

ser teleguiado; que sabe interpretar, de forma

autónoma, o que se pretende dizer quando se

afirma que “governar é manobrar”. Um adul-

to que não permite que governem ou mano-

brem por ele. Um líder por mérito próprio.

Diz-se que o diálogo político entre o Go-

verno e a Renamo continua nos bastidores

e que, por isso, “as coisas estão a acontecer”.

Ainda que as eleições não tenham ocorrido

em fórum semelhante, é de se aceitar esta

estratégia de resolução do problema das

diferenças político-ideológicas desde que

seja tendente a promover a paz e a respon-

sabilidade colectiva no desenvolvimento de

Moçambique. Os “donos do diálogo” podem

até concordar em “meter” mais actores. Mas

estes terão de ter um determinado poder de

decisão (a ser definido e respeitado pe-

los donos) para que não se transformem

em simples objectos de adorno.

Cá entre nós: há vontade dos donos (Go-verno, Renamo e o Povo) em resolver o problema da paz em Moçambique. Os engenheiros na construção desta tão dese-jada ponte terão que ser menos permissivos e mais ágeis para com os seus operários no sentido de motivá-los nesse trabalho. Com a referida ponte diluir-se-ão as interpre-tações de existência de um distanciamen-to significativo entre o discurso político e a prática governativa, ou mesmo a forte crença de um poder meramente formal que não supera a engenharia política de supostos indivíduos que se defendem tele-guiando o que julgam ter produzido como teleguiável.

Em Angola o jovem ra-

pper Luaty Beirão ga-

nhou uma importantís-

sima batalha na sua luta

contra o governo de José Edu-

ardo dos Santos.

A sua longa, e perigosa, greve de

fome de 36 dias (tantos quanto

os anos de governo de Zedu)

chamou a atenção do mundo

para o que se passa naquele país

e para a total desumanidade dos

seus governantes.

Quem ainda tinha ilusões sobre

a “democracia” angolana deixou

agora de ter razão para as ter.

Se havia ainda restos de más-

cara na cara das estruturas ju-

diciais daquele país, esses restos

tombaram definitivamente com

este processo, manifestamente

aberrante, em que um grupo

de pouco mais de uma dezena

de jovens é acusado de tentar

realizar um golpe de Estado e

assassinar o Presidente da Re-

pública porque se reuniam para

ler um livro e estavam a pensar

organizar uma marcha pacífica

de protesto.

E se nem o risco iminente da

morte de Luaty Beirão fez de-

mover o poder angolano e o

chamou à razão isso abriu, de

certeza, os olhos de muita gen-

te, dentro e fora de Angola.

A figura de José Eduardo dos

Santos sai muito mal nesta fo-

tografia. O ar de pessoa inteli-

gente e civilizada que cultiva foi

substituído pela imagem de um

ditador implacável sem senti-

mentos na defesa do seu poder

político e económico.

E espero que ninguém me ve-

nha tentar convencer que em

Angola há uma completa sepa-

ração de poderes e o Presidente

da República não tem qualquer

influência sobre os tribunais ou

a Procuradoria Geral da Repú-

blica. Lá como cá, de resto...

Ao suspender a sua greve de

fome, Luaty poupou o regime

angolano às consequências gra-

ves que traria a sua morte. Mas,

por outro lado, anunciou que

esse regime vai ter de enfrentar

uma oposição ferrenha de al-

guém que, até há pouco tempo,

não era ninguém e agora é uma

personalidade internacional-

mente reconhecida.

Será uma batalha entre um Da-

vid rapper e um Golias Presi-

dente? Talvez. Mas na Bíblia o

David ganha...E há quem con-

sidere a Bíblia um livro sagrado.

De qualquer forma, ao suspen-

der a sua greve de fome Luaty

Beirão disse, bem alto, que A

LUTA CONTINUA!

E eu, do meu modesto canto,

levanto o punho fechado e res-

pondo: CONTINUA!

Luaty venceu

RELATIVIZANDOPor Ericino de Salema

Um novo Código Penal (CP) está em vigor no

país desde 1 de Julho do corrente ano, suceden-

do ao que vinha vigorando deste 1886. Semana

passada, a Assembleia da República (AR) ini-

ciou a sua segunda sessão da oitava legislatura, tendo

sido dado a conhecer que o Código de Processo Penal

(CPP), essencial, enquanto lei instrumental, para que o

CP (normas substantivas) possa ser efectivamente apli-

cado, talvez só será objecto de apreciação pelo Parla-

mento em finais de 2016.

Não somos dos que julgam que o CP não deveria ser

achado como estando já em vigor antes de o CPP estar

em igual situação, pelo simples facto de a Constituição

da República de Moçambique (CRM) estabelecer que

as normas sobre direitos fundamentais são de aplicação

imediata, nos termos dela mesma (CRM) e das leis or-

dinárias.

Enquanto isso, ativemo-nos a uma breve análise ao Tí-

tulo V do Livro II do CP, que é corporizado, de resto,

pelos Crimes contra a Segurança do Estado, compreen-

dendo estes duas dimensões, nomeadamente a externa e

a interna. Os capítulos I e II [do título V do Livro II] se

ocupam da segurança externa do Estado, enquanto que

o capítulo III se centra na segurança interna do Estado.

Os artigos que compõem o Título V do Livro II do

CP resultam, na verdade e quase em absoluto, de uma

amálgama (i) do que era o Título II do Livro II do CP

de 1886, revogado pela Lei número 35/2014, de 31 de

Dezembro, de que o novo CP é anexo e parte integrante

e (ii) de parte significativa dos artigos da Lei número

19/91, de 16 de Agosto, revogados pelo diploma que

aprova o novo CP.

Esse agrupamento num único diploma de instrumentos

legais antes dispersos é de aplaudir, pelo facto de a siste-

matização que tal encerra possuir ganhos de eficiência,

sobretudo para os profissionais do Direito.

Duas pequenas inovações foram consideradas pelo le-

gislador penal:

-

los nacionais – a bandeira nacional, o emblema e o

hino nacional, conforme definidos, respectivamente,

nos artigos 297, 298 e 299, todos da Constituição

da República de Moçambique (CRM) – é o único

absolutamente novo, num total de 39 artigos que

compõem o Título V do Livro II;

artigos, como, por exemplo, a consideração, no arti-

go 387, somente de presidentes e secretários-gerais

de partidos políticos com assento na Assembleia

da República (AR), e não de todos os presidentes

e secretários-gerais de partidos políticos, conforme

estabelecia o já revogado artigo 22 da Lei número

19/91, de 16 de Agosto.

O Título V do Livro II do novo CP é, por outras pala-

vras, a Lei da Segurança do Estado hoje em Moçambi-

que. Para usar as palavras de Cláudio Fragoso, o Estado

cuja segurança se visa proteger é o Estado de Direito

Democrático. E o nosso país é, pelo menos sob o pon-

to de vista formal, um Estado de Direito Democrático,

conforme se extrai do artigo 3 da CRM1.

Os interesses da Nação que se visa proteger, conforme

referimos atrás, são de dois domínios: o externo e o in-

terno. Na órbita da segurança externa do Estado se des-

tacam valores como existência, independência e integri-

dade do Estado, enquanto que na da segurança interna

se destacam valores como existência e incolumidade dos

órgãos de soberania do Estado e a inviolabilidade do

regime político vigente2.

Tendo em conta o facto de a segurança de Moçambique

ser da responsabilidade primeira dos moçambicanos,

achamos ter sido feliz o legislador penal ao prever penas

mais graves aos nacionais que atentem à segurança do

Estado, quando comparados com os estrangeiros, que só

o são na medida dos moçambicanos quando se encon-

trem no país em situação ilegal.

Já não achamos feliz o facto de o legislador penal ter,

amiúde, dado mostras de ainda se encontrar, epistemo-

logicamente, na era tristemente célebre do famigerado

Direito Penal Revolucionário, mormente ao continuar

a inserir no CP a difamação, calúnia e injúria ao Chefe

de Estado e certas entidades (incluindo presidentes e

secretários-gerais de partidos políticos com assento na

AR), como Crime contra a Segurança do Estado (artigo

387)3.

A nosso ver, a norma contida no artigo 387 é de uma

duvidosa constitucionalidade, tendo em conta que a ex-

pressão de ideias e/ou pensamentos, a discussão de as-

suntos de interesse público em que figurem pessoas com

responsabilidades públicas, constituem direitos funda-

mentais do cidadão, nos termos da CRM (artigos 73, 3

e 48), no quadro do que há sempre o risco de excessos e/

ou de errónea representação. Quando situações tais ga-

nham o estatuto de Crimes contra a Segurança do Es-

tado, tendo em conta a qualidade dos sujeitos, tal pode

de certa forma refrear o debate democrático de ideias.

Segurança do Estado

1 In: Para uma interpretação democrática da Lei da Segurança Nacional;

1983; página 3; disponível em http://www.fragoso.com.br/eng/arq_pdf/

heleno_artigos/arquivo39.pdf, por nós acessado a 18 de Julho de 2015.

2 Idem.

3 O artigo 387 do novo CP é uma versão editada do já revogado artigo 22

da Lei contra a Segurança do Estado.

Page 20: Moçambique para todos - Prémio Leaders & Achievers-Flecha … · 2015-11-02 · Savana 30-10-2015 TEMA DA SEMANA 3 jecto privado de habitação desde a independência nacional até

21Savana 30-10-2015 PUBLICIDADE

Page 21: Moçambique para todos - Prémio Leaders & Achievers-Flecha … · 2015-11-02 · Savana 30-10-2015 TEMA DA SEMANA 3 jecto privado de habitação desde a independência nacional até

22 Savana 30-10-2015DESPORTO

Começou a contagem de-crescente rumo à realiza-ção, em Novembro pró-ximo, da tão esperada e

quiçá badalada Assembleia Geral da Liga Moçambicana de Fute-bol, LMF. A eleição do novo pre-sidente daquele organismo, o qual irá preencher o lugar deixado vago por Alberto Simango Júnior, que actualmente dirige a Federação Moçambicana de Futebol, será o principal ponto da agenda. Em vários círculos ligados ao futebol aumentam as expectativas em tor-no de quem sairá vencedor no es-crutínio, a julgar pelo potencial dos candidatos.

Ananias Couana, o primeiro can-

didato que se apresentou ao pú-

blico, emergiu da própria LMF

e, a despeito de ser muito jovem,

destacou-se na busca de parceiros

estratégicos que deram mais mus-

culatura a esta instituição, enquan-

to que Carlos de Sousa (Dr. Cazé)

goza de muito capital simbólico

por ter sido, durante anos, vice-mi-

nistro da Juventude e Desportos. Já

Enoque João é presidente da Casa

de Moçambique em Portugal. Este

último concorreu, recentemente,

para a presidência da Federação

Moçambicana de Futebol e foi

preterido pelas 11 províncias que

tiveram direito a voto, o que pode

ter três explicações: ou não goza de

muita aceitação junto dos clubes ou

o seu manifesto não foi convincen-

te, ou então faltou a sensibilização e

maior divulgação do programa.

E se não acautelar estes aspectos,

esta situação pode vir a repetir-se

nas eleições à presidência da LMF,

pois, tudo aponta que não apren-

deu dos erros do passado. Assim,

Ananias Couana e Carlos de Sousa

são os únicos que assumem prota-

gonismo neste pleito, sendo que já

realizaram alguns lobbies junto de

alguns segmentos importantes, os

clubes, por forma a fazerem passar

as suas mensagens. Aliás, Couana

chegou inclusive a partilhar expe-

riências com os jornalistas despor-

tivos com o propósito de amadure-

cer o seu manifesto, que tem como

lema “por um futebol de qualidade

assente na verdade desportiva”.

E entre outras coisas, o candida-

to pretende dotar a LMF de uma

gestão corporativa para consolidar

o Moçambola e a Taça da Liga

BNI, e também prestar um serviço

de equipa orientado para melhor

qualidade do futebol moçambica-

no, contribuindo para o desenvol-

vimento integral da Liga Moçam-

bicana de Futebol.

Com efeito, trata-se de um mani-

festo de dez páginas que inclui os

motivos de candidatura, a alta com-

petição, a premiação, a formação de

atletas, a segurança nos recintos

desportivos, a sustentabilidade fi-

nanceira, as infra-estruturas, entre

outros aspectos.

Por seu turno, Carlos de Sousa,

que foi o segundo a manifestar o

interesse de dirigir a LMF, diz ter

Eleições na LMF

Três galos para um poleiroPor Paulo Mubalo

apoio de todos os clubes que mili-

tam no Moçambola. Diz, ainda, ser

uma honra, mas ao mesmo tempo

um desafio ser convidado pelos clu-

bes para dirigir a LMF. Cazé espera

manter os actuais níveis na LMF,

instituição que atingiu bons pata-

mares nos últimos tempos, com o

Moçambola a ser mais competiti-

vo e com o futebol cada vez mais

emotivo. Outro desafio é o de me-

lhorar as transmissões televisivas,

e que haja mais investimentos por

parte dos clubes na melhoria da sua

imagem.

Já em relação a Enoque João, há

poucas informações, pois ainda não

apresentou o seu manifesto, contu-

do, em termos de acções práticas

já realizadas, elas resumem-se ao

seu voluntarismo de ter procurado

aproximar o futebol moçambicano

ao luso. De referir que, apesar de

Carlos de Sousa ter sido convidado

a concorrer pelos clubes, no lança-

mento do manifesto de Couana al-

guns clubes presidentes deram um

voto de confiança neste, o que faz

realmente antever eleições extraor-

dinariamente renhidas.

Entretanto...O debate em torno da candidatu-

ra de Carlos de Sousa à direcção

da Liga Moçambicana de Futebol

continua a alimentar acesos de-

bates, particularmente em certos

círculos ligados ao direito, pois,

enquanto uns dizem que caso este

concorra vai violar a lei número

15/2012, de 14 de Agosto (Lei de

Probidade Pública), outros dizem

que só os estatutos da própria liga

é que podem melhor clarificar a si-

tuação.

Nesta semana trazemos o posicio-

namento de quatro juristas, nome-

adamente, Augusto Pelembe, Bal-

tazar Fael (investigador do Centro

de Integridade Pública), Armindo

Matsinhe e Carlos Mungói, os

quais convergiram num único pon-

to: que só os estatutos da Liga é

que podem clarificar melhor a si-

tuação.

Pelembe e Fael entendem ser

complicado tecer qualquer tipo de

comentário sem antes saber o que

rezam os estatutos da própria Liga.

“É importante saber o que preco-

nizam os estatutos da LMF para

depois se ver a questão legal”, ex-

plicaram.

Dizem ser necessário saber, ainda,

se a LMF recebe subsídios do Es-

tado ou não, se tem estatutos como

entidade pública ou se tem algum

relacionamento com o Ministério

da Juventude e Desportos.

Já Armindo Matsinhe acrescentou:

“se consideramos a liga como um

organismo associativo, em que os

seus dirigentes não recebem qual-

quer tipo de subsídio ou salário,

então o Dr. Cazé pode se candida-

tar, porque do ponto de vista legal,

nada impede para que o faça. Por

seu turno, Carlos Mungói explica

que se a Liga for uma entidade pú-

blica o candidato supracitado terá

um período de quarenta e dois anos

sem se candidatar.

Entretanto, fomos compulsar os

estatutos da LMF, mas não são

claros nesse aspecto, ou seja, não

dizem se a liga é ou não entidade

pública, mas retemos alguns pontos

essenciais.

O Artigo Décimo Quarto, no seu

número 1, diz apenas que podem

ser eleitos para os órgãos sociais da

LMF os candidatos que reúnam,

cumulativamente, os seguintes re-

quisitos: Ser maior de 18 anos e

de nacionalidade moçambicana;

ter idoneidade moral e cívica; Não

ter sido condenado em pena de

prisão maior; não ter sido punido

por infracção de natureza discipli-

nar acima de dois anos, ou criminal

nos últimos três anos por senten-

ça transitada em julgado; não ser

devedor de nenhum dos clubes e

associações desportivas nos termos

do Regulamento da Lei do Des-

porto.

Já o artigo Décimo Quinto, que

trata de assuntos relaciondos com

a remuneração pelo Exercício de

Cargos Sociais), diz que as remu-

neração dos titulares dos órgãos

sociais e bem assim como outras

prestações adicionais serão fixadas

por uma comissão deremuneração

eleita na primeira Assembleia Ge-

ral no prazo máximo de 15 dias a

contar da data de constituição da

comissão. E nos termos da Lei, os

dirigentes da LMF serão remu-

nerados em conformidade com as

suas funções e complexidade do seu

trabalho, obedecendo o critério de

senha de participação.

Ananias Couana Carlos de Sousa Enoque João

Numa semana em que Moçambique vai tes-temunhar o novo cam-peão nacional, com

o término da presente edição

do campeonato nacional, Mo-

çambola-2015, a zona sul do

país vai conhecer os finalistas

da Poule de apuramento ao

campeonato nacional da pró-

xima edição, com a disputa da

segunda mão das meias-finais

nesta zona do país.

Como protagonistas, estarão

em campo o Ferroviário de

Gaza, que recebe o Incomati

de Xinavane e o Matchedje de

Maputo, que se desloca à casa

do Estrela Vermelha, também

de Maputo.

Numa eliminatória em que a

equipa caseira parte com van-

tagem de um golo (0-1, na pri-

meira mão), o Ferroviário de

Gaza só precisa de um empate

Poule de Apuramento

Estrela Vermelha e Ferroviário de Gaza próximos da finalíssima

para seguir à fase seguinte.

Entretanto, os “locomotivas” daque-

la província sabem que terão pela

frente uma equipa experiente, que a

sua semelhança, também sonha em

regressar ao Moçambola, após ter

descido de divisão em 2013.

Por isso, aquela equipa vai ao jogo

com o objectivo de provar ao país

que o resultado do último sábado

não foi produto de acaso. Para tal, a

equipa técnica prepara um Ferrovi-

ário ofensivo do primeiro ao último

minuto.

“Vamos ao jogo com a mesma am-

bição, que é de ganhar. Sabemos

que partimos com vantagem, mas

entraremos na partida como se es-

tivéssemos empatados”, diz Danito

Nahampossa, treinador desta colec-

tividade.

Para que esse objectivo seja concre-

tizado, a direcção dos “locomotivas”

de Gaza garante ter preparado toda

a logística, por forma que nada im-

peça àquela colectividade de passar

a fase seguinte.

O Secretário-Geral do Clube afirma

que será desta vez que a sua equipa

irá ascender ao Moçambola e, como

sempre, avança que conta com a aju-

da do governo provincial de Gaza,

assim como do empresariado local.

Se em Gaza, a província encontra-

-se unida por uma causa: ver o Fer-

roviário no convívio dos grandes e

elevar para dois os representantes

desta província na prova-rainha, na

cidade de Maputo, o cenário é di-

ferente.

O facto é que a capital do país está

dividida entre o Estrela Vermelha

e o Matchedje. Jogando em casa, a

equipa alaranjada parte em vanta-

gem, após vencer ma primeira mão

por 1-0, mas o Matchedje tudo fará

para alterar o cenário.

De referir que a zona sul é a única

que ainda não definiu o seu repre-

sentante para próxima época, onde

já garantiu a presença, o Chingale

de Tete, que carimbou o passaporte

depois, de na partida da segun-

da mão ter vencido o Sporting

da Beira por uma bola a zero,

num jogo em que o árbitro foi

o maior espectáculo do jogo

(zona centro) e o Ferroviário

de Pemba, que venceu através

da falta de comparência, o seu

homónimo de Lichinga.

Porém, o regresso do Ferrovi-

ário de Pemba ao convívio dos

grandes carece de homologação

da Federação Moçambicana de

Futebol, devido à polémica que

envolve desta partida.

O facto é que na fase regular

os “locomotivas” de Lichinga

ascenderam ao Moçambola,

após golear a Liga Desportiva

de Monapo por 17-0, resultado

duvidoso e que levou o executi-

vo de Alberto Simango a mar-

car uma finalíssima com o Fer-

roviário de Pemba, que também

tinha ganho por 11-0.

Page 22: Moçambique para todos - Prémio Leaders & Achievers-Flecha … · 2015-11-02 · Savana 30-10-2015 TEMA DA SEMANA 3 jecto privado de habitação desde a independência nacional até

23Savana 30-10-2015 DESPORTO

Termina este fim-de-semana a tri-

gésima nona edição do campeona-

to nacional de futebol, Moçambola,

com a disputa da última jornada

e que irá definir o novo campeão

nacional, assim como os despromo-

vidos. Para a conquista do título, o

Ferroviário de Maputo e o Costa

do Sol são os dois sobreviventes,

enquanto para a despromoção estão

três: Desportivo de Maputo, Des-

portivo de Nacala e 1º de Maio de

Quelimane.

Aliás, mais do que serem campe-

ões, os “locomotivas” de Maputo e

os “canarinhos” lutam pelo estatuto

de clube mais titulado do país, pois,

actualmente encontram-se empa-

tados no topo com nove cada.

Quanto à despromoção, duas das

três equipas vão acompanhar o Fer-

roviário de Quelimane, que tam-

bém já tem um substituto, o Chin-

gale de Tete.

Além das contas do título e da des-

promoção, os jogadores fazem con-

tas dos golos. À entrada da última

jornada, oito jogadores estão em

condições de conquistar o prémio

de melhor marcador da prova. Tra-

ta-se de Júnior (1º de Maio), Isac

(Maxaquene), Marufo (F. Nacala),

Lineker (Costa do Sol), Maurício

e Lewis (F. Maputo), Johane e Ce-

dric (Chibuto), que apontaram sete

golos cada.

Contas do título...Das duas equipas, o Ferroviário de

Maputo é que está mais perto de

conseguir essa proeza. Empatado

em termos pontuais com o Costa

do Sol (43 pontos) e no confron-

to directo (empate a zero nos dois

jogos), o Ferroviário de Maputo

precisa de uma vitória de 1-0 para

conquistar o seu décimo título na-

cional.

O facto é que os comandados de

Carlos Manuel (Caló) apresentam

um saldo positivo de 15 golos, fruto

de 34 golos marcados e 19 sofridos,

enquanto os “canarinhos” marca-

ram 26 golos e sofreram 16, apre-

sentado 10 golos positivos.

Jogando em Nampula, frente ao

seu homónimo local, é dado como

certo o título tendo em conta a ir-

mandade que reina entre as duas

colectividades.

O Ferroviário de Nampula ocupa

a sexta posição da tabela com 36

pontos e não tem nada a perder e

Ferroviário de Maputo quase campeão!Por Abílio Maolela

muito menos a ganhar, pelo que,

os amantes do futebol olham para

esta partida como sendo da consa-

gração.Os técnicos “locomotivas” afastam a possibilidade de jogos combina-dos. Caló, do Ferroviário de Mapu-to, diz que o jogo de domingo será difícil, pelo que “vamos ter de fazer um jogo a campeão para sairmos vitorioso”.“São os 90 minutos mais importan-tes das nossas vidas e acreditamos com o trabalho que fazemos”, disse ao semanário desafio.Por sua vez, Rogério Gonçalves, dos “locomotivas” de Nampula, diz que a sua equipa não vai permitir ao seu homónimo de Maputo festejar o título em sua casa.Se, em Nampula as coisas aparen-tam fáceis, em Chibuto, o cenário é diferente. O Costa do Sol precisa de uma vitória, quase impossível (5-0) frente ao Chibuto, algo que não se advinha fácil, tendo em con-ta o ambiente que irá encontrar no local.Com a manutenção garantida (dé-cimo classificado com 31 pontos), a equipa de Lucas Barrarijo vai ao jogo para defender a sua honra, que passa por terminar a época sem perder em casa. Aliás, Barrarijo quer se vingar da eliminação ca-seira na Taça da Liga pelo mesmo

adversário.

O número de golos a serem mar-

cados pelo Costa do Sol constitui

preocupação também da equipa

técnica, o que faz com que Nelson

Santos espere uma derrota do Fer-

roviário de Maputo, pois “ninguém

ganha no 25 de Junho”, insinuando

um jogo combinado entre os filhos

dos CFM.

Contas da manutenção...Se para a conquista do título estão

duas equipas, o mesmo não se pode

dizer em relação à manutenção.

Das três equipas, uma é que pode

marcar presença na próxima edição

e duas vão acompanhar o Ferroviá-

rio de Quelimane para os campeo-

natos provinciais.

Para manter-se na primeira divisão,

o histórico Desportivo de Maputo,

que em 2013 disputou o Campe-

onato da Cidade de Maputo, após

descer de divisão em 2012, só pre-

cisa de uma vitória. Mas, a tarefa

não será fácil. O facto é que a equi-

pa que ocupa a décima primeira

posição com 29 pontos terá pela

frente o HCB do Songo, treinado

por Artur Semedo, o mesmo que

desceu e subiu com a equipa em

2012 e em 2013.

Semedo diz que “quem quiser per-

tencer ao lote dos clubes do Mo-

çambola tem de ter mérito para fi-

car”, pelo que os seus atletas vão ao

Zimpeto para buscar os três pontos

e terminar em grande a prova.

Dário Monteiro, treinador dos

“alvi-negros”, considera este jogo

como o da “época”, pois só há uma

opção: “entrar em campo para lu-

tar por uma vitória. Vamos fazer de

tudo para que isso aconteça. Só a

vitória nos garante a manutenção

sem depender de terceiros”, diz.

Aliás, os “alvi-negros” tentam evi-

tar a segunda despromoção em três

anos, facto que agudizaria a crise

naquela colectividade.

A outra partida referente à ma-

nutenção coloca frente-a-frente

o Desportivo de Nacala e o 1º de

Maio de Quelimane, duas equipas,

que podem descer juntas aos cam-

peonatos provinciais. Para as duas

equipas se manterem na prova pre-

cisam vencer as suas partidas e es-

perarem por uma derrota do Des-

portivo de Maputo.

Em caso de empate, as duas equi-

pas acompanham o Ferroviário de

Quelimane e, consequentemente, a

província fica fora da rota do Mo-

çambola na próxima época.

Eis as restantes partidas da jornada:

Liga Desportiva - Fer. Beira; Fer.

Quelimane -Fer. Nacala; e ENH

Vilankulo - Maxaquene.

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24 Savana 30-10-2015CULTURA

Por Luís Carlos Patraquim

67

Saudades do Tempo da Carta

foi o título da exposição do

artista moçambicano Gon-

çalo Mabunda na galeria da

Fundação Fernando Leite Couto, em

Maputo. Uma mostra surpreendente

de um dos nomes mais marcantes e

originais da escultura no país.

O universo das artes plásticas mo-

çambicanas sempre se caracterizou

por uma grande criatividade a que

se acrescenta, como uma espécie de

matriz, a crítica social e a reencena-

ção dos imaginários mais profundos

da dimensão cosmogónica, telúrica,

comunitária, individual e colectiva,

erótica. Eros, como potência liber-

tadora, preside em muita da pintura

e da escultura, a uma narrativa onde

o transcendente se alia ou conflitua

ou se interroga com a materialidade

mais chã dos homens e das coisas.

Gonçalo Mabunda, ao contrário do

que foi a tradição anterior – que não

desapareceu, felizmente – da escultu-

ra em madeira, de Alberto Joaquim

Chissano à renomada arte maconde

em pau preto – escolheu o metal. E

transfigurou-o.

São peças únicas, onde, a sucata se

transfigura; onde a utilização oca-

sional de outros materiais opera uma

espécie de telésis polissémica, crítica,

redentora, não obstante a fera reali-

dade a que alude.

Gonçalo Mabunda, hoje conhecido

internacionalmente, depois dos pri-

meiros passos no histórico Núcleo de

Arte, de Maputo, conseguiu o mila-

gre de reduzir a guerra à inutilidade

trágica que ela é. A utilização dos

seus despojos –não a beleza luciferina

das armas -, mas o decomposto de-

las – os cartuchos e as balas de todos

As Cartas de Gonçalo Mabunda

os calibres, os rockets que mataram e

que a mão empunhou, as coronhas e o

esqueleto de metralhadoras e bazukas

– tudo Gonçalo Mabundo recompõe

em objectos outros, onde o significante

nos interpela e desafia.

E depois as máscaras, os Cristos, os

títulos, a ironia, o sarcasmo e o deses-

pero, o murro na consciência, também,

dos títulos de algumas das esculturas:

Militante Apagado, Green Time, o

Político come e bebe a Custo Zero e

de Forma Vitalícia, o Criador dos Yes

Men, o Olheiro dos Lambe-Botas, o

Abre-Portas. E são peças assombrosas

onde a cor ocasional, quase sempre o

vermelho, acrescenta uma espécie de

som e de sentido à muda interpelação,

totémica, moderníssima, das suas es-

culturas. As duas cadeiras – tronos de

Poder? – na sua exuberância de cartu-

chos e de rockets e na ironia corrosiva,

num deles, da aposição, como assento,

do ralo sujo de uma banheira falam por

si. Uma variante crua do barroco textu-

al do cubano José Lezama Lima e do

seu jogo das decapitações. E remete-

-nos para o precedente, o pré sedere,

o que se senta primeiro, que dará em

português a palavra presidente, ou o

continuo de um percurso de violência

nos fenómenos políticos e sociais em

Moçambique, quaisquer que sejam ou

tenham sido as conjunturas e as razões,

historicamente validadas algumas de-

las, as que integramos no sub-conjunto

da resistência anti-colonial. O artista

de Saudades do Tempo da Carta re-

mete-nos para este presente, agora que

se assinala o ano quarenta da indepen-

dência do país.

A narrativa e a poética moçambicanas

ascendem, através da imagética e da

arte compósita de Gonçalo Mabunda

a uma das suas mais altas expressões.

O artista plástico Butcheca apresenta,

de 4 a 21 de Novembro, no Centro

Cultural Franco Moçambicano, a

exposição intitulada Contornos do

pensamento em movimento. “Com a criação

desta exposição, procuro pesquisar em torno

do conceito de movimento convencional-

mente descrito como “a variação espacial de

um corpo ou objecto em relação a um refe-

rencial no decorrer do tempo”. O movimen-

to é sinónimo de vida, de fluxo, de qualquer

coisa imparável, que nunca deixa de correr,

de avançar, tendo o tempo como medida.

Quer seja o movimento dos corpos na dan-

ça, o ar que enche os nossos pulmões, o mo-

vimento de objectos motorizados no dia-a-

-dia, o avançar dos ponteiros de um relógio,

o crescimento de uma árvore, uma planta ou

um animal, os movimentos de rotação da

Terra, é sempre esta ideia de fluxo, de deslo-

cação, que se mantém. Ao mesmo tempo, é

algo ligado também à ideia de continuidade,

qualquer coisa que nunca pára, tudo está em

constante movimento”, explica Butcheca.

Para o artista, a questão do movimento é

o cerne da sua mostra, onde procura exibir

com as suas obras com formas circulares

tendo em conta o tempo. “São formas cir-

culares que me enchem a mente, círculos e

circunferências a caminhar para um infinito,

num andamento sem fim. E assim medito

sobre uma espécie de eternidade que se en-

contra em qualquer lugar, na continuidade

que surge de uma acção que leva a outra e a

outra e a outra, as voltas que a terra dá sobre

si própria e as voltas que a terra dá em torno

do sol; e nós, que não paramos nas voltas aos

nossos relógios num vaivém diário compos-

to de rotinas, como se voltássemos sempre

ao ponto de partida, como o ponteiro do re-

lógio. E tudo se repete uma e outra e outra

vez. Não só de movimentos circulares está

a nossa vida preenchida, também simples

trajectórias rectas se descrevem quando nos

deslocamos de um ponto ao outro. O que

nos leva a deslocar? E quais serão as conse-

quências dessas deslocações? Vamos de um

ponto a outro num espaço de tempo curto

ou longo em rectas ou em círculos… Afinal,

somos apenas corpos que se movem no es-

paço. Máquinas, aviões, pássaros desafiam a

lei da gravidade que nos puxa para o centro

da Terra. Quero voar para fora desta esfera,

deste círculo fechado, circuito fechado, circo

fechado, libertar-me no movimento”, salien-

ta.

Butcheca recebeu o segundo prémio na

“Não só de movimentos circulares está a nossa vida”

XIII edição da Bienal TDM 2015 – Artes

Plásticas Contemporâneas – Possibilidades

e Contribuições, com exposição no Museu

Nacional de Arte, em Maputo.

Butcheca é o nome artístico de Moisés Er-

nesto Matsinhe Mafuiane, nascido a 23 de

Abril de 1978, em Maputo, Moçambique.

Artista autodidacta começou a dedicar-se

à Pintura no início dos anos 90, tornando-

-se, em 1997, membro do Núcleo de Arte,

onde tem vindo a expor o seu trabalho com

regularidade.

Em 2014, participou também na exposi-

ção colectiva Ecos do Mar, com curadoria

de Mário Macilau e produção de Mariana

Camarate, uma iniciativa da Embaixada de

França no âmbito do programa “Notre Mer,

Mar Nosso”, no CCFM. Participou ain-

da no Festival Sukiyaki Meets the World

2014, em Nanto City, Toyama, no Japão,

como membro da Associação Marionetas

Gigantes de Moçambique, leccionando um

workshop colectivo de construção de ma-

rionetas gigantes. Os seus trabalhos foram

seleccionados para a criação da imagem

gráfica desse festival, onde também apresen-

tou a exposição individual Tchotcholosa, na

Galeria Municipal de Nanto City, Toyama.

Ainda em 2014, participou na exposição co-

lectiva Masque com curadoria de Mariana

Camarate, no CCFM. A.S

O artista plástico Butcheca tem se relevado um artista criativo nos últimos tempos.

Seis anos depois de aderir ao concur-

so, o Grande Prémio Sonangol de

Literatura vem ao nosso país pelas

mãos do escritor Sulemane Cassa-

mo. O escritor foi a Angola vencer e levar

o prémio de 50 mil dólares, com a obra “A

Carta da Mbona” e ainda com direito à pu-

blicação de dois mil exemplares da obra, se-

gundo regulamentos do concurso.

O concurso, que se realiza de cinco em cin-

co anos, foi ainda testemunhado por outro

moçambicano, o escritor e poeta Carlos Pa-

radona, que teve a missão de julgar o pro-

O vencedor do Prémio Sonangol-2015 é: Sulemane Cassamoduto literário do seu compatriota, fazendo

parte do corpo do jurado, em representação

da Associação dos Escritores Moçambica-

nos (AEMO).

Reagindo à premiação, Sulemane Cassa-

mo disse que a distinção é resultado de um

trabalho iniciado há três anos e dedicou o

prémio ao povo moçambicano, pedindo paz

para o nosso país. Contudo, o escritor rece-

be o galardão num momento em que o go-

verno angolano está sob pressão internacio-

nal, por causa da prisão de 17 activistas, que

lutam pela liberdade de expressão e direitos

humanos no seu país.

Questionado sobre aquele facto, Sulemane

Cassamo declinou-se a comentar, tendo

dito que não comenta factos políticos e que

aquela situação não tem nada a ver com lite-

ratura e muito menos com o concurso. En-

tretanto, facto curioso é que os responsáveis

pelo concurso pediram ao vencedor para

transmitir mensagens de paz, concórdia, es-

tabilidade política e social no nosso país.

Engenheiro mecânico e docente universitá-

rio, Sulemane Cassamo é um dos escritores

cujos livros marcaram uma geração de es-

critores e leitores no país. Um dos produ-

tos da “Geração Charrua” da literatura mo-

çambicana, Cassamo, de 53 anos, escreveu

também “Amor de Baobá”, o Regresso do

Morto e “Palestra Para um Morto”. Em

1994 venceu o Prémio Guimarães Rosa, da

Rádio France International (RFI).

De referir que o prémio é instituído pela

Sociedade Nacional de Combustíveis de

Angola e se realiza de cinco em cinco anos

com vista a distinguir as obras literárias ou

de investigação produzidas por escritores

dos países africanos de língua portuguesa.

( Jeque de Sousa)

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Do

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SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1138 DE OUTUBRO

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SUPLEMENTO2 3Savana 30-10-2015Savana 30-10-2015

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27Savana 30-10-2015 OPINIÃO

Abdul Sulemane (Texto)

Naita Ussene (Fotos)

O assunto é sério

A depreciação do metical face ao dólar tem sido motivo de preocu-

pação para os moçambicanos. Os produtos de primeira necessi-

dade estão a registar aumento cada dia que passa. Os moçambi-

canos acordam e deparam-se com produtos com outro preço. O

custo de vida vai pesando dia após dia e o salário, esse, nunca chega.

São estas e outras preocupações que temos de encarar.

O ar de preocupação do PCA da mcel, Teodato Hunguana, e do antigo

PCA do BIM, Mário Machungo, não é por acaso. A situação é deveras

preocupante.

A situação económica do país é motivo para deixar qualquer um preo-

cupado. Os programas para a construção de infra-estruturas básicas para

melhorar a vida dos moçambicanos ficam comprometidos e é preciso que

o governo encontre soluções para contornar a situação.

É o que nos faz entender a conversa que o antigo Vice-Ministro das

Obras Públicas e Habitação, Francisco Pereira, está a ter com o antigo

vice-Ministro dos Transportes e Comunicação, na governação de Gue-

buza, Rui Lousã.

Governar e dirigir sempre foram tarefas bastante difíceis. Quem nunca

esteve a desempenhar um cargo desses pensa que quem dirige é um indi-

víduo folgado, que apenas manda fazer as coisas. Nada disso. As pessoas

que ocupam cargos de direcção estão permanentemente com a massa cin-

zenta a funcionar. Tem de pensar por muitos, encontrar soluções rápidas

e perspicazes para todos os problemas que surgem. Uma coisa impressio-

nante é que os dirigentes estão sujeitos a não cometerem falhas.

Nesta outra foto, onde vimos o antigo PCA das Linhas Aéreas de Mo-

çambique, José Viegas, ao lado do antigo Director de Comunicação e

Imagem da LAM, Adam Yussufo, agora trabalhando no Moza Banco,

numa pose para fotografia, parece que são pessoas relaxadas, sem preocu-

pação. Tiveram e acredito que ainda têm muitas preocupações nas tarefas

que desempenham actualmente. Sabemos que só não falha quem não faz

algo.

Hoje vimos pessoas a sorrir. Há tempos passaram por situações nada agra-

dáveis. Acompanhamos notícias que tinham como visados essas figuras.

Isso porque desempenhavam cargos de relevo na sociedade. Quem pode

acreditar que depois de várias situações por que passou a antiga Admi-

nistradora da LAM, Marlene Mendes Manave, iríamos ver ela a sorrir.

Passou por muitas. A vida é para frente. É o que ela diz para a antiga

Administradora dos CFM, Marta Mapilele.

Os mais velhos têm o hábito de dizer: o futuro do país está nas vossas

mãos. A referirem-se aos jovens. São muitas dificuldades que os jovem en-

frentam. Não caberiam neste espaço se fosse para descrevê-los. Por isso o

antigo Presidente do Burundi, Pierre Buyoya, acompanhado pelo também

antigo Presidente sul-africano, Thabo Mbeki, aconselha o Presidente do

Parlamento Juvenil, Salomão Muchanga, para tratar os assuntos relacio-

nados com o futuro dos jovens. São assuntos sérios.

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IMAGEM DA SEMANA

À HORA DO FECHOwww.savana.co.mz o 1138

Diz-se... Diz-se

Foto Naíta Ussene

O Governo moçambicano pretende travar o ambien-te hostil que se tem gera-do entre as comunidades,

organizações da sociedade civil e os

projectos de desenvolvimento, in-

troduzindo um novo Regulamento

sobre o Processo de Avaliação do

Impacto Ambiental que dá maiores

salvaguardas às populações.

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Regulamento hostil aos negócios?

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Novo Regulamento sobre Avaliação Ambiental na forjaPor Ricardo Mudaukane

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Em voz baixa

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Savana 30-10-2015EVENTOS

1

o 1138

EVENTOS

O Moza Banco lançou esta

quarta-feira um novo

serviço destinado aos

comerciantes formais

denominado Moza D´Agente

que pretende oferecer a estes um

maior acesso aos serviços finan-

ceiros, permitindo-os tornarem-

-se agentes bancários. O novo

serviço compõe a instalação de

um terminal que efectua um con-

junto de transacções bancárias

tais como levantamentos em nu-

merário, depósitos em numerário,

transferências, pagamentos ao

Estado (como INSS, JUE), paga-

Moza Inova com Moza D́ Agente

mentos de serviços (como água e

luz), compra de recargas de tele-

móvel, consulta de saldos e movi-

mentos, entre outras.

No lançamento deste serviço, o

Presidente do Conselho Execu-

tivo do Moza Banco, Ibraimo

Ibraimo, afirmou: “hoje é um dia

histórico para o Moza, pois da-

mos início a mais uma vertente

do trabalho árduo que temos vin-

do a fazer no sentido de contri-

buir ao processo de bancarização

do nosso país. Fizemos hoje o

acto simbólico de credenciação

do primeiro agente bancário em

Moçambique, o agente Moza

D’Agente.”

Para Ibraimo, este processo pro-

cura responder, por um lado, à

solicitação do Banco de Moçam-

bique (BM), quando orienta para

a necessidade dos bancos comer-

ciais aderirem a este movimento

no ângulo da inclusão financeira,

no sentido de expandir todo o

processo de bancarização e, por

outro, responde a um plano estra-

tégico do Mozabanco concebido

naturalmente para abarcar e ab-

sorver toda esta orientação.

“A bancarização e expansão da

banca para as zonas rurais e para

as zonas informais não se faz só

com a construção de agências

bancárias, mas também trazendo

para o processo da banca agentes

como o que acabamos de fazer

agora ao licenciar este estabele-

cimento comercial. A nossa meta

é chegar aos finais de 2016 com

cerca de 1000 agentes creden-

ciados”, acrescentou o PCE do

Moza banco.

Por sua vez, Carla Timóteo, di-

retora da filial do Banco de Mo-

çambique, afirmou que o Moza

D’Agente é a concretização de

um projecto inovador no conceito de expansão de serviços bancários em Moçambique, num ambiente económico carente de soluções práticas e que não impliquem acréscimo de com activos fixos e outras infra-estruturas.“O Moza D’Agente vai contri-buir na prestação de serviços para trazer mais níveis elevados, para a melhoria dos indicadores de inclu-são financeira, e pode constituir igualmente um veículo de apoio ao esforço levado a cabo pelo Ban-co de Moçambique, no âmbito do programa Educação Financeira”,

terminou Timóteo. (E.C)

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Savana 30-10-2015EVENTOS2

No âmbito da parceria entre

o BCI e as Linhas Aéreas

de Moçambique (LAM),

teve lugar em Maputo e em

Nampula, na semana finda, a entre-

ga de prémios aos participantes da

campanha de promoção do Cartão

“Crediviagem LAM”. Os prémios,

compostos por passagens aéreas,

acomodação e brindes, foram en-

tregues aos clientes Ana Maria de

Jesus Pinho (Nampula), Nordel

António Agostinho Cadir (Ma-

puto) e Januário da Costa Valente

(Nampula), que ficaram respecti-

vamente em primeiro, segundo e

terceiro lugares. A premiação inclui

igualmente serviços de transfer de/

para aeroporto, numa parceria com

os Hotéis Girassol, Hertz rent-a-

-car e Palmeiras Lodge.

BCI e LAM premeiam clientes

O Director Comercial da LAM,

Alberto Mabjaia, afirmou, no acto

de entrega dos prémios, em Nam-

pula: “A LAM vai continuar a tra-

balhar com o BCI e em breve ha-

verá mais novidades para os nossos

clientes”.

Por seu turno, o Administrador do

BCI, Mukhtar Abdulcarimo, reite-

rou: “o BCI vai continuar a expan-

dir a utilização do cartão por mais

parceiros e a premiar cada vez mais

utilizadores como forma de lhes

agradecer a confiança depositada

no banco”.

Refira-se que o Cartão Credivia-

gem LAM é uma solução de paga-

mento a Crédito para despesas de

viagens e serviços exclusivamente

junto das Lojas LAM e seus par-

ceiros, em POS do BCI - Solução

PrivateLabel. (E.C)

Esta segunda-feira, teve lugar

em Maputo, a 2ª Gala Anu-

al do Clube Empresarial da

Gorongosa com a presença

de 300 convidados, entre os quais

se encontravam o ministro da Terra,

Ambiente e Desenvolvimento Rural,

Celso Correia e o antigo Presidente

Joaquim Chissano.

Celso Correia, aproveitou a ocasião

para anunciar uma redução em 50%

registada este ano nos casos de caça

furtiva, não tendo elaborado sobre os

dados recolhidos. Na Gala, foi anun-

ciado que os mais de duas dezenas

de “amigos empresariais” do Parque

Nacional da Gorongosa(PNG) já

contribuíram com USD 550.000,00

para vários projectos no projecto de

bandeira do turismo e biodiversidade

em Moçambique.

O evento, apresentado por Ângela

Gala Gorongosa

Celso Correia anuncia redução na caça furtiva

Chin, realizou-se nas instalações do

Hotel Girassol Indy, pertencente ao

grupo Visabeira, que também é con-

cessionário do Girassol Gorongosa

Lodge & Safari, situado em Chiten-

go, no Parque Nacional da Gorongo-

sa. A recepção dos convidados esteve

a cargo do Grupo Timbila Muzimba,

num cenário que simulava um dos

famosos “bush dinner” que os turis-

tas podem usufruir semanalmente no

Parque Nacional da Gorongosa.

Foram premiados vários funcionários

do PNG e anunciados os primeiros

dois brevets para pilotos no parquet,

entre os quais o veterinário-residente.

Greg Carr, o filantropo que é o prin-

cipal financiador do PNG, anunciou

que para o ano, será distribuído o pri-

meiro café com a marca “Gorongosa”,

um projecto desenvolvido a cerca de

600 metros de altitude por campone-

ses da região.

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Savana 30-10-2015EVENTOS4

PUBLICIDADE4

Faleceu

Paulo Muchanga

Necrologia . Necrologia . Necrologia . Necrologia . Necrologia

Fernando Gonçalves e Naíta Ussene

apresentam as mais sentidas con-

dolências à família do seu estimado

amigo Paulo Muchanga Guebuza,

falecido no dia 26/10/15 vítima de

doença.

PAZ À SUA ALMA

FaleceuPaulo Muchanga

Necrologia . Necrologia . Necrologia . Necrologia . Necrologia

O Conselho de Administração e as direcções editoriais dos orgãos propriedade da mediacoop SA, comunicam com pesar, o falecimento, vítima de doença, do seu amigo PAU-LO MUCHANGA, ocorrido na África do Sul, esta segun-da-feira.Nesta hora dolorosa, os administradores e os vários amigos que tinha na empresa, lembram o seu relacionamento calo-roso e arrebatado, sempre pronto a ajudar e a colaborar nas tarefas e missões para que era solicitado.Aqui apresentamos à sua família e aos seus inúmeros ami-gos por todo o país, a nossa profunda gratidão e a nossa consternação por esta partida inusitada.Paulo, continuamos juntos!

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Savana 30-10-2015EVENTOS

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Savana 30-10-2015EVENTOS12

SENHORA PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLI-CA,

SENHORES MEMBROS DA COMISSÃO PERMANENTE DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA,

SENHOR PRIMEIRO-MINISTRO DO GOVERNO DE MO-ÇAMBIQUE,

SENHORAS DEPUTADAS E SENHORES DEPUTADOS,

SENHORES MINISTROS,

SENHORES VICE-MINISTROS,

DIGNÍSSIMAS AUTORIDADES CIVÍS, MILITARES E RE-LIGIOSAS,

SENHORES MEMBROS DIRIGENTES DOS ÓRGÃOS JU-DICIAIS DE MOÇAMBIQUE,

SENHOR PRESIDENTE DO CONSELHO MUNICIPAL DA CIDADE DE MAPUTO,

SENHORA GOVERNADORA DA CIDADE DE MAPUTO,

SENHORES REPRESENTANTES DE PARTIDOS POLITÍ-COS,

SENHORES MEMBROS DO CORPO DIPLOMÁTICO ACREDITADOS EM MOÇAMBIQUE

SENHORES MEMBROS DOS ÓRGÃOS DE COMUNICA-ÇÃO SOCIAL,

CAROS CONVIDADOS,

MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES,

EXCELÊNCIAS,

Antes de tudo, a partir deste pódio, queremos saudar as Moçambi-

canas e Moçambicanos. Saudamos-lhes em reconhecimento dos sa-

crifícios consentidos neste momento tão difícil, onde a maioria do

povo carece de bens vitais; onde as instituições do Estado incluindo a

polícia, a justiça e a administração pública em geral são usados como

instrumentos ao serviço de um partido politico que governa.

As famílias moçambicanas vivem hoje uma incerteza generalizada,

resultante da falta de emprego; da subida de custo da vida; do pão,

e da maioria dos produtos da primeira necessidade, com o salário

cada vez insuficiente comparado com o nível de subida dos preços no

mercado.

Assim, queremos aproveitar este momento solene para manifestar a

nossa solidariedade aos 5.255 trabalhadores da extinta empresa de

Tabaco de Nampula – Malema que aguardam pelas suas indemniza-

ções desde 2001 apesar do compromisso assumido pelo Governo em

BANCADA PARLAMENTAR

DISCURSO DO CHEFE DA BANCADA PARLAMENTAR DO MDM POR OCASIÃO DA CERIMÓNIA

DE ABERTURA DA 2ª SESSÃO DA VIII LEGISLATURA DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

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2008,até a data não tem mostrado vontade em resolver o problema.

Excelências,

A violência político-militar e a insegurança; a criminalidade; a re-

dução de investimentos e a crise na indústria turística nacional,

vêm completar o já assombrado quadro de vida da maioria dos que

depositam o seu voto para estarmos aqui.

Estas são, entre muitas situações associadas com políticas e práticas

de exclusão e discriminação; corrupção generalizada; ausência de

reconciliação nacional efectiva; recusa sistemática de tornar o Esta-

do em servidor público por excelência dissociado de cargas ideoló-

gicas partidárias, as razões principais que tornam a nação dividida

entre uns e outros, adiando-se o sonho do desenvolvimento e da

pertença colectiva baseados no respeito pela diversidade e opinião.

Minhas Senhoras e meus SenhoresAs políticas impostas pelo governo do dia, traduzem-se numa di-

minuição do rendimento da generalidade das famílias, no desem-

prego galopante e na consequente perda de poder de compra da

população, o que arrasta a maioria das empresas para graves dificul-

dades económicas.

As ameaças contra os profissionais de Informação são cada vez

mais públicas, o que põe em causa a liberdade de informação e a

democracia em Moçambique.

A liberdade de informação é um direito de lei, bem como o direito

de informar, de se informar e de ser informado, sem qualquer dis-

criminação, impedimento ou limitação por qualquer tipo de censu-

ra. É no quadro destes princípios consagrados por lei que devem ser

entregues ao MDM as informações solicitadas com relação tanto a

EMATUM, como com outras matérias solicitadas, pois os moçam-

bicanos querem saber a verdade dos sacrifícios impostos, por erros

insanáveis de gestão.

Para que o Estado moçambicano seja verdadeiramente um Estado

de Direito Democrático, que respeita os direitos e as liberdades

fundamentais dos cidadãos, precisa de ser emancipado. Precisa de

ser livre!

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Savana 30-10-2015EVENTOS

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O Estado precisa de se desacorrentar das amarras partidárias a que foi

submetido, desde a nascença em 1975. Apesar de se chamar e estar

inscrito na Constituição como Estado de Direito, ele, efectivamente,

não existe como tal.

Senhora Presidente da Assembleia da República,Senhor Primeiro Ministro,Senhoras Deputadas e Senhores Deputados,Caros Convidados,Excelências,O país vive hoje um trauma. Hoje, há quem apelida Moçambique de

um país que navega constantemente para “parte incerta”, com acções

militares que significam um estado de guerra. O MDM não acredita

no uso da força para implantar a democracia, nem na violência para

garantir a paz. Essas manobras perigam a construção do Estado de

Direito Democrático, e visam ressuscitar a bipolarização política em

Moçambique.

O MDM não se vai calar perante esta tendência, vamos continuar a

defender o país neste momento da história, porque temos legitimi-

dade democrática para o efeito. Pois, a opção pelo silêncio é covarde

e imoral.

É nossa responsabilidade mostrar ao mundo que a intervenção mi-

litar pode agravar a crise humanitária, provocando deslocados de

guerra, milhares de crianças órfãos, crianças privadas de estudar e de

assistência sanitárias devido a fuga de professores e pessoal de saúde.

Compatriotas,Queremos de viva voz reiterar as nossas condenações a qualquer ati-

tude de matar concidadãos nossos, sejam eles políticos ou não; de

agredir e ou violentar autoridades políticas ou civis. Os incidentes

organizados em Manica e na Beira, mostram o apetite que existe em

matar seja quem for a qualquer preço.

Basta de usarem nossos jovens como comida para canhões, levan-

do muitos a mortes ocultadas nas matas deste país. Essas matas não

devem servir de túmulos clandestinos dos nossos jovens, devem ser

locais de produção de comida, para acabar com a mal nutrição crónica

a que estão sujeitas milhares e milhares de crianças. As nossas matas

devem ser transformadas em locais de fontes de rendimento econó-

mico e oportunidade de emprego, e não em cemitérios clandestinos.

Excelências,

Não iremos longe se sistematicamente os elementos supostamente

mais dinâmicos da nossa sociedade continuarem a arrastar a maioria

para a maldade, através de discursos que cimentam o ódio e a descon-

fiança.

A reconciliação nacional tem que ser efectiva; de todos para todos.

Devemos ter a coragem de reencontrar-nos com a nossa história, re-

conhecendo os erros cometidos; as injustiças e as causas dos nossos

conflitos, assumindo colectivamente as nossas responsabilidades e fa-

zendo do presente a alavanca para futuro.

Temos que criar saudades com o futuro, criando hoje uma sociedade

inclusiva, participativa, responsável e dinâmica. Temos que criar polí-

ticos responsáveis, que não vivem da gratidão do passado.

Não podemos adiar o sonho da juventude e da nação inteira; temos

que viver numa nação coesa e unida, livre do medo, livre da bajulação,

do cinismo e da política dogmática.

Senhora Presidente da Assembleia da República,

Senhor Primeiro Ministro,

Senhoras Deputadas e Senhores Deputados,

Caros Convidados,

Excelências,

Na pressente sessão que inicia hoje, com um rol de 27 matérias, a

Bancada Parlamentar do MDM vai se engajar de forma construtiva

para buscar consensos em defesa dos supremos interesses da popu-

lação moçambicana. Irá se engajar na defesa de uma Sociedade mais

inclusiva, de boa governação e uma descentralização sustentável em

todo o território nacional, promovendo a cidadania.

Tal como na última legislatura, queremos embarcar na Revisão da

Constituição da República. Continuaremos a defender uma

Constituição mais democrática que eleve as liberdades indivi-

duais, a participação política, económica e social do cidadão; a

redução dos poderes do Chefe do Estado. Entre outros, somos da

opinião que o Chefe do Estado não deve nomear o Procurador-

-Geral da República nem os Presidentes dos diferentes Tribu-

nais. Queremos a transformação do Conselho Constitucional

num Tribunal Constitucional de facto. Pugnamos pela criação do

Tribunal Eleitoral e pela criação do Tribunal de Contas e eleição

dos Governadores Provinciais.

Nesta sessão vamos trabalhar para que o Projecto Lei atinente a

Apartidarização das Instituições Públicas seja finalmente discu-

tido e debatido ao nível das Comissões Especializadas e do Ple-

nário da Assembleia da República para sua decisão final. Toma-

mos esta ocasião para apelar aos nossos pares para não fugirem

ao debate, pois, os moçambicanos, em geral, e os funcionários do

Estado, em particular, assim o exigem.

Ao se aprovar o Projecto Lei atinente a Apartidarização das Ins-

tituições Públicas, o Estado libertar-se-á da carga ideológica par-

tidária, estabelecendo-se assim as fronteiras entre o Estado e os

Partidos Políticos.

O MDM continua a defender, que para o bem da nação, é crucial

uma reconciliação efectiva, pois só num Estado equidistante dos

Partidos Políticos se pode almejar o bem-estar das populações.

Para esta sessão a Bancada Parlamentar do MDM já formulou

o pedido de informação ao Governo sobre as Empresas Públicas

e Participadas. É do interesse nacional saber a saúde financeira

destas empresas, a estabilidade social e desmamar essas empresas

da corrupção. Esperamos que Governo, com franqueza e respon-

sabilidade, dê a informação de forma substantiva para podemos

avaliar e mudar para o bem de todos.

Senhora Presidente da Assembleia da República,Senhor Primeiro Ministro,Senhores Ministros e Vice Ministros,Senhoras Deputadas e Senhores Deputados,Caros Convidados,

A Assembleia da República tem que assumir as suas responsabi-

lidades e estar na vanguarda. É aqui onde os assuntos de interesse

nacional, incluindo as supostas conversações, sem tabus, devem

ocorrer, para que todos os segmentos da sociedade moçambicana

possam acompanhar e dar o seu contributo.

O nosso povo não pode continuar a viver na incerteza; excluído

ou a margem de assuntos que interferem directamente na sua

vida.

Devemos colectivamente renovar as esperanças dos nossos con-

cidadãos; das nossas comunidades; da classe empresarial; da nos-

sa juventude, enfim, de todos. Os moçambicanos merecem a vida;

a estabilidade e o direito de sonhar livremente sobre o seu futuro.

A Bancada Parlamentar do MDM esta e estará sempre compro-

metida com a visão de Moçambique para Todos.

Caros Deputados,Excelências,Queremos desejar a todas deputadas e deputados um bom traba-

lho nesta sessão.

E para terminar, uma palavra especial a juventude moçambicana

como nos tem orientado a liderança do nosso partido: “É preciso

transformar o sacrifício e a dor em energia para vencer os obstá-

culos. Coesos faremos a diferença”.

Muito obrigado pela atenção prestada.

Maputo, aos 21 de Outubro de 2015.

Lutero Chimbirombiro Simango

Chefe da Bancada Parlamentar do MDM.

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Savana 30-10-2015EVENTOS14

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Savana 30-10-2015EVENTOS

15

Foi rubricado recentemente em

Pequim um memorando de

entendimento entre o Gru-

po Visabeira e a Beijing Ur-

ban Construction Group (BUCG),

uma das maiores empresas de cons-

trução e obras públicas mundiais.

O memorando, assinado pelo Pre-

sidente da Visabeira Global, João

Castro, e pela Vice presidente da

Beijing Urban Construction, Ding

Li, prevê uma cooperação estraté-

gica no desenvolvimento de negó-

cios nas principais áreas comuns de

actividade dos dois grupos, nome-

adamente, na construção de infra-

-estruturas, obras públicas, energia

Grupo Visabeira assina com Gigante Chinesa

e imobiliária.

Com o memorando, as partes com-

prometem-se a tirar partido do seu

posicionamento estratégico e do

conjunto de recursos e actividades

económicas que desenvolvem para,

em cooperação, promoverem os

seus actuais e futuros projectos, no-

meadamente, nos continentes afri-

cano e europeu. Como resultado,

vai permitir a expansão internacio-

nal do Grupo Visabeira para outros

mercados, representando um enor-

me potencial de crescimento para

a multinacional portuguesa, bem

como para o grupo chinês.

A Startup moçambicana UX,

que tem vindo a inovar o

mercado de trabalho com

a oferta de tecnologias

online, como o caso do projecto

emprego.co.mz, participou na se-

mana finda no Stockholm Internet

Fórum, um dos mais importantes

eventos mundiais virados para a

análise da internet e as suas possi-

bilidades na promoção de direitos

humanos e desenvolvimento, que

decorreu na capital sueca, Estocol-

mo, e contou com a presença de

profissionais do sector, represen-

tantes de governos, organizações

de advocacia pelo acesso livre à in-

ternet, sector privado, agências de

desenvolvimento e profissionais de

UX participa do Stockholm Internet Forum

jornalismo.

Para além da presença do repre-

sentante da UX, Tiago Borges,

participaram de Moçambique a

delegação composta por represen-

tantes dos Ministérios da Ciência e

Tecnologia, Ensino Superior e Téc-

nico Profissional e o Ministério de

Transportes Comunicação.

Tiago Borges Coelho, co-fundador

da UX, afirmou na ocasião que a sua

plataforma “coopera em actividades

que concorram para a redução dos

custos de acesso à internet em Mo-

çambique”, daí a sua parceria em

Moçambique com a Alliance for

Affordable Internet, uma organi-

zação mundial que advoga o acesso

livre à internet para todos.(E.B)

Depois de ter abrilhantado o público com o novo Eve-rest 2015, a Ford Motor Company da África de Sul

lançou recentemente o novo Ford Ranger. Mais sofisticado e ousado, o novo Ranger pretende estabele-cer novos padrões de referência no segmento dos veículos comerciais ligeiros em toda a África Subsaa-riana com uma mistura irrepreen-sível de capacidade robusta, fabrico e tecnologia avançada.

“O novo Ford Ranger oferece um

novo nível de conforto e requinte

para o seu segmento sem com-

prometer a capacidade resistente

que os nossos clientes exigem e

aprenderam a apreciar no mode-

lo actual”, afirma Tracey Delate,

Director-Geral de Marketing da

Ford Motor Company da região

da África Subsaariana. “Representa

um tipo de robustez mais inteligen-

Ford revela novo Ranger te e irá ajudar os nossos clientes a

conseguirem mais em qualquer tipo

de aplicação.”“O actual Ranger é uma das pick--ups mais robustas e mais capazes no mercado e isso reflecte-se nas vendas excepcionais do Ranger que aumentaram significativamente desde que foi lançado em 2011,” afirma Delate. O novo visual ousado mais moder-no concede ao Ranger uma presen-ça poderosa na estrada e transmite imediatamente um sentimento de capacidade. Apresenta um capô mais musculoso e desemboca numa nova grelha trapezoidal resistente, que acentua a largura e postura for-te do novo Ranger.O exterior modernizado foi com-binado com um novo interior ele-gante nos modelos 2.5 e 3.2 XLT e Wildtrak, criando um ambiente ainda mais confortável e contem-porâneo para o condutor e os pas-

sageiros. (E.B)

Por falha involuntária, na edição nú-

mero 1135, de 09/10/2015, escrevemos

que “O Peixe da Mama” ainda ofere-

ce, gratuitamente, os sacos de plástico,

quando na verdade, após a publicação

do Decreto 16/2015, que regula a ges-

tão e controlo desse artigo, foram afixa-

dos, em todas as lojas da empresa, carta-

zes impondo o preço de um metical na

venda de cada unidade e que é cobrado

a quem pretender utilizá-lo.

Pelos transtornos causados, as nossas

sinceras desculpas, em especial à admi-

nistração da Cruzeiro do Sul.

Rectificação

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Savana 30-10-2015EVENTOS16

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1Savana 30-10-2015SUPLEMENTO

Este Suplemento faz parte do jornal SAVANA do dia 30 de Outubro de 2015 e não pode ser vendido em separado

SuplementoSuplemento

Embaixador da Dinamarca, Johnny Flentø, no encerramento da Conferência:

“Não é possível ter inclusão e estabilidade sem paz”

Page 38: Moçambique para todos - Prémio Leaders & Achievers-Flecha … · 2015-11-02 · Savana 30-10-2015 TEMA DA SEMANA 3 jecto privado de habitação desde a independência nacional até

2 Savana 30-10-2015SUPLEMENTO

O embaixador da Dinamarca em Moçam-bique, Johnny Flentø, aconselhou o exe-cutivo moçambicano a apostar na me-

lhoria das condições de produtividades dos pequenos produtores agrícolas no país, como a principal via para promover o crescimento inclusivo. Mas, para se chegar até lá é preciso que haja paz, segurança e unidade nacional.

O Embaixador dinamarquês defendeu que os pequenos agricultores são empreiteiros do desenvolvimento, mas faltam-lhes meios e conhecimentos no domínio das tecnologias, cabendo ao governo complementar o que fal-ta.De acordo com o mesmo, a Dinamarca levou 100 anos para alcançar os níveis de estabilida-de de que hoje desfruta, não esperando que Moçambique leve o mesmo tempo.Aliás, disse que Moçambique tem uma inte-ressante história. Em menos de 25 anos de paz conseguiu registar bons níveis de cresci-mento económico, faltando-lhe a redução das

Apostar nos pequenos agricultores- Embaixador da Dinamarca, Johnny Flentø

assimetrias. Assim, aponta que os pequenos produtores são empreiteiros do desenvol-vimento. Bem estimulada, a sua actividade - com cadeias de valor inclusivas - pode ge-rar muitos postos de trabalho e a consequente redução da fome que assola o país. Para tal, o governo deve prover--lhes dos meios necessários.

Discursando na abertura, a Embaixadora da Fin-lândia, Seija Toro, disse que esta conferência sur-ge como um contributo dos países nórdicos para

lançados pela cimeira das Nações Unidas em Setem-bro.

De entre 17 pontos que constam da referida agenda, o destaque vai para a redução da pobreza e das de-sigualdades dentro e entre os países até 2030. “Esta é uma meta verdadeiramente universal e o objectivo é reverter a actual crescente tendência de desigualdades em muitas partes do mundo”, disse.De acordo com a embaixadora, o crescimento inclusivo tem como objectivo aumentar as oportunidades para todos através da promoção da igualdade, nos rendi-mentos e serviços de qualidade. Avançou ainda que diversas pesquisas têm mostrado que o crescimento económico e a estabilidade políti-ca não podem ser sustentáveis numa sociedade com crescentes desigualdades. Socorrendo-se do chamado modelo nórdico, disse que o mesmo foi baseado na in-clusão, o que não permite a exclusão de qualquer gru-po e destacou o facto de o mesmo oferecer um ensino

Aumentar oportunidades e promover igualdade

- Embaixadora da Finlândia, Seija Toro

gratuito para todos os cidadãos desde a pré-escola até à Universi-dade, num sistema em que todos têm o mesmo tratamento inde-pendentemente do seu extracto social.“Este modelo garante liberdade democrática, direitos sociais e económicos iguais e oportunida-

-lizou.

No seu discurso de aber-tura do evento, o Pre-sidente da República, Filipe Nyusi, referiu que

o crescimento inclusivo só pode ser consequência do desenvolvi-mento sustentável. Um desen-volvimento que vai ao encontro das necessidades do presente sem comprometer a esperança e a satisfação das gerações vin-douras.

Destacou Nyusi que a conferên-cia desperta grande interesse por estar na coluna vertebral da agenda de desenvolvimento nacional, que passa pela presta-ção de serviços sociais básicos, acesso equitativo à educação, cuidados de saúde, água, sanea-mento e habitação - pontos estes que concorrem para melhoria do bem-estar das populações.O Chefe de Estado diz que, ape-

Crescimento inclusivo é consequência de desenvolvimento sustentável

- Presidente da República, Filipe Nyusi

sar dos resultados referenciados por um relatório do Banco Mun-dial indicando que o país está a registar um crescimento assina-lável há duas décadas, os níveis de pobreza (54,7% da população) e de desnutrição crónica (43%) continuam inaceitavelmente ele-vados. Indicou ainda o índice do

desenvolvimento humano como outro motivo de preocupação. Deste modo, aclarou que o Pro-grama Quinquenal do Governo (PQG) para 2015-19 procura colo-car Moçambique na trajectória de crescimento e desenvolvimento inclusivo, apostando numa abor-dagem sectorial, consubstancia-da no princípio de que as pessoas e famílias devem contribuir para

do crescimento económico.É preciso também que as polí-ticas de promoção da inclusão procurem reduzir as abismais desigualdades da renda, promo-vendo a equidade na forma como são distribuídos os rendimentos e os benefícios de crescimento. “O crescimento económico acele-rado é necessário para a redução da pobreza, mas para garantir a sua sustentabilidade ele deve ter uma base ampla, abranger todos

os sectores e incluir grande par-te da força de trabalho do país”, disse.Segundo Nyusi, enquanto a ren-da per capita cresce, a qualidade da vida melhora, ainda que não seja em todos os aspectos nem na mesma proporção. O crescimen-to inclusivo em Moçambique assenta numa base económica e social ampliada de criação de riqueza e acumulação partilhan-do os seus benefícios com vista à redução da pobreza e desigual-dades sociais. Apontou como os pilares desse crescimento inclu-sivo: o aumento da produção, competitividade, a criação de emprego digno, a promoção de igualdade de oportunidades no

--

mento ao ambiente de negócios atractivo, fortalecimento da de-mocracia e defesa dos direitos

humanos.Precisou que as políticas de cres-cimento inclusivo devem encarar a mulher como a fonte dinami-zadora da produção, sobretudo a agrícola, que emprega 80% da população.Para Nyusi, nenhum país con-trola a sua economia se não con-segue mobilizar poupanças e transformá-las em investimento produtivo. “Se não desenvolver-mos infra-estruturas económicas e públicas, se não expandirmos a rede de energia, se não providen-ciarmos água potável e se não ti-vermos as vias de comunicação de qualidade não poderemos nunca falar de um futuro melhor, não poderemos falar de um cres-cimento inclusivo em Moçambi-que porque não haverá nada por partilhar e distribuir equitativa-mente”, destacou.

Em discurso de abertura do se-

gundo dia da conferência, a

Embaixadora da Suécia, Irina

Schoulgin Nyoni, considerou fun-

damental a ampla participação dos

cidadãos na política, para se alcançar

uma sociedade inclusiva e sustentá-

vel. Desafiou, por isso, que os parti-

cipantes no evento capitalizassem as

oportunidades que o mesmo oferecia

para, através do debate, influencia-

rem as decisões do sector público. “O

crescimento económico só pode me-

lhorar a vida de toda a população se

as necessidades e inquietações da po-

pulação moçambicana forem toma-

das em conta nas decisões do sector

público”, destacou.

Pautando a agenda do segundo dia

É fundamental ampla participação dos cidadãos na política- Embaixadora da Suécia, Irina Schoulgin Nyoni

da Conferencia Nórdico-Moçambi-

cana sobre Crescimento Inclusivo, a

Embaixadora sueca manifestou espe-

rança que algumas das experiências

nórdicas, se relevantes para o contex-

to moçambicano, pudessem ajudar a

responder as estas questões: “como

podemos ter uma ligação e comuni-

cação entre a política e os cidadãos

nos diferentes cantos deste país? Em

que medida uma maior transparência

das instituições públicas pode con-

tribuir para este processo? Qual é o

papel da oposição numa democracia

multipartidária e de que maneira se-

ria possível criar um debate constru-

tivo entre os partidos?”.

A diplomata do país de Olof Palme

usou como farol, para o debate inclu-

sivo e democrático, a mensagem do

Presidente Nyusi na sua tomada de

posse: “as boas ideias realmente não

tem cor partidária. Isto é válido tanto

aqui, bem como nos países nórdicos”,

ajuntou.

“Como podemos alcançar um deba-

te politico cada vez mais construtivo,

no qual diferentes partidos possam

apresentar iniciativas concretas (…)

de que forma o debate pode contri-

buir para um entendimento entre os

partidos para fazer face aos grandes

desafios que o país enfrenta?”, ques-

tionou Irina Nyoni.

A diplomata partilhou, como apren-

dizagem da experiência nórdica, que

para se construir uma unidade basea-

da na diversidade, “é uma perda para

as nossas sociedades num contexto

politico e económico cada vez mais

complexo” o não aproveitamento

das iniciativas de diferentes grupos,

sejam elas provenientes do Estado,

partidos políticos ou sociedade civil.

Reiterou, por isso, que o intercâmbio

de ideias deve contribuir para uma

aprendizagem mútua.

A representante da Suécia em Mo-

çambique aproveitou o ensejo para

enaltecer a contribuição dos media

no alcance da inclusão. “A transmis-

são em directo na televisão dos de-

bates na Assembleia da República

de Moçambique é um bom exemplo

para nós”, disse, antes de finalizar

que “muitos deputados realizam vi-

sitas frequentes às comunidades para

aprofundar os seus laços com o povo

moçambicano”.

Page 39: Moçambique para todos - Prémio Leaders & Achievers-Flecha … · 2015-11-02 · Savana 30-10-2015 TEMA DA SEMANA 3 jecto privado de habitação desde a independência nacional até

3Savana 30-10-2015SUPLEMENTO

A primeira mesa redonda da 2ª Conferência Nór-dico-Moçambicana sobre Crescimento Inclusivo em

Moçambique deixou assente que o investimento na mulher é im-prescindível para um crescimen-to inclusivo. A mesa versou sobre o tema “A inclusão da mulher na economia emergente de Moçam-bique: o capital humano e o em-prego das mulheres nos sectores formais e informais”.

Cerca de 80% da população na-cional tem a agricultura como a sua principal fonte de sobrevi-vência e muitas vezes a mulher é tida como o rosto da agricultura. Director Nacional adjunto para assuntos da Mulher e HIV/ SIDA, no Ministério do Género, Criança e Acção Social, Sansão Buque disse que o baixo nível de escolaridade da mulher no país constitui um grande entrave para a libertação do espírito empreen-dedor. Argumenta que o gover-no conta com muitos programas para ajudá-la a desenvolver, mas faltam-lhe iniciativas, pelo que urge quebrar algumas barreiras de modo que a mulher possa ade-rir à educação bem como às di-versas acções de formação.Segundo Buque, apesar desta contrariedade, nos últimos anos há assinaláveis registos de em-poderamento da mulher para

Mesa redonda: a inclusão da mulher na economia emergente de Moçambique

Associativismo dinamiza inclusão e produtividade da mulhersua inserção no desenvolvimento

com os fortes índice de crescimen-to da sua presença no mercado de emprego, quer formal e informal. Referiu que em 2014 havia um registo de 153 mil postos de tra-balho ocupados pela mulher, e mais 35 mil que foram formadas

Sem fazer menção a números, disse que o governo tem estimu-lado a criação de associações de mulheres produtoras no país, existência de planos e orçamen-tos exclusivamente dedicados à mulher, a existência de progra-mas como o Plano de Redução da Pobreza Urbana (PERPU), os sete milhões alocados aos distritos e o incentivo à poupança baseada em género. Buque louvou a integração da força laboral da mulher nos pro-jectos da indústria extractiva, o que evidencia um olhar especial ao seu papel no mercado de em-prego.

Mobilização para a educação da mulher

Berholm, partilhou a experiência da mobilização que houve no seu país, no tocante à educação, uma vez que durante um longo perío-do as mulheres estavam em des-vantagem quando se falasse de educação.

Conta que houve um grande mo-vimento de mobilização a favor dos direitos da mulher e nos úl-timos anos houve uma viragem que colocou os homens atrás nas estatísticas de formação académi-ca. Bergholm diz ser imprescindível a criação de associações e coo-perativas produtivas da mulher para se autopromoverem, des-de que elas estejam na liderança e tenham responsabilidades de modo a se manterem no trabalho e no associativismo. Inge Tvedten, investigador do Christian Michelsen Institute, é de opinião que o investimento na mulher traz grandes resultados na economia dado ao seu papel de zelo familiar.Durante o seu périplo por Mo-çambique, diz ter constatado que na zona norte a mulher concen-tra-se mais na agricultura e nos trabalhos domésticos, relegando os restantes papéis ao homem. Tal difere da zona sul, onde elas estão em quase todas as verten-tes do trabalho, para juntamente com o homem levarem o pão à casa. Destacou actividades como o comércio informal, a produção agrícola, a produção de bebidas alcoólicas caseiras, confecção de refeições. O Académico e investigador do Instituto dos Estudos Sociais e Económicos (IESE), António

Francisco, também defende a ne-cessidade de uma educação sobre a fecundidade na mulher rumo a um crescimento inclusivo.Refere o académico que a mulher moçambicana reproduz três vezes mais que a taxa da mortalidade, facto que se deve amiúde a valo-res culturais que ainda precisam ser bem trabalhados de modo que ela se engaje na economia e na busca de estabilidade.

-gando que as crianças dos seus 4,5,6 anos em diante contribuem na economia familiar, na busca da lenha, da água entre outros factos que acabam contribuindo para a perpetuação desses valores cultu-rais.

Apostar na poupança internaAntónio Francisco disse que, ape-sar de existir idosos no país, as estatísticas mostram que a popu-lação nacional não envelhece por-que há uma neutralização pelas taxas de nascimento.Precisou ainda que, para garantir um crescimento inclusivo, urge alterar o modelo de crescimento dependente da poupança externa

interno, pois aí haverá fundos

entre outros.Nesta vertente, Fátima Momade, que representava uma empre-sa de consultoria, manifestou a

sua preocupação com o futuro das mulheres, ou seja, quando já estiverem idosas. Isto porque a maior parte delas estão inseridas no sector informal e tantas outras como empregadas domésticas e não canalizam poupanças para o sistema de segurança social.Na ocasião, o vice-ministro de Trabalho, Emprego e Seguran-ça Social, Oswaldo Petersburgo, assegurou que o governo está a debater uma proposta nesse sen-tido. Falta, segundo o governan-te, estabelecer-se os valores por pagar. Garantiu que o mesmo di-

Novembro próximo.João Mosca, economista e docen-te universitário, considerou que a falta de registos ou documenta-ção mina o acesso aos fundos go-vernamentais a muitos cidadãos nacionais com destaque para mulher. “Não consigo perceber porque é tão difícil ter um bilhete de identidade e fácil ter um car-tão de eleitor, cuja estrutura de produção é mesma. Aqui nota--se o interesse político do estado quando pretende atingir o seu objectivo de ser votado, mas não respeita os direitos dos cidadãos que sofrem para terem a docu-mentação”, argumentou. Para o académico, isto também faz parte da promoção do cresci-mento inclusivo e de igualdade de oportunidades.

O docente da Universidade de Tecnologia de Tallinn, na Estónia, Erik Reinert, é de opinião que o dinheiro

proveniente da exploração do pe-tróleo e gás não gera crescimento

políticas.

O académico falava no painel inaugural da Segunda Confe-rência Nórdico-Moçambicana sobre Crescimento Inclusivo em Moçambique, cujo objectivo era partilhar as experiências nórdica e global sobre crescimento inclu-sivo e lançar uma visão para o fu-turo de Moçambique.Reinert considera que os estados em vias de desenvolvimento não podem apostar unicamente em recursos como petróleos e gás para catapultar o respectivo de-senvolvimento. Argumenta a sua

recursos não renováveis, sujei-tos a volatilidades dos preços do mercados e, quando há uma forte dependência destes, o povo acaba

das elites políticas. Sendo assim, indica que há necessidade de se mudar a estrutura das economias dos países em vias de desenvolvi-mento, o que passa pela aposta no sector agrário e na indústria ma-nufactureira.“Um Estado sem indústria manu-factureira é um Estado falhado, porque esta é mais abrangente”, sustenta.Erik Reinert defende que a falta

Três pontos de vista sobre Crescimento Inclusivo

Estado sem indústria manufactureira é um estado falhado

de avanços em muitas econo-mias africanas deve-se em gran-de medida ao colonialismo, pois em muitos casos os negros eram relegados ao segundo plano nas indústrias e, caso os colonos aban-donassem as colónias, aqueles não tinham muitas manobras para dar continuidade com a maior parte das indústrias. Deste modo, reforça a sua ideia de que a prática de agricultura esteve sempre sob o domínio dos negros, faltando somente o seu desenvol-vimento e criação de cadeias de valor para catapultar o desenvol-vimento. Contudo, diz que não se pode parar por aqui, é preciso trabalhar arduamente para aqui-lo que ele chamou de “ludibriar” certas exigências impostas pelos mercados europeus e americanos

Considera o académico que mui-tos acordos internacionais rubri-cados por países africanos não os

-sam de criar políticas fortes e con-

Mitigar o crescimento populacio-nalPara Pedro Bule, assessor do mi-nistro da Economia e Finanças, o crescimento económico não garante inclusividade por si só e não há um caminho ou estraté-gia que se indique para o alcance deste lema de forma automática,

de criar políticas próprias rumo a esta conquista.Defende Bule que mesmo o mode-lo nórdico, considerado um caso de sucesso, não pode ser transferi-do directamente para a realidade nacional, pois há muitas etapas que se deverá percorrer, com o risco de não se enquadrar, uma vez tratar-se de outra realidade, num ambiente com mentalidades diferentes. Neste sentido, conta Bule que o

governo já delineou as suas es-tratégias para um crescimento inclusivo, com acento tónico na educação que deve transcender o formal, ou seja, uma educação social que engloba os valores cul-turais. É que, no entender deste

a globalização e o crescimento populacional andam de mãos da-das, sendo por isso bem-vinda a introdução de políticas tendentes a minimizar o crescimento popu-lacional.Para Pedro Bule, o governo deve apostar forte na educação e eman-cipação da mulher o que é pre-ponderante para redução das ta-xas de natalidade e permitir um crescimento inclusivo.Acrescentou ainda que, para o alcance da inclusão, há que rever as políticas de empregos e remu-neração, criação de activos - em-poderamento internacional das

-

rupção, criação e melhoramento de infra-estruturas como de saú-de, vias de acesso, transporte.Garantiu que o governo está com-prometido em seguir esta agenda e a prova disso é que cada um des-tes pontos está detalhado nos cin-co pilares do Plano Quinquenal do Governo (PQG). Admitiu, con-

frente, como é o caso das parcerias público-privadas, a promoção do conteúdo local, a participação das empresas nacionais na logística dos hidrocarbonetos - que vai im-pulsionar o mercado de trabalho.

desenvolvimentoAmade Sucá, director executivo da Actionaid, é de opinião que não há como ter um crescimento inclusivo, eliminar a pobreza e de-sigualdades sociais sem dinheiro. Pelo que cabe ao estado moçam-bicano renegociar os incentivos

-tos.Sucá propôs aos diplomatas e aos representantes das multinacionais

não abrandarem com os conselhos para redução de pobreza e partir para acções claras que passam pelo pagamento dos impostos, pois só

iniciativas locais e avançar plena-mente rumo ao alcance das metas estabelecidas pela nova agenda de desenvolvimento das Nações Uni-das.

Page 40: Moçambique para todos - Prémio Leaders & Achievers-Flecha … · 2015-11-02 · Savana 30-10-2015 TEMA DA SEMANA 3 jecto privado de habitação desde a independência nacional até

4 Savana 30-10-2015SUPLEMENTO

Painelistas e intervenien-tes na mesa redonda so-bre o desenvolvimento da agricultura concorda-

ram que o país precisa realizar uma transformação estrutural da agricultura em agro-indústria, através de políticas e estratégias

Na sua intervenção de partida, o agro-economista João Mosca lembrou que o país tem regista-do crescimento económico, mas também testemunhado o cresci-mento da pobreza, concorrendo para o recrudescimento de igual-dades. Uma economia crescendo revela-se incapaz de absorver mão-de-obra, redundando num crescimento que gera desem-prego e estimula o aumento de economias informais, segundo o académico. Para João Mosca, tal resulta que falar de crescimento inclusivo, em Moçambique, ainda é falar de uma esperança, é falar de fu-turo, e não de uma realidade de hoje. “Não existe inclusividade no mercado, não existe inclusivi-dade no sistema creditício, seten-ta por cento da população não entra nos mecanismos formais da economia. O actual modelo económico não é inclusivo, as políticas públicas não são inclu-sivas, social e territorialmente”, sustentou.“A inclusão de pequenos agri-cultores é anti-natura no actual modelo de desenvolvimento económico”, acrescentou Mos-ca, sugerindo uma mudança do paradigma que sustenta as polí-ticas públicas no sector agrário.Mosca lançou o isco que seria mordido pelos oradores e co-mentadores que se lhe seguiram, ao defender que uma “trans-formação estrutural passa pela transformação da agricultura em agro-indústria. A indústria, sem

Mesa Redonda: Alcançar o crescimento inclusivo através do desenvolvimento da agricultura

É preciso transformar o sector em agro-indústria

incluir a agricultura, gera mais assimetrias, mais desigualdades e mais pobreza”, reiterou.A presidente do Fórum Agri-Ne-gócio na CTA (Confederação das Associações Económicas), Tatia-na Mata, considera que se deve introduzir medidas para integrar os produtores nas cadeias de valor. “Garantir mercados é um passo importante para assegurar a inclusão do pequeno produtor nas cadeias de valor”, disse. “Ga-rantir sistemas de informação de mercado ao pequeno agricultor” é outra das medidas inclusivas, para Mata. “Premiar, ou seja, di-ferenciar a qualidade de produ-ção incentiva ao investimento do produtor”, é outra das propostas de Tatiana Mata no âmbito da inclusão do pequeno agricultor nas cadeias de valor, sendo que para esta instou o INNOQ (Insti-tuto Nacional de Normalização e Qualidade) a trazer os seus stan-dards de qualidade, através da divulgação. Luís Muchanga, Director executi-vo da UNAC (União Nacional de Camponeses), apontou a identi-

-vestimento no capital humano, através da aposta nos mecanis-mos de associações, cooperati-vas e sistemas de ajuda mútua entre pequenos agricultores como meios de inclusão destes. Sugeriu ainda, como medidas de inclusão do pequeno produtor, a garantia de acesso aos insumos agrícolas, o combate à assimetria de informação, a introdução de tecnologias apropriadas ao con-texto e a garantia de participação

políticas públicas do sector.Channing Arndt, investigador da Universidade das Nações Unidas, debruçou-se sobre um estudo feito em países africa-nos, sobre as características do

cinco países cada) com cresci-mento económico diferenciado. Um primeiro de cinco países que crescem muito rapidamente; outro grupo de cinco países que crescem mas que não logram a redução da pobreza, no qual se inclui Moçambique; e um tercei-

-po de países que cresce de for-ma rápida, a agricultura é parte

enquanto nos países que crescem e não reduziram a pobreza não houve crescimento na agricultu-ra. É o caso de Moçambique.

Tecnologias devem ser inclusivas Questionado sobre como integrar os pequenos agricultores para o alcance da inclusão, João Mosca defendeu o envolvimento da so-

-tas pelas comunidades, propor-cionando o empoderamento das comunidades para a gestão dos recursos naturais. “Esta inclusão

passa a participar como comuni-dade na defesa dos recursos na-turais”, asseverou.Para Mosca, o acesso às tecnolo-gias de produção pode ser factor de inclusão, desde que se apos-te na formação do homem para usar a nova semente. Deve-se criar condições para os empre-sários investirem no meio rural, o que implica garantir insumos, segundo o agro-economista. Por seu turno, Luís Muchanga deu exemplo, neste aspecto de acesso às tecnologias, da relação da UNAC com o OMR (Observa-tório do Meio Rural), instituto de pesquisa associado à Universi-dade A Politécnica cujos estudos têm servido de referência para o trabalho da união dos campo-neses. Destacou ainda o campo

a investigação da Universidade Católica e os conhecimentos lo-cais do campesinato, no distrito de Cuamba, no Niassa. “Os cam-poneses devem fazer parte do desenho das tecnologias. As tec-nologias devem também ser in-clusivas”, considerou Muchanga.

Políticas integradas e protecção do produtorO estado deve ter políticas públi-cas integradas, ainda de acordo com João Mosca, salientando que todos os países que se desenvol-

com apoio do Estado. Para este investigador, é fundamental que se reverta o quadro actual, em que do orçamento dedicado à agricultura, pelo menos seten-ta por cento é despendido nos

por cento é que são dirigidos para actividades de extensão e investigação. “As actuais políti-cas públicas estão a aniquilar a possibilidade de crescimento da agricultura. O sector familiar não será prioritário enquanto a agri-cultura não for negócio”, senten-ciou.Luís Muchanga considera que a transformação radical das polí-ticas agrárias passa pela necessi-dade de um banco agrícola, atra-vés do qual não só se agreguem os vários fundos agrários dis-persos mas também se fomente a educação bancária do campo-nês. “Temos de agregar os fun-dos dispersos num único banco, o tal banco de desenvolvimento. Qual o medo de experimentar-mos? Qual o modelo de desen-volvimento que queremos?”, Indagou-se o dirigente dos cam-poneses unidos de Moçambique. O investigador Channing Arndt referiu-se ao exemplo da Etiópia, que dedica pelo menos 40 mil ex-tensionistas ao apoio directo dos pequenos produtores, como “um bom sítio para ir ver em busca de

motivação. Talvez Moçambique deva optar por construir zonas industriais e induzir o crescimen-to através de actividades em vol-ta de uma fábrica”, aconselhou.“Aumentar o investimento na agricultura promove crescimen-to. Vosso país é vasto e diverso, não devem por isso ter uma úni-ca abordagem”, acrescentou o in-vestigador da Universidade das Nações Unidas. Outros intervenientes no debate se debruçaram sobre a questão dos subsídios ao sector, tal é o caso de Mónica Brantz, uma in-vestidora para quem é preciso in-troduzir mais subsídios e protec-ção do produtor. “O Terra Segura (programa do ministério da Ter-ra, Ambiente e Desenvolvimento Rural voltado para a distribuição de DUATs a pelo menos cinco milhões de camponeses) é positi-vo, mas os DUATs não bastam. É preciso ligar os títulos de DUATs (Direito de Uso e Aproveitamen-to da Terra) ao registo predial, para assegurar a transmissão em caso de herança”, defendeu.Diamantino Nhampossa, antigo dirigente da UNAC e hoje liga-do a uma agência internacional de apoio à sociedade civil, lem-brou que muitas das políticas que regulam o sector agrícola

países, como os EUA e estados da União Europeia. Referia-se às barreiras e restrições aduaneiras para a exportação de produtos nacionais. Defendeu a moeda de troca, ou seja, que o país crie sub-sídios ao sector agrícola, através de sobretaxas a produtos impor-tados dessas origens, como um

protecção do produtor nacional. “Financiar o agricultor sem aces-so ao mercado equivale a nada”, asseverou Nhampossa.

Page 41: Moçambique para todos - Prémio Leaders & Achievers-Flecha … · 2015-11-02 · Savana 30-10-2015 TEMA DA SEMANA 3 jecto privado de habitação desde a independência nacional até

5Savana 30-10-2015SUPLEMENTO

O CEO do Gapi, instituição

desenvolvimento agrário, considerou que o cresci-

mento inclusivo é indissociável da segurança nacional, como fac-tor de desenvolvimento do país.

Intervindo no painel que questio-nava até que ponto as cadeias de valor são inclusivas e que opor-tunidades se colocam para o em-preendedorismo e para as PMEs (pequenas e médias empresas), António Souto defendeu que as cadeias de valor não são intrin-secamente inclusivas ou não, tal dependendo de como elas estão estruturadas. Souto deu o exemplo da cadeia de valor de algodão no país, que é exclusiva e que não incorpora o desenvolvimento Sócio-econó-mico. Instituições e instrumentos apropriados são chamados à in-tervenção para tornar as cadeias de valor inclusivas e é fundamen-tal que os vários segmentos de uma cadeia de valor se comuni-quem entre si. É indissociável o crescimento in-clusivo da segurança nacional. As cadeias de valor dependem de como estão estruturadas, rara-mente focadas para o crescimento inclusivo. por exemplo a cadeia de valor do algodão é exclusiva, não incorpora o desenvolvimento sócio-económico, exige institui-ções e instrumentos apropriados. É preciso pôr a comunicarem os

Discussão paralela: Cadeias de valor são inclusivas

Crescimento inclusivo é indissociável da segurança nacional

vários segmentos de uma cadeia de valor. “Por exemplo no Gapi nós temos alguns instrumen-tos como AgroEmpreendedor, AgroGarante, AgroJovem”, que segundo Souto são mecanismos de crédito que não se esgotam na

-

facilidades.No geral, Souto reconheceu: “te-

indução de desigualdades. Preci-samos estruturar cadeias de valor inclusivas, o que exige aborda-gens de longo prazo.”Uma das formas, de acordo com Souto, de garantir cadeias de valor inclusivas é ter foot print nacional. “O Gapi é a primeira

-çambicana voltada ao desenvol-vimento”. Ou seja, os projectos ou instituições devem ser moçambi-canas na sua génese e nos seus propósitos. Outro factor de inclu-são nas cadeias de valor, segun-do a receita de Souto, passa por “combinar desenvolvimento de

negócios com desenvolvimento institucional, fazer parcerias com o Estado mas não contar com di-nheiro do Estado”.Claire Zimba, Director do IPE-ME (Instituto para a promoção de Pequenas e Médias Empresas) partilhou algumas experiências de cadeias de valor inclusivas. “No Vale do Zambeze estamos a desenvolver uma interessante cadeia de valor inclusiva, através dos serviços de desenvolvimento de negócios em que associamos iniciativas de micro e pequenas empresas, o sector familiar, aos centros de desenvolvimento dis-trital.” “Através do programa cada dis-trito um produto, procurámos combinar as etapas de produção, estruturação e acesso a mercado”, acrescentou Zimba.O director do IPEME referiu-se ainda à importância da criação de bases de dados de micro, peque-nas e médias empresas. Através do registo, o IPEME consegue tra-

-dades e necessidades das PMEs.

“Fazemos isto em ligação com o programa de desenvolvimento de pequenos fornecedores. E fa-zemo-lo em ligação com o INEFP,

do empreendedor”, ajuntou.Benedikte Bjerge, investigadora sénior da Universidade de Co-penhagen, realçou um estudo sobre o sector manufactureiro em Moçambique, constituído por micro-produtores, voltado para o mercado local e com produção

como uma oportunidade para o empreendedorismo, sendo actu-almente um sector de baixa pro-dutividade laboral.Maria Antónia Lopes, investi-gadora sénior da Universidade Eduardo Mondlane, referiu-se a um estudo sobre o empreendedo-rismo de mulheres na zona sul de Moçambique. “As mulheres (que estudei) escolhem para empreen-der sectores que tem que ver com seu papel de apoio à família, à comunidade e à sociedade, como educação, saúde e apoio a grupos de risco, naquilo que é a continui-

dade da sua vida doméstica”, ca-racterizou.Painelistas e intervenientes suge-riram algumas soluções para in-duzir o empreendedorismo tanto no sector manufactureiro como nas mulheres rurais, para fomen-tar a inclusão. Tarcísio Mahanhe, director de crédito no MozaBanco, consi-

só capital, mas criar mecanismos para que os empreendedores se-jam bancáveis”.Benedikte Bjerge sugere que se deve pensar mais em como au-mentar a produtividade laboral, reduzir os constrangimentos de acesso ao crédito e de acesso à ter-ra. Como melhorar as condições do sector manufactureiro para elevar a criação de empregos? É preciso pensar em variados parâ-metros para induzir desenvolvi-mento do sector manufactureiro”, defendeu. Por seu turno, António Souto aconselhou ao empoderamento das cooperativas de produtores, para que tenham poder de bar-ganha na negociação com os seus

nacional não tem diversidade de --

ros, por exemplo em Macovela-ne há um banco criado por 200 pessoas lá. É preciso apostar em iniciativas como estas, de village

A inclusão da juventude nos sectores produtivos tem--se mostrado como um

actualidade para o governo de Moçambique. A procura pelo pri-meiro posto de emprego na vida tem-se mostrado cada vez mais maior do que a oferta. Neste leque inclui-se também jovens com for-mação superior que diariamente distribuem os seus currículos e aguardam pelo dia em que serão chamados, o que muitas vezes não acontece.

Nesse sentido, a gestora do Depar--

mação do Programa Integrado de

(PIREP), Ida Alvarinho, defende -

nal constitui uma das grandes sa-ídas para minimizar os problemas de desemprego.Alvarinho diz que o mercado de emprego é cada vez mais compe-titivo, e surgiram novas empresas cujas actividades não eram leccio-nadas no país.

com formação superior que não fazem nada, mas em paralelo te-

técnicas”, disse.Refere que é neste panorama de busca de soluções que está em cur-

-sional, onde em conjunto com os sectores produtivos se desenham acções de formação viradas ao seu

Discussão paralela: Como incluir a juventude nos sectores produtivos

Formação profissional calcanhar de Aquiles dos jovens

sector produtivo, pois o mercado que é cada vez mais exigente.Falou da existência de cursos téc-nicos em sectores como de agricul-tura, alimentos, gestão de empre-sas, recursos humanos, mineração, hotelaria e turismos entre outros que são desenvolvidos em parce-ria com o Instituto Nacional do

(INEFP).Apesar de reconhecer que não será fácil absorver todos os jovens no mercado de trabalho, assegu-

e vocacional constitui uma chave para aceder ao emprego ou a ter iniciativas empreendedoras.

Formação não é satisfató-ria Para o director geral da Motocare, Ivan Buzi, o INEFP ainda tem mui-to por fazer no capítulo da forma-ção, de modo que os formandos

-lismo consideráveis. Isto porque a sua empresa recruta mecânicos nesta instituição, mas chegados ao local devem ser submetidos a ou-

tra formação que leva no mínimo

aptos para responderem à deman-da do nosso trabalho. Segundo Buzi, esta situação atra-palha de certa forma o desenvol-vimento do negócio da empresa, porque a formação não é sua voca-ção, com o agravante de se gastar recursos nesta área para em me-nos de 12 meses dissolver contrato porque o trabalhador teve outras oportunidades mais aliciantes. O director da Motocare diz que é preciso rever cursos de formação, porque no mercado de emprego culpa-se o estudante enquanto a instituição formadora é que não disponibilizou instrumentos para tal. Falou da existência de aulas de técnicas que se resumem nos ma-nuais e nunca na prática.

Quitéria Guirengane, gestora de programas no Parlamento Juvenil (PJ), culpa o governo por falta de clareza nos planos de educação no país, facto que faz com que se coloque em causa as competên-

cias dos formados. A gestora de programas do PJ aponta que esta

Mesmo nas instituições de ensino superior são visíveis as reclama-ções dos empregadores em torno da fraca qualidade dos estudantes,

no rumo da educação. Paralelamente a esta situação, fez menção à banalização da forma-ção no país. Em cada esquina da capital deparamo-nos com placas que fazem alusão à leccionação de determinados cursos sem ob-servância de regras básicas para o efeito. Devido à falta de orien-tação de quem é de direito, aliado a baixos preços praticados, o jo-vem acaba aderindo aos referidos cursos na expectativa de adquirir conhecimentos para se impor no mercado de emprego. Mas para o seu desagrado sai deformado.“Onde é que anda o estado para

casas de formação para respecti-va responsabilização pela falta de qualidade?”, Questionou.

Guirengane considera que um crescimento inclusivo passa por um sério investimento na educa-ção, porque a partir daí o jovem passa a ter habilidades para res-

mercado de emprego, sem deixar de lado o estímulo à veia empre-endedora.O Professor de Economia da Uni-versidade de Copenhaga e con-sultor de emprego, Sam Jones, diz que há cerca de 300 mil jovens que anualmente procuram emprego

-sorver toda esta mão-de-obra. Ac-tualmente, o sector formal absor-ve cerca de 10% da mão-de-obra nacional, onde o estado é o maior empregador e a restante está na agricultura e na área informal, o que equivale dizer que o estado deve organizar o meio informal porque continuará a ser o princi-pal destino da força de trabalho.Na qualidade de consultor, criti-cou a falta de dados estatísticos so-bre o comportamento do mercado de trabalho, o que poderia facilitar os empregadores e outras institui-ções que pretendem cooperar no domínio da formação técnico-pro-

Em representação do ministério do Trabalho, Emprego e Seguran-

-mou que está em criação o obser-vatório nacional de trabalho que se vai responsabilizar pela infor-mação estatística deste sector.

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6 Savana 30-10-2015SUPLEMENTO

“ -no é resistir à sedução do repouso, pois nascemos para caminhar e nunca

para nos satisfazer com as coi-sas como estão. A insatisfação é um elemento indispensável para quem, mais do que repetir, deseja criar, inovar, refazer, mo-

de construir uma existência me-nos confortável, porém ilimitada

o académico João Graziano Pe-reira, a sua palestra sobre empo-deramento dos cidadãos, citando

João Pereira aludia ao chama-

Empoderamento dos cidadãos: oportunidade para inclusão e transparência

É preciso resistir à sedução do conformismo

mento pela cidadania, ao incon-formismo na construção de uma sociedade melhor pela politiza-ção do espaço público. O poli-tólogo e Director executivo da Fundação MASC (Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil) diz não acreditar que se possa alcançar uma economia inclusiva sem se discutir a questão da natureza da componente política do estado. É pela politização do debate pois só assim se questionam os toma-dores de decisão e o mérito das suas políticas. “Defendo espaços politizados no sentido de politi-zação da informação, pois esta é que cria a cidadania”, argumen-tou. Pereira apontou como uma das

barreiras ao exercício da cida-dania e à formação do cidadão o actual sistema de educação, vol-tado para o mercado. “É preciso partir dos instrumentos da edu-cação para a cidadania”, disse, recordando-se dos seus tempos de escola primária nos primeiros anos após a independência, em que na disciplina de educação política se introduzia os alunos ao patriotismo e outros valores ideológicos.Outro perigo à cidadania, se-gundo o académico, é o que ele chamou de comodismo nas or-ganizações da sociedade civil, ao procurarem despolitizar-se em suas intervenções. “Fazemos ci-dadania a partir dos gabinetes”,

denunciou. “Só a participação dos cidadãos pode abrir o es-paço público, para se construir cidadania, cidadãos e promover a transparência”, considerou, apelando ser é preciso “resistir à sedução do repouso, do confor-mismo e do comodismo. Interpelado por participantes sobre como elevar a participação dos cidadaos nos processos de decisão, João Pereira insistiu na necessidade de se discutir a na-tureza do sistema político, para

-te aberto e as instituições políti-cas neutras. “O problema é que o sistema político não permite a participação activa dos cidadãos em todas as esferas. Isto porque

há grupos de interesse que cap-turaram o Estado. É preciso que haja instituições para regular a actuação desses grupos de inte-resse. Se somente 20 por cento da população contacta o Estado, onde estão os restante 80%? São cidadãos esses?”, indagou retori-camente o académico.Por sua vez, a ex-ministra dos Recursos Minerais e actual vice--presidente da Comissão de Pla-no e Orçamento na Assembleia da República, Esperança Bias, defendeu em sua palestra que o empoderamento dos cidadãos passa por uma sociedade forma-da, tanto é que assim a informa-ção resulta melhor assimilada. “Temos muita informação em forma de leis. Uma das formas de o público ter acesso à infor-mação é através das organiza-ções da sociedade civil, que po-dem traduzir essa informação para linguagem mais acessível aos cidadãos”, considerou.Bias defende que uma melhor implementação das políticas e leis pode reduzir o actual quadro de assimetrias que se caracteriza por diferenças abissais de níveis de inclusão entre as várias par-tes do país, tendendo a piorar quanto mais se afasta do poder central. A este propósito, a aca-démica Irae Lundin lembrou que quando se propôs a reforma do sector público, os estudos da altura revelaram que com a des-centralização administrativa e

mais perto do indivíduo e o indi-víduo do Estado, o que permite um desenvolvimento mais equi-tativo e inclusivo.

João Pereira, Director Executivo da Fundação MASC Esperança Bias, Vice-Presidente da Comissão do Plano e Orçamento na AR

Ainda na sua fase infan-te, as políticas de conte-údo local e nacional em Moçambique enfren-

endereçados, podem se traduzir em riscos para a inclusão econó-mica e social. Mormente ligadas aos megaprojectos, estas polí-ticas de promoção da riqueza nacional a todos os níveis, não podem redundar naquilo que o director do Centro de Integrida-de Pública (CIP), Adriano Nu-vunga, alertou: de geração de um “conteúdo para as elites”.

Foi nota consensual, na mesa redonda sobre as opções de conteúdo nacional para aumen-tar os benefícios locais, que tais políticas devem criar condições para a industrialização no país, concorrendo igualmente para a geração de capacidades tanto do chamado capital humano como das pequenas e médias empre-sas à escala nacional. Outrossim, o painel e o plená-rio da primeira mesa redonda do segundo dia da conferência nórdico-moçambicana sobre

Mesa redonda: As opções de conteúdo nacional para aumentar os benefícios locais

Deve-se evitar a geração de “conteúdo para as elites”crescimento inclusivo em Mo-çambique concordaram que a promoção do conteúdo nacional deve ser transversal. Para ala-vancar outros sectores-chave no desenvolvimento do país, como a agricultura, sob pena de não gerar benefícios sociais desde o nível local até ao escalão nacio-nal. Natália Magaia Camba, do Insti-tuto Nacional de Petróleos (INP) elencou algumas mudanças na legislação do sector, para a pro-moção do conteúdo nacional. A título de destaque, referiu-se à disposição legal que obriga as empresas extractivas multina-cionais a contratarem técnicos moçambicanos, investirem na elevação das suas competências e os promoverem para níveis

-cou ainda com as provisões re-gulamentares de que doravante 25 % do gás natural extraído no país deve ser canalizado para a produção e consumo doméstico, como alavanca para o desenvol-vimento Sócio-económico do país. O director nacional de estudos

e análise política no Ministério da Economia e Finanças, Vasco Nhabinde, reportou-se à revi-são de legislação que o Governo tem realizado para assegurar medidas de políticas tendentes à industrialização nacional em resultado da promoção do con-teúdo nacional.

Governo Moçambicano e pro-vocando o debate para uma perspectiva mais inclusiva, Jan Isaksen, do Christian Michelsen Institute, concordou que conte-údo local/nacional é indústria

agricultura?”. Neste ponto, a Directora Execu-tiva da Associação para Comér-cio, Indústria e Serviços (ACIS), Denise Cortês-Keyser, referiu-se ao trabalho da ACIS nas ligações empresariais entre as pequenas e médias empresas (PMEs) e as grandes empresas, para criar mais inclusão nos negócios. A ACIS tem levado a cabo acções de formação das PMEs e tem fei-to advocacia para que elas sejam integradas nas cadeias de valor dos negócios.

A directora da ACIS relatou uma série de problemas de capacida-de das PMEs, aliados à excessiva burocracia nos serviços do Esta-do para que estas tenham con-dições de aceder às oportunida-des de negócio oferecidas pelos megaprojectos, resultando em barreiras administrativas que colocam em causa a promoção do conteúdo local. Apelou para a remoção destas barreiras. Por sua vez, Adriano Nuvun-ga defende que as políticas de conteúdo local/nacional devem impulsionar o desenvolvimen-to da indústria nacional, inde-pendentemente de quem a esta indústria pertence (se nacionais ou estrangeiros) porque criará cadeias de valor, traduzindo-se em benefícios sociais. Considerou ser tarefa do Estado e não das empresas a formação dos técnicos, tendo questionado quantos engenheiros especialis-tas em gás o país formou desde 2004, ano que a Sasol iniciou a explorar os campos de gás em Pande e Temane.Nuvunga criticou a falta de le-

-

údo local/nacional, pois des-se modo não há balizas claras quando as empresas incorrerem em incumprimento das suas regras. Alertou ainda para pos-sível captura do conteúdo local pelas elites político-económicas, que constituem empresas e utili-zam a sua ligação ao poder polí-tico para se favorecerem do for-necimento de bens e serviços às multinacionais operadoras dos megaprojectos. É o perigo que ele apelidou de “conteúdo para as elites”.

Adriano Nuvunga, Director do Centro de Integridade Pública

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7Savana 30-10-2015SUPLEMENTO

As audições parlamenta-res constituem um ele-mento imprescindível para o fortalecimento

da democracia, uma vez que abrem espaço para interacção entre os eleitos e os eleitores. Para tal a Assembleia da Repú-blica conta com diversas comis-sões de trabalho, com especial destaque para a Comissão de Petições onde os cidadãos po-dem expor os seus problemas. As jornadas parlamentares também constituem um outro modelo para manter o contacto mais profundo entre o povo e os seus mandatários e garantir

-

vernativa. No entanto, Mateus Katupha, Ivone Soares e Venâncio Mon-dlane deputados pelas banca-das parlamentares da Frelimo, Renamo e Movimento Demo-crático de Moçambique (MDM) partilham da mesma opinião que este modelo mostra-se ine-

problemas dos que os elegeram. Cada um tem as respectivas jus-

Para o deputado da Frelimo e porta-voz da Comissão Perma-nente da Assembleia da Repú-blica, Mateus Katupha a exces-siva disciplina partidária que se

uma doença que corrói de for-ma grave o desenvolvimento da democracia no país. Primeiro, porque os problemas são vistos

Mesa redonda : Aprofundar a democracia através de práticas de audiências parlamentares

Disciplina partidária mina o bom dese mpenho parlamentar

de forma partidária. As jorna-das parlamentares, em que os deputados se deslocam às pro-víncias para manter contacto terra-a-terra com os seus eleito-res, são exemplo claro disso. Ao invés de se auscultar os proble-mas do povo, há uma tendência de partidarizar os problemas. “Temos visto nas sessões par-lamentares que os deputados tem medo de manifestar o seu pensamento nas diversas maté-rias em debate e se submetem à decisão partidária, em nome disciplina partidária, mesmo que no seu íntimo saiba que a referida decisão é inoportuna”, conta o parlamentar. Esta pos-tura, acrescenta, atrasa o diálo-go para o bem público.Em segundo plano, Katupha diz haver limitações regimen-tais da AR no que toca ao pro-cesso das audições. Diz sentir a ausência das Organizações da Sociedade Civil nas audições, que em contraponto mostram uma impressionante iniciativa para criticar os poderes públi-cos. Acusou as organizações de seguirem agendas estranhas e que se resumem em bajular os

Linguista de formação, Mateus Katupha aponta igualmente a barreira linguística como um entrave na comunicação entre os deputados e o povo, uma vez que o debate das matérias e os diversos informes na AR são

-tante uma boa franja populacio-nal não domine o português.

Comissão de Petições não é inclusivaVenâncio Mondlane, deputa-do do MDM, defende que o actual modelo de auscultação

-sajustado à realidade nacional. Como exemplo, disse que em seis meses de actividade, a Co-missão de Petições só recebeu

há uma grande parte do povo

que desconhece este instrumen-to, com o agravante dos índices de analfabetismo serem altos. Assim, propõe a introdução de uma auscultação oral do povo.Por outro lado, criticou o exces-sivo partidarismo, que resulta na reprovação de algumas pro-postas de solicitação de infor-mação sobre o desempenho de entidades públicas ou participa-das pelo Estado.A bancada do MDM diz ter so-licitado os contratos da EMA-TUM (Empresa Moçambicana de Atum), de modo a perceber os contornos do negócio que lesou o estado em 850 milhões de dólares, uma verba que teria sido alocada para o desenvolvi-mento de diversas infra-estru-turas necessárias à promoção de um crescimento inclusivo.Em resposta à solicitação do MDM, a EMATUM recusou-se alegando que não é uma empre-sa pública, apenas contou com o

pode facultar informações que -

gócio.

Sonegação de informação

Outro caso indicado por Venân-cio Mondlane foi a proposta da criação da comissão de inquéri-to para o caso da Electricidade de Moçambique, chumbada por força do veto, ou voto, da maio-ria parlamentar: “ Será que os deputados da Frelimo e as res-pectivas empresas não estão a

sofrer as consequências da crise da energia?”, Questionou, su-gerindo que a proposta da sua bancada pode ter sido profética quanto a actual crise resultante da obsolescência da infra-es-trutura da EDM, em razão de um desinvestimento provocado pelo rombo dos negócios pouco claros realizados pela empresa pública de electricidade com empresas ligadas à chamada nomenklatura, nome de código da elite político-económica que se confunde com a liderança da Frelimo. A chefe da bancada parlamentar da Renamo, Ivone Soares, consi-derou que o trabalho dos parla-mentares torna-se irrelevante devido a falta de disponibiliza-ção de informação de interesse público. Diz ela ter sentindo isso na pele, quando a sua ban-cada por diversas vezes solici-tou as copias do contrato cele-brado entre o governo e a Vale para melhor debater as isenções

-meteu ao governo a resposta ao pedido de informação do maior partido da oposição, o qual re-cebeu outra negativa do gover-no em facultar o documento.Soares refere que o governo não pode celebrar contratos que co-loquem em causa a estabilidade

-ma que a sonega de informação limita a missão do deputado

Deputados devem ser transparentes

Mathias Sundin, deputado e Membro da Comissão da Cons-tituição no Parlamento Sueco, partilhou a experiência de in-clusão política no seu país. A chave da inclusão na Suécia tem sido a partilha de poder, consubstanciada na “existência de mecanismos de check and balance (controlo e equilíbrio) e abertura do executivo e parla-mento aos cidadãos”, de acordo com Sundin. Todo o cidadão sueco pode re-querer qualquer informação ao executivo ou parlamento, e es-tes têm a obrigação de fornecê--la, desde que a mesma não seja

autoridades têm a obrigação de

para tal, acrescentou. Por seu turno, João Pereira, di-rector executivo da Fundação MASC, defendeu que se os deputados lutam pela transpa-rência eles também devem ser transparentes, disponibilizando informações sobre os seus orde-nados e regalias de modo que

-lização. Isto porque em nada vale exigir transparência do ou-tro quando o mentor não assu-me a mesma postura. “O povo precisa saber quanto custa um deputado, caso contrário em nada vale questionar o governo

o académico.No que toca às audições, este lí-der da sociedade civil lamentou a falta de clareza nas mesmas. Pereira reclamou o apertado espaço de tempo (uma semana) concedido às organizações da sociedade civil para apreciarem e darem o respectivo parecer sobre algumas matérias que

ampla. Mateus Katupha Venâncio Mondlane Ivone Soares

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8 Savana 30-10-2015SUPLEMENTO

A -ceira e administrativa do Estado só será efecti-va e contributiva para o

crescimento inclusivo caso haja mudança no quadro legal tribu-tário, permitindo a captação e retenção nos municípios de re-ceitas actualmente canalizadas para a autoridade tributária a nível central. Esta foi a nota de consenso da mesa redonda so-bre a descentralização e o cres-cimento inclusivo, no último painel de debates da segunda conferencia nórdico-moçambi-cana sobre crescimento inclusi-vo em Moçambique.

Manuel de Araújo, presidente do Município de Quelimane, foi quem colocou o acento tó-nico na necessidade de reverter o quadro tributário actual para benefício dos locais (municí-pios) onde as empresas exercem suas actividades, efectivando--se a justiça tributária.Os outros membros do painel e alguns intervenientes alinha-ram no mesmo diapasão com evidências e sugestões para al-teração desse quadro, pois en-tendem que só assim o Estado realizará a inclusão tanto políti-ca quanto económica por via da descentralização.Para Manuel de Araújo, um dos erros daquilo que ele considera como a terceira fase de transi-ção do Estado Moçambicano é de “assumirmos a descentra-

-trativa como panaceia para a desconcentração de poder. Há uma excessiva dependência dos actores políticos nos processos, o que implica mudanças das li-deranças políticas”, sentenciou na sua intervenção inicial.Por sua vez, a presidente da As-sembleia Municipal de Pemba, Muanareira Abdala enalteceu como exemplos de inclusão possibilitada pela descentra-lização: a criação do fundo de desenvolvimento distrital e o estabelecimento dos conselhos consultivos locais, através de maior atribuição de poder às li-deranças locais. Muanareia Ab-dala referiu-se ainda como um dos exemplos de descentraliza-ção na área de impostos o facto de o Governo central ter con-ferido aos Municípios o poder para a colecta do imposto sobre veículos.

Descentralização aumenta participação e inclusão Iina Soiri, directora do Nordic Africa Institute, em Uppsala (Suécia) referiu-se a um estudo realizado em 10 países africa-nos, sobre a devolução de po-der às pessoas, em questões de autoridade, autonomia, pres-tação de contas e capacidade.

Mesa redonda: A Descentralização e o Crescimento Inclusivo

Essencial reforma tributária para assegurar autonomia dos municípios

Segundo ela, nos países que realizaram a descentralização, a autonomia não foi efectiva-mente descentralizada, porque a anterior estrutura de poder permaneceu nas mãos do parti-do mais forte. O estudo revelou ainda que a prestação de contas ainda está para cima. Ou seja, a autori-dade ainda é dependente dos

níveis mais altos do governo.O estudo constatou ainda que a capacidade de realização é bai-xa tanto nos governos centrais como locais. Esta investigadora nórdica sugere por isso que, a delegação de funções sem a alo-

-caz.Posicionamento com que con-corda o consultor sénior de governação, Bernhard Weimer, para quem a teoria e a prática evidenciam que o governo local

uma maior qualidade de parti-cipação e de inclusão. “Governos locais contribuem bastante no desenvolvimento económico e crescimento inclu-sivo. Em Moçambique este pa-pel dinamizador do desenvolvi-mento e crescimento económico ainda carece de ser reconhecido e incluído no desenho de políti-cas públicas”, considerou Wei-mer, para quem o segredo de sucesso da governação está no equilíbrio entre o interesse do sector privado e do cidadão em

-ços e pagarem impostos.“O governo central suga par-

municípios”, reclamou o edil de Quelimane, considerando que “isso enfraquece os municípios, na sua capacidade de produzir as externalidades positivas” para benefício e promoção da iniciativa do sector privado a nível dos municípios.

Em contraponto, a presiden-te da Assembleia Municipal considera que o que o governo central tira através da colecta de impostos sobre as empresas nos locais em que elas exercem é compensado pelos benefícios para o desenvolvimento local possibilitados pelas acções de responsabilidade social das em-presas.

Governos centrais limitam direito das autarquias de colectar impostosIina Soiri pronunciou-se igual-mente na linha dos que defen-dem que os governos centrais estão a retirar aos governos lo-cais aquilo que é de ser direito. “Em África, a lei é muitas vezes clara, mas a prática é problemá-tica: por exemplo, o direito das autarquias de colectar impostos é sempre dependente do nível central. Isso não permitirá o al-cance da autonomia local”, de-fendeu.Markku Heinonen, Gestor de Desenvolvimento na cidade de Lapeenranta, na Finlândia, referiu-se a esse propósito à sua experiencia, para defender que “municipalidades com resi-dentes autónomos na gestão de seus recursos criaram exemplos de sucesso de inclusão.”

-brada directamente pelas au-toridades centrais às empresas que exercem suas actividades em determinadas localidades com estatuto de município, outro problema que mina au-

as transferências que o governo central aloca para os orçamen-tos dos municípios. “Quinze por cento da receita

(como transferências para os municípios). Os 53 municípios absorvem quarenta por cento da população moçambicana”,

considerou Bernhard Weimer, para quem a base tributária das autarquias não é adequada-mente utilizada para criar recei-tas próprias. “Mais de 60% das receitas da autoridade tributária são ar-recadados em Maputo. As ou-tras cidades não podem, assim, desempenhar o papel de criar oportunidades para o sector privado”, ajuntou.A lógica sectorial e vertical dos serviços básicos faz com que haja poucos recursos a nível local para investimento, acres-centou, argumentando que “os planos das empresas provedo-ras de serviços públicos não estão alinhados com os planos de desenvolvimento dos muni-cípios.”

debate, o presidente do municí-pio de Quelimane realçou uma diferença clara entre responsa-bilidade social das empresas e base tributária. “Não queremos

trocos, queremos o bolo (das empresas que exercem activida-des nos municípios) ”, disse, em alusão à anterior intervenção da presidente da Assembleia Mu-nicipal de Pemba.Araújo referiu-se à outra dis-posição legal para a descentra-lização de poder: “até agora o Estado não respeita integral-mente decreto de transferência das competências da educação primária e saúde para os mu-nicípios.” Questionado sobre o que se pode fazer para que as empresas paguem impostos onde estão a produzir, Araújo defendeu ser necessário “uma reforma tributária que crie in-centivos às empresas do Gru-po A que passem a pagar onde exercem as actividades.”Em nota de fecho, a investigado-ra nórdica Iina Soiri deixou uma receita simples para a inclusão: quanto mais perto os tomadores de decisão estiverem do povo, mais o povo estará incluído na governação.

Manuel de Araújo, presidente do Município de Quelimane Bernhard Weimer,

Iina Soiri, directora do Nordic Africa Institute, em Uppsala