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Jovens brasileiros fazendo a diferença e promovendo a transformação Relato da experiência do Monitoramento Jovem de Políticas Públicas em Salvador - BA Reinaldo Almeida e Jasf Andrade Abril/2013

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Jovens marcam a história de uma escola pública do bairro de Cajazeiras, em Salvador.

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Jovens brasileiros fazendo a diferença e promovendo a transformação

Relato da experiência do Monitoramento Jovem de Políticas Públicas em Salvador - BA

Reinaldo Almeida e Jasf Andrade

Abril/2013

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MJPOP Jovens brasileiros fazendo a diferença e promovendo a transformação

Relato da experiência do Monitoramento Jovem de Políticas Públicas (MJPOP) em Salvador - BA, na comunidade de Cajazeiras, território de atuação do Programa de Desenvolvimento de Área (PDA) Cajazeiras

Reinaldo Almeida & Jasf Andrade

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Apesar dos altos índices de violência e letalidade que afetam a juventude brasileira e as campanhas midiáticas que promovem a marginalização e a criminalização de adolescentes e jovens, a juventude que consegue sobreviver continua sonhando e buscando caminhos para construir uma sociedade mais justa e pacifica para si e para todos. Nas comunidades em que atua por meio dos seus Programas de Desenvolvimento de Área (PDA), Visão Mundial tem procurado fomentar a participação e o protagonismo infanto-juvenil por meio da metodologia MJPOP (Monitoramento Jovem de Políticas Públicas).

Em Cajazeiras, periferia de Salvador - BA, o grupo JDC (Jovens Desenvolvendo a Comuni-dade) resolveu implementar essa metodologia a partir de 2010. Após realizar uma pesqui-sa para conhecer as principais necessidades dos moradores da região, eles decidiram moni-torar a política pública de educação e incidir pela melhoria da qualidade da Escola Munici-pal Professor Ricardo Pereira. Por meio de reuniões comunitárias que integraram o corpo docente desta unidade de ensino, os alunos e os moradores do bairro, o grupo chegou a conclusão que a estrutura física da escola precisava de uma intervenção urgente. Confor-

me relatos das crianças e dos professores, a situação era precária: nos dias de chuva, as salas de aula alagavam e os alunos tomavam choque ao tocar nas paredes. Junto com as lideranças comunitárias, foi criado, então, um plano de ação com o objetivo de sensibilizar o poder público para a importância de garantir que o espaço escolar se tornasse um ambi-ente seguro e agradável para que as crianças e os adolescentes de Cajazeiras pudessem desenvolver ali todo o seu potencial. Em 2012, a reforma da escola foi iniciada e, depois de 08 meses, concluída. Sem a mobilização comunitária liderada pelos jovens do MJPOP, isso não teria sido possível, conforme depoimento da Vereadora Marta Rodrigues: “considero a mobilização realizada pelo MJPOP um marco na viabilização da reforma”.

Nas páginas que seguem, são detalhados os processos metodológicos e as iniciativas que o grupo da comunidade de Cajazeiras realizou para garantir a melhoria do serviço público que escolheu monitorar e como foi possível mobilizar os recursos públicos para garantir o bem-estar de crianças e adolescentes moradores da periferia de Salvador.

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Entenda como a parceria entre Visão Mundial e a juventude vem promovendo a melhoria dos serviços públicos nas comunidades

Juventude viva e buscando justiça

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Salvador, capital do estado da Bahia, é a cidade brasileira com maior contingente populacio-nal de descendentes da diáspora africana. Trazidos ao Brasil como mão-de-obra escrava em navios conhecidos como tumbeiros, tantos eram os que encontravam a morte durante o trajeto, os negros deixaram em todos os recantos desta cidade do nordeste do Brasil a marca da originalidade e da forca de sua cultura. Por esse motivo, Salvador foi recentemen-te declarada a capital negra da America Latina. Pelas periferias da capital baiana, a cor da pele e a cultura afro-brasileira são motivos de muito orgulho para a juventude. E de medo também. Nos últimos dez anos, a taxa de letalidade de adolescentes e jovens na Bahia cres-ceu em 401%. Mais de quatro mil adolescentes e jovens morrem por ano nesse estado brasileiro. A grande maioria deles é negra e mora nas comunidades periféricas.

Ser negro e ser jovem em Salvador é encontrar-se em condição de alta vulnerabilidade. Na comunidade de Cajazeiras, onde Visão Mundial atua já há seis anos, não é diferente. E a juventude de lá tem muita consciência dessa situação e sabe também que a principal causa do extermínio de adolescentes e jovens é a grande desigualdade social ainda reinante no Brasil. Por esse motivo, cerca de 40 deles resolveram se associar e formar o grupo JDC (Jovens Desenvolvendo a Comunidade), para trabalhar em prol da melhoria da qualidade de vida da população do bairro em que habitam. No começo, eles estavam meio perdidos e não sabiam muito o que e como fazer para que a comunidade fosse transformada. Foi então que, em 2010, a equipe do PDA Cajazeiras apresentou para eles o MJPOP (Monitora-mento Jovem de Políticas Publicas), adaptação brasileira da metodologia CVA (Cidadania, Voz e Ação), que já vinha sendo utilizada desde 2007 por grupos infanto-juvenis de outras cidades brasileiras (Rio de Janeiro, Fortaleza e Ponto dos Volantes), apresentando bons re-sultados tanto no que se refere ao fortalecimento do protagonismo social de adolescentes e jovens como também na incidência política pela melhoria da efetivação dos serviços pú-blicos municipais. Pelos resultados concretos alcançados com o MJPOP, Visão Mundial Bra-sil foi agraciada, em 2011, com o Prêmio RENAS (Rede Evangélica Nacional de Ação Soci-al) de Melhores Práticas e o MJPOP recebeu a certificação de Tecnologia Social da Funda-ção Banco do Brasil.

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A juventude quer viver

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O grupo de Cajazeiras acolheu a proposta da Visão Mundial, enviou representantes para participar do Treinamento Nacional do MJPOP, em fevereiro de 2011, e começou a imple-mentar as fases e passos da metodologia já nos meses seguintes. Para apoiá-los, Visão Mun-dial foi buscar junto ao movimento hip-hop de Salvador um educador social, também jo-vem, para caminhar com o grupo e ajudá-lo nos processos de articulação política e mobili-zação comunitária. Jasf Andrade, então com 25 anos, já era uma liderança juvenil destacada na comunidade da Sussuarana, que utilizava suas composições de rap para denunciar a in-justiça social brasileira e o descaso das autoridades com as comunidades mais empobreci-das. Em suas palavras, esse encontro com a metodologia MJPOP representou “a descober-ta de uma experiência muito forte, uma ferramenta social realmente impactante no senti-do de dar subsídio para que as comunidades cobrem seus direitos. Aquilo que nós denunci-amos e cobramos nas letras do rap, a metodologia MJPOP faz acontecer na prática”

Para decidir qual política pública iriam monitorar, os adolescentes e jovens procuraram ouvir a população de Cajazeiras e saber deles quais os serviços públicos que estavam sen-do oferecidos com maior precariedade. Essa pesquisa foi realizada durante um mês, em maio de 2011, e ouviu 100 moradores. Muitas foram os problemas apontados pela popula-ção, como dificuldades com a coleta de lixo (6%) e a falta de médicos e medicamentos no centro de saúde (49%). No entanto, a escolha do grupo recaiu sobre a política pública de educação, especialmente com seu foco de trabalho destinado a melhoria dos serviços pres-tados pela Escola Municipal Ricardo Pereira, que foi mencionada por 45% dos entrevista-dos, pois muitos deles estudaram nela e tinham a lembrança das dificuldades vividas ali e,

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A juventude quer direitos

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ao mesmo tempo, a consciência de que esta escola poderia se tornar um espaço para irra-diação de conhecimento, cultura e convivência social das crianças da comunidade, diferen-te do que estava se passando nos últimos anos, quando a estrutura precária não permitia nem mesmo a realização das atividades mais básicas em dias de chuva, devido à infiltração da água pelas paredes e alagamento dos espaços de aprendizagem.

No passo seguinte, que se refere ao mapeamento e sensibilização de parceiros, o grupo se surpreendeu com a acolhida da direção da escola e do corpo docente. As palavras do dire-tor, Prof. Hamilton Souza, demonstraram que a escola tinha necessidade dessa parceria com a comunidade para conseguir avançar, que ele já vinha buscando esse apoio das lide-ranças comunitárias há muito tempo, sem muito sucesso, e que se alegrava em perceber que os jovens de Cajazeiras, alguns dos quais haviam estudado naquele espaço, estavam retornando para o colégio, não mais para receber, mas para oferecer uma contribuição que gerasse condições melhores de aprendizagem para as crianças do bairro. Aliança firma-da com os prestadores de serviços, era hora de envolver a comunidade nessa luta. Para isso, foi planejado e realizado o evento MJPOP em Ação, no qual diversos representantes das manifestações artísticas e culturais existentes em Salvador se apresentaram durante um dia no espaço da Escola Municipal, com entrada franca para a população, visando sensi-bilizar os moradores para os problemas da escola e fazê-los acreditar que, unidos e mobili-zados, aquela realidade poderia ser transformada. O evento foi um sucesso, o MJPOP tor-nou-se conhecido na região e a população tomou consciência de que a juventude estava engajada na luta e no sonho de melhorar a situação de Cajazeiras.

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No começo, muitos não acreditavam que fosse possível sensibilizar o poder público. Até mesmo alguns jovens achavam que isso não era viável e que os políticos não iam se inte-ressar por um processo liderado pelos moradores das comunidades. Segundo Ricardo Pe-reira, de 16 anos, “quando começamos a atuar e decidimos melhorar a situação da escola, eu pensava que éramos nós mesmos que íamos meter a mão na massa e trabalhar para

consertar o que estava ruim. Eu estava até animado para fazer isso. No entanto, nos encon-tros de capacitação e formação do MJPOP, eu fui aprendendo que isso é dever do poder público, que nós fazemos a nossa parte quando pagamos nossos impostos e que temos que exigir que esse dinheiro retorne para nós através de serviços públicos de qualidade”.

A partir dessa compreensão, os jovens foram a Câmara de Vereadores, espaço legislativo existente para a criação de leis e para a fiscalização do poder executivo municipal, para pedir o apoio dos representantes eleitos pelo voto popular. De fato, nem todos os verea-dores se sensibilizaram, mas o gabinete da Vereadora Marta Rodrigues, do Partido dos Tra-balhadores, acolheu o grupo e agendou uma visita dessa parlamentar à comunidade de Cajazeiras. Essa visita e o posterior encontro com a vereadora Marta ampliaram o hori-zonte político do grupo. Antes, para eles, o universo da política era algo inacessível e se

restringia ao período eleitoral que acontece de dois em dois anos no Brasil. Nesse proces-so, eles descobriram que os políticos são funcionários públicos, que tem seus salários e suas despesas pagas pela própria população e, assim, precisam estar abertos para ouvir e acolher as demandas e exigências daqueles de quem são apenas representantes.

A articulação com a Vereadora Marta foi muito importante no processo de acionar o po-der público para a realização de melhorias nas dependências da Escola Municipal Ricardo Pereira. Logo que conheceu o grupo, Marta afirmou que seu mandato era um mandato popular e que a questão era saber como sua posição na casa legislativa de Salvador pode-ria apoiar as justas reivindicações de um coletivo tão empoderado como o do MJPOP. Em suas palavras, “eu já possuo uma identidade de luta aqui nessa região e fiquei feliz em ver a juventude se organizando para o monitoramento da execução das políticas públicas, pois é assim que a gente vai vencer esse desafio de que o dinheiro público seja aplicado da me-lhor forma para o bem dessa comunidade”.

Uma vez que já estavam devidamente articulados com os prestadores de serviços e com uma representante do poder público, além de terem se tornado bem conhecidos da popu-lação local por meio de eventos realizados e da divulgação de vídeos disponibilizados pela internet, os adolescentes e jovens voltaram a campo e realizaram um Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) com as pessoas diretamente envolvidas com o serviço público que seria monitorado: os professores e demais servidores da escola municipal, as crianças e adolescentes ali matriculados e seus pais e responsáveis. O resultado dessa consulta trou-xe a certeza sobre aquilo em que o grupo precisava, realmente, realizar suas ações de inci-dência: melhorar a infraestrutura física da escola, aspecto mencionado por 100% dos que

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Juventude mobilizada pelo bem-estar da infância

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foram escutados (registre-se também que 90% dos entrevistados mencionaram a baixa qualidade das refeições oferecidas para os alunos e 10% citaram problemas com a qualida-de do ensino ali ministrado). Os relatos ouvidos eram alarmantes e assustadores: em dias de chuva, alguns alunos recebiam descargas elétricas ao tocar em algumas paredes da esco-la. A tarefa não seria fácil, pois 03 anos antes a escola havia passado por uma reforma exe-cutada com recursos públicos da prefeitura de Salvador, obra essa que, no entanto, não resolveu os graves problemas estruturais do edifício e se revelou um verdadeiro desperdí-cio de recurso público. Conseguir outra reforma era um desafio bastante complexo, mas o grupo estava determinado a enfrentá-lo e a comunidade estava mobilizada para apoiar no que fosse necessário.

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O passo seguinte foi reunir a comunidade para encaminhar, de maneira coletiva, quais os caminhos e providências que seriam tomados para que a escola fosse reformada e passas-se a apresentar condições mínimas de dignidade para o bem-estar das crianças de Cajazei-ras. Na reunião comunitária, realizada no próprio prédio escolar, tomaram parte cerca de 70 moradores, muitos deles pais e responsáveis das crianças que naquele edifício estuda-vam. Facilitar processos de organização comunitária não é uma tarefa simples e os jovens sentiram na pele a complexidade desse processo. Neste encontro, enquanto as discussões aconteciam, entrou no salão um homem alcoolizado que atrapalhou bastante a reflexão que vinha sendo compartilhada. Monalisa Michielin, Oficial de Programas da Visão Mundial Austrália, que estava realizando sua visita técnica periódica aos PDAs brasileiros e aprovei-

tou a oportunidade para verificar in loco o trabalho do MJPOP, recorda bem desse episo-dio: “Os dois meninos liderando a discussão estavam indo muito bem, mas infelizmente uma pessoa da comunidade tomou conta da conversa e eles não souberam liderar nova-mente. São coisas que acontecem, sempre tem alguém assim! No final, a liderança e o sor-riso constante para a comunidade venceram”. Nesta reunião, o grupo utilizou a metodolo-gia escala de sorrisos para verificar novamente a opinião da comunidade sobre os itens mais citados no Diagnóstico Rápido Participativo, constatando mais uma vez a urgência em se promover uma ação de incidência pela reforma do espaço físico da escola.

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Juventude protagoniza a transformação comunitária

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Em seguida, na mesma reunião, já munidos da convicção de qual a meta do processo de intervenção política a ser realizado (promover a reforma da infraestrutura da Escola Muni-cipal Ricardo Pereira), o grupo animou a assembleia a levantar ideias que pudessem sensibi-lizar o poder publico municipal a destinar parte do recurso publico para a obra pleiteada. Dentre as sugestões apresentadas, duas foram acolhidas pelo coletivo presente: a realiza-ção de um abaixo-assinado, a ser entregue à associação de moradores e, posteriormente, entregue por esta organização local à Secretaria Municipal de Educação, e a elaboração de uma carta a ser entregue na Câmara dos Vereadores exigindo a destinação de parte do orçamento anual para as necessidades das crianças da comunidade, reforçando o caráter de prioridade absoluta da infância de acordo com a legislação vigente no Brasil.

Tal postura comunitária, comprometida, decidida, articulada e pautada, sobretudo, no diálo-go e no direito, chamou a atenção do poder publico municipal. Enquanto o abaixo-assina-do ainda circulava entre os moradores da comunidade, a carta-reivindicação já estava sen-do entregue ao poder legislativo da capital baiana, poucas semanas depois da reunião co-munitária. De posse desse documento, a Vereadora Marta Rodrigues cobrou da Secretaria Municipal de Educação a utilização de parte do recurso público alocado para despesas com obras em escolas de Salvador para as reformas necessárias e urgentes exigidas pela comunidade de Cajazeiras. Pouco mais de um mês após a entrega do documento (maio de 2012), a Prefeitura de Salvador iniciou o processo de reforma da escola, fato que marcou significativamente a caminhada política do grupo de adolescentes e jovens e também reno-vou a esperança da população local de que é possível mudar e construir uma realidade melhor quando se trabalha junto em prol de um mesmo objetivo: “Após receber a deman-da da juventude, nosso mandato iniciou contatos com a Secretaria Municipal de Educação, pautando a necessidade de reforma da escola e sempre fazendo referência a articulação comunitária com o MJPOP. Sem esse monitoramento, perde-se o processo na Secretaria de Educação, pois são muitas as demandas que são apresentadas lá todos os dias. Conside-ro a mobilização realizada pelo MJPOP um marco na viabilização da reforma tão necessá-ria para a autoestima dos professores, dos alunos, dos servidores e da comunidade” – Vere-adora Marta Rodrigues.

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Depois de oito meses, obra concluída. A parede não dá mais choque, pode fazer chuva, pode fazer sol, nada é motivo para atrapalhar o processo de aprendizagem das crianças que estudam na Escola Municipal Ricardo Pereira. Missão cumprida para o MJPOP de Salva-dor? Não, ainda não. “Nós sabemos que trabalhar na comunidade e melhorar as coisas por aqui é muito importante, mas sabemos também que as causas da maioria dos problemas das comunidades não estão nelas, estão fora delas, e nos temos é que atacar essas causas se queremos conquistar a tão sonhada justiça social”, proclama Jasf Andrade. Por esse mo-tivo, ele compôs um rap falando da resiliência das comunidades e denunciando o sistema econômico que só visa o lucro e trata o ser humano e o planeta como descartáveis para ser apresentado durante a Conferência para o Desenvolvimento Sustentável Rio+20. Sua música virou um videoclipe do grupo Os Agentes, do qual Jasf é o vocalista, e contou com a participação dos membros do MJPOP. O vídeo já recebeu mais de cinco mil visualizações no youtube e foi exibido durante uma audiência publica na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, cidade-sede da conferência, e em um evento sobre mobilização de juventude realizado em Istambul, na Turquia. Após assistir o vídeo, colaboradores da Visão Mundial Líbano vieram ao Brasil participar do Encontro Anual do MJPOP para conhecer melhor essa experiência de mobilização de juventude (o vídeo clipe pode ser assistido no seguinte link: http://www.youtube.com/watch?v=O6TDq96bnqI)

Nos últimos meses, o grupo estudou sobre a importância dos Objetivos de Desenvolvi-mento do Milênio e se engajou na discussão sobre o Post-2015. Junto com outros mem-bros do MJPOP de 10 estados brasileiros, apontou que a ONU precisa criar metas para estimular a qualidade da educação como forma de trabalhar pela superação da desigualda-de no mundo. Com certeza, a experiência do dialogo com os profissionais da escola e a escuta que fizeram com os alunos e com a comunidade influenciaram nessa perspectiva. A participação do MJPOP nas consultas nacionais promovidas pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) foi citada no relatório sobre o Post-ODM publi-cado pela ONU. Além disso, duas fotos tiradas por Jasf foram utilizadas para ilustrar esse documento internacional.

Ser jovem, ser negro, ser do MJPOP em Salvador é ser, sobretudo, um resistente. É enfren-tar o extermínio da juventude com armas pacíficas, protagonizando iniciativas transforma-doras, elegendo o diálogo como o caminho da edificação do bem comum, denunciando através das mais diversas manifestações artísticas e culturais a violência que se faz sistema,

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“Escola não dá mais choque, pode chover o ano todo.”

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mas também sendo capaz de declamar poeticamente, por meio da lira tecnológica do hip-hop, a força de um movimento que vem crescendo e fazendo a diferença não só na Bahia, mas em muitas outras partes do Brasil:

Historia Real, MJPOP

(Jasf Os Agentes)

http://www.youtube.com/watch?v=_uiUAATcUpI&list=UU84l4Wm8Px9JGuQdpDodi4Q&index=3

Diversos líderes, adolescentes e jovens

Problemas resolvidos, sem usar um revólver.

Personalidades que darei o nome adiante,

Mas pra você entender,

Vou te falar sobre, antes.

2007, Rio de Janeiro, Zona Norte,

No Complexo do Lins, havia um grupo de jovens.

Participavam da ONG, interagiam com a Igreja,

E viviam a comunidade e sua beleza.

Questionavam o sofrimento, a pobreza,

Falta de água, o lixo, violência na redondeza.

Inquieto desejo e sede de mudança.

O que fazer , como ajudar toda a vizinhança?

Até que um ativista traz uma pista, uma dica,

Uma proposta de atuação política.

Iniciativa que empodera adolescentes e jovens,

O grupo abraça, em pouco tempo, a turma já resolve

Monitorar o abastecimento de água,

Porque na comunidade todo dia faltava.

Problema principal que na pesquisa apontava,

Os moradores descrentes quase se mudavam.

Foram dois anos, grupo de jovens atuando.

Manual, passo-a-passo, iam executando.

Na reunião comunitária surge o plano de ação,

Perceberam que o forte era comunicação.

Mobilização das lideranças, dos moradores,

Dos grupos organizados pra falar das suas dores.

Compreender os processos, juntos poder cobrar...

Como fiscalizar, como e onde reclamar?

Resolvido o problema da falta de água. E o que aponta?

Voz, informação, diálogo, ação e prestação de contas.

Elementos principais norteiam a aplicação,

Foram várias conquistas. Segue a luta, irmão!

Há uma luz nos olhos, da forca pra lutar e vencer.

O brilho intenso de um sonho que resplandece em você.

E bom estar com você, acreditar em você!

Fazer acontecer em todo lugar, eu sei que pode ser!

Experiência bem sucedida, bem-vinda,

A Visão Mundial, então, resolve espalhar.

Essa parada é um norte de vida, é vida!

Vai pra Minas Gerais e também Ceará.

Se fortalece, ganha corpo e ganha ação,

Na Bahia, monitora a saúde e educação.

Em Pernambuco, é forte; está na Amazonas, no Norte,

Na Paraíba, no Rio Grande do Norte.

Umas meninas contentes, uns pivetes decentes,

Alagoas, São Paulo também, “com nós”, está rente.

Pro bem estar das crianças, vida digna para todos,

Nossa voz já ecoa em outras partes do mundo.

Mando um salve pra toda comunidade (salve!),

Que se mantém viva, luta pela cidade.

Escola ruim, posto medico não atende

Não fizeram a praça que prometeram pra gente...

Organizados, nós vamos saber porque não foi feito,

Junto com a comunidade, esse bagulho tem efeito.

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Vereadora explica, o secretário promete,

Nós vamos acompanhando, o órgão publico se mexe.

São varias conquistas, nas vinte e duas cidades,

Nossa arma o diálogo e a comunidade

Uma praça nova, água chega pra todos,

Escola não dá mais choque, pode chover o ano todo.

Há uma luz nos olhos, da forca pra lutar e vencer.

O brilho intenso de um sonho que resplandece em você.

E bom estar com você, acreditar em você!

Fazer acontecer em todo lugar, eu sei que pode ser!

36 grupos espalhados no Brasil,

Fruto de muita luta, já somos quase mil

Indiretamente, interfere na vida de milhares

Resolvemos as ondas, só que problemas são mares.

Não existiria nada disso sem os meninos e as meninas,

Não existiria nada disso sem Maria Carolina!

Não existiria nada disso sem Serginho, Paulinho,

Sem avaliarmos processos com Raniere, o tio!

Sem a forca de Amanda, a luta de David,

Inteligência de Ed, Julie e Tathy, Recife,

Hilquias e Bárbara representando o Amazonas,

Um salve a Ponto dos Volantes, a líder é a Adriana.

Rafaela Pontes, Natálias ao quadrado,

Joyce de Fortaleza e Carol Prado.

Danilinho e Delma, todos os que estão passando,

Não seria possível sem os que estão chegando.

A alegria de Ozelia, mesmo nas horas serias:

-Isso não, meu irmão, só podia ser Ozélia!

Welinton Pereira e Mônica tem o nosso conceito

Quem não citamos um abraço, para as meninas, um beijo.

Mas o que somos hoje? Um grupo, uma rede?

Um principal movimento que por justiça tem sede?

Fica no ar a questão...

Somos do Hip-hop, nosso abraço sincero ao MJPOP.

Não existiriam conquistas faltando um de vocês

E nada se manteria sem a energia de Rei!

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Dedicamos este relatório à Marcia Nova, Gerente de Operações da Visão Mundial na Bahia, ao Professor Hamilton Souza, diretor da EM Prof. Ricardo Pereira, à Vereadora Marta Rodrigues e aos professores, alunos e lideranças comunitárias de Cajazeiras. Sem o apoio de to-

dos, não teria sido possível alcançar os resultados que foram conquistados.

Para conhecer mais os projetos desenvolvidos por Visão Mundial em defesa dos direitos de crianças e adolescentes, acesse www.visaomundial.org.br

Para obter outras informações sobre o mjpop: [email protected] ou [email protected]