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Caro leitor,
É com muita satisfação que lhe apresento o
primeiro conto da série Aventuras Misteriosas em que
Érique, Carla e Alana vão passar o final de semana em
um sítio na zona rural de Nova Corinto e se deparam
com um lobisomem que ronda o lugar.
No decorrer desta história, você terá informações
sobre as versões de uma mesma lenda folclórica além
de outras questões como as datas móveis das
celebrações da Igreja Católica.
Boa leitura!
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MISTÉRIO DA MEIA-NOITE
oucos dias depois do início da quaresma, Alana,
estudante do primeiro ano do Ensino Médio,
convidou seus amigos e colegas de classe,
Érique e Carla, para passarem o final de semana no sítio
que sua tia, Júli, acabara de comprar para morar com
sua filha Natália. Esse sítio não fica muito longe da
cidade de Nova Corinto, mas os antigos donos não
revelaram o motivo pelo qual a propriedade foi vendida,
só disseram que teriam que sair daquele lugar
assombrado o mais rápido possível. Júli, que não é
supersticiosa, preferiu acreditar que ladrões estavam
tentando assustá-los para roubar objetos de valor do
sítio.
No terreno, há um sobrado, de dois andares,
rodeado por várias árvores frutíferas, um poço de água
subterrânea e uma horta com uma vasta variedade de
verduras e legumes. Por ser uma propriedade afastada
da cidade, os vizinhos mais próximos moram a mais ou
menos um quilômetro de distância. Mas há energia
elétrica e sinal de celular, que fica caindo o tempo todo
impossibilitando o acesso à internete. A paz impera
acompanhada dos cantos dos pássaros.
Nas proximidades do sítio, existe uma enorme
mata, praticamente fechada, com vários animais
quadrúpedes e rastejantes, que, às vezes, tentam
ultrapassar as cercas proteção da casa, e um riacho,
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que nasce em uma cachoeira, com muitas espécies de
peixes, que passa por dentro do terreno do sítio, a uns
15 minutos da casa, andando.
No final da tarde de sexta-feira, um carro deixou
os visitantes na frente do portão de entrada do sítio.
Pendurada na estrutura de madeira que cobria o portão,
de duas partes de madeira, havia uma placa, também de
madeira, com o nome da propriedade entalhada: Sítio
Lua Cheia.
Érique é alto, 1,75m, moreno claro, usa óculos de
descanso. Carla, 1,60m, é loira de olhos azuis e com
cabelos na altura dos ombros. Alana, 1,65m, é meio
ruiva de pele clara e um pouco medrosa. Os outros dois
são mais decididos e destemidos, só acreditam no que
veem.
Eles seguiram pelo caminho de pedras, de 100
metros que levava à frente da casa. As anfitriãs, Júli e
Natália, estavam na frente da casa, embaixo de uma
goiabeira, que por sinal tinha muitas frutas maduras. Júli
aparenta estar na faixa dos quarenta anos, mas diz que
não passa dos 30, é morena de cabelos compridos e
ondulados. Natália é morena, 1,60m, cabelos compridos,
tem uma personalidade mais atrevida e controlada, e
assim como a sua prima, Alana, tem a mesma idade dos
visitantes: 16 anos, e foi matriculada na mesma turma,
isso porque sua mãe, Júli, fez uma encenação digna de
um óscar para conseguir uma vaga na mesma escola.
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Depois dos cumprimentos, os visitantes pegaram
goiabas dos galhos mais baixos e seguiram para dentro
de casa.
– Vocês já fizeram bananada com essas goiabas?
– Brincando, perguntou Érique.
– Não estamos no Sítio do Picapau Amarelo,
Gilberto Gil! – Respondeu Natália, rindo.
– Não perco a chance de ouvir as músicas de Gil,
e dos outros tropicalistas.
– Também gosto deles e de todos da MPB. As
músicas são sempre atuais e nunca são esquecidas.
– A propósito, achei interessante o nome daqui:
Sítio Lua Cheia. Foi você quem escolheu, tia? –
Questionou Alana.
– Realmente a MPB é incomparável. Tenho
vários discos, CDs, DVDs de vários cantores. E
respondendo à sua pergunta, Alana: não, a escolha foi
dos antigos donos, na época da construção dessa casa.
Se não me engano, este final de semana será de lua
cheia. Quando a lua aparecer, vou mostrar a vocês o
motivo do nome deste sítio. Agora subam para guardar
as mochilas. Quem quiser tomar banho, o banheiro fica
na área de serviço.
Enquanto os meninos foram guardar as bolsas no
andar superior da casa, Júli foi preparar o jantar. Pouco
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tempo depois de Natália levá-los para conhecerem os
quartos, desceram e foram andar debaixo das
mangueiras nos fundos da casa. O chão, ao redor da
casa, é coberto por uma grama bem verde e conservada.
Seguindo a fileira de mangueiras, ao lado da área de
serviços, nos fundos, havia duas placas fotovoltaicas,
medindo aproximadamente três metros quadrados, cada,
apoiadas em uma espécie de pilastra de aço de 1,50m
de altura.
Ao se aproximarem dos painéis, Natália disse que
eram as placas de energia solar que eles já tinham visto
nos livros, e em fotos, mas nunca pessoalmente. No sítio,
a energia elétrica é usada pelos aparelhos que mais
consomem energia, como máquina de lavar, aparelhos
de som e de DVD, computador, televisores e geladeira.
Já a energia solar é usada pelos eletrônicos que menos
consomem, como lâmpadas, bomba de água e outros.
Como se sabe, a irradiação solar é captada pelas células
fotovoltaicas que transformam o calor em energia e
carregam baterias, que permanecem carregadas por
determinado tempo, a depender da capacidade de
absorção das placas.
O sol estava quase desaparecendo atrás das
árvores que faziam enormes sombras no quintal. Os
meninos aproveitaram a belíssima paisagem para tirar
várias fotos próximos às árvores e debaixo delas. Logo
que não havia mais a luz do sol, enquanto um tomava
banho, os outros tiravam mais fotos, dessa vez, dos
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periquitos que pousaram nas goiabeiras da frente da
casa. Até gravações foram feitas desses pássaros
bicando as goiabas e emitindo seu canto admirável.
********************
Enquanto jantavam, os meninos comentaram
sobre o recesso de Semana Santa. Com isso, Júli disse
que não sabia por que cada ano era em uma data
diferente. Alana deu uma explicação bem sucinta.
– Tia Júli, veja só, a Semana Santa começa no
Domingo de Ramos e acaba no domingo de Páscoa. A
questão se refere à data da Páscoa, que assim como
outras celebrações da Igreja Católica, é móvel. Já ouviu
falar do imperador romano Constantino? Então, no ano
325 depois de Cristo, Constantino convocou o Primeiro
Concílio de Niceia, para tratar de algumas questões
relacionadas ao cristianismo. Nesse concílio, foi
determinado que a Páscoa cristã seria celebrada no
primeiro domingo depois da Lua Cheia que ocorre após
o equinócio de primavera no Hemisfério Norte, isso entre
21 de março e 25 de abril. Aqui no Hemisfério Sul, nessa
data ocorre o equinócio que marca o início do outono,
período em que as noites são mais longas que os dias.
Carla estava sentada ao lado de Júli. Levantou-
se e pegou o calendário que estava pendurado na
parede e mostrou a ela.
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– Vamos ver... aqui... Neste ano de 2016, o
outono se inicia no dia 21 de março. A primeira lua cheia
depois dessa data será no dia 23, uma quarta-feira.
Certo? O próximo domingo é dia 27 de março: Domingo
de Páscoa. Isso faz com que todas as comemorações
relacionadas também mudem de data.
– Como o Carnaval e a Quaresma?
– Exatamente. Sabendo da data da Páscoa, 27
de março, é só voltar 47 dias e teremos a terça-feira de
Carnaval no dia 9 de fevereiro. Obviamente, a
Quaresma começa um dia depois, na Quarta-feira de
Cinzas, dia 10 de fevereiro e acaba um domingo antes
da Páscoa, no Domingo de Ramos, dia 20 de março.
– Hum... O carnaval de 2017 será em 28 de
fevereiro. Então a Semana Santa será em abril?
– Sim. 47 dias depois. A Páscoa será... deixe-me
ver... acho que no dia 16 de abril. E a lua cheia será entre
os dias 10 e 15 de abril, possivelmente, mas precisaria
de um calendário com as fases da lua, para ter certeza.
Não é mais ou menos isso, Érique?
– Historiadoras, geógrafas, matemáticas... Como
você são sabidas. Só faltaram falar que a Páscoa cristã,
que celebra a ressurreição de Cristo, seguia, vamos
dizer assim, a Páscoa judaica, que celebra a libertação
dos hebreus do Egito para a Terra Prometida. Como o
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calendário judaico era baseado na Lua, no cristianismo,
a data passou a ser móvel também.
********************
Depois do jantar, Júli os convidou para segui-la à
varanda do andar superior, levando, com a ajuda de
Natália, uma garrafa de café com leite e um pote de
biscoitos de sal.
Na varanda, há uma mesa de centro de madeira,
um banco antigo e três cadeiras de plástico nos quais
todos se acomodaram. A leve brisa da noite tornou o
momento mais agradável e fresco. Nessa noite de sexta-
feira, a enorme lua cheia iluminava a varanda e uma
parte do quintal em que as sombras das árvores não
conseguiam cobrir.
– Respondendo à pergunta de hoje de tarde sobre
o nome do sítio: Lua Cheia. Esse sítio foi comprado em
um período de lua cheia. Em algumas estações do ano,
como acontece no outono, a lua cheia aparece bem
grande, como se fosse só para o sítio, que fica iluminado
como se fosse dia.
Já passava das 10 horas da noite. Da varanda,
era possível ver uma casinha atrás de algumas árvores
fora da cerca do sobrado, há uns quatrocentos metros
de distância.
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Curioso, Érique perguntou e a resposta veio de
Júli.
– Vejam ali! Quem mora naquela casa?
– É a casa do empregado do sítio. Ele mora aqui
há um bom tempo, desde a época dos antigos donos.
– O que ele faz?
– Bem... Colhe as verduras, os legumes e as
frutas para entregar aos compradores, verifica o sistema
de irrigação da horta, separa os ovos das galinhas, para
vender, as alimenta e tira leite das vacas. Mas os donos
anteriores venderam quase todas as galinhas e só
restou uma vaca leiteira. Ele é muito agradável.
– Só acho que há alguma coisa muito estranha
acontecendo aqui. Aqueles dois não venderiam esse
paraíso se não tivesse medo de alguma coisa. Ou de
alguém.
– Não há do que ter medo, Natália.
Provavelmente, tentaram roubar o sítio e eles decidiram
se mudar para a cidade. Foi uma pena eles terem se
mudado daqui.
Os visitantes se serviram e ficaram observando a
conversa.
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– Meninos, não deem ouvidos. Ela é tem uma
imaginação muito fértil. Agora cismou que há um
lobisomem rondando o sítio...
Érique interrompeu a conversa indicando que não
acreditava naquele ser fantástico.
– O lobisomem não passa de uma lenda que veio
da Europa, no século XVI com os portugueses que
colonizaram o Brasil.
E foi apoiado por Alana e Carla.
– Vejam só! Por que os lobisomens só aparecem
na quaresma? Eu mesma respondo: Porque é uma
lenda apoiada pela Igreja.
– Exatamente! Só não posso afirmar que a Igreja
criou a lenda. Mas a nossa querida instituição religiosa
sempre educou, entre aspas, as pessoas através do
medo.
– E os próprios padres diziam que os pais tinham
que batizar seus filhos, porque os lobisomens gostavam
de atacar bebês pagãos.
– Pelo que sei, essa lenda pode ter sido originada
na Europa, como Érique disse, pois a mitologia da
Grécia Antiga faz referência ao licantropo, um ser
lendário. De acordo com os mitos, um homem pode se
transformar em lobo em noites de lua cheia e só volta ao
normal pouco antes de o dia amanhecer.
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Lembrando-se das aulas de História, Érique
mencionou vagamente o mito grego do lobisomem.
– Se não me engano, o rei da Arcádia ofereceu
um sacrifício a Zeus, que o transformou em lobo.
Júli concorda em partes com o que ouve, seguida
por Érique e Carla.
– As pessoas mais velhas afirmam que existe e
algumas, até que já viram ou foram atacadas. Certo que
é uma lenda, mas alguma coisa pode ter feito essas
pessoas acreditarem na existência do tal lobisomem,
como um possível ladrão, para assustar. Eu mesma não
acredito.
– É cientificamente impossível um homem sofrer
uma transformação dessa forma.
– Isso só acontece na ficção e na imaginação das
pessoas supersticiosas.
– O empregado disse que já viu um lobisomem
aqui. E me confessou que esse foi o motivo da venda do
sítio. Ele também me disse que na quaresma passada,
um dia, a horta amanheceu toda pisada, várias galinhas
espedaçadas, marcas de garras na porta do fundo e o
que o bicho entortou o suporte do painel de energia solar.
Natália entrou na conversa relatando alguns fatos
recentes.
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– Não foi só na quaresma passada. Como
explicar, mãe, o barulho no galinheiro anteontem de
madrugada?
– Pode ter sido alguma raposa.
– E aqueles pelos nos fios de arame na cerca lá
perto do riacho?
– Pode ter sido a mesma ou outra raposa
tentando atravessar a cerca para atacar as galinhas.
– Não me convenceu. Nunca vi raposa de pelo
escuro.
Ouvindo aquelas suposições, Alana ficou
tentando não acreditar nas insinuações feitas por Natália.
– Você quer dizer, Natália, que há um lobisomem
rondando a casa?
– Alana, não sei mais em que acreditar. Mas
alguma muito estranha está acontecendo aqui.
No decorrer da conversa, Érique falou que a lenda
se refere à metamorfose em lobo em noites de lua cheia,
não necessariamente na quaresma. Alana e Carla
comentaram sobre as versões da lenda seguidas por
Natália e Júli.
– Isso mesmo. Uma versão diz que um homem foi
mordido por um lobo em uma noite de lua cheia. E
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depois disso, o homem desenvolveu a capacidade de se
metamorfosear em lobo, com traços humanos, em noites
de lua cheia.
– Outra diz que se uma mulher tiver seis filhas,
engravidar outra vez e o sétimo filho for menino, esse se
transformará em lobisomem.
– E dizem que se uma pessoa foi mordida por um
lobisomem, passa a se transformar também.
– Minha avó dizia que o oitavo filho de uma
sequência de sete filhas se teria a sina de se transformar
em lobisomem à meia-noite de sexta-feira em uma
encruzilhada e tinha que voltar ao mesmo lugar para se
destransformar. As transformações começam a ocorrer
a partir dos 13 anos de idade e tinha que percorrer sete
cemitérios antes de voltar ao normal. E só seria possível
matá-lo acertando-o com uma bala de prata.
O relógio marcava quase 23:30. Em meio a tantas
histórias de lobisomens, não sobrou nem uma gota de
café e o pote de biscoitos estava vazio. Todos foram
para seus dormitórios, que ficam no andar superior da
casa. Júli foi para o seu quarto, Alana e Carla seguiram
para o quarto de Natália e Érique foi para outro quarto,
ao lado do das meninas, dormir sozinho.
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Por volta da meia-noite, Alana disse ter ouvido
pisadas no lado da casa. Carla e Natália afirmaram não
terem ouvido nada. Elas se ativeram ao silêncio da noite
e também tiveram a impressão de ouvirem passos
pesados indo para os fundos da casa. As três se
levantaram, com a luz apagada e foram, nas pontas dos
pés, para a janela de guilhotina que estava aberta para
entrar o vento suave da noite.
Os galhos de algumas árvores dos lados da casa
estavam na altura do andar superior. Por causa disso e
das sombras criadas pelas árvores maiores, não era
possível ver o que passava por baixo. Só se poderia ver
se fosse dia. Não se ouviam mais as pisadas. Mesmo
sem ver nada, elas sussurraram alguma coisa. Em
seguida, ouviram o barulho da porta do galinheiro sendo
arrombada e as galinhas começaram a gritar. Alana e
Natália ficaram pasmadas, mas Carla ainda continuou
cética.
O quarto em que Érique estava tinha janelas
viradas para os fundos, onde fica o galinheiro. Quando
ouviu os passos pesados, também, com as luzes
apagadas, foi para a janela. Mesmo com as sombras das
árvores, viu um vulto preto derrubando a porta e
entrando no galinheiro e ouviu o barulho feito pelas
galinhas.
Era algo parecido com um animal andando nas
patas traseiras e aparentemente peludo. A silhueta era
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um pouco mais alta e mais forte que a de um homem
normal. Enquanto tentava não acreditar no que poderia
estar vendo, um possível lobisomem, olhou para a porta
do quarto e viu a câmera digital em cima da mochila.
Correu para pegá-la e voltou para a janela. Ligou e
começou a tirar fotos com flash com o intuito de atrair a
atenção do ser.
Vendo os reflexos dos flashes, as meninas foram
para o quarto de Érique a passos rápidos, mas sem fazer
barulho, pois Júli estava dormindo e elas não queriam
acordá-la. Poucos segundos depois, o vulto saiu
correndo pela única porta do galinheiro, seguindo para
os lados do riacho. As meninas afirmaram terem visto o
focinho e as garras, mas Érique estava acompanhando
pela tela da câmera e só conseguiu ver um bicho peludo.
A claridade da câmera não alcançou o monstro e em
todas as fotos só se podia ver um vulto mais escuro meio
distorcido.
Depois desse fato, as meninas voltaram ao quarto,
em silêncio, e todos foram dormir. Natália e Alana
estavam meio assustadas, mas Érique e Carla
continuavam sem querer acreditar no que seus olhos
viram. Nesse momento, o relógio marcava 00:40.
********************
No dia seguinte, sábado, desceram cedo para a
sala de estar, antes das 7h. Júli se levantou para
preparar o café da manhã e ao se aproximar da escada
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ouviu uma miniconfusão na sala. Ela desceu
perguntando o motivo da gritaria. Os meninos
responderam ao mesmo. Já ao lado do sofá, Júli pediu
silêncio e perguntou de novo. Mais uma vez, os quatro
falaram ao mesmo tempo.
– Chega! Não quero saber mais.
– Espere, mãe! Vamos falar um de cada vez.
– Tudo bem! Pode começar, Érique?
– Claro! Ontem, à noite, nós vimos um
lobisomem...
– Foi mesmo, tia Júli. As orelhas eram enormes.
– Eu fiquei arrepiada!
– Vocês são muito criativos! Já pensaram em
escrever contos de seres fantásticos?
– Veja esta foto que consegui tirar com a minha
câmera!
– Deixe-me ver... Só estou vendo uma parede e
algumas árvores.
– Olhe aqui... Esse vulto preto...
– Ah! A sombra de uma árvore.
– Mãe, ele entrou no galinheiro...
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– Você não ouviu a gritaria das galinhas?
– Não ouvi nada. Tenho o sono pesado. Mas
mesmo assim...
– Vamos lá fora, tia, para você ver com seus
próprios olhos.
– O lobisomem que vocês viram está lá fora?
– Não. Mas os estragos sim.
– Eu vou só para provar que vocês estão tentando
me pregar uma peça.
– Então, vamos!
Quando saíram pelo fundo, viram a porta do
galinheiro encostada na parede pelo lado de fora. Dentro,
havia penas e pedaços de algumas galinhas espalhados
para todos os lados. Érique estava tirando fotos com sua
câmera e, enquanto Júli e as meninas olhavam o que
sobrou do galinheiro, chegou o empregado.
– O que aconteceu aqui?
– Agora acredita em nós?
– Deve ter sido alguma raposa...
– Uma raposa que consegue derrubar uma porta
de madeira?
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– O que nós vimos tinha quase dois metros de
altura. Não parecia nada com uma raposa. Sem falar
que saiu correndo de dois pés e não de quatro patas...
Acho que alguém está fazendo isso, pois esse ser
fantástico não existe.
– Dona Júli, as crianças podem estar falando a
verdade. Quando ouvi as galinhas gritarem, saí para ver
o que era. Cheguei perto da cerca e vi o lobisomem
derrubando a porta do galinheiro. Depois o bicho saiu
correndo e uivou lá embaixo. E não era uma pessoa, era
um lobisomem mesmo! Daí voltei correndo para casa e
me tranquei. Quando amanheceu, vim aqui, a porta
estava meio solta. Tirei e coloquei encostada na parede.
A senhora viu a situação do galinheiro?
– Adolescentes! Somos adolescentes e não
crianças.
– Que seja... Pode ter sido algum ladrão que
derrubou a porta e depois entrou alguma raposa e
atacou as galinhas...
– Nós vimos tudo pela janela. Não apareceu
raposa nenhuma.
– Enquanto vocês ficam aí falando que viram uma
pessoa fantasiada ou um ser fantástico, eu vou preparar
o café da manhã.
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Depois que Júli foi para a cozinha, o empregado
disse aos meninos que há alguns dias ouviu o bicho
uivando perto do riacho e desde que ele veio trabalhar
no sítio, todos os anos, na quaresma, o lobisomem
aparece nos arredores da casa. Disse também que no
ano passado, o monstro tentou invadir a casa e deixou
as marcas das garras na porta dos fundos. Esse foi o
principal motivo pelo qual os antigos donos venderam a
propriedade.
– Bem... A porta da cozinha está fechada e não
estou vendo marca nenhuma.
– Menino, na semana seguinte ao ataque me
mandaram comprar e colocar outra porta. A arranhada
está no depósito, eu mesmo a guardei lá. Agora eu tenho
que ir até a cidade.
********************
Poucos minutos depois, Júli chamou os chamou
para tomarem o café da manhã. Depois do café, Júli
colocou um CD de músicas selecionadas da MPB no
som – a primeira a tocar foi Planeta Sonho de Milton
Nascimento – e dividiram as tarefas de casa com as
meninas. Érique foi pegar algumas mangas para fazer
suco para o almoço.
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Após colocar as frutas em cima da pia, pegou a
câmera e voltou ao galinheiro para tirar fotos da porta
arrancada, isso porque só tinha fotografado a parte de
dentro. Ainda com a câmera, seguiu para o lado da casa
por onde o lobisomem passou, mas só se podia ver a
grama amassada. Mesmo assim, tirou algumas fotos,
para analisar melhor.
Neste momento, ele se lembrou de que o
empregado disse que a porta arranhada estava no
depósito e foi até lá. A porta estava encostada na parede
de fundo. Tinha cinco riscos quase do mesmo tamanho
na parte de cima e na parte de baixo. Ao ver as marcas
de possíveis garras, achou-as estranhas e chamou
Carla, que estava na cozinha.
– Ei! Carla! Venha ver isso aqui.
– Venha ver isso aqui... Por favor!
– É a porta que o empregado disse que tinha sido
arranhada...
– Nossa! Eu acho que algum espertinho está se
fazendo de lobisomem para ficar com esse sítio.
– Eu acho a mesma coisa. Mas quem estaria
fazendo isso?
– Não sei quem. Mas nós vamos descobrir.
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– Olhe essas marcas na porta. Se eu imitar garras
com as minhas mãos, assim, as marcas dos polegares
estariam mais afastadas dos outros dedos. E outra coisa:
as marcas dos polegares começariam um pouco mais
abaixo dos outros dedos. E essas aqui não. São todas
quase do mesmo tamanho.
– Você tem razão. Parece que essas marcas
foram feitas com alguma coisa...
– Com uma foice, talvez?
– Se tivesse usado uma foice, as marcas seriam
mais profundas e desordenadas.
– Fui lá no lado em que vimos o ser passar, para
ver se eu conseguia encontrar marcas de sapatos, mas
a grama não colaborou.
Do outro lado do depósito, estavam amontoadas
várias ferramentas. Carla, ao vê-las, chegou mais perto
e pegou uma, em especial.
– Érique, você sabe para que serve um ancinho?
– Para juntar galhos e folhas secas...
– Você conseguiria arranhar uma porta com isso?
– Dê-mo aqui...
– Dê-mo! Estou vendo que alguém sabe usar a
ênclise...
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– Gracinhas à parte, vamos colocar os dentes do
ancinho em cima das marcas da porta... Está vendo?
Encaixa como uma luva. É obvio que os arranhões foram
feitos com esse ancinho. Pegue a minha câmera e tire
fotos.
– Temos que mostrar isso às meninas.
– Vamos pensar em uma forma de pegar esse
falso lobisomem.
– Isso. Depois do almoço, chamaremos Alana e
Natália para irmos ao riacho. Lá, a gente faz uma
reuniãozinha para encontrar uma forma de capturar
esse espertinho.
– Certo. Vou pensar em algo.
********************
Após o almoço, os meninos foram ver a cachoeira,
da qual nasce o riacho. Eles aproveitaram para admirar
a nascente do riacho com a bela paisagem natural
enquanto se sentaram em círculo embaixo de uma
mangueira, às margens da cachoeira, para comentar o
caso.
– Então, meninas... Natália e Alana, eu trouxe a
minha câmera para vocês verem essas fotos. Hoje, de
manhã, enquanto vocês estavam arrumando a casa, eu
fui investigar o caso. Olhem essas marcas de garras na
porta que o empregado falou que tinha trocado!
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Combinam com os espaços dos dentes do ancinho que
Carla encontrou no depósito.
– Eu sempre achei que havia alguma coisa errada
com a venda do sítio. Minha mãe disse que os antigos
donos não disseram por que queriam se mudar. Até o
empregado acredita nessa história de lobisomem. Mas
ele nunca se mudou daqui.
– Talvez ele não tenha para onde ir. Temos que
criar um plano para capturar seja lá quem for.
– Érique tirou fotos do lado por onde vimos o
monstro passar. Eu fui ver também, mas, infelizmente,
não ficaram rastros na grama que dessem para
identificar. Não dá para saber se os rastros foram
deixados por sandálias ou sapatos.
– Também olhei, Carla, ficou na mesma. A
propósito, Natália, ontem, você falou algo sobre os pelos
presos em fios de arame, se não me engano.
– Bem lembrado, Alana, na volta, mostrarei a
vocês onde foi. Mas não estão mais lá. O vento deve ter
levado.
Poucos minutos depois, ao som suave da queda
d’água, surgiram as primeiras ideias através de Carla e
Érique.
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– Já sei! Hoje, a noite é de lua cheia. Se ele veio
ontem, é possível que venha hoje também. Vamos nos
dividir e pegá-lo de surpresa...
– Tenho um plano! Vamos formar duplas: Eu e
Carla ficamos no meu quarto, Alana e Natália ficam no
quarto de vocês. Assim, quando ele aparecer, a gente
desce vai atrás dele. A noite vai ter lua cheia e tudo pode
acontecer!
– Temos que estar preparados com algo para
amarrá-lo. Acho que vi uma corda no depósito. Se ela te
chamar e quiser te amar, você vai, Pepeu Gomes!
Ouvindo aquilo, Natália e Alana começaram a
trocar olhares indiferentes.
– Um momento! Vocês não acham isso meio
perigoso?
– E se ele tiver uma arma? Eu acho que isso não
vai dar certo.
Carla e Érique, ao perceber que as duas não
gostaram da ideia, tentaram contornar a situação.
– Meninas, deixem de ser covardes!
– Digo o mesmo que Érique. Além do mais, se ele
tivesse uma arma, já teria invadido a casa e ameaçado
Júli e você, Natália.
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– E o empregado também...
– Como Júli tem um sono pesado, vamos esperá-
la dormir para colocar o nosso plano em ação. Estão
comigo?
Pelo tempo que Carla e Alana conhecem Érique,
sabem muito bem que não adiantaria ficar contra. Carla
aceitou com facilidade, pois também gosta de participar
de confusões. Já Alana ficou meio desconfiada. Como
Natália estava em minoria, teve que concordar com o
plano. Antes do pôr do sol, voltaram para casa, para Júli
não ficar preocupada com a ausência.
No caminho de volta, Érique mencionou,
rapidamente, que tinham que resolver o mistério antes
voltarem para a cidade. O ser apareceu na noite anterior,
sexta-feira, e poderia aparecer mais uma vez naquela
noite de sábado, que era a única chance de capturá-lo,
pois iriam embora no domingo à tarde.
********************
A noite chegou e a lua cheia não perdeu tempo.
Júli preparou a mesa e os chamou para jantar. Logo
após isso, por volta das 20:30, foram para a sala de estar
assistirem ao telejornal local. Em um dos intervalos
comerciais, Júli falou que iria ficar de olho no galinheiro,
para surpreender a raposa da noite anterior. Mesmo
depois do que viu, ainda prefere acreditar que foi uma
raposa. Os meninos disseram para eles não preocupar
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que eles mesmos ficariam atentos a qualquer
movimento nos arredores da casa. Ouvindo isso, ela
para eles ficarem olhando pelas janelas, acenderem as
luzes e não saírem de casa.
********************
Já passava das 22:00. Depois que Júli subiu para
dormir, como uma pedra, Érique e Carla foram ao
depósito pegar a corda. Natália os acompanhou até a
cozinha, abiu uma das portas da parte de cima do
armário e pegou as duas lanternas que estavam
carregadas, uma para ela e Alana e a outra para Carla e
Érique. Esses dois, quando voltavam do depósito, viram
o empregado indo em direção ao galinheiro. Quando
questionaram o que estava fazendo, ele respondeu que
estava indo verificar se a porta do galinheiro estava bem
fechada, pois havia consertado à tarde, quando os
meninos tinham ido ao riacho.
Quando o empregado viu Carla carregando a
corda, perguntou o que pretendiam fazer com aquilo.
Érique respondeu que era para brincar de pular corda e
logo percebeu o olhar dele de dúvida. Com isso, Carla
disse que, na verdade, eles elaboraram um plano para
pegar o falso lobisomem, pois tinham certeza de que era
um ladrão fantasiado. O empregado disse que
acreditava que era um lobisomem de verdade, pediu
para eles terem cuidado e perguntou qual era o plano.
Érique olhou para Carla e disse que tinham que ir. No
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mesmo momento, Natália e Alana saíram e se
aproximaram deles cada uma com uma lanterna na mão.
– Não me digam que vocês vão entrar no mato
para procurar o lobisomem?
– Claro que não! Nós...
Érique interrompeu a fala de Alana e completou
dizendo que não iriam entrar em detalhes e saiu quase
escoltando as meninas faladeiras. Seguiram para a
cozinha, pois pretendiam fazer um lanche antes de
ocuparem seus postos de espiões aprendizes.
********************
Enquanto esperavam o momento de pegar o
suposto ladrão, Natália verificou mais uma vez as
baterias das lanternas e Érique dobrou a corda em
algumas partes. Faltava pouco mais de 30 minutos para
a meia-noite e os meninos subiram para os quartos.
Como o combinado, Alana e Natália ficaram no quarto
da última e Carla e Érique ficaram no quarto de visitas.
A lua cheia brilhava formosa no céu e a claridade
adentrava nos quartos pelas janelas entreabertas. Nem
as luzes nem as lanternas estavam acesas, para não
chamar a atenção e cada dupla se atinha ao menor ruído
possível. Uma vez ou outra, ouviram o som emitido pelas
corujas.
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– Estamos prestes a desvendar os mistérios da
meia-noite que voam longe...
– Que você nunca, não sabe nunca, se vão, se
ficam, quem vai, quem foi...
– Impérios de um lobisomem que fosse o homem
de uma menina tão desgarrada, desamparada se
apaixonou...
– Naquele mesmo tempo...
– Vamos parar, Carla! Hoje não é a noite do
karaokê.
– Você que começou, Zé Ramalho!
– Não tenho culpa de ter bom gosto musical.
********************
Faltavam poucos muitos para a meia-noite. De
repente, um uivo ecoou na direção do riacho. Érique e
Carla trocaram olhares de atenção e cada um se
aproximou de uma janela, com vista para os fundos da
casa.
No quarto ao lado, Alana estava apoiada no
batente da janela, com vista para a lateral da casa, com
uma mão vazio e a lanterna na outra. Ao ouvir o uivo,
assustou-se e deixou a lanterna escapar das mãos. Por
ser muito leve, a lanterna não fez barulho ao cair em
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cima da grama. Com as cabeças do lado de fora da
janela, para ver onde a lanterna tinha caído, começam a
sussurrar e terminaram a conversa com os corpos
completamente dentro do quarto.
– Muito bem, Maria Assustada!
– Acho que vamos ter que esperar sem lanterna...
– Acha nada. Você derrubou e você vai buscar.
– Sozinha? Com seja lá o que for aí fora? Nem se
eu estivesse louca!
– Tudo bem! Eu vou com você. Vamos descer
sem que Carla e Érique nos vejam.
Abriram a porta com todo o cuidado possível e
desceram as escadas nas pontas dos pés, literalmente.
Considerando que a outra dupla estava monitorando a
parte de trás da casa, as duas saíram pela porta da
frente e seguiram pela lateral até o ponto em que a
lanterna caiu.
Ao chegarem perto da lanterna, Alana se abaixou
para pegá-la e Natália, que estava logo atrás, disse que
tinha ouvido alguma coisa. Aquele lado da casa estava
escuro porque a lua se posicionava do outro lado da
casa, de modo que só iluminava uma parte dos fundos
e a outra lateral da casa. Alana, com a lanterna na mão,
só ouviu os galhos das árvores batendo na parede.
Voltaram pelo mesmo lugar, seguindo a parede, com a
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lanterna desligada. A parte da frente da casa também
estava escura, pois a lua não estava muito alta e as
árvores impediam a passagem da luz.
Como passava da meia-noite, já era madrugada
de domingo.
Quando se dirigiam à porta da frente, Natália
notou apenas dois olhos brilhantes, aparentemente, em
cima dos galhos baixos da goiabeira. Percebendo que a
amiga não viu, parou para atrair a sua atenção falando
em baixo tom.
– Ei, Alana! Veja aqueles olhos ali!
– Onde? Sim! Deve ser um gato procurando
alguma coisa para comer.
– Sei que os olhos dos gatos brilham... Mas não
temos gatos.
Alana ligou a lanterna e apontou para a goiabeira.
As duas ficaram sem voz por alguns segundos,
enquanto a lanterna iluminava não um gato, mas sim o
vulto de um ser grande e peludo, o mesmo que viram na
noite anterior e que estava a poucos metros delas.
Logo após um uivo, com gritos de medo, as duas
correram para os fundos da casa.
– Cooorre!
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– Espere por mim! Ahhh!
Segundo depois, chegaram à porta dos fundos,
da cozinha, tentaram abri-la, mas estava trancada.
Então, correram para o galinheiro e se esconderam na
parte de trás. O monstro também seguiu pela lateral da
casa, a fim de alcançá-las.
No quarto, Érique e Carla ouviram o uivo seguido
dos gritos. E, em seguida, a correria das meninas pela
lateral da casa indo em direção ao galinheiro.
– O que está acontecendo? O que elas estão
fazendo lá fora?
– E não estão sozinhas. Veja! O lobisomem está
atrás delas.
– Vamos descer lá! Pegue a corda!
Desceram a escada nas pontas dos dedos e
seguiram para a cozinha, Érique na frente com a
lanterna ligada, para não acender as luzes e Carla, que
estava seguindo a luz da lanterna, pegou a vassoura que
estava pendurada na parede atrás da porta, para
garantir. Saíram cuidadosamente com a lanterna
apagada.
********************
O suposto lobisomem viu as meninas correndo
para detrás do galinheiro e estava indo atrás delas.
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Naquele momento, o fundo da casa estava iluminado,
pois a lua ainda estava no céu, presenciando a cena.
Érique e Carla o alcançaram na frente do galinheiro e a
última chamou a sua atenção.
– Ei, bicho feio! Por que não se mete com alguém
do seu tamanho?
Ele se voltou e foi em direção aos dois e, quando
chegou perto, Carla deu uma vassourada em sua
cabeça. Em seguida, ele levantou o braço, bruscamente,
e a vassoura caiu longe. Com o impulso, Carla deu
alguns passos para trás, desequilibrou-se e caiu.
Ouvindo a voz dos amigos, Natália e Alana apareceram
e cada uma jogou uma manga no monstro. Ele fez um
barulho, virou-se para elas e avançou.
Érique segurou uma ponta da corda e jogou a
outra para Carla, que estava se levantando. Como o ser
estava indo em direção às meninas, não percebeu que
esses dois preparavam uma armadilha. Segurando as
duas pontas da corda, os dois correram na direção do
monstro, jogaram a corda por cima dele, como na
brincadeira de pular corda, e antes que tocasse o chão,
os dois pararam e puxaram a corda para trás. O pé se
prendeu na corda e ele caiu para frente.
Antes de se levantar, Alana e Natália correram e
pularam em cima de dele. Enquanto isso, Carla e Érique
deram duas voltas com a corda em seus pés. As duas
primeiras puxaram seus braços para trás e os dois
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últimos amarraram suas mãos com as pontas das
cordas.
Com todo aquele barulho, Júli finalmente acordou,
foi ao quarto de visitas e colocou a cabeça do lado de
fora. Alana e Natália estavam sentadas nas costas do
falso lobisomem, Carla estava sentada em suas pernas
e Érique estava terminando de amarrar as pontas da
corda, em pé ao lado.
– Mas que gritaria... O que é isso?
– Acordou, Bela Adormecida!
– Capturamos um lobisomem para você, tia Júli!
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Júli desceu e acendeu as luzes dos fundos.
– Meninos, vocês são terríveis! Até tu, Natálias?...
– Saiam de cima de mim, pestes!
– Olhem só, meninas, não sabia que seres
folclóricos sabiam falar.
– Bem, assim amarrado e com as luzes acesas,
você não parece tão assustador!
– Aposto que roubou essa fantasia de algum
teatro.
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Curiosos para saber que estava dentro da roupa,
as meninas se levantaram segurando-o, Érique puxou
as orelhas e a cabeça da fantasia saiu facilmente. Júli
ficou pasmada quando viu o rosto da criatura.
– Você? Não tem vergonha?
– Eu já suspeitava dele, mãe. Só não tinha como
provar.
– Júli, eu e Carla vimos a porta arranhada no
depósito. E as marcas foram evidentemente feitas por
um ancinho que também estava no depósito.
– Daí, ficou claro que foram feitas por alguém que
tinha acesso à casa.
– E essa pessoa só poderia ser o empregado do
sítio.
– Ele fez tudo isso, simplesmente, para que
ninguém comprasse o sítio. Assim, a propriedade ficaria
só para ele.
– Mas você, tia Júli, resolveu comprar a
propriedade. Com isso, ele continuou com os falsos
ataques de lobisomem para que vocês fossem embora.
– O ataque ao galinheiro na noite passada foi
proposital, assim como os relatos de aparecimentos de
lobisomem. Ele nos disse que também tinha visto,
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pensando que nós a convenceríamos a se mudar daqui,
para ele ficar com tudo.
– Depois que ele me viu com a corda e Carla com
a lanterna, pensou que nós sairíamos para procurar o
falso monstro no mato. Daí, ficou observando a casa
para nos ver saindo e ir logo atrás.
– Mas Alana deixou a lanterna cair pela janela e
nós duas tivemos que descer sem avisar. Ele nos viu
saindo pela frente e ficou nos esperando voltar.
– Exatamente, Natália. Ele não queria nos atacar.
Só queria que nós corrêssemos para dentro de casa.
Mas Érique e Carla apareceram e ele ficou sem saber o
que fazer.
– A propósito, e aquela vassoura com o cabo
quebrado? E essa corda?
– Júli, eu quebrei o cabo da vassoura na cabeça
dele. Será que ficou a marca?
– E eu peguei a corda no depósito.
– Mãe, eu e Alana contribuímos com duas
mangas. Acho que ele está com uma leve dor de cabeça.
– Podem desamarrá-lo, meninos. Amanhã, ou
melhor, quando amanhecer, precisamos ter uma
conversa séria, caríssimo funcionário!
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Depois de desmascararem o empregado do sítio,
a turma aproveitou as últimas horas da madrugada para
dormir um pouco. No começo da tarde, voltaram para
Nova Corinto satisfeitos por terem desvendado aquele
mistério.